quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

O que é o Bem, que não Fazemos, mas Queremos

O que é o bem, conforme ele se encontra em perfeição na pessoa de Deus?
O caráter e os atributos perfeitíssimos de Deus são a resposta para tal pergunta.
Destaquemos por exemplo a sua paciência ou longanimidade, pela qual suporta ofensas e provocações e todo o mal da parte dos seres morais caídos (demônios e pecadores) retendo a ira por causa do atributo da justiça, e adiando os seus juízos para o tempo determinado, sem que tenha qualquer exasperação ou ódio em sua natureza divina.
Os crentes, pela natureza divina que neles habita têm tal paciência e longanimidade por alvo. Desejam e inclinam-se para isto pela natureza celestial que receberam na conversão. Mas, em razão dos resquícios do pecado original que também neles habita, e pelo estado de ignorância e incapacidade relativa aos atributos divinos, que ficaram desfigurados no h0mem, desde a queda, são naturalmente incapacitados para a realização perfeita deste bem divino ao qual aspiram, e daí se dizer que quando querem fazer o bem, não o fazem, pois não podem atendê-lo na plenitude em que se encontra no próprio Deus.
Pelo mesmo raciocínio, isto pode ser aplicado ao amor, à bondade, à paz, à fé, ao domínio próprio, à misericórdia, e a tudo o mais que se encontra em perfeição em Deus, e que foi perdido pelo homem em razão do pecado original.
Daí Jesus dizer que tudo o que procede do coração do homem é somente o mal, pois está incapacitado por sua natureza terrena decaída, a fazer o bem conforme ele é definido na pessoa do próprio Deus. E os crentes são incentivados a serem imitadores de Deus, levando à cruz o velho homem, para que atuem pela nova inclinação que neles está, pelo Espírito, exercitando-se em amar seus inimigos, em oferecerem a outra face quando feridos em uma delas, a caminharem a segunda milha, a orarem pelos seus perseguidores, a abençoarem os que os amaldiçoam, pois nisto é que se manifesta o quanto têm aprendido e praticado a genuína misericórdia, amor, longanimidade etc, conforme se encontram em Deus.
Os próprios atos de benignidade pensados e atuados pelos homens, em razão dos resquícios da obra da lei escrita em seus corações, conforme o homem foi dotado pelo Senhor na criação (Rom 2.15), são manchados pelo pecado, pois esta inscrição da criação original foi corrompida pelo pecado, de modo que o h0mem não somente não entende de modo perfeito o que é o bem, como também não pode realiza-lo de forma perfeita, pelos motivos e inclinações corretos, em harmonia com todos os demais atributos que compõem o caráter e a sua personalidade, os quais, a propósito, também não são perfeitos.
A razão disso é explicada pelo apóstolo, ao dizer que mesmo querendo fazer o bem, o mal está presente com ele (Rom 7.21).
Há assim, mesmo nos crentes, essa imperfeição na realização do bem, por conta da natureza imperfeita que neles habita ao lado da perfeita (nova natureza) que receberam na conversão.
Todo o conhecimento deles é em parte, mesmo o relativo ao bem, e aos atributos de Deus. E não podem avançar neste conhecimento sem que estejam em plena comunhão com Deus, pois aprende-se por osmose, recebendo da fonte, assim como os ramos recebem a seiva estando ligados ao caule da videira.
Eis a razão de serem instados à oração e à vigilância permanentes e constantes, para poderem avançar em direção àquela perfeição celestial e espiritual à qual são movidos pela nova natureza divina que neles habita, e pela qual aspiram, segundo o mover do Espírito Santo. Ainda que esta não seja alcançada em sua perfeição gloriosa enquanto aqui viverem, todavia é possível aumentar em graus cada vez maiores por meio da diligência em santificação.
O trabalho da santificação deve permanecer durante toda a jornada terrena, pois se não houver avanços, os recuos serão inevitáveis, pois ainda que a raiz do pecado seja enfraquecida pelas maiores infusões da graça, ela nunca morre definitivamente enquanto estivermos aqui deste outro lado do céu, e o trabalho de mortificação deve ser contínuo, porque ainda que fraco, o pecado mantém o seu poder mortal e destruidor.
A lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, livrou o crente da lei do pecado e da morte (Rom 8.2). Mas esta libertação se mostra eficaz aqui embaixo somente quando o crente se santifica. A libertação será completa e final, somente a partir da ida do crente para o céu, quando deixar o corpo desta morte. Até lá, há de servir à lei de Deus com a sua mente e vontade, mas com a carne à lei do pecado (Rom 7.25), porque a lei do pecado há de estar nos seus membros até o dia da sua morte, ao lado da lei do Espírito que habita também nele operando em sua mente, e opondo-se à lei do pecado.

 Mas, ao se dizer que servirá à lei do pecado com a carne, isto não significa que deve se render à ação desta lei, deste princípio vivo e mortal que opera nos seus membros, mas que deve vigiar contra isto e mortificar o pecado, para que em vez de ser dominado por esta lei, seja dirigido pela nova lei do Espírito que inclina a sua mente para aquilo que é aprovado por Deus e agradável a Ele. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário