sábado, 17 de outubro de 2015

2 Pedro 1 a 3

II Pedro 1

Os destinatários desta epístola são os mesmos da primeira, o que se infere do primeiro verso do terceiro capítulo; isto é, os cristãos das regiões da Ásia Menor, citados em I Pe 1.1.

A verdade que os apóstolos pregavam a respeito de Cristo está confirmada no testemunho das Escrituras, que foram produzidas pela inspiração do Espírito Santo, e pelo próprio testemunho ocular deles quanto à glória que haviam visto em Cristo, especialmente a da Sua transfiguração no monte quando estiveram perante Ele, tanto quanto Moisés e Elias (v. 16 a 21).

Então as coisas que nos são ordenadas pelo apóstolo nesta epístola são dignas de inteira aceitação e obediência para que possamos ser achados dentro dos propósitos e da vontade de Deus.

Ele fala de um conhecimento que conduz à vida eterna, e este conhecimento não é um mero conhecimento intelectual ou mesmo místico de mistérios que não se refiram à própria pessoa de Deus Pai, de Cristo e do Espírito Santo.

Não é o mero conhecimento de experiência com o mundo espiritual que é a garantia de se ter a vida eterna, porque é possível que alguém esteja se ligando com o mundo espiritual das trevas, e não com o reino da Luz do Filho de Deus.  

A garantia de um conhecimento espiritual verdadeiro de Deus está na confirmação das Escrituras, especialmente no texto dos profetas quanto ao que falaram de Cristo e da Sua obra.

Na saudação inicial da epístola o apóstolo Pedro associa a graça e a paz que deveriam existir na vida dos cristãos, ao conhecimento íntimo e pessoal deles de Deus Pai e de nosso Senhor Jesus Cristo (v. 2).

À medida que o nosso conhecimento de Deus progride, as nossas graças e a paz também aumentam, ao que Pedro chamou de graça e paz multiplicadas por causa do pleno conhecimento de Deus Pai e de Jesus Cristo.

O poder de Deus tem operado nos cristãos para a transformação deles por meio da sua participação da natureza divina, livrando-os da corrupção que há no mundo, corrupção esta que é resultante dos desejos e paixões da carne (v. 3, 4).

Então este conhecimento que os cristãos têm e devem prosseguir tendo de Deus se refere a esta participação e aumento desta participação na natureza do próprio Deus, bem como nas virtudes que Pedro citou nos versos 5 a 7, virtudes às quais se refere como relativas ao pleno conhecimento de Cristo (v. 8).

Ele não fala sobre mero conhecimento ou compreensão intelectual destas virtudes, mas de existência delas na nossa vida, por um conhecimento de experiência íntima, pessoal e sobretudo espiritual da realidade delas implantadas no nosso ser.

O apóstolo disse que é necessária muita diligência para se fazer progresso na obtenção e aumento destas graças espirituais, e que elas são acrescentadas progressivamente umas às outras, à medida que vamos crescendo no pleno conhecimento de Jesus Cristo (v. 5).

Assim, ele disse que se deve acrescentar à nossa fé a virtude. Esta palavra, virtude, abrange muitas graças como por exemplo, bondade, benignidade, misericórdia, perdão, santidade, ousadia, sobriedade, longanimidade, hospitalidade e tudo o mais que pertença ao caráter de Cristo.

À fé e à virtude deve ser acrescentado o conhecimento, não meramente conhecimento intelectual da Palavra, mas um conhecimento vivo da vontade de Deus pela Palavra e pelo Espírito. Conhecimento do próprio Deus e do Seu caráter. Conhecimento da fraqueza e corrupção da nossa natureza terrena e de como o pecado opera nela, para que nos despojemos dela pelo conhecimento das coisas que alimentam e dão crescimento à nossa nova natureza em Cristo Jesus.
   
A estas graças deve ser acrescentado o domínio próprio que é fruto do Espírito Santo. E este domínio próprio deve ser traduzido principalmente num viver quieto e tranqüilo, no Espírito, cultivando-se a virtude da mansidão e da gratidão e contentamento em toda e qualquer circunstância (v. 6).

A fé, a virtude, o conhecimento e o domínio próprio devem ser seguidos pela perseverança na fé. A perseverança que está associada à nossa salvação de irmos até ao fim sendo fiéis a Cristo e à Sua vontade (v. 6).
     
Com a perseverança deve seguir a piedade, que é um viver santo e justo diante de Deus e dos homens.

Viver piedosamente é viver de modo totalmente consagrado a Deus.

Aqueles que tentam viverem todas estas graças pela sua própria capacidade e poder haverão de falhar, porque tudo isto nos vem do céu, pelo poder sobrenatural de Deus. São as coisas que dizem respeito à vida e piedade às quais Pedro se referiu no verso 3 como sendo dadas a nós através do poder de Deus.

À piedade deve ser juntada a fraternidade ou comunhão com os irmãos na fé, no ajuntamento santo da congregação (Igreja).

Os cristãos devem se congregar para que o poder de Deus se manifeste neles para o cumprimento de todos os Seus propósitos divinos tanto em relação a eles, quanto a tudo o que seja relativo às Suas operações no mundo, especialmente pelas intercessões dos Seus filhos (v. 7).

Finalmente, à fraternidade ou comunhão espiritual em unidade na Igreja, deve ser juntado o amor que é o vínculo da perfeição, e sem o qual nada do que somos ou temos será de qualquer valor para Deus.

Então a melhor maneira de confirmarmos a nossa eleição (v. 10) isto é, de termos certeza da nossa salvação, é por percebermos que as graças aqui citadas por Pedro estão aumentando em nossa vida. porque é um princípio vital da fé e da graça verdadeiras, aumentarem em nós.

É por isso que o apóstolo diz no verso 8 que se estas coisas existirem e abundarem em nós, não seremos ociosos e nem infrutíferos no que concerne ao pleno conhecimento de Jesus, e também, diz no verso 9 que aquele que não possui estas evidências é cego, e pode enxergar somente as coisas que estão próximas com a sua visão natural, porque estas coisas espirituais não são alcançadas por vista, mas por fé.

Onde há a graça as boas obras abundarão. Assim, aquele que não estiver crescendo em graça, com a frutificação desta graça, embora finja possuí-la, é na verdade cego quanto ao que é espiritual e divino.

Eles não podem ter nenhum discernimento do mundo vindouro. Eles são também incapazes de olharem para trás e fazerem uma correta avaliação do passado deles, porque não podem levar em conta os seus pecados porque para isto, necessitariam da iluminação do Espírito Santo em convencimento de que somente em Cristo podem ter os seus pecados passados perdoados. Mas eles não levam isto em consideração, e julgam que nem mesmo seja necessário, porque não possuem a verdadeira graça operando em seus corações (v. 9).

Há muitos tropeços que podem fazer um cristão decair da sua firmeza em Cristo.

Mas há sempre a oportunidade de restauração para o cristão que se humilha debaixo da potente mão do Senhor.

É por isso que o apóstolo se esforçou para dar o seu próprio exemplo pessoal de perseverança na fé à Igreja, de maneira que tivessem nele um modelo vivo do modo pelo qual importa caminhar diante de Deus.

E ele afirmou que enquanto estivesse neste mundo, até o último dia da sua vida, que segundo ele já se encontrava próximo sob a forma de martírio, conforme Jesus lhe havia revelado, ele não deixaria de exortar os cristãos a fazerem tudo o que lhes havia falado da parte do Senhor, lembrando-lhes sempre estas coisas, ainda que as soubessem e estivessem confirmados na verdade.

Pedro disse que estava escrevendo estas coisas e se esforçando diligentemente para que mesmo depois da sua morte os cristãos tivessem lembranças do que ele ensinou e deixou registrado em suas epístolas, para ser praticado pela Igreja (v. 10 a 15).

Pedro diz que sendo diligentes na busca do aumento de suas graças, os cristãos terão a confirmação da sua eleição, e terão amplamente suprida a entrada deles no reino de Deus e de nosso Senhor Jesus Cristo.

Eles já têm entrado neste reino pela fé, mas importa permanecer e avançar neste reino, que é próprio descanso do Senhor, pelo crescimento progressivo em santificação.

O descanso que temos em Cristo neste mundo não é absoluto e completo, por causa de nossas imperfeições, no entanto, mais se pode ter deste descanso absoluto, completo e eterno, que teremos no céu, à medida que a nossa fé aumenta.

Daí a ordenação apostólica para que cresçamos na graça e no conhecimento de Jesus, não somente para a plena certeza da nossa eleição e salvação, como também para uma entrada cada vez maior e permanente no reino do Senhor, a saber, no Seu descanso, que é Ele próprio.

Portanto, é concedido por Deus que entrem amplamente neste Seu descanso, em graus cada vez maiores, aqueles que são diligentes em crescerem na graça e no conhecimento de Jesus (II Pe 1.5-11).

Por isso o apóstolo Pedro diz em II Pe 1.11, que sendo diligentes nos “ será amplamente concedida a entrada no reino eterno do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.” (II Pe 1.11).

Sem empenho em diligência não é possível permanecer efetivamente no descanso do Senhor, ainda que não se perca a Sua posse futura, quando se é verdadeiramente um cristão justificado pelo Senhor e regenerado pelo Espírito.

Os cristãos santificados e fiéis têm amplamente suprida pelo poder do Senhor, a entrada deles no Seu reino e descanso (II Pe 1.5-11).

Pedro afirmou categoricamente que não havia inventado as coisas que havia proferido, como se elas fossem uma fábula, mas que as recebeu diretamente de Jesus Cristo para serem guardadas pela Sua Igreja (v. 16 a 18).




“1 Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco alcançaram fé igualmente preciosa na justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo:
2 Graça e paz vos sejam multiplicadas no pleno conhecimento de Deus e de Jesus nosso Senhor;
3 visto como o seu divino poder nos tem dado tudo o que diz respeito à vida e à piedade, pelo pleno conhecimento daquele que nos chamou por sua própria glória e virtude;
4 pelas quais ele nos tem dado as suas preciosas e grandíssimas promessas, para que por elas vos torneis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo.
5 E por isso mesmo vós, empregando toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude o conhecimento,
6 e ao conhecimento o domínio próprio, e ao domínio próprio a perseverança, e à perseverança a piedade,
7 e à piedade a fraternidade, e à fraternidade o amor.
8 Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas, elas não vos deixarão ociosos nem infrutíferos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo.
9 Pois aquele em quem não há estas coisas é cego, vendo somente o que está perto, havendo-se esquecido da purificação dos seus antigos pecados.
10 Portanto, irmãos, procurai mais diligentemente fazer firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis.
11 Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
12 Pelo que estarei sempre pronto para vos lembrar estas coisas, ainda que as saibais, e estejais confirmados na verdade que já está convosco.
13 E tendo por justo, enquanto ainda estou neste tabernáculo, despertar-vos com admoestações,
14 sabendo que brevemente hei de deixar este meu tabernáculo, assim como nosso Senhor Jesus Cristo já mo revelou.
15 Mas procurarei diligentemente que também em toda ocasião depois da minha morte tenhais lembrança destas coisas.
16 Porque não seguimos fábulas engenhosas quando vos fizemos conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, pois nós fôramos testemunhas oculares da sua majestade.
17 Porquanto ele recebeu de Deus Pai honra e glória, quando pela Glória Magnífica lhe foi dirigida a seguinte voz: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo;
18 e essa voz, dirigida do céu, ouvimo-la nós mesmos, estando com ele no monte santo.
19 E temos ainda mais firme a palavra profética à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma candeia que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça e a estrela da alva surja em vossos corações;
20 sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação.
21 Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo.” (II Pedro 1)







II Pedro 2

Neste capítulo o apóstolo preveniu a Igreja quanto ao erro dos falsos profetas, argumentando que sempre haveria falsos profetas atuando contra a Igreja em todos os períodos da sua história, assim como houve falsos profetas nos dias do Antigo Testamento, atuando no período dos profetas verdadeiros de Deus, especialmente daqueles que Ele usou para a produção das Escrituras.

A Igreja está encarregada por Deus para ser a coluna e o baluarte da verdade na terra até que Cristo volte.

A sustentação e manutenção da verdade no mundo dependem portanto, da vigilância da Igreja para guardar o depósito da fé que lhe foi confiado pelo Senhor, especialmente contra as investidas dos falsos profetas e mestres, que são instrumentos de Satanás que se transfiguram em ministros da justiça, enquanto o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz, com o propósito de invalidar a Palavra de Deus, porque é por meio dela que as almas dos pecadores são livradas do reino das trevas e transportadas para o Reino da luz.

A Palavra de Deus é o alimento do espírito dos cristãos, é o verdadeiro pão do céu que os nutre e mantém saudáveis em espírito diante do Senhor.

Se ficam privados deste alimento ou se o recebem adulterado eles enfraquecem na fé, porque a fé vem pelo o ouvir, e o ouvir pela pregação da Palavra.

Nenhum cristão verdadeiro deveria portanto fazer concessões para receber uma palavra falsificada no lugar da Palavra da verdade, a bem da sua própria vida e da Igreja.

 Pedro disse que estes falsos profetas e mestres introduziriam suas heresias destruidoras na Igreja de maneira encoberta, isto é, agindo como lobos em peles de ovelhas tal como Jesus havia alertado a Igreja para que se acautelasse deles, exatamente por causa desta dificuldade de serem logo identificados.

Eles negam o Senhor porque não pregam debaixo da obediência à Sua vontade somente aquilo que Ele nos ordenou para ser ensinado e guardado.

Eles pregam algumas coisas agradáveis do evangelho pela própria escolha deles para agradarem e seduzirem as pessoas.

Eles não pregarão o escândalo da cruz, e não atacarão firme o pecado, antes pregarão uma graça irresponsável que não é a verdadeira graça a qual exige diligência e santificação dos cristãos.

Assim, o evangelho destes falsos profetas e mestres não tem porta estreita, nem caminho estreito para a salvação.

Eles falam de Jesus, mas o Jesus que eles pregam não é o da Bíblia, e por isso o apóstolo afirma que eles negam o Senhor que os resgatou, e com isso trazem sobre si mesmos repentina destruição (v. 1).

Nenhum cristão bem instruído pelo Espírito deveria permanecer debaixo da liderança destes falsos profetas e mestres, porque são muitos os que seguem as suas dissoluções, e por causa deles o caminho da verdade é blasfemado (v. 2), porque a santificação não será forjada na vida dos seus ouvintes, porque eles vivem na carne e não pregam a verdade, e sem a prática da Palavra não há santificação, assim como quem prega na carne nada mais pode gerar senão o que é carnal, e jamais o que seja verdadeiramente espiritual.

Uma outra característica destes falsos profetas e mestres é que eles ministram movidos pela ganância, porque o que eles visam verdadeiramente não é a glória de Deus, mas aquilo que é do próprio interesse egoísta deles, e para atingir os seus propósitos pessoais eles agem usando palavras fingidas, e usam os cristãos como fossem uma mercadoria deles, para  atingirem dos seus objetivos gananciosos (v. 3).

No entanto a condenação deles já foi lavrada por Deus há muito tempo e a destruição deles é certa, porque o Senhor dar-lhes-á a devida paga a Seu tempo.

Se nem mesmo aos anjos que pecaram,  ele poupou lançando-os no inferno, e tem mantido a muitos deles no abismo de trevas, onde se encontram aguardando o dia do juízo final sobre eles (v. 4), quanto mais não serão condenados pelo Senhor estes falsos ministros que estão a serviço do diabo.

Também com certeza não os poupará porque somente Noé e mais sete pessoas foram livradas do inferno quando Deus destruiu milhares de pessoas com as águas do dilúvio; e somente Ló foi livrado da destruição pelo fogo das cidades de Sodoma e Gomorra, as quais Deus colocou como exemplo do que sucederá a todos os que vivem impiamente (v. 5, 6).

Assim como o Senhor livrou Ló, de igual modo Ele sabe como livrar os piedosos da tentação, e reservar para o dia do juízo os injustos que ele começou a castigar ainda aqui neste mundo para revelar que haverá de fato um juízo final (v. 7 a 9).

Satanás e os seus ministros procuram se levantar principalmente contra a autoridade de Deus, e como não podem atingi-lo diretamente, eles atacam as autoridades que foram instituídas por Ele, rebelando-se contra elas com seu atrevimento, arrogância e não receiam blasfemar da dignidade delas, enquanto que os próprios anjos, embora sejam maiores em força e em poder, não pronunciam juízo blasfemo contra tais autoridades diante do Senhor (v. 10, 11).

Depois de nos colocar em alerta contra os sedutores, o apóstolo passou a descrevê-los mais detalhadamente a partir do verso 12; e neste verso eles são descritos como aqueles vasos de ira preparados para a destruição, porque eles seguem resolutamente a natureza terrena deles porque agem como fossem criaturas irracionais, porque não fazem uso adequado da razão para levarem seus pensamentos cativos à obediência de Cristo, de maneira que, por natureza, permanecem na condição de existirem para serem aprisionados e mortos, e como blasfemam daquilo que não deveriam blasfemar, mas o fazem porque não podem entender a natureza das coisas contra as quais blasfemam, é certo que perecerão na sua corrupção.

Eles se riem daqueles que levam a vontade de Deus a sério, e que se santificam, porque isto é para eles algo exagerado, fanático, desnecessário, porque alegam que basta somente crer em Cristo, por se estar na graça, de maneira que dizem que os cristãos têm liberdade para fazerem o que seja da própria vontade deles, e assim, eles blasfemam contra as coisas santas de Deus.

Como eles vivem na carne, o seu prazer  está voltado para deleites, entretenimentos, festas, reuniões para o propósito de satisfazerem a carne com banquetes e outros deleites relativos às paixões e desejos de suas almas ímpias.

Como não podem caminhar na verdade se deleitam nas suas dissimulações, porque vivem do engano, e têm prazer nisto.

Eles são verdadeiras manchas para o nome de Cristo e da Sua Igreja.

São adúlteros e a fome deles para pecar não pode ser saciada, e assim toda alma que for inconstante será engodada por eles.

O coração deles se exercita continuamente na ganância, e são filhos de maldição porque seguem pelo mesmo caminho de Balaão, que profetizava por dinheiro.

Eles deixaram voluntariamente o caminho de Deus e se desviaram por amarem o prêmio da injustiça tal como fizera Balaão, o modelo deles do passado.

No entanto, eles são piores que Balaão, que ao menos retrocedeu em amaldiçoar Israel porque deu ouvidos à repreensão do jumento, mas estes não dão ouvidos à própria Palavra de Deus revelada nas Escrituras (v. 13 a 16).
 
Eles se apresentam como fontes, mas não têm água para saciar a sede dos que têm sede da água viva do Espírito; são nuvens levadas pelo vento e que também não trazem chuva para regar a terra de corações, que necessitam serem amolecidos, e assim o que está reservado para eles é a negridão das trevas (v. 17).

Quão distante estão portanto estes falsos profetas e mestres do exemplo de humildade e mansidão que houve em Cristo e que deve ser achado também em todos os Seus ministros.

Quão longe eles estão daquela santidade de vida que deve existir em todos os verdadeiros ministros de Cristo.

Quão resistentes eles são à Palavra de Deus e ao trabalho do Espírito, sobretudo no que diz respeito à implantação de todas as graças que o apóstolo relacionou no primeiro capítulo desta epístola.

Por tudo isto eles comprovam que são pessoas que não possuem de fato a habitação do Espírito Santo, que lhes teria regenerado e santificado, tornando-lhes novas criaturas.

Estes falsos profetas e mestres se intrometeriam na liderança da Igreja, mas o apóstolo está alertando os cristãos para não reconhecerem a tais homens e não permitirem que eles permaneçam no exercício do ministério, porque debaixo da liderança deles o rebanho certamente seria posto a perder.

A sedução deles consiste em atrair os discípulos para uma vida carnal e sensual que não lhes exija, conforme é da vontade de Deus, a mortificação do pecado e a prática da justiça, por um andar no Espírito.

Então eles agradarão a muitos, porque não são poucos os que resistem a um viver e um andar no Espírito, e que consideram ser possível agradar a Deus vivendo na carne.

Eles sinalizam com liberdade total sob a alegação de que os cristãos estão na graça.

E então eles próprios permanecem ainda presos às suas cobiças e pecados, enquanto oferecem aos outros uma liberdade que eles próprios não possuem.

O que pode parecer para muitos ser uma vantagem para os falsos profetas e mestres, o fato deles terem algum conhecimento nocional da verdade das Escrituras em suas mentes, apesar de não tê-lo por experiência em seus corações, que isto servirá pelo menos de abrandamento da pena para eles no dia do Juízo.

No entanto, isto não será uma circunstância atenuante, senão agravante, porque o apóstolo afirma que o último estado deles será pior do que o primeiro, porque seria melhor que fossem totalmente ignorantes acerca dos caminhos de Deus, do que conhecendo o que se exige para andar neste caminho, tenham vivido num outro caminho diferente, e ainda conduzindo a outros a caminharem de maneira errada (v. 18 a 22).

Não haverá portanto nenhuma consideração da parte de Deus no dia do Juízo para aqueles que tenham vivido por um período, ainda que apenas de maneira externa, segundo os mandamentos da Palavra, e que logo depois vieram a apostatar entregando-se abertamente à prática das antigas corrupções que eles haviam abandonado temporariamente, eles serão considerados como o cão que voltou ao seu vômito e a porca lavada que voltou ao lamaçal.

As palavras usadas pelo apóstolo contra os falsos pastores e mestres na Igreja, são vigorosas e duras, e chegam a constranger o nosso coração quando as lemos, porque afinal, são dirigidas contra pessoas, mas ele nada fez além de descrever tudo aquilo que aprendera do próprio Senhor Jesus Cristo, em relação aos que vivem da prática da mentira e do engano.

Sendo que estas palavras são também reafirmadas em essência pelo apóstolo Judas, irmão do Senhor Jesus, na curta epistola do Novo Testamento, que escreveu e que leva o seu nome.

Somente a justiça de Cristo aplicada à alma, e a perseverança na santificação, que comprova e é a evidência de ter sido de fato justificado pela graça mediante a fé, pode livrar da condenação vindoura.


“Mas houve também entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá falsos mestres, os quais introduzirão encobertamente heresias destruidoras, negando até o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição.
2 E muitos seguirão as suas dissoluções, e por causa deles será blasfemado o caminho da verdade;
3 também, movidos pela ganância, e com palavras fingidas, eles farão de vós negócio; a condenação dos quais já de largo tempo não tarda e a sua destruição não dormita.
4 Porque se Deus não poupou a anjos quando pecaram, mas lançou-os no inferno, e os entregou aos abismos da escuridão, reservando-os para o juízo;
5 se não poupou ao mundo antigo, embora preservasse a Noé, pregador da justiça, com mais sete pessoas, ao trazer o dilúvio sobre o mundo dos ímpios;
6 se, reduzindo a cinza as cidades de Sodoma e Gomorra, condenou-as à destruição, havendo-as posto para exemplo aos que vivessem impiamente;
7 e se livrou ao justo Ló, atribulado pela vida dissoluta daqueles perversos
8 (porque este justo, habitando entre eles, por ver e ouvir, afligia todos os dias a sua alma justa com as injustas obras deles);
9 também sabe o Senhor livrar da tentação os piedosos, e reservar para o dia do juízo os injustos, que já estão sendo castigados;
10 especialmente aqueles que, seguindo a carne, andam em imundas concupiscências, e desprezam toda autoridade. Atrevidos, arrogantes, não receiam blasfemar das dignidades,
11 enquanto que os anjos, embora maiores em força e poder, não pronunciam contra eles juízo blasfemo diante do Senhor.
12 Mas estes, como criaturas irracionais, por natureza feitas para serem presas e mortas, blasfemando do que não entendem, perecerão na sua corrupção,
13 recebendo a paga da sua injustiça; pois que tais homens têm prazer em deleites à luz do dia; nódoas são eles e máculas, deleitando-se em suas dissimulações, quando se banqueteiam convosco;
14 tendo os olhos cheios de adultério e insaciáveis no pecar; engodando as almas inconstantes, tendo um coração exercitado na ganância, filhos de maldição;
15 os quais, deixando o caminho direito, desviaram-se, tendo seguido o caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o prêmio da injustiça,
16 mas que foi repreendido pela sua própria transgressão: um mudo jumento, falando com voz humana, impediu a loucura do profeta.
17 Estes são fontes sem água, névoas levadas por uma tempestade, para os quais está reservado o negrume das trevas.
18 Porque, falando palavras arrogantes de vaidade, nas concupiscências da carne engodam com dissoluções aqueles que mal estão escapando aos que vivem no erro;
19 prometendo-lhes liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção; porque de quem um homem é vencido, do mesmo é feito escravo.
20 Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo pelo pleno conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, ficam de novo envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior que o primeiro.
21 Porque melhor lhes fora não terem conhecido o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado.
22 Deste modo sobreveio-lhes o que diz este provérbio verdadeiro; Volta o cão ao seu vômito, e a porca lavada volta a revolver-se no lamaçal.”






II Pedro 3

Tendo falado no capítulo anterior, sobre os falsos profetas e mestres, que atuam na Igreja passando-se por ministros de Cristo, o apóstolo alertou os cristãos quanto à vinda dos escarnecedores.

Estes blasfemadores estão a serviço do mistério da iniquidade que já opera, tanto quanto os falsos profetas e mestres.

O espírito de blasfêmia que tem operado no mundo há de se intensificar à medida que a volta de Jesus se aproxima, e era isto que Pedro queria alertar à Igreja, de maneira que ninguém pense que a pregação do evangelho há de melhorar o mundo progressivamente até ao ponto de que todos venham se render a Deus.

Ao contrário, a iniquidade se multiplicará e o amor se esfriará de muitos, conforme Jesus havia ensinado aos apóstolos ainda durante o Seu ministério terreno.

Mas muito mais do que alertar sobre os falsos profetas e mestres e sobre estes escarnecedores blasfemos, Pedro afirmou nos dois primeiros versos deste 3º capítulo que o seu propósito foi o de despertar com admoestações o ânimo dos cristãos com as coisas que havia escrito tanto na primeira quanto nesta segunda epístola, bem como para lhes dizer que deveriam se lembrar das palavras que haviam sido ditas anteriormente pelos santos profetas e do mandamento do Senhor e Salvador que lhes fora dado mediante os apóstolos.

Pedro citou uma das características dos escarnecedores, especialmente daqueles que estivessem vivendo próximo da vinda do Senhor, que eles negariam a verdade de que Cristo voltará e argumentarão em favor da afirmação deles que tudo tem permanecido como desde o princípio da criação (v. 3, 4).

No entanto, eles ignoram que nem sempre existiram os céus e a terra, e que a terra que agora existe foi tirada do meio das águas, porque no princípio havia apenas uma grande profundidade de águas sobre as quais o Espírito de Deus pairava para começar a criar todas as coisas naqueles seis dias memoráveis da criação (v. 5).

Ora, então desde qual princípio tudo permanece o mesmo, conforme afirmam os escarnecedores?

O que estes escarnecedores sabem a respeito do que Deus planejou para o homem e para todo o universo?

Eles por acaso se dão conta de que o tempo e o espaço passaram a existir somente depois da criação de todas as coisas?

E que um dia na glória, não haverá mais princípio nem fim, e tudo será um eterno agora na presença de Deus?

Deus que tudo criou na terra tendo começado pela água, pela mesma água fez perecer o mundo antigo nos dias de Noé (v. 6).

Se o mundo antigo foi reservado por Ele para ser subjugado por causa deste mesmo escárnio contra Ele, de igual maneira o novo mundo tem sido entesourado para o fogo que consumirá tanto os céus quanto a terra, no dia em que Deus julgar e condenar à perdição eterna os homens ímpios (v. 5 a 7).

Assim como os ímpios dos dias de Noé foram alertados sobre a proximidade do juízo de Deus com o dilúvio, mas não deram ouvidos à pregação do patriarca, de igual maneira os ímpios que agora existem e que estão zombando do juízo que virá; estão perecendo porque não estão se convertendo, pois não dão crédito à Palavra de Deus que está lhes advertindo que eles perecerão caso não se arrependam dos seus pecados.

Eles se esquecem que Deus não traz logo o juízo à terra porque tem planejado salvar todos os eleitos que ainda haverão de nascer, até o último deles, e por isso é longânimo em não manifestar imediatamente o Seu juízo contra o pecado (v. 9).

Mas tudo o que agora existe passará com um grande estrondo e tanto os céus quanto a terra serão dissolvidos pelo fogo ardente do juízo de Deus (v. 10).

Pedro falou sobre esta destruição como se ela fosse ocorrer no dia da volta do Senhor, mas como ele mesmo disse no verso 8 que para o Senhor um dia é como se fosse mil anos, e mil anos como se fossem um  único dia, então nós podemos entender que isto ocorrerá depois da volta do Senhor, provavelmente logo depois de ter encerrado o período do milênio.

Então ninguém se iluda, especialmente no tempo do fim, que o Senhor não leva em consideração o pecado, uma vez que a ação dos blasfemadores e escarnecedores aumentará muito nos últimos dias.

Eles estão preparando a chegada do Anticristo cuja boca é de blasfêmias (Apo 13.1-6).

Nenhum cristão deve esfriar na sua diligência na busca de santificação por ver a iniquidade se multiplicar. Ao contrário, será exatamente nestes dias próximos da vinda do Senhor que os cristãos deverão intensificar ainda mais a santificação deles para que estejam fortalecidos na graça, porque serão tempos trabalhosos e difíceis para se manter firme na fé.

Pedro queria encorajar e fortalecer os cristãos quanto a isto, lhes alertando sobre as coisas que haveriam de suceder e sobre as quais os apóstolos haviam sido instruídos devidamente por Jesus.

O apóstolo afirmou a necessidade de se santificar ainda mais nestes últimos dias, atendendo à chamada do Espírito Santo, que intensificará o Seu trabalho em avivamentos e despertamentos espirituais daqueles que se encontravam dormindo, para prepará-los com o encontro com Jesus entre nuvens no arrebatamento e também para fortalecê-los com graça para poderem permanecer na fé nestes dias difíceis.

O fogo do juízo virá para o ímpio na volta de Jesus, mas para os que nele creem, este dia deve ser desejado porque será a partir dele que se  dará o cumprimento da promessa de novos céus e de uma nova terra, nos quais habitará  para sempre a justiça.

Então, os cristãos devem ser diligentes para serem achados em paz, imaculados e irrepreensíveis, e isto somente é possível pela santificação que consiste na mortificação do pecado e no revestimento das virtudes de Cristo, pelo poder do Espírito.

Ao olhar ao seu redor e ver um mundo cada vez pior, entregue às trevas, à iniquidade; ao pecado em novas manifestações e formas, os cristãos não devem pensar que Deus tenha cruzado os Seus braços e que não esteja controlando o rumo da história. Estas coisas estão preditas e devem acontecer para a manifestação do Anticristo, mas Deus tem colocado um prazo em todas estas coisas e logo haverá de se manifestar o reino eterno de justiça de Jesus Cristo com os Seus santos.

Há galardões, há uma recompensa certa e segura para os cristãos fiéis, mas o motivo da fidelidade deles deve ser mais elevado do que o interesse pela recompensa, a saber, tudo fazerem por amor Àquele que os salvou.

Nestes dias difíceis que têm chegado a nós, os cristãos devem buscar o refúgio seguro da Palavra de Deus, sabendo que poderão se levantar de possíveis fraquezas e apostasias porque a longanimidade de Jesus fez provisão para estas coisas para curá-los com a Sua graça (v. 15a).

Pessoas ignorantes e inconstantes torcem as Escrituras, especialmente os pontos de difícil entendimento, para a própria perdição delas, mas os cristãos fiéis devem se abster deste erro e se guardarem deste engano, para que não sejam arrastados juntamente com eles, por causa da  distorção que fazem da verdade, conforme esta se encontra revelada nas Escrituras, e assim venham a cair da sua firmeza na fé (v. 15 a 17).

Mas o antídoto eficaz para evitar tais quedas é crescer na graça e no conhecimento de Jesus Cristo (santificação e amadurecimento espiritual). Já nos referimos anteriormente em que consiste este crescimento na graça e em que consiste conhecer Jesus, não somente por ouvir falar ou ler a respeito de, mas por experiência espiritual, íntima e pessoal com Ele (v.18).


“1 Amados, já é esta a segunda carta que vos escrevo; em ambas as quais desperto com admoestações o vosso ânimo sincero;
2 para que vos lembreis das palavras que dantes foram ditas pelos santos profetas, e do mandamento do Senhor e Salvador, dado mediante os vossos apóstolos;
3 sabendo primeiro isto, que nos últimos dias virão escarnecedores com zombaria andando segundo as suas próprias concupiscências,
4 e dizendo: Onde está a promessa da sua vinda? porque desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação.
5 Pois eles de propósito ignoram isto, que pela palavra de Deus já desde a antiguidade existiram os céus e a terra, que foi tirada da água e no meio da água subsiste;
6 pelas quais coisas pereceu o mundo de então, afogado em água;
7 mas os céus e a terra de agora, pela mesma palavra, têm sido guardados para o fogo, sendo reservados para o dia do juízo e da perdição dos homens ímpios.
8 Mas vós, amados, não ignoreis uma coisa: que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia.
9 O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; porém é longânimo para convosco, não querendo que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se.
10 Virá, pois, como ladrão o dia do Senhor, no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se dissolverão, e a terra, e as obras que nela há, serão descobertas.
11 Ora, uma vez que todas estas coisas hão de ser assim dissolvidas, que pessoas não deveis ser em santidade e piedade,
12 aguardando, e desejando ardentemente a vinda do dia de Deus, em que os céus, em fogo se dissolverão, e os elementos, ardendo, se fundirão.
13 Nós, porém, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e uma nova terra, nos quais habita a justiça.
14 Pelo que, amados, como estais aguardando estas coisas, procurai diligentemente que por ele sejais achados em paz,  imaculados e irrepreensíveis;
15 e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada;
16 como faz também em todas as suas epístolas, nelas falando acerca destas coisas, nas quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, como o fazem também com as outras Escrituras, para sua própria perdição.
17 Vós, portanto, amados, sabendo isto de antemão, guardai-vos de que pelo engano dos homens perversos sejais juntamente arrebatados, e descaiais da vossa firmeza;
18 antes crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja dada a glória, assim agora, como no dia eterno.”.



Nenhum comentário:

Postar um comentário