sábado, 17 de outubro de 2015

João 1 a 21

João 1

Jesus O Verbo e a Luz Divinos - João 1

“1 No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
2 Ele estava no princípio com Deus.
3 Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.
4 Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.
5 E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.”. (João 1.1-5)

A palavra “verbo” do texto foi traduzida do   original grego “logos”, que significa “palavra”.
Mas como “verbo” é palavra indicadora de ação, a maior parte das traduções da língua portuguesa traz “verbo” em vez de “palavra”.
Ambos podem ser usados e estão corretos, mas “palavra” define melhor o pensamento de João ao usar o referido termo para se referir à Pessoa de Jesus, porque certamente ele tinha em mente demonstrar que Jesus foi quem tomou parte na criação ao lado de Deus e do Espírito Santo, sendo a Palavra que tudo criou, porque é dito que o mundo foi criado pela Palavra de Deus, uma vez que Ele disse em cada ato da criação: “haja” ou “faça-se”.
 “Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o exército deles pelo sopro da sua boca.” (Sl 33.6).
“Pela fé entendemos que os mundos foram criados pela palavra de Deus; de modo que o visível não foi feito daquilo que se vê.”  (Hb 11.3).
“Pois eles de propósito ignoram isto, que pela palavra de Deus já desde a antiguidade existiram os céus e a terra, que foi tirada da água e no meio da água subsiste;”  (II Pe 3.5).
Ao fazer uso da palavra Verbo, João a associou aos atos da criação dos céus e da terra, conforme se vê no verso 3.
E ao identificar Jesus como sendo o Logos, a Palavra, ou Verbo eterno, podemos também considerar que a mente eterna de Deus foi revelada a nós por meio dEle.
Os pensamentos puros, perfeitos e conhecedores de tudo o que há em Deus, são inerentes a Cristo e Ele os revelou a nós.
É somente por meio dEle que os selos do livro da vida são removidos para que os mistérios da verdade sejam revelados a nós.
Se Ele não tivesse se manifestado ao mundo nós permaneceríamos nas trevas quanto a esta vida do Espírito Santo, que se manifesta nos que têm fé nEle.
Vida de poder espiritual e de comunhão em amor celestial.
Vida de frutos e dons espirituais que são comunicados entre aqueles que têm sido vivificados pela luz de Cristo, a qual, quando permanecemos nela, faz com que a vida de Cristo se manifeste em nós.  
Neste sentido, pode-se dizer então que Cristo é a fonte mesma da qual procede toda a Palavra que sai da boca de Deus, sendo que Ele mesmo é Aquele por quem se expressa esta Palavra.
Daí ter dito que a Palavra que Ele proferia não provinha dEle próprio, mas do Pai, isto é, tudo o que o Pai expressa pela Palavra, Ele o faz por meio do Filho, de maneira que João havia apreendido este ensino e verdade de Jesus aos apóstolos em Seu ministério terreno, e pôde compreender que o mundo foi feito pela Palavra liberada pelo próprio Cristo, daí dizer que Ele é a Palavra (Verbo) pela qual todas as coisas foram feitas, e que sem Ele nada do que foi feito se fez (v. 3); isto é, o Pai nada fez sem a participação de Cristo.
Somente Jesus tem as palavras de vida eterna. Pedro teve este reconhecimento que é dEle que emana a palavra que dá vida aos pecadores (Jo 6.68), e a experiência comprova isto em todos os testemunhos de conversão.
“Segundo a sua própria vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas.”  (Tg 1.18).
“tendo renascido, não de semente corruptível, mas de incorruptível, pela palavra de Deus, a qual vive e permanece.” (I Pe 1.23).
Os textos destacados acima de Tiago e Pedro revelam o ato da nova criação espiritual pela Palavra.
Esta Palavra é a verdade, e Jesus disse também ser esta verdade, que liberta e dá vida.    
Há então, poder e ação envolvidos nesta Palavra, aqui referida pelo apóstolo, e a que é citada em todas as passagens bíblicas que se referem a ações de criação, de salvação, de santificação, e de tudo o mais que dependa da liberação do poder pela Palavra de Cristo.
Por isso Jesus havia dito que as suas palavras são espírito e vida (Jo 6.63). E também que o homem não vive somente de pão, mas de toda palavra que procede da boca de Deus (Mt 4.4), porque é pela palavra de ação poderosa, que novas criaturas com a vida que procede do céu são geradas.
È também, pela prática da Sua palavra, isto é, tê-la em devida consideração e vivendo segundo o seu poder, que se tem a vida solidamente firmada num fundamento inabalável (Mt 7.24).
Era com a Sua palavra de ordem que Jesus expulsava demônios e curava enfermos, e que ainda o faz através daqueles que nEle creem (M 8.16).
É por isso que as palavras de Jesus jamais passarão porque são eternas assim como Ele é eterno (Mt 24.35).
Desta forma, crer de fato em Jesus é permanecer nEle, e permanecer nEle é permanecer portanto na Sua palavra; e como esta palavra é a vida eterna, aquele que a guarda jamais morrerá eternamente  (Jo 8.31; 51; 14.24).
Como Jesus é santo, é a sua Palavra que nos santifica (Jo 15.3; 17.17).
Foi por isso que a Igreja Primitiva tinha poder para pregar o evangelho, porque eles viviam e pregavam somente a Palavra (At 4.29, 31; 5.20; 6.2, 7; 8.4, 25;10.44; 11.14; 12.24; 13.5, 44, 48, 49; 14.3, 25; 15.35, 36; 16.32; 17.11; 18.5, 11; 19.10, 20; 20.32).
A fé é gerada por se ouvir a Palavra (Rom 10.17).
Nós vemos nas palavras de Paulo em I Cor 1.17; 2.1, 4, 13; I Tes 1.5 que a pregação desta Palavra viva é muito mais do que simplesmente exposição verbal de conceitos teológicos, ou de meras citações bíblicas, mas a liberação da porção da verdade, conforme está revelada nas Escrituras, em exposição, com palavras ensinadas pelo Espírito, no poder do Espírito, conforme esta é revelada pelo mesmo Espírito ao coração e mente do pregador (Ef 6.19):
“Porque Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o evangelho; não em sabedoria de palavras, para não se tornar vã a cruz de Cristo.”  (I Cor 1.17).
“E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria.”  (I Cor 2.1).
“A minha linguagem e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria, mas em demonstração do Espírito de poder;”  (I Cor 2.4).
“as quais também falamos, não com palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito Santo, comparando coisas espirituais com espirituais.”  (I Cor 2.13).
“porque o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo e em plena convicção, como bem sabeis quais fomos entre vós por amor de vós.”  (I Tes 1.5).
Esta Palavra já existia antes que houvesse mundo, antes da existência do tempo cronológico, ao que João chama de “no princípio” mostrando que era, que é e sempre será.
Cristo sempre esteve em co-existência com o Pai. Ele estava, está e sempre estará com Deus. De maneira que crer em Cristo é crer em Deus Pai, porque o Pai e o Filho co-existem em perfeita unidade e são inseparáveis.
Somente Jesus estava qualificado para efetuar a nossa redenção porque Ele conhece perfeitamente a nossa constituição total, de espírito alma e corpo porque Ele nos criou, assim como todas as coisas.
Ele deve receber, portanto a nossa adoração também como Criador, e não apenas como Salvador e Senhor.
João afirma no verso 4 que a vida estava em Cristo, e que esta vida era a luz dos homens.
A luz condenará as obras infrutíferas das trevas naqueles que permanecem no pecado, porque fará a exposição do que se ocultava nas trevas:
“Mas todas estas coisas, sendo condenadas, se manifestam pela luz, pois tudo o que se manifesta é luz.”  (Ef 5.13).
É pela luz da revelação divina que o pecado pode ser condenado ou extirpado.
E João nos diz que a vida está em Jesus, e que esta vida era a luz dos homens; isto é, somente quando a vida poderosa de Jesus se manifesta em alguém, é que tal pessoa poderá vir para a luz de Deus e conhecer a Deus e compreender as coisas espirituais e divinas.
Assim, fora de Cristo, não há esta possibilidade, porque vida e luz para os homens procedem dEle, e ambas são inseparáveis.
A vida eterna que nós necessitamos para escapar da morte eterna está somente em Cristo Jesus, e é nEle portanto que devemos buscá-la, e João nos indica o meio de obtê-la, a saber, por meio da Palavra e pelo andar na luz.  
É a luz de Cristo que ilumina o nosso entendimento e espírito para compreendermos as Escrituras.
Elas permanecem como um livro fechado para nós até que Cristo abra o nosso entendimento e se revele ao nosso espírito para que possamos compreendê-las; como fizera com os dois discípulos no caminho de Emaús, aos quais lhes abriu o entendimento para compreenderem tudo o que estava escrito acerca dEle nas Escrituras.
Não foi João quem conceituou Jesus como luz, pois Ele próprio fizera tal afirmação acerca de Si mesmo durante o Seu ministério terreno, confirmando aquilo que as Escrituras do Velho Testamento afirmam sobre Ele, especialmente de que Ele seria luz para os gentios. (Mt 4.16; Jo 3.19; Jo 8.12)


Jesus o Autor de Toda Vida - João 1

“6 Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João.
7 Este veio para testemunho, para que testificasse da luz, para que todos cressem por ele.
8 Não era ele a luz, mas para que testificasse da luz.
9 Ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo.
10 Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu.
11 Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.
12 Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome;
13 Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.
14 E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.”

O apóstolo diz que João Batista havia sido enviado por Deus para dar testemunho da luz, não da sua luz, mas da fonte da verdadeira luz que é Cristo.
João Batista veio para testificar da luz, clamando no deserto para que todos cressem nAquele que é a luz e que é a única que pode iluminar a todo homem que chega à existência neste mundo.
Fora dEle há somente trevas e morte. Mas os que estão nEle encontram luz e vida.
Jesus criou o mundo, e se manifestou ao mundo, mas o mundo não pode conhecê-lo, senão aqueles que vêm para a Sua luz (v. 10).
Este testemunho de João que ele havia aprendido diretamente do próprio Cristo de ser Ele o criador do mundo, acaba com todo o debate acerca da divindade de Jesus, porque ninguém, a não ser somente um ser divino poderia ter criado o mundo.
João usa o verbo no passado “estava no mundo”, ao se referir ao Senhor, porque vários anos já haviam se passado desde que Ele havia ressuscitado e subido ao céu, quando João escreveu este seu evangelho.
Então ele está dizendo do que havia visto acerca do ministério terreno de Jesus, e especialmente da sua rejeição pelos judeus, rejeição esta que continuaria ocorrendo por causa do endurecimento deles.
A nação de Israel se recusou a receber ao Senhor, mas todos aqueles que dentre os judeus, e todos os gentios, que O têm recebido, a estes Ele tem dado o poder de se tornarem  filhos de Deus, pela simples fé nEle, pela qual alcançam o arrependimento, a justificação, a regeneração, a santificação e a glorificação que são por meio dEle (v. 12).
Estes que são tornados filhos de Deus, foram regenerados pelo Espírito Santo, conforme a vontade de Deus em relação a eles, e não por nascimento natural (laços de sangue), nem da vontade da carne, nem da vontade do homem. Não foi por um planejamento dos desejos e nem da vontade da alma do homem que alguém é transformado num filho de Deus, mas pelo Seu exclusivo poder e vontade (v. 12, 13).
Foi para este propósito que Jesus (o Verbo) encarnou e veio a este mundo tendo habitado entre os homens, e manifestado aos seus discípulos a sua glória como Filho unigênito de Deus Pai, estando cheio de graça e de verdade.
Jesus não deixou de ser o Verbo e a Luz quando encarnou.
Muitos haviam permanecido no batismo de João e não avançaram, além disto, e assim não chegaram a conhecer a verdadeira luz da qual o próprio João veio dar testemunho, com a luz da fonte que é Cristo que ardeu no próprio João por um breve tempo, no seu curto ministério no deserto. João não era o Noivo, mas o amigo do Noivo. Não era o Príncipe, mas o seu precursor. Não era a luz, mas o reflexo da luz. O próprio João reconheceu que não era ele que deveria ser seguido, mas o Cristo do qual ele dava testemunho.
De igual maneira, nós não devemos ser seguidores e adoradores dos ministros do evangelho, mas somente dAquele para o qual eles devem apontar, que é Cristo. Eles não são nossos senhores, e nem têm domínio sobre a nossa fé, mas são apenas ministros por meio de quem nós cremos porque deram testemunho da luz como mordomos na casa de Deus.
Ninguém deve se deixar conduzir por uma fé cega nos homens, por mais santos que eles sejam, porque não são eles aquela luz que veio ao mundo e pela qual os homens recebem uma nova vida de Deus, mas temos que dar atenção e receber o testemunho deles porque são enviados pelo próprio Deus como testemunhas da luz que dá vida aos homens.
Se João Batista tivesse fingido ser ele próprio a luz, ele não teria sido uma testemunha fiel da luz de Jesus.
Aqueles que usurpam a honra e a glória de Cristo terão que prestar contas a Deus do mau uso que fizeram da mordomia deles.


João Batista Testificou da Graça e Verdade de Jesus - João 1

“15 João testificou dele, e clamou, dizendo: Este era aquele de quem eu dizia: O que vem após mim é antes de mim, porque foi primeiro do que eu.
16 E todos nós recebemos também da sua plenitude, e graça sobre graça.
17 Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo.
18 Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou.”

O apóstolo havia dito nos versos anteriores que João Batista havia dado testemunho da luz, e aqui ele começa a mostrar qual foi o testemunho que ele havia dado, conforme a palavra que Deus havia revelado a ele acerca de Cristo.
João Batista disse que Jesus viria após ele, mas que já existia antes dele ter vindo ao mundo, e que era dEle que nós recebemos da sua plenitude e graça sobre graça (v. 15, 16).
A razão disto é que Ele não veio nos trazer a Lei como fora dada a Moisés, mas a graça e a verdade do evangelho, pelas quais somos salvos e transformados em novas criaturas (v. 17).
Jesus é a expressa imagem de Deus Pai, porque é da mesma essência que Ele, de maneira que o Deus invisível, que ninguém nunca havia visto, foi revelado por meio do Seu Filho unigênito (v. 18).
Jesus se manifestou cheio de graça e de verdade para poder repartir da Sua plenitude dando-os como dons aos homens. Ele tem toda a suficiência de graça e de verdade para salvar os pecadores e torná-los semelhantes a Ele próprio.    
Nós devemos então olhar para Jesus com os olhos da fé, da maneira que convém ser olhado, isto é, como alguém que está completamente cheio de toda graça, virtude, verdade, dons, enfim, tudo o que for necessário para o nosso aperfeiçoamento espiritual, e para que tenhamos um viver em verdadeira vitória perante Ele, recebendo dEle toda a provisão que necessitamos.
Ele está cheio de graça e de verdade e os que esperam nEle não terão falta alguma.
Ele é uma fonte inesgotável, e o Espírito que nos tem dado é um rio de águas vivas que flui para a eternidade e cujas águas jamais se esgotarão.
Por isso, nunca devemos ficar satisfeitos e imóveis com a medida de graça que tivermos no presente, porque somos chamados a avançar de medida de graça sobre graça até à perfeita maturidade em Cristo Jesus.
O apóstolo Paulo havia experimentado abundantemente desta fonte e viu que sempre havia muito mais para ser experimentado, e assim ele falou de uma graça superabundante, de uma suprema riqueza da graça inescrutável de Cristo (Rom 5.20; Ef 1.7; 2.7; 3.8).
É, graça sobre graça para fazer avançar a própria graça na nossa vida, e não propriamente para atender a desejos caprichosos terrenos.
Das nossas necessidades terrenas Deus cuidará, mas elas não podem nos melhorar e aperfeiçoar um só milímetro, por isto a graça é concedida para que sejamos revestidos da plenitude de Deus em nosso próprio ser.
Uma graça é para melhorar, confirmar e aperfeiçoar outra graça.
Nós somos transformados à imagem divina de glória em glória.
De um grau de graça glorioso para outro (II Cor 3.18).
Por isso se diz que àquele que tem, ser-lhe-á dado mais, porque onde há a verdadeira graça ela será aumentada por Deus, e tanto mais, quando for mais abundante (Lc 8.18; Tg 4.6).



João Testificou que Jesus é o Messias - João 1

“19 E este é o testemunho de João, quando os judeus mandaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para que lhe perguntassem: Quem és tu?
20 E confessou, e não negou; confessou: Eu não sou o Cristo.
21 E perguntaram-lhe: Então quem? És tu Elias? E disse: Não sou. És tu profeta? E respondeu: Não.
22 Disseram-lhe pois: Quem és? para que demos resposta àqueles que nos enviaram; que dizes de ti mesmo?
23 Disse: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías.
24 E os que tinham sido enviados eram dos fariseus.
25 E perguntaram-lhe, e disseram-lhe: Por que batizas, pois, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta?
26 João respondeu-lhes, dizendo: Eu batizo com água; mas no meio de vós está um a quem vós não conheceis.
27 Este é aquele que vem após mim, que é antes de mim, do qual eu não sou digno de desatar a correia da alparca.
28 Estas coisas aconteceram em Betânia, do outro lado do Jordão, onde João estava batizando.” (João 1.19-28)

Nos versos 15 a 18 nós vimos o testemunho geral que João dava de Jesus, e aqui nestes versos 19 a 28 nós temos registrado o testemunho que ele deu em certa ocasião quando os judeus lhe enviarem sacerdotes e levitas de Jerusalém para lhe perguntarem quem ele era (v. 19).
João confessou que não era o Cristo.
Que ele não era o grande profeta prometido desde Moisés (Dt 18.18).
Disse também que não era o profeta Elias, que eles pensavam que voltaria à terra por causa da profecia de Malaquias 4.5; que era de fato uma referência a João Batista sob o codinome de Elias (Mt 17.10-13), mas isto não significava que João fosse de fato Elias.
Ele viria no mesmo tipo de espírito e poder do profeta Elias, conforme o anjo preanunciou o nascimento de João a seu pai Zacarias (Lc 1.17).
João disse aos sacerdotes e levitas que ele era aquele do qual havia falado o profeta Isaías.
A voz que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor. Ele mostrou a eles que o seu ministério estava apoiado nas Escrituras.
Aqueles sacerdotes e levitas que eram fariseus não retrucaram a resposta que João lhes dera, mas questionaram ainda por que ele batizava, já que não era o Cristo, nem Elias e nem o profeta.
João lhes respondeu que ele batizava com água, mas já se encontrava entre os judeus Alguém que eles não conheciam, e que viria após ele, apesar de ser antes dele (até mesmo de Abraão e de tudo e de todos) do qual ele disse humildemente não ser digno sequer de lhe desatar a correia da sua sandália.
Este serviço era prestado pelos escravos de mais baixa categoria aos seus senhores.
Deste modo João testificou a respeito da dignidade dAquele que veio anunciando.
É dito que na ocasião que João proferiu estas palavras ele se encontrava na cidade de Betânia, do outro lado do Jordão, onde estava batizando.
Esta Betânia não era a mesma que ficava próxima de Jerusalém, porque é dito que ficava do outro lado do rio Jordão, cidade esta que era chamada também de Betabará.
Era de se esperar que aqueles que tanto se dedicavam ao estudo das Escrituras, que fossem eles os primeiros a reconhecerem a vinda de João Batista e do próprio Cristo.
No entanto, a grande maioria deles não chegou a conhecê-lo apesar do testemunho das Escrituras acerca deles, e a própria manifestação deles entre os judeus.
Isto comprova que é possível Deus estar se manifestando e operando em nosso meio, e ainda assim não ser percebido e conhecido por muitos que estiverem dentre aqueles aos quais Ele estiver se manifestando.
Os escribas e fariseus formaram a própria idéia deles sobre o reino do Messias, e elaboraram o seru próprio sistema para a justificação do pecado, de maneira que não se submeteram à justiça de Deus revelada em Cristo.
O orgulho lhes impediu de renunciarem às suas convicções para que pudessem ser convencidos pela verdade de Deus.
Eles não podiam entender que o reino não consiste em palavras e que nem vem em aparência visível porque é um reino espiritual que se manifesta espiritualmente.
Assim, não podiam discernir as coisas do Espírito e permaneciam cegos.



Os Primeiros Discípulos de Jesus - João 1

“37 E os dois discípulos ouviram-no dizer isto, e seguiram a Jesus.
38 E Jesus, voltando-se e vendo que eles o seguiam, disse-lhes: Que buscais? E eles disseram: Rabi (que, traduzido, quer dizer Mestre), onde moras?
39 Ele lhes disse: Vinde, e vede. Foram, e viram onde morava, e ficaram com ele aquele dia; e era já quase a hora décima.
40 Era André, irmão de Simão Pedro, um dos dois que ouviram aquilo de João, e o haviam seguido.
41 Este achou primeiro a seu irmão Simão, e disse-lhe: Achamos o Messias (que, traduzido, é o Cristo).
42 E levou-o a Jesus. E, olhando Jesus para ele, disse: Tu és Simão, filho de Jonas; tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro).”.
“43 No dia seguinte quis Jesus ir à Galiléia, e achou a Filipe, e disse-lhe: Segue-me.
44 E Filipe era de Betsaida, cidade de André e de Pedro.
45 Filipe achou Natanael, e disse-lhe: Havemos achado aquele de quem Moisés escreveu na lei, e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José.
46 Disse-lhe Natanael: Pode vir alguma coisa boa de Nazaré? Disse-lhe Filipe: Vem, e vê.
47 Jesus viu Natanael vir ter com ele, e disse dele: Eis aqui um verdadeiro israelita, em quem não há dolo.
48 Disse-lhe Natanael: De onde me conheces tu? Jesus respondeu, e disse-lhe: Antes que Filipe te chamasse, te vi eu, estando tu debaixo da figueira.
49 Natanael respondeu, e disse-lhe: Rabi, tu és o Filho de Deus; tu és o Rei de Israel.
50 Jesus respondeu, e disse-lhe: Porque te disse: Vi-te debaixo da figueira, crês? Coisas maiores do que estas verás.
51 E disse-lhe: Na verdade, na verdade vos digo que daqui em diante vereis o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem.”.

Nós temos nestes versos 37 a 42 o registro da forma como André e Pedro se tornaram discípulos de Jesus.
André havia seguido ao Senhor depois do testemunho que havia ouvido João dar a respeito dele, quando passava por eles.
Tendo Jesus mostrado onde morava a André e ao outro discípulo de João que estava com ele, ambos passaram aquele dia em Sua companhia.
André se apressou  a contar a Pedro que havia achado o Messias, e levou Pedro até a casa de Jesus, onde este lhe deu o apelido de Pedro (do hebraico Cefas, e do grego Petros), porque o seu nome era Simão, que significa caniço.
Este Pedro vem do grego petros, que significa pedra, e não petra, cujo significado é rocha.
Quando Jesus disse mais tarde a Pedro (Petros) que edificaria a sua igreja sobre aquela pedra (petra, rocha), estava falando de si mesmo, e não de Pedro, porque o original grego nos ajuda a entender o significado das palavras diferentes que Jesus usou naquela ocasião: petros para Pedro, e petra, para Si mesmo.
Nós vimos nos versículos 37 a 41 do primeiro capítulo de João, que André foi quem conduziu Pedro a Jesus.
E na passagem dos versos 43 a 51 nós vemos que foi Filipe que conduziu Natanael a Ele.
Este é o modo de se propagar a fé, através do nosso testemunho acerca de Cristo a outros, e nos esforçando para levá-los a conhecerem ao Senhor.
Não está em nós o poder de dar tal conhecimento do Senhor às pessoas.
É Ele próprio que se revela a elas, como fizera com Natanael.
Filipe era da mesma cidade de Pedro e André, e é dito no texto que Jesus o achou e disse-lhe para que O seguisse.
O verdadeiro cristianismo consiste em seguir a Cristo, porque Ele disse que onde Ele estiver ali devem estar também os Seus servos.
Quando Filipe disse a Natanael que havia encontrado aquele sobre o qual Moisés e os profetas haviam falado nas Escrituras, e que era Jesus, filho de José, da cidade de Nazaré, esta menção à naturalidade de Jesus fez com que Natanael apresentasse a objeção que fizera quanto ao fato de que Jesus pudesse ser de fato o Messias sendo de Nazaré, porque não havia, segundo o seu entendimento das Escrituras, nenhum profeta de Deus que tivesse sido levantado na região da Galiléia.
No entanto, ele desconhecia que Jesus não nascera na Galiléia, mas em Belém de Judá.
Jesus não era natural de Nazaré, mas de Belém.
Ele residiu por muito tempo em Nazaré, mas havia nascido em Belém, fato que Natanael desconhecia.
As próprias Escrituras testificavam que o Messias nasceria em Belém.
Mas apesar da objeção de Natanael, Filipe o conduziu assim mesmo a Jesus.
Natanael ficou maravilhado com o fato de Jesus ter  declarado que estava com o seu olhar sobre ele, quando se encontrava fora do alcance da sua vista, sentado debaixo de uma figueira.
Ele creu imediatamente e disse que Jesus era de fato, o Filho de Deus e Rei de Israel.
O Senhor se agradou da manifestação da fé de Natanael nEle, ainda que diante de uma única evidência do Seu poder, que lhe havia manifestado.
Mas, para mantê-lo firme na sua convicção disse-lhe que ele veria coisas ainda maiores do que aquela, e que daquele momento em diante ele viria o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem.
Jesus tem sempre muito mais para realizar sobrenaturalmente com o Seu poder, de maneira que aqueles que se aproximam dEle possam ter a fé deles cada vez mais fortalecida e confirmada.




João 2

O Primeiro Milagre de Jesus - João 2

“1 E, ao terceiro dia, fizeram-se umas bodas em Caná da Galiléia; e estava ali a mãe de Jesus.
2 E foi também convidado Jesus e os seus discípulos para as bodas.
3 E, faltando vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Não têm vinho.
4 Disse-lhe Jesus: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora.
5 Sua mãe disse aos serventes: Fazei tudo quanto ele vos disser.
6 E estavam ali postas seis talhas de pedra, para as purificações dos judeus, e em cada uma cabiam dois ou três almudes.
7 Disse-lhes Jesus: Enchei de água essas talhas. E encheram-nas até em cima.
8 E disse-lhes: Tirai agora, e levai ao mestre-sala. E levaram.
9 E, logo que o mestre-sala provou a água feita vinho (não sabendo de onde viera, se bem que o sabiam os serventes que tinham tirado a água), chamou o mestre-sala ao esposo,
10 E disse-lhe: Todo o homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho.
11 Jesus principiou assim os seus sinais em Caná da Galiléia, e manifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele.” (João 2.1-11)

O terceiro dia ao qual o autor do evangelho se referiu foi em relação ao dia em que Jesus retornou da tentação do deserto, e quando passou por João Batista; sendo que no primeiro, foi seguido por André; no segundo recebeu a Natanael, no relato que lemos no capítulo anterior, e agora, no terceiro dia depois de ter alcançado a André, Pedro, Filipe e Natanael, Jesus se dirigiu a um casamento na cidade de Caná da Galiléia porque fora convidado para a festa com seus discípulos.
É dito que Maria, sua mãe, encontrava-se presente.
Provavelmente poderia ter sido o casamento de algum parente de Maria ou então ela deveria privar de intimidade com aquela família, o que se pode inferir da sua intervenção junto a Jesus e aos serventes quando o vinho acabou.
Segundo o relato de João, até esta altura nós podemos deduzir que os discípulos de Jesus, que estiveram na festa e que presenciaram o milagre da transformação da água em vinho, eram André e o outro discípulo de João Batista, o qual o nome não foi citado neste evangelho; Pedro, que seguiu Jesus juntamente com ele; Pedro, Filipe e Natanael.
Segundo João, este foi o primeiro sinal feito por Jesus que manifestou a sua glória perante os seus discípulos, que tiveram por confirmado com aquele milagre que Ele era de fato o Messias.
Jesus não havia sequer começado a pregar a Sua doutrina.
O evangelho não havia ainda sido proclamado publicamente, senão em privado a estes poucos discípulos que haviam se reunido a Ele naquele curto espaço de três dias.
Como os milagres teriam principalmente a função de confirmar que Ele era de fato o Messias, dando testificação à Palavra que seria pregada, então o Senhor teve uma atitude reservada em mostrar a Maria que os milagres que Ele faria não tinham o propósito de serem exibições caprichosas do Seu poder, mas sinais que seriam concedidos pelo Pai, pelo poder do Espírito, para marcarem o Seu ministério.  
Jesus não fez seu primeiro milagre em Jerusalém, mas num lugar distante e obscuro de Israel, porque Caná ficava na Galiléia, no território da tribo de Aser.
Isto demonstra claramente que Ele não estava buscando honra de homens, e todos os Seus ministros deveriam seguir o Seu exemplo nisto. A Sua doutrina e milagres seriam colocados mais à disposição dos humildes galileus do que dos rabinos orgulhosos e preconceituosos de Jerusalém.
O Senhor não necessitava ter ordenado aos serventes que enchessem as seis talhas com água até a borda para produzir vinho.
Ele poderia tê-las enchido ainda vazias, mas para evidenciar que realizaria de fato um milagre porque aqueles serventes e os discípulos testemunharam que haviam sido enchidas com água, não haveria como afirmar que aquelas talhas já continham vinho caso Jesus as enchesse estando vazias.
Apresentamos a nossa água a Cristo com fé e Ele a transforma em vinho.
Apresentamos o nosso pouco e Ele transforma em muito.
Apresentamos nossas tristezas e Ele as transforma em alegria; nossas enfermidades em saúde, nossas maldições em bênçãos.
Tudo lhe é possível.
Aquilo que Ele nos dará é excelente, assim como o vinho que Ele fez era de qualidade superior a todo o vinho que já tinha sido servido naquela festa.

Jesus Repreende o Comércio no Templo - João 2

“12 Depois disto desceu a Cafarnaum, ele, e sua mãe, e seus irmãos, e seus discípulos; e ficaram ali não muitos dias.
13 E estava próxima a páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém.
14 E achou no templo os que vendiam bois, e ovelhas, e pombos, e os cambiadores assentados.
15 E tendo feito um azorrague de cordéis, lançou todos fora do templo, também os bois e ovelhas; e espalhou o dinheiro dos cambiadores, e derribou as mesas;
16 E disse aos que vendiam pombos: Tirai daqui estes, e não façais da casa de meu Pai casa de venda.
17 E os seus discípulos lembraram-se do que está escrito: O zelo da tua casa me devorará.
18 Responderam, pois, os judeus, e disseram-lhe: Que sinal nos mostras para fazeres isto?
19 Jesus respondeu, e disse-lhes: Derribai este templo, e em três dias o levantarei.
20 Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e tu o levantarás em três dias?
21 Mas ele falava do templo do seu corpo.
22 Quando, pois, ressuscitou dentre os mortos, os seus discípulos lembraram-se de que lhes dissera isto; e creram na Escritura, e na palavra que Jesus tinha dito.” (João 2.12-22)

Ao sair de Caná, Jesus se dirigiu com Maria e seus discípulos para Cafarnaum, e permaneceu ali alguns dias, (é possível que Jesus tenha ido à residência de Pedro, o qual apesar de ser natural de Betsaida, residia em Cafarnaum - Mt 17.24,25); tendo subido depois para Jerusalém para a festa da páscoa; porque importava que cumprisse todas as ordenanças da Lei, inclusive as cerimoniais, de maneira que cumprindo toda a Lei foi achado inculpável diante de Deus, de maneira que pudesse morrer no lugar dos pecadores, carregando sobre Si a culpa deles.
Ele cumpriu a própria Lei, que Ele instituiu e deu a Moisés, para que fosse cumprida pelos homens.
Chegando ao templo ele açoitou com um azorrague os cambistas e vendilhões, que haviam estabelecido um comércio no templo de Jerusalém, para obterem lucro financeiro para si e para os sacerdotes, que exploravam os serviços deles.
Em vez de homens de Deus aqueles sacerdotes haviam se transformado em meros políticos e comerciantes.
Jesus mostrou que estava comissionado de autoridade divina para fazer o que havia feito porque quando foi interpelado pelos judeus que sinal Ele faria para lhes mostrar que tinha a autoridade do Messias para fazer aquilo, lhes disse que o sinal seria que em três dias ele levantaria o templo caso eles o derrubassem, mas Ele lhes falava da ressurreição do Seu próprio corpo como o sinal dado do céu de que Ele era de fato divino.
Mas pensaram que Ele se referia ao templo de Herodes que foi construído durante 46 anos, pelos acréscimos e embelezamentos que foram acrescidos ao templo dos dias de Zorobabel, depois que os judeus retornaram de Babilônia.  
Jesus respondeu aos seus interpeladores com uma parábola relativa à Sua ressurreição, de maneira que lhes disse a verdade de uma maneira que não poderiam compreender.
Eles não estavam buscando conhecer a verdade, mas desqualificá-lo.
Ao exercer juízos corretivos sobre as coisas que se faziam no templo nosso Senhor santificou o nome de Deus e manifestou publicamente que a vontade dEle nada tinha a ver com aquele comércio, ao contrário há um juízo dEle sobre todos aqueles que fazem da sua santa religião uma ocasião para ganho mundano.
O templo de Jerusalém era uma instituição divina, porque existia por uma ordenação de Deus para o Velho Testamento.
Esta ação de Jesus despertou contra ele o ódio e inveja dos sacerdotes do templo e os seus discípulos se lembraram do Salmo 69.9, que era uma referência ao zelo do qual Jesus estava completamente tomado pela casa de Deus.
Jesus é zeloso da Sua Igreja que é o templo vivo no qual Deus habita e habitará para todo o sempre.
Ele tem zelo por esta casa espiritual viva e tudo fará para purificá-la mais do que ao templo de pedra de Jerusalém.


Jesus Sabe o Que é a Natureza Humana Pecaminosa - João 2

“23 E, estando ele em Jerusalém pela páscoa, durante a festa, muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome.
24 Mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia;
25 E não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque ele bem sabia o que havia no homem.”. (João 2.23-25)

Jesus não se confiou a muitos que haviam professado ter crido nEle por causa dos muitos milagres que Ele havia feito em Jerusalém.
O evangelista diz que Jesus não confiava neles porque   sae que a natureza terrena de todas as pessoas é pecaminosa, e pode muito bem disfarçar uma confiança e fidelidade que na verdade não existem.
A muitos que declararam ter crido em Jesus; Ele lhes disse que evidenciariam terem crido pela prática da Sua Palavra (Jo 8.31).
Não se pode dizer que os sinais que Jesus havia feito em Jerusalém foram em vão por causa destes falsos cristãos, uma vez que muitos outros foram convencidos posteriormente, vindo a se converter por causa dos sinais que haviam visto Ele fazer em Jerusalém, como por exemplo os galileus que tinham subido à festa da páscoa e que deram boa acolhida ao Senhor quando Ele retornou de Jerusalém para a Galiléia (João 4.43).






João 3

Jesus Veio Salvar e Não Condenar - João 3

“1 E havia entre os fariseus um homem, chamado Nicodemos, príncipe dos judeus.
2 Este foi ter de noite com Jesus, e disse-lhe: Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele.
3 Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.
4 Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?
5 Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.
6 O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.
7 Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo.
8 O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.
9 Nicodemos respondeu, e disse-lhe: Como pode ser isso?
10 Jesus respondeu, e disse-lhe: Tu és mestre de Israel, e não sabes isto?
11 Na verdade, na verdade te digo que nós dizemos o que sabemos, e testificamos o que vimos; e não aceitais o nosso testemunho.
12 Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais?
13 Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu.
14 E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado;
15 Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
16 Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
17 Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.
18 Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.
19 E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más.
20 Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.
21 Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.”

Os sinais que Jesus havia feito em Jerusalém e a sua pregação do evangelho haviam impactado profundamente a um dos líderes dos fariseus chamado Nicodemos.
Jesus falou sobre o novo nascimento do Espírito a Nicodemos, e ele não pôde discernir as coisas que Jesus lhe disse porque são celestiais e espirituais, e Nicodemos tentou compreendê-las apenas com a sua mente natural.
E como lhe faltou a necessária iluminação do Espírito Santo, Jesus lhe disse que ele não estava compreendendo as Suas palavras porque não estava aceitando pela fé o testemunho que Ele estava dando da verdade acerca da iluminação e operação necessária do Espírito Santo para que as pessoas possam receber uma nova natureza celestial (regeneração) de maneira que possam ver o reino de Deus.
Este reino é espiritual e pode ser discernido somente espiritualmente pela iluminação e instrução do Espírito Santo ao nosso espírito.
Para confirmar esta verdade, quando Nicodemos pensou que Jesus estava falando de um novo nascimento natural, deste mundo, nosso Senhor lhe disse que a carne somente pode gerar carne, e que estava falando, portanto de um novo nascimento do espírito, o qual só pode ser gerado pelo Espírito Santo.
Nicodemos estava convencido de que a obra de Jesus era de Deus, porque de outro modo não poderia fazer os sinais que estava fazendo.
Ele chamou Jesus de Rabi, reconhecendo que era Mestre.
No entanto, deve ter temido até aquele momento, que os fariseus soubessem que Ele tinha ido a Jesus, e por isso talvez tenha ido ter com Ele à noite.
Isto explica em muito a dificuldade que ele teve para ser instruído pelo Espírito quanto às coisas que Jesus lhe falava.
Nicodemos disse que reconhecia que Jesus era Mestre, mas não disse que sabia que era o Messias, ou Filho de Deus porque lhe faltou tal ajuda do Espírito, porque ninguém pode reconhecer e dizer que Jesus é o Senhor a não ser pelo Espírito.  
Mas, Jesus deve ter vislumbrado a sinceridade daquele homem, apesar de todas as suas cautelas humanas, e também a possibilidade de uma conversão futura, diante de maiores evidências acerca do evangelho e da Sua Pessoa divina, tanto que o Senhor não lhe falou por parábolas e lhe disse as verdades centrais do evangelho de maneira muito direta, para ajudá-lo a um ato de entrega completa a Ele.
Devemos lembrar que este diálogo aconteceu quando o ministério de Jesus estava começando, e Ele viria ainda a ensinar e a fazer muitas coisas pelo poder do Espírito.
Dentro de aproximadamente três anos, Jesus iria para a cruz, e Nicodemos poderia testemunhar acerca das palavras que o Senhor lhe havia ensinado.
É bem possível que ele tenha se convertido na ocasião da morte de Jesus, porque nós o encontramos não somente defendendo o Senhor perante o Sinédrio quando haviam enviado guardas para prendê-lo, como também acompanhou de perto a sua crucificação, tendo levado consigo cerca de cem libras de uma mistura de mirra e aloés para colocar no corpo do Senhor, depois que o tiraram da cruz (João 7.50; 19.39).
Jesus também disse a Nicodemos que este novo nascimento do Espírito não é feito com base na exclusiva vontade do homem, muito pelo contrário, pela exclusiva vontade do Espírito Santo, porque tal como o vento, Ele sopra aonde quer, e o homem não tem qualquer domínio para alterar as correntes dos ventos que sopram sobre a terra, porque isto foi fixado por Deus.
De igual maneira, os que nascem do Espírito, como o evangelista já havia afirmado no primeiro capítulo deste evangelho, não nascem do sangue e da carne, isto é, da vontade do homem, senão da vontade de Deus.
Até porque todos os homens foram feridos pela picada mortal do pecado, e somente o olhos da fé podem contemplar o Cristo crucificado para sermos curados da morte espiritual e eterna, tal como o contemplar a serpente de bronze no deserto nos dias de Moisés foi o único remédio provido por Deus para curar os israelitas da morte física por causa do veneno das serpentes abrasadoras que vieram sobre eles como manifestação do Seu juízo, por causa do pecado que eles haviam praticado.
A serpente é uma criatura que foi amaldiçoada por Deus e por isso  Jesus fez a comparação, não que Ele seja uma serpente, mas porque Ele se fez voluntariamente, por amor de nós, maldição no nosso lugar, porque está escrito na Lei que todo aquele que for pendurado em madeiro é maldito de Deus.
Assim Cristo se fez maldição por nós para que pudéssemos ser livrados da maldição e sermos abençoados por Deus, recebendo o Espírito Santo.
Deste modo, Jesus, na presente dispensação da graça, não veio para julgar e condenar o mundo, mas para salvar aqueles que do mundo, o contemplam pela fé, crucificado pelos nossos pecados.
Antes que Jesus se manifestasse, todo o mundo, especialmente as nações gentias, encontravam-se em completa treva espiritual, sem o conhecimento do verdadeiro Deus, e sem qualquer esperança de salvação.
Daí Jesus ter afirmado de Si mesmo ser Ele próprio a luz que dá vida ao mundo que se encontra morto no pecado (João 8.12).
A luz de Cristo manifestada através do evangelho está destinada a brilhar em todo o mundo, e não com o  brilho fosco da Antiga Aliança, como ocorria nos dias do Velho Testamento, basicamente apenas no território de Israel.
A base da condenação será este fechamento de olhos para a luz porque o livramento da condenação é simplesmente pelo ato de fé e arrependimento que consiste em vir para a luz.
Deus está perdoando gratuita e livremente a todo e qualquer que venha para a luz.
Ele está salvando por pura graça e não por nenhuma qualificação especial ou obra dos que são salvos.
Por isso Jesus disse que aqueles que praticarem a verdade do evangelho, virão para a luz, para que a suas obras sejam manifestas, porque elas serão feitas em Deus.
Mas aqueles que praticam o mal, odeiam a luz e não virão para a luz para que as suas obras não sejam reprovadas.  Testificou a Supremacia de Jesus - João 3

“22 Depois disto foi Jesus com os seus discípulos para a terra da Judéia; e estava ali com eles, e batizava.
23 Ora, João batizava também em Enom, junto a Salim, porque havia ali muitas águas; e vinham ali, e eram batizados.
24 Porque ainda João não tinha sido lançado na prisão.
25 Houve então uma questão entre os discípulos de João e os judeus acerca da purificação.
26 E foram ter com João, e disseram-lhe: Rabi, aquele que estava contigo além do Jordão, do qual tu deste testemunho, ei-lo batizando, e todos vão ter com ele.
27 João respondeu, e disse: O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu.
28 Vós mesmos me sois testemunhas de que disse: Eu não sou o Cristo, mas sou enviado adiante dele.
29 Aquele que tem a noiva é o noivo; mas o amigo do noivo, que lhe assiste e o ouve, alegra-se muito com a voz do noivo. Assim, pois, já esta minha alegria está cumprida.
30 É necessário que ele cresça e que eu diminua.
31 Aquele que vem de cima é sobre todos; aquele que vem da terra é da terra e fala da terra. Aquele que vem do céu é sobre todos.
32 E aquilo que ele viu e ouviu isso testifica; e ninguém aceita o seu testemunho.
33 Aquele que aceitou o seu testemunho, esse confirmou que Deus é verdadeiro.
34 Porque aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus; pois não lhe dá Deus o Espírito por medida.
35 O Pai ama o Filho, e todas as coisas entregou nas suas mãos.
36 Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece.”

Ao deixar Jerusalém Jesus se dirigiu com os seus discípulos para a região da Judéia, que ficava ao norte de Jerusalém, e ao sul de Samaria.
Naquela ocasião estava fazendo convertidos que estavam sendo batizados não propriamente por Ele, mas pelos apóstolos conforme afirmado em João 4.2.
Próximo do lugar em que Jesus se encontrava, João Batista estava também batizando na localidade de Enom, próximo de Salim.
Alguns pretenderam argumentar com João que somente ele tinha o direito de batizar nas águas para a purificação dos pecados; julgando que Jesus e os seus discípulos estavam se intrometendo na missão divina que João havia recebido para cumprir.
Então, João se apressou em desfazer o equívoco, lhes explicando que ele era apenas o amigo do Noivo. A noiva de Cristo é a Igreja e João afirmou que ela não lhe pertence senão a Cristo. Ele estava alegre em ser apenas o amigo do Noivo.
Não havia, portanto nenhuma intromissão de ministérios mas uma clara definição de papéis de alguém que estava a serviço de Deus e que era terreno (João) e de Alguém para o qual existem todos os ministérios terrenos, e que é do céu (Cristo).
Aqueles que haviam tomado partido de João contra Jesus, ainda que bem intencionados necessitariam nascer de novo para que pudessem entender que era a Jesus que eles deveriam seguir e servir.
Eles precisavam avançar do batismo de João para o batismo de Cristo. De uma visão natural do reino de Deus para uma visão espiritual que poderiam ter somente estando em Cristo.
Por isso João tratou de lhes ensinar a verdade relativa à sua missão que era apenas a de apontar Cristo aos homens para que pudessem ser salvos e ter vida eterna nEle.
João sabia que o ofício que havia recebido do céu era temporário, e não eterno como o de Cristo.
Assim o seu ministério diminuiria cada vez mais, e o de Cristo aumentaria e jamais cessaria.
Ele fez questão de ressaltar que o testemunho que estava dando agora já havia sido dado por ele antes, a respeito de Jesus, de maneira que não cabiam aquelas colocações que seus discípulos estavam fazendo contra o batismo do Senhor, porque na verdade, importava que fossem batizados por Ele.
Os discípulos de João estavam vendo a Cristo e seus apóstolos como rivais de João.
Nós devemos ter cuidado para não dividirmos o reino de Deus e a obra do evangelho por causa das nossas preferências pessoais a favor de pessoas e denominações.
Todos aqueles que são verdadeiramente de Deus e que estão fazendo uma obra verdadeira que procede dEle, fazem parte do mesmo corpo e deveriam evitar este espírito dos discípulos de João, e seguir o exemplo do mestre deles, que se apressou em instruí-los quanto à unidade que há no reino de Deus, entre os diversos ministérios diferentes que o próprio Deus estabeleceu pelo Seu próprio poder.
Apesar de muitos terem rejeitado as palavras celestiais e verdadeiras que Jesus estava pregando, no entanto, outros aceitariam o Seu testemunho destas coisas celestiais e divinas, confirmando que Deus é verdadeiro, pela transformação e poder que seriam operados em suas próprias vidas, conforme a doutrina que Jesus estava pregando, especialmente as da justificação, redenção, regeneração e santificação.
Jesus não havia recebido uma medida do Espírito Santo, como os profetas do Velho Testamento e todos os demais servos de Deus, porque sendo divino, habitou nEle toda a plenitude do Espírito Santo, em todos os poderes e dons divinos, e isto explica a onisciência de Jesus em Seu ministério terreno como comprovou no caso de Natanael, da mulher samaritana, da moeda no ventre do peixe e em muitas outras ocasiões.
Realmente o Espírito Santo habitava em Jesus de uma maneira singular, e por isso João disse que Ele não havia recebido de Deus Pai o Espírito por medida (v. 34).    
Foi do agrado do Pai que toda a plenitude habitasse no Filho, e por isso Lhe sujeitou todas as coisas; de maneira que a vida eterna é obtida somente pela fé no Filho de Deus, e todos aqueles que se mantêm rebeldes contra Cristo, a ira de Deus permanece sobre eles.






João 4

Jesus Vai da Judéia para a Galiléia - João 4

“1 E quando o Senhor entendeu que os fariseus tinham ouvido que, ele,  Jesus, fazia e batizava mais discípulos do que João
2 (Ainda que Jesus mesmo não batizava, mas os seus discípulos),
3 Deixou a Judéia, e foi outra vez para a Galiléia.” (João 4.1-3)

No capítulo anterior (3) nós vimos no verso 22 que Jesus havia entrado na Judéia depois da festa em Jerusalém, e agora ele havia deixado a Judéia cerca de quatro meses antes da colheita, como é dito no verso 35 deste quarto capítulo, de modo que isto é computado de modo a se entender que Jesus tinha permanecido na Judéia cerca de seis meses.
Aqueles que se convertiam com a pregação de Jesus na Judéia eram batizados nas águas, não propriamente pelo próprio Jesus, mas pelos seus discípulos.
O próprio João batizava os seus discípulos porque batizava como um servo, mas o batismo de Jesus era feito pelos apóstolos porque estes batizavam como servos daquele que era também o Senhor do próprio batismo de João.
É dito que Jesus havia feito e batizado mais discípulos do que João, e isto certamente não somente naquela ocasião, mas muito mais do que João tivesse feito em todo o tempo do seu ministério, porque dos milagres, as curas, a palavra pregada pelos próprios lábios do Senhor, somente se poderia esperar um tal resultado, melhor do que o realizado através de qualquer homem.
Quando os fariseus o souberam, que multidões estavam se convertendo e sendo batizadas, isto gerou uma grande inveja neles. Eles estavam certamente contentes com o fato de João ter sido aprisionado, e pensavam que estavam livres de qualquer competição, mas agora surge um incômodo muito maior para eles na pessoa do próprio Jesus.
O sucesso do evangelho sempre suscitará uma grande fúria naqueles que são seus inimigos.
Como o Senhor seria perseguido duramente até mesmo à morte, e como não era ainda chegada a Sua hora, pois havia muita coisa ainda a ser realizada em Seu ministério, Ele decidiu deixar a Judéia e retornar à Galiléia novamente.
E como na Galiléia não havia tantos religiosos como em Jerusalém com uma grande concentração de escribas e fariseus, Ele seria menos importunado lá.


O Evangelho Vence o Preconceito - João 4

Isto aprendemos especialmente na narrativa relativa ao encontro de Jesus com a mulher samaritana, conforme registrado no quarto capítulo do evangelho de João, capítulo 4, versículos 4 a 42:

VERSÍCULOS 4 a 26

“4 E era-lhe necessário passar por Samaria.
5 Foi, pois, a uma cidade de Samaria, chamada Sicar, junto da herdade que Jacó tinha dado a seu filho José.
6 E estava ali a fonte de Jacó. Jesus, pois, cansado do caminho, assentou-se assim junto da fonte. Era isto quase à hora sexta.
7 Veio uma mulher de Samaria tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber.
8 Porque os seus discípulos tinham ido à cidade comprar comida.
9 Disse-lhe, pois, a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? (porque os judeus não se comunicam com os samaritanos).
10 Jesus respondeu, e disse-lhe: Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva.
11 Disse-lhe a mulher: Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde, pois, tens a água viva?
12 És tu maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço, bebendo ele próprio dele, e os seus filhos, e o seu gado?
13 Jesus respondeu, e disse-lhe: Qualquer que beber desta água tornará a ter sede;
14 Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna.
15 Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água, para que não mais tenha sede, e não venha aqui tirá-la.
16 Disse-lhe Jesus: Vai, chama o teu marido, e vem cá.
17 A mulher respondeu, e disse: Não tenho marido. Disse-lhe Jesus: Disseste bem: Não tenho marido;
18 Porque tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade.
19 Disse-lhe a mulher: Senhor, vejo que és profeta.
20 Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar.
21 Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai.
22 Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus.
23 Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.
24 Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.
25 A mulher disse-lhe: Eu sei que o Messias (que se chama o Cristo) vem; quando ele vier, nos anunciará tudo.
26 Jesus disse-lhe: Eu o sou, eu que falo contigo.”

Quando Jesus se dirigia da Judéia para a Galiléia seria necessário passar por Samaria, e havia aqui um povo misto que era o resultado da união de israelitas com os povos que o rei da Assíria havia deixado lá depois do cativeiro das dez tribos, cerca de 722 a.C.
Eles adoravam somente o Deus de Israel para o qual eles haviam erguido um templo no monte Gerizim, em competição com o templo de Jerusalém.
Havia grande inimizade entre eles e os judeus, e foi por isso que os samaritanos não queriam dar pousada a Jesus numa outra ocasião, porque o seu aspecto era como o de quem ia a Jerusalém (Lc 9.52,53).
Tal era a inimizade entre eles que os judeus quando queriam ofender alguém chamavam a pessoa de “este samaritano”.
É importante frisar que não era ainda o momento de se pregar o evangelho em Samaria ou em qualquer região dos gentios porque como o próprio Jesus afirmou, o seu ministério terreno seria junto à circuncisão, isto é, junto às ovelhas perdidas da casa de Israel, porque importava que o evangelho fosse primeiro pregado a eles, e em face da rejeição deles, seria estendido aos gentios.
Então o que ocorreu com a mulher de Samaria e com aqueles que viriam a se converter através do testemunho dela, foi uma migalha que havia caído da mesa do Mestre, tal como ocorrera com a mulher sirofenícia.
E, passando por Samaria rumo à Galiléia, Jesus parou numa das cidades de Samaria de nome Sicar, porque ali havia uma fonte, e Ele estava cansado e sedento em razão da viagem.
Nós vemos nisto, que Ele era verdadeiramente homem e estava sujeito às fraquezas e necessidades comuns da natureza humana.
Vemos também, que Ele era pobre, senão estaria fazendo a sua viagem a cavalo ou em carruagens, mas como sempre, Ele viajava a pé.

Quando Jesus chegou em Samaria, os discípulos haviam ido à cidade comprar comida, mas Jesus ficou ali junto à fonte de exausto que estava.
Nisto veio uma mulher de Samaria pegar água na fonte.
Mas foi certamente pela Providência divina que ela foi inspirada a buscar água naquela hora do dia em que o sol estava muito forte.
O Pai estava atraindo a pecadora ao Filho para que fosse salva.
Jesus começou a sua conversa com a mulher samaritana pedindo-lhe que lhe desse de beber.
Ele fez isso nem tanto pela sua própria necessidade mas pelo Seu desejo de recompensar aquela mulher pela oportunidade que estava lhe dando de servi-lo.
A mulher não se negou a atender ao pedido de Jesus, mas estranhou que Ele apesar de ser um judeu estivesse falando com ela, por ser samaritana.
Os judeus afirmavam que os samaritanos não teriam nenhuma parte na ressurreição e os excomungavam e os amaldiçoavam em nome de Jeová, e diziam que nunca comeriam nada das mãos de um samaritano, porque era o mesmo que estar comendo carne de porco.
Então a mulher estranhou que um judeu (Jesus) estivesse lhe pedindo de beber.
Ela ficou perplexa com o fato de Jesus não ter agido da maneira preconceituosa dos judeus.
Ele não rejeitou se aproximar dela pelo fato de ter uma religião diferente da dEle, como teria feito qualquer outro judeu.  
Estas disputas religiosas podem endurecer de tal modo o coração que os homens são afastados da verdadeira religião que nos ordena amar os nossos inimigos, amar o nosso próximo, ser misericordiosos para com todas as pessoas.
Então Jesus renunciou à objeção dela quanto à questão religiosa entre os judeus e samaritanos e nos deixou um exemplo nisto porque muitas diferenças são melhor curadas sendo desprezadas, e evitando-se entrar em disputas acerca delas.
Jesus conduziria aquela mulher à conversão sem esquentar o debate em torno do assunto de que a adoração dos samaritanos era cismática (embora o fosse), mas revelando a própria ignorância dela e imoralidade, e consequentemente a sua necessidade de um Salvador, porque Deus tem imposto o dever ao homem que Ele criou de que este seja santo, e que tenha coberta a sua dívida de pecados, e não é possível se chegar a isto sem um Salvador.
Jesus iria ajudar aquela mulher samaritana a ver que Ele não era simplesmente um judeu cansado de sua viagem, mas o Messias do qual ela havia ouvido falar que viria ao mundo.
Ele lhe disse que havia um dom de Deus que ela ignorava, e Ele falava de si mesmo, porque Ele é o dom de Deus aos homens, do qual dependem todos os demais dons, inclusive o próprio dom do Espírito Santo, porque se Ele não tivesse morrido na cruz, o Espírito não poderia ser dado.
A mulher o tinha visto como um simples judeu viajante, mas Ele revelaria a ela que havia muito mais em relação a Ele que ela não sabia, e além do que se via apenas na aparência.
Jesus é o dom de Deus, a riqueza do amor de Deus trazida a nós, e o tesouro mais rico de tudo que possa haver de bom para nós, e um tesouro que nos é dado gratuitamente sem que seja exigido qualquer mérito ou trabalho da nossa parte.
E é um grande privilégio poder ter este presente de Deus que nos é oferecido, e ter uma oportunidade de abraçá-lo.
Com o que disse acerca do dom de Deus, Jesus mostrou à samaritana que se ela O conhecesse não lhe teria dado uma resposta tão rude.
Mas como aqueles que desejam conhecer a Cristo terão que procurá-lo, ainda que Ele esteja muito próximo deles, tal como aquela mulher samaritana, Ele continuaria em seu diálogo com ela para poder facilitar o encontro que a transformaria numa filha de Deus.
E é exatamente isto que Ele continua fazendo até hoje, para que possa ser achado por aqueles que O buscam.
Ele lhes ajuda na sua cegueira e morte espiritual por causa do pecado para que possam vir a enxergar e a viver, de modo que possam se comunicar com Deus e adorá-lo em espírito, tendo uma vez sido vivificados pela vida eterna que há em Cristo, o dom de Deus aos pecadores, para que possam sair do estado de completa incomunicabilidade com as coisas espirituais, celestiais e divinas em razão da separação que foi ocasionada pelo pecado original.
Então Jesus diz à mulher que caso ela O conhecesse, porque é Ele que é o dom de Deus, Ele lhe daria água viva.
Jesus estava então prometendo uma fonte espiritual que jorra continuamente no interior dos que O conhecem.
Uma fonte que sacia completamente a sede da alma, porque as graças e os confortos do Espírito Santo satisfazem à alma, porque somente esta água viva pode satisfazer às necessidade da alma.
Nada mais poderá saciá-la.
E Jesus dará o Espírito Santo a todo aquele que lho pedir.
É por isso que Ele disse à samaritana que o faria caso ela lhe pedisse água viva.
 Mas, a mulher não entendeu que Ele falava de coisas espirituais, e pensou que ele estivesse se referindo a uma fonte de água natural que fluísse continuamente, e que ela era o proprietário dela.
Ela falou da impossibilidade dele fazê-lo, porque não era maior do que o patriarca de todos os judeus (Jacó) que havia deixado aquele poço como herança a eles.
Como boa conhecedora da região, ela devia saber que não havia nas cercanias um poço melhor do que aquele tal a sua grande profundidade.
E como Jesus poderia cavar mais fundo do que aquilo? Como ele poderia tirar água de uma fonte escondida para ela, a não ser cavando muito?
De onde ele tiraria tais águas?
Ela, como a maioria das pessoas, não consegue enxergar que Cristo tem o poder de abrir fontes onde bem Lhe aprouver.
Ele pode fazer todo o bem quiser tanto em relação ao mundo natural; quanto ao espiritual, porque é o criador e sustentador de todas as coisas.
Além disso, nós não precisamos saber de onde procede a fonte da vida que Ele nos concede, porque esta fonte se encontra escondida nEle próprio.
Para nós basta sabermos que Ele é a fonte, e não é necessário saber como é que fluem todas as bênçãos através desta fonte para nós.
Então Jesus lhe disse que a água do poço de Jacó era uma provisão que satisfazia necessidades passageiras, de modo que a água natural necessita ser bebida toda vez que se tem sede.
Mas há uma água espiritual que extingue a sede espiritual definitivamente, de modo que a pessoa não mais morrerá de sede pelo temor de que esta água venha a lhe faltar futuramente, porque esta água, diferente da natural, jamais falha ou falta, e será provida pela eternidade afora.
Apesar de Jesus ter dito à samaritana que a água viva que Ele lhe estava oferecendo era uma fonte para a vida eterna, ela continuou pensando apenas no que era natural e material e lhe pediu então que lhe desse daquela água para que não tivesse mais o trabalho de ter que ir àquele poço para buscar água.
Então Jesus começaria a trabalhar diretamente na vida daquela mulher, derrubando as fortalezas da sua alma para que ela pudesse receber a verdade.
Ele sabia que ela era uma pessoa sedenta de vida, mas estava tentando satisfazer esta sede da maneira errada pois já se encontrava no seu sexto relacionamento conjugal.
Ela estava buscando no homem aquilo que somente pode ser achado em Deus, a saber, descanso e paz para a nossa alma.
Jesus, conhecedor deste fato, por revelação espiritual, fez com que aquela mulher entendesse que Ele era mais do que um simples judeu viajante.
Quando a mulher samaritana manifestou interesse em receber a água prometida, ainda que não estivesse entendendo que Ele lhe falava de realidades espirituais, Jesus pediu que ela fosse chamar o seu marido, e que viesse com ele à Sua presença.
A mulher foi sincera em dizer que não tinha marido, e Jesus não somente confirmou que ela não havia casado com o homem com que ela se relacionava, como também havia tido cinco maridos antes dele.
Isto gerou na mulher a convicção de que Jesus era um profeta, conforme ela mesma declarou.
Então o Senhor lhe ensinaria que o Messias procederia de Israel, e não de Samaria, como também lhe mostraria que a questão da verdadeira adoração não dependeria mais do lugar certo para adorar,  com a Sua chegada, como era exigido na Antiga Aliança (no templo de Jerusalém), porque a Nova Aliança ampliaria totalmente a questão do lugar certo da adoração do templo de Jerusalém, para o próprio corpo do adorador, porque toda adoração deve ser em espírito, uma vez que Deus é espírito, e também em verdade, porque Deus é a verdade.


VERSÍCULOS 27 a 42

“27 E nisto vieram os seus discípulos, e maravilharam-se de que estivesse falando com uma mulher; todavia nenhum lhe disse: Que perguntas? ou: Por que falas com ela?
28 Deixou, pois, a mulher o seu cântaro, e foi à cidade, e disse àqueles homens:
29 Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Porventura não é este o Cristo?
30 Saíram, pois, da cidade, e foram ter com ele.
31 E entretanto os seus discípulos lhe rogaram, dizendo: Rabi, come.
32 Ele, porém, lhes disse: Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis.
33 Então os discípulos diziam uns aos outros: Trouxe-lhe, porventura, alguém algo de comer?
34 Jesus disse-lhes: A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra.
35 Não dizeis vós que ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Eis que eu vos digo: Levantai os vossos olhos, e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa.
36 E o que ceifa recebe galardão, e ajunta fruto para a vida eterna; para que, assim o que semeia como o que ceifa, ambos se regozijem.
37 Porque nisto é verdadeiro o ditado, que um é o que semeia, e outro o que ceifa.
38 Eu vos enviei a ceifar onde vós não trabalhastes; outros trabalharam, e vós entrastes no seu trabalho.
39 E muitos dos samaritanos daquela cidade creram nele, pela palavra da mulher, que testificou: Disse-me tudo quanto tenho feito.
40 Indo, pois, ter com ele os samaritanos, rogaram-lhe que ficasse com eles; e ficou ali dois dias.
41 E muitos mais creram nele, por causa da sua palavra.
42 E diziam à mulher: Já não é pelo teu dito que nós cremos; porque nós mesmos o temos ouvido, e sabemos que este é verdadeiramente o Cristo, o Salvador do mundo.”.

Logo depois que Jesus revelou à samaritana que Ele era o Messias, os seus discípulos chegaram e ficaram admirados que Ele estivesse conversando com uma mulher, e ainda por cima samaritana.
Jesus não agiria em nome dos costumes de Israel e nem discriminaria a ignorância dos samaritanos, mas lhes falaria como se fosse um deles para poder salvá-los.
E vendo os bons motivos, como sempre havia no Senhor deles, os discípulos não ousaram lhe perguntar sobre o que estava conversando com a samaritana, e esta deixou até mesmo de lado o cântaro de água porque a água viva que estava agora nela a impulsionou a dar testemunho acerca de Jesus como sendo o Messias esperado.
Ela já tinha esta convicção no seu coração de que Ele era o Messias, mas colocou para os seus conterrâneos que eles o constatassem por si mesmos vindo a ter com Ele.
Por isso ela falou com eles na forma de pergunta: “Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Porventura não é este o Cristo?” (v. 29), como a dizer: “já que Ele me disse tudo quanto tenho feito, como poderia deixar de ser o Cristo que nós aguardamos?”
O Senhor sabia que o Pai atrairia outros a ele ali naquela região de Samaria, e por isso se recusou a comer ainda que os discípulos insistissem com Ele, porque sabiam o quanto  estava faminto, tal como eles.
Mas Jesus se recusou terminantemente a fazê-lo porque sabia que havia ainda muito trabalho a fazer pela pregação do evangelho aos samaritanos que viriam ao seu encontro por causa do testemunho da samaritana.
Ela havia deixado a água para trás para cuidar dos interesses do reino de Deus, e o Mestre dela estava deixando também a necessidade de se alimentar fisicamente por causa da sede e fome espiritual que seria saciada de muitos com a conversão deles pela Palavra de salvação que o Senhor lhes anunciaria.
Jesus fez a honra de se fazer conhecido à samaritana, e agora ela estava dando-Lhe a honra de fazê-lo conhecido a outros.
A samaritana se tornou uma missionária na sua cidade.
Jesus havia desvendado a condição da vida interior pecaminosa da samaritana para que ela pudesse conhecer a sua real condição perante Deus que exige santidade daqueles que dEle se aproximam.
Jesus não somente fez o diagnóstico da doença como prescreveu a ela o remédio, a saber, o arrependimento e a fé nEle, para que ela recebesse a água viva que Ele havia prometido.
Foi a isto que ela certamente se referiu quando disse aos samaritanos da cidade que o Senhor havia dito a ela tudo quanto ela havia feito.
A mulher convenceu os samaritanos a conversarem com Jesus não para satisfazerem à curiosidade deles, mas para constatarem por si próprios que Ele era de fato o Messias pelas coisas que diria a eles, e pelo poder que havia nas Suas palavras.
Toda aquela maravilhosa pesca de homens fez com que Jesus se esquecesse do Seu próprio cansaço e fome, e certamente Ele foi fortalecido em Sua fraqueza física, pelo Espírito Santo, para realizar o trabalho que deveria fazer para a glória do Pai, cumprindo a Sua missão de Salvador do mundo.
O trabalho que Jesus fazia para o Pai era a Sua comida e bebida.
A mulher samaritana havia feito o trabalho de evangelização que os próprios discípulos não haviam feito em Samaria, e agora, cabia a eles, firmar aqueles discípulos na verdade e orientá-los sobre o modo como deveriam viver para o inteiro agrado de Deus.
Assim, eles estariam ceifando as almas que a mulher samaritana havia plantado com o seu testemunho e evangelização.
Para esta colheita de almas não há necessidade de se esperar meses como ocorre com a colheita de cereais.
O campo estará sempre pronto para ser ceifado porque Deus não somente nos prometeu uma colheita todos os anos, mas todos os meses, semanas e dias.
Sempre é tempo de se colher na Sua lavoura espiritual.
Tal foi a alegria da salvação entre os samaritanos que eles insistiram que Jesus permanecesse entre eles, e o Senhor se permitiu permanecer ali ainda dois dias.
Nós lembramos que ele estava a caminho da Galiléia, mas Ele sempre se deterá onde quer que haja alguém que o hospede em seu coração.
Assim, foi preanunciada naqueles samaritanos a boa recepção que os gentios dariam ao Senhor e à Palavra do evangelho, diferentemente da grande maioria dos judeus, para os quais Ele viera, e que o estavam rejeitando e que ainda rejeitariam.
Deus iria provar então, que um verdadeiro israelita não é conhecido pela circuncisão do prepúcio, mas pela circuncisão do coração.


A Cura do Filho de um Nobre João 4

“43 E dois dias depois partiu dali, e foi para a Galiléia.
44 Porque Jesus mesmo testificou que um profeta não tem honra na sua própria pátria.
45 Chegando, pois, à Galiléia, os galileus o receberam, vistas todas as coisas que fizera em Jerusalém, no dia da festa; porque também eles tinham ido à festa.
46 Segunda vez foi Jesus a Caná da Galiléia, onde da água fizera vinho. E havia ali um nobre, cujo filho estava enfermo em Cafarnaum.
47 Ouvindo este que Jesus vinha da Judéia para a Galiléia, foi ter com ele, e rogou-lhe que descesse, e curasse o seu filho, porque já estava à morte.
48 Então Jesus lhe disse: Se não virdes sinais e milagres, não crereis.
49 Disse-lhe o nobre: Senhor, desce, antes que meu filho morra.
50 Disse-lhe Jesus: Vai, o teu filho vive. E o homem creu na palavra que Jesus lhe disse, e partiu.
51 E descendo ele logo, saíram-lhe ao encontro os seus servos, e lhe anunciaram, dizendo: O teu filho vive.
52 Perguntou-lhes, pois, a que hora se achara melhor. E disseram-lhe: Ontem às sete horas a febre o deixou.
53 Entendeu, pois, o pai que era aquela hora a mesma em que Jesus lhe disse: O teu filho vive; e creu ele, e toda a sua casa.
54 Jesus fez este segundo milagre, quando ia da Judéia para a Galiléia.” (João 4.43-54)

Jesus teve uma grande acolhida entre os samaritanos, mas importava pregar o evangelho em todas as partes de Israel, e por isso ele partiu dois dias depois para a Galiléia.
Ele não retornou para Nazaré, cidade onde residiu até começar o Seu ministério, porque havia testificado que um profeta não tem honra na sua própria terra, entre aqueles que conviveram com ele, porque sempre o olharão como mero homem e não enxergarão a comissão e a autoridade divina que recebeu do alto para ministrar com poder.
Por isso os ministros do evangelho não devem se aplicar em permanecer em lugares em que não sejam respeitados e não recebam a devida honra que lhes é devida, por estarem comissionados por Deus para fazer a Sua obra.
Mas na Galiléia Jesus foi bem acolhido pelos galileus não como mero homem, mas como profeta, porque haviam visto as coisas que Ele havia feito em Jerusalém, quando lá estiveram na festa da páscoa.
Quando chegou em Caná da Galiléia, pela segunda vez, porque lá estivera antes quando transformou água em vinho; veio ao seu encontro um nobre de Cafarnaum cujo filho estava à morte.
Cafarnaum estava situada ao lado de Betsaida e Corazim, cidades endurecidas para o evangelho, e Jesus não havia recebido a devida acolhida deles.
Talvez o motivo de ter se recusado a descer com o nobre, para visitar seu filho  em Cafarnaum, tenha sido o de que já teria sacudido a poeira dos Seus pés em relação àquela cidade, conforme vemos nos evangelhos sinópticos.
No entanto, o Senhor não se negou a curá-lo diante da súplica humilde do seu pai.
Ele não iria à cidade, mas atenderia àqueles que daquela cidade lhe procurassem com fé.
Assim Jesus curou aquele enfermo à distância, e quando o pai chegou em casa encontrou-o perfeitamente são, e os seus servos confirmaram que a hora em que ele foi restabelecido foi justamente a hora em que Jesus havia liberado a Sua palavra de ordem para que ele fosse curado.
Jesus deixou evidenciado para aquele nobre, antes de curar o seu filho, que crer nEle para a salvação é mais importante do que receber dEle um sinal ou maravilha.
O milagre da cura seria uma maravilha e um sinal que Ele operaria, mas não é efetivamente o melhor caminho para se crer nEle, porque há muitos falsificadores e enganadores espalhados por Satanás, pelo mundo afora, que também realizam sinais e maravilhas para enganar os incautos, mantendo-os na incredulidade deles em relação à Palavra de Deus, na qual importa crermos para sermos salvos.
É dito que o nobre e toda a sua casa creram diante da evidência da cura, mas não podemos atestar acerca da qualidade da fé deles, isto é, se foi a fé que salva, ou simplesmente fé para ser curado, tal como a dos judeus das cidades que creram para serem curados mas que não se arrependeram dos seus pecados, de maneira que receberam a justa repreensão de Jesus, dizendo-lhes que Sodoma e Gomorra achariam menos rigor no juízo do que tais cidades (Mt 10.15; 11.24).  
Muitos procuram Jesus apenas para serem aliviados de suas aflições, de suas circunstâncias difíceis, mas lhe negam a honra que é devida de ser servido e adorado como Senhor.
Mas temos que reconhecer que há muitos que são como Tomé, os quais crêem com fé salvadora, mas somente se virem sinais e prodígios.
O Senhor, julga mais bem-aventurado que se creia sem ver, porque isto honra a Sua Pessoa, por uma fé que não necessita de evidências para crer na Sua Palavra.
Afinal, a essência da fé não é a convicção  daquilo que vemos, mas daquilo que não vemos; e também não é a incerteza do que esperamos; mas a plena certeza de que o Senhor é fiel e cumprirá tudo o que tem prometido.






João 5

A Cura do Enfermo do Tanque de Betesda - João 5

“1 Depois disto havia uma festa entre os judeus, e Jesus subiu a Jerusalém.
2 Ora, em Jerusalém há, próximo à porta das ovelhas, um tanque, chamado em hebreu Betesda, o qual tem cinco alpendres.
3 Nestes jazia grande multidão de enfermos, cegos, mancos e paralíticos, esperando o movimento da água.
4 Porquanto um anjo descia em certo tempo ao tanque, e agitava a água; e o primeiro que ali descia, depois do movimento da água, sarava de qualquer enfermidade que tivesse.
5 E estava ali um homem que, havia trinta e oito anos, se achava enfermo.
6 E Jesus, vendo este deitado, e sabendo que estava neste estado havia muito tempo, disse-lhe: Queres ficar são?
7 O enfermo respondeu-lhe: Senhor, não tenho homem algum que, quando a água é agitada, me ponha no tanque; mas, enquanto eu vou, desce outro antes de mim.
8 Jesus disse-lhe: Levanta-te, toma o teu leito, e anda.
9 Logo aquele homem ficou são; e tomou o seu leito, e andava. E aquele dia era sábado.
10 Então os judeus disseram àquele que tinha sido curado: É sábado, não te é lícito levar o leito.
11 Ele respondeu-lhes: Aquele que me curou, ele próprio disse: Toma o teu leito, e anda.
12 Perguntaram-lhe, pois: Quem é o homem que te disse: Toma o teu leito, e anda?
13 E o que fora curado não sabia quem era; porque Jesus se havia retirado, em razão de naquele lugar haver grande multidão.
14 Depois Jesus encontrou-o no templo, e disse-lhe: Eis que já estás são; não peques mais, para que não te suceda alguma coisa pior.
15 E aquele homem foi, e anunciou aos judeus que Jesus era o que o curara.
16 E por esta causa os judeus perseguiram a Jesus, e procuravam matá-lo, porque fazia estas coisas no sábado.” (João 5.1-16)

Deus havia proibido aos israelitas, debaixo da Antiga Aliança, que se fizesse no dia de sábado atividades que visassem ao lucro e interesse próprios ou aquelas coisas que se fazem habitualmente nos demais dias da semana, de maneira que houvesse uma atitude de coração voltada para a consagração do dia do descanso à Sua adoração.
No entanto, nunca foi o Espírito da lei de Moisés, impedir a realização de qualquer tipo de ação neste dia, conforme os fariseus estavam ensinando o povo nos dias de Jesus.
Eles confundiram consagração com ociosidade total, criando um preceito humano que nunca estivera sequer no pensamento de Deus.
Jesus nunca descumpriria qualquer preceito da Lei que Ele mesmo havia dado a Moisés, porque importava que fosse em tudo obediente perfeitamente à Lei, para que pudesse morrer no lugar dos pecadores.
Mas depois da Sua morte e ressurreição Ele revogaria a Antiga Aliança pela inauguração da Nova Aliança no Seu sangue, e consequentemente os preceitos civis e cerimoniais da Lei de Moisés, inclusive as prescrições relativas ao Sábado sagrado dos judeus, seriam revogados.  
Era de se esperar que Deus manifestasse a Sua misericórdia especialmente no dia que havia separado para a adoração do Seu nome como Criador de todas as coisas.
Por isso o nome daquele tanque era Betesda, que significa casa da misericórdia, porque nele eram operadas curas por um anjo que descia de tempos e tempos e agitava a sua água, e o primeiro que entrasse no tanque quando a água estava sendo agitada, era curado.  
Por muito tempo aquele homem que Jesus curou tentava entrar no tanque, mas como necessitava da ajuda de alguém que lá o colocasse, sempre entrava alguém antes dele.
Não é dito que o próprio paralítico que Jesus curou havia se arrependido dos seus pecados, ou se teve fé apenas para ser curado fisicamente.
Jesus havia se retirado porque havia uma grande multidão junto ao tanque, e quando o que fora curado foi interpelado pelos judeus sobre quem lhe tinha ordenado a carregar o seu leito em dia de sábado, ele lhes disse que não sabia quem era aquele que lhe havia curado, porque Jesus já havia se retirado.
No entanto, quando Jesus o encontrou no templo,  disse-lhe que ele estava são, mas que não pecasse mais para que não lhe sucedesse alguma coisa pior do que aquela enfermidade que ele carregou por 38 anos (v. 14).
Mesmo depois de ter recebido tal advertência do Senhor, o que fez aquele homem?
Ele correu para delatar Jesus aos judeus, de maneira que estes passaram a procurar o Senhor com o intuito de matá-lO, porque segundo eles, ele estava quebrando o sábado.
É bom lembrar que o diabo entrou em Judas justamente quando Jesus lhe deu um bocado de pão.
Um gesto que deveria gerar amor e gratidão, gerou em Judas inveja e ódio pelo Senhor a ponto de desejar matá-lo pelas mãos dos judeus; razão pela qual o traiu inspirado por Satanás.


Os Judeus Intentam Matar Jesus - João 5

“17 E Jesus lhes respondeu: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.
18 Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não só quebrantava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus.
19 Mas Jesus respondeu, e disse-lhes: Na verdade, na verdade vos digo que o Filho por si mesmo não pode fazer coisa alguma, se o não vir fazer o Pai; porque tudo quanto ele faz, o Filho o faz igualmente.
20 Porque o Pai ama o Filho, e mostra-lhe tudo o que faz; e ele lhe mostrará maiores obras do que estas, para que vos maravilheis.
21 Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos, e os vivifica, assim também o Filho vivifica aqueles que quer.
22 E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo;
23 Para que todos honrem o Filho, como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou.
24 Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida.
25 Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão.
26 Porque, como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo;
27 E deu-lhe o poder de exercer o juízo, porque é o Filho do homem.
28 Não vos maravilheis disto; porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz.
29 E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação.
30 Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma. Como ouço, assim julgo; e o meu juízo é justo, porque não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai que me enviou.” (João 5.17-30)

Jesus respondeu àqueles judeus que intentavam matá-lo porque havia curado um paralítico junto ao tanque de Betesda num sábado, e que lhe havia autorizado a carregar o seu leito, que os motivos deles de honrarem a Deus não eram corretos, porque não estavam honrando a Ele que havia sido enviado pelo Pai.
Quem não honrar o Filho não pode estar honrando verdadeiramente ao Pai, porque este tem determinado receber toda a honra  dos homens através da honra que deve ser dada a Seu Filho, Jesus Cristo.
Eles estavam agindo com base em preceitos e tradições de homens que anulavam a verdade da Palavra de Deus.
Eles não chegaram a reconhecer o Filho porque não estavam buscando verdadeiramente a Deus, tal como os discípulos do Senhor, porque estes desejavam de fato viver segundo a verdade de Deus.
O discurso de Jesus não era contra eles, mas a favor de uma genuína conversão.
Se eles lhe dessem ouvidos, muitos deles poderiam se arrepender dos seus pecados e chegarem ao conhecimento da verdade, pela revelação do Espírito.
Mas enquanto estivessem endurecidos em suas próprias convicções, sem se submeterem às palavras do Senhor, permaneceriam nas trevas em que sempre estiveram.
Eles estavam errando no princípio mais básico que pode conduzir alguém à conversão que é o reconhecimento da divindade de Jesus.
Por isso ficaram ainda mais furiosos contra Ele quando declarou que Deus era Seu Pai e que todo o trabalho que Ele realizava era em perfeita harmonia e conjugação com a vontade do Pai; de maneira que rejeitar o que Ele fazia era o mesmo que rejeitar o que o Pai estava fazendo.
Jesus disse àqueles judeus endurecidos que eles não deveriam ficar maravilhados com o fato de ter curado um paralítico, porque Ele tem toda a autoridade para fazer obras ainda maiores, como ressuscitar e vivificar os mortos.
Além disso, o julgamento moral relativo ao pecado para condenação eterna, ou para a vida eterna foi também dado pelo Pai ao Filho (v. 22 a 27); de maneira que não deveriam ficar admirados, achando que Ele era digno de morte por ter curado um paralítico no dia de sábado, e ter-lhe ordenado que carregasse o seu leito, contrariando assim a tradição de homens estipulada pelas autoridades judaicas.
Deus Pai e Deus Filho podem conceder a vida eterna aos homens porque ambos têm vida em si mesmos, sendo a fonte de toda vida espiritual. Não há verdadeira vida eterna fora do Pai e do Filho, porque é dEles que recebemos esta vida (v. 26).  


Jesus Defende a Sua Autoridade - João 5

“31 Se eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho não é verdadeiro.
32 Há outro que testifica de mim, e sei que o testemunho que ele dá de mim é verdadeiro.
33 Vós mandastes mensageiros a João, e ele deu testemunho da verdade.
34 Eu, porém, não recebo testemunho de homem; mas digo isto, para que vos salveis.
35 Ele era a candeia que ardia e alumiava, e vós quisestes alegrar-vos por um pouco de tempo com a sua luz.
36 Mas eu tenho maior testemunho do que o de João; porque as obras que o Pai me deu para realizar, as mesmas obras que eu faço, testificam de mim, que o Pai me enviou.
37 E o Pai, que me enviou, ele mesmo testificou de mim. Vós nunca ouvistes a sua voz, nem vistes o seu parecer.
38 E a sua palavra não permanece em vós, porque naquele que ele enviou não credes vós.
39 Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam;
40 E não quereis vir a mim para terdes vida.
41 Eu não recebo glória dos homens;
42 Mas bem vos conheço, que não tendes em vós o amor de Deus.
43 Eu vim em nome de meu Pai, e não me aceitais; se outro vier em seu próprio nome, a esse aceitareis.
44 Como podeis vós crer, recebendo honra uns dos outros, e não buscando a honra que vem só de Deus?
45 Não cuideis que eu vos hei de acusar para com o Pai. Há um que vos acusa, Moisés, em quem vós esperais.
46 Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim escreveu ele.
47 Mas, se não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?” (João 5.31-47)

Aqueles judeus haviam presenciado a evidência de um milagre realizado pelo Senhor em alguém que seguramente não havia sido curado por ter entrado no tanque de Betesda, porque eles sabiam que há 38 anos aquele homem o tentava com insucesso.
Eles o tinham agora perfeitamente são diante deles, e nem com isso creram em Cristo.
Eles tiveram agora a oportunidade de ouvir um discurso sobre a Sua missão na terra, que foi proferido com autoridade e com a unção do Espírito, e nem assim eles se deixaram convencer da Sua missão e pessoa divina.
O próprio testemunho de Moisés poderia prevalecer contra aqueles judeus no dia do juízo, porque eles afirmavam fazer o que faziam por serem seguidores de Moisés. Mas se isto fosse verdadeiro eles teriam seguido a Cristo, porque tudo o que Moisés ensinou, inclusive nas sombras cerimoniais da Lei, apontava para Cristo. Eles seriam justamente condenados no dia do Juízo.
Jesus nunca procurou a Sua própria honra e glória em tudo o que fez, pregou e ensinou, senão somente a glória e honra do Pai. Todos os Seus servos devem seguir o Seu exemplo nisto, não buscando honra e glória para si mesmos.
É em testemunho de verdadeira humildade, estando esvaziados de nós mesmos, que glorificamos ao Senhor, e receberemos honra e glória de Deus, e não propriamente dos homens, que muitas vezes até mesmo nos odiarão e perseguirão.
Aqueles judeus haviam resistido a Cristo e à Sua doutrina, mas receberiam de braços abertos aos falsos mestres e pastores, como seus pais haviam feito no passado, e como eles estavam fazendo agora com o ensino errôneo dos escribas e fariseus.
Eles deveriam ter cuidado porque não se fazem estas coisas opcionalmente, como se Deus nos tivesse dado o direito de escolher a doutrina que mais nos agrade, se a dEle ou a dos homens; porque haverá um juízo sobre o modo pelo qual vivemos, e que sempre está baseado naquilo em que nós cremos e realmente amamos.
Se não for ao Senhor e à Sua Palavra, estamos definitivamente arruinados porque teremos que enfrentá-lo no dia do Juízo para uma condenação eterna, como Jesus havia alertado aqueles judeus que estavam endurecidos em suas tradições e falsas convicções teológicas.
No entanto, o problema deles como o de qualquer outra pessoa não é simplesmente o fato de crerem numa doutrina que seja oposta à de Cristo, mas a cobiça dos Seus próprios corações por fome de glória e honra pessoal, em vez de viverem exclusivamente para a honra e glória de Deus, conforme o próprio Senhor afirmou no verso 44.








João 6

Aprendendo Lições na Multiplicação dos Pães e dos Peixes - João 6

“1 Depois disto partiu Jesus para o outro lado do mar da Galiléia, que é o de Tiberíades.
2 E grande multidão o seguia, porque via os sinais que operava sobre os enfermos.
3 E Jesus subiu ao monte, e assentou-se ali com os seus discípulos.
4 E a páscoa, a festa dos judeus, estava próxima.
5 Então Jesus, levantando os olhos, e vendo que uma grande multidão vinha ter com ele, disse a Filipe: Onde compraremos pão, para estes comerem?
6 Mas dizia isto para o experimentar; porque ele bem sabia o que havia de fazer.
7 Filipe respondeu-lhe: Duzentos dinheiros de pão não lhes bastarão, para que cada um deles tome um pouco.
8 E um dos seus discípulos, André, irmão de Simão Pedro, disse-lhe:
9 Está aqui um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas que é isto para tantos?
10 E disse Jesus: Mandai assentar os homens. E havia muita relva naquele lugar. Assentaram-se, pois, os homens em número de quase cinco mil.
11 E Jesus tomou os pães e, havendo dado graças, repartiu-os pelos discípulos, e os discípulos pelos que estavam assentados; e igualmente também dos peixes, quanto eles queriam.
12 E, quando estavam saciados, disse aos seus discípulos: Recolhei os pedaços que sobejaram, para que nada se perca.
13 Recolheram-nos, pois, e encheram doze alcofas de pedaços dos cinco pães de cevada, que sobejaram aos que haviam comido.
14 Vendo, pois, aqueles homens o milagre que Jesus tinha feito, diziam: Este é verdadeiramente o profeta que devia vir ao mundo.”

Cinco pães e dois peixes representam todos os nossos poucos recursos que são multiplicados nas mãos de Cristo.
Ao ter ordenado que fossem recolhidas as sobras, o Senhor nos ensinou a sermos econômicos e a preservamos os Seus dons e bênçãos.
Nós não podemos fazer um mau uso ou desperdiçarmos ainda que sejam as sobras daquilo que Ele nos tem dado, e que temos reconhecido que temos recebido dEle por causa do Seu grande poder e amor.
Em todas as oportunidades Jesus procura ocasião para provar a fé dos Seus discípulos, tal como fizera com eles no monte perguntando a Filipe onde comprariam pães para alimentar toda aquela multidão.
Quando Jesus fez tal pergunta a Filipe Ele já sabia o que haveria de fazer, mas queria abrir a visão dos Seus apóstolos para buscarem sempre nEle as respostas para todas as necessidades que se apresentassem diante deles, especialmente quando estivessem no Seu serviço.
Filipe ainda pensava nas possibilidades humanas e naturais porque respondeu que eles não tinham nem de longe o dinheiro necessário para comprar uma tão grande quantidade de alimento.
Mas Jesus não perguntou quanto seria necessário de dinheiro para comprar o alimento, mas onde eles comprariam.
Não seria comprado na terra, mas no céu.
O recurso viria do alto pela realização de um milagre de multiplicação daquilo que eles tivessem.
Tal como fora feito no passado com a farinha da viúva de Sarepta por Elias, e com o azeite da botija, por Eliseu, na casa da mulher do profeta que havia morrido endividado.
André deu um passo além de Filipe, mas ainda permaneceu na visão das possibilidades terrenas e humanas, e não conseguiu dar o salto da fé, porque procurou investigar se havia entre eles na multidão alimentos que pudessem ser repartidos entre todos, mas ficou desencorajado ao ver que apenas um rapaz tinha cinco pães e dois peixinhos, e questionou Jesus dizendo o que seria aquilo para tantas pessoas?
Mas a busca de solução de André não seria inteiramente frustrada, porque ainda que ele dissesse o que era aquilo para tantos, seria justamente a partir daqueles poucas pães e peixes que toda a multidão de cinco mil pessoas seria alimentada.
Filipe havia cruzado os braços ao ver o tamanho do problema e estava completamente certo pela lógica dos homens que o melhor a fazer seria reconhecer que aquele problema era de solução impossível em face dos recursos que eles possuíam.
Mas Deus não age segundo a lógica dos homens e então como discípulo de Cristo, Filipe estava completamente errado segundo o método divino, que opera segundo a nossa fé, e não segundo os nossos recursos.
André demonstrou que não tinha ainda uma fé grande no Senhor, mas ao menos tentou se esforçar para solucionar o problema que Ele havia proposto, e foi honrado apesar da sua pequena fé.
Cristo sempre honrará os nossos esforços em prol do Seu reino, ainda que não saibamos as coisas grandiosas que Ele fará para atender às nossas presentes necessidades, e resolver aquilo que Ele mesmo nos solicitou.
Jesus fará o milagre mas nós temos que nos esforçar para achar a solução.
Nós temos que trabalhar para obter o nosso pão.
Ele multiplicará os nossos recursos e os abençoará, mas nós temos que nos esforçar para obtê-los.
André, Filipe e os demais discípulos haviam aprendido de maneira muito prática, para o crescimento da fé deles, que não há impossíveis para o Senhor.
Eles estavam até aquele ponto ainda endurecidos e haviam esquecido o milagre da transformação da água em vinho nas bodas de Caná; tinham presenciado a cura de muitos enfermos e endemoninhados, tanto como aquela multidão que havia seguido Jesus até o monte, por estarem vendo como Ele curava os enfermos.
Mas com este milagre Ele revelou a eles a Sua onipotência divina, porque nunca se viu antes tantos sendo alimentados com apenas cinco pães e dois peixes.
Ao servirmos ao Senhor, sejam quais forem as nossas necessidades, devemos descansar no fato de que Ele é poderoso para realizar tudo aquilo que Ele tiver solicitado a nós para fazer em Seu nome.



Jesus Caminhou Sobre as Águas - João 6

“15 Sabendo, pois, Jesus que haviam de vir arrebatá-lo, para o fazerem rei, tornou a retirar-se, ele só, para o monte.
16 E, quando veio a tarde, os seus discípulos desceram para o mar.
17 E, entrando no barco, atravessaram o mar em direção a Cafarnaum; e era já escuro, e ainda Jesus não tinha chegado ao pé deles.
18 E o mar se levantou, porque um grande vento assoprava.
19 E, tendo navegado uns vinte e cinco ou trinta estádios, viram a Jesus, andando sobre o mar e aproximando-se do barco; e temeram.
20 Mas ele lhes disse: Sou eu, não temais.
21 Então eles de boa mente o receberam no barco; e logo o barco chegou à terra para onde iam.
22 No dia seguinte, a multidão que estava do outro lado do mar, vendo que não havia ali mais do que um barquinho, a não ser aquele no qual os discípulos haviam entrado, e que Jesus não entrara com os seus discípulos naquele barquinho, mas que os seus discípulos tinham ido sozinhos
23 (Contudo, outros barquinhos tinham chegado de Tiberíades, perto do lugar onde comeram o pão, havendo o Senhor dado graças).
24 Vendo, pois, a multidão que Jesus não estava ali nem os seus discípulos, entraram eles também nos barcos, e foram a Cafarnaum, em busca de Jesus.
25 E, achando-o no outro lado do mar, disseram-lhe: Rabi, quando chegaste aqui?
26 Jesus respondeu-lhes, e disse: Na verdade, na verdade vos digo que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque comestes do pão e vos saciastes.
27 Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; porque a este o Pai, Deus, o selou.” (joão 6.15-27)

Depois de ter multiplicado os cinco pães e dois peixes Jesus se retirou da multidão e foi sozinho para o monte.
Ele se antecipou à ação daquelas pessoas porque sabia que tentariam proclamá-lo rei de Israel, e isto despertaria não somente uma visão incorreta à natureza do Seu reino, que não é política, como também precipitaria novas perseguições contra Ele pelo falso argumento de que era um subversivo.
Além disso, não é deste modo que Ele deseja ser honrado, a saber, com a motivação incorreta, porque o que aquelas pessoas desejavam realmente não era se submeterem à Sua autoridade divina, para um governo no coração, mas se livrarem do domínio do Império Romano, e também, como o próprio Senhor lhes dissera, não por terem reconhecido que Ele era o Messias, pelos sinais que haviam visto Ele fazer, mas porque haviam comido dos pães e dos peixes e se fartaram.
Ao cair da tarde os discípulos foram para o mar da Galiléia para atravessá-lo para o outro lado, em direção a Cafarnaum, e como Jesus não apareceu, decidiram fazer a travessia sem Ele, e sendo escuro enfrentaram uma tempestade no meio do mar, porque soprava um vento muito forte.
O Senhor veio ter com eles andando por sobre as águas do mar, e não sabendo que se tratava de Jesus que vinha na direção deles, temeram, mas o Senhor lhes tranqulizou revelando-se a eles; e puderam chegar em segurança ao outro lado; porque conforme vemos no complemento desta passagem nos evangelhos sinópticos Jesus havia ordenado ao mar que se acalmasse.
Jesus caminhou sobre o mar tempestuoso para nos mostrar que Ele tem domínio sobre as tempestades que atingem as nossas vidas e pode nos manter em perfeita segurança no meio delas.
Jesus é o Rei dos reis, mas não necessita ser entronizado pelos homens, nem pelos anjos, porque foi o próprio Pai que Lhe fez Senhor de tudo e de todos.
Conhecendo o que estava no coração deles, e o motivo pelo qual lhe estavam procurando, Jesus lhes repreendeu dizendo que não o faziam não pelos sinais que haviam visto, mas por causa da comida grátis, e que eles deveriam trabalhar para obter o sustento deles, mas não simplesmente pelo sustento material que estavam buscando nEle, mas pelo alimento que permanece para a vida eterna, o qual Ele lhes daria de boa vontade, caso O buscassem da maneira certa.


Provisão Espiritual Garantida - João 6

“28 Disseram-lhe, pois: Que faremos para executarmos as obras de Deus?
29 Jesus respondeu, e disse-lhes: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou.
30 Disseram-lhe, pois: Que sinal, pois, fazes tu, para que o vejamos, e creiamos em ti? Que operas tu?
31 Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: Deu-lhes a comer o pão do céu.
32 Disse-lhes, pois, Jesus: Na verdade, na verdade vos digo: Moisés não vos deu o pão do céu; mas meu Pai vos dá o verdadeiro pão do céu.
33 Porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo.
34 Disseram-lhe, pois: Senhor, dá-nos sempre desse pão.
35 E Jesus lhes disse: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede.
36 Mas já vos disse que também vós me vistes, e contudo não credes.
37 Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora.
38 Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.
39 E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia.
40 Porquanto a vontade daquele que me enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.
41 Murmuravam, pois, dele os judeus, porque dissera: Eu sou o pão que desceu do céu.
42 E diziam: Não é este Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe nós conhecemos? Como, pois, diz ele: Desci do céu?
43 Respondeu, pois, Jesus, e disse-lhes: Não murmureis entre vós.
44 Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.
45 Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a mim.
46 Não que alguém visse ao Pai, a não ser aquele que é de Deus; este tem visto ao Pai.
47 Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim tem a vida eterna.
48 Eu sou o pão da vida.
49 Vossos pais comeram o maná no deserto, e morreram.
50 Este é o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra.
51 Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo.
52 Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como nos pode dar este a sua carne a comer?
53 Jesus, pois, lhes disse: Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos.
54 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.
55 Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida.
56 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.
57 Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim.
58 Este é o pão que desceu do céu; não é o caso de vossos pais, que comeram o maná e morreram; quem comer este pão viverá para sempre.
59 Ele disse estas coisas na sinagoga, ensinando em Cafarnaum.” (João 6.28-59)

É dito que Jesus disse as coisas que proferiu a partir do verso 28, na sinagoga em Cafarnaum.
É possível que João tenha feito um arranjo associando este discurso ao que Jesus havia debatido com os galileus de Tiberíades que lhe haviam seguido até Cafarnaum, porque encerrou o seu discurso com eles falando de trabalho de Deus e para Deus.
João registrou que quando Jesus estava ensinando na sinagoga de Cafarnaum lhe perguntaram o que deveriam fazer para executar as obras de Deus.
Como há muito pensamento envolvido no fato de se julgar que a obra de Deus é para atender às nossas necessidades materiais, Jesus disse que a obra de Deus consiste em ter fé nEle, porque foi a Ele que Deus Pai encarregou de fazer a Sua obra na terra.
Então é em associação com Cristo, pela fé nEle, que se pode fazer efetivamente a obra de Deus.
Eles haviam perguntado pelo modo como deveriam fazer a obra de Deus, mas na verdade queriam que Deus trabalhasse para eles.
Não havia neles uma verdadeira disposição de servir ao Senhor, porque pediram que fizesse um sinal demonstrando que era enviado de Deus tal como foi o caso de Moisés, através de quem Deus havia dado o maná ao povo de Israel no deserto.
Jesus lhes disse que aquele não era um sinal da vida eterna celestial que somente Ele pode dar, porque aquele pão não era celestial, não era o pão vivo que dá vida eterna, mas um alimento natural que foi provido de maneira sobrenatural por Deus para tão somente suprir as necessidades dos israelitas de alimento material.
Então nada havia da vida do céu no maná que os israelitas consumiram por quarenta anos.
Se eles achavam que o maná era uma grande evidência para se ter fé em alguém como tendo sido enviado por Deus, quão maior evidência não era, portanto o próprio Jesus, como o pão da vida que havia sido enviado pelo Pai para dar vida eterna àqueles que nEle creem?
Mas eles não podiam enxergar isto porque não creram nEle.
Se tivessem crido, como os apóstolos, teriam visto que Ele próprio é o maior sinal e evidência que podemos ter da parte de Deus, porque passa a viver em nós, dando-nos a vida do céu, em testificação com o nosso espírito (v. 36).
Eles queriam esta vida, mas sem se entregarem a Cristo. Sem crerem verdadeiramente nEle.
Não é possível ter vida eterna sem Cristo, porque Ele próprio é a vida eterna.
Jesus não estava buscando o favor e o aplauso dos homens.
Ao contrário veio fazer o maior dos favores àqueles que necessitam de salvação para poderem ser resgatados da condenação eterna e serem feitos filhos de Deus.
Desta maneira, nenhum dos que Lhe foram dados pelo Pai se perderá, mas serão ressuscitados no último dia (v. 39).
Aqueles que enxergam com os olhos da fé que Jesus é o pão vivo que desceu do céu e que dá vida, creem nEle, e terão vida eterna; e seus corpos serão ressuscitados no último dia da dispensação da graça (v. 40).
Estas palavras de Jesus deram ensejo a uma grande murmuração dos judeus, porque havia dito que era o pão que tinha descido do céu, e eles sabiam que Ele era filho de José e de Maria.
Como poderia portanto ter descido do céu?
A história da encarnação de Jesus foi mantida em segredo até ser registrada pelos apóstolos nos evangelhos.
Importava que estas coisas fossem ocultadas aos judeus e que fossem ensinados por parábolas, porque Deus não pretende ser servido e conhecido por evidências externas, mas por um conhecimento íntimo da Sua pessoa, por revelação do Espírito.
Assim, não é pela mera decisão do homem que Ele chegará a conhecer a Deus, mas por um ato do próprio Deus em atraí-lo à salvação em Seu Filho, tal como fizera com o centurião Cornélio (v. 44).
Jesus deu a sua carne como sacrifício na cruz para que pudéssemos ter vida eterna.
Se Ele não tivesse se oferecido como sacrifício por nós, jamais poderíamos participar da Sua vida, por causa dos nossos pecados.
Como os judeus entenderam erroneamente que Jesus estava falando literalmente de se comer da sua carne, ele reforçou ainda mais o erro deles dizendo que não deveriam somente comer a carne, como também beber o Seu sangue, porque ofereceria a Sua própria vida para que tivéssemos vida eterna estando nEle e sendo alimentados espiritualmente por Ele.


Os Que Abandonaram Jesus - João 6

“60 Muitos, pois, dos seus discípulos, ouvindo isto, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir?
61 Sabendo, pois, Jesus em si mesmo que os seus discípulos murmuravam disto, disse-lhes: Isto escandaliza-vos?
62 Que seria, pois, se vísseis subir o Filho do homem para onde primeiro estava?
63 O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida.
64 Mas há alguns de vós que não crêem. Porque bem sabia Jesus, desde o princípio, quem eram os que não criam, e quem era o que o havia de entregar.
65 E dizia: Por isso eu vos disse que ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não lhe for concedido.
66 Desde então muitos dos seus discípulos tornaram para trás, e já não andavam com ele.
67 Então disse Jesus aos doze: Quereis vós também retirar-vos?
68 Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna.
69 E nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente.
70 Respondeu-lhe Jesus: Não vos escolhi a vós os doze? e um de vós é um diabo.
71 E isto dizia ele de Judas Iscariotes, filho de Simão; porque este o havia de entregar, sendo um dos doze.” (João 6.60-71)

O discurso que Jesus fez por causa de uma pergunta que lhe foi feita na sinagoga de Cafarnaum pelos judeus quanto ao que deveriam fazer para realizarem as obras de Deus, precipitou as reações que são citadas nestes versos 60 a 71.
Até aquele momento muitos estavam seguindo Jesus qualificando-se a si mesmos como Seus discípulos.
Mas a grande maioria estava seguindo aos seus próprios interesses egoístas e não propriamente ao Senhor.
Todavia, os verdadeiros cristãos seguirão sempre ao Senhor, ainda que Ele lhes pergunte se não pretendem deixá-lO, como fizera com os doze.






João 7

A Incredulidade dos Irmãos de Jesus - João 7

“1 E Depois disto Jesus andava pela Galiléia, e já não queria andar pela Judéia, pois os judeus procuravam matá-lo.
2 E estava próxima a festa dos judeus, a dos tabernáculos.
3 Disseram-lhe, pois, seus irmãos: Sai daqui, e vai para a Judéia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes.
4 Porque não há ninguém que procure ser conhecido que faça coisa alguma em oculto. Se fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo.
5 Porque nem mesmo seus irmãos criam nele.
6 Disse-lhes, pois, Jesus: Ainda não é chegado o meu tempo, mas o vosso tempo sempre está pronto.
7 O mundo não vos pode odiar, mas ele me odeia a mim, porquanto dele testifico que as suas obras são más.
8 Subi vós a esta festa; eu não subo ainda a esta festa, porque ainda o meu tempo não está cumprido.
9 E, havendo-lhes dito isto, ficou na Galiléia.
10 Mas, quando seus irmãos já tinham subido à festa, então subiu ele também, não manifestamente, mas como em oculto.
11 Ora, os judeus procuravam-no na festa, e diziam: Onde está ele?
12 E havia grande murmuração entre a multidão a respeito dele. Diziam alguns: Ele é bom. E outros diziam: Não, antes engana o povo.
13 Todavia ninguém falava dele abertamente, por medo dos judeus.”

Sabendo do grande risco de morte que pairava sobre Ele na Judéia, Jesus decidiu permanecer por algum tempo na Galiléia, desde a Páscoa em que curara o paralítico junto ao tanque de Betesda, a qual era celebrada no primeiro mês judaico, até a festa dos Tabernáculos que era celebrada no sétimo mês; ocasião em que também concorria um grande número de judeus a Jerusalém, vindos de todas as partes do mundo, sendo portanto propícia para se dar testemunho do evangelho a muitos deles.
Não foi por medo que Jesus não permaneceu em Jerusalém, mas por prudência, porque não era ainda chegada a Sua hora de morrer na cruz.
Veja que a luz do evangelho é levada para longe daqueles que se esforçam para extingui-la, e que Jesus não permanecerá onde não for bem recebido.
Aprendemos do mesmo exemplo de Jesus que não devemos permanecer Lhe servindo onde não sejamos bem recebidos, porque não somente o nosso testemunho será inócuo, como também nos cumularemos de muitas dores desnecessárias.
Jesus não se importou em se unir às pessoas obscuras da Galiléia, apesar de pertencer a Ele a honra de estar sentado na cadeira de Moisés em Jerusalém, recebendo honra de todos os judeus.
O diabo usou os próprios irmãos de Jesus para tentá-lo a ir pública e manifestamente a Jerusalém para fazer as Suas obras, para que fosse visto pelos Seus discípulos; de maneira a que se expusesse e fosse preso e morto antes de cumprir tudo o que ainda deveria fazer.
Eles haviam dito isto com ironia porque até aquela altura ainda não criam nEle.
O próprio Tiago que escreveu a epístola que leva o seu nome, viria a crer nEle somente depois da evidência da Sua ressurreição (I Cor 15.7).
Ele suportou tudo isto pacientemente porque sabe que a carne não pode entender os mistérios do reino de Deus, e assim, enquanto se permanece na carne é impossível entender as coisas do Espírito.
Não sabemos se os irmãos de Jesus estavam conscientes dos riscos que Lhe aguardavam em Jerusalém por causa do grande ódio dos judeus por Ele, a ponto de que até mesmo os judeus da dispersão e de outras partes da Palestina terem temido indagar por Ele manifestamente, para que não fossem entregues aos judeus da Judéia, que queriam matá-lo.  
Mas se estavam ou não conscientes disto o Senhor lhes respondeu que não subiria com eles à festa porque não era um momento oportuno para Ele, porque estava sendo odiado por aqueles judeus, que eram do mundo, por ter testificado contra as más obras deles.
Todavia, quem do mundo odiaria os seus irmãos incrédulos?
Eles não podiam testificar contra a incredulidade sendo eles próprios incrédulos, e assim não granjeariam naquela condição o ódio de ninguém, e portanto poderiam ir para Jerusalém no tempo que bem lhes aprouvesse.
Assim Jesus foi ocultamente para a festa somente depois que seus irmãos subiram a Jerusalém.
Ele sabia que havia judeus da dispersão e de outras partes da Palestina procurando por Ele e assim não perderia a oportunidade de lhes pregar o evangelho.
Pouco devemos nos importar com o testemunho que o mundo der a nosso respeito porque será sempre um testemunho falho, como o que os judeus deram de Cristo porque alguns diziam que ele era bom, e outros que não era bom, e que enganava o povo.
Eles viam a Jesus apenas como homem e não tinham um julgamento apropriado, não somente relativo à Sua divindade como também à obra espiritual que Ele realizava no poder do Espírito.



Jesus Repreendeu a Incredulidade dos Judeus - João 7

“14 Mas, no meio da festa subiu Jesus ao templo, e ensinava.
15 E os judeus maravilhavam-se, dizendo: Como sabe este letras, não as tendo aprendido?
16 Jesus lhes respondeu, e disse: A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou.
17 Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo.
18 Quem fala de si mesmo busca a sua própria glória; mas o que busca a glória daquele que o enviou, esse é verdadeiro, e não há nele injustiça.
19 Não vos deu Moisés a lei? e nenhum de vós observa a lei. Por que procurais matar-me?
20 A multidão respondeu, e disse: Tens demônio; quem procura matar-te?
21 Respondeu Jesus, e disse-lhes: Fiz uma só obra, e todos vos maravilhais.
22 Pelo motivo de que Moisés vos deu a circuncisão (não que fosse de Moisés, mas dos pais), no sábado circuncidais um homem.
23 Se o homem recebe a circuncisão no sábado, para que a lei de Moisés não seja quebrantada, indignais-vos contra mim, porque no sábado curei de todo um homem?
24 Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça.
25 Então alguns dos de Jerusalém diziam: Não é este o que procuram matar?
26 E ei-lo aí está falando abertamente, e nada lhe dizem. Porventura sabem verdadeiramente os príncipes que de fato este é o Cristo?
27 Todavia bem sabemos de onde este é; mas, quando vier o Cristo, ninguém saberá de onde ele é.
28 Clamava, pois, Jesus no templo, ensinando, e dizendo: Vós conheceis-me, e sabeis de onde sou; e eu não vim de mim mesmo, mas aquele que me enviou é verdadeiro, o qual vós não conheceis.
29 Mas eu conheço-o, porque dele sou e ele me enviou.
30 Procuravam, pois, prendê-lo, mas ninguém lançou mão dele, porque ainda não era chegada a sua hora.
31 E muitos da multidão creram nele, e diziam: Quando o Cristo vier, fará ainda mais sinais do que os que este tem feito?
32 Os fariseus ouviram que a multidão murmurava dele estas coisas; e os fariseus e os principais dos sacerdotes mandaram servidores para o prenderem.
33 Disse-lhes, pois, Jesus: Ainda um pouco de tempo estou convosco, e depois vou para aquele que me enviou.
34 Vós me buscareis, e não me achareis; e onde eu estou, vós não podeis vir.
35 Disseram, pois, os judeus uns para os outros: Para onde irá este, que o não acharemos? Irá porventura para os dispersos entre os gregos, e ensinará os gregos?
36 Que palavra é esta que disse: Buscar-me-eis, e não me achareis; e: Aonde eu estou vós não podeis ir?”

O problema básico dos judeus de Jerusalém para reconhecerem a autoridade de Jesus continua sendo o mesmo problema de muitos na própria Igreja ainda em nossos dias.
Eles achavam que a autoridade de Deus passa obrigatoriamente por instituições de ensino regulares com atestação de colação de grau pelos homens.
Quando ficaram maravilhados com o conhecimento de Jesus das Escrituras, eles ficaram ao mesmo tempo resistentes pelo fato de não tê-las aprendido nas escolas rabínicas e de não ter autorização expressa dos rabinos para se dedicar aos assuntos relativos à religião.
Não somente Jesus, como João Batista e os apóstolos não estiveram debaixo do ensino deles para poderem exercer o ministério que haviam recebido de Deus, porque eles não estavam honrando verdadeiramente ao Senhor e à Sua Palavra.
A doutrina de Deus é conhecida fazendo-se a Sua vontade (v. 17).
A doutrina do evangelho foi revelada nas Escrituras do Velho Testamento, mas estava escondida aos religiosos de Israel porque todas as coisas ditas em relação ao Messias estavam encobertas pelo véu do Velho Testamento.
É somente no próprio Cristo e na forma direta e clara como Ele expôs o evangelho que este véu é retirado, de maneira que se possa ver claramente aquelas coisas sobre as quais Deus havia falado através de Moisés e dos profetas do Antigo Testamento.
Então não seria nenhum rabino que poderia ensinar a Cristo o que era o evangelho preanunciado por Deus desde Abraão, e revelar quem era Aquele que pisaria a cabeça da serpente, conforme Deus havia dito a Adão.
Somente aqueles que têm aprendido e ouvido da parte de Deus podem falar em Seu nome.
Aqueles judeus estavam vendo Jesus como um mero professor de religião.
Um homem envolvido no ministério de ensino para as escolas rabínicas, e não um general celestial com a incumbência de formar soldados para guerrearem contra os poderes das trevas que aprisionavam até mesmo a muitos destes que estavam se opondo ao Senhor e pretendendo matá-lo.
Jesus não estava buscando a glória do reconhecimento de ser um grande mestre entre os homens, mas a glória de Deus Pai, realizando a obra que Lhe havia designado para cumprir (v. 18).
Para que eles queriam mais um mestre da Lei se eles não cumpriam a Lei?
E como podiam então  pretender matar ao Senhor com a aprovação do Sinédrio, pelo falso argumento dEle ter quebrado a Lei curando aquele paralítico do tanque de Betesda num dia de sábado?
Diante da afirmação do Senhor de que eles não guardavam a Lei, eles dissimularam e disseram que Ele estava endemoninhado para fazer uma tal afirmação de que eles pretendiam matá-lo, pelo motivo de ter quebrado o sábado.
Na verdade eles não estavam procurando tirar-lhe a vida por motivo de zelo religioso. Aquilo era apenas um pretexto para agradarem os governantes e autoridades judaicos.
Circuncidar no sábado era lícito, mas curar não? Circuncidar era lícito, mas salvar não?
Afinal que pecado Jesus havia cometido então?
Que julgamento era portanto aquele que eles estavam fazendo? Era segundo a reta justiça? Não.
Era segundo a conveniência deles e segundo a aparência, daquilo que lhes parecia ser a quebra da Lei sem que fosse de fato.
Então alguns daqueles judeus de Jerusalém se indignaram ainda mais contra o Senhor e disseram ironicamente que não entendiam como os principais líderes de Israel permitiam que Ele continuasse falando abertamente.
Para instigar os sacerdotes a zelos, perguntaram ironicamente se por acaso teriam eles reconhecido afinal que ele era o Cristo?
E para se justificarem fizeram questão de dizer que no que tocava a eles bem sabiam que ele não podia ser o Messias, porque sabiam onde ele tinha nascido e vivido; e por uma afirmação teológica que não sabemos de onde eles a sacaram, porque não consta nas Escrituras, afirmaram que quando o Cristo se manifestasse ninguém saberia de onde ele é.
Ao contrário, a profecia diz claramente que o Messias nasceria em Belém Efrata.
Eles afirmaram que sabiam onde Jesus tinha nascido e vivido, no entanto eles não conheciam de fato de onde Ele viera, porque foi enviado desde o céu pelo Pai, o qual nenhum deles conhecia.
Eles viram a Cristo, mas também não O conheceram como importa ser conhecido, isto é, em espírito.
Quando Jesus falou da sua verdadeira proveniência no templo, tentaram prendê-lo, mas ninguém pôde lançar mão dEle, porque não era ainda chegada a Sua hora de ser preso e morto.
Seu testemunho ousado e corajoso debaixo de toda aquela perseguição e os sinais que fazia, levaram muitos a crerem nEle, e julgavam que seria impossível que um outro fosse o Cristo, porque não poderia fazer mais sinais do que aqueles que Jesus já havia feito.
Quando os fariseus ouviram a multidão fazer tal afirmação acerca dEle, de ser o próprio Messias, eles se uniram aos principais sacerdotes para que fossem enviados guardas para prendê-lo.
Sabendo disto Jesus lhes disse que permaneceria neste mundo com os judeus ainda por mais um pouco de tempo, porque iria voltar para Aquele que Lhe havia enviado.
Quando isto acontecesse O procurariam, mas não poderiam mais achá-lO, porque para onde Ele iria, eles não poderiam ir.
Certamente, o céu não é lugar para incrédulos, conspiradores e perseguidores do próprio Cristo.
Eles pensaram que Ele se retiraria dos termos de Israel para ensinar os judeus da dispersão que se encontrava entre os gregos, e aos próprios gregos.
E ficaram a indagar entre si qual era o significado da palavra que lhes havia dito que eles O buscariam mas não O achariam, e que onde ele estaria eles não poderiam ir.



O Rio de Água Viva - João 7

“37 E no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé, e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim, e beba.
38 Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre.
39 E isto disse ele do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado.
40 Então muitos da multidão, ouvindo esta palavra, diziam: Verdadeiramente este é o Profeta.
41 Outros diziam: Este é o Cristo; mas diziam outros: Vem, pois, o Cristo da Galiléia?
42 Não diz a Escritura que o Cristo vem da descendência de Davi, e de Belém, da aldeia de onde era Davi?
43 Assim entre o povo havia dissensão por causa dele.”. (João 7.37-43)

Jesus comprovou com estas palavras de João 7.37-43, que realmente não veio condenar, mas salvar o mundo na presente dispensação da graça. Porque, em face de tanta oposição que estava sofrendo, seria de se esperar que Aquele que recebeu do Pai toda autoridade no céu e na terra para exercer juízos em Seu nome, trouxesse uma palavra de condenação ou correção, e não um convite para a salvação, e ainda por cima por pura graça.
Era o último dia da festa dos Tabernáculos e as pessoas estariam voltando para as suas casas.
Então Jesus aproveitou a oportunidade para lhes deixar um forte apelo em suas consciências para que viessem a se converter a Ele, ainda que soubesse que apenas alguns dentre eles se converteriam de fato.
É a Cristo e somente a Ele que se deve ir com fé no coração para que se receba o Espírito Santo como um dom para habitar em nós para sempre.
Somente os que têm fome e sede de justiça, da justiça do reino de Deus, podem vir a Cristo para serem saciados.
Por isso Ele não disse simplesmente que viessem beber a água viva todos os que a desejassem, mas apenas os que têm sede.
Esta sede é, sobretudo por uma vida santa, porque a água do Espírito nos purificará dos nossos pecados, para sermos santos e inculpáveis como Cristo.
Importava que Jesus fosse glorificado no céu pela obra de redenção que realizou na terra, para que o Espírito Santo pudesse ser derramado como um dom em todas as nações.
Jesus sabia que Israel estaria endurecido para tal recepção, conforme havia sido profetizado desde o Velho Testamento (Is 65.1,2), e conforme eles estavam demonstrando durante todo o Seu ministério terreno, mas os gentios viriam a beber da água que eles haviam rejeitado.
Enquanto os gentios estariam dando glórias e aleluias, transbordando na alegria do Espírito, os judeus continuariam debatendo acerca de ser Cristo ou não o Profeta prometido desde Moisés (Dt 18.18), e se fosse o Messias como poderia ser da Galiléia, porque a muitos deles ficou ocultado propositalmente pelo Senhor as circunstâncias que envolveram o Seu nascimento em Belém, e pensavam que Ele havia nascido em Nazaré, onde viveu, apesar de conhecerem pelas Escrituras que o Messias nasceria em Belém.
Jesus se tornou para eles, conforme afirmam as Escrituras, uma rocha de escândalo e de tropeço, em vez de ser a rocha eleita e preciosa de salvação para aqueles que nele creem.
Não é por meio de discussão e debates sobre a Lei, e ainda sobre todas as Escrituras que se chega a conhecer a Cristo, mas por um ato de entrega espiritual, pessoal e voluntária a Ele, confiando completamente nEle para que seja o nosso Salvador e Senhor.
As graças do Espírito Santo são como as águas vivas de uma fonte porque estão sempre em movimento e em constante renovação, e jamais terminam.
Não são águas paradas de um poço ou cisterna.
Esta água salta para a vida eterna, e é por isso que Jesus disse à mulher samaritana que ela jamais teria sede se bebesse desta água, porque é como água de uma fonte, só que é uma fonte que nunca se esgotará e que continuará saciando a nossa sede por toda a eternidade.
Sem esta água espiritual não é possível ter vida espiritual eterna.
Nem mesmo vida por alguns dias.
Não há de fato nenhuma vida espiritual se não tivermos esta água viva, que é o Espírito Santo, fluindo no nosso interior.
Jesus disse que o fluir deste rio de água viva estava citado nas Escrituras do Velho Testamento.
Dentre estas Escrituras salta à vista o texto de Ezequiel relativo ao rio que procede do trono de Deus e que vai aumentando de volume cada vez mais, e que gera vida por onde quer que ele passe (Ez 47.1-12).
Estas águas do Espírito são também derramadas como chuva conforme afirmam as Escrituras (Is 44.3; Joel 2.28; Zac 12.10).  
Os judeus deixaram o  manancial de águas vivas para cavarem cisternas quebradas que não podem reter as águas (Jer 2.13), e fizeram isto por se firmarem na própria justiça deles, e naquilo que pensavam ser a justiça das obras da Lei, Lei esta que eles quebravam de todas as maneiras e formas, e não confiaram na justiça de Cristo para que fossem justificados, e assim recebessem a promessa da habitação do Espírito Santo.
Mas, todos aqueles que têm o Espírito Santo trabalhando neles tal como a água, lhes purificando, pela fé, dos seus pecados, amolecendo seus corações para receberem a Palavra da vida, e sendo alimentados pela água para crescerem e frutificarem espiritualmente; pode-se dizer destes, que estão de fato transbordando no Espírito Santo, conforme Cristo havia prometido para todos aqueles que cressem nEle.
Este transbordamento fluirá do ventre deles, isto é, do seu interior, do seu espírito, como um rio poderoso de água viva, especialmente na pregação e ensino do evangelho, transmitindo vida a muitos.



Nenhum Outro Fala Como Ele - João 7

“44 E alguns deles queriam prendê-lo, mas ninguém lançou mão dele.
45 E os servidores foram ter com os principais dos sacerdotes e fariseus; e eles lhes perguntaram: Por que não o trouxestes?
46 Responderam os servidores: Nunca homem algum falou assim como este homem.
47 Responderam-lhes, pois, os fariseus: Também vós fostes enganados?
48 Creu nele porventura algum dos principais ou dos fariseus?
49 Mas esta multidão, que não sabe a lei, é maldita.
50 Nicodemos, que era um deles (o que de noite fora ter com Jesus), disse-lhes:
51 Porventura condena a nossa lei um homem sem primeiro o ouvir e ter conhecimento do que faz?
52 Responderam eles, e disseram-lhe: És tu também da Galiléia? Examina, e verás que da Galiléia nenhum profeta surgiu.
53 E cada um foi para sua casa.”. (João 7.44-53)

Os guardas que tinham saído da parte dos fariseus e dos principais sacerdotes para prenderem Jesus, retornaram a eles perplexos afirmando que nunca tinham ouvido alguém falar com tanta autoridade e poder como o Senhor.
Eles temeram lançar mão dEle para não receberem nenhum juízo severo da parte de Deus, tal como havia sucedido com aquelas duas guarnições dos capitães de cinquenta que tinham saído a mando do rei de Israel para prenderem Elias, e que haviam sido consumidos pelo fogo que veio da parte de Deus sobre eles.
Os próprios fariseus e sacerdotes estavam procurando um estratagema para pegarem o Senhor, conforme veremos nos capítulos seguintes, mas não tentariam fazer nada diretamente contra Ele, primeiro por temerem aqueles do povo que haviam crido nEle, e aqueles que estavam considerando que Ele fosse de fato realmente o grande Profeta e o Messias.
Eles conspirariam fortemente contra Ele entre si e às ocultas.
Os fariseus estavam muito seguros do falho conhecimento que eles tinham das Escrituras, e na sua cegueira por causa do ódio e inveja que tinham de Cristo, não podiam enxergar a verdade.
Eles consideravam o povo maldito porque não tendo o conhecimento que eles julgavam ter das Escrituras, acabaram crendo em Cristo, apesar deles estarem afirmando que Jesus estava enganando o povo.
Não foi sem razão que Jesus falou duramente contra a hipocrisia dos escribas e fariseus, que sendo guardiões das Escrituras, usavam-nas contra os propósitos de Deus, por causa dos próprios interesses carnais e egoístas deles.
A maioria dos escribas e fariseus estava perseguindo a Cristo por motivo de inveja e de falso zelo religioso, porque desejavam manter o status de únicos guias espirituais do povo de Israel, e para fins políticos na preservação da estima que tinham alcançado junto ao povo.
Outros, como Paulo, que viria a se converter mais tarde perseguiram ao Senhor e Seus discípulos por motivo de ignorância e pensando estarem fazendo de fato um grande serviço a Deus, tentando suprimir aqueles que eles pensavam estar agindo contra a Lei de Moisés.
Quando Nicodemos, que era um dos principais dos fariseus se levantou para defender Jesus dizendo que a lei não permitia que alguém fosse condenado sem que primeiro fosse ouvido, para que se defendesse das coisas contra as quais estava sendo acusado; os demais fariseus lhe perguntaram com ironia se por acaso ele, Nicodemos, era também natural da Galiléia, para estar defendendo um Galileu como Jesus, uma vez que segundo o exame que eles fizeram das Escrituras nunca nenhum profeta havia sido levantado por Deus na Galiléia.
No entanto, eles não sabiam que Jesus não havia nascido na Galiléia, mas na cidade de Belém, que ficava na Judéia.
Os fariseus faziam esta afirmação de modo impactante dizendo que não havia sido levantado nenhum profeta na Galiléia, para enganarem o povo, uma vez que é bem certo que eles sabiam que Jonas era de Gate-Efer, e Naum um eclosita, ambos da Galiléia. Assim, a afirmação deles era falsa.
Mas, de todo modo, eles foram apanhados por Deus na própria sabedoria deles, para que permanecessem endurecidos crendo numa verdade aparente que lhes convinha, para não admitirem que Jesus fosse de fato o Messias.
Eles precisavam de um argumento para justificar o seu endurecimento, e se não encontrassem um eles o inventariam, assim, Deus lhes confundiu fazendo com que Jesus nascesse de uma família que residia em Nazaré, na Galiléia, mas cujos ancestrais eram naturais da cidade de Belém, onde tiveram que se recensear por decreto de César Augusto, para que Jesus lá nascesse dando cumprimento às Escrituras.
Jesus sabia que dificilmente teria governantes e fariseus do Seu lado porque a abnegação e o carregar diário da cruz seria uma lição muito dura para que eles cumprissem em seu orgulho e presunção.
Por isso o evangelho é destinado aos pobres de espírito, aos mansos e quebrantados de coração, porque somente estes se auto-negam e carregam a cruz voluntariamente, para fazerem não a sua própria vontade, mas a do Senhor.    






João 8

Jesus e a Mulher Adúltera - João 8

“1 Jesus, porém, foi para o Monte das Oliveiras.
2 E pela manhã cedo tornou para o templo, e todo o povo vinha ter com ele, e, assentando-se, os ensinava.
3 E os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério;
4 E, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando.
5 E na lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes?
6 Isto diziam eles, tentando-o, para que tivessem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia com o dedo na terra.
7 E, como insistissem, perguntando-lhe, endireitou-se, e disse-lhes: Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela.
8 E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra.
9 Quando ouviram isto, redargüidos da consciência, saíram um a um, a começar pelos mais velhos até aos últimos; ficou só Jesus e a mulher que estava no meio.
10 E, endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?
11 E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais.” (João 8.1-11)

Era de se esperar que Jesus retornasse para a Galiléia, em face da forte perseguição que estava sofrendo em Jerusalém, no entanto, Ele se retirou temporariamente para o monte das Oliveiras. Havia passado a noite fora da cidade, mas retornou ao templo logo na manhã do dia seguinte, onde ensinava o povo que vinha ter com Ele.
Os escribas e fariseus queriam encontrar um meio de arranjar uma acusação formal contra Ele para que pudesse ser condenado à morte.
Então pensaram em pegá-lo numa afirmação contra a Lei de Moisés.
Assim, lhe trouxeram uma mulher que havia sido apanhada em flagrante de adultério, e pediram que Ele desse o veredicto para aquele caso, uma vez que Moisés ordenou na Lei que os adúlteros fossem mortos por apedrejamento.
Percebendo a intenção deles de terem um motivo para Lhe acusarem e não propriamente a mulher, Jesus não lhes deu qualquer resposta, e continuou escrevendo com o dedo na terra.
Mas como insistiam na pergunta, Ele afinal lhes disse que o primeiro a lançar pedra contra a adúltera deveria ser aquele que entre eles estivesse sem pecado.
Ouvindo isto eles se retiraram, e Jesus disse à mulher que assim como os seus acusadores não a haviam condenado Ele também não a condenaria, mas ordenou-lhe que fosse e que não pecasse mais.  
Jesus veio inaugurar uma Nova Aliança, a aliança da graça, que revogaria a aplicação, entre os israelitas,  das penas legais da Antiga Aliança contra determinadas transgressões da Lei de Moisés.
A graça do evangelho havia derrubado o preconceito nacionalista e religioso, conforme vimos na narrativa da mulher samaritana no quarto capitulo, e agora, a graça estava se manifestando para livrar da condenação da penas legais que haviam na Antiga Aliança. A não condenação da mulher adúltera era uma demonstração prática desta realidade.


As Palavras e Obras de Jesus Testificam da Sua Divindade - João 8

“12 Falou-lhes, pois, Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.
13 Disseram-lhe, pois, os fariseus: Tu testificas de ti mesmo; o teu testemunho não é verdadeiro.
14 Respondeu Jesus, e disse-lhes: Ainda que eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho é verdadeiro, porque sei de onde vim, e para onde vou; mas vós não sabeis de onde venho, nem para onde vou.
15 Vós julgais segundo a carne; eu a ninguém julgo.
16 E, se na verdade julgo, o meu juízo é verdadeiro, porque não sou eu só, mas eu e o Pai que me enviou.
17 E na vossa lei está também escrito que o testemunho de dois homens é verdadeiro.
18 Eu sou o que testifico de mim mesmo, e de mim testifica também o Pai que me enviou.
19 Disseram-lhe, pois: Onde está teu Pai? Jesus respondeu: Não me conheceis a mim, nem a meu Pai; se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai.
20 Estas palavras disse Jesus no lugar do tesouro, ensinando no templo, e ninguém o prendeu, porque ainda não era chegada a sua hora.”. (João 8.12-20)

Como o estratagema dos escribas e fariseus havia falhado ao Lhe terem  trazido a mulher apanhada em adultério, Jesus continuou ensinando abertamente no templo, e, aproveitou a oportunidade para reafirmar a verdade que não veio a este mundo para julgá-lo, para estabelecer um juízo de morte sobre aqueles que não O conhecem e que se encontram mortos em seus pecados, mas para salvá-los, conforme nós podemos deduzir do modo como Ele tratou com a mulher adúltera.
Assim, Ele lhes declarou mais uma vez que era a luz do mundo, a luz que dá vida a todo aquele que O seguir.
Os fariseus replicaram tentando anular o testemunho do Senhor acerca da verdade, especialmente quanto ao fato de que Deus estaria se tornando longânimo e gracioso com todos os pecadores, na noava dispensação que Ele afirmava ter vindo inaugurar, dizendo que o testemunho dEle não era verdadeiro porque testificava de Si mesmo.
Mas o Senhor não deixou de dar a devida resposta dizendo que podia testificar de Si mesmo porque sabia de onde veio e para onde iria, de maneira que os fariseus não podiam formular qualquer julgamento sobre a Sua pessoa, uma vez que não sabiam de onde Ele viera nem para onde iria.  
Eles não podiam fazer tal julgamento, porque não tinham o Espírito para fazer um julgamento verdadeiro sobre Jesus.
Assim o julgamento deles era segundo o homem, segundo a vista, segundo o dizer de Jesus, um julgamento segundo a carne, que jamais poderá discernir as coisas espirituais, porque estas se discernem no Espírito.
Eles não podiam entender, porque Jesus não estava julgando ninguém na dispensação da graça, verdade que somente pode ser entendida em espírito e não na carne.
Nosso Senhor disse que todos os Seus juízos eram verdadeiros já que não julgava segundo a carne, mas segundo Deus, pelo Espírito.
Assim, não era verdade que somente Ele testificava de Si mesmo, porque o Pai também testificava juntamente com Ele, confirmando a Sua Palavra com os sinais e milagres poderosos que nenhum outro havia feito antes dEle.
Neste debate de Jesus com os fariseus Ele deixou de modo bastante claro a importância de se ter o Espírito e de se andar no Espírito para que se possa conhecê-Lo e a Deus Pai, porque este conhecimento é de experiência real em espírito, e é somente em espírito que se pode conhecer a Deus, porque Ele é espírito, e daí se dizer que importa ser adorado em espírito e em verdade.
Os fariseus não conheceram a Jesus em espírito, e como poderiam conhecer também a Deus?
O fato de terem sido chamados por Jesus de ignorantes de quem era Deus, como eram de fato, deve ter acendido ainda mais o ódio dos fariseus e o desejo de matá-lO, no entanto ninguém prendeu o Senhor porque não era ainda chegada a sua hora.



A Longanimidade Infinita de Jesus - João 8

 “21 Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Eu retiro-me, e buscar-me-eis, e morrereis no vosso pecado. Para onde eu vou, não podeis vós vir.
22 Diziam, pois, os judeus: Porventura quererá matar-se a si mesmo, pois diz: Para onde eu vou não podeis vir?
23 E dizia-lhes: Vós sois de baixo, eu sou de cima; vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo.
24 Por isso vos disse que morrereis em vossos pecados, porque se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados.
25 Disseram-lhe, pois: Quem és tu? Jesus lhes disse: Isso mesmo que já desde o princípio vos disse.
26 Muito tenho que dizer e julgar de vós, mas aquele que me enviou é verdadeiro; e o que dele tenho ouvido, isso falo ao mundo.
27 Mas não entenderam que ele lhes falava do Pai.
28 Disse-lhes, pois, Jesus: Quando levantardes o Filho do homem, então conhecereis quem eu sou, e que nada faço por mim mesmo; mas falo como meu Pai me ensinou.
29 E aquele que me enviou está comigo. O Pai não me tem deixado só, porque eu faço sempre o que lhe agrada.
30 Dizendo ele estas coisas, muitos creram nele.” (João 8.21-30)

A grande misericórdia de Deus para com os seus inimigos (Rom 5.10) está plenamente manifestada nestas palavras de Jesus, porque Ele alertou os Seus confrontadores do que lhes ocorreria caso não cressem que Ele havia sido enviado pelo Pai para salvar os pecadores.
Eles morreriam eternamente nos seus pecados porque é somente pela fé nEle que os nossos pecados podem ser perdoados por Deus, e sermos reconciliados com Ele, deixando de ser Seus inimigos, por causa da natureza pecaminosa que temos, e portanto, sermos livrados da Sua ira que haverá de se manifestar no juízo na condenação eterna daqueles que não tiveram seus pecados perdoados por causa da fé em Cristo.
Mesmo tendo continuado a zombarem do Senhor depois de lhes ter dito que não poderiam ir para onde Ele iria (céu), caso não tivessem os seus pecados perdoados, Jesus continuou lhes advertindo de maneira que chegassem ao arrependimento para que fossem salvos; especialmente pelo fato de lhes ter revelado que poderiam saber quem Ele era depois que  o levassem à cruz.
Muitos deles poderiam então lamentar e se arrependerem dos seus pecados, porque o Espírito Santo seria derramado para produzir neles este convencimento.
O tom de voz de Jesus ao dizer estas palavras não deve ter sido áspero, mas muito terno e convincente, demonstrando todo o Seu amor e paciência, apesar de estar sendo tão duramente contraditado, e com isto muitos creram nEle.
No entanto, Jesus colocou à prova a qualidade da fé destes que creram como veremos a partir do verso 31, e eles revelaram que não era a fé genuína, porque ao lhes ser dito que a fé seria verdadeira se eles permanecessem na Sua Palavra, eles não demonstraram estar dispostos a isto.    
A verdadeira fé que salva gera contrição no nosso coração ao vermos com os olhos da fé Jesus crucificado e sofrendo por carregar os nossos pecados sobre Si na Sua morte na cruz.
E esta fé verdadeira nos moverá a amar ao Senhor e à Sua Palavra.
Há também muito de sentimentos envolvido em nossa salvação. Ela não é um ato frio de assentimento intelectual a uma verdade. A fé não é uma mera aceitação intelectual de um fato, mas todo um trabalho que é realizado em nós para mudar o nosso coração de pedra num coração de carne. É uma transação espiritual real de experiência do cristão com o Seu Senhor e Salvador.
Estas palavras de Jesus deixam estas verdades declaradas de modo muito implícito. Ele declarou que muito teria que falar contra aqueles judeus e julgá-los por causa dos Seus pecados, mas não o faria condenando a nenhum deles porque recebeu o mandamento do Pai de vir a este mundo para salvá-lo e não para condená-lo, enquanto durar a dispensação da graça, até que Ele volte.


Jesus o Libertador - João 8

“31 Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos;
32 E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.
33 Responderam-lhe: Somos descendência de Abraão, e nunca servimos a ninguém; como dizes tu: Sereis livres?
34 Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado.
35 Ora o servo não fica para sempre em casa; o Filho fica para sempre.
36 Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.
37 Bem sei que sois descendência de Abraão; contudo, procurais matar-me, porque a minha palavra não entra em vós.
38 Eu falo do que vi junto de meu Pai, e vós fazeis o que também vistes junto de vosso pai.
39 Responderam, e disseram-lhe: Nosso pai é Abraão. Jesus disse-lhes: Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão.
40 Mas agora procurais matar-me, a mim, homem que vos tem dito a verdade que de Deus tem ouvido; Abraão não fez isto.
41 Vós fazeis as obras de vosso pai. Disseram-lhe, pois: Nós não somos nascidos de prostituição; temos um Pai, que é Deus.
42 Disse-lhes, pois, Jesus: Se Deus fosse o vosso Pai, certamente me amaríeis, pois que eu saí, e vim de Deus; não vim de mim mesmo, mas ele me enviou.
43 Por que não entendeis a minha linguagem? Por não poderdes ouvir a minha palavra.
44 Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira.
45 Mas, porque vos digo a verdade, não me credes.
46 Quem dentre vós me convence de pecado? E se vos digo a verdade, por que não credes?
47 Quem é de Deus escuta as palavras de Deus; por isso vós não as escutais, porque não sois de Deus.” (João 8.31-47)

Não é simplesmente por se dizer que se crê em Cristo que somos de fato Seus discípulos, porque a evidência da verdadeira fé será vista no fato de amarmos e guardarmos a Sua Palavra, perseverando em permanecer nela.
É por esta perseverança em permanecer na Palavra que se conhece a verdade, e a libertação do pecado, dos poderes das trevas e do mundo.
Jesus disse expressamente àqueles judeus que todos eles eram escravos do pecado, assim como todos os homens que não foram libertados por Ele.
O Senhor lhes disse isso porque afirmaram que não eram servos de ninguém, por serem descendentes de Abraão.
Apesar disso o Senhor lhes disse que sendo escravos do pecado, não podiam ficar para sempre na casa de Abraão, que é a casa de Deus, mas o Filho de Deus é senhor sobre esta casa e nela permanecerá para sempre, e assim somente Ele pode libertar os que são escravos do pecado, para que sejam verdadeiramente livres da condenação e do afastamento eterno de Deus.
Jesus lhes disse que apesar de serem descendentes de Abraão, segundo a carne, viviam na contradição de um comportamento totalmente diferente do patriarca, que foi inteiramente obediente a Deus e que fez a Sua obra.
Abraão havia recebido a Deus, quando se manifestou a ele em pessoa em Manre, com grande amor, temor e reverência.
No entanto, eles O estavam recebendo agora, na pessoa do Seu Filho, com o intuito de matá-lO, apesar de serem da descendência de Abraão, porque não se sujeitavam à Sua palavra; coisa que o próprio Abraão jamais teria feito, porque era sensível à voz de Deus e teria reconhecido ao Senhor, assim como Lhe haviam reconhecido os apóstolos.
Jesus estava lhes falando das coisas que havia visto junto ao Pai, assim como aqueles judeus estavam fazendo o que haviam visto junto ao pai deles, que era o diabo; apesar de alegarem que eram filhos de Abraão, mas não eram, porque não faziam as obras de Abraão.
Os verdadeiros filhos de Abraão fazem as obras de Abraão, que são as obras de Deus; porque é dito que Abraão é pai de todos os que creem verdadeiramente em Deus.
Os judeus tinham a convicção de que eram filhos de Deus pelo simples fato de serem da descendência de Abraão, porque Deus lhe havia prometido ser o Deus da nação que faria a partir do seu descendente, ignorantes do fato de que sem Jesus, todas as pessoas estão debaixo do senhorio do Arqui Inimigo de Deus, até que sejam livradas, por meio da fé em Cristo.
Jesus veio destruir as obras do diabo e transportar do reino das trevas e do domínio de Satanás para Deus e para o reino da luz, aqueles que estavam escravizados ao Inimigo.


O Mal Nada Tem a Ver com Jesus - João 8

“48 Responderam, pois, os judeus, e disseram-lhe: Não dizemos nós bem que és samaritano, e que tens demônio?
49 Jesus respondeu: Eu não tenho demônio, antes honro a meu Pai, e vós me desonrais.
50 Eu não busco a minha glória; há quem a busque, e julgue.
51 Em verdade, em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte.
52 Disseram-lhe, pois, os judeus: Agora conhecemos que tens demônio. Morreu Abraão e os profetas; e tu dizes: Se alguém guardar a minha palavra, nunca provará a morte.
53 És tu maior do que o nosso pai Abraão, que morreu? E também os profetas morreram. Quem te fazes tu ser?
54 Jesus respondeu: Se eu me glorifico a mim mesmo, a minha glória não é nada; quem me glorifica é meu Pai, o qual dizeis que é vosso Deus.
55 E vós não o conheceis, mas eu conheço-o. E, se disser que o não conheço, serei mentiroso como vós; mas conheço-o e guardo a sua palavra.
56 Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia, e viu-o, e alegrou-se.
57 Disseram-lhe, pois, os judeus: Ainda não tens cinqüenta anos, e viste Abraão?
58 Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou.
59 Então pegaram em pedras para lhe atirarem; mas Jesus ocultou-se, e saiu do templo, passando pelo meio deles, e assim se retirou.” (João 8.48-59)

Para um juízo carnal todas as verdades do evangelho são loucura, como foi, por exemplo, para os judeus dos dias de Jesus crerem e aceitarem que Ele existia antes mesmo de Abraão; que Ele tinha descido do céu; e que pelo simples fato de crer nEle e guardar a Sua Palavra não se morreria mais eternamente.
No entanto, os judeus foram muito além do seu juízo carnal de pensarem que tudo isto era uma loucura, porque chegaram ao extremo de afirmar que Jesus estava possuído de demônios para afirmar tais coisas; embora seja difícil de admitir que mesmo alguém estando na carne, não poderia negar a autoridade, amor, sabedoria e unção do Espírito que fluíam de Jesus quando Ele falava.
Assim, era muito grave o pecado daqueles judeus que resistiram ao Senhor até o ponto extremo de chamá-lo de Belzebu, o maioral dos demônios, como se vê em Mt 10.25.
No entanto, estas coisas continuariam acontecendo contra os discípulos do Senhor, que ainda que cheios do mesmo amor do Espírito pelos pecadores, seriam perseguidos por muitos debaixo do mesmo tipo da dura e falsa acusação que haviam dirigido contra o Senhor em Seu ministério terreno.
Como o Senhor não confirmou que os judeus  eram verdadeiros filhos espírituais de Abraão, por simples condição de descendência natural, então se revoltaram por causa do orgulho nacional e passaram a acusar Jesus de samaritano, porque odiavam os samaritanos.
Se alguém que nasceu em Israel, como era o caso de Jesus, não abraçava a causa nacional de Israel, então eles o consideraram como sendo um estrangeiro, e da nacionalidade daqueles que eram seus inimigos.
Quando se forma unidade por se vestir a camisa desta ou daquela nação, ou até mesmo congregação, não se pode experimentar a verdadeira unidade que é fundada na verdade e no espírito, e não em laços de sentimentos nacionalistas, raciais, tribais, ou de qualquer outra natureza.
Enquanto afirmamos a nossa unidade, segundo os homens, não podemos conhecer a que procede do Espírito de Deus que derruba toda barreira racial, social, ou de qualquer outro tipo.
O Espírito Santo desfaz as inimizades e abre o coração do cristão a estar receptivo para abençoar qualquer pessoa.
Jesus estava proclamando a verdade aos judeus e se esforçando para que chegassem ao verdadeiro conhecimento de Deus que livra da morte e que dá vida eterna, mas não somente o rejeitaram como se voltaram furiosamente contra Ele a ponto de terem pegado em pedras para matá-lo.
No entanto, o Senhor não deixou de proclamar a verdade, e nem a Sua Igreja deve parar de proclamá-la a par de todas as perseguições que possa vir a sofrer, conforme Jesus orientou os Seus discípulos no décimo capítulo de Mateus.


Deus deve ser honrado pela honra que é dada ao Filho, especialmente por se guardar a Sua Palavra.






João 9

A Cura de Um Cego de Nascença - João 9

“1 E, passando Jesus, viu um homem cego de nascença.
2 E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?
3 Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus.
4 Convém que eu faça as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar.
5 Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.
6 Tendo dito isto, cuspiu na terra, e com a saliva fez lodo, e untou com o lodo os olhos do cego.
7 E disse-lhe: Vai, lava-te no tanque de Siloé (que significa o Enviado). Foi, pois, e lavou-se, e voltou vendo.” (João 9.1-7)

Este homem não era cego de nascença por motivo de algum juízo de Deus contra algum pecado específico dos seus pais, e muito menos dele próprio, uma vez que era cego desde o seu nascimento.
A soberania e autoridade de Deus havia trazido aquele homem naquelas condições a este mundo, para o propósito de ser curado por Jesus durante Seu ministério terreno.
Jesus veio dar vista aos cegos.
Àqueles que se encontram em trevas espirituais, por causa do pecado original de Adão, que sujeitou toda a raça humana à morte espiritual, que é a separação de Deus.
Foi principalmente para destruir o poder desta morte espiritual, e consequentemente da morte eterna que se segue à mesma, e que é a separação definitiva e irremediável de Deus, que Jesus veio a este mundo.
Para demonstrar este Seu poder sobre a cegueira espiritual que é resultante da morte espiritual, Jesus curou aquele cego de nascença, porque este mal das trevas espirituais, todo homem traz consigo desde o seu nascimento, não por causa de algum pecado específico daqueles que o geraram, mas em razão da morte espiritual que entrou no mundo por causa do pecado de Adão.
A cegueira física daquele homem seria curada quando fosse removido o lodo que Jesus colocou nos seus olhos, que foi feito com a saliva da Sua própria boca e com o pó da terra.
De igual modo, a cegueira espiritual é curada quando o pecador é lavado dos seus pecados, e quando é removida a maldição que foi proferida contra Adão e Sua descendência pela boca do próprio Deus.
Somente Deus pode remover a maldição que Ele pronunciou contra toda a humanidade, por causa do pecado original.
Isto acontece, quando o homem é lavado pelo lavar renovador e regenerador do Espírito Santo.
Jesus poderia ter curado aquele cego diretamente sem usar qualquer recurso para ser aplicado aos seus olhos.
Mas, certamente queria nos deixar algum ensinamento espiritual através daquilo que fizera para curá-lo.
Ninguém pode ver o mundo natural se não tiver uma visão física saudável e sem a luz natural.
Ninguém pode ver o mundo espiritual invisível sem uma visão de fé saudável e sem a luz espiritual de Cristo.
Este é o grande ensinamento desta passagem porque aquele homem não foi somente curado da cegueira física, como também da espiritual, porque ele se converteu a Jesus conforme podemos concluir da sua adoração ao Senhor e do testemunho vigoroso que deu acerca dEle na presença dos líderes religiosos de Israel.
Enquanto os escribas e fariseus estavam debatendo violentamente com Jesus para tentarem desqualificá-lo como tendo sido enviado de fato por Deus a este mundo, o que  era cego de nascença se submeteu ao Senhor e Lhe obedeceu sem nada contestar naquilo que Lhe foi ordenado, e por Sua obediência a Ele obteve não somente a cura da sua cegueira como também a salvação da sua alma.



O Testemunho do Cego de Nascença - João 9

“8 Então os vizinhos, e aqueles que dantes tinham visto que era cego, diziam: Não é este aquele que estava assentado e mendigava?
9 Uns diziam: É este. E outros: Parece-se com ele. Ele dizia: Sou eu.
10 Diziam-lhe, pois: Como se te abriram os olhos?
11 Ele respondeu, e disse: O homem, chamado Jesus, fez lodo, e untou-me os olhos, e disse-me: Vai ao tanque de Siloé, e lava-te. Então fui, e lavei-me, e vi.
12 Disseram-lhe, pois: Onde está ele? Respondeu: Não sei.
13 Levaram, pois, aos fariseus o que dantes era cego.
14 E era sábado quando Jesus fez o lodo e lhe abriu os olhos.
15 Tornaram, pois, também os fariseus a perguntar-lhe como vira, e ele lhes disse: Pôs-me lodo sobre os olhos, lavei-me, e vejo.
16 Então alguns dos fariseus diziam: Este homem não é de Deus, pois não guarda o sábado. Diziam outros: Como pode um homem pecador fazer tais sinais? E havia dissensão entre eles.
17 Tornaram, pois, a dizer ao cego: Tu, que dizes daquele que te abriu os olhos? E ele respondeu: Que é profeta.
18 Os judeus, porém, não creram que ele tivesse sido cego, e que agora visse, enquanto não chamaram os pais do que agora via.
19 E perguntaram-lhes, dizendo: É este o vosso filho, que vós dizeis ter nascido cego? Como, pois, vê agora?
20 Seus pais lhes responderam, e disseram: Sabemos que este é o nosso filho, e que nasceu cego;
21 Mas como agora vê, não sabemos; ou quem lhe tenha aberto os olhos, não sabemos. Tem idade, perguntai-lho a ele mesmo; e ele falará por si mesmo.
22 Seus pais disseram isto, porque temiam os judeus. Porquanto já os judeus tinham resolvido que, se alguém confessasse ser ele o Cristo, fosse expulso da sinagoga.
23 Por isso é que seus pais disseram: Tem idade, perguntai a ele mesmo.
24 Chamaram, pois, pela segunda vez o homem que tinha sido cego, e disseram-lhe: Dá glória a Deus; nós sabemos que esse homem é pecador.
25 Respondeu ele pois, e disse: Se é pecador, não sei; uma coisa sei, é que, havendo eu sido cego, agora vejo.
26 E tornaram a dizer-lhe: Que te fez ele? Como te abriu os olhos?
27 Respondeu-lhes: Já vo-lo disse, e não ouvistes; para que o quereis tornar a ouvir? Quereis vós porventura fazer-vos também seus discípulos?
28 Então o injuriaram, e disseram: Discípulo dele sejas tu; nós, porém, somos discípulos de Moisés.
29 Nós bem sabemos que Deus falou a Moisés, mas este não sabemos de onde é.
30 O homem respondeu, e disse-lhes: Nisto, pois, está a maravilha, que vós não saibais de onde ele é, e contudo me abrisse os olhos.
31 Ora, nós sabemos que Deus não ouve a pecadores; mas, se alguém é temente a Deus, e faz a sua vontade, a esse ouve.
32 Desde o princípio do mundo nunca se ouviu que alguém abrisse os olhos a um cego de nascença.
33 Se este não fosse de Deus, nada poderia fazer.
34 Responderam eles, e disseram-lhe: Tu és nascido todo em pecados, e nos ensinas a nós? E expulsaram-no.
35 Jesus ouviu que o tinham expulsado e, encontrando-o, disse-lhe: Crês tu no Filho de Deus?
36 Ele respondeu, e disse: Quem é ele, Senhor, para que nele creia?
37 E Jesus lhe disse: Tu já o tens visto, e é aquele que fala contigo.
38 Ele disse: Creio, Senhor. E o adorou.” (João 9.8-38)

O problema básico com os escribas e fariseus foi e sempre será o mesmo que há com todos aqueles que são dirigidos pela carne e não pelo Espírito.
Mesmo líderes que tenham sido constituídos por Deus para dirigir o Seu povo, como era o caso dos sacerdotes e governantes de Israel, serão achados em forte oposição a Ele e à Sua vontade caso andem segundo os seus próprios interesses, sem se sujeitarem ao Senhor, para governar os seus corações, estando purificados pelo Seu poder e Palavra.
Assim, em vez de darem a destra de comunhão àqueles que se converterem a Deus, estes líderes carnais, que são dirigidos pela própria vontade, e não pelo Espírito do Senhor, os perseguirão e os odiarão como os fariseus fizeram com o cego de nascença que Jesus havia curado.  
Deste modo, confessar publicamente que Jesus era o Messias estava custando o preço da expulsão da sinagoga pelos judeus.
Isto equivalia ao ato de ser excomungado da igreja antiga.
O cego de nascença que foi curado por Jesus pagou este preço não para ser curado, porque já havia sido, mas para consagrar sua vida a Deus, porque estava decidido em praticar e defender a verdade e a justiça do evangelho.
Sabendo que ele havia sido expulso da sinagoga Jesus foi ao seu encontro e lhe perguntou se ele cria no Filho de Deus, e o cego pediu ao Senhor que lhe mostrasse quem era Ele para que nEle cresse.
Naquele momento Jesus se revelou ao cego dizendo que era Ele próprio, e certamente também operou nele de tal maneira que ele chegou a ter o reconhecimento espiritual desta verdade, e se converteu naquela mesma hora, tendo adorado ao Senhor confessando a sua fé nEle.
É importante observar que este homem havia defendido a verdade ainda mesmo antes da sua conversão.
Ele havia se posicionado em favor de Jesus, e toda vez que alguém faz isto com sinceridade de coração, o Senhor virá ao encontro desta pessoa; e, no momento oportuno se revelará a ela, de maneira que venha a ser salva por Ele, como fizera com o cego, depois de tê-lo curado de sua cegueira física.
Os pais do cego temeram ser expulsos da sinagoga e perderam a oportunidade de darem um testemunho de gratidão a Deus diante dos fariseus pelo que Jesus havia feito ao seu filho.
Temeram confessar Jesus diante dos homens para não serem banidos da religião de Israel.
O temor de perder a religião fez com que eles perdessem o céu.
Aqueles vizinhos, em vez de se alegrarem com o fato de verem perfeitamente são o que fora cego desde o seu nascimento, e darem graças e glórias a Deus, ao contrário, levaram-no à presença dos fariseus, por motivo de um falso zelo religioso e para protestarem fidelidade aos homens para agradarem-nos, porque a cura foi realizada num dia de sábado, e eles sabiam quanto os fariseus estavam odiando e intentando matar Jesus, porque havia declarado ser o Messias.
Além disso, estariam dando a eles mais um reforço no argumento deles de que Jesus estava quebrando a Lei de Moisés por realizar curas no dia de descanso.
Se aqueles homens fossem de Deus e estivessem no Espírito, teriam repudiado àqueles que tomassem a atitude que eles estavam tomando, por causa da grande falsidade, hipocrisia, e bajulação interesseira que havia naquilo tudo, debaixo do nome de se estar sendo zeloso das coisas de Deus.
O grande fato é que diante da evidência daquele grande milagre houve uma divisão de opiniões entre os próprios fariseus, porque enquanto um grupo sustentava que Jesus era pecador, porque quebrou o sábado, outros questionavam esta afirmação, porque segundo eles, como poderia um pecador fazer um milagre como aquele e todos os demais que Jesus vinha fazendo? (v. 16).
Eles teriam que expulsar o cego da sinagoga caso desse um parecer favorável a Jesus, e por isso lhe perguntaram o que ele julgava ser aquele que lhe havia curado, e o cego afirmou que era Profeta.
Mas seria ainda melhor, segundo eles, caso conseguissem comprovar que ele estava mentindo ao dizer que era cego e que foi curado, e assim mandaram chamar os seus pais, mas estes confirmaram apenas que era de fato cego de nascença, mas que nada sabiam quanto ao modo como havia sido curado, porque temiam serem expulsos da sinagoga, caso dissessem que havia sido Jesus.
A grande verdade sobre a qual aquele que fora cego de nascença queria dar agora testemunho era o próprio Jesus e ele havia determinado ser Seu discípulo, e sustentou este testemunho quando foi duramente confrontado e ameaçado pelos fariseus; chegando mesmo a ironizá-los quando lhes perguntou se pretendiam também se fazer discípulos de Cristo, em face da insistência das perguntas deles quanto ao modo como o Senhor lhe havia curado.  
Quando os fariseus declararam serem apenas discípulos de Moisés e não de Cristo porque não sabiam de onde Ele era, o que fora cego deu o seguinte testemunho:
 “30 O homem respondeu, e disse-lhes: Nisto, pois, está a maravilha, que vós não saibais de onde ele é, e contudo me abrisse os olhos.
31 Ora, nós sabemos que Deus não ouve a pecadores; mas, se alguém é temente a Deus, e faz a sua vontade, a esse ouve.
32 Desde o princípio do mundo nunca se ouviu que alguém abrisse os olhos a um cego de nascença.
33 Se este não fosse de Deus, nada poderia fazer.”.
É principalmente diante da oposição e perseguição que se deve dar testemunho corajoso da verdade, porque isto traz muita glória para Deus, e envergonhamos Satanás, que insiste fazer prevalecer a causa da mentira e do engano.
Cristo deve ser confessado em todas as circunstâncias, com amor, mansidão, paz e longanimidade em nossos corações.
Seu nome nunca deve ser negado, para a glória de Deus Pai.
É assim que testemunhamos que Deus é fiel e verdadeiro e que realmente enviou Seu Filho a este mundo para ser a luz dos homens.  
Se temos a comprovação diante dos nossos olhos da maravilha que Deus está operando em nosso meio, é nosso dever render-Lhe glórias de todo o nosso coração, e não nos deixarmos dominar por um coração endurecido, desconfiado, preconceituoso, tal como o dos fariseus, de maneira que cheguemos até ao ponto extremo mesmo de considerar uma obra verdadeira de Deus como sendo de procedência do Maligno.
Os fariseus se julgavam santos a um ponto tão elevado que se achavam no direito de julgar os próprios atos de Deus.
Tudo deveria estar conformado à visão estreita e preconceituosa deles.
Deus não poderia agir com liberdade e poder, porque deveria continuar sendo, ao modo de ver deles, apenas o Deus legal, que havia dado preceitos a Moisés para serem cumpridos pelos homens.
Quando não deixamos que Deus seja Deus, nós fazemos o papel de deus, e isto é algo extremamente perigoso.
Jesus curou e ainda cura.
Somente Ele pode salvar pessoas da condenação eterna e torná-los filhos de Deus.
Jesus É Senhor e somente Ele deve ser adorado.
Somente ele é o dono das nossas almas.
Ninguém tem direito de domínio sobre a nossa fé senão somente Ele.


Jesus Repreende a Cegueira dos Fariseus - João 9

“39 E disse-lhe Jesus: Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não vêem vejam, e os que vêem sejam cegos.
40 E aqueles dos fariseus, que estavam com ele, ouvindo isto, disseram-lhe: Também nós somos cegos?
41 Disse-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas como agora dizeis: Vemos; por isso o vosso pecado permanece.”

Com estas palavras Jesus confirmou qual havia sido o grande propósito de Deus com a cura do cego de nascença, pois todos os homens são cegos espirituais de nascença por causa do pecado, e é somente pela luz de Cristo que eles podem ver o reino de Deus.
O modo de recuperar a visão é pelo reconhecimento de que se é cego, de maneira que se possa receber a iluminação do Espírito, e  ver as realidades celestiais, que são discernidas somente em espírito.
O primeiro passo para a conversão é o reconhecimento da condição de que se é pecador, conforme convencimento do Espírito ao nosso espírito.
Não é apenas um reconhecimento, mental, intelectual, mas uma contrição de coração, uma tristeza pelo pecado, que é  produzida em nós pelo Espírito Santo.
É a chamada tristeza segundo Deus que conduz ao arrependimento que dá vida.
Enquanto isto não acontecer ninguém pode estar seguro da sua salvação.
Enquanto Cristo não for visto com os olhos da fé como o sacrifício pelos nossos pecados, e não nos lançarmos completamente a Ele para sermos perdoados e aceitos por Deus, não podemos estar convictos de termos sido curados de nossa cegueira espiritual, porque a cura nos permitirá enxergar Cristo como Senhor, como Deus, como nosso Mediador, como nosso Salvador.
Os fariseus não haviam experimentado nada disto, mas ainda assim pensavam que conheciam perfeitamente a Deus.
Jesus disse que eles permaneciam condenados em seus pecados, porque não admitiam que eram cegos espirituais como todos os demais homens, e assim, eles não iam ao único médico que poderia lhes curar da sua cegueira, porque achavam que enxergavam e não necessitavam serem curados.






João 10

Jesus o Bom Pastor - João 10

“1 Na verdade, na verdade vos digo que aquele que não entra pela porta no curral das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador.
2 Aquele, porém, que entra pela porta é o pastor das ovelhas.
3 A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às suas ovelhas, e as traz para fora.
4 E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz.
5 Mas de modo nenhum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos.
6 Jesus disse-lhes esta parábola; mas eles não entenderam o que era que lhes dizia.
7 Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade, em verdade vos digo que eu sou a porta das ovelhas.
8 Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram.
9 Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens.
10 O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância.
11 Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas.
12 Mas o mercenário, e o que não é pastor, de quem não são as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas, e foge; e o lobo as arrebata e dispersa as ovelhas.
13 Ora, o mercenário foge, porque é mercenário, e não tem cuidado das ovelhas.
14 Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido.
15 Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai, e dou a minha vida pelas ovelhas.
16 Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor.
17 Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la.
18 Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai.”

As ovelhas de Jesus devem viver reunidas no aprisco de Deus.
Não são poucos os salteadores que atacam este aprisco, mas eles nunca entram, por motivos óbvios, pela porta estreita do curral que é o Senhor Jesus, porque não estão a Seu serviço, e nem sustentam a Sua Palavra.
Jesus cuida das ovelhas e as alimenta com a verdade para que tenham vida, a vida abundante, vitoriosa, daqueles que estão bem alimentados com as palavras da vida eterna.
Mas, os ladrões que atacam o aprisco têm apenas o propósito de roubar, matar e destruir as ovelhas, especialmente a vida espiritual delas, porque estão a serviço de Satanás.
Jesus não é apenas a porta do aprisco de Deus, porque ninguém pode entrar neste aprisco que não é terreno, mas celestial, senão somente aqueles que passam pela porta estreita que é o Senhor Jesus Cristo.
Afinal, ninguém pode ir ao Pai a não ser por Ele.
Além de ser a porta do aprisco das ovelhas Jesus é também o Pastor delas, aquele que cuida das ovelhas e que as conduz verdadeiramente.
Elas conhecem somente a voz dEle como sendo a voz do Seu Pastor, em cujas mãos estão as suas almas.
Os pastores auxiliares do Supremo Pastor não são os proprietários do rebanho, e se não falarem com a voz do Pastor dos pastores, as ovelhas não lhes seguirão, porque reconhecem e atendem somente a voz de Cristo.
Os fariseus, os escribas, os falsos profetas que ministravam em Israel não conseguiram atrair as ovelhas de Cristo porque eram ladrões e salteadores, que não foram ouvidos pelas ovelhas do rebanho de Deus, as quais se encontravam perdidas debaixo do ministério corrompido deles.
No entanto, assim que Jesus se manifestou, Ele passou a reunir as suas ovelhas que se achavam dispersas, a começar pelos apóstolos, e desde então, todas elas têm reconhecido a Sua voz como sendo a do Seu Pastor, e entrado pela Porta estreita da salvação que é o próprio Jesus e a Sua Palavra.
Jesus é o bom Pastor porque deu a Sua vida pelas ovelhas.
Este foi o preço que Ele pagou para poder resgatá-las do poder do inferno e da morte e para trazê-las em segurança para o céu.
Nenhum mercenário, como os escribas e fariseus, e os falsos pastores, mestres e profetas que exploram o rebanho do Senhor pode ter esta mesma disposição de Jesus, de dar a vida pelas ovelhas.
Somente naqueles que estiverem realmente a serviço de Jesus para apascentarem o Seu rebanho, poderá ser achado este mesmo sentimento que houve também no Senhor.  
Como o interesse do pastor mercenário não é pelo bem espiritual das ovelhas, senão explorá-las para atender aos próprios interesses egoístas deles de enriquecerem, e terem fama, e honra pessoal, então não é de se admirar que deixem o rebanho desamparado quando o Inimigo as ataca com o propósito de arrebatá-las e dispersá-las.
Os pastores que são mercenários não terão nenhum cuidado do rebanho nos dias difíceis, e se aproveitarão do rebanho nos dias fáceis.
O mercenário não conhece as ovelhas e nem o que é necessário para cuidar delas.
Mas Jesus não somente conhece as Suas ovelhas, como também é por elas conhecido.
O Senhor Jesus não tinha ovelhas somente no aprisco de Israel, apesar de estar ministrando em Seu ministério terreno somente a elas, mas depois que o Espírito fosse derramado no Pentecoste, Ele começaria a agregar num só rebanho as  ovelhas do aprisco das demais nações da terra.
Ele daria a Sua vida pelas ovelhas, mas tinha o poder tanto para dá-la, como também o poder de tornar a tomá-la; porque o Pai havia lhe dado este mandamento de morrer e ressuscitar para que as ovelhas pudessem também ser batizadas na Sua morte e ressurreição, para poderem viver para sempre na presença de Deus.
A base do conhecimento que as ovelhas têm de Cristo é da mesma natureza do conhecimento que há entre Ele e o Pai, isto é, espiritual e de amor.


Jesus e a Cegueira dos Fariseus - João 10

“19 Tornou, pois, a haver divisão entre os judeus por causa destas palavras.
20 E muitos deles diziam: Tem demônio, e está fora de si; por que o ouvis?
21 Diziam outros: Estas palavras não são de endemoninhado. Pode, porventura, um demônio abrir os olhos aos cegos?
22 E em Jerusalém havia a festa da dedicação, e era inverno.
23 E Jesus andava passeando no templo, no alpendre de Salomão.
24 Rodearam-no, pois, os judeus, e disseram-lhe: Até quando terás a nossa alma suspensa? Se tu és o Cristo, dize-no-lo abertamente.
25 Respondeu-lhes Jesus: Já vo-lo tenho dito, e não o credes. As obras que eu faço, em nome de meu Pai, essas testificam de mim.
26 Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito.
27 As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem;
28 E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão.
29 Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai.
30 Eu e o Pai somos um.
31 Os judeus pegaram então outra vez em pedras para o apedrejar.
32 Respondeu-lhes Jesus: Tenho-vos mostrado muitas obras boas procedentes de meu Pai; por qual destas obras me apedrejais?
33 Os judeus responderam, dizendo-lhe: Não te apedrejamos por alguma obra boa, mas pela blasfêmia; porque, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo.
34 Respondeu-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Eu disse: Sois deuses?
35 Pois, se a lei chamou deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida (e a Escritura não pode ser anulada),
36 Àquele a quem o Pai santificou, e enviou ao mundo, vós dizeis: Blasfemas, porque disse: Sou Filho de Deus?
37 Se não faço as obras de meu Pai, não me acrediteis.
38 Mas, se as faço, e não credes em mim, crede nas obras; para que conheçais e acrediteis que o Pai está em mim e eu nele.
39 Outra vez, pois, procuravam prendê-lo; mas ele lhes escapou das mãos.
40 E retirou-se de novo para além do Jordão, para o lugar onde João batizava no princípio; e ali ficou.
41 Muitos foram ter com ele, e diziam: João, na verdade, não fez sinal algum, mas tudo quanto disse deste homem era verdadeiro.
42 E muitos ali creram nele.”

Como os fariseus haviam protestado contra Jesus por lhes ter dito que continuavam condenados em seus pecados, por não reconhecerem que eram cegos espiritualmente, e que estavam cheios de um orgulho religioso que lhes impedia de enxergarem a verdade de Deus, o Senhor prosseguiu Seu discurso para esclarecer o motivo porque eles não Lhe davam ouvidos, obediência e adoração, como o cego que Ele havia curado, que apesar de ser cego e viver na mendicância havia reconhecido que Ele era o Messias, enquanto os fariseus, como todo o conhecimento que tinham da letra das Escrituras não conseguiam enxergar que Jesus veio a este mundo da parte de Deus, para dar cumprimento ás Escrituras que eles tanto examinavam, e apesar disto nunca podiam encontrar a Deus.
Por que eles não podiam encontrar a Deus, apesar de todo o exame que eles faziam da Sua Palavra escrita revelada?
Jesus explicou a razão ao falar da metáfora do aprisco e das ovelhas no início deste capítulo décimo.
A razão de não poderem ter um verdadeiro conhecimento de Deus era devida ao fato de não serem do rol dos Seus eleitos.
Eles não faziam parte do rebanho do Senhor, e assim por mais que eles estudassem as Escrituras jamais poderiam chegar ao conhecimento da verdade conforme ela está em Deus, por um conhecimento experiencial e real em espírito, pela revelação do Espírito Santo a eles.  
Não somente eles estavam impossibilitados de terem conhecimento da verdade, e deste modo jamais viriam a conhecer a Cristo, como também se tornariam falsos pastores e mestres que jamais poderiam ser ouvidos pelo verdadeiro rebanho do Senhor.
Assim, como era de se esperar, estas palavras de Jesus precipitaram uma nova divisão entre os judeus (v. 19).
Muitos disseram que Jesus estava possuído de demônios e fora de si, e que não era digno de ser ouvido.  
Outros mais sensatos diziam que aquelas palavras não podiam ser a de um endemoninhado, porque um demônio jamais poderia abrir os olhos aos cegos, conforme Jesus havia feito com aquele cego de nascença.
No entanto, como vimos antes, e conforme o Senhor havia afirmado, nada adianta ter um parecer a respeito de Jesus, porque o que importa é o parecer que Jesus tem acerca de nós, convencendo-nos dos nossos pecados, para que possamos ser salvos e santificados por Ele e pela Sua Palavra.
Não devemos julgar a Palavra de Deus, conforme os fariseus faziam, mas sermos julgados por ela.
Jesus proferiu estas palavras durante o período da festa da dedicação, a qual durava oito dias, e era celebrada anualmente, começando no dia 25 do mês de chisleu (dezembro) para comemorar a purificação do templo, o qual havia sido profanado por Antíoco Epifânio, no período dos macabeus.
Quando o Senhor passeava no templo, foi rodeado pelos Judeus no alpendre de Salomão, e estes queriam que Ele fizesse uma afirmação clara e direta se era de fato o Messias (Cristo).
  Como eles queriam ouvir uma afirmação clara e direta, o Senhor lhes mostrou que não era por uma afirmação ou um sinal que poderiam chegar a ter tal conhecimento, porque isto é possível somente para aqueles que fazem parte do Seu rebanho.
Como Ele havia dito, somente as Suas ovelhas podem ouvir a Sua voz. Sem conversão é impossível ouvi-la. Como Ele havia dito a Nicodemos, que se o homem não nascer de novo do Espírito não pode ver o Reino de Deus.
Assim, se eles não estavam conseguindo crer nEle, apesar de lhes ter dito várias vezes que era o Messias, e tê-lo comprovado através dos sinais que fazia, confirmando as profecias do Velho Testamento acerca da Sua Pessoa e das coisas que Ele faria (como por exemplo Is 61.1-3); era porque não eram Suas ovelhas. Se tivessem sido convertidos a Deus, poderiam ouvi-lo, mas não era este o caso.
Jesus lhes disse claramente que as Suas ovelhas, como Ele já lhes havia dito, ouvem a Sua voz e porque Ele as conhece, elas O seguem (v. 27).
Os fariseus não suportaram ouvir esta verdade porque o endurecimento deles comprovava que não eram do rebanho de Cristo, e haveriam de perecer eternamente. Então pegaram em pedras para tentar matá-lO.
Como eles se diziam filhos de Deus, Jesus perguntou-lhes por qual das boas obras que Ele havia feito da parte de Deus Pai eles o apedrejariam.
Eles tentaram se justificar dizendo que não era por nenhuma obra boa, mas porque havia blasfemado dizendo que era Deus.
A atitude deles estava confirmando tudo o que Jesus havia dito sobre eles.
Para se defender da acusação de blasfêmia que Lhe dirigiram, Jesus usou o argumento da própria Escritura, e citou o Salmo 82.6:
 “Eu disse: Vós sois deuses, e filhos do Altíssimo, todos vós.”
O verso posterior a este, do Salmo, é o seguinte:
“Todavia, como homens, haveis de morrer e, como qualquer dos príncipes, haveis de cair.”  (v. 7.
Para entendermos o teor destas palavras nós temos que recorrer a Êx 22.8.
“Aos juízes não maldirás, nem amaldiçoarás ao governador do teu povo.” (Êx 22.28).
No original hebraico a  palavra para juízes é “Elohim”, isto é, deuses, porque os magistrados eram considerados no Velho Testamento como representantes de Deus nos Seus juízos sobre o povo de Israel, de maneira que eram designados na Lei pela palavra Elohim, que é a mesma usada para descrever a divindade, e que significa pluralidade de majestades ou magistrados.
Assim, aqueles juízes (Elohim) corruptos de Israel citados no Salmo 82.6, haveriam de ser julgados por Deus como homens, e eles cairiam como qualquer outro governante e líder de Israel.
Mas Jesus é Elohim justo e perfeito, e se aos magistrados de Israel foi usada tal palavra nas Escrituras para descrevê-los, pela honra que deveriam dar ao seu cargo, quanto mais Jesus não era digno de usar tal título, porque não somente tem o pleno direito ao título, como efetivamente é Deus.
Não havia como eles negarem a divindade de Jesus, porque Ele fazia as mesmas obras de Deus Pai.
Então ainda que aqueles judeus não fossem capazes de conhecê-lo da maneira pela qual convém ser conhecido, que é em espírito e em verdade, pelo menos eles deveriam crer nas obras que Jesus fazia, de maneira que pudessem saber e crer que de fato o Pai está nEle, e Ele no Pai.
No entanto, não lhe eram ouvidos e tentaram prendê-lO, mas Jesus escapou mais uma vez das suas mãos.    
Como a perseguição havia se tornado muito intensa Ele deixou Jerusalém e retornou para o outro lado do Jordão onde havia começado o Seu ministério, quando foi batizado por João, tendo permanecido por algum tempo naquele lugar.  
Mas muitos dos que haviam ouvido Suas palavras foram ter com Ele e diziam que o testemunho de João acerca de Jesus era verdadeiro, ainda que João mesmo não tivesse feito nenhum sinal.
O evangelista encerra este capítulo simplesmente dizendo que muitos ali creram nele.
Eles não haviam crido enquanto estavam em Jerusalém, mas haviam crido no deserto.
Enquanto na companhia dos endurecidos fariseus, e no meio da oposição e perseguição que eles fizeram a Jesus eles não puderam expressar a fé deles nEle.
Mas ali no silêncio do deserto eles puderam entender o caráter da Sua missão e creram nEle.
Ainda hoje, não é possível achar Jesus no meio daqueles que se opõem abertamente a Ele.
É preciso sair do meio deles e buscá-lO com aqueles que adoram a Deus com um coração sincero e puro.
Não acharemos Jesus na taberna, mas onde Ele seja honrado e adorado.








João 11

O Amor de Jesus por Lázaro

“1 Estava, porém, enfermo um certo Lázaro, de Betânia, aldeia de Maria e de sua irmã Marta.
2 E Maria era aquela que tinha ungido o Senhor com ungüento, e lhe tinha enxugado os pés com os seus cabelos, cujo irmão Lázaro estava enfermo.
3 Mandaram-lhe, pois, suas irmãs dizer: Senhor, eis que está enfermo aquele que tu amas.
4 E Jesus, ouvindo isto, disse: Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela.
5 Ora, Jesus amava a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro.
6 Ouvindo, pois, que estava enfermo, ficou ainda dois dias no lugar onde estava.
7 Depois disto, disse aos seus discípulos: Vamos outra vez para a Judéia.
8 Disseram-lhe os discípulos: Rabi, ainda agora os judeus procuravam apedrejar-te, e tornas para lá?
9 Jesus respondeu: Não há doze horas no dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo;
10 Mas, se andar de noite, tropeça, porque nele não há luz.
11 Assim falou; e depois disse-lhes: Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono.
12 Disseram, pois, os seus discípulos: Senhor, se dorme, estará salvo.
13 Mas Jesus dizia isto da sua morte; eles, porém, cuidavam que falava do repouso do sono.
14 Então Jesus disse-lhes claramente: Lázaro está morto;
15 E folgo, por amor de vós, de que eu lá não estivesse, para que acrediteis; mas vamos ter com ele.
16 Disse, pois, Tomé, chamado Dídimo, aos condiscípulos: Vamos nós também, para morrermos com ele.”

No capítulo anterior vemos que Jesus havia se retirado de Jerusalém para o deserto, do outro lado do Jordão, próximo do local onde João batizara, porque estavam tentando matá-lo na região da Judéia.
Quando se encontrava neste refúgio Jesus foi procurado por mensageiros da parte da Maria e Marta, irmãs de Lázaro, que lhe disseram que o irmão delas estava enfermo.
Como eles residiam em Betânia, uma cidade que ficava próxima de Jerusalém, na Judéia, seria necessário, que Jesus retornasse à região da qual havia fugido, e estaria se expondo de novo ao risco de ser morto.
Jesus amava aquela família e é possível que tenha se hospedado com eles algumas vezes, de maneira que não se negaria a ir ter com eles ainda que se expondo a ser perseguido e apedrejado.
O Senhor nunca se negou e jamais se negará a socorrer àqueles aos quais Ele ama, quando eles O buscarem para obterem graça e alívio.
No entanto, Ele o fará dentro da vontade do Pai, e de acordo com a Sua soberania divina, de modo que Deus possa ser glorificado em todos os livramentos e bênçãos que Ele nos der.
Por isso permaneceu ainda dois dias no lugar onde se encontrava antes de se dirigir a Betânia.
Porque quando a nossa esperança está totalmente perdida, e parece que Cristo não chegará à hora marcada, então nós o veremos agindo com poder para nos arrancar, se necessário for até mesmo da sepultura.
O fim da esperança para aquilo que os homens podem fazer é o início da oportunidade que o Senhor tem para agir e glorificar o Seu grande nome.
Esta Maria, irmã de Lázaro não é a mesma mulher que ungiu a Jesus na casa do fariseu chamado Simão, apesar de ser dito também que ela ungiu ao Senhor e enxugou os Seus pés com os seus cabelos (v. 2), porque esta unção é citada no capitulo seguinte (12.3) na casa de Lázaro, depois que foi ressuscitado pelo Senhor.
Não podemos esquecer que João escreveu o seu evangelho muitos anos depois de terem ocorrido os fatos que são por ele narrados.
Lázaro era alguém a quem Jesus muito estimava, porque na mensagem que suas irmãs Lhe enviaram, mandaram dizer que estava enfermo aquele a quem Ele amava.
Isto nos dá um testemunho direto que comprova o amor que Jesus tinha por aqueles que eram Seus discípulos; especialmente aqueles que andavam na verdade, como certamente era o caso de Lázaro.
A enfermidade de Lázaro estava no cronograma de Deus para que Jesus fosse glorificado através do que faria em relação a ela.
Ele sabia que Lázaro não deveria passar deste mundo para o céu através daquela enfermidade, e por isso disse aos Seus discípulos que a enfermidade de Lázaro não era para morte.
No entanto, Lázaro morreu daquela enfermidade, e como Jesus disse que ele não sairia deste mundo por causa da mesma, então era de se supor que ele deveria ser ressuscitado.
João registrou que Jesus amava a Marta, a Maria e a Lázaro.
Quando Ele disse aos Seus discípulos que  deveriam retornar à Judéia, eles reagiram lembrando-lhe que ainda recentemente os judeus estavam procurando apedrejá-lo, e como poderia ter decidido então retornar para lá?
O Senhor lhes respondeu que quando se anda na luz não se tropeça, referindo-se à luz natural, e que se tropeça somente quando se anda à noite, porque não há luz.
Jesus falou de coisas naturais para ilustrar realidades espirituais, especialmente a de que quando se está a serviço de Deus andando na Sua luz, dentro da Sua vontade, e com os propósitos certos e com o coração puro, não se tropeçará, porque Deus nos guardará disto.
Mas quando se anda em trevas espirituais não se pode contar com tal proteção e favor de Deus.
Tendo encorajado os discípulos com tais palavras, Ele lhes declarou então o motivo da ida para a Judéia dizendo que Lázaro, o amigo deles, estava dormindo e que Ele iria despertá-lo do seu sono.
Como eles pensavam que estava falando do repouso do sono, Jesus lhes disse expressamente que ele havia morrido, e que se alegrava pelo fato de que não estivesse lá para impedir a sua morte, curando a sua enfermidade, porque ele faria um sinal ainda maior que daria a eles a oportunidade de terem a fé deles nEle, aumentada.
Tamanha era a intensidade da perseguição que Jesus estava sofrendo, que Tomé se adiantou aos demais discípulos e lhes encorajou para que fossem todos com Jesus para a Judéia para morrerem com Ele.
A morte já não pode mais assombrar os cristãos verdadeiros pelo que podemos deduzir do modo pelo qual Jesus se referiu à morte de Lázaro como sendo um sono, e dizendo aos discípulos que o amigo deles estava dormindo.
A morte de um cristão é um sono, porque na verdade, a morte já não tem mais poder sobre eles, porque ainda que morram, permanecem vivos diante de Deus, pois a vida de Cristo está neles, e assim como Ele vive para sempre, também os cristãos vivem para sempre por causa dEle.
Simplesmente eles saem deste mundo, mas não permanecem mortos.
Quão grande vitória Cristo nos dá sobre a morte, e Ele comprovaria isto aos Seus discípulos ao ressuscitar Lázaro, como também serviria para encorajá-los a realizarem seus ministérios depois que Jesus saísse deste mundo, sem nada temerem, conforme o exemplo que lhes estava dando naquela hora, retornando à Judéia.
Eles já não tinham porque temer a morte porque estavam a serviço dAquele que é a ressurreição e a vida.    


O Consolo Especial Que Jesus Nos Dá - João 11

“17 Chegando Jesus, encontrou Lázaro já sepultado, havia quatro dias.
18 (Ora Betânia distava de Jerusalém quase quinze estádios.)
19 E muitos dos judeus tinham ido consolar a Marta e a Maria, acerca de seu irmão.
20 Ouvindo, pois, Marta que Jesus vinha, saiu-lhe ao encontro; Maria, porém, ficou assentada em casa.
21 Disse, pois, Marta a Jesus: Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido.
22 Mas também agora sei que tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá.
23 Disse-lhe Jesus: Teu irmão há de ressuscitar.
24 Disse-lhe Marta: Eu sei que há de ressuscitar na ressurreição do último dia.
25 Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá;
26 E todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá. Crês tu isto?
27 Disse-lhe ela: Sim, Senhor, creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo.
28 E, dito isto, partiu, e chamou em segredo a Maria, sua irmã, dizendo: O Mestre está cá, e chama-te.
29 Ela, ouvindo isto, levantou-se logo, e foi ter com ele.
30 (Ainda Jesus não tinha chegado à aldeia, mas estava no lugar onde Marta o encontrara.)
31 Vendo, pois, os judeus, que estavam com ela em casa e a consolavam, que Maria apressadamente se levantara e saíra, seguiram-na, dizendo: Vai ao sepulcro para chorar ali.
32 Tendo, pois, Maria chegado aonde Jesus estava, e vendo-o, lançou-se aos seus pés, dizendo-lhe: Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido.”

Quando Jesus chegou em Betânia, o corpo de Lázaro se encontrava sepultado há quatro dias.
Sabendo que Ele havia chegado Marta se apressou em se encontrar com Ele, antes mesmo de entrar na aldeia onde ela morava.
Ali, ainda longe da sua casa onde as pessoas estavam ainda enlutadas pela morte de seu irmão, juntamente com sua irmã Maria, teve uma breve entrevista com Jesus e lhe disse que caso Ele estivesse presente, Lázaro não teria morrido; e que sabia que tudo que Jesus pedisse a Deus Ele lhe concederia.
Diante desta afirmação de fé, que ela certamente recebeu do alto, na convicção de que Jesus faria algo extraordinário, mas não cogitou tanto a ponto de que Ele iria ressuscitar seu irmão ainda naquele dia, porque quando Jesus lhe disse que Lázaro haveria de ressuscitar, ela afirmou que sabia que isto aconteceria na ressurreição do último dia, conforme está prometido a todos os cristãos que morrem no Senhor, de terem seus corpos ressuscitados no dia do arrebatamento da Igreja.
Ela havia dito uma verdade, e Jesus comprovaria esta verdade ressuscitando Lázaro, para mostrar que Ele tem de fato o poder de trazer os corpos que morreram de novo à vida.
Assim, disse a Marta que de fato, Ele é a ressurreição e a vida, e que aquele que nEle crê, ainda que esteja morto, viverá, e que todo aquele que vive, e que creia nEle, nunca morrerá.
Em seguida perguntou a Marta se ela cria nisto.
Ela respondeu sabiamente dizendo que cria que Ele é o Cristo, o Filho de Deus que havia de vir ao mundo.
Com esta sua declaração ela fez uma afirmação de fé de que tudo é possível ao Senhor, porque nada é impossível para o Messias, para o Filho de Deus que deveria vir ao mundo para restaurar todas as coisas.
Jesus queria falar também separadamente com Maria, e por isso permaneceu no lugar onde se encontrava, fora da aldeia, e pediu a Marta que chamasse Maria em segredo para vir ter com Ele.
Maria se apressou em ir ter com o Senhor, mas muitos que estavam na casa pensando que ela iria para o local do túmulo de Lázaro para chorar, saíram logo depois dela para confortá-la.
Quando Maria chegou ao lugar onde Jesus estava lançou-se aos seus pés dizendo que caso ele estivesse com eles, Lázaro não teria morrido.
Ela conhecia a virtude sobrenatural que Jesus possuía para curar toda sorte de enfermidades, e fez esta límpida declaração de fé, da plena confiança que ela tinha no Seu poder.
Não é de se estranhar porque é dito que Jesus amava aquela família.
O Senhor ama de um modo especial a todos que têm esta qualidade de fé na Sua pessoa, como a que Marta e Maria haviam demonstrado, e que certamente era o mesmo tipo de fé que habitava em Lázaro.
Eles honravam a Jesus com a sua fé, e não foi por acaso que Deus escolheu aquela família para também honrar a fé deles com o milagre da ressurreição de Lázaro.
Nós vemos então o Senhor compartilhando privadamente o que faria àquelas duas gigantes da fé.
Uma grande fé será também grandemente honrada pelo Senhor.
Ele nos fará saber disto de maneira íntima falando ao recôndito dos nossos corações.
O Senhor nos separará do meio da multidão e nos consolará em particular.
Ainda que saiba que expulsará os nossos problemas para bem longe de nós, Ele primeiro nos fortalecerá e consolará, para que saibamos que tudo quanto necessitamos é da força da Sua graça.



Jesus Ressuscitou Lázaro Para Sabermos Que Também nos Ressuscitará - João 11

“33 Jesus pois, quando a viu chorar, e também chorando os judeus que com ela vinham, moveu-se muito em espírito, e perturbou-se.
34 E disse: Onde o pusestes? Disseram-lhe: Senhor, vem, e vê.
35 Jesus chorou.
36 Disseram, pois, os judeus: Vede como o amava.
37 E alguns deles disseram: Não podia ele, que abriu os olhos ao cego, fazer também com que este não morresse?
38 Jesus, pois, movendo-se outra vez muito em si mesmo, veio ao sepulcro; e era uma caverna, e tinha uma pedra posta sobre ela.
39 Disse Jesus: Tirai a pedra. Marta, irmã do defunto, disse-lhe: Senhor, já cheira mal, porque é já de quatro dias.
40 Disse-lhe Jesus: Não te hei dito que, se creres, verás a glória de Deus?
41 Tiraram, pois, a pedra de onde o defunto jazia. E Jesus, levantando os olhos para cima, disse: Pai, graças te dou, por me haveres ouvido.
42 Eu bem sei que sempre me ouves, mas eu disse isto por causa da multidão que está em redor, para que creiam que tu me enviaste.
43 E, tendo dito isto, clamou com grande voz: Lázaro, sai para fora.
44 E o defunto saiu, tendo as mãos e os pés ligados com faixas, e o seu rosto envolto num lenço. Disse-lhes Jesus: Desligai-o, e deixai-o ir.”

Jesus não somente se moveu de comoção por duas vezes em seu interior por causa do quadro de tristeza que encontrou por causa da morte do Seu amigo Lázaro, como também Ele próprio chorou, apesar de saber que iria ressuscitá-lo.
Quando Jesus chegou ao local do sepulcro, que era uma caverna com uma grande pedra fechando a sua entrada, Ele pediu que tirassem a pedra, e Marta lhe disse que o defunto já estava cheirando mal, porque era de quatro dias.
Ela não estava tão preocupada com o cheiro, mas naquela hora a fé dela vacilou um pouco porque não estava vendo sentido na ordem de Jesus em mandar retirar a pedra do sepulcro.
O Senhor ajudou Marta fortalecendo a sua fé com uma branda repreensão, lembrando que lhe havia dito que caso ela cresse, ela veria a glória de Deus.
O milagre não era dependente da fé de Marta, mas não faria sentido fazer um milagre daquela envergadura para honrar quem não tivesse fé.
Então importava que ela continuasse crendo não somente para honrar o Senhor, para que a fé dela também fosse honrada.
Assim, tiraram a pedra e Jesus elevando os olhos para os céus, porque é sempre do alto que os milagres são realizados, tendo orado agradecendo ao Pai pela ressurreição de Lázaro, pórque o Pai já lhe havia respondido que o ressuscitaria.
Ele agradeceu ao Pai por tê-lO ouvido, como sempre.
Ele não precisava ter dito aquelas palavras de agradecimento de modo audível, mas havia feito isto para que a multidão em redor cresse que Ele havia sido enviado pelo Pai, porque seria Ele que realizaria o milagre para que soubessem que Jesus havia sido enviado por Ele como Salvador do mundo.
Uma vez tendo sido dada a devida glória ao Pai e o testemunho de ser  um enviado de Deus na terra para dar vida aos mortos, Jesus clamou com grande voz: “Lázaro sai para fora!”.
Lázaro saiu da sepultura com as mãos e os pés ligados com faixas e com o rosto envolto num lenço, para que se comprovasse que estava de fato morto e que havia sido ressuscitado.
A única coisa que foi feita pelos homens para que Lázaro viesse para fora depois de ressuscitado foi o ato de removerem a pedra do sepulcro.
Jesus também poderia tê-la removido pelo Seu poder.
Mas Ele não estava ali fazendo um exibicionismo dos seus poderes, como na verdade, nunca o faz.
Aquilo que nós podemos fazer enquanto aguardamos o milagre do Senhor, nós devemos fazer, e O Senhor fará apenas aquilo que nós não podemos fazer.
As nossas providências preliminares, como aquele ato de retirar a pedra, são uma prova visível de que estamos crendo naquilo que Ele haverá de fazer.
Assim, se o Senhor disser que nos dará azeite em abundância, é nosso dever preparar as vasilhas.



Buscando Refúgio no Deserto - João 11

“45 Muitos, pois, dentre os judeus que tinham vindo a Maria, e que tinham visto o que Jesus fizera, creram nele.
46 Mas alguns deles foram ter com os fariseus, e disseram-lhes o que Jesus tinha feito.
47 Depois os principais dos sacerdotes e os fariseus formaram conselho, e diziam: Que faremos? porquanto este homem faz muitos sinais.
48 Se o deixamos assim, todos crerão nele, e virão os romanos, e tirar-nos-ão o nosso lugar e a nação.
49 E Caifás, um deles que era sumo sacerdote naquele ano, lhes disse: Vós nada sabeis,
50 Nem considerais que nos convém que um homem morra pelo povo, e que não pereça toda a nação.
51 Ora ele não disse isto de si mesmo, mas, sendo o sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus devia morrer pela nação.
52 E não somente pela nação, mas também para reunir em um corpo os filhos de Deus que andavam dispersos.
53 Desde aquele dia, pois, consultavam-se para o matarem.
54 Jesus, pois, já não andava manifestamente entre os judeus, mas retirou-se dali para a terra junto do deserto, para uma cidade chamada Efraim; e ali ficou com os seus discípulos.
55 E estava próxima a páscoa dos judeus, e muitos daquela região subiram a Jerusalém antes da páscoa para se purificarem.
56 Buscavam, pois, a Jesus, e diziam uns aos outros, estando no templo: Que vos parece? Não virá à festa?
57 Ora, os principais dos sacerdotes e os fariseus tinham dado ordem para que, se alguém soubesse onde ele estava, o denunciasse, para o prenderem.”

Todas as coisas relatadas por João no seu evangelho continuam ainda ocorrendo quando o evangelho é pregado e o Senhor confirma a Palavra pregada com sinais e prodígios.
A evidência do poder de Deus entre os homens sempre os separará em dois grupos distintos: o primeiro é o daqueles que crerão no Senhor e glorificarão o Seu nome, porque terão olhos e ouvidos espirituais para entenderem que Deus esteve entre eles. Assim, para estes, o evangelho é aroma de vida para a vida.
Mas, há o segundo grupo para os quais o evangelho é cheiro de morte para a morte, porque eles não crerão; antes se oporão e tentarão impedir o progresso do reino de Deus, como fizeram alguns que haviam testemunhado a ressurreição de Lázaro, e que em vez de crerem no Senhor como sendo o Messias enviado ao mundo, apressaram-se em procurar os fariseus para contar a eles o que Jesus havia feito, não para dar honra ao Senhor, mas para agradarem aos fariseus, sabendo que eles estavam perseguindo Jesus para matá-lO.
Quando os principais dos sacerdotes e os fariseus formaram conselho para decidirem o que deveriam fazer para impedir que Jesus continuasse operando os sinais que fazia, porque temiam que toda a nação viesse a crer nele, e que fizessem um levante contra o império romano e assim corriam o risco de serem expulsos do seu território.
Mas como cristãos fariam um levante, quando temem as autoridades de coração, e oram pela paz mundial e buscam, conforme Deus lhes tem ordenado?
Assim, o que os farieus temiam acabou ocorrendo em 70 d. C. como um juízo de Deus sobre a nação de Israel, justamente por terem rejeitado e crucificado Jesus, porque o Senhor havia falado desde Moisés que pediria contas a todo aquele que deixasse de ouvir o Profeta que seria levantado por Ele (Dt 18.18).
Deus sempre apanha o sábio na sua sabedoria, e assim a conclusão a que chegaram por conselho de Caifás, que importava que Jesus morresse para que não perecesse toda a nação, poderia parecer uma decisão política muito sábia, mas era altamente covarde e injusta.
No entanto, o conselho ladino de Caifás foi interpretado por João como um prenúncio do significado espiritual da morte de Jesus, que de fato morreria não somente pela nação de Israel, mas também para reunir em um corpo os filhos de Deus que andavam dispersos em todas as nações; de modo que um morreu por todos, para que eles não vivam mais para si mesmos, senão para Aquele que por eles morreu e ressuscitou.
A ressurreição de Lázaro fez com que os sacerdotes e fariseus se reunissem frequentemente para estudarem o modo como matariam Jesus.
Sabendo das intenções deles Jesus já não se expunha mais publicamente entre os judeus e se retirou da região da Judéia para uma cidade chamada Efraim, que ficava próxima do deserto, tendo ali permanecido com os Seus discípulos.
Se somos discípulos de Jesus, estando a Seu serviço, e se Ele é grandemente perseguido como também o Seu evangelho, onde Lhe estivermos servindo, nós devemos seguir o mover do Espírito para o lugar para o qual Ele nos conduzirá em segurança, e geralmente este lugar será o deserto ou próximo do deserto, porque os nossos inimigos não se animarão em nos perseguir no deserto.
Certamente não estamos falando de um deserto literal, mas de situações e condições novas que nos manterão afastados do clamor das multidões, e onde nossas almas estarão de certo modo isoladas buscando estar em comunhão com Deus.
Estas retiradas estratégicas são comuns na obra do ministério, especialmente no trabalho missionário, como aquele no qual o Senhor e Seus discípulos estavam empenhados.  
A data da última páscoa que Jesus celebraria com Seus discípulos na terra estava se aproximando, e como muitos haviam subido a Jerusalém para se purificarem antes da páscoa, buscavam a Jesus perguntando se por acaso ele subiria para a festa.


Eles procuraram por Jesus no templo, mas Ele não se dirigiu para lá, porque os sacerdotes e fariseus tinham dado ordem para que se alguém soubesse onde Ele se encontrasse, que o denunciassem para que fosse preso.







João 12

Jesus Caminhou ao Encontro da Sua Morte por Nós - João 12

“1 Foi, pois, Jesus seis dias antes da páscoa a Betânia, onde estava Lázaro, o que falecera, e a quem ressuscitara dentre os mortos.
2 Fizeram-lhe, pois, ali uma ceia, e Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele.
3 Então Maria, tomando um arrátel de ungüento de nardo puro, de muito preço, ungiu os pés de Jesus, e enxugou-lhe os pés com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do ungüento.
4 Então, um dos seus discípulos, Judas Iscariotes, filho de Simão, o que havia de traí-lo, disse:
5 Por que não se vendeu este ungüento por trezentos dinheiros e não se deu aos pobres?
6 Ora, ele disse isto, não pelo cuidado que tivesse dos pobres, mas porque era ladrão e tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava.
7 Disse, pois, Jesus: Deixai-a; para o dia da minha sepultura guardou isto;
8 Porque os pobres sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes.
9 E muita gente dos judeus soube que ele estava ali; e foram, não só por causa de Jesus, mas também para ver a Lázaro, a quem ressuscitara dentre os mortos.
10 E os principais dos sacerdotes tomaram deliberação para matar também a Lázaro;
11 Porque muitos dos judeus, por causa dele, iam e criam em Jesus.
12 No dia seguinte, ouvindo uma grande multidão, que viera à festa, que Jesus vinha a Jerusalém,
13 Tomaram ramos de palmeiras, e saíram-lhe ao encontro, e clamavam: Hosana! Bendito o Rei de Israel que vem em nome do Senhor.
14 E achou Jesus um jumentinho, e assentou-se sobre ele, como está escrito:
15 Não temas, ó filha de Sião; eis que o teu Rei vem assentado sobre o filho de uma jumenta.
16 Os seus discípulos, porém, não entenderam isto no princípio; mas, quando Jesus foi glorificado, então se lembraram de que isto estava escrito dele, e que isto lhe fizeram.
17 A multidão, pois, que estava com ele quando Lázaro foi chamado da sepultura, testificava que ele o ressuscitara dentre os mortos.
18 Por isso a multidão lhe saiu ao encontro, porque tinham ouvido que ele fizera este sinal.
19 Disseram, pois, os fariseus entre si: Vedes que nada aproveitais? Eis que toda a gente vai após ele.”

Quanta infâmia e desonra Jesus suportou e tem ainda suportado.
O relato dos evangelhos nos revela que de fato há no Senhor uma longanimidade divina que Lhe permitiu e que ainda permite suportar com grande paciência toda a oposição que façam contra a Sua Pessoa.
Quando lemos, por exemplo, as recomendações que Ele faz aos Seus discípulos no Sermão do Monte, especialmente quanto ao dever de amarem seus inimigos e abençoarem os que lhes maldizem e perseguem, nós entendemos a razão destas ordenanças porque em fazendo isto eles estão simplesmente seguindo o Seu próprio exemplo, e importa que sejamos Seus imitadores.
Ele nos daria agora o exemplo máximo da Sua mansidão e submissão à vontade do Pai, entregando-se voluntariamente nas mãos dos seus inimigos.
Por inúmeras vezes Ele havia escapado e fugido das perseguições deles, mas importava que fosse agora para a cruz para pagar o preço exigido para o perdão dos nossos pecados.
Ele estivera no templo no período da festa da dedicação que era celebrada no mês de quisleu (dezembro), depois de ter curado o cego de nascença, e havia se retirado para o deserto junto ao local onde João batizara, mas retornou à Judéia para ressuscitar Lázaro, e como foi expedida ordem pelos fariseus para que fosse preso, e sabendo que aquela prisão culminaria com a Sua morte, e não era ainda a hora, porque importava que morresse na Páscoa, Ele se retirou mais uma vez para o deserto, perto da cidade de Efraim.
A festa da Páscoa foi instituída por Deus para comemorar o livramento dos primogênitos israelitas da morte no Egito, nos dias de Moisés, por causa do sangue do cordeiro que foi colocado nas portas das suas casas, para que o anjo da morte passasse por sobre elas ao ver o sangue.
Jesus é o Cordeiro pascal, do qual, por causa da cobertura do Seu sangue sobre a casa espiritual das nossas vidas, somos livrados da morte espiritual e eterna, para que as  consagremos Àquele que nos salvou da morte.
Ele teria que retornar à Judéia na época da Páscoa, que era celebrada no mês de Abibe (março/abril), e Ele o fez indo primeiro para a cidade de Betânia, à residência de Lázaro, Maria e Marta onde se hospedou, porque além da residência deles ficar apenas cerca de 3 quilômetros de Jerusalém, Jesus achou conforto junto daqueles que O amavam, antes de se entregar voluntariamente nas mãos dos seus inimigos, os quais lhe infligiriam terríveis sofrimentos, conforme estava profetizado nas Escrituras.    
Mas, para que se cumprissem também as Escrituras, importava que fosse aclamado antes como rei de Israel, montado em um jumentinho, de maneira a demonstrar o caráter pacífico e de humildade do Seu reino.
No reino do Messias não há excluídos, por causa da baixa condição social que se possa ter para este mundo.
Tudo o que este mundo despreza pode ser transformado e estar em honra no reino do Senhor.
Mas muito do que o mundo considera elevado poderá estar excluído do Seu reino, por ser uma abominação perante Deus.
A mansidão do Cordeiro não será perdida, quando Ele estabelecer Seu reino eterno com todos os Seus súditos.
A regra do Seu governo será o Seu amor por eles.
E, a justiça de Deus será a base do Seu trono.
Faltavam seis dias para a Páscoa quando Jesus se dirigiu à casa de Lázaro e ali lhe prepararam uma ceia para Ele e seus discípulos; e Lázaro estava à mesa enquanto Marta os servia.
Foi nesta ocasião que Maria ungiu os pés de Jesus com nardo puro e enxugou os Seus pés com os seus cabelos.
Judas Iscariotes protestou contra aquele ato de Maria, porque o perfume era muito caro, e ele considerou que ela havia feito um desperdício, porque poderia vendê-lo por trezentos dinheiros, para serem distribuídos aos pobres.
No entanto, aquilo não era sequer zelo pelos pobres, porque ele era o tesoureiro do grupo e era seu costume furtar o que lhes era ofertado.
Jesus sabia que Judas era ladrão, e o poupou não dizendo qual era a sua real intenção.
Mas para desfazer o desconforto que ele criou para Maria, e o falso preceito religioso de que o evangelho consiste em distribuir dinheiro aos pobres, o Senhor disse que Maria tinha feito um bom serviço, porque O ungira para Seu sepultamento, e que importava antes, cuidar de agradá-Lo do que aos pobres, porque fisicamente teriam os pobres com eles durante muito tempo, mas apenas Maria, dentre eles, tinha percebido que Ele estaria ainda por apenas um breve tempo em sua companhia, menos do que uma semana.    
Jesus tinha tudo em comum com os apóstolos, e viviam dos recursos que lhes eram providos por Deus através dos instrumentos que Ele levantava para sustentá-los.
Isto deveria servir de exemplo para diminuir nossa estima por riquezas mundanas, porque definitivamente Jesus e os apóstolos não andaram à busca das mesmas e nem sonhavam com elas.
A história tem testemunhado que os principais ministros do reino de Cristo nunca estiveram interessados em rendas terrenas, e por outro lado, aqueles que sequer foram chamados para o ministério e que viveram na busca de riquezas transitaram na Igreja como nuvens sem água, seguindo o exemplo do mestre deles, a saber, Judas, que também por sua vez, seguiu os passos de Balaão.
Ministros do evangelho não são mordomos de bens que lhes pertencem, porque são mordomos dos bens de Cristo, e terão todos eles que prestar contas da administração que fizeram destes bens no tribunal de Cristo.
Quando os ministros fazem um mau uso dos recursos de Deus eles são como Judas porque furtam aquilo que não lhes pertence, mas ao Senhor e a todo o povo que colocou debaixo do cuidado deles.
A estada de Jesus na casa de Lázaro não pôde ser mantida em segredo, de maneira que muitos acorreram para lá para terem a oportunidade de verem não somente a Ele, como também a Lázaro, a quem Ele havia ressuscitado.
Estes judeus eram pessoas de boa vontade em sua grande maioria, e isto despertou grande preocupação nos sacerdotes porque muitos estavam crendo em Jesus por verem que Lázaro havia de fato sido ressuscitado.
Eles tentariam também destruir a evidência viva do milagre que Jesus havia feito, que era o próprio Lázaro, e assim também estavam intentando matá-lO.
Não foram os judeus de Jerusalém que odiavam Jesus e que estavam envenenados pelos sacerdotes e fariseus, que saíram ao Seu encontro com ramos de palmeiras clamando “Hosana! Bendito o Rei de Israel que vem em nome do Senhor (v. 13), quando souberam que Ele estava vindo para a cidade de Jerusalém montado num jumentinho.
Eram judeus das áreas rurais e de outras cidades que vinham a Jerusalém anualmente para a festa da Páscoa, e especialmente a multidão que estivera com Jesus na casa de Lázaro e que testificara que Ele realmente lhe havia ressuscitado (v. 17, 18).
Aquela grande manifestação foi a gota d’água que levou os fariseus a se conluiarem para prenderem Jesus.
Muitos pensam que a multidão que bradou “Hosana” é a mesma que gritou “Crucifica-o”.
No entanto, os que eram de Jerusalém e que estavam buscando a crucificação de Jesus certamente não se encontravam entre aqueles que disseram “Hosana”.



Mais do Que Ensinamentos Jesus Veio Nos Dar Sua Vida João 12

“20 Ora, havia alguns gregos, entre os que tinham subido a adorar no dia da festa.
21 Estes, pois, dirigiram-se a Filipe, que era de Betsaida da Galiléia, e rogaram-lhe, dizendo: Senhor, queríamos ver a Jesus.
22 Filipe foi dizê-lo a André, e então André e Filipe o disseram a Jesus.
23 E Jesus lhes respondeu, dizendo: É chegada a hora em que o Filho do homem há de ser glorificado.
24 Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto.
25 Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna.
26 Se alguém me serve, siga-me, e onde eu estiver, ali estará também o meu servo. E, se alguém me servir, meu Pai o honrará.”

A fama de Jesus deve ter se espalhado pelo mundo conhecido de então, e os gregos que estavam sempre atrás de novos conhecimentos filosóficos devem ter se interessado em conhecer o Seu ensino, por pensarem que fosse um mero filósofo.
Alguns dos gregos que haviam subido a Jerusalém para a festa da Páscoa pediram a Filipe que lhes apresentasse a Jesus, e tendo Filipe levado o assunto a André, ambos foram a Jesus para informá-lo a respeito.
A resposta que o Senhor deu a ambos foi surpreendente porque Ele tinha diante dos Seus olhos somente o propósito de cumprir a missão que o Pai lhe havia dado de ir para a cruz para morrer no nosso lugar.
O grande objetivo da missão não era ensinar, mas resgatar.
Não era obter fama pessoal de um mestre de filosofia, nem sequer de teologia, mas atrair pecadores a Si para se converterem a Ele, e assim serem livrados da morte eterna, pela destruição da morte espiritual, pela Sua morte na cruz.
Como aqueles gregos poderiam entender tais coisas com a intenção que tinham em seus corações de satisfazerem à curiosidade deles em verem alguém a quem eles queriam honrar simplesmente como a um grande mestre de filosofia?
Jesus deve ser procurado não pelo nosso próprio interesse, mas por sermos conduzidos a Ele impulsionados pelo Espírito Santo, para nos rendermos a Seus pés e adorá-lO.
Não admira que o Senhor tivesse dito a André e a Filipe que era chegada a hora em que Ele seria glorificado, mas não pelos gregos e nem por homem algum que pretendesse homenageá-lO, ou prestar-Lhe honrarias.
Porque aqueles que O honrassem da maneira pela qual deve ser honrado são os que O seguem e o servem aonde quer que Ele esteja.
Somente aqueles que O honram desta maneira serão também honrados por Deus Pai, porque têm honrado a Seu Filho (v. 26).
Jesus veio a este mundo para dar a Sua vida em resgate de muitos.
Os que são por Ele resgatados devem também estar dispostos a darem a vida deles a Seu serviço.
Assim como um grão de trigo não pode gerar fruto se não morrer na terra, para que germine uma nova vida, que gerará muitos outros grãos de trigo, de igual maneira, se Jesus não morresse na cruz, permaneceria Ele só como Filho de Deus, mas pela Sua morte, o Pai poderia se prover de muitos outros filhos, que seriam tornados semelhantes ao Seu Filho unigênito.
Desta forma, também os discípulos devem tal como Cristo, perderem a vida por amor a Ele, e a palavra “vida” no original grego é psiquê, assim eles devem perder o viver pela energia da alma, morrendo para o ego, de forma que, vivendo pelo espírito, possam ser instrumentos nas mãos de Deus para serem canais do Espírito Santo para a regeneração (novo nascimento) de muitas outras vidas.
Por isso, quando não se perde este modo de viver pela alma, em vez de se viver pelo espírito, perde-se também a possibilidade de se viver o único modo que existe para se experimentar a vida eterna, que é vivendo espiritualmente.  
É preciso, pois aborrecer o nosso viver pela alma, pela negação do nosso ego, cedendo lugar a um viver dirigido pelo Espírito.
Assim, os gregos também se converteriam a Ele, mas no tempo próprio.
Isto aconteceu especialmente através do ministério de Paulo.
Importava agora que o Senhor fosse para a cruz, que o evangelho fosse primeiro pregado, depois do Pentecoste, em Jerusalém, Judéia, Samaria, e depois até aos confins da terra.


O Empenho Amoroso de Jesus Para Que Sejamos Salvos - João 12

“27 Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu? Pai, salva-me desta hora; mas para isto vim a esta hora.
28 Pai, glorifica o teu nome. Então veio uma voz do céu que dizia: Já o tenho glorificado, e outra vez o glorificarei.
29 Ora, a multidão que ali estava, e que a ouvira, dizia que havia sido um trovão. Outros diziam: Um anjo lhe falou.
30 Respondeu Jesus, e disse: Não veio esta voz por amor de mim, mas por amor de vós.
31 Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo.
32 E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim.
33 E dizia isto, significando de que morte havia de morrer.
34 Respondeu-lhe a multidão: Nós temos ouvido da lei, que o Cristo permanece para sempre; e como dizes tu que convém que o Filho do homem seja levantado? Quem é esse Filho do homem?
35 Disse-lhes, pois, Jesus: A luz ainda está convosco por um pouco de tempo. Andai enquanto tendes luz, para que as trevas não vos apanhem; pois quem anda nas trevas não sabe para onde vai.
36 Enquanto tendes luz, crede na luz, para que sejais filhos da luz. Estas coisas disse Jesus e, retirando-se, escondeu-se deles.”

A expectativa das coisas que brevemente deveria sofrer, fez com que o Senhor não somente tivesse proferido a André e a Filipe as palavras que lhes havia dito, em razão de ter sabido que alguns gregos estavam interessados em falar com Ele, como também O levou a se angustiar pelo fato de ter avaliado o grande custo que seria para Ele ter que ir para a cruz, carregando os nossos pecados sobre Si.
Tão terrível seria o sofrimento que O aguardava que a sua alma se angustiou a ponto de estar convicto de que não poderia se livrar daquela angústia porque não poderia pedir para ser livrado pelo Pai das coisas que Lhe aguardavam, porque foi para aquele propósito mesmo que Ele havia vindo a este mundo.
Ele se submeteu mansamente à vontade do Pai dizendo que Ele glorificasse o Seu nome através do Seu sacrifício.
Deus respondeu com uma voz audível que pareceu à multidão como se tivesse sido um trovão, ou anjo que tivesse falado; dizendo:  
“Já o tenho glorificado, e outra vez o glorificarei.”.
Deus Pai estava sendo glorificado pelo Filho através das coisas que estava fazendo através dEle, como por exemplo através da ressurreição de Lázaro.
E receberia muito maior glória com a libertação dos milhões de pessoas que sairiam do cativeiro das trevas e de Satanás para o reino da Sua luz, depois que o Filho fosse para cruz, e por isso lhe foi dito que outra vez glorificaria Seu nome através dEle.
Por esta razão Jesus disse que aquela voz não foi propriamente por amor a Ele, mas por amor dos homens.
Porque foi por amor que o Pai Lhe havia enviado ao mundo para morrer no lugar dos pecadores.
Deus Pai levaria Seu Filho à cruz por amor aos pecadores, para que pudessem ser resgatados da morte eterna e serem reconciliados com Ele através da mediação do Seu Filho.
Jesus disse expressamente que aquela voz tinha a ver com o fato do juízo que seria imposto sobre Satanás na cruz, porque Ele seria tirado da sua posição de poder sobre as almas que ele vinha trazendo cativas até então.
O evangelho seria pregado no mundo, e o poder de Deus traria a liberdade àqueles que o Pai deu ao Filho e que até então estavam debaixo do jugo do diabo.
Isto seria feito em todas as partes do mundo porque Satanás seria despojado do seu poder quando Jesus morresse na cruz.
O diabo não seria, portanto, expulso da terra, mas da sua posição de autoridade sobre as almas daqueles que pertencem a Deus.
O diabo os trazia sujeitos por causa de estarem debaixo do pecado, mas em Cristo eles não estão mais debaixo do pecado, mas da graça que os resgatou do pecado e da morte, porque Cristo se fez maldição na cruz, no lugar deles, para resgatá-los da maldição, e assim foi desfeito todo o poder que o Inimigo detinha sobre eles.
Depois que Jesus fosse levantado da terra, sendo elevado na cruz (v. 32, 33), a humanidade seria atraída a Ele pelo Pai.
Qualquer um poderia vir agora livremente a Ele pela simples fé, porque consumaria completamente a obra de resgate em seu favor com Sua morte na cruz, de maneira que desfaria a barreira de inimizade que havia entre eles e Deus, por causa da natureza terrena pecaminosa que se opõe a Deus.
Mas, como o pecado recebeu a sua sentença de morte na cruz, foi resolvido para sempre o problema que nos separava de Deus, de maneira que deixamos de ser inimigos de Deus, para nos tornarmos Seus amigos, por meio da fé em Jesus.  
Os incrédulos da multidão que ouvia Jesus dizer estas coisas rechaçaram o fato dEle ter dito que deveria morrer, porque segundo a teologia deles o Messias jamais morreria.
É certo que o Messias é eterno, mas importava, pelas Escrituras, que padecesse e morresse no lugar dos pecadores, para se regozijar depois com o fruto do penoso trabalho da sua alma.
Eles queriam saber quem era o Filho do homem e por que convinha que o Filho do homem fosse levantado?
Estas coisas somente podem ser entendidas por iluminação do Espírito Santo.
Jesus é a luz do mundo.
Ele trouxe o conhecimento da verdade relativa à nossa condição espiritual e o que é necessário fazer para sermos salvos.
Mas tudo isto somente pode ser entendido espiritualmente debaixo da iluminação do Espírito Santo.
Por isso, o Senhor disse que convinha ser levantado, não somente para a nossa justificação, como também para que fôssemos regenerados e santificados pelo Espírito que seria derramado depois da Sua morte, ressurreição e ascensão.  
Aquelas pessoas e quaisquer pessoas de todas as épocas devem crer na luz para que sejam filhos da luz.
Se não crermos nas palavras de Jesus, o Espírito Santo jamais poderá fazer o Seu trabalho de nos transformar em filhos da luz.
Jesus fez a luz da verdade raiar sobre aquelas pessoas e logo em seguida retirou-se delas, escondendo-se, porque ainda importava deixar instruções para os Seus discípulos; cear com eles, orar por eles e fortalecer-lhes a fé.


A Rejeição de Jesus Deu Cumprimento à Profecia de Isaías - João 12

“37 E, ainda que tinha feito tantos sinais diante deles, não criam nele;
38 Para que se cumprisse a palavra do profeta Isaías, que diz: Senhor, quem creu na nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor?
39 Por isso não podiam crer, então Isaías disse outra vez:
40 Cegou-lhes os olhos, e endureceu-lhes o coração, A fim de que não vejam com os olhos, e compreendam no coração, E se convertam, E eu os cure.
41 Isaías disse isto quando viu a sua glória e falou dele.
42 Apesar de tudo, até muitos dos principais creram nele; mas não o confessavam por causa dos fariseus, para não serem expulsos da sinagoga.
43 Porque amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus.
44 E Jesus clamou, e disse: Quem crê em mim, crê, não em mim, mas naquele que me enviou.
45 E quem me vê a mim, vê aquele que me enviou.
46 Eu sou a luz que vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas.
47 E se alguém ouvir as minhas palavras, e não crer, eu não o julgo; porque eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo.
48 Quem me rejeitar a mim, e não receber as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia.
49 Porque eu não tenho falado de mim mesmo; mas o Pai, que me enviou, ele me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar.
50 E sei que o seu mandamento é a vida eterna. Portanto, o que eu falo, falo-o como o Pai mo tem dito.”

João passou a expor a partir do verso 37 quais foram os motivos que haviam levado os judeus a rejeitarem Jesus, conforme havia dito no início deste seu evangelho que Jesus havia vindo para o que era Seu, mas os Seus O haviam rejeitado.
Ele havia deixado de modo muito claro em toda a sua narrativa, que fizera até esta altura, como os judeus haviam realmente amado as trevas e assim, não tinham vindo para a luz para que as suas más obras não fossem manifestas.
João mostrou também como alguns hipócritas haviam professado crerem em Cristo, mas que não praticavam a Sua Palavra, e não se submeteram ao Seu senhorio, porque amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus, como sucedera com muitos fariseus que haviam confessado crer que Ele era o Messias mas que não deram um testemunho público da fé deles, por temerem serem expulsos da sinagoga (v. 42, 43).
Assim, ele conclui esta primeira parte do seu evangelho mostrando como Jesus havia sido rejeitado, aceito, e até mesmo como fingiram aceitá-lo, porque, do capítulo seguinte (13) até o capítulo 17 João registrou quais foram as últimas palavras e ações de Jesus junto aos Seus discípulos.
O Senhor já havia declarado expressamente aos judeus quanto à impossibilidade de muitos deles aceitarem a Sua Palavra.
Não seria pela realização de sinais, seja em qualidade, seja em número, que tais pessoas se converteriam ao Senhor.
Esta condição de endurecimento espiritual dos judeus, foi profetizada por Isaías, em relação à reação das pessoas ao evangelho, e que resistiriam à mensagem da salvação:
“Senhor, quem creu na nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor?”  (v. 38).
O motivo desta incredulidade foi declarado pelo próprio Isaías:
“Cegou-lhes os olhos, e endureceu-lhes o coração, A fim de que não vejam com os olhos, e compreendam no coração, E se convertam, E eu os cure.”.
O profeta Isaías fez esta afirmação quando viu a glória de Jesus; quando estava à direita do Pai nos céus, antes mesmo da sua encarnação quando veio a este mundo.
Os que resistem a Jesus são mantidos no seu endurecimento porque Deus não pode lhes conceder graça para que vejam e entendam, porque isto não pode ser feito com aqueles que se recusam terminantemente a honrar o Seu Filho Unigênito, Jesus.
Por isso João fez um resumo da pregação que Jesus fez continuamente em Seu ministério terreno nos versos 44 a 50, onde se destaca a necessidade da fé nEle para a salvação (v. 44), porque crer nEle é crer no Pai, porque foi enviado pelo Pai sendo igual ao Pai, de maneira que aquele que o vê conforme convém ver (em espírito), vê o Pai, porque Ele é a perfeita imagem do Pai (v. 45).
Somente Jesus é a luz que veio ao mundo para expulsar as trevas da vida daqueles que nEle crêem (v. 46).
Ele veio inaugurar uma nova dispensação, a da graça, de maneira que neste período Ele não está julgando o mundo para efeito de condenação, mas salvando aqueles que do mundo se convertem a Ele (v. 47).
No entanto, rejeitá-lO e rejeitar Suas palavras, significa estar em posição de juízo para condenação, o que há de se manifestar no dia do Juízo Final (v.48).


Ele foi enviado ao mundo pelo Pai para nos revelar a vontade do Pai, expressada no mandamento que dEle recebeu de dar a vida eterna a todo aquele que nEle crer.” (v. 49, 50).






João 13

A Intimidade de Jesus é Para Aqueles que o Amam - João 13

“1 Ora, antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que já era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim.
2 E, acabada a ceia, tendo o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que o traísse,
3 Jesus, sabendo que o Pai tinha depositado nas suas mãos todas as coisas, e que havia saído de Deus e ia para Deus,
4 Levantou-se da ceia, tirou as vestes, e, tomando uma toalha, cingiu-se.
5 Depois deitou água numa bacia, e começou a lavar os pés aos discípulos, e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido.
6 Aproximou-se, pois, de Simão Pedro, que lhe disse: Senhor, tu lavas-me os pés a mim?
7 Respondeu Jesus, e disse-lhe: O que eu faço não o sabes tu agora, mas tu o saberás depois.
8 Disse-lhe Pedro: Nunca me lavarás os pés. Respondeu-lhe Jesus: Se eu te não lavar, não tens parte comigo.
9 Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, não só os meus pés, mas também as mãos e a cabeça.
10 Disse-lhe Jesus: Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo. Ora vós estais limpos, mas não todos.
11 Porque bem sabia ele quem o havia de trair; por isso disse: Nem todos estais limpos.
12 Depois que lhes lavou os pés, e tomou as suas vestes, e se assentou outra vez à mesa, disse-lhes: Entendeis o que vos tenho feito?
13 Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou.
14 Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros.
15 Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.
16 Na verdade, na verdade vos digo que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou.
17 Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes.” (João 13.1-17)

João registrou as palavras e os atos de Jesus, especialmente durante a última ceia de Páscoa que celebrou juntamente com os Seus discípulos, nos capítulos 13 a 17 do seu evangelho.
Nós temos um primeiro registro das coisas que aconteceram naquela tarde e noite em que ele seria traído por Judas, a começar deste décimo terceiro capítulo.
Aqui é descrito por João como o amor de Jesus foi demonstrado por Seus discípulos até mesmo naquela hora de tensão e crise em que Ele sabia que seria traído, e que sofreria horrivelmente nas mãos de homens ímpios (v. 1).
O Senhor manteve a mesma serenidade de sempre e a paz imperturbada de seu espírito e mente, conforme se pode ver nas coisas que Ele fez e falou e que estão registradas nestes cinco capítulos do evangelho de João (13 ao 17).
O amor de Jesus por nós não é alterado conforme as circunstâncias.
Nós podemos contar sempre com a Sua fidelidade e constância porque Ele nunca muda.  
Jesus tirou o seu manto e se cingiu com uma toalha, e pegando uma bacia encheu-a com água e passou a lavar os pés dos discípulos e os enxugava com a toalha com a qual havia se cingido.
João disse que Ele fez isto, porque sabia que o Pai tinha depositado todas as coisas em Suas mãos, e que Ele havia saído de Deus e estaria voltando para Deus.
O gesto de Jesus comprova que apesar do grande respeito e reverência que os discípulos tinham por Ele, não havia nenhuma formalidade ou dissimulação no relacionamento deles.
Ao contrário, isto nos mostra a liberdade, intimidade e familiaridade que havia entre eles.
Uma Igreja que cresce desta forma é também bem-aventurada, como eram os discípulos no relacionamento deles uns com os outros e com o Senhor, porque eles conviviam pelos laços de amor e amizade que haviam recebido do Senhor e aprendido com Ele.
Agora, sabendo que deixaria este mundo, Jesus aproveitou a oportunidade para lhes dar uma grande lição da humildade, que deveria haver entre eles, na disposição mesma de fazerem até os serviços mais humildes para demonstrarem o amor que tinham uns pelos outros.
Pedro havia sido tomado de uma falsa humildade e respeito ao Senhor quando lhe disse que de modo nenhum deixaria que Ele lhe lavasse os pés.
Jesus disse que Ele não estava entendendo o que Ele estava fazendo naquela hora, mas que depois entenderia, porque sendo um dos líderes do Seu rebanho, viria a aprender depois, como de fato aprendeu que os pastores devem servir às Suas ovelhas, estando dispostos a fazerem as tarefas mais humildes, se necessário, em prol da santificação das vidas do rebanho colocado debaixo do cuidado deles.
O Senhor havia feito uma relação entre o ato de lavar os pés com o fato da grande lavagem de pecados que ocorreu na regeneração dos apóstolos pela fé e prática da Sua Palavra.      
Então, ainda que tenha havido uma grande transformação no nosso novo nascimento do Espírito, há esta necessidade de progredirmos em santificação, conforme o Senhor estava representando por aquele gesto de lavar os pés dos discípulos.
Sem santificação ninguém verá o Senhor.
Isto pode ser inferido das palavras que Jesus disse a Pedro, quando este se recusou a deixar que Ele lhe lavasse os seus pés, porque Jesus disse que caso Pedro continuasse se recusando, não teria parte com Ele.
Ora, sabemos que é exigido perseverança até o fim em santificação, para a confirmação da nossa salvação, isto é, nós permanecemos em Cristo, e participamos da Sua vida, caso tenhamos realmente participação espiritual na Sua vida divina.
É pelo crescimento na graça e no conhecimento do Senhor, que comprovamos que de fato pertencemos a Ele, e é também deste modo que podemos permanecer nEle e Ele em nós, porque sem santificação apagamos o fogo do Espírito Santo; e é este fogo que nos santifica.
Havia muito a ser aprendido pelos apóstolos daquele gesto humilde de Jesus de lavar os pés deles.
Obviamente, aquele gesto não se aplicava a Judas porque não tinha sido regenerado.
Ele continuava escravo do pecado porque não havia sido limpo pela Palavra como os demais.
Como então poderia ser santificado?
O Espírito santifica somente quem foi regenerado.
Este não era seguramente o caso de Judas; por isso o Senhor disse que todos os discípulos haviam sido purificados dos seus pecados, exceto um, que era Judas.
Depois de lavar os pés dos discípulos Jesus se assentou outra vez à mesa e lhes explicou o que havia feito apesar de ser o Mestre e o Senhor deles.
Se Ele, como Mestre e Senhor havia feito tal gesto, quanto mais eles deveriam fazê-lo, lavando os pés uns dos outros, porque isto é um dever para todos aqueles que Lhe pertencem.
Ele havia dado um exemplo daquilo que devemos fazer na condição de Seus discípulos.
Nenhum servo é maior do que Ele, portanto não está excluído do dever de cumprir esta regra do reino dos céus.
Felizes são aqueles que seguem o exemplo do Seu Mestre quanto a praticarem isto que Ele nos ensinou.
Em Sua infinita sabedoria Jesus fixou este exemplo de humildade extrema bem próximo da Sua partida deste mundo, que muito ajudaria os discípulos a se manterem humildes e não mais disputarem entre si qual seria o maior deles tanto na Igreja aqui neste mundo, quanto no reino de Deus na glória.
Os evangelhos sinópticos registram que houve uma disputa entre os apóstolos neste sentido justamente quando Jesus estava passando pelo momento de aflição, que antecedeu o seu sofrimento.
O exemplo que Ele havia dado faria um grande eco nas consciências e corações dos discípulos de maneira que entendessem definitivamente qual é o caráter do reino do Messias, que dá graça a quem se humilha, e abate a quem se exalta.  


Judas Era Usado por Satanás - João 13

“18 Não falo de todos vós; eu bem sei os que tenho escolhido; mas para que se cumpra a Escritura: O que come o pão comigo, levantou contra mim o seu calcanhar.
19 Desde agora vo-lo digo, antes que aconteça, para que, quando acontecer, acrediteis que eu sou.
20 Na verdade, na verdade vos digo: Se alguém receber o que eu enviar, me recebe a mim, e quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou.
21 Tendo Jesus dito isto, turbou-se em espírito, e afirmou, dizendo: Na verdade, na verdade vos digo que um de vós me há de trair.
22 Então os discípulos olhavam uns para os outros, duvidando de quem ele falava.
23 Ora, um de seus discípulos, aquele a quem Jesus amava, estava reclinado no seio de Jesus.
24 Então Simão Pedro fez sinal a este, para que perguntasse quem era aquele de quem ele falava.
25 E, inclinando-se ele sobre o peito de Jesus, disse-lhe: Senhor, quem é?
26 Jesus respondeu: É aquele a quem eu der o bocado molhado. E, molhando o bocado, o deu a Judas Iscariotes, filho de Simão.
27 E, após o bocado, entrou nele Satanás. Disse, pois, Jesus: O que fazes, faze-o depressa.
28 E nenhum dos que estavam assentados à mesa compreendeu a que propósito lhe dissera isto.
29 Porque, como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus lhe tinha dito: Compra o que nos é necessário para a festa; ou que desse alguma coisa aos pobres.
30 E, tendo Judas tomado o bocado, saiu logo. E era já noite.” (João 13.18-30)

Aqueles que Satanás planta como joio na Igreja para traírem a causa de Cristo, raramente sabem que estão a serviço do Inimigo, porque  ele lhes ilude fazendo pensar que são verdadeiros servos de Cristo.
Isto explica muito sobre o motivo que levou Judas a se suicidar logo depois de ter traído Jesus.
Satanás o abandonou e lhe acusou depois de ter feito o uso que pretendia fazer dele, atacando-lhe duramente a consciência e mostrando-lhe que não passava de uma fraude, e que nunca tinha sido um verdadeiro apóstolo de Jesus.
Judas era uma árvore plantada pelo diabo na Igreja.
Não era uma árvore que tivesse sido plantada por Deus.
Assim, jamais poderia dar bons frutos.
Jesus nunca esperou qualquer bom fruto dele porque sabia a árvore má que ele era.
Não se pode colher figos dos abrolhos.
A árvore é conhecida pelo seu fruto, e o de Judas acabou se manifestando completamente no momento da traição de Jesus.
Jesus sabia que Satanás entraria em Judas e faria por meio dele toda a sua vontade, para que o traísse.
Ele viu em Espírito aquilo que os demais apóstolos não puderam perceber.
Judas traiu Jesus com um beijo para dissimular seu ato de traição.
Os traidores sempre usam esta estratégia de chorar, de beijar, de abraçar aqueles que eles estão traindo e aos quais trairão de forma ainda mais intensa quando Satanás se levantar para usá-los de tal forma.
Aitofel também era amigo de Davi e compartilhava da sua intimidade, mas era invejoso do rei, e quando se lhe deparou a oportunidade de agir contra ele, logo se apresentou a Absalão com o propósito de destruir Davi e arrancá-lo do trono no qual foi colocado pelo Senhor.
Asssim, como Judas, Aitofel também se suicidou depois de ter traído Davi, e nós sabemos agora qual era a mão que estava por detrás de tudo aquilo, a mão de Satanás.        
Nossa luta não é contra os Aitoféis e Judas, mas contra o diabo. Nossa luta não é contra a carne e o sangue, ou seja, contra as pessoas.
É das ações do diabo através dos seus instrumentos que devemos nos prevenir através da oração e da fé no Senhor.
Judas poderia ao menos ter deixado a companhia de Jesus e dos apóstolos sem nada fazer contra eles, e especialmente contra o Senhor.
Afinal ele privava da intimidade deles, e comia à mesma mesa com Jesus.
É digno de destaque que o diabo entrou nele justamente quando Jesus lhe deu o bocado de pão para comer.
O bem que Jesus fez a Judas não lhe tornou melhor, mas pior, e assim ele odiou a quem nunca lhe fez qualquer mal, senão somente o bem.
E o Senhor dá grande honra àqueles que são por Ele enviados com a missão de pregarem o evangelho ao mundo.
Aqueles que são enviados por Ele, quando são recebidos pelas pessoas, é como se elas estivessem recebendo ao próprio Cristo, e a Deus Pai que foi quem enviou Seu Filho a este mundo com a missão que seria agora realizada pela Igreja.
Foi justamente quando estava proferindo estas palavras de grande honra para os apóstolos, que Jesus se turbou em espírito (v. 21), porque aquilo não se aplicava a Judas, que apesar de ter sido escolhido pelo Senhor para estar entre os apóstolos, não seria enviado por Ele como os demais para cumprir a Sua grande comissão de irem por todo o mundo pregando o evangelho a todas as pessoas.
Judas não somente não seria enviado, como também seria aquele que haveria de traí-lo para que se cumprissem as Escrituras.

Qual é o Tipo de Amor do Novo Mandamento? João 13

“31 Tendo ele, pois, saído, disse Jesus: Agora é glorificado o Filho do homem, e Deus é glorificado nele.
32 Se Deus é glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e logo o há de glorificar.
33 Filhinhos, ainda por um pouco estou convosco. Vós me buscareis, mas, como tenho dito aos judeus: Para onde eu vou não podeis vós ir; eu vo-lo digo também agora.
34 Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis.
35 Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.
36 Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, para onde vais? Jesus lhe respondeu: Para onde eu vou não podes agora seguir-me, mas depois me seguirás.
37 Disse-lhe Pedro: Por que não posso seguir-te agora? Por ti darei a minha vida.
38 Respondeu-lhe Jesus: Tu darás a tua vida por mim? Na verdade, na verdade te digo que não cantará o galo enquanto não me tiveres negado três vezes.” (João 13.31-38)


Tão logo Judas se retirou do meio dos apóstolos, durante a ceia da Páscoa, Jesus disse imediatamente que Ele estava sendo glorificado e que o Pai também estava sendo glorificado nEle.
Ora! Se Ele sabia que Judas saiu para traí-lO, qual glória poderia ser resultante de um ato de traição?
O Pai seria glorificado na morte do Filho, e seria justamente a traição de Judas que precipitaria todas as ocorrências que culminariam na morte do Senhor.
Como o Pai seria glorificado por causa do Filho com a conversão de milhões de pessoas em todo o mundo, então era de se esperar que o Pai também glorificasse o Filho, e isto começaria logo depois da Sua ressurreição, quando Ele entrasse no céu com grande triunfo e glória pela obra que havia consumado na terra, sendo celebrado, honrado e adorado pelas potestades celestiais e pelos espíritos desencarnados dos santos que haviam morrido antes da Sua ascensão, que aguardavam com grande expectativa por esta vitória sobre a morte, porque disto dependeria a ressurreição futura dos corpos deles.
Este foi um dos motivos de Jesus ter dito que Abraão havia visto o Seu dia de glória e se alegrado, por causa da expectativa de tais coisas que seriam cumpridas pelo Seu Senhor e nosso.
Esta glória seria recebida por Jesus no céu, onde os seus apóstolos não poderiam estar com Ele, pelo menos por algum tempo.
Mas, eles, de fato não poderiam testemunhar todo o cortejo triunfal com que Jesus entrou nos céus depois da Sua morte.
Os seus mais diletos amigos não poderiam ver isto, mas como era amigo deles e os amava Ele lhes falou de todas estas coisas antes de partir para a glória que O aguardava, para que também exultassem com Ele, e soubessem que as coisas que Ele ainda teria que padecer, até à Sua morte na cruz, não significavam de modo algum, o fracasso da Sua missão, que era a mesma missão dos discípulos.
Foi nesta ocasião, em face da glória que haveria de se seguir aos Seus sofrimentos, e pelo derramar do Espírito Santo sobre os discípulos como comprovação daquela glorificação que Ele receberia no céu, que o Senhor lhes deu o novo mandamento de se amarem uns aos outros, assim como Ele lhes havia amado; isto é, eles deveriam se amar com o mesmo amor de comunhão espiritual que sempre existiu entre Ele e o Pai.
Seria por este amor divino, celestial, que o mundo saberia que eles eram de fato Seus discípulos.
Eles sairiam com uma missão ao mundo.
Eles teriam uma mensagem para pregar.
Eles receberiam poder do Espírito para testemunhar dEle e da Sua morte e ressurreição.
Mas, caso faltasse este amor entre eles, faltaria tudo o mais, e Ele não seria glorificado.
Deus não pode ser glorificado quando falta a unidade e a comunhão espiritual, no Espírito.
Os apóstolos haviam aprendido do Senhor o modo como deveriam viver neste amor, mas deveriam crescer nisto.
Deveriam avançar para o alvo da maturidade em Cristo, que é, sobretudo amadurecimento no Seu amor divino.  
Isto não se aprende nos livros, mas na prática da vida. Na submissão à vontade do Senhor e à Sua Palavra, num espírito quieto e manso que é agradável a Deus.
O brilho da face de Cristo deve ser visto também nos rostos dos cristãos, porque sem isto, não é possível cumprir o novo mandamento que Ele nos deixou.
É importante lembrar que Ele falou deste novo mandamento do amor no contexto das palavras que havia proferido acerca da Sua glorificação nos céus, e no ajuntamento futuro de todos os Seus discípulos no céu para participarem da Sua glória.
Pedro não entendeu a que tipo de amor Jesus estava se referindo, e tentou demonstrar que o seu amor por Ele era maior do que os de todos os demais discípulos. Já que Jesus havia falado de amor, então Pedro na sua sinceridade quis lhe demonstrar até que ponto ia o seu amor por Ele.
 Ele insistiu em dizer que seguiria Jesus mesmo depois dEle ter-lhe falado que não poderia segui-lO para onde Ele iria naquela ocasião, a saber, para o céu, mas como não disse a Pedro para onde iria, Pedro disse que iria segui-lO até mesmo dando a própria vida por Ele.
Mas Jesus lhe respondeu que o galo não cantaria naquela noite antes que Pedro lhe tivesse negado três vezes.
O amor natural de Pedro não seria suficiente para mantê-lo firme na fé e perseverante em confessar o Senhor mesmo diante do perigo de perder a sua própria vida.
Mas Pedro não havia aprendido esta lição, e teria que passar por ela de uma maneira muito dolorosa, para que jamais confiasse na carne.  
Afetos, sentimentos, emoções, vontade, tudo isto faz parte da alma e não do espírito.
Portanto, nada tem a ver com o amor sobrenatural de Deus que é fruto do Espírito e que é gerado no nosso espírito.
Pedro deveria aprender a andar no Espírito, e a não confiar na carne, isto é, pelo seu ego (alma).
É somente estando fortalecido no Espírito, pela graça do Senhor que podemos cumprir o novo mandamento que Ele nos deixou.
Por isso quando o Senhor restaurou Pedro depois de tê-lo negado, perguntando-lhe também por três vezes se ele O amava, no grego, ele usou a palavra ágape (amor divino) nas duas primeiras vezes, e como Pedro respondeu com a palavra filéo (amor de amizade natural), Jesus usou esta palavra “filéo” na última pergunta que fez, e Pedro tornou a responder em sua insegurança também com “filéo”, porque não estava certo ainda de possuir o amor divino.
Jesus queria demonstrar a Pedro, que importa ser amado com o amor espiritual, celestial e divino, e não com o amor natural que é resultante de nossos afetos naturais, porque não O conhecemos mais segundo a carne, mas segundo o espírito.







João 14

As Moradas Eternas Celestiais - João 14

“1 Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim.
2 Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar.
3 E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também.”. (João 14.1-3)

Com o passar do tempo, no conhecimento de Cristo, descobrimos que a nossa alegria se fundamenta nem tanto por sermos livrados de nossas tribulações, mas por continuarmos a ter a aprovação e a companhia do nosso único e melhor amigo, a saber, o próprio Senhor.
Por isso a expectativa de serem separados de Cristo fez com que a tristeza penetrasse o coração dos seus discípulos.
Mas, como nada escapa do conhecimento de Jesus, ele percebeu o quanto estavam tristes, e lhes dirigiu palavras para reanimá-los, de maneira que entendessem que não havia motivo para se entristecerem com a Sua partida, senão de alegria, porque afinal não os abandonaria, e além disso, lhes enviaria o Espírito Santo como cumprimento da promessa feita por Deus a todos aqueles que se unissem ao Seu Filho.
Muitas coisas concorreram para a tristeza que os discípulos estavam sentindo:
(1) Jesus lhes havia contado há pouco o abandono que ele deveria receber de alguns deles, e isto entristeceu a todos.
Pedro, sem nenhuma dúvida, deveria estar muito triste com o que Cristo lhe disse, e todos os demais sentiram muito por ele e por eles também.
Mas o Senhor os confortou acerca disso.
(2) Jesus tinha lhes contado há pouco sobre a sua própria partida, e que isto ocorreria debaixo de uma densa nuvem de sofrimentos.
Eles O veriam brevemente debaixo de sofrimentos que O conduziriam até a morte; e esta espada atravessaria a própria alma deles, porque muito o amavam e haviam deixado tudo para segui-Lo.
Quando contemplarmos Cristo traspassado pelos nossos pecados, nós não podemos deixar de lamentar com tristeza, entretanto nós vemos o fruto glorioso que decorre destes sofrimentos de Jesus por nós.
Mas eles não podiam ainda compreender isto o tanto quanto nós o compreendemos, e como viriam a compreender depois, conforme as próprias palavras que o Senhor lhes dirigiu quanto à instrução que receberiam do Espírito Santo.
Eles não compreendiam ainda a natureza do reino do Messias, e pensavam que o Senhor logo livraria a nação do domínio dos romanos e restauraria o reino de Israel com a mesma glória, e ainda maior do que a que possuía nos dias de Davi e Salomão.
Todavia, agora, Ele deixaria o mundo nas mesmas circunstâncias de maldade e pobreza nas quais eles tinham vivido, e pior, eles se sentem totalmente derrotados.
Assim, se sentiam tristemente abandonados, frustrados e expostos.
Eles souberam por experiência que nada podiam fazer sem o Mestre deles.
Mas não sabiam ainda que nosso triunfo deve ser neste mundo, mas não para este mundo.
Deste modo, não há realmente motivo para tristeza se somos fracassados nas coisas que dizem respeito a esta vida.
Contudo, Jesus lhes disse que não deixassem apesar de todos estes pensamentos e sentimentos, que o coração deles ficasse turbado.
O verbo usado no grego para turbar é “tarasso”, que significa ficar inquietado, ansioso, angustiado, perturbado, por temores e dúvidas.
Em outras palavras, Ele estava lhes dizendo que não deixassem seus corações ficarem tristes por causa das aflições.
Conforme diziam os puritanos: Embora a nação e a cidade estejam turbadas, ou sua igreja, ou sua família, contudo não deixe seu coração ficar turbado. Mantenha a posse e controle de sua própria alma, quando você não puder ter a posse e o controle de nada mais.
 O coração é a principal fonte de tudo o que você faz; por isso você deve mantê-lo firme com toda diligência em toda e qualquer dificuldade.
É o espírito que tem que sustentar a fraqueza, portanto, não permita que ele seja ferido.
Somos discípulos de Cristo, fomos escolhidos, resgatados e santificados por Ele, e embora outros possam ser vencidos com tristezas deste tempo presente, não permitamos que se dê o mesmo conosco, porque aqueles que têm a promessa de habitarem para sempre em Sião com o Seu Rei, não têm motivo para se deixarem vencer pela tristeza, seja ela de qual ordem for.
Até mesmo a tristeza pelo pecado pode ser resolvida pelo arrependimento e confissão, de maneira que se viva debaixo do mandamento de se estar sempre alegre em Cristo.
O remédio que Jesus prescreveu aos discípulos para vencerem o tremor de seus corações, é o mesmo que temos que tomar, a saber, a fé em Deus.
Ele lhes disse que cressem no pai e que cressem também nEle.
Creia na providência de Deus e creia na mediação de Cristo.
Construa sua confiança nos grandes princípios revelados na Palavra, especialmente nas promessas que Deus nos deu pelo Filho.
Deus é santo, sábio, poderoso e bom, e governa todas as coisas, e não há nenhum evento fora do Seu controle.
É do agrado de Deus que aprendamos a descansar nEle em meio às nossas dificuldades em plena confiança, com fé inabalável na Sua providência e cuidado.
Isto lhe traz grande honra e glória, e este é um dos motivos pelos quais permite que passemos por aflições neste mundo.
Se fôssemos deixados aos nossos próprios recursos, teríamos então motivo para ficar abatidos e entristecidos, mas tendo a promessa de que nunca seríamos abandonados por Deus, por sermos Seus filhos, a recusa de lhe dar louvor e glória mesmo nas aflições, é uma grande ingratidão e prova de incredulidade, que muito o desonra.
Crer no Pai e no Filho é o melhor remédio para curar o coração aflito. Ficar firme na fé em nada duvidando de que o Senhor está ao nosso lado controlando a medida da nossa aflição, e fará com que permaneçamos na esperança e no amor de Deus e este é o único e o melhor remédio na hora da tribulação.
A promessa para o justo é que viverá pela fé.
A vida eterna de Cristo saltará em toda e qualquer circunstância, a vida abundante que Ele nos dá, quando nos mantemos firmes na fé na providência do Pai e na Sua mediação como nosso Sumo Sacerdote e Advogado à direita do Pai.
A fé é direcionada para o céu, para as moradas celestiais que o Senhor foi preparar para nós.
Ela não está ancorada em nada deste mundo que passará, mas no céu e nas coisas que não podem ser abaladas ou removidas.
A nossa fé em Cristo não é somente para esta vida. É muito mais para a vida ainda por se revelar em nós no por vir.
“Se é só para esta vida que esperamos em Cristo, somos de todos os homens os mais dignos de lástima.” (I Cor 15.19).
É com a promessa da vida eterna da qual estamos tomando posse pela fé que devemos nos encorajar mutuamente em todas as nossas aflições.
Há muitas mansões celestiais preparadas pelo próprio Cristo para receber os que são seus, depois de terem triunfado pela fé sobre todas as tribulações deste mundo (v. 2).
A felicidade eterna do céu é representada por muitas mansões na casa do Pai.
O céu é uma casa, não uma tenda, é uma casa não feita por mãos humanas.
Era para a casa do Pai que Cristo estaria subindo agora, como o irmão primogênito de todos os verdadeiros cristãos, os quais serão bem-vindos na mesma morada, depois de terem deixado este mundo: a casa do Rei dos reis e Senhor dos senhores, que habita na luz inacessível, que habita na eternidade.
Há habitações distintas reservadas para cada um dos filhos de Deus.
Jesus poderia ter omitido a existência das mansões do céu, mas para confortar os discípulos lhes fez esta revelação agora, dizendo-lhes que caso não fosse assim Ele lhes teria dito, entretanto, como tudo o que lhes havia dito até  então era verdadeiro, seria impossível que lhes estivesse mentindo agora, porque Ele mesmo é a Verdade.
Com este “se não fosse assim” o Senhor quis deixar bem claro para eles e para todos nós, seus discípulos, que não estava falando de alegorias ou figuras, mas de realidades que desfrutaremos no tempo apropriado.
Com esta promessa Jesus estava mostrando aos discípulos que não foi em vão que eles haviam abandonado tudo para segui-lO. A esperança deles não seria frustrada, e a recompensa da fidelidade seria dada com certeza absoluta.
Ele tinha que deixar este mundo e subir ao céu para afiançar o direito que havia conquistado para nós como nosso Advogado.
Ele entraria como nosso precursor na posse da nossa herança comum.
O homem não foi criado para pertencer ao mundo, mas ao céu.
Estamos aqui de passagem, como peregrinos e forasteiros.
A promessa feita por Jesus no verso 3: “virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também”, é uma referência ao arrebatamento da Igreja, quando se completará plenamente a promessa de estar toda a família reunida no céu, e quando os que morreram em Cristo terão seus corpos ressuscitados, transformados em corpos glorificados, para o encontro com Ele entre nuvens, dando-se cumprimento à promessa feita aos que Lhe pertencem.
Muitas Escrituras falam do retorno de Cristo para o estabelecimento do reino de Deus em sua forma final (Fp 1.23; 4.5; Tg 5.8; I Tes 4.17; II Tes 2.1; João 17.24; etc).


Jesus É o Caminho para a Verdade e a Vida Eterna - João 14

“4 Mesmo vós sabeis para onde vou, e conheceis o caminho.
5 Disse-lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho?
6 Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.
7 Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai; e já desde agora o conheceis, e o tendes visto.
8 Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, o que nos basta.
9 Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai?
10 Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras.
11 Crede-me que estou no Pai, e o Pai em mim; crede-me, ao menos, por causa das mesmas obras.” (João 14.4-11)

As declarações feitas por Jesus nos versos 1 a 3, seguidas da afirmação feita no verso 4 de que os discípulos sabiam para onde Ele iria e que conheciam o caminho para lá, deram ocasião a que dois dos seus discípulos lhe abordassem com indagações e dúvidas.
O primeiro foi Tomé que afirmou não conhecer nem sequer o lugar para onde Ele ia, e muito menos poderia conhecer o caminho, numa contradição direta ao que Jesus havia afirmado de que eles conheciam tanto o lugar quanto o caminho.
Como eles estavam sonhando com um reino terreno a ser estabelecido pelo Senhor, não seria de se estranhar que não soubessem para onde Ele iria.
Apesar de lhes ter falado várias vezes sobre o céu, e o reino comum que teriam com Ele na presença do Pai, estavam endurecidos e não podiam entender as realidades espirituais que podem ser discernidas somente espiritualmente.
Não se trata de se ter uma idéia sobre o céu, mas de experimentar as realidades celestiais em espírito.
A proposta de Deus para a Igreja através de Cristo é vida eterna, e esta vida está no próprio Cristo, e é somente por se estar nEle que podemos ser achados no caminho para o céu, porque Ele próprio é também o caminho, e não há nenhuma incerteza quanto a isto, porque tudo o que Ele diz e promete é verdadeiro, porque Ele próprio é também a verdade.
Todas estas coisas são testificadas pelo Espírito Santo que habita nos cristãos.
É somente por meio da testificação do Espírito Santo que podemos discernir estas realidades celestiais, como também ter a plena certeza da esperança da participação delas, pelo antegozo do céu, que o Espírito nos propicia ainda neste mundo.
Por isso Jesus disse a Tomé, apesar dele tê-Lo contraditado, que Ele é o caminho, e a verdade e a vida.
A afirmação de Jesus está cheia de significado, porque sendo o caminho, Ele é o princípio; sendo a verdade, Ele é o meio; e sendo a vida, Ele é o fim.
Em outras palavras: só podemos estar caminhando na direção do céu se nos unirmos a Ele, e esta união tem o seu meio e o modo, a saber, estarmos na verdade, assim como Ele é a verdade, e finalmente, o objetivo desta união com Cristo e deste viver na verdade atinge a sua meta que é a vida eterna com Deus.
Somente a doutrina de Cristo é a única verdadeira em relação ao significado da nossa vida e do seu destino eterno.
Somente o Seu ensino sobre o modo de se agradar a Deus e do modo de ser livrado da condenação eterna é verdadeiro.
Por isso todo ensino que não se conforma à doutrina de Cristo, é erro, engano, falsidade e desviará a qualquer que se deixe guiar por tais doutrinas à perdição eterna, ou então fará que tal pessoa caminhe longe do caminho do céu.
Sendo o próprio Cristo o caminho, e a verdade e a vida, é a presença dEle em nós que faz toda a diferença.
Não importa tanto, o que eu creia, porque se Cristo não permanece em mim e eu nEle, terei errado o alvo proposto por Deus para mim.
É a própria participação da Sua vida que nos santifica, e isto é verdadeiro nas palavras proferidas pelo apóstolo Paulo de que não vivia mais ele, mas Cristo era a sua vida.
Daí a necessidade da autonegação determinada por Jesus a todos os que desejarem ser verdadeiramente seus discípulos.
Eles terão que abandonar o governo de suas vidas para que Cristo assuma o comando.
Onde e em quem isto não estiver ocorrendo, terá sido perdido o caminho, e se entrado por um atalho de perdição. Por isso precisamos aprender a verdade como está em Jesus (II Cor 1.20).  
Por isso Jesus disse que ninguém pode ir ao Pai senão por Ele.
É somente Ele, pelo Seu sacrifício, que pode nos aproximar do trono da graça, ao qual nos é ordenado que nos aproximemos continuamente.
Afinal, fomos criados para estar permanentemente na presença de Deus.
Quando Caim saiu da presença de Deus, saiu para a morte espiritual eterna, e para viver no pecado.
Afastar-se do Caminho que é Cristo, sem estar nEle em todo o tempo, sem permanecer nEle, conforme é da vontade do Pai, significa morte espiritual e viver no pecado.
Por isso nos é ordenado na Palavra que nos aproximemos do Santo dos Santos, onde está o trono da graça, com um coração puro e sincero, mas não por outro, mas pelo único e vivo caminho que Jesus abriu para nós pela Sua própria carne (Hb 10.19-22).
Não há outro Mediador entre Deus e os homens, e nem mesmo poderia haver, por tudo que se exige do Mediador, quanto ao trabalho de unir a parte ofendida (Deus) à parte ofensora (o pecador), de maneira que a parte ofendida pudesse ficar plenamente satisfeita, pelo trabalho tanto de expiação da culpa quanto da transformação dos ofensores na essência mesma da natureza deles, de maneira que não sejam mais achados como transgressores da lei e da vontade de Deus.
Jesus fala do Pai como o fim tanto da nossa vida quanto do Seu trabalho (v. 7).
Todo nosso relacionamento com Ele tem por fim último a glória do Pai, e o Seu inteiro agrado.
Ele afirmou que caso os discípulos Lhe tivessem conhecido corretamente, e a Sua missão, eles também teriam conhecido ao Pai, porque afinal, tudo o que Ele fez não foi por sua própria e exclusiva conta, mas para cumprir o mandado do Pai de dar vida eterna aos que nEle cressem.
Assim a Sua doutrina que lhes havia ensinado não era propriamente dEle, mas do Pai que Lhe havia enviado ao mundo para salvar os pecadores.
Por isso podia afirmar que os discípulos desde que estiveram com Ele, tiveram a oportunidade de conhecer o Pai, porque quem via a Ele, Jesus, via o Pai.
Filipe esteve tanto tempo com Jesus e não havia feito grande progresso no conhecimento adequado que deveria ter feito dEle.
Não que Jesus não soubesse da dificuldade deles para conhecê-lo, e não somente Filipe, mas a repreensão passada em Filipe serve para nos advertir que é possível ser cristão, ter a habitação do Espírito, e fazer muito pouco progresso na fé, no conhecimento de Jesus pelo crescimento na graça.
É preciso diligência, aplicação nos deveres ordenados na Palavra, meditação na Palavra de Deus, de maneira que possamos ter uma compreensão cada vez maior das realidades celestiais, espirituais e divinas.



Obras Maiores do Que as do Ministério Terreno de Jesus - João 14

“12 Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai.
13 E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho.
14 Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei.” (João 14.12-14)

Nosso Senhor não somente continuou confortando os discípulos, como também lhes revelou  que para que tivessem poder suficiente para dar prosseguimento à obra para a qual haviam sido designados, era necessário que Ele morresse na cruz, ressuscitasse e partisse para a presença do Pai, de maneira que pela inteira aceitação da Sua obra feita em favor dos pecadores, a promessa do derramamento do Espírito Santo sobre todas as nações, conforme prometido desde Abraão, pudesse ser cumprida por Deus.
Os Seus discípulos seriam revestidos com poderes e dons espírituais suficientes para ampliarem a obra de evangelização, que havia sido iniciada pelo Mestre deles.
Assim, obteriam maiores vitórias pelo evangelho do que as que tinham sido obtidas por Cristo, enquanto Ele estava na terra.
Agora, nenhuma destas obras seria feita sem que  fossem humildes suplicantes a Deus em nome de Cristo.
Não seria por causa deles, mas por causa da obra e dos méritos de Jesus.
Não seria pelo próprio poder deles, mas pelo poder do Espírito Santo, como resposta às suas súplicas humildes a Deus.
Deve ser assim, porque tudo que a Igreja fizer deve ser para a glória de Deus e não para a glória dos homens, então todo o trabalho deve ter a marca da realização do próprio Deus.
Daí a razão de Jesus ter instruído os seus discípulos dizendo-lhes:
 “13 E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho.
14 Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei.”
Este “eu o farei” não significa que qualquer coisa que seja pedida será atendida, mas que tudo o que for efetivamente feito na Igreja como resposta de oração em nome de Cristo, terá sido feito de fato por Ele, e não pelos próprios cristãos, de maneira que, como dissemos antes, o propósito do Pai ser glorificado no Filho, possa ser cumprido.


Quem Ama a Cristo Guarda os Seus Mandamentos - João 14

“15 Se me amais, guardai os meus mandamentos.
16 E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre;
17 O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós.” (João 14.15-17)

Aqui nestes versículos, Jesus revelou quem seria o agente de todo o poder que seria derramado sobre os cristãos: o Espírito Santo.
Ele não seria um mero poder ou influência, mas um companheiro, um advogado, um “paracleto”, um consolador, que estaria unido aos discípulos habitando neles, e não estando apenas com eles.
Ele diz outro Consolador que seria dado pelo Pai, porque Ele, o próprio Jesus foi o primeiro Consolador enviado ao mundo pelo Pai.
Seria um Consolador conforme Ele foi com eles, porque é a terceira pessoa da Trindade, o mesmo Deus, único e verdadeiro, que existe em três pessoas, a saber, o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
A promessa do envio do Espírito Santo, como Consolador, foi vinculada por Jesus ao ato de os discípulos comprovarem seu amor por Ele, guardando os Seus mandamentos (v. 15), isto é, pela santificação de suas vidas pela Palavra que lhes havia ensinado e pregado.
O Espírito Santo seria derramado sobre os que haviam crido nEle no dia de Pentecostes, depois deles terem permanecido em oração unânime durante 40 dias.
Na verdade o Espírito, no Seu trabalho de Consolador, não pode consolar em comunhão espiritual, os espíritos daqueles que não foram por Ele regenerados (nascidos de novo do alto).
Primeiro Ele regenera e santifica e depois consola, porque não pode fortalecer a quem vive deliberadamente na prática do pecado.
Ele é um Consolador, bondoso, amigo, fiel, incansável, perdoador, mas somente daqueles que se aproximam de Deus com um coração sincero, reconhecendo-se pecadores e necessitados de serem lavados de seus pecados.
Isto pode ser depreendido das palavras de Jesus no verso 17 de que o mundo não pode receber o Espírito Santo.
Isto não quer significar que pessoas que estão no mundo não possam chegar ao arrependimento e ao recebimento do Espírito como um dom de Deus, mas que aqueles que continuam amando o mundo de pecado estão impossibilitados de receberem o Espírito Santo, porque Ele é dado somente àqueles que se arrependem do pecado.
Jesus não queria que os discípulos demonstrassem o amor deles por Ele entristecendo-se com o fato da Sua partida, mas guardando os Seus mandamentos.
Não é com manifestações sentimentais e emocionais que demonstramos o quanto amamos a Jesus, mas com demonstrações vigorosas de obediência aos Seus mandamentos.
Antes de encerrarmos esta seção devemos registrar, que o Espírito Santo é derramado como dom pelo Pai, mediante intercessão de Jesus, porque Ele disse claramente que o Espírito Santo seria enviado pelo Pai por causa da Sua intercessão.



Amamos o Jesus Invisível - João 14

“18 Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós.
19 Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais, mas vós me vereis; porque eu vivo, e vós vivereis.
20 Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós.
21 Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.
22 Disse-lhe Judas (não o Iscariotes): Senhor, de onde vem que te hás de manifestar a nós, e não ao mundo?
23 Jesus respondeu, e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada.
24 Quem não me ama não guarda as minhas palavras; ora, a palavra que ouvistes não é minha, mas do Pai que me enviou.” (João 14.18-24)

Jesus amava Seus discípulos e eles O amavam em genuína amizade.
A presença dEle entre eles era toda a alegria de suas vidas.
Então, assim como quando amigos de verdade se separam por um período em razão de um afastamento que lhes é imposto, sempre há a preocupação de que continuem se comunicando, dando notícias um ao outro de como têm passado.
Por isso, apesar da promessa de lhes enviar outro Consolador, Jesus lhes prometeu que Ele voltaria a ter com eles, e começa a lhes mostrar agora qual seria o tipo de relacionamento que teriam com Ele.
Não seria mais um relacionamento segundo a carne, mas segundo o espírito.
Isto é, Ele permaneceria invisível a eles, mas seria a pessoa mais real na existência deles, porque se lhes manifestaria permanentemente, e por seu turno, se ocupariam em todo o tempo com a Sua presença e vontade em seus pensamentos.
Eles tinham a Sua Palavra, os Seus mandamentos para guardarem e pregarem e ensinarem ao mundo.
O Senhor continuaria operando entre eles, só que dali por diante em espírito, e não mais estando presente num corpo de carne e osso como o deles.
Por isso o apóstolo Paulo diz o que lemos em II Cor 5.16.
“Assim que daqui por diante a ninguém conhecemos segundo a carne, e, ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo.”  (II Cor 5.16).
Pedro fala do que Cristo que não vemos, mas que nós amamos:
“Ao qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso;”  (I Pe 1.8).
Ele é invisível, mas é real. É pessoal. É amado. É companheiro. É amigo sempre presente, que se manifesta a nós em espírito.
Assim, é também em espírito que devemos ter comunhão com Ele, com o Pai, com o Espírito Santo, e uns com os outros.
Este conhecimento espiritual é invisível, mas é mais fundamentado, estruturado, duradouro do que o conhecimento do que se vê com os olhos, porque além da ilusão de ótica, há a ilusão de julgamento.
Mas o conhecimento que é pelo Espírito e no espírito, é verdadeiro e permanente, e não há nele, nenhum engano.
Daí, o motivo de Deus, sendo a verdade e verdadeiro, relacionar-se sempre conosco em espírito, e por isso se diz que Ele busca adoradores que o adorem em espírito e em verdade.
Para ser em verdade deve ser em espírito.
Para ser em espírito, deve ser em verdade, porque o Espírito Santo é Espírito de verdade, e não opera e jamais operará mediante o que é falso ou que não se conforme à verdade revelada por Deus.
Ele nunca colocará a Sua chancela divina no que for falso, mas somente no que for verdadeiro.
Por isso se exige um coração, reto, puro, sincero, verdadeiro, na adoração a Deus, porque Ele rejeitará todo espírito que não apresentar tais atributos, porque Deus é perfeitamente santo e justo, e não pode compactuar com a falta de retidão.
Não é nada surpreendente que Jesus tenha dito que os que têm corações puros são bem-aventurados, porque é por esta condição de pureza de coração que poderão ver a Deus.
Nenhum cristão é órfão porque tem ao próprio Deus por Pai (v. 18) e Jesus tem feito a promessa de manter esta paternidade por causa da obra que fez em nosso favor de maneira que pudéssemos ser adotados como filhos de Deus para sempre.
E, se ser órfão é perder a paternidade para sempre, ficando sem pai no mundo, no caso do cristão, Jesus garantiu que isto jamais ocorreria, porque por meio dEle, Deus será para sempre o nosso Pai.
É por isso que ainda que um cristão possa estar triste por um breve tempo, contristado pelas tribulações que forem necessárias ao seu aperfeiçoamento, no entanto ele nunca está sem conforto, porque nunca estará órfão, porque tem a Deus por Pai perpetuamente.
O próprio Jesus seria retirado dos discípulos em Seu ministério terreno, por causa da Sua breve ausência entre o período da Sua morte e ressurreição, mas depois disto, estaria para sempre com eles e com todos os que viessem a crer depois deles até a consumação dos séculos.
Isto significa, que jamais seremos desamparados por Ele em nossa jornada terrena. Ele prometeu estar sempre ao nosso lado assistindo-nos em nossas aflições neste mundo.
O modo de garantirmos Sua presença conosco, do Pai e do Espírito Santo, é guardando a Sua Palavra, conforme Ele declarou aos discípulos nesta seção do capítulo que estamos comentando (v. 21 a 23).
Esta é também a única maneira segura de garantirmos a manifestação da Sua presença em nós e entre nós, a saber, guardando os Seus mandamentos.
Aqueles cristãos que não honram a Palavra do Senhor e que não se esforçam em diligência para conhecê-la e cumpri-la, não deveriam ficar surpreendidos com o fato de o Senhor deles se manifestar em Suas vidas, não em confortos e consolações, mas em correções disciplinadoras da desobediência deles.
Como podem aqueles que conhecem a Cristo agirem como aqueles que não O conhecem e não O Amam?
E qual foi a característica destacada por Jesus quanto àqueles que não O conhecem e que não O amam? Não é exatamente por não guardarem a Sua Palavra? (v.24)
E como ousariam os verdadeiros cristãos desprezarem a Palavra do Senhor, sabendo o quanto Ele a preza, e o quanto ela é fundamental para a santificação deles? (João 17.17).


A Paz Eterna - João 14

“25 Tenho-vos dito isto, estando convosco.
26 Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.
27 Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.” (João 14.25-27)

Os discípulos seriam confrontados pelo vento forte da tribulação ao verem não muito depois de estarem ouvindo este discurso de Jesus, o Mestre deles sendo duramente escarnecido e maltratado pelos homens até a morte de cruz, então, com o intuito de fortalecê-los para aquela hora, Jesus prosseguiu lhes confortando com estas palavras, e aqui Ele destaca o fato de que o Espírito Santo que lhes seria enviado pelo Pai, em Seu nome, lhes ensinaria todas as coisas e lhes faria recordar tudo quanto havia dito.
Além disso, lhes deixou como promessa o recebimento da Sua paz em meio a todas as aflições que sofreriam neste mundo, e por isso não deveriam ficar com seus corações turbados, nem atemorizados.
O legado que Jesus deixou para os seus discípulos quando saísse deste mundo não seria ouro e prata, mas a Sua paz.
Sobretudo a paz da reconciliação com Deus que alcançamos por meio da justificação que é pela fé no nome de Jesus (Rom 5.1).
Mas daí também decorre uma tranquilidade de mente pela certeza da nossa justificação diante de Deus. Foi Jesus que adquiriu esta paz para nós.
Assim, o próprio Jesus se tornou da parte de Deus para nós a nossa paz (Ef 2.14). Aqui Ele justificou o título que lhe foi dado pelo profeta Isaías de Príncipe da Paz (Is 9.6).
Esta paz de Cristo é um legado que somente podem receber aqueles que são filhos da paz, porque demanda a reconciliação do pecador com Deus, de maneira a ser livrado da Sua ira que repousa sobre todo aquele que não foi justificado do pecado.
É possível que até aquele momento, os discípulos não estivessem devidamente seguros da profundidade da bênção que seria conquistada por Cristo para eles com a Sua morte que ocorreria não muito depois de ter lhes falado tais coisas.
 Para lhes ajudar no entendimento desta preciosa bênção da paz espiritual e eterna, pelo livramento absoluto do juízo de condenação divino, Jesus disse que esta paz que estava dando como legado não era como a paz do mundo, que significa ausência de problemas e tribulações.
Há uma falsa paz passageira que até mesmo o dinheiro pode comprar. Mas uma vez que a pessoa sair deste mundo, se não tiver a Cristo como Seu Salvador, terá que enfrentar a ira de Deus no Juízo.
Deste modo, o coração do cristão não deve ficar turbado nem atemorizado por qualquer mal que lhe possa ameaçar, porque todo cristão verdadeiro já foi livrado do poder do mal por Cristo, bem como da condenação eterna, por causa dos seus pecados.



O Caráter da Submissão Cristã João 14

“28 Ouvistes que eu vos disse: Vou, e venho para vós. Se me amásseis, certamente exultaríeis porque eu disse: Vou para o Pai; porque meu Pai é maior do que eu.
29 Eu vo-lo disse agora antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós acrediteis.
30 Já não falarei muito convosco, porque se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em mim;
31 Mas é para que o mundo saiba que eu amo o Pai, e que faço como o Pai me mandou. Levantai-vos, vamo-nos daqui.” (João 14.28-31)

Jesus iria para o Pai. Ele retomaria a glória que tinha com Ele desde antes da fundação do mundo.
Os discípulos deveriam exultar com isto em vez de se entristecerem, sobretudo porque Jesus lhes prometeu que voltaria a estar com eles novamente, como vimos antes, em espírito.
É certo que Ele esteve com eles pelo espaço de quarenta dias depois da Sua ressurreição, mas lhes aparecia ocasionalmente, e certamente a referência de que voltaria a estar com os discípulos aponta para a Sua manifestação espiritual àqueles que obedecem aos Seus mandamentos.
Jesus estava lhes passando todas estas informações antecipadamente para que pudessem reforçar a sua fé nEle.
Afinal tudo o que havia predito quanto à forma como sairia deste mundo de fato aconteceu, tal como  havia falado aos seus discípulos.
O propósito disto, como afirmou, não foi somente para consolá-los na tristeza, mas para confirmá-los na fé.
Ao afirmar no final do verso 28 que o motivo da alegria dos discípulos com a Sua ida para o Pai consistia no fato de ser o Pai maior do que Ele, significa que apesar da Sua própria divindade em semelhança em essência em tudo com o Pai, na Trindade, tanto o Filho quanto o Espírito Santo são submissos voluntariamente à vontade do Pai.
Jesus declarou várias vezes que todo o Seu prazer era fazer a vontade do Pai.
Há na própria Trindade um belo exemplo da submissão que é exigida dos cristãos.
 O princípio do verdadeiro amor é submissão.
Onde há o desejo de prevalecer sobre o outro já não pode mais existir o amor.
A natureza do amor mesma chama por esta submissão implícita, este desejo de ouvir, atender e servir ao outro.
E nisto Jesus nos deixou um exemplo perfeito do caráter desta obediência em amor.
Estamos muito acostumados a ver submissão pelo modelo autoritário que há no mundo, mas a submissão em amor nada tem a ver com isto, e a este respeito Jesus havia alertado os discípulos que aquele que quisesse ser o maior entre eles, deveria ser o servo de todos.
A grandeza do reino dos céus está em se fazer pequeno diante de seus próprios olhos, perante aqueles que devemos nos colocar numa posição de serviço.
O argumento de Jesus aos discípulos, de que deveriam exultar com o fato de estar indo para o Pai, que era maior do que Ele, baseava-se na afirmação de que havia uma relação verdadeiramente filial de amor familiar entre Ele e o Pai.
A sua ida para o Pai nesta condição tinha a ver com os próprios interesses dos discípulos, pela condição de serem também participantes da família de Deus.
Note as palavras de Jesus no verso 31:
“Mas é para que o mundo saiba que eu amo o Pai, e que faço como o Pai me mandou”.
Tamanha era a submissão de Jesus ao Pai, que foi revelado ao profeta Isaías que Ele se deleitaria no temor do Pai:
“E deleitar-se-á no temor do Senhor; e não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem repreenderá segundo o ouvir dos seus ouvidos.”  (Is 11.3).
É de tal ordem o prazer que o Pai sente em relação ao Filho por causa desta perfeita submissão em amor, que nós o vimos declarando isto toda vez que se referia a Ele, como por exemplo quando foi batizado por João Batista:
“E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.” (Mt 3.17)
E, noutra ocasião quando se dirigiu aos apóstolos quando estavam com Jesus no monte da transfiguração:
“E desceu uma nuvem que os cobriu com a sua sombra, e saiu da nuvem uma voz que dizia: Este é o meu filho amado; a ele ouvi.” (Mc 9.7).      
No verso 30, Jesus fez uma parada abrupta no seu discurso dizendo que já não falaria muito com os discípulos porque o príncipe deste mundo estava se aproximando, não para que ele tivesse a precedência em ser ouvido, ao contrário, porque ele não tinha nenhuma parte a ver com ele.
Aquela era a hora que foi concedida ao diabo para atuar não somente inspirando Judas a trair a Jesus, como fazendo todo o levante de injustiças que culminariam com a Sua morte na cruz.
O Espírito Santo, conforme Jesus havia prometido, conduziria os discípulos a toda a verdade e lhes lembraria tudo o que Ele lhes havia falado, razão porque não seria necessário tentar esgotar tudo o que eles precisavam ainda aprender sobre o Seu reino espiritual, e que melhor aprenderiam quando o Espírito fosse derramado no Pentecostes, passando a agir como um professor dentro deles.
A urgência daquela hora demandava a tomada de providências para que tudo acontecesse conforme havia sido planejado pelo Pai.
Jesus estava agindo estritamente debaixo deste planejamento e das ordens que recebia diretamente do Alto.
Bem fariam especialmente todos os Seus ministros de não darem um só passo que não tenha sido determinado por Ele, seguindo o próprio exemplo que Ele nos deixou em Seu ministério terreno.
Jesus provou o Seu amor pelo Pai fazendo somente aquilo que Ele lhe ordenava, e nós, pecadores, não raras vezes agimos presunçosamente, pensando que nos é dada a liberdade em nosso ministério de traçarmos os planos gerais de ação de tudo o que pretendemos fazer por nossa própria deliberação e conta.
Quão distantes ficamos do exemplo que Cristo nos deu quanto ao modo correto de se servir a Deus.
Todo ministério, toda obra que seja verdadeiramente de Deus, já está traçada por Ele, e a nós cabe tão somente fazer tudo de acordo com o que Ele tem determinado para nós.


Paulo aprendeu esta lição de andar segundo o passo de Deus nas experiências que ele teve em seu apostolado, como por exemplo quando intentou evangelizar a Bitínia, mas foi impedido de fazê-lo pelo Espírito Santo (At 16.7,8), e quando tentou evangelizar Jerusalém no início da sua conversão e foi repreendido por Jesus, porque não era ali a área que Deus havia demarcado para ele para realizar o seu ministério (At 22.18).







João 15

A União Vital com Cristo - João 15

“1 Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador.
2 Toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto.
3 Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado.
4 Estai em mim, e eu em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim.
5 Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.
6 Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem.
7 Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito.
8 Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos.” (João 15.1-8)

Nosso Senhor discursa relativamente ao fruto que os Seus discípulos deveriam produzir, usando a  ilustração de uma videira.
Jesus Cristo é a videira, a verdadeira videira.
A igreja que é o corpo de Cristo é uma videira. Cristo é a videira plantada no vinhedo, e não uma planta que nasce espontaneamente da terra; ao contrário, Ele foi plantado na terra, porque o Verbo se fez carne.
A videira é uma planta que é cultivada por propagação, e  por isso Cristo será conhecido como salvação até aos confins da terra.
O fruto da videira honra a Deus e dá alegria aos homens,  assim o fruto da mediação de Cristo é melhor que o ouro (Prov 8.19).
Ele é a verdadeira videira, porque o oposto à  verdade  é  a falsificação; e é somente nEle que podemos achar o fruto da verdade.
A fonte de vida, designada como videira, que é Cristo, produz a verdade que salva, e somente nEle podemos encontrar esta salvação verdadeira, pelo conhecimento da verdade que está nEle.
Os cristãos são os ramos desta videira da qual Cristo é a raiz.
A raiz é visível, e nossa vida está escondida com Cristo; a raiz desta árvore de vida eterna (Rom 9.18), que difunde seiva a todos os ramos da videira e que os tornam férteis e  frutíferos.
Todos os ramos, embora muitos se encontrem todos eles ligados à raiz. Assim Cristo é o centro da unidade de todos os cristãos.
O Pai é o agricultor.
Embora a terra seja do Senhor, ela não produziria nenhum fruto a menos que Deus a trabalhe.
É Deus quem cuida de todos os ramos da videira.
Ele os limpa por poda, e provê todos os meios necessários para que sejam frutíferos  (I  Cor 3.9; Is 5.1,2; 27.2,3).
Por isso devemos ser frutíferos, porque os ramos  estéreis (v 2) são lançados fora.
Há muitos que passam por ramos em Cristo, contudo não dão frutos; porque estão ligados a Ele apenas por uma profissão externa, e embora eles pareçam ser ramos, eles  logo secarão porque a seiva da videira não penetra no coração deles.
Estes ramos não honram a Deus porque não  podem  dar  fruto,  ao contrário trazem desonra ao Seu nome.
Por isso serão cortados como Judas.
Mas Deus limpará os ramos frutíferos pela poda para que produzam ainda mais fruto.
Note que a fertilidade adicional é a recompensa abençoada de uma vida fértil.
A quem tem mais se dará.
O que for fiel no pouco, sobre o muito será colocado.
A primeira bênção era ser frutífero; e ainda será uma bênção ainda maior, porque está  determinada uma fertilidade ainda maior para os que estão dando frutos, e para tanto será necessário que sejam podados, por se  lançar  fora aquilo que for supérfluo neles e que esteja atrapalhando a sua frutificação.
Pela poda serão renovados, de maneira a terem maior vigor e força para a frutificação.
Assim, na época apropriada o Pai tirará pela mortificação do Espírito e pela  Palavra, tudo aquilo que necessita ser limpo na vida destes cristãos frutíferos.
O Pai fará este trabalho como  agricultor  para  a Sua própria glória.
Os benefícios que os cristãos têm através da doutrina de Cristo, o poder pelo qual eles serão trabalhados para terem  um  bom testemunho numa vida frutífera será a própria Palavra de Cristo, que os limpou (v. 3).
A Palavra de Cristo é uma palavra distintiva que separa o precioso do vil, e foi por esta Palavra que Judas ficou separado dos demais apóstolos, porque  não  se  firmou nela.
É por esta Palavra que os cristãos são santificados (João 17.17). Esta Palavra é quem  purifica  os  nossos  corações  (At 15.9).
É pela Palavra que o Espírito refina os cristãos de toda escória do mundo e da carne, e remove deles todo fermento dos escribas e fariseus.
Quando a Palavra de Cristo habita ricamente no coração do cristão ele fica santificado por esta Palavra.
Seus pensamentos são direcionados para Deus, seus objetivos de vida são centrados em Cristo, a carnalidade e todo comportamento mundano são despojados, e o lugar deles é ocupado pelo revestimento das virtudes de Cristo, em pensamentos espirituais, celestiais e divinos.
O Espírito Santo se move num coração que está assim tomado pelo amor de Deus, e por sentimentos puros e elevados.
O contrário disto produz uma porta aberta para as operações do Inimigo, porque ele acha um repouso seguro num coração impuro que seja dominado pelo ódio, pela inveja, ciúme, sensualidade e toda forma de obra da carne.
Nós comprovamos que somos limpos pela Palavra, quando nós produzirmos fruto de santidade.
Nisto nosso Pai será glorificado.
Para sermos frutíferos nós temos que permanecer em Cristo.
Isto é um dever ordenado por Ele(v. 4).
Devemos permanecer (estar) em Cristo, em comunhão espiritual, para que Ele permaneça (esteja) em nós.
Veja que esta palavra foi dirigida aos que já eram cristãos.
Exige-se constância nesta permanência no Senhor para a frutificação.
Aqueles que são de Cristo têm que permanecer nEle. Ele nos convoca a estarmos nEle por fé, e Ele estará em  nós pelo Espírito.
Ele promete que da parte dEle nunca falhará nesta união, pois tem dito que permanecerá em nós caso permaneçamos  nEle.
Esta permanência será real na medida que tiver a evidência de estarmos cumprindo os mandamentos de Cristo, permanecendo na Sua  Palavra que será luz para os nossos pés em nossa caminhada neste mundo.
O ramo não pode ter vida separado da videira; de igual modo a vida espiritual que está em Cristo só pode ser experimentada se estivermos unidos a Ele permanentemente.
A necessidade de estar em Cristo tem a ver com a nossa fertilidade (v. 4, 5). Ele diz que sem Ele nada podemos fazer, mas se estivermos nEle e suas Palavras em nós, daremos muito fruto.
Aquele que é constante no exercício da fé e amor a Cristo, aquele que vive nas Suas promessas e é dirigido pelo Seu  Espírito, dará muito fruto, e será muito útil à glória de Deus.
Há conseqüências fatais em abandonar a Cristo (v. 6):
"Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem."
Aqueles que pensam erroneamente  que  não têm nenhuma necessidade de Cristo serão por fim também rejeitados por Ele.
Mas há um privilégio abençoado para aqueles que frutificam em Cristo (v. 7):
"Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras  estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito."
Como nossa união com Cristo é mantida pela Palavra, onde estiver a Palavra de Cristo ali Ele habitará.
Como nossa comunhão com Cristo é mantida através da oração: Você pedirá o que quiser e lhe será feito. Não há risco de pedirmos o que não seja segundo a vontade de Deus quando se está numa comunhão real e verdadeira com o Senhor porque tudo o que sair da nossa boca estará debaixo da instrução e direção do Espírito Santo, que na verdade é quem intercede por nós, pois não há verdadeira oração que não seja no poder do Espírito (Ef 6.18).
Se o Senhor é o nosso deleite, a nossa alegria, o nosso agrado, todo desejo carnal dará lugar a desejos santos e aprovados por Deus.
Se nós estivermos em Cristo, numa verdadeira e íntima comunhão com Ele, guardando a Sua Palavra, nada lhe pediremos, que seja fruto de desejos interesseiros, egoístas, carnais, senão o que é bom para edificação.
Buscaremos como Ele nos  tem  ordenado  o reino de Deus e a Sua justiça e tudo o mais nos será acrescentado.
Estas coisas acrescentadas não precisam ser  buscadas  porque Ele tem prometido que as acrescentará se buscarmos diligentemente os interesses de Deus e do Seu reino.



Amados e Amigos - João 15

“9 Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós; permanecei no meu amor.
10 Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor.
11 Tenho-vos dito isto, para que a minha alegria permaneça em vós, e a vossa alegria seja completa.
12 O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.
13 Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.
14 Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando.
15 Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer.
16 Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda.
17 Isto vos mando: Que vos ameis uns aos outros.” (João 15.9-17)

O Senhor revelou aos apóstolos, com estas palavras, qual é a maneira de permanecer no amor de Deus.
Ele mostrou que isto é possível somente quando se faz a vontade de Deus, por se honrar e guardar Seus mandamentos.
Muitos têm falhado na comunhão que deveriam ter com Deus e com seus irmãos, porque não consagram suas vidas ao Senhor, e assim não são despertados pelo Espírito Santo, para que possam conhecer ao Senhor e à Sua vontade.
Por isso é que se nos ordena que cresçamos na graça e no conhecimento de Jesus (II Pe 3.18), porque esta é a única maneira de sermos tomados de toda a plenitude do amor divino.
Sem esta capacitação espiritual que é recebida do Espírito Santo, quando nos consagramos nas mãos de Deus, para fazer a Sua vontade, é impossível viver e permanecer no Senhor e no Seu amor.
Assim, Ele foi muito claro em nos dizer que é necessário guardar os mandamentos de Deus para que se possa experimentar o Seu amor; porque o Senhor não manifestará a beleza da Sua intimidade e santidade àqueles que não Lhe honrarem, ainda que  tenham nascido de novo do Espírito.
Jesus havia dado Seu próprio exemplo aos apóstolos, em plena submissão à vontade do Pai, e era esta a razão dEle ser amado pelo Pai e de sempre exultar e se alegrar em espírito em Seu relacionamento com Ele.
É somente quando se vive neste amor e alegria espiritual, que somos capacitados pelo Espírito a darmos frutos espirituais para Deus, de maneira que Ele seja glorificado através das nossas vidas.
O caráter deste amor divino é de amizade paternal, dEle em relação a nós, e amizade fraternal, de nós em relação a nossos irmãos, e de amizade filial, de nós em relação a Deus.
Jesus demonstrou até que ponto esta amizade espiritual pode nos levar, a saber, a dar a nossa vida pelos irmãos, assim como Ele entregou a Sua vida por nós.
Ele não deu Sua vida por nós somente na cruz, mas no serviço amoroso e cuidadoso que tem por cada um dos Seus discípulos e que é demonstrado em manifestações reais das operações das Suas graças e bênçãos em nossas vidas.
O Senhor não nos trata como escravos, mas como amigos.
Ele nos revelou toda a verdade que está no seio do Pai.
Ele não age de maneira reservada com nenhum daqueles que guardam os Seus mandamentos.
Ao contrário, faz com que privem da Sua intimidade.
É pela nossa obediência ao Senhor que provamos a nossa amizade a Ele.
Na verdade é impossível estar em relação de amizade com Ele sem esta obediência que Lhe é devida em tudo.


Mal Rejeita o Bem - João 15

“18 Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim.
19 Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia.
20 Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu Senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa.
21 Mas tudo isto vos farão por causa do meu nome, porque não conhecem aquele que me enviou.
22 Se eu não viera, nem lhes houvera falado, não teriam pecado, mas agora não têm desculpa do seu pecado.
23 Aquele que me odeia, odeia também a meu Pai.
24 Se eu entre eles não fizesse tais obras, quais nenhum outro tem feito, não teriam pecado; mas agora, viram-nas e me odiaram a mim e a meu Pai.
25 Mas é para que se cumpra a palavra que está escrita na sua lei: Odiaram-me sem causa.” (João 15.18-25)

Jesus alertou Seus discípulos, que não deveriam se iludir esperando ser amados por aqueles que não amam a Deus e os Seus mandamentos.
Ao contrário, eles seriam odiados.
Mas aqueles que guardassem Seus mandamentos viveriam no Seu amor.
Assim, eles deveriam estar preparados em seu espírito, para sofrerem perseguições no mundo, assim como haviam Lhe perseguido antes deles.
O motivo desta perseguição seria exatamente a semelhança com Ele, por causa da pregação fiel da Palavra, que afirma a necessidade de arrependimento do pecado e fê nEle para a salvação.
A arrogância, o orgulho, a prepotência farisaicos, não somente recusam reconhecer esta verdade, como também, em muitos casos se opõem a ela, na vã tentativa de fazer calar a Palavra de Deus, a qual nunca foi, e jamais poderá ser detida, por qualquer poder, seja deste mundo, ou das potestades espirituais da maldade.
Satanás sempre se levantará em oposição a uma obra verdadeira de Deus, porque não lhe agrada nem um pouco perder pessoas, pela libertação de Cristo.


O Espírito Santo É Invencível João 15

“26 Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim.
27 E vós também testificareis, pois estivestes comigo desde o princípio.”. (João 15.26,27)

Os discípulos não deveriam ficar intimidados pelo ódio que receberiam do mundo, porque o Espírito Santo seria enviado para fortalecê-los e dar testemunho através deles.
Não seriam propriamente eles que pregariam, mas o Espírito que falaria por eles.
O Espírito capacitaria os discípulos a cumprirem a  missão de darem testemunho de Cristo; e por isso  deveriam aguardar na cidade orando, diariamente, até que fossem revestidos do poder do Espírito, o qual desceu sobre eles no dia de Pentecostes; e somente a partir de então saíram pregando o evangelho por toda a parte, começando de Jerusalém.
Assim é o Espírito Santo que manterá a causa de Cristo no mundo, apesar de toda oposição que possa ser feita ao evangelho.
A promessa do Senhor Jesus tem sido literalmente cumprida nestes dois mil  anos de história da Igreja, porque o Espírito Santo tem sustentando o testemunho do evangelho em todo o mundo, a par de todas as perseguições e oposições que os cristãos têm sofrido, inclusive até o ponto de muitos deles terem sido, e ainda estarem sendo martirizados.








João 16


Jesus Animando e Encorajando os Discípulos – Parte 1 - João 16

“1 Tenho vos dito estas coisas para que vos não escandalizeis.
2 Expulsar-vos-ão das sinagogas; vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus.
3 E isto vos farão, porque não conheceram ao Pai nem a mim.
4 Mas tenho-vos dito isto, a fim de que, quando chegar aquela hora, vos lembreis de que já vo-lo tinha dito. E eu não vos disse isto desde o princípio, porque estava convosco.
5 E agora vou para aquele que me enviou; e nenhum de vós me pergunta: Para onde vais?
6 Antes, porque isto vos tenho dito, o vosso coração se encheu de tristeza.
7 Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, quando eu for, vo-lo enviarei.
8 E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo.
9 Do pecado, porque não crêem em mim;
10 Da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais;
11 E do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado.
12 Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora.
13 Mas, quando vier aquele, o Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir.
14 Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar.
15 Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar.” (João 16.1-15)

Antes de fazer a oração intercessória do capítulo seguinte (cap 17), depois da qual se dirigiu para o jardim do Getsemâni, Jesus fez estas advertências finais aos discípulos, para que entendessem que as perseguições contra o evangelho não cessariam, ao contrário, elas se intensificariam muito, e eles deveriam ser  pacientes e perseverantes debaixo das aflições que sofreriam.
A história dos mártires, especialmente da Igreja Primitiva, nos primeiros trezentos anos da história da Igreja bem comprova a exatidão desta profecia de Jesus.
Muitos cristãos foram mortos pelos judeus, especialmente nos primeiros anos de existência da Igreja, e eles pensavam que estavam de fato fazendo um serviço para Deus, uma vez que consideravam o cristianismo como sendo uma perigosa heresia que visava destruir o judaísmo.
O Senhor alertou os discípulos; e o alerta que lhes foi dirigido se aplica aos cristãos de todas as épocas, para que não fiquem escandalizados com o fato de receberem por vezes o mal, como paga de todo o bem que fizerem às pessoas.
Apesar de o evangelho ter sido pregado no princípio nas sinagogas espalhadas por todo o mundo conhecido de então, assim que era detectado pelos judeus que era o nome de Jesus que estava sendo pregado; eles se levantavam em dura oposição e perseguição aos cristãos, a ponto de o apóstolo Paulo ter decidido pregar somente aos gentios, em face das duras perseguições que estava sofrendo da parte dos judeus.
Assim, todos os judeus que se convertiam ao cristianismo eram expulsos das sinagogas, e isto foi mais agravado na região da Judéia, especialmente em Jerusalém, por causa da influência dos sacerdotes, fariseus e escribas que se concentravam naquela região.
Jesus havia alertado os discípulos quanto a tudo isto, para que, quando acontecesse, eles não desistissem de pregar o evangelho em razão das perseguições que eles sofreriam (v. 4).
Os discípulos de Jesus não devem ficar ofendidos com a cruz.
A ofensa da cruz é uma tentação perigosa até mesmo para cristãos espirituais, porque poderão ser tentados a recuar na fé ou na obra de evangelização quando perceberem as fortes oposições que recebem da parte do mundo espiritual, capitaneadas pelo diabo.
Tempos de sofrimento são tempos de tentação.
O sofrimento é uma constante na vida daqueles que estão empenhados numa obra que seja verdadeiramente de Deus.
“Não temas o que hás de padecer. Eis que o Diabo está para lançar alguns de vós na prisão, para que sejais provados; e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida.”  (Apo 2.10).
O Senhor percebeu que em vez de ficarem estimulados, os discípulos se encheram de tristeza ao ouvirem as suas palavras, especialmente o fato de lhes ter dito que se retiraria deles para ir para junto do Pai.
Em vez de tristeza, isto deveria ser um motivo de grande alegria, porque se Ele não fosse para o Pai, o Espírito Santo não poderia ser derramado.
Se o Espírito não fosse derramado eles não teriam o poder espiritual necessário para cumprirem o ministério que havia sido designado a eles por Deus.
Eles deveriam ver o céu azul do outro lado da nuvem escura que sempre os acompanharia.
Jesus disse que iria voltar para o seio do Pai, e eles não manifestaram interesse em perguntar-lhe o motivo desta ida, e as coisas maravilhosas que diziam respeito a eles e que lhes seriam concedidas com a Sua partida para ser glorificado no céu, sendo a principal delas, o envio do Espírito Santo para ser um Consolador, amoroso, paciente e persistente em ajudá-los em suas fraquezas, bem como no aperfeiçoamento espiritual para estarem também habilitados para habitarem no mesmo céu para o qual Jesus estaria indo, depois de morrer na cruz  e ressuscitar.
Seria o Espírito Santo, e não propriamente eles quem convenceria o mundo do pecado, da justiça e do juízo.
O convencimento do pecado não consiste tanto na convicção das pessoas quanto às coisas erradas que elas pensam, falam e praticam, mas que o pecado prevalece onde não há a fé justificadora de Jesus.
A condição de incredulidade, de não se crer no Senhor para a salvação, é o problema básico do pecado, porque Deus está se revelando na dispensação do Espírito Santo, que é a da graça, longânimo para com todos os pecadores, estando disposto a perdoar-lhes todas as suas iniquidades e transgressões (Jer 31.31-35), tão somente por se unirem a Cristo pela fé.
A vida do próprio Cristo os purificará e santificará completamente, de maneira que sejam achados na glória, santos, perfeitos e inculpáveis.
O Espírito não somente convence o mundo revelando aos homens que eles são pecadores, como também convence o mundo de que Cristo é justo, e que somente Ele pode ser a nossa justiça diante de Deus, o que se comprova no fato dEle ter voltado para o seio do Pai em glória.
É o Espírito que nos dá este testemunho da justiça que há em Cristo; justiça esta que Ele tornou disponível para nós justificando-nos dos nossos pecados, quando nos arrependemos e cremos nEle.
A presença do Espírito no mundo tem desfeito as obras do diabo, por causa da sentença de despojamento que Ele recebeu da parte de Deus quando Cristo morreu na cruz.
As muitas coisas que Jesus tinha a dizer aos discípulos, especialmente aquelas relativas às particularidades deste trabalho do Espírito de convencimento do pecado, da justiça e do juízo, foram deixadas por Ele para serem ensinadas pelo próprio Espírito aos discípulos; porque, afinal o Espírito não falaria de si mesmo, e nem traria uma nova doutrina, senão para dar seguimento à missão de Cristo através dos cristãos.

Jesus Animando e Encorajando os Discípulos – Parte 2 - João 16

“16 Um pouco, e não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis; porquanto vou para o Pai.
17 Então alguns dos seus discípulos disseram uns aos outros: Que é isto que nos diz? Um pouco, e não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis; e: Porquanto vou para o Pai?
18 Diziam, pois: Que quer dizer isto: Um pouco? Não sabemos o que diz.
19 Conheceu, pois, Jesus que o queriam interrogar, e disse-lhes: Indagais entre vós acerca disto que disse: Um pouco, e não me vereis, e outra vez um pouco, e ver-me-eis?
20 Na verdade, na verdade vos digo que vós chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará, e vós estareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria.
21 A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pelo prazer de haver nascido um homem no mundo.
22 Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza; mas outra vez vos verei, e o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará.
23 E naquele dia nada me perguntareis. Na verdade, na verdade vos digo que tudo quanto pedirdes a meu Pai, em meu nome, ele vo-lo há de dar.
24 Até agora nada pedistes em meu nome; pedi, e recebereis, para que a vossa alegria se cumpra.
25 Disse-vos isto por parábolas; chega, porém, a hora em que não vos falarei mais por parábolas, mas abertamente vos falarei acerca do Pai.
26 Naquele dia pedireis em meu nome, e não vos digo que eu rogarei por vós ao Pai;
27 Pois o mesmo Pai vos ama, visto como vós me amastes, e crestes que saí de Deus.
28 Saí do Pai, e vim ao mundo; outra vez deixo o mundo, e vou para o Pai.
29 Disseram-lhe os seus discípulos: Eis que agora falas abertamente, e não dizes parábola alguma.
30 Agora conhecemos que sabes tudo, e não precisas de que alguém te interrogue. Por isso cremos que saíste de Deus.
31 Respondeu-lhes Jesus: Credes agora?
32 Eis que chega a hora, e já se aproxima, em que vós sereis dispersos cada um para sua parte, e me deixareis só; mas não estou só, porque o Pai está comigo.
33 Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” (João 16.16-33)

O que Jesus estava sentindo naquela última ceia com Seus discípulos era como as dores de parto de uma mulher que está prestes a trazer um filho ao mundo; que é uma hora de aflições, tristezas e dores, mas que logo se transforma em grande alegria, uma vez tendo dado à luz um novo ser.
De igual modo a grande aflição que Jesus estava sentindo e que se intensificaria ainda mais até morrer na cruz, daria à luz uma nova dispensação, na qual seriam gerados muitos filhos para Deus.
Assim tudo o que Ele lhes estava dizendo e que estava gerando tristeza no coração deles não era motivo para ficarem desanimados, ao contrário, em todas as suas aflições deveriam ter o bom ânimo da fé de que o fruto que é gerado por elas e através delas é um fruto precioso gerado pelo próprio Deus.
Estes que nascem de novo, estes muitos filhos espirituais de Deus já não morrem, e viverão eternamente com o Senhor deles, onde não haverá mais luto, tristeza e dor.
Daí Jesus ter concluído este capitulo com as palavras do verso 33:
“Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” (v. 33).
Eles seriam dispersos por um tempo, quando Jesus estivesse padecendo diante dos sacerdotes no sinédrio, e de Pôncio Pilatos, e do escárnio e do açoite dos seus soldados, na humilhação do carregar da cruz, e por fim na crucificação, mas deviam entender que aquilo não significava uma derrota, mas uma vitória sobre este mundo de aflições, de maneira que tivessem bom ânimo e se mantivessem em paz nEle, em comunhão com os Seus sofrimentos.
Sofrimentos estes que completariam também nas suas próprias aflições por amor ao evangelho, mas como o Seu Senhor deveriam ter paz e bom ânimo em tudo o que teriam que passar neste mundo por causa do evangelho.
O fato de que não veriam mais o Senhor por um pouco de tempo, porque Ele seria arrebatado da companhia deles por aqueles que o prenderiam, açoitariam e crucificariam, não significava que não o veriam mais, porque o veriam de novo, porque ressuscitaria, e mesmo depois que subisse aos céus poderiam vê-Lo, não mais segundo a carne, mas em espírito, através da presença do Espírito Santo.
O Senhor incentivou os discípulos a começarem a se exercitar em orações dirigidas ao Pai, fazendo petições em Seu nome, porque eles se alegrariam ao verem suas orações sendo respondidas por Deus.
Até pouco antes de sair para o Getsemâni, Jesus vinha falando muitas coisas aos discípulos por meio de parábolas, especialmente quanto à Sua procedência do céu, e do seu retorno para lá, uma vez que geralmente dizia simplesmente que não sabiam para onde Ele iria, e que eles não poderiam segui-lo naquela hora, mas agora Ele lhes fala claramente acerca do céu e do Pai (v. 27, 28).
Ele queria lhes mostrar que daquele momento em diante o Espírito Santo lhes ensinaria de maneira direta tudo o que se referisse às coisas celestiais, espirituais e divinas, porque Ele teria a honra de remover inteiramente o véu que permanecia sobre o mistério de Deus, que era o próprio Cristo, véu este que vinha sendo mantido durante todo o período de vigência da Antiga Aliança.
Então importava que muitas coisas fossem ensinadas por Jesus por meio de parábolas, porque o véu seria inteiramente removido somente a partir da inauguração da Nova Aliança, a qual entraria em vigência somente depois da Sua morte na cruz.
Por isso Ele havia chamado o cálice de vinho nesta última ceia de Páscoa que celebrara com os discípulos de cálice da Nova Aliança feita no Seu sangue.
Ela seria selada com o sangue que Ele derramaria na cruz, assim como a Antiga Aliança foi selada com o sangue de animais, por Moisés.
Foi pelo mesmo motivo que o véu do templo, que separava o Lugar Santo, do Santo dos Santos, foi também rasgado de cima abaixo, para indicar que o véu da Antiga Aliança, que impedia o conhecimento completo e direto da verdade seria removido em Cristo, e este trabalho seria feito pelo Espírito que seria derramado em todas as nações da terra.  
Os apóstolos se alegraram de Jesus ter falado com eles daquela maneira direta e clara, e por lhes ter dito que aquele seria o modo que Ele trataria com eles dali por diante através do Espírito Santo.
Ele lhes encorajou a começarem a orar pedindo ao Pai em Seu nome, de maneira que Eles poderiam falar diretamente com o Pai, e não necessitavam mais pedir a Ele que rogasse, Ele mesmo, por eles ao Pai, porque o caminho para a presença do Pai seria aberto por Ele na cruz, de maneira que poderiam ser admitidos em espírito no Santo dos Santos celestial, pelo novo e vivo caminho que seria aberto.







João 17

A Oração Sacerdotal de Jesus – Parte 1 - João 17

“1 Jesus falou assim e, levantando seus olhos ao céu, disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que também o teu Filho te glorifique a ti;
2 Assim como lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste.
3 E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.
4 Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer.
5 E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse.” (João 16.1-5)

Todo este capítulo é uma oração.
A oração que Jesus fez quando estava prestes a ser traído por Judas.
É dito no início do capitulo seguinte a este, que depois de Jesus ter feito esta oração. ele saiu com os seus discípulos para o jardim do Getsemâni, no qual seria traído por Judas, que conduziu guardas da parte dos principais sacerdotes e fariseus até o local onde Jesus se encontrava.
Com esta oração Jesus fechou a última ceia de páscoa que havia celebrado com seus discípulos, porque João diz que depois de ter pronunciado estas palavras ele saiu para o outro lado do ribeiro de Cedrom, onde ficava o Jardim do Getsemâni (Jo 18.1).
Jesus orou pelos discípulos e com eles.
Como esta foi a última oração que fizera por eles pouco antes da Sua crucificação, os pedidos do Senhor que estão nela contidos são absolutamente essenciais.
Jesus pediu proteção ao Pai para os discípulos, de maneira que fossem guardados de se desviarem da verdade.
Para isto seria necessário que fossem santificados na verdade, de maneira que pudessem ser mantidos em unidade, permanecendo na comunhão com Deus Pai, com o Filho, e uns com os outros.
O Senhor pediu também que fossem feitos perseverantes até à glória final, de maneira que pudessem também participar da Sua própria glória.
Todas estas coisas dependeriam da obra que seria feita a partir da cruz, com a ressurreição, ascensão e glorificação de Jesus nos céus, porque importava que o Seu trabalho de redenção fosse aceito pelo Pai, de maneira que pudesse cumprir a promessa que fizera e que estava associada à Sua glorificação, a saber, o derramamento do Espírito Santo em todas as nações.
Assim não somente o Pai glorificaria o Filho, com a glória que Ele tivera nos céus, antes mesmo de ser formado o mundo, comprovando que o Seu retorno aos céus foi em vitória e em glória quanto à obra que lhe fora designada pelo Pai para consumar na terra; como também o Pai seria glorificado pelo Filho, pela muita honra e glória que receberia da parte daqueles que começariam a ser salvos na terra, por causa da obra realizada pelo Filho.
Esta obra que o Pai designou ao Filho é a de dar a vida eterna àqueles que se encontram mortos espiritualmente, e que sem a luz de Cristo, que lhes dá a vida, seriam fatalmente condenados à morte eterna.
Mas o Senhor disse que apesar de Lhe ter sido dado poder sobre toda a carne, no entanto a vida eterna seria concedida apenas a todos aqueles que lhes foram dados pelo Pai.
Nenhum deles virá a se perder eternamente, porque Jesus recebeu autoridade e poder do Pai para que não perca a nenhum destes aos quais foi dado pelo Pai, crerem nEle.
Nenhuma ovelha será perdida, e o Senhor veio buscar cada uma delas, porque a salvação ainda que individual tem um propósito coletivo, e isto está demonstrado claramente no teor desta oração que o Senhor fez no final da sua última ceia com os discípulos, porque ela não foi feita para atender necessidades particulares e individuais, mas para a consolidação de um corpo espiritual, do qual Jesus é a cabeça.
 Oração Sacerdotal de Jesus - Parte 2 - João 17


“6 Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste; eram teus, e tu mos deste, e guardaram a tua palavra.
7 Agora já têm conhecido que tudo quanto me deste provém de ti;
8 Porque lhes dei as palavras que tu me deste; e eles as receberam, e têm verdadeiramente conhecido que saí de ti, e creram que me enviaste.
9 Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus.
10 E todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e nisso sou glorificado.” (João 17.6-10)

Jesus orou de maneira muito clara quando disse que não estava pedindo pela unidade do mundo de pecado.
Caso o fizesse, o que é impossível, o mundo se tornaria muito pior, pela união daqueles que buscam praticar o mal e não o bem.
Então, Ele orou para que fossem santificados em unidade espiritual, aqueles que servem à causa do bem, aos que Lhe amam e observam com temor e reverência os mandamentos de Deus.
O Senhor Jesus afirmou em sua oração que tudo o que Ele possui é do Pai, assim como tudo o que é do Pai é dEle, e nisto está a Sua glória.
Isto significa que ninguém pode ser de Deus Pai se não for de Cristo.
Aquele que rejeitar o Filho terá também rejeitado o Pai, porque não é possível pertencer a um deles sem pertencer ao outro.



A Oração Sacerdotal de Jesus – Parte 3 - João 17

“11 E eu já não estou mais no mundo, mas eles estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, assim como nós.
12 Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse.
13 Mas agora vou para ti, e digo isto no mundo, para que tenham a minha alegria completa em si mesmos.
14 Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo.
15 Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal.
16 Não são do mundo, como eu do mundo não sou.” (João 17.11-16)

Dos apóstolos de Jesus apenas Judas abandonou a comunhão em unidade espiritual que havia entre os apóstolos.
Na verdade ele nunca havia chegado a participar da mesma, porque não era um filho da salvação, um filho da promessa, mas um filho da perdição, um vaso para desonra, um vaso de ira, conforme as Escrituras do Velho Testamento haviam predito acerca dele.
Quando orou para que o Pai guardasse os discípulos para que fossem um, assim como Ele era com o Pai, e para que continuassem unidos em espírito como haviam vivido com Ele durante Seu ministério terreno, por causa das Suas intercessões em favor deles, e pela aplicação da Palavra da verdade em suas vidas, Jesus não estava pedindo que fossem guardados de se perderem definitivamente tal como Judas, porque isto seria impossível, mas para que não viessem a esfriar e a apostatar da fé, ainda que temporariamente, porque seria por meio deles que as primeiras congregações cristãs seriam fundadas; e importava que fossem achados firmes e crescendo na fé.
Quando o Senhor começou a fazer esta oração de João 17, Judas tinha acabado de sair para traí-lo, e assim havia abandonado definitivamente a companhia do Senhor e dos demais apóstolos, retornando para o seu próprio lugar, a saber, o mundo, porque ele nunca chegou a pertencer ao reino de Deus.
O Novo Testamento chama de mundo, em sentido negativo, a todo o sistema pecaminoso que se opõe à Deus e à Sua vontade.    

A Oração Sacerdotal de Jesus - Parte 4 - João 17

“17 Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade.
18 Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo.
19 E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade.”

A missão dos cristãos é a mesma de Cristo, na verdade, é a continuidade da Sua missão porque Ele continua operando através deles.
Para cumprir a mesma missão que Cristo havia cumprido no mundo, necessitam de santificação, e por  isto o Senhor intercedeu neste sentido nos versos 17 e 19.
Sem santificação é absolutamente impossível ver uma obra de Deus entre nós que seja consistente, regular e permanente.
Na condição de Sumo Sacerdote da nossa fé Cristo santificou a Si mesmo para oficiar no tabernáculo celestial, assim como os sacerdotes de Israel deviam se consagrar a Deus antes de serem admitidos no Seu serviço.
O Pai chamou o Filho para ser Sumo Sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedeque, e Ele se consagrou completamente a este serviço, de maneira que tudo o que fez e que tem feito foi por um completo e permanente compromisso com o Pai e com os seus discípulos.
A santificação dos cristãos está garantida porque há este compromisso da parte do Senhor em realizar tal trabalho em nós para que possamos cumprir a missão que Ele nos designou para levarmos a efeito neste mundo.



A Oração Sacerdotal de Jesus - Parte 5 - João 17

“20 E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim;
21 Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.
22 E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um.
23 Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim.” (João 17.20-23)

Jesus não orou somente pelos discípulos que se encontravam com Ele no momento da sua oração, mas por todos os cristãos que viessem a se converter pelo testemunho daqueles primeiros discípulos, especialmente pela pregação da palavra dos apóstolos, conforme a encontramos no Novo Testamento, que não é propriamente a palavra deles, mas a palavra de Deus.
Mais uma vez o Senhor orou pela unidade dos cristãos, revelando o quanto ela é essencial para o testemunho deles, de maneira que seja produzido o convencimento do Espírito no mundo, quanto à unidade e amor espirituais que há entre os cristãos, e assim as pessoas possam ser despertados e convertidos através deste testemunho daqueles que já estão em Cristo.
Se Cristo orou pela unidade dos cristãos desta forma, é nosso dever nos esforçar para preservar esta unidade do Espírito no vínculo da paz.
É do Senhor que procede esta unidade, deste modo só será encontrada nas congregações nas quais os cristãos estiverem andando no Espírito, de maneira que toda a glória pela existência de tal unidade seja reconhecida como sendo do Senhor (v. 22).
O caráter desta unidade é espiritual, porque é o mesmo tipo de unidade que há na trindade divina.
O Pai e o Filho são de um mesmo sentir e pensar, e assim devem ser também os cristãos em suas congregações.
Deste modo isto somente será possível se eles andarem no Espírito e não segundo a carne.
Por isso o Senhor não orou por uma unidade social, parcial, acadêmica, ou seja, de qual natureza for, senão unidade de fé, amor e espiritual realizada pelo Espírito.
Uma unidade perfeita, isto é amadurecida, que revele especialmente ao mundo o amor que há entre Deus e os cristãos (v. 23).
É desta forma que o mundo é convencido que Cristo está entronizado no meio do Seu povo, e que de fato veio a este mundo para resgatar um povo exclusivamente Seu, zeloso de boas obras.



A Oração Sacerdotal de Jesus - Parte 6 - João 17

“24 Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo.
25 Pai justo, o mundo não te conheceu; mas eu te conheci, e estes conheceram que tu me enviaste a mim.
26 E eu lhes fiz conhecer o teu nome, e lho farei conhecer mais, para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja.”

Com estas palavras Jesus encerrou a oração que fez no final da ceia de páscoa, que celebrara com Seus discípulos, antes de sair em direção ao jardim do Getsemâni.
O Seu pedido final ao Pai em favor dos cristãos foi  que estivessem com Ele no céu para que pudessem ver a glória que Ele havia recebido do Pai, por causa da grande obra de salvação que fizera por eles; glória que sempre tivera junto ao Pai, antes mesmo da fundação do mundo.
Desde toda a eternidade, o Pai amou ao Filho e eles decidiram expandir e compartilhar este amor com muitos filhos semelhantes a Cristo.
Foi por eles e para tal propósito que o Senhor intercedeu pedindo ao Pai que estejam todos reunidos na glória compartilhando dAquele amor divino que sempre existiu entre o Pai e o Filho.
O mundo de pecado nada sabia e sabe acerca disto, e desta maneira não poderia dar qualquer testemunho sobre a verdade pela qual o Senhor estava orando; mas os cristãos têm experimentado este amor, pelo Espírito, como os primeiros discípulos, e assim têm conhecido que Jesus foi realmente enviado pelo Pai.
Somente o Filho e o Espírito Santo conhecem o Pai, e assim são os únicos que podem fazer com que Ele seja conhecido.
Como este conhecimento é por uma experiência real de comunhão espiritual e pessoal com Ele em amor, pelo Espírito Santo, somente os que forem salvos por Cristo poderão obter tal conhecimento que conduz à glória eterna do céu.
A nossa fé e santificação têm grande recompensa.
O Senhor não confessará a ninguém diante do Seu pai e dos santos anjos na glória, que tenha se envergonhado dEle e de Suas palavras neste mundo, ou que tenha negado o Seu santo nome por um viver segundo a carne, e não segundo o Espírito.
O tempo se abrevia e o céu está mais perto de nós do que antes, e é importante que vigiemos e nos apeguemos às verdades que temos ouvido e lido, de maneira que jamais nos desviemos delas e tenhamos completa recompensa na glória.







João 18

A Prisão de Jesus - João 18

“1 Tendo Jesus dito isto, saiu com os seus discípulos para além do ribeiro de Cedrom, onde havia um horto, no qual ele entrou e seus discípulos.
2 E Judas, que o traía, também conhecia aquele lugar, porque Jesus muitas vezes se ajuntava ali com os seus discípulos.
3 Tendo, pois, Judas recebido a coorte e oficiais dos principais sacerdotes e fariseus, veio para ali com lanternas, e archotes e armas.
4 Sabendo, pois, Jesus todas as coisas que sobre ele haviam de vir, adiantou-se, e disse-lhes: A quem buscais?
5 Responderam-lhe: A Jesus Nazareno. Disse-lhes Jesus: Sou eu. E Judas, que o traía, estava com eles.
6 Quando, pois, lhes disse: Sou eu, recuaram, e caíram por terra.
7 Tornou-lhes, pois, a perguntar: A quem buscais? E eles disseram: A Jesus Nazareno.
8 Jesus respondeu: Já vos disse que sou eu; se, pois, me buscais a mim, deixai ir estes;
9 Para que se cumprisse a palavra que tinha dito: Dos que me deste nenhum deles perdi.
10 Então Simão Pedro, que tinha espada, desembainhou-a, e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. E o nome do servo era Malco.
11 Mas Jesus disse a Pedro: Põe a tua espada na bainha; não beberei eu o cálice que o Pai me deu?
12 Então a coorte, e o tribuno, e os servos dos judeus prenderam a Jesus e o maniataram.” (João 18.1-12)

Nós vimos que João registrou as palavras e atos de Jesus durante Sua última ceia de Páscoa, que havia celebrado com Seus discípulos, nos capítulos 13 a 17 do seu evangelho.
E João relatou os eventos relativos à prisão, sofrimentos e morte de Jesus, nos capítulos 18 e 19; e os relativos à sua ressurreição nos capítulos 20 e 21.
Nos primeiros versos deste 18º capítulo (1 a 12) são descritas as circunstâncias da prisão de Jesus no jardim do Getsêmani.
Jesus havia voltado a Jerusalém na ocasião da Páscoa com o firme propósito de se entregar voluntariamente como oferta de sacrifício cruento pelos nossos pecados, porque Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Ele poderia ter procurado as autoridades de Israel e se entregado a eles, porque, afinal, estavam procurando prendê-lo pela falsa acusação de ter cometido o crime de blasfêmia e quebra da Lei de Moisés, por estar curando em dia de sábado.
No entanto, importava, segundo as Escrituras que lhes fosse entregue por um ato de traição, e que  o prendessem por uma ação insidiosa e injusta, de maneira que ficasse configurada a corrupção deles.
Assim, as chaves do reino dos céus seriam tiradas definitivamente das mãos das autoridades religiosas de Israel, e passadas para aqueles que têm fé em Cristo, e também pela instituição de uma nova aliança, cuja vigência revogaria automaticamente a antiga, sob a qual aqueles líderes corrompidos de Israel regiam.  
O ato de entrega das chaves do reino dos céus por Jesus a Pedro, bem demonstra o que temos afirmado.
Elas haviam sido tiradas das mãos dos sacerdotes, escribas e fariseus, e foram entregues aos apóstolos do Senhor, representados na pessoa de Pedro, naquele gesto de Jesus.
Os principais sacerdotes e fariseus haviam ouvido a seguinte sentença que Jesus havia dado se referindo  a eles na parábola dos lavradores na vinha:
“Portanto eu vos digo que vos será tirado o reino de Deus, e será dado a um povo que dê os seus frutos.” (Mt 21.43).
Eles não deixavam as pessoas entrarem no reino, assim como eles não entravam, com as suas práticas corrompidas e legalistas.
Eles continuariam com suas atividades religiosas, mas a glória de Deus já havia se retirado há muito tempo do culto corrompido que Lhe prestavam.
Para demonstrar que estava realmente se entregando voluntariamente, Jesus fez com que os soldados que vieram prendê-lo recuassem e caíssem por terra, quando se identificou como sendo aquele a quem eles buscavam.
Ninguém poderia tocar-Lhe caso assim o desejasse, mas importava que fosse preso, para que fosse conduzido à morte de cruz.      
Aquela demonstração de poder sobrenatural tinha também por alvo gerar temor nos soldados de maneira que atendessem ao pedido de Jesus que se deixaria prender por eles caso deixassem livres os apóstolos, que se encontravam com Ele.
Até o Seu momento final o Senhor demonstrou o Seu grande cuidado e proteção para com aqueles que o amam.  
Pedro tentou ainda reagir para impedir que Jesus fosse preso tendo arremetido contra o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita.
João não registra o fato, mas sim os evangelhos sinópticos, que Jesus lhe restaurou a orelha que havia sido cortada.
O reino de Deus não deve ser conquistado nem defendido pela espada, e por isso Jesus ordenou que Pedro embainhasse a sua espada.
Nem ele, nem todos os exércitos deste mundo poderiam ter impedido que Ele bebesse o cálice de sofrimentos que deveria sorver completamente para vencer a morte, o pecado e o diabo, quando morresse por nós na cruz.


A Negação de Pedro - João 18

“13 E conduziram-no primeiramente a Anás, por ser sogro de Caifás, que era o sumo sacerdote daquele ano.
14 Ora, Caifás era quem tinha aconselhado aos judeus que convinha que um homem morresse pelo povo.
15 E Simão Pedro e outro discípulo seguiam a Jesus. E este discípulo era conhecido do sumo sacerdote, e entrou com Jesus na sala do sumo sacerdote.
16 E Pedro estava da parte de fora, à porta. Saiu então o outro discípulo que era conhecido do sumo sacerdote, e falou à porteira, levando Pedro para dentro.
17 Então a porteira disse a Pedro: Não és tu também dos discípulos deste homem? Disse ele: Não sou.
18 Ora, estavam ali os servos e os servidores, que tinham feito brasas, e se aquentavam, porque fazia frio; e com eles estava Pedro, aquentando-se também.
19 E o sumo sacerdote interrogou Jesus acerca dos seus discípulos e da sua doutrina.
20 Jesus lhe respondeu: Eu falei abertamente ao mundo; eu sempre ensinei na sinagoga e no templo, onde os judeus sempre se ajuntam, e nada disse em oculto.
21 Para que me perguntas a mim? Pergunta aos que ouviram o que é que lhes ensinei; eis que eles sabem o que eu lhes tenho dito.
22 E, tendo dito isto, um dos servidores que ali estavam, deu uma bofetada em Jesus, dizendo: Assim respondes ao sumo sacerdote?
23 Respondeu-lhe Jesus: Se falei mal, dá testemunho do mal; e, se bem, por que me feres?
24 E Anás mandou-o, maniatado, ao sumo sacerdote Caifás.
25 E Simão Pedro estava ali, e aquentava-se. Disseram-lhe, pois: Não és também tu um dos seus discípulos? Ele negou, e disse: Não sou.
26 E um dos servos do sumo sacerdote, parente daquele a quem Pedro cortara a orelha, disse: Não te vi eu no horto com ele?
27 E Pedro negou outra vez, e logo o galo cantou.” (João 18.13-27)

Jesus foi preso como se fosse um malfeitor, porque teve Suas mãos amarradas.
Ele que não havia oferecido qualquer resistência ao ser preso, e que não havia feito nenhum mal a qualquer pessoa, e muito menos qualquer ato de violência, estava sofrendo agora violência por parte daqueles que deviam debelar a violência e promover a justiça.
Eles queriam passar uma impressão de uma suposta periculosidade de Jesus ao terem-no tratado daquela maneira, ao mesmo tempo em que procurariam agradar às autoridades que lhes haviam enviado, porque bem conheciam o ódio que elas sentiam por Jesus.
Eles exibiram Jesus como um troféu do triunfo deles, levando-o à residência de Anás, porque era sogro de Caifás, o sumo sacerdote indicado para aquele ano.
Eles estavam em conselho há muito tempo para verem como prenderiam Jesus e agora estavam se deleitando com o triunfo deles.
No entanto, quando injustiças devem ocorrer, a providência divina se encarregará de conduzir ao poder homens maus como Anás, Caifás e Pilatos, para a própria ruína deles, de maneira que nenhum justo tenha que deliberar contra a justiça.
Importava que Jesus fosse injustiçado, mas Deus providenciou que isto fosse feito pelas mãos de injustos, previamente preparados para aquela hora.
O triunfo daqueles homens foi a pior das ruínas que poderia ocorrer a qualquer mortal, a saber, a de condenarem o próprio Filho de Deus como um malfeitor digno de morte, por motivo de inveja e ódio, e se baseando em acusações falsas e injustas.
O sumo sacerdote era conhecido por um discípulo de Jesus, do qual João não citou o nome, e nem com isto ele se desviou da maldade que praticaria contra o Senhor.
Nós vemos nisto que Jesus terá discípulos até mesmo na casa dos Seus piores inimigos.
Ele sempre terá testemunhas em todas as partes para que todos os que Lhe resistem sejam indesculpáveis perante Ele no dia do juízo quanto à sua incredulidade e maldade; assim como lhes dá também a oportunidade de se arrependerem pelo que virem no bom testemunho dos Seus servos.    
Este discípulo de Jesus que era conhecido do sumo sacerdote acompanhou o Senhor até a sua sala, e sabendo que Pedro estava junto à porta, do lado de fora, levou Pedro para dentro.
Jesus havia dito a Pedro que o galo não cantaria naquela noite até que ele Lhe tivesse negado por três vezes.
Pedro estava seguindo o Senhor porque disse que não o abandonaria de maneira nenhuma.
Nós temos nesta passagem a oportunidade de ver que para o serviço de Deus, e para os laços de comunhão eterna que devem existir entre os cristãos, o afeto natural é de pouco ou nenhum proveito, porque não persistirá e não resistirá às provas a que for submetido, assim como ocorreu com Pedro, que negou veementemente que conhecia a Jesus, quando foi confrontado na casa do sumo sacerdote.
Ele começou negando que conhecia Jesus logo à entrada quando a porteira lhe perguntou se não era um dos seus discípulos (v. 17).
Quando o sumo sacerdote perguntou ao Senhor acerca dos seus discípulos e da sua doutrina, Jesus lhe respondeu que aqueles aos quais havia ensinado poderiam responder por Ele.
Pedro certamente seria um destes, mas ele estava atemorizado demais para fazê-lo, e preferiu ficar se aquentando juntamente com os servidores que haviam acendido um braseiro, porque fazia muito frio naquela noite.
Jesus foi esbofeteado por um dos servidores por ter respondido ao sumo sacerdote daquela maneira.
Mas o Senhor lhe perguntou por que lhe havia esbofeteado uma vez que se tivesse falado mal, o servidor deveria dar testemunho do mal que ele havia falado.
 Na verdade Jesus não estava na obrigação de dar qualquer resposta a Anás, porque ele não era o sumo sacerdote principal naquele ano, mas Caifás seu genro, assim ele estava abusando de sua autoridade ao interrogar Jesus, porque deveria fazê-lo com um tribunal regularmente instituído para tal, e ao ver que não conseguiu obter nenhuma informação privilegiada da parte do Senhor, ele o enviou a Caifás, ainda manietado, para demonstrar que Jesus não havia obtido nenhum ato de misericórdia da sua parte.
Enquanto isto Pedro negaria ao Senhor mais uma vez quando aqueles com os quais se aquentava lhe perguntaram se ele não era um dos discípulos de Jesus (v. 25).
E, logo o negaria pela terceira vez quando foi indagado por um dos parentes de Malco, também servo do sumo sacerdote, se não o tinha visto no jardim do Getsêmani juntamente com Jesus.
Assim que Pedro negou o Senhor pela terceira vez, o galo cantou.



Jesus Entregue a Pilatos - João 18

“28 Depois levaram Jesus da casa de Caifás para a audiência. E era pela manhã cedo. E não entraram na audiência, para não se contaminarem, mas poderem comer a páscoa.
29 Então Pilatos saiu fora e disse-lhes: Que acusação trazeis contra este homem?
30 Responderam, e disseram-lhe: Se este não fosse malfeitor, não to entregaríamos.
31 Disse-lhes, pois, Pilatos: Levai-o vós, e julgai-o segundo a vossa lei. Disseram-lhe então os judeus: A nós não nos é lícito matar pessoa alguma.
32 (Para que se cumprisse a palavra que Jesus tinha dito, significando de que morte havia de morrer).
33 Tornou, pois, a entrar Pilatos na audiência, e chamou a Jesus, e disse-lhe: Tu és o Rei dos Judeus?
34 Respondeu-lhe Jesus: Tu dizes isso de ti mesmo, ou outros te disseram isto de mim?
35 Pilatos respondeu: Porventura sou eu judeu? A tua nação e os principais dos sacerdotes entregaram-te a mim. Que fizeste?
36 Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui.
37 Disse-lhe, pois, Pilatos: Logo tu és rei? Jesus respondeu: Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso nasci, e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz.
38 Disse-lhe Pilatos: Que é a verdade? E, dizendo isto, tornou a ir ter com os judeus, e disse-lhes: Não acho nele crime algum.
39 Mas vós tendes por costume que eu vos solte alguém pela páscoa. Quereis, pois, que vos solte o Rei dos Judeus?
40 Então todos tornaram a clamar, dizendo: Este não, mas Barrabás. E Barrabás era um salteador.” (João 18.28-40)

Aqueles líderes hipócritas de Israel não matariam Jesus por apedrejamento tal como fariam depois com Estevão, e com muitos outros cristãos, porque no caso de Jesus eles queriam dar uma satisfação aos romanos e lhes agradarem pelo temor de serem acusados de estarem tolerando insurreições em seu território.
Nós lembramos que Caifás havia dado a “grande idéia” de que importava que alguém morresse por toda a nação, em vez da nação ser destruída por causa de uma só pessoa.
Eles conduziriam Jesus aos romanos, ao representante deles (procônsul), responsável pela região da Judéia, que naquela ocasião era Pôncio Pilatos.
Como era dia da Páscoa, os judeus não queriam se contaminar entrando na casa de gentios, ainda que fosse o pretório deles (audiência), de maneira que não poderiam participar da ceia pascal.
Eles tinham escrúpulos religiosos suficientes para não se contaminarem cerimonialmente, mas não o suficiente para não se contaminarem com injustiças e assassinatos, agravado pelo fato de estarem conduzindo a uma sentença de morte Alguém que sequer tinha qualquer pecado. Eles sentenciariam à morte o próprio Deus.  
Mas importava que tudo aquilo ocorresse, porque Jesus teria que morrer ao modo da condenação dos romanos, que era naquele tempo por crucificação.
A morte de cruz era o tipo de morte mais infame, e assim os judeus desejavam marcar o Senhor com a morte mais infame possível, para dissuadir pela intimidação a todos que tentassem segui-lO, confessando-O como Messias.
Eles não somente excluiriam tais pessoas das sinagogas como também poderiam recorrer aos romanos para que fossem crucificados debaixo da falsa acusação de que estavam se insurgindo contra o imperador romano, afirmando que serviam somente a outro rei chamado Cristo.
Jesus havia ensinado o respeito e submissão às autoridades constituídas, e que se deveria dar a César o que é de César, mas também a Deus o que é de Deus; de maneira que o culto de verdadeira adoração a Deus não pode ser impedido por César, porque isto não está na esfera de deliberação de nenhum poder constituído terreno, porque, na verdade deveriam promover e defender a verdadeira devoção ao Senhor, porque afinal as autoridades foram instituídas por Ele para garantir a ordem civil.
Jesus nunca foi amaldiçoado pelo Pai, mas todos os demais homens estão debaixo de maldição por causa do pecado original.
Ao ser elevado no madeiro Jesus seria feito maldição de Deus, conforme está escrito na Lei.
Ele não tinha pecado, e assim a maldição que foi colocada sobre Ele foi a nossa própria maldição, para que fosse removida na Sua morte, de maneira que estando identificados na Sua morte, morremos para a maldição que foi proferida sobre nós desde o Éden.  
Pilatos interrogou Jesus lhe perguntando se Ele era o Rei dos judeus.
E nosso Senhor deu a Pilatos a oportunidade de ponderar a procedência daquela pergunta que lhe fizera quanto à legalidade de estar sendo julgado por ele, porque os romanos não se intrometiam nas questões religiosas das nações dominadas por eles, desde que estas religiões fossem consideradas lícitas, como era o caso do judaísmo, baseado na Lei de Moisés, Lei esta da qual Jesus era o autor e a qual cumpriu integralmente, e sobre a qual afirmou que não veio revogá-la.
Então, não seria da esfera da competência de Pilatos julgar um caso religioso, porque o Sinédrio tinha autoridade inclusive para prender e matar judeus que agissem contra a religião de Israel, conforme prescrito na Lei de Moisés, até mesmo fora dos termos da nação deles, o que se comprova pelo fato de Paulo ter saído em perseguição aos cristãos fora dos termos de Israel, antes da sua conversão, com autorização do Sinédrio.
Jesus lhe perguntou se afirmara que Ele era o Rei dos judeus, de si mesmo ou por ter sido insuflado por outros.
Ele sabia que Pilatos afirmaria que não era judeu e que não foram os soldados romanos que lhe haviam prendido.
Então ele estava respondendo indiretamente que não lhe cabia de fato julgar um assunto de interesse exclusivo dos judeus, conforme ele próprio havia afirmado em princípio, quando o trouxeram à sua presença (v. 31).
A culpa de Pilatos foi mais agravada ainda, quando Jesus lhe disse que era de fato rei, e que para estabelecer o Seu reinado havia vindo a este mundo.
No entanto, o Seu reino não era deste mundo, o que se comprovava porque nenhum dos Seus seguidores estava lutando naquela hora para fazer valer o seu direito de reinar.
Ele era rei de um reino espiritual nos corações, e não terreno, e que não tinha qualquer influência nos interesses do Império Romano.      
Jesus havia dito também a Pilatos que os súditos do Seu reino são aqueles que são da verdade, os quais ouvem a Sua voz, porque Ele veio a este mundo para dar testemunho da verdade. Deste modo, nem Ele, nem os seus súditos são empecilho para qualquer governo deste mundo, senão bênção.
Pilatos perguntou ao Senhor ironicamente o que era a verdade, mas Jesus nada lhe respondeu, porque lhe havia dito que somente os que são da verdade ouvem a Sua voz, o que certamente não era o caso de Pilatos.
Assim o veredito de Pilatos não poderia ser outro senão reconhecer que não havia nenhuma culpa em Jesus que o tornasse digno de morte.
Mas ele não queria contrariar as autoridades judaicas, porque é comum que autoridades injustas troquem favores mutuamente ainda que à custa da vida de inocentes.
Ele também temia que os judeus lhe acusassem diante de César de que não estava sendo zeloso dos interesses do Império, por tolerar que alguém afirmasse ser rei em competição com o imperador romano.
Quando se tenta ajustar interesse político incorreto com a verdade, dificilmente será possível conciliar a ambos, e geralmente, a verdade padecerá, conforme ocorreria com Jesus.
Tudo o que se relacionasse à Sua morte seguiria a trilha da injustiça para que Ele pudesse ser feito justiça por nós.
Sendo inocente seria condenado injustamente, de maneira que pudesse remover a culpa daqueles que deveriam ser condenados justamente por Deus.
Assim a substituição foi feita deste modo: Ele era justo e foi condenado injustamente.
Nós éramos injustos e fomos livrados da condenação justamente.
De maneira que a condenação que estava reservada para nós foi colocada sobre Ele para que houvesse um motivo justo para a Sua condenação, uma vez que Ele não tinha qualquer pecado.
A prova desta troca foi declarada de maneira inequívoca na troca também injusta que os judeus também fizeram optando por Barrabás, que era salteador, em vez do Senhor, que é perfeitamente santo e justo.
Ele tomou o lugar que seria justo  ser ocupado por Barrabás e não por Ele.
Assim, é deste modo que todos os pecadores são salvos, a saber, tomando Jesus o lugar deles, para que eles possam estar no lugar de Cristo.
Se eles eram culpados, então Cristo se fez culpado no lugar deles.


Se Cristo está em glória diante de Deus, então eles também estarão em glória diante de Deus.        






João 19

Jesus Condenado por Pilatos - João 19

“1 Pilatos, pois, tomou então a Jesus, e o açoitou.
2 E os soldados, tecendo uma coroa de espinhos, lha puseram sobre a cabeça, e lhe vestiram roupa de púrpura.
3 E diziam: Salve, Rei dos Judeus. E davam-lhe bofetadas.
4 Então Pilatos saiu outra vez fora, e disse-lhes: Eis aqui vo-lo trago fora, para que saibais que não acho nele crime algum.
5 Saiu, pois, Jesus fora, levando a coroa de espinhos e roupa de púrpura. E disse-lhes Pilatos: Eis aqui o homem.
6 Vendo-o, pois, os principais dos sacerdotes e os servos, clamaram, dizendo: Crucifica-o, crucifica-o. Disse-lhes Pilatos: Tomai-o vós, e crucificai-o; porque eu nenhum crime acho nele.
7 Responderam-lhe os judeus: Nós temos uma lei e, segundo a nossa lei, deve morrer, porque se fez Filho de Deus.
8 E Pilatos, quando ouviu esta palavra, mais atemorizado ficou.
9 E entrou outra vez na audiência, e disse a Jesus: De onde és tu? Mas Jesus não lhe deu resposta.
10 Disse-lhe, pois, Pilatos: Não me falas a mim? Não sabes tu que tenho poder para te crucificar e tenho poder para te soltar?
11 Respondeu Jesus: Nenhum poder terias sobre mim, se de cima não te fosse dado; mas aquele que me entregou a ti maior pecado tem.
12 Desde então Pilatos procurava soltá-lo; mas os judeus clamavam, dizendo: Se soltas este, não és amigo de César; qualquer que se faz rei é contra César.
13 Ouvindo, pois, Pilatos este dito, levou Jesus para fora, e assentou-se no tribunal, no lugar chamado Pavimento, e em hebraico Gábata.
14 E era a preparação da páscoa, e quase à hora sexta; e disse aos judeus: Eis aqui o vosso Rei.
15 Mas eles bradaram: Tira, tira, crucifica-o. Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso Rei? Responderam os principais dos sacerdotes: Não temos rei, senão César.”. (João 19.1-15)

Que tipo de juiz é aquele que manda açoitar alguém de quem disse repetidas vezes que não achou nenhum crime nEle?
Pilatos era desta classe de juiz, quando abusando da sua autoridade mandou que açoitassem Jesus, e permitiu ainda que os seus soldados o ridicularizassem colocando sobre a sua cabeça uma coroa de espinhos, e que o vestissem com um manto de púrpura para que fosse exposto à ignomínia pública por ter se declarado rei, e davam-lhe bofetadas enquanto diziam debochadamente: “Salve, Rei dos Judeus”.
Importava que Jesus fosse morto tanto pelas mãos dos judeus, quanto dos gentios, representados nos romanos, porque na verdade ambos os povos foram culpados da Sua morte.
Foi por causa da culpa do pecado de todos os homens, tanto judeus, quanto gentios, que Jesus teve que morrer na cruz.
Cada um de nós teve culpa pela Sua morte, em razão de todos sermos pecadores.
Se não houvesse pecado no mundo, se todos os homens fossem santos, justos e perfeitos, Jesus não necessitaria ser elevado na cruz para pagar o preço da redenção dos nossos pecados.
Entretanto, a cruz sempre esteve no coração de Deus, porque não é apenas o instrumento de resgate de todos os Seus filhos, que se encontravam debaixo do pecado, mas também o instrumento de crucificação de todos os egos daqueles que hão de ser achados no céu.
É somente pela mortificação do pecado pela nossa cruz que podemos renunciar à nossa própria vontade, para escolhermos sempre a vontade de Deus.
Assim, até mesmo o próprio Jesus sempre carregou a Sua cruz, antes mesmo de morrer numa cruz de madeira no Calvário, porque por esta cruz Ele sempre se submeteu voluntariamente à vontade do Pai, e nos convida, a cada um de nós, a seguirmos o Seu exemplo, tomando também a nossa própria cruz, para que sejamos sempre achados fazendo não a nossa vontade, mas a vontade de Deus.    
O Calvário, além de ser um lugar de redenção, é um lugar de instrução quanto ao modo que se deve viver para Deus; porque é sempre pelo princípio morte/vida que se encontra a verdadeira vida, que é a vida ressurreta que se acha do outro lado da morte do nosso ego na cruz.
Jesus suportou todas aquelas injustiças porque importava passar por tudo aquilo, conforme era da vontade do Pai, para que pudéssemos ser livrados do pecado e da morte.
Ele deu o exemplo supremo até que ponto devemos estar prontos para fazer a vontade de Deus, isto é, até à renúncia da nossa própria honra e vida.

Quando morremos para nós mesmos, para os nossos direitos, para que possamos fazer a vontade de Deus, então podemos contar que teremos o Seu governo real sobre os nossos espíritos, e é nisto que consiste a verdadeira vida, porque fomos criados para ter tal governo do Senhor no nosso coração.
Era por causa desta obediência e submissão perfeitas de Jesus à vontade do Pai que este declarou que Ele era o Seu Filho amado que Lhe dá muita alegria.
De igual modo Deus testificará a nosso respeito quando andarmos no mesmo exemplo de obediência e submissão à Sua vontade.
Os líderes da religião de Israel, que deveriam dar o exemplo de obediência e submissão a Cristo, em vez disso clamaram juntamente com os seus servos: “crucifica-o, crucifica-o”.
Em vez de tomarem as suas próprias cruzes, eles mandaram Jesus para a cruz.
Toda vez que alguém se recusa a se arrepender dos seus pecados e entregar-se a Cristo para receber os benefícios da Sua morte, esta pessoa está de novo clamando como aqueles judeus que Ele deve voltar para a cruz, porque o desejo deles é que Deus morresse para sempre, para que jamais tivessem que Lhe prestar contas dos seus pecados.
Mas tendo Jesus morrido uma vez, já não morre mais, e se encontra à direita do Pai, em glória, no céu, de onde voltará para julgar a cada um dos homens segundo as suas próprias obras.  
A autoridade civil é ministro de Deus e por isso traz a espada para fazer a justiça, para castigo dos malfeitores.
Entretanto, Pilatos excedeu-se na autoridade que é conferida por Deus aos magistrados quando disse a Jesus que tinha poder para livrar da morte a quem quisesse, assim como para crucificar a quem ele também desejasse que morresse. Ora, de quem ele havia recebido poder para crucificar inocentes?
O poder que lhe foi dado por Deus certamente não lhe foi conferido para este propósito, e assim teria que dar contas a Ele no dia do Juízo, do mau uso que fizera do poder que havia recebido.
Mas, a gravidade do pecado de Pilatos era menor do que a dos principais sacerdotes de Israel que haviam conduzido Jesus à sua presença lhe pedindo que fosse crucificado, porque estes estavam fazendo isto em nome de Deus, e violando as Suas leis para fazê-lo.
Pilatos estava abusando da sua autoridade, e eles estavam deturpando a autoridade do próprio Deus, distorcendo e deturpando a Sua Palavra para praticarem um crime horrível contra a Pessoa do próprio Filho de Deus que havia sido enviado a eles para que tivessem o privilégio de pregarem o evangelho em todo o mundo, privilégio este que eles haviam desprezado e rejeitado, de maneira que seria dado aos gentios.    
O esforço de Pilatos para tentar livrar Jesus da morte não passou de uma encenação para que não fosse constrangido junto ao Imperador para responder pela morte de um inocente.
Ele estava agindo para estar em posição confortável tanto junto ao Imperador romano, quanto junto das autoridades judaicas.
Os judeus estavam dizendo que ele não seria amigo de César caso libertasse Jesus, porque este afirmava ser também rei.
Ele não se exporia a ter que responder perante César que havia libertado alguém que poderia se tornar perigoso para Roma realizando  um levante com seus seguidores.
Assim, ele entregou Jesus para que fosse crucificado, ainda na parte da manhã daquela sexta-feira, quando o sol havia se levantado (hora sexta).


A Crucificação de Jesus João 19

“16 Então, conseqüentemente entregou-lho, para que fosse crucificado. E tomaram a Jesus, e o levaram.
17 E, levando ele às costas a sua cruz, saiu para o lugar chamado Caveira, que em hebraico se chama Gólgota,
18 Onde o crucificaram, e com ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio.
19 E Pilatos escreveu também um título, e pô-lo em cima da cruz; e nele estava escrito: JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS.
20 E muitos dos judeus leram este título; porque o lugar onde Jesus estava crucificado era próximo da cidade; e estava escrito em hebraico, grego e latim.
21 Diziam, pois, os principais sacerdotes dos judeus a Pilatos: Não escrevas, O Rei dos Judeus, mas que ele disse: Sou o Rei dos Judeus.
22 Respondeu Pilatos: O que escrevi, escrevi.
23 Tendo, pois, os soldados crucificado a Jesus, tomaram as suas vestes, e fizeram quatro partes, para cada soldado uma parte; e também a túnica. A túnica, porém, tecida toda de alto a baixo, não tinha costura.
24 Disseram, pois, uns aos outros: Não a rasguemos, mas lancemos sortes sobre ela, para ver de quem será. Para que se cumprisse a Escritura que diz: Repartiram entre si as minhas vestes, E sobre a minha vestidura lançaram sortes. Os soldados, pois, fizeram estas coisas.
25 E junto à cruz de Jesus estava sua mãe, e a irmã de sua mãe, Maria mulher de Clopas, e Maria Madalena.
26 Ora Jesus, vendo ali sua mãe, e que o discípulo a quem ele amava estava presente, disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho.
27 Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa.
28 Depois, sabendo Jesus que já todas as coisas estavam terminadas, para que a Escritura se cumprisse, disse: Tenho sede.
29 Estava, pois, ali um vaso cheio de vinagre. E encheram de vinagre uma esponja, e, pondo-a num hissope, lha chegaram à boca.
30 E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.”

A inscrição que Pilatos colocou sobre a cruz de Jesus: JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS, era correta, apesar de ter mandado escrever aquelas palavras com ironia, e também como uma forma de lavar suas mãos por uma segunda vez, para tentar acalmar a sua consciência culpada, porque teria sido aquele o motivo suposto de ter condenado Jesus à morte de cruz.
Para mostrar para César que estava sendo zeloso em preservar a sua coroa, livrando-o de possíveis competidores.
Ele procurou diminuir a extensão do reinado de Jesus, limitando-o somente aos judeus, conforme a inscrição que mandou fixar na cruz.
Só que ele não sabia que Jesus é efetivamente rei somente sobre os que são verdadeiramente judeus, que não são necessariamente aqueles que eram nascidos por condição natural da descendência de Judá, um dos filhos de Jacó, porque, por exemplo, os principais sacerdotes que haviam protestado contra aquele título que havia sido colocado por Pilatos, não eram de fato súditos do reino de Jesus, que será somente com aqueles que são circuncisos de coração, e que compõem o verdadeiro Israel de Deus.
Jesus era da tribo de Judá, portanto também judeu.
Assim, todos os que estão unidos à Sua vida pela fé, são também judeus, porque a Cabeça deles, o Rei deles, é judeu, e desde o Antigo Testamento Deus havia prometido a Judá, através da bênção profética que lhe foi dada por seu pai Jacó, que o cetro do reinado jamais se afastaria de Judá.
Então são estes judeus espirituais, que são nascidos do Espírito, e não propriamente da carne, que haverão de reinar para sempre com Cristo.
Assim, Ele é de fato o Rei dos judeus.  
Os súditos deste reino não são admitidos por condição de nobreza ou de qualquer qualificação que tenham neste mundo, porque apesar de João ter omitido este fato, houve a conversão de um dos ladrões que foram crucificados com Jesus, conforme vemos nos evangelhos sinópticos.
Ele havia libertado em Seu ministério terreno, endemoninhados que haviam se convertido; havia salvo uma prostituta na casa de um fariseu, e continuaria admitindo através do ministério da Igreja outros súditos que são considerados indignos pelo mundo, mas aos quais Ele transformou em pessoas dignas pela mudança operada em suas mentes e corações, pelo trabalho de regeneração do Espírito.
Bendito e maravilhoso Rei dos judeus que conquistou um reino para Si ao morrer naquela rude cruz.
Um reino que Ele não conquistou pela força da espada, mas pela força do Seu grande amor e misericórdia, que manifestou por nós, pobres pecadores.
Digno de honra e de glória para todo o sempre é Aquele que foi desonrado e escarnecido pelos homens e que suportou tamanha afronta para poder reconciliar consigo mesmo aqueles que eram Seus inimigos, ao abrir os seus braços na cruz, num convite a que se identifiquem com Ele na Sua morte, para que possam ter vida, e vida em abundância.  
Para que se desse cumprimento às Escrituras, os soldados romanos fizeram exatamente, ainda que não o soubessem, o que está escrito no Salmo 22.18: “Repartem entre si as minhas vestes, e sobre a minha túnica lançam sortes.”
João viu o que eles haviam feito com as vestes e a túnica de Jesus e viu ali bem diante dos seus olhos mais uma evidência de que Ele era de fato o Messias.
João foi testemunha ocular da crucificação juntamente com Maria, mãe de Jesus, e da irmã dela que também se chamava Maria; e de Maria Madalena.
Ao contemplá-los juntos compartilhando do Seu sofrimento na cruz, Jesus consolou Maria lhe dizendo que João era seu filho, e a João, que Maria era sua mãe, e desde então João passou a cuidar dela em sua casa.
Para que se cumprisse a Escritura Jesus disse que tinha sede, e por bebida, lhe deram vinagre em vez de água, para que ficasse demonstrada a crueldade com que havia sido tratado, porque até mesmo no momento final de sua vida os seus algozes não lhe mostraram a mínima compaixão.
“Deram-me fel por mantimento, e na minha sede me deram a beber vinagre.” (Sl 69.21).
O autor da vida e de toda a verdadeira alegria teve que beber o intragável vinagre para que pudéssemos beber do vinho da Sua alegria.
Aquele vinagre representava todo o cálice amargo de sofrimentos que Ele teve que suportar por causa dos nossos pecados.
Ele não se negou nem por um só momento, em beber uma só gota de todo aquele amargor que lhe deram para beber, apesar de não ser digno de nada daquilo que Lhe fizeram.
Tal ódio que havia sido despejado sobre o santo, imaculado e maravilhoso Cordeiro de Deus, só poderia ser compensado por um grande ato de misericórdia, no sentido inverso, que seria demonstrado por Ele aos pecadores.
Deus não se vingaria deles pelo que fizeram ao Seu Filho, sujeitando a todos eles a uma terrível destruição, mas, ao contrário, faria com eles exatamente o contrário de tudo aquilo que fizeram injustamente com o Seu Filho.
O consolo de Deus seria ver aquela morte terrível sendo compensada pelos frutos de justiça que seriam gerados por ela.
Deus faria que aquela morte produzisse vida.
A fúria dos inimigos impenitentes de Jesus seria vingada com o fato de terem que suportar por toda a eternidade, que a grande maldade deles foi transformada em belos frutos de justiça gerados por Deus nas vidas que Ele perdoaria por causa daquela morte.
Caifás, Anás e todos os seus seguidores que não se converteram terão que suportar por toda a eternidade em suas aflições no inferno, a grande aflição de saberem que graças aos atos de maldade deles muitos alcançaram o perdão eterno dos seus pecados, coisa da qual eles próprios se excluíram por causa da dureza dos seus corações impenitentes.      
Que grande Deus, maravilhoso e sábio nós temos.
Não podemos entender os Seus planos e pensamentos elevados demais para a nossa compreensão finita, e que somente podemos conhecer se Ele no-los revelar pelo Espírito.
Exaltado seja para sempre, por manter em mistério coisas tão grandiosas e revelá-las apenas aos pequeninos, que são contritos e humildes de coração.
Sábios e entendidos segundo o mundo nunca compreenderão tais coisas, como não as compreenderam os grandes de Israel, aos quais Deus tornou muitos pequenos sujeitando-os ao castigo eterno do fogo do inferno.
Bem aventurado é todo aquele que pode entender o significado da palavra “está consumado”, isto é, realizado, completado, quando Jesus entregou o espírito ao Pai e morreu na cruz.
Aquele consumado, não apenas se referiu ao último sofrimento que teve que experimentar para cumprir as Escrituras, quando lhe deram vinagre para beber.
Ainda perfurariam o Seu lado com uma lança, mas Ele já estava morto quando o soldado lhe traspassou.
Tudo o que está registrado nas Escrituras em relação ao Messias se cumpriu completamente nEle.
Ninguém mais neste mundo poderia atender ao cumprimento de todas aquelas profecias que foram dadas para atestar que Jesus é o Messias, o Filho de Deus que deveria vir ao mundo para nos libertar da morte e dos nossos pecados.
A obra que o Pai lhe dera para fazer estava perfeitamente consumada, sem necessidade de que lhe fosse acrescentada qualquer coisa.
Tudo o que é necessário para libertar alguém das trevas, do diabo, do pecado, da morte e para dar-lhe vida eterna, reconciliação e paz com Deus, aceitação e filiação a Ele, e uma herança eterna no céu foi feita somente por Cristo em tudo o que suportou, até Sua morte na cruz.
De maneira que todo aquele que se ligar a Ele achará toda a provisão necessária para a salvação da Sua alma, sem que necessite acrescentar algo ao trabalho que Ele realizou, pelo qual nos tem concedido a Sua graça, pela qual somos regenerados e santificados.  
A Lei cerimonial e civil do Velho Testamento foi abolida naquele “está consumado”.
Todas as sombras e figuras do Velho Testamento foram fechadas porque haviam sido cumpridas literalmente em Cristo.
O véu do templo foi rasgado porque a obra de Jesus havia sido consumada no momento em que Ele morreu na cruz.
A Velha Aliança foi revogada e passou a vigorar uma Nova Aliança, conforme havia sido prometida por Deus a Abraão, e que havia sido planejada por Ele desde antes da fundação do mundo, para que por meio dela se provesse de filhos em todas as nações.
Assim como Cristo pôde dizer está consumado em relação aos Seus sofrimentos; assim como a tempestade havia terminado para Ele e o pior já havia passado, por terem chegado ao fim todas as Suas dores e agonias, de igual modo os que são de Cristo poderão também dizer um dia que está consumado, de maneira que deixarão seus sofrimentos neste mundo para trás, quando forem admitidos para sempre na alegria inefável do céu.
Estes sofrimentos que aqui passamos não são para sempre, e Deus porá um fim neles no dia em que nos chamar para estar para sempre em Sua presença, e assim, em vez de nos entristecer, a morte agora é para nós um conforto e consolo, como foi para Cristo.  


Jesus o Cordeiro Pascal João 19

“31 Os judeus, pois, para que no sábado não ficassem os corpos na cruz, visto como era a preparação (pois era grande o dia de sábado), rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas, e fossem tirados.
32 Foram, pois, os soldados, e, na verdade, quebraram as pernas ao primeiro, e ao outro que como ele foram crucificados;
33 Mas, vindo a Jesus, e vendo-o já morto, não lhe quebraram as pernas.
34 Contudo um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água.
35 E aquele que o viu testificou, e o seu testemunho é verdadeiro; e sabe que é verdade o que diz, para que também vós o creiais.
36 Porque isto aconteceu para que se cumprisse a Escritura, que diz: Nenhum dos seus ossos será quebrado.
37 E outra vez diz a Escritura: Verão aquele que traspassaram.”. (João 19.31-37)

João se lembrou do Salmo 22.17 quando os ossos de Jesus foram preservados sem serem quebrados pelos soldados, conforme fizeram com os dois outros ladrões, porque Jesus havia morrido antes deles, e os soldados usaram aquele expediente para apressar a morte de ambos, porque era dia de Páscoa e eles teriam que comer da ceia e não queriam fazê-lo com corpos de judeus morrendo na cruz; porque afinal a Páscoa celebrava a vida e não a morte, porque foi por causa daquela ceia no Egito, que Deus havia livrado os primogênitos de Israel da morte.
O verdadeiro Cordeiro pascal que nos livra da morte estava bem ali diante deles, e eles, contrariando as prescrições das Escrituras para o preparo do cordeiro da ceia, que não podia ter nenhum dos seus ossos quebrado, para ser uma figura do sacrifício de Jesus, pelo qual na verdade os israelitas foram poupados, e não propriamente por causa do sangue de animais, eles pediram aos soldados que quebrassem as pernas tanto dos dois ladrões quanto de Jesus.
Eles tiveram misericórdia dos cordeiros que eles sacrificaram para a ceia pascal não quebrando os ossos de nenhum deles, mas não tiveram misericórdia daqueles homens que estavam sofrendo na cruz, a pretexto de não se contaminarem cerimonialmente.
Eles estavam como era sempre o costume deles, coando um mosquito e engolindo um camelo.
A pretexto de cumprirem a Lei eles estavam agindo de maneira cruel com o seu próximo.
A reverência deles pelo sábado era maior do que a compaixão pelo próximo.
Segundo eles era melhor quebrar pernas do que ter malfeitores na cruz num dia de sábado.
Até que ponto pode chegar o endurecimento do coração humano, e é até bem provável que aqueles homens tenham se abençoado no seu íntimo pensando estarem fazendo um grande favor para Deus.  
Os ossos de Jesus não poderiam ser quebrados, mas como a justificação e redenção dos pecadores são feitas com base no sangue que Ele derramou na cruz, houve um maior derramamento de sangue quando foi perfurado pela lança do soldado.
João viu sair água junto com o sangue.
A água que nos limpa dos nossos pecados estava saindo do lado de Jesus.
Assim como o sangue é a base da nossa purificação, porque o sangue representa a vida, e o preço que foi ajustado para a nossa redenção foi a própria vida de Jesus, que foi oferecida de maneira visível pelo derramar do Seu precioso sangue; tudo o que é concedido por Deus aos pecadores, sempre é com base neste sangue que foi derramado na cruz.
Ele pode estabelecer condições para as suas bênçãos, como a nossa obediência e perdão dos nossos devedores, por exemplo, mas nada disto teria eficácia se Jesus não tivesse derramado Seu sangue na cruz para que tivéssemos o direito de sermos abençoados pelo Pai.    



O Sepultamento de Jesus - João 19

“38 Depois disto, José de Arimatéia (o que era discípulo de Jesus, mas secretamente, por medo dos judeus) rogou a Pilatos que lhe permitisse tirar o corpo de Jesus. E Pilatos lho permitiu. Então foi e tirou o corpo de Jesus.
39 E foi também Nicodemos (aquele que anteriormente se dirigira de noite a Jesus), levando quase cem arráteis de um composto de mirra e aloés.
40 Tomaram, pois, o corpo de Jesus e o envolveram em lençóis com as especiarias, como os judeus costumam fazer, na preparação para o sepulcro.
41 E havia um jardim naquele lugar onde fora crucificado, e no jardim um sepulcro novo, em que ainda ninguém havia sido posto.
42 Ali, pois (por causa da preparação dos judeus, e por estar perto aquele sepulcro), puseram a Jesus.” (João 19.38-42)

José de Arimatéia era um discípulo de Jesus em segredo, porque temia os judeus, o qual era, segundo o registro em Lc 23.50,51, senador, homem de bem e justo que não tinha consentido no conselho e nos atos das demais autoridades.
Sendo de alta posição na sociedade judaica, pediu pessoalmente a Pilatos que lhe desse autorização para sepultar o corpo de Jesus, o que lhe foi concedido sem resistências.
José de Arimatéia foi preparado por Deus para aquele momento, porque apesar de ter crido em Jesus e ter mantido isto em segredo, nós o vemos tomando a atitude corajosa de providenciar o sepultamento do Senhor, e fez isto, conforme registram os evangelho sinópticos usando a sepultura que ele havia reservado para si mesmo, para o dia da sua morte (Mt 27.60).
O texto de Mateus 27.57 cita que José de Arimatéia era um homem rico.
Então, se cumpriu com isto a profecia de Isaías 53.9 que diz que Ele estaria com os ímpios na sua morte (os dois ladrões na cruz) e com o rico (José de Arimatéia).
Assim, apesar de ser morto como um malfeitor, Deus prepararia um rico para se encarregar do sepultamento de Jesus.
Tal como José de Arimatéia, Nicodemos que também era um amigo secreto de Jesus, teve a coragem de dar um testemunho público do seu amor pelo Senhor, preparando o Seu corpo com mirra e aloés e envolvendo-o em lençóis para o sepultamento.
 O sepulcro de José de Arimatéia ficava num jardim próximo do lugar onde Jesus foi crucificado.
Assim, Ele não foi sepultado na cidade, mas num jardim perto do monte Calvário.
Foi sem pompa ou solenidade que o corpo de Jesus desceu à sepultura fria e silenciosa.


Era um sepulcro novo onde nenhum outro morto havia sido colocado, porque Aquele que vive para sempre não teria o Seu corpo contado entre os mortos, pois não poderia ser retido pela morte por muito tempo, porque em três dias Ele ressuscitaria, conforme veremos nos capítulos seguintes.







João 20

A Ressurreição de Jesus João 20

“1 E no primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu a pedra tirada do sepulcro.
2 Correu, pois, e foi a Simão Pedro, e ao outro discípulo, a quem Jesus amava, e disse-lhes: Levaram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram.
3 Então Pedro saiu com o outro discípulo, e foram ao sepulcro.
4 E os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais apressadamente do que Pedro, e chegou primeiro ao sepulcro.
5 E, abaixando-se, viu no chão os lençóis; todavia não entrou.
6 Chegou, pois, Simão Pedro, que o seguia, e entrou no sepulcro, e viu no chão os lençóis,
7 E que o lenço, que tinha estado sobre a sua cabeça, não estava com os lençóis, mas enrolado num lugar à parte.
8 Então entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro, e viu, e creu.
9 Porque ainda não sabiam a Escritura, que era necessário que ressuscitasse dentre os mortos.
10 Tornaram, pois, os discípulos para casa.
11 E Maria estava chorando fora, junto ao sepulcro. Estando ela, pois, chorando, abaixou-se para o sepulcro.
12 E viu dois anjos vestidos de branco, assentados onde jazera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés.
13 E disseram-lhe eles: Mulher, por que choras? Ela lhes disse: Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram.
14 E, tendo dito isto, voltou-se para trás, e viu Jesus em pé, mas não sabia que era Jesus.
15 Disse-lhe Jesus: Mulher, por que choras? Quem buscas? Ela, cuidando que era o jardineiro, disse-lhe: Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei.
16 Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, disse-lhe: Raboni (que quer dizer, Mestre).
17 Disse-lhe Jesus: Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.
18 Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos que vira o Senhor, e que ele lhe dissera isto.” (João 20.1-18)

Muitas coisas ocorreram naquele domingo em que Jesus ressuscitou, tanto na terra quanto nos céus.
Primeiro de tudo, houve a ida de Maria Madalena ao sepulcro de Jesus, ainda de madrugada naquele primeiro dia da semana (domingo), imediato à sexta-feira em que Jesus foi crucificado.
Ela foi a primeira a perceber que a pedra que fechava a entrada do sepulcro havia sido retirada, e foi correndo contar o fato a Pedro e a João, e disse-lhes que haviam roubado o corpo do Senhor.
Pedro e João correram em direção ao sepulcro, sendo que João foi o primeiro a chegar e viu que os lençóis que envolviam o corpo de Jesus estavam no chão, mas não entrou no sepulcro.
Pedro que chegou depois dele deparou com a mesma cena, e também que o lenço que estava sobre a cabeça de Jesus não estava junto aos lençóis, mas enrolado num lugar à parte.
Depois disto, João entrou no sepulcro e viu e creu naquela hora que Ele havia de fato ressuscitado porque não conheciam a Escritura que fala sobre a ressurreição do Messias (Sl 16.10).
“Pois não deixarás a minha alma no Seol, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção.”  (Sl 16.10).
O corpo de Jesus não conheceu a corrupção da morte porque segundo as Escrituras não seria deteriorado, não somente porque foi muito pequeno o espaço entre a Sua morte numa noite de sexta-feira, e a ressurreição na madrugada de domingo, quando ainda estava escuro.
Independentemente disto, o Pai não permitiria que o corpo do Filho visse corrupção pela ação do Seu poder sobrenatural porque segundo as Escrituras o corpo de Jesus seria mantido intacto durante o sono da morte.
Ele não tinha nenhuma corrupção e portanto não experimentaria qualquer corrupção, ainda que fosse no Seu corpo que foi moído na cruz não por causa de algum pecado que Ele tivesse, mas por causa dos nossos próprios pecados.
Por isso a morte de Jesus foi pública para que todos vissem a vergonha e infâmia a que Ele foi exposto por causa de todos os pecadores.
Mas a Sua ressurreição foi em privado, sendo testemunhada apenas pelos Seus amigos, porque não fomos nós que demos ocasião àquela ressurreição, porque a morte não poderia jamais deter Aquele que é a fonte e o autor da própria vida.
Ainda hoje o poder maravilhoso da vida ressurreta de Jesus é manifestado somente àqueles que têm intimidade com Ele.
Não é possível participar da plenitude da Sua ressurreição sem que sejamos verdadeiramente Seus amigos, pela consagração de nossas vidas a Ele, em obediência aos Seus mandamentos e vontade.
O Senhor havia deixado os lençóis e lenço que estava em Sua cabeça no sepulcro para ser uma evidência aos discípulos de que Seu corpo não havia sido roubado, uma vez que os ladrões certamente não teriam arrancado os lençóis e o turbante, e também não os deixariam no sepulcro, caso o corpo de Jesus tivesse sido roubado.
Jesus havia testificado diante de Simão, o fariseu, que o amor de Maria Madalena por Ele era muito grande, e que por isso os muitos pecados dela eram perdoados.
Ela deu provas deste grande amor pelo Seu Senhor estando com Ele na Sua crucificação, como sendo também a primeira que foi visitar Seu corpo no sepulcro, na madrugada de domingo, quando ainda estava escuro.
Ela foi a primeira a procurar o Senhor e assim foi também a primeira pessoa a quem Ele apareceu depois da Sua ressurreição.
Jesus faria uma visita aos Seus discípulos na tarde daquele domingo da Sua ressurreição.
Esta seria, na verdade, a primeira reunião dos cristãos num dia de domingo, que passaria a ser agora o dia da semana do descanso, para a adoração de Deus, porque não seria mais apenas celebrado como criador do mundo, como era no dia de Sábado na Antiga Aliança, mas também como o Redentor, o Salvador do Seu povo, porque Jesus havia ressuscitado num domingo para tornar todos os filhos de Deus também participantes da Sua ressurreição.
Pedro apesar de ter negado ao Senhor por três vezes, há apenas dois dias atrás, foi o primeiro a entrar no sepulcro vazio, apesar de João ter chegado lá na sua frente.
João se sentiu encorajado a entrar somente depois que viu Pedro dentro do sepulcro.
João não teve a honra de entrar porque não recebeu graça, coragem e ousadia para fazê-lo.
Honra que o Senhor concedeu a Pedro, para principalmente começar a restaurá-lo e curá-lo da dor em sua consciência, por tê-lO negado.
Pedro começaria a aprender a grande lição que não devemos fazer a obra de Deus na nossa própria força e capacidade, porque sempre O negaremos, mas na força e na graça do Senhor que nos capacita em nossa fraqueza, tal como Pedro fora capacitado para correr ao sepulcro, e também para entrar nele e ser o primeiro a constatar com certeza que o corpo do Senhor não se encontrava de fato no seu interior.
Jesus havia falado várias vezes aos Seus discípulos que Ele ressuscitaria, mas eles não se aplicaram a dispor seus corações a crer nisto, nem a confirmarem a promessa da Escritura a este respeito; por isso tiveram dificuldades, em princípio, para entender que Jesus havia ressuscitado.
De igual maneira, ainda hoje, quando não nos aplicamos a meditar e a crer em nosso coração sobre todas as promessas e verdades que existem na Palavra de Deus, e quando não conferimos em nossos corações as coisas que o Senhor nos tem falado, nós teremos dificuldades em reconhecer a obra que Ele está realizando em nosso meio, porque as coisas que Ele nos prometeu fazer foram às vezes proferidas num passado distante, e não tivemos zelo suficiente para reter Suas promessas em nossas mentes e corações.
Quando Pedro e João foram embora, Maria Madalena ainda permaneceu no jardim onde estava o sepulcro, e chorava desconsoladamente, e inclinando-se para ver o interior do sepulcro viu dois anjos vestidos de branco assentados onde estivera deitado o corpo de Jesus, provavelmente os mesmos anjos que haviam retirado a pedra que fechava o sepulcro, estando um à cabeceira, e outro aos pés, e eles lhes perguntaram por que estava chorando. Ela respondeu, porque haviam levado o corpo do Senhor e não sabia onde o haviam colocado.
Mas logo que ela olhou para trás viu alguém, mas não sabia que era Jesus e Ele lhe fez a mesma pergunta que os anjos haviam feito, e acrescentou a pergunta sobre quem ela estava buscando.
Ela pensou que Jesus fosse o jardineiro e lhe pediu que lhe dissesse onde havia colocado o corpo que ela o levaria consigo.
Então, o Senhor se revelou a ela chamando-a pelo seu nome.
Ele poderia ter se revelado primeiro a Pedro e a João que eram Seus apóstolos, mas o Senhor não trabalha no Seu reino amarrado a hierarquias.
Foi a ela que Jesus disse que estaria subindo naquela hora à presença do Pai e Deus, tanto dEle quanto deles, e que dissesse isto aos demais discípulos.
Tanto os anjos quanto Jesus perguntaram a Maria Madalena, por que ela estava chorando.
Afinal não havia motivo para ela chorar, mas para se alegrar.
Não há mais motivo para qualquer cristão chorar sem consolo e esperança, porque Jesus ressuscitou.
Se Maria soubesse disto, ela não estaria chorando.
A realidade não dava realmente motivo para choro, mas para alegria. Mas o desconhecimento da realidade fez com que ela estivesse chorando por ter perdido a sua esperança.
Os cristãos devem estar bem seguros da vitória do Senhor deles sobre o pecado, a morte e o mundo, para que tenham sempre bom ânimo em suas aflições.  
Mas mesmo quando nossa fé é pequena, quando nos sentimos fracos e desconsolados como Maria, o Senhor nunca rejeitará um coração quebrantado, tal como Jesus demonstrou na maneira como procedeu em relação a ela.
Se o motivo do nosso choro for porque temos buscado a Cristo e não O temos achado, é certo que O acharemos, porque Ele se manifestará a nós, como fizera com Maria.


Primeira Aparição de Jesus aos Discípulos Depois da Ressurreição João 20

“19 Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro da semana, e cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou Jesus, e pôs-se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco.
20 E, dizendo isto, mostrou-lhes as suas mãos e o lado. De sorte que os discípulos se alegraram, vendo o Senhor.
21 Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós.
22 E, havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo.
23 Àqueles a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados; e àqueles a quem os retiverdes lhes são retidos.
24 Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus.
25 Disseram-lhe, pois, os outros discípulos: Vimos o Senhor. Mas ele disse-lhes: Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei.”

Os apóstolos estavam aterrorizados pelas coisas que haviam sucedido em relação a Jesus e quanto às ameaças que estavam fazendo aos Seus seguidores, de maneira que estavam escondidos a portas fechadas.
No entanto, a mensagem que Maria Madalena levaria a eles da parte do Senhor serviria para tranquilizá-los, porque  Ele disse que estaria ainda com eles na tarde daquele domingo da Sua ressurreição.
O fato de não ter enviado tal mensagem por Pedro ou por João a todos eles, mas por Maria, tinha também o propósito de evitar que pudesse ser suscitado entre eles que Ele havia escolhido a Pedro e a João como os chefes dos demais apóstolos, pela informação privilegiada que tinha dado a eles.
Mas exatamente para evitar este perigo de se  levantar um líder supremo no meio deles, uma vez que todos estavam investidos igualmente da mesma autoridade apostólica, apareceu primeiro a uma mulher e fez dela uma apóstola  naquela hora, para os Seus apóstolos, de maneira que se mantivessem humildes, considerando os outros superiores a si mesmos, para serem curados deste mal que é o desejo de se estabelecer como chefe sobre o rebanho do Senhor, que deveria ser apascentado, e não dominado por eles.    
Tomé foi o primeiro cristão a faltar à primeira reunião da igreja num domingo, quando o Senhor apareceu no meio dos discípulos no lugar em que eles se encontravam para lhes confortar dizendo que a paz fosse com eles, por duas vezes, e também lhes dando uma primeira unção especial do Espírito, para terem forças para aguentar a pressão da perseguição até o dia do Seu derramamento no dia de Pentecostes.
Do sábado da páscoa até o dia de Pentecostes, eram contados 50 dias corridos, daí o nome Pentecostes.
Como os discípulos teriam que retornar da Galiléia para Jerusalém para permanecerem em oração unânime até serem revestidos do alto com o poder do Espírito, e como Jesus lhes apareceu ainda por um espaço de 40 dias depois da Sua ressurreição (At 1.3). Então, desde que Ele subiu aos céus, até o Pentecostes decorreriam ainda cerca de 10 dias.
Eles precisariam ter um primeiro revestimento de poder do Espírito para permanecerem perseverantes suportando aqueles dias de perseguição e grande tensão.
Assim Jesus soprou o Espírito sobre eles, ainda naquele primeiro domingo, no qual havia ressuscitado, para que eles fossem revestidos de poder.
De igual maneira nós necessitamos ser revestidos do poder do Espírito para continuarmos fazendo a obra do evangelho no meio das perseguições e oposições que sofremos do reino das trevas.
Isto era necessário para os discípulos porque Jesus havia confirmado mais uma vez, naquele domingo da ressurreição, que a missão deles era a mesma que o Pai lhe havia dado.
Eles haviam recebido as chaves do reino dos céus. Deus falaria agora, dali por diante somente através daqueles que têm fé em Jesus.
Aqueles que cressem na pregação do evangelho através daqueles que têm sido enviados por Cristo, desde os apóstolos, teriam os seus pecados perdoados, assim como aqueles que se recusassem a crer na pregação deles, teriam os seus pecados retidos, isto é, não perdoados por Deus.  
Quando Tomé chegou, Jesus já havia se retirado, e tendo os demais discípulos dito a ele que haviam visto o Senhor, Tomé não creu na palavra deles, e disse que creria somente caso visse o sinal dos cravos nas suas mãos e o seu lado que havia sido perfurado pela lança do soldado romano.
Jesus havia mostrado tanto as Suas mãos perfuradas, quanto o seu lado, aos discípulos, quando esteve com eles naquela tarde de domingo, mas não foi por tais evidências que eles creram nEle, senão por Suas palavras.
De igual maneira nós devemos crer agora, porque não vemos o Jesus no qual nós cremos, mas vivemos pela fé nas Suas Palavras.
Afinal a fé não é a convicção e certeza do que vemos e que temos ao alcance do toque das nossas mãos, mas do que não vemos e esperamos, porque confiamos nas promessas do Senhor.
No plano de Deus Jesus deveria ressuscitar num domingo e não em um sábado, para colocar uma grande distinção entre a Antiga e a Nova Aliança, e para demonstrar que havia realmente revogado a Antiga, porque dali em diante, o dia de reunião da Igreja para a adoração pública não seria mais no sábado, mas no domingo.


Segunda Aparição de Jesus aos Discípulos depois da Ressurreição João 20

“26 E oito dias depois estavam outra vez os seus discípulos dentro, e com eles Tomé. Chegou Jesus, estando as portas fechadas, e apresentou-se no meio, e disse: Paz seja convosco.
27 Depois disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e chega a tua mão, e põe-na no meu lado; e não sejas incrédulo, mas cristão.
28 E Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu!
29 Disse-lhe Jesus: Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram.
30 Jesus, pois, operou também em presença de seus discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro.
31 Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.” (João 20.26-31)

A segunda vez que Jesus apareceu aos discípulos reunidos, depois da Sua ressurreição foi também num domingo.
A Igreja reunida no domingo terá a visita do Senhor, ainda que isto não signifique que Ele estará ausente caso eles também se reúnam nos demais dias da semana.
Mas, a mensagem que Jesus estava passando aos discípulos era bastante clara, porque ainda que se reunissem em outros dias, Ele queria vê-los reunidos regularmente aos domingos para adorá-lO.
Tomé teve que aguardar o próximo domingo para ter suas dúvidas dissipadas pelo Senhor.
Enquanto os demais discípulos estavam consolados e alegres por terem visto Jesus, Tomé deveria estar entregue às suas tristezas porque sete dias eram passados, e Jesus não havia reaparecido.
Certamente para ensinar a todos eles e a nós a não negligenciarmos a adoração do dia do domingo, Ele voltou a aparecer a eles somente oito dias depois, isto é, no primeiro domingo seguinte àquele no qual havia ressuscitado.
Ninguém precisou contar a Jesus qual tinha sido a reação de Tomé no domingo anterior quando os demais discípulos lhe disseram que Jesus aparecera a eles e que lhes havia revestido com o poder do Espírito e lhes dado a comissão de pregarem o evangelho tanto para o perdão quanto para a retenção de pecados.
Em Sua onisciência o Senhor viu e ouviu não apenas aquilo que Tomé falou, mas a incredulidade e dureza do seu coração.
Por isso, ao estar com eles outra vez naquele segundo domingo, em que todos estavam reunidos,  depois de ter impetrado a Sua paz sobre eles, dirigiu-se imediatamente a Tomé lhe pedindo para tocar com seu dedo as Suas mãos, e com a sua mão o Seu lado; dizendo-lhe que não fosse incrédulo, mas crente.
Mesmo depois de Tomé ter dito “Senhor meu, e Deus meu!”, Jesus continuou lhe repreendendo dizendo que ele havia crido somente porque havia Lhe visto, mas bem-aventurados eram os que não viram e creram; porque a substância da fé não é vista, mas confiança naquilo que não se vê.
Jesus não apagou o pavio fumegante de Tomé, mas acendeu o mesmo com uma repreensão para que ele não voltasse a agir da mesma maneira dali em diante.
Ele não estaria mais presente em carne com eles.
O Espírito Santo também não agiria com eles visivelmente, de maneira que aprendessem a viver por fé e a discernir o mundo espiritual em espírito e não pelos sentidos naturais da visão, audição, olfato, tato ou qualquer outro.
Deus é espírito e importa ser conhecido em espírito e não pelo que vemos ou ouvimos.
João encerrou este capitulo afirmando qual foi o propósito para o qual escreveu o seu evangelho, dizendo que não havia registrado todos os sinais que Jesus havia operado na presença dos seus discípulos, mas que havia escrito alguns deles para que os leitores creiam que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que crendo, possam ter vida eterna em Seu nome.





João 21


A Restauração de Pedro depois da Negação - João 21

“1 Depois disto manifestou-se Jesus outra vez aos discípulos junto do mar de Tiberíades; e manifestou-se assim:
2 Estavam juntos Simão Pedro, e Tomé, chamado Dídimo, e Natanael, que era de Caná da Galiléia, os filhos de Zebedeu, e outros dois dos seus discípulos.
3 Disse-lhes Simão Pedro: Vou pescar. Dizem-lhe eles: Também nós vamos contigo. Foram, e subiram logo para o barco, e naquela noite nada apanharam.
4 E, sendo já manhã, Jesus se apresentou na praia, mas os discípulos não conheceram que era Jesus.
5 Disse-lhes, pois, Jesus: Filhos, tendes alguma coisa de comer? Responderam-lhe: Não.
6 E ele lhes disse: Lançai a rede para o lado direito do barco, e achareis. Lançaram-na, pois, e já não a podiam tirar, pela multidão dos peixes.
7 Então aquele discípulo, a quem Jesus amava, disse a Pedro: É o Senhor. E, quando Simão Pedro ouviu que era o Senhor, cingiu-se com a túnica (porque estava nu) e lançou-se ao mar.
8 E os outros discípulos foram com o barco (porque não estavam distantes da terra senão quase duzentos côvados), levando a rede cheia de peixes.
9 Logo que desceram para terra, viram ali brasas, e um peixe posto em cima, e pão.
10 Disse-lhes Jesus: Trazei dos peixes que agora apanhastes.
11 Simão Pedro subiu e puxou a rede para a terra, cheia de cento e cinqüenta e três grandes peixes e, sendo tantos, não se rompeu a rede.
12 Disse-lhes Jesus: Vinde, comei. E nenhum dos discípulos ousava perguntar-lhe: Quem és tu? sabendo que era o Senhor.
13 Chegou, pois, Jesus, e tomou o pão, e deu-lhes e, semelhantemente o peixe.
14 E já era a terceira vez que Jesus se manifestava aos seus discípulos, depois de ter ressuscitado dentre os mortos.
15 E, depois de terem jantado, disse Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes? E ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeiros.
16 Tornou a dizer-lhe segunda vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Disse-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas.
17 Disse-lhe terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Simão entristeceu-se por lhe ter dito terceira vez: Amas-me? E disse-lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo. Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas.
18 Na verdade, na verdade te digo que, quando eras mais moço, te cingias a ti mesmo, e andavas por onde querias; mas, quando já fores velho, estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá, e te levará para onde tu não queiras.
19 E disse isto, significando com que morte havia ele de glorificar a Deus. E, dito isto, disse-lhe: Segue-me.
20 E Pedro, voltando-se, viu que o seguia aquele discípulo a quem Jesus amava, e que na ceia se recostara também sobre o seu peito, e que dissera: Senhor, quem é que te há de trair?
21 Vendo Pedro a este, disse a Jesus: Senhor, e deste que será?
22 Disse-lhe Jesus: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu.
23 Divulgou-se, pois, entre os irmãos este dito, que aquele discípulo não havia de morrer. Jesus, porém, não lhe disse que não morreria, mas: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti?
24 Este é o discípulo que testifica destas coisas e as escreveu; e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro.
25 Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez; e se cada uma das quais fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem. Amém.”

Pelo que lemos no final do capítulo anterior parece que João já havia encerrado a escrita do seu evangelho, quando o Espírito lhe lembrou de deixar registrado o modo pelo qual Pedro havia sido restaurado pelo Senhor, quanto à negação do Seu nome.
Isto ocorreu na terceira vez que o Senhor apareceu aos discípulos depois da Sua ressurreição. Não a todos eles, porque o grande alvo daquela terceira aparição era Pedro, pois o Senhor trataria com Ele em particular.
O próprio João, que já estava avançado em dias de vida, quando escreveu seu evangelho, deve ter lembrado que o fato de ter sido mantido em vida por tanto tempo, depois que todos os apóstolos já haviam morrido, foi devido a uma Palavra específica de Jesus em relação a ele, enquanto revelou a Pedro, na mesma ocasião, que seria martirizado quando fosse velho, mas João seria mantido em vida depois que Pedro morresse, porque Jesus disse que queria que João permanecesse depois que Pedro fosse martirizado.
Eles haviam saído de Jerusalém para a Galiléia, mas deveriam voltar a Jerusalém para permanecerem em oração na cidade até que o Espírito Santo fosse derramado sobre eles, e para que o mesmo Espírito testificasse de Cristo através deles.
Mas, Pedro foi ao mar de Tiberíades que ficava na parte ocidental do mar da Galiléia, próximo à cidade de Cafarnaum onde residia.
Jesus não lhes repreendeu por terem ido pescar. Ao contrário, ainda lhes ajudou, por um milagre, a pescarem 153 peixes grandes, e não permitiu que as redes fossem rompidas.
Logo eles estariam pescando muitos homens com as redes do evangelho, as quais o Senhor não permitirá, pelo Seu poder, que jamais sejam rompidas.
Além disso, o Senhor mesmo havia preparado na praia um braseiro onde já estava assando um peixe e pão, os quais não seriam suficientes para alimentá-los a todos, e por isso o Senhor pediu que lhe trouxessem dos peixes que haviam acabado de pescar.
Para se alimentar eles tiveram que pescar, apesar de o Senhor ter sido quem preparou o alimento.
De igual maneira nós temos que sair para pescar os homens apesar de sabermos que é Jesus que os prepara para o céu, pelo trabalho da Sua graça.
Nos dois domingos em que aparecera aos discípulos, antes da sua terceira aparição no mar de Tiberíades, Jesus nada havia falado com Pedro acerca do assunto da sua negação.
Mas aquilo precisaria ser tratado, não para a satisfação de Jesus que conhecia o amor de Pedro por Ele, e que sabia, conforme lhe havia dito com antecedência, que ele não poderia sustentar o testemunho de fé nEle no meio de grande perseguição, sem que estivesse ainda revestido do poder do Espírito.
Por isso tratou de curá-lo fazendo-lhe entender que O amava apesar de ter-lhe negado.
Jesus não citou por um só momento que Pedro tinha sido um traidor, ou que lhe havia decepcionado, ou que não deveria tê-lo negado ou disse qualquer outra palavra que lhe fizesse se sentir culpado e acusado da negação sucessiva por três vezes.
Uma negação de três vezes seria curada com uma afirmação de amor também por três vezes.
O Senhor perguntou a Pedro se ele Lhe amava mais do que todos os demais, e Pedro respondeu afirmativamente.
A palavra no original grego para “amor”, que Jesus usou naquela primeira pergunta é “filéo”, que significa o amor de “amizade.”  
Foi também esta mesma palavra que Jesus usou quando perguntou novamente se Pedro o amava.
Mas na terceira pergunta, a palavra usada foi “ágape”, que significa o “amor espiritual, divino”.
A ambas Pedro respondeu também afirmativamente.
Entretanto, ele se entristeceu porque percebeu que Jesus queria lhe dar oportunidade para se arrepender da sua negação, e reatar sua amizade com Ele sem a sombra daquela negação que deveria ficar para trás, enterrada no passado.
O Senhor conhecia Pedro e sabia que se voltaria para Ele plenamente restaurado.
E, uma vez que havia sido curado, Jesus lhe pediu que apascentasse as Suas ovelhas.
Ninguém que não ame ao Senhor como um amigo, de todo o seu coração, e com um amor espiritual e divino, não pode apascentar o Seu rebanho, porque este deve ser apascentado com o mesmo amor que temos por Cristo, pois quando amamos os irmãos, nós temos também Lhe amado.
Quando fazemos o bem ao menor dos Seus discípulos, é a Ele mesmo que estamos fazendo. O Senhor queria que todos os apóstolos aprendessem esta lição para pô-la em prática, quando as igrejas começassem a serem fundadas por eles.    







































































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