sábado, 17 de outubro de 2015

Atos 1 a 28

Atos 1

Oração Para o Derramar do Espírito Santo – Atos 1

Por várias evidências internas, que encontramos no livro de Atos, e especialmente pelo prefácio, que endereça a escrita a Teófilo (Atos 1.1), tal como no evangelho que leva o nome do autor (Lc 1.4), concluímos que o livro de Atos foi com toda a certeza escrito por Lucas, o amigo e cooperador do apóstolo Paulo.
Lucas começa a escrita de Atos, reportando-se ao  que Jesus começou a fazer e a ensinar, até o dia da Sua ascensão (Atos 1.1,2), e destaca que, entre Sua ressurreição e ascensão, Ele estivera com os seus apóstolos pelo espaço de quarenta dias, lhes falando acerca do reino de Deus e lhes dando mandamentos pelo Espírito Santo (v. 3,4).
O Senhor também lhes ordenara, que não se ausentassem de Jerusalém, sem que antes fossem batizados pelo Espírito Santo, o qual seria derramado em cumprimento à promessa feita por Deus, e que havia sido revelada especialmente, aos profetas, desde os dias do Velho Testamento.
Nisto há um princípio para ser vivido pela Igreja, pois o que valeu para eles, vale também para todos os períodos da história da Igreja, porque não se pode fazer a obra do Senhor sem o poder do Espírito Santo.
Na verdade, somos apenas instrumentos do Espírito, e por isso é necessário estar de fato debaixo do Seu poder, direção e influência, em tudo o que deve ser feito pela Igreja.
Mas, há um ponto importante a ser destacado na experiência deles, porque a abertura das portas das nações para a pregação do evangelho, começaria a partir daquele primeiro derramamento do Espírito, que haveriam de experimentar no dia de Pentecostes.
Até que Jesus se manifestasse em carne, não havia uma comissão de se pregar o arrependimento e a fé em Cristo para a salvação, em todas as nações.
Aquele derramar seria o ponto de partida, para o início do cumprimento da grande comissão de Jesus de se pregar o evangelho em todo o mundo.
A morte, ressurreição e ascensão de Jesus, eram a prova de que a obra de remissão que Ele fizera em favor dos pecadores, foi inteiramente aceita pelo Pai, e então, o Espírito Santo prometido às nações começaria a  ser derramado, produzindo conversões de almas, pelo convencimento do pecado, da justiça e do juízo.
Como é o Espírito Santo quem marca a história da Igreja, e Sua obra há de continuar até que Cristo volte, é interessante observar, que é difícil marcar onde começa e onde termina o livro de Atos, pois o relato é visivelmente o de uma história não concluída, porque os atos do Espírito Santo se encontram na terra desde a criação do mundo, e prosseguirão na verdade, por toda a eternidade, porque a Igreja está sendo formada para ser a habitação de Deus.
“Acaso não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos?” (I Cor 6.19).  
“no qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito.” (Ef 2.22)
A história da Igreja é a história do cumprimento do propósito eterno de Deus, de habitar num corpo formado por muitos membros, do qual Cristo é a Cabeça.
É com isto em perspectiva, que devemos estudar o livro de Atos.
Lucas, tal como na escrita do seu evangelho, estava sendo inspirado pelo Espírito Santo para a produção do livro de Atos, de modo que os servos de Deus fossem instruídos, não propriamente sobre a história geral da formação da Igreja, pois não é este certamente, o propósito principal do livro.
Este, não se concentra na descrição do ministério de cada um dos apóstolos de Cristo, nem mesmo da ação de todos os seus discípulos no início da história da Igreja.
O livro registra as coisas que foram consideradas essenciais por Deus para o nosso ensino, acerca das oposições que são levantadas contra aqueles que estão encarregados da defesa do depósito da fé e da verdade, como se vê sobretudo, nas perseguições sofridas pela Igreja, e particularmente, pelos apóstolos.
Mas o triunfo da Palavra e de Cristo, por meio da Igreja, está garantido por Deus, conforme também se vê neste livro.
Muitas outras coisas foram registradas, para o ensino da Igreja, sobre o modo de como se deve caminhar na verdade, de modo que, quando a voz dos apóstolos fosse silenciada  pela morte, o testemunho do que Deus fizera através de suas vidas e tudo o que lhes foi ensinado, ficasse registrado para todas as gerações subsequentes.
O que temos portanto, neste livro, não é uma leitura opcional, senão a sã doutrina e o genuíno leite espiritual da Palavra da verdade, que nos foi dada pelo Senhor, para nosso aproveitamento, para servir de modelo e exemplo sobre o modo pelo qual Ele tem ordenado os trabalhos da Sua Igreja, e o caráter missionário da fé que abraçamos, que deve ser propagada em todas as nações e lugares.
Este caráter, autoritativo, e inspirado do livro, está marcado nas palavras do autor, destacando que Jesus havia feito obras que atestaram Sua divindade, e havia ensinado e dado mandamentos aos seus apóstolos.
Portanto, o que  fizeram, foi seguindo o exemplo do Seu Mestre, em obediência aos Seus mandamentos e ensino.
Assim, o que temos neste livro, torna-se material de caráter obrigatório a ser seguido pela Igreja de Cristo, de todas as épocas, pois não é obra e ensino de simples homens o que temos em Atos, mas sobretudo o ensino e as obras do Espírito Santo de Deus, no início da formação da Igreja.      
Note-se por exemplo, o modelo dado por Deus para o governo das Igrejas; os epíscopos, palavra grega usada em Atos 14.23 e 20.28, para designar aqueles que têm o ofício de bispos, supervisores, presbíteros, presidentes na Igreja, que são constituídos pelo Espírito Santo, como também os diáconos, auxiliares dos ministros do evangelho nas questões da administração da Igreja (cap 6).
Há Igrejas que rejeitam  uma liderança específica; na verdade, estão rejeitando a liderança de Deus, que tem ordenado oficiais para conduzirem o Seu rebanho.
Estes oficiais, são constituídos sobre o rebanho do Senhor pelo Espírito Santo, não como clérigos, mas como guias do rebanho de Cristo, e para a ajuda e aperfeiçoamento dos cristãos, para a obra do ministério, e o Espírito foi enviado por Cristo à Igreja, como outro Parácleto.
O batismo do Espírito, que deveria ser buscado pelos apóstolos, enquanto aguardavam em oração contínua em Jerusalém, conforme Jesus lhes havia ordenado, não seria para atender a nenhum capricho pessoal de qualquer um deles, senão para que fossem santificados, instruídos, amadurecidos, capacitados e aperfeiçoados para a obra que teriam que realizar como instrumentos do mesmo Espírito.
A expectativa deles, se podemos dizer, era inteiramente bíblica, segundo a revelação das Escrituras do Velho Testamento, e de tudo o que Jesus lhes havia feito e ensinado.
Eles haviam sido devidamente instruídos por Jesus, durante seu ministério terreno, que seria o Espírito Santo quem lhes recordaria tudo o que Ele havia ensinado, e que também, continuaria ensinando a eles os mistérios relativos ao reino de Deus.
Então, o que temos aqui, são servos à espera do Seu Senhor; alunos à espera do Seu Mestre; pessoas em completa submissão e temor à vontade de Deus.
De modo que, depois de terem recebido o batismo do Espírito prometido, se diz deles, que perseveravam na doutrina dos apóstolos, na comunhão e no partir do pão e nas orações.
Que havia temor em cada alma (At 2.42,43), que perseveravam unânimes e diariamente no templo, partindo o pão de casa em casa e tomando as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus, e contando com simpatia de todo o povo (2.44-47).
“Havia temor em cada alma”. O temor de Deus, dos Seus juízos, da Sua santidade, estava presente em todos.
Eles haviam aprendido isto da doutrina dos apóstolos, que era a mesma doutrina de Cristo, na qual haviam sido ensinados; sobretudo a doutrina da cruz, quanto à necessidade de crucificarem a carne com suas paixões, para poderem andar de fato no Espírito.
Vale lembrar, que os apóstolos não se nomearam apóstolos a si mesmos, eles foram escolhidos a dedo, por Cristo, e vemos neste capitulo, que para marcar esta verdade, aqueles que são ministros do evangelho devem ter sido escolhidos e chamados por Deus.
Mesmo no caso da vacância apostólica de Judas, foi buscada direção em Deus, de modo que se decidisse por sortes, conforme foram dirigidos na ocasião, quem deveria ocupar o lugar que havia sido deixado vago por ele.
Os apóstolos já haviam recebido o Espírito Santo antes do dia do Pentecostes (Jo 20.22), mas Jesus lhes disse que deveriam aguardar pelo seu derramamento, numa maior plenitude do que a que haviam recebido.
Eles receberiam maiores medidas dos dons do Espírito, das Suas graças e confortos.
Tal como os sacerdotes do Antigo Testamento, foram ungidos com o óleo sagrado, para serem consagrados para o início dos seus trabalhos no tabernáculo.
De igual modo, os apóstolos receberiam esta unção especial, da qual aquela com óleo, era uma figura, para que pudessem efetivamente, iniciar o ministério da formação da Igreja, em todas as partes do mundo.
Eles dariam testemunho da verdade, e o Espírito Santo os conduziria cada vez mais nisto, purificando e santificando suas vidas,  progressivamente, em graus, de fé em fé, de modo que o Senhor fosse glorificado, pela constatação da Sua obra em suas  próprias vidas.
Eles seriam confirmados pelo Espírito Santo nos seus apostolados, porque saberiam que não eram propriamente eles, que davam testemunho, mas o Espírito que falava através deles, lhes inspirando não somente ao conhecimento, mas à prática e à proclamação da verdade.
Quando Jesus disse aos apóstolos, que seriam batizados com o Espírito Santo, eles devem ter recordado as palavras de João Batista a respeito dEle; que era Aquele que batizaria com o Espírito Santo e com fogo.
A pergunta (v. 6) que os discípulos de Jesus lhe fizeram pouco antes da Sua ascensão, bem demonstra o quanto necessitavam da instrução do Espírito, para poderem compreender o verdadeiro caráter do reino de Deus, pois imaginavam que Jesus daria início imediato a um reinado em Israel, paralelamente aos demais reinados que existiam na terra.
Eles ainda confundiam a glória celestial, com a glória terrena.
Pensavam em poder político, como que se a sua esperança se reduzisse apenas à vida neste mundo.
Ao mesmo tempo em que o Senhor disse aos apóstolos, que não lhes competia conhecer os tempos ou as épocas que o Pai reservou à Sua própria autoridade, como por exemplo, quando ocorreria o governo de Cristo sobre todas as nações, a partir de Jerusalém, no milênio, lhes foi dito que receberiam poder  quando o Espírito Santo descesse sobre eles, e dariam testemunho dEle não apenas em Jerusalém, mas também em toda a Judéia, e entre os gentios, inclusive aos samaritanos, aos quais os judeus odiavam, e até aos confins da terra.
 Isto indicava, que antes que seja inaugurado o reino de Deus em sua forma final, importava que fosse formada a verdadeira nação de Israel, composta de cristãos de todas as épocas e nações, até o tempo determinado pelo Pai, para que Seu Filho governe sobre todas as coisas.
Já se passaram cerca de dois mil anos, desde que Jesus falou tais palavras aos discípulos, que estavam com Ele antes da Sua ascensão.
Qual seria o proveito que soubessem, que tal se daria mais de dois mil anos depois?
Certamente, isto não contribuiria para aumentar o zelo e a esperança, e muitos poderiam até mesmo, esfriar na fé, pensando que seu trabalho no Senhor seria vão, em razão do grande tempo que seria necessário esperar até a Sua volta.
Por isso, Deus tem reservado o conhecimento do dia da volta de Jesus em segredo absoluto, e não o tem revelado a ninguém, de modo que nos cabe apenas, vigiar e orar em todo o tempo, para que sejamos achados firmes e fiéis em nossa própria época, como os demais cristãos fizeram nas épocas em que viveram.
Assim, os discípulos fariam um trabalho grandemente honroso, e glorioso para Deus, pois seriam suas testemunhas na terra.
A raiz da palavra “testemunha”, no original, vem de “mártir”, isto é, eles atestariam a verdade do evangelho com seus sofrimentos, até mesmo, se necessário fosse, em face da morte.
Assim, depois de ter-lhes dado tais instruções, o Senhor subiu à vista deles para o céu, e uma nuvem o encobriu.
Cristo conhece o caminho para o céu; por isso foi para lá, pelo Seu próprio poder.
Ninguém precisa lhe ensinar o caminho, pois Ele mesmo é o caminho que nos conduzirá ao céu.
Enquanto olhavam, dois anjos se colocaram ao lado deles e lhes indagaram porque continuavam olhando para o alto, tendo a nuvem encoberto o Senhor à vista deles; pois como havia subido pelo Seu próprio poder, também retornaria à terra, por Sua própria autoridade, para estabelecer Seus juízos e inaugurar Seu governo de justiça.
Tendo Jesus ascendido aos céus no Monte das Oliveiras (At 1.12), os discípulos retornaram dali para Jerusalém.
Reunidos no cenáculo, os apóstolos, com Maria, mãe de Jesus, os irmãos dEle e as mulheres que O serviram, perseveravam unânimes em oração  (v. 13, 14).
A última vez que o nome de Maria, mãe de Jesus, é mencionado nas Escrituras, é neste primeiro capítulo de Atos, e é muito importante vermos que ela estava entre os discípulos, orando juntamente com eles, aguardando o derramar prometido do Espírito Santo.
Ela estava intercedendo como uma pessoa comum, juntamente com eles, para o mesmo propósito, e não como um ser sobrenatural, ao qual deveriam dirigir suas petições na expectativa de serem atendidos por ela.
Era apenas mais uma pessoa, entre os demais servos do Senhor, a par da honra e respeito que lhe era devido, pelo fato de ter sido escolhida por Deus, para a concepção de Cristo.
Todos estavam orando, porque este é o modo mais usual para que o Espírito Santo seja derramado sobre nós; pois é por meio da oração que nos ligamos a Deus em espírito.
É sempre por meio desta via espiritual que o Espírito Santo se manifesta a nós, por isso é ordenado que oremos em todo o tempo, no Espírito (Ef 6.18).
O próprio Jesus foi batizado pelo Espírito Santo, quando estava orando (Lc 3.21,22).
Então, não é difícil concluir, que aqueles que estão em melhores condições de receberem bênçãos espirituais são os que obedecem ao mandamento de Deus, de orar sem cessar (I Tes 5.17).
Podemos assim entender, porque Jesus não lhes ordenou, que ficassem simplesmente em Jerusalém, até que o Espírito fosse derramado.
Ele certamente lhes orientou sobre a necessidade de permanecerem em oração, para vencerem seus temores, em relação àqueles que estavam se levantando para perseguir a Igreja, especialmente os sacerdotes, fariseus e saduceus.
Eles sabiam que através da oração, poderiam vencer toda forma de oposição, pela resposta de Deus às suas súplicas.
Nosso Senhor lhes havia ensinado muitas coisas sobre a oração, especialmente, sobre o dever da oração perseverante e do suplicar sem desfalecer (Lc 18.1).
Eles estavam agora, simplesmente continuando a colocar em prática, tudo o que haviam aprendido com o exemplo pessoal do Seu Mestre.
Em Lc 24.53, vemos que eles não estavam simplesmente orando naquela ocasião, como também bendizendo a Deus.
Pois o Senhor, havia enviado o Salvador do mundo ao Seu povo, e lhes dera o encargo de anunciar esta grande salvação em toda a terra.
Aleluia!
Quão grande privilégio o deles, como também, o nosso, de sermos embaixadores de Deus e de Cristo, no sagrado ministério da reconciliação dos pecadores com Deus.
Eles estavam unânimes, porque haviam também aprendido de Jesus, a necessidade de unidade e concordância nas petições dos que oram, para que sejam respondidas por Deus (Mt 18.19).  
Vemos então, que não estavam agindo por simples intuição, quando permaneceram em oração unânime e perseverante, a qual continuou ao longo de toda a vida, mas por estarem devidamente esclarecidos, sobre a necessidade e o dever da Igreja de orar sempre, sem cessar.
Estavam incentivados e animados, pela grande honra de servir Àquele que subira aos céus à vista deles, e que lhes prometeu que voltaria.
Para sua segurança, isto foi confirmado por dois anjos que lhes falaram da volta do Senhor, enquanto Jesus subia aos céus.
Não havia nada mais importante a fazer naquele momento, senão orar incessantemente, para que fosse cumprida a promessa do derramamento do Espírito Santo, para iniciarem a ordem que lhes foi dada, de darem testemunho do evangelho em todas as nações.
Nós podemos imaginar, quão grande era a expectativa em todos eles, e isto certamente, contribuía, grandemente, para que perseverassem em oração.
Quando a Igreja não tem expectativas de apressar o retorno do Senhor, pela pregação do evangelho, entregando-se inteiramente a isto, como se pode esperar que os cristãos sejam poderosos em oração?
Somente o despertar das consciências, do trabalho do qual fomos encarregados para realizar para o Senhor até que Ele volte, pode produzir cristãos verdadeiramente fervorosos na oração, e na evangelização.
Quando falta isto, o que se vê normalmente, são cristãos orando egoística e unicamente, para a própria segurança e conforto pessoal, esquecidos das necessidades daqueles que se encontram no mundo, necessitando de salvação.
Que se ore por estes, e que se lhes dê testemunho de Cristo e do Seu evangelho, para tal fim.    
Então, embalados pelo desejo de obedecer a Seu Mestre e as ordens específicas que lhes deu, de que não se ausentassem de Jerusalém; em vez de retornarem à Galiléia, onde estava o domicílio da maioria deles, permaneceram em Jerusalém, se santificando, através do exercício da oração, na expectativa da descida do Espírito Santo.
A permanência em Jerusalém, ainda que Jesus não lhes tenha dito o motivo, certamente tinha a ver com o fato, de que para lá se dirigiam judeus de todas as partes do mundo, e não somente de Israel, no dia da festa de Pentecostes.
Aquela festa, que sempre ocorria num domingo; simbolizava a consagração a Deus das primícias da colheita; e foi propositalmente, que Ele havia determinado esta festa anual, na Lei de Moisés, para servir de figura, do fenomenal evento que ocorreria na terra.
As primícias da colheita de almas pelo pequeno núcleo da Igreja, na seara de Deus, no mesmo dia em que o Espírito Santo seria derramado, em cumprimento à promessa revelada aos profetas.
E quão grande e inigualável festa seria tal evento aos olhos de Deus!
Pois, se há grande alegria diante dos anjos nos céus por um só pecador que se arrepende, qual não seria então a alegria pelas quase três mil almas, que se converteram naquele dia (At 2.41)?
Muitos se perguntam ainda hoje, por que foi necessário escolher um outro apóstolo, para ocupar o lugar de Judas.
Muitos pensam, que seria em razão de o número 12, ser um número místico, e que a Igreja não poderia ser formada, a não ser com um número exato de doze apóstolos.
Entretanto, devemos dizer antes de tudo, que o número inicial de doze apóstolos foi aumentado em muito. Lembremo-nos dos irmãos de Jesus - Tiago e Judas - que passaram a compor o apostolado, tendo sido Tiago, o provável líder da Igreja em Jerusalém, como podemos inferir do quinto capítulo do livro de Atos.
Não devemos esquecer também, que o maior dos apóstolos ainda seria juntado àquele grupo, a saber, Paulo; bem como muitos outros foram designados como apóstolos, como por exemplo, Barnabé (At 14.14).
Mas, o motivo da escolha de um apóstolo, com o propósito específico de ocupar o lugar de Judas, se deveu à estrita obediência à Palavra de Deus, por parte da Igreja de então, pois no próprio versículo 20, deste capítulo de Atos, Pedro afirmou diante da assembléia de cerca de 120 discípulos, o que se encontra registrado no Salmo 109.8:
“Fique deserta a sua habitação, e não haja quem nela habite; e: Tome outro o seu ministério”.
Esta falta de apreço, respeito e cumprimento à Palavra de Deus, tão comum, que há em nossos dias, não era algo que havia entre eles, bem como não há entre os servos do Senhor, que verdadeiramente O temem, pois sabem da seriedade de tudo o que a boca de Deus tem proferido.
Eles se apressaram então, em cumprir aquilo que estava predito no Salmo; outro deveria ocupar o ministério de Judas, pois com isso, ficaria marcado para o temor da própria Igreja, que aquele que falha no seu ministério, será substituído pelo Senhor por outra pessoa, que O sirva fielmente; tal como ocorrera com Judas.
Pedro afirma, que o que foi escrito por Davi no Salmo, fora por inspiração do Espírito Santo (v. 16), e que convinha portanto, que fosse cumprido como de fato estava ocorrendo, porque Judas havia traído o Senhor apesar de ter tido parte com eles no ministério apostólico (v.17).
Ele havia deixado deserta a sua casa, porque havia morrido não de um modo honroso e glorioso, por conta de um testemunho fiel de Cristo, mas por um juízo determinado de Deus sobre ele, conforme já estava previsto no Salmo.
E ele o fez, se suicidando (Mt 27.5).
Eles procederam àquela substituição do modo correto, segundo o critério de Deus, pois propuseram à Igreja dois, dentre todos os que estavam mais bem qualificados espiritualmente, pelo seu testemunho de vida, a ocupar o ofício (v. 23).
Oraram então, pedindo a Deus, porque somente Ele conhece o coração humano, para que lhes revelasse qual dos dois deveria ser o escolhido, para cumprir aquilo que o próprio Deus havia falado há séculos, pela boca do salmista.
Quem era aquele que deveria ocupar o ministério, no lugar de Judas?
Inspirados pelo Espírito, sentiram-se movidos a lançar sortes, naquela situação específica, sobre os dois nomes escolhidos (José, que era também chamado por Barsabás, e que tinha o apelido de Justo, e o outro que tinha por nome Matias).
O Senhor fez com que a sorte recaísse sobre Matias (v. 26).
Que grande lição de obediência à Palavra de Deus!
E que estrita obediência e dependência dEle, nós encontramos nesta simples passagem.
Isto foi registrado, para instrução da Igreja de todas as épocas, pois é desta forma que o Senhor deve ser servido e honrado.



“1 Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo quanto Jesus começou a fazer e ensinar,
2 até o dia em que foi levado para cima, depois de haver dado mandamento, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera;
3 aos quais também, depois de haver padecido, se apresentou vivo, com muitas provas infalíveis, aparecendo-lhes por espaço de quarenta dias, e lhes falando das coisas concernentes ao reino de Deus.
4 Estando com eles, ordenou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, a qual (disse ele) de mim ouvistes.
5 Porque, na verdade, João batizou em água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo, dentro de poucos dias.
6 Aqueles, pois, que se haviam reunido perguntavam-lhe, dizendo: Senhor, é nesse tempo que restauras o reino a Israel?
7 Respondeu-lhes: A vós não vos compete saber os tempos ou as épocas, que o Pai reservou à sua própria autoridade.
8 Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samária, e até os confins da terra.
9 Tendo ele dito estas coisas, foi levado para cima, enquanto olhavam, e uma nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos.
10 Estando eles com os olhos fitos no céu, enquanto ele subia, eis que junto deles apareceram dois varões vestidos de branco,
11 os quais lhes disseram: Varões galileus, por que ficais aí olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi elevado para o céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir.
12 Então voltaram para Jerusalém, do monte chamado das Oliveiras, que está perto de Jerusalém, à distância da jornada de um sábado.
13 E, entrando, subiram ao cenáculo, onde permaneciam Pedro e João, Tiago e André, Felipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus; Tiago, filho de Alfeu, Simão o Zelote, e Judas, filho de Tiago.
14 Todos estes perseveravam unanimemente em oração, com as mulheres, e Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele.
15 Naqueles dias levantou-se Pedro no meio dos irmãos, sendo o número de pessoas ali reunidas cerca de cento e vinte, e disse:
16 Irmãos, convinha que se cumprisse a escritura que o Espírito Santo predisse pela boca de Davi, acerca de Judas, que foi o guia daqueles que prenderam a Jesus;
17 pois ele era contado entre nós e teve parte neste ministério.
18 (Ora, ele adquiriu um campo com o salário da sua iniquidade; e precipitando-se, caiu prostrado e arrebentou pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram.
19 E tornou-se isto conhecido de todos os habitantes de Jerusalém; de maneira que na própria língua deles esse campo se chama Acéldama, isto é, Campo de Sangue.)
20 Porquanto no livro dos Salmos está escrito: Fique deserta a sua habitação, e não haja quem nela habite; e: Tome outro o seu ministério.
21 É necessário, pois, que dos varões que conviveram conosco todo o tempo em que o Senhor Jesus andou entre nós,
22 começando desde o batismo de João até o dia em que dentre nós foi levado para cima, um deles se torne testemunha conosco da sua ressurreição.
23 E apresentaram dois: José, chamado Barsabás, que tinha por sobrenome o Justo, e Matias.
24 E orando, disseram: Tu, Senhor, que conheces os corações de todos, mostra qual destes dois tens escolhido,
25 para tomar o lugar neste ministério e apostolado, do qual Judas se desviou para ir ao seu próprio lugar.
26 Então deitaram sortes a respeito deles e caiu a sorte sobre Matias, e por voto comum foi ele contado com os onze apóstolos.” (Atos 1.1-26)




Atos 2

O Batismo do Espírito Santo no Pentecostes – Atos 2

Deus havia ordenado na Lei dada a Moisés que fossem celebradas anualmente festas em datas fixas por Ele determinadas (entre estas a Páscoa e Pentecostes).
E Israel celebrou estas festas por mais de quatorze séculos, até a morte de nosso Senhor Jesus Cristo (Páscoa), e o derramamento do Espírito Santo (Pentecostes).
Tão significativo para a humanidade, no plano divino, é a morte de Jesus, e o trabalho do Espírito Santo em todas as nações, a partir daquele grande derramamento, que Ele ordenou que estes dois eventos associados à nossa salvação, fossem representados figuradamente, em duas ordenanças que foram dadas à nação da Aliança (Israel) para serem cumpridas no período do Velho Testamento.
O derramamento do Espírito Santo no dia de Pentecostes, produziu não somente os efeitos sobrenaturais, audíveis e visíveis descritos no início do 2º capítulo de Atos, como também a transformação das vidas daqueles que creram e foram batizados pelo Espírito, conforme se vê na descrição que é feita no final deste mesmo capítulo.
A grande ênfase do derramar do Espírito, da manifestação do Seu poder, tal como no dia de Pentecostes, não deve estar tanto no som impetuoso, como de uma grande ventania, nem na aparência de línguas de fogo sobre nossas cabeças, nem no fato de falarmos em línguas estrangeiras, de modo a podermos ser entendidos pelas pessoas das nações que falem tais línguas (tal como sucedeu naquele dia), porque estes sinais da manifestação do derramar, que acompanharam o primeiro derramar do Espírito, nem sempre tem ocorrido, e na verdade, raramente houve tal testemunho em toda a história da Igreja.
Lembremos que o falar em línguas daquela ocasião, foi diferente do dom de línguas estranhas citadas em I Coríntios 12, 14, que segundo Paulo, são mistérios que ninguém entende, salvo se houver também, o dom de interpretação.
Aqueles primeiros sinais, que evidenciaram a presença do Espírito, quando foi derramado pela primeira vez, realmente não se têm repetido, tal como quando Ele veio na forma de uma pomba sobre Jesus, para batizá-lo no Jordão, quando começou Seu ministério terreno.
Entretanto, o Espírito Santo não deixou de manifestar evidências de Sua presença entre nós, agindo sempre conforme Lhe apraz, e nunca segundo nossos próprios desejos e expectativas.
Deus havia escolhido o dia de Pentecostes para começar a derramar o Espírito Santo, porque havia uma grande multidão reunida em Jerusalém, de todas as nações, para a celebração da citada festa.
O evangelho foi pregado de maneira maravilhosa pela primeira vez, pelos cerca de 120 discípulos do Senhor, que se encontravam reunidos quando o Espírito veio sobre eles, porque pregavam a mesma mensagem, que era ouvida ao mesmo tempo, por todos em suas próprias línguas.
Diante da admiração deles, e de terem alguns, tentado, como é comum acontecer quando Deus manifesta  Sua presença, desqualificar os discípulos do Senhor, dizendo que estavam fazendo aquilo por estarem embriagados, Pedro se levantou para pregar seu primeiro sermão, não especialmente, para justificar que não estavam embriagados, porque as palavras que haviam ouvido em suas próprias línguas, o evangelho do Senhor, não poderiam ser palavras de embriagados.
Assim, as palavras de Pedro foram uma confirmação e uma explicação mais extensa das coisas que haviam ouvido, pelas bocas dos apóstolos e dos demais discípulos, que lhes falaram no fogo e poder do Espírito, daí o motivo de ter havido uma aparência de línguas de fogo sobre a cabeça de cada um deles.
Pedro lhes mostrou, que aquilo era o cumprimento de uma promessa, que Deus havia feito desde os dias do Velho Testamento, através dos profetas, e citou particularmente, a profecia de Joel 2.28; vinculando-a ao fato, de que aquele derramar do Espírito Santo estava associado à morte e ressurreição de Jesus.
Citou e explicou o Salmo 16.10 de Davi, no qual fala, que o corpo de Jesus não veria a corrupção e que não seria vencido pela morte, uma vez que seria ressuscitado dentre os mortos; uma evidência de que não somente continuava vivo nos céus, mas que aquela era a prova de ter sido escolhido para ser Aquele que venceria a morte de todos os que nEle cressem.
Uma vez que foi glorificado nos céus, comprovou esta glorificação, cumprindo a promessa feita aos profetas do Velho Testamento, de que seria por causa dEle, que o Espírito seria derramado em todas as nações.
Aquela primeira pregação do evangelho pela Igreja, pela ajuda do Espírito,  produziu a conversão de cerca de três mil pessoas.
O fato de pessoas, de todas as nações, terem ouvido o evangelho em sua própria língua, na primeira vez que ele foi pregado, era um sinal de que não era uma bênção apenas para os judeus, mas também para todos os gentios.
É digno de nota, o fato de que, todo dia de comemoração do Pentecostes, caía num domingo.
Foi desde os dias de Moisés, que Deus havia determinado tal festividade, de maneira que ficasse registrado, que a primeira reunião solene da Igreja em visitação do Espírito deveria ser num domingo, separando portanto, este dia para a adoração pública do Seu nome, e para a celebração da ressurreição de Seu Filho, o que aconteceu também, num domingo.
Sete semanas (49 dias) deviam ser contadas, desde o sábado da páscoa, e o dia seguinte seria o de Pentecostes; assim, caía sempre num domingo.
Vale lembrar que Jesus havia morrido no dia da páscoa dos judeus, porque o sábado começava na tarde daquela sexta-feira, na qual Ele foi pregado na cruz.
O Pentecostes, era o dia em que os israelitas tinham que apresentar as primícias de suas colheitas ao Senhor, no tabernáculo, e depois no templo.
Então, aquelas primeiras almas, que se converteram naquele primeiro Pentecostes em Jerusalém, eram apenas as primícias da grande colheita, que o Espírito continuaria realizando para Deus em toda a terra.
A adoração pública que era feita no dia de sábado, estava sendo transferida pelo Senhor para o dia de domingo, para marcar que havia de fato, revogado a Antiga Aliança,que vigorou nos dias do Velho Testamento, por causa da Nova Aliança, que havia inaugurado na morte e ressurreição de Cristo.
Esta, fora confirmada agora, com o derramar do Espírito num dia de domingo, conforme Ele havia predeterminado, desde a antiguidade, para honrar Seu Filho, em cujo sangue esta Nova Aliança foi instituída.
Este dia de domingo, deve ser santificado por todos os cristãos, pela santificação de suas próprias vidas na adoração que é devida ao Senhor; especialmente para a pregação do evangelho, tal como ocorreu no primeiro Pentecostes, quando os discípulos e Pedro pregaram o evangelho no poder do Espírito.
Esta é a mensagem daquele Pentecostes para a Igreja de todos os tempos: o evangelho deve ser pregado no poder do Espírito e produzir nas pessoas, o bom efeito esperado por Deus, na transformação de suas vidas.
O primeiro Pentecostes não veio sobre cristãos que não sabiam para onde iam, que não tinham objetivos definidos, e que eram descuidados com a santificação de suas vidas.
Eles haviam aprendido de Jesus, em Seu ministério terreno, o modo pelo qual importava viverem e estarem reunidos em Seu nome, a saber; orando, meditando na Sua Palavra, e louvando-0 com Salmos e hinos.
Se não estivessem vivendo daquela maneira, o Espírito Santo não poderia ter sido derramado sobre eles.
De igual modo, se queremos novos Pentecostes entre nós, é necessário fazer tal como eles haviam feito.
Não é por se dizer simplesmente, que cremos e somos de Cristo, que somos salvos pela graça.
É mediante a fé no Seu nome, que temos o direito adquirido de ter a presença do Espírito entre nós.
Dizemos que não é somente isto que é necessário, porque é possível afirmar tudo isto com os lábios, e viver tal como Judas.
Assim como ele não teve parte naquela bênção; de igual modo, não poderão ter, todos quantos viverem como ele, com interesses mundanos e carnais, que não buscam os interesses de Cristo e do Seu reino, pela santificação de suas vidas.
Eles pagaram o preço da oração, da comunhão, da perseverança, e o Espírito veio com poder sobre eles.
Calcularam o custo da salvação, e mesmo sabendo que é inteiramente pela graça e mediante a fé, sabiam que isto deveria ser evidenciado no testemunho de vidas santificadas para Deus.
Eles estavam dispostos a pagarem o preço do desprezo do mundo, da perseguição, da renúncia aos seus egos, da justiça própria deles, e de se consagrarem verdadeiramente, ao serviço do Senhor pregando Sua Palavra a toda criatura.
Foi por isso, que o Espírito veio, revestindo-os de poder.
Lembremos sempre, que onde os irmãos estiverem vivendo na unidade do Espírito, é ali que o Senhor ordena a Sua bênção.
Há um preço portanto, a ser pago por nós (o da consagração), apesar de toda a nossa salvação ser inteiramente realizada pela graça de Jesus.
Pedro explicou qual foi o propósito real daquele derramar poderoso, que era o de conduzi-los ao arrependimento dos seus pecados, para que pudessem ser batizados no nome de Jesus, remidos dos seus pecados pelo Seu sangue.
Para este propósito, eles receberiam o dom do Espírito Santo, porque é por Ele que somos regenerados, santificados e purificados dos nossos pecados.
É dito também, que com muitas outras palavras Pedro lhes deu testemunho, e lhes exortava dizendo que “se salvassem desta geração perversa” (v. 40).
Lucas não registrou quais foram estas “muitas outras palavras”, mas diz que eram de testemunho e de exortação, e certamente, não temos a menor dúvida de que se referiam ao dever de andarem de modo santo diante de Deus.
Jesus havia soprado o Espírito sobre os apóstolos antes do Pentecostes, e lhes havia dado o revestimento de poder do Espírito, que necessitariam, para suportar as pressões das perseguições até que viesse o Pentecostes. Mas neste dia, ficaram cheios do Espírito,  revestidos de uma maior plenitude e poder, que lhes foi conferida por Ele, no batismo que lhes dera naquela hora.
Eles haviam sido selados com poder, mas este poder deve ser renovado diariamente.
Eles estavam bem conscientes disto, conforme Jesus lhes havia ensinado, e como também, poderiam aprender da própria experiência diária.
Para que a chama seja mantida acesa, deve ser alimentada com combustível, e este combustível é o próprio Espírito Santo, que se moverá em nós e nos encherá, à medida que nos consagremos ao Seu serviço.
Não devemos portanto, nos limitar a ficar satisfeitos com as experiências de poder que tivemos com o Espírito no passado, mas buscar novos revestimentos de poder em todos os dias de nossas vidas.
É permanecendo continuamente na Sua presença, que somos cheios e revestidos do Seu poder, especialmente para implantar em nós o seu fruto de amor, bondade, paz, alegria, longanimidade, fidelidade, domínio próprio, benignidade, e todas as demais virtudes que fazem parte da divindade.
Aquela evidência de falar o evangelho por outras línguas aos gentios, foi uma forma de Deus começar a quebrar a resistência dos judeus em pensarem, que o evangelho de Jesus seria somente para eles, apesar das Escrituras do Velho Testamento darem um claro testemunho que seria também para os gentios.
Assim, eles falaram verdades sobre as quais,  não estavam ainda convencidos completamente, em razão do sentimento nacionalista, e de saberem que por durante séculos, o Senhor havia se revelado somente através de Israel.
Tanto isto é verdade, que o próprio Pedro resistiu muito, no início, em pregar aos gentios.
Vemos isto, no caso da sua convocação, para estar na casa do centurião romano chamado Cornélio, a ponto de ter sido necessário, convencê-lo com a visão do lençol, que descia do céu cheio de animais impuros segundo a lei, aos quais Deus ordenou que Pedro se alimentasse deles.
Desta maneira, ele foi convencido que todo o cerimonialismo da Antiga Aliança, que impedia os israelitas de se juntarem aos gentios, havia sido derrubado pela Nova Aliança; que havia sido inaugurada por Cristo, e revogado todo o cerimonial da lei de Moisés.
Muitos judeus piedosos (At 2.5), se converteram dentre aqueles três mil, porque reconheceram que sem o poder do Espírito, sem aquela graça que estavam vendo na vida dos apóstolos, não poderiam viver de modo real, tudo aquilo que se exige dos homens, para que estejam em comunhão com Deus.
Eles sabiam que necessitavam antes de tudo, de serem justificados e perdoados  de seus pecados, para que pudessem ter uma aproximação real deste Deus, que é inteiramente santo e justo.
Eles foram compungidos e convencidos pelo Espírito em seus corações, de que deveriam confiar e se entregarem completamente a Cristo, para poderem ter a mesma vida que estavam vendo nos Seus discípulos.
Eles não pregaram a si mesmos, senão somente a Cristo, mas o Cristo que pregaram podia ser visto em suas vidas.
Somente Cristo, venceu a morte, que entrou no mundo por causa do pecado.
É Ele a fonte de toda a verdadeira vida eterna, e somente a Ele devemos estar unidos, para termos a bênção de alcançar a vitória sobre a morte.
Assim como a carne do sacrifício, que era oferecido no Velho Testamento não poderia ser guardada até o terceiro dia, para que não apodrecesse, porque nenhum sacrifício oferecido ao Senhor, deve passar pela corrupção (Lev 7.15-18), de igual maneira, o corpo de Jesus não poderia ser apodrecido na sepultura, porque foi oferecido como sacrifício pelos nossos pecados.
Ele foi ressuscitado antes que seu corpo viesse a se corromper, como havia sido profetizado no Salmo.
A corrupção do corpo, significa a prevalência da morte, mas a morte não poderia prevalecer sobre Cristo, que é o autor da vida, e Aquele que foi designado para vencer a morte.
Por isso, Pedro destacou esta verdade no sermão que proferiu naquele dia de Pentecostes.
Afinal, Jesus havia morrido e ressuscitado recentemente, e eles haviam sido levantados para darem testemunho da Sua morte e ressurreição, para a justificação dos nossos pecados, de maneira que nós também possamos ter a mesma vitória sobre a morte.
Quando Pedro disse aos que lhe perguntaram o que deveriam fazer para serem salvos; que, deveriam se salvar desta geração perversa, não significava, que isto se encontrasse na esfera do próprio poder deles, mas em se renderem a Cristo.
Estas palavras do apóstolo nos ensinam, que estar convertido de fato a Cristo, não significa somente fazermos uma profissão de fé no Senhor, mas em nos desarraigarmos deste mundo perverso.
Se a evidência da salvação é portanto, a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor, não nos deixemos enganar portanto, por um cristianismo fácil, que não nos custe o preço da consagração, tal como fomos advertidos por Cristo e seus apóstolos.
Há uma questão muito fundamental para todos os que estão vivendo neste mundo; na verdade, a única coisa que é necessária, e pela qual importa lutarmos verdadeiramente, que é a salvação da nossa alma.
Há uma vida gloriosa prometida por Deus nas Escrituras para aqueles que andarem em conformidade com a Sua vontade, mas um horror eterno, a todos que resistirem a Ele.
Por isso o Espírito Santo, no primeiro sermão que foi pregado através de Pedro, quando foi derramado no Pentecostes, não enfatizou nenhum ensino que se concentrasse senão somente no que é essencial para a nossa salvação, a saber, o arrependimento dos nossos pecados, e a completa confiança em Cristo, para a salvação e santificação de nossas vidas.
Jesus recebeu a promessa do Espírito Santo, para poder derramá-lo sobre aqueles que estavam mortos em seus delitos e pecados; sobre aqueles que Lhe foram dados pelo Pai.
O Espírito foi derramado exatamente para o propósito, de mudar nossos corações na regeneração (novo nascimento), e continuar o trabalho de amadurecimento espiritual através da santificação.
Como a Palavra que era pregada e vivida na Igreja Primitiva era o verdadeiro evangelho, então, Deus lhes acrescentava diariamente os que iam sendo salvos.
Ele fará o mesmo conosco, acrescentando convertidos às nossas Igrejas, se tal como eles fizeram no passado, tão somente pregarmos a verdade, e também vivermos de acordo com a verdade que pregamos.
Eles estavam cheios do amor de Deus, cheios do Espírito, e este amor pelas pessoas no Espírito, contribuiu para a conversão de muitos.
Se não pregarmos o evangelho por amor e misericórdia aos pecadores, é bem certo que poucos venham a se converter debaixo da nossa pregação e do nosso ministério.





“1 Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar.
2 De repente veio do céu um ruído, como que de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados.
3 E lhes apareceram umas línguas como que de fogo, que se distribuíam, e sobre cada um deles pousou uma.
4 E todos ficaram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem.
5 Habitavam então em Jerusalém judeus, homens piedosos, de todas as nações que há debaixo do céu.
6 Ouvindo-se, pois, aquele ruído, ajuntou-se a multidão; e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua.
7 E todos pasmavam e se admiravam, dizendo uns aos outros: Pois quê! não são galileus todos esses que estão falando?
8 Como é, pois, que os ouvimos falar cada um na própria língua em que nascemos?
9 Nós, partos, medos, e elamitas; e os que habitamos a Mesopotâmia, a Judéia e a Capadócia, o Ponto e a Ásia,
10 a Frígia e a Panfília, o Egito e as partes da Líbia próximas a Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeus como prosélitos,
11 cretenses e árabes-ouvímo-los em nossas línguas, falar das grandezas de Deus.
12 E todos pasmavam e estavam perplexos, dizendo uns aos outros: Que quer dizer isto?
13 E outros, zombando, diziam: Estão cheios de mosto.
14 Então Pedro, pondo-se em pé com os onze, levantou a voz e disse-lhes: Varões judeus e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e escutai as minhas palavras.
15 Pois estes homens não estão embriagados, como vós pensais, visto que é apenas a terceira hora do dia.
16 Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel:
17 E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos mancebos terão visões, os vossos anciãos terão sonhos;
18 e sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e eles profetizarão.
19 E mostrarei prodígios em cima no céu; e sinais embaixo na terra, sangue, fogo e vapor de fumaça.
20 O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e glorioso dia do Senhor.
21 E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.
22 Varões israelitas, escutai estas palavras: A Jesus, o nazareno, varão aprovado por Deus entre vós com milagres, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis;
23 a este, que foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, vós matastes, crucificando-o pelas mãos de iníquos;
24 ao qual Deus ressuscitou, rompendo os grilhões da morte, pois não era possível que fosse retido por ela.
25 Porque dele fala Davi: Sempre via diante de mim o Senhor, porque está à minha direita, para que eu não seja abalado;
26 por isso se alegrou o meu coração, e a minha língua exultou; e além disso a minha carne há de repousar em esperança;
27 pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção;
28 fizeste-me conhecer os caminhos da vida; encher-me-ás de alegria na tua presença.
29 Irmãos, seja-me permitido dizer-vos livremente acerca do patriarca Davi, que ele morreu e foi sepultado, e entre nós está até hoje a sua sepultura.
30 Sendo, pois, ele profeta, e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento que faria sentar sobre o seu trono um dos seus descendentes,
31 prevendo isto, Davi falou da ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi deixada no inferno, nem a sua carne viu a corrupção.
32 Ora, a este Jesus, Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas.
33 De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis.
34 Porque Davi não subiu aos céus, mas ele próprio declara: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita,
35 até que eu ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés.
36 Saiba pois com certeza toda a casa de Israel que a esse mesmo Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo.
37 E, ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração, e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos?
38 Pedro então lhes respondeu: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para remissão de vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo.
39 Porque a promessa vos pertence a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe: a quantos o Senhor nosso Deus chamar.
40 E com muitas outras palavras dava testemunho, e os exortava, dizendo: salvai-vos desta geração perversa.
41 De sorte que foram batizados os que receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas;
42 e perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações.
43 Em cada alma havia temor, e muitos prodígios e sinais eram feitos pelos apóstolos.
44 Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum.
45 E vendiam suas propriedades e bens e os repartiam por todos, segundo a necessidade de cada um.
46 E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam com alegria e singeleza de coração,
47 louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos.”. (Atos 2.1-47)






Atos 3

Testemunho no Poder do Espírito – Atos 3

Realmente é o Espírito Santo quem convence do pecado, da justiça e do juízo, e que é o único que pode de fato salvar, regenerando (novo nascimento) os homens, mudando seus corações de pedra em corações de carne.
Não foram os apóstolos que fizeram este trabalho, mas o Espírito Santo mediante a pregação  do evangelho por eles.
Quando Jesus esteve pregando o evangelho com os apóstolos o número de convertidos que se encontravam reunidos no dia de Pentecostes, alcançados pelo ministério deles eram apenas cento e vinte pessoas.
E agora, depois do derramar do Espírito no Pentecostes, cerca de três mil haviam se convertido naquele dia, e, com a pregação de Pedro depois da cura do paralítico o número de convertidos foi a cinco mil pessoas, conforme se vê em At 4.4.
Em tão pouco tempo as conversões estavam ocorrendo aos milhares.
Portanto, este fato comprova que tudo o que se relata no livro de Atos, e na história da Igreja quanto à conversão de almas, é o resultado do testemunho  e do trabalho do Espírito Santo em toda a terra, e não propriamente por causa do  próprio poder pessoal daqueles que pregam o evangelho.
Eles devem dar testemunho mas quem faz o trabalho é o Espírito Santo, conforme se vê no testemunho da Bíblia, porque mesmo durante o ministério terreno de Jesus as conversões não aconteceram em tão grande número porque o Espírito não havia ainda sido derramado, e conforme Jesus disse a Nicodemos, seria o Espírito que faria este trabalho de atrair as pessoas a Ele, para serem convertidas, somente depois que Ele fosse levantado na cruz.
E a razão disto é que primeiro o preço exigido para o perdão dos nossos pecados teria que ser pago por nosso Senhor com a Sua morte, e somente depois disto poderíamos ser justificados pela fé nEle, para sermos regenerados e santificados pelo Espírito.
Não podemos então tentar fazer o trabalho do Senhor sem o poder do Espírito.
Devemos ser apenas instrumentos em Suas mãos, para que Ele faça a obra, enquanto damos testemunho da verdade, tal como Ele fizera na casa do centurião Cornélio, enquanto Pedro lhes pregava o evangelho.
Jesus havia curado a muitas pessoas de toda sorte de enfermidades e expulsado os demônios de muitos.
Havia feito milagres portentosos como o da multiplicação dos pães e peixes, e no entanto, poucos se dispuseram a segui-lO, submetendo-se à Sua Palavra, porque o Espírito não havia sido ainda derramado.
Nisto comprovou portanto definitivamente que não é por verem sinais e maravilhas e até mesmo por ouvirem a pregação do evangelho que as pessoas se converterão, mas por haver uma operação do Espírito Santo nos seus corações, e uma rendição delas à Sua ação poderosa.
Em vez de levantar somente perseguições dos sacerdotes e fariseus como aconteceu com o Senhor Jesus nos dias do Seu ministério terreno, a cura de um coxo foi a oportunidade para atrair a atenção de muitos e para que Pedro lhes pregasse o evangelho, de maneira que vieram a se converter cinco mil pessoas.
Houve resistência dos sacerdotes e fariseus aos apóstolos, mas eles não podiam fazer nada contra o trabalho do Espírito Santo nos corações daqueles que estavam se convertendo.
Se formos enviados a pregar pelo Senhor e se o Espírito Santo não somente nos capacitar a pregar o evangelho, como também operar nos corações daqueles que nos ouvem, fazendo com que se convertam a Deus, podemos estar seguros de que teremos sucesso no nosso trabalho.
Todavia, caso nos falte esta comissão do Senhor nos enviando a pregar onde seja do Seu desejo, e se não temos este trabalho do Espírito nos conduzindo em tudo o que fizermos, e sobretudo o trabalho que ele faz naqueles que nos ouvem, podemos estar certos de que fracassaremos na nossa pregação e em tudo o mais que pretendermos fazer para Deus.
Até mesmo o dia e as condições para a conversão destes cinco mil foram preparadas pelo Espírito.
Nós vimos no verso 43 do segundo capítulo de Atos que muitos sinais e prodígios foram feitos através dos apóstolos, e eles não foram escritos neste livro, e isto estava confirmando que de fato Deus havia derramado o Espírito Santo sobre os discípulos de Jesus, e que era verdade tudo o que Ele havia falado acerca das coisas que Seus discípulos fariam depois da Sua morte e ressurreição, até mesmo obras maiores do que as que Ele havia feito, em razão deste derramar do Espírito em todas as nações.
As conversões eram reais e os sinais e maravilhas eram também reais.
E muitos estavam certamente refletindo acerca de todas estas coisas e se predispuseram a ouvir o sermão de Pedro depois que o paralítico fora curado pelo poder de Deus em nome do Senhor Jesus.
A cura do paralítico ocorreu à hora nona, quando as pessoas iam orar no templo, isto é, cerca de três horas da tarde.
Todos que iam ao templo sabiam que aquele homem era paralítico de nascença, e que sempre se achava no templo para pedir esmolas.
A cura de sua enfermidade produziu algo bom não somente ao próprio paralítico, como também trouxe vida eterna àquelas cinco mil almas.
Deus faz com que tudo coopere para o bem daqueles que O amam.
Até o próprio mal de uma enfermidade pode ser usado para amolecer corações, que teriam permanecido endurecidos para sempre caso o Senhor não permitisse que tais fraquezas e debilidades decorrentes das enfermidades nos revelem a nossa real condição de vasos de barro, e que assim produz em nós, melhores sentimentos decorrentes de um coração manso e quebrantado.
Quantas vezes se repete, na natureza, que a vida vegetal brote somente na terra que foi quebrada pelo arado.
Há nisto um ensinamento para o próprio coração humano que somente poderá produzir o fruto do amor divino se for quebrado pelas tribulações.
Bem-aventurado é portanto, todo aquele que passou pelo vale das aflições com um coração quebrantado, porque além dele achará o monte do amor de Jesus Cristo.
A cura de uma enfermidade física trouxe cura para milhares de almas.
E isto tem ocorrido sucessivas vezes na história da Igreja.
Muitos chegam a conhecer o amor de Deus somente pelo caminho da dor, mas bendito seja o Seu santo nome por isso, porque somente assim eles podem chegar ao conhecimento da verdadeira felicidade, e da real condição do Deus que servimos, que é puro amor e misericórdia.
O homem não pode ser verdadeiramente feliz, com aquela bem-aventurança que Deus planejou para ele, enquanto não conhecer e também viver e experimentar em si mesmo este amor divino.
A mansidão, a doçura, a poesia que há neste amor, que constitui a natureza mesma de Deus.
Enquanto não for quebrado será arrogante.
A sua força natural é a sua própria fraqueza porque o mantém afastado da concepção de que necessita vitalmente conhecer este amor divino.
Mas se for quebrado, poderá chegar a conhecer que a força verdadeira está na nossa fraqueza.
Quando somos tornados fracos então nos tornamos verdadeiramente fortes, porque descobrimos que Deus é amor e que dependemos de viver neste amor.
Pode parecer um paradoxo, mas é a mais pura realidade, porque o caminho e o pensamento de Deus são diferentes dos nossos.
A Sua natureza é diferente da nossa natureza corrompida pelo pecado.
Então é necessário perder esta vida embrutecida de um viver carnal para que se possa achar a vida pura do amor divino.
É somente assim que verdadeiros sentimentos de compaixão, ternura e cuidado pelo nosso próximo brotarão em nossos corações.
Eles virão a nós do céu, por inspiração divina, somente quando nossos corações são quebrados pelas dores e aflições, que ajudam a transformar a nossa natureza endurecida pelo pecado.
Saber, portanto, que há um Deus misericordioso, pronto a nos ajudar nas nossas fraquezas, assim como Ele fez com aquele coxo de nascença, e com tantos outros que Jesus e os apóstolos vinham curando de suas enfermidades, como instrumentos do amor de Deus, moveu os corações de muitos, e ainda hoje, move os nossos corações a se converterem a um Deus de amor como o nosso.
Na verdade não há outros deuses, e ninguém que possa despertar tais virtudes nos corações endurecidos dos homens.
Somente o Senhor pode quebrá-los para que sejam curados e transformados em corações de carne, habilitados a amarem com o Seu amor divino.
Quando se descobre e se vive isto, é somente então que se descobre o verdadeiro sentido da vida.
E esta vida está em Jesus Cristo que é Aquele que transforma os nossos corações ainda hoje, tal como transformou os corações daqueles cinco mil que se converteram com a pregação de Pedro.
Por isso Pedro não poderia falar em seu próprio nome, nem no de João, que se encontrava com ele, quando o coxo foi curado, e nem quando falaram a toda aquela multidão que se aproximou deles estupefata pelo grande milagre que havia sido realizado.
Depois de ter sido curado o que era coxo entrou no templo saltando e louvando a Deus, e se apegou a Pedro e a João (At 3.11), e eles consentiram nisto.
É absolutamente essencial que se destaque o fato de que Pedro disse que não foi pelo seu próprio poder e piedade de apóstolo, que aquele homem havia sido curado.
Ele usou palavra grega dinamis, para poder, e eusebia, para piedade.
Alguém perguntará o que há de essencial em se saber isto?
Nós dizemos junto com Pedro, que não é por causa de algum poder propriamente nosso, ou por causa de uma santidade perfeita que tenhamos de nós mesmos, que Deus nos usará como Seus instrumentos para a operação de sinais e maravilhas.
Muitos afirmam que é pelo poder que possuem, e também por causa de sua própria piedade, que estão habilitados a curarem enfermos e a realizarem toda sorte de bênçãos, ainda que aleguem que o fazem em nome de Jesus.
Mas Pedro não somente atribuiu toda a glória da cura do coxo a Cristo, como reconheceu e sabia que não era por nenhuma capacidade própria, ou algum poder especial que tivesse de si mesmo, e nem mesmo ainda, por ser inteiramente piedoso, que o Senhor o usara para ser o instrumento daquela cura.
Também por amor às almas daqueles cinco mil, que haviam ficado admirados, Pedro começou a lhes pregar que eles haviam errado de fato quando entregaram Jesus para ser morto, como também  haviam negado Àquele a quem Deus havia glorificado, e preferiram poupar a vida de Barrabás, um homicida.
Assim, eles haviam matado o próprio Autor da vida, mas como não poderia ser retido pela morte, Deus o ressuscitou, do que foram testemunhas todos aqueles que O amavam e eram seus amigos.
A prova de que Ele havia ressuscitado e se encontrava glorificado à direita do Pai, podia ser vista no fato de que através deles (Pedro e João), que eram Seus apóstolos, fez com que por meio da fé no seu Nome, aquele coxo fosse fortalecido dando-lhe perfeita saúde.
Havia portanto também esperança de cura para eles, de suas almas, pelo perdão dos seus pecados, e da grave transgressão que haviam cometido matando a Jesus, porque o haviam feito por ignorância, tanto eles quanto as autoridades deles, porque pensavam que Jesus fosse um blasfemo e falso profeta, que segundo a Lei, deveria ser morto.
Estava determinado nos conselhos de Deus, conforme havia testificado pela boca de todos os profetas, que o Cristo deveria padecer, para que pudéssemos nos arrepender dos nossos pecados, e nos converter a Deus, para que os nossos pecados sejam apagados, de maneira que possamos nos tornar aceitáveis a Deus e passar a viver em refrigério e não em tormenta de espírito perante Ele, por meio do recebimento de Jesus, o Messias, o qual estará no céu até ao tempo da restauração de todas as coisas, que Ele mesmo inaugurará com a Sua segunda vinda, a partir do período do milênio que será o ponto de partida para a criação de um novo céu e de uma nova terra.
Pedro lhes ordenou com estas palavras que se arrependessem e se convertessem ao Senhor, porque Moisés mesmo havia afirmado na Lei que Deus levantaria um profeta semelhante a ele, que deveria ser ouvido em tudo que lhes dissesse, e que toda alma que não ouvisse o tal profeta seria exterminada dentre o povo (Dt 18.18).
Não somente Moisés, como todos os profetas, desde Samuel, haviam anunciado aqueles dias em que Deus enviaria o Messias e faria uma Nova Aliança com o Seu povo, pela qual seriam cancelados todos os pecados daqueles que se  unissem ao Profeta prometido (Cristo), e que ouvissem Suas palavras para obedecê-las e as colocarem em prática.  
Eles fariam bem em dar atenção a tudo o que estavam ouvindo, e a tudo que estava escrito nos profetas acerca do Messias, porque por serem o povo da aliança que Deus havia feito com os seus patriarcas, conforme a promessa feita a Abraão de abençoar todas as famílias da terra através da sua descendência, estava sendo dada a eles portanto, a honra e privilégio de pregarem o evangelho ao mundo, fato comprovado de que Jesus lhes foi enviado primeiramente, para que cada um deles fossem desviados dos seus pecados.
E certamente por tudo que viram na unidade de amor entre os discípulos do Senhor, aqueles novos convertidos foram convencidos de que não seriam salvos apenas para serem purificados dos seus pecados, mas que por meio disto, pudessem de fato ter um coração amoroso em amizade fraterna com todos os seus demais irmãos na fé.
Afinal foram salvos por amor para viverem no amor.
Um amor de fato e de verdade, que procede do fundo da alma, e por isso se diz ser um amor de entranhas, porque é assim que é o amor de Deus, e importa que tal como o Dele deve ser o nosso, porque o Senhor disse que devemos nos amar uns aos outros, por sermos partes integrantes do Seu corpo, membros uns dos outros.
Os apóstolos  estavam plenamente convencidos de que Cristo havia vindo ao mundo para que se cumprisse a promessa de Deus feita a Abraão de abençoar através do seu descendente, que é Cristo, todas as nações da terra.
A descendência de Abraão foi levantada para este propósito, para que Cristo pudesse ser dado pelo Pai ao mundo, para ser o abençoador de todas as nações.
Assim, todos os que estão engajados no ministério de pregar o evangelho de Jesus, estão encarregados deste dever de abençoarem e não de amaldiçoarem.
E eles serão estes instrumentos da bênção de Deus, através do amor de Cristo que tiverem em seus corações, pela habitação do Espírito Santo.
Todas as  duras ameaças que Deus havia feito contra o Seu povo através dos profetas, em razão dos pecados deles, eram devidas especialmente a esta impossibilidade que o pecado traz de se poder viver no amor de Deus tanto em comunhão com Ele quanto com o nosso próximo. Mas, com a vinda de Cristo, e a conversão de muitos que se deixariam transformar pelo Espírito Santo, o propósito original de Deus na criação do homem para que este pudesse viver em amor seria plenamente resgatado naqueles que viessem a se converter a Ele, desviando-se dos seus pecados.
Por isso o apóstolo Pedro se referiu a esta nova condição diante de Deus como um tempo de refrigério, porque é por este viver em amor que o fogo da ira de Deus não somente é abrandado, como inteiramente removido em relação àqueles que andam no Espírito, por causa da fé deles em Cristo.
Em vez de inimizade há agora amizade.
Em vez de rejeição há agora aceitação e adoção.
Em vez de condenação, absolvição.
Em vez de afastamento, reconciliação.
Tudo isto é possível somente por se estar em Cristo e permanecer nEle, andando em novidade de vida.





“1 Pedro e João subiam ao templo à hora da oração, a nona.
2 E, era carregado um homem, coxo de nascença, o qual todos os dias punham à porta do templo, chamada Formosa, para pedir esmolas aos que entravam.
3 Ora, vendo ele a Pedro e João, que iam entrando no templo, pediu que lhe dessem uma esmola.
4 E Pedro, com João, fitando os olhos nele, disse: Olha para nós.
5 E ele os olhava atentamente, esperando receber deles alguma coisa.
6 Disse-lhe Pedro: Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho, isso te dou; em nome de Jesus Cristo, o nazareno, anda.
7 Nisso, tomando-o pela mão direita, o levantou; imediatamente os seus pés e artelhos se firmaram
8 e, dando ele um salto, pôs-se em pé. Começou a andar e entrou com eles no templo, andando, saltando e louvando a Deus.
9 Todo o povo, ao vê-lo andar e louvar a Deus,
10 reconhecia-o como o mesmo que estivera sentado a pedir esmola à Porta Formosa do templo; e todos ficaram cheios de pasmo e assombro, pelo que lhe acontecera.
11 Apegando-se o homem a Pedro e João, todo o povo correu atônito para junto deles, ao pórtico chamado de Salomão.
12 Pedro, vendo isto, disse ao povo: Varões israelitas, por que vos admirais deste homem? Ou, por que fitais os olhos em nós, como se por nosso próprio poder ou piedade o tivéssemos feito andar?
13 O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou a seu Servo Jesus, a quem vós entregastes e perante a face de Pilatos negastes, quando este havia resolvido soltá-lo.
14 Mas vós negastes o Santo e Justo, e pedistes que se vos desse um homicida;
15 e matastes o Autor da vida, a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos testemunhas.
16 E pela fé em seu nome fez o seu nome fortalecer a este homem que vedes e conheceis; sim, a fé, que vem por ele, deu a este, na presença de todos vós, esta perfeita saúde.
17 Agora, irmãos, eu sei que o fizestes por ignorância, como também as vossas autoridades.
18 Mas Deus assim cumpriu o que já dantes pela boca de todos os seus profetas havia anunciado que o seu Cristo havia de padecer.
19 Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, de sorte que venham os tempos de refrigério, da presença do Senhor,
20 e envie ele o Cristo, que já dantes vos foi indicado, Jesus,
21 ao qual convém que o céu receba até os tempos da restauração de todas as coisas, das quais Deus falou pela boca dos seus santos profetas, desde o princípio.
22 Pois Moisés disse: Suscitar-vos-á o Senhor vosso Deus, dentre vossos irmãos, um profeta semelhante a mim; a ele ouvireis em tudo quanto vos disser.
23 E acontecerá que toda alma que não ouvir a esse profeta, será exterminada dentre o povo.
24 E todos os profetas, desde Samuel e os que sucederam, quantos falaram, também anunciaram estes dias.
25 Vós sois os filhos dos profetas e do pacto que Deus fez com vossos pais, dizendo a Abraão: Na tua descendência serão abençoadas todas as famílias da terra.
26 Deus suscitou a seu Servo, e a vós primeiramente vo-lo enviou para que vos abençoasse, desviando-vos, a cada um, das vossas maldades.” (Atos 3.1-26)






Atos 4

Vencendo Oposições no Poder do Espírito – Atos 4

Um dos pastores puritanos disse o seguinte: “Quando os agentes de Cristo se mostram resolutos em sua fidelidade em pregarem o evangelho, os agentes de Satanás logo se manifestarão rancorosos a eles.”
Jesus havia advertido os discípulos quanto ao fato de que eles seriam também perseguidos, tal como haviam perseguido a Ele, mas que não se intimidassem porque o Espírito Santo lhes revestiria de autoridade espiritual e lhes mostraria o que deveriam falar aos seus opositores.
É exatamente isto que nós vemos no quarto capítulo de Atos, porque os sacerdotes e saduceus, que compunham o Sinédrio, que era o tribunal dos judeus, com autoridade para julgar as questões religiosas, se levantaram em fúria contra Pedro e João, por causa da cura do paralítico no templo.
E eles os prenderam juntamente com o paralítico que havia sido curado, e como já era tarde, mantiveram-nos na prisão até o dia seguinte, para que fossem interrogados.
Naquela ocasião, nada poderiam fazer contra eles, tal como haviam feito com Jesus, lhes acusando de blasfêmia, porque não estavam ensinando que  eram iguais a Deus, sendo o próprio Deus, tal como Jesus havia afirmado.
Eles tiveram então que reprimir a sua fúria diante do povo, porque milhares haviam se convertido e estavam dando glórias a Deus.
Isto ocorre ainda em nossos dias, porque toda vez que alguma ação do Espírito é realizada por algum grupo, que não faça parte da estrutura organizacional religiosa institucional, também se levantam em fúria para tentar obstruí-la por causa da sua cegueira espiritual.
Eles certamente dirão que os saltos e gritos de louvor de alguém que foi curado dentro do templo é uma grande irreverência para com Deus, do mesmo modo que haviam feito os fariseus em relação ao paralítico, no passado.
Eles não chegarão ao extremo de proibir que se pregue no nome de Jesus, mas efetivamente não lhes agradará de modo algum que seja pregado o Jesus da Bíblia, que nos ordena carregar a cruz, vivermos no amor e no poder do Espírito, e santificarmos nossas vidas, principalmente pela mortificação dos nossos pecados.
Satanás sempre se levantará para tentar impedir o prosseguimento das operações de Jesus através da Igreja.
O mesmo sumo sacerdote, Anás, e todos os seus parentes também sacerdotes, como Caifás, João, Alexandre, bem como todas as autoridades, anciãos e escribas, que haviam condenado Jesus, eram os mesmos que se puseram diante de Pedro e João, lhes perguntando com que poder e autoridade eles haviam feito aquilo. Eles desconheciam de fato o poder e o nome, senão teriam se submetido a Cristo.
Mas os apóstolos estavam bem alertados e experimentados quanto a isto e não se deixaram intimidar pelas suas ameaças.
Pedro não deixou portanto sem resposta a pergunta daqueles hipócritas religiosos e lhes afirmou, cheio do Espírito Santo, que foi no nome do Jesus que eles haviam rejeitado e crucificado, que o coxo havia sido curado.
Cabia a eles, sacerdotes, serem os edificadores da casa espiritual de Deus, segundo a Lei lhes conferia tal autoridade, mas eles haviam se desviado da sua função, porque haviam rejeitado a pedra angular do edifício espiritual, que é Cristo.
Deus queria, para a Sua glória, curar aquele coxo de nascença, e por que não usou os sacerdotes, senão aqueles homens que até então ainda eram incultos, tal como Pedro e João?
Era de se esperar que usasse os que eram os guardiões da Lei de Moisés. Mas não os usaria porque eles não somente rejeitaram a Jesus, como também o crucificaram.
Seria, portanto, através dos apóstolos, daqueles dois homens iletrados, mas piedosos e chamados por Deus para o apostolado, que Ele edificaria a Sua igreja, conforme a autoridade que haviam recebido do próprio Jesus, porque como poderiam os sacerdotes ser autorizados para o trabalho de edificação da casa de Deus se eles haviam rejeitado o único nome pelo qual é possível que sejamos salvos?
Que palavras de ousadia, coragem, autoridade, e proferidas acima de tudo por inspiração e no poder do Espírito, foram as que Pedro e João dirigiram a eles, quando foram interrogados!
A evidência do milagre realizado estava diante deles, porque o paralítico estava de pé, perfeitamente curado; e a intrepidez de Pedro e João fez com que  ficassem admirados, porque como poderiam homens iletrados como eles, falar com tal sabedoria e intrepidez?
Eles não tiveram nenhuma resposta para dar no momento, e por isso pediram que Pedro, João e o que fora paralítico, saíssem da sua presença, para que conferenciassem entre si, uma forma política de agirem, de maneira a pararem a pregação do evangelho.
Eles não poderiam desagradar ao povo, e ao mesmo tempo não queriam ver a honra deles de homens “santos e religiosos” sendo ameaçada.
Então decidiram ameaçar os apóstolos dizendo que não mais falassem em o nome de Jesus a qualquer homem.
Na verdade, tudo o que Satanás deseja é exatamente isto: que não falemos de Jesus e do verdadeiro evangelho.
Se falarmos até mesmo de várias passagens da Bíblia, mas desde que ocultemos dos homens qual é o modo que alguém alcança a conversão, e como se deve viver para Deus, Satanás não fará qualquer oposição, porque não sofre nenhum risco de perdas no seu reino infernal.
Até mesmo a cura física operada por Deus, não é por si só, suficiente para conduzir alguém a se converter a Cristo.
Isto ocorreu nos dias de Jesus e tem ocorrido ao longo de toda a história da Igreja, porque se o curado não for instruído na verdade, e caso não permita ser convencido pelo Espírito Santo de que é pecador e necessita de arrependimento, ele poderá não somente atribuir a cura ao acaso, ou mesmo dar a honra indevida a um falso deus ou ídolo, atribuindo-lhe a cura da qual fora objeto.
Mas se pregarmos a mensagem apostólica, podemos estar certos de que tal como eles, também sofreremos oposições e seremos intimidados a não pregarmos mais em o nome do Senhor, com a intrepidez e poder do Espírito Santo,
Entretanto, nunca devemos esquecer que não é o nosso poder, empenho, piedade, pregação, por si mesmos, que podem salvar alguém, senão o próprio Deus, operando diretamente nos corações.
Não devemos apenas reconhecer e saber isto, mas sermos humildes e praticá-lo, enquanto fazemos a obra de Deus com vista à conversão de almas.
Porque o Senhor nunca dividirá a Sua honra com ninguém, nem mesmo com os instrumentos que Ele usa para transformar os corações daqueles que Ele converte, concedendo-lhes graça para que se arrependam e creiam.
Mas, para todos os opositores da obra do Senhor, a nossa resposta deve ser a mesma que Pedro e João deram àqueles religiosos a serviço do diabo, a saber, que importa antes ouvir a Deus e obedecer à Sua vontade do que aos homens.
E se Ele nos tem imposto o dever de pregar o evangelho no poder do Espírito, então é isto que devemos continuar fazendo, não importando a quem isto possa incomodar.
Os que se ofendem com a pregação da verdade, são aqueles que costumam comumente ofender a Deus, pela transgressão dos Seus mandamentos.
É por esta razão que se sentem ofendidos com o evangelho. Não que haja qualquer parte no evangelho que seja uma ofensa ao homem. Ao contrário, somente contém ações e palavras que visam salvá-lo da condenação eterna, à qual todos estão sujeitos, por condição de nascimento natural.
As experiências que Deus nos tem dado.
A sabedoria relativa ao conhecimento da Sua vontade revelada. A ação poderosa do Espírito Santo na nossa vida não nos foi dada para ser encoberta, mas para ser proclamada a todos de cima dos telhados.
E ainda que aumentem o tom de suas ameaças quando fizermos isto, tal como as autoridades de Israel fizeram com Pedro e João, para o próprio dano e ruína deles diante de Deus, devemos ficar firmes na nossa posição sabendo que é o Senhor mesmo quem luta por nós, e certamente resgatará do poder das trevas, para a sua luz, até mesmo a alguns destes que resistem a princípio, porque o fazem na ignorância, pensando que o evangelho é apenas uma proposta religiosa, em contraposição à que têm abraçado.
Quando Pedro e João contaram à Igreja o que lhes havia sucedido, depois de terem sido postos em liberdade, todos eles se levantaram unanimemente em oração a Deus, engrandecendo o Seu nome e Lhe pedindo que continuasse lhes dando intrepidez para pregarem o evangelho porque as autoridades estavam tentando agir contra o nome de Jesus e o avanço do Seu reino.
 Eles sabiam que todas aquelas perseguições estavam predeterminadas pelo conselho de Deus (Salmo 2.2), tanto no que fizeram contra Cristo, como também no que estavam fazendo contra a Igreja.
Eles não pediram para serem poupados, escondidos deles, mas que o Senhor olhasse as suas ameaças, e desse aos seus servos intrepidez para continuarem pregando a Sua Palavra, enquanto a confirmava como sendo a verdade que salva, por estender a Sua poderosa mão para realizar curas, sinais e prodígios pelo nome de Jesus.
A resposta do Senhor à oração deles foi dada em forma de um grande tremor que ocorreu no lugar em que estavam reunidos, e também, todos eles ficaram cheios do Espírito Santo, de modo que continuaram anunciando com intrepidez a Palavra de Deus.    
Como eles viviam de modo consagrado ao Senhor, havia grande poder no testemunho que os apóstolos davam da ressurreição de Jesus, e em todos os cristãos havia abundante graça, porque Deus sempre dará mais graça, quando se vive de forma piedosa e consagrada, como viviam os crentes da Igreja Primitiva (Atos 4.32-37).      
Os primeiros anos da Igreja Primitiva eram dias do primeiro e grande avivamento da Igreja.
E o Senhor tem reservado pela Sua graça que se experimentem períodos como aquele em várias partes do mundo, conforme testemunha a história da Igreja.
Mas é este viver em unidade em amor, antes de tudo, ao Senhor e à Sua Palavra, e a oração perseverante e incessante, que são os elementos comuns que sempre trarão e manterão um avivamento do Espírito entre nós.
Foi este o modo de vida que Deus planejou para que os seus servos vivam neste mundo, porque será este o modo pelo qual todos viverão no céu, a saber, no amor e obediência à Sua Palavra em plenitude espiritual no poder do Espírito, uns com os outros e com o próprio Senhor da glória.





 “1 Enquanto eles estavam falando ao povo, sobrevieram-lhes os sacerdotes, o capitão do templo e os saduceus,
2 doendo-se muito de que eles ensinassem o povo, e anunciassem em Jesus a ressurreição dentre os mortos,
3 deitaram mão neles, e os encerraram na prisão até o dia seguinte; pois era já tarde.
4 Muitos, porém, dos que ouviram a palavra, creram, e se elevou o número dos homens a quase cinco mil.
5 No dia seguinte, reuniram-se em Jerusalém as autoridades, os anciãos, os escribas,
6 e Anás, o sumo sacerdote, e Caifás, João, Alexandre, e todos quantos eram da linhagem do sumo sacerdote.
7 E, pondo-os no meio deles, perguntaram: Com que poder ou em nome de quem fizestes vós isto?
8 Então Pedro, cheio do Espírito Santo, lhes disse: Autoridades do povo e vós, anciãos,
9 se nós hoje somos inquiridos acerca do benefício feito a um enfermo, e do modo como foi curado,
10 seja conhecido de vós todos, e de todo o povo de Israel, que em nome de Jesus Cristo, o nazareno, aquele a quem vós crucificastes e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, nesse nome está este aqui, são diante de vós.
11 Ele é a pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta como pedra angular.
12 E em nenhum outro há salvação; porque debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, em que devamos ser salvos.
13 Então eles, vendo a intrepidez de Pedro e João, e tendo percebido que eram homens iletrados e indoutos, se admiravam; e reconheciam que haviam estado com Jesus.
14 E vendo em pé com eles o homem que fora curado, nada tinham que dizer em contrário.
15 Todavia, mandando-os sair do sinédrio, conferenciaram entre si,
16 dizendo: Que havemos de fazer a estes homens? porque a todos os que habitam em Jerusalém é manifesto que por eles foi feito um sinal notório, e não o podemos negar.
17 Mas, para que não se divulgue mais entre o povo, ameacemo-los para que de ora em diante não falem neste nome a homem algum.
18 E, chamando-os, ordenaram-lhes que absolutamente não falassem nem ensinassem em nome de Jesus.
19 Mas Pedro e João, respondendo, lhes disseram: Julgai vós se é justo diante de Deus ouvirmos antes a vós do que a Deus;
20 pois nós não podemos deixar de falar das coisas que temos visto e ouvido.
21 Mas eles ainda os ameaçaram mais, e, não achando motivo para os castigar, soltaram-nos, por causa do povo; porque todos glorificavam a Deus pelo que acontecera;
22 pois tinha mais de quarenta anos o homem em quem se operara esta cura milagrosa.
23 E soltos eles, foram para os seus, e contaram tudo o que lhes haviam dito os principais sacerdotes e os anciãos.
24 Ao ouvirem isto, levantaram unanimemente a voz a Deus e disseram: Senhor, tu que fizeste o céu, a terra, o mar, e tudo o que neles há;
25 que pelo Espírito Santo, por boca de nosso pai Davi, teu servo, disseste: Por que se enfureceram os gentios, e os povos imaginaram coisas vãs?
26 Levantaram-se os reis da terra, e as autoridades ajuntaram-se à uma, contra o Senhor e contra o seu Ungido.
27 Porque verdadeiramente se ajuntaram, nesta cidade, contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, não só Herodes, mas também Pôncio Pilatos com os gentios e os povos de Israel;
28 para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho predeterminaram que se fizesse.
29 Agora pois, ó Senhor, olha para as suas ameaças, e concede aos teus servos que falem com toda a intrepidez a tua palavra,
30 enquanto estendes a mão para curar e para que se façam sinais e prodígios pelo nome de teu santo Servo Jesus.
31 E, tendo eles orado, tremeu o lugar em que estavam reunidos; e todos foram cheios do Espírito Santo, e anunciavam com intrepidez a palavra de Deus.
32 Da multidão dos que criam, era um só o coração e uma só a alma, e ninguém dizia que coisa alguma das que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns.
33 Com grande poder os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça.
34 Pois não havia entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que vendiam e o depositavam aos pés dos apóstolos.
35 E se repartia a qualquer um que tivesse necessidade.
36 Então José, cognominado pelos apóstolos Barnabé (que quer dizer, filho da consolação), levita, natural de Chipre,
37 possuindo um campo, vendeu-o, trouxe o preço e o depositou aos pés dos apóstolos.”  (Atos 4.1-37)








Atos 5

A Expansão da Igreja em Jerusalém – Atos 5

Até o final do capítulo sétimo de Atos nós temos o relato de como a Igreja foi fundada em Jerusalém, e a partir do capítulo oitavo, nós temos o evangelho se espalhando por todas as partes da Judeia, Samaria e pelo mundo conhecido de então, desde a dispersão da Igreja por causa da perseguição, que foi empreendida contra os cristãos a partir do martírio de Estevão.
Neste quinto capítulo, nós temos o relato como Deus fez a Igreja se expandir em Jerusalém.
O capítulo começa com um juízo do Senhor contra duas pessoas da própria Igreja, de maneira que todos temessem e respeitassem o Espírito Santo que estava sendo derramado, e particularmente que fosse reconhecido pelos cristãos, que os apóstolos estavam revestidos de autoridade do Espírito para dirigirem a Igreja, e que estavam dotados de modo especial do dom de discernimento de espíritos; de maneira que lhes foi revelado pelo Espírito Santo o que Ananias e Safira haviam feito, os quais tentariam desautorizar os apóstolos quanto à autoridade que lhes havia sido dada por Cristo.
Caso não fossem julgados daquela forma extrema por Deus, certamente se gloriariam do fato de terem ludibriado os apóstolos, mas na verdade, estariam tentando ludibriar o próprio Espírito que estava nos apóstolos, e que lhes havia dado a direção de receberem ofertas de vendas de propriedades dos cristãos abastados, para que os cristãos pobres pudessem ser socorridos em suas necessidades.
Aquelas ofertas seriam voluntárias segundo aqueles que fossem movidos pelo Espírito.
Os sinais e maravilhas que os apóstolos estavam fazendo eram de pura misericórdia, mas agora nós temos, no caso de Ananias e de Safira, um milagre de julgamento, como um exemplo da severidade que segue os exemplos de bondade, revelando que Deus é tanto bondade e amor, quanto Juiz, que deve ser temido.
A Igreja estava começando, o Espírito Santo havia sido derramado inaugurando uma Nova Aliança há muito pouco tempo, e Deus não permitiria naquela ocasião de formação da Igreja, que o ministério do Espírito fosse ridicularizado, abusado, desrespeitado pelos cristãos, e cremos que este foi o motivo principal daquele juízo extremo sobre Ananias e Safira.
Devemos lembrar que de igual modo, quando Moisés havia saído do Egito, Deus agiu de forma parecida com Datã, Coré e Abirão, para que o ministério que dera a Moisés e a  Arão não fosse contestado pelos israelitas.
De igual modo agiu com Acã, quando Josué assumiu a liderança de Israel no lugar de Moisés.
Assim, toda nova frente de trabalho do evangelho pode deixar alguns expostos a julgamentos da parte de Deus, para que aqueles que foram levantados por Ele não venham a serem desqualificados pelos insubordinados, quanto à posição de liderança na qual foram investidos pelo Senhor.
Deus sempre agirá segundo a Sua soberania e misericórdia, mas este é um risco do qual os cristãos deveriam se cuidar, de não serem achados eles próprios como sendo uma pedra de tropeço, para uma frente de trabalho que Cristo esteja abrindo, porque é certo que Ele tratará com  todos aqueles que tentarem fechar a porta que Ele abriu à pregação da Sua Palavra.
Satanás usando a própria cobiça de Ananias encheu o seu coração e não somente lhe sugeriu que fizesse o que fez, como lhe deu a resolução necessária para que o fizesse.
Tudo o que é contrário ao bom Espírito Santo de Deus procede do Maligno, e os corações que estão apegados ao mundo são os corações nos quais  Satanás reina.
Ananias entristeceu o Espírito com o seu pecado, e assim Satanás pôde prevalecer contra ele.
O diabo é o pai da mentira, e foi assim um espírito de mentira na boca de Ananias fazendo-o mentir contra o Espírito Santo.
A Palavra na boca dos apóstolos era a verdade, e o diabo tentaria mostrar através de Ananias que não era verdadeira, e que eles não falavam de fato da parte de Deus.
Ananias, debaixo do engano do diabo, pretendia desmentir o Espírito na boca dos apóstolos, e se aquilo vingasse poderia por a perder toda a obra que estava sendo realizada por eles, porque importa dar crédito à Palavra de Deus na boca dos seus servos escolhiudos, para que possamos ser salvos  e abençoados.
Então o juízo sobre Ananias e Safira serviria para fazer exatamente o oposto, ou seja, a trazer grande temor e respeito aos apóstolos, por parte de todos os muitos cristãos que estavam se convertendo.
Aquele ato de se trazer o dinheiro resultante da venda das propriedades aos pés dos apóstolos, está bastante claro no texto bíblico, que foi algo movido e inspirado pelo Espírito, naquela oportunidade, certamente o que foi afirmado e declarado pelos próprios apóstolos.
E caso a mentira de Ananias e de Safira não fosse revelada a Pedro pelo próprio Espírito, a autoridade apostólica, e a palavra deles estaria sendo desautorizada, porque certamente o mesmo diabo que encheu o coração de ambos a fazerem o que haviam feito, seria o mesmo a levá-los a afirmar que não era verdadeira a palavra dos apóstolos, como sendo a do Espírito Santo através das suas bocas, porque lhes haviam ludibriado e escapado – daí o juízo que veio sobre eles.
Deus continuou confirmando que a Sua Palavra na boca dos apóstolos era a verdade, fazendo também muitos milagres por meio deles (At 5.12).
Muitos sinais e milagres de misericórdia foram feitos pelas mãos deles, entre um único de julgamento contra  Ananias e Safira.
 Agora o poder do evangelho voltou a seu próprio canal que é este de misericórdia e graça.
Deus tinha saído do Seu lugar para castigar, mas agora havia retornado ao Seu trono de graça e misericórdia para oferecer o perdão e remissão dos pecados pela pregação do evangelho.
Mas nada Lhe impede que vez por outra deixe o trono de graça para exercer juízos como por exemplo como os que trouxera contra os cristãos rebeldes da igreja de Corinto.
De modo que nunca sejamos incentivados a abusar da Sua graça, longanimidade e misericórdia para conosco.
Satanás, o destruidor do gênero humano, sempre foi e será, um adversário para aqueles que são  benfeitores do gênero humano; e teria sido estranho se os apóstolos tivessem ensinado e curado sem terem qualquer opositor levantado pelo diabo.
Os sacerdotes estavam enfurecidos e cheios de inveja e colocaram os apóstolos na prisão.
Cristo e o seu evangelho são um tormento para os seus inimigos. E a inveja mata estes tolos.
Mas Deus enviou o seu anjo para libertá-los e renovar a comissão deles de pregar o evangelho.
E lhes ordenou que o fizessem diante dos seus próprios inimigos, a saber, nas imediações do templo.
Os poderes das trevas lutaram contra eles, mas o Pai das luzes lutava por eles e lhes enviou um anjo para libertá-los.
Ainda hoje, mesmo que não vejamos com nossos olhos, os anjos de Deus ministram em nosso favor para nos libertarem dos nossos inimigos, que na verdade são inimigos de Cristo e do seu evangelho.
  O anjo ordenou aos apóstolos que pregassem com resolução diante da face dos seus inimigos todas as palavras desta vida.
Importa pregar a vida eterna enquanto muitos se levantam a serviço do diabo para tentarem manter as almas no estado de morte espiritual em que se encontram, e que sem Cristo, se tornará em morte eterna.
Mesmo sabendo do risco que correriam, os apóstolos obedeceram ao Senhor e pregaram debaixo das narinas dos sacerdotes, e alguém foi levar a notícia a eles, e mais uma vez os apóstolos foram presos.
Quanto à prisão dos apóstolos por uma segunda vez, nós podemos pensar quanto ao que Deus tinha planejado.
Por que eles foram libertados da sua primeira prisão?
Mas isto foi projetado para humilhar o orgulho, e ao mesmo tempo conter a fúria, dos seus perseguidores; e agora Deus mostraria que estavam realmente comissionados por Ele para pregarem o evangelho porque não temeram o que poderia lhes suceder, e estavam prontos a obedecer-Lhe aparecendo diante dos seus maiores inimigos.
Foi do mesmo modo que os puritanos e Wesley e os primeiros metodistas pregaram o evangelho em seus dias, a saber, debaixo de muita perseguição em que levaram até mesmo pedradas.
E sempre que Deus levanta um ponto de pregação do evangelho, debaixo da Sua própria ordenação estas perseguições e alvoroços sempre ocorrem, e são motivo de nos gloriarmos nelas, tal como os apóstolos se regozijaram por estarem sofrendo perseguições e sofrimentos, por causa do nome de Cristo, conforme vemos no final deste quinto capítulo de Atos.
A resposta dos apóstolos aos que lhes haviam prendido não denota nenhum rancor contra eles por lhes estarem maltratando e perseguindo o evangelho de Cristo, tentando impedir o avanço da obra do Senhor, porque se não guardassem o seu coração na pureza, paciência e no amor, nas perseguições que estavam sofrendo dos homens, e que eram originadas no inferno, perderiam o poder do Espírito, que atuava neles, e não teriam como prosseguir com a obra, e este era o principal intento de Satanás com aquelas perseguições.
Deus tinha lhes ordenado que ensinassem no nome de Cristo, e então eles deveriam fazer isto, entretanto os sacerdotes lhes tivessem  proibido.
O diabo ousa tentar intimidar muitos que são levantados de forma independente para sustentarem o testemunho do verdadeiro evangelho, tal como fizera contra os puritanos e Wesley.
Eles sempre insinuarão ou perguntarão diretamente  com que autorização de qual denominação ou organização eclesiástica eles estão pregando a Palavra.
Mas tal como todos os grandes pregadores do passado fizeram, devemos seguir adiante e não darmos respostas a eles e nem nos intimidarmos com a tentativa do inferno de desautorizar a comissão e autoridade que recebemos do Senhor, e que não pode ser recebida de nenhuma autoridade eclesiástica humana, seja ela pessoal ou institucional.
Lembremos que as próprias autoridades religiosas de Israel, que deveriam se colocar na defesa do evangelho, estavam se opondo duramente a ele.
Então não é por se pertencer a esta ou aquela organização eclesiástica que se pode discernir uma verdadeira obra de Deus, senão somente pelo Espírito.
Jesus havia alertado os apóstolos quanto à perseguição que eles sofreriam, e nós devemos também estar sempre lembrados disto para que não percamos a coragem, o amor e a moderação que nos são dados pelo Espírito para fazermos a obra de Deus.  
Veja a quantas aflições e tribulações estão expostos os servos de Cristo!
Especialmente aqueles que sofrem por causa do testemunho do evangelho.
Desta forma, o propósito dos que pregam não é o de removerem as aflições e tribulações daqueles que aceitam a Cristo, ao contrário, em alguns casos elas até aumentarão; mas devemos ter bom ânimo e firmeza de fé porque de todas as aflições de Seus servos por causa do evangelho o Senhor os livrará conforme tem prometido.
Muitos que haviam sido curados pelos apóstolos e se convertido a Cristo estavam cheios de problemas em suas vidas, mas o Senhor os recebeu, e os apóstolos lhes ensinaram que era necessário perseverarem na fé, ainda que diante de todas as pressões que o diabo estava fazendo contra eles e contra aqueles que lideravam o trabalho missionário.
O Senhor é benigno e misericordioso e não se recusará a ajudar a qualquer que se arrependa verdadeiramente dos seus  maus caminhos, ou que esteja sofrendo por causa de estar vivendo fielmente perante Ele.
Tal como os apóstolos fizeram em sua resposta aos sacerdotes, devemos dizer às pessoas que se opõem ao evangelho de Cristo, que foi por causa do pecado delas que Ele teve que ir para a cruz, e não devemos dar-lhes nenhuma desculpa de estarmos pregando uma doutrina que não lhes agrada e que tentam obstruir a sua pregação.
Devemos lhes dizer que temos recebido tal ordem de Deus de pregarmos a todas as pessoas, mas nenhum inimigo de Deus e do evangelho está sendo obrigado por Ele a ter que ouvir a nossa pregação ou se colocar debaixo da ministração do Espírito Santo.
Assim, não têm do que se queixar, porque o evangelho é para aqueles que se entregam voluntariamente a Cristo e por amor a Ele.
Não se trata de nenhuma religião que está sendo imposta a outros contra a sua vontade.
Ninguém está obrigado a permanecer num lugar de adoração pública contra a sua vontade.
A resposta dos apóstolos aos sacerdotes foi que importava obedecer antes a Deus do que a eles, meros homens, porque Deus havia ressuscitado a Jesus, ao qual eles haviam matado na cruz, mas Deus o elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e remissão de pecados, e eles haviam sido testemunhas destas coisas bem como todos os demais discípulos, que haviam recebido o Espírito Santo, por terem obedecido a Deus.
Como não era este o caso dos sacerdotes eles se enfureceram e queriam matar os apóstolos ao ouvirem tais palavras.
Por isso se diz neste capítulo que os sacerdotes e saduceus prenderam os apóstolos por inveja deles porque muitas curas miraculosas estavam sendo realizadas por Deus através deles, a ponto de até mesmo a sombra de Pedro estar curando enfermos.
Deus revelava assim que era com os apóstolos que Ele estava operando e não com os sacerdotes que se tinham na conta dos verdadeiros religiosos com autoridade e direito para falar da parte de Deus a Israel.
No entanto, não havia sinal de qualquer vida do amor, poder e santificação do Espírito Santo em suas vidas.
O mesmo sempre ocorreu em toda a história da Igreja, e seria de se admirar que não ocorresse ainda em nossos dias toda vez que o Senhor esteja operando poderosamente através de um grupo de cristãos que Ele tenha levantado para pregar a Sua Palavra.
Devemos, como os apóstolos, dizer mesmo aos nossos inimigos, que foi por causa dos seus pecados que Jesus morreu na cruz, mas que Deus ordenou que em nome dEle e por causa da Sua morte, fosse oferecido o arrependimento e a remissão dos seus pecados por se unirem Àquele que ressuscitou dos mortos e foi exaltado para ser o nosso Príncipe e Salvador.
Quão preciosa é uma única alma para Deus quando é salva por Cristo.
Satanás sabe disto e por este motivo luta terrivelmente para tentar obstruir a obra de pregação da Palavra.
Aqueles que frequentam lugares de adoração pública devem ser alertados quanto a isto, para que não venham a deixar de manter uma posição de firmeza de fé na Igreja, por causa das acusações que o diabo lança contra eles e contra aqueles que foram levantados por Cristo para lhes pregar o evangelho.
Devem estar atentos a isto a bem de suas próprias almas, de maneira que não venham a serem enganados pelo diabo e por aqueles que são usados por ele como seus servos, sendo em sua grande maioria, eles próprios, também enganados por Satanás, com a convicção de que estão fazendo um grande serviço para Deus ao se oporem aos cristãos.
Estes, tanto quanto o diabo, já estão julgados pelos seus próprios pecados, e não devemos portanto dar justificativas a quem não pretende se arrepender dos seus pecados, senão apenas se opor à pregação da verdade.
Lembremos sempre que o Espírito Santo não é dado a rebeldes que se opõem à vontade de Deus revelada na Bíblia, senão somente àqueles que são obedientes à Sua vontade.
Não tentemos convencer a quem não quer ser convencido, e a propósito este trabalho de convencimento só pode ser realizado pelo Espírito Santo naqueles que se submetem a Cristo.
Veja que é dito nos versos 13 e 14 que o povo tinha os apóstolos em grande estima, isto é, as pessoas simples, mas que aqueles que não eram humildes e que se achavam elevados a seus próprios olhos não ousavam ajuntar-se a eles, e dentre estes estavam muitos sacerdotes, escribas, saduceus e fariseus.
Foi e será sempre assim porque não são as coisas elevadas ou aqueles que se julgam alguma coisa, que foram chamados por Deus, senão os que são pobres de espírito, e que dão a devida glória a Jesus em seu modo de vida e orações, sabendo que não propriamente nós, mas somente Ele, pode livrar os homens da condenação eterna e socorrê-los em suas necessidades, especialmente as espirituais.
É Ele mesmo que agrega à Igreja os cristãos que vão sendo salvos por Ele, sejam homens ou mulheres, e não propriamente qualquer pessoa deste mundo, nem mesmo os Seus servos verdadeiros, que são apenas instrumentos em Suas mãos, no poder do Espírito Santo.
O final deste quinto capítulo nos comprova que a par de toda oposição que possamos sofrer, devemos continuar com a obra que Deus nos designou a fazer, sabendo que Ele mesmo a fará prosperar apesar de todos os inimigos de Cristo e do evangelho, que forem levantados por Satanás.
Será a Deus que eles terão que prestar contas, e não a nós, no dia do Juízo, caso não venham a se converter com a nossa pregação, que visa ao bem eterno das almas de todas as pessoas, inclusive destes perseguidores.
Os perseguidores dos que estão a serviço de Cristo, que não se arrependem, estão cavando a própria cova em que estão sendo enterrados.
Daí o conselho de Gamaliel aos sacerdotes para que não se metessem com homens como aqueles, para que não viessem a se achar lutando contra Deus, para o próprio dano deles.
Deus fará com que as perseguições dos inimigos de Cristo contribuam ainda mais para o avanço do evangelho e para a confirmação e aumento da fé dos Seus servos, e é por isso que permite que tais perseguições ocorram, para nos dar a plena certeza de que estamos de fato agindo em Seu nome, porque o diabo não tem tempo para desperdiçar com aqueles que não estão causando qualquer dano ao seu reino infernal.
As perseguições nos unirão ainda mais e nos moverão a buscarmos respostas e socorro em Deus, e assim, o diabo acaba contribuindo ainda que indiretamente, para o nosso crescimento espiritual, conforme é do propósito de Deus.
Por isso os apóstolos pregavam todos os dias e ensinavam a Palavra de casa em casa, porque haviam sido proibidos pelos sacerdotes de falarem o nome de Jesus.
Devemos fazer como eles, quando percebermos que o Inimigo pretende nos intimidar para não continuarmos pregando o evangelho.
É aí que devemos pregar ainda mais e com muito maior fervor, sabendo o quanto ele está contrariado com a nossa fidelidade ao Senhor, e o nosso amor pelas almas que se encontram sem salvação.





“1 Mas um certo homem chamado Ananias, com Safira, sua mulher, vendeu uma propriedade,
2 e reteve parte do preço, sabendo-o também sua mulher; e levando a outra parte, a depositou aos pés dos apóstolos.
3 Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do preço do terreno?
4 Enquanto o possuías, não era teu? e vendido, não estava o preço em teu poder? Como, pois, formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus.
5 E Ananias, ouvindo estas palavras, caiu e expirou. E grande temor veio sobre todos os que souberam disto.
6 Levantando-se os moços, cobriram-no e, transportando-o para fora, o sepultaram.
7 Depois de um intervalo de cerca de três horas, entrou também sua mulher, não sabendo o que havia acontecido.
8 E perguntou-lhe Pedro: Dize-me: Vendestes por tanto aquele terreno? E ela respondeu: Sim, por tanto.
9 Então Pedro lhe disse: Por que é que combinastes entre vós provar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu marido, e te levarão também a ti.
10 Imediatamente ela caiu aos pés dele e expirou. E entrando os moços, acharam-na morta e, levando-a para fora, sepultaram-na ao lado do marido.
11 Sobreveio grande temor a toda a igreja e a todos os que ouviram estas coisas.
12 E muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo pelas mãos dos apóstolos. E estavam todos de comum acordo no pórtico de Salomão.
13 Dos outros, porém, nenhum ousava ajuntar-se a eles; mas o povo os tinha em grande estima;
14 e cada vez mais se agregavam cristãos ao Senhor em grande número tanto de homens como de mulheres,
15 a ponto de transportarem os enfermos para as ruas, e os porem em leitos e macas, para que ao passar Pedro, ao menos sua sombra cobrisse alguns deles.
16 Também das cidades circunvizinhas afluía muita gente a Jerusalém, conduzindo enfermos e atormentados de espíritos imundos, os quais eram todos curados.
17 Levantando-se o sumo sacerdote e todos os que estavam com ele (isto é, a seita dos saduceus), encheram-se de inveja,
18 deitaram mão nos apóstolos, e os puseram na prisão pública.
19 Mas de noite um anjo do Senhor abriu as portas do cárcere e, tirando-os para fora, disse:
20 Ide, apresentai-vos no templo, e falai ao povo todas as palavras desta vida.
21 Ora, tendo eles ouvido isto, entraram de manhã cedo no templo e ensinavam. Chegando, porém o sumo sacerdote e os que estavam com ele, convocaram o sinédrio, com todos os anciãos dos filhos de Israel, e enviaram guardas ao cárcere para trazê-los.
22 Mas os guardas, tendo lá ido, não os acharam na prisão; e voltando, lho anunciaram,
23 dizendo: Achamos realmente o cárcere fechado com toda a segurança, e as sentinelas em pé às portas; mas, abrindo-as, a ninguém achamos dentro.
24 E quando o capitão do templo e os principais sacerdotes ouviram estas palavras ficaram perplexos acerca deles e do que viria a ser isso.
25 Então chegou alguém e lhes anunciou: Eis que os homens que encerrastes na prisão estão no templo, em pé, a ensinar o povo.
26 Nisso foi o capitão com os guardas e os trouxe, não com violência, porque temiam serem apedrejados pelo povo.
27 E tendo-os trazido, os apresentaram ao sinédrio. E o sumo sacerdote os interrogou, dizendo:
28 Não vos admoestamos expressamente que não ensinásseis nesse nome? e eis que enchestes Jerusalém dessa vossa doutrina e quereis lançar sobre nós o sangue desse homem.
29 Respondendo Pedro e os apóstolos, disseram: Importa antes obedecer a Deus que aos homens.
30 O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, ao qual vós matastes, suspendendo-o no madeiro;
31 sim, Deus, com a sua destra, o elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e remissão de pecados.
32 E nós somos testemunhas destas coisas, e bem assim o Espírito Santo, que Deus deu àqueles que lhe obedecem.
33 Ora, ouvindo eles isto, se enfureceram e queriam matá-los.
34 Mas, levantando-se no sinédrio certo fariseu chamado Gamaliel, doutor da lei, acatado por todo o povo, mandou que por um pouco saíssem aqueles homens;
35 e prosseguiu: Varões israelitas, acautelai-vos a respeito do que estais para fazer a estes homens.
36 Porque, há algum tempo, levantou-se Teudas, dizendo ser alguém; ao qual se ajuntaram uns quatrocentos homens; mas ele foi morto, e todos quantos lhe obedeciam foram dispersos e reduzidos a nada.
37 Depois dele levantou-se Judas, o galileu, nos dias do recenseamento, e levou muitos após si; mas também este pereceu, e todos quantos lhe obedeciam foram dispersos.
38 Agora vos digo: Dai de mão a estes homens, e deixai-os, porque este conselho ou esta obra, caso seja dos homens, se desfará;
39 mas, se é de Deus, não podereis derrotá-los; para que não sejais, porventura, achados até combatendo contra Deus.
40 Concordaram, pois, com ele, e tendo chamado os apóstolos, açoitaram-nos e mandaram que não falassem em nome de Jesus, e os soltaram.
41 Retiraram-se pois da presença do sinédrio, regozijando-se de terem sido julgados dignos de sofrer afronta pelo nome de Jesus.
42 E todos os dias, no templo e de casa em casa, não cessavam de ensinar, e de anunciar a Jesus, o Cristo.” (Atos 5.1-42)






Atos 6

Homens Cheios de Sabedoria e do Espírito Santo – Atos 6

Muitos se perguntam como puderam os apóstolos darem conta da assistência a um rebanho que contava pelo menos, até a altura da narrativa deste sexto capítulo do Livro de Atos, com mais de cinco mil cristãos.
Não podemos esquecer que naqueles dias não havia planos governamentais de previdência para atender à sociedade; e assim aquelas viúvas que não tivessem filhos ou parentes próximos para sustentá-las, se encontravam em sérias dificuldades para sobreviverem.
Um grande número destas viúvas e outras pessoas necessitadas como elas vieram a abraçar a fé, e isto explica o motivo de terem os cristãos que tinham recursos, vendido suas propriedades e entregue o dinheiro aos apóstolos para que fossem assistidos especialmente estes necessitados.
Em princípio, os apóstolos devem ter tentado, eles próprios, se encarregarem deste serviço assistencial, entretanto, como eram muitos os cristãos espalhados por todas as partes de Jerusalém, e muitos deles que eram inclusive de outras nações, como por exemplo, os muitos daqueles que se converteram dentre aqueles três mil que se encontravam na festa de Pentecostes, não seria de se esperar que os próprios apóstolos pudessem dar conta adequadamente da distribuição dos recursos arrecadados, em razão da principal missão deles de pregarem o evangelho e de orarem pela Igreja.
Então, quando foi constatado que as viúvas cristãs, que não haviam nascido em Israel, não estavam recebendo a mesma atenção que as viúvas hebreias, e vendo os doze apóstolos que eles não podiam cuidar da supervisão direta daquela assistência, convocaram uma reunião de toda a Igreja, de maneira que os próprios discípulos escolhessem não por votação democrática, mas na direção do Espírito, sete homens que fossem de boa reputação, cheios de sabedoria e do Espírito Santo, para serem os responsáveis pela administração daquele serviço de assistência aos necessitados.
Os escolhidos deveriam portanto atender a estes três critérios estabelecidos pelos apóstolos:
1 –Primeiro, teriam que ser de boa reputação: isto significa que deveriam ser pessoas de honestidade publicamente reconhecida, e que fossem irrepreensíveis.
Homens de verdade, dedicados a servir o próximo e cujo testemunho de vida fosse compatível com a função em que seriam investidos.
Homens firmes, ousados, corajosos, mas também compadecidos e moderados.
2 – Em segundo lugar, deveriam ser cheios do Espírito Santo: os escolhidos deveriam ter santidade de vida, porque sem isto não se pode ser cheio do Espírito.
E não sendo cheio do Espírito seria impossível ter a instrução e direção do Espírito, para poderem discernir entre quem deveria ser socorrido ou não, e a maneira como isto deveria ser feito.  
3 – E finalmente, em terceiro lugar, deveriam ser cheios de sabedoria: não a sabedoria deste mundo, mas a sabedoria relativa ao conhecimento da vontade de Deus, e o fruto do Espírito, que faz parte desta sabedoria, especialmente mansidão, longanimidade, misericórdia, bondade, domínio próprio.
As duas grandes ordenações do evangelho são a Palavra e a oração; porque é por estes dois que a comunhão entre Deus e os cristãos é mantida.
Pela Palavra Ele fala com eles, e através da oração eles falam com Deus.
Os pastores devem ser a boca de Deus para as pessoas no ministério da Palavra, e a boca das pessoas para Deus na oração.
Contudo devemos lembrar que a graça de Deus pode fazer tudo sem a nossa oração, mas nossas orações nada podem fazer sem a graça de Deus.
Os apóstolos foram dotados com dons extraordinários do Espírito Santo, línguas e milagres; e ainda assim tinham que orar incessantemente e pregar a Palavra para que a igreja pudesse ser edificada.
Os ministros do evangelho, que são seus sucessores, estão encarregados por Deus deste mesmo dever, e não pode haver edificação e progresso na obra, onde isto estiver faltando.
Veja que os apóstolos tiveram que tomar esta decisão de serem levantados diáconos porque o número de discípulos havia aumentado muito (At 6.1).
Além disto tudo, nós aprendemos que na melhor Igreja organizada do mundo sempre haverá algo extraviado, alguma ou outra má administração, algumas queixas; em pequeno ou grande grau.
Nós temos que ter paciência para conviver com isto e contar com a ajuda de Deus para não permitir que o rebanho seja perturbado  por questões relativas aos problemas e necessidades particulares dos membros da Igreja.
Outra lição importante que nós aprendemos deste relato das Escrituras é que os apóstolos não escolheram arbitrariamente as pessoas, mas estabeleceram critérios para que os próprios discípulos escolhessem dentre eles aqueles que  conheciam como sendo as pessoas que preenchiam aqueles critérios, que foram estabelecidos não propriamente pelos apóstolos, mas pelo Espírito Santo.
Na multidão de conselheiros há sabedoria, e assim o parecer dos apóstolos agradou a todos, e eles próprios elegeram homens do quilate de um Estevão, que logo adiante é descrito como sofreu o martírio, por causa do testemunho poderoso que dava de Cristo; e Filipe, que tão bem desempenhou o serviço do diaconato, e era tão consagrado ao Senhor e cheio do Espírito, que foi investido na função de evangelista; não como uma forma de promoção, mas de reconhecimento de que havia nele outros dons espirituais que o qualificavam para a fundação de igrejas juntamente com os apóstolos; da mesma maneira como Timóteo, Tito e outros  foram levantados como evangelistas junto ao apóstolo Paulo.
Foi Filipe um dos pioneiros da fundação da Igreja em Samaria (Atos 8.5), e evangelizou muitas cidades até Azoto, chegando a Cesareia, onde passou a residir (At 8.40; 21.8).
Dos demais sete escolhidos não temos maiores referências no Novo Testamento, mas pelos seus nomes gregos, podemos deduzir que houve sabedoria na escolha deles, porque a reclamação era da parte dos cristãos helenistas (de fala grega, não naturais de Israel); e isto serviria para calar alguma língua ainda porventura maldizente, de que estava havendo um tratamento parcial dos apóstolos, para favorecer os cristãos de Jerusalém.
Deve haver paz e unidade na Igreja para que a obra possa prosseguir.
O Espírito não atuará na dimensão que deseja, caso falte tal unidade.
As demandas entre irmãos devem ser resolvidas, antes que nossas ofertas sejam aceitáveis a Deus.
As ovelhas devem acatar com apreço, e ter com amor e máxima consideração os seus pastores (I Tes 5.12, 13); não como quem se submete a chefes em empresas, mas com o mesmo amor sincero de filhos devotados a seus pais.
É assim que há paz na Igreja, e que Deus faz a obra do evangelho avançar.
Por isso, depois que os apóstolos oraram e impuseram suas mãos (v. 6) sobre os sete escolhidos, para que fossem revestidos do poder e autoridade do Espírito para o exercício da sua função, é dito logo em seguida, no verso 7, que a palavra de Deus era divulgada em toda parte, e que o número de discípulos aumentava muito em Jerusalém a ponto de até mesmo muitos sacerdotes terem se convertido.
Desta forma, mesmo entre aqueles que haviam resistido tenazmente a Cristo e aos apóstolos Deus tinha os Seus eleitos, que estavam se convertendo à fé, por causa do bom testemunho, e da maneira ordenada com que os discípulos andavam com singeleza de coração, e manifestações de amor práticas no cuidado de uns com os outros.  
O nome Estevão (no original grego Estéfanos) é um indicativo de que ele fosse também um daqueles cristãos helenistas, que haviam se convertido ao evangelho.
Talvez tenha sido esta a razão de alguns da sinagoga chamada dos libertos, isto é, dos que eram da dispersão, tê-lo considerado um traidor e apóstata, que havia saído do próprio meio deles, para deixar de afirmar somente a santidade do templo e da cidade de Jerusalém; dizendo até mesmo que tanto o templo quanto a cidade santa seriam destruídos pelo próprio Deus.
O próprio Jesus havia profetizado isto, e eles não podiam suportar aquelas palavras, porque era para eles a mais alta traição aos interesses da nação de Israel.
Mas Estevão havia sido libertado daquele sentimento nacionalista, que misturava os interesses da religião com o do Estado de Israel.
Eles se levantaram então para confrontarem Estevão e tentariam lhe convencer de que ele estava agindo como um subversivo, que buscava destruir a religião de Israel.
Como eles não puderam resistir, isto é, contradizer os argumentos que Estevão lhes apresentou na sabedoria e poder do Espírito Santo, eles não se deram por vencidos e subornaram pessoas para que testemunhassem terem ouvido Estevão falando palavras blasfemas contra Moisés e contra Deus.
Eles agitaram o povo, os anciãos e os escribas contra Estevão, de maneira que o arrastaram para o sinédrio como um réu para ser julgado.
E a acusação apresentada pelas falsas testemunhas contra ele foi a de que Estevão não cessava de proferir palavras contra o santo lugar e contra a Lei de Moisés; porque ele afirmava que Jesus haveria de destruir aquele lugar santo (Jerusalém e o templo) e que mudaria os costumes da Lei de Moisés.
Mas Estevão blasfemou contra Moisés?
De nenhum modo.
Ele estava longe disto.
Cristo, e os pastores do evangelho nunca disseram qualquer coisa que fosse uma blasfêmia contra Moisés; ao contrário eles sempre citaram os Seus escritos, porque lhes foram revelados pelo próprio Cristo.
Então a acusação era falsa e injusta.
Seus acusadores é que estavam endurecidos e não conseguiam enxergar o propósito e plano de Deus para o mundo, e não somente para Israel.
Nós veremos no capitulo seguinte a honra que Estevão deu aos patriarcas e a Moisés, mas deixou bem claro que Abraão sequer era israelita quando foi justificado por Deus, mas de Ur dos caldeus.
Que a promessa que lhe foi feita pelo Senhor de lhe dar a terra de Canaã como herança para a sua descendência foi cumprida somente 400 anos depois, e que neste período o povo não estava se multiplicando em nenhuma terra santa, mas no Egito.
A propósito, o que Estevão queria mostrar é que não há para o Senhor, nenhuma terra santa e nenhum templo santo feito por mãos humanas, que Ele deva considerar como efetivamente para sempre santo, porque Deus não tem como lugar da Sua habitação nenhum templo feito por mãos humanas, e não tem considerada nenhuma terra em particular como uma parte do céu, porque todos os homens são pecadores, esta terra ainda se encontra debaixo da maldição que foi proferida por Ele contra ela no Éden.
Os próprios israelitas não obedeceram à Lei de Moisés, e por terem idolatrado, haviam sido expulsos de Canaã, e não seria pelo fato de Deus tê-los feito retornar para lá, que não poderiam ser expulsos novamente como Jesus havia profetizado, e como de fato ocorreu em 70 d.C.
Então eles não deveriam basear a santidade deles simplesmente por fazerem parte do povo de Israel, por habitarem na Canaã que foi prometida à descendência de Abraão, e nem sequer por terem um templo em Jerusalém, porque Deus mandou primeiro construir um tabernáculo, e não fez nenhuma questão que se construísse um templo, quando Davi manifestou tal desejo em seu coração.
O Senhor está interessado na construção de um templo vivo de pedras vivas do qual Jesus é a pedra de esquina.
Mas, a tradição religiosa e endurecimento de seus corações, por causa do orgulho nacionalista, lhes impedia de enxergarem estas verdades.
É no nosso próprio coração que o Senhor pretende edificar um templo santo, onde Ele possa habitar.
Estevão havia profetizado a destruição do templo de Jerusalém, por causa da impiedade dos judeus, tal como o Senhor havia feito pelos profetas do Velho Testamento quanto ao templo de Salomão.
E esta profecia foi revelada pelo próprio Jesus aos apóstolos.
Hoje ainda, Deus está dizendo que removerá o castiçal de muitos templos da Igreja  de Laodiceia, e estes cristãos em vez de se arrependerem, voltam-se com fúria contra os profetas que o Senhor tem levantado nestes últimos dias para alertá-los, esquecidos que o juízo de Deus começa pela Sua própria casa.
É dito que todos os que estavam assentados no Sinédrio viram o rosto de Estevão como o de um anjo, ou seja, havia nele algo daquele mesmo brilho que foi visto na face de Moisés quando desceu o monte Sinai, e como poderia estar então falando contra Moisés, se o mesmo Deus que fizera o rosto de Moisés como o de um anjo, estava fazendo o rosto de Estevão brilhar diante deles?
Tal era a serenidade imperturbada, tal era a coragem destemida, e tal a mistura de mansidão e majestade, que havia no semblante de Estevão, que lhes foram dadas pelo Espírito, que todos disseram que ele parecia um anjo.
Sabedoria e santidade fazem a face de um homem brilhar, e ainda isto não os livrará das maiores infâmias e  injúrias, tal como haviam feito com o próprio Cristo, e não é portanto nenhuma maravilha, que o brilho da face de Estevão não lhe tenha protegido da fúria dos seus inimigos.
Se fosse fácil provar que ele era culpado de ter colocado qualquer desonra em Moisés, Deus não teria posto a própria honra que dera a Moisés em Estevão, fazendo a sua face brilhar como a de um anjo do céu.
Assim eles não se deixariam convencer por esta evidência, como a maioria dos israelitas não havia se deixado convencer no passado e que haviam se levantado contra Moisés, intentando até mesmo matá-lo; porque não estavam suportando a vontade de Deus, que era transmitida a eles através do Seu servo.
Quão comum é se experimentar isto, a saber, que aqueles que Deus levanta para o bem dos homens, se tornem o alvo do ódio deles.
E quanto sofrem, estes instrumentos do Senhor, nas mãos daqueles cujos corações são governados pelo mal!




“1 Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas daqueles estavam sendo esquecidas na distribuição diária.
2 E os doze, convocando a multidão dos discípulos, disseram: Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas.
3 Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais encarreguemos deste serviço.
4 Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra.
5 O parecer agradou a todos, e elegeram a Estevão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas, e Nicolau, prosélito de Antioquia,
6 e os apresentaram perante os apóstolos; estes, tendo orado, lhes impuseram as mãos.
7 E divulgava-se a palavra de Deus, de sorte que se multiplicava muito o número dos discípulos em Jerusalém e muitos sacerdotes obedeciam à fé.
8 Ora, Estêvão, cheio de graça e poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo.
9 Levantaram-se, porém, alguns que eram da sinagoga chamada dos libertos, dos cireneus, dos alexandrinos, dos da Cilícia e da Ásia, e disputavam com Estêvão;
10 e não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que falava.
11 Então subornaram uns homens para que dissessem: Temo-lo ouvido proferir palavras blasfemas contra Moisés e contra Deus.
12 Assim excitaram o povo, os anciãos, e os escribas; e investindo contra ele, o arrebataram e o levaram ao sinédrio;
13 e apresentaram falsas testemunhas que diziam: Este homem não cessa de proferir palavras contra este santo lugar e contra a lei;
14 porque nós o temos ouvido dizer que esse Jesus, o nazareno, há de destruir este lugar e mudar os costumes que Moisés nos transmitiu.
15 Então todos os que estavam assentados no sinédrio, fitando os olhos nele, viram o seu rosto como de um anjo.” (Atos 6.1-15)








Atos 7

O Martírio de Estevão – Atos 7

Nós temos no sétimo capítulo de Atos o relato do martírio de Estevão, o primeiro mártir da Igreja, cujos sofrimentos e morte serviram de exemplo e encorajamento para todos aqueles que são chamados a resistirem até o sangue, se preciso for, para não negarem o nome de Jesus e a Sua Palavra.
Ao ser interrogado pelo sumo sacerdote, no Sinédrio, Estevão começou sua defesa se dirigindo a eles, chamando-os de irmãos e pais, porque era judeu tanto quanto eles, e descendente dos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó.
Ele revelou portanto um trato civilizado e respeitoso para com eles, apesar de toda a falsidade e malícia com que lhe estavam tratando.
Ele não tinha nenhuma expectativa de que receberia um tratamento justo da parte deles, e portanto estava falando daquela maneira não para lisonjeá-los, mas porque isto estava em conformidade com o seu caráter reto e santo.
Eles se dirigiram a ele como se fosse um traidor do judaísmo, e como se fosse um grande inimigo, no entanto, ao lhes chamar de irmãos e pais, estava revelando que não havia razão para considerá-lo de tal forma.
Estevão lhes havia falado anteriormente da idolatria de Israel e que Abraão foi chamado e justificado por Deus, quando era ainda um gentio, e que nem um pé de Canaã foi tomado por posse pela sua descendência, a não ser somente 400 anos depois de terem permanecido se multiplicando no Egito.
Ele havia mostrado também que os próprios patriarcas de Israel, descendentes de Jacó, não haviam agido de modo justo com o seu irmão José, de maneira que não deveriam pensar que a santidade deles consistia no simples fato de serem descendentes de Abraão, de terem um templo e de habitarem em Canaã; porque seguramente Deus voltaria a visitar os seus pecados destruindo o templo, e lhes expulsando mais uma vez da Palestina, conforme havia sido profetizado por Jesus.
Então Estevão foi completamente honesto e verdadeiro, quando lhes alertou quanto ao perigo que havia em rejeitar a Jesus, que fora dado pelo desígnio de Deus, para justificar os pecadores, e para que pudessem ser realmente santos perante Ele.
Mas como poderiam entender o propósito de Deus, e se renderem a Ele sendo homens de dura cerviz, incircuncisos de coração e ouvido, que sempre resistiam ao Espírito Santo, tanto quanto os seus ancestrais haviam feito no passado? (At 7.51).
Eles continuavam imitando os seus pais, que haviam perseguido os profetas, e haviam não somente traído Jesus, como também Lhe haviam matado.
Assim, afinal, quem era traidor de quem?
Se ao próprio Moisés, a quem alegavam seguir, não mostraram fidelidade, cumprindo a Lei que lhes fora dada, como poderiam ser verdadeiros discípulos de Jesus, de quem Moisés foi apenas servo?
Assim o coração de Deus não estava naquela terra, e nem naquele templo de pedra, mas naqueles que Lhe obedeciam de fato.
Por isso Ele havia falado pelo próprio Moisés acerca de um Profeta, que seria levantado no futuro (Jesus), que deveria ser ouvido pelos israelitas, para conhecerem a Sua vontade numa Nova Aliança.
Deus estava fazendo coisas novas, e não havia feito nenhuma promessa de garantir a Lei cerimonial e o templo de Jerusalém  para sempre.
Ao contrário, havia falado pelos profetas que faria uma Nova Aliança, para vigorar no lugar da Antiga.
Deste modo, era injustificável a teimosia e resistência dos judeus ao Espírito Santo, por causa de tentarem fazer prevalecer os seus próprios conselhos, em vez de se submeterem ao plano de Deus.
Aquelas palavras foram palavras verdadeiras, mas não de maldição, senão de misericórdia, porque, pelo martírio de Estevão, muitos daqueles que haviam tapado os seus ouvidos, por não suportarem mais ouvi-lo, e que rangiam os dentes de raiva contra ele, viriam a se converter, como o próprio Paulo, que consentia com a sua morte, estando presente quando foi apedrejado, e suas roupas deixadas a seus pés, como testemunho de que haviam executado conforme a lei exigia, um blasfemo, que havia falado contra o templo e contra Moisés.
Se Paulo fosse nascido de novo do Espírito Santo naquela ocasião, se todos aqueles homens fossem cheios do Espírito Santo, não somente não teriam executado Estevão, como poderiam entender qual era o significado da verdadeira santidade.
Não é simplesmente por entrarmos em um templo ou por falarmos bem acerca de Deus e da Sua Lei, que somos santos, mas se efetivamente guardamos a Sua Palavra, e se somos obedientes ao Espírito Santo.
Como não tinham o Espírito, eles expulsaram Estevão da cidade e o apedrejaram, como se não fosse merecedor de morar em Jerusalém, a cidade que eles erroneamente julgavam que era uma extensão do céu na terra.
O Senhor apareceu a Estevão na hora dos seus sofrimentos para honrá-lo e confortá-lo.
Enquanto seus inimigos estavam com seus corações cheios de ira e movidos por Satanás, Estevão estava cheio do Espírito Santo, e teve uma visão da glória de Cristo, que foi suficiente para enchê-lo de uma alegria indizível.
Enquanto seus executores tinham seus olhos fixados nele, cheios de fúria, ele contemplava o céu e não lhes deu atenção, senão para pedir que fossem perdoados pelo pecado de ignorância, que estavam cometendo por causa de um zelo errado por Deus; do qual o próprio Paulo viria a comentar depois, e a também padecer por causa deste zelo errado de seus compatriotas, quando se converteu a Cristo.
Ainda que nossos inimigos nos pressionem até mesmo ao ponto extremo do martírio, eles não podem interromper a nossa comunhão com o céu, e nós podemos aprender isto do exemplo que nos foi deixado por Estevão.
Como Estevão, devemos lhes dizer que estão pecando ao nos perseguirem, porque estão na verdade perseguindo a Cristo, e ao rejeitarem a Palavra que lhes pregamos não é propriamente a nós que estão rejeitando mas ao Senhor.
O fato de pedirmos que sejam perdoados os seus pecados indica que são culpados diante de Deus, e caso não se arrependam, a sua condenação será justa e certa, conforme o Senhor afirma na Sua Palavra.




“1 E disse o sumo sacerdote: Porventura são assim estas coisas?
2 Estêvão respondeu: Irmãos e pais, ouvi. O Deus da glória apareceu a nosso pai Abraão, estando ele na Mesopotâmia, antes de habitar em Harã,
3 e disse-lhe: Sai da tua terra e dentre a tua parentela, e dirige-te à terra que eu te mostrar.
4 Então saiu da terra dos caldeus e habitou em Harã. Dali, depois que seu pai faleceu, Deus o trouxe para esta terra em que vós agora habitais.
5 E não lhe deu nela herança, nem sequer o espaço de um pé; mas prometeu que lha daria em possessão, e depois dele à sua descendência, não tendo ele ainda filho.
6 Pois Deus disse que a sua descendência seria peregrina em terra estranha e que a escravizariam e maltratariam por quatrocentos anos.
7 Mas eu julgarei a nação que os tiver escravizado, disse Deus; e depois disto sairão, e me servirão neste lugar.
8 E deu-lhe o pacto da circuncisão; assim então gerou Abraão a Isaque, e o circuncidou ao oitavo dia; e Isaque gerou a Jacó, e Jacó aos doze patriarcas.
9 Os patriarcas, movidos de inveja, venderam José para o Egito; mas Deus era com ele,
10 e o livrou de todas as suas tribulações, e lhe deu graça e sabedoria perante Faraó, rei do Egito, que o constituiu governador sobre o Egito e toda a sua casa.
11 Sobreveio então uma fome a todo o Egito e Canaã, e grande tribulação; e nossos pais não achavam alimentos.
12 Mas tendo ouvido Jacó que no Egito havia trigo, enviou ali nossos pais pela primeira vez.
13 E na segunda vez deu-se José a conhecer a seus irmãos, e a sua linhagem tornou-se manifesta a Faraó.
14 Então José mandou chamar a seu pai Jacó, e a toda a sua parentela - setenta e cinco almas.
15 Jacó, pois, desceu ao Egito, onde morreu, ele e nossos pais;
16 e foram transportados para Siquém e depositados na sepultura que Abraão comprara por certo preço em prata aos filhos de Emor, em Siquém.
17 Enquanto se aproximava o tempo da promessa que Deus tinha feito a Abraão, o povo crescia e se multiplicava no Egito;
18 até que se levantou ali outro rei, que não tinha conhecido José.
19 Usando esse de astúcia contra a nossa raça, maltratou a nossos pais, a ponto de fazê-los enjeitar seus filhos, para que não vivessem.
20 Nesse tempo nasceu Moisés, e era mui formoso, e foi criado três meses em casa de seu pai.
21 Sendo ele enjeitado, a filha de Faraó o recolheu e o criou como seu próprio filho.
22 Assim Moisés foi instruído em toda a sabedoria dos egípcios, e era poderoso em palavras e obras.
23 Ora, quando ele completou quarenta anos, veio-lhe ao coração visitar seus irmãos, os filhos de Israel.
24 E vendo um deles sofrer injustamente, defendeu-o, e vingou o oprimido, matando o egípcio.
25 Cuidava que seus irmãos entenderiam que por mão dele Deus lhes havia de dar a liberdade; mas eles não entenderam.
26 No dia seguinte apareceu-lhes quando brigavam, e quis levá-los à paz, dizendo: Homens, sois irmãos; por que vos maltratais um ao outro?
27 Mas o que fazia injustiça ao seu próximo o repeliu, dizendo: Quem te constituiu senhor e juiz sobre nós?
28 Acaso queres tu matar-me como ontem mataste o egípcio?
29 A esta palavra fugiu Moisés, e tornou-se peregrino na terra de Midiã, onde gerou dois filhos.
30 E passados mais quarenta anos, apareceu-lhe um anjo no deserto do monte Sinai, numa chama de fogo no meio de uma sarça.
31 Moisés, vendo isto, admirou-se da visão; e, aproximando-se ele para observar, soou a voz do Senhor:
32 Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó. E Moisés ficou trêmulo e não ousava olhar.
33 Disse-lhe então o Senhor: Tira as alparcas dos teus pés, porque o lugar em que estás é terra santa.
34 Vi, com efeito, a aflição do meu povo no Egito, ouvi os seus gemidos, e desci para livrá-lo. Agora pois vem, e enviar-te-ei ao Egito.
35 A este Moisés que eles haviam repelido, dizendo: Quem te constituiu senhor e juiz? a este enviou Deus como senhor e libertador, pela mão do anjo que lhe aparecera na sarça.
36 Foi este que os conduziu para fora, fazendo prodígios e sinais na terra do Egito, e no Mar Vermelho, e no deserto por quarenta anos.
37 Este é o Moisés que disse aos filhos de Israel: Deus vos suscitará dentre vossos irmãos um profeta como eu.
38 Este é o que esteve na congregação no deserto, com o anjo que lhe falava no monte Sinai, e com nossos pais, o qual recebeu palavras de vida para vo-las dar;
39 ao qual os nossos pais não quiseram obedecer, antes o rejeitaram, e em seus corações voltaram ao Egito,
40 dizendo a Arão: Faze-nos deuses que vão adiante de nós; porque a esse Moisés que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu.
41 Fizeram, pois, naqueles dias o bezerro, e ofereceram sacrifício ao ídolo, e se alegravam nas obras das suas mãos.
42 Mas Deus se afastou, e os abandonou ao culto das hostes do céu, como está escrito no livro dos profetas: Porventura me oferecestes vítimas e sacrifícios por quarenta anos no deserto, ó casa de Israel?
43 Antes carregastes o tabernáculo de Moloque e a estrela do deus Renfã, figuras que vós fizestes para adorá-las. Desterrar-vos-ei pois, para além da Babilônia.
44 Entre os nossos pais no deserto estava o tabernáculo do testemunho, como ordenara aquele que disse a Moisés que o fizesse segundo o modelo que tinha visto;
45 o qual nossos pais, tendo-o por sua vez recebido, o levaram sob a direção de Josué, quando entraram na posse da terra das nações que Deus expulsou da presença dos nossos pais, até os dias de Davi,
46 que achou graça diante de Deus, e pediu que lhe fosse dado achar habitação para o Deus de Jacó.
47 Entretanto foi Salomão quem lhe edificou uma casa;
48 mas o Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens, como diz o profeta:
49 O céu é meu trono, e a terra o escabelo dos meus pés. Que casa me edificareis, diz o Senhor, ou qual o lugar do meu repouso?
50 Não fez, porventura, a minha mão todas estas coisas?
51 Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; como o fizeram os vossos pais, assim também vós.
52 A qual dos profetas não perseguiram vossos pais? Até mataram os que dantes anunciaram a vinda do Justo, do qual vós agora vos tornastes traidores e homicidas,
53 vós, que recebestes a lei por ordenação dos anjos, e não a guardastes.
54 Ouvindo eles isto, enfureciam-se em seus corações, e rangiam os dentes contra Estêvão.
55 Mas ele, cheio do Espírito Santo, fitando os olhos no céu, viu a glória de Deus, e Jesus em pé à direita de Deus,
56 e disse: Eis que vejo os céus abertos, e o Filho do homem em pé à direita de Deus.
57 Então eles gritaram com grande voz, taparam os ouvidos, e arremeteram unânimes contra ele
58 e, lançando-o fora da cidade, o apedrejavam. E as testemunhas depuseram as suas vestes aos pés de um mancebo chamado Saulo.
59 Apedrejavam, pois, a Estêvão que orando, dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito.
60 E pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor, não lhes imputes este pecado. Tendo dito isto, adormeceu. E Saulo consentia na sua morte.”  (Atos 7.1-60)








Atos 8

O Evangelho Sendo Anunciado em Samaria – Atos 8

Muito mais do que registrar a perseguição que a Igreja passou a sofrer desde o martírio de Estevão, especialmente, a partir deste oitavo capítulo de Atos, o propósito da escrita do livro de Atos é o de demonstrar como o evangelho foi espalhado por todo o mundo conhecido de então.
E nós vemos anjos ajudando os cristãos a realizarem o seu trabalho, e tendo a direção e o governo do Espírito Santo em tudo o que deveriam fazer, conforme podemos ver por exemplo neste capítulo, em relação ao trabalho do evangelista Filipe.
“Mas um anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Levanta-te, e vai em direção do sul pelo caminho que desce de Jerusalém a Gaza, o qual está deserto.”  (v. 26).
“Disse o Espírito a Filipe: Chega-te e ajunta-te a esse carro.” (v. 29).
“Quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou a Filipe, e não o viu mais o eunuco, que jubiloso seguia o seu caminho.”  (v. 39).
O método de trabalho da Igreja nunca deveria se desviar do que está registrado no livro de Atos.
Ao longo da história dos avivamentos sempre houve um retorno determinado pelo próprio Espírito Santo ao modo de se fazer a obra do Senhor, conforme relatado em Atos, e sempre houve também a ajuda de anjos aos que pregam o evangelho, quanto ao modo de fazerem a obra.
Até o martírio de Estevão, as ações dos apóstolos e dos demais discípulos estavam concentradas principalmente em Jerusalém, mas a partir do dia do seu martírio, levantou-se grande perseguição contra a Igreja de Jerusalém, e todos os cristãos foram dispersos, com exceção dos apóstolos, e estes que foram dispersos pregavam a Palavra (v. 4) pelas regiões da Judeia e Samaria, e assim deu-se cumprimento à ordenança de Jesus, de que o evangelho fosse pregado em todo o mundo, a partir de Jerusalém, Judeia e Samaria.
Como Saulo estava  assolando a Igreja, invadindo as residências nas quais era informado que habitavam cristãos, arrastava-os à prisão, fossem homens ou mulheres (v. 2).
Aprouve à providência divina que os apóstolos permanecessem em Jerusalém, e deste modo, tiveram que comissionar outros para fazerem o trabalho de evangelização, e certamente este foi o motivo de Filipe, que era um dos sete diáconos, ter saído como evangelista, sob a autoridade dos apóstolos de Jerusalém, para fundar igrejas em toda parte que fosse enviado pelo Espírito Santo.
Estes evangelistas estavam pregando com autoridade e poder, e o Senhor estava operando muitos milagres através deles, conforme podemos ver na narrativa relativa às ações de Filipe em Samaria nos versos 5 a 25.
Espíritos imundos eram expulsos, muitos paralíticos e coxos foram curados, e as multidões escutavam as cousas que Filipe dizia porque ouviam e viam os sinais que ele operava, de maneira que era grande a alegria na cidade de Samaria (v. 5 a 8).
Entretanto, como veremos adiante, nenhuma das pessoas que creram nas coisas que Filipe lhes pregou acerca do reino de Deus e do nome de Jesus e que foram até mesmo batizadas nas águas, inclusive um mágico da cidade de nome Simão, haviam recebido ainda o Espírito Santo, de maneira que foi necessário que os apóstolos Pedro e João descessem de Jerusalém a Samaria, e orassem pelos que haviam crido em Cristo, para que recebessem o Espírito Santo, porque sobre nenhum deles havia ainda descido o Espírito para habitar neles, uma vez que tinham sido apenas batizados no nome de Jesus (v. 14 a 16).
Foi somente depois que os apóstolos impuseram as mãos sobre eles, que receberam o Espírito Santo.
Veja que o Senhor já havia realizado vários milagres e expulsado demônios de muitos, mas não tinham ainda recebido o Espírito Santo.
O ato de recebimento, havia sido retido por Deus, naquela ocasião, para que o dom do Espírito fosse concedido somente por imposição de mãos dos apóstolos, e isto tinha principalmente o objetivo de confirmar aos samaritanos que a Igreja daquela região estaria debaixo da autoridade dos apóstolos da circuncisão, que tinham também autoridade sobre todas as igrejas da Judeia.
Isto era um indicativo para eles que não deveriam somente receber o dom do Espírito pelos apóstolos, mas também perseverarem na sua doutrina, a qual haviam recebido diretamente de Cristo e do Espírito Santo.
Simão, o mágico, ao ver que o Espírito Santo foi concedido somente por imposição de mãos dos apóstolos, pensou erroneamente que aquela era uma arte mágica ou poder que pertencia aos próprios apóstolos, e lhes ofereceu dinheiro para que tivesse também o mesmo poder (v. 18).
Ele queria ter o poder de também impor as mãos para que as pessoas recebessem o dom do Espírito Santo.
Ele não sabia os propósitos de Deus em ter retido o Espírito para que fosse concedido somente por imposição de mãos dos apóstolos naquelas novas áreas em que o evangelho estava sendo pregado fora de Jerusalém, para confirmação da doutrina dos apóstolos, e do reconhecimento da sua autoridade  como enviados de Cristo para fundarem a Igreja.
Quanto aos oito mil que haviam se convertido em Jerusalém, nada se diz de terem recebido a habitação do Espírito por imposição de mãos dos apóstolos, porque era patente a todos naquela cidade que os apóstolos estiveram com Cristo e eram os líderes designados por Ele para edificarem a Igreja.
O Espírito Santo pode ser recebido por qualquer pessoa, no ato mesmo em que ela tenha um encontro pessoal com Cristo, sem que seja necessário impor-lhe as mãos.
Salvo nas situações em que o próprio Espírito Santo determinar que assim seja feito, tal como ocorreu em Samaria.
No entanto, há aqui uma importante lição, que é possível alguém professar crer em Cristo, ser batizado, ser curado de enfermidades, ter demônios expulsos de seu corpo, e ainda assim não ter recebido ainda o novo nascimento do Espírito Santo ou o revestimento de poder do que costumamos chamar de batismo de poder do Espírito para a obra do ministério.
Como os apóstolos estavam bem conscientes que o recebimento do Espírito Santo não era algo da própria esfera de poder deles, senão um ato soberano e voluntário da parte do próprio Deus, Pedro agiu com grande repulsa à oferta de dinheiro de Simão, e vale a pena destacarmos as palavras que ele proferiu a ele:
“20 Mas disse-lhe Pedro: Vá tua prata contigo à perdição, pois cuidaste adquirir com dinheiro o dom de Deus.
21 Tu não tens parte nem sorte neste ministério, porque o teu coração não é reto diante de Deus.
22 Arrepende-te, pois, dessa tua maldade, e roga ao Senhor para que porventura te seja perdoado o pensamento do teu coração;
23 pois vejo que estás em fel de amargura, e em laços de iniquidade.”.
Simão temeu ao receber a repreensão do apóstolo, que lhe disse diretamente que não tinha parte no ministério da Palavra. porque o seu coração não era reto diante de Deus, e o Senhor nunca chamará para o ministério da Palavra, pessoas com um coração como o de Simão, interesseiro, egoísta, exibicionista.
Mas nada pode ser dito se chegou a se arrepender, porque Pedro lhe disse que deveria se arrepender da sua maldade e rogar em oração ao Senhor, para que fosse perdoado aquele perverso pensamento.
Pedro havia discernido pelo Espírito que aquele homem estava em fel de amargura, e em laços de iniquidade, ou seja, sendo dirigido pela carne.
Simão pediu que os próprios apóstolos rogassem por ele ao Senhor, para que nada do que os apóstolos haviam dito viesse sobre ele (v. 24).
Ora, é possível que ele tenha agido como faraó diante de Moisés, pedindo-lhe que rogasse por ele, e no entanto queria apenas alívio, mas não se arrepender de seus pecados.
Ninguém pode se arrepender no lugar de qualquer pessoa.
Cada um dará conta de si mesmo a Deus.
Simão queria ficar livre de um possível castigo, mas não se dispôs a se humilhar diante do Senhor e orar para que fosse perdoado.
Nada mais é dito sobre  ele, de maneira que não podemos afirmar se chegou a buscar uma verdadeira conversão diante do Senhor.
Ao retornarem para Jerusalém, os apóstolos evangelizaram muitas aldeias dos samaritanos (v. 25).
Os apóstolos deveriam permanecer unidos em Jerusalém para continuarem gerindo os assuntos da Igreja.
Nós veremos adiante, no décimo quinto capítulo, o que muitos chamam de primeiro concílio da Igreja em Jerusalém. No entanto não se tratou de nenhuma convocação formal institucional para tratar dos assuntos administrativos da congregação dos santos, mas uma reunião que foi provocada pela descida de Paulo a Jerusalém para afirmar o evangelho da graça, diante da ameaça legalista judaizante.
Se os apóstolos seguissem para diversas partes naquela ocasião, seria muito difícil supervisionar a obra em todas as frentes que estavam sendo abertas pelo Espírito Santo.
Somente depois que as igrejas foram consolidadas, e a fé dos discípulos confirmada, que  foram conduzidos pelo Espírito Santo a diferentes partes, porque já existiam pastores e diáconos designados para as igrejas que foram fundadas.
Na verdade, quem supervisiona e dirige os passos da Igreja na história é o próprio Espírito Santo.
Houve épocas em que Ele levantou homens que se consagrassem inteiramente a Deus para que houvesse a Reforma da doutrina que já não era conforme a dos apóstolos, e para o reavivamento quando o testemunho do evangelho esfriava ou ficava perdido, num grande número de igrejas espalhadas em todo o mundo.
Havia muita oração na Igreja Primitiva para que o Espírito fosse derramado, e de igual forma sempre houve necessidade de muita oração por parte da Igreja para que Ele continue sendo derramado.
Devemos lembrar sempre que é possível que muitos concordem com as verdades divinas que lhes pregamos do evangelho, tal como foi o caso de Simão, o Mago, no entanto, não conheceram de fato o poder de Deus, por uma real experiência de conversão, e este trabalho é exclusivo para ser feito pelo Espírito Santo.
Nos versos 26 a 40 nós temos o relato do envio de Filipe por um anjo em direção ao sul, ao caminho que desce de Jerusalém a Gaza, e nada mais lhe foi dito pelo anjo, e Filipe se levantou e foi em obediência à ordem que havia recebido do céu, sem saber detalhes sobre a sua missão.
Como Filipe se dispôs a cumprir o que lhe havia sido ordenado, ele encontrou uma carruagem na qual se encontrava sentado um alto oficial que servia à rainha da Etiópia, país da África, o qual era o superintendente de todos os seus tesouros, e que estava retornando de Jerusalém à Etiópia, porque havia ido a Jerusalém para adorar.
Este oficial etíope era um homem piedoso, que deve ter ouvido muitas coisas acerca de Jesus, e já vinha sendo conduzido pelo Espírito a ter um grande interesse na leitura das Escrituras, de maneira que quando Filipe foi ao seu encontro, por obedecer a uma ordem que o Espírito Santo lhe havia dado, encontrou-o lendo o livro do profeta Isaías.
O Espírito Santo estava conduzindo todo aquele negócio porque certamente era Seu propósito começar a espalhar o evangelho na África, a partir da liderança daquele oficial etíope.
Tal como a Igreja foi fundada em diversas partes do mundo, já naquela época e também posteriormente, sem que alguns dos apóstolos estivessem necessariamente presentes, como foi o caso de Roma, Laodiceia, Colossos e muitas outras cidades.
Certamente, os fundadores destas igrejas estiveram em contato com os apóstolos ou com algum dos evangelistas, como foi o caso deste oficial etíope.
Contudo, o que daí aprendemos é que o trabalho que o Espírito Santo faz não está amarrado a nenhuma organização eclesiástica específica.  
O etíope estava lendo o capítulo 53 de Isaías, e se deteve nos versos 7 e 8 quando Filipe lhe perguntou se entendia o que estava lendo, ele foi humilde em dizer que não poderia se não houvesse alguém para lhe ensinar (v. 31), e rogou que Filipe subisse ao carro para estar com ele, e lhe perguntou se acaso o profeta estava falando de si mesmo ou de um outro.
Isto deu ocasião para que Filipe lhe mostrasse que aquela passagem se referia claramente a Jesus, sobre quem Filipe lhe pregou a partir desta Escritura de Isaías 53.
Filipe certamente lhe falou sobre o batismo na água em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, daqueles que se convertessem a Cristo, como forma da identificação deles com a Sua morte e ressurreição, porque quando a carruagem seguia adiante chegaram a um lugar onde havia água e o próprio etíope perguntou a Filipe, se havia algum impedimento para que ele fosse batizado (v. 36).
E este lhe disse que não, desde que cresse de todo o coração, e o etíope fez a confissão de fé afirmando que cria que Jesus Cristo é o Filho de Deus (v. 37).
Depois que Filipe o batizou e saíram da água, o Espírito Santo arrebatou a Filipe de um modo miraculoso, de forma que o eunuco não o viu mais.
Este retornou cheio de júbilo para a Etiópia, convertido a Cristo, e tendo recebido uma evidência de que a Palavra que lhe fora pregada era a verdade, porque o Espírito Santo havia lhe dado um sinal sobrenatural ao arrebatar Filipe diante dos seus olhos, de maneira que ele soubesse que aquele homem lhe havia sido enviado por uma ordem que havia partido do céu.
Depois de ter sido arrebatado pelo Espírito, é dito que Filipe foi encontrado em Azoto, e que indo dali em direção a Cesareia evangelizava todas as cidades pelas quais passava.
Filipe tinha muitas coisas para contar a respeito do que o Espírito Santo estava fazendo por seu intermédio.
E nós devemos também nos esforçar em nossa consagração ao serviço do Senhor, para que assim como ele, possamos ter também muitas coisas para testemunhar acerca do que o Espírito Santo tem feito em nossos próprios dias por nosso intermédio.
Não particular e somente em experiências pessoais, mas sobretudo naquelas que são relativas aos interesses do  Senhor quanto à Sua Igreja; assim como Filipe estivera compromissado com Ele no passado, para fazer avançar a Sua Igreja e Palavra no mundo.





“1 Naquele dia levantou-se grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém; e todos exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judeia e de Samaria.
2 E uns homens piedosos sepultaram a Estêvão, e fizeram grande pranto sobre ele.
3 Saulo porém, assolava a igreja, entrando pelas casas e, arrastando homens e mulheres, os entregava à prisão.
4 No entanto os que foram dispersos iam por toda parte, anunciando a palavra.
5 E descendo Filipe à cidade de Samaria, pregava-lhes a Cristo.
6 As multidões escutavam, unânimes, as coisas que Filipe dizia, ouvindo-o e vendo os sinais que operava;
7 pois saíam de muitos possessos os espíritos imundos, clamando em alta voz; e muitos paralíticos e coxos foram curados;
8 pelo que houve grande alegria naquela cidade.
9 Ora, estava ali certo homem chamado Simão, que vinha exercendo naquela cidade a arte mágica, fazendo pasmar o povo da Samaria, e dizendo ser ele uma grande personagem;
10 ao qual todos atendiam, desde o menor até o maior, dizendo: Este é o Poder de Deus que se chama Grande.
11 Eles o atendiam porque já desde muito tempo os vinha fazendo pasmar com suas artes mágicas.
12 Mas, quando creram em Filipe, que lhes pregava acerca do reino de Deus e do nome de Jesus, batizavam-se homens e mulheres.
13 E creu até o próprio Simão e, sendo batizado, ficou de contínuo com Filipe; e admirava-se, vendo os sinais e os grandes milagres que se faziam.
14 Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, tendo ouvido que os de Samaria haviam recebido a palavra de Deus, enviaram-lhes Pedro e João;
15 os quais, tendo descido, oraram por eles, para que recebessem o Espírito Santo.
16 Porque sobre nenhum deles havia ele descido ainda; mas somente tinham sido batizados em nome do Senhor Jesus.
17 Então lhes impuseram as mãos, e eles receberam o Espírito Santo.
18 Quando Simão viu que pela imposição das mãos dos apóstolos se dava o Espírito Santo, ofereceu-lhes dinheiro,
19 dizendo: Dai-me também a mim esse poder, para que aquele sobre quem eu impuser as mãos, receba o Espírito Santo.
20 Mas disse-lhe Pedro: Vá tua prata contigo à perdição, pois cuidaste adquirir com dinheiro o dom de Deus.
21 Tu não tens parte nem sorte neste ministério, porque o teu coração não é reto diante de Deus.
22 Arrepende-te, pois, dessa tua maldade, e roga ao Senhor para que porventura te seja perdoado o pensamento do teu coração;
23 pois vejo que estás em fel de amargura, e em laços de iniquidade.
24 Respondendo, porém, Simão, disse: Rogai vós por mim ao Senhor, para que nada do que haveis dito venha sobre mim.
25 Eles, pois, havendo testificado e falado a palavra do Senhor, voltando para Jerusalém, evangelizavam muitas aldeias dos samaritanos.
26 Mas um anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Levanta-te, e vai em direção do sul pelo caminho que desce de Jerusalém a Gaza, o qual está deserto.
27 E levantou-se e foi; e eis que um etíope, eunuco, mordomo-mor de Candace, rainha dos etíopes, o qual era superintendente de todos os seus tesouros e tinha ido a Jerusalém para adorar,
28 regressava e, sentado no seu carro, lia o profeta Isaías.
29 Disse o Espírito a Filipe: Chega-te e ajunta-te a esse carro.
30 E correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías, e disse: Entendes, porventura, o que estás lendo?
31 Ele respondeu: Pois como poderei entender, se alguém não me ensinar? e rogou a Filipe que subisse e com ele se sentasse.
32 Ora, a passagem da Escritura que estava lendo era esta: Foi levado como ovelha ao matadouro, e, como está mudo o cordeiro diante do que o tosquia, assim ele não abre a sua boca.
33 Na sua humilhação foi tirado o seu julgamento; quem contará a sua geração? porque a sua vida é tirada da terra.
34 Respondendo o eunuco a Filipe, disse: Rogo-te, de quem diz isto o profeta? de si mesmo, ou de algum outro?
35 Então Filipe tomou a palavra e, começando por esta escritura, anunciou-lhe a Jesus.
36 E indo eles caminhando, chegaram a um lugar onde havia água, e disse o eunuco: Eis aqui água; que impede que eu seja batizado?
37 [E disse Felipe: é lícito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus.]
38 mandou parar o carro, e desceram ambos à água, tanto Filipe como o eunuco, e Filipe o batizou.
39 Quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou a Filipe, e não o viu mais o eunuco, que jubiloso seguia o seu caminho.


40 Mas Filipe achou-se em Azoto e, indo passando, evangelizava todas as cidades, até que chegou a Cesareia.” (Atos 8.1-40)







Atos 9

Jerusalém, Judeia, Samaria, até aos Confins da Terra – Atos 9

Por ocasião da conversão de Paulo, a grande maioria dos cristãos era ainda muito nova na fé, porque a Igreja tinha apenas cerca de um ano de existência, e assim, tinham ainda muito que aprender de Deus acerca do perdão, paciência, longanimidade, e misericórdia práticos em experiências reais em suas vidas, e não apenas por terem conhecimento intelectual acerca destas realidades espirituais, que são implantadas em nós, e que são aumentadas na nova natureza que recebemos na conversão.
Pela mesma razão devemos ser pacientes com os novos convertidos.
Mas aqueles irmãos que tentam conciliar, depois de muitos anos no evangelho, uma vida religiosa misturada com o amor ao mundo e um andar segundo a carne, dificilmente poderão ser achados vivendo em verdadeira unidade espiritual, na comunhão do Espírito.      
É por isso que se diz que apesar de os cristãos da Igreja Primitiva serem ainda muito novos na fé, que viviam em comunhão, perseverando na doutrina dos apóstolos, e que apesar de todas as perseguições que estavam sofrendo, havia paz em toda a Igreja da Judeia, Galileia e Samaria, porque estava sendo edificada e andando no temor do Senhor, e havia uma clara operação do Espírito Santo naquela Igreja, que se multiplicava cada vez mais, exatamente por esta sinceridade da busca de um viver segundo a verdade.
Caso os cristãos não procurassem viver segundo a doutrina dos apóstolos, no poder do Espírito, de maneira alguma se poderia afirmar algo  acerca deles como é dito no verso 31 deste oitavo capítulo de Atos.
Então não é porque a Igreja é nova que é impossível viver na unidade do Espírito, mas pelo motivo de os cristãos continuarem tentando viver segundo o seu antigo modo de vida, se inclinando para as coisas do velho homem, em vez da nova natureza em Cristo Jesus.
Deus sempre assistirá ao mais fraco dos cristãos na fé, desde que haja um sincero desejo em seu coração de se sujeitar à Sua vontade, por uma verdadeira consagração de sua vida, mas não iluminará o caminho e não continuará consolando e edificando no Espírito, até mesmo aqueles que se tornaram espirituais, e que por fim vêm a apostatar da Sua presença.
Os que são inexperientes na fé, mas que são sinceros na sua busca de santificação, serão achados em comunhão com seus irmãos, que andam no mesmo caminho deles e com aqueles que são amadurecidos na fé.
Mas os que andam desordenadamente, contra a vontade de Deus, por uma atitude deliberada em tal sentido, devem ser admoestados, e caso não se arrependam, devem ser considerados como gentios e publicanos, conforme ordenado pelo Senhor.
Até esta altura do relato bíblico do nono capítulo de Atos nós não vemos nenhuma divisão na Igreja motivada por um viver carnal dos cristãos, conforme se vê no relato de Paulo em anos posteriores quanto à Igreja de Corinto, que viria a ser fundada por ele, não por alguma deficiência na forma do apóstolo conduzir aquela Igreja, mas pela própria obstinação e orgulho de muitos deles que não andavam segundo o Espírito, mas segundo a carne.
Nós vemos no relato deste nono capítulo de Atos que os esforços de Paulo para a evangelização dos judeus estavam redundando em fracasso, primeiro porque o seu ministério não seria junto aos apóstolos em Jerusalém (circuncisão), mas junto aos gentios (incircuncisão); e segundo porque ele estava sendo considerado agora, tal como Estevão antes dele, como um traidor que havia deixado a sinagoga, e abandonado a sua carreira de fariseu e perseguidor da Igreja, para se juntar àqueles que antes ele perseguia.
Ele havia sido também comissionado por Jesus para pregar aos judeus (At 9.15), conforme vemos nas palavras de esclarecimento que Ele havia dado a Ananias, para que fosse ter com Paulo e lhe impusesse as mãos, porque havia revelado em visão ao apóstolo que um certo Ananias lhe imporia as mãos para que pudesse recobrar a visão que havia perdido no caminho de Damasco, quando o Senhor lhe apareceu e falou com ele.
Mas estes judeus aos quais Paulo estava sendo enviado a pregar eram os da dispersão que viviam nas nações gentias, e não particularmente os da Igreja da circuncisão (Judeia) que se encontrava sob a supervisão dos apóstolos de Jerusalém.
Assim, este é outro aspecto importante a ser considerado na questão da unidade da Igreja, porque se há uma só Igreja, na verdade há espaços que são delimitados para a atuação dos cristãos, pelo próprio Senhor; de forma que ninguém venha a trabalhar sobre fundamento alheio; alheio não no sentido de não ser da mesma Igreja de Cristo, mas que esteja sob a supervisão de outros obreiros designados pelo Senhor para a realização da obra.
De maneira que um presbítero da Igreja de Éfeso não tinha nenhuma autoridade direta sobre os cristãos da Igreja de Corinto e vice-versa, apesar de ambas terem sido fundadas pelo apóstolo Paulo.
Então esta alegada unidade de todos os cristãos de todas as denominações, para que possam fazer o trabalho da Igreja, não é o tipo de unidade estabelecido por Cristo, segundo o critério divino, não de divisão de territórios, propriamente dito, mas de constituição de presbíteros sobre rebanhos específicos, de forma que é o Senhor mesmo quem une aqueles que devem estar reunidos para a realização da obra de evangelização.
Paulo não tinha nenhuma autoridade, apesar de ser também apóstolo, sobre os cristãos da Igreja de Jerusalém, de maneira que pudesse convocar quem bem desejasse para estar com ele em seu ministério.
Ele estava aprendendo isto de uma maneira dura quando tentou evangelizar os judeus tanto em Damasco, onde teve que escapar dos que intentavam matá-lo, sendo colocado num cesto para poder sair da cidade, sendo descido por um dos seus muros; como também quando tentou evangelizar os judeus junto com os apóstolos da circuncisão, que já se encontravam em Cristo, bem antes dele.
Ele estava aprendendo que as coisas na Igreja de Cristo não funcionam na base da autoridade do sinédrio que lhe havia dado autorização para perseguir os cristãos fora da Judeia.
É o próprio Cristo que designa as áreas em que trabalharemos para Ele, e que reúne a nós as pessoas que devem estar sob o nosso ministério, e não propriamente nenhuma autoridade seja ela secular ou eclesiástica.
Há um modo de se trabalhar na seara do Senhor, e este modo é dirigido por Ele próprio.
O Senhor disse a Ananias, que importava que Paulo padecesse muito por causa do Seu nome, não propriamente por ter sido um perseguidor da Igreja, mas por causa da extensão do ministério, que ele teria em várias partes do mundo, e que levantaria fortes oposições contra ele.
Além disso, seria a ele que caberia a maior parte da defesa da justificação pela graça, mediante a fé, para garantir a paz nas igrejas dos gentios, de maneira que não fossem chamados a viverem segundo os costumes dos judeus, como se fossem prosélitos do judaísmo.
Por exemplo, Paulo deveria garantir a liberdade deles do cumprimento de todas as leis cerimoniais da Lei de Moisés, que foram revogadas com a inauguração da Nova Aliança, e isto certamente despertaria, como de fato despertou, um forte ódio dos judeus contra ele, que resultou em ferozes perseguições contra a sua pessoa com o intuito de matá-lo; de maneira que até mesmo os judeus helenistas, que se encontravam em Jerusalém, não aceitaram o seu testemunho de Cristo (v. 29).  
Assim Paulo foi encaminhado pelos discípulos à sua cidade natal de Tarso, em face do insucesso dos seus esforços iniciais na evangelização, a par de todo o seu zelo sincero por Cristo.
Muitos judeus já estavam intentando matá-lo, desde o início da sua conversão, mas nada poderiam fazer contra ele porque havia sido chamado por Cristo para cumprir o ministério de apóstolo dos gentios, para dar testemunho a reis, e aos filhos de Israel.
Assim sucede com todos os que são chamados a cumprirem ministérios específicos.
Eles não partirão deste mundo, seja por perseguições, seja por enfermidades, até que tenha sido cumprido o desígnio de Deus em relação a eles.
Assim, o antigo e arrogante fariseu Saulo, estava sendo quebrado pelo Senhor em seu orgulho, e deveria ainda aprender muito acerca do evangelho, conforme Jesus lhe revelaria diretamente, mas primeiro ele precisou ser quebrado, para aprender a ouvir o Senhor e a estar verdadeiramente debaixo da dependência e obediência à Sua vontade.
Este talvez tenha sido um dos motivos dele ter-se retirado por algum tempo para as regiões da Arábia, conforme relata em Gál 1.17.
O insucesso inicial de Paulo é contrastado com o sucesso de Pedro naquela ocasião, conforme relatado nos versos finais deste capítulo (32 a 43).
Parece que o propósito do Espírito neste capítulo era exatamente este de demonstrar que o sucesso que Paulo viria a ter posteriormente não era devido ao seu próprio poder e capacidade, mas por ter aprendido a  fazer a obra de Deus no poder e dependência do Espírito, tal como Pedro também havia aprendido através de duras experiências, até mesmo com uma negação inicial de que conhecia a Cristo.
Paulo não havia sido chamado para ser apenas um cristão, mas também um ministro, um apóstolo, um grande apóstolo, e então ele deveria ser subjugado de tal forma.
Veja que aqueles para os quais Cristo projeta uma grande honra, são primeiro, derrubados, humilhados, para que possam por fim ser exaltados.
Se o homem exterior não for quebrado, o homem interior não poderá ser fortalecido pelo Espírito.
Assim são relatadas algumas excursões de Pedro fora da região da Judeia, uma vez que o trabalho com os gentios seria feito pelos apóstolos da circuncisão, até que Paulo estivesse pronto para o trabalho que lhe havia sido designado pelo Senhor, e que começaria efetivamente somente cerca de 15 anos depois  de sua conversão, quando foi chamado juntamente com Barnabé pelo Espírito, quando servia à igreja de Antioquia, para saírem em projetos missionários junto aos gentios.
Em Lida, Pedro foi usado para a cura de um paralítico  chamado Eneias, dizendo-lhe: “Eneias, Jesus Cristo te cura, levanta e faze a tua cama.”.
À vista deste milagre muitos se converteram ao Senhor em Lida e Sarona.
Indo para Jope Pedro foi usado para a ressurreição de uma serva do Senhor de nome Tabita (Dorcas), que tinha o testemunho de muitas obras e esmolas.
O corpo de Tabita foi colocado num cenáculo, e Pedro fez com que todos saíssem, e pondo-se de joelhos orou, e voltando-se para o corpo da morta disse: “Tabita, levanta-te”.
Muitos creram em Jope também no Senhor e na palavra do evangelho que era pregada, por causa da ressurreição de Tabita.
Depois disto Pedro ficou muitos dias ainda em Jope, hospedado na casa de um curtidor chamado Simão, na qual seria convocado para a conversão de Cornélio e de sua casa, conforme veremos no capítulo seguinte.
Paulo viria a se tornar o campeão da defesa do evangelho da justificação pela graça, mediante a fé, e pôde trazer muitos pecadores aos pés de Cristo, porque havia entendido afinal o caráter de boas novas de grande alegria e salvação do evangelho, ao estar plenamente convicto que até mesmo um grande perseguidor da Igreja, como ele, havia sido perdoado por Cristo, e teve a condescendência da parte do Senhor, que veio ao seu encontro, para que pudesse tirá-lo do seu endurecimento legalista.
Ainda que o tenha feito de maneira muito impactante, fazendo com que ficasse cego por três dias, para que afinal pudesse enxergar a verdadeira luz que há no nosso amado Senhor Jesus.




“1 Saulo, porém, respirando ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote,
2 e pediu-lhe cartas para Damasco, para as sinagogas, a fim de que, caso encontrasse alguns do Caminho, quer homens quer mulheres, os conduzisse presos a Jerusalém.
3 Mas, seguindo ele viagem e aproximando-se de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu;
4 e, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?
5 Ele perguntou: Quem és tu, Senhor? Respondeu o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues;
6 mas levanta-te e entra na cidade, e lá te será dito o que te cumpre fazer.
7 Os homens que viajavam com ele quedaram-se emudecidos, ouvindo, na verdade, a voz, mas não vendo ninguém.
8 Saulo levantou-se da terra e, abrindo os olhos, não via coisa alguma; e, guiando-o pela mão, conduziram-no a Damasco.
9 E esteve três dias sem ver, e não comeu nem bebeu.
10 Ora, havia em Damasco certo discípulo chamado Ananias; e disse-lhe o Senhor em visão: Ananias! Respondeu ele: Eis-me aqui, Senhor.
11 Ordenou-lhe o Senhor: Levanta-te, vai à rua chamada Direita e procura em casa de Judas um homem de Tarso chamado Saulo; pois eis que ele está orando;
12 e viu um homem chamado Ananias entrar e impor-lhe as mãos, para que recuperasse a vista.
13 Respondeu Ananias: Senhor, a muitos ouvi acerca desse homem, quantos males tem feito aos teus santos em Jerusalém;
14 e aqui tem poder dos principais sacerdotes para prender a todos os que invocam o teu nome.
15 Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome perante os gentios, e os reis, e os filhos de Israel;
16 pois eu lhe mostrarei quanto lhe cumpre padecer pelo meu nome.
17 Partiu Ananias e entrou na casa e, impondo-lhe as mãos, disse: Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, enviou-me para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo.
18 Logo lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista: então, levantando-se, foi batizado.
19 E, tendo tomado alimento, ficou fortalecido. Depois demorou-se alguns dias com os discípulos que estavam em Damasco;
20 e logo nas sinagogas pregava a Jesus, que este era o filho de Deus.
21 Todos os seus ouvintes pasmavam e diziam: Não é este o que em Jerusalém perseguia os que invocavam esse nome, e para isso veio aqui, para os levar presos aos principais sacerdotes?
22 Saulo, porém, se fortalecia cada vez mais e confundia os judeus que habitavam em Damasco, provando que Jesus era o Cristo.
23 Decorridos muitos dias, os judeus deliberaram entre si matá-lo.
24 Mas as suas ciladas vieram ao conhecimento de Saulo. E como eles guardavam as portas de dia e de noite para tirar-lhe a vida,
25 os discípulos, tomando-o de noite, desceram-no pelo muro, dentro de um cesto.
26 Tendo Saulo chegado a Jerusalém, procurava juntar-se aos discípulos; mas todos o temiam, não crendo que fosse discípulo.
27 Então Barnabé, tomando-o consigo, o levou aos apóstolos, e lhes contou como no caminho ele vira o Senhor e que este lhe falara, e como em Damasco pregara ousadamente em nome de Jesus.
28 Assim andava com eles em Jerusalém, entrando e saindo,
29 e pregando ousadamente em nome do Senhor. Falava e disputava também com os helenistas; mas procuravam matá-lo.
30 Os irmãos, porém, quando o souberam, acompanharam-no até Cesareia e o enviaram a Tarso.
31 Assim, pois, a igreja em toda a Judeia, Galileia e Samaria, tinha paz, sendo edificada, e andando no temor do Senhor; e, pelo auxílio do Espírito Santo, se multiplicava.
32 E aconteceu que, passando Pedro por toda parte, veio também aos santos que habitavam em Lida.
33 Achou ali certo homem, chamado Eneias, que havia oito anos jazia numa cama, porque era paralítico.
34 Disse-lhe Pedro: Eneias, Jesus Cristo te cura; levanta e faze a tua cama. E logo se levantou.
35 E viram-no todos os que habitavam em Lida e Sarona, os quais se converteram ao Senhor.
36 Havia em Jope uma discípula por nome Tabita, que traduzido quer dizer Dorcas, a qual estava cheia de boas obras e esmolas que fazia.
37 Ora, aconteceu naqueles dias que ela, adoecendo, morreu; e, tendo-a lavado, a colocaram no cenáculo.
38 Como Lida era perto de Jope, ouvindo os discípulos que Pedro estava ali, enviaram-lhe dois homens, rogando-lhe: Não te demores em vir ter conosco.
39 Pedro levantou-se e foi com eles; quando chegou, levaram-no ao cenáculo; e todas as viúvas o cercaram, chorando e mostrando-lhe as túnicas e vestidos que Dorcas fizera enquanto estava com elas.
40 Mas Pedro, tendo feito sair a todos, pôs-se de joelhos e orou; e voltando-se para o corpo, disse: Tabita, levanta-te. Ela abriu os olhos e, vendo a Pedro, sentou-se.
41 Ele, dando-lhe a mão, levantou-a e, chamando os santos e as viúvas, apresentou-lha viva.
42 Tornou-se isto notório por toda a Jope, e muitos creram no Senhor.
43 Pedro ficou muitos dias em Jope, em casa de um curtidor chamado Simão.” (Atos 9.1-43)







Atos 10

Derrubada a Barreira entre Judeus e Gentios – Atos 10

A par de todo o avanço do evangelho entre os cristãos judeus de Jerusalém, Judeia, Galileia e Samaria, e de outras partes do mundo, como por exemplo em Damasco, e Antioquia da Síria, não obstante não foi com certa relutância que a Igreja da circuncisão aceitou e entendeu que de fato o derramamento do Espírito Santo era para pessoas de todas as nações, mesmo aquelas que não eram israelitas.
Este décimo capítulo de Atos bem demonstra este fato, tanto na resistência inicial de Pedro para pregar o evangelho na residência de um centurião romano chamado Cornélio, quanto na forma como ele foi confrontado pela Igreja de Jerusalém, pelo fato de ter estado na casa de um gentio, indo portanto contra uma prescrição cerimonial da Lei de Moisés, que tinha em vista evitar que os judeus se contaminassem com as práticas idolátricas e abomináveis das nações pagãs (Dn 1.8).
Mas os israelitas levaram aquela prescrição legal a um nível de mero preconceito racial, quando a própria Lei de Moisés continha outras prescrições relativas ao amor e misericórdia para com os gentios, sob o argumento de que os israelitas haviam vivido por muito tempo como estrangeiros no Egito.
Não importava se Cornélio era um homem piedoso e que buscava agradar a Deus.
Ele seria considerado imundo segundo a interpretação que eles faziam da Lei e todo judeu que entrasse em sua casa seria considerado cerimonialmente impuro.
Daí a razão de Deus ter dado a visão do lençol que descia do céu com vários animais imundos, segundo a Lei, ordenando a Pedro que os matasse e comesse, como que pretendendo lhe convencer que de fato havia revogado toda a lei cerimonial do Antigo Testamento, com a entrada em vigor da Nova Aliança, com a morte de Jesus Cristo.
Se debaixo da Lei, os judeus deveriam evitar estar na companhia de pagãos, para que não fossem induzidos a praticarem as mesmas abominações que eles, agora, com a inauguração da dispensação do evangelho, da graça, do Espírito Santo, nenhuma aproximação seria considerada em si mesma um ato de impureza contra a Lei, porque o evangelho estava também destinado aos gentios, e a barreira de separação que era imposta pela Lei foi derrubada em Cristo, que fez dos dois um só povo de Deus, a saber, aqueles que se convertiam tanto entre os judeus quanto entre os gentios.
Deus não recusará na presente dispensação da graça a aproximação de nenhum pecador, de nenhuma nação da terra, por maiores que tenham sido os pecados praticados por eles no passado, desde que o façam com um sincero coração em busca da Sua graça, para obterem perdão para os seus pecados, por meio do arrependimento e fé em Cristo.
Cornélio queria encontrar o Deus verdadeiro, e por isso Ele proveu os meios necessários para tal encontro, enviando-lhe um anjo com instruções específicas para que chamasse a Pedro em Jope; e ao mesmo tempo em que preparou o coração e mente de Pedro para pregar o evangelho na casa de um gentio.    
Tão forte era ainda a questão do preconceito racial em Pedro, que ele começou o seu discurso procurando justificar o ato de sua presença na casa de Cornélio, que não deveria ser considerado por eles como uma desobediência explícita aos mandamentos da Lei, dizendo-lhes que eles bem sabiam que não era lícito a um judeu ajuntar-se ou chegar-se a estrangeiros; mas que fora o próprio Deus que lhe ordenara a ir ter com Cornélio em sua casa, e que a ninguém mais deveria considerar comum ou imundo, segundo as prescrições cerimoniais da Lei de Moisés.
Pedro não atinava que deveria lhes pregar o evangelho porque isto não lhe foi revelado por Deus quando teve a visão do lençol, apesar de os mensageiros que Cornélio enviou para chamá-lo em Jope terem lhe declarado que Cornélio foi avisado por um santo anjo para lhe chamar para ir à casa do centurião para ouvir as palavras de Pedro.
Quando Pedro chegou em Cesareia e esteve junto a Cornélio e às pessoas que ele havia reunido em sua casa para ouvirem a Pedro, este lhe perguntou por que razão lhe havia chamado.
Se ele tivesse se deixado conduzir pelo Espírito Santo em vez de somente obedecer à ordem de ir à casa do Centurião, ele não teria nenhuma dúvida quanto à sua missão naquele lugar, e lhes exporia a Palavra no poder do Espírito, imediatamente, e sem qualquer reserva.
Era de se estranhar que Pedro tivesse perguntado a Cornélio o que eles desejavam dele, quando o próprio Cornélio tinha fé suficiente que Deus lhe havia enviado Pedro para lhes dizer tudo quanto havia ordenado ao apóstolo (v. 33).
Foi somente então que Pedro despertou para o seu dever de proclamar a Cristo a todos e em toda parte, conforme Ele lhes havia ordenado.
Somente então Pedro pôde reconhecer que Deus não fazia verdadeiramente acepção de pessoas e que lhe é aceitável  qualquer pessoa de qualquer nação, que o tema e pratique o que é justo (v. 34, 35).
Foi somente então que o apóstolo começou a lhes fazer uma exposição do evangelho (v. 36 a 43), concluindo que todo que crê em Jesus receberá remissão dos pecados pelo Seu nome.
Mal Pedro acabara de pronunciar esta grande verdade central do evangelho da remissão dos pecados pela fé em Jesus, sem que ele impusesse as mãos sobre qualquer pessoa na casa de Cornélio, o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a Palavra, e começaram a falar em línguas estranhas e a magnificar a Deus.
Os cristãos que eram da circuncisão (judeus) e que haviam acompanhado Pedro até a casa de Cornélio ficaram maravilhados com o fato de terem testemunhado que até também sobre aqueles que não eram judeus o dom do Espírito Santo havia sido derramado.
Diante da evidência do batismo do Espírito, como poderia ser negado o batismo na água àqueles que haviam se convertido, e que tal como os apóstolos haviam recebido o Espírito Santo?
Foi esta a resposta que Pedro deu àqueles judeus que estavam com ele diante da perplexidade deles pelo que tinha ocorrido.
Pedro mandou que eles fossem batizados então em nome de Jesus Cristo, e eles rogaram a Pedro que ficasse ainda com eles por alguns dias, certamente para continuar lhes explicando melhor as coisas concernentes a Cristo e ao evangelho.





“1 Um homem em Cesareia, por nome Cornélio, centurião da corte chamada italiana,
2 piedoso e temente a Deus com toda a sua casa, e que fazia muitas esmolas ao povo e de contínuo orava a Deus,
3 cerca da hora nona do dia, viu claramente em visão um anjo de Deus, que se dirigia para ele e lhe dizia: Cornélio!
4 Este, fitando nele os olhos e atemorizado, perguntou: Que é, Senhor? O anjo respondeu-lhe: As tuas orações e as tuas esmolas têm subido para memória diante de Deus;
5 agora, pois, envia homens a Jope e manda chamar a Simão, que tem por sobrenome Pedro;
6 este se acha hospedado com um certo Simão, curtidor, cuja casa fica à beira-mar. (Ele te dirá o que deves fazer.)
7 Logo que se retirou o anjo que lhe falava, Cornélio chamou dois dos seus domésticos e um piedoso soldado dos que estavam a seu serviço;
8 e, havendo contado tudo, os enviou a Jope.
9 No dia seguinte, indo eles seu caminho e estando já perto da cidade, subiu Pedro ao eirado para orar, cerca da hora sexta.
10 E tendo fome, quis comer; mas enquanto lhe preparavam a comida, sobreveio-lhe um êxtase,
11 e via o céu aberto e um objeto descendo, como se fosse um grande lençol, sendo baixado pelas quatro pontas sobre a terra,
12 no qual havia de todos os quadrúpedes e répteis da terra e aves do céu.
13 E uma voz lhe disse: Levanta-te, Pedro, mata e come.
14 Mas Pedro respondeu: De modo nenhum, Senhor, porque nunca comi coisa alguma comum e imunda.
15 Pela segunda vez lhe falou a voz: Não chames tu comum ao que Deus purificou.
16 Sucedeu isto por três vezes; e logo foi o objeto recolhido ao céu.
17 Enquanto Pedro refletia, perplexo, sobre o que seria a visão que tivera, eis que os homens enviados por Cornélio, tendo perguntado pela casa de Simão, pararam à porta.
18 E, chamando, indagavam se ali estava hospedado Simão, que tinha por sobrenome Pedro.
19 Estando Pedro ainda a meditar sobre a visão, o Espírito lhe disse: Eis que dois homens te procuram.
20 Levanta-te, pois, desce e vai com eles, nada duvidando; porque eu tos enviei.
21 E descendo Pedro ao encontro desses homens, disse: Sou eu a quem procurais; qual é a causa por que viestes?
22 Eles responderam: O centurião Cornélio, homem justo e temente a Deus e que tem bom testemunho de toda a nação judaica, foi avisado por um santo anjo para te chamar à sua casa e ouvir as tuas palavras.
23 Pedro, pois, convidando-os a entrar, os hospedou. No dia seguinte levantou-se e partiu com eles, e alguns irmãos, dentre os de Jope, o acompanharam.
24 No outro dia entrou em Cesareia. E Cornélio os esperava, tendo reunido os seus parentes e amigos mais íntimos.
25 Quando Pedro ia entrar, veio-lhe Cornélio ao encontro e, prostrando-se a seus pés, o adorou.
26 Mas Pedro o ergueu, dizendo: Levanta-te, que eu também sou homem.
27 E conversando com ele, entrou e achou muitos reunidos,
28 e disse-lhes: Vós bem sabeis que não é lícito a um judeu ajuntar-se ou chegar-se a estrangeiros; mas Deus mostrou-me que a nenhum homem devo chamar comum ou imundo;
29 pelo que, sendo chamado, vim sem objeção. Pergunto pois: Por que razão mandastes chamar-me?
30 Então disse Cornélio: Faz agora quatro dias que eu estava orando em minha casa à hora nona, e eis que diante de mim se apresentou um homem com vestiduras resplandecentes,
31 e disse: Cornélio, a tua oração foi ouvida, e as tuas esmolas estão em memória diante de Deus.
32 Envia, pois, a Jope e manda chamar a Simão, que tem por sobrenome Pedro; ele está hospedado em casa de Simão, curtidor, à beira-mar.
33 Portanto mandei logo chamar-te, e bem fizeste em vir. Agora pois estamos todos aqui presentes diante de Deus, para ouvir tudo quanto te foi ordenado pelo Senhor.
34 Então Pedro, tomando a palavra, disse: Na verdade reconheço que Deus não faz acepção de pessoas;
35 mas que lhe é aceitável aquele que, em qualquer nação, o teme e pratica o que é justo.
36 A palavra que ele enviou aos filhos de Israel, anunciando a paz por Jesus Cristo (este é o Senhor de todos).
37 esta palavra, vós bem sabeis, foi proclamada por toda a Judeia, começando pela Galileia, depois do batismo que João pregou,
38 concernente a Jesus de Nazaré, como Deus o ungiu com o Espírito Santo e com poder; o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do Diabo, porque Deus era com ele.
39 Nós somos testemunhas de tudo quanto fez, tanto na terra dos judeus como em Jerusalém; ao qual mataram, pendurando-o num madeiro.
40 A este ressuscitou Deus ao terceiro dia e lhe concedeu que se manifestasse,
41 não a todo povo, mas às testemunhas que Deus antes ordenara; a nós, que comemos e bebemos juntamente com ele depois que ressurgiu dentre os mortos.
42 Este nos mandou pregar ao povo, e testificar que ele é o que por Deus foi constituído juiz dos vivos e dos mortos.
43 A ele todos os profetas dão testemunho de que todo o que nele crê receberá a remissão dos pecados pelo seu nome.
44 Enquanto Pedro ainda dizia estas coisas, desceu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra.
45 Os cristãos que eram de circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que também sobre os gentios se derramasse o dom do Espírito Santo;
46 porque os ouviam falar línguas e magnificar a Deus.
47 Respondeu então Pedro: Pode alguém porventura recusar a água para que não sejam batizados estes que também, como nós, receberam o Espírito Santo?
48 Mandou, pois, que fossem batizados em nome de Jesus Cristo. Então lhe rogaram que ficasse com eles por alguns dias.” (Atos 10.1-48)










Atos 11

O Evangelho sendo Pregado aos Gentios – Atos 11

Jesus havia ordenado que o evangelho deveria ser pregado  primeiro somente aos judeus, para conversão dos eleitos de Deus entre eles, aos quais Ele chamou de “ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 10.6; 15.24), porque Deus desejava lhes dar o privilégio de pregarem o evangelho em todo o mundo, mas como o estavam rejeitando, a porta para os gentios foi aberta com a ida de Pedro à casa do centurião romano Cornélio.
Não foi por acaso que aprouve à Providência que Pedro fosse à casa do centurião acompanhado de seis outros cristãos judeus, como vemos no 12º versículo deste 11º capítulo de Atos 11, a Cesareia, onde Cornélio residia, para que fossem testemunhas de que os gentios haviam recebido o Espírito Santo tal como os cristãos judeus.
As barreiras de separação, impostas pela Lei de Moisés, estavam começando a serem derrubadas pelo Senhor, para que as ovelhas que Ele havia dito possuir em outro aprisco (de todas as demais nações, e que não eram israelitas), fossem também reunidas no mesmo rebanho que Lhe pertence.
E para aproximar e estreitar os laços entre cristãos judeus e gentios, o Senhor traria uma grande fome à terra, que atingiria especialmente o território dos judeus, de maneira que estes fossem socorridos materialmente pelos cristãos gentios, o que fizeram pelas supervisão de Paulo e Barnabé, que estavam servindo aos gentios na Igreja de Antioquia da Síria; Igreja para a qual Paulo foi conduzido por Barnabé, depois de ter sabido que a Palavra estava sendo pregada também aos gentios, desde que Pedro havia ido à casa de Cornélio pelo mandado do Senhor, e que foi grande o número de conversões naquela cidade da  Síria.
É dito no verso 19 que os cristãos que haviam sido dispersos em razão da perseguição havida desde o martírio de Estevão, pregavam somente aos judeus, indo desde a Fenícia, até a Ilha de Chipre, e Antioquia.
Mas, como havia entre eles alguns convertidos de Chipre e de Cirene, estes pregaram também aos gregos, e houve um grande número de conversões ao Senhor (v. 20,21).
Foi portanto desta forma que o evangelho foi pregado pela primeira vez aos gentios, e dali por diante não haveria mais como ser negada a palavra àqueles que não fossem israelitas, porque eram notáveis as transformações de vidas operadas pelo Espírito Santo naqueles que não eram judeus, e que se convertiam ao Senhor.
Até mesmo os cristãos judeus de Jerusalém tiveram suas resistências quebradas quanto a irem também aos gentios, porque foram convencidos pelo Senhor, através do relato de Pedro a eles, quando retornou a Jerusalém, das coisas que Deus havia feito na casa de Cornélio, como um indicativo claro de que eles não deveriam pregar agora somente aos judeus, mas também aos gentios.
Muitos pagãos seriam também purificados pela regeneração e santificação do Espírito Santo, sendo desviados de suas abominações e idolatrias, e deste modo, nenhum judeu deveria mais considerá-los impuros e imundos, segundo a Lei, porque o Senhor não estava fazendo nenhuma distinção entre os gentios que se convertiam e os cristãos judeus.
Quando Barnabé foi enviado pela Igreja de Jerusalém a Antioquia, para ajudar a confirmar a fé dos discípulos, ele se alegrou sobremaneira porque viu que de fato a graça de Deus se achava naquela igreja, e assim exortava a todos os cristãos a perseverarem no Senhor com firmeza de coração, porque a carne, o diabo e o mundo trabalham incansavelmente para tentarem desviar o cristão da fé; e sendo Barnabé um homem, reto, cheio do Espírito Santo e de fé, era um bom exemplo para eles quanto ao modo de como deveriam se manter firmes no Senhor.
A sua chegada em Antioquia fez com que muita gente se unisse ao Senhor, e sendo grande o trabalho para dar assistência a todos aqueles novos convertidos, e para lhes instruir na verdade, Barnabé decidiu ir à cidade de Tarso, em busca de Paulo, para ajudá-lo na obra que deveria ser feita em Antioquia; e permaneceram com eles por todo um ano, instruindo muita gente, e tal era a identificação daqueles cristãos com o Senhor, que pela primeira vez os discípulos passaram a ser chamados de cristãos naquela Igreja.


 
“1 Ora, ouviram os apóstolos e os irmãos que estavam na Judeia que também os gentios haviam recebido a palavra de Deus.
2 E quando Pedro subiu a Jerusalém, disputavam com ele os que eram da circuncisão,
3 dizendo: Entraste em casa de homens incircuncisos e comeste com eles.
4 Pedro, porém, começou a fazer-lhes uma exposição por ordem, dizendo:
5 Estava eu orando na cidade de Jope, e em êxtase tive uma visão; descia um objeto, como se fosse um grande lençol, sendo baixado do céu pelas quatro pontas, e chegou perto de mim.
6 E, fitando nele os olhos, o contemplava, e vi quadrúpedes da terra, feras, répteis e aves do céu.
7 Ouvi também uma voz que me dizia: Levanta-te, Pedro, mata e come.
8 Mas eu respondi: De modo nenhum, Senhor, pois nunca em minha boca entrou coisa alguma comum e imunda.
9 Mas a voz respondeu-me do céu segunda vez: Não chames tu comum ao que Deus purificou.
10 Sucedeu isto por três vezes; e tudo tornou a recolher-se ao céu.
11 E eis que, nesse momento, pararam em frente à casa onde estávamos três homens que me foram enviados de Cesareia.
12 Disse-me o Espírito que eu fosse com eles, sem hesitar; e também estes seis irmãos foram comigo e entramos na casa daquele homem.
13 E ele nos contou como vira em pé em sua casa o anjo, que lhe dissera: Envia a Jope e manda chamar a Simão, que tem por sobrenome Pedro,
14 o qual te dirá palavras pelas quais serás salvo, tu e toda a tua casa.
15 Logo que eu comecei a falar, desceu sobre eles o Espírito Santo, como também sobre nós no princípio.
16 Lembrei-me então da palavra do Senhor, como disse: João, na verdade, batizou com água; mas vós sereis batizados no Espírito Santo.
17 Portanto, se Deus lhes deu o mesmo dom que dera também a nós, ao crermos no Senhor Jesus Cristo, quem era eu, para que pudesse resistir a Deus?
18 Ouvindo eles estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: Assim, pois, Deus concedeu também aos gentios o arrependimento para a vida.
19 Aqueles, pois, que foram dispersos pela tribulação suscitada por causa de Estêvão, passaram até a Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra, senão somente aos judeus.
20 Havia, porém, entre eles alguns cíprios e cirenenses, os quais, entrando em Antioquia, falaram também aos gregos, anunciando o Senhor Jesus.
21 E a mão do Senhor era com eles, e grande número creu e se converteu ao Senhor.
22 Chegou a notícia destas coisas aos ouvidos da igreja em Jerusalém; e enviaram Barnabé a Antioquia;
23 o qual, quando chegou e viu a graça de Deus, se alegrou, e exortava a todos a perseverarem no Senhor com firmeza de coração;
24 porque era homem de bem, e cheio do Espírito Santo e de fé. E muita gente se uniu ao Senhor.
25 Partiu, pois, Barnabé para Tarso, em busca de Saulo;
26 e tendo-o achado, o levou para Antioquia. E durante um ano inteiro reuniram-se naquela igreja e instruíram muita gente; e em Antioquia os discípulos pela primeira vez foram chamados cristãos.
27 Naqueles dias desceram profetas de Jerusalém para Antioquia;
28 e levantando-se um deles, de nome Ágabo, dava a entender pelo Espírito, que haveria uma grande fome por todo o mundo, a qual ocorreu no tempo de Cláudio.
29 E os discípulos resolveram mandar, cada um conforme suas posses, socorro aos irmãos que habitavam na Judeia;
30 o que eles com efeito fizeram, enviando-o aos anciãos por mão de Barnabé e Saulo.” (Atos 11.1-30)






Atos 12

Deus Luta em Favor da Igreja Perseguida – Atos 12

Nós vemos no 12º capitulo de Atos, que a perseguição dos judeus contra os cristãos não havia cessado.
Herodes Agripa, que reinava sobre o território da Judeia, querendo aumentar a sua popularidade política junto ao povo, lançou mão de alguns cristãos para maltratá-los, e para exibir seu poder real sobre os apóstolos mandou matar Tiago, irmão de João.
Como viu que isto agradou muito ao povo, prendeu também o apóstolo Pedro, mas como era a semana da Páscoa, mandou encarcerá-lo de maneira bastante segura, pondo dezesseis sentinelas para vigiá-lo, porque tencionava fazer um julgamento em praça pública para sentenciá-lo à morte logo que fossem encerradas as festividades da Páscoa.
As perseguições contra a Igreja por parte dos líderes religiosos do sinédrio não haviam cessado, e agora se levantou também contra a Igreja o poder civil, na pessoa do tirânico Herodes.
Quantos inimigos teve o evangelho, os quais o diabo levantou para tentar impedir que a causa de Cristo se espalhasse pelo mundo!
No entanto, como as portas do inferno não podem prevalecer contra a Igreja, ainda que os cristãos sejam martirizados, entram na glória celestial, e a causa de Cristo prosseguirá vencendo na terra, a par de todas as oposições que possa sofrer direta ou indiretamente da parte do diabo, usando ou não instrumentos humanos ou demônios.
Eles se levantam contra a Igreja para caírem, porque a potente mão do Senhor não lhes deixará sem a devida paga, caso não se arrependam de seus crimes e pecados.
Pedro estava na prisão mas a Igreja orava incessantemente por ele.
Eles não ficaram de braços cruzados esperando que Deus agisse em favor de Pedro.
Eles sabiam que nada podiam fazer por si mesmos, mas que Jesus tudo pode e nada Lhe é impossível.
O diabo se levanta contra nós e nós devemos também nos  levantar contra ele, com intercessões poderosas junto ao trono de Deus, para que desfaça todos os seus desígnios.
Ele pretende nos intimidar, dispersar, dividir, atemorizar, atormentar, mas em meio a toda e qualquer tribulação que nos possa vir da sua parte, devemos nos levantar ainda que em fraqueza e temor, e lutar contra ele em oração, e o Senhor nos fortalecerá, nos ouvirá, e agirá por nós, tal como fizera com Pedro enviando-lhe um anjo para tirá-lo da prisão.
Muitos estão em cadeias espirituais, nas quais foram colocados pelo Inimigo, mas o Senhor os tirará de lá com as nossas orações.
Se os nossos Pedros estiverem presos aos laços do diabo, devemos interceder em seu favor, e o Senhor os libertará da prisão espiritual em que se encontram.
Enquanto Pedro não chegar no portão, livre, alegre, em segurança, devemos continuar perseverando em nossas orações e não esmorecer jamais, ainda que não haja nenhuma resposta direta do céu para nós de que foi libertado, tal como sucedeu com o apóstolo, que já havia sido libertado e os cristãos que oravam por ele não receberam nenhuma mensagem a respeito, senão através da serva de nome Rode que foi ter com Pedro no portão da casa em que se encontravam reunidos os que oravam por ele; de maneira que não creram em princípio, que já tivesse sido libertado, porque certamente esperavam que Deus o faria no momento em que estivesse sendo julgado por Herodes.
Afinal, quem poderia enfrentar todas aquelas sentinelas e abrir as portas da prisão?
O Senhor sempre agirá do seu próprio modo, e nunca da maneira que esperamos que Ele aja.
Ele não precisa convencer os homens para dar ganho às nossas causas, porque tem os anjos debaixo de Suas ordens, para operarem milagres e maravilhas em nosso favor, tal como fizera com Pedro.  
E quanto aos judeus, como podiam se gloriar no fato de residirem numa terra santa, onde havia um templo santo, vivendo na impiedade e matando aqueles que lhes foram enviados da parte de Deus?
Eles pagariam caro por tudo o que estavam fazendo e as perseguições e os pecados deles estavam se acumulando até o céu de maneira que viriam a sofrer uma terrível devastação da parte dos romanos em 70 d.C, que destruíram o seu templo e toda a cidade de Jerusalém, matando a muitos deles e expulsando-os do seu próprio lugar.
O juízo que veio sobre Herodes não era a conta toda que lhes estava sendo enviada pelo Senhor, como forma dos juízos que sofreriam por terem se corrompido na função da sua vocação de serem uma bênção para todas as nações da  terra.
Em vez disso, em vez de abençoarem todas as nações com a pregação do evangelho, estavam tentando destruir não somente aqueles que o pregavam como o próprio evangelho, e então o seu crime não deixaria de ser visitado pelo juízo do Senhor, como tem ocorrido, a propósito, em diversas fases da história daquele povo.
Em vez de exaltarem a Jesus, o Senhor da vida, exaltaram a um rei ímpio e tirânico como Herodes, louvando-o em um discurso público, bajulando-o, ao afirmarem que falava como se fosse um deus.
Só que o seu deus foi consumido por vermes diante dos seus olhos por um anjo que o feriu de tal forma, que o seu corpo foi consumido por vermes à sua vista, e morreu, de modo que Deus lhes deu a mensagem que o seu deus era menos do que os vermes que deram cabo da sua vida.
A misericórdia divina, mais uma vez estava lhes dando a oportunidade de se desviarem de suas maldades e idolatrias, para que dessem glória ao único e verdadeiro Deus, que não permitirá que a Sua glória divina seja dividida com ninguém, porque somente Ele é o Criador e Senhor de nossas vidas, e Ele faz o que bem Lhe agrada com aquilo que é Seu.
A par de toda a fúria das perseguições que a Igreja estava sofrendo, é afirmado no verso 24 que “a palavra de Deus crescia e se multiplicava.”.
Não importa o que o diabo, os demônios, os homens ímpios, o mundo,  as tribulações possam fazer para deter o evangelho, se permanecermos fiéis ao Senhor, será sempre este o resultado referido no verso 24.
Este capítulo 12º de Atos é encerrado com o registro da informação de que Paulo e Barnabé, depois de terem terminado o serviço de distribuírem as ofertas, que haviam sido levantadas pelas igrejas gentias, para os cristãos pobres de Jerusalém, retornaram à Igreja de Antioquia, e levaram consigo o sobrinho de Barnabé, de nome João Marcos (v. 25).



“1 Por aquele mesmo tempo o rei Herodes estendeu as mãos sobre alguns da igreja, para os maltratar;
2 e matou à espada Tiago, irmão de João.
3 Vendo que isso agradava aos judeus, continuou, mandando prender também a Pedro. (Eram então os dias dos pães ázimos.)
4 E, havendo-o prendido, lançou-o na prisão, entregando-o a quatro grupos de quatro soldados cada um para o guardarem, tencionando apresentá-lo ao povo depois da páscoa.
5 Pedro, pois, estava guardado na prisão; mas a igreja orava com insistência a Deus por ele.
6 Ora quando Herodes estava para apresentá-lo, nessa mesma noite estava Pedro dormindo entre dois soldados, acorrentado com duas cadeias e as sentinelas diante da porta guardavam a prisão.
7 E eis que sobreveio um anjo do Senhor, e uma luz resplandeceu na prisão; e ele, tocando no lado de Pedro, o despertou, dizendo: Levanta-te depressa. E caíram-lhe das mãos as cadeias.
8 Disse-lhe ainda o anjo: Cinge-te e calça as tuas sandálias. E ele o fez. Disse-lhe mais; Cobre-te com a tua capa e segue-me.
9 Pedro, saindo, o seguia, mesmo sem compreender que era real o que se fazia por intermédio de um anjo, julgando que era uma visão.
10 Depois de terem passado a primeira e a segunda sentinela, chegaram à porta de ferro, que dá para a cidade, a qual se lhes abriu por si mesma; e tendo saído, passaram uma rua, e logo o anjo se apartou dele.
11 Pedro então, tornando a si, disse: Agora sei verdadeiramente que o Senhor enviou o seu anjo, e me livrou da mão de Herodes e de toda a expectativa do povo dos judeus.
12 Depois de assim refletir foi à casa de Maria, mãe de João, que tem por sobrenome Marcos, onde muitas pessoas estavam reunidas e oravam.
13 Quando ele bateu ao portão do pátio, uma criada chamada Rode saiu a escutar;
14 e, reconhecendo a voz de Pedro, cheia de alegria  não abriu o portão, mas, correndo para dentro, anunciou que Pedro estava lá fora.
15 Eles lhe disseram: Estás louca. Ela, porém, assegurava que assim era. Eles então diziam: É o seu anjo.
16 Mas Pedro continuava a bater, e, quando abriram, viram-no e pasmaram.
17 Mas ele, acenando-lhes com a mão para que se calassem, contou-lhes como o Senhor o tirara da prisão, e disse: Anunciai isto a Tiago e aos irmãos. E, saindo, partiu para outro lugar.
18 Logo que amanheceu, houve grande alvoroço entre os soldados sobre o que teria sido feito de Pedro.
19 E Herodes, tendo-o procurado e não o achando, inquiriu as sentinelas e mandou que fossem justiçadas; e descendo da Judeia para Cesareia, demorou-se ali.
20 Ora, Herodes estava muito irritado contra os de Tiro e de Sidom; mas estes, vindo de comum acordo ter com ele e obtendo a amizade de Blasto, camareiro do rei, pediam paz, porquanto o seu país se abastecia do país do rei.
21 Num dia designado, Herodes, vestido de trajes reais, sentou-se no trono e dirigia-lhes a palavra.
22 E o povo exclamava: É a voz de um deus, e não de um homem.
23 No mesmo instante o anjo do Senhor o feriu, porque não deu glória a Deus; e, comido de vermes, expirou.
24 E a palavra de Deus crescia e se multiplicava.


25 Barnabé e Saulo, havendo terminado aquele serviço, voltaram de Jerusalém, levando consigo a João, que tem por sobrenome Marcos.” (Atos 12.1-25)




Atos 13

Início das Viagens Missionárias de Paulo – Atos 13

Por tudo o que temos lido no livro de Atos, até este ponto, e por tudo que ainda comentaremos nos capítulos seguintes do livro, nós podemos concluir que não basta dizer que tudo o que fazemos é e deve ser para a exclusiva glória do Senhor; que todos os que pregam o evangelho são aprovados por Deus desde que falem o nome de Jesus; que tudo quanto basta fazer é confessar com a boca que Jesus é o Senhor, para se alcançar a salvação; enfim a verdadeira graça do evangelho não nos é comunicada por meio de jargões, que sejam proferidos pelos que se dizem ministros de Cristo, ou pelos que afirmam serem cristãos, mas por experiências reais com o Espírito Santo, na transformação, direção e instrução de nossas vidas.
Por isso um título mais adequado para este livro seria o de Atos do Espírito, em vez de Atos dos Apóstolos, até mesmo porque nem todos os que são mencionados, fazendo a obra do Senhor, eram apóstolos, como foi por exemplo o caso de Estevão e de Filipe, dentre muitos outros.
O livro começa falando do derramar do Espírito prometido em todas as nações, e é portanto a obra do Espírito nas pessoas, e através delas, que é a chave para um correto entendimento da mensagem de Atos, de maneira que sejamos convencidos, que não é possível conhecer a Deus, ter experiências com Deus, fazer a obra de Deus, sem a direção e instrução do Espírito.
Então a Igreja é uma comunidade formada por pessoas que tiveram uma experiência de novo nascimento do Espírito, e que estão sendo santificadas pelo mesmo Espírito, para o serviço de Deus.
Não admira portanto, que nem Barnabé, nem Paulo, saíram fazendo missões pelo mundo dos gentios pela sua própria conta, apesar de terem sido vocacionados para tal propósito, desde o momento da sua conversão.    
No entanto, tiveram que aguardar o momento de uma chamada específica do Espírito para darem início a tal trabalho, conforme podemos ver neste 13º capítulo de Atos.
De igual modo, toda obra que seja verdadeiramente do Senhor sempre terá esta marca de ser conduzida pelo Espírito Santo.
A vocação de Paulo e a de Barnabé, bem como a de todos que seriam reunidos a eles pelo Espírito, como foi o caso de João Marcos, Tito, Timóteo dentre outros, não era a de serem ministros permanentes de uma determinada Igreja local; mas a de fundarem igrejas e confirmarem  a fé dos discípulos na doutrina de Cristo, até entregarem o trabalho à direção de pastores específicos, também levantados pelo mesmo Espírito.        
Há necessidade desta comissão específica do Espírito, além da comissão geral de pregarmos o evangelho em todo o mundo; conforme podemos ver nas palavras de Paulo em Rom 10.15:
“E como pregarão, se não forem enviados? assim como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam coisas boas!”.
Se não houver este envio do Espírito a obra fracassará, por melhores que sejam as nossas intenções e desejo de pregar o evangelho.
É o Espírito que nos dirige às portas que Cristo abriu para nós para pregarmos o evangelho.
Não podemos sair por aí abrindo portas para a pregação por nossa própria e exclusiva iniciativa.
Se O Senhor não nos chamou à porta que está aberta, é melhor não entrar nela porque pode ser uma porta aberta pelo próprio homem, ou até mesmo pelo próprio diabo, para trazer confusão e escândalo para o evangelho.
É por este motivo que nós veremos adiante, nos esforços de Paulo para pregar o evangelho em toda parte, que era impedido pelo próprio Espírito de fazê-lo em determinadas áreas, como foi o caso de Bítínia.
Não foi a Igreja de Antioquia da Síria que fez um planejamento missionário e decidiu enviar Paulo e Barnabé para evangelizarem as áreas designadas pela Igreja, mas o próprio Espírito Santo.
Muitos missionários têm saído de Igrejas para fazer o trabalho de missões em várias partes do mundo, e contam com o sustento financeiro de suas igrejas de origem, mas o trabalho e a chamada não são propriamente da Igreja, mas do Espírito Santo.
Se faltar esta chamada do Espírito, não será pela chamada exclusiva do pastor ou da própria Igreja que o trabalho prosperará.
Nós podemos ter até mesmo uma  vocação para missões como era o caso de Paulo e Barnabé, mas é necessário esperar o tempo e a chamada do Espírito Santo, senão não será pelo simples fato de entrarmos num avião e irmos para outro país que nos tornaremos missionários.
Nenhuma nova obra deve portanto ser iniciada sem esta comissão específica do Espírito.
O verso 4 declara expressamente que Paulo e Barnabé foram enviados pelo Espírito. (“Estes, pois, enviados pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre”).
Selêucia era uma cidade portuária na qual embarcaram para navegarem para Chipre, ilha do Mediterrâneo, da qual Barnabé era natural (At 4.36), e que foi o primeiro ponto, não propriamente de um trabalho missionário, porque ela serviria de ponte para atingirem a região da Galácia, nas cidades de Perge, Antioquia da Psídia, Icônio, Derbe e Listra.
João Marcos acompanhou Paulo e Barnabé neste primeiro empreendimento missionário, mas, possivelmente, por não ter sido chamado pelo Espírito, naquele momento, para aquela obra missionária, ou por lhe ter faltado a maturidade necessária, desistiu de prosseguir com eles no meio do caminho, como veremos adiante, e retornou para Jerusalém.
Quando chegaram em Chipre pregavam nas sinagogas dos judeus, numa cidade de Chipre chamada Salamina (v. 5).
Rumando para Pafos que era uma cidade portuária de Chipre, com o intuito de atravessarem por mar para a região da Galácia, estiveram na presença do procônsul Sérgio Paulo, governador romano da província de Chipre, junto ao qual se encontrava um falso profeta judeu, chamado Bar-Jesus e Elimas, que iludia o procônsul com suas mágicas e falsas profecias, o qual pretendia ser para o procônsul, uma espécie de guru espiritual.
Sérgio Paulo manifestou o desejo de ouvir a Palavra de Deus e por isso chamou Paulo e Barnabé, mas o falso profeta resistia-lhes para desviar a atenção do procônsul, de maneira que não pudesse se concentrar nas palavras dos apóstolos.
A resistência do mago em vez de atrapalhar acabou contribuindo para a conversão do procônsul, porque este ficou maravilhado da doutrina do Senhor e creu por ter visto que o poder de Elimas era uma farsa, e que por muito tempo vinha sendo enganado por ele, uma vez que um poder maior que o seu foi manifestado através de Paulo, porque estava cheio do Espírito Santo e repreendeu o  mago com toda a autoridade e viu a mão do Senhor vindo sobre ele, para que ficasse cego por algum tempo.
O homem que afirmava ao procônsul que tinha os olhos abertos e que via tudo o que era relativo à vontade de Deus foi cegado pelo próprio Deus, para que o procônsul entendesse que nunca vira nada da sua parte e que a sua palavra nunca foi a Sua verdade na boca do falso profeta, porque a verdade estava com Paulo e Barnabé, que lhes pregaram sobre o Deus  verdadeiro que enviou Jesus a este mundo para se tornar o nosso Salvador e Senhor.
João Marcos decidiu retornar para Jerusalém, e então Paulo e Barnabé navegaram de Pafos para Perge, que ficava na região da Panfília.
Perge era uma cidade portuária e não é relatada nenhuma ação evangelizadora de Paulo e Barnabé nesta cidade naquela ocasião, por motivos conhecidos somente por eles e pelo Espírito Santo, e rumaram logo para Antioquia da Psídia, onde havia uma sinagoga dos judeus, e ambos entraram e se sentaram naquela sinagoga, num dia de sábado, que era o dia separado pelos judeus para a adoração, conforme a Lei de Moisés.
Depois da leitura do Velho Testamento (lei e profetas), os chefes da sinagoga mandaram dizer a Paulo e Barnabé que falassem se por acaso tinham alguma palavra de exortação para o povo.
Assim, eles próprios abriram uma oportunidade para que o evangelho fosse pregado.
Paulo se levantou e lhes pregou de um modo que cremos tenha sido o modo geral deles pregarem o evangelho aos judeus (versos 16 a 41).
Ele pregou a Jesus como sendo o descendente de Davi sobre o qual Deus fez a promessa de manter a casa de Davi para sempre através dEle (v. 34).
“Dar-vos-ei as santas e fiéis bênçãos de Davi”.
Ao falar das fiéis bênçãos de Davi, Paulo fez uma alusão à promessa que Deus fez a Davi, à qual também se referiu o profeta Isaías:
“Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, dando-vos as fiéis misericórdias prometidas a Davi.” (Is 55.3).
 Por isso, a casa de Davi é típica da igreja de Cristo, que é a sua casa (Hb 3.3).
Cristo não é fiel a toda a sua casa, na condição de um servo, como fora Moisés em relação a Israel, mas como Senhor e Rei, assim como o fora Davi sobre a sua casa terrena.
O Senhor da casa espiritual de Davi é Cristo, e não o próprio Davi, porque este foi impedido de continuar o seu reinado pela morte, e regia apenas sobre Israel, mas Cristo, que vive e reina para sempre, reina sobre toda a Sua casa, e sobre todos aqueles que lhes foram dados pelo Pai, em todas as nações.
Deus fez uma aliança com a cabeça da igreja, o Filho de Davi, de que preservará a Ele uma semente sobre a qual as portas do inferno não prevalecerão, isto é, nunca poderão predominar sobre a casa dEle.
E esta segurança é garantida por Deus e realizada na Rocha segura que é Cristo, que é o autor e consumador da nossa fé e salvação.
Assim, é nele que se cumprem todas as promessas da aliança da graça feita com Davi.
A aliança que Deus fez com um rei terreno apontava para a aliança que fizera antes que houvesse mundo, no céu, com Aquele que reinará para sempre.
Por isso as promessas da aliança eterna são chamadas de fiéis misericórdias prometidas a Davi (Is 55.3).
Depois de ter anunciado aos judeus e prosélitos que se encontravam na sinagoga de Antioquia da Psídia, que é por meio de Jesus, que estava lhes anunciando a remissão de pecados, e de tudo aquilo que ninguém poderia ser justificado pela Lei de Moisés, senão somente pela fé em Jesus; que se cuidassem em não rejeitarem aquela grande e única salvação, que lhes estava sendo oferecida pela graça de Deus, para que não se encontrassem na condição das ameaças, que foram feitas através dos profetas aos desprezadores da aliança (Atos 13.40,41).
Paulo recorreu ao texto da profecia de Hab 1.5, em cujo contexto se fala do juízo de Deus sobre aqueles que rejeitam a Sua salvação.
Este é o dever que todo ministro da Palavra está encarregado, a saber, não dizer apenas que Cristo salva, mas que todo o que rejeitar a salvação será condenado eternamente.
Os judeus arraigados às suas tradições baseadas em mandamentos de homens, e que não davam a devida atenção às promessas e ameaças de Deus feitas pelos profetas do Velho Testamento, deixaram a sinagoga sem darem atenção ao que Paulo lhes havia pregado, e este, juntamente com Barnabé lhes rogaram que pudessem repetir o que haviam pregado com maiores detalhes no sábado seguinte.
Apesar da rejeição quase geral, muitos judeus e prosélitos devotos seguiram a Paulo e Barnabé, que lhes exortaram a perseverarem na graça de Deus.
Mas como os judeus viram que no sábado seguinte quase toda a cidade havia vindo à sinagoga para ouvir a palavra de Deus, e vendo que a mensagem de Paulo estava atraindo as multidões, coisas que nunca haviam conseguido, ficaram cheios de inveja e começaram a blasfemar e contradizer o que Paulo falava. (v. 42 a 45).
Em vez de baixarem a cabeça e recuarem, Paulo e Barnabé os repreenderam ousadamente dizendo que importava que a Palavra fosse primeiro pregada aos judeus, mas como a estavam rejeitando, por não se julgarem dignos da vida eterna, passariam a partir daquele momento a pregarem aos gentios, isto é, àqueles que não eram judeus.
Eles não deixariam de continuar pregando aos judeus, mas o foco da sua missão seria agora não mais os judeus mas os gentios.
Eles não tomaram tal decisão por sua própria conta, mas pela determinação do Senhor de que deveria ser pregado como luz aos gentios até os confins da terra (v. 47).
Todos os eleitos em Antioquia (“todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna) se alegraram ao ouvirem tais palavras de Paulo, e glorificavam a Palavra do Senhor, de modo que a Palavra era divulgada por toda aquela região (v. 48).
As mulheres de alta posição e os magistrados da cidade, incitados pelos judeus, suscitaram uma perseguição contra Paulo e Barnabé, e os expulsaram de Antioquia da Psídia.
Mas isto não representava de modo algum insucesso na sua missão.
Ao contrário, Satanás havia se levantado em grande fúria porque havia perdido muitos que se achavam amarrados em seus grilhões, pelo poder do Espírito, de maneira que quando Paulo e Barnabé partiram para Icônio, os discípulos estavam cheios de alegria, e do Espírito Santo, não porque Paulo e Barnabé haviam sido afastados deles, mas por terem se convertido efetivamente a Cristo através do seu testemunho (v. 50 a 52).




Atos 13.1 Ora, na igreja em Antioquia havia profetas e mestres, a saber: Barnabé, Simeão, chamado Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes o tetrarca, e Saulo.
Atos 13.2 Enquanto eles ministravam perante o Senhor e jejuavam, disse o Espírito Santo: Separai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado.
Atos 13.3 Então, depois que jejuaram, oraram e lhes impuseram as mãos, os despediram.
Atos 13.4 Estes, pois, enviados pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre.
Atos 13.5 Chegados a Salamina, anunciavam a palavra de Deus nas sinagogas dos judeus, e tinham a João como auxiliar.
Atos 13.6 Havendo atravessado a ilha toda até Pafos, acharam um certo mago, falso profeta, judeu, chamado Bar-Jesus,
Atos 13.7 que estava com o procônsul Sérgio Paulo, homem sensato. Este chamou a Barnabé e Saulo e mostrou desejo de ouvir a palavra de Deus.
Atos 13.8 Mas resistia-lhes Elimas, o encantador (porque assim se interpreta o seu nome), procurando desviar a fé do procônsul.
Atos 13.9 Todavia Saulo, também chamado Paulo, cheio do Espírito Santo, fitando os olhos nele,
Atos 13.10 disse: ó filho do Diabo, cheio de todo o engano e de toda a malícia, inimigo de toda a justiça, não cessarás de perverter os caminhos retos do Senhor?
Atos 13.11 Agora eis a mão do Senhor sobre ti, e ficarás cego, sem ver o sol por algum tempo. Imediatamente caiu sobre ele uma névoa e trevas e, andando à roda, procurava quem o guiasse pela mão.
Atos 13.12 Então o procônsul, vendo o que havia acontecido, creu, maravilhando-se da doutrina do Senhor.
Atos 13.13 Tendo Paulo e seus companheiros navegado de Pafos, chegaram a Perge, na Panfília. João, porém, apartando-se deles, voltou para Jerusalém.
Atos 13.14 Mas eles, passando de Perge, chegaram a Antioquia da Psídia; e entrando na sinagoga, no dia de sábado, sentaram-se.
Atos 13.15 Depois da leitura da lei e dos profetas, os chefes da sinagoga mandaram dizer-lhes: Irmãos, se tendes alguma palavra de exortação ao povo, falai.
Atos 13.16 Então Paulo se levantou e, pedindo silêncio com a mão, disse: Varões israelitas, e os que temeis a Deus, ouvi:
Atos 13.17 O Deus deste povo de Israel escolheu a nossos pais, e exaltou o povo, sendo eles estrangeiros na terra do Egito, de onde os tirou com braço poderoso,
Atos 13.18 e suportou-lhes os maus costumes no deserto por espaço de quase quarenta anos;
Atos 13.19 e, havendo destruído as sete nações na terra de Canaã, deu- lhes o território delas por herança durante cerca de quatrocentos e cinquenta anos.
Atos 13.20 Depois disto, deu-lhes juízes até o profeta Samuel.
Atos 13.21 Então pediram um rei, e Deus lhes deu por quarenta anos a Saul, filho de Cis, varão da tribo de Benjamim.
Atos 13.22 E tendo deposto a este, levantou-lhes como rei a Davi, ao qual também, dando testemunho, disse: Achei a Davi, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará toda a minha vontade.
Atos 13.23 Da descendência deste, conforme a promessa, trouxe Deus a Israel um Salvador, Jesus;
Atos 13.24 havendo João, antes do aparecimento dele, pregado a todo o povo de Israel o batismo de arrependimento.
Atos 13.25 Mas João, quando completava a carreira, dizia: Quem pensais vós que su sou? Eu não sou o Cristo, mas eis que após mim vem aquele a quem não sou digno de desatar as alparcas dos pés.
Atos 13.26 Irmãos, filhos da estirpe de Abraão, e os que dentre vós temem a Deus, a nós é enviada a palavra desta salvação.
Atos 13.27 Pois, os que habitam em Jerusalém e as suas autoridades, porquanto não conheceram a este Jesus, condenando-o, cumpriram as mesmas palavras dos profetas que se ouvem ler todos os sábados.
Atos 13.28 E, se bem que não achassem nele nenhuma causa de morte, pediram a Pilatos que ele fosse morto.
Atos 13.29 Quando haviam cumprido todas as coisas que dele estavam escritas, tirando-o do madeiro, o puseram na sepultura;
Atos 13.30 mas Deus o ressuscitou dentre os mortos;
Atos 13.31 e ele foi visto durante muitos dias por aqueles que com ele subiram da Galileia a Jerusalém, os quais agora são suas testemunhas para com o povo.
Atos 13.32 E nós vos anunciamos as boas novas da promessa, feita aos pais,
Atos 13.33 a qual Deus nos tem cumprido, a nós, filhos deles, levantando a Jesus, como também está escrito no salmo segundo: Tu és meu Filho, hoje te gerei.
Atos 13.34 E no tocante a que o ressuscitou dentre os mortos para nunca mais tornar à corrupção, falou Deus assim: Dar-vos-ei as santas e fiéis bênçãos de Davi;
Atos 13.35 pelo que ainda em outro salmo diz: Não permitirás que o teu Santo veja a corrupção.
Atos 13.36 Porque Davi, na verdade, havendo servido a sua própria geração pela vontade de Deus, dormiu e foi depositado junto a seus pais e experimentou corrupção.
Atos 13.37 Mas aquele a quem Deus ressuscitou nenhuma corrupção experimentou.
Atos 13.38 Seja-vos pois notório, varões, que por este se vos anuncia a remissão dos pecados.
Atos 13.39 E de todas as coisas de que não pudestes ser justificados pela lei de Moisés, por ele é justificado todo o que crê.
Atos 13.40 Cuidai pois que não venha sobre vós o que está dito nos profetas:
Atos 13.41 Vede, ó desprezadores, admirai-vos e desaparecei; porque realizo uma obra em vossos dias, obra em que de modo algum crereis, se alguém vo-la contar.
Atos 13.42 Quando iam saindo, rogavam que estas palavras lhes fossem repetidas no sábado seguinte.
Atos 13.43 E, despedida a sinagoga, muitos judeus e prosélitos devotos seguiram a Paulo e Barnabé, os quais, falando-lhes, os exortavam a perseverarem na graça de Deus.
Atos 13.44 No sábado seguinte reuniu-se quase toda a cidade para ouvir a palavra de Deus.
Atos 13.45 Mas os judeus, vendo as multidões, encheram-se de inveja e, blasfemando, contradiziam o que Paulo falava.
Atos 13.46 Então Paulo e Barnabé, falando ousadamente, disseram: Era mister que a vós se pregasse em primeiro lugar a palavra de Deus; mas, visto que a rejeitais, e não vos julgais dignos da vida eterna, eis que nos viramos para os gentios;
Atos 13.47 porque assim nos ordenou o Senhor: Eu te pus para luz dos gentios, a fim de que sejas para salvação até os confins da terra.
Atos 13.48 Os gentios, ouvindo isto, alegravam-se e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna.
Atos 13.49 E divulgava-se a palavra do Senhor por toda aquela região.
Atos 13.50 Mas os judeus incitaram as mulheres devotas de alta posição e os principais da cidade, suscitaram uma perseguição contra Paulo e Barnabé, e os lançaram fora dos seus termos.
Atos 13.51 Mas estes, sacudindo contra eles o pó dos seus pés, partiram para Icônio.
Atos 13.52 Os discípulos, porém, estavam cheios de alegria e do Espírito Santo.








Atos 14

O Evangelho Sendo Pregado na Galácia – Atos 14

Nós percebemos tanto no relato de Atos quanto dos Evangelhos, que no princípio da Igreja não foram os gentios que perseguiram a Igreja, mas o próprio povo de Deus, a saber os judeus.
Eles o fizeram principalmente por motivo de tradição e legalismo, e isto não tem mudado muito ao longo da história da Igreja, porque aqueles que professam serem cristãos, nominalmente, são os principais perseguidores dos verdadeiros cristãos, porque não podem tolerar que a verdade relativa à salvação exclua todo o mérito do homem.
Eles querem receber a salvação como uma recompensa pelo que consideram as suas boas obras, só que estão cheias de justiça própria, e assim permanecem debaixo da ira de Deus em razão do seu orgulho e da sua dívida de pecados, que pode ser quitada somente por Cristo, pela graça e mediante a fé.
Outro grande motivo para a perseguição destes cristãos nominais aos verdadeiros cristãos, é que não toleram a ideia de que necessitem negar os seus egos, serem cheios do Espírito e andarem no Espírito, de maneira que sejam transformados e santificados por Ele.
Eles amam suas próprias tradições e ideias e em nada lhes agrada se submeterem a Deus e à Sua Palavra.
Seus pastores não ousam pregar contra os seus pecados e a exortá-los à conversão e santificação de suas vidas, de maneira que sempre onde isto estiver ocorrendo chamarão de radicalismo e fanatismo religioso.
Outros cristãos seguem suas superstições e ilusões religiosas se apegando a cerimônias e rituais religiosos pensando que por fazerem isto são aceitáveis a Deus e que irão para o céu quando saírem deste mundo, estando completamente ignorantes da verdade que somente os que têm uma união real com Cristo e que têm o selo e o penhor do Espírito em suas vidas, podem agradar verdadeiramente a Deus.
Nós vemos no 14º capítulo de Atos, que quando Paulo e Barnabé eram expulsos das cidades em que pregavam o evangelho por estes falsos judeus, porque todo verdadeiro judeu é aquele que é circuncidado no seu coração, isto contribuía para espalhar a semente do evangelho em outras cidades.
Tal como ocorreu em Antioquia da Psídia, que depois de serem expulsos da cidade pelos magistrados por incitamento dos judeus, tiveram que ir para a cidade de Icônio, onde pregaram o evangelho, também na sinagoga dos judeus, e uma grande multidão veio a crer, tanto de judeus como de gregos.
Mas os judeus incrédulos daquela cidade excitaram e irritaram os ânimos dos gentios contra os cristãos (Atos 14.2).
No entanto, Paulo e Barnabé continuaram pregando ali por muito tempo, falando ousadamente no Espírito do Senhor, que confirmava que a palavra da graça pregada por eles era a verdade, permitindo que por suas mãos se fizessem sinais e prodígios.
As sinagogas dos judeus estavam estabelecidas nestas cidades há muito tempo, mas a doutrina que os apóstolos pregavam, apesar de ser bíblica com apoio nas Escrituras do Velho Testamento, não podia ser pregada pelos chefes das sinagogas, porque os seus olhos espirituais estavam cegados, porque não permitiam que fossem abertos pelo Espírito Santo, para poderem entender as Escrituras.
Na verdade, os próprios cristãos que não andam segundo o Espírito, mas segundo a carne, não podem ter tal entendimento, porque as coisas espirituais da Palavra de Deus só podem ser discernidas espiritualmente por aqueles que andam no Espírito, porque é somente a estes que o Espírito dá iluminação para que possam enxergar as coisas reveladas por Deus nas Escrituras.
Então muitos daqueles que não se converteram ficaram do lado dos judeus, mas outros, mesmo dos que não se converteram, eram a favor dos apóstolos em razão dos sinais e prodígios que viam sendo operados por eles.
No final se levantou um motim tanto de gentios quanto de judeus, que se uniram às autoridades da cidade com o fim de ultrajarem e apedrejarem os apóstolos, mas quando isto lhes chegou ao conhecimento, tiveram que fugir para Listra e Derbe, cidades que ficavam próximas de Icônio, e passaram a pregar o evangelho em ambas cidades.
Na cidade de Listra havia um homem aleijado dos pés, que era coxo de nascença, e que nunca tinha andado.
Enquanto ouvia a pregação de Paulo, a fé foi despertada naquele homem, porque a fé vem pela pregação da Palavra do evangelho, e Paulo percebeu que havia fé naquele homem para ser curado, e dirigido pelo Espírito, lhe disse que se levantasse sobre os seus pés, e levantou de um salto, e passou a andar.
Quando as multidões viram o milagre que Paulo fizera, começaram a dizer que os deuses se fizeram semelhantes aos homens e desceram até eles.
E chamaram Barnabé de deus Júpiter, e Paulo de deus Mercúrio, porque era quem dirigia a Palavra.
Havia um templo para a adoração de Júpiter bem em frente da cidade, e o sacerdote daquele templo trouxe touros e grinaldas para oferecer como sacrifícios em honra e devoção aos apóstolos.
Mas tal como Pedro havia feito anteriormente com Cornélio, que tentou adorá-lo quando chegou na sua casa em Cesareia, os apóstolos Barnabé e Paulo saltaram para o meio da multidão, rasgando as suas vestes em sinal de humilhação, e disseram que não deveriam fazer aquilo porque eram homens da mesma natureza deles, e que estavam apenas anunciando o evangelho para que deixassem suas práticas vãs de adoração como aquela, e se convertessem ao Deus vivo, que criou o céu, a terra, o mar, e tudo quanto há neles; e que permitiu no passado que os povos e nações  pagãs, andassem nos seus próprios caminhos errados, sem conhecimento dEle e da Sua vontade, mas que agora no tempo oportuno, estava se revelando ao mundo pagão através do evangelho.
Mais do que gratidão, aqueles homens incrédulos de Listra, tentaram demonstrar adoração a simples homens como Paulo e Barnabé, mas não se pode de fato confiar nos homens, principalmente quando não concordamos com o modo de vida ou de adoração deles, a saber, na carne, na velha natureza terrena, porque estes mesmos ídólatras se dispuseram a apedrejar a Paulo por terem sido persuadidos pelos judeus de Antioquia e Icônio, que provavelmente lhes falaram que Paulo era um farsante que eles vinham perseguindo de cidade em cidade.
O apedrejamento de Paulo foi de tal ordem que pensaram que tivesse morrido e o arrastaram para fora da cidade (v. 19).
Aquelas tribulações de Paulo serviriam para confirmar a coragem e a fé dos discípulos no testemunho do evangelho, porque quando se levantou, voltou a entrar na própria cidade de Listra, para que testemunhassem que Deus é poderoso para livrar os cristãos fiéis das armadilhas e da fúria do diabo, e assim passou um dia inteiro com eles confirmando a necessidade de perseverarem na fé, e partiu com Barnabé para a cidade de Derbe (v. 20).
E tendo pregado e feito muitos discípulos em Derbe retornou às cidades de Listra, Icônio e Antioquia, onde já havia pregado, para confirmar as almas dos discípulos na verdade, exortando-os a perseverarem na fé, dizendo-lhes que a nossa entrada no reino de Deus exige que passemos por muitas tribulações (v. 21), porque Satanás sempre se levantará contra os cristãos fiéis, tal como estava fazendo à sua vista com Barnabé e com ele próprio.
É dever de todo pastor confirmar as almas de suas ovelhas na verdade, lhes ensinando como perseverar na fé, porque o Senhor disse que somente aquele que perseverar até o fim pode estar seguro da sua salvação, e a Bíblia também afirma que sem santificação ninguém verá a Deus.
Então os cristãos não devem se deixar paralisar pelas intimidações do mundo e do diabo.
Ainda que em fraqueza, debaixo de suas aflições e perseguições  devem seguir adiante firmes na fé, sabendo que o Senhor é poderoso para livrá-los e levá-los a fazer a Sua vontade, de maneira que demonstrem que são verdadeiramente dignos do reino de Deus que é tomado por esforço.
Aquelas igrejas eram ainda muito novas na fé, mas antes de retornar à Igreja de Antioquia da Síria,  fizeram com que cada uma daquelas igrejas que  haviam fundado elegessem presbíteros para dirigi-las, e fizeram isto com oração e com jejuns, tendo-lhes encomendado ao cuidado do Senhor em quem haviam crido.
Assim, as igrejas de Antioquia da Psídia, de Listra, Icônio e Derbe teriam os seus próprios pastores para dirigi-las, respectivamente; e os apóstolos retornariam a Antioquia da Síria para fazerem um relato das grandes coisas que o Senhor havia feito através deles.
É interessante observar que somente ao retornarem para Antioquia, que anunciaram a Palavra em Perge, conforme demonstramos no princípio, que de fato seguiam a direção do Espírito, quer diretamente, quer pelas circunstâncias que lhes sobrevinham, principalmente das perseguições que estavam sofrendo.
É dito no verso 28 que antes de partirem para novos empreendimentos missionários, Paulo e Barnabé ficaram não pouco tempo com os cristãos da Igreja de Antioquia da Psídia.



“1 Em Icônio entraram juntos na sinagoga dos judeus e falaram de tal modo que creu uma grande multidão tanto de judeus como de gregos.
2 Mas os judeus incrédulos excitaram e irritaram os ânimos dos gentios contra os irmãos.
3 Eles, entretanto, se demoraram ali por muito tempo, falando ousadamente acerca do Senhor, o qual dava testemunho à palavra da sua graça, concedendo que por suas mãos se fizessem sinais e prodígios.
4 E se dividiu o povo da cidade; uns eram pelos judeus, e outros pelos apóstolos.
5 E, havendo um motim tanto dos gentios como dos judeus, juntamente com as suas autoridades, para os ultrajarem e apedrejarem,
6 eles, sabendo-o, fugiram para Listra e Derbe, cidades da Licaônia, e a região circunvizinha;
7 e ali pregavam o evangelho.
8 Em Listra estava sentado um homem aleijado dos pés, coxo de nascença e que nunca tinha andado.
9 Este ouvia falar Paulo, que, fitando nele os olhos e vendo que tinha fé para ser curado,
10 disse em alta voz: Levanta-te direito sobre os teus pés. E ele saltou, e andava.
11 As multidões, vendo o que Paulo fizera, levantaram a voz, dizendo em língua licaônica: Fizeram-se os deuses semelhantes aos homens e desceram até nós.
12 A Barnabé chamavam Júpiter e a Paulo, Mercúrio, porque era ele o que dirigia a palavra.
13 O sacerdote de Júpiter, cujo templo estava em frente da cidade, trouxe para as portas touros e grinaldas e, juntamente com as multidões, queria oferecer-lhes sacrifícios.
14 Quando, porém, os apóstolos Barnabé e Paulo ouviram isto, rasgaram as suas vestes e saltaram para o meio da multidão, clamando
15 e dizendo: Senhores, por que fazeis estas coisas? Nós também somos homens, de natureza semelhante à vossa, e vos anunciamos o evangelho para que destas práticas vãs vos convertais ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar, e tudo quanto há neles;
16 o qual nos tempos passados permitiu que todas as nações andassem nos seus próprios caminhos.
17 Contudo não deixou de dar testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos chuvas do céu e estações frutíferas, enchendo-vos de mantimento, e de alegria os vossos corações.
18 E dizendo isto, com dificuldade impediram as multidões de lhes oferecerem sacrifícios.
19 Sobrevieram, porém, judeus de Antioquia e de Icônio e, havendo persuadido as multidões, apedrejaram a Paulo, e arrastaram-no para fora da cidade, cuidando que estava morto.
20 Mas quando os discípulos o rodearam, ele se levantou e entrou na cidade. No dia seguinte partiu com Barnabé para Derbe.
21 E, tendo anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos, voltaram para Listra, Icônio e Antioquia,
22 confirmando as almas dos discípulos, exortando-os a perseverarem na fé, dizendo que por muitas tribulações nos é necessário entrar no reino de Deus.
23 E, havendo-lhes feito eleger anciãos em cada igreja e orado com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido.
24 Atravessando então a Pisídia, chegaram à Panfília.
25 E, tendo anunciado a palavra em Perge, desceram a Atália.
26 E dali navegaram para Antioquia, donde tinham sido encomendados à graça de Deus para a obra que acabavam de cumprir.
27 Quando chegaram e reuniram a igreja, relataram tudo quanto Deus fizera por meio deles, e como abrira aos gentios a porta da fé.
28 E ficaram ali não pouco tempo, com os discípulos.” (Atos 14.1-28)







Atos 15

A Vitória do Evangelho da Graça – Atos 15

O diabo não conseguiu paralisar a obra de evangelização através das perseguições e martírios que estava realizando contra a Igreja, especialmente através dos judeus, pela tentativa de demonstrar que o Cristianismo era uma heresia, sob o falso argumento dissimulado que se não o fosse de fato, não estaria sendo perseguido pelo próprio povo ao qual Deus havia se revelado e dado  as Escrituras do Velho Testamento.
E não somente conseguiu paralisar a Igreja, como os seus esforços satânicos na perseguição, estavam contribuindo somente para espalhar ainda mais o fogo do Espírito Santo em todas as partes do mundo.
Então ele mudou de estratégia, e passou a usar os próprios judeus que haviam se convertido ao cristianismo, mas que não tinham abandonado as suas convicções arraigadas no cerimonialismo da lei de Moisés, para tentar destruir a Igreja por dentro, com a adulteração da mensagem verdadeira do evangelho, de maneira que se pregasse que a salvação não era pela graça, mediante a fé, mas pelas boas obras, e particularmente por se guardar todos os mandamentos cerimoniais da Lei de Moisés.
Satanás sabia que nem os próprios judeus guardavam perfeitamente estes mandamentos, mas como eram fiéis na circuncisão do prepúcio, o que os gentios de um modo geral, especialmente os gregos, consideravam uma coisa abominável, por ser, segundo eles uma mutilação do corpo, tentaria desencorajar a conversão de muitos gentios e até mesmo desviar a muitos da fé, pelo ensino de que para serem salvos, seria necessário não apenas se circuncidarem, como também guardarem toda a Lei de Moisés, tornando-se prosélitos do judaísmo, vivendo como se fossem judeus.      
Então, é com esta tentativa de destruir a igreja pela adulteração da doutrina, que nós nos deparamos neste 15º capítulo de Atos, e o próprio Deus levantou Paulo para que subisse a Jerusalém, conforme o apóstolo testemunha em  Gál 2.2 para a defesa da verdade do evangelho, de maneira que não vingasse o propósito do diabo de adulterar a sã doutrina.
Não havia nenhum problema que alguém aceitasse a Cristo como Salvador e circuncidasse o prepúcio, o problema estava em pensar que era por se fazer isto que se obtinha a salvação; até mesmo porque a circuncisão não foi prescrita à descendência de Abraão para tal propósito, senão apenas para distinguir os seus descendentes como um povo que havia sido separado por Deus dos costumes das demais nações, para se revelar através deles.
Assim a questão proposta pelos fariseus que haviam se convertido de que todos os cristãos gentios deveriam ser circuncidados e observarem toda a lei civil e cerimonial de Moisés (v. 1, 5), para que pudessem ser salvos, era muito mais profunda do que uma simples incorporação de hábitos judaicos à fé, mas uma tentativa de destruição da própria fé, que não vem por se circuncidar ou por se guardar a Lei de Moisés, mas pela graça de Jesus Cristo, que é concedida aos que se arrependem de seus pecados e creem nEle.
Foi isto que Paulo foi defender em Jerusalém juntamente com Barnabé.
O fato de muitos cristãos da Igreja da Judeia estarem vivendo ainda debaixo dos costumes da Lei de Moisés era algo muito natural para eles, porque haviam sido criados debaixo daquele costume e tradição, mas dificilmente um gentio se deixaria persuadir a viver como se fosse um judeu; e nem mesmo isto estava sendo imposto a eles por Deus, e daí ter inaugurado uma Nova Aliança no lugar da Antiga, especialmente para que as pessoas de todas as nações pudessem abraçar o evangelho, sem qualquer impedimento.
Nós vemos assim que a defesa de pontos doutrinários essenciais à manutenção da verdade central do evangelho, da remissão dos pecados, exclusivamente pela graça, mediante a fé, sem o concurso das obras para a justificação e regeneração do Espírito Santo, não pode ser deixada de lado a pretexto de renunciarmos à verdade, em favor de doutrinas criadas pela imaginação ou tradição dos homens.
Se permitirmos que isto aconteça, Deus não permitirá, porque sempre levantará seus servos fiéis, conforme fizera com Paulo e Barnabé, para que seja defendida e mantida a verdade na Igreja (não falo de Igreja como instituição, mas como a reunião dos que tiveram um encontro espiritual pessoal com Cristo).
 O problema que deveria ser resolvido portanto pelos apóstolos, presbíteros e toda a Igreja de Jerusalém juntamente com Paulo e Barnabé, não era de natureza simples, e não consistia em se conciliar partes, mas a definição e defesa da verdade conforme esta se encontra em Jesus e foi ensinada e revelada por Ele, e pelo Espírito Santo.
Se o argumento dos fariseus fosse aceito como verdadeiro, então todos os gentios que haviam se convertido ainda se encontravam perdidos em seus pecados, o que não era verdade.
Pedro mesmo foi testemunha do modo como Deus derramou o Espírito sobre todos os da casa de Cornélio, sem que fosse necessário que se circuncidassem ou guardassem o cerimonial da Lei, ao qual o próprio Pedro se referiu na oportunidade da realização do concílio em Jerusalém, como sendo um jugo pesado, que nem eles e nem os antepassados de Israel suportavam, e do qual tiveram alívio pela Nova Aliança, que lhes foi dada pelo evangelho.
E como seria lícito então tentarem impor este jugo aos gentios, quando nem os próprios judeus o suportavam? (v. 10).
Vejam que os que ensinavam estas coisas não o faziam com o consentimento ou autorização dos apóstolos da circuncisão, porque estavam bem inteirados que o coração, quer de judeus, quer de gentios é purificado somente pela fé (v. 9), e que ambos são salvos exclusivamente pela graça do Senhor Jesus (v. 11).
Se Pedro fosse legalista, não teria dado este testemunho na presença de todos.
De igual modo, Tiago, que é também acusado falsamente por muitos de ter sido legalista, jamais teria expedido a decisão final do concílio com as palavras que lemos nos versos 13 a 21, em que se destaca a confirmação da salvação dos gentios conforme estava revelado nos profetas, e que isto seria feito com a reedificação do tabernáculo de Davi que estava caído e que é reedificado em Cristo; de maneira que os cristãos gentios não deveriam ser perturbados, senão somente escrever-lhes que se abstivessem da idolatria, da prostituição, do que é sufocado e do sangue; uma vez que não seria o fato de algum gentio se converter a Cristo que impediria os judeus de continuarem se reunindo a cada sábado nas sinagogas.
A única prescrição cerimonial que os gentios deveriam acatar dizia respeito a não comerem carne de animais sufocados e sangue porque isto era uma abominação terrível para os judeus, e por amor, e em nome da unidade da Igreja, fariam bem em acatar tal decisão naqueles dias para que houvesse paz na Igreja.
Dariam também com isto uma demonstração da sua submissão aos apóstolos, apesar de saberem que em Cristo toda a Lei cerimonial havia sido revogada.
O teor das palavras que redigiram para os cristãos gentios se encontra registrado nos versos 23 a 29, na qual confirmaram tudo o que acabamos de comentar, e foram feitas cópias para serem entregues nas Igrejas por Paulo e Barnabé, juntamente com Judas e Silas, que eram homens de boa reputação da Igreja de Jerusalém, que serviriam de testemunhas, que de fato aquela decisão havia sido tomada pelos apóstolos reunidos com todos os presbíteros e a Igreja de Jerusalém, quanto às prescrições que os cristãos gentios deveriam guardar, para não ofenderem a seus irmãos cristãos judeus.
Os apóstolos jamais ensinariam ou determinariam algo com o propósito de confundir ou perturbar as almas dos cristãos, e deste modo a ninguém haviam mandado que ensinassem tais coisas pervertidas aos gentios, que eram completamente nocivas e contrárias à fé (v. 24).
De igual modo, todos os pastores deveriam seguir o exemplo que nos foi dado pelos apóstolos.
Não fomos chamados para atar fardos pesados às costas das pessoas, conforme os fariseus costumavam fazer, mas chamá-las a lançarem todos os seus fardos sobre Cristo, para que tenham paz e alegria em suas almas.
De posse da carta expedida pela Igreja de Jerusalém, Paulo, Barnabé, Judas, Silas, e toda a comitiva de cristãos gentios que haviam subido a Jerusalém, retornaram a Antioquia da Síria, onde entregaram a carta à Igreja reunida em assembleia (v. 30).
Assim, aqueles que estivessem ainda com alguma dúvida, que lhes foi lançada em seus corações pelo diabo, puderam se alegrar com todos os demais por aquelas palavras consoladoras e que lhes acalmou as consciências, porque todo cristão verdadeiro não quer desapontar a Deus em nada que seja relativo à Sua vontade, e sabendo disto, Satanás trabalha muito semeando falsas doutrinas nas Igrejas, com o propósito de confundir e acusar as consciências dos cristãos.
Judas e Silas eram profetas e foram usados pelo Senhor em Antioquia para exortar os irmãos e fortalecê-los com muitas palavras (v. 32).
Muitos poderiam se perguntar por que haveria tal necessidade numa Igreja que tinha muitos profetas e mestres, como o próprio Paulo e Barnabé?
Mas esta passagem nos ensina que Deus usa os Seus instrumentos onde quer e como quer, e faremos bem em estar abertos à Sua Palavra na boca daqueles que nos tem enviado e que não sejam membros de nossas Igrejas.
Depois de algum tempo Judas retornou a Jerusalém, mas Silas decidiu permanecer em Antioquia, e como veremos adiante, ele saiu juntamente com Paulo em sua segunda viagem missionária.
Este Silas era também conhecido por Silvano, e viria a se juntar posteriormente ao apóstolo Pedro, tendo sido ele o amanuense (quem escreveu) as suas duas epístolas (I e II Pedro).  
Quando Paulo decidiu revisitar as igrejas que  haviam fundado para ver como os irmãos se encontravam na fé, Barnabé decidiu que levassem consigo a João Marcos, mas Paulo não desejou que ele os acompanhasse no trabalho porque lhes havia abandonado em Perge, na Pafília, antes mesmo de começarem o trabalho missionário.
Eles não chegaram a um acordo, e por isso Barnabé resolveu navegar para Chipre com João Marcos; e Paulo juntamente com Silas partiu em direção oposta, indo por terra através da Síria e Cilícia, fortalecendo as igrejas.
Não podemos fundar um trabalho pelo qual o Senhor nos fez responsáveis e deixar os cristãos que se converteram sob este trabalho à sua própria sorte, apesar de sabermos que o Espírito Santo é quem cuidará deles.
Há necessidade de apoio espiritual, de comunhão, de ensino, de exemplo como se portar nas tribulações, orar juntos, e deixar bem claro que a vida cristã é uma guerra de muitas batalhas espirituais, que só terminará quando sairmos deste mundo, porque é necessário combater o bom combate da fé, e perseverar até o fim a par de toda e qualquer circunstância, porque todo aquele que recebeu a Jesus como Senhor, alistou-se no Seu exército, do qual Ele é o general, e lutará por nós na nossa guerra contínua contra os principados e potestades espirituais do mal.




“1 Então alguns que tinham descido da Judeia ensinavam aos irmãos: Se não vos circuncidardes, segundo o rito de Moisés, não podeis ser salvos.
2 Tendo Paulo e Barnabé contenda e não pequena discussão com eles, os irmãos resolveram que Paulo e Barnabé e mais alguns dentre eles subissem a Jerusalém, aos apóstolos e aos anciãos, por causa desta questão.
3 Eles, pois, sendo acompanhados pela igreja por um trecho do caminho, passavam pela Fenícia e por Samária, contando a conversão dos gentios; e davam grande alegria a todos os irmãos.
4 E, quando chegaram a Jerusalém, foram recebidos pela igreja e pelos apóstolos e anciãos, e relataram tudo quanto Deus fizera por meio deles.
5 Mas alguns da seita dos fariseus, que tinham crido, levantaram-se dizendo que era necessário circuncidá-los e mandar-lhes observar a lei de Moisés.
6 Congregaram-se pois os apóstolos e os anciãos para considerar este assunto.
7 E, havendo grande discussão, levantou-se Pedro e disse-lhes: Irmãos, bem sabeis que já há muito tempo Deus me elegeu dentre vós, para que os gentios ouvissem da minha boca a palavra do evangelho e cressem.
8 E Deus, que conhece os corações, testemunhou a favor deles, dando-lhes o Espírito Santo, assim como a nós;
9 e não fez distinção alguma entre eles e nós, purificando os seus corações pela fé.
10 Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós pudemos suportar?
11 Mas cremos que somos salvos pela graça do Senhor Jesus, do mesmo modo que eles também.
12 Então toda a multidão se calou e escutava a Barnabé e a Paulo, que contavam quantos sinais e prodígios Deus havia feito por meio deles entre os gentios.
13 Depois que se calaram, Tiago, tomando a palavra, disse: Irmãos, ouvi-me:
14 Simão relatou como primeiramente Deus visitou os gentios para tomar dentre eles um povo para o seu Nome.
15 E com isto concordam as palavras dos profetas; como está escrito:
16 Depois disto voltarei, e reedificarei o tabernáculo de Davi, que está caído; reedificarei as suas ruínas, e tornarei a levantá-lo;
17 para que o resto dos homens busque ao Senhor, sim, todos os gentios, sobre os quais é invocado o meu nome,
18 diz o Senhor que faz estas coisas, que são conhecidas desde a antiguidade.
19 Por isso, julgo que não se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus,
20 mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue.
21 Porque Moisés, desde tempos antigos, tem em cada cidade homens que o preguem, e cada sábado é lido nas sinagogas.
22 Então pareceu bem aos apóstolos e aos anciãos com toda a igreja escolher homens dentre eles e enviá-los a Antioquia com Paulo e Barnabé, a saber: Judas, chamado Barsabás, e Silas, homens influentes entre os irmãos.
23 E por intermédio deles escreveram o seguinte: Os apóstolos e os anciãos, irmãos, aos irmãos dentre os gentios em Antioquia, na Síria e na Cicília, saúde.
24 Portanto ouvimos que alguns dentre nós, aos quais nada mandamos, vos têm perturbado com palavras, confundindo as vossas almas,
25 pareceu-nos bem, tendo chegado a um acordo, escolher alguns homens e enviá-los com os nossos amados Barnabé e Paulo,
26 homens que têm exposto as suas vidas pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo.
27 Enviamos portanto Judas e Silas, os quais também por palavra vos anunciarão as mesmas coisas.
28 Porque pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas coisas necessárias:
29 Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da prostituição; e destas coisas fareis bem de vos guardar. Bem vos vá.
30 Então eles, tendo-se despedido, desceram a Antioquia e, havendo reunido a assembleia, entregaram a carta.
31 E, quando a leram, alegraram-se pela consolação.
32 Depois Judas e Silas, que também eram profetas, exortaram os irmãos com muitas palavras e os fortaleceram.
33 E, tendo-se demorado ali por algum tempo, foram pelos irmãos despedidos em paz, de volta aos que os haviam mandado.
34 [Mas pareceu bem a Silas ficar ali.]
35 Mas Paulo e Barnabé demoraram-se em Antioquia, ensinando e pregando com muitos outros a palavra do Senhor.
36 Decorridos alguns dias, disse Paulo a Barnabé: Tornemos a visitar os irmãos por todas as cidades em que temos anunciado a palavra do Senhor, para ver como vão.
37 Ora, Barnabé queria que levassem também a João, chamado Marcos.
38 Mas a Paulo não parecia razoável que tomassem consigo aquele que desde a Panfília se tinha apartado deles e não os tinha acompanhado no trabalho.
39 E houve entre eles tal desavença que se separaram um do outro, e Barnabé, levando consigo a Marcos, navegou para Chipre.
40 Mas Paulo, tendo escolhido a Silas, partiu encomendado pelos irmãos à graça do Senhor.


41 E passou pela Síria e Cilícia, fortalecendo as igrejas.” (Atos 15.1-41)







Atos 16

O Evangelho Sendo Anunciado na Macedônia – Atos 16

Nós vimos no final do capitulo anterior (Atos 15) que Paulo havia dado início à sua segunda viagem missionária juntamente com Silas, indo por terra através da Síria e Cilícia, para alcançar as igrejas da Galácia que haviam sido fundadas na sua primeira viagem missionária em companhia de Barnabé (Derbe, Listra, Icônio e Antioquia da Psídia).
Ao alcançar as cidades de Derbe e Listra, esteve em contato nesta última com um cristão chamado Timóteo, do qual davam bom testemunho os irmãos em Listra e Icônio, quanto à sua piedade e consagração ao serviço do Senhor, de maneira que Paulo quis que ele o acompanhasse em seus empreendimentos missionários, e Timóteo viria a servi-lo como um filho a seu pai, até os últimos dias da vida de Paulo.
Como o pai de Timóteo era grego, mas sua mãe era uma cristão judia, chamada Eunice, Paulo circuncidou Timóteo, porque que seu pai era grego.
Mas como era judeu por parte de mãe, Paulo providenciou para que Timóteo fosse circuncidado para não servir de motivo de escândalo para os judeus, cujas consciências não lhes permitiam se desvencilharem dos costumes cerimoniais da Lei de Moisés.
No entanto, conforme podemos ver no segundo capítulo de Gálatas, Tito, outro cooperador de Paulo no evangelho, que era filho de pais gregos, não foi constrangido pelo apóstolo a se circuncidar para que a verdade em relação aos gentios permanecesse de pé, que nenhum deles estava obrigado à circuncisão, conforme decisão confirmada no Concílio de Jerusalém, quanto à vontade de Deus em relação à Igreja dos gentios.          
Nós podemos deduzir da atitude de Paulo em relação a Timóteo, mandando que fosse circuncidado, que não se opunha à circuncisão dos judeus, mas somente se opunha que se ensinasse que uma pessoa é salva por se circuncidar; o que não era verdade, e que Deus estava provando isto ao salvar gentios sem lhes exigir que fossem circuncidados.
Na ocasião em que Timóteo foi circuncidado, durante a segunda viagem missionária de Paulo, já havia ocorrido o concílio de Jerusalém, porque se diz no verso 4, deste 16º capítulo de Atos, que à medida que Paulo e Silas passavam pelas cidades, entregavam aos irmãos as decisões que haviam sido tomadas pelos apóstolos e anciãos da igreja de Jerusalém, para serem observadas pelos cristãos gentios, conforme vimos no capítulo anterior a este de Atos.
Paulo cita em Gálatas 2.1 que retornara a Jerusalém quatorze anos depois de ter ali estado por quinze dias com Pedro (Gál 1.18), ocasião em que se fazia acompanhar de Barnabé e Tito, no chamado concílio de Jerusalém citado em Atos 15.
Nós vemos que não havia ainda se separado de Barnabé, o que ocorreria não muito depois, quando desse início a esta sua segunda viagem missionária, depois de ter retornado de Jerusalém a Antioquia da Síria.
Paulo estava então plenamente seguro e firme quanto à doutrina que pregava.
Ele desceu para defender a doutrina da justificação pela fé, em Jerusalém, por causa do desejo de derrubar o falso ensino de que alguém precisava guardar as obras da Lei para que fosse justificado, contra o ensino claro do Senhor que uma pessoa é justificada pela graça, que Ele veio trazer aos pecadores em todas as partes do mundo, e para isso ordenou que o Evangelho fosse pregado em todas as nações, para a remissão dos pecados pela simples fé nEle.
O que passa disso não é evangelho, como já dissemos antes, não quanto à santificação, mas quanto à eleição, justificação e regeneração, que por si só determinam aqueles que foram livrados da condenação eterna, e obtiveram a adoção de filhos e a vida eterna, que lhes dão o pleno, seguro e eterno direito de acessarem o céu.
Então ao se referir a Tito que era um grego, que havia se convertido ao cristianismo, e agora um pastor de pastores, porque seria a ele que Paulo encarregaria de organizar a igreja em Creta no futuro, o apóstolo quis dar um recado muito claro aos Gálatas que eles não deveriam se deixar persuadir com a ideia de que deveriam se circuncidar para serem salvos, conforme lhes haviam ensinado os judaizantes, aqueles judeus aferrados à Lei, mas sem discernimento nos assuntos relativos à salvação dos pecadores, porque ele, Paulo, não havia se deixado persuadir pelos argumentos daqueles que haviam se levantado contra ele em Jerusalém, de modo que a causa da justificação pela graça, mediante a fé, havia triunfado, conforme reconhecimento dos apóstolos e presbíteros da Igreja de Jerusalém, como se vê no parecer  final que havia sido expedido pelo apóstolo Tiago no Concílio que está narrado em Atos 15.  
Tito era então um testemunho vivo para eles que não tinham realmente nenhuma necessidade de se circuncidarem e guardarem os mandamentos cerimoniais da Lei de Moisés para serem salvos, porque a justificação pela qual ganhamos o céu, é somente pela graça, mediante a fé, sem o concurso de quaisquer obras meritórias dos salvos.
Paulo não condenou a circuncisão em si mesma. Nem por palavra nem por ação ele foi contra a circuncisão. Mas protestou contra a circuncisão que é feita como sendo uma condição para a salvação.
Ele citou o caso dos patriarcas de Israel.
Eles não foram  justificados através da circuncisão.
Ela era apenas um sinal e selo da justiça.
Eles viam a circuncisão como uma confissão da fé deles.
De tal maneira havia triunfado a causa da verdade no Concílio de Jerusalém que nós vemos Paulo, por uma medida de consideração para a fraqueza da consciência dos judeus, mandando que Timóteo fosse circuncidado (At 16.3), porque era meio judeu e meio grego, para que revelasse que este assunto da circuncisão era indiferente para ele, uma vez que não é por ser circuncidado ou não, que alguém poderá ser recomendado a Deus, de modo que em suas próprias palavras, nós o vemos afirmando o seguinte:
“A circuncisão é nada e a incircuncisão nada é, mas, sim, a observância dos mandamentos de Deus.” (I Cor 7.19).
Paulo seguiu viagem com Silas e Timóteo, e as Igrejas eram confirmadas na fé por eles, de maneira que o número de convertidos aumentava dia a dia, uma vez espantado o fantasma da necessidade dos gentios se converterem ao modo de vida judaico para que fossem salvos. Afinal, a própria Igreja de Jerusalém havia confirmado a liberdade deles em relação aos costumes cerimoniais da Lei de Moisés.
Paulo pensou em evangelizar a região a noroeste daquelas igrejas da Galácia, que ficavam na região da Bítinia e Mísia, mas não era do propósito do Espírito Santo que continuassem pregando a Palavra naquele momento na Ásia, de maneira que quando tentavam ir da Mísia para a Bitínia foram impedidos de fazê-lo pelo Espírito de Jesus.
Então, quando passavam pela Mísia, foram dirigidos pelo Espírito na direção de Trôade, que era uma cidade portuária, na extremidade oeste da Ásia, de onde se poderia navegar para a Grécia, a sudoeste, ou para a Macedônia, a noroeste.
Quando se encontrava em Trôade, Paulo teve a visão de um homem da Macedônia, que lhe rogava para atravessar o mar rumo à Madedônia, para ajudá-los.
Como foi Lucas quem escreveu o livro de Atos, a partir do verso 10, a narrativa é feita na primeira pessoa do plural (nós), de onde podemos deduzir que Lucas se juntou a Paulo, Silas e Timóteo desde então, sendo interrompida na cidade de Filipos, indicando que Lucas ficou naquela cidade como responsável pelo trabalho, e quando Paulo retornou para lá na sua terceira viagem Lucas voltou a se unir a ele, porque o pronome “nós” passou a ser usado novamente na narrativa deste livro de Atos.
É dito no verso 10 deste décimo sexto capítulo, que desde que Paulo teve esta visão, logo procuraram partir para a Macedônia, concluindo que Deus lhes havia chamado para lhes anunciar o evangelho.
É assim que a visão celestial deve ser obedecida: prontamente.
Porque obedecer depois no tempo que nós mesmos decidirmos, já não é obediência.
O Velho Testamento está repleto de exemplos daqueles que caíram em ruína porque não agiram no tempo determinado por Deus.
Se Ele mandar aguardar a chegada de Samuel nós devemos aguardar.
Se Ele mandar agir rapidamente ao ouvir o som de tropas sobre a copa das amoreiras, como fizera com Davi, devemos nos apressar em fazê-lo.
Assim, Ele não determina somente o que devemos fazer, como também o tempo em que deve ser feito.
Com apenas um dia de viagem por Mar, saíram de Trôade, chegando à cidade portuária de Neápolis, da Trácia, e obedecendo à visão divina, partiram para Filipos, a primeira cidade da Macedônia, tendo permanecido alguns dias na cidade.
No sábado saíram da cidade e foram para junto do rio, à procura de um lugar para orar, e ali encontraram um grupo de mulheres, e entre estas estava Lídia, a quem Paulo evangelizou, tendo sido batizada ela e toda a sua família; a qual constrangeu a Paulo e ao seu grupo a permanecerem na sua casa (v. 11 a 15).
Quando rumavam noutro dia para o lugar de oração junto ao rio, encontraram-se com uma jovem possessa de espírito adivinhador, que dizia que Paulo e seus companheiros eram servos do Deus Altíssimo e anunciavam o caminho da salvação.
E isto se repetia por muitos dias (v. 16,17).
Ora, Satanás estava ajudando na pregação do evangelho?
Certamente que não.
Ele nunca o fará.
Seu estratagema era gerar confusão nas mentes das pessoas, de modo que julgassem que tanto o que a jovem fazia, quanto Paulo e seus cooperadores, procedia do mesmo Deus.
Por isso Paulo expulsou o espírito da jovem.
Aqueles que a exploravam, vendo fugir a esperança do lucro, pegaram Paulo e Silas e os arrastaram à presença das autoridades, lhes acusando de estarem perturbando a cidade, ao propagarem costumes judeus para eles que eram romanos.
Como a multidão aderiu a eles, os pretores mandaram rasgar-lhes as vestes e açoitá-los com varas, e os lançaram na prisão.
Por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam louvores, e os demais companheiros de prisão escutavam.
Um terremoto sacudiu os alicerces da prisão e se abriram todas as portas e se soltaram as cadeias de todos.
O carcereiro ia se suicidar pensando que todos tivessem fugido, mas foi impedido por um brado de Paulo, dizendo que todos ali se encontravam.
O carcereiro perguntou o que deveria fazer para que fosse salvo.
Paulo e Silas lhe disseram simplesmente que deveria crer no Senhor Jesus, e que ele seria salvo, assim como a sua casa.
E pregaram a Palavra ao carcereiro e aos da sua casa, e naquela mesma hora da noite, cuidou de Paulo e Silas lhes lavando os vergões dos açoites, e a seguir foi batizado e todos os seus.
E num ato de ousadia, levou-os para a sua própria casa e lhes pôs à mesa, e com todos os seus manifestavam grande alegria por terem crido em Jesus (v. 19 a 26).
Era assim que estava começando a igreja em Filipos.
Com Lídia e as mulheres que iam orar junto ao rio, e com a família do carcereiro da cidade, e possivelmente com alguns dos presos que estavam na prisão, e que ouviram Paulo e Silas orarem e louvarem a Deus, e sobre os quais veio o temor do Senhor, pois não fugiram quando tiveram oportunidade de fazê-lo.
Nós podemos nos indagar qual teria sido a razão de Paulo não ter tentado evitar ser açoitado, por declarar que ele e Silas tinham o título de cidadania romana, de modo que não poderiam ser açoitados sem antes passarem por um julgamento formal em tribunal legalmente constituído?
No entanto, caso escapassem dos açoites e da prisão, como o carcereiro, a sua família, e muitos daqueles presos, poderiam ser ganhos para Cristo?
Como se firmaria o testemunho da mansidão dos cristãos debaixo das perseguições injustas que  padecem em nome de Cristo?
O grande fato é que Paulo fez ver a eles que poderia ter apelado para a sua cidadania romana, fato este que fez os magistrados temerem, caso fizesse uma representação formal contra eles, de modo que vieram a pedido do apóstolo, lhe apresentar um pedido de desculpas formal, mas lhe rogaram que deixasse a cidade, em razão dos ânimos da população estarem muito incitados contra eles, pelos exploradores da jovem que era adivinhadora.
Nós devemos frisar antes de fechar o comentário alusivo a este capítulo 16º de Atos, que era de se esperar que Paulo tivesse uma acolhida cordial e calorosa em Filipos, a julgar da visão que tivera do homem da Macedônia que lhe pedia ajuda.
No entanto, os que estão a serviço de Cristo, devem saber que aqueles que devem ser ajudados o serão certamente, mas muitas vezes debaixo das muitas aflições que terão que sofrer pelo nome do Senhor.
Cristo veio ajudar a humanidade no Seu ministério terreno e no entanto sofreu terríveis injustiças e perseguições que culminaram com Sua morte na cruz.
Assim, nenhum dos Seus ministros deve abrigar expectativas de serem sempre louvados e bem acolhidos pelos homens das áreas às quais são enviados a pregarem o evangelho.
Muitas destas perseguições serão motivadas pelas perdas de homens malignos sobre domínio e lucro que  tinham sobre as almas que eram trazidas cativas por Satanás, pelo poder libertador do evangelho, tal como sucedeu em Filipos por causa da libertação da jovem adivinhadora dos demônios que a possuíam.
A grande maioria dos servos convictos de Satanás sabe que uma vez que alguém se converte em suas famílias, ou em outras condições, em que de alguma forma, se encontrava sob a influência e direção deles, que tal pessoa será livre pela verdade do evangelho e não se deixará mais persuadir pelos seus enganos, e é isto o que desperta principalmente neles grande fúria, no que são também ajudados pelo próprio diabo.
Esta é a espada de divisão que Cristo veio trazer à terra, para fazer divisão entre aqueles que amam a Deus e aqueles que o odeiam.





“1 Chegou também a Derbe e Listra. E eis que estava ali certo discípulo por nome Timóteo, filho de uma judia cristão, mas de pai grego;
2 do qual davam bom testemunho os irmãos em Listra e Icônio.
3 Paulo quis que este fosse com ele e, tomando-o, o circuncidou por causa dos judeus que estavam naqueles lugares; porque todos sabiam que seu pai era grego.
4 Quando iam passando pelas cidades, entregavam aos irmãos, para serem observadas, as decisões que haviam sido tomadas pelos apóstolos e anciãos em Jerusalém.
5 Assim as igrejas eram confirmadas na fé, e dia a dia cresciam em número.
6 Atravessaram a região frígio-gálata, tendo sido impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a palavra na Ásia;
7 e tendo chegado diante da Mísia, tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não lho permitiu.
8 Então, passando pela Mísia, desceram a Trôade.
9 De noite apareceu a Paulo esta visão: estava ali em pé um homem da Macedônia, que lhe rogava: Passa à Macedônia e ajuda-nos.
10 E quando ele teve esta visão, procurávamos logo partir para a Macedônia, concluindo que Deus nos havia chamado para lhes anunciarmos o evangelho.
11 Navegando, pois, de Trôade, fomos em direitura a Samotrácia, e no dia seguinte a Neápolis;
12 e dali para Filipos, que é a primeira cidade desse distrito da Macedônia, e colônia romana; e estivemos alguns dias nessa cidade.
13 No sábado saímos portas afora para a beira do rio, onde julgávamos haver um lugar de oração e, sentados, falávamos às mulheres ali reunidas.
14 E certa mulher chamada Lídia, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira, e que temia a Deus, nos escutava e o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia.
15 Depois que foi batizada, ela e a sua casa, rogou-nos, dizendo: Se haveis julgado que eu sou fiel ao Senhor, entrai em minha casa, e ficai ali. E nos constrangeu a isso.
16 Ora, aconteceu que quando íamos ao lugar de oração, nos veio ao encontro uma jovem que tinha um espírito adivinhador, e que, adivinhando, dava grande lucro a seus senhores.
17 Ela, seguindo a Paulo e a nós, clamava, dizendo: São servos do Deus Altíssimo estes homens que vos anunciam um caminho de salvação.
18 E fazia isto por muitos dias. Mas Paulo, perturbado, voltou-se e disse ao espírito: Eu te ordeno em nome de Jesus Cristo que saias dela. E na mesma hora saiu.
19 Ora, vendo seus senhores que a esperança do seu lucro havia desaparecido, prenderam a Paulo e Silas, e os arrastaram para uma praça à presença dos magistrados.
20 E, apresentando-os aos magistrados, disseram: Estes homens, sendo judeus, estão perturbando muito a nossa cidade,
21 e pregam costumes que não nos é lícito receber nem praticar, sendo nós romanos.
22 A multidão levantou-se à uma contra eles, e os magistrados, rasgando-lhes os vestidos, mandaram açoitá-los com varas.
23 E, havendo-lhes dado muitos açoites, os lançaram na prisão, mandando ao carcereiro que os guardasse com segurança.
24 Ele, tendo recebido tal ordem, os lançou na prisão interior e lhes segurou os pés no tronco.
25 Pela meia-noite Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus, enquanto os presos os escutavam.
26 De repente houve um tão grande terremoto que foram abalados os alicerces do cárcere, e logo se abriram todas as portas e foram soltos os grilhões de todos.
27 Ora, o carcereiro, tendo acordado e vendo abertas as portas da prisão, tirou a espada e ia suicidar-se, supondo que os presos tivessem fugido.
28 Mas Paulo bradou em alta voz, dizendo: Não te faças nenhum mal, porque todos aqui estamos.
29 Tendo ele pedido luz, saltou dentro e, todo trêmulo, se prostrou ante Paulo e Silas
30 e, tirando-os para fora, disse: Senhores, que me é necessário fazer para me salvar?
31 Responderam eles: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa.
32 Então lhe pregaram a palavra de Deus, e a todos os que estavam em sua casa.
33 Tomando-os ele consigo naquela mesma hora da noite, lavou-lhes as feridas; e logo foi batizado, ele e todos os seus.
34 Então os fez subir para sua casa, pôs-lhes a mesa e alegrou-se muito com toda a sua casa, por ter crido em Deus.
35 Quando amanheceu, os magistrados mandaram quadrilheiros a dizer: Soltai aqueles homens.
36 E o carcereiro transmitiu a Paulo estas palavras, dizendo: Os magistrados mandaram que fosseis soltos; agora, pois, saí e ide em paz.
37 Mas Paulo respondeu-lhes: Açoitaram-nos publicamente sem sermos condenados, sendo cidadãos romanos, e nos lançaram na prisão, e agora encobertamente nos lançam fora? De modo nenhum será assim; mas venham eles mesmos e nos tirem.
38 E os quadrilheiros foram dizer aos magistrados estas palavras, e estes temeram quando ouviram que  eram romanos;
39 vieram, pediram-lhes desculpas e, tirando-os para fora, rogavam que se retirassem da cidade.
40 Então eles saíram da prisão, entraram em casa de Lídia, e, vendo os irmãos, os confortaram, e partiram.” (Atos 16.1-40)









Atos 17

O Evangelho Sendo Anunciado na Grécia – Atos 17

Tendo sido libertados pelos pretores de Filipos, Paulo e Silas permaneceram algum tempo na casa de Lídia, junto com aqueles que haviam se convertido, e dali partiram rumo a Tessalônica, como registrado no 17º capítulo de Atos, na qual havia uma sinagoga dos judeus, tendo passado antes por Anfípolis e Apolônia (Atos 17.1), onde não fundaram qualquer igreja, nem o livro de Atos relata qualquer atividade evangelizadora realizada na ocasião, nestas duas cidades.
Paulo, como de costume, procurava sempre evangelizar primeiro os judeus, e por isso foi procurá-los, e por três sábados arrazoava com eles na sinagoga, acerca das Escrituras, tendo alguns sido persuadidos e se uniram a Paulo e Silas, bem como numerosa multidão de gregos piedosos e muitas mulheres distintas (Atos 17.1-3).
Os judeus, tomados de inveja, pelos que haviam recebido e aceito a Palavra pregada por Paulo, alvoroçaram a cidade e foram à casa de Jasom, onde Paulo e seus cooperadores estavam hospedados, mas não lhes tendo encontrado, pegaram o próprio Jasom e o conduziram à presença das autoridades.
Mas estas soltaram a Jasom depois de lhe terem cobrado a fiança estipulada (versos 4 a 9), e à noite, os irmãos enviaram Paulo e Silas para Bereia.
Observe que o tempo de permanência de Paulo com os cristãos de Tessalônica, durante sua segunda viagem missionária, foi bastante curto.
Ele pretendia ter ir com eles em breve, conforme expressa nas duas epístolas que lhes escreveu, mas o Espírito Santo tinha outros planos para o apóstolo, porque pretendia que ele se demorasse pregando em Corinto, de maneira que ele pôde retornar a Tessalônica, somente na sua terceira viagem missionária.
O mesmo se daria também com Bereia, porque os judeus de Tessalônica vieram perseguir a Paulo ali, e teve que fugir para a Grécia, chegando na cidade de Atenas.
Mas Silas e Timóteo permaneceram em Bereia, e dali  deveriam dar assistência à igreja recém-formada em Tessalônica, que ficava bem próxima de Bereia, mas receberam ordem de Paulo que fosse ter o mais depressa possível com ele em Atenas (versos 10 a 15).
É muito comum se ouvir dizer nas igrejas que os cristãos de Bereia  eram mais nobres do que os de Tessalônica, com base no que se lê no verso 11, porque neste texto se diz que os bereanos examinavam diariamente as  Escrituras para conferir se de fato era verdadeiro o que Paulo pregava.
No entanto não é correto fazer tal afirmação porque no contexto dos versos 10 a 13 nós podemos ver claramente que se trata de uma referência aos judeus incrédulos, tanto de Bereia, quanto de Tessalônica, porque os de Tessalônica passaram a perseguir Paulo sem se darem ao trabalho de conferir se de fato o que Ele afirmava estava em conformidade com as Escrituras, diferentemente do que fizeram os judeus de Bereia.
Na verdade, nenhum cristão necessita conferir nas Escrituras do Velho Testamento se as palavras pregadas por Paulo no Novo Testamento são verdadeiras, porque têm a iluminação e testificação do Espírito Santo, de que Jesus é o Senhor.
Os cristãos de Tessalônica haviam recebido a Palavra pregada por Paulo, como Palavra não de homens, mas de Deus, como é de fato (I Tes 2.13) e não necessitaram fazer um exame minucioso de todas as Escrituras do Velho Testamento, para chegarem à conclusão que Jesus é de fato o Senhor e Salvador.
Eles creram em Cristo, pela pregação do evangelho, no poder do Espírito, e não por meio de palavras persuasivas de sabedoria humana (I Cor 2.1-5).  
A palavra pregada por Paulo aos tessalonicenses pode ser vista em ambas epístolas, que escreveu à igreja de Tessalônica, quando se encontrava em Corinto, depois de ter partido de Atenas para a referida cidade da Grécia.
Como o Reino de Cristo não é estabelecido pela espada, pela força do homem, senão pelo Espírito Santo, porque é reino de justiça, verdade, amor e paz, o avanço do evangelho parece ser muito pequeno em comparação com os domínios que os homens estabelecem pela força das armas e pela violência.
No entanto, o domínio do evangelho nos corações convertidos é voluntário e para sempre, enquanto o domínio pela força é por sujeição por constrangimento, e tais domínios são de duração passageira.
Ninguém se iluda portanto, tentando fazer avançar o Reino de Cristo de modo diferente daquele que foi determinado por Ele, que é com orações, pregação da Palavra, e suportando pacientemente as tribulações e perseguições que sofreremos da parte dos homens, por inspiração do diabo.
Assim, quem era Paulo aos olhos do grande número de filósofos que frequentavam o que era na ocasião a sua maior universidade, a saber, o Areópago?
Mas quem eram eles aos olhos de Paulo vivendo debaixo da mais grosseira idolatria com um inumerável panteão de falsos deuses criados pela imaginação humana?
Como argumentar com tais pessoas arraigadas em suas convicções filosóficas, que perduravam por mais de seis séculos, desde os chamados filósofos sofistas, e de Platão, Sócrates e Aristóteles?
A doutrina de Paulo era uma revelação recebida desde o céu, da parte do verdadeiro Deus.
E a religião e filosofia dos gregos era algo que foi concebido pelos homens, segundo a sua própria imaginação.
Deus não pode ser conhecido pela filosofia, pela psicologia, pela sociologia ou por qualquer forma de ciência que seja fruto da criação do próprio homem, senão unicamente por uma experiência real espiritual com Cristo, por meio do Espírito Santo.
E isto não se obtém por meio de exercício intelectual, senão por meio da fé e por revelação do Espírito Santo ao nosso espírito.  
Mas como o Senhor tinha eleitos também dentre aqueles que se reuniam no areópago, Paulo usando de sabedoria disse que o Deus que lhes pregava era o DEUS DESCONHECIDO, que veneravam para não incorrerem no descuido de deixarem de dar honra a algum outro deus que não conhecessem.
Paulo lhes disse que este Deus que era de fato desconhecido deles, se revelou através da pessoa de Cristo ordenando que todos se arrependessem de seus pecados, para que não lhes sobrevenha o juízo que está determinado sobre todos por meio dAquele que foi destinado para exercer tal juízo, a quem Ele ressuscitou dentre os mortos.
Quando Paulo falou em ressurreição de mortos, uns escarneciam, mas outros se dispuseram a ouvir Paulo acerca disto em outra ocasião.
Mas Paulo saiu do seu meio, e alguns creram, entre os quais são nomeados Dionísio e uma mulher chamada Damaris.
Quando se afirma no verso 33 que Paulo saiu do meio deles, isto é, dos filósofos, podemos presumir que não retornou a debater com eles sobre a ressurreição, porque a pregação do evangelho não consiste em debates filosóficos, com o uso de palavras persuasivas de sabedoria humana, mas demonstrações do Espírito e de poder, sob a mensagem da cruz e da ressurreição do Senhor.
Não somos encorajados a lançar várias vezes a rede do evangelho ao mar da humanidade, para tentar capturar os peixes ruins que escaparam da nossa pregação.
Isto servirá somente para nos desgastar e trazer infâmia ao santo nome do Senhor.
É certo que uma obra verdadeira do Espírito na pregação do evangelho pode ser comparada com uma pesca de homens na voragem do mar deste mundo de trevas, porque sempre haverá variadas condições nas condições do tempo espiritual, que ora se apresentará com calmaria, ora com tempestades, relativas à aceitação e perseguição do evangelho pelos homens, mas não somos incentivados a fazê-lo onde não há nenhum peixe, que possa ser apanhado.  
De maneira que Paulo não se demorou em Atenas, e nem somos informados da fundação de uma igreja naquela cidade da Grécia, onde abundavam os sábios segundo este mundo; e não são propriamente estes os que Deus tem escolhido senão as coisas fracas e desprezíveis oara confundir as sábias segundo o mundo e que julgam ser alguma coisa.
Diferentemente de Atenas, nós veremos que o próprio Deus ordenou a Paulo que permanecesse na cidade de Corinto, porque tinha muito povo nela, isto é, muitos eleitos que viriam a alcançar a salvação.





“1 Tendo passado por Anfípolis e Apolônia, chegaram a Tessalônica, onde havia uma sinagoga dos judeus.
2 Ora, Paulo, segundo o seu costume, foi ter com eles; e por três sábados discutiu com eles as Escrituras,
3 expondo e demonstrando que era necessário que o Cristo padecesse e ressuscitasse dentre os mortos; este Jesus que eu vos anuncio, dizia ele, é o Cristo.
4 E alguns deles ficaram persuadidos e aderiram a Paulo e Silas, bem como grande multidão de gregos devotos e não poucas mulheres de posição.
5 Mas os judeus, movidos de inveja, tomando consigo alguns homens maus dentre os vadios e ajuntando o povo, alvoroçavam a cidade e, assaltando a casa de Jason, os procuravam para entregá-los ao povo.
6 Porém, não os achando, arrastaram Jason e alguns irmãos à presença dos magistrados da cidade, clamando: Estes que têm transtornado o mundo chegaram também aqui,
7 os quais Jason acolheu; e todos eles procedem contra os decretos de César, dizendo haver outro rei, que é Jesus.
8 Assim alvoroçaram a multidão e os magistrados da cidade, que ouviram estas coisas.
9 Tendo, porém, recebido fiança de Jason e dos demais, soltaram-nos.
10 E logo, de noite, os irmãos enviaram Paulo e Silas para Bereia; tendo eles ali chegado, foram à sinagoga dos judeus.
11 Ora, estes eram mais nobres do que os de Tessalônica, porque receberam a palavra com toda avidez, examinando diariamente as Escrituras para ver se estas coisas eram assim.
12 De sorte que muitos deles creram, bem como bom número de mulheres gregas de alta posição e não poucos homens.
13 Mas, logo que os judeus de Tessalônica souberam que também em Bereia era anunciada por Paulo a palavra de Deus, foram lá agitar e sublevar as multidões.
14 Imediatamente os irmãos fizeram sair a Paulo para que fosse até o mar; mas Silas e Timóteo ficaram ali.
15 E os que acompanhavam a Paulo levaram-no até Atenas e, tendo recebido ordem para Silas e Timóteo a fim de que estes fossem ter com ele o mais depressa possível, partiram.
16 Enquanto Paulo os esperava em Atenas, revoltava-se nele o seu espírito, vendo a cidade cheia de ídolos.
17 Argumentava, portanto, na sinagoga com os judeus e os gregos devotos, e na praça todos os dias com os que se encontravam ali.
18 Ora, alguns filósofos epicureus e estóicos disputavam com ele. Uns diziam: Que quer dizer este paroleiro? E outros: Parece ser pregador de deuses estranhos; pois anunciava a boa nova de Jesus e a ressurreição.
19 E, tomando-o, o levaram ao Areópago, dizendo: Poderemos nós saber que nova doutrina é essa de que falas?
20 Pois tu nos trazes aos ouvidos coisas estranhas; portanto queremos saber o que vem a ser isto.
21 Ora, todos os atenienses, como também os estrangeiros que ali residiam, de nenhuma outra coisa se ocupavam senão de contar ou de ouvir a última novidade.
22 Então Paulo, estando de pé no meio do Areópago, disse: Varões atenienses, em tudo vejo que sois excepcionalmente religiosos;
23 porque, passando eu e observando os objetos do vosso culto, encontrei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós honrais sem o conhecer, é o que vos anuncio.
24 O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens;
25 nem tampouco é servido por mãos humanas, como se necessitasse de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas;
26 e de um só fez todas as raças dos homens, para habitarem sobre toda a face da terra, determinando-lhes os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação;
27 para que buscassem a Deus, se porventura, tateando, o pudessem achar, o qual, todavia, não está longe de cada um de nós;
28 porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois dele também somos geração.
29 Sendo nós, pois, geração de Deus, não devemos pensar que a divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida pela arte e imaginação do homem.
30 Mas Deus, não levando em conta os tempos da ignorância, manda agora que todos os homens em todo lugar se arrependam;
31 porquanto determinou um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do varão que para isso ordenou; e disso tem dado certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos.
32 Mas quando ouviram falar em ressurreição de mortos, uns escarneciam, e outros diziam: Acerca disso te ouviremos ainda outra vez.
33 Assim Paulo saiu do meio deles.
34 Todavia, alguns homens aderiram a ele, e creram, entre os quais Dionísio, o areopagita, e uma mulher por nome Damaris, e com eles outros.” (Atos 17.1-34)







Atos 18

Confirmando a Fé dos Discípulos – Atos 18

Paulo não se demorou em Atenas, tendo pregado no Areópago, tendo alguns crido (Atos 17.34).
Dali partiu para Corinto, outra cidade da Grécia, onde passou a residir na casa de Áquila e Priscila, que tinham a mesma profissão de Paulo, de fazer tendas. E Paulo passou a pregar todos os sábados na sinagoga, tanto a judeus como a gregos, conforme relato deste capítulo 18º de Atos (versos 1 a 4).
Silas e Timóteo vindos da Macedônia, se reuniram a Paulo em Corinto, e Paulo se entregou totalmente à Palavra (v. 5), e como os judeus rejeitavam a Cristo, conforme fora predito o seu endurecimento pelo profeta Isaías, o apóstolo se devotava aos gentios, e muitos dos coríntios criam e eram batizados, foi quando o Senhor apareceu durante a noite numa visão a Paulo ordenando que falasse e não se calasse porque era com ele, e ninguém ousaria fazer-lhe mal, pois tinha muito povo na cidade de Corinto (v. 6 a 10).
Em obediência à ordem do Senhor Paulo permaneceu um ano e seis meses lhes ensinando a Palavra de Deus (v. 11).
Paulo foi colocado na defesa do evangelho, e a corajosa pregação e ensino da verdade sempre haverá de produzir resistências e perseguições por parte do mundo espiritual.
Satanás se levantará contra isto e usará os seus instrumentos para tentar deter o avanço do evangelho, porque isto representa a glorificação do nome de Deus na salvação de vidas e no testemunho de vidas santificadas pela Palavra.
Por isso sempre tentará deter os arautos da verdade, ou deturpar a mensagem, para que o nome do Senhor seja desonrado e o testemunho do cristão seja desacreditado.
Desta forma, nem mesmo em Corinto, Paulo foi poupado da perseguição dos judeus, que o acusaram injustamente de estar persuadindo os homens a adorarem a Deus, por modo contrário à lei.
Mas o procônsul romano Gálio, não deu atenção a tais acusações (v. 12 a 17).
Depois deste episódio, Paulo ainda permaneceu muitos dias em Corinto, mas decidiu retornar para Antioquia da Síria, levando consigo a Priscila e Áquila, depois de ter rapado a cabeça em Cencreia, porque tomara voto (v. 18).
Com isto vemos o cuidado de Paulo para viver como judeu entre os judeus, para ganhar alguns para Cristo (I Cor 9.20).
Ele sabia que em Cristo não estava mais sujeito aos mandamentos cerimoniais da lei de Moisés, mas para não ofender a consciência dos judeus incrédulos, que intentava ganhar para Cristo, vivia entre eles como se ainda estivesse debaixo da lei, assim como fizeram muitos que dentre os judeus se convertiam à fé, como foi o caso do próprio Ananias (At 22.12).
Retornando de Corinto por mar, Paulo fez escala em Éfeso, onde pregou numa sinagoga aos judeus, conforme era seu costume, mas não acedeu permanecer entre eles, conforme lhe haviam pedido, porque havia sido impedido pelo Espírito de pregar na Ásia naquela ocasião, como vimos logo no início desta sua segunda viagem missionária, de maneira que partiu para Cesareia, de onde foi para Jerusalém, e tendo saudado aquela igreja, partiu para Antioquia da Síria, onde permaneceu por algum tempo até sair em sua 3a viagem  missionária (v. 18 a 23).
A narrativa referente à segunda viagem missionária de Paulo é concluída no verso 22.
A partir do verso 23 nós temos o início da narrativa da sua terceira viagem, na qual, fez inicialmente o mesmo percurso da segunda viagem, confirmando as igrejas de Tarso, Derbe, Listra, Icônio e Antioquia da Psídia.
       Paulo havia deixado Priscila e Áquila em Éfeso, quando retornava de Corinto para Antioquia da Síria, no final da sua segunda viagem.
      E em Éfeso Priscila e Áquila vieram a conhecer Apolo, que era eloquente e poderoso nas Escrituras, que era instruído no caminho do Senhor, e fervoroso de espírito, e que falava e ensinava com precisão a respeito de Jesus, apesar de conhecer apenas o batismo de João.
      É interessante observar que Priscila e Áquila lhe expuseram com mais exatidão o caminho de Deus (v. 24).
      A obra de Deus é mais bem vista e se completa melhor na vida daqueles que são humildes, como Apolo, que se permitiu instruir por Priscila e Áquila, quanto a uma melhor exatidão sobre a verdade do evangelho.
      Com isto, pôde ser mais útil ao Senhor porque se manifestou nele o desejo de ir para Corinto, e lá chegando convencia publicamente os judeus, com grande poder, provando por meio das Escrituras que Jesus é o Messias (v. 27,28).
       Assim, Apolo já se encontrava em Corinto na ocasião que  Paulo chegou em Éfeso, vindo da Galácia e Frígia, como veremos no capítulo seguinte, e é importante frisar que o próprio Apolo conhecia apenas o batismo de João,  pelo que inferimos que deve ter sido batizado no Espírito Santo, quando do seu encontro com Priscila e Áquila.



“1 Depois disto Paulo partiu de Atenas e chegou a Corinto.
2 E encontrando um judeu por nome Áquila, natural do Ponto, que pouco antes viera da Itália, e Priscila, sua mulher (porque Cláudio tinha decretado que todos os judeus saíssem de Roma), foi ter com eles,
3 e, por ser do mesmo ofício, com eles morava, e juntos trabalhavam; pois eram, por ofício, fabricantes de tendas.
4 Ele discutia todos os sábados na sinagoga, e persuadia a judeus e gregos.
5 Quando Silas e Timóteo desceram da Macedônia, Paulo dedicou-se inteiramente à palavra, testificando aos judeus que Jesus era o Cristo.
6 Como estes, porém, se opusessem e proferissem injúrias, sacudiu as vestes e disse-lhes: O vosso sangue seja sobre a vossa cabeça; eu estou limpo, e desde agora vou para os gentios.
7 E saindo dali, entrou em casa de um homem temente a Deus, chamado Tito Justo, cuja casa ficava junto da sinagoga.
8 Crispo, chefe da sinagoga, creu no Senhor com toda a sua casa; e muitos dos coríntios, ouvindo, criam e eram batizados.
9 E de noite disse o Senhor em visão a Paulo: Não temas, mas fala e não te cales;
10 porque eu estou contigo e ninguém te acometerá para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade.
11 E ficou ali um ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra de Deus.
12 Sendo Gálio procônsul da Acaia, levantaram-se os judeus de comum acordo contra Paulo, e o levaram ao tribunal,
13 dizendo: Este persuade os homens a render culto a Deus de um modo contrário à lei.
14 E, quando Paulo estava para abrir a boca, disse Gálio aos judeus: Se de fato houvesse, ó judeus, algum agravo ou crime perverso, com razão eu vos sofreria;
15 mas, se são questões de palavras, de nomes, e da vossa lei, disso cuidai vós mesmos; porque eu não quero ser juiz destas coisas.
16 E expulsou-os do tribunal.
17 Então todos agarraram Sóstenes, chefe da sinagoga, e o espancavam diante do tribunal; e Gálio não se importava com nenhuma dessas coisas.
18 Paulo, tendo ficado ali ainda muitos dias, despediu-se dos irmãos e navegou para a Síria, e com ele Priscila e Áquila, havendo rapado a cabeça em Cencreia, porque tinha voto.
19 E eles chegaram a Éfeso, onde Paulo os deixou; e tendo entrado na sinagoga, discutia com os judeus.
20 Estes rogavam que ficasse por mais algum tempo, mas ele não anuiu,
21 antes se despediu deles, dizendo: Se Deus quiser, de novo voltarei a vós; e navegou de Éfeso.
22 Tendo chegado a Cesareia, subiu a Jerusalém e saudou a igreja, e desceu a Antioquia.
23 E, tendo demorado ali algum tempo, partiu, passando sucessivamente pela região da Galácia e da Frígia, fortalecendo a todos os discípulos.
24 Ora, chegou a Éfeso certo judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, homem eloquente e poderoso nas Escrituras.
25 Era ele instruído no caminho do Senhor e, sendo fervoroso de espírito, falava e ensinava com precisão as coisas concernentes a Jesus, conhecendo entretanto somente o batismo de João.
26 Ele começou a falar ousadamente na sinagoga: mas quando Priscila e Áquila o ouviram, levaram-no consigo e lhe expuseram com mais precisão o caminho de Deus.
27 Querendo ele passar à Acáia, os irmãos o animaram e escreveram aos discípulos que o recebessem; e tendo ele chegado, auxiliou muito aos que pela graça haviam crido.
28 Pois com grande poder refutava publicamente os judeus, demonstrando pelas escrituras que Jesus era o Cristo.” (Atos 18.1-28)







Atos 19

O Evangelho Anunciado na Ásia (Éfeso) – Atos 19

Pelo que vimos da experiência das pessoas que haviam se convertido sob a pregação de Filipe, e que receberam o Espírito Santo somente depois da imposição de mãos de Pedro de João; da experiência de Apolo, e agora destes cerca de doze discípulos de João que haviam crido em Cristo, mas que não haviam também recebido o Espírito Santo, somente depois que Paulo impôs as mãos sobre eles, podemos aprender que a grande e melhor comprovação de se saber que aqueles que se professam cristãos, pertencem ou não realmente a Cristo, é observar se  receberam de fato o Espírito Santo, porque sem esta habitação do Espírito ninguém pode pertencer a Ele (Rom 8.9b).
Foi por isso que vemos no 19º capítulo de Atos, que quando Paulo chegou na cidade de Éfeso e encontrou alguns discípulos, ele lhes perguntou se tinham recebido o Espírito Santo quando creram, e a resposta foi que nem mesmo ouviram falar da existência do Espírito Santo, e quando Paulo lhes perguntou em que então haviam sido batizados, responderam que no batismo de João.
Quando Pedro anunciou o evangelho na casa de Cornélio, o Espírito caiu também sobre todos os que ouviam a palavra, e falavam em línguas e engrandeciam a Deus (At 10.44-46).
Não padece dúvida de que tiveram a mesma experiência que os discípulos de João, que Paulo havia encontrado em Éfeso.
 O ato de profetizar acompanhando o momento da conversão era o cumprimento da profecia de Joel, relativa ao derramamento do Espírito sobre toda a carne, fato que tanto os apóstolos, quanto Lucas fizeram questão de registrar (At 2.18).
E o dom de línguas, sendo concedido simultaneamente com a conversão, era também um sinal, uma evidência do cumprimento da afirmação de Jesus do que ocorreria com os que cressem, como sendo uma evidência da conversão daqueles que abraçassem o evangelho, debaixo da pregação dos apóstolos  (Mc 16.17).
Basicamente, Paulo evangelizou Éfeso como área pioneira em sua 3a viagem, pois visitara nesta viagem, as mesmas cidades que havia evangelizado em sua 2a viagem.
Como era seu costume, Paulo frequentava a sinagoga pregando o evangelho, primeiro aos judeus, e isto durante 3 meses, mas como alguns se mostravam empedernidos e descrentes, falando mal do evangelho diante da multidão, Paulo separou os discípulos que haviam crido, e passou a discorrer na escola de Tirano por dois anos, tendo ouvido a Palavra, tanto judeus, quanto gregos, de toda a Ásia.
Provavelmente, em face da importância de Éfeso como centro para a irradiação do evangelho, e por haver na cidade o culto pagão da deusa Diana ou Artêmis, que era muito concorrido, Deus fez nesta cidade, pelas mãos de Paulo, milagres extraordinários, a ponto de até curar enfermidades, e expulsar espíritos malígnos, daqueles aos quais os lenços e aventais de uso pessoal de Paulo eram levados (At 19. 8-11).
Para o propósito de envergonhar através do evangelho as potestades do reino das trevas, que dominavam a cidade de Éfeso, Lucas, inspirado pelo Espírito, registrou logo após a citação dos prodígios, que eram operados por meio de Paulo, a experiência desafortunada dos sete filhos de Ceva, que eram judeus exorcistas ambulantes, que tentaram expelir demônios pelo nome do Jesus que Paulo pregava.
Mas os endemoninhados deram sobre eles desnudando-os e ferindo-os (v. 13 a 16).
Este fato trouxe terror aos habitantes de Éfeso e fez com que o nome de Jesus fosse engrandecido (v. 17).
E muitos dos que creram confessaram publicamente as suas obras, e os que praticavam artes mágicas queimaram os seus livros.
Assim a palavra do Senhor crescia e prevalecia em Éfeso (v. 18 a 20).
Ora, o que aprendemos disto é que não é a simples afirmação verbal do nome do Jesus que os verdadeiros cristãos servem, como fizeram os sete filhos de Ceva, que conduz às operações de Deus no mundo espiritual, mas o fato de estar realmente unido a Cristo por meio da fé, e estar lhe servindo de fato, como era o caso de Paulo.
O verdadeiro servo do Senhor prevalece sobre os demônios, assim como Paulo, cujos aventais e lenços expeliam espíritos malígnos.
Não propriamente tais materiais, mas o que representavam, o poder de Deus na vida do apóstolo.
O incidente havido com os filhos de Ceva serviu para comprovar que Paulo estava de fato a serviço do Deus Altíssimo, e que a Palavra que pregava era portanto a verdade, e Jesus a quem Paulo servia era mais poderoso do que os espíritos malígnos, sendo digno de ser crido e servido, motivo porque renunciaram às práticas que estavam associadas a demônios.
Foi nesta ocasião que Paulo deliberou ir a Jerusalém, mas queria antes revisitar as igrejas, que havia fundado na Macedônia e na Grécia durante a 2a viagem, e depois de estar em Jerusalém pretendia ir a Roma (v. 21,22).
A derrubada das potestades espirituais que operavam em Éfeso, por meio do evangelho pregado por Paulo trouxe prejuízo aos negócios dos exploradores do culto idolátrico da deusa Diana, porque Paulo persuadia a muitos dizendo que não eram deuses os que são feitos por mãos humanas, e foi tentado um levante contra ele por parte de um dos ourives, chamado Demétrio, que fabricava nichos de prata de Diana (v. 23 a 40).
Foi de Éfeso que Paulo escreveu a primeira epístola aos Coríntios, como se infere de I Cor 16.8,9.



Atos 19.1 E sucedeu que, enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo tendo atravessado as regiões mais altas, chegou a Éfeso e, achando ali alguns discípulos,
Atos 19.2 perguntou-lhes: Recebestes vós o Espírito Santo quando crestes? Responderam-lhe eles: Não, nem sequer ouvimos que haja Espírito Santo.
Atos 19.3 Tornou-lhes ele: Em que fostes batizados então? E eles disseram: No batismo de João.
Atos 19.4 Mas Paulo respondeu: João administrou o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse naquele que após ele havia de vir, isto é, em Jesus.
Atos 19.5 Quando ouviram isso, foram batizados em nome do Senhor Jesus.
Atos 19.6 Havendo-lhes Paulo imposto as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo, e falavam em línguas e profetizavam.
Atos 19.7 E eram ao todo uns doze homens.
Atos 19.8 Paulo, entrando na sinagoga, falou ousadamente por espaço de três meses, discutindo e persuadindo acerca do reino de Deus.
Atos 19.9 Mas, como alguns deles se endurecessem e não obedecessem, falando mal do Caminho diante da multidão, apartou-se deles e separou os discípulos, discutindo diariamente na escola de Tirano.
Atos 19.10 Durou isto por dois anos; de maneira que todos os que habitavam na Ásia, tanto judeus como gregos, ouviram a palavra do Senhor.
Atos 19.11 E Deus pelas mãos de Paulo fazia milagres extraordinários,
Atos 19.12 de sorte que lenços e aventais eram levados do seu corpo aos enfermos, e as doenças os deixavam e saíam deles os espíritos malignos.
Atos 19.13 Ora, também alguns dos exorcistas judeus, ambulantes, tentavam invocar o nome de Jesus sobre os que tinham espíritos malignos, dizendo: Esconjuro-vos por Jesus a quem Paulo prega.
Atos 19.14 E os que faziam isto eram sete filhos de Ceva, judeu, um dos principais sacerdotes.
Atos 19.15 respondendo, porém, o espírito maligno, disse: A Jesus conheço, e sei quem é Paulo; mas vós, quem sois?
Atos 19.16 Então o homem, no qual estava o espírito maligno, saltando sobre eles, apoderou-se de dois e prevaleceu contra eles, de modo que, nus e feridos, fugiram daquela casa.
Atos 19.17 E isto tornou-se conhecido de todos os que moravam em Éfeso, tanto judeus como gregos; e veio temor sobre todos eles, e o nome do Senhor Jesus era engrandecido.
Atos 19.18 E muitos dos que haviam crido vinham, confessando e revelando os seus feitos.
Atos 19.19 Muitos também dos que tinham praticado artes mágicas ajuntaram os seus livros e os queimaram na presença de todos; e, calculando o valor deles, acharam que montava a cinquenta mil moedas de prata.
Atos 19.20 Assim a palavra do Senhor crescia poderosamente e prevalecia.
Atos 19.21 Cumpridas estas coisas, Paulo propôs, em seu espírito, ir a Jerusalém, passando pela Macedônia e pela Acaia, porque dizia: Depois de haver estado ali, é-me necessário ver também Roma.
Atos 19.22 E, enviando à Macedônia dois dos que o auxiliavam, Timóteo e Erasto, ficou ele por algum tempo na Ásia.
Atos 19.23 Por esse tempo houve um não pequeno alvoroço acerca do Caminho.
Atos 19.24 Porque certo ourives, por nome Demétrio, que fazia da prata miniaturas do templo de Diana, proporcionava não pequeno negócio aos artífices,
Atos 19.25 os quais ele ajuntou, bem como os oficiais de obras semelhantes, e disse: Senhores, vós bem sabeis que desta indústria nos vem a prosperidade,
Atos 19.26 e estais vendo e ouvindo que não é só em Éfeso, mas em quase toda a Ásia, este Paulo tem persuadido e desviado muita gente, dizendo não serem deuses os que são feitos por mãos humanas.
Atos 19.27 E não somente há perigo de que esta nossa profissão caia em descrédito, mas também que o templo da grande deusa Diana seja estimado em nada, vindo mesmo a ser destituída da sua majestade aquela a quem toda a Ásia e o mundo adoram.
Atos 19.28 Ao ouvirem isso, encheram-se de ira, e clamavam, dizendo: Grande é a Diana dos efésios!
Atos 19.29 A cidade encheu-se de confusão, e todos à uma correram ao teatro, arrebatando a Gaio e a Aristarco, macedônios, companheiros de Paulo na viagem.
Atos 19.30 Querendo Paulo apresentar-se ao povo, os discípulos não lho permitiram.
Atos 19.31 Também alguns dos asiarcas, sendo amigos dele, mandaram rogar-lhe que não se arriscasse a ir ao teatro.
Atos 19.32 Uns, pois, gritavam de um modo, outros de outro; porque a assembleia estava em confusão, e a maior parte deles nem sabia por que causa se tinham ajuntado.
Atos 19.33 Então tiraram dentre a turba a Alexandre, a quem os judeus impeliram para a frente; e Alexandre, acenando com a mão, queria apresentar uma defesa ao povo.
Atos 19.34 Mas quando perceberam que ele era judeu, todos a uma voz gritaram por quase duas horas: Grande é a Diana dos efésios!
Atos 19.35 Havendo o escrivão conseguido apaziguar a turba, disse: Varões efésios, que homem há que não saiba que a cidade dos efésios é a guardadora do templo da grande deusa Diana, e da imagem que caiu de Júpiter?
Atos 19.36 Ora, visto que estas coisas não podem ser contestadas, convém que vos aquieteis e nada façais precipitadamente.
Atos 19.37 Porque estes homens que aqui trouxestes, nem são sacrílegos nem blasfemadores da nossa deusa.
Atos 19.38 Todavia, se Demétrio e os artífices que estão com ele têm alguma queixa contra alguém, os tribunais estão abertos e há procônsules: que se acusem uns aos outros.
Atos 19.39 E se demandais alguma outra coisa, averiguar-se-á em legítima assembleia.
Atos 19.40 Pois até corremos perigo de sermos acusados de sedição pelos acontecimentos de hoje, não havendo motivo algum com que possamos justificar este ajuntamento.
Atos 19.41 E, tendo dito isto, despediu a assembleia.









Atos 20

Últimas Passos de Paulo Antes de Ser Preso – Atos 20

Cessado o tumulto causado por Demétrio em Éfeso por causa da deusa Diana, que foi apaziguado pelo escrivão da cidade, Paulo partiu de Éfeso para a Macedônia e fortaleceu os discípulos com muitas exortações, e é também afirmado em Atos 20.2 que “andou por aquelas regiões”, isto é, pelas Igrejas das cidades da Macedônia (Bereia, Tessalônica e Filipos).
Tal permanência na Macedônia não foi portanto curta, e deve ter durado cerca de um ano.
Foi portanto quando esteve na Macedônia, cerca de um ano após ter escrito I Coríntios em Éfeso, que Paulo escreveu a segunda epístola aos Coríntios.
Isto se depreende do fato de ter-se referido a uma grande coleta que deveria ser levantada em favor dos cristãos pobres de Jerusalém, na primeira epístola aos coríntios, conforme instruções que lhes deu sobre a forma de efetuarem a referida coleta, em I Cor 16.1-4.
Agora, vemos o apóstolo citar em II Cor 9.1-5, a referida coleta que havia sido feita, dizendo que estava se gloriando junto aos macedônios quanto ao fato de que os coríntios estavam preparados desde o ano anterior (v 2).
Ora, isto significa que a oferta já havia sido levantada pelo espaço de cerca de um ano desde que havia se referido à forma de como deveria ser levantada, quando lhes escreveu I Coríntios.
Depois desta estada na Macedônia, Paulo retornou à Grécia e permaneceu na cidade de Corinto por 3 meses, conforme se vê nos versos 1 a 3 deste vigésimo capítulo de Atos.
Foi durante esta sua permanência de três meses em Corinto que escreveu a epístola aos Romanos, também em 55 d.C, depois de ter escrito II Coríntios na mesma data, na Macedônia.
Em Romanos 15.25-28, Paulo afirma que já se encontrava de posse da oferta em favor dos cristãos pobres de Jerusalém, e que estava levando a mesma consigo para entregá-la em Jerusalém.
Que escreveu aos Romanos quando estava em Corinto, se depreende do fato de que Gaio, que o hospedava por ocasião da escrita de Romanos, residia em Corinto (Rom 16.23; I Cor 1.14).
Paulo pretendia embarcar para a Síria navegando pelo Mediterrâneo, na direção de Jerusalém, mas sabendo que os judeus haviam montado uma conspiração contra ele, decidiu retornar pela Macedônia, para dali, se dirigir a Jerusalém.
Ele se fazia acompanhar naquela ocasião de Sópater, Aristarco, Segundo, Gaio, Timóteo, Tíquico e Trófimo.
Lucas tornou a acompanhar a Paulo quando eles chegaram em Filipos, porque a seção “nós” do livro de Atos é retomada a partir do verso 6.
Os demais embarcaram antes de Paulo e Lucas, para Trôade, porque é possível que Paulo tenha se detido para confirmar a fé dos discípulos de Filipos, celebrar a festa da Páscoa com eles (Atos 20.6), e definir a entrega do trabalho daquela Igreja, que vinha sendo supervisionada por Lucas, a um pastor local permanente.
Assim, depois de cinco dias, Paulo e Lucas se reuniram ao grupo que havia partido antes deles para Trôade, cidade portuária do extremo oeste da Ásia, onde permaneceram sete dias (v. 6).
Foi no último destes sete dias em Trôade, que era um domingo no qual a Igreja se reuniu para celebrar a santa ceia,  que Paulo fez o seu famoso discurso que durou toda uma noite e madrugada, durante o qual um jovem chamado Êutico caiu da janela do terceiro andar do edifício em que se encontravam.
Ele havia dormido durante a longa pregação de Paulo e por isso caiu; e tendo morrido, foi ressuscitado pelo apóstolo, antes que houvessem ceado; subindo com ele Paulo retornou à pregação, e depois de cearem, continuou pregando até ao romper do dia.
Ao partirem de Trôade, Paulo ordenou ao seu grupo de cooperadores que fossem de navio para Assôs, outra cidade portuária, ao sul e próxima de Trôade, porque pretendia ir para lá indo por terra (v. 13).
Tendo se reunido a eles em Assôs, navegaram no mesmo navio em direção a Mileto, cidade portuária ao sul e próxima de Éfeso, tendo passado antes de chegarem a Mileto, defronte à ilha de Quios, e de Samos e Trogílio, onde permaneceram ancorados por algum tempo, tendo chegado no dia seguinte a Mileto.
Nós vemos assim que Paulo nunca estava sozinho na realização da obra missionária.
Paulo convocou uma reunião com os presbíteros da Igreja de Éfeso quando aportou em Mileto, porque não queria se demorar em Éfeso, porque se apressava para chegar em Jerusalém no dia de Pentecostes (v. 16,17).
Dos versos 18 a 38 nós temos o registro das palavras proferidas aos presbíteros de Éfeso no encontro que teve com eles em Mileto.
Foram sobretudo palavras de exortação para vigiarem e seguirem o exemplo que lhes havia dado na forma como se deve fazer a obra de Deus, especialmente no que diz respeito ao cuidado de si mesmos como ministros, e do rebanho sobre o qual haviam sido constituídos bispos (supervisores, lideres espirituais) pelo Espírito, para apascentarem a Igreja de Deus, que foi adquirida com o preço do sangue de Jesus (v. 28).
O primeiro dever dos ministros do evangelho é o de cuidarem de seus próprios corações, vigiando contra tudo que possa quebrar a comunhão deles com Deus, por brechas abertas pelo pecado, pelo diabo e pelo mundo na sua santificação.
Assim, depois de terem o cuidado de se acharem permanentemente preparados para servirem no altar do Senhor, têm a obrigação de apascentarem o Seu rebanho, alimentando-o com a Palavra e sustentando-o com as suas intercessões e cuidados.
Esta vigilância e cuidado permanentes se fazem necessários especialmente porque sempre há lobos vorazes e cruéis, que geralmente vêm vestidos em peles de ovelhas, para enganarem o rebanho, e assim  ensinam e fazem coisas pervertidas contra o evangelho de Cristo, sem a menor preocupação com o bem estar espiritual das ovelhas (v. 28, 29).
Deus lhes havia dado este alerta porque lhe fora revelado pelo Senhor que dentre os próprios cristãos que faziam parte da Igreja de Éfeso, se levantariam alguns falsos líderes, falando coisas pervertidas para atraírem os discípulos após si, e desviando-os da fidelidade a Cristo (v. 30).
Eles deveriam portanto vigiar para afastar o lobo do meio deles.
Entretanto, apesar de toda a vigilância que possam ter tido depois da partida de Paulo, o fato é que a profecia se cumpriu, e nós vemos anos depois Paulo ordenando a Timóteo, que fosse ordenar presbíteros fiéis na Igreja de Éfeso, porque muitos haviam se desviado da sã doutrina, e não estavam atendendo às qualificações que são necessárias para o exercício do ministério, conforme podemos ver na primeira epístola de Paulo a Timóteo.
Paulo lhes disse que deveriam vigiar lembrando-se de seguir o seu exemplo, porque por três anos inteiros não havia cessado de admoestar com lágrimas a cada um deles, noite e dia.
Portanto, poderia deixá-los agora ao completo cuidado de Deus e da palavra da Sua graça, lembrando-lhes que Ele era poderoso para edificá-los e garantir o recebimento da herança juntamente com todos os demais cristãos que são santificados (v. 32).
Veja que a herança é prometida aos que se santificam.  
Paulo lhes lembrou que o ministério não é para a nossa própria exaltação e glória, porque haviam testemunhado no exemplo dele, qual é o modo pelo qual importa que o Senhor seja servido, a saber, com toda a humildade, com lágrimas e suportando com paciência as provações (v.19).
Mesmo em face de todas estas oposições, resistências, perseguições, tribulações, o ministro do evangelho não deve se esquivar de ensinar tudo o que seja útil segundo o evangelho, seja na pregação pública, seja no evangelismo pessoal, tal como Paulo havia feito, testificando tanto a judeus, quanto a gregos, o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo.
Ambos devem ser apresentados juntamente, porque são inseparáveis, a saber, o arrependimento e a fé, porque um depende do outro, porque têm sido ligados inseparavelmente pelo Senhor, para aqueles que pretendam realmente se unir a Ele (v. 21).  
Assim, Paulo nunca havia se esquivado de lhes ensinar todo o conselho de Deus, porque não pregava para agradar a homens, senão para ser fiel à pregação de toda a Palavra da verdade, conforme  a encontramos, especialmente nas suas epístolas (v. 27).
É somente quando se prega com tal fidelidade à vontade de Deus, que se pode ter a mesma convicção que Paulo tinha, e que expressou no verso 26: “Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos.”.
Paulo estava rumando para Jerusalém, mas estava constrangido em seu espírito, porque não sabia o que lhe aconteceria ali, apesar do Espírito Santo ter testificado com ele de cidade em cidade, que lhe aguardavam prisões e tribulações, nas quais estaria correndo o risco de perder a sua própria vida.    
No entanto, pela comunhão com o Espírito e pelas experiências de livramentos poderosos, que havia experimentado antes, Paulo havia aprendido a não ter a sua vida como preciosa para si mesmo, desde que ela pudesse ser gasta e oferecida a Deus para cumprir a  carreira e o ministério que havia recebido do Senhor, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus (v. 23, 24).
Os efésios deveriam se lembrar sempre do exemplo que lhes fora deixado por Paulo, para seguirem as suas pegadas, assim como era imitador de Cristo, porque nunca mais veriam o seu rosto depois da sua partida (v. 25).
Além de tudo isto que já lhes havia recordado, deveriam também lembrar que não se faz a obra de Deus por motivos gananciosos, e que nem se deve explorar a ninguém; de maneira que em vez de ficarmos na expectativa de sermos socorridos, como líderes, devemos dar o exemplo de socorrer os necessitados, palavra esta (necessitados) do verso 35, que no original grego é astenia, isto é os fracos, pobres, enfermos e todo aquele que necessita de amparo e consolo no corpo do Senhor.
Depois de ter dado aos presbíteros de Éfeso todas as instruções constantes do capítulo vigésimo de Atos, Paulo se ajoelhou e orou com todos eles, e houve um grande pranto entre todos, que se lançando ao pescoço do apóstolo, o beijavam com ósculo santo; entristecidos principalmente pela palavra que lhes dissera que nunca mais veriam o seu  rosto.
Todos o acompanharam até o navio no qual embarcou rumo a Jerusalém, onde viria a ser preso, como veremos nos capítulos seguintes, e dali seria levado ainda aprisionado para Cesareia e para Roma, de maneira que estas prisões somariam um período superior a seis anos.
Deus em sua soberania, manteria por algum tempo o apóstolo dos gentios na prisão, cremos que para demonstrar que não era a presença de Paulo propriamente dita, nas Igrejas, que garantia o avanço do Evangelho, mas a presença do Espírito Santo, e também para proteger a sua vida, do grande número de judeus que pretendia matá-lo.




“1 Depois que cessou o alvoroço, Paulo mandou chamar os discípulos e, tendo-os exortado, despediu-se e partiu para a Macedônia.
2 E, havendo andado por aquelas regiões, exortando os discípulos com muitas palavras, veio à Grécia.
3 Depois de passar ali três meses, visto terem os judeus armado uma cilada contra ele quando ia embarcar para a Síria, determinou voltar pela Macedônia.
4 Acompanhou-o Sópater de Bereia, filho de Pirro; bem como dos de Tessalônica, Aristarco e Segundo; Gaio de Derbe e Timóteo; e dos da Ásia, Tíquico e Trófimo.
5 Estes porém, foram adiante e nos esperavam em Trôade.
6 E nós, depois dos dias dos pães ázimos, navegamos de Filipos, e em cinco dias fomos ter com eles em Trôade, onde nos detivemos sete dias.
7 No primeiro dia da semana, tendo-nos reunido a fim de partir o pão, Paulo, que havia de sair no dia seguinte, falava com eles, e prolongou o seu discurso até a meia-noite.
8 Ora, havia muitas luzes no cenáculo onde estávamos reunidos.
9 E certo jovem, por nome Êutico, que estava sentado na janela, tomado de um sono profundo enquanto Paulo prolongava ainda mais o seu sermão, vencido pelo sono caiu do terceiro andar abaixo, e foi levantado morto.
10 Tendo Paulo descido, debruçou-se sobre ele e, abraçando-o, disse: Não vos perturbeis, pois a sua alma está nele.
11 Então subiu, e tendo partido o pão e comido, ainda lhes falou largamente até o romper do dia; e assim partiu.
12 E levaram vivo o jovem e ficaram muito consolados.
13 Nós, porém, tomando a dianteira e embarcando, navegamos para Assôs, onde devíamos receber a Paulo, porque ele, havendo de ir por terra, assim o ordenara.
14 E, logo que nos alcançou em Assôs, recebemo-lo a bordo e fomos a Mitilene;
15 e navegando dali, chegamos no dia imediato defronte de Quios, no outro aportamos a Samos e tendo-nos demorado em Trogílio, chegamos, no dia seguinte a Mileto.
16 Porque Paulo havia determinado passar ao largo de Éfeso, para não se demorar na Ásia; pois se apressava para estar em Jerusalém no dia de Pentecostes, se lhe fosse possível.
17 De Mileto mandou a Éfeso chamar os anciãos da igreja.
18 E, tendo eles chegado, disse-lhes: Vós bem sabeis de que modo me tenho portado entre vós sempre, desde o primeiro dia em que entrei na Ásia,
19 servindo ao Senhor com toda a humildade, e com lágrimas e provações que pelas ciladas dos judeus me sobrevieram;
20 como não me esquivei de vos anunciar coisa alguma que útil seja, ensinando-vos publicamente e de casa em casa,
21 testificando, tanto a judeus como a gregos, o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus.
22 Agora, eis que eu, constrangido no meu espírito, vou a Jerusalém, não sabendo o que ali acontecerá,
23 senão o que o Espírito Santo me testifica, de cidade em cidade, dizendo que me esperam prisões e tribulações,
24 mas em nada tenho a minha vida como preciosa para mim, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus.
25 E eis agora, sei que nenhum de vós, por entre os quais passei pregando o reino de Deus, jamais tornará a ver o meu rosto.
26 Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos.
27 Porque não me esquivei de vos anunciar todo o conselho de Deus.
28 Cuidai pois de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele adquiriu com seu próprio sangue.
29 Eu sei que depois da minha partida entrarão no meio de vós lobos cruéis que não pouparão o rebanho,
30 e que dentre vós mesmos se levantarão homens, falando coisas pervertidas para atrair os discípulos após si.
31 Portanto vigiai, lembrando-vos de que por três anos não cessei noite e dia de admoestar com lágrimas a cada um de vós.
32 Agora pois, vos encomendo a Deus e à palavra da sua graça, àquele que é poderoso para vos edificar e dar herança entre todos os que são santificados.
33 De ninguém cobicei prata, nem ouro, nem vestes.
34 Vós mesmos sabeis que estas mãos proveram as minhas necessidades e as dos que estavam comigo.
35 Em tudo vos dei o exemplo de que assim trabalhando, é necessário socorrer os necessitados, recordando as palavras do Senhor Jesus, porquanto ele mesmo disse: Coisa mais bem-aventurada é dar do que receber.
36 Havendo dito isto, pôs-se de joelhos, e orou com todos eles.
37 E levantou-se um grande pranto entre todos, e lançando-se ao pescoço de Paulo, beijavam-no.


38 Entristecendo-se principalmente pela palavra que dissera, que não veriam mais o seu rosto. E eles o acompanharam até o navio.” (Atos 20.1-38)





Atos 21

A Prisão de Paulo em Jerusalém – Atos 21

Após ter-se despedido dos presbíteros de Éfeso em Mileto, Paulo navegou em companhia de Sópater, Aristarco, Segundo, Gaio, Timóteo, Tíquico, Trófimo e Lucas, em direção a Jerusalém.
Como afirmamos no comentário do capítulo anterior (Atos 20), a prisão de Paulo em Jerusalém, Cesareia e depois em Roma estava prevista nos conselhos do Senhor, de maneira que se abrissem oportunidades para que defendesse o evangelho perante seus acusadores e que demonstrasse que o cristianismo não tinha por propósito destruir a Lei de Moisés, nem anular as Escrituras do Velho Testamento, ou condenar até mesmo a Lei cerimonial e civil de Moisés, ao contrário, pela fé em Cristo se confirmava verdadeiramente o testemunho da Lei, especialmente da Lei moral e de toda a revelação de Deus, feita através dos profetas nos dias do Velho Testamento (vide Atos 23.11).
Paulo estava plenamente esclarecido quanto ao propósito de tudo que deveria enfrentar, para dar testemunho do evangelho, e para que tudo o que seria decorrente de suas tribulações viesse a contribuir ainda mais para o progresso do evangelho.    
No entanto, muitos dos seus amigos de ministério não estavam devidamente instruídos quanto a tais propósitos de Deus nos sofrimentos do apóstolo, e assim tentaram persuadi-lo para que não fosse a Jerusalém, uma vez que havia sido revelado ao apóstolo e até mesmo através dos profetas do Senhor que seria preso na referida cidade, conforme poderemos ver pormenorizadamente adiante.
Muitos ministros do evangelho têm suportado pacientemente enfermidades que os mantêm enfraquecidos para que o poder da graça seja ainda maior através deles, e para que deem o testemunho que o seu amor por Cristo é ainda maior que o amor que têm por suas próprias vidas.
Há casos em que os médicos recomendam que devem parar de pregar e de exercer os seus ministérios para se pouparem, mas  jamais poderão atender a tal recomendação, porque parar o serviço do ministério significa para eles a própria morte.
Isto é o que explica o destemor de Paulo e destes ministros diante das tribulações que já estão previstas na providência divina, e pelas quais terão que passar para testemunho do evangelho.
Ao partir de Mileto, Paulo e sua comitiva fizeram paradas breves em Cós, Rodes e Pátara, e neste último porto trocaram de navio, embarcando num que seguia em viagem para a Fenícia, tendo desembarcado na cidade de Tiro, onde permaneceram sete dias se reunindo aos discípulos daquela cidade.
Estes discípulos de Tiro diziam a Paulo, pelo Espírito que não subisse a Jerusalém (v. 4).
Esta passagem é de difícil interpretação para alguns porque consideram como poderia Paulo ter desobedecido expressamente o Espírito insistindo em subir a Jerusalém depois de ter sido dito a ele profeticamente que não deveria ir para aquela cidade porque seria preso?
A chave de interpretação está no fato de que não era uma proibição do Espírito, mas a obediência de Paulo que estava sendo colocada à prova, porque já havia dito antes no vigésimo capítulo que o Espírito lhe havia anunciado de cidade em cidade que lhe aguardavam prisões e tribulações.
Na verdade, aquele alerta que não subisse a Jerusalém para que não fosse preso foi na verdade uma confirmação do Espírito do que lhe ocorreria naquela cidade.
Ao partirem de Tiro, Paulo e sua comitiva chegaram a Ptolemaida, onde passaram um dia com os cristãos daquela cidade (v. 7).
Ao partirem no dia seguinte para Cesareia, hospedaram-se na casa de Felipe, o evangelista, que era um dos sete primeiros diáconos da Igreja de Jerusalém, o mesmo que havia pregado ao eunuco etíope, e que havia fixado residência em Cesareia e que naquela ocasião tinha quatro filhas solteiras, que tinham o dom de profetizar.
É provável que elas tenham também profetizado a Paulo sobre a sua prisão em Jerusalém.
Depois de estarem hospedados por muitos dias na casa de Felipe, desceu um profeta da Judeia de nome Ágabo, o qual não somente tinha o dom de profetizar, como também exercia o ofício de profeta (At 11.27,28).
Este, tomando a cinta de Paulo amarrou os seus próprios pés e mãos, e disse que o Espírito Santo estava mostrando que os judeus amarrariam a Paulo em Jerusalém e que o entregariam nas mãos dos gentios, a saber, as autoridades romanas.
Ao ouvirem isto, tanto os da comitiva de Paulo, quanto os da casa de Felipe rogavam ao apóstolo que não subisse a Jerusalém.
Isto nos faz lembrar Pedro, pedindo a Jesus que não fosse para a cruz.
O amor de Paulo por Jesus estava sendo colocado à prova, por aquela profecia, e pela atitude de seus irmãos na fé, mas lhes disse que estavam entristecendo o seu coração, chorando por ele, porque estava pronto não somente a ser preso, mas até mesmo a morrer em Jerusalém por causa do nome de Jesus (v. 13).
Diante da determinação do apóstolo, e como viam que não se deixava persuadir por eles, calaram-se dizendo: “Faça-se a vontade do Senhor.”.
Isto não significava que Paulo estava desistindo do bom combate da fé. Que estava entregando os pontos. Que se resignaria entregando-se sem procurar defender-se perante seus inimigos.
Ele estava certo que estava caminhando para enfrentar a maior luta e provação de todo o seu ministério, porque ao mesmo tempo que teria que se sujeitar à vontade de Deus, ficando imobilizado numa prisão, guardando em paz a sua mente e coração, teria que se defender perante as autoridades civis e religiosas, e manter firme o testemunho do evangelho, supervisionando a obra através dos seus cooperadores.
Além da comitiva que já lhe acompanhava desde a Macedônia, se juntaram a ele alguns discípulos de Cesareia, que congregavam com Filipe, e subiram a Jerusalém, e quando chegaram em Jerusalém foram recebidos alegremente pelos irmãos daquela Igreja.
No dia seguinte foram ter com Tiago, que era o líder da Igreja de Jerusalém, e todos os seus presbíteros, para ouvirem o relato das coisas que Deus havia feito através do ministério de Paulo entre os gentios.
Não se tratava de  uma prestação de contas da igreja da incircuncisão à da circuncisão, mas a confirmação de que Deus havia chamado de fato os gentios a fazerem parte do mesmo rebanho de Cristo.
Por isso além deles terem glorificado a Deus ao ouvirem o relato de Paulo, disseram o seguinte: “vês, irmãos, quantos milhares há entre os judeus que têm crido, e todos são zelosos da lei.” (v. 20).
Isto contrariava as falsas acusações que os judeus estavam fazendo contra Paulo, de que estava ensinando a todos os judeus que estavam entre os gentios, a não acatarem a Lei de Moisés, e a não circuncidarem seus filhos, bem como a abandonarem todos os costumes da Lei (v. 21).
Para demonstrarem que estas acusações não tinham qualquer fundamento, porque Paulo nunca exigiu tais coisas dos judeus, senão que pregou aos gentios, conforme cartas da própria Igreja de Jerusalém que os gentios, estes sim, não estavam obrigados a guardar e a manter os mandamentos cerimoniais da Lei de Moisés e os costumes dos judeus, para que fossem aceitos como integrantes do povo do Senhor.  
Então pensaram que talvez os judeus seriam convencidos que Paulo, sendo judeu, ele mesmo guardava a Lei, porque havia quatro irmãos que haviam feito voto de nazireado, e Paulo poderia se juntar a eles assumindo as despesas previstas na Lei para rasparem a cabeça, concluindo o período que haviam estipulado para o seu voto (v. 24).
Assim, Paulo foi ao templo com aqueles quatro homens para a purificação cerimonial prevista na Lei, e teriam que aguardar sete dias nas imediações do templo, antes que fossem liberados.
Entretanto quando estava próximo o fim dos sete dias previstos na Lei, alguns judeus vindos da Ásia, provavelmente da região da Galácia, que haviam perseguido duramente a Paulo, ou mesmo de Éfeso, tendo reconhecido Paulo no templo, alvoroçaram todo o povo e agarraram o apóstolo, gritando para que outros israelitas viessem ajudá-los contra Paulo dizendo-lhes que era ele o homem que ensinava por toda parte contra os judeus, contra a  lei e contra o templo, e além disso acusaram-no de ter introduzido gregos no templo para profaná-lo.
Eles fizeram esta acusação falsa baseando-se simplesmente no fato de terem visto Trófimo em sua companhia em Éfeso, e concluíram precipitadamente que Paulo lhe havia introduzido no templo.  
Eles arrastaram Paulo para fora do templo e começaram a espancá-lo procurando matá-lo, mas Paulo foi salvo pela chegada do centurião e soldados romanos, que prenderam e acorrentaram Paulo com duas cadeias, perguntando-lhe quem era e o que havia feito (v. 30 a 33).
Tal era a violência da multidão contra Paulo que teve que ser resguardado pelos soldados, até ser conduzido à fortaleza romana, porque iam apertando contra ele e gritando “Mata-o!”.
Isto deve servir de alerta a todos os ministros do evangelho, para que não incorram no mesmo erro deles, ao guardarem ressentimentos contra aqueles que se opõem ao evangelho, por maiores hereges que sejam, porque nosso Senhor nos ordena o amor ao próximo, mesmo que sejam nossos inimigos.
Paulo pediu ao comandante da guarda que lhe fosse permitido falar ao povo, e se dirigiu a eles falando em língua hebraica as palavras que veremos no capítulo seguinte.





“1 E assim aconteceu que, separando-nos deles, navegamos e, correndo em direitura, chegamos a Cós, e no dia seguinte a Rodes, e dali a Pátara.
2 Achando um navio que seguia para a Fenícia, embarcamos e partimos.
3 E quando avistamos Chipre, deixando-a à esquerda, navegamos para a Síria e chegamos a Tiro, pois o navio havia de ser descarregado ali.
4 Havendo achado os discípulos, demoramo-nos ali sete dias; e eles pelo Espírito diziam a Paulo que não subisse a Jerusalém.
5 Depois de passarmos ali aqueles dias, saímos e seguimos a nossa viagem, acompanhando-nos todos, com suas mulheres e filhos, até fora da cidade; e, postos de joelhos na praia, oramos,
6 e despedindo-nos uns dos outros, embarcamos, e eles voltaram para casa.
7 Concluída a nossa viagem de Tiro, chegamos a Ptolemaida; e, havendo saudado os irmãos, passamos um dia com eles.
8 Partindo no dia seguinte, fomos a Cesareia; e entrando em casa de Felipe, o evangelista, que era um dos sete, ficamos com ele.
9 Tinha este quatro filhas virgens que profetizavam.
10 Demorando-nos ali por muitos dias, desceu da Judeia um profeta, de nome Ágabo;
11 e vindo ter conosco, tomou a cinta de Paulo e, ligando os seus próprios pés e mãos, disse: Isto diz o Espírito Santo: Assim os judeus ligarão em Jerusalém o homem a quem pertence esta cinta, e o entregarão nas mãos dos gentios.
12 Quando ouvimos isto, rogamos-lhe, tanto nós como os daquele lugar, que não subisse a Jerusalém.
13 Então Paulo respondeu: Que fazeis chorando e magoando-me o coração? Porque eu estou pronto não só a ser ligado, mas ainda a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus.
14 E, como não se deixasse persuadir, dissemos: Faça-se a vontade do Senhor; e calamo-nos.
15 Depois destes dias, havendo feito os preparativos, fomos subindo a Jerusalém.
16 E foram também conosco alguns discípulos de Cesareia, levando consigo um certo Mnáson, cíprio, discípulo antigo, com quem nos havíamos de hospedar.
17 E chegando nós a Jerusalém, os irmãos nos receberam alegremente.
18 No dia seguinte Paulo foi em nossa companhia ter com Tiago, e compareceram todos os anciãos.
19 E, havendo-os saudado, contou-lhes uma por uma as coisas que por seu ministério Deus fizera entre os gentios.
20 Ouvindo eles isto, glorificaram a Deus, e disseram-lhe: Bem vês, irmãos, quantos milhares há entre os judeus que têm crido, e todos são zelosos da lei.
21 Têm sido informados a teu respeito que ensinas todos os judeus que estão entre os gentios a se apartarem de Moisés, dizendo que não circuncidem seus filhos, nem andem segundo os costumes da lei.
22 Que se há de fazer, pois? Certamente saberão que és chegado.
23 Faze, pois, o que te vamos dizer: Temos quatro homens que fizeram voto;
24 toma estes contigo, e santifica-te com eles, e faze por eles as despesas para que rapem a cabeça; e saberão todos que é falso aquilo de que têm sido informados a teu respeito, mas que também tu mesmo andas corretamente, guardando a lei.
25 Todavia, quanto aos gentios que têm crido já escrevemos, dando o parecer que se abstenham do que é sacrificado aos ídolos, do sangue, do sufocado e da prostituição.
26 Então Paulo, no dia seguinte, tomando consigo aqueles homens, purificou-se com eles e entrou no templo, notificando o cumprimento dos dias da purificação, quando seria feita a favor de cada um deles a respectiva oferta.
27 Mas quando os sete dias estavam quase a terminar, os judeus da Ásia, tendo-o visto no templo, alvoroçaram todo o povo e agarraram-no,
28 clamando: Varões israelitas, acudi; este é o homem que por toda parte ensina a todos contra o povo, contra a lei, e contra este lugar; e ainda, além disso, introduziu gregos no templo, e tem profanado este santo lugar.
29 Antes tinham visto com ele na cidade a Trófimo de Éfeso, e pensavam que Paulo o introduzira no templo.
30 Alvoroçou-se toda a cidade, e houve ajuntamento do povo; e agarrando a Paulo, arrastaram-no para fora do templo, e logo as portas se fecharam.
31 E, procurando eles matá-lo, chegou ao comandante da corte o aviso de que Jerusalém estava toda em confusão;
32 o qual, tomando logo consigo soldados e centuriões, correu para eles; e quando viram o comandante e os soldados, cessaram de espancar a Paulo.
33 Então aproximando-se o comandante, prendeu-o e mandou que fosse acorrentado com duas cadeias, e perguntou quem era e o que tinha feito.
34 E na multidão uns gritavam de um modo, outros de outro; mas, não podendo por causa do alvoroço saber a verdade, mandou conduzi-lo à fortaleza.
35 E sucedeu que, chegando às escadas, foi ele carregado pelos soldados por causa da violência da turba.
36 Pois a multidão o seguia, clamando: Mata-o!
37 Quando estava para ser introduzido na fortaleza, disse Paulo ao comandante: É-me permitido dizer-te alguma coisa? Respondeu ele: Sabes o grego?
38 Não és porventura o egípcio que há poucos dias fez uma sedição e levou ao deserto os quatro mil sicários?
39 Mas Paulo lhe disse: Eu sou judeu, natural de Tarso, cidade não insignificante da Cilícia; rogo-te que me permitas falar ao povo.


40 E, havendo-lho permitido o comandante, Paulo, em pé na escada, fez sinal ao povo com a mão; e, feito grande silêncio, falou em língua hebraica, dizendo:” (Atos 21.1-40)






Atos 22

A Defesa Apresentada por Paulo – Atos 22

Nós vemos no 22º capítulo de Atos, a defesa que Paulo apresentou diante da turba furiosa que ele conseguiu silenciar por algum tempo, para lhes fazer uma exposição da razão e do conteúdo do ministério para o qual havia sido comissionado por Deus junto aos gentios, começando desde a sua nacionalidade judaica, apesar de ter nascido em Tarso da Cilícia, e instrução em Jerusalém aos pés de Gamaliel, e relatando como havia perseguido a Igreja e se convertido a Cristo.
Nós não vemos em suas palavras nenhum indício de tentativa de justificar a si mesmo, ou de condenar os seus perseguidores, senão em lhes dar um testemunho sereno e corajoso do motivo da sua fidelidade a Cristo.
Além das circunstâncias que envolveram a sua conversão ao evangelho, Paulo relatou também a sua tentativa frustrada de tentar pregar o evangelho em Jerusalém, quando foi alertado pelo Senhor, quando orava no templo, e se achando em êxtase espiritual, pôde vê-lo lhe dizendo que se apressasse a sair de Jerusalém, porque não receberiam o seu testemunho acerca dEle.
Paulo lhes disse que ainda tentou argumentar com o Senhor, segundo seu próprio ponto de vista que a sua vida seria um grande testemunho de conversão para os judeus, porque havia sido um dos principais perseguidores dos cristãos, mas o Senhor lhe disse simplesmente que saísse da cidade, porque lhe enviaria para longe, aos gentios; isto é, o seu ministério não seria na Judeia, mas no mundo gentílico, pregando tanto a judeus quanto a gentios.
A turba permaneceu em silêncio até que se referisse aos gentios, porque entenderam que estava confirmando que pretendia realmente mudar os costumes dos israelitas em favor dos gentios, e que estaria obrigando os judeus a viverem como gentios.
Então começaram a gritar dizendo que Paulo não era digno de continuar vivendo neste mundo, e nisto  tinham realmente razão  porque havia morrido para o mundo e o mundo para ele.
Seu coração não estava nas coisas deste mundo, mas nas celestiais.
Querendo agradar a multidão o comandante da guarda ordenou que levassem Paulo para o interior da fortaleza, e que o interrogassem com tortura de açoites, para que confessasse qual era afinal a razão de tão grande ódio dos judeus contra ele.
Entretanto, Paulo indagou ao centurião se ele porventura não sabia que não era lícito açoitar um cidadão romano, sem que fosse antes julgado.
Paulo era cidadão romano por nascimento, e o centurião advertiu ao comandante da guarda quanto ao que estava pretendendo fazer, e quando este ouviu da boca de Paulo que era cidadão romano por nascimento, o comandante da guarda disse que havia adquirido o seu direito de cidadania romana com grande soma de dinheiro, e ficou muito atemorizado porque havia amarrado o apóstolo.  
Paulo usou de sabedoria e não ficou esperando que um anjo viesse do céu para fazer tal defesa em seu lugar.
Aquilo que podemos e devemos fazer não deve ser negligenciado, e nem devemos esperar que Deus o faça por nós.
O Senhor não quer criar filhos mimados e medrosos.
Ele se agrada quando ousamos defender a causa da justiça, por nossa própria iniciativa, sem temer a aparência dos homens.
Assim, o comandante soltou as amarras de Paulo e mandou que os principais sacerdotes, e todo o sinédrio se reunissem, para que lhes apresentasse o apóstolo no dia seguinte, de maneira a saber qual era a causa de estar sendo acusado daquela forma pelos judeus.





“1 Irmãos e pais, ouvi a minha defesa, que agora faço perante vós.
2 Ora, quando ouviram que lhes falava em língua hebraica, guardaram ainda maior silêncio. E ele prosseguiu:
3 Eu sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, mas criado nesta cidade, instruído aos pés de Gamaliel, conforme a precisão da lei de nossos pais, sendo zeloso para com Deus, assim como o sois todos vós no dia de hoje.
4 E persegui este Caminho até a morte, algemando e metendo em prisões tanto a homens como a mulheres,
5 do que também o sumo sacerdote me é testemunha, e assim todo o conselho dos anciãos; e, tendo recebido destes cartas para os irmãos, seguia para Damasco, com o fim de trazer algemados a Jerusalém aqueles que ali estivessem, para que fossem castigados.
6 Aconteceu, porém, que, quando caminhava e ia chegando perto de Damasco, pelo meio-dia, de repente, do céu brilhou-me ao redor uma grande luz.
7 Caí por terra e ouvi uma voz que me dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?
8 Eu respondi: Quem és tu, Senhor? Disse-me: Eu sou Jesus, o nazareno, a quem tu persegues.
9 E os que estavam comigo viram, em verdade, a luz, mas não entenderam a voz daquele que falava comigo.
10 Então perguntei: Senhor que farei? E o Senhor me disse: Levanta-te, e vai a Damasco, onde se te dirá tudo o que te é ordenado fazer.
11 Como eu nada visse por causa do esplendor daquela luz, guiado pela mão dos que estavam comigo cheguei a Damasco.
12 Um certo Ananias, varão piedoso conforme a lei, que tinha bom testemunho de todos os judeus que ali moravam,
13 vindo ter comigo, de pé ao meu lado, disse-me: Saulo, irmão, recobra a vista. Naquela mesma hora, recobrando a vista, eu o vi.
14 Disse ele: O Deus de nossos pais de antemão te designou para conhecer a sua vontade, ver o Justo, e ouvir a voz da sua boca.
15 Porque hás de ser sua testemunha para com todos os homens do que tens visto e ouvido.
16 Agora por que te demoras? Levanta-te, batiza-te e lava os teus pecados, invocando o seu nome.
17 Aconteceu que, tendo eu voltado para Jerusalém, enquanto orava no templo, achei-me em êxtase,
18 e vi aquele que me dizia: Apressa-te e sai logo de Jerusalém; porque não receberão o teu testemunho acerca de mim.
19 Disse eu: Senhor, eles bem sabem que eu encarcerava e açoitava pelas sinagogas os que criam em ti.
20 E quando se derramava o sangue de Estêvão, tua testemunha, eu também estava presente, consentindo na sua morte e guardando as capas dos que o matavam.
21 Disse-me ele: Vai, porque eu te enviarei para longe, aos gentios.
22 Ora, escutavam-no até esta palavra, mas então levantaram a voz, dizendo: Tira do mundo tal homem, porque não convém que viva.
23 Gritando eles e arrojando de si as capas e lançando pó para o ar,
24 o comandante mandou que levassem Paulo para dentro da fortaleza, ordenando que fosse interrogado debaixo de açoites, para saber por que causa assim clamavam contra ele.
25 Quando o haviam atado com as correias, disse Paulo ao centurião que ali estava: É-vos lícito açoitar um cidadão romano, sem ser ele condenado?
26 Ouvindo isto, foi o centurião ter com o comandante e o avisou, dizendo: Vê o que estás para fazer, pois este homem é romano.
27 Vindo o comandante, perguntou-lhe: Dize-me: és tu romano? Respondeu ele: Sim sou.
28 Tornou o comandante: Eu por grande soma de dinheiro adquiri este direito de cidadão. Paulo disse: Mas eu o sou de nascimento.
29 Imediatamente, pois se apartaram dele aqueles que o iam interrogar; e até o comandante, tendo sabido que Paulo era romano, atemorizou-se porque o havia ligado.
30 No dia seguinte, querendo saber ao certo a causa por que ele era acusado pelos judeus, soltou-o das prisões, e mandou que se reunissem os principais sacerdotes e todo o sinédrio; e, trazendo Paulo, apresentou-o diante deles.” (Atos 22.1-30)






Atos 23

Deus Defende o Justo – Atos 23

Não teria sido por sua cidadania romana, por sua inteligência ou sagacidade, que Paulo poderia ter-se livrado da grande fúria dos judeus contra ele, senão pelo próprio desígnio do Senhor Jesus Cristo que, por sua providência, havia conduzido o apóstolo a todas aquelas tribulações, para que desse testemunho público do Seu nome, especialmente perante governantes e reis.
Nós vemos no capitulo 23 de Atos, Paulo protestando contra o modo abusivo e autoritário que o sumo sacerdote Ananias havia agido contra ele, tentando constrangê-lo, logo mesmo no início da apresentação da sua defesa, mandando que lhe ferissem a boca; chamando-o de parede branqueada, com o mesmo sentido que Jesus havia chamado os fariseus de sepulcros caiados.
Ele condenou a hipocrisia daquele homem sem saber que era o sumo sacerdote, e a teria condenado da mesma maneira exigindo que fosse feito um julgamento justo segundo a Lei, e não contra a Lei, e retratou-se apenas quando soube que era o sumo sacerdote, em razão da expressão que havia usado, que a seu ver teria sido dura para a principal autoridade religiosa, constituída pela Lei sobre a nação de Israel.
A atitude do sumo sacerdote fez com que os ânimos ficassem esquentados desde o início do interrogatório, e Paulo percebeu que não haveria nenhuma atmosfera para uma apreciação justa e isenta de paixão sobre o seu caso, e teve portanto que lançar mão de um estratagema para escapar daquela situação.
Assim, depois que Paulo foi apresentado ao sinédrio e conseguiu dividir a opinião dos sacerdotes em relação a ele, porque o sinédrio era composto tanto por sacerdotes da seita dos fariseus, quanto dos saduceus.
Estes não criam na existência de anjos, espíritos e ressurreição, mas os fariseus criam em todas estas realidades sobrenaturais, e sabendo disto, Paulo disse que estava sendo interrogado acerca da sua esperança, quanto à ressurreição dos mortos.
Com isto houve grande dissensão entre os próprios sacerdotes, chegando até mesmo alguns fariseus sugerido que não se deveria importunar mais a Paulo porque era possível que um espírito ou um anjo lhe tivesse dado alguma revelação da parte de Deus, e seriam achados lutando contra o próprio Deus.
Tal foi a dissensão que houve entre eles, que o comandante romano, temendo que ferissem gravemente a Paulo, tirou-o do meio deles e o reconduziu à prisão.  
Como o testemunho público relativo a Jesus já havia sido dado por Paulo em Jerusalém,  e sabendo o Senhor que os judeus de Jerusalém jamais aceitariam o evangelho que Paulo pregava aos gentios, como de fato ocorreu, no entanto ouviriam pela boca de Paulo que os gentios estavam sendo recebidos como filhos de Deus, tanto quanto os cristãos judeus.
Importava agora que desse testemunho também em Roma, especialmente junto a César, e por isso o Senhor permitira que surgissem as condições que culminariam conduzindo Paulo em segurança para aquela cidade, mas, teria ainda que aguardar pacientemente, por cerca de dois anos em Cesareia, mas este detalhe lhe foi omitido pelo Senhor, de maneira que não somente Paulo, mas todos os cristãos saibam que a nossa vida, tempo e circunstâncias, tudo se encontra não propriamente sob o nosso domínio e mãos, mas na Sua potente mão.
Por isso o Senhor apareceu a Paulo no dia seguinte ao que estivera no sinédrio, para lhe fortalecer, dizendo que tivesse bom ânimo, porque importava que desse testemunho também em Roma tal como havia dado em Jerusalém (At 23.11).
Deste modo, quando chegou ao seu  conhecimento através do seu sobrinho, filho de sua irmã, que havia descoberto que estava sendo formada uma conspiração contra ele, por parte de mais de 40 judeus, que haviam jurado sob anátema, que nada comeriam ou beberiam até que lhe tivessem matado, e para tal haviam solicitado ao sinédrio que convocasse uma nova reunião com Paulo junto ao comandante da guarda, ocasião em que dariam sobre ele e o matariam.
Paulo chamou um dos centuriões, e pediu que este levasse seu sobrinho até o comandante da guarda para que lhe contasse a conspiração que estavam armando contra ele.
De igual maneira não são poucas as vezes que Deus usa as pessoas que nos são queridas para nos alertarem contra o mal que estão planejando contra nós, de maneira que possamos nos prevenir dele.
Não precisamos portanto montar nenhuma rede de espiões que nos mantenham sempre informados de tudo, porque o céu trabalha em nosso favor.
E nem devemos receber tais informações que nos chegam fortuitamente como mexericos, mas como avisos de Deus para que possamos tomar as providências necessárias, tal como Paulo havia sido informado no passado sobre as divisões que estavam ocorrendo em Corinto, por parte da família de Cloé.
Foi com pesar e expectativa de que o apóstolo corrigisse as coisas que andavam erradas naquela Igreja, que foram movidos a lhe relatar o modo que vinham andando contrariamente à vontade de Cristo.
Era notório, pelo ódio demonstrado pelos judeus, que Paulo havia alcançado grande influência junto a muitas pessoas do Império Romano, ainda que o mundo não pudesse reconhecer a autoridade espiritual, que lhe havia sido dada pelo próprio Deus, porque isto só pode ser discernido espiritualmente, pelos que têm o Espírito, no entanto o comandante da guarda não se arriscaria a permitir que lhe tirassem sua vida contra a permissão do Imperador Romano, temendo que com isto pudesse ser gerada uma grande agitação em todas as cidades gentias do império onde Paulo havia pregado, e certamente o comandante não queria assumir a responsabilidade de ter dado ocasião a isto, e ter que responder perante o Imperador.
Por isso preparou uma grande escolta de homens para conduzirem Paulo em segurança até Cesareia, que era composta por nada menos do que 470 homens (v. 23).
E mandou que Paulo fosse apresentado pessoalmente ao governador romano de Cesareia de nome Félix, ao qual mandou também apresentar uma carta com explicações do motivo de tê-lo enviado pessoalmente a ele.
Na verdade Deus estava mantendo a vida de Paulo em segurança, ao permitir que fosse preso em Jerusalém, porque nós vimos até que ponto chegou a fúria daquela gente contra ele.
Se aqueles mais de 40 homens, que haviam se compromissado sob maldição de nada comerem até prenderem a Paulo, fossem de fato dignos em seus propósitos, todos teriam morrido não muito depois de terem feito tal juramento, porque afinal não conseguiram matar Paulo, e ninguém poderia, porque importava, segundo o Senhor lhe dissera, que daria testemunho dEle em Roma.




“1 Fitando Paulo os olhos no sinédrio, disse: Varões irmãos, até o dia de hoje tenho andado diante de Deus com toda a boa consciência.
2 Mas o sumo sacerdote, Ananias, mandou aos que estavam junto dele que o ferissem na boca.
3 Então Paulo lhe disse: Deus te ferirá a ti, parede branqueada; tu estás aí sentado para julgar-me segundo a lei, e contra a lei mandas que eu seja ferido?
4 Os que estavam ali disseram: Injurias o sumo sacerdote de Deus?
5 Disse Paulo: Não sabia, irmãos, que era o sumo sacerdote; porque está escrito: Não dirás mal do príncipe do teu povo.
6 Sabendo Paulo que uma parte era de saduceus e outra de fariseus, clamou no sinédrio: Varões irmãos, eu sou fariseu, filho de fariseus; é por causa da esperança da ressurreição dos mortos que estou sendo julgado.
7 Ora, dizendo ele isto, surgiu dissensão entre os fariseus e saduceus; e a multidão se dividiu.
8 Porque os saduceus dizem que não há ressurreição, nem anjo, nem espírito; mas os fariseus reconhecem uma e outra coisa.
9 Daí procedeu grande clamor; e levantando-se alguns da parte dos fariseus, altercavam, dizendo: Não achamos nenhum mal neste homem. E se algum espírito ou anjo lhe falou, não resistamos a Deus.
10 E avolumando-se a dissensão, o comandante, temendo que Paulo fosse por eles despedaçado, mandou que os soldados descessem e o tirassem do meio deles e o levassem para a fortaleza.
11 Na noite seguinte, apresentou-se-lhe o Senhor e disse: Tem bom ânimo: porque, como deste testemunho de mim em Jerusalém, assim importa que o dês também em Roma.
12 Quando já era dia, coligaram-se os judeus e juraram sob pena de maldição que não comeriam nem beberiam enquanto não matassem a Paulo.
13 Eram mais de quarenta os que fizeram esta conjuração;
14 e estes foram ter com os principais sacerdotes e anciãos, e disseram: Conjuramo-nos sob pena de maldição a não provarmos coisa alguma até que matemos a Paulo.
15 Agora, pois, vós, com o sinédrio, rogai ao comandante que o mande descer perante vós como se houvésseis de examinar com mais precisão a sua causa; e nós estamos prontos para matá-lo antes que ele chegue.
16 Mas o filho da irmã de Paulo, tendo sabido da cilada, foi, entrou na fortaleza e avisou a Paulo.
17 Chamando Paulo um dos centuriões, disse: Leva este moço ao comandante, porque tem alguma coisa que lhe comunicar.
18 Tomando-o ele, pois, levou-o ao comandante e disse: O preso Paulo, chamando-me, pediu-me que trouxesse à tua presença este moço, que tem alguma coisa a dizer-te.
19 O comandante tomou-o pela mão e, retirando-se à parte, perguntou-lhe em particular: Que é que tens a contar-me?
20 Disse ele: Os judeus combinaram rogar-te que amanhã mandes Paulo descer ao sinédrio, como que tendo de inquirir com mais precisão algo a seu respeito.
21 Tu, pois, não te deixes persuadir por eles; porque mais de quarenta homens dentre eles armaram ciladas, os quais juraram sob pena de maldição não comerem nem beberem até que o tenham morto; e agora estão aprestados, esperando a tua promessa.
22 Então o comandante despediu o moço, ordenando-lhe que a ninguém dissesse que lhe havia contado aquilo.
23 Chamando dois centuriões, disse: Aprontai para a terceira hora da noite duzentos soldados de infantaria, setenta de cavalaria e duzentos lanceiros para irem até Cesareia.
24 E mandou que aparelhassem cavalgaduras para que Paulo montasse, a fim de o levarem salvo ao governador Félix.
25 E escreveu-lhe uma carta nestes termos:
26 Cláudio Lísias, ao excelentíssimo governador Félix, saúde.
27 Este homem foi preso pelos judeus, e estava a ponto de ser morto por eles quando eu sobrevim com a tropa e o livrei ao saber que era romano.
28 Querendo saber a causa por que o acusavam, levei-o ao sinédrio deles;
29 e achei que era acusado de questões da lei deles, mas que nenhum crime havia nele digno de morte ou prisão.
30 E quando fui informado que haveria uma cilada contra o homem, logo to enviei, intimando também aos acusadores que perante ti se manifestem contra ele. Passa bem.
31 Os soldados, pois, conforme lhes fora mandado, tomando a Paulo, o levaram de noite a Antipátride.
32 Mas no dia seguinte, deixando aos de cavalaria irem com ele, voltaram à fortaleza;
33 os quais, logo que chegaram a Cesareia e entregaram a carta ao governador, apresentaram-lhe também Paulo.
34 Tendo lido a carta, o governador perguntou de que província ele era; e, sabendo que era da Cilícia, disse:
35 Ouvir-te-ei quando chegarem também os teus acusadores; e mandou que fosse guardado no pretório de Herodes.” (Atos 23.1-35)





Atos 24

Paulo perante os Governadores – Atos 24

Como o governador Félix disse a Paulo que o ouviria, quando chegassem de Jerusalém aqueles que lhe estavam acusando, ele teve portanto que aguardar a chegada de um certo Tértulo, que era o campeão do sinédrio para disputas teológicas em defesa da Lei; quando cabia ao próprio sumo sacerdote ser o guardião supremo da Lei.
Além de ser cidadão romano, Paulo tinha a seu favor, que era um líder religioso que pregava a paz e a submissão às autoridades constituídas.
Em todos os lugares, os cristãos eram exemplares em seu comportamento, e muitos que haviam se desviado de vícios e de grosseiras idolatrias, dentre os gentios, em todas as cidades do Império romano evangelizadas por Paulo, era a sua melhor defesa contra as piores acusações que pudessem ser levantadas contra ele, quanto a estar agitando as massas, para uma sedição contra os interesses do império romano.
A sabedoria mundana seria envergonhada mais uma vez, porque o tal Tértulo, que foi contratado pelo sumo sacerdote, por ser um experiente orador e perito em questões de direito religioso, e da própria lei romana, começou a sua acusação contra Paulo adulando antes ao governador Félix, para obter um parecer favorável da sua parte, e começou logo em seguida a infamar Paulo chamando-o de peste e promotor de sedições, entre todos os judeus, em todas as partes do mundo, e chefe da seita dos nazarenos, e que lhe haviam prendido porque havia tentado profanar o templo, e que segundo a Lei deles haviam tentado julgá-lo, mas haviam sido impedidos pelo comandante Cláudio Lísias, que havia usado de grande violência para tirar Paulo das suas mãos, e que havia mandado que os acusadores viessem ter com ele, Felix, que poderia certificar-se de que era verdadeiro tudo aquilo de lhe estavam acusando, caso o examinasse por si mesmo; e que todos os judeus concordavam com aquela acusação que estava lhe apresentando.    
Depois desta breve acusação de Tértulo, Felix fez um sinal para que Paulo apresentasse a sua defesa.
Ele começou seu discurso dizendo que confiava num julgamento imparcial da parte de Félix, em razão de já ser por muitos anos governador em Cesareia.
Ele disse que não foi a Jerusalém senão para adorar no templo, porque de fato havia se apressado para chegar em Jerusalém antes da festa do Pentecostes, e portanto não para criar qualquer sedição ou profanação, conforme estavam lhe acusando injustamente.  
Que ele não foi achado no templo discutindo com qualquer pessoa, ou promovendo qualquer motim entre o povo, mesmo nas sinagogas, ou na cidade de Jerusalém.
E ninguém poderia provar tal acusação, porque não era apenas um homem que não era dado a debates, como condenava tais debates acerca da Lei, o que de fato pode ser visto em suas epístolas.  
Ele simplesmente havia se convertido ao Caminho (cristianismo) o qual estavam chamando de seita, mas que na verdade era o cumprimento de tudo o que está escrito na lei e nos profetas (At 24.14).
Tanto quanto os judeus ele também esperava que há de haver ressurreição tanto de justos quanto de injustos, para efeito de Juízo, e em razão disto sempre procurava ter uma boa consciência, sem ofensas diante de Deus e dos homens.
O governador Félix tinha informações a respeito do Caminho (Cristianismo) e percebeu que as palavras de Paulo eram coerentes com tudo o que lhe havia sido informado, e portanto adiou a audiência até que Cláudio Lísias, viesse ter com ele, procedente de Jerusalém, para fazer uma melhor avaliação daquela causa.
Depois ordenou ao centurião que Paulo ficasse detido, mas que fosse tratado com brandura, e que a nenhum dos seus proibisse servi-lo.
Alguns dias depois, Félix, fazendo-se acompanhar de sua mulher Drusila, que era judia, mandou chamar a Paulo para que lhes falasse acerca da fé em Cristo.
Paulo discorreu na ocasião sobre a justiça, o domínio próprio e o juízo vindouro, e Félix ficou atemorizado, e pediu que Paulo se retirasse, dizendo que o ouviria quando tivesse ocasião favorável.
Este Félix não era um homem reto, porque mandava chamar Paulo frequentemente para conversar com ele, mas com a esperança que Paulo tentasse lhe subornar, oferecendo-lhe dinheiro.
Mas como o apóstolo jamais faria isso, ficou por dois anos preso em Cesareia, até que Félix foi substituído por Pórcio Festo, e para não desagradar os judeus, antes de tal substituição, Félix manteve Paulo na prisão.
Félix temeu quando Paulo lhe falou acerca do juízo vindouro, porque sabia que a conta de pecados e injustiças praticadas por ele era muito grande diante de Deus, e não somente não estava disposto a abandonar as suas práticas, como também não lhe interessava em se converter a Cristo para viver retamente e em santidade perante Ele.



“1 Cinco dias depois o sumo sacerdote Ananias desceu com alguns anciãos e um certo Tertulo, orador, os quais fizeram, perante o governador, queixa contra Paulo.
2 Sendo este chamado, Tertulo começou a acusá-lo, dizendo:
3 Visto que por ti gozamos de muita paz e por tua providência são continuamente feitas reformas nesta nação, em tudo e em todo lugar reconhecemo-lo com toda a gratidão, ó excelentíssimo Félix.
4 Mas, para que não te detenha muito rogo-te que, conforme a tua equidade, nos ouças por um momento.
5 Temos achado que este homem é uma peste, e promotor de sedições entre todos os judeus, por todo o mundo, e chefe da seita dos nazarenos;
6 o qual tentou profanar o templo; e nós o prendemos, e conforme a nossa lei o quisemos julgar.
7 Mas sobrevindo o comandante Lísias no-lo tirou dentre as mãos com grande violência,
8 mandando aos acusadores que viessem a ti; e dele tu mesmo, examinando-o, poderás certificar-te de tudo aquilo de que o acusamos.
9 Os judeus também concordam na acusação, afirmando que estas coisas eram assim.
10 Paulo, tendo-lhe o governador feito sinal que falasse, respondeu: Porquanto sei que há muitos anos és juiz sobre esta nação, com bom ânimo faço a minha defesa,
11 pois bem podes verificar que não há mais de doze dias subi a Jerusalém para adorar,
12 e que não me acharam no templo discutindo com alguém nem amotinando o povo, quer nas sinagogas quer na cidade.
13 Nem te podem provar as coisas de que agora me acusam.
14 Mas confesso-te isto: que, seguindo o caminho a que eles chamam seita, assim sirvo ao Deus de nossos pais, crendo tudo quanto está escrito na lei e nos profetas.
15 Tendo esperança em Deus, como estes mesmos também esperam, de que há de haver ressurreição tanto dos justos como dos injustos.
16 Por isso procuro sempre ter uma consciência sem ofensas diante de Deus e dos homens.
17 Vários anos depois vim trazer à minha nação esmolas e ofertas.
18 Ocupado nestas coisas, me acharam já santificado no templo não em ajuntamento, nem com tumulto, alguns judeus da Ásia,
19 os quais deviam comparecer diante de ti e acusar-me se tivessem alguma coisa contra mim;
20 ou estes mesmos digam que iniquidade acharam, quando compareci perante o sinédrio,
21 a não ser acerca desta única palavra que, estando no meio deles, bradei: Por causa da ressurreição dos mortos é que hoje estou sendo julgado por vós.
22 Félix, porém, que era bem informado a respeito do Caminho, adiou a questão, dizendo: Quando o comandante Lísias tiver descido, então tomarei inteiro conhecimento da vossa causa.
23 E ordenou ao centurião que Paulo ficasse detido, mas fosse tratado com brandura e que a nenhum dos seus proibisse servi-lo.
24 Alguns dias depois, vindo Félix com sua mulher Drusila, que era judia, mandou chamar a Paulo, e ouviu-o acerca da fé em Cristo Jesus.
25 E discorrendo ele sobre a justiça, o domínio próprio e o juízo vindouro, Félix ficou atemorizado e respondeu: Por ora vai-te, e quando tiver ocasião favorável, eu te chamarei.
26 Esperava ao mesmo tempo que Paulo lhe desse dinheiro, pelo que o mandava chamar mais frequentemente e conversava com ele.
27 Mas passados dois anos, teve Félix por sucessor a Pórcio Festo; e querendo Félix agradar aos judeus, deixou a Paulo preso.”  (Atos 24.1-27)







Atos 25

Jogo de Sagacidades – Atos 25

Paulo pode ter se entristecido muitas vezes pelas coisas que teve que suportar por amor a Cristo, mas nunca deixou de ter bom ânimo quanto ao triunfo da causa que defendeu até o final da sua vida.
Ele sabia que havia defendido a fé, mas quem garantiria a defesa do evangelho até o fim dos tempos não seria propriamente ele, Paulo, ou qualquer outro, porque todos serão impedidos um dia de fazê-lo, ainda que seja pela morte, mas o próprio Cristo é quem defende e sustenta a verdade, porque é nEle que tudo subsiste.
Assim, as experiências relatadas em Atos quanto às aflições e humilhações de Paulo, servem para desestimular qualquer tipo de presunção, em qualquer líder de Cristo, de que seja insubstituível, porque aprouve à Providência deixar-nos a lição que o Altíssimo paralisou até mesmo o grande apóstolo dos gentios, e quanto mais não o fará com qualquer outro líder; de maneira que é Ele quem faz a lâmpada dos Seus ministros brilhar ou apagar, conforme a Sua própria vontade.
Isto nos lembra então o dever que temos de andar humildemente em Sua presença, e Lhe ser gratos pelo privilégio de nos conceder liberdade e autoridade para pregar a Sua Palavra.
Paulo foi fiel ao Senhor até à sua morte, e apesar do livro de Atos não se encerrar contando tudo o que lhe havia sucedido depois de sua prisão em Roma, no entanto, temos aqui o registro da fidelidade de um ministro que continuou dando testemunho de Cristo, debaixo das circunstâncias mais adversas.
Grandes tentações devem ter-lhe sobrevindo na prisão especialmente quanto à paciência que deveria ter em estar isolado, enquanto a obra de evangelização prosseguia debaixo da ministração de outros.
O Senhor lhe havia falado da importância do seu testemunho perante governadores e reis, e que importava fazê-lo em Roma, e este era todo o seu consolo, de saber afinal, que ainda que preso, era útil ao Seu Mestre, quanto ao cumprimento dos propósitos que Ele havia determinado para a sua vida.
Deste modo não importa o que soframos, mas sabermos que estamos sendo úteis à causa do evangelho, pelo uso que o Senhor possa fazer dos nossos sofrimentos.
A cruz nos fará lembrar da nossa própria insuficiência e incapacidade para a realização de tal obra espiritual, e nos manterá na posição em que devemos sempre ser achados, a saber, de humildade e de dependência total do Senhor.
Que Ele possa nos ajudar em nossos empreendimentos ao mesmo tempo que nos lembre sempre, tal como fizera com Paulo, que somos servos inúteis, vasos de barro, e que a excelência do poder que em nós opera, não é propriamente nossa, mas do Espírito Santo.
Estava chegando o momento de Paulo ir para Roma, porque pelas circunstâncias que estaria vivendo, teria que apelar para ser julgado pelo próprio imperador, conforme lhe garantia o seu direito de cidadão romano; porque este Festo, que havia substituído Félix, não era melhor governante do que o seu antecessor, como podemos ver neste 25º capítulo de Atos.
Ao contrário, numa tentativa de limpar suas mãos, havia planejado conduzir Paulo a ser julgado num tribunal em Jerusalém, sob seus acusadores judeus, e certamente sabia que haveria um atentado contra a vida do apóstolo, e vindo a morrer, não teria mais com que se importar com o seu caso, e cairia no agrado dos judeus.
Percebendo suas intenções, Paulo apelou para ir à presença do imperador em Roma, que para o próprio Festo, não deixava de ser também uma alternativa interessante, politicamente falando, porque não somente daria uma oportunidade ao imperador de se entreter ao julgar o caso de Paulo, como se isentaria de qualquer responsabilidade tanto perante os romanos, tanto quanto os judeus.
É assim que funciona a justiça deste mundo.
Geralmente os que julgam casos em que a opinião pública esteja envolvida, sempre agirão não em conformidade com a reta justiça, mas de acordo com seus próprios interesses, quanto ao que poderão ganhar ou perder com a decisão que tomarem.
O rei Herodes Agripa, que havia substituído no trono ao seu pai, que havia sido morto por um juízo que lhe sobreveio da parte do Senhor, o mesmo que havia mandado matar o apóstolo Tiago, veio a Cesareia em companhia de sua esposa Berenice, para darem a Festo cumprimentos por ter assumido o cargo de governador romano tanto da Judeia, quanto de Cesareia.
Festo aproveitou a oportunidade para dividir indiretamente com Agripa, a responsabilidade pelo caso de Paulo, porque lhe pediu que ouvisse e interrogasse o apóstolo, para que obtivesse argumentos para escrever ao Imperador, quando lhe enviasse Paulo para ser julgado em Roma.                      
Seria aberta uma oportunidade para se dar um testemunho mais preciso do que era o Cristianismo ao rei Agripa, mas de nenhum modo se comprometeria em libertar Paulo, até mesmo porque estaria impedido de fazê-lo segundo a lei romana, uma vez que já havia apelado para a corte romana, e nenhum outro tribunal inferior poderia julgar o seu caso.
Mas como é comum entre as autoridades usarem de sagacidade, Agripa certamente não deixou de perceber as reais intenções de Festo ao passar o caso para suas mãos quanto ao que deveria ser escrito ao Imperador acerca de Paulo, mas viu também nisto uma oportunidade de se aproximar ainda mais do Imperador, pelo relatório que faria, e provavelmente, daria um parecer não diretamente favorável a Paulo, para não desagradar aos judeus, mas também não colocaria a sua cidadania romana em condição de inferioridade à nacionalidade judaica, e deste modo  pesaria muito bem os termos que usaria na carta de apresentação da causa de Paulo ao imperador, de sorte que este seria julgado como um romano e não como um judeu, ainda que a acusação que pesava contra ele era meramente de cunho religioso, questão à qual os romanos não costumavam dar muita atenção, a não ser que os interesses do império estivessem sendo contrariados.      





“1 Tendo, pois, entrado Festo na província, depois de três dias subiu de Cesareia a Jerusalém.
2 E os principais sacerdotes e os mais eminentes judeus fizeram-lhe queixa contra Paulo e, em detrimento deste,
3 lhe rogavam o favor de o mandar a Jerusalém, armando ciladas para o matarem no caminho.
4 Mas Festo respondeu que Paulo estava detido em Cesareia, e que ele mesmo brevemente partiria para lá.
5 Portanto, disse ele às autoridades dentre vós desçam comigo e, se há nesse homem algum crime, acusem-no.
6 Tendo-se demorado entre eles não mais de oito ou dez dias, desceu a Cesareia; e no dia seguinte, sentando-se no tribunal, mandou trazer Paulo.
7 Tendo ele comparecido, rodearam-no os judeus que haviam descido de Jerusalém, trazendo contra ele muitas e graves acusações, que não podiam provar.
8 Paulo, porém, respondeu em sua defesa: Nem contra a lei dos judeus, nem contra o templo, nem contra César, tenho pecado em coisa alguma.
9 Todavia Festo, querendo agradar aos judeus, respondendo a Paulo, disse: Queres subir a Jerusalém e ali ser julgado perante mim acerca destas coisas?
10 Mas Paulo disse: Estou perante o tribunal de César, onde devo ser julgado; nenhum mal fiz aos judeus, como muito bem sabes.
11 Se, pois, sou malfeitor e tenho cometido alguma coisa digna de morte, não recuso morrer; mas se nada há daquilo de que estes me acusam, ninguém me pode entregar a eles; apelo para César.
12 Então Festo, tendo falado com o conselho, respondeu: Apelaste para César; para César irás.
13 Passados alguns dias, o rei Agripa e Berenice vieram a Cesareia em visita de saudação a Festo.
14 E, como se demorassem ali muitos dias, Festo expôs ao rei o caso de Paulo, dizendo: Há aqui certo homem que foi deixado preso por Félix,
15 a respeito do qual, quando estive em Jerusalém, os principais sacerdotes e os anciãos dos judeus me fizeram queixas, pedindo sentença contra ele;
16 aos quais respondi que não é costume dos romanos condenar homem algum sem que o acusado tenha presentes os seus acusadores e possa defender-se da acusação.
17 Quando então eles se haviam reunido aqui, sem me demorar, no dia seguinte sentei-me no tribunal e mandei trazer o homem;
18 contra o qual os acusadores, levantando-se, não apresentaram acusação alguma das coisas perversas que eu suspeitava;
19 tinham, porém, contra ele algumas questões acerca da sua religião e de um tal Jesus defunto, que Paulo afirmava estar vivo.
20 E, estando eu perplexo quanto ao modo de investigar estas coisas, perguntei se não queria ir a Jerusalém e ali ser julgado no tocante às mesmas.
21 Mas apelando Paulo para que fosse reservado ao julgamento do imperador, mandei que fosse detido até que o enviasse a César.
22 Então Agripa disse a Festo: Eu bem quisera ouvir esse homem. Respondeu-lhe ele: Amanhã o ouvirás.
23 No dia seguinte vindo Agripa e Berenice, com muito aparato, entraram no auditório com os chefes militares e homens principais da cidade; então, por ordem de Festo, Paulo foi trazido.
24 Disse Festo: Rei Agripa e vós todos que estais presentes conosco, vedes este homem por causa de quem toda a multidão dos judeus, tanto em Jerusalém como aqui, recorreu a mim, clamando que não convinha que ele vivesse mais.
25 Eu, porém, achei que ele não havia praticado coisa alguma digna de morte; mas havendo ele apelado para o imperador, resolvi remeter-lho.
26 Do qual não tenho coisa certa que escreva a meu senhor, e por isso perante vós o trouxe, principalmente perante ti, ó rei Agripa, para que, depois de feito o interrogatório, tenha eu alguma coisa que escrever.


27 Porque não me parece razoável enviar um preso, e não notificar as acusações que há contra ele.” (Atos 25.1-27)






Atos 26

Das Trevas Para a Luz – Atos 26

Conforme comentamos no capítulo anterior (25) de Atos, convinha ao rei Agripa obter de Paulo um relato minucioso da razão pela qual estava sendo tão furiosamente perseguido pelos judeus, para que pudesse dar os argumentos necessários a Festo para que escrevesse a César.
Ele seria então todo ouvido, e não agiria como um Tértulo, ou um dos sacerdotes de Jerusalém.
Isto abriu oportunidade para que Paulo fizesse uma exposição em ordem, não somente do conteúdo central do evangelho que pregava, como também para demonstrar diante da excelência de tão grande revelação de Deus das coisas relativas a Cristo, que constavam nos profetas, da insanidade de perseguir tal causa, conforme ele próprio havia feito no passado, por ignorância, quando era um fariseu zeloso que saiu por toda parte perseguindo e consentindo na morte dos cristãos.
Paulo falou com tal propriedade, como vemos nestes 26º capitulo de Atos, que deixou de modo tão claro que a verdade não estava no procedimento dos judeus, senão no dos cristãos, ao que Festo interrompeu a sua defesa em alta voz dizendo que estava louco, e que estava falando daquela forma porque as muitas letras o faziam delirar.
Mas o apóstolo retrucou com brandura, mostrando que a sua fala não era o modo próprio de quem está de fato louco, e disse-lhe que não estava delirando, mas falando palavras verdadeiras e de perfeito juízo, porque para ele, Festo, seria de fato difícil entender questões relacionadas à Lei e aos profetas de Israel, porque era romano, mas tal não era o caso do rei Agripa, que conhecia os costumes dos judeus e estava inteirado do que afirmavam os profetas nas Escrituras.
Negar o que Paulo lhe dissera, seria negar que cria nos profetas, e ele não o faria para não desagradar os judeus.
Por isso, hábil e diretamente Paulo lhe perguntou se o rei cria nos profetas, e se apressou em responder que sabia que ele cria.  
Diante da afirmação de Paulo Agripa lhe disse que por pouco quase o persuadiu a fazer-se cristão.
Paulo sabia que ninguém se faz cristão por se deixar persuadir por quem quer que seja, senão por se arrepender de seus pecados e entregar-se a Cristo, por ser atraído pelo Espírito Santo, mas não deixou de lhe dar a devida resposta, dizendo que lhe agradaria caso fosse do propósito de Deus que não somente, ele o rei, e todos quantos o ouviam, naquele dia, fossem cristãos como ele, exceto quanto ao fato de estar preso.
Qualquer pessoa pode vir a Cristo, por pouco ou por muito que se tenha deixado persuadir, não pelos homens, mas pela verdade do evangelho.
Na verdade não é por se estar perto do reino dos céus que se entra nele, nem por se estar longe, mas por se converter verdadeiramente ao Senhor.
Não é nenhuma posição privilegiada que tenhamos neste mundo, como a de um rei, que poderá garantir que estaremos debaixo do favor eterno de Deus, assim como nenhuma circunstância difícil na qual tenhamos que viver, pode ser a expressão de que estamos desprovidos do Seu favor, tal como estava sendo o caso de Paulo, que era uma plena prova contrária a esta última afirmação.      
Por isso disse com ousadia que as suas cadeias não eram nenhuma prova de que a condição em que se encontrava era uma prova de ser um miserável e desfavorecido aos olhos de Deus.
Paulo não estava sofrendo nenhum castigo da parte de Deus naquilo que estava sofrendo, senão continuando a ser obediente à visão celestial, conforme fora desde a sua conversão, porque foi o próprio Cristo que lhe apareceu e lhe ordenou que desse testemunho do evangelho diante dos governadores e reis, tanto em Jerusalém, quanto em Roma.
Ele estava sofrendo por fazer a vontade do Seu Senhor.
A missão de um cristão, principalmente de um ministro do evangelho está bem definida nas palavras de Cristo quando comissionou a Paulo, que encontramos nos versos 15 a 18 deste capitulo.
Então é por ser santificado pela fé em Cristo que uma pessoa é salva, porque é assim que se converte do poder de Satanás a Deus, e que se recebe remissão de pecados e herança juntamente com todos os santos.
Certamente, pelo que disse Agripa, não lhe interessava pagar o preço para ter uma tal coroa eterna, e viveria para manter a sua coroa terrena passageira.
No entanto, Agripa não deixou de reconhecer, bem como todos os que se encontravam na audiência que tivera com Paulo, a inocência do apóstolo, e que de fato nada havia feito digno de morte ou prisão.




“1 Depois Agripa disse a Paulo: É-te permitido fazer a tua defesa. Então Paulo, estendendo a mão, começou a sua defesa:
2 Sinto-me feliz, ó rei Agripa, em poder defender-me hoje perante ti de todas as coisas de que sou acusado pelos judeus;
3 mormente porque és versado em todos os costumes e questões que há entre os judeus; pelo que te rogo que me ouças com paciência.
4 A minha vida, pois, desde a mocidade, o que tem sido sempre entre o meu povo e em Jerusalém, sabem-na todos os judeus,
5 pois me conhecem desde o princípio e, se quiserem, podem dar testemunho de que, conforme a mais severa seita da nossa religião, vivi fariseu.
6 E agora estou aqui para ser julgado por causa da esperança da promessa feita por Deus a nossos pais,
7 a qual as nossas doze tribos, servindo a Deus fervorosamente noite e dia, esperam alcançar; é por causa desta esperança, ó rei, que eu sou acusado pelos judeus.
8 Por que é que se julga entre vós incrível que Deus ressuscite os mortos?
9 Eu, na verdade, cuidara que devia praticar muitas coisas contra o nome de Jesus, o nazareno;
10 o que, com efeito, fiz em Jerusalém. Pois havendo recebido autoridade dos principais dos sacerdotes, não somente encerrei muitos dos santos em prisões, como também dei o meu voto contra eles quando os matavam.
11 E, castigando-os muitas vezes por todas as sinagogas, obrigava-os a blasfemar; e enfurecido cada vez mais contra eles, perseguia-os até nas cidades estrangeiras.
12 Indo com este encargo a Damasco, munido de poder e comissão dos principais sacerdotes,
13 ao meio-dia, ó rei vi no caminho uma luz do céu, que excedia o esplendor do sol, resplandecendo em torno de mim e dos que iam comigo.
14 E, caindo nós todos por terra, ouvi uma voz que me dizia em língua hebraica: Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões.
15 Disse eu: Quem és, Senhor? Respondeu o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues;
16 mas levanta-te e põe-te em pé; pois para isto te apareci, para te fazer ministro e testemunha tanto das coisas em que me tens visto como daquelas em que te hei de aparecer;
17 livrando-te deste povo e dos gentios, aos quais te envio,
18 para lhes abrir os olhos a fim de que se convertam das trevas à luz, e do poder de Satanás a Deus, para que recebam remissão de pecados e herança entre aqueles que são santificados pela fé em mim.
19 Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial,
20 antes anunciei primeiramente aos que estão em Damasco, e depois em Jerusalém, e por toda a terra da Judeia e também aos gentios, que se arrependessem e se convertessem a Deus, praticando obras dignas de arrependimento.
21 Por causa disto os judeus me prenderam no templo e procuravam matar-me.
22 Tendo, pois, alcançado socorro da parte de Deus, ainda até o dia de hoje permaneço, dando testemunho tanto a pequenos como a grandes, não dizendo nada senão o que os profetas e Moisés disseram que devia acontecer;
23 isto é, como o Cristo devia padecer, e como seria ele o primeiro que, pela ressurreição dos mortos, devia anunciar a luz a este povo e também aos gentios.
24 Fazendo ele deste modo a sua defesa, disse Festo em alta voz: Estás louco, Paulo; as muitas letras te fazem delirar.
25 Mas Paulo disse: Não deliro, ó excelentíssimo Festo, antes digo palavras de verdade e de perfeito juízo.
26 Porque o rei, diante de quem falo com liberdade, sabe destas coisas, pois não creio que nada disto lhe é oculto; porque isto não se fez em qualquer canto.
27 Crês tu nos profetas, ó rei Agripa? Sei que crês.
28 Disse Agripa a Paulo: Por pouco me persuades a fazer-me cristão.
29 Respondeu Paulo: Prouvera a Deus que, ou por pouco ou por muito, não somente tu, mas também todos quantos hoje me ouvem, se tornassem tais qual eu sou, menos estas cadeias.
30 E levantou-se o rei, e o governador, e Berenice, e os que com eles estavam sentados,
31 e retirando-se falavam uns com os outros, dizendo: Este homem não fez nada digno de morte ou prisão.
32 Então Agripa disse a Festo: Este homem bem podia ser solto, se não tivesse apelado para César.” (Atos 26.1-31)








Atos 27

O Deus que Tudo Governa – Atos 27

Importava que Paulo desse testemunho perante César, em Roma, conforme estava determinado pelo Senhor Jesus Cristo, então nós temos neste 27º  capítulo de Atos, o registro que nenhuma circunstância adversa poderia impedir tal propósito de Deus.
Primeiro nós vemos Paulo caindo no agrado do centurião, chamado Júlio, que comandaria a escolta de soldados que levaria outros presos juntamente com Paulo, de Cesareia para Roma.
Aristarco, da Igreja de Tessalônica, fez questão de acompanhar Paulo naquela viagem, como se prisioneiro fosse com ele.
O Senhor sempre providencia consolação através de seus servos, quando nos chama a passar por alguma provação difícil, tal como fizera com Aristarco em relação ao Paulo (v.2; Col 4.10).
O centurião Júlio também tratou Paulo com bondade e lhe permitiu ir ver seus irmãos e receber deles os cuidados necessários, quando o navio aportou em Sidom (At 27.3).
Não seria simplesmente pela bondade do centurião para com Paulo que a sua vida foi poupada, bem como a de todos os demais tripulantes, conforme veremos adiante, mas porque importava que Paulo desse testemunho de Cristo em Roma.
Sucede o mesmo aos que têm uma comissão específica recebida da parte do Senhor, para que  seja cumprida por eles, porque não poderão ser detidos nem mesmo pela morte até que a tenham cumprido.
Na Lícia, os prisioneiros, a escolta e o centurião tiveram que mudar de navio, embarcando num navio que navegava de Alexandria para a Itália.
Eles tiveram que navegar vagarosamente por muitos dias, por causa dos ventos contrários, e foi com muita dificuldade que chegaram à altura da ilha de Creta, e conseguiram aportar num lugar chamado Bons Portos.
Como importava que Paulo chegasse em Roma, este teve uma revelação de que deveriam aguardar por algum tempo e não prosseguirem em viagem, porque haveria muitas perdas para a tripulação, para a carga e para o navio.
No entanto, o centurião preferiu dar ouvidos ao piloto e ao dono do navio e prosseguiram viagem.
Veja que Deus, em Sua providência, pretendia conduzir em plena segurança toda aquela gente para Roma, porque Paulo estava no navio.
Mas como o centurião não deu ouvido a Paulo, o Senhor mostraria que é poderoso para livrar sem tempestade ou com tempestade, e que nada e ninguém pode frustrar o Seu propósito.
Eles decidiram então aportar em Creta, até passar o inverno, e quando pensavam que haviam atingido o seu objetivo, foram atingidos por um tufão chamado euro-aquilão, que arrebatou o navio não permitindo que aportassem, e tal era a força do tufão, que eles tiveram que se deixar conduzir sem rumo pelo vento mar adentro, e de tal sorte era violenta a tempestade que tiveram que jogar a carga ao mar, e três dias depois tiveram que também lançar fora os aparelhos do navio.
Por muitos dias o mau tempo fechou o céu de tal forma, que não se podia nem ver o sol, nem as estrelas, de maneira que não poderiam se orientar quanto ao rumo que estavam seguindo, de modo que a todos fugiu afinal a esperança de serem salvos.
Mas uma anjo do Senhor apareceu a Paulo depois de estarem todos eles muito tempo sem comer, por terem perdido a esperança, mas tendo a revelação do anjo, Paulo se colocou em pé no meio deles e lhes disse que importava tê-lo ouvido, não partindo de Creta, porque teriam evitado todo aquele mal, mas que Deus salvaria não somente a ele, Paulo, mas toda a tripulação, e assim, deveriam ter bom ânimo, porque somente o navio se perderia; e eles dariam em alguma ilha, porque Deus disse através do anjo que importava que ele, Paulo comparecesse perante César, e assim havia dado por causa dele, que fossem salvas as vidas de todos os que se encontravam com ele no navio.
Paulo tornou a lhes exortar a que tivessem bom ânimo, porque cria em Deus que haveria de suceder assim como lhe havia sido dito.
Quatorze dias haviam se passado e eles ainda estavam sendo impelidos pela tempestade, e finalmente acharam terra firme para ancorarem o navio, mas tal era a violência do mar, que mesmo aqueles que tentassem fugir de bote seriam tragados pelas águas e morreriam, e o centurião dissuadiu alguns que tentaram fazê-lo, porque ouvira desta vez a Paulo, e para evitarem qualquer outra tentativa soltaram o bote.
Quando amanheceu, Paulo rogou a todos que se alimentassem, porque estavam enfraquecidos pelo jejum forçado daqueles quatorze dias, e continuou lhes rogando que comessem porque tinha certeza que nem um cabelo cairia da cabeça de qualquer um deles, em razão da promessa que Deus havia feito.
Como José na prisão do Egito, Paulo havia passado da condição de prisioneiro humilhado, para a de comandante das ações entre todos os que se encontravam com ele.
Havia 276 pessoas no navio, que ao verem Paulo começar a comer, também cobraram ânimo e passaram a se alimentar também. E depois disto lançaram o resto da carga de trigo ao mar.
Quando viram uma enseada com uma praia lançaram as âncoras ao mar, mas como estavam num lugar onde duas correntes se encontravam, o navio ficou encalhado pela proa, mas a popa estava sendo desfeita pela força das ondas.
Os soldados queriam matar os presos para que nenhum escapasse a nado, mas como o centurião queria salvar Paulo, não lhes permitiu a realização de tal intento, mas nós bem sabemos qual era a Mão que estava impedindo aquilo, e assim se lançaram ao mar e nadaram ou se agarraram a destroços do navio, e todos chegaram à terra salvos.



“1 E, como se determinou que navegássemos para a Itália, entregaram Paulo e alguns outros presos a um centurião por nome Júlio, da corte augusta.
2 E, embarcando em um navio de Adramítio, que estava prestes a navegar em demanda dos portos pela costa da Ásia, fizemo-nos ao mar, estando conosco Aristarco, macedônio de Tessalônica.
3 No dia seguinte chegamos a Sidom, e Júlio, tratando Paulo com bondade, permitiu-lhe ir ver os amigos e receber deles os cuidados necessários.
4 Partindo dali, fomos navegando a sotavento de Chipre, porque os ventos eram contrários.
5 Tendo atravessado o mar ao longo da Cilícia e Panfília, chegamos a Mirra, na Lícia.
6 Ali o centurião achou um navio de Alexandria que navegava para a Itália, e nos fez embarcar nele.
7 Navegando vagarosamente por muitos dias, e havendo chegado com dificuldade defronte de Cnido, não nos permitindo o vento ir mais adiante, navegamos a sotavento de Creta, à altura de Salmone;
8 e, costeando-a com dificuldade, chegamos a um lugar chamado Bons Portos, perto do qual estava a cidade de Laseia.
9 Havendo decorrido muito tempo e tendo-se tornado perigosa a navegação, porque já havia passado o jejum, Paulo os advertia,
10 dizendo-lhes: Senhores, vejo que a viagem vai ser com avaria e muita perda não só para a carga e o navio, mas também para as nossas vidas.
11 Mas o centurião dava mais crédito ao piloto e ao dono do navio do que às coisas que Paulo dizia.
12 E não sendo o porto muito próprio para invernar, os mais deles foram de parecer que daí se fizessem ao mar para ver se de algum modo podiam chegar a Fênice, um porto de Creta que olha para o nordeste e para o sudeste, para ali invernar.
13 Soprando brandamente o vento sul, e supondo eles terem alcançado o que desejavam, levantaram ferro e iam costeando Creta bem de perto.
14 Mas não muito depois desencadeou-se do lado da ilha um tufão de vento chamado euro-aquilão;
15 e, sendo arrebatado o navio e não podendo navegar contra o vento, cedemos à sua força e nos deixávamos levar.
16 Correndo a sota-vento de uma pequena ilha chamada Cauda, somente a custo pudemos segurar o bote,
17 o qual recolheram, usando então os meios disponíveis para cingir o navio; e, temendo que fossem lançados na Sirte, arriaram os aparelhos e se deixavam levar.
18 Como fôssemos violentamente açoitados pela tempestade, no dia seguinte começaram a alijar a carga ao mar.
19 E ao terceiro dia, com as próprias mãos lançaram os aparelhos do navio.
20 Não aparecendo por muitos dias nem sol nem estrelas, e sendo nós ainda batidos por grande tempestade, fugiu-nos afinal toda a esperança de sermos salvos.
21 Havendo eles estado muito tempo sem comer, Paulo, pondo-se em pé no meio deles, disse: Senhores, devíeis ter-me ouvido e não ter partido de Creta, para evitar esta avaria e perda.
22 E agora vos exorto a que tenhais bom ânimo, pois não se perderá vida alguma entre vós, mas somente o navio.
23 Porque esta noite me apareceu um anjo do Deus de quem eu sou e a quem sirvo,
24 dizendo: Não temas, Paulo, importa que compareças perante César, e eis que Deus te deu todos os que navegam contigo.
25 Portanto, senhores, tende bom ânimo; pois creio em Deus que há de suceder assim como me foi dito.
26 Contudo é necessário irmos dar em alguma ilha.
27 Quando chegou a décima quarta noite, sendo nós ainda impelidos pela tempestade no mar de Ádria, pela meia-noite, suspeitaram os marinheiros a proximidade de terra;
28 e lançando a sonda, acharam vinte braças; passando um pouco mais adiante, e tornando a lançar a sonda, acharam quinze braças.
29 Ora, temendo irmos dar em rochedos, lançaram da popa quatro âncoras, e esperaram ansiosos que amanhecesse.
30 Procurando, entrementes, os marinheiros fugir do navio, e tendo arriado o bote ao mar sob pretexto de irem lançar âncoras pela proa,
31 disse Paulo ao centurião e aos soldados: Se estes não ficarem no navio, não podereis salvar-vos.
32 Então os soldados cortaram os cabos do bote e o deixaram cair.
33 Enquanto amanhecia, Paulo rogava a todos que comessem alguma coisa, dizendo: É já hoje o décimo quarto dia que esperais e permaneceis em jejum, não havendo provado coisa alguma.
34 Rogo-vos, portanto, que comais alguma coisa, porque disso depende a vossa segurança; porque nem um cabelo cairá da cabeça de qualquer de vós.
35 E, havendo dito isto, tomou o pão, deu graças a Deus na presença de todos e, partindo-o começou a comer.
36 Então todos cobraram ânimo e se puseram também a comer.
37 Éramos ao todo no navio duzentas e setenta e seis almas.
38 Depois de saciados com a comida, começaram a aliviar o navio, lançando o trigo no mar.
39 Quando amanheceu, não reconheciam a terra; divisavam, porém, uma enseada com uma praia, e consultavam se poderiam nela encalhar o navio.
40 Soltando as âncoras, deixaram-nas no mar, largando ao mesmo tempo as amarras do leme; e, içando ao vento a vela da proa, dirigiram-se para a praia.
41 Dando, porém, num lugar onde duas correntes se encontravam, encalharam o navio; e a proa, encravando-se, ficou imóvel, mas a popa se desfazia com a força das ondas.
42 Então o parecer dos soldados era que matassem os presos para que nenhum deles fugisse, escapando a nado.
43 Mas o centurião, querendo salvar a Paulo, estorvou-lhes este intento; e mandou que os que pudessem nadar fossem os primeiros a lançar-se ao mar e alcançar a terra;


44 e que os demais se salvassem, uns em tábuas e outros em quaisquer destroços do navio. Assim chegaram todos à terra salvos.” (Atos 27.1-44)








Atos 28

Glórias ao Deus Altíssimo – Atos 28

Nós vemos no 28º capítulo de Atos, que mesmo quando somos livrados pela providência de Deus de algum mal, Satanás continua a nos atacar, conforme pôde se representar figuradamente na víbora que se agarrou à mão de Paulo, quando  desembarcaram na Ilha de Malta, depois de terem escapado do naufrágio.
Mas Paulo sacudiu a mão e se livrou do réptil, e ao que tudo indica deve ter sido picado por aquela cobra venenosa, porque os nativos da ilha ficaram aguardando que ele começasse a inchar e finalmente morrer, mas como nenhum mal lhe sucedera, diziam que ele era um deus, mudando de parecer, porque pensaram antes que a justiça divina não lhe estava deixando viver, porque mal havia escapado de morrer afogado no mar, logo uma víbora veio atacar-lhe.
Um morador da ilha chamado Públio hospedou por três dias a Paulo e a todos os que com ele estavam, e como o seu pai se encontrava enfermo, Paulo impôs-lhe as mãos e ele foi curado.
Quando os demais enfermos da ilha souberam disto vinham ter com Paulo e eram curados; e assim uma porta foi aberta para a pregação do evangelho na ilha de Malta; o que dificilmente teria ocorrido, caso não houvesse aquele naufrágio.
Em demonstração de gratidão, os habitantes de Malta providenciaram tudo o que era necessário para Paulo e os seus, e depois de três meses partiram num navio de Alexandria que invernara na ilha, e que estava seguindo para Roma.
Depois de aportarem três dias em Siracusa, Paulo e sua comitiva partiram e chegaram a Putéoli, onde havia alguns cristãos, com os quais permaneceram hospedados por sete dias, e somente depois disto partiram para Roma, onde foram recebidos pelos cristãos da referida cidade na praça de Ápio e nas Três Vendas, e a chegada deles foi para Paulo um refrigério, por causa dos quais cobrou ânimo e deu graças a Deus, porque haviam vindo voluntariamente ao seu encontro, quando souberam de sua chegada em Roma.
Ele já havia se dirigido a eles por carta (a epístola aos Romanos) quando se encontrava em Corinto, antes de sua partida para Jerusalém, quando foi preso na referida cidade; ocasião em que tinha manifestado o seu grande desejo de visitá-los, só que não sabia que seria naquelas circunstâncias.
Por tudo que Deus fizera através de Paulo, e por perceber que não era de fato nenhum criminoso, senão uma personalidade distinta e santa, o centurião entregou Paulo ao cuidado de um soldado da guarda pretoriana, para ficar numa prisão domiciliar à parte dos demais presos, que foram entregues ao general do exército.
Como lhe foi dada liberdade para receber visitas em sua prisão domiciliar, Paulo convocou depois de três dias os principais dentre os judeus, que viviam em Roma, para lhes fazer uma exposição das coisas que havia sofrido nas mãos dos judeus de outras partes do mundo e de Jerusalém, que lhe haviam entregado nas mãos dos romanos.
Mas aprouve à providência divina, permitir que o navio que Paulo havia embarcado fosse destruído, de maneira que os judeus que o perseguiam já deviam tê-lo dado como morto.
E assim, não se sentiram motivados a incitarem os ânimos contra ele, através dos judeus que viviam em Roma, de forma que estes nada sabiam acerca das perseguições que estavam fazendo ao apóstolo.
Mas, como lhe fora dada a missão de dar testemunho aos gentios, aos judeus, e aos governadores e reis, Paulo não se furtou de pregar o evangelho a estes judeus, em vez de fazer uma aliança com eles para que não fosse mais perseguido.
Entre escapar de perseguições e permanecer fiel ao Senhor ele sempre escolheria esta última opção.
Então marcaram um dia para ouvirem acerca do evangelho, e Paulo por toda um dia, desde a manhã até a noite lhes explicou o reino de Deus, procurando persuadi-los acerca de Jesus pela lei de Moisés e pelos profetas.
Como uns creram nas suas palavras, mas outros as rejeitavam e havendo grande discórdia entre eles, retiraram-se, não sem que antes lhes dissesse o que estava registrado no livro do profeta Isaías acerca daquele comportamento deles, que era o mesmo dos seus antepassados:
“Vai a este povo e dize: Ouvindo, ouvireis, e de maneira nenhuma entendereis; e vendo, vereis, e de maneira nenhuma percebereis. Porque o coração deste povo se endureceu, e com os ouvidos ouviram tardamente, e fecharam os olhos; para que não vejam com os olhos, nem ouçam com os ouvidos, nem entendam com o coração nem se convertam e eu os cure.”  (v. 26, 27).
Como estavam rejeitando o privilégio de serem os primeiros a ouvirem o evangelho, então a salvação seria pregada aos gentios e eles a ouviriam.
Os judeus não voltariam mais a visitar Paulo na casa que alugara, mas muitos o visitavam, e a estes ele pregava o reino de Deus e ensinava as coisas relativas ao Senhor Jesus Cristo, com toda a liberdade e sem impedimento algum, e isto durou por dois anos completos, até a sua audiência junto a César.
Nós vemos Paulo expressando várias vezes nas epístolas que escreveu durante esta sua primeira prisão em Roma (Colossenses, Efésios, Filipenses e Filemom), quanto à certeza de que seria posto em liberdade, e por isso pedia à Igreja que orasse por ele.
A missão de dar testemunho perante César seria cumprida e o Senhor lhe permitira que ainda visitasse algumas Igrejas que havia fundado e quem sabe, ter ido à Espanha pregar o evangelho como era seu propósito, mas sabemos que certamente foi posto em liberdade naquela ocasião pelo que podemos ler das epístolas que escreveu a Tito e a Timóteo (1ª epístola) cujos registros geográficos e históricos não podem ser conciliados à narrativa do livro de Atos, subtendendo-se portanto que tenham sido escritas em data posterior aos fatos narrados neste livro.    




“1 Estando já salvos, soubemos então que a ilha se chamava Malta.
2 Os indígenas usaram conosco de não pouca humanidade; pois acenderam uma fogueira e nos recolheram a todos por causa da chuva que caía, e por causa do frio.
3 Ora havendo Paulo ajuntado e posto sobre o fogo um feixe de gravetos, uma víbora, fugindo do calor, apegou-se-lhe à mão.
4 Quando os indígenas viram o réptil pendente da mão dele, diziam uns aos outros: Certamente este homem é homicida, pois, embora salvo do mar, a Justiça não o deixa viver.
5 Mas ele, sacudindo o réptil no fogo, não sofreu mal nenhum.
6 Eles, porém, esperavam que Paulo viesse a inchar ou a cair morto de repente; mas tendo esperado muito tempo e vendo que nada de anormal lhe sucedia, mudaram de parecer e diziam que era um deus.
7 Ora, nos arredores daquele lugar havia umas terras que pertenciam ao homem principal da ilha, por nome Públio, o qual nos recebeu e hospedou bondosamente por três dias.
8 Aconteceu estar de cama, enfermo de febre e disenteria, o pai de Públio; Paulo foi visitá-lo, e havendo orado, impôs-lhe as mãos, e o curou.
9 Feito isto, vinham também os demais enfermos da ilha, e eram curados;
10 e estes nos distinguiram com muitas honras; e, ao embarcarmos, puseram a bordo as coisas que nos eram necessárias.
11 Passados três meses, partimos em um navio de Alexandria que invernara na ilha, o qual tinha por insígnia Castor e Pólux.
12 E chegando a Siracusa, ficamos ali três dias;
13 donde, costeando, viemos a Régio; e, soprando no dia seguinte o vento sul, chegamos em dois dias a Putéoli,
14 onde, achando alguns irmãos, fomos convidados a ficar com eles sete dias; e depois nos dirigimos a Roma.
15 Ora, os irmãos de lá, havendo recebido notícias nossas, vieram ao nosso encontro até a praça de Ápio e às Três Vendas, e Paulo, quando os viu, deu graças a Deus e cobrou ânimo.
16 Quando chegamos a Roma, o centurião entregou os presos ao general do exército, mas, a Paulo se lhe permitiu morar à parte, com o soldado que o guardava.
17 Passados três dias, ele convocou os principais dentre os judeus; e reunidos eles, disse-lhes: Varões irmãos, não havendo eu feito nada contra o povo, ou contra os ritos paternos, vim contudo preso desde Jerusalém, entregue nas mãos dos romanos;
18 os quais, havendo-me interrogado, queriam soltar-me, por não haver em mim crime algum que merecesse a morte.
19 Mas opondo-se a isso os judeus, vi-me obrigado a apelar para César, não tendo, contudo, nada de que acusar a minha nação.
20 Por esta causa, pois, vos convidei, para vos ver e falar; porque pela esperança de Israel estou preso com esta cadeia.
21 Mas eles lhe disseram: Nem recebemos da Judeia cartas a teu respeito, nem veio aqui irmão algum que contasse ou dissesse mal de ti.
22 No entanto bem quiséramos ouvir de ti o que pensas; porque, quanto a esta seita, notório nos é que em toda parte é impugnada.
23 Havendo-lhe eles marcado um dia, muitos foram ter com ele à sua morada, aos quais desde a manhã até a noite explicava com bom testemunho o reino de Deus e procurava persuadi-los acerca de Jesus, tanto pela lei de Moisés como pelos profetas.
24 Uns criam nas suas palavras, mas outros as rejeitavam.
25 E estando discordes entre si, retiraram-se, havendo Paulo dito esta palavra: Bem falou o Espírito Santo aos vossos pais pelo profeta Isaías,
26 dizendo: Vai a este povo e dize: Ouvindo, ouvireis, e de maneira nenhuma entendereis; e vendo, vereis, e de maneira nenhuma percebereis.
27 Porque o coração deste povo se endureceu, e com os ouvidos ouviram tardamente, e fecharam os olhos; para que não vejam com os olhos, nem ouçam com os ouvidos, nem entendam com o coração nem se convertam e eu os cure.
28 Seja-vos pois notório que esta salvação de Deus é enviada aos gentios, e eles ouvirão.
29 E, havendo ele dito isto, partiram os judeus, tendo entre si grande contenda.
30 E morou dois anos inteiros na casa que alugara, e recebia a todos os que o visitavam,
31 pregando o reino de Deus e ensinando as coisas concernentes ao Senhor Jesus Cristo, com toda a liberdade, sem impedimento algum.” (Atos 28.1-31)


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