sábado, 17 de outubro de 2015

I Coríntios 1 a 16

I Coríntios 1

Unidade de Fé, de Amor, de Doutrina e de Espírito – I Coríntios 1

Deus mesmo havia revelado a Paulo, durante sua segunda viagem missionária, depois de ter fugido de Filipos, Tessalônica e Bereia, para Corinto, que tinha muito povo nesta cidade e ordenou ao apóstolo que permanecesse ali pregando o evangelho (At 18.9,10), e isto propiciou que houvesse inúmeras conversões, inclusive a do judeu chefe da sinagoga, chamado Sóstenes (At 18.17), que é citado pelo apóstolo na saudação inicial desta epístola aos Coríntios, cujo primeiro capítulo estaremos comentando.
Assim, não havia nenhuma dúvida no coração do apóstolo quanto à genuinidade da conversão dos cristãos coríntios, o que se evidenciava na multiplicidade de dons sobrenaturais do Espírito Santo que abundavam naquela igreja.
No entanto, como veremos ao longo de toda esta epístola, estava faltando unidade no Espírito entre eles, porque haviam formado vários partidos.
Eles não haviam feito progresso na sua maturidade espiritual, e isto podia ser explicado em parte, mas não justificado, pelo fato de ser uma Igreja recém fundada.
Dizemos que não pode ser justificado, porque os cristãos de Tessalônica, por exemplo, haviam feito grande progresso na fé, apesar do pouco tempo que tinham de convertidos.
Esta epístola foi escrita quando Paulo se encontrava em Éfeso durante a sua terceira viagem missionária, em torno de 54 d.C., e ele havia fundado a Igreja de Corinto na sua segunda viagem, tendo permanecido um ano e seis meses pregando e ensinando o evangelho naquela igreja  - cerca de 50 a 51 d.C. (At 18.11).
Assim, por ocasião da escrita desta epístola a Igreja de Corinto contava com apenas três ou quatro anos de formação.  
Muitos interpretam erroneamente esta epístola para tentarem desapreciar os dons sobrenaturais do Espírito, e pensam que Paulo escreveu esta epístola para demonstrar que não há valor em ser batizado no Espírito Santo e ser uma Igreja onde o Espírito se manifeste abundantemente em dons sobrenaturais, caso falte maturidade espiritual ou fruto do Espírito na vida.
A carta foi escrita para corrigir o rumo daquela Igreja.
Foi escrita para lhes apontar o caminho que deveriam seguir, sem abandonarem o que haviam recebido de Cristo.
Se o poder do Espírito se manifestava entre eles, não deveriam impedir a manifestação de tal poder, ao contrário, deveriam avançar nisto, abundando mais e mais em dons espirituais, sem no entanto, esquecerem da necessidade e importância de se ter um testemunho de uma real transformação por um aumento crescente na santificação do Espírito, pela separação do pecado, e da vitória sobre o diabo e o mundo.
Paulo iria repreendê-los por viverem de modo carnal, em divisões, mas queria lhes dar antes da repreensão, a certeza de que haviam sido santificados em Cristo, e foram chamados para se santificarem, como todos os demais cristãos de todas as partes do mundo que invocavam o nome de Jesus Cristo (I Cor 1.2).
Eles haviam sido feitos participantes de fato da graça de Deus, que lhes fora dada por meio de Jesus Cristo (I Cor 1.4).
Eles foram enriquecidos pela manifestação da vida de Cristo na Igreja de Corinto, por meio de toda a palavra e de todo o conhecimento relativo ao evangelho (I Cor 1.5, 6).
Assim eram participantes do corpo de Cristo, chamados por Deus para viverem em comunhão eterna com o Senhor, e deste modo, todos os dons do Espírito haviam sido dados a eles pelo Espírito, para o seu aperfeiçoamento espiritual, obra esta que seria certamente realizada por causa da fidelidade de Deus, que lhes chamou para que o testemunho de Jesus fosse confirmado entre eles; de forma que a confirmação deles na fé, pelo amadurecimento espiritual, que seria realizado pelo Espírito, tinha em vista serem achados irrepreensíveis no dia de Jesus Cristo; porque Deus tem ordenado a todos os cristãos que vivam de tal modo, que estejam preparados para o seu encontro com Cristo em Sua segunda vinda.
Esta irrepreensibilidade seria forjada neles por Deus, porque o propósito da nossa conversão a Cristo é o de nos santificar.
Ele se deu por nós, para nos resgatar de toda a iniquidade e nos purificar, para sermos um povo exclusivamente Seu, zeloso de boas obras.
Este propósito se cumpre não somente por sermos batizados no Espírito Santo, mas por andarmos no Espírito, sendo aperfeiçoados espiritualmente em santificação, para que possa existir a necessária unidade dos cristãos na Igreja, de modo que tenham um só sentir e uma verdadeira união espiritual, no Espírito.
Se tivermos somente os dons sobrenaturais extraordinários do Espírito, citados nos capítulos 12 e 14 desta epístola, mas caso nos falte um testemunho verdadeiro de vida em santificação, pela Palavra, tendo sido disciplinados pelo Espírito, em razão da nossa consagração a Deus, não será apenas difícil, mas na verdade, impossível, ver tal unidade na Igreja, e as divisões e contendas serão uma mera consequência da carnalidade que imperar entre os cristãos, tal como estava ocorrendo em Corinto.      
Paulo exortou então, os cristãos daquela Igreja, à unidade e ao amor fraternal, e os reprovou pelas divisões que existiam entre eles, que na verdade, era uma reprovação pela sua falta de empenho em se aplicarem diligentemente na santificação de suas vidas, por uma estrita obediência aos mandamentos de Cristo, porque era esta a verdadeira causa das suas divisões, a saber, o viverem segundo o mundo, segundo a carne, e não segundo o Espírito.
Esta exortação não se aplica somente aos coríntios dos dias de Paulo, mas a todas as igrejas, de todas as épocas, porque é do propósito e vontade de Deus que Seus filhos não vivam em dissensões, mas que sejam unidos num mesmo pensamento e num mesmo parecer, falando a mesma coisa no que se refere aos  Seus propósitos eternos, revelados em Sua Palavra, por colocarem tal Palavra em prática em suas vidas.
As divisões carnais em Corinto chegaram a tal ponto, que uma família daquela Igreja veio ter com uma comitiva à presença de Paulo, quando este se encontrava em Éfeso, para que tomasse providências para mostrar aos cristãos coríntios qual é a maneira que importa os cristãos viverem para a glória de Deus.
Na sua carnalidade, e no seu andar segundo o mundo, haviam perdido a visão da unidade que há em Cristo, e que deve existir em todos os que verdadeiramente Lhe pertencem.
Eles estavam estabelecendo preferências particulares e individuais em acatar e ouvir os ministros do evangelho, aos quais se submeteriam, segundo a sua própria escolha, esquecidos de que todos eles ministram em nome de Cristo, com vistas à edificação da igreja.
Cada um com seu dom e ministério específico, que são necessários ao nosso aperfeiçoamento espiritual.
Necessitamos de pastores, mestres, evangelistas, profetas, de dons de curar, de sabedoria, de discernimento de espíritos, de conhecimento, de profecia, operação de maravilhas, socorros, governos, línguas e todos os dons que aprouve ao Senhor conceder à Igreja, pelo Espírito, para a glória do Seu próprio nome, pelo exercício real e visível destes dons e ministérios.
Então, como poderão os cristãos fazerem progresso espiritual se não reconhecem a necessidade de atuarem como um corpo, na edificação mútua em amor, pelo exercício destes dons e ministérios?
Não há departamentos e divisões em Cristo que podemos escolher a nosso bel prazer para nos dedicarmos a eles, segundo a nossa própria preferência pessoal, porque Ele não está dividido.
Cristo é uma unidade com o Pai, com o Espírito, e com todas as realidades espirituais, que existem nEle, e que Ele deseja forjar em todos os cristãos, para que sejam revestidos da Sua própria plenitude.  
Foi Cristo quem morreu pelos cristãos, e é por isso que são batizados em Seu nome.
Assim todos os serviços, dons e ministérios na Igreja devem apontar somente para Ele, e estarem submissos ao Seu governo, como cabeça da Igreja, pela obediência à ordem que Ele próprio estabeleceu para o funcionamento do Seu corpo, levantando ministérios e concedendo dons diferentes aos cristãos, para que aprendam a se exercitarem em amor, pela dedicação ao exercício dos respectivos ministérios e uso dos respectivos dons, para o benefício de toda a Igreja.
Muitos cristãos pensam erroneamente que estão sujeitos apenas aos ministros que os batizaram.
Como Paulo havia batizado muito poucos cristãos em Corinto, senão a Crispo, Gaio, a família de Estéfanas e não lembrava se havia batizado outros além destes, ninguém poderia afirmar naquela Igreja que havia sido batizado em seu nome, e assim, não seria a ele que teriam que prestar contas no dia do Tribunal de Cristo, senão Àquele no nome de qual todos são batizados, a saber, ao próprio Cristo.
Como o próprio Paulo afirmou que não havia sido enviado por Cristo para batizar, mas para pregar o evangelho, ele deixava este encargo aos cuidados dos pastores locais de cada uma das igrejas que ele vinha fundando, em várias partes do mundo.
O principal encargo dos ministros é o de levantarem como soldados de Cristo, a bandeira do Senhor, e mantê-la bem erguida para que todos possam ouvir o evangelho da graça.
Então, se gloriar no fato de ter sido batizado por este ou por aquele pastor, é prova de carnalidade, isto é, de ser ainda bebê em Cristo, e não um cristão maduro, que tenha as suas faculdades exercitadas pelo Espírito para discernir corretamente a verdade.
Não é algo para se admirar que todo avivamento seja precedido pela pregação do evangelho da cruz.
E que, portanto, o próprio Espírito instrua os cristãos neste sentido, como Paulo estava instruindo aos cristãos de Corinto.
Não se pode esperar por derramamento do Espírito, e se ver a plenitude de Cristo na Igreja, se os cristãos não se dedicarem à consagração de suas vidas, pela prática da Palavra e da oração.
E a prática da Palavra a que nos referimos não é algo generalizado, mas principalmente a obediência ao evangelho da cruz, que nos ordena renunciarmos a tudo por amor a Cristo; a auto negação do ego, a firme determinação de seguir o Senhor e fazer a Sua vontade sob quaisquer circunstâncias, especialmente nas adversidades e perseguições que sofreremos por desejarmos viver piedosamente em Cristo, segundo o Seu evangelho.  
A pregação da cruz põe por terra toda a soberba dos homens em se jactarem em sua própria sabedoria terrena, e nas coisas deste mundo, conforme era muito comum entre os gregos, que se aplicavam sobretudo à especulação filosófica.
Evangelho não é filosofia, nem psicologia, ou sociologia.
Evangelho é a palavra da cruz, que é motivo de escândalo para os judeus, e de loucura para os gentios, mas é, no entanto, a sabedoria de Deus, porque foi pela pregação do evangelho da cruz, que Deus determinou salvar os que creem.
Não há vida eterna em nenhuma outra semente que seja deste mundo (filosofia, ciências aplicadas etc), senão na única semente que é do céu, a saber, o evangelho da cruz.
Se o homem rejeitá-lo por causa da sua própria sabedoria, que o leve a recusar esta verdade, ele será aniquilado juntamente com a sua sabedoria mundana, porque não há outro modo pelo qual os homens possam ser salvos de suas transgressões, e da condição caída de suas almas, por causa do pecado original.
A prova patente desta verdade podia ser vista pelos coríntios e por qualquer cristão de todas as épocas da Igreja, que não são de fato muitos os que são sábios segundo a carne, nem os poderosos e nobres deste mundo que alcançam a salvação, porque a sua rejeição de se submeterem à cruz, por confiarem em sua própria sabedoria e filosofia, lhes impede-lhes de a alcançarem.
Em sua grande maioria a Igreja é constituída portanto, por pessoas de condições diferentes daquelas que  mundo considera nobreza, poder, grandeza, sabedoria, porque a nobreza, poder, grandeza e sabedoria de Deus que se revela no evangelho, nada tem a ver com este mundo.
A chamada do evangelho é para os que se humilham, para os pobres de espírito, para os mansos, para os contritos e quebrantados de coração, para os que têm fome e sede de justiça, para os pacificadores, para os que choram por causa do pecado, e é notório que o mundo não valoriza nenhuma destas virtudes e atitudes.
Por isso, quando a Igreja se desvia do alvo de pregar o bom, genuíno e velho evangelho da cruz, ela se desvia automaticamente do caminho de Deus que conduz à salvação.
Deus não opera por outro caminho, senão exclusivamente pelo único que Ele determinou em Sua soberania; que é o de salvar pela pregação do evangelho, à qual o mundo considera loucura.  
Paulo havia sido criado aos pés de Gamaliel, mas quando pregava a mensagem da cruz de Cristo, ele deixou a sua antiga aprendizagem de lado.
Ele pregou Jesus crucificado, para que os cristãos estivessem juntamente crucificados com Ele, de uma maneira clara , direta, e no poder do Espírito.
Ninguém, pode portanto, afirmar pertencer a Cristo, caso não tenha se arrependido dos seus pecados, porque além de ter crido nEle, é preciso se submeter ao Seu governo e leis.
Toda a filosofia e pregação do mundo pagão não poderia produzir a conversão e edificação de uma só alma na verdade divina, porque isto somente é possível na própria luz do evangelho, que prevalece sobre o mundo pela autoridade de Cristo, em demonstrações do Espírito e de poder, sem que haja qualquer ajuda humana para que Deus possa fazer o Seu trabalho no interior dos corações.
A propósito, há uma tendenciosa prática cultural chamada “evangélica” em nossos dias, que nada tem a ver com o verdadeiro evangelho.
Conquista de fama, bens matérias, status, poder e tudo o mais que o mundo busca, relativamente à criatura, à criação, e não a consagração da vida ao Criador, ao Senhor, e à Sua vontade soberana, para as nossas vidas, que é a santificação.
Assim, as bocas falam e os teclados escrevem não aquilo que procede do coração de Deus, mas do próprio coração humano, não regenerado ou não santificado.  
Os homens podem considerar uma tolice, um absurdo, um escândalo, a idéia de que Deus tenha encarnado num corpo humano e morrido numa cruz para carregar os nossos pecados sobre Si, na pessoa de Seu Filho, mas esta é a pura verdade que se comprova na transformação das vidas daqueles que creem na mensagem da cruz.
Os que estão buscando glória terrena e o louvor dos homens, certamente desprezarão a cruz, porque ela é uma convocação à humilhação e mortificação do nosso ego, e o instrumento que nos leva a nos submetermos à vontade Deus, em obediência voluntária e amorosa de coração.  
Os coríntios estavam deixando se conduzir por suas próprias especulações carnais, e não estavam se submetendo à mensagem da cruz, e esta era a razão de não estarem fazendo progresso espiritual e estarem considerando tudo segundo o homem e a carne, e não segundo Deus.
Daí as divisões e contendas que existiam entre eles, porque fora de Cristo e da cruz, não pode existir verdadeira unidade. Porque a unidade que temos com o Senhor e uns com os outros é unidade espiritual de fé, de amor e de doutrina.
O próprio Cristo em nós é o poder e a sabedoria de Deus, de forma que, se tivermos algum poder ou sabedoria, isto não provém propriamente de nós mesmos, mas o temos recebido do alto pelo Espírito, por causa da nossa comunhão com Cristo.
Daí Paulo ter dito que foi o próprio Jesus que foi feito para os cristãos, da parte de Deus, a sua sabedoria, justiça, santificação e redenção (v. 30), de modo que nenhum cristão se glorie em si mesmo, senão unicamente no Senhor, ao ver existirem e operarem neles todas estas virtudes, porque tudo lhe está concedido pela exclusiva graça e misericórdia de Cristo.
Cuidado portanto com os ministros que se proclamam poderosos, sábios, justos, santificados, abençoados, gloriando-se em si mesmos!
Muito mais do que ter cuidado, devemos nos desviar daqueles que se gloriam na sabedoria deste mundo (v. 19; Is 29.14), porque Deus prometeu aniquilar tal sabedoria, e todos aqueles que se gloriam nela, serão juntamente aniquilados no porvir, por terem confiado nela, e não na verdadeira sabedoria de Deus para o mundo que é Cristo crucificado, para nos remir dos nossos pecados.
O evangelho da cruz é portanto, o instrumento de aniquilação de toda a sabedoria mundana, que seja especulativa quanto à salvação.
Porque a simplicidade do evangelho e a humilhação que ele requer são rejeitadas pelos sábios segundo o mundo, que podem ser encontrados até mesmo dentro da Igreja, tal como em Corinto.
Eles pensam que é preciso algo mais elaborado, mais sofisticado, mais profundo (segundo os  homens) para a salvação ou para o bom funcionamento da Igreja.
Lembremos que não foi aos grandes sábios segundo o  mundo que Deus confiou o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo, mas aos pobres, aos humildes, aos mansos, aos quebrantados de coração.
Não nos deixemos iludir pela aparência do que seja grande e sofisticado aos olhos dos homens, ao contrário, estejamos sempre vigilantes e desconfiemos de tudo aquilo que não se conforme à simplicidade do evangelho da cruz, de forma que nós mesmos não sejamos separados da simplicidade e da pureza que há em Cristo, pela corrupção de nossas mentes, que em vez de serem renovadas pela verdade, serão desviadas da mesma, por darmos crédito àquilo que é fruto da própria imaginação humana (II Cor 11.3).
Lembremos que não são filósofos, estadistas, milionários e poderosos do mundo que ocupam os púlpitos da imensa maioria das verdadeiras Igrejas de Cristo.
Então isto significa que o poder e sabedoria do evangelho não dependem e nada têm a ver de fato com a sabedoria deste mundo, porque a verdade do evangelho não é uma verdade que pertence ao mundo, mas uma revelação que nos veio do céu.
As coisas seculares nada têm a ver com as que são espirituais, celestiais, divinas e eternas.
Se aplicarmos o que é secular na Igreja o resultado será cristãos carnais, porque ficarão privados do único alimento que lhes pode dar crescimento na graça e no conhecimento de Cristo, que é a verdade do evangelho, tal como se encontra registrado na Bíblia.





“1 Paulo (chamado apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus), e o irmão Sóstenes,
2 À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados santos, com todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso:
3 Graça e paz da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.
4 Sempre dou graças ao meu Deus por vós pela graça de Deus que vos foi dada em Jesus Cristo.
5 Porque em tudo fostes enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o conhecimento
6 (Como o testemunho de Cristo foi mesmo confirmado entre vós).
7 De maneira que nenhum dom vos falta, esperando a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo,
8 O qual vos confirmará também até ao fim, para serdes irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo.
9 Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor.”.
10 Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer.
11 Porque a respeito de vós, irmãos meus, me foi comunicado pelos da família de Cloé que há contendas entre vós.
12 Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo.
13 Está Cristo dividido? foi Paulo crucificado por vós? ou fostes vós batizados em nome de Paulo?
14 Dou graças a Deus, porque a nenhum de vós batizei, senão a Crispo e a Gaio,
15 Para que ninguém diga que fostes batizados em meu nome.
16 E batizei também a família de Estéfanas; além destes, não sei se batizei algum outro.
17 Porque Cristo enviou-me, não para batizar, mas para evangelizar; não em sabedoria de palavras, para que a cruz de Cristo se não faça vã.
18 Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.
19 Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, E aniquilarei a inteligência dos inteligentes.
20 Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo?
21 Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os cristãos pela loucura da pregação.
22 Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria;
23 Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos.
24 Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus.
25 Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.
26 Porque, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados.
27 Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes;
28 E Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são;
29 Para que nenhuma carne se glorie perante ele.
30 Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção;
31 Para que, como está escrito: Aquele que se gloria glorie-se no Senhor.”. (I Coríntios 1.1-31)




I Coríntios 2

A SABEDORIA TERRENA E A CELESTIAL – I Coríntios 2

Os cristãos coríntios não tinham motivo de estarem se jactando em exporem sabedoria secular filosófica deste mundo na Igreja, uma vez que haviam sido ganhos para Cristo, por meio da Palavra do evangelho, que lhes fora pregada por Paulo, no poder do Espírito.
O próprio evangelho que ele lhes havia pregado, não consistiu em palavras sublimes ou de qualquer tipo de sabedoria terrena, senão a relativa a Cristo e à cruz, conforme podemos vê-la na exposição que ele fez do evangelho que pregava, na epístola aos Romanos.
Não foi também baseado em qualquer poder de sua própria natureza terrena que lhes havia pregado, porque estivera entre eles em fraqueza, temor e grande tremor.
Então, o poder que se manifestou através dele não era propriamente seu, mas do Espírito Santo.
Portanto, a fé dos cristãos coríntios não deveria estar apoiada em sabedoria humana, mas no poder de Deus.
O apóstolo apoiou este seu testemunho no fato de que a sabedoria da qual ele falava entre os cristãos aperfeiçoados (amadurecidos), não era a sabedoria deste mundo, nem a dos poderosos do mundo, porque este tipo de sabedoria será aniquilada, por ocasião da volta de Cristo, quando o mundo não mais será governado pelos princípios da política, que conduz governantes ao poder.
A sabedoria do evangelho estava oculta em mistério, porque não é deste mundo, mas uma revelação do céu; que tem por fim a glorificação dos cristãos, que são as coisas fracas e humildes, que Deus escolheu para confundir e aniquilar as que são fortes e sábias segundo o mundo.
Deste modo, as pessoas que o mundo considera as principais em posição na sociedade, não chegam a conhecer em sua grande maioria a sabedoria de Deus, que é Cristo, e este crucificado, porque não podem entender o mistério da cruz, e da associação dos cristãos com a morte e ressurreição de Jesus.
Caso Pilatos, Herodes, os principais sacerdotes, escribas e fariseus de Israel conhecessem o mistério de Cristo, não teriam crucificado ao Senhor da glória, porque teriam reconhecido o Seu Senhorio e Divindade.
Eles teriam se curvado a Ele, tal como haviam feito os três reis magos, e se converteriam do pecado para Deus, através da fé em Cristo e obediência à Sua Palavra.
Mas, para os que se consideram elevados a seus próprios olhos, os mandamentos de Cristo são uma grande humilhação, à qual jamais pretenderão se submeter, em razão do orgulho que domina os seus corações, e o amor à iniquidade e ao pecado, do que não pretenderão se arrepender.
Caso algum deles venha a se converter, não estarão fazendo nenhum favor a Deus, e nem merecem uma posição de destaque na Igreja por conta da elevada posição que ocupam no mundo, porque em Cristo, são como todos os demais cristãos, simples pecadores que foram remidos pelo Seu sangue derramado na cruz.
Por isso Paulo não quis saber de nenhum outro assunto que invadisse e fosse estranho à mensagem do evangelho, quando pregou aos coríntios; e deveriam manter o padrão das sãs palavras, que haviam recebido, e o modo de pregá-las, a saber, no poder do Espírito.
Além disso, deveriam ordenar o seu caminhar, em conformidade com as coisas que haviam aprendido, especialmente aquelas que se referem ao modo como os cristãos devem se comportar na Igreja, que é a casa de Deus.
A missão dos ministros do evangelho é a de levantarem bem alto, a bandeira da cruz, convidando as pessoas a estarem debaixo de tal estandarte.
Não é função dos ministros de Cristo exporem o evangelho como grandes oradores, ou como filósofos profundos, nem qualquer forma de habilidade ou ciência deste mundo, senão o mistério da cruz, por cuja pregação os homens são salvos e santificados.
Paulo não era de fato alguém que procurava se ostentar diante dos outros pela exibição de uma grande eloquência, tanto que alguns coríntios rebeldes se referiam a ele como sendo de presença corporal fraca e de fala desprezível (II Cor 10.10).
No entanto, foi este vaso fraco que Deus usou com poder, para a salvação deles.
Não pretendamos portanto ser notáveis, e aplaudidos pelos nossos dons, mas rebaixemo-nos o mais possível em humildade em nossa pregação, de maneira que somente Cristo possa ser visto, e não propriamente nós.
Este é o segredo do verdadeiro poder espiritual.
Quanto mais aparecermos, menos Cristo será visto.
Importa que Ele apareça às pessoas para salvá-las; mas isto não poderá acontecer, caso o que elas vejam seja apenas a nossa presença, e ouçam as nossas próprias palavras, e não a Cristo e a Sua voz, pelo Espírito, enquanto lhes ministramos.
Se Paulo lhes havia dado este grande exemplo de muita modéstia e humildade, como os coríntios poderiam estar se aplicando a um outro modo de viver e pregar o evangelho, se gloriando em si mesmos e na sabedoria que é humana?
  Foi portanto com fraqueza, temor e grande tremor que estivera pregando o evangelho a eles, porque sabia que estava encarregado, não para apresentar e recomendar a si mesmo aos coríntios, mas o Seu Senhor e Mestre.
Paulo sabia que o Espírito lhe havia capacitado com muitos dons para pregar o evangelho aos gentios, mas estava muito consciente da sua completa insuficiência de fazer por si mesmo, pelo seu próprio poder e sabedoria, a obra do Senhor.
Sabia que tudo o que tinha, havia recebido do Espírito, e era mantido por exercício e diligência, e caso julgasse estar de pé por si mesmo, viria a cair de todos os dons e graças que havia recebido gratuitamente.
Por isso ele pregou a doutrina tal como o Espírito lha havia entregado, e se regozijava no fato de que o Espírito confirmasse a Palavra pregada, operando sinais e prodígios, especialmente nos corações dos ouvintes.
Afinal, foi para este propósito mencionado que Cristo havia sido crucificado, de modo que a fé deles nunca deveria se basear na sabedoria dos homens, mas unicamente no poder de Deus, que é o único que pode de fato regenerar e santificar as nossas vidas.                                          
Além disso, quem pode dizer quais foram as coisas espirituais e celestiais que Deus preparou para os que O amam, as quais não podem ser conhecidas pelo olho, pelo ouvido ou pelo coração carnal do homem?
No entanto, estas coisas podem ser reveladas pelo Espírito, porque somente Ele pode penetrar todas as coisas, como as próprias profundezas de Deus.
Nenhum homem tem esta capacidade e poder.
O homem pode conhecer apenas, e assim mesmo em parte, as coisas deste mundo e aquelas que constituem a sua natureza terrena.
Mas nada pode saber das coisas espirituais, celestiais e divinas a não ser por uma iluminação direta do Espírito ao seu espírito.
Como os cristãos receberam a habitação do Espírito Santo na conversão, não devem se deixar governar pelo espírito do mundo, mas pelo Espírito de Deus.
Se não tivéssemos o Espírito Santo, nós não poderíamos conhecer as coisas que temos recebido, gratuitamente, da parte de Deus, por meio de Cristo Jesus (v. 12).
Estas coisas que temos recebido gratuitamente devem ser pregadas e ensinadas, com as palavras que o Espírito Santo nos ensina, e não com palavras de sabedoria humana.
Porque o homem natural, não nascido do Espírito, não pode compreender as coisas do Espírito, porque lhe parecem sem sentido, uma vez que podem ser discernidas somente espiritualmente.
Daí a nossa necessidade de renovar a nossa mente, segundo a mente de Cristo, pelo trabalho gradual e progressivo do Espírito Santo, mediante aplicação da Palavra de Deus às nossas vidas, para que possamos discernir bem todas coisas, sendo transformados em cristãos espirituais, conforme é a da vontade do Senhor.
Somente cristãos  espirituais, maduros em Cristo podem discernir as coisas profundas do Espírito, porque são discernidas espiritualmente, por quem tem maturidade espiritual suficiente para discerni-las (I Cor 2.10-13, 15,16).
Então somente cristãos espirituais podem discernir os propósitos de Deus, especialmente os relativos à execução da Sua obra, e o homem natural e o cristão carnal não podem entendê-los, por mais que o cristão espiritual se esforce para lhes explicar tais propósitos com meras palavras, porque é preciso ter iluminação do Espírito Santo, para poder entendê-los.
Não é com o intelecto natural, que se compreende coisas espirituais.
O intelecto natural pode examinar apenas as coisas da esfera natural, e tentará subjugar e reduzir as coisas elevadas espirituais às coisas naturais aqui debaixo, por uma interpretação carnal e natural e não segundo a verdade espiritual, relativa à mente de Deus.
 Lembremos que é somente nos cristãos espirituais que as coisas da alma estão separadas do espírito, pela Palavra de Cristo, que neles habita ricamente.
Eles podem entender em que extensão as verdades da Palavra de Deus são espírito e vida.
Eles podem compreender o espírito que há na Palavra, por este discernimento espiritual, que lhes é dado pelo Espírito.
E esta condição alcançaram aprendendo a renunciar às coisas que pertencem à alma, e mortificando o ego carnal, em plena consagração a Cristo, vivendo como sacrifícios vivos que têm negado a si mesmos para poder segui-lO.
E como obedecem assim a Cristo buscando o que é do céu e não o que é da terra, Ele também lhes honra, fazendo com que sejam participantes do tesouro celestial e espiritual que nEle está escondido, e em plenitude infinita, para compartilhá-lo com aqueles que são obedientes à vontade de Deus, e que demonstram o seu amor por Ele guardando os Seus mandamentos.
Somente o cristão espiritual está habilitado para restaurar um irmão que for achado em qualquer transgressão, porque pode exercitar paciência e sabedoria divina, que são requeridas para lidar com o pecado do ponto de vista de Deus.
“Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado.”  (Gál 6.1).
Quando a Palavra fala da perfeição do cristão neste mundo, está se referindo ao atingimento desta condição de plena maturidade espiritual, e é este o alvo que foi estabelecido por Deus para ser perseguido por todos os cristãos, para que estejam perfeitamente habilitados e capacitados para toda boa obra (II Tim 3.17; Tg 1.4).
 A palavra perfeito tem em I Cor 2.6 o significado de completo, adulto, maduro.
É a este mesmo estado de perfeição a que o apóstolo João se refere em I Jo 4.18 ao falar sobre o cristão que é perfeito em amor. E ele define o cristão imaturo nesta passagem como aquele que ainda teme e que não descansa em plena convicção espiritual no amor de Deus.
Para João o cristão amadurecido, aperfeiçoado é aquele que é maduro no amor.
Então esta maturidade espiritual que caracteriza o cristão espiritual consiste no aperfeiçoamento no amor de Deus conforme descrito por Paulo em I Cor 13.
Isto está em plena concordância na revelação da verdade, porque ao falar do amor em I Cor 13 Paulo diz que aquele que anda neste caminho sobremodo excelente tem lançado fora as coisas de menino, porque é pelo crescimento no amor que alguém se torna verdadeiramente um cristão espiritual, ou seja, amadurecido.  
Então é por se estar cheio do amor de Deus que se mostra o nível da nossa maturidade espiritual.
Deus é espírito e os atributos mais pronunciados na pessoa de Deus no Seu relacionamento com os cristãos são o amor e a santidade, então o cristão que anda segundo Deus é aquele que está cheio do Seu amor e santidade. Esta é portanto a marca do cristão verdadeiramente espiritual.
E a medida desta perfeição não é individual, mas a que é feita no corpo de Cristo, porque o aperfeiçoamento em amor é no aperfeiçoamento na unidade da Igreja, em que os cristãos são chamados por Cristo a serem um  nEle e no Pai.
Assim como a perda da vida carnal da alma é gradual, dando lugar ao influxo da vida do Espírito, pela divisão de alma e espírito pela Palavra, de igual forma o morrer do corpo mortal é contínuo e progressivo, de modo que, a cada dia, o homem exterior se corrompe e se aproxima da morte, para que a plenitude da vida de Jesus se manifeste mais e mais em nossa carne mortal (II Cor 1.8,9; 4.10-12).
No enfraquecimento gradual e progressivo do nosso ego  carnal, pode ser experimentada melhor a manifestação do poder da graça de Jesus, de maneira que ainda que enfraquecidos na carne, somos achados fortalecidos no espírito.
E isto representa a possibilidade da comunicação da vida de Jesus através de nós a outros, gerando neles a vida eterna.
O homem espiritual do qual é dito em Ef 2.6 que está assentado nas regiões celestiais com Cristo, é descrito posteriormente na mesma epístola em Ef 6.10-18, como sendo aquele que se encontra lutando com as hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais.
Isto indica que o cristão espiritual, neste conflito, tem que vigiar continuamente, orando em espírito, contra os inimigos que estão buscando arrancá-lo da posição espiritual que ele conquistou em Cristo.
Nesta fase do conflito, a grande batalha do cristão já não é contra as obras da carne descritas em Gál 5, mas contra estes principados e potestades que, a todo custo, tentam trazê-lo à condição de cristão carnal, na qual é mais intensa esta batalha contra as obras da carne.
Então é preciso que o cristão espiritual vigie sempre esta investida dos espíritos malignos contra ele procurando levá-lo novamente, em algum grau, a ser dirigido pela alma, porque nesta condição, impedido de ser espiritual, não sendo dirigido pelo espírito, é impossível estar empenhado de modo seguro numa obra de Deus, que destrua de fato as obras do diabo.
Além disso, Satanás pode se transfigurar em anjo de luz e produzir uma luz falsificada na mente, fazendo com que seja seguida por falsos raciocínios ou compreensão do que foi lido das Escrituras ou pregado, porque aquele que não caminha no espírito, será dirigido pela alma e caminhando em sua mente natural.
Se os próprios cristãos espirituais, amadurecidos na fé, estão sujeitos a tentações de retornarem a serem governados pela alma, quanto mais isto não será uma certeza em relação aos cristãos carnais.
Então ninguém pense que por ser espiritual, que terá somente a boa influência do Espírito Santo ao orar, ao pregar etc, porque ao ter a alma separada do espírito, este fica também sujeito às operações dos espíritos malignos em enganos e falsas impressões, de forma que por ser espiritual o seu espírito está aberto a duas forças do reino espiritual, e se pensar que somente o Espírito Santo pode influenciá-lo na esfera espiritual, certamente ele será enganado porque tomará toda influência que vier ao seu espírito como que partindo sempre de Deus e não saberá discernir quando estará recebendo algum tipo de influência da parte dos espíritos malignos, para poder rechaçá-la através da oração humilde diante de Deus para que não lhe deixe cair na tentação do diabo, e que seja livrado do mal de ministrar aquilo que não recebeu na verdade de Deus.
Se o cristão espiritual estivesse somente debaixo da influência do Espírito Santo ele seria infalível, mas como não é este o caso, precisa vigiar, orar, e buscar humilde e continuamente no Espírito Santo iluminação para poder discernir as verdadeiras operações de Deus das falsificações.
Não é sem motivo que é ordenado ao cristão que esteja vestido com toda a armadura espiritual de Deus para poder lutar contra os principados e potestades espirituais do mal, e ser achado de pé, estando inabalável, depois de ter vencido todas as investidas do inferno para arrancá-lo da sua firmeza espiritual na graça de Cristo.




“1 E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria.
2 Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado.
3 E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor.
4 A minha palavra, e a minha pregação, não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder;
5 Para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus.
6 Todavia falamos sabedoria entre os perfeitos; não, porém, a sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que se aniquilam;
7 Mas falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória;
8 A qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória.
9 Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, E não subiram ao coração do homem, São as que Deus preparou para os que o amam.
10 Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus.
11 Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus.
12 Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus.
13 As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais.
14 Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.
15 Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido.
16 Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo.”. (I Coríntios 2.1-16)





I Coríntios 3

PERFEITOS EM CRISTO – I Coríntios 3

Paulo protestou contra os cristãos coríntios pelo fato de ainda estarem vivendo segundo a carne, isto é, carnalmente, segundo o curso do mundo, e não segundo Cristo.
Isto era um fato impeditivo para que ele pudesse compartilhar com eles em Espírito, num só espírito, as coisas espirituais, celestiais e divinas.
Eles não poderiam responder em espírito às operações do Espírito Santo entre eles, e nem sequer entenderem as coisas do Espírito, por causa desta falta de consagração deles a Deus, para serem santificados.
Eles ficavam portanto privados de poderem experimentar e compartilhar com os cristãos espirituais, como Paulo, da plenitude da vida espiritual que há em Cristo, e que procede dEle para nós através do Espírito.
Eles não estavam edificando de maneira correta sobre o fundamento, que é Cristo, no qual deveriam estar fazendo a obra de Deus.
Mesmo porque nenhum outro fundamento foi dado aos cristãos sobre o qual devam construir.
A edificação espiritual dos cristãos coríntios não era segundo a prática da Palavra, e por isso estavam edificando sobre a areia, e com materiais que não poderiam resistir ao fogo da prova do Senhor.
Na verdade não estavam edificando nenhuma obra permanente para a eternidade, porque não edificavam segundo os mandamentos de Cristo.
Suas vidas eram em grande parte, uma negação do evangelho, no qual haviam crido.
Eles estavam vivendo segundo o curso do mundo, segundo a mente do homem natural e do mundo. Não segundo o homem espiritual que é criado por Deus em justiça e em verdade.
No entanto, conforme no dizer de Paulo, é melhor ser considerado louco pelo mundo, por seguir fielmente a Cristo, do que ser sábio segundo o mundo e não andar nas pegadas do Senhor.
Não se poderia esperar portanto, que as coisas estivessem funcionando em boa ordem na Igreja de Corinto, e não era portanto para se estranhar, que estivessem dando motivos para uma grande tristeza, não somente ao coração do apóstolo, mas sobretudo ao coração do próprio Deus.
As suas obras eram de madeira, de feno e de palha, e estavam sendo queimadas pelo fogo do Espírito.
Os próprios corpos de muitos deles estavam sendo destruídos por Deus, com enfermidades e morte, porque eles próprios estavam destruindo o templo do Espírito, com as suas práticas abomináveis aos olhos do Senhor.
Como o templo no qual Deus habita agora é o corpo do próprio cristão, caso este venha a profanar este templo sagrado, no qual habita o Espírito, com práticas pervertidas e abomináveis, Deus destruirá o templo, para que o espírito deste cristão rebelde possa ser salvo, ainda que o fogo do juízo divino tenha sido trazido sobre ele, na destruição do seu corpo, que em vez de ser usado para a prática da justiça, para a glória de Deus, estava sendo usado para a prática deliberada do mal em resistência permanente à vontade de Deus.

O Senhor é longânimo, dá-nos tempo para o arrependimento, mas na falta deliberada deste, podemos estar certos de que ficaremos sujeitos à Sua correção e disciplina, a não ser que não sejamos verdadeiramente Seus filhos, porque Ele nunca deixará de corrigir aos filhos que Ele ama.
É realmente uma grande desonra para o Senhor, quando os Seus filhos vivem de maneira carnal, incapazes de compreender e viver o que tem esperado deles, pela submissão de suas vontades ao Espírito.
Se o trabalho de crucificação, para a humilhação e destruição do ego, não for permitido pelo cristão, ele permanecerá carnal, e assim, não poderá discernir as coisas espirituais, que se discernem somente se formos espirituais e não carnais.
Ser espiritual é um dever que nos está imposto, ainda que isto seja concretizado em amor e segundo o trabalho paciente do Espírito.
Todo cristão não pode perder este alvo soberano da sua vocação, e por isso Paulo escreveu esta epístola aos coríntios, para lhes trazer à lembrança esta verdade.
Não fomos salvos por Cristo para vivermos para nós mesmos, senão para Ele, para fazer a Sua vontade, mas não poderemos fazer isto caso não nos neguemos a nós mesmos pela permissão voluntária do trabalho da cruz sobre as nossas vontades, sentimentos, emoções e tudo o mais que se refira às faculdades da alma.
Se não houver consagração da vida ao Senhor, pouco ou nada adiantará conhecer estas verdades, porque elas são descobertas e vividas somente quando decidimos viver inteiramente para o agrado do Senhor, fazendo a Sua vontade.
O Senhor jamais revelará a beleza da Sua santidade, e as coisas maravilhosas que existem no Seu tesouro espiritual escondido, àqueles que vivam contrariamente às Suas ordenanças.
Alguém que nunca almejou ser santificado, purificado, impulsionado pelo Espírito ao serviço do Senhor, jamais sentirá sequer o cheiro destas coisas celestiais, espirituais e divinas.
O mistério do Senhor é revelado àqueles que andam segundo o Espírito, e não segundo a carne.
Os que andam no Espírito farão proezas em Deus, verão as coisas invisíveis do Seu reino, e alcançarão bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo, e serão capacitados a fazer a Sua obra da maneira correta, ainda que debaixo das maiores fraquezas e aflições.
Onde os valentes deste mundo teriam desistido e parado, o cristão fiel prosseguirá com firmeza e poder até mesmo em face da morte, porque não é na sua própria força e capacidade que fará o que lhe for determinado por Deus, mas na força que o Espírito supre aos que colocaram suas vidas no altar do Senhor.
Então, crescer e amadurecer, espiritualmente, é um imperativo necessário para todos os cristãos que pretendam serem achados vivendo de modo agradável a Deus.
É por este crescimento que se aprende a contrariar até mesmo à nossa própria vontade para que seja feita a vontade do Senhor.
É por este crescimento, ao qual todos são exortados a procurar com grande diligência, que se pode perseverar em toda bondade e fidelidade, ainda que debaixo das maiores provações.
Jó foi dado a nós como exemplo de perseverança, de paciência nas tribulações, para que não desmaiemos e desistamos de seguir ao Senhor e de fazer a Sua vontade, ainda que venhamos a perder tudo o que prezamos como sendo coisas de valor necessárias a nós, como nossos filhos, bens, saúde, amizades, e tudo o mais que se possa referir.
Se Deus permitir que sejamos despojados destas coisas nós devemos tal como Jó, perseverar em amar ao Senhor e a depender e a confiar nEle, ainda que se levante para nos demandar a nossa própria vida.
Então a vida cristã é uma chamada não para vivermos segundo a sabedoria deste mundo, mas uma renúncia de nós mesmos, de nossas vontades, para que Cristo faça a Sua vontade através de nossas vidas.
Daí a necessidade da auto negação que Ele nos impõe, para que possamos segui-lO e ser usados por Ele.
   A única e verdadeira vida que há de permanecer para toda a eternidade, em alegria indizível, é conquistada pela perda da vida segundo a carne, segundo a mente do homem natural, segundo nossas próprias deliberações.
Jesus disse que aquele que não renunciar a tudo quanto tem não pode ser Seu discípulo, porque enquanto estiver apegado a qualquer pessoa ou bem deste mundo, não poderá estar disponível para segui-lO e fazer a Sua vontade, porque estas coisas haverão de prendê-lo e impedirão que obedeça àquilo que lhe está sendo pedido pelo Senhor.
Em seus sofrimentos, como justo sofredor, Jó aprendeu ainda mais a viver pela fé.
Ele percebeu que todas as coisas do mundo são passageiras, e que somente em Deus existe a verdadeira eternidade.
Os seus olhos espirituais foram abertos para poderem enxergar esta grande verdade, e a viver, desde então somente para o inteiro agrado do Senhor.
Ele conheceu de modo prático, em sua aflição, o que é a longanimidade, a paciência, o amor, a bondade, a fidelidade, o domínio próprio, conforme se encontram na natureza de Deus, em sua própria experiência pessoal, em tudo o que aprendeu e incorporou ao seu próprio caráter, em tudo o que sofreu.
Um dos prováveis motivos que fizeram com que os coríntios recuassem na fé e no progresso rumo à maturidade espiritual, foram as coisas pervertidas que os falsos mestres, que haviam se introduzido entre eles, falavam contra Paulo.
Segundo eles, como poderia um homem como o apóstolo estar vivendo realmente debaixo do agrado de Deus e pregando a Sua verdade, em face das muitas aflições e tribulações que ele estava frequentemente vivendo, tendo uma multidão de inimigos que lhe obrigavam a fugir de cidade para cidade?
Como poderia um Deus bondoso e gracioso permitir tais coisas a alguém que estivesse de fato sendo abençoado por Ele, e a Seu serviço?
A mentalidade carnal destes líderes afetou profundamente os coríntios, e a sua confiança no evangelho do aperfeiçoamento espiritual pela cruz (o verdadeiro evangelho), que lhes havia sido pregado.
Eram cristãos verdadeiros, ganhos por Paulo para Cristo, que haviam sido regenerados pelo Espírito, mas cujas mentes haviam sido desviadas da simplicidade devida a Cristo, pelo mesmo e antigo argumento da velha Serpente, tal como fizera com Eva no Éden, se apresentando como advogado do primeiro casal contra um Deus “perverso” que permite que suas criaturas sejam provadas com aflições e tentações.
Não é Paulo, nem Apolo, nem Pedro, os donos da lavoura na qual fomos plantados como cristãos, senão o próprio Deus.
Ministros do evangelho são apenas cooperadores de Deus para semear a palavra de vida eterna do evangelho, mas não está no poder deles próprios operar um só milímetro no crescimento espiritual de qualquer pessoa. Este é um trabalho exclusivo do Senhor e do Seu Santo Espírito.
Não devemos portanto nos gloriar nos homens, por mais consagrados que sejam, mas somente em Cristo.
Não devemos desprezar e nem deixar de honrar estes instrumentos fiéis do Senhor, mas nunca devemos esquecer que o poder que há neles não é inerente às suas próprias naturezas, mas é recebido do Altíssimo, a quem tanto eles quanto nós devemos tributar toda a glória, adoração e louvor.
Tudo pertence a Cristo, e tudo que pertence a Cristo pertence aos cristãos, por direito adquirido por Ele para eles como herança.
Então todos os ministros do evangelho foram dados por Deus aos cristãos para o seu aperfeiçoamento.
Logo, não devem se gloriar em nenhum homem, senão somente em Cristo, em quem temos recebido todos os dons e graças necessários ao nosso aperfeiçoamento espiritual.





“1 E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo.
2 Com leite vos criei, e não com carne, porque ainda não podíeis, nem tampouco ainda agora podeis,
3 Porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens?
4 Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo; porventura não sois carnais?
5 Pois, quem é Paulo, e quem é Apolo, senão ministros pelos quais crestes, e conforme o que o Senhor deu a cada um?
6 Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento.
7 Por isso, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento.
8 Ora, o que planta e o que rega são um; mas cada um receberá o seu galardão segundo o seu trabalho.
9 Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus.
10 Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele.
11 Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo.
12 E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha,
13 A obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um.
14 Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão.
15 Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo.
16 Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?
17 Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo.
18 Ninguém se engane a si mesmo. Se alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se louco para ser sábio.
19 Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia.
20 E outra vez: O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, que são vãos.
21 Portanto, ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso;
22 Seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, seja o presente, seja o futuro; tudo é vosso,
23 E vós de Cristo, e Cristo de Deus.”. (I Coríntios 3.1-23)





I Coríntios 4

MINISTROS (SERVOS) DE CRISTO – I Coríntios 4

Em face de tudo o que havia dito nos capítulos anteriores, quanto ao fato de que devemos nos gloriar somente em Cristo e na cruz, Paulo conclui no início deste quarto capítulo de I Coríntios, que nenhum servo levantado por Deus para liderar a Sua obra deve ser reconhecido senão apenas como ministro do evangelho, isto é, como servo, como simples despenseiro dos mistérios de Deus, através do evangelho que lhe foi confiado pelo Senhor.
Estes ministros e despenseiros devem ser achados fiéis em viver aquilo que pregam e ensinam, e o principal modo de se verificar esta fidelidade é saber o quanto morreram de fato para si mesmos e para o mundo, para que possam ser fiéis ministros de Cristo.
Paulo disse aos coríntios que deveriam seguir o exemplo de humildade que ele havia lhes dado, enquanto permaneceu entre eles, e que apesar de ter sido revestido de autoridade apostólica pelo Senhor, agia seguindo o exemplo do seu próprio Mestre, qual ama que acaricia os seus filhinhos.
Não havia portanto sido dele que haviam aprendido a viverem soberbamente, em disputas e divisões carnais.
Ele estava portanto admoestando os coríntios como um pai faz com seus filhos amados.
Eles seriam curados de suas rebeliões, conforme veremos na segunda epístola que o apóstolo lhes dirigiu. Isto porque eram genuínos cristãos, tinham a habitação do Espírito Santo, e viriam por fim a acharem lugar de arrependimento diante da graça e misericórdia de Deus.
Assim, as palavras de Paulo não tinham o propósito de envergonhá-los, nem descarregar sobre eles qualquer tipo de amargura, mas discipliná-los para viverem de modo digno de Deus, que lhes havia adotado como Seus filhos.
Martyn Lloyd Jones em um dos seus sermões expressou-se nos seguintes termos:
“O apóstolo Paulo diz o seguinte de si mesmo em I Cor 4.3: “Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós, ou por qualquer tribunal humano; nem eu tampouco a mim mesmo me julgo.”.
Ele havia colocado nas mãos de Deus o problema de julgar, e desta maneira, havia chegado a um estado em que nada poderia feri-lo. Este é o ideal que deve ser buscado – esta indiferença ao eu e aos seus interesses.
Uma afirmação que o grande George Muller fez em certa ocasião acerca de si mesmo parece ilustrar isto muito claramente. Ele assim escreveu: “Houve um dia em que morri, morri completamente, morreu George Muller e as suas opiniões, preferências, gostos e vontade; morri para o mundo, para a sua aprovação ou crítica; morri para a aprovação ou censura inclusive de meus irmãos e amigos e desde então tenho procurado somente apresentar-me como aprovado para Deus.”.
Esta é uma afirmação que deve ser ponderada a fundo. Não posso imaginar uma síntese mais perfeita e adequada do ensino de Jesus nessa passagem, do que esta.
Muller pôde morrer para o mundo e para a sua aprovação e censura, morrer inclusive para a aprovação ou censura de seus amigos e companheiros mais íntimos.
Veja a sequência que Muller apresenta:
Primeiro o mundo, depois os amigos e companheiros. Porém o mais difícil é morrer para si mesmo, para a própria aprovação ou censura de si mesmo.
Há muitos grandes artistas que mostram desdém pela opinião do mundo. Se o mundo não aprovar as suas obras, pior para o mundo, diz o grande artista. Mas podem ser sensíveis à opinião das pessoas que lhes são mais achegadas. Porém o cristão deve alcançar a fase em que supere inclusive isto e dar-se conta que não deve deixar que seja dominado por isso. E então deve passar à fase final, isto é, ao que pensa de si mesmo – à aprovação ou censura de si mesmo, à forma em que não julga mais a si mesmo, tal como o apóstolo Paulo.
Enquanto estivermos preocupados com isto não estaremos a salvo das outras duas formas. De modo que a chave de tudo, como nos recorda George Muller, é que devemos morrer para nós mesmos.
George Muller havia morrido para si mesmo, para sua opinião, para suas preferências, para seus gostos, para a sua vontade.
Sua única preocupação, sua única idéia era mostrar-se aprovado para Deus.
E é exatamente isto que Jesus ensinou aqui, isto é, que o cristão deve chegar a uma situação e estado em que possa dizer isto.
É certo que o mundo despreza a quem é assim e admira a pessoa agressiva, a pessoa que luta por seus direitos, e que está sempre disposta para defender-se e defender a sua honra.
Assim somente o cristão pode colocar em prática este ensino do Senhor.
Com isto Ele nos diz que devemos ser completamente diferentes, que temos que mudar por completo, e que temos que chegar a ser um novo ser. E somente quem nasceu de novo do Espírito pode aprender a viver de tal forma.”.
Estas palavras de Lloyd Jones bem se ajustam ao que Paulo disse nos versos 3 a 6 deste quarto capítulo de I Coríntios, com o propósito principal que não continuassem fazendo comparações entre ele, Paulo, e Apolo, e que entendessem que não deveriam ir além do ensino das Escrituras, e que não deveriam se gloriar em favor de um e rejeitarem o outro, porque tanto ele quanto Apolo haviam sido levantados pelo Espírito, para lhes ministrarem a graça de Deus.
Eles não deveriam considerar as aflições e tribulações pelas quais passavam os apóstolos, como um sinal de serem inferiores em relação a eles, que não compartilhavam do mesmo nível de sofrimentos, aos quais eram submetidos os apóstolos de Cristo (v. 9 a 13).
Para o homem natural, para as pessoas do mundo, e mesmo para cristãos carnais, a vida santa e inteiramente consagrada a Deus dos apóstolos não lhes inspirava qualquer sentimento de admiração por eles, senão considerá-los como desprezíveis, pessoas que não tinham nenhuma importância e destaque para o mundo.
Por isso Paulo disse que os apóstolos eram considerados como escória e lixo pelo mundo.
No entanto, não há maior honra para uma pessoa do que a de ter sido chamada para ser apóstolo de Cristo.
Os coríntios, por causa da sua carnalidade, não podiam dar a honra que era devida a Paulo, mas como era o seu pai na fé, deveriam imitar os seus passos, suportando com paciência os mesmos sofrimentos que ele estava suportando por causa do evangelho, e acatarem tudo que Timóteo lhes lembraria acerca do que Paulo ensinava em todas as igrejas.
No entanto, nós vemos na segunda epístola aos Coríntios que o seu endurecimento era de tal ordem que não se arrependeram com o envio de Timóteo por Paulo, senão somente depois que Tito fora ter com eles depois de Timóteo.
Paulo lhes disse que iria ter pessoalmente com eles para que aqueles que andavam ensoberbecidos lhe mostrassem até que ponto havia o poder do Espírito nas suas vidas, coisa que certamente estava ausente, porque o reino de Deus não consiste em palavras de sabedoria humana, mas  em poder espiritual real na vida, e de vida transformada, que Deus concede àqueles que Lhe obedecem.
Assim, o apóstolo estava lhes dando a oportunidade de se arrependerem, para que fosse ter com eles com amor e espírito de mansidão, em vez da vara da correção, e da disciplina do Espírito.
Paulo não poderia jamais renunciar ao seu dever do qual havia sido encarregado por Deus de ser o despenseiro da Sua graça aos cristãos coríntios, porque importava que tanto ele, como qualquer outro ministro do evangelho seja achado fiel no desempenho deste dever, que lhes foi imposto pelo Senhor; ao tê-los constituído como bispos (palavra traduzida da palavra grega epíscopo, que significa líder, supervisor) das almas daqueles que Ele colocou sob o cuidado deles (At 20. 28).
Como vimos antes, este dever não é realizado por motivo de vanglória, mas por um ato de renúncia ao ego, para que o ministério seja desempenhado com a humildade que é devida a Cristo.  




“1 Que os homens nos considerem como ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus.
2 Além disso, requer-se dos despenseiros que cada um se ache fiel.
3 Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós, ou por algum juízo humano; nem eu tampouco a mim mesmo me julgo.
4 Porque em nada me sinto culpado; mas nem por isso me considero justificado, pois quem me julga é o Senhor.
5 Portanto, nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o louvor.
6 E eu, irmãos, apliquei estas coisas, por semelhança, a mim e a Apolo, por amor de vós; para que em nós aprendais a não ir além do que está escrito, não vos ensoberbecendo a favor de um contra outro.
7 Porque, quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido?
8 Já estais fartos! já estais ricos! sem nós reinais! e quisera reinásseis para que também nós viéssemos a reinar convosco!
9 Porque tenho para mim, que Deus a nós, apóstolos, nos pôs por últimos, como condenados à morte; pois somos feitos espetáculo ao mundo, aos anjos, e aos homens.
10 Nós somos loucos por amor de Cristo, e vós sábios em Cristo; nós fracos, e vós fortes; vós ilustres, e nós vis.
11 Até esta presente hora sofremos fome, e sede, e estamos nus, e recebemos bofetadas, e não temos pousada certa,
12 E nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos. Somos injuriados, e bendizemos; somos perseguidos, e sofremos;
13 Somos blasfemados, e rogamos; até ao presente temos chegado a ser como o lixo deste mundo, e como a escória de todos.
14 Não escrevo estas coisas para vos envergonhar; mas admoesto-vos como meus filhos amados.
15 Porque ainda que tivésseis dez mil aios em Cristo, não teríeis, contudo, muitos pais; porque eu pelo evangelho vos gerei em Jesus Cristo.
16 Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores.
17 Por esta causa vos mandei Timóteo, que é meu filho amado, e fiel no Senhor, o qual vos lembrará os meus caminhos em Cristo, como por toda a parte ensino em cada igreja.
18 Mas alguns andam ensoberbecidos, como se eu não houvesse de ir ter convosco.
19 Mas em breve irei ter convosco, se o Senhor quiser, e então conhecerei, não as palavras dos que andam ensoberbecidos, mas o poder.
20 Porque o reino de Deus não consiste em palavras, mas em poder.


21 Que quereis? Irei ter convosco com vara ou com amor e espírito de mansidão?”. (I Cor 4.1-21)








I Coríntios 5

LANÇANDO FORA O FERMENTO – I Coríntios 5

Os cristãos coríntios estavam se gloriando na carne, julgando-se muito sábios em Cristo, iludidos de que o fato de o Espírito Santo ainda continuar operando entre eles com os dons espirituais extraordinários, significava que estavam vivendo de modo agradável a Deus.
No entanto, apesar de toda aquela jactância carnal, estavam tolerando no seio da Igreja a prática da fornicação de alguns membros, a ponto de um deles estar abusando da mulher do seu próprio pai, e o fato era de conhecimento de grande parte da Igreja, e era tolerado pela mesma.
Certamente o fato da tolerância comprovava que a grande maioria da igreja não estava andando conforme a sã doutrina, porque é muito comum tolerarmos os erros de outros quando nós mesmos também andamos de maneira errada.
Como poderia o Espírito de Deus se alegrar com a iniquidade sendo praticada deliberadamente na própria Igreja?
Tal foi a tristeza do Espírito, que apesar de estar ausente no corpo, mas presente em espírito, o apóstolo podia sentir a indignação e a sentença do Espírito contra aquele ato incestuoso, e por isso ordenou em nome de Jesus Cristo, estando os coríntios em acordo e unidade espiritual com o seu espírito, que o tal cristão incestuoso fosse entregue a Satanás, para destruição da carne, isto é, que fosse excluído da comunhão dos santos, e por isso ficaria exposto aos ataques do Inimigo, de forma que tendo passado pela disciplina determinada pelo Senhor de considerar os cristãos faltosos que não se arrependem de seus pecados como gentios e publicanos; pudesse ter o seu espírito salvo no dia do Senhor Jesus.
Isto pode parecer duro e terrível, mas é no entanto, prova da grande misericórdia de Deus para com os cristãos que são rebeldes, porque Ele não os condenará ao inferno de fogo, mas os corrigirá, ainda que seja com um juízo extremo da morte física, debaixo das aflições produzidas por Satanás, sem que possam contar com o seu socorro e livramento divino, enquanto viverem neste mundo, deliberadamente na prática de pecados, dos quais não pretendam se arrepender, de modo que se tornam merecedores de tais juízos da parte do Senhor.  
Os coríntios não tinham motivos para se gloriarem, porque em vez de se sentirem orgulhosos da sua posição, pisoteando aquele que estava caído, em vez de se entristecerem pelo seu pecado, e admoestá-lo para ser conduzido ao arrependimento, contribuíram para que aquele homem julgasse que a sua prática abominável não era nada ofensiva, uma vez que era bem tolerada pela Igreja.
Quando não admoestamos nossos irmãos faltosos, nós estamos dando provas de grande falta de amor e de misericórdia para com suas vidas; porque em vez de ajudá-los a não ficarem debaixo dos juízos corretivos do Senhor, nós contribuímos para que fiquem endurecidos em seus pecados.
Deus impôs aos pastores conhecerem o verdadeiro estado espiritual de suas ovelhas.
Eles não devem somente apascentá-las com a verdade.
Mas devem se responsabilizar pela maneira como cada uma delas tem andando diante de Deus e na Igreja; de modo que possam manter o corpo de Cristo saudável, incontaminado das corrupções que podem se espalhar como um grande contágio, quando são toleradas, e quando se deixa de se exercer a disciplina determinada por Cristo.
O pecado consentido na vida de qualquer cristão poderá vir a colocar a perder todo o rebanho, uma vez que é como um pouco de fermento que pode levedar toda uma grande massa.
Por isso a vida dos cristãos não deve abrigar o fermento do pecado, porque ele se propaga facilmente por toda a congregação.
Este dever de vigiar para não permitir a existência de fermento na Igreja é de todos os cristãos, mas sobretudo dos ministros que estão encarregados do rebanho.
Eles foram chamados por Deus para fazerem também este trabalho desagradável de confrontarem os cristãos que andam de modo desordenado.
Se alguém fez profissão de pertencer a Cristo, ele passa a fazer automaticamente parte do Seu corpo, e ao mesmo tempo está sujeito à Sua disciplina.
O fermento do pecado foi retirado por Deus da igreja, porque Cristo é o nosso cordeiro pascal, e tal qual os israelitas fizeram no Egito para serem livrados da escravidão, e da morte quando o anjo passou por toda a terra do Egito mas não sobre os lares dos israelitas por causa do sangue, que foi passado nas vergas e umbrais das portas de suas casas, de igual modo, os cristãos foram livrados do poder do pecado, e da sua consequência, que é a condenação eterna, porque lhes foi ordenado, tal como fora ordenado aos israelitas nos dias de Moisés, que procurassem diligentemente, no dia em que seriam salvos da morte pelo Senhor, todo o fermento que existisse em suas casas, para que fosse jogado fora.
Cristo se tornou da parte de Deus o nosso Salvador, por causa do sangue que derramou na cruz, e sob cuja cobertura estamos seguros em nossas casas espirituais, mas nos é ordenado que sejamos diligentes em manter o fermento do pecado bem longe de nossas vidas, porque é assim que o sangue que Jesus derramou por nós, se mostra eficaz no nosso viver, capacitando-nos a viver de modo santo e agradável a Deus.
Então os cristãos apesar de terem sido livrados do fermento do pecado, por causa do sacrifício de Jesus, por cujo sangue foram purificados, de modo que pode se dizer deles que estão agora sem fermento, no entanto devem ter o cuidado diligente de se limparem do velho fermento, para que sejam a massa sem fermento que Deus espera que sejam.
A celebração do culto ao Senhor deve portanto ser realizada sem o velho fermento do pecado, da maldade e da malícia, mas com os ázimos (pães sem fermento) da sinceridade e da verdade.
Não é um favor que os pastores pedem aos cristãos quando lhes exortam a viverem santificados na verdade, mas é um dever que é imposto pelo próprio Deus a todos os Seus filhos.
Por isso não se deve admitir que haja na assembléia dos santos, na comunhão da Igreja, quem se dizendo cristão, seja devasso, avarento, idólatra, maldizente, beberrão ou ladrão, e nem sequer devemos receber tais cristãos em nossos lares para privarem da nossa intimidade, comendo conosco, conforme se ordena na Bíblia, para que se envergonhem, e venham a achar lugar de arrependimento diante do Senhor.
Caso se arrependam devem ser restaurados à comunhão, pela reconciliação.
Paulo havia escrito uma carta anterior a esta que havia destinado aos coríntios, na qual lhes ordenou que não deveriam se associar com os cristãos que se prostituíssem, porque cristãos são filhos de Deus que estão sujeitos à disciplina da Igreja.
No entanto, esta regra não se aplica às pessoas não cristãs, porque não conhecem ao Senhor, e constituem o campo de missão da Igreja, pela pregação do evangelho, para que se convertam de seus pecados a Cristo.
Os que estão fora da Igreja por não pertencerem a Cristo serão julgados por Deus, mas aos cristãos cabe julgarem os que são de dentro, por pertencerem ao povo do Senhor, e desta maneira deveriam retirar da comunhão aquele cristão iníquo que havia se entregado deliberadamente à prática do incesto, e da qual não queria se arrepender.  
Paulo se referiu a velho fermento, especialmente em relação aos coríntios, porque a prática da prostituição era muito comum entre eles, antes da sua conversão a Cristo, de modo que as prostitutas eram chamadas nas nações do mundo antigo pelo apelido de mulheres de Corinto.
Mas uma vez que alguém se converte a Cristo, toda forma de prostituição, seja carnal ou espiritual, deve ser lançada fora definitivamente de sua vida.
A vida inteira de um cristão deve ser um banquete de pão sem fermento.
A conversação dele e todo o seu comportamento devem ser santos.
Ele deve se despojar de tudo o que pertencia ao velho homem, de maneira a poder andar irrepreensivelmente, quer na presença de Deus, quer na dos homens.




“1 Geralmente se ouve que há entre vós fornicação, e fornicação tal, que nem ainda entre os gentios se nomeia, como é haver quem abuse da mulher de seu pai.
2 Estais ensoberbecidos, e nem ao menos vos entristecestes por não ter sido dentre vós tirado quem cometeu tal ação.
3 Eu, na verdade, ainda que ausente no corpo, mas presente no espírito, já determinei, como se estivesse presente, que o que tal ato praticou,
4 Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, juntos vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus Cristo,
5 Seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus.
6 Não é boa a vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa?
7 Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós.
8 Por isso façamos a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os ázimos da sinceridade e da verdade.
9 Já por carta vos tenho escrito, que não vos associeis com os que se prostituem;
10 Isto não quer dizer absolutamente com os devassos deste mundo, ou com os avarentos, ou com os roubadores, ou com os idólatras; porque então vos seria necessário sair do mundo.
11 Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais.
12 Porque, que tenho eu em julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro?
13 Mas Deus julga os que estão de fora. Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo.”. (I Coríntios 5.1-13)





I Coríntios 6

VIVER A VIDA RETA – I Coríntios 6

Os coríntios estavam pouco se importando em fazer valer os direitos de Deus sobre eles, por não julgarem aqueles que estavam andando desordenadamente na Igreja, mas, estavam muito interessados em levar a juízo todas as questões relativas ao que julgavam serem seus próprios direitos, uma vez que estavam pleiteando junto aos tribunais seculares as causas que tinham contra os  irmãos da Igreja.
Eles não estavam dispostos a renunciarem a direitos, e a suportarem danos por amor a Cristo.
Era preferível a eles exporem o nome do Senhor, que levavam sobre si, a ignomínia perante os ímpios, do que procurarem resolver suas demandas segundo a reta justiça, levando suas demandas ao conhecimento dos que fossem de maior estima espiritual na Igreja.
Assim como a questão das viúvas gregas havia sido colocada na Igreja de Jerusalém ao cuidado de sete homens de boa reputação, cheios de sabedoria e do Espírito.
Por este seu procedimento se comprovava que os laços do amor fraternal em Cristo estavam quebrados entre eles, porque andavam segundo o homem, e não segundo o Espírito.  
Não admira que Paulo lhes tenha falado no décimo terceiro capítulo desta epístola das características do amor cristão, do qual não somente não estavam se dando à prática, como até mesmo do qual tinham se esquecido.
A falta de humildade e de submissão de uns aos outros, lhes havia conduzido a tal estado.
Quando não morremos para os nossos direitos, por amor a Cristo, e não vivemos de forma absolutamente despojada de tudo e de todos, e principalmente de nós mesmos, jamais poderemos ser os sacrifícios santos e agradáveis que o Senhor espera que sejamos.
A falta de despojamento do velho homem, pela sua contínua crucificação pelo carregar diário da cruz, era o problema básico da Igreja de Corinto.
Eles se julgavam muito sábios a seus próprios olhos, mas não estavam sendo verdadeiros discípulos e seguidores do Cordeiro, quanto à submissão, humildade, mansidão e  paz.
Pela santidade da Igreja, Deus passa um julgamento sobre todos os que vivem na impiedade, e até mesmo sobre os anjos caídos, revelando que são indesculpáveis por viverem deliberadamente em transgressões, pelo que observam na vida de santidade daqueles que O amam.
Mas, com o seu comportamento desviado a Igreja de Corinto não podia atender a esta função que o Senhor deu aos cristãos, de serem luz do mundo e sal da terra.
Para que serve o sal se vier a perder o seu sabor?
Para que serve a luz caso se apague ou seja escondida debaixo de um cesto?
Tal é a dignidade que Cristo atribui aos santos, que se sentarão com Ele em seus tronos para julgarem os ímpios e os anjos caídos no dia do Juízo final (I Tes 3.13).
Como podiam estar recorrendo então a tribunais pagãos para julgarem suas demandas?
Como podiam, sendo cristãos, praticarem injustiças contra seus irmãos, ou contra quem quer que seja?
Porventura os injustos herdarão o reino de Deus?
Como podiam então, continuarem na prática da injustiça?
Eles foram lavados, justificados e santificados pelo sangue de Cristo, e como podiam permanecer na prática das coisas pelas quais Deus condenará o mundo de ímpios?
Aqueles que não se arrependeram de seus pecados, que não se entregaram a Cristo para serem santificados pelo Espírito, e que portanto não foram justificados e regenerados haverão de ser condenados eternamente, por terem permanecido deliberadamente na prática dos pecados que Paulo relaciona nos versos 9 e 10.
Ninguém se engane portanto pensando que é um cristão justificado e regenerado, herdeiro do reino dos céus, se vive na prática deliberada de tais pecados, porque a graça salvadora implantada no coração chama o convertido a santificar a sua vida, pelo mover do Espírito Santo, que nele habita.
O evangelho da graça havia feito uma grande mudança na vida dos cristãos coríntios porque muitos deles haviam praticado todas estas coisas abomináveis, referidas pelo apóstoo, mas haviam sido justificados, regenerados e santificados pelo Espírito.
Jesus tem poder para transformar monstros em santos.
E aqueles que eram monstros não devem continuar vivendo conforme o seu modo antigo de vida, senão em santidade.
Na santidade que é segundo a fé no evangelho.
A partir do verso 12 o apóstolo fala da liberdade do cristão, que foi alcançado em Cristo, mas ele deve vigiar e ser diligente para não abusar desta liberdade.
Cristo considerou todos os alimentos limpos, e revogou todas as distinções cerimoniais da Lei entre alimentos limpos e imundos, mas isto não significava que um cristão tenha concessão da sua parte de se tornar um glutão, se tornando apegado e escravizado à comida, e este princípio se aplica a todas as demais coisas desta vida.
Há um limite de uso de todas as coisas que podemos conhecer, andando no Espírito, e estando debaixo do temor de Cristo, comendo, bebendo, e fazendo tudo o mais que for necessário para a glória e honra de Deus.
O cristão é livre e não deve se deixar dominar por nenhuma criatura.
Nada deve conquistar sua mente, vontade e coração, a ponto de se tornar dependente delas.
Isto se aplica também ao lugar que Deus fixou para o sexo, que é dentro do casamento, num leito sem mácula, e em plena fidelidade ao cônjuge.
Ninguém deve ter relações sexuais, a não ser com sua própria esposa, ou com seu próprio marido.
Há pecados do corpo como a prostituição, a fornicação, as relações pré-conjugais, que profanam o templo do Espírito, que é o corpo do cristão.
Ninguém deve esquecer que todas as necessidades orgânicas são para o presente tempo, e serão destruídas quando os cristãos chegarem ao estado da eternidade, quando Deus aniquilará todas estas necessidades, por conta de receberem um corpo glorificado.
Então, desde já, o corpo do cristão não lhe foi dado para a prostituição, mas para estar no Senhor, e o Senhor no nosso corpo.
Se o nosso corpo foi reservado pelo Senhor para ser morada do Espírito Santo, de quanto cuidado devemos então ter com o que fazemos com o nosso corpo, para não entristecer e ofender tão santo e honrado Habitante, pelo qual nosso corpo será ressuscitado depois da morte.
Se o corpo de cada cristão se tornou um membro do corpo de Cristo, como pode ser admitida a idéia de que tal templo santo seja unido sexualmente a uma meretriz?
Aos olhos de Deus, quem faz isto, está se casando com ela, e isto significaria tornar os membros de Cristo participantes de uma meretriz.
No Senhor, os cristãos formam um só espírito com Ele, e por isto devem fugir da prostituição, porque isto significa pecar contra o seu próprio corpo, que é templo do Espírito.
Além disso o nosso corpo é propriedade de Deus.
Não pertence propriamente a nós mesmos, e não nos cabe portanto determinar qual é o uso que pretendamos fazer dele, sem nos colocarmos debaixo da direção do Espírito, porque sendo Seu templo, temos o dever de zelar pela purificação do nosso corpo, e cuidar para mantê-lo saudável e limpo.
Somos mordomos do nosso próprio corpo e por isso devemos prestar contas a Deus do uso que estamos fazendo dele.
Como tanto o nosso corpo e espírito foram comprados por Cristo, devemos glorificar a Deus não somente no que diz respeito ao nosso espírito, como também em relação ao nosso corpo.  




“1 Ousa algum de vós, tendo algum negócio contra outro, ir a juízo perante os injustos, e não perante os santos?
2 Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deve ser julgado por vós, sois porventura indignos de julgar as coisas mínimas?
3 Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida?
4 Então, se tiverdes negócios em juízo, pertencentes a esta vida, pondes para julgá-los os que são de menos estima na igreja?
5 Para vos envergonhar o digo. Não há, pois, entre vós sábios, nem mesmo um, que possa julgar entre seus irmãos?
6 Mas o irmão vai a juízo com o irmão, e isto perante infiéis.
7 Na verdade é já realmente uma falta entre vós, terdes demandas uns contra os outros. Por que não sofreis antes a injustiça? Por que não sofreis antes o dano?
8 Mas vós mesmos fazeis a injustiça e fazeis o dano, e isto aos irmãos.
9 Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus? Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas,
10 nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus.
11 E é o que alguns têm sido; mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus.
12 Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma.
13 Os alimentos são para o estômago e o estômago para os alimentos; Deus, porém, aniquilará tanto um como os outros. Mas o corpo não é para a prostituição, senão para o Senhor, e o Senhor para o corpo.
14 Ora, Deus, que também ressuscitou o Senhor, nos ressuscitará a nós pelo seu poder.
15 Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei, pois, os membros de Cristo, e fá-los-ei membros de uma meretriz? Não, por certo.
16 Ou não sabeis que o que se ajunta com a meretriz, faz-se um corpo com ela? Porque serão, disse, dois numa só carne.
17 Mas o que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito.
18 Fugi da prostituição. Todo o pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo.
19 Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?
20 Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.”. (I Coríntios 6.1-20)






I Coríntios 7

Sobre o Matrimônio e o Sexo – I Coríntios 7

De tal modo os vícios da sociedade de Corinto haviam influenciado e penetrado na Igreja, que tinham ainda muitas dúvidas quanto ao propósito do matrimônio, segundo os princípios e leis que Deus  estabeleceu para a citada instituição.
Assim, enviaram mensageiros a Paulo com uma missiva fazendo perguntas relativas ao casamento, e certamente devem ter perguntado ao apóstolo se o ato sexual era pecaminoso; se o fato de alguém, ter se tornado um cristão significava que deveria abster-se de ter relações sexuais, e até mesmo de darem seus  filhos em casamento.
Estas questões podem parecer patéticas, mas devemos lembrar como a prostituição sexual havia se espalhado por toda aquela sociedade, de forma que quando alguém se convertia ao Senhor, era muito natural que se esperasse que pensassem no sexo como uma arma de destruição da vida espiritual.  
Então, o apóstolo escreveu este sétimo capítulo de I Coríntios, para esclarecer estas dúvidas específicas que tinham quanto ao lugar correto do sexo na vida cristã.
Antes de tudo ele lhes disse que o estado de solteiro era na verdade, segundo o seu próprio pensamento, um estado vantajoso sobre o de casado, quanto à consagração da vida para a realização da obra do evangelho, pela liberdade maior de ação que a pessoa teria para se consagrar inteiramente a agradar somente a Deus.
No entanto, reconhecia que isto não era para ser determinado segundo o desejo do próprio homem, mas segundo a vocação de Deus, que dá poder e capacidade para se viver solteiro sem se abrasar, àqueles que chama para viverem tal como vivia o próprio Paulo, a saber, no estado de celibato.
Desta forma, ninguém está autorizado, nem mesmo o apóstolo Paulo a decidir sobre a vida de alguém, se deve viver ou não de maneira celibatária (v. 6).
Paulo não deixou de reconhecer o casamento como uma instituição divina, e nem deixou também de lhe dar a devida importância e honra, mas sabia, por experiência, que os casados têm muitas obrigações para se agradarem mutuamente, e dentre estas há a de não privarem ao cônjuge o direito que é dado pelo laço do matrimônio à regularidade do ato conjugal; o qual, somente poderia ser suspenso temporariamente, por mútuo consentimento, para uma maior consagração ao jejum e à oração; de modo a não dar a Satanás a oportunidade de tentar a um ou a outro por causa da abastinência baseada em outros motivos, porque quando se jejua e ora, se está protegido de tais tentações, por se estar em comunhão em espírito com o Senhor.      
Então, enquanto a pessoa não se casou, está livre dos laços impostos pelo matrimônio; e não há nenhum mandamento que lhe obrigue, a atender a quaisquer das obrigações conjugais, caso seja solteira.
Mas uma vez que tenha se casado, há o primeiro e grande mandamento da parte de Deus, que os cônjuges não devem se separar.
Esta regra se aplica aos cristãos, mesmo que tenham casado com não cristãos.
Tanto no caso da mulher ou do homem que sejam casados com não cristãos, o seu lar e filhos será santificado por Deus, não no sentido de que esteja obrigado a salvar a parte não crente, mas de trazer a proteção da Igreja como extensão àquele lar, por causa da parte cristã (v. 13, 14).
No entanto se o não cristão quiser se apartar, o cristão fica livre do laço matrimonial e não está mais sujeito à servidão imposta pelo casamento, de modo que está livre inclusive para contrair novas núpcias (v. 15).
A expectativa de que a parte não crente seja salva não pode ser considerada como algo que será atendido por Deus, porque ninguém sabe quem se salvará, senão somente o Senhor.
Paulo estendeu os princípios relativos ao casamento a todas as demais áreas da vida, dizendo que o que deve ser buscada não é propriamente a nossa vontade, mas a vocação de Deus, que nos impõe, pela cruz, a morte do nosso eu.
Deste modo há vocação profissional, não propriamente no sentido da liberdade de escolha que temos para a profissão que pretendamos exercer e que seja conforme os nossos sonhos, mas estarmos satisfeitos nas condições em que formos colocados pela vontade de Deus.
Isto se aplica também a questões de nacionalidade, porque não é dado a nós escolhermos a nacionalidade que teremos, e por isso devemos estar contentes com a condição em que nos encontrarmos; de forma que nenhum gentio é chamado a viver como um judeu, ou este como um gentio (v. 18).
Afinal estas questões são de pouca importância se somos cristãos genuínos, porque não é nisto que se encontra a vontade de Deus, senão em que guardemos os Seus mandamentos (v. 19).
Se alguém fosse um escravo, desde que fosse cristão, era na verdade livre, e não deveria se importar com sua condição social julgada inferior pelo mundo, mas caso tivesse a oportunidade de ser livrado da escravidão, não deveria desprezar tal oportunidade.
Este é um princípio que pode ser aplicado a todas as condições presentes dos cristãos neste mundo.
Eles devem estar contentes em toda e qualquer situação, mas se tiverem condições de acessarem a uma melhor condição de vida, que lhes seja menos penosa e humilhante, não devem rejeitá-la.
No entanto, não significa que devem fazer disto o objetivo primordial de suas vidas; porque seja qual for a condição de um cristão, porque seja ele escravo ou livre, é de toda forma servo de Cristo, e nesta condição é verdadeiramente livre.
Afinal nenhum homem está livre fora de Cristo, porque é servo do pecado.
Além disso, na condição de servos de Cristo não são as nossas escolhas que contam, senão as dEle, e é possível que o Senhor nos conduza a condições humilhantes para o nosso aperfeiçoamento para a obra do ministério.    
É a Cristo portanto que devemos agradar agora.
Não propriamente a homens. Se os servimos é por amor de Cristo e como que para Cristo, e não propriamente por nos considerarmos sua propriedade.
Jesus nos comprou por um alto preço, a saber, com o Seu precioso sangue, de modo que não pertencemos a ninguém, a não ser somente a Ele.
Esta regra da liberdade tem a sua limitação exatamente no matrimônio, por causa do laço  estabelecido por Deus, de que não sejam mais a seus olhos como dois indivíduos separados, mas como se fossem uma só carne.
Deste modo o casamento traz tribulações na carne, porque impõe renúncias que devem ser feitas em prol do cônjuge, em face do direito que passou a adquirir sobre o nosso corpo.
Contudo, os casais cristãos devem por comum acordo, e conforme ensina o Espírito de Deus, aprenderem a renunciar a tais direitos onde se sentirem chamados pelo Senhor a fazerem em primeiro lugar a Sua vontade.
Não que viverão no estado de solteiros, mas em parte, como se o fossem, porque todos os laços deste mundo, como o do casamento, como todas as demais coisas do mundo, serão desfeitas quando da volta do Senhor, e o tempo da Sua volta se abrevia cada vez mais.    
Não devemos estar portanto apegados a ninguém, porque o próprio Cristo disse que deveríamos renunciar a tudo por amor a Ele, inclusive a nossos familiares.
Isto significa que a precedência em nossos relacionamentos deve ser sempre dada a Ele e ao Seu serviço.
No entanto, tudo deve ser feito com equilíbrio e discernimento em Deus, porque está ordenado aos casados que devem cuidar de fazer aquilo que agrade aos respectivos cônjuges, porque isto está incluído no seu dever de agradarem ao Senhor, pelo testemunho de harmonia e amor que deve existir em seus lares.
De modo que o laço do matrimônio só pode ser desfeito de modo legítimo, segundo a vontade de Deus, pela morte de um dos cônjuges.
Por isso Paulo não comentou aqui a separação admitida pelo Senhor também em caso de relações ilícitas de uma das partes, porque é uma situação excepcional.
Segundo o apóstolo seria bom que os que enviuvassem não tornassem a contrair novas núpcias, mas estão livres para decidir sobre a conveniência de casarem de novo ou não.                




“1 Ora, quanto às coisas que me escrevestes, bom seria que o homem não tocasse em mulher;
2 Mas, por causa da prostituição, cada um tenha a sua própria mulher, e cada uma tenha o seu próprio marido.
3 O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e da mesma sorte a mulher ao marido.
4 A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no o marido; e também da mesma maneira o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no a mulher.
5 Não vos priveis um ao outro, senão por consentimento mútuo por algum tempo, para vos aplicardes ao jejum e à oração; e depois ajuntai-vos outra vez, para que Satanás não vos tente pela vossa incontinência.
6 Digo, porém, isto como que por permissão e não por mandamento.
7 Porque quereria que todos os homens fossem como eu mesmo; mas cada um tem de Deus o seu próprio dom, um de uma maneira e outro de outra.
8 Digo, porém, aos solteiros e às viúvas, que lhes é bom se ficarem como eu.
9 Mas, se não podem conter-se, casem-se. Porque é melhor casar do que abrasar-se.
10 Todavia, aos casados mando, não eu mas o Senhor, que a mulher não se aparte do marido.
11 Se, porém, se apartar, que fique sem casar, ou que se reconcilie com o marido; e que o marido não deixe a mulher.
12 Mas aos outros digo eu, não o Senhor: Se algum irmão tem mulher descristão, e ela consente em habitar com ele, não a deixe.
13 E se alguma mulher tem marido descristão, e ele consente em habitar com ela, não o deixe.
14 Porque o marido descristão é santificado pela mulher; e a mulher descristão é santificada pelo marido; de outra sorte os vossos filhos seriam imundos; mas agora são santos.
15 Mas, se o descristão se apartar, aparte-se; porque neste caso o irmão, ou irmã, não fica sujeito à servidão; mas Deus chamou-nos para a paz.
16 Porque, de onde sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? ou, de onde sabes, ó marido, se salvarás tua mulher?
17 E assim cada um ande como Deus lhe repartiu, cada um como o Senhor o chamou. É o que ordeno em todas as igrejas.
18 É alguém chamado, estando circuncidado? fique circuncidado. É alguém chamado estando incircuncidado? não se circuncide.
19 A circuncisão é nada e a incircuncisão nada é, mas, sim, a observância dos mandamentos de Deus.
20 Cada um fique na vocação em que foi chamado.
21 Foste chamado sendo servo? não te preocupes com isso; e, se ainda podes ser livre, aproveita a ocasião.
22 Porque o que é chamado pelo Senhor, sendo servo, é liberto do Senhor; e da mesma maneira também o que é chamado sendo livre, servo é de Cristo.
23 Fostes comprados por bom preço; não vos façais servos dos homens.
24 Irmãos, cada um fique diante de Deus no estado em que foi chamado.
25 Ora, quanto às virgens, não tenho mandamento do Senhor; dou, porém, o meu parecer, como quem tem alcançado misericórdia do Senhor para ser fiel.
26 Tenho, pois, por bom, por causa da instante necessidade, que é bom para o homem o estar assim.
27 Estás ligado à mulher? não busques separar-te. Estás livre de mulher? não busques mulher.
28 Mas, se te casares, não pecas; e, se a virgem se casar, não peca. Todavia os tais terão tribulações na carne, e eu quereria poupar-vos.
29 Isto, porém, vos digo, irmãos, que o tempo se abrevia; o que resta é que também os que têm mulheres sejam como se não as tivessem;
30 E os que choram, como se não chorassem; e os que folgam, como se não folgassem; e os que compram, como se não possuíssem;
31 E os que usam deste mundo, como se dele não abusassem, porque a aparência deste mundo passa.
32 E bem quisera eu que estivésseis sem cuidado. O solteiro cuida das coisas do Senhor, em como há de agradar ao Senhor;
33 Mas o que é casado cuida das coisas do mundo, em como há de agradar à mulher.
34 Há diferença entre a mulher casada e a virgem. A solteira cuida das coisas do Senhor para ser santa, tanto no corpo como no espírito; porém, a casada cuida das coisas do mundo, em como há de agradar ao marido.
35 E digo isto para proveito vosso; não para vos enlaçar, mas para o que é decente e conveniente, para vos unirdes ao Senhor sem distração alguma.
36 Mas, se alguém julga que trata indignamente a sua virgem, se tiver passado a flor da idade, e se for necessário, que faça o tal o que quiser; não peca; casem-se.
37 Todavia o que está firme em seu coração, não tendo necessidade, mas com poder sobre a sua própria vontade, se resolveu no seu coração guardar a sua virgem, faz bem.
38 De sorte que, o que a dá em casamento faz bem; mas o que não a dá em casamento faz melhor.
39 A mulher casada está ligada pela lei todo o tempo que o seu marido vive; mas, se falecer o seu marido fica livre para casar com quem quiser, contanto que seja no Senhor.


40 Será, porém, mais bem-aventurada se ficar assim, segundo o meu parecer, e também eu cuido que tenho o Espírito de Deus.”. (I Coríntios 7.1-40)







I Coríntios 8

O CONHECIMENTO INCHA E O AMOR EDIFICA – I Coríntios 8

Os coríntios haviam escrito a Paulo lhe pedindo orientação sobre o matrimônio, como também quanto à atitude que deveriam ter quanto a comerem coisas que haviam sido sacrificadas a ídolos.
Era um costume entre os pagãos fazerem banquetes nos sacrifícios que apresentavam aos seus ídolos, e não somente se comia, como também convidavam seus amigos a participarem com eles nos comensais que ofereciam nos templos, os quais eram dedicados aos seus deuses (I Cor 8.10).
Quando sobrava comida daqueles banquetes era comum que se levasse o que sobrou para ser dado aos amigos, e até mesmo para ser vendido no mercado.
Na questão de se comer das coisas sacrificadas aos ídolos, não deveria ser levado em consideração somente o fato de se saber que o ídolo nada é, e que o suposto deus que ele representa não existe, porque há somente um Deus verdadeiro, que proibiu expressamente o Seu culto, através de ídolos.
Deveria ser levado também em consideração o fato de como se sentiriam as pessoas de consciência mais fraca dentro da Igreja, ao saber que seus irmãos comiam coisas que para elas eram condenáveis (I Cor 8.12). De modo que não considerar esta regra seria pecar contra o amor que edifica.
Então somente o conhecimento de verdades teológicas sem a direção do Espírito, pode inchar com orgulho, e impedir a edificação do corpo de Cristo em amor.
O fato de não se participar do banquete idolátrico no templo dos pagãos, a convite deles, sendo um cristão, ficava portanto totalmente fora de questão, uma vez que não há nenhuma ligação entre Cristo e Belial, entre luz e trevas, e o próprio Senhor Jesus viria a se expressar quanto a esta questão, quando condenou o ato de uma falsa profetisa a quem chamou de Jezabel, estar ensinando e enganando os cristãos da Igreja de Tiatira a comerem dos sacrifícios da idolatria (Apo 2.20).
Jesus considerou todos os alimentos limpos na dispensação da graça, mas nós devemos andar em conformidade com a lei da moderação, discernimento e sobriedade, não ultrapassando os limites da liberdade que temos em Cristo, sabendo que não devemos nos deixar dominar por nenhum costume deste mundo, e nem mesmo abusar das coisas que são lícitas, de forma a não ofender a consciência de nossos irmãos.
O grande princípio geral que Paulo deseja extrair e demonstrar a partir desta questão de ser lícito ou não comer comidas sacrificadas a ídolos, é o de que não podemos de modo algum, por causa da nossa ciência de ser determinada prática lícita, tentar forçar a consciência fraca de nossos irmãos, lhes impondo o nosso conhecimento, de que são livres para praticarem as coisas que fazemos e sabemos que não ofendem à santidade de Deus.
É um grande erro por exemplo dizer a alguém que não há nenhum mal em ir ao teatro, desde que não haja nada ofensivo na peça teatral, quando sabemos que tal cristão tem por pressuposto que ir ao teatro é um pecado, seja em qual circunstância for.  
O amor nos convoca a dar um passo mais além do que simplesmente não impor a outros as nossas convicções, mas a nos abstermos das práticas que condenam, para que não firamos as suas consciências.
Por exemplo, os cristãos gentios sabiam pelo ensino de Cristo e de Paulo, que não havia pecado em comer alimentos de qualquer espécie, mesmo carne de animal que morreu sufocado ou com sangue, no entanto, por amor aos cristãos judeus se submeteram à prescrição da Igreja de Jerusalém (Atos 15), por amor aos seus irmãos em Cristo judeus, para os quais o ato de comer carne de animal que havia morrido sufocado ou com sangue era uma terrível abominação.
Isto se aplica a diversas áreas, como por exemplo, ir ao cinema, a estádios de futebol, a assistir TV, ao uso de vestuários e penteados extravagantes, em que devemos fazer tudo de maneira a não ferirmos a consciência de nossos irmãos.
Então não é o conhecimento da liberdade que temos em Cristo que nos recomenda a Ele, porque podemos pecar contra Cristo, quando ferimos a consciência fraca dos nossos irmãos, por causa do nosso conhecimento (v. 12).
Nós podemos escandalizá-los de tal forma, que até mesmo poderão vir a se desviar da comunhão da Igreja por nossa causa (v.11).
A vida cristã exige portanto de nós muito mais do que simples conhecimento, mas sobretudo de sabedoria, amor e discernimento e renúncia, para não sermos motivo de escândalo para os nossos irmãos.
Porque uma coisa é conhecer a verdade, e outra muito diferente conhecê-la como convém ser aplicada.
Nós podemos e devemos melhorar o nosso conhecimento mas não devemos nos iludir pensando que é de conhecimento o tudo quanto necessitamos.
É possível conhecer muitas coisas da Palavra e até mesmo nem pertencer de fato a Cristo.
É possível ter muito conhecimento e nenhuma comunhão espiritual verdadeira com o Senhor.
Por isso, o simples conhecimento nunca nos recomendará a Deus, ao contrário pode até mesmo aumentar a nossa responsabilidade e o juízo que receberemos da Sua parte.
Deus não quer mero conhecimento mas prática e obediência à Sua vontade.
E esta questão de não escandalizar nossos irmãos é uma parte muito importante da vontade de Deus em relação a nós.
Assim, os cristãos coríntios que porventura se jactassem do seu conhecimento de que o ídolo nada é, para justificar a sua frequência em templos pagãos, em banquetes de idolatria, estavam pecando gravemente contra Deus e contra seus irmãos, e não tinham portanto motivo nenhum para estarem inchados em seu orgulho relativo ao seu conhecimento.





“1 Ora, no tocante às coisas sacrificadas aos ídolos, sabemos que todos temos ciência. A ciência incha, mas o amor edifica.
2 E, se alguém cuida saber alguma coisa, ainda não sabe como convém saber.
3 Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido dele.
4 Assim que, quanto ao comer das coisas sacrificadas aos ídolos, sabemos que o ídolo nada é no mundo, e que não há outro Deus, senão um só.
5 Porque, ainda que haja também alguns que se chamem deuses, quer no céu quer na terra (como há muitos deuses e muitos senhores),
6 Todavia para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por ele.
7 Mas nem em todos há conhecimento; porque alguns até agora comem, no seu costume para com o ídolo, coisas sacrificadas ao ídolo; e a sua consciência, sendo fraca, fica contaminada.
8 Ora a comida não nos faz agradáveis a Deus, porque, se comemos, nada temos de mais e, se não comemos, nada nos falta.
9 Mas vede que essa liberdade não seja de alguma maneira escândalo para os fracos.
10 Porque, se alguém te vir a ti, que tens ciência, sentado à mesa no templo dos ídolos, não será a consciência do que é fraco induzida a comer das coisas sacrificadas aos ídolos?
11 E pela tua ciência perecerá o irmão fraco, pelo qual Cristo morreu.
12 Ora, pecando assim contra os irmãos, e ferindo a sua fraca consciência, pecais contra Cristo.
13 Por isso, se a comida escandalizar a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que meu irmão não se escandalize.”. (I Coríntios 8.1-13)






I Coríntios 9

Esmurrando o Corpo Para Ser Aprovado – I Coríntios 9

Paulo amarrou o nono capítulo de I aos Coríntios, ao assunto dos limites da liberdade cristã, que havia citado no capítulo anterior.
E ele o ilustra com o seu próprio exemplo e o de Barnabé, que por amor a Cristo e aos eleitos haviam feito muitas renúncias, apesar de serem livres para agirem como todos os demais apóstolos, que não foram tão longe como eles no trabalho e empenho na obra de Cristo.
 Mas o apóstolo lhes mostrou em que consistiu este seu empenho e trabalho.
A maneira como ele o fizera e estava fazendo:
“Porque, sendo livre para com todos, fiz-me servo de todos para ganhar ainda mais.”  (v. 19).
“Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns.”  (v. 22).
“25 E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível. 26 Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. 27 Antes, subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado.”. (v. 25 a 27).
Mesmo assim havia muitos que se opunham ao apóstolo (v. 3) e condenavam a sua maneira de viver pelo evangelho, possivelmente por considerarem exagerada a sua maneira de agir, e que deveria impor a si mesmo uma maior liberdade, como também a todos.
No entanto, Paulo se restringiu inclusive no direito que tinha de ser sustentado pelas Igrejas, trabalhando com suas próprias mãos, para obter o seu sustento, para não colocar nenhuma forma de impedimento ao evangelho, de modo que não pudesse ser acusado de que estava pregando por interesse financeiro.
Era um direito dele, e um dever das Igrejas sustentá-lo com os bens materiais necessários, porque isto foi ordenado pelo Senhor, que aqueles que Ele chamasse para pregarem o evangelho, deveriam viver do próprio evangelho.
Mas, Paulo abriu mão deste direito, e não impôs tal dever às Igrejas.
Então por que era condenado por seus inimigos dentro da Igreja de Corinto?
Certamente porque os tais não pretendiam se submeter à disciplina de Cristo, e aos limites que o evangelho impõe à nossa liberdade.
Paulo demonstrou que ele havia ido muito além do cumprimento da exigência do evangelho de se respeitar os limites da liberdade, porque tudo fez de tal maneira, que não servisse de causa de tropeço para a conversão e edificação de qualquer pessoa, quer na igreja da circuncisão, quer na da incircuncisão, porque entre os judeus vivia como se fosse judeu, porque o era de fato, e entre os gentios, como se fosse gentio, porque o era também, uma vez que não nasceu na Judéia, mas na cidade de Tarso da Cilícia.
Ele havia subjugado inteiramente o seu próprio corpo, e o seu ego, para fazer somente a vontade de Cristo.
Tudo o que ele fizera a respeito de renúncias, não fora por motivo de ascetismo, porque não era um asceta e não recomendava a prática do ascetismo a ninguém, porque sabia que o evangelho inaugurou uma nova dispensação em que o óleo de alegria é o maior tom desta nova vida que temos em Cristo, e não somos chamados mais a viver da forma como viveu João Batista, como nazireu, abstendo-se de muitas coisas por força da Lei cerimonial do Antigo Testamento, salvo se Deus assim o decidir em relação a alguns cristãos, por Sua vontade e soberania, para propósitos específicos.
Foi para a liberdade que Cristo nos chamou, mas cada um de nós não deve abusar desta liberdade, a não ser para que imponhamos a nós mesmos e não a outros, os rigores que julgarmos convenientes à nossa chamada, para que fiquemos ainda mais longe de ultrapassar tais limites, tal como Paulo e Barnabé haviam feito em seus ministérios.
Por exemplo, Paulo não se casou para melhor servir ao evangelho, mas declarou neste capítulo nono, que não havia sido proibido por Deus quanto a isto, mas por uso próprio da restrição da sua liberdade que tinha para casar.
Ele poderia fazer valer a sua autoridade apostólica sobre os coríntios em vários sentidos, no entanto não se valeu disso para não se tornar pesado a eles e também para não colocar qualquer impedimento ao avanço do evangelho.
Todos são remunerados e sustentados pelo trabalho que realizam, e até mesmo o boi que trabalha na lavoura deve ser alimentado e cuidado; então seria de se esperar que os apóstolos fossem recompensados por aqueles para os quais trabalhavam por amor a Cristo.
No entanto, Paulo, como dissemos antes, havia aberto mão deste direito.
Mas isto não deveria se entendido por eles que não devemos nos esforçar, segundo é da vontade de Deus em encorajar e remunerar àqueles que nos servem, porque o Senhor determinou que o trabalhador é digno do seu salário, e Ele mesmo nos tem recompensado e recompensará com os galardões prometidos pelo trabalho que tivermos realizado em favor do evangelho.  
Se os sacerdotes na Antiga Dispensação eram sustentados pelos dízimos conforme determinava a Lei de Moisés (Nm 18.21, 24, 26, 28); porque os ministros de Cristo  teriam um menor direito do que o deles? (v. 13, 14).
Não propriamente em impor dízimos, mas em serem sustentados.
Mas o grande amor de Paulo pela causa de Cristo fez com que ele não reivindicasse qualquer direito que lhe era dado pelo próprio Senhor, porque havia morrido completamente para o mundo, para si mesmo, e para a  aprovação ou reprovação de parentes, amigos, ou de quem quer que fosse.
O grande objetivo da sua vida era Cristo e somente Cristo, e por isso não estava apegado a qualquer direito ou liberdade que lhe era dada pelo evangelho.
Ele não almejava nenhuma coroa ou glória deste mundo, porque tinha o olhar da fé fixado permanentemente na eternidade.
Ele experimentara a morte por várias vezes de perto e aprendera que esta travessia a pessoa deverá fazer sozinha com Deus.
Que tudo neste mundo é aparente e passará.
Então se aplicou inteiramente às coisas relativas à coroa incorruptível, e se empenhava para alcançar o prêmio supremo da nossa soberana chamada em Cristo, para alcançar mais e mais do próprio Cristo, e não de quaisquer coisas que pertençam a este mundo.
Por isso esmurrava o seu próprio corpo fazendo-o servir à causa do evangelho.
Porque sabia que este corpo que temos é desta criação.
Foi feito do pó da terra, e não adentrará na eternidade; porque Deus tem prometido um novo corpo glorificado aos que vencerem a carne, o diabo e o mundo.
Por isso todo cristão verdadeiramente sábio e esclarecido sobre as verdades do reino de Deus se empenhará na corrida espiritual em que está inscrito, sabendo que não é no tesouro das coisas terrenas que deve estar apegado o seu coração, porque este tesouro não adentrará na eternidade, mas no tesouro celestial que é duradouro e incorruptível.
O evangelho nos liberta mas nos convoca a viver debaixo de uma grande disciplina.
Sobretudo do nosso espírito que deve ser exercitado nos exercícios espirituais da oração, da comunhão, da adoração, e tudo mais que se refira ao corpo de Cristo.
Não é com facilidades que se alcança a coroa divina.
Ela está prometida ao que vencer, e se há vitória, é porque houve grande luta contra a carne, o diabo e o fascínio do mundo.
A chamada do evangelho demandará muitas vezes não fazermos coisas que são lícitas, para não deixarmos de remir o tempo, empregando-o em coisas vãs, em vez do serviço a Cristo e à Sua Igreja.
Os próprios apetites e demandas de descanso do corpo deverão ser muitas vezes renunciados por causa da aplicação na obra de Cristo.
Por isso Paulo indaga em outra parte, quem seria suficiente para tais coisas, caso não fosse assistido pela graça de Cristo, operante pelo poder do Espírito?
A vida cristã exige prática verdadeira e não meramente pregação de palavras, porque é possível que se pregue sobre realidades espirituais quando nós mesmos nos encontramos reprovados quanto ao que pregamos, porque não vivemos aquilo que pregamos a outros.
E desta maneira, ainda que nos esforcemos muito em nossas pregações não podemos contar com nenhuma coroa, nenhuma recompensa futura pelo trabalho inútil que fizemos, que consistiu apenas no ato de dar chicotadas no ar, e tal tipo de exortação que é feito no ar, não atinge o coração e a consciência de ninguém, de forma que venha a ser transformado pelo Espírito.



“1 Não sou eu apóstolo? Não sou livre? Não vi eu a Jesus Cristo Senhor nosso? Não sois vós a minha obra no Senhor?
2 Se eu não sou apóstolo para os outros, ao menos o sou para vós; porque vós sois o selo do meu apostolado no Senhor.
3 Esta é minha defesa para com os que me condenam.
4 Não temos nós direito de comer e beber?
5 Não temos nós direito de levar conosco uma esposa cristão, como também os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas?
6 Ou só eu e Barnabé não temos direito de deixar de trabalhar?
7 Quem jamais milita à sua própria custa? Quem planta a vinha e não come do seu fruto? Ou quem apascenta o gado e não se alimenta do leite do gado?
8 Digo eu isto segundo os homens? Ou não diz a lei também o mesmo?
9 Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi que trilha o grão. Porventura tem Deus cuidado dos bois?
10 Ou não o diz certamente por nós? Certamente que por nós está escrito; porque o que lavra deve lavrar com esperança e o que debulha deve debulhar com esperança de ser participante.
11 Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito que de vós recolhamos as carnais?
12 Se outros participam deste poder sobre vós, por que não, e mais justamente, nós? Mas nós não usamos deste direito; antes suportamos tudo, para não pormos impedimento algum ao evangelho de Cristo.
13 Não sabeis vós que os que administram o que é sagrado comem do que é do templo? E que os que de contínuo estão junto ao altar, participam do altar?
14 Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho.
15 Mas eu de nenhuma destas coisas usei, e não escrevi isto para que assim se faça comigo; porque melhor me fora morrer, do que alguém fazer vã esta minha glória.
16 Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho!
17 E por isso, se o faço de boa mente, terei prêmio; mas, se de má vontade, apenas uma dispensação me é confiada.
18 Logo, que prêmio tenho? Que, evangelizando, proponha de graça o evangelho de Cristo para não abusar do meu poder no evangelho.
19 Porque, sendo livre para com todos, fiz-me servo de todos para ganhar ainda mais.
20 E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se estivesse debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei.
21 Para os que estão sem lei, como se estivesse sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei.
22 Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns.
23 E eu faço isto por causa do evangelho, para ser também participante dele.
24 Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis.
25 E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível.
26 Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar.
27 Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado.”. (I Coríntios 9.1-27)







I Coríntios 10

Não Cobiçando as Coisas Más – I Coríntios 10

Prosseguindo com o assunto da seriedade da vida cristã, e da importância da disciplina e do empenho na carreira cristã, o apóstolo demonstrou no décimo  capítulo de I Coríntios, que apesar de Israel ser o povo de Deus, nos dias de Moisés, no entanto, o Senhor não havia se agradado da maioria deles, e isto porque não se aplicaram em viver em conformidade com os Seus mandamentos e vontade.
Ele retomou o assunto da forma como os coríntios deveriam se comportar em relação a comer carne sacrificada a ídolos, lhes lembrando o quanto o Senhor detesta a idolatria, a ponto de ter exercido juízos severos contra Israel nos dias do Antigo Testamento, por causa da idolatria do povo, e da mistura deles com os costumes das nações pagãs.
Na verdade, havia ampliado a resposta à pergunta que haviam feito quanto ao comer do sacrificado a ídolos nos capítulos comentados anteriormente, e neste décimo capítulo, para demonstrar o cuidado que se deve ter em viver a vida cristã sem cair no desagrado de Deus, especialmente por servir de motivo de tropeço ou escândalo para outros.
Assim, para dissuadir os coríntios da contaminação idolátrica e da prostituição, Paulo fixou diante deles o exemplo dos judeus, debaixo do Antigo Testamento.
Eles haviam desfrutado de grandes privilégios, sendo livrados da escravidão por Deus sob o ministério de Moisés, mas se tornaram culpados de provocações odiosas que haviam feito contra a santidade do Senhor, e ficaram sujeitados a castigos muito dolorosos.
O que o Senhor lhes fizera foi ordenado que ficasse registrado nas Escrituras para advertência dos cristãos na Igreja de Cristo, para que não incorram nos mesmos erros que haviam cometido.
Os israelitas haviam sido libertados da escravidão do Egito por causa do seu batismo  em Moisés, isto é, por causa da sua associação com Moisés, que os conduziu para viverem como povo de Deus, e de igual forma os cristãos foram libertados da escravidão ao pecado pelo batismo deles em Cristo, isto é, da sua associação com Cristo.
A nuvem que seguia os israelitas em suas jornadas rumo a Canaã, e a sua passagem pelo mar, para serem livrados dos egípcios, comprovava que Deus era com eles.
De igual modo o batismo dos cristãos em água, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e os livramentos que Deus lhes dá das forças opressoras do inferno que procuram destruir a sua fé, comprovam que são de fato pertencentes a Deus.
Cristo fez brotar água da rocha para matar a sede dos israelitas no deserto, e tem derramado a água viva do Espírito Santo sobre aqueles que estão fundamentados na Rocha que Ele é para a Sua Igreja.
No entanto é dito deles que:
“Mas Deus não se agradou da maior parte deles, por isso foram prostrados no deserto.”  (v. 5).
E isto foi um juízo real de Deus que veio sobre eles, o qual nos serviu de ilustração para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram (v. 6).
Os coríntios estavam se expondo aos juízos corretivos do Senhor apesar do privilégio de pertencerem a Ele, e isto estava efetivamente ocorrendo entre eles, como veremos no capítulo seguinte a este, porque muitos estavam fracos, enfermos e morrendo por causa dos juízos que Deus estava fazendo em razão dos seus pecados.
Eles estavam amando o mundo e se identificando com o mundo, contra a necessária santificação em Cristo, e estavam assim dando um mau testemunho do evangelho, e escandalizando tanto os de fora quanto os de dentro.
E o Senhor certamente santificaria o Seu grande nome neles, lhes submetendo a juízos, para que comprovasse que nada tinha a ver com aquele tipo de comportamento.
E também, para que se arrependessem de seus maus caminhos.
Não seria nas igrejas da Galácia, ou de Tessalônica, ou ainda sob o ministério dos apóstolos que eles teriam que se humilhar e se arrepender, mas diante do apóstolo Paulo, a quem estavam infamando, afrontando e desonrando, e na própria Igreja à qual pertenciam, a saber, a de Corinto.
Pela porta que se sai com um mau comportamento, é pela mesma que deveremos retornar, para sermos perdoados por Deus.
Esta é uma das leis básicas do Seu reino, pois nos chama a sermos responsáveis perante Ele e perante àqueles que tem constituído como pastores de nossas almas.
Participando da mesa dos demônios, comendo coisas sacrificadas a ídolos, de maneira deliberada, baseando-se num argumento artificioso de que os ídolos nada são, para justificar a participação de atividades idolátricas, juntamente com os pagãos, estavam pecando não somente contra a consciência de seus irmãos, e servindo de motivo de escândalo para judeus, gregos, e para a própria Igreja, porque na verdade, ainda que o ídolo nada seja, os sacrifícios que são oferecidos pelos pagãos são por inspiração demoníaca, e para cultuar os demônios, e como poderia Deus ficar indiferente a tais práticas?
No entanto caso um cristão fosse convidado a comer na casa de pessoas incrédulas, não deveria indagar a origem do alimento que lhe estaria sendo servido, de modo que deveria evitar comê-lo caso o visitado fizesse questão de afirmar a origem do alimento, para provocar o cristão, quanto a testar a sua fidelidade a Deus, caso em que não deveria comer de maneira alguma, porque estaria permitindo que a sua consciência para com Deus fosse dirigida pela consciência do incrédulo, caso consentisse em comer apesar de ter sido alertado previamente.
Agindo da forma ordenada, estaria dando o bom testemunho da sua consciência para com Deus perante o incrédulo, e lhe mostrando que não tem mais nenhum tipo de  associação com os demônios.
Em caso contrário ficariam sujeitos a serem picados pelos próprios demônios aos quais estavam se submetendo, tal como as serpentes venenosas haviam picado mortalmente os israelitas nos dias de Moisés (Nm 21.5,6).
Tentar a Cristo, mesmo na dispensação da graça, torna os cristãos a ficarem sujeitos ao poder da velha Serpente, tal como haviam ficado os israelitas do passado.
Murmurar contra as ordenações e disposições divinas é um pecado que provoca ao Senhor grandemente, especialmente quando influencia os Seus filhos a apostatarem da fé.
Assim, estas murmurações nos tornam sujeitos aos Seus juízos (Nm 14.36,37).
O Senhor sabe perfeitamente o quanto nós podemos suportar das tentações e tribulações que Ele permite que tenhamos neste mundo, para prova da nossa fé, e Ele mesmo provê, pela Sua graça, o escape necessário das aflições que nos sobrevierem; de modo que não há justificativa para murmurações e apostasias; uma vez que devemos aprender que Ele é inteiramente digno de toda a nossa confiança porque é sempre fiel.
Por isso somos chamados a crer, louvar, dar ações de graças em todas as circunstâncias, porque é assim que honramos o Seu santo nome.
Mas se murmuramos, nós damos provas de que não temos depositado nEle a nossa confiança, e isto é uma grande ofensa e desonra a um Deus inteiramente bondoso e gracioso, que deu o Seu próprio Filho para nos livrar dos nossos pecados, e de toda forma de jugo espiritual que nos prendia.
Participar dos banquetes oferecidos nos templos pagãos significava participar da mesa dos demônios, e uma provocação direta a Deus.
E como podem meros homens prevalecer no juízo com o Senhor?
Como poderão prevalecer sobre Ele, provocando-o deliberadamente?
O homem é mais forte do que Deus?
A ceia do Senhor é um memorial da morte de Jesus e da nossa comunhão com Ele.
Como poderiam então, os cristãos coríntios, justificarem a sua participação na mesa dos demônios?
Os cristãos não devem portanto, buscarem agradar a si mesmos, na procura de prazeres que importem em desagradar a Deus.
Quando Paulo afirma no verso 33, que em tudo agradava a todos não buscando o seu próprio proveito, mas o de muitos, para que pudessem ser salvos, não há nenhuma contradição com o que afirmou em Gálatas que caso agradasse a homens não seria servo de Cristo, porque os significados são distintos, a saber, na primeira citação que é a constante desta epístola, ele estava se referindo às renúncias que nos são impostas pelo evangelho para que não escandalizemos ou que venhamos a ser pedra de tropeço para a conversão de almas a Cristo; e na segunda, constante de Gálatas, a referência ali é que não ajustava a mensagem e a verdade do evangelho ao gosto das pessoas, por interesse delas, conforme era o caso de não se sujeitar à afirmação dos judaizantes, que era necessário guardar toda a Lei de Moisés, inclusive a cerimonial, especialmente a relativa à circuncisão do prepúcio, para que alguém fosse salvo.
Ele jamais se dobraria ao erro para poder estar em harmonia com os homens, mas ao mesmo tempo, seria criterioso em tudo o que fizesse, de forma a não servir de tropeço para a sua conversão, como por exemplo por um mau testemunho de vida, participando de atividades idolátricas, ou de qualquer outra forma de prática deliberada do pecado.
Nenhum cristão deve portanto, viver em presunção, pensando que pode estar de pé na presença de Deus, ainda que viva de modo descuidado, sem dar a devida atenção à necessidade de santificação total de sua vida, quer do espírito, quer da alma, quer do corpo (I Tes 5.23).
Paulo havia feita toda esta exposição, tendo em seu espírito a verdade que afirmara no primeiro verso do capítulo oitavo, de que a ciência incha, mas o amor edifica.
O cristão não foi chamado para expressar mero conhecimento intelectual, porque este pode não conduzi-lo necessariamente ao modo de vida que é esperado por Deus, o qual consiste basicamente em viver no Seu amor, que consiste não somente no amor a Ele próprio, como também ao próximo.
Todo o avanço que a ciência tem propiciado nestes últimos dias que temos vivido, manifesta esta verdade, porque não fez com que o amor aumentasse, ao contrário, propiciou o crescimento da iniquidade, que tem esfriado o amor de muitos.
O cuidado e interesse pelo próximo que é segundo o mover do Espírito em nossos corações tem sido substituído pelo egoísmo de obter e reter coisas para si mesmo, e nisto tem sido resumido o objetivo da vida para muitos.
Então a vida de Paulo, e o que Ele nos disse pelo Espírito de que não devemos viver para agradar a nós mesmos, mas ao nosso próximo, segundo o amor de Cristo em nossos corações, deve não apenas ser recordado por nós, mas para que o pratiquemos, ainda que a quase totalidade do mundo esteja caminhando na direção contrária, tal como ocorreu nos dias de Noé.




“1 Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, e todos passaram pelo mar.
2 E todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar,
3 E todos comeram de uma mesma comida espiritual,
4 E beberam todos de uma mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo.
5 Mas Deus não se agradou da maior parte deles, por isso foram prostrados no deserto.
6 E estas coisas foram-nos feitas em figura, para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram.
7 Não vos façais, pois, idólatras, como alguns deles, conforme está escrito: O povo assentou-se a comer e a beber, e levantou-se para folgar.
8 E não nos prostituamos, como alguns deles fizeram; e caíram num dia vinte e três mil.
9 E não tentemos a Cristo, como alguns deles também tentaram, e pereceram pelas serpentes.
10 E não murmureis, como também alguns deles murmuraram, e pereceram pelo destruidor.
11 Ora, tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos.
12 Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia.
13 Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar.
14 Portanto, meus amados, fugi da idolatria.
15 Falo como a entendidos; julgai vós mesmos o que digo.
16 Porventura o cálice de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo?
17 Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão.
18 Vede a Israel segundo a carne; os que comem os sacrifícios não são porventura participantes do altar?
19 Mas que digo? Que o ídolo é alguma coisa? Ou que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa?
20 Antes digo que as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios, e não a Deus. E não quero que sejais participantes com os demônios.
21 Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios.
22 Ou irritaremos o Senhor? Somos nós mais fortes do que ele?
23 Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas edificam.
24 Ninguém busque o proveito próprio; antes cada um o que é de outrem.
25 Comei de tudo quanto se vende no açougue, sem perguntar nada, por causa da consciência.
26 Porque a terra é do Senhor e toda a sua plenitude.
27 E, se algum dos infiéis vos convidar, e quiserdes ir, comei de tudo o que se puser diante de vós, sem nada perguntar, por causa da consciência.
28 Mas, se alguém vos disser: Isto foi sacrificado aos ídolos, não comais, por causa daquele que vos advertiu e por causa da consciência; porque a terra é do Senhor, e toda a sua plenitude.
29 Digo, porém, a consciência, não a tua, mas a do outro. Pois por que há de a minha liberdade ser julgada pela consciência de outrem?
30 E, se eu com graça participo, por que sou blasfemado naquilo por que dou graças?
31 Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus.
32 Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus.


33 Como também eu em tudo agrado a todos, não buscando o meu próprio proveito, mas o de muitos, para que assim se possam salvar.”. (I Cor 10.1-33)





I Coríntios 11

A Submissão Bíblica – I Coríntios 11

Nos dias de Paulo, e especialmente na sociedade de Corinto era desonroso para os homens usarem cobertura na adoração pública; e das mulheres era exigido o contrário, que tivessem a cabeça coberta com véu, não somente na adoração, como também na vida pública da sociedade.
Era exigido que todas as mulheres decentes usassem véu cobrindo suas cabeças, em sinal de submissão ao marido, porque as meretrizes não usavam tal véu.
Mas, estava havendo uma resistência na sociedade a tal uso, a qual estava influenciando as mulheres da própria Igreja, então Paulo lhes ordenou que não deveriam se identificar com a rebelião das feministas, de modo que não viessem a ser tidas na conta de prostitutas, quando deveriam dar provas de submissão a seus maridos, permanecendo debaixo do costume daquela época e sociedade.
Do texto de I Cor 11.2-16, se depreende que muito mais do que ser uma norma reguladora do uso de véu por parte das mulheres da igreja de Corinto, temos um ensino sobre submissão.
O véu era um sinal, uma forma externa de se indicar a submissão naquela sociedade antiga, o que deveria ser obedecido naquele contexto, em face das questões não morais que devem seguir a regra de tudo fazer para não ofender a consciência dos outros.
No caso, o não uso do véu naquela sociedade configurava um desrespeito às convenções vigentes, e por conseguinte um escândalo que deveria ser evitado.
O véu era um símbolo, um sinal de que a mulher estava sujeita à autoridade (v 10).
As muitas divisões, que haviam na igreja de Corinto, apontam para o fato de que não davam muita atenção ao assunto da submissão, que por sua vez está ligado ao da  autoridade.
A própria autoridade apostólica de Paulo fora colocada em questão por eles, e criaram, por sua própria conta, muitos partidos.
Isto se refletiu provavelmente também nas mulheres, que estariam criando um movimento em prol da libertação da mulher.
Elas estavam tentando fazer o mesmo trabalho dos homens, a ponto de Paulo tê-las proibido até de falarem e ensinarem na igreja, tal deve ter sido o caráter do levante que fizeram.
Paulo escreveu aos coríntios para consertar as coisas que  estavam erradas, e que contrariavam a vontade de Deus.
A sociedade de Corinto era uma sociedade pagã, e este véu não tinha o significado da profundidade bíblica para a submissão, mas era um sinal de modéstia, de humildade.
E isto servia também para distinguir as mulheres, porque as meretrizes não usavam véu.
Mas deve ter surgido dentro da própria sociedade este suposto movimento em prol da igualdade de direitos.
Os homens não usam véu e nós não temos porque usá-lo.
Certamente isto não foi aceito, mas a influência penetrou na própria igreja, e daí o ensino de Paulo determinando que se acatasse a norma social para que não houvesse escândalo, e aproveitou o ensejo para reforçar o ensino  bíblico sobre a submissão feminina.
Porque, o que estava ocorrendo de fato na igreja era uma resistência e desobediência a uma norma estabelecida por Deus, não propriamente sobre o uso do véu, mas da submissão da mulher ao seu próprio marido.
Ele aproveitou então para ensinar que pela própria natureza é comum que a mulher tenha cabelos longos e não os homens, e nisto há também uma ilustração física de uma verdade interior, pois o cabelo foi dado à mulher como cobertura, como sinal de que está sob autoridade, sob o governo do seu marido.
Cientificamente está comprovado que o cabelo das mulheres cresce mais rápido do que o dos homens.
Isso foi planejado por Deus. Isso é um assunto genético e indica que Deus deu cabelo às mulheres, que cresce mais rápido, como um sinal de submissão para elas.
Assim Paulo diria em outras palavras: “Não é algo ruim usar véu, porque é algo muito próximo daquilo que Deus planejou.”.
A partir do verso 17 Paulo tratou da questão da forma irreverente e profana como os coríntios estavam se reunindo no culto público, especialmente na ceia do Senhor, e no uso dos dons sobrenaturais extraordinários do Espírito Santo, sobre o qual discorreu nos capítulos seguintes a este décimo primeiro de I Coríntios.
O culto público tem o propósito de adorarmos a Deus em espírito e em verdade, de forma que sejamos aperfeiçoados em nossa espiritualidade.
No entanto, o modo pelo qual os coríntios estavam agindo estava lhes tornando cristãos piores, e agravando a imagem da Igreja de Cristo, em vez lhe trazer honra e glória.
Ainda que importe que sempre haja algum joio na Igreja, com suas heresias, para que sejam manifestados os verdadeiros cristãos, que são aprovados pelo Senhor, mas a Igreja de Corinto estava vivendo em dissensões, e não poderia cumprir, desta forma, o santo propósito de Deus.
Eles estavam fazendo da santa ceia uma ocasião de banquete para comensais e bebedeiras, de forma que estavam desprezando a Igreja de Deus, que deve ser santa, sem mácula e ruga.  
A ceia era um memorial da morte de Cristo, da Nova Aliança que Ele fez com os cristãos através do Seu sangue, para que fossem purificados e perdoados de seus pecados.
Como poderiam então estar transformando um memorial sagrado num ato de luxúria carnal?
Portanto, estavam sendo culpados diante de Deus, por estarem dando um tratamento indigno a algo que deveria ser reverenciado e honrado.
Participando da ceia de modo indigno estavam pecando contra o corpo e o sangue que o Senhor havia derramado na cruz, porque estavam considerando tal bênção com desprezo, pela forma que agiam em relação à ceia, pensando se tratar de um banquete carnal, para satisfazer suas paixões carnais.
O Senhor seria o vingador destas coisas e portanto, deveriam se examinar quanto ao estado dos seus corações, se estavam santificados ou não, para participarem da ceia sem culpa de comer o pão e beber o cálice do Senhor indignamente.
A desconsideração para a necessidade de santidade para participar da ceia do Senhor estava sendo a causa da condenação de muitos, de modo que havia entre eles muitos fracos, doentes e muitos que estavam morrendo, por motivo de um juízo de Deus contra a forma desordenada em que estavam vivendo.
Bem faziam os antigos Puritanos que se examinavam, não apenas no dia da ceia, mas que julgavam o seu modo de viver pelas Escrituras, e pelo Espírito, todos os dias e momentos de suas vidas, de modo a serem achados aprovados por Deus, e isto explica bastante, porque foram tão abençoados e usados por Deus, a par de todas as perseguições e tribulações que tiveram que suportar por causa da sua fidelidade.
Quando fazemos este exame e julgamento de nós mesmos, acertamos o passo, e ficamos livres dos juízos corretivos do Senhor (v. 31).
Mas ainda que sejamos julgados pelo Senhor, Ele o faz para nos disciplinar, de forma a não sermos condenados juntamente com o mundo.





“1 Sede meus imitadores, como também eu de Cristo.
2 E louvo-vos, irmãos, porque em tudo vos lembrais de mim, e retendes os preceitos como vo-los entreguei.
3 Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo.
4 Todo o homem que ora ou profetiza, tendo a cabeça coberta, desonra a sua própria cabeça.
5 Mas toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua própria cabeça, porque é como se estivesse rapada.
6 Portanto, se a mulher não se cobre com véu, tosquie-se também. Mas, se para a mulher é coisa indecente tosquiar-se ou rapar-se, que ponha o véu.
7 O homem, pois, não deve cobrir a cabeça, porque é a imagem e glória de Deus, mas a mulher é a glória do homem.
8 Porque o homem não provém da mulher, mas a mulher do homem.
9 Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem.
10 Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos.
11 Todavia, nem o homem é sem a mulher, nem a mulher sem o homem, no Senhor.
12 Porque, como a mulher provém do homem, assim também o homem provém da mulher, mas tudo vem de Deus.
13 Julgai entre vós mesmos: é decente que a mulher ore a Deus descoberta?
14 Ou não vos ensina a mesma natureza que é desonra para o homem ter cabelo crescido?
15 Mas ter a mulher cabelo crescido lhe é honroso, porque o cabelo lhe foi dado em lugar de véu.
16 Mas, se alguém quiser ser contencioso, nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus.
17 Nisto, porém, que vou dizer-vos não vos louvo; porquanto vos ajuntais, não para melhor, senão para pior.
18 Porque antes de tudo ouço que, quando vos ajuntais na igreja, há entre vós dissensões; e em parte o creio.
19 E até importa que haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós.
20 De sorte que, quando vos ajuntais num lugar, não é para comer a ceia do Senhor.
21 Porque, comendo, cada um toma antecipadamente a sua própria ceia; e assim um tem fome e outro embriaga-se.
22 Não tendes porventura casas para comer e para beber? Ou desprezais a igreja de Deus, e envergonhais os que nada têm? Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisto não vos louvo.
23 Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão;
24 E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim.
25 Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim.
26 Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha.
27 Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor.
28 Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice.
29 Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor.
30 Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem.
31 Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados.
32 Mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo.
33 Portanto, meus irmãos, quando vos ajuntais para comer, esperai uns pelos outros.
34 Mas, se algum tiver fome, coma em casa, para que não vos ajunteis para condenação. Quanto às demais coisas, ordená-las-ei quando for.”. (I Coríntios 11.1-34)







I Coríntios 12

OS DONS DO ESPÍRITO SANTO – I Coríntios 12

Os dons espirituais exaltam e manifestam a  glória de Cristo através da Igreja, porque quando subiu aos céus concedeu tais dons sobrenaturais à mesma, pelo derramar do Espírito Santo, de modo que o Seu nome seja exaltado através da manifestação deles.
Estes dons sobrenaturais extraordinários, citados neste 12º capítulo de I Coríntios, estão destinados a desaparecer por ocasião da segunda vinda do Senhor, no entanto, até que venha, Ele há de usá-los para a edificação mútua dos cristãos, para o desempenho do serviço do ministério, e para a glória do Seu santo nome.
Antes de qualquer comentário específico sobre os dons, é bom mantermos sempre em vista que eles são distribuídos pelo Espírito para um propósito proveitoso em relação ao reino de Cristo, na conversão e edificação dos eleitos, e portanto, são concedidos tanto em número quanto em diversidade, de acordo com as necessidades presentes e locais. Por isso abundavam na Igreja Primitiva, sobretudo quando o evangelho começou a ser pregado em todo o mundo, especialmente para a confirmação de que a Palavra pregada era a verdade, e isto continuou ocorrendo até hoje, à medida que áreas pioneiras são alcançadas para o evangelho, nas quais Cristo nunca fora pregado antes.
Paulo fala que os dons do Espírito devem ser procurados com zelo, e os melhores dons, a saber, os que são mais necessários para a edificação da Igreja, mas o fruto do Espírito é o caminho mais excelente em cuja busca os cristãos devem se empenhar com igual zelo (v. 31), e por isso, o apóstolo abriu um parêntesis entre os capítulos 12 e 14 nos quais discorre sobre os dons sobrenaturais extraordinários, para falar do principal fruto do Espírito, que é o amor, no capítulo 13 de I Coríntios.
No entanto, não se pode desprezar os dons espirituais extraordinários, por serem adventícios, ou seja, eles vêm e vão e se manifestam conforme a ação do Espírito Santo, sem no entanto serem incorporados à nossa natureza, como é o caso da graça que transforma os nossos corações, porque um dos trabalhos do Espírito, para o aperfeiçoamento da nova criatura, ou edificação da  Igreja, consiste na comunicação dos Seus dons espirituais aos seus membros.
Pelo Seu trabalho de salvação pela graça, Ele torna todos  os  eleitos, pedras vivas; e pela comunicação destes dons Ele edifica estas pedras num templo para a habitação do Deus vivo.
Ele os une espiritualmente num corpo místico, sob o Senhor Jesus Cristo como cabeça para governá-los, por meio de dons e  habilidades espirituais.
Através dos dons a natureza deles é feita uma unidade por graça com e através do uso dos vários  dons,  assim como o corpo humano físico tem muitos órgãos com diferentes funções.
Todo cristão é uma parte do corpo de Cristo, da mesma essência dele, animados pelo Espírito de graça, mas uma pessoa é olho,  outra mão, outra pé, no corpo, em virtude dos diferentes dons, porque a graça está distribuída a cada cristão na medida do  dom  de Cristo (Ef 4.7).
Os dons espirituais são "os poderes do mundo vindouro" referidos em Hb.6; e são operações eficazes do poder de Cristo  por  meio das quais o Seu reino foi erguido e é preservado.
Por exemplo, pelo dom de conhecimento e sabedoria, os ministros  continuam sustentando a pregação do evangelho em todo o mundo, e sem isto seria impossível pregar com poder. E a medida deste poder é regulada por Deus, sendo maior ou menor, conforme a extensão do trabalho ministerial de cada um. Por exemplo, foi dado aos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo, uma medida de poder espiritual, para exercerem os seus ministérios, muito maior do que é dada aos crentes em geral, e assim eles foram habilitados para nos transmitirem a palavra da verdade do evangelho conforme se encontra registrada nas Escrituras.
Os ministros precisam portanto, de um dom especial de oração e pregação que o Espírito Santo lhes comunica.
E é por meio dos dons que a Igreja debaixo do Novo Testamento se diferencia daquilo que foi debaixo do Velho.
Realmente  há  uma grande diferença entre as suas ordenações e as nossas, porque o que estava vestido de sombra na Antiga Aliança, está  acomodado na luz mais clara do evangelho, de modo que as coisas divinas estão mais clara e expressamente manifestadas a nós (Hb  10.1).
A principal diferença consiste na ministração do Espírito para o desempenho devido da adoração no evangelho  em virtude  destes dons dados aos cristãos para tal fim.
Consequentemente o todo da adoração evangélica é chamado de "ministério do Espírito", e por isso é dito que é mais  gloriosa  (II Cor 3.8) que a que fora feita por Ele no Velho Testamento.
A graça e a verdade que vieram por meio de Jesus Cristo são manifestadas através dos dons na Igreja, e então quando estes  são negligenciados, consequentemente é perdida a glória inteira desta graça e verdade, bem como sua força e eficácia.
Embora os dons não sejam, nenhuma graça permanente e eterna, contudo são os grandes meios através dos quais toda graça é exercitada, e embora a vida espiritual da Igreja que permanecerá na eternidade não consista neles, contudo a ordem  e  edificação  da igreja dependem completamente deles.
E por isso são tão frequentemente mencionados na Bíblia como o  grande  privilégio  do Novo Testamento.
Por isso encontramos nos escritos dos apóstolos instruções quanto à natureza e ao seu uso apropriado.
E nos é ordenado seriamente que os busquemos, especialmente aqueles dons que são mais úteis e que sirvam para a edificação (I Cor 12.31).
Cabe destacar que antes de tal ordem, Paulo havia descrito nos versos anteriores, a quais dons estava se referindo agora mais especificamente, conforme podemos ver nos versos 28 a 30:

“28 E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro doutores, depois milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas.
29 Porventura são todos apóstolos? são todos profetas? são todos doutores? são todos operadores de milagres?
30 Têm todos o dom de curar? falam todos diversas línguas? interpretam todos?”.

Nós podemos observar que há uma citação de ofícios juntamente com capacitações.
Ele falou de apóstolos, profetas, mestres (doutores), operadores de milagres, ao lado dos dons de curar, de socorros, governos e variedades de línguas.
Todas estas capacitações serão extintas quando a Igreja estiver glorificada no céu, mas são absolutamente necessárias aqui na terra, para que ela cumpra a missão da qual foi encarregada por Cristo.
Destes dons citados, gostaríamos apenas de comentar o relativo a governos (v. 28), que no original grego vem da palavra kubernesis, cuja única ocorrência no Novo Testamento é citada nesta passagem.
Vemos que os vários tipos de governos existentes na Igreja demandam que a pessoa tenha este dom espiritual.
Não se trata portanto de capacitações e habilitações seculares, mas de um dom que é concedido pelo Espírito àqueles que são chamados a exercerem as funções relacionadas à liderança, como a de apóstolo, profeta, pastor e mestre; de modo que a chamada pode ser identificada pelo recebimento dos dons necessários ao desempenho do ministério.
Ninguém deve portanto, se intrometer nestas sagradas funções caso não possua o citado dom, o que será notório a todos que são verdadeiramente espirituais, porque discernirão que a pessoa estará exercendo liderança na carne, e não por uma chamada e capacitação especial e sobrenatural que lhe tenha sido concedida pelo Espírito.
O nome geral desses dons espirituais no original grego em Ef 4.8, correspondente ao Salmo 68.18 é  dóma,  que significa  dádiva, presente, e na particularização de cada um deles, a palavra usada no grego em I Cor 12 é carisma, que significa graça, dom, favor sem a consideração dos nossos méritos, isto é, são efeitos gratuitos e imerecidos da generosidade divina.
Nas  mentes e espíritos dos homens aos quais são dados, eles são poderes espirituais e dons para atingir um determinado fim; mas quanto à sua causa original e principal, são presentes grátis, imerecidos.
Consequentemente o Espírito Santo, como o seu autor,  é chamado por Jesus em João 4.10 de "dórean tou Theou" que significa "dom de Deus". E o próprio efeito também é chamado de "dórean tou Pneumaton", isto é "dom do Espírito Santo", em Atos 10.45; e em Atos 8.20 de "dom de Deus"; em Ef 3.7 de "o dom da graça de Deus"; em Ef 4.7 de "dom de Cristo" e em Hb 6.4 de "dom celestial".
Em todos estes textos nós vemos que é referido na comunicação dos dons espirituais, a gratuidade da sua concessão pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo.
Por isso são chamados de carismatas, isto é dons gratuitos, presentes que procedem de mera generosidade.
E por isso as graças salvadoras são também expressadas geralmente pelo mesmo nome de carismatas porque são também livremente  comunicadas a nós (Rom 11.28).
Mas os dons espirituais são frequentemente assim nomeados, como se vê em  Romanos  12:6;  I  Coríntios 1:7, 7:7, 12:4,9,28,30; II Timóteo 1:6; I Pedro 4:10.
E é principalmente a sua gratuidade absoluta que está  implícita no  uso deste nome.
Consequentemente aquele que pensou que poderia comprá-los com dinheiro ficou debaixo de uma maldição porque  pensou comprar o dom gratuito de Deus com dinheiro - At 8.20.
Por isso incorrem em grave pecado todos aqueles que fazem da obra de  Deus e da pregação do evangelho um comércio e ocasião para obtenção de lucro pessoal, porque o que foi recebido  de  graça,  deve  ser concedido de graça, por causa da própria natureza gratuita do que Deus tem concedido aos pecadores em Cristo Jesus.
E cabe lembrar que será principalmente nisto que consistirá a apostasia dos últimos dias, a saber, o ato de mercadejar a Palavra  de Deus, porque configura a clara perversão da natureza mesma do evangelho da graça de Deus, manifestada principalmente na gratuidade  do recebimento dos dons do Espírito, em cujo nome está referida tal gratuidade.
Com a falta de gratuidade afasta-se o poder do Espírito, que não pode operar em bases diferentes daquelas que estão estabelecidas por Deus para que tudo no evangelho seja por graça e mediante a fé.
Quanto ao significado pleno da palavra dom, conforme se encontra no Novo Testamento, nós temos a especificação indicada pela palavra grega pneumatika, que lhe é acrescentada, e que significa espiritual.
Assim, são dons, mas dons espirituais  (I  Cor 12.1; 14.1).
Assim não são dons naturais e nem morais, mas espirituais; e isso indica que a sua natureza é espiritual, e os objetos nos quais são exercitados são também coisas espirituais.
Em Hebreus 2.4 os dons são chamados de distribuições, ou partições do Espírito Santo, não significando isto que o Espírito  Santo seja dividido, mas que é Ele que distribui os dons conforme é da Sua vontade.
E é ordenado em I Cor 12.31 que se busque com zelo os melhores dons.
Estes melhores no original grego é kreitton, que  significa os mais úteis, os melhores para o serviço.
Os dons são repartidos, distribuídos pelo Espírito, de forma diversificada no corpo de Cristo, de modo que ninguém possui todos os dons, como se infere do dizer de Paulo em I Cor 12.29, 30:

"Porventura, são todos apóstolos? Ou, operadores de  milagres?  Têm todos dons de curar? Interpretam-nas todos?".

E Deus faz isto em Sua sabedoria infinita de forma  que todos dependam uns dos outros na Igreja, para a sua edificação pessoal.
Por exemplo, a ovelha depende da pregação do pastor, e o pastor depende da oração das ovelhas por ele para que tenha o que pregar.
E esta dependência na diversidade é o que coopera para a manifestação do amor na unidade do corpo, na justa cooperação de cada membro, para a edificação da igreja, pelo uso dos dons recebidos de Deus, e  que  são necessários para o benefício de todo o corpo, assim como todos os órgãos são necessários para o pleno funcionamento do corpo  humano.
Esta variedade e diversidade dos dons, conforme o apóstolo Paulo comprova, é para o ornamento e benefício da igreja (I Cor  12.15-25).
E assim a igreja é um corpo orgânico, em razão desta variedade na distribuição de dons diferentes para os diversos  membros do corpo, e é no uso correto destes dons em que consiste a harmonia, beleza, segurança e funcionamento do todo.
Assim, onde  houvesse apenas dons de um mesmo tipo, não haveria um corpo, mas um só membro; e onde não há nenhum dom, não há nenhum corpo animado, mas uma carcaça morta.
Como dissemos, esta distribuição diversificada, variada, é um ato do Espírito Santo (I Cor 12.4).
E a edificação da igreja é a finalidade geral de todos os dons.
Como os dons são também designados por diakonian, no grego, isto é, ministrações (I Cor 12.5), são portanto habilidades  por meio das quais é possível ministrar coisas espirituais para o benefício e edificação de outros.
Por  isso são  designados  por operações ou funcionamentos eficazes (I Cor 12.6), porque produzem os efeitos esperados naqueles em quem são ministrados.
E finalmente são chamados por Paulo de manifestações do Espírito (I Cor 12.7), porque é por eles que o Espírito manifesta  o  Seu poder e presença na igreja, pelos efeitos produzidos pelos Seus dons, e que evidenciam que o Espírito está neles, por  serem  determinados e forjados por Ele, conforme Seu próprio poder e graça, de modo que não o possuidor do dom, mas Deus seja  glorificado, pelo reconhecimento dAquele que realmente operou.
Os dons são efeitos da operação do Espírito nos homens, mas não são graças que estarão ligadas para sempre à sua natureza.
Assim como o remédio faz o seu efeito e é expelido pelo organismo, de igual modo os efeitos dos dons trabalham no mundo  espiritual depois de terem operado o efeito designado por Deus.
Assim é até possível que pessoas recebam dons do Espírito sem que nunca tenham recebido o Espírito para o fim principal que Ele é prometido que é o de regeneração e santificação dos pecadores, transformando-os em filhos de Deus.
Lembramos que Judas era do maligno, filho da perdição, e teve certamente dons do Espírito quando atuava com os demais apóstolos, porque ninguém desconfiou naqueles três anos que ele trairia Jesus, e que era um diabo (opositor da obra de Deus) e não um verdadeiro eleito.
Assim como de Judas, de muitos pode ser dito que são feitos participantes do Espírito quanto aos efeitos externos dEle, nestas operações relativas aos dons, que se manifestam nos homens que ele quiser, por ação da Sua influência e poder, ainda que estes continuem irregenerados.
Jesus tinha escolhido os apóstolos, e os dotou dos dons extraordinários necessários para a realização do trabalho que tinham que realizar, mas um deles, como vimos antes, continuou sem as graças santificadoras, e não se encontrava em nenhuma condição melhor que a do diabo; ainda que em virtude desta escolha para o apostolado para um determinado  tempo, tivesse sido dotado com os mesmos dons espirituais que haviam sido dados aos demais apóstolos.
Judas teve interesse na eleição para o apostolado para fins interesseiros, tanto que a aceitou, mas não tinha qualquer  interesse na eleição eterna, que consiste na santificação pelo Espírito.
Assim, por serem os dons concedidos por uma eleição temporária, e não eterna como é a que é pela graça salvadora, então Deus pode chamar a qualquer um para o trabalho na igreja, e Ele lhes dará os dons que forem necessários para o  próprio  objetivo deles.
Esta é a razão porque mesmo ministros eleitos, que têm a salvação pela graça em Jesus Cristo, podem ainda pregar com  poder, ou profetizar, ou manifestar qualquer dom espiritual, como por exemplo falar em línguas, mesmo quando não estão com suas vidas  santificadas, porque como vimos antes, até mesmo incrédulos podem receber estes dons extraordinários.
E isto não é  nenhum favor a eles ou vantagem, porque só servirá para agravar a sua condenação porque mesmo debaixo da manifestação dos poderes sobrenaturais do Espírito sobre eles, nem assim se arrependeram de seus pecados e se converteram a Cristo.
E este mau  exemplo  deles  não deve portanto servir de motivo para colocarmos algum tipo de menosprezo nos dons espirituais, como se fossem algo que  possa  ser negligenciado ou desprezado em razão deste uso por pessoas que não estejam santificadas pela graça, porque são absolutamente  necessários para a realização do ministério.
Isto ocorre para servir de alerta aos verdadeiros cristãos para que  não  descuidem  da santificação de suas vidas, pela mortificação do pecado, e por um andar obediente à Palavra, mediante o Espírito,  e  que  não  se deixem iludir até mesmo pela abundância de operações que lhes é concedida manifestarem através dos dons espirituais, porque, como vimos, não fazem parte das graças santificantes e eternas, e não deve portanto, ser medida por eles o grau da nossa santificação, senão pelos frutos que temos dado para Deus.
É pelo fruto que se conhece a árvore.
A advertência  do apóstolo  Paulo  aos cristãos da igreja de Corinto continua se aplicando a todos nós e em todas as épocas da igreja.
Muitos falsos profetas disfarçados em pele de ovelha, e agindo dissimuladamente, estarão operando prodígios e maravilhas no tempo do fim, e somos advertidos pelo Senhor e pelos apóstolos a nos acautelarmos deles, de forma que não nos deixemos impressionar e levar pelos sinais que realizam, ainda que em nome de Cristo.
Somos chamados a conhecê-los pelo fruto do  Espírito em suas vidas, e não pelos dons extraordinários, porque muitos expulsarão demônios, profetizarão, realizarão milagres,  com  grande zelo na igreja, em nome de Cristo, e Ele declarará a um grande número deles que não fazem parte do Seu rebanho.
Todavia, aquele que tiver o dom de profetizar não deve se intimidar por haver algum Saul ou Balaão também entre os profetas.
Lembram das cidades de Corazim e Betsaida?
Dos nove leprosos que foram curados e que não voltaram para dar glória a Deus?
E  isto continua e continuará ocorrendo na ministração do evangelho, porque muitos que estiverem debaixo da influência do poder do  Espírito Santo, e até mesmo sendo participantes das suas operações, não chegarão no entanto a se converterem a Deus.
E é muito importante que os ministros do evangelho saibam disto para que não se precipitem a arrolarem tais pessoas no rol de membros  de suas igrejas por terem visto tais manifestações sobrenaturais nas suas vidas.
Assim, muitos podem ser participantes da ministração externa dos dons espirituais, e não serem feitos participantes da graça  eficaz do Espírito que regenera e santifica.
É importante destacar em relação a isto que aqueles que são participantes da graça salvadora que há em Cristo Jesus, são  objeto do Seu ofício sacerdotal, na realização da mediação que Ele faz entre o Pai e os filhos adotados por Ele por causa desta Sua mediação como sumo sacerdote da nossa fé.
Os dons espirituais procedem somente do poder e do ofício de Rei de Cristo.
E isto explica em parte a possibilidade de  serem alvo da recepção dos dons espirituais pessoas que não estejam unidas a Ele pela fé, e que não foram portanto transformadas em  filhos de Deus.
Ele foi exaltado à destra de Deus para conceder dons aos homens, e no Salmo 68.18 se afirma que estes  dons seriam concedidos até mesmo a rebeldes, não como forma da aprovação da sua rebeldia por Deus, mas para demonstrar a soberania de Cristo como Senhor de todos os homens, ainda que não seja o Salvador de grande número deles, por não se arrependerem de seus pecados.
E tendo sido designado como cabeça sobre todas as coisas, Ele recebeu a promessa do Espírito do Pai, para distribuir  estes  dons como bem Lhe apraz.
Deste modo até mesmo ao mundo não salvo, que não foi santificado, Ele não se deixa sem testemunho sobre o Seu poder  real sobre toda a carne, porque além de dar vida eterna a todos os que o Pai lhe tem dado (Jo 17.2) - mas por ser isto completamente invisível para o mundo, Ele manifesta o Seu senhorio através de outras evidências pelos julgamentos que efetua no mundo, e  pela  manifestação dos dons espirituais, que são os poderes do mundo novo que passaram a operar desde a Sua morte e  ressurreição, porque, por exemplo, não se sabe de tais operações do Espírito Santo em todas as nações da terra, senão somente depois do dia de Pentecostes, que ocorreu por causa da obra realizada por Jesus.
E o Senhor manifesta a Sua soberania em juízo quanto ao mau uso dos dons, porque aqueles que os receberam  e manifestaram estes dons em grande escala, podem tê-los apagados, como tendo sido destituídos deles, por negligência ou mau uso dos dons, de  modo que o poder soberano do Senhor é manifestado na repreensão que passa em suas vidas.
Quantos pregavam com poder e agora  são  como trombetas enferrujadas, com suas consciências doloridas, e que já não soam mais, lançadas a um canto de um quarto escuro.
Nestes que têm os seus dons deteriorados se cumpre a palavra de Zac 11.17:

"Ai do pastor inútil, que abandona o rebanho! A espada cairá sobre o seu braço e sobre o seu olho direito; e o seu braço completamente se secará, e o seu olho direito completamente se  escurecerá.".

E quando isto acontece, mesmo quando ficam sensatos da sua condição, e mesmo que venham a se envergonhar dela, é  possível que não venham mais a poder se recobrar, porque estão debaixo de uma sentença de juízo do Senhor sobre eles.
Por isso é importante saber fazer distinção entre a graça salvadora que é o dom irrevogável de Deus para todos os cristãos em Jesus Cristo, e os dons temporários do Espírito, que o Senhor distribui conforme Lhe apraz, e administra em conformidade com a  Sua  própria soberania  e juízo.
Muitos foram afastados por Ele do ministério sem que pudessem jamais se levantar para voltar à realização da sua função com o mesmo poder anterior, porque lhes foram retirados os dons espirituais, ainda que não a sua salvação.
Para evitar a autoproclamação de ter recebido de Deus este ou aquele dom, ofício ou ministério, geralmente  isto  é confirmado pela igreja, especialmente pelos seus profetas.
Daí a importância de se ter na igreja o empenho pela busca dos melhores dons, de modo que havendo, como havia na Igreja de Antioquia, mestres e profetas, que não tinham apenas o dom de profetizar e ensinar, mas também que jejuavam e oravam, e por isso puderam receber a ordem do Espírito Santo de imporem as mãos sobre Paulo e Barnabé para serem enviados aos gentios.
O próprio Timóteo recebeu o seu dom de evangelista por profecia (I Tim 4.14; II Tim 1.6; 4.5) com imposição de mãos de Paulo e dos presbíteros, de modo que houve um reconhecimento da igreja em relação à sua chamada.
Se alguém, portanto, se autoproclama pastor, evangelista, profeta, mestre ou qualquer outra função sem esta chamada de Deus pelo reconhecimento da igreja, por outros dons que confirmem tal chamada, tal pessoa é um impostor na obra de Deus, porque a igreja é um corpo onde nenhum membro atua isoladamente.
Ainda falando sobre o ofício de evangelista cabe destacar que não têm, enquanto na realização da função que foram chamados a cumprir, um trabalho fixo, como o dos pastores, que são constituídos sobre o governo de congregações locais.
Eles devem  pregar o evangelho em todos os lugares e a todas as pessoas, conforme lhes seja dada ocasião.
Nós temos um exemplo de evangelista na pessoa de Wesley, que atuava como um evangelista tendo debaixo da sua supervisão vários ministros fixos que atuavam nas congregações fundadas por ele ou por aqueles que estavam ligados a ele na liderança do movimento metodista, que veio a se tornar posteriormente numa denominação.
Entretanto, não  padece  dúvida  que Wesley foi levantado juntamente com outros para tirar a igreja do estado de dormência em que se encontrava,  e  que  aquele seu trabalho era de fato um avivamento que havia sido produzido pelo Espírito Santo em seus dias.
Nós temos menção ao ofício de profetas no Novo Testamento em passagens como I Cor 12.28; Ef 4.11; At 13.1,2.
Não padece dúvida que são oficiais extraordinários sem o ofício de governo da igreja, mas que são colocados em ordem de importância para a igreja logo depois dos apóstolos (I Cor 12.28; Ef 4.11), e isto era especialmente decorrente  da importância do seu ofício principalmente nos dias em que a igreja estava sendo fundada pelos apóstolos, porque foi por eles que o Espírito Santo revelava e confirmava as suas direções e instruções específicas, principalmente para o trabalho missionário da igreja.
Veja que foi por eles que o Espírito separou a Paulo e a Barnabé.
E assim são relacionados em Ef 4.11 entre os  apóstolos e os evangelistas, cujo trabalho (dos evangelistas) nos dias apostólicos era de maior extensão e importância do que os dos próprios pastores e mestres, que vêm relacionados logo depois deles, nesta ordem.
Pelo ministério dos profetas do Novo Testamento o Espírito Santo deu portanto revelações e direções imediatas quanto ao dever da igreja.
Eles predisseram as coisas por vir pela inspiração do Espírito, nas quais o dever ou edificação da igreja estavam envolvidos.
Assim Ágabo predisse a escassez que haveria nos dias de Cláudio César, de modo que se fizessem  provisões, antecipadamente, para os santos pobres de Jerusalém, de forma que não viessem a sofrer por isto (At 11.28-30).
Ágabo foi usado por Deus naqueles dias para o bem do Seu povo, tal como havia usado José nos dias do Antigo Testamento no Egito.
E o mesmo Ágabo profetizaria depois quanto aos sofrimentos de Paulo em Jerusalém (At 21.10,11) e a mesma coisa havia sido  revelada aos profetas que estavam na maioria das igrejas pelas quais Paulo havia passado, porque ele próprio deu este testemunho de que o Espírito vinha lhe dizendo de cidade em cidade quanto às aflições que teria que enfrentar (At 20.22,23).
Assim, a profecia daqueles profetas foi confirmada pelo Espírito através da profecia de Ágabo, que era sem qualquer sombra de dúvida um profeta do Senhor.
Então o ministério dos profetas é usado pelo Espírito para consolar, edificar e exortar a igreja, de forma que ela possa cumprir a missão que tem no mundo de dar testemunho de Cristo.
Deve-se no entanto ser feita a distinção entre o ofício e o simples dom de profetizar, porque Ágabo tinha tanto o dom quanto o  ofício, mas das quatro filhas de Filipe, o evangelista, se diz apenas que profetizavam (At 21.9) e não é dito que  eram  profetisas na igreja, com um ofício regular recebido de Deus para ministrarem na igreja.
Quanto ao ofício de profeta depois dos dias apostólicos, temos razão de pensar que tenha passado ou seja muito raro, porque estava associado à necessidade da fundamentação da igreja, e como este fundamento já foi lançado e concluído pelos  apóstolos, não há razão para se pensar na continuidade deste ofício, tanto quanto o de apóstolo, mas cabe ressaltar que se o ofício foi extinto, não foi contudo o do dom de profetizar que pode ser concedido a qualquer cristão para um fim útil na edificação da igreja.
Veja que é dito dos doze discípulos de João que Paulo encontrou em Éfeso, que tanto falaram em línguas quanto profetizaram.
Aqui está bastante claro, que não foram constituídos profetas do Senhor na Igreja, mas que receberam o dom de profetizar naquela  ocasião, que pode ter sido manifestado ou não posteriormente neles.
De igual modo devem ser considerados os profetas que são citados em I Cor 14.29-33, isto é, não eram oficiais  nas igrejas mas pessoas que haviam recebido o dom extraordinário de profecia, conforme este é citado em Rom 12.6.
Quanto aos dons de sinais e maravilhas que eram feitos pelas mãos dos apóstolos (At 14.3) não podemos certamente falar da cessação total destes dons, porque Deus ainda tem operado na igreja fazendo sinais e maravilhas, mas evidentemente não na mesma medida e grau que o fizera quando da confirmação da verdade que estava sendo pregada pelos apóstolos.
Estas operações miraculosas eram o testemunho do Espírito Santo enviado do céu para confirmar a verdade do evangelho conforme é afirmado em Hebreus 2.4.
Como esta verdade já está confirmada nas Escrituras, não há porque pensar que um verdadeiro ministério de poder do Espírito Santo tenha que ser acompanhado obrigatoriamente pela intensa realização de sinais e maravilhas, como foi no princípio em que até mesmo a sombra de Pedro e os lenços de Paulo curavam toda sorte de enfermidades, nos primeiros anos de pregação do evangelho.
O poder de Deus permanece o mesmo, mas as operações do Espírito Santo são manifestadas pela Sua exclusiva soberania e sempre  em propósitos santos, sábios e elevados, e nunca para satisfazer a mera curiosidade ou expectativa das pessoas.
O Senhor ainda cura enfermidades, e não há qualquer impossível para Ele, mas se haverá uma mesma demonstração de poder em cura de cegos de nascença, de paralíticos e de toda sorte de enfermidades como nos dias de Jesus e dos apóstolos, isto não foi, por enquanto, testemunhado em qualquer parte, na mesma dimensão dos dias apostólicos, nestes dois mil anos de história da igreja, mas como não sabemos o que Deus tem reservado por Sua exclusiva autoridade, devemos estar abertos para até mesmo operações, em  graus ainda maiores do que aqueles, mas que não pensemos que será nisto que se comprovará a existência do poder do Espírito Santo  entre nós, porque são diversas as suas ministrações e operações, que Ele realiza conforme Lhe apraz, sempre para propósitos  úteis (I Cor 12.7-11). E como dissemos anteriormente, a palavra da verdade já foi confirmada pelos sinais e maravilhas dos apóstolos, e já se encontra, desde então e para sempre, registrada na Bíblia.
Aquele que justifica os pecadores foi a causa do exercício de todos os dons miraculosos, que operaram no mundo desde a Sua morte na cruz, como nunca se viu antes, indicando assim que não há salvação em nenhum outro Nome.
O dom espiritual chamado pelo apóstolo de dom de "palavra de sabedoria" foi o dom que deu especialmente aos apóstolos a  capacidade de entenderem os mistérios do evangelho, pela iluminação e ensino do Espírito Santo, principalmente para a produção dos escritos do Novo Testamento e para ser lançado o fundamento no qual a igreja foi e é edificada.
Este dom nada tem a ver portanto com a sabedoria deste mundo para conhecer realidades relativas ao mundo natural, para o conhecimento chamado científico ou filosófico; porque se trata de uma capacitação sobrenatural e  espiritual conferida  pelo Espírito Santo aos cristãos, para usarem com sabedoria aquilo que lhes foi concedido gratuitamente por Deus, em Cristo Jesus.
É por este mesmo dom que o Espírito Santo ilumina as mentes dos cristãos e especialmente aos pastores para que possam conhecer e discernir a verdade relativa ao evangelho, para que possam pregá-la e ensiná-la com poder.
Esta é aquela sabedoria à qual os inimigos do evangelho não podem resistir (Lc 21.15).
E o dom é de palavra de sabedoria e não apenas sabedoria, porque ele é exercido por meio do uso da palavra ensinada pelo Espírito, tanto na pregação quanto na defesa do evangelho.
Foi este dom que propiciou a Estevão enfrentar os inimigos da verdade, ainda que tivesse sido martirizado sob eles (At 6.10);  e que concedeu discernimento e autoridade aos apóstolos para enfrentarem o sinédrio (At 4).
Quando Pedro se referiu às epístolas de Paulo ele afirmou que ele as escreveu de acordo com a sabedoria que lhe havia sido  dada (II Pe 3.15).
Não padece dúvida que foi o dom especial da palavra de sabedoria espiritual que permitiu a Paulo conhecer e escrever sobre as verdades do evangelho.
Então este dom chamado de palavra de sabedoria não é nenhum dom de capacitação ou aperfeiçoamento de talentos naturais ou de sabedoria, para conhecer realidades naturais, senão realidades espirituais relativas ao evangelho, na aplicação delas na igreja, visando à sua edificação.
Portanto, o ministério de qualquer igreja, no qual esteja faltando este dom, estará envolto em obscuridade quanto àquelas verdades que já foram reveladas de uma vez por todas, e que podem somente ser discernidas pelo Espírito Santo, porque coisas espirituais são discernidas espiritualmente, pela capacitação concedida pelo Espírito, não apenas de conhecê-las (relativa a outro  dom  chamado de palavra de conhecimento), mas sobretudo para aplicá-las.
No que se refere a conhecer a verdade pela iluminação do Espírito, isto é feito pelo dom espiritual da palavra de conhecimento, mas quanto a aplicar esta verdade com eficácia, de modo que esta produza o efeito esperado por Deus, isto é feito através do uso do dom de sabedoria.
Este dom de palavra de sabedoria demonstra a nossa completa insuficiência para a obra do ministério pela nossa própria capacidade e poder.
Por isso Paulo indaga quanto ao poder e sabedoria que são necessários para o ministério, quem é suficiente para tais coisas, caso não seja capacitado pelo Espírito (II Cor 2.16)?
É por isso que o mesmo Paulo diz que todo aquele que pensa  saber alguma coisa não sabe ainda como convém, porque o conhecimento das coisas de Deus não é por meio de sabedoria carnal, mas espiritual concedida sobrenaturalmente pelo Espírito.
Assim se alguém deseja ser sábio segundo Deus, deve estar  consciente  da sua insensatez inata relativamente aos caminhos elevados do Senhor, para que possa receber esta sabedoria espiritual do alto (I Cor 3.18).
O dom palavra de conhecimento não é a iluminação, unção do Espírito que é comum a todos os cristãos e pela qual são ensinados acerca do reino de Deus, porque este conhecimento entrará pela eternidade afora, mas do dom palavra de conhecimento é dito, como a todos os dons extraordinários, que ele passará (I Cor 13.8).
Então o conhecimento que se obtém com este dom é um conhecimento especial de modo que se possa expor as verdades do evangelho com uma habilidade que não é comum a todos os cristãos, como se deu no caso dos apóstolos, dos reformadores,  particularmente  a Lutero, e a todos aqueles que têm recebido este dom, especialmente para a defesa do evangelho.
Se ele é um dom necessário a todos os ministros do evangelho, em alguns deles ele se revela mais proeminente em razão do uso que Deus fará de tais pessoas.
O chamado dom espiritual de curas citado em I Cor 12.28,30 traz a palavra no plural no original grego (iamaton - curas)  porque estas curas se aplicam a toda a diversidade de enfermidades, de forma que o enfoque não está na pessoa que cura, mas no  poder do Espírito para curar todo o tipo de doenças e em quaisquer pessoas.
Por assim dizer, são curas realizadas por Deus de qualquer enfermidade, e não propriamente alguém que tenha a capacidade de curar determinados tipos de enfermidades.
Está implícito portanto que aquele a quem fosse concedido o dom de curas poderia usá-lo para curar qualquer tipo de enfermidade.
Este dom foi concedido aos apóstolos e aos setenta que Jesus enviou (Mt 10.1; Lc 10.9).
Até o próprio Judas foi capacitado com este dom, bem como para expulsar demônios, indicando isto que diferentemente dos dons  de palavra de conhecimento e de sabedoria, não se exige daqueles a quem este dom é concedido nenhuma experiência salvadora da graça de Deus em produção do fruto do Espírito em suas vidas.
A estes dons que são capacitações que não demandam uma necessária intimidade com Deus, podemos acrescentar o de profecia, de línguas desconhecidas, e de operação de milagres, e isto bem comprova que a unção que temos recebido do Espírito é para principalmente sermos instruídos nas verdades do  evangelho, para  praticá-las  em nosso comportamento e experiência de vida.
Não admira portanto que aqueles que usem ou sejam os beneficiários destes dons, que não demandam necessariamente uma prévia intimidade com Deus, que muitos deles não se arrependam dos seus pecados e que não se convertam, como foi o caso  de  Balaão, Saul, Judas, os habitantes de Corazim e Betsaida que foram curados por Jesus e repreendidos por Ele por causa da falta  de arrependimento.
E no entanto, é exatamente nestes dons que a maioria dos cristãos coloca as suas expectativas quanto a serem eles a melhor evidência da realização de uma obra de Deus no mundo, quando vimos que é possível, a recepção e uso destes dons, sem que se tenha uma genuína experiência de conversão.
Devemos portanto, não julgarmos os pensamentos de Deus de acordo com os nossos  pensamentos e os Seus caminhos de acordo com os nossos caminhos. Porque como Jesus disse em Lucas 16.15 há até mesmo coisas  que  os homens consideram elevadas e que para Deus não passam de abominação.
Agora, cabe destacar que este dom de curas é um sinal do reino de Deus quanto ao fato de que em Jesus será extirpada toda enfermidade do meio do Seu povo em razão de terem sido resgatados por Ele da condição caída em que se encontravam em Adão.
E que  somente Ele pode garantir a restauração de todas as coisas na sua perfeição e santidade original, onde não haverá mais morte,  nem dor, nem doença, nem lágrimas.
Este dom exalta então a pessoa do Messias e exibe a Sua misericórdia para com a ruína dos pecadores.
Ele veio trocar a nossa tristeza por alegria, e teremos isto em plenitude no porvir, conforme nos é garantido em amostragem por estas curas que são realizadas pelo Seu poder divino.
Quando João Batista vacilou quanto se Jesus era de fato o Messias, foi curando a muitos que Ele lhe enviou resposta através dos discípulos de João.
Deus havia dado a evidência que havia  prometido  a João de que Aquele sobre o qual ele visse o Espírito vindo na forma de uma pomba para batizá-lO, seria este o que batizaria  com o Espírito e com fogo.
Mas agora, João, em sua luta espiritual no cárcere, próximo da sua execução, procurou conforto de modo a receber um sinal do próprio Jesus na confirmação de que Ele era de fato o Messias esperado (Mt 11.4,5).
Consequentemente as curas são especialmente um sinal para a própria igreja para que tenha a convicção de que Jesus  é  de  fato aquele que tomou sobre si as nossas enfermidades e carregou as nossas aflições, porque foi ferido por causa das nossas transgressões, para que pelo castigo que Ele sofreu nós pudéssemos ser curados de todo o mal que o pecado introduziu no mundo (Is 53.4).
E através destas curas o Messias mostra o Seu caráter misericordioso e bondoso para com aqueles que nEle confiam, para serem  libertados de suas misérias a que ficaram sujeitos por causa do pecado original.
O autor do evangelho sinalizou então através das curas físicas que Jesus é também e principalmente Aquele e o único que pode curar nossas doenças espirituais, de modo que não poucos os que foram e são curados de suas enfermidades físicas são convencidos de que Ele é o Salvador e assim confiam nEle também para serem salvos (At 3.8).
Entretanto, como já dissemos antes, os homens podem ter os seus corpos curados por milagres enquanto as suas almas não são curadas pela graça, por causa do seu endurecimento  no pecado e recusa de se arrependerem.
O dom espiritual de operação de milagres referido em I Cor 12.10 é no original grego energema dínamis, isto seria traduzido literalmente como energia poderosa, ou operações poderosas, como no dizer de Pedro em Atos 3.12 que não havia curado o  coxo  pelo seu próprio poder.
Então o dom de milagre é o efeito imediato do poder divino enquanto realiza aquilo que o homem,  conforme  no dizer de Pedro, não pode realizar pelo seu próprio poder.
Quanto ao dom espiritual da fé não é à fé comum a todos os cristãos que se refere este dom, mas à fé que se apoia numa  revelação especial do Espírito para garantir a realização de operações miraculosas contra toda insinuação ou oposição do inferno, da carne ou do mundo, de modo que o nome de Deus seja glorificado.
Nós temos vários exemplos deste dom operando no Antigo Testamento, especialmente nos ministérios de Moisés, Josué, Elias e  Eliseu.
Este dom foi concedido abundantemente aos apóstolos e não padece nenhuma dúvida que de um modo geral a todos os cristãos da Igreja Primitiva, porque venceram toda sorte de oposições e perseguições com a perda de muitas vidas e de bens e nada em absoluto pôde detê-los no fazer avançar o reino de Cristo, e isto somente pode ser explicado por este dom espiritual sobrenatural da fé, que lhes foi concedido pelo Espírito, para crerem debaixo de toda sorte de adversidades, conforme as que experimentaram efetivamente.
Nestes dias difíceis que têm chegado à Igreja, deveríamos orar mais na busca deste dom da fé para pregar o evangelho com a mesma intrepidez com que o fizeram os cristãos da Igreja Primitiva.
Em relação ao dom de profecia, que já comentamos anteriormente, cabe apenas destacar que havia dois tipos básicos de profecia: o primeiro mais raro se referia à predição de coisas futuras, conforme as profecias que Ágabo havia recebido do Espírito quanto à fome que ocorreria no mundo nos dias do imperador romano Cláudio, e quanto à prisão que Paulo sofreria em Jerusalém.
O  segundo tipo de profecia, que é o mais comum, se refere à declaração da mente de Deus pela palavra, através de revelação especial e imediata do Espírito Santo. Este dom é de ocorrência mais comum especialmente na pregação que é feita no culto público.
É importante também destacar que como o espírito dos profetas está sujeito aos profetas é possível ocorrer que possam falar coisas de si mesmos, julgando que lhes tenham sido reveladas por Deus, e para evitar que a igreja seja conduzida a qualquer erro por parte dos profetas é determinado que toda profecia seja julgada segundo o padrão das Escrituras.
Além disso deve haver ordem na entrega das profecias no culto público exatamente para que todos possam ouvir cada uma das profecias  e  os  demais  profetas, julgá-las segundo a norma bíblica; o que não seria possível caso fossem passadas em grupos em separado, ou falando  os profetas ao mesmo tempo.
E o efeito da profecia deve ser o de gerar paz na igreja e não confusão entre os cristãos, porque  Deus  é  Deus  de paz (I  Cor 14.33).
O próximo dom espiritual citado por Paulo é o de discernimento de espíritos, isto é, a habilidade ou faculdade de julgar os espíritos, especialmente para saber a procedência das coisas pregadas, ensinadas, profetizadas e operadas, se do Espírito  Santo, ou se da imaginação do próprio espírito humano ou de inspiração satânica; de forma a se garantir principalmente a continuidade da verdade do evangelho entre os cristãos.
O apóstolo Pedro havia alertado a igreja quanto à infiltração de falsos profetas em seu meio assim como havia ocorrido no passado, nos dias do Velho Testamento (II Pe 2.1).
Os falsos mestres são usados pelo Inimigo fingindo terem os mesmos dons espirituais que são repartidos pelo Espírito Santo, e assim implantam as suas heresias destruidoras no seio da igreja.
Por isso o apóstolo João alerta os cristãos  em sua primeira epístola a não darem crédito a todos os  espíritos, mas que antes provem se estes espíritos procedem de Deus ou do diabo.
E nos dias do apóstolo a heresia comum que o diabo estava usando  era  a negação da humanidade de Jesus (gnosticismo),e então João alertou que todo o que estivesse pregando uma tal coisa não o estava fazendo por uma revelação da parte de Deus, mas sendo usado pelo diabo.
Mas o princípio geral de discernir os espíritos é um princípio que se encontra em toda a Bíblia, desde o  Antigo Testamento, e que agora no Novo é facilitado em sua aplicação pelo dom espiritual de discernimento de espíritos, que é concedido pelo  Espírito Santo especialmente àqueles que são constituídos por Ele com liderança na Igreja.
Agora, é importante ressaltar que o Espírito concede este dom de discernimento de espíritos também aos cristãos que são fracos na fé, de modo que possam se prevenir de apostatarem da fé pela influência destes espíritos, que estão a serviço de Satanás semeando o joio do erro por toda a parte.
Quanto ao dom de línguas desconhecidas, este dom não havia sido dado aos apóstolos desde o início do seu ministério como o de curas, por exemplo, e foi concedido somente a partir do dia de Pentecostes quando o Espírito Santo foi derramado para que o evangelho fosse anunciado em todas as nações.
Isto era um sinal claro da parte de Deus de que o evangelho não deveria ficar limitado aos termos da nação de Israel, mas que estava destinado à salvação de pessoas de todos os povos e nações, porque no dia de Pentecostes o evangelho foi pregado a todos os que se encontravam em Jerusalém, na sua própria língua, de forma que  puderam entender perfeitamente o que os apóstolos pregavam.
Este foi o maior e principal uso deste dom espiritual.
O segundo, conforme Paulo fala em I Cor 14 é para a edificação da própria pessoa que recebera este dom do Espírito Santo, de forma a perceber a presença poderosa do Espírito em sua oração, adoração  e louvor a Deus, orando e louvando em seu espírito e não através da iluminação da sua mente.
Assim, através deste dom espiritual de falar em línguas Deus não somente revelaria a expansão da  Sua  salvação para além das fronteiras de Israel, como também subjugaria as almas e as consciências dos homens na obediência a Cristo e ao evangelho,  através dos meios pelos quais o Seu reino seria mantido no mundo.
Não pelo exercício da razão, não pelo poder e força  de exércitos humanos, mas pela pregação da palavra com o fogo do Espírito Santo, que estava representado na aparência de línguas de fogo que apareceram sobre a cabeça de cada um dos que foram batizados no Espírito no dia de Pentecostes.
Era  um  sinal visível  para  a Igreja de que a pregação deve ser com o fogo do Espírito e a todas as pessoas que estão debaixo do céu.
Agora é importante destacar que se o dom de línguas era excelente em si mesmo para pregação e propagação do evangelho entre os incrédulos, conforme se viu no dia de Pentecostes, contudo nos cultos da Igreja ele era de pequeno ou nenhum uso para a  edificação dos cristãos, a não ser que houvesse quem pudesse interpretar as línguas, porque, neste caso, ninguém estaria sendo o alvo  delas para poder entender a pregação do evangelho.
Nós comentamos a variedade de dons, operações e ministérios que são distribuídos pelo Espírito à Igreja, mas é importante frisar tal como fizera o apóstolo Paulo neste 12o capítulo de I Coríntios, que esta variedade na distribuição é semelhante à que existe dos membros do corpo humano, que são variados, mas fazem parte de um só corpo, para o seu funcionamento pleno.
Nenhum cristão deve pensar portanto em receber dons para retê-los e não para servir o corpo de Cristo; porque os dons são dados para este propósito, uma vez que cada cristão é parte integrante deste corpo e é chamado por Deus a cumprir fielmente a sua respectiva função de edificação do corpo, com o dom ou dons espirituais que tiver recebido do Espírito.
(Este comentário foi produzido com base numa adaptação e tradução do original em inglês, do Pr Silvio Dutra, de parte de um tratado sobre a obra do Espírito Santo, escrito pelo puritano John Woen, no século XVIII)


I Coríntios 12

“1 Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes.
2 Vós bem sabeis que éreis gentios, levados aos ídolos mudos, conforme éreis guiados.
3 Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema, e ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo.
4 Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo.
5 E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo.
6 E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos.
7 Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil.
8 Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência;
9 E a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar;
10 E a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas.
11 Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer.
12 Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também.
13 Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito.
14 Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos.
15 Se o pé disser: Porque não sou mão, não sou do corpo; não será por isso do corpo?
16 E se a orelha disser: Porque não sou olho não sou do corpo; não será por isso do corpo?
17 Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde estaria o olfato?
18 Mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis.
19 E, se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo?
20 Assim, pois, há muitos membros, mas um corpo.
21 E o olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti; nem ainda a cabeça aos pés: Não tenho necessidade de vós.
22 Antes, os membros do corpo que parecem ser os mais fracos são necessários;
23 E os que reputamos serem menos honrosos no corpo, a esses honramos muito mais; e aos que em nós são menos decorosos damos muito mais honra.
24 Porque os que em nós são mais nobres não têm necessidade disso, mas Deus assim formou o corpo, dando muito mais honra ao que tinha falta dela;
25 Para que não haja divisão no corpo, mas antes tenham os membros igual cuidado uns dos outros.
26 De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele.
27 Ora, vós sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular.
28 E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro doutores, depois milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas.
29 Porventura são todos apóstolos? são todos profetas? são todos doutores? são todos operadores de milagres?
30 Têm todos o dom de curar? falam todos diversas línguas? interpretam todos?


31 Portanto, procurai com zelo os melhores dons; e eu vos mostrarei um caminho mais excelente.”. (I Coríntios 12.1-31)






I Coríntios 13

O AMOR SEM O QUAL NADA SOMOS – I Coríntios 13

Jonathan Edwards, pastor americano que viveu no século XVIII, escreveu um tratado que discorre  pormenorizadamente sobre o 13º capítulo de I Coríntios, o qual traduzimos do original em inglês, e estamos apresentando em forma reduzida e adaptada, para o nosso comentário do citado capítulo.
O amor é a soma de todas as virtudes.
As pessoas costumam fazer um uso errado daquilo que compreendem, por amor, em sua conversação, porque pensam que é uma disposição para esperar e pensar o melhor de qualquer pessoa; e às vezes a palavra é usada como a disposição para dar aos pobres.
Mas estas coisas são somente certos aspectos daquela grande virtude do amor.
E cabe destacar que mesmo nos dois exemplos destacados anteriormente para uma compreensão limitada do significado da palavra, devem ser considerados determinados aspectos para que ambas atitudes sejam válidas e aceitas diante de Deus, conforme estaremos enfocando mais adiante.
A palavra amor significa corretamente a disposição ou afeto por meio dos quais uma pessoa é querida por outra; e o original “ágape” que é traduzido por “caridade”, em algumas versões, é melhor traduzido por “amor”, porque encerra um significado muito mais completo para o termo, conforme abrange de fato muitas outras virtudes, conforme o apóstolo descreve neste capitulo, de modo que o amor, no Novo Testamento, tem o significado de amor cristão, embora seja usado não somente em relação ao amor aos homens, mas também ao amor a Deus, como também ao próprio amor de Deus.
Em I Cor 8.1 Paulo afirma que: “A ciência ensoberbece, mas o amor edifica.”.
Aqui a comparação é feita entre o conhecimento e o amor, e a preferência é dada ao amor, porque o conhecimento incha, mas o amor edifica.
E o uso que  o apóstolo faz da palavra amor nesta passagem de I Cor 8.1 é o mesmo que ele faz neste décimo terceiro capítulo; porque ele está aqui comparando as mesmas coisas que ele compara no início deste capítulo, a saber: amor e conhecimento, quando diz: “Embora...conheça todos os mistérios e toda a ciência...se não tiver amor nada serei.”.; e ainda no verso 8: “havendo ciência, passará;”, isto é, o dom espiritual palavra de conhecimento desaparecerá.
De forma que, por amor, nós devemos entender o amor cristão em toda a sua plena extensão, e que é operado por Deus em relação às suas criaturas.
E o amor é portanto muito mais do que o mero conhecimento, ainda que de coisas espirituais, porque se refere à vivência e à prática das virtudes que se encontram na própria pessoa de Cristo.
Em segundo lugar é mencionado que tudo é vão sem isto, as coisas mais excelentes, que pertencem aos homens naturais; os privilégios e ações mais excelentes.
O propósito de Deus é o de ver nossas vidas transformadas, o nosso caráter, à semelhança ao de Cristo. É o de produzir o que Paulo chama de estatura de varão perfeito. E isto tem a ver com o homem total, com aquilo que ele é, e não com o que tem ou conhece.
Primeiro, os privilégios excelentes, como o dom de línguas, o dom de profecia e a compreensão de todos os mistérios; fé para remover montanhas, e em segundo lugar as ações mais excelentes, como dar todos os bens para alimentar os pobres, e o corpo para ser queimado.
E ainda assim o apóstolo declara que se nós tivermos tudo isto, e não tivermos amor, nós nada somos. Porque o amor não é apenas excelente, é sobremodo excelente, porque é o que permanecerá por toda a eternidade.
É do Espírito Santo que o verdadeiro amor cristão surge, tanto para Deus, quanto em relação aos homens.
O Espírito de Deus é um Espírito de amor, e quando entra no nosso espírito, o amor também entra com Ele.
Deus é amor, e aquele que tem Deus habitando nele pelo seu Espírito, terá o amor também habitando nele.
A natureza do Espírito Santo é amor; e é a própria natureza dEle que comunica aos santos, de modo que o amor é derramado abundantemente em seus corações pelo fato do Espírito Santo estar habitando neles.
Nisto entendemos porque o apóstolo diz nos três primeiros versos deste 13º capítulo de I Coríntios, que caso não se tenha este amor, nada aproveita ter dons, talentos, fazer doações e sacrifícios.
E assim, em qualquer ação boa que possa haver de um homem para com o seu próximo, a razão ensina que será tudo inaceitável e em vão, se ao mesmo tempo não houver nenhum respeito real no coração para com aquele próximo, se a conduta externa não for motivada pelo amor interior, iniciado e motivado pelo Espírito Santo.
Por exemplo, nenhum pai ama naturalmente a seus filhos por motivo de glorificar o nome de Deus, ou para educá-lo nos seus santos caminhos. Assim, esse amor natural, apesar de ser importante, não possui nele, a marca, o selo, do amor espiritual divino.
Daí se ordenar na Palavra de Deus que todos os nossos atos sejam feitos com amor, ou seja, o amor deve estar presente em nós, para acompanhar as nossas obras feitas em Deus, para que sejam aceitáveis, e para que não sejam em vão.
Como vemos em Apocalipse 2.2-5  Jesus sempre requererá o primeiro amor, ainda que nossas boas obras estejam aumentando cada vez mais.
Toda verdadeira virtude e graça cristãs podem ser resumidas no amor.
A Bíblia nos ensina que o amor é  a soma de tudo aquilo que está contido na lei de Deus, e de todos os deveres requeridos na Sua Palavra.
Agora, a menos que o amor fosse de fato  a soma do que a lei exige, a lei não poderia ser cumprida completamente; porque uma lei somente é cumprida através da obediência à soma total do que ela contém e ordena.
Paulo afirma em Rom 13.9 e em Gál 5.14 que aquele que ama o próximo tem cumprido toda a lei.
E o mesmo parece ser declarado em Tiago 2.8, onde chama o amor ao próximo de a lei régia das Escrituras.
A verdade da doutrina como revelada pela Bíblia aparece no que o apóstolo nos ensina em Gál 5.6 ao dizer que “a fé atua pelo amor”.
Uma verdadeira fé cristã é a que produz boas obras, mas as boas obras que produz são por amor.
O verdadeiro amor é um componente da verdadeira e viva fé.
O amor não é nenhum componente em uma fé meramente especulativa, mas é a vida e alma de uma fé prática.
Uma fé verdadeiramente prática ou salvadora, está portanto cheia de fervor, luz e amor.
Uma fé especulativa somente consiste no aumento da compreensão; mas numa fé salvadora há também o consentimento do coração; e aquela fé que somente é do tipo anterior, não é nada melhor que a fé dos demônios, porque têm uma fé que pode existir sem amor, enquanto creem e tremem, mas tal tipo de fé de nada lhes aproveita diante de Deus.
É o tipo de fé de conhecimento de coisas que se referem a Deus, mas que não produz o amor no coração.
O amor é a vida mesma e o espírito de uma verdadeira fé, e está especialmente evidente nesta declaração do apóstolo de que a "fé trabalha por amor", e o último verso do segundo capítulo da epístola de Tiago declara que “assim como o corpo sem o espírito está morto, de igual modo a fé sem obras também está morta”.
Devemos portanto nos examinar, e ver se temos colocado como centro de nossa vida cristã o amor a Deus e ao próximo, porque é neles que se cumpre toda a vontade de Deus para conosco, e sem os quais, tudo o que fizermos será vão, já que o cumprimento de todos os mandamentos depende destes dois grandes mandamentos.
E cumpre destacar que este amor não é mero sentimento, mas e sobretudo, cumprimento dos mandamentos de Cristo, aplicação da Sua Palavra à própria vida, e na direção de tudo o que pensarmos ou fizermos.
Um espírito de amor é um espírito amável.
É o espírito de Jesus Cristo.
É o espírito do céu.
Apesar do grande privilégio dos dons extraordinários do Espírito Santo, que são citados no décimo segundo capítulo, contudo a influência do Espírito Santo, enquanto trabalhando a graça do amor no coração, é um privilégio mais excelente que qualquer deles: uma maior bênção que o espírito de profecia, ou o dom de línguas, ou de milagres, até mesmo o de fé para remover montanhas; o amor é uma maior bênção que todos os dons milagrosos de que Moisés, Elias, Davi, e os doze apóstolos estavam dotados.
Isto será visto, se nós considerarmos que esta bênção da graça salvadora de Deus é uma qualidade inerente da sua própria natureza, e não apenas uma capacitação extraordinária que é possível de ser recebida sem que se tenha uma participação nesta natureza divina, conforme o caso dos dons extraordinários, como comentamos anteriormente.
Este dom do Espírito de Deus, trabalha um caráter verdadeiramente cristão na alma, e produz no coração do homem uma natureza excelente, sim, a mesma excelência da natureza de Cristo.
O Espírito de Deus se comunica muito mais com os homens lhes dando graça transformadora aos seus corações, do que dando os dons extraordinários citados por Paulo em I Coríntios 12 e 14.
E agindo desta forma o Espírito se torna um princípio vital na alma.
Por isso se requer que andemos no Espírito para que possamos ter o Seu fruto, o qual se traduz na implantação as Suas virtudes na nossa nova natureza, que recebemos pela fé em Cristo.
Não se tem portanto o fruto do Espírito, pelo mero fato de se possuir algum dom espiritual extraordinário, dentre os citados por Paulo no  décimo segundo capitulo.
O fruto do Espírito decorre de se andar nEle, em obediência a Deus e à Sua Palavra, pela consagração da vida em se submeter com constância à Sua disciplina.
A graça ou santidade, que são o resultado da influência comum do Espírito de Deus nos corações, é em que a imagem espiritual de Deus consiste; e não nos dons extraordinários do Espírito.
A imagem espiritual de Deus não consiste em ter poder para operar milagres, e predizer eventos futuros, mas consiste em ser santo, como Deus é santo: tendo um princípio santo e divino no coração, nos influenciando a ter vidas santas e divinas.
Por conseguinte, o grande desígnio de Deus para nossas vidas não é meramente que profetizemos, falemos em línguas, ou que manifestemos qualquer outro dom espiritual, porque como Ele próprio nos ensina, estes dons não somente desaparecerão, como também não são propriamente eles que nos tornam à imagem e semelhança de Cristo, senão o fruto do Espírito, o qual é implantado progressiva e gradualmente em nossas naturezas, e cujo efeito está destinado a durar eternamente.
O amor é um dom mais excelente do que todos os dons, porque o amor divino no coração é o que identifica os que são verdadeiramente discípulos de Cristo, conforme Ele próprio o afirmou.
O objetivo do evangelho é conduzir os homens das trevas para a luz, e do poder do pecado e de Satanás para servir o Deus vivo, ou seja, fazer os homens santos.
O fim de todos os dons extraordinários do Espírito é a conversão de pecadores, e a edificação dos santos naquela santidade que é fruto das influências ordinárias do Espírito Santo.
Assim, estes dons são meios que estão destinados a desaparecer, porque não são, em si mesmos, o fim da vida cristã.
Em seguida, o apóstolo ensina que não somente nossos desempenhos, mas também nossos sofrimentos são de nenhum proveito sem amor.
Os homens estão prontos a fazerem muito mais do que fazem, do que sofrer mais do que têm sofrido.
Eles estão portanto persuadidos que os sacrifícios são de grande valor na religião.
Entretanto, Paulo ensina que os sacrifícios são de nenhum valor se não houver amor.
O apóstolo menciona aqui um tipo de sofrimento extremo, até à morte, e da forma mais terrível de morte, e diz que até mesmo isto não é nada sem amor.
Quando um homem deu todos os seus bens, e ele não tem nada mais para dar senão o seu próprio corpo para ser totalmente consumido nas chamas, isto nada aproveitará, se não é determinado por um sincero amor no coração.
Isto é bem verdadeiro na prática, pois quantos heróis  não deram suas vidas em sacrifício em prol de uma boa causa, e quantos não se despojaram de seus bens para o mesmo propósito, e  no entanto um bom número deles está sendo afligido agora nas chamas do inferno, porque não chegaram a conhecer o amor de Deus que está em Cristo Jesus, e nada do que fizeram foi feito para a exclusiva glória de Deus e por amor a Ele.
Não é o trabalho externo que fazemos, ou o sofrimento suportado, em si mesmos, que têm qualquer valor à vista de Deus.
Os trabalhos e exercícios do corpo, ou qualquer coisa que possa ser feita por meio dele, se considerados separadamente do coração - a parte interior do homem – não têm qualquer valor à vista de Deus, tal como os movimentos de qualquer outra coisa sem vida.
Se qualquer coisa for oferecida ou dada, seja prata, ouro, ou gado, milhares de carneiros, ou dez mil ribeiros de azeite, como se lê em Mq 6.7, não haverá qualquer valor nisto.
Se Deus tivesse falta destas coisas, elas poderiam ser de algum valor para ele, independentemente dos motivos do coração que conduziu a pessoa a ofertá-las.
Nós nos levantamos frequentemente pela falta de bens externos, e então tais coisas, oferecidas a nós, possam ter um grande valor porque necessitamos delas.
Mas Deus não tem falta de cousa alguma, e além disso tudo lhe pertence.
Ele é todo-suficiente em Si mesmo.
Ele não é alimentado pelos sacrifícios de animais, nem enriquecido por presentes de prata, ou ouro, ou pérolas, como ele afirma no Salmo 50-1—13.
Assim Deus não tem nenhum prazer em qualquer sofrimento que nós possamos suportar.
Ele não é ganho pelos homens pelos tormentos que possam sofrer, nem se alegra por vê-los se pondo a sofrer, a menos que isto seja por amor a Cristo e ao evangelho.
Retiros, jejuns, martírios, práticas ascéticas e coisas como estas serão de nenhum valor se não forem acompanhadas por um verdadeiro amor no coração.
Não importa o que possa ser feito ou  sofrido, nem ações, nem sofrimentos compensarão a falta de amor para com Deus na alma.
Lembremos que Deus ama ao que dá com alegria.
Isto é um princípio permanente em tudo que consagramos a Ele.
Aquele que não tem nenhuma sinceridade no seu coração, não tem nenhum real respeito a Deus naquilo que ele parece dar, ou em todos seus trabalhos ou sofrimentos, e então Deus não é o grande fim no que ele faz ou dá.
No final das contas aquilo que ele faz ou sofre tem por objetivo a si mesmo e não a Deus.
Ele está pensando em receber algo em troca com o seu serviço ou oferta, ou sofrimento.
Não é movido por uma atitude voluntária, amorosa, grata, alegre, mas por um sentimento egoísta, e portanto não pode haver qualquer valor em tudo o que faz ou sofre, por maior que seja.
Poderá até ser de grande valor para os homens se é algo de caráter beneficente, mas não terá qualquer valor para Deus já que não foi movido pelo amor divino.
Em I Cor 13.4 se afirma que o amor é longânimo.
Com isto se afirma que o amor  nos dispõe a suportar com paciência os danos e ofensas recebidos de outros.
O amor cristão nos convoca a suportar  danos humildemente.
Então, os danos deveriam ser suportados sem fazermos qualquer coisa para nos vingarmos.
Então, aquele que exercita longanimidade para com o seu próximo, suportará os danos recebidos dele sem se vingar ou retaliar, seja por meio de ações prejudiciais ou palavras amargas.
Nós não deveríamos deixar de amar nosso próximo porque ele nos prejudicou.
Quando  permitimos que os danos que nós sofremos perturbem a nossa tranquilidade de mente, e nos coloquem num estado de excitação e tumulto, então nós deixamos de aguentá-los no verdadeiro espírito de  longanimidade.
Se permitimos que o dano nos descomponha e  inquiete, e que nos afaste de nosso descanso interior, nós não podemos desfrutar, nem estar num estado de nos desencarregarmos corretamente de nossos vários deveres, e especialmente no que se refere aos nossos deveres para com Deus, especialmente a oração e a meditação.
E tal estado de mente é o contrário do espírito de longanimidade que suporta humildemente os danos que são citados no texto.
A longanimidade é uma parte essencial da natureza de Deus, e por somos chamados a ser também longânimos, ou seja, tardios em se irar, que é o significado desta palavra.
Deste modo, nós devemos não somente suportar um dano pequeno humildemente, mas também um tratamento bastante prejudicial de outros.
Nós deveríamos perseverar e continuar numa condição quieta, sem ainda deixar de amar nosso próximo, não somente quando ele nos prejudica um pouco, mas quando ele nos prejudica muito, e os danos que ele nos faz são grandes.
E nós não somente deveríamos aguentar assim alguns danos, mas muitos e grandes, apesar do nosso próximo continuar com o seu tratamento prejudicial por muito tempo a nós.
Quando é dito que o amor sofre muito tempo, nós não podemos deduzir disto que nós devemos aguentar danos humildemente por um período, e que depois daquele período nós podemos deixar de aguentá-los.
O amor a Deus nos dispõe a imitá-lo, e então nos dispõe a tal longanimidade como ela se encontra nEle.
No mesmo texto de I Cor 13.4, Paulo afirma que o amor é também benigno.
Em primeiro lugar, as pessoas podem fazer o  bem às almas de outros, por que isto é o modo mais excelente de se fazer o bem.
Os homens podem ser, e frequentemente são, os instrumentos do bem espiritual e eterno para outros.
Nós podemos fazer bem às almas de outros, suportando dores para instruir pessoas que  desconhecem a vontade e plano de Deus para elas e conduzi-las ao conhecimento da verdade, e aconselhando e advertindo outros, e mobilizando-os ao seu dever, e a um completo zelo, para o próprio bem estar das suas almas, e também para reprovação cristã daqueles que podem estar fora do modo em que deveriam andar na presença de Deus.
Tal  exemplo tem que acompanhar os outros meios de fazer bem às almas dos homens, como instruir, aconselhar, advertir, e reprovar, e tudo que for necessário para lhes dar força e  vigor.
Também podemos fazer bem a outros em relação às coisas externas deste mundo.
Podemos ajudar outros nas suas dificuldades e calamidades externas, e há vários tipos de calamidades temporais pelas quais o gênero humano é responsável.
Muitos têm fome, ou sede, ou são forasteiros, ou estão  nus, ou doentes, ou em prisão (Mateus 25.35,36), ou com algum outro tipo de sofrimento, e podemos ajudá-los.
Nós podemos fazer bem a outros, ajudando-os a construir um bom nome, promovendo a estima e aceitação deles entre os homens; ou fazendo qualquer coisa que verdadeiramente possa aumentar o seu conforto e a sua felicidade.
E  fazendo o bem externamente a eles deste modo, nós teremos uma maior vantagem para fazer o bem às suas almas.
Porque, quando as nossas instruções, deliberações, advertências, e bons exemplos são acompanhados com tal bondade externa, esta tende a abrir o caminho para o espiritual, e pode conduzir tais pessoas a apreciarem nossos esforços quando nós buscamos o seu bem espiritual.
Nós devemos fazer o bem tanto ao bom quanto ao mau. E devemos fazer isto como imitadores de nosso Pai divino, porque ele faz o sol nascer sobre maus e bons, e vir chuvas sobre justos e injustos (Mt 5.43-45).
Ainda em I Coríntios 13.4 se afirma que o amor não arde em ciúmes.
A Inveja pode ser definida como um espírito de descontentamento com, e em oposição à prosperidade e felicidade de outros, comparando-a com a nossa prosperidade e felicidade.
A coisa à qual a pessoa invejosa é oposta, e antipatiza, é a superioridade comparativa do estado de honra, ou prosperidade ou felicidade que outros possam desfrutar, maior do que a que ele possui.
A inveja é uma disposição natural dos homens que amam ser superiores; e esta disposição é atingida diretamente, quando veem outros acima deles.
Tal é o espírito da inveja, que as pessoas se aborrecem não somente com o fato de outros estarem acima ou no mesmo nível que o deles, mas também quando estão chegando próximo.
Porque o desejo de ser distinguido em prosperidade e em honra é tanto maior quanto mais elevado se esteja, de modo que a eminência comparativa possa ser marcada visivelmente a todos.
E este não é nenhum sentimento confortável ao invejoso, ao contrário, lhe  é  muito incômodo.
Uma das armas que o invejoso usa para diminuir a honra dos outros, é falando mal deles, e os difamando.
O sentimento de inveja também se manifesta numa antipatia às pessoas que são invejadas.
Esta antipatia pode se transformar até mesmo em ódio.
Um espírito cristão nos disporá a ficarmos satisfeitos com aquilo que somos e temos, reconhecendo que devemos ser gratos pela propriedade que Deus nos deu entre os homens, na Sua providência sábia e amável, e isto nos dará tranquilidade e satisfação de espírito.
É bom lembrar que Satanás se viu insatisfeito quando estava em perfeição no céu, e quis se elevar ainda mais, e foi exatamente esta a razão da sua queda.
E tal se dará também conosco, se nos deixarmos prender pelo espírito de cobiça.
Podemos e devemos avançar para posições mais elevadas, mas sem sermos movidos por inveja, cobiça, insatisfação ou por qualquer outro espírito que não seja um espírito quieto, manso, grato, satisfeito.
Um espírito cristão também nos disporá a nos alegrarmos com a prosperidade de outros.
Ele nos levará a ter uma complacência alegre e habitual com aquela regra dada pelo apóstolo em Rom. 12:15: “Alegrai-vos com os que se alegram, e chorai com os que choram.”.
E nos alegraremos com suas conquistas como se fossem nossas.
Tal  espírito de benevolência expulsará o espírito mau da inveja, e nos permitirá ter  felicidade vendo nosso próximo prosperar.
Analisemos agora a afirmação de I Cor 13.4,5 de que o amor não se ufana, não se ensoberbece, não tem um comportamento impróprio
   A humildade pode ser definida como um hábito da mente e coração que corresponde à nossa indignidade e vileza diante de Deus, ou um senso de nossa própria pequenez à visão dEle, com a disposição para um comportamento mais responsável.
A humildade é um senso de nossa própria pequenez, comparativamente falando.
Eu digo pequenez comparativa, porque a humildade é uma graça apropriada a seres que são gloriosos e excelentes.
E os santos e anjos no céu abundam em humildade, e apesar de serem puros, imaculados, e seres gloriosos, aperfeiçoados na santidade, eles tem um senso da sua pequenez quando se comparam com Deus, de quem eles sabem perfeitamente que apesar de ser o Altíssimo, contudo se inclina para ver as coisas que estão no céu e na terra, como se afirma no Salmo 113.6, ou seja em outras palavras o mesmo que dizer que ninguém pode ser mais humilde do que é Deus, porque ninguém é tão elevado quanto Ele, e não pode condescender com os que são mais fracos assim como Ele faz em relação às suas criaturas, comparativa e proporcionalmente falando.
No próprio exemplo da Sua humildade, Jesus se rebaixou até ao ponto de levar sobre Si os nossos pecados, suportando injúrias e ofensas até a morte de cruz, e no entanto todos os seres no céu davam-lhe glória antes de ter assumido a nossa natureza, assim como continuam lhe dando glória, até mesmo num senso mais elevado, em face do quanto Ele se humilhou.
Assim o homem Cristo Jesus que sendo mais excelente e glorioso do que todas as suas criaturas, ainda é manso e humilde de coração, e supera todos os outros seres em humildade.
A humildade é uma das excelências de Cristo, porque ele sendo Deus, fez-se homem humilhando-se a Si mesmo diante do Pai, pois que se fez, ainda que por um pouco, no que tange a ter assumido a nossa natureza humana, menor do que os anjos como se afirma na Palavra de Deus em Hb 2.9.
Um senso de nossa própria pequenez deve decorrer do fato da corrupção do nosso coração, do fato de sermos pecadores.
E ainda que convertidos a Deus, vê-se em nós em nossa jornada terrena, os restos desta corrupção.
Isto em si mesmo, é um motivo bastante forte para que sejamos humildes, e para que não se encontre em nós qualquer tipo de elevação, porque as nossas melhores obras, e a nossa própria santidade, é imperfeita, pois sempre carrega algum tipo de mancha de orgulho ou qualquer outro pecado.
 Quanto à consciência de nossa pequenez em razão do pecado, não precisamos necessariamente nos comparar com Deus, pois que todas as criaturas que habitam o céu não têm qualquer tipo de pecado, inclusive os santos que lá estão.
E nisto temos um bom motivo para nos mantermos humildes com uma consciência da nossa pequenez comparativa.
A humildade tende a prevenir um comportamento de justiça própria.
Aquele que está debaixo da influência de um espírito humilde, se ele entrou em uma falta, como todos estão sujeitos a cair em algum momento, ou se em qualquer coisa ele prejudicou outros, ou desonrou o seu nome e caráter, estará disposto a reconhecer a sua falta.
Não será difícil para ele ser trazido a uma consciência da sua falta, nem testemunhar o reconhecimento do seu erro.
Ele será humilhado intimamente por isto, e pronto a mostrar a sua humildade da maneira pela qual o apóstolo Tiago aponta, quando ele diz em Tg 5.16: “Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros”.
É o orgulho que faz com que os homens sejam tão endurecidos para confessarem os seus pecados, porque consideram que isto será vergonhoso para eles, mas na verdade o que está em foco é que estão preocupados com a estima da sua própria honra.
E ficam assim, privados da mais elevada honra, já que Deus dá graça a quem se humilha.
E honrará aquele que dá honra à Sua Palavra, submetendo-se a ela, por obedecê-la.
A humildade no comportamento fará também com que toda advertência ou reprovação cristã por qualquer falta  cometida seja recebida com gratidão.
É o orgulho que faz com que os homens fiquem intranquilos e irados quando são reprovados pelo seu próximo, de forma que frequentemente não aguentarão isto, mas ficarão chateados, e manifestarão grande amargura de espírito.
Mas a humildade, ao contrário não somente os disporá a tolerar tais reprovações, mas estimá-las como marcas de bondade e amizade, como se afirma no Salmo 141.5: "Fira-me o justo, será isso mercê; repreenda-me, será como óleo sobre a minha cabeça, a qual não há de rejeitá-lo.” .
Em Tiago 4.6 lemos que “Deus resiste aos soberbos”, ou em outras palavras, como está no original: “Deus se coloca em ordem de batalha contra os soberbos”, ou seja, está em guerra com eles, e isto revela o quanto Ele detesta um espírito orgulhoso.
Ainda em I Cor 13.5 se afirma que o amor não suspeita mal.
A palavra usada no original grego para o verbo “suspeitar” é logízomai que significa imputar, atribuir, reputar, suspeitar, considerar, ter na conta de, julgar, pensar, entender, concluir.
No texto de I Cor 13.5 tem o sentido de não julgar mal, não suspeitar mal, não imputar o mal, não pensar mal de outros.
Em outras palavras, é o contrário de uma disposição para pensar de, ou julgar outros, sem amor.
O amor, num dos usos comuns da expressão, significa uma disposição para pensar o melhor de outros tanto quanto possível.
E assim o espírito de amor é contrário ao espírito de censura ou disposição para julgar outros.
Um espírito censurador consiste numa disposição para pensar mal de outros, ou fazer um mau juízo com respeito a eles.
  As pessoas são culpadas de censura condenando o estado de outros, quando fazem estas coisas sem nenhuma evidência de estarem eles numa condição ruim.
E o mesmo é verdade quando os condenam pelas falhas que podem ver neles, e que não são nada mais do que frequentes incidentes a que estão sujeitos os filhos de Deus.
 Um espírito censurador surge de um ardor para julgar mal as qualidades de outros.
Aparece numa disposição para negligenciar as suas boas qualidades, ou pensar que sejam destituídos de tais qualidades, ou a fazer muito pouco deles; ou aumentar os seus pontos falhos, e imputar-lhes estes pontos falhos que não têm.
Alguns são muito hábeis em acusar outros de ignorância e insensatez, e outras qualidades desprezíveis, quando eles em nenhum senso merecem serem estimados desta forma.
Temos também em I Cor 13.5 a afirmação que o amor não suspeita mal.
Somente quando há evidências claras de que haja atos reprováveis é que a censura é cabível e necessária.
Neste caso não nos é proibido que julguemos, mas o exercício da razão deve estar em harmonia com o amor, para que o juízo seja equilibrado, justo e aprovado.
Nós não devemos nos culpar, quando julgamos aqueles que procedem mal, e Paulo diz em I Tim 5.20:
“Quanto aos que vivem no pecado, repreende-os na presença de todos, para que também os demais temam.”.
  Devemos nos ater ao juízo de seu mau estado ou ações, e não propriamente suas pessoas, porque o julgamento do caráter de uma pessoa  é somente da competência de Deus.
Julgar os erros dos cristãos sem julgar as suas pessoas, é uma boa norma.
E o que julga deve se guardar de toda ira imprópria e inadequada, bem como de guardar rancor contra o que é julgado, considerando-o seu inimigo, porque poderá incorrer num pecado maior do que aquele do que está sendo julgado (II Tes 3.14,15).
O julgamento deve ser o mais impessoal possível, senão totalmente impessoal.
Como é a falta e o pecado, que devem ser julgados, então não deve haver precipitação no julgamento e na condenação de outros, e a prudência e o amor obrigam a suspender o julgamento até que se saiba mais do assunto, e que todas as circunstâncias estejam suficientemente claras diante dos que julgam.
As pessoas podem mostrar frequentemente muita falta de clareza e precipitação, censurando outros livremente antes de ouvirem o que têm a dizer em sua defesa.
E consequentemente é dito, em Pv 18.13 que “Responder antes de ouvir é estultícia e vergonha.”.
E o mal daquele que julga, que é censurador, consiste em segundo lugar, num prazer doentio em julgar outros.
Ainda em I Cor 13.5, é destacada outra característica do amor cristão: ele não é egoísta.
 A ruína que a queda no pecado original trouxe à alma do homem consiste muito na perda dos princípios mais nobres e mais benevolentes da sua natureza, e particularmente da propriedade de ser movido, dirigido, conduzido pelo Espírito Santo na experiência do amor divino; e o homem perdeu isto em razão de ter caído completamente debaixo do poder e governo do amor próprio.
Antes do pecado, e como Deus o havia criado, ele era exaltado, nobre, e generoso;  mas agora ele é humilhado, ignóbil, e egoísta.
Na queda, a mente do homem, imediatamente encolheu de sua grandeza primitiva e se reduziu a uma pequenez que fez com que voltasse a sua visão para aquilo que é do seu próprio interesse, tornando-se assim, egoísta.
E tão logo que ele transgrediu contra Deus, aqueles princípios nobres foram imediatamente perdidos, e o seu coração que antes era dilatado como é o coração de Deus, encolheu-se em si mesmo.
E a sua alma que antes era também expandida, encolheu-se às pequenas dimensões do egoísmo, contraindo a sua alma às dimensões muito pequenas do egoísmo; e Deus foi abandonado, e o próximo foi também abandonado, e o homem se recolheu dentro de si mesmo, sendo governado totalmente por princípios estreitos e sentimentos egoístas.
Mas o amor, ou o espírito de amor cristão, não é contrário totalmente ao amor-próprio.
Não é uma coisa contrária ao cristianismo que um homem ame a si mesmo, ou, o que é a mesma coisa, que ame a sua própria felicidade.
Se o cristianismo tendesse a destruir o amor de um homem a si mesmo, e a sua própria felicidade, tenderia a destruir o próprio espírito de humanidade com isto; mas o anúncio mesmo do evangelho, como um sistema de paz na terra e benevolência para os homens (Lc 2:14), mostra que não se destina a destruir a humanidade, mas para promovê-la ao grau mais elevado de seu espírito.
Que um homem deva amar a própria felicidade, é muito necessário para a sua natureza tanto quanto é a faculdade da vontade; e é impossível que um tal amor deva ser destruído pois que destruiria o próprio homem.
Aquele que não tem liberdade como oferecerá liberdade aos outros?
Aquele que não ama a si mesmo como amará aos outros?
É pois um pressuposto básico que para que possamos amar aos outros devemos também estar amando a nós mesmos.
Se não buscamos felicidade para nós mesmos, como a buscaremos para outros?
Os santos amam a sua própria felicidade.
O amor de Deus neles os leva a isto.
Sim, aqueles que estão em perfeita felicidade, os santos e anjos no céu, amam a sua própria felicidade; caso contrário, aquela felicidade que Deus lhes tem dado não seria nenhuma felicidade para eles, porque qualquer um que não ama não pode desfrutar a felicidade interior.
Que amar a si mesmo não é nenhum pecado, também é evidente no fato, que a lei de Deus faz para o amor-próprio uma regra e é a medida pela qual o nosso amor pelos outros deveria ser regulada. Isto é, se amo muito a mim mesmo então devo também amar muito aos outros.
Então o amor próprio não sendo irregular é neste sentido, tanto melhor, quanto maior for, porque nos é ordenado amar o nosso próximo com a mesma intensidade com que nos amamos.
Então mais amaremos os outros quanto mais nos amarmos.
Não sou chamado a amar o próximo mais do que amo a mim mesmo, e também não menos.
O egoísmo que o amor, ou um espírito cristão, é oposto, é somente um amor-próprio irregular.
Somente o amor a Deus deve ser desproporcional, porque nos é ordenado que o amemos acima de tudo e de todos.
Ele é digno de ser muito mais amado do que amamos a nós mesmos, e ao nosso próximo.
Outra característica do amor destacada em I Cor 13.5 é que ele não é facilmente provocado, ou seja, ele não se exaspera.
O que é esse espírito irado ou colérico para o qual o amor, ou um espírito cristão, é contrário?
Não é a todo tipo de ira que o cristianismo é oposto e contrário.
Em Ef 4.26 se diz: “Irai-vos, e não pequeis, não se ponha o sol sobre a vossa ira.”.
E isto parece supor que há tal uma coisa como ira sem pecado, ou que é possível estar bravo em alguns casos, e ainda não ofender a Deus.
E então pode ser respondido, em uma única palavra que um espírito cristão, ou o espírito de amor, é oposto à ira que é imprópria e inadequada.
A ira pode ser imprópria e inadequada a respeito de sua natureza.
A ira pode ser definida  como uma oposição séria e violenta de espírito contra qualquer mal, real ou suposto, ou devido a qualquer falta ou ofensa de outro.
Toda ira é oposição da mente contra um mal real ou suposto; mas nem toda a oposição da mente contra o mal pode ser chamada corretamente de ira, porque poderá haver, como é comum de ocorrer, por causa de nossas mentes corrompidas pelo pecado, frequentes julgamentos errados que nos conduzirão a uma ira imprópria ou injustificada, e portanto, pecaminosa.
Nós somos chamados por Cristo a desejar o bem e a orar para o bem de todos, até mesmo de nossos inimigos, e até daqueles que zombam de nós e  nos perseguem (Mat 5:44); e a regra dada pelo apóstolo é: “Abençoai aos que vos perseguem, abençoai, e não amaldiçoeis.” (Rom 12.14), quer dizer, nós devemos desejar o bem e orar para o bem de todos, e em nenhum caso desejar o mal.
E assim toda a vingança é proibida, se nós excluímos a vingança que a justiça pública assume para com o transgressor.
A regra é: “Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo: Eu sou o Senhor.” (Lev 19.18); e o apóstolo diz: “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu retribuirei, diz o Senhor.” (Rom 12.19),  de forma que toda a raiva que contém um desejo de vingança, é contrária ao cristianismo e proibida por Deus.
Às vezes a fúria, como é citada na Bíblia, somente é no pior senso do seu significado, ou naquele senso que insinua o desejo de vingança; e neste senso é proibida toda a raiva, como em Ef 4:31: “Longe de vós toda a amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda a malícia.”, e ainda em Col 3.8: “Agora, porém, despojai-vos, igualmente de tudo isto: ira, indignação, maldade, maledicência, linguagem obscena do vosso falar.”.
A ira pode ser inadequada e não cristã a respeito da sua improcedência.
E isto consiste em não ter qualquer motivo que a justifique. Disto Cristo falou em Mat 5.22: “Eu, porém vos digo que todo aquele que (sem motivo) se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento;”.
Se uma pessoa se permitir ficar muito tempo irada com uma outra, logo esta ira se transformará em ódio.
E assim nós achamos que na verdade acontece com aqueles que retêm um rancor nos seus corações contra outros, durante semana depois de semana, e mês depois de mês, e ano depois de ano.
Eles virão no fim, a odiar verdadeiramente as pessoas contra as quais se deixaram irar assim deste modo.
E este é um pecado mais terrível à vista de Deus.
Então, não é de se admirar que esta seja a principal estratégia do diabo para nos afastar de Deus, e para nos manter sob julgamentos em nossas almas, e ainda a ficarmos à mercê de sermos oprimidos por ele.
Assim, toda vigilância e sabedoria é ainda pouco para ter um coração manso, sofredor, paciente, perdoador.
Em I cor 13.6 se afirma que o amor se regozija com a verdade e não com a iniquidade.
Por "iniquidade", devemos entender que no original a palavra é “adikia”, isto é, falta de justiça, injustiça.
O contrário disto é “dikaiós” que significa justo, reto, aprovado, isto é, cujo ser e comportamento está em conformidade com a lei e a vontade de Deus.
Geralmente “adikia” é traduzido por iniquidade.
Não é a mesma palavra usada no evangelho quando Jesus diz que “por se multiplicar a iniquidade o amor esfriará”.
Aqui a palavra para iniquidade é “anomia” que significa transgressão da lei, especialmente da lei de Deus, ou falta de observância da lei.
No nosso texto de I Cor 13 a palavra “iniquidade”  parece se referir a tudo aquilo que se refere ao pecado e a uma prática pecaminosa; e por “verdade”, tudo o que é bom na vida, ou tudo aquilo que está incluído na prática de uma vida cristã santa.
O apóstolo Paulo declara que o amor é oposto a toda a maldade, ou prática má; e, positivamente, que produz toda a justiça, ou prática santa.
É dito que o amor se regozija com a verdade, e sabemos que a Palavra de Deus é a verdade.
Assim, aquele que tiver de fato um espírito de amor cristão, terá prazer em guardar os mandamentos de Deus, especialmente aqueles que se referem a um comportamento santo.
Isto demandará a observância e cumprimento de tudo o que é recomendado para que haja de fato uma prática santa na vida, tanto na atitude interior do coração quanto na exteriorização destas atitudes em boas obras em favor do próximo e para agradar também o coração de Deus.
Em I Cor 13.7 é afirmado que o amor tudo sofre.
O amor ou um espírito cristão suportará todos os sofrimentos como um dever.
Tendo declarado nos versos anteriores  os frutos em que consiste o amor, o apóstolo fala agora daqueles que se referem ao sofrimento; e ele afirma que o amor ou o espírito de amor cristão, tende a dispor os homens a suportar todos os sofrimentos por causa de Cristo, como um dever.
Este, eu suponho que seja o significado da expressão, “sofre todas as coisas”, ou como está resumidamente em algumas versões: “tudo sofre”.
Paulo diz em Rom. 5:3-5, que ele estava disposto a se gloriar nas tribulações, uma vez que o amor de Deus havia sido derramado abundantemente no seu coração pelo Espírito Santo.
E ele diz em II Cor 5.14 que era este amor de Cristo que o constrangia a cumprir o seu ministério suportando todas as coisas por amor ao Senhor e aos eleitos.
E ainda novamente, ele declara, que nenhuma tribulação, nem aflição, nem perseguição, nem escassez, nem nudez, nem perigos, nem espada, poderiam separá-lo do amor de Cristo (Rom. 8:35).
  Aquele que tem o verdadeiro espírito de amor cristão, não somente está disposto a fazer, mas também a sofrer, por Cristo.
Eles estão dispostos a sofrer todos os sofrimentos, de todos os tipos que possam lhes sobrevir em razão do seu dever.
Eles têm o espírito de se regozijarem no sofrimento que é por causa de Cristo, como perseguição e desprezo; e preferem a honra de Cristo antes do que a sua própria honra.
Com o apóstolo podem dizer “Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo.” (II Cor 12.10).
Ainda em I Cor 13.7 ser afirma que o amor tudo crê e espera.
Com essas palavras, poderíamos pensar que o apóstolo quer dar a entender que o amor nos dispõe a crer o melhor, e esperar o melhor em relação ao nosso próximo, em todos os casos.
Mas a mim me parece que não é bem este o significado destas palavras, mas é bem mais provável que ele quis afirmar que o amor é uma graça que promove o exercício de todas as demais graças, e, particularmente, das graças da fé e da esperança.
Mencionando as graças de crer e esperar, ou de fé e esperança, o apóstolo demonstra  aqui que o exercício destas é promovido pelo amor.
Ele poderia ter dito que é pelo amor que se crê e que se espera, com a verdadeira fé e esperança que são dons de Deus.
Minhas razões para tal interpretação são as seguintes:
Primeiro, não poderíamos dizer que o amor tudo crê, no sentido de crer em todas as coisas, porque não seria o amor verdadeiramente cristão, porque a verdadeira fé não crê em tudo, senão no que é verdadeiro e santo.
A fé em ídolos por exemplo é abominável e falsa.
Nem podemos afirmar também que o amor crê numa pessoa mentirosa, pois que não é amor crer na falsidade.
Paulo havia falado antes que o amor não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade, isto é, o amor tende a prevenir todo mau comportamento, e promover todo comportamento bom.
De forma que nós não podemos aceitar que seja uma boa interpretação afirmar “que tudo crê e tudo espera” tenha o significado de que o amor sempre espera o melhor de toda e qualquer pessoa, pois sabemos que o Senhor nos recomendou prudência, pois que estava nos enviando para o meio de lobos, e que portanto deveríamos nos acautelar dos homens maus.
O amor portanto não é crédulo.
E desta forma, devemos entender que o nosso texto tem outro sentido, como por exemplo, que o amor tem a tendência de promover as graças da fé e esperança que são juntamente com o amor, as três maiores graças do evangelho.
E ainda em I Cor 13.7 se afirma que o amor suporta todas as coisas.
Ou seja, o amor, ou a verdadeira graça cristã, n ao se altera quando sofre oposição.
Tendo dito antes que o amor tudo sofre, o apóstolo diz agora que o amor tudo suporta. Muitos entendem que o apóstolo estava falando da mesma coisa com palavras diferentes, mas se nós examinarmos estas expressões bem de perto, e a forma pela qual elas são usadas, nós descobriremos que cada uma delas tem um significado que aponta para um fruto diferente do amor.
Já vimos que a anterior (tudo sofre) se refere aos danos recebidos dos homens, e veremos agora que a afirmação que o amor tudo suporta se refere ao espírito que nos levaria a suportar todos os sofrimentos que nós possamos ser chamados a ter por causa de Cristo, sem abandonar o nosso dever.
E esta expressão do texto de que o amor suporta todas as coisas, significa que a natureza permanente do princípio do amor, ou da verdadeira graça na alma não falhará, apesar de toda oposição que possa encontrar, e é da  natureza do amor perseverar.
A expressão do original grego, se literalmente traduzida, seria, “o amor permanece inalterável debaixo de todas as coisas”, quer dizer, ainda permanece, ou ainda permanece constante e perseverante debaixo de toda a oposição que possa vir contra ele.
Quaisquer agressões que possa receber, contudo ainda permanece e suporta, e não cessa, mas ergue-se, e é perseverante em seguir em frente com constância e paciência, apesar de tudo.
Finalmente, como características do amor, se afirma em I Cor 13.8, que o amor jamais acaba.
A propriedade do amor que é citada no texto é que ele é infalível e eterno.
Isto confirma as últimas palavras do verso anterior onde se diz que o amor tudo suporta, ou noutras palavras: suporta todas as coisas.
Com isto, como já estudamos antes, o apóstolo declara a durabilidade do amor, quanto à sua resistência a todo tipo de oposição que possa sofrer no mundo.
E agora, com a citação de que o amor jamais acaba, o apóstolo quer destacar a verdade que o amor não somente permanecerá atravessando todas as vicissitudes terrenas, como também que ele adentrará pela eternidade afora.
A palavra empregada no grego (piptô) que foi traduzida por “acabar”, além deste significado, tem também o de “perecer”, que é a mesma coisa.
Então, seria correto traduzir-se também “o amor jamais perece”.
Portanto, quando todas as coisas temporais tiverem perecido, o amor permanecerá.
Assim como as palavras do Senhor não passarão, quando os céus e a terra tiverem passado, isto é, terminado, também de igual modo, o amor não passará.
Em segundo lugar, como também já estudamos anteriormente, o amor é distinto de todos os demais dons do Espírito, como o de profecia, línguas e de conhecimento.
Pois todos os dons extraordinários como os citados desaparecerão, mas o amor jamais acabará.
O conhecimento que os cristãos têm de Deus, de Cristo, e das coisas espirituais, não desaparecerá, mas será gloriosamente aumentado e aperfeiçoado no céu que é um mundo de luz como também de amor.

“1 Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
2 E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de modo tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
3 E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
4 O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
5 Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
6 Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
7 Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
8 O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
9 Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;
10 Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.
11 Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
12 Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.
13 Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.”. (I Cor 13.1-13)







I Coríntios 14

O USO DOS DONS DO ESPÍRITO – I Coríntios 14

Tendo falado no capitulo anterior do caminho do amor, no qual todos os cristãos devem andar, o apóstolo retornou no 14º capítulo de I Coríntios, ao assunto dos dons espirituais extraordinários, para principalmente falar sobre o uso dos referidos dons.
Depois de ter falado da importância do amor, sendo o caminho sobremodo excelente que é superior aos dons sobrenaturais extraordinários do Espírito, agora seria mais fácil para os coríntios entenderem porque o dom de profetizar é mais importante do que o de línguas, porque é um dom destinado à edificação, exortação e consolação daqueles para os quais profetizamos; já que aquele que fala em língua desconhecida, edifica-se a si mesmo.
Por isso Paulo queria que todos falassem em línguas, mas muito mais que profetizassem, porque o que profetiza é maior do que o que fala em línguas, a não ser que também interprete para que a igreja receba edificação, senão edifica-se somente a si mesmo.
Paulo argumentou em favor do que havia afirmado dizendo que proveito haveria se ele ministrasse à Igreja somente falando em línguas?
Acaso não era necessário fazê-lo por meio de revelação, de palavra de conhecimento dos mistérios de Deus, ou de profecia, ou por exposição de doutrina?
Falar somente em línguas para a Igreja, no culto público, sem o dom de interpretação, era o mesmo que tocar um instrumento como a flauta, ou cítara, sem formar sons distintos, de modo que ninguém poderia identificar qual música estaria sendo tocada.
Para que os soldados possam se preparar para a batalha a trompetista tem que executar o som correto que corresponde ao toque para se preparar para o combate.
De igual modo, os que ministram à Igreja devem fazê-lo de tal forma que possam ser entendidos.
Desta forma os coríntios não deveriam estar dando mais importância ao dom de línguas do que aos demais dons, porque deveriam buscar os dons que são para o benefício da edificação da Igreja, e assim os que falassem em língua desconhecida, deveriam orar para que a pudessem interpretar.
Este ato de buscar os dons que visam à edificação do corpo de Cristo, tem a ver com o assunto do amor que ele havia acabado de expor no 13o capítulo.
Afinal os cristãos não foram chamados por Deus para edificarem apenas a si mesmos, mas também e sobretudo a seus irmãos, porque não são partes individuais aos olhos de Deus, mas membros de um só corpo, no qual devem trabalhar para o benefício do todo, assim como cada órgão e sistema no corpo humano trabalham para o funcionamento de todo o corpo e não apenas para o benefício próprio.
No entanto, Paulo não estava depreciando de modo algum o dom de línguas, porque se é um dom do Espírito como poderia ser desprezado?
Ele estava combatendo apenas a ênfase exagerada que os coríntios estavam colocando no referido dom e desprezando os demais.
E também por não terem uma compreensão adequada da importância dos dons e da forma de usá-los corretamente.
O apóstolo Paulo falou da necessidade de se abundar nos dons espirituais para a edificação da igreja.
Então não é possível haver verdadeira edificação sem os dons do Espírito.
Apesar de termos recebido dons espirituais, somos responsáveis pelo uso adequado deles na Igreja.
Não podemos portanto deixar de ter o devido zelo em averiguar por exemplo se a palavra que foi profetizada está de acordo com a revelação das Escrituras, e se o profeta falou realmente da parte de Deus.
Não podemos permitir que a ministração no culto seja apenas em línguas, quer na oração, na pregação ou no louvor, porque deve haver exposição com entendimento, de doutrina, de revelação, de palavra de conhecimento, para que possa haver o amém da parte do restante do corpo.
Não podemos esquecer que o propósito da nossa reunião na Igreja visa à adoração de Deus, mas também à edificação mútua.
Os dons espirituais são habilidades que o Espírito dá para expressarmos nossa fé para fortalecer a outros.
Os coríntios estavam tentando estabelecer uma forma de culto segundo as próprias normas deles, sem perceberem que havia um modo já determinado pelo Senhor, o qual foi transmitido aos apóstolos, e deveriam portanto investigar a forma como Ele estava sendo cultuado nas demais igrejas, para não permanecerem no erro em que estavam incorrendo (v. 36).
Os que estavam profetizando novas revelações contra o ensino apostólico, deveriam se submeter e sair da falsa posição elevada em que haviam se colocado, porque com o desejo de se mostrarem mais espirituais que os demais, estavam falando contra a verdade revelada pelo Senhor.
E o Espírito Santo jamais se contraditará fazendo com que uma verdade já revelada seja alterada por uma pretensa nova revelação dita falsamente em Seu nome por parte de pessoas insensatas e irresponsáveis, inchadas de orgulho carnal, pelo desejo de parecem mais espirituais do que seus irmãos em Cristo.
Ninguém deveria ficar desencorajado de profetizar ou falar em línguas, mas que o fizesse em verdade e da forma correta.
O nome de Cristo deve ser honrado e exaltado através do uso dos dons, e não infamado por um uso incorreto deles.





“1 Segui o amor, e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar.
2 Porque o que fala em língua desconhecida não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala mistérios.
3 Mas o que profetiza fala aos homens, para edificação, exortação e consolação.
4 O que fala em língua desconhecida edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a igreja.
5 E eu quero que todos vós faleis em línguas, mas muito mais que profetizeis; porque o que profetiza é maior do que o que fala em línguas, a não ser que também interprete para que a igreja receba edificação.
6 E agora, irmãos, se eu for ter convosco falando em línguas, que vos aproveitaria, se não vos falasse ou por meio da revelação, ou da ciência, ou da profecia, ou da doutrina?
7 Da mesma sorte, se as coisas inanimadas, que fazem som, seja flauta, seja cítara, não formarem sons distintos, como se conhecerá o que se toca com a flauta ou com a cítara?
8 Porque, se a trombeta der sonido incerto, quem se preparará para a batalha?
9 Assim também vós, se com a língua não pronunciardes palavras bem inteligíveis, como se entenderá o que se diz? porque estareis como que falando ao ar.
10 Há, por exemplo, muitas espécies de vozes no mundo, e nenhuma delas é sem significação.
11 Mas, se eu ignorar o sentido da voz, serei bárbaro para aquele a quem falo, e o que fala será bárbaro para mim.
12 Assim também vós, como desejais dons espirituais, procurai abundar neles, para edificação da igreja.
13 Por isso, o que fala em língua desconhecida, ore para que a possa interpretar.
14 Porque, se eu orar em língua desconhecida, o meu espírito ora bem, mas o meu entendimento fica sem fruto.
15 Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento.
16 De outra maneira, se tu bendisseres com o espírito, como dirá o que ocupa o lugar de indouto, o Amém, sobre a tua ação de graças, visto que não sabe o que dizes?
17 Porque realmente tu dás bem as graças, mas o outro não é edificado.
18 Dou graças ao meu Deus, porque falo mais línguas do que vós todos.
19 Todavia eu antes quero falar na igreja cinco palavras na minha própria inteligência, para que possa também instruir os outros, do que dez mil palavras em língua desconhecida.
20 Irmãos, não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no entendimento.
21 Está escrito na lei: Por gente de outras línguas, e por outros lábios, falarei a este povo; e ainda assim me não ouvirão, diz o Senhor.
22 De sorte que as línguas são um sinal, não para os fiéis, mas para os infiéis; e a profecia não é sinal para os infiéis, mas para os fiéis.
23 Se, pois, toda a igreja se congregar num lugar, e todos falarem em línguas, e entrarem indoutos ou infiéis, não dirão porventura que estais loucos?
24 Mas, se todos profetizarem, e algum indouto ou infiel entrar, de todos é convencido, de todos é julgado.
25 Portanto, os segredos do seu coração ficarão manifestos, e assim, lançando-se sobre o seu rosto, adorará a Deus, publicando que Deus está verdadeiramente entre vós.
26 Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação.
27 E, se alguém falar em língua desconhecida, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e por sua vez, e haja intérprete.
28 Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus.
29 E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.
30 Mas, se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro.
31 Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados.
32 E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas.
33 Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos.
34 As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei.
35 E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja.
36 Porventura saiu dentre vós a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós?
37 Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor.
38 Mas, se alguém ignora isto, que ignore.
39 Portanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar, e não proibais falar línguas.


40 Mas faça-se tudo decentemente e com ordem.”. (I Coríntios 14.1-40)






I Coríntios 15

A Ressurreição do Corpo – I Coríntios 15

Muitos haviam sido testemunhas da ressurreição de Jesus, e das cerca de quinhentas pessoas às quais Ele havia aparecido ressuscitado depois da Sua morte, ainda vivia a maior parte, nos dias em que Paulo escreveu a primeira epístola aos coríntios, conforme se afirma no se 15º capítulo.
Depois, nosso Senhor apareceu a Tiago e a todos os apóstolos e por último ao próprio Paulo, porque não era apóstolo na ocasião da ascensão de Jesus, e isto foi uma forma de ser humilhado pelo Senhor, porque havia sido perseguidor da Igreja.
Entretanto, como a chamada do evangelho é segundo a graça, foi concedido a Paulo trabalhar pela mesma graça, mais do que todos os apóstolos, pregando sobretudo a ressurreição de Cristo; porque a fé do evangelho está fundamentada na Sua morte e ressurreição.
Se Cristo não tivesse ressuscitado, os apóstolos estariam dando um falso testemunho, porque se Cristo não tivesse ressuscitado, não poderiam afirmar que os mortos em Cristo também ressuscitarão.
A esperança de vida do cristão não é somente para esta vida, mas sobretudo para a vida perfeita e plena que será manifestada por ocasião da volta do Senhor.
E o grande fato que é a base do testemunho da nossa fé, é a de que há um Deus real e um céu real, porque Jesus não somente ressuscitou e apareceu a muitos discípulos, como também subiu aos céus à sua vista, e este testemunho foi passado por eles através de sucessivas gerações, até ter chegado a nós.
Por exemplo, Irineu foi discípulos do apóstolo João, e recebeu de João o firme testemunho de que Jesus havia ressuscitado e ascendido aos céus, e por sua vez Irineu teve por discípulo a Policarpo, que também passou o testemunho da ressurreição adiante, de modo que não temos somente o testemunho das Escrituras, como também o testemunho daqueles que tiveram contato com os que haviam sido testemunhas oculares da ressurreição e ascensão de Jesus.
E ainda temos o testemunho do Espírito Santo com o nosso espírito acerca desta realidade, de modo que possamos estar seguros de que não há somente um Deus vivo, que nos garante a vida eterna, como também um céu real para o qual iremos depois da nossa morte.
O nosso corpo morre por causa do pecado original de Adão, mas todos os que estão em Cristo terão os seus corpos ressuscitados.
Quando os corpos dos cristãos forem ressuscitados por Cristo, Ele terá aniquilado todo principado, potestade e força deste mundo, e entregará o reino a Deus Pai.
Como o último inimigo a ser vencido totalmente por Cristo é a morte, isto ocorrerá quando os cristãos forem ressuscitados, porque Ele veio para dar vida aos que estavam mortos, por causa do pecado original.
Ele recebe honra e glória por vencer o pecado, o diabo, o mundo e a morte.
Assim, o modo de um cristão glorificar a Cristo neste mundo é vencendo pela Sua graça, estes Seus inimigos, de forma que manifeste que Cristo é de fato o Senhor da vida.
Estava havendo uma incoerência por parte de alguns coríntios, que estavam realizando uma prática não cristã de se batizarem no lugar de entes queridos que haviam morrido, pensando que com isto poderiam vir a ser salvos.
Paulo tomou emprestada esta forma de ação representativa deles, para lhes indagar como podiam afirmar que não há ressurreição futura, se estavam intuitivamente assumindo aquela prática que dava testemunho de que de alguma forma tinham esperança numa vida futura?
 E esta esperança numa vida futura é a essência mesma do cristianismo, porque chama todos os cristãos a não olharem para a aparência deste mundo, mas para a eternidade, à qual são chamados em Cristo Jesus.
Paulo argumentou com eles que caso ele não tivesse esperança nesta vida futura porque estaria se expondo a perigos a toda hora para pregar o evangelho?
Por que estaria enfrentando a morte bem de perto por todos os dias da sua vida, por causa da perseguição que estava sofrendo por causa do evangelho?
Por que teria lutado contra as bestas que haviam se levantado contra ele em Éfeso, por causa da defesa deles do culto da deusa Diana?
De que lhe valeriam todas estas coisas se não houvesse ressurreição?
Se não houvesse uma recompensa futura a ser dada aos que vencerem pelo Senhor?
Seria melhor se acomodar ao dito da filosofia dos epicuristas de que se aproveitasse o mais possível as coisas desta vida, uma vez que um dia todos haveremos de morrer.
E segundo eles, uma das melhores coisas deste mundo era beber e comer.
Entretanto, Paulo havia sido arrebatado ao terceiro céu, ao paraíso, ainda próximo da sua conversão, conforme afirma no décimo segundo capítulo de II Coríntios, de modo que tinha muita autoridade e segurança, quanto à nossa esperança futura em Cristo de irmos para este lugar maravilhoso, o céu, que é a habitação eterna não somente de Deus, como também nossa.
Mas, quantas renúncias os cristãos não devem fazer em favor do evangelho, inclusive nesta área de comer e beber, para que sejam em tudo achados aprovados pelo Senhor, não sendo causa de escândalo para nenhuma pessoa, de modo que possam alcançar a salvação em Cristo Jesus.
 Os coríntios deviam portanto vigiar o assunto de suas conversações, para não fazerem afirmações falsas tal como a de alguns entre eles que diziam que não haveria ressurreição futura.
Isto estava sendo usado pelo Inimigo para corromper a fé de alguns, como Himeneu e Fileto haviam feito na Igreja de Éfeso, afirmando que a ressurreição já havia ocorrido,e que era somente espiritual, porque não haveria uma tal coisa como a ressurreição do nosso corpo.
Quando se diz isto está sendo afirmado ao mesmo tempo, que Cristo também não ressuscitou.
E se Ele não tivesse ressuscitado e subido aos céus com um corpo glorificado, nós não poderíamos ser justificados dos nossos pecados, e não poderíamos portanto receber a promessa de vida que Deus tem feito àqueles que creem no Seu Filho, como sendo as primícias daqueles que morrem, quanto à glorificação futura que terão, tal como a do Seu próprio Filho.
Uma grande evidência a favor da ressurreição foi dada por Deus na própria natureza, em que os vegetais nascem de sementes que morrem para darem lugar a uma nova forma de vida mais gloriosa.
Esta nossa vida que temos neste mundo é como uma semente, que haverá de revelar uma vida gloriosa, depois que a casca que é o nosso corpo, na qual está preso o nosso espírito, morrer.
Porque foi planejado por Deus primeiro nos plantar como homens naturais, para poder colher homens espirituais.
Por isso trouxemos conosco a imagem do primeiro homem cujo corpo foi feito do pó da terra, para sabermos que no mundo natural há vários tipos de carnes, e que há uma grande diferença entre a glória dos corpos terrestres e a daqueles que são celestiais.
Assim como as glórias do sol, da lua e das estrelas são diferentes, de igual modo é diferente a glória dos corpos deste mundo e a daqueles que são do céu.
Os nossos corpos neste mundo experimentam da corrupção, porque envelhecem e morrem, mas nossos corpos serão incorruptíveis e não mais morrerão depois que formos ressuscitados.
Nossos corpos enfraquecem e não trazem o brilho permanente da glória de Deus, mas depois da ressurreição serão vigorosos e gloriosos.
Se Deus quisesse poderia ter criado os homens tal como os anjos, a saber, sem um corpo, e sem serem dependentes de um mundo e de coisas materiais para a sobrevivência do corpo.
Mas Ele fez isto para que pudéssemos ser provados, quanto a se amaríamos ao Criador e a vida eterna futura, ou o mundo passageiro, e todas as criaturas que existem no mundo, sejam pessoas, ou quaisquer outros seres vivos, e toda sorte de coisas materiais.
Os que estiverem apegados ao que é terreno perecerão, mas os que amarem a vida espiritual, que está em Cristo Jesus, terão o céu como a sua habitação eterna.
Oh! Que o Senhor possa continuar arrebatando até a Sua santa presença no terceiro céu, a muitos dos nossos irmãos em Cristo, inclusive a nós mesmos, para que possa ser mantida viva esta esperança do céu e da eternidade, como uma força poderosa em nós, a mover toda a nossa ação neste mundo no serviço do Senhor.
Adão, sendo terreno não poderia nos transmitir, como seus descendentes, tal glória e vigor eternos, mas somente Jesus, sendo a última Cabeça representante da raça humana, pode nos transmitir tal glória e vigor, porque tem em Si este poder, porque diferentemente de Adão, Ele é espírito vivificante.
E assim como trouxemos conosco a imagem terrena de Adão, de igual modo haveremos de ter a imagem perfeita celestial de Cristo, porque Ele não é da terra, tal como Adão, mas do céu.
Deste modo não será este corpo de carne e sangue que herdará o reino de Deus, porque este corpo é corruptível e não pode portanto herdar um reino incorruptível.
Então mesmo os que estiverem vivos na terra no dia do arrebatamento, terão que ter os seus corpos transformados para poderem subir com corpos gloriosos para o encontro com Jesus entre nuvens.
E isto sucederá num abrir e fechar de olhos, quando os mortos serão ressuscitados e os que estiverem vivos terão seus corpos transformados.
Então o que é mortal será imortal. O que envelhecia não mais envelhecerá.
E nesta ocasião terá cumprimento a palavra profética de ter sido a morte tragada pela vitória.
E o Espírito zomba pelo profeta sobre o aguilhão da morte e sobre a vitória do inferno (Os 13.14).
Se o aguilhão usado pela morte é o pecado, porque é por causa do pecado que a morte entrou no mundo, e prevalece sobre os homens, como poderá ainda atuar tal aguilhão, uma vez que em Cristo os nossos pecados são perdoados e somos justificados, pelo sangue que Ele derramou na cruz?
De igual modo, se o que dava força ao pecado era a Lei, a qual nos tornava indesculpáveis diante de Deus, por causa da transgressão dos Seus mandamentos, esta força foi quebrada e desfeita quando Jesus encravou na cruz o escrito de dívida que era contrário a nós, por causa de tais transgressões.
Porque nEle temos morrido não somente para o pecado, como também para a condenação e a maldição da Lei.
Todos os méritos desta vitória são portanto pertencentes ao Senhor e é somente a Ele que deve ser tributada toda glória e ações de graças.
Mas devemos também ser gratos ao Pai, porque foi Ele quem deu o Seu Filho para morrer no nosso lugar, para que fôssemos justificados dos nossos pecados.




“1 Também vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho anunciado; o qual também recebestes, e no qual também permaneceis.
2 Pelo qual também sois salvos se o retiverdes tal como vo-lo tenho anunciado; se não é que crestes em vão.
3 Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras,
4 E que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.
5 E que foi visto por Cefas, e depois pelos doze.
6 Depois foi visto, uma vez, por mais de quinhentos irmãos, dos quais vive ainda a maior parte, mas alguns já dormem também.
7 Depois foi visto por Tiago, depois por todos os apóstolos.
8 E por derradeiro de todos me apareceu também a mim, como a um abortivo.
9 Porque eu sou o menor dos apóstolos, que não sou digno de ser chamado apóstolo, pois que persegui a igreja de Deus.
10 Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus, que está comigo.
11 Então, ou seja eu ou sejam eles, assim pregamos e assim haveis crido.
12 Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como dizem alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos?
13 E, se não há ressurreição de mortos, também Cristo não ressuscitou.
14 E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.
15 E assim somos também considerados como falsas testemunhas de Deus, pois testificamos de Deus, que ressuscitou a Cristo, ao qual, porém, não ressuscitou, se, na verdade, os mortos não ressuscitam.
16 Porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou.
17 E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados.
18 E também os que dormiram em Cristo estão perdidos.
19 Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.
20 Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, e foi feito as primícias dos que dormem.
21 Porque assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem.
22 Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo.
23 Mas cada um por sua ordem: Cristo as primícias, depois os que são de Cristo, na sua vinda.
24 Depois virá o fim, quando tiver entregado o reino a Deus, ao Pai, e quando houver aniquilado todo o império, e toda a potestade e força.
25 Porque convém que reine até que haja posto a todos os inimigos debaixo de seus pés.
26 Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte.
27 Porque todas as coisas sujeitou debaixo de seus pés. Mas, quando diz que todas as coisas lhe estão sujeitas, claro está que se excetua aquele que lhe sujeitou todas as coisas.
28 E, quando todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então também o mesmo Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos.
29 Doutra maneira, que farão os que se batizam pelos mortos, se absolutamente os mortos não ressuscitam? Por que se batizam eles então pelos mortos?
30 Por que estamos nós também a toda a hora em perigo?
31 Eu protesto que cada dia morro, gloriando-me em vós, irmãos, por Cristo Jesus nosso Senhor.
32 Se, como homem, combati em Éfeso contra as bestas, que me aproveita isso, se os mortos não ressuscitam? Comamos e bebamos, que amanhã morreremos.
33 Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes.
34 Vigiai justamente e não pequeis; porque alguns ainda não têm o conhecimento de Deus; digo-o para vergonha vossa.
35 Mas alguém dirá: Como ressuscitarão os mortos? E com que corpo virão?
36 Insensato! o que tu semeias não é vivificado, se primeiro não morrer.
37 E, quando semeias, não semeias o corpo que há de nascer, mas o simples grão, como de trigo, ou de outra qualquer semente.
38 Mas Deus dá-lhe o corpo como quer, e a cada semente o seu próprio corpo.
39 Nem toda a carne é uma mesma carne, mas uma é a carne dos homens, e outra a carne dos animais, e outra a dos peixes e outra a das aves.
40 E há corpos celestes e corpos terrestres, mas uma é a glória dos celestes e outra a dos terrestres.
41 Uma é a glória do sol, e outra a glória da lua, e outra a glória das estrelas; porque uma estrela difere em glória de outra estrela.
42 Assim também a ressurreição dentre os mortos. Semeia-se o corpo em corrupção; ressuscitará em incorrupção.
43 Semeia-se em ignomínia, ressuscitará em glória. Semeia-se em fraqueza, ressuscitará com vigor.
44 Semeia-se corpo natural, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual.
45 Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em espírito vivificante.
46 Mas não é primeiro o espiritual, senão o natural; depois o espiritual.
47 O primeiro homem, da terra, é terreno; o segundo homem, o Senhor, é do céu.
48 Qual o terreno, tais são também os terrestres; e, qual o celestial, tais também os celestiais.
49 E, assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial.
50 E agora digo isto, irmãos: que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção.
51 Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados;
52 Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados.
53 Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade.
54 E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória.
55 Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?
56 Ora, o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei.
57 Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo.
58 Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor.”. (I Cor 15.1-58)








I Coríntios 16

Saudações Finais de Paulo - I Coríntios 16

Paulo se referiu no 16º capítulo de I Coríntios, à coleta que estava sendo feita em favor dos cristãos pobres da Judeia, a qual ele pretendia levar a eles depois de encerrar sua terceira viagem missionária.
Aqui neste último capítulo de sua epístola, ele disse aos coríntios que separassem suas ofertas em cada reunião pública aos domingos, porque fora o mesmo que ele havia ordenado aos cristãos da Galácia e da Macedônia.
Isto revela que desde o início da Igreja, era costume dos cristãos se reunirem para o culto público de adoração aos domingos.
Esta coleta foi feita por espaço de cerca de um ano, e Paulo quando saiu de Éfeso, se dirigiu à Macedônia onde recolheu a oferta que haviam recolhido, e depois disto foi a Corinto, de onde escreveu a epístola aos Romanos, e na qual cita que já se encontrava de posse da oferta que levaria consigo para Jerusalém, juntamente com os irmãos de boa reputação nomeados pelas Igrejas, para testemunharem da sua fidelidade na distribuição da coleta entre os cristãos pobres da Judeia (Rom 15).
Paulo pretendia ficar em Éfeso até próximo da festa judaica do Pentecostes de Jerusalém, porque uma grande e eficaz porta para a pregação do evangelho em Éfeso havia sido aberta para ele, contudo antes que fosse para Jerusalém,  pretendia também passar ainda algum tempo com os coríntios, mas antes que fosse ter com eles lhes estava enviando Timóteo, com a missão de colocar em boa ordem as coisas naquela Igreja, mas como temia que Timóteo fosse rechaçado, lhes recomendou que o recebessem de tal forma que não estivesse temeroso entre eles.
Ninguém deveria desprezar a mocidade de Timóteo, porque fora chamado por Deus para ser evangelista no trabalho de fundação de Igrejas juntamente com Paulo.
Assim deveria ser encaminhado por eles em paz de volta ao apóstolo, depois de ter estado com eles em Corinto.
A comissão de Corinto que viera ter com Paulo (Estéfanas, Fortunato e Acaico) deve lhe ter dito do interesse deles de que Apolo voltasse a ter com eles para lhes ministrar o evangelho, mas Paulo lhes disse que apesar de ter rogado muito a Apolo que fosse ter com eles, não lhe pareceu oportuna a ocasião para ir para Corinto, e que o faria somente quando considerasse oportuno.
Paulo encerra a epístola lhes recomendando que vigiassem e permanecessem firmes na fé, portando-se varonilmente, estando fortalecidos na graça do Senhor, para que todas as suas obras fossem feitas em amor.
Como a família de Estéfanas foi a primeira a se converter em Corinto, e como havia se destacado e se dedicado na ministração aos santos, os coríntios deveriam lhes estarem sujeitos no Senhor, no trabalho que realizavam entre eles, bem como a todos aqueles que eram seus auxiliares na referida obra.
Os homens que vieram juntamente com Estéfanas ter com Paulo em Éfeso (Fortunato e Acaico) deveriam receber o mesmo reconhecimento da parte deles, porque eram zelosos pela causa do evangelho em Corinto.
Paulo saudou os coríntios em nome das igrejas da Ásia, onde Éfeso se localizava, e particularmente em nome de Áquila e Priscila, e a igreja que se reunia na casa deles, com os quais Paulo se encontrava na ocasião da escrita desta epístola.
Eles deveriam viver de tal forma no amor do Espírito, para que pudessem se saudar mutuamente  com ósculo (beijo) santo.  
Como era costume em todas as suas epístolas, para evitar falsificações em seu nome, Paulo subscreveu a saudação final de próprio punho.
Acima de tudo deveria estar o amor em Jesus Cristo, o qual é digno de ser amado, e cuja volta deve ser desejada.
De modo que todo aquele que não ama ao Senhor deliberadamente, seja considerado maldito de Deus.
Ele lhes recomendou à graça do Senhor Jesus, e protestou que o próprio amor dele, Paulo, fosse com todos eles em Cristo Jesus.



“1 Ora, quanto à coleta para os santos fazei vós também o mesmo que ordenei às igrejas da Galácia.
2 No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder, conforme tiver prosperado, guardando-o, para que se não façam coletas quando eu chegar.
3 E, quando tiver chegado, mandarei os que por carta aprovardes para levar a vossa dádiva a Jerusalém;
4 mas, se valer a pena que eu também vá, irão comigo.
5 Irei, porém, ter convosco depois de ter passado pela Macedônia, pois tenho de passar pela Macedônia;
6 e talvez demore convosco algum tempo, ou mesmo passe o inverno, para que me encaminheis para onde quer que eu for.
7 Pois não quero ver-vos desta vez apenas de passagem, antes espero ficar convosco algum tempo, se o Senhor o permitir.
8 Ficarei, porém, em Éfeso até o Pentecostes;
9 porque uma porta grande e eficaz se me abriu; e há muitos adversários.
10 Ora, se Timóteo for, vede que esteja sem temor entre vós; porque trabalha na obra do Senhor, como eu também,
11 Portanto ninguém o despreze; mas encaminhai-o em paz, para que venha ter comigo, pois o espero com os irmãos.
12 Quanto ao irmão Apolo, roguei-lhe muito que fosse com os irmãos ter convosco; mas de modo algum quis ir agora; irá porém, quando se lhe ofereça boa ocasião.
13 Vigiai, estai firmes na fé, portai-vos varonilmente, sede fortes.
14 Todas as vossas obras sejam feitas em amor.
15 Agora vos rogo, irmãos, pois sabeis que a família de Estéfanas é as primícias da Acaía, e que se tem dedicado ao ministério dos santos,
16 que também vos sujeiteis aos tais, e a todo aquele que auxilia na obra e trabalha.
17 Regozijo-me com a vinda de Estéfanas, de Fortunato e de Acaico; porque estes supriram o que da vossa parte me faltava.
18 Porque recrearam o meu espírito assim como o vosso. Reconhecei, pois, aos tais.
19 As igrejas da Ásia vos saúdam. Saúdam-vos afetuosamente no Senhor Aquila e Prisca, com a igreja que está em sua casa.
20 Todos os irmãos vos saúdam. Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo.
21 Esta saudação é de meu próprio punho, Paulo.
22 Se alguém não ama ao Senhor, seja anátema! Maranata.
23 A graça do Senhor Jesus seja convosco.
24 O meu amor seja com todos vós em Cristo Jesus.”. (I Cor 16.1-24)







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