terça-feira, 20 de outubro de 2015

Juízes 1 a 21 e Rute 1 a 4

Juízes 1

“1 Depois da morte de Josué os filhos de Israel consultaram ao Senhor, dizendo: Quem dentre nós subirá primeiro aos cananeus, para pelejar contra eles?
2 Respondeu o Senhor: Judá subirá; eis que entreguei a terra na sua mão.
3 Então disse Judá a Simeão, seu irmão: sobe comigo à sorte que me coube, e pelejemos contra os cananeus, e eu também subirei contigo à tua sorte. E Simeão foi com ele.
4 Subiu, pois, Judá; e o Senhor lhes entregou nas mãos os cananeus e os perizeus; e bateram deles em Bezeque dez mil homens.
5 Acharam em Bezeque a Adoni-Bezeque, e pelejaram contra ele; e bateram os cananeus e os perizeus.
6 Mas Adoni-Bezeque fugiu; porém eles o perseguiram e, prendendo-o, cortaram-lhe os dedos polegares das mãos e dos pés.
7 Então disse Adoni-Bezeque: Setenta reis, com os dedos polegares das mãos e dos pés cortados, apanhavam as migalhas debaixo da minha mesa; assim como eu fiz, assim Deus me pagou. E o trouxeram a Jerusalém, e ali morreu.
8 Ora, os filhos de Judá pelejaram contra Jerusalém e, tomando-a, passaram-na ao fio da espada e puseram fogo à cidade.
9 Depois os filhos de Judá desceram a pelejar contra os cananeus que habitavam na região montanhosa, e no Negebe, e na baixada.
10 Então partiu Judá contra os cananeus que habitavam em Hebrom, cujo nome era outrora Quiriate-Arba; e bateu Sesai, Aimã e Talmai.
11 Dali partiu contra os moradores de Debir, que se chamava outrora Quiriate-Sefer.
12 Disse então Calebe: A quem atacar Quiriate-Sefer e a tomar, darei a minha filha Acsa por mulher.
13 E tomou-a Otniel, filho de Quenaz, o irmão de Calebe; mais novo do que ele; e Calebe lhe deu sua filha Acsa por mulher.
14 Estando ela em caminho para a casa de Otniel, persuadiu-o que pedisse um campo ao pai dela. E quando ela saltou do jumento, Calebe lhe perguntou: Que é que tens?
15 Ela lhe respondeu: Dá-me um presente; porquanto me deste uma terra no Negebe, dá-me também fontes d'água. Deu-lhe, pois, Calebe as fontes superiores e as fontes inferiores.
16 Também os filhos do queneu, sogro de Moisés, subiram da cidade das palmeiras com os filhos de Judá ao deserto de Judá, que está ao sul de Arade; e foram habitar com o povo.
17 E Judá foi com Simeão, seu irmão, e derrotaram os cananeus que habitavam em Zefate, e a destruíram totalmente. E chamou-se o nome desta cidade Horma.
18 Judá tomou também a Gaza, a Asquelom e a Ecrom, com os seus respectivos territórios.
19 Assim estava o Senhor com Judá, o qual se apoderou da região montanhosa; mas não pôde desapossar os habitantes do vale, porquanto tinham carros de ferro.
20 E como Moisés dissera, deram Hebrom a Calebe, que dali expulsou os três filhos de Anaque.
21 Mas os filhos de Benjamim não expulsaram aos jebuseus que habitavam em Jerusalém; pelo que estes ficaram habitando com os filhos de Benjamim em Jerusalém até o dia de hoje.
22 Também os da casa de José subiram contra Betel; e o Senhor estava com eles.
23 E a casa de José fez espiar a Betel (e fora outrora o nome desta cidade Luz);
24 e, vendo os espias a um homem que saía da cidade, disseram-lhe: Mostra-nos a entrada da cidade, e usaremos de bondade para contigo.
25 Mostrou-lhes, pois, a entrada da cidade, a qual eles feriram ao fio da espada; porém deixaram livre aquele homem e toda a sua família.
26 Então o homem se foi para a terra dos heteus, edificou uma cidade, e pôs-lhe o nome de Luz; este é o seu nome até o dia de hoje.
27 Manassés não expulsou os habitantes de Bete-Seã, nem os de Taanaque, nem os de Dor, nem  os de Ibleã, nem os de Megido, todas com suas respectivas vilas; pelo que os cananeus lograram permanecer na mesma terra.
28 Mas quando Israel se tornou forte, sujeitou os cananeus a trabalhos forçados, porém não os expulsou de todo.
29 Também Efraim não expulsou os cananeus que habitavam em Gezer; mas os cananeus ficaram habitando no meio dele, em Gezer.
30 Também Zebulom não expulsou os habitantes de Quitrom, nem os de Naalol; porém os cananeus ficaram habitando no meio dele, e foram sujeitos a trabalhos forçados.
31 Também Aser não expulsou os habitantes de Aco, nem de Sidom, nem de Alabe, nem de Aczibe, nem de Helba, nem de Afeca, nem de Reobe;
32 porém os aseritas ficaram habitando no meio dos cananeus, os habitantes da terra, porquanto não os expulsaram.
33 Também Naftali não expulsou os habitantes de Bete-Semes, nem os de Bete-Anate; mas, habitou no meio dos cananeus, os habitantes da terra; todavia os habitantes de Bete-Semes e os de Bete-Anate foram sujeitos a trabalhos forçados.
34 Os amorreus impeliram os filhos de Dã até a região montanhosa; pois não lhes permitiram descer ao vale.
35 Os amorreus quiseram também habitar no monte Heres, em Aijalom e em Saalabim; contudo prevaleceu a mão da casa de José, de modo que eles ficaram sujeitos a trabalhos forçados.
36 E foi o termo dos amorreus desde a subida de Acrabim, desde Sela, e dali para cima.” (Jz 1.1-36).

Lido fora de seu contexto, o início deste capitulo pode dar a entender que o autor sagrado poderia estar sugerindo que a conquista de Canaã somente começou efetivamente depois da morte de Josué, mas não é exatamente isto que ele está afirmando, pois o que está em foco é o avanço das conquistas, que deveriam prosseguir conforme o mandado de Deus, e que haviam sido iniciadas nos dias de Josué.
Muitos territórios, que haviam sido previamente distribuídos pelas tribos, por sortes, enquanto Josué ainda vivia, deveriam ser conquistados quando as tribos se instalassem nas áreas, que lhes foram respectivamente designadas, conforme vimos em nosso estudo no livro de Josué.
Entretanto, por temor dos inimigos e por terem se acomodado ao que havia sido conquistado inicialmente, as novas gerações não haviam avançado no trabalho de conquistar a terra, e isto está claramente revelado logo no início da escrita deste livro de Juízes.
Depois da morte de Josué os israelitas consultaram ao Senhor para saber qual das tribos deveria empreender a primeira ação de combate, para avançar na conquista do território de Canaã, para animar as demais a combaterem também nos respectivos territórios.
Enquanto Josué vivia, as batalhas contra os cananeus eram realizadas pela ação conjunta de todas as tribos, mas agora, cada uma, respectivamente, com a eventual ajuda das tribos que lhes estavam associadas, deveria lutar para conquistar os territórios que lhes foram designados previamente por sortes, como foi o caso de Simeão, que lutou ao lado de Judá, porque teria herança no território que havia sido designado para esta tribo.
Enquanto estavam lutando juntos,  realizaram a conquista de muita terra e de muitas cidades, conforme descrito no livro de Josué, mas agora, tendo cada qual que lutar para estender suas respectivas fronteiras, nós vemos que não houve fé suficiente neles para crerem no Senhor, de modo a terem a Sua forte mão trabalhando em seu favor.
E disto nos dá conta todo o relato do livro de Juízes, que revela a incredulidade e idolatria de sucessivas gerações de Israel, confirmando que tinha de fato a sua razão de ser o cuidado de Deus em ter determinado que  não se permitissem conviver com os cananeus, para não se contaminarem com as suas práticas idolátricas.
Este esfriamento para com Deus ocorreu à medida que o tempo passava, pois nós não vemos isto logo no início, porque ainda havia muito daquela fé, que as tribos demonstravam enquanto vivia Josué, nesta designação inicial feita pelo Senhor para que a tribo de Judá subisse primeiro à batalha, prometendo-lhes que teriam sucesso no empreendimento, e Deus jamais teria feito tal promessa, se não vislumbrasse qualquer fé e santidade neles.
Judá era o primeiro em dignidade, e então deveria ser o primeiro no cumprimento do dever.
O fardo da honra deve ir junto com o fardo do trabalho.
Deus prometeu ajudar a tribo de Judá, mas  não lhe daria sucesso a menos que se aplicassem vigorosamente ao serviço que deveriam realizar.
De igual modo, nenhum ministério florescerá pela ajuda das mãos do Senhor, sem que haja a mesma disposição de empenho nos ministros.
 O exército de Judá realizou diversas conquistas, mas não tiveram fé suficientemente forte para empreender guerra contra os cananeus, que habitavam no vale, porque tinham carros de ferro (v 19), tendo se apossado somente da região montanhosa.
Mesmo para aqueles que têm fé em Deus há desafios à fé, que exigirão uma fé grande para que possam ser enfrentados, e daí a necessidade de se aumentar a fé no Senhor, por uma aplicação mais diligente nos deveres e uso dos meios da graça (oração, meditação na Palavra, consagração, santificação) para que a nossa fé seja aumentada pelo Senhor, de modo que possamos realizar maiores obras para a Sua glória através de uma fé robustecida.
A fé de Judá foi suficiente para realizar por exemplo o grande empreendimento de derrota dos cananeus e perizeus em  Bezeque, onde dez mil homens foram batidos pelas forças de Judá coligadas com as de Simeão.
Eles submeteram também ao rei de Bezeque, denominado Adoni-Bezeque, que significa Senhor de Bezeque. E antes de ser morto, cortaram os seus dedos polegares das mãos e dos pés, e o próprio Adoni-Bezeque reconheceu que estava sendo castigado por Deus, porque ele havia cortado também os dedos polegares das mãos e pés de setenta reis que se alimentavam das migalhas da sua mesa.
Ele fizera aquilo para que não pudessem mais lutar empunhando espadas, e nem também terem facilidade de fugir, pela dificuldade de correr sem os polegares dos pés.    
Naquela dispensação da morte e condenação, onde imperava a lei do olho por olho, para que aprendêssemos o temor devido aos juízos de Deus contra o pecado, nós podemos entender que aquele juízo era de fato procedente do Senhor como paga pelas suas más obras, demonstrando que realmente, com a medida com que tivermos medido, nós também seremos medidos, quer seja para o bem, quer seja para o mal.
Isto decorre de que enquanto houver pecado no mundo, ao lado da bondade, amor e misericórdia de Deus, também correrá paralelamente a isto os seus necessários juízos, de modo que os homens sejam desencorajados da prática do mal, pelo temor que lhes venha a suceder o mesmo  mal, que fizerem ao seu próximo, ainda que neste período da dispensação da graça, desde que Jesus morreu  para o perdão dos pecadores, estes juízos têm sido muito abrandados, por conta da longanimidade de Deus.  
Nós vimos em nosso estudo do livro de Josué (cap 10), que um rei também chamado Adoni-Bezeque levantou uma coligação de reis para lutar contra os israelitas.
Certamente, se tratava de um outro rei de Jerusalém, que foi batido nos dias de Josué.
Tudo indica que este nome Adoni-Bezeque, era um título dos reis daquelas terras, tal como nós temos o título de faraó para os reis do Egito, e o de Abimeleque, para os reis dos filisteus.
A conquista dos dias de Josué foi realizada mediante ação conjugada de todas as tribos de Israel, mas neste capítulo, nós temos apenas Judá e Simeão em ação.
Trata-se portanto de uma ocasião diferente da narrada no livro de Josué.
A passagem relativa a Calebe e à conquista de Quiriate-Sefer por seu sobrinho Otiniel, a quem deu por esposa sua filha Acsa, está amplamente comentada em Josué 15.16-19.
  No verso 18 é citado que Judá tomou também a Gaza, a Asquelom e a Ecrom, três das cidades confederadas dos filisteus com os seus respectivos territórios, mas não tendo expulsado os seus habitantes conforme mandado do Senhor, os filisteus viriam a se fortalecer mais tarde, e tomaram de volta as suas possessões e passaram a ser um grande espinho na carne de Israel, até aos dias do rei Davi, e foram eles que oprimiram a Israel nos dias de Sansão.
Os versos 21 a 36 narram a mistura dos israelitas com os cananeus que permaneceram em seus territórios, porque não os expulsaram segundo o mandado de Deus.
Os jebuseus permaneceram na posse de Jerusalém porque a tribo de Benjamim não os expulsou (v 21).
A tribo de Efraim conquistou Betel porque o Senhor era com eles (v. 22), mas não expulsaram os cananeus de Gezer, que ficaram habitando no meio deles (v. 29).
E todas as demais tribos, também não expulsaram os cananeus de seus territórios, de modo que conviviam com eles, e isto se lhes tornou laço, conforme havia sido predito desde os dias de Moisés.
Os carros de ferro dos cananeus, que habitavam o vale, e que tanto amedrontaram os israelitas são ainda os mesmos carros de ferro do diabo, que impedem a Igreja de avançar conquistando almas para Cristo em todo o mundo, e especialmente nos países onde predomina o islamismo.
São na verdade carros de ferro que não podem ser dominados sem uma ação direta e poderosa de Deus, e para isto é necessário fé, jejum e oração, por parte da Igreja, para que assim como Ele destruiu tais carros nos dias de Débora e Sísera, como veremos nos capítulos quarto e quinto deste livro, Ele possa abrir à evangelização tais portas, que se encontram ainda hermeticamente fechadas, impedindo uma livre pregação do evangelho.
Todavia, estes carros de ferro não se limitam apenas aos países de tradição muçulmana, como também se referem aos grandes bolsões de resistência satânica, no mundo ocidental, quer através de um forte secularismo e desinteresse pelas coisas celestiais, como também ao grande e crescente aumento da iniqüidade em todas as suas formas de expressão, e isto faz com que a Igreja fique imobilizada, porque são carros de ferro que não podem ser destruídos sem uma ação direta e poderosa de Deus, e por isso necessitamos urgentemente de um novo e grande avivamento do Espírito Santo, para que tais resistências possam ser rompidas.
Todavia, sem oração incessante e sem retidão de vida, não haverá nenhum avivamento.
Deus tem feito à Igreja a mesma promessa que fez a Josué de pelejar pelo Seu povo, desde que este se mantenha fiel à Sua vontade.
"Porém a região montanhosa será tua. Ainda que é bosque, cortá-los-á, e até às suas extremidades será todo teu; porque expulsarás os cananeus, ainda que possuem carros de ferro e são fortes" (Josué 17.18).


Juízes 2

“1 O anjo do Senhor subiu de Gilgal a Boquim, e disse: Do Egito vos fiz subir, e vos trouxe para a terra que, com juramento, prometi a vossos pais, e vos disse: Nunca violarei e meu pacto convosco;
2 e, quanto a vós, não fareis pacto com os habitantes desta terra, antes derrubareis os seus altares. Mas vós não obedecestes à minha voz. Por que fizestes isso?
3 Pelo que também eu disse: Não os expulsarei de diante de vós; antes estarão quais espinhos nas vossas ilhargas, e os seus deuses vos serão por laço.
4 Tendo o anjo do Senhor falado estas palavras a todos os filhos de Israel, o povo levantou a sua voz e chorou.
5 Pelo que chamaram àquele lugar Boquim; e ali sacrificaram ao Senhor.
6 Havendo Josué despedido o povo, foram-se os filhos de Israel, cada um para a sua herança, a fim de possuírem a terra.
7 O povo serviu ao Senhor todos os dias de Josué, e todos os dias dos anciãos que sobreviveram a Josué e que tinham visto toda aquela grande obra do Senhor, a qual ele fizera a favor de Israel.
8 Morreu, porém, Josué, filho de Num, servo do Senhor, com a idade de cento e dez anos;
9 e o sepultaram no território da sua herança, em Timnate-Heres, na região montanhosa de Efraim, para o norte do monte Gaás.
10 Foi também congregada toda aquela geração a seus pais, e após ela levantou-se outra geração que não conhecia ao Senhor, nem tampouco a obra que ele fizera a Israel.
11 Então os filhos de Israel fizeram o que era mau aos olhos do Senhor, servindo aos baalins;
12 abandonaram o Senhor Deus de seus pais, que os tirara da terra do Egito, e foram-se após outros deuses, dentre os deuses dos povos que havia ao redor deles, e os adoraram; e provocaram o Senhor à ira,
13 abandonando-o, e servindo a baalins e astarotes.
14 Pelo que a ira do Senhor se acendeu contra Israel, e ele os entregou na mão dos espoliadores, que os despojaram; e os vendeu na mão dos seus inimigos ao redor, de modo que não puderam mais resistir diante deles.
15 Por onde quer que saíam, a mão do Senhor era contra eles para o mal, como o Senhor tinha dito, e como lho tinha jurado; e estavam em grande aflição.
16 Mas o Senhor suscitou juízes, que os livraram da mão dos que os espojavam.
17 Contudo, não deram ouvidos nem aos seus juízes, pois se prostituíram após outros deuses, e os adoraram; depressa se desviaram do caminho, por onde andaram seus pais em obediência aos mandamentos do Senhor; não fizeram como eles.
18 Quando o Senhor lhes suscitava juízes, ele era com o juiz, e os livrava da mão dos seus inimigos todos os dias daquele juiz; porquanto o Senhor se compadecia deles em razão do seu gemido por causa dos que os oprimiam e afligiam.
19 Mas depois da morte do juiz, reincidiam e se corrompiam mais do que seus pais, andando após outros deuses, servindo-os e adorando-os; não abandonavam nenhuma das suas práticas, nem a sua obstinação.
20 Pelo que se acendeu contra Israel a ira do Senhor, e ele disse: Porquanto esta nação violou o meu pacto, que estabeleci com seus pais, não dando ouvidos à minha voz,
21 eu não expulsarei mais de diante deles nenhuma das nações que Josué deixou quando morreu;
22 a fim de que, por elas, ponha a prova Israel, se há de guardar, ou não, o caminho do Senhor, como seus pais o guardaram, para nele andar.
23 Assim o Senhor deixou ficar aquelas nações, e não as desterrou logo, nem as entregou na mão de Josué.” (Jz 2.1-23).

Este capítulo é uma síntese de tudo o que é narrado neste livro de Juízes.
Ele é uma preparação para tudo o que será dito daqui em diante.
Ele cita o que aconteceu, e estes fatos serão narrados detalhadamente nos capítulos posteriores, com exceção dos cinco últimos capítulos que se referem a um período anterior ao dos juízes.
A narrativa se inicia com o anjo do Senhor repreendendo duramente os israelitas, pelo fato de não terem conquistado os territórios que lhes foram designados por sortes, nos dias de Josué, e pelo fato de terem se acomodado e se misturado aos cananeus.
Nos versos 11 a 13 é citado que a geração que se seguiu à de Josué não conhecia ao Senhor, e fez o que era mau aos seus olhos, misturando-se aos cananeus e fazendo as mesmas práticas abomináveis deles.
O que havia ocorrido com o povo de Israel é o mesmo que ocorre com a Igreja dos nossos dias.
A condição de todo o período coberto pela narrativa do livro de Juízes, o qual durou aproximadamente trezentos anos, está declarada de forma resumida nos versos 14 a 23.
Nestes versos está revelado claramente que o motivo de estarmos enfraquecidos diante de nossos inimigos espirituais e sujeitados a sermos pisados pelos homens, como sal que perdeu o sabor, está relacionado ao abandono do Senhor, e da prática da Sua Palavra.
A comunhão com Deus, garantida por um andar no Espírito Santo, fazendo aquilo que Ele nos tem ordenado na Bíblia e em relação à Sua vontade específica, no que se relaciona ao viver diário, especialmente o que diz respeito às coisas pertinentes ao ministério, que recebemos dEle para cumprir, é o modo de se ter uma vida verdadeiramente próspera e sermos mais do que vencedores, por meio de Jesus, sobre a carne, o mundo e o diabo.
Quando nos desviamos dos caminhos do Senhor ficamos sujeitados à disciplina da aliança, que temos com Ele, por iniciativa e autoridade dEle próprio, que nos deixa à mercê da opressão dos nossos inimigos, para que seja produzido em nós o devido arrependimento.
Quando este arrependimento ocorre e clamamos pelo livramento de Deus, Ele se apressa em socorrer-nos, voltando a nos conceder a Sua graça e poder, para sermos fortalecidos e podermos voltar a andar na Sua presença.
Deus é santo, e sem a santidade que Ele mesmo nos confere, por meio do Espírito Santo, é impossível estar em comunhão com Ele.
Por isso necessitamos da Sua graça, para que operando em nós, de forma a nos conceder um coração segundo o Seu coração, possamos retornar à comunhão.  
Então nós vemos declarado na Palavra de Deus que era  Ele próprio que entregava Israel nas mãos dos seus inimigos, e que também, por Sua própria deliberação, decidiu que não desapossaria mais aquelas nações da presença de Israel, para que por meio delas pudesse provar a fidelidade do Seu povo, em não se deixar levar pelas suas práticas abomináveis, e permanecerem fiéis, na guarda dos Seus mandamentos.
Por meio da permanência de muitas daquelas nações seria provado até que ponto Israel buscaria uma vida autêntica de fé e obediência, de modo que se pudesse provar através disso que estavam de fato fazendo a vontade de Deus, pois não havia outra maneira de terem sucesso sobre os seus inimigos.
Isto ensina claramente que não se vence o diabo com religiosidade desprovida de verdadeira comunhão com Deus, porque é se sujeitando a Ele e à Sua vontade, que vencemos o diabo e todas as suas hostes.
Em outras palavras: a vitória sobre as forças do inimigo decorre de um caminhar na presença do Senhor.
É sujeitando-se a Deus, mediante prática da Sua Palavra, que o diabo foge de nós.
Mas não era isto o que se via nas sucessivas gerações de Israel.
Deus havia formado um povo exclusivamente seu a partir de Abraão, para o propósito de preservar a vida do homem na terra. Porque pelo modo santo com que deveriam viver revelariam que a prática da justiça divina preserva e traz prosperidade, mas a prática do mal, não somente destrói pessoas e nações, como também atrai os juízos condenatórios do Senhor.
E isto estava sendo observado de modo prático nos dias do Velho Testamento, através das assolações que Deus estava trazendo sobre as nações pagãs, como sobre o próprio povo de Israel, quando este também se encontrava debaixo das mesmas práticas abomináveis daquelas nações.
 Em vez de serem distintos das nações de Canaã, pelo cumprimento de tudo que lhes foi ordenado na Lei de Moisés, se misturavam às práticas daquelas nações, e perdiam a sua identidade distintiva de povo do Senhor, porque quando se mistura água com vinho, o resultado é uma mistura homogênea, e não dá mais para se distinguir quem é a água e quem é o vinho.
Mas quando se mistura água com azeite, o azeite há de ficar por cima da água e não se misturará a ela.
É pois somente estando cheios do azeite que simboliza o Espírito Santo, e andando nEle, que apesar de estarmos no mundo e termos que nos relacionar com as pessoas que são dele, com vistas a lhes conduzir à bênção do Senhor, por nosso bom testemunho de vida, não nos misturaremos jamais às coisas deste mundo e ao pecado, como diz o apóstolo Paulo em Gál 5.16: “Andai no Espírito e jamais satisfareis aos desejos da carne.”.
Assim, nós podemos concluir que a razão da repreensão que o anjo do Senhor dirigiu aos israelitas se prendeu muito mais à falta de fé, e a esta mistura com as práticas dos povos de Canaã, do que propriamente à falta de iniciativa em combater os cananeus, para se apossarem das terras que lhes foram designadas por sortes.
O anjo do Senhor vinha lhes acompanhando desde a saída do Egito, e declara isto nas palavras dos versos 1 a 3, e que estava sendo fiel ao pacto que haviam feito com Deus, de guardarem todos os Seus mandamentos, pois lhes estava ajudando a cumprirem tudo que lhes havia sido ordenado, especialmente no que se referia a prevalecerem contra os seus inimigos, mas manifestou o Seu desagrado diante do seu  recuo em fazerem a vontade de Deus, com as seguintes palavras:
“1 O anjo do Senhor subiu de Gilgal a Boquim, e disse: Do Egito vos fiz subir, e vos trouxe para a terra que, com juramento, prometi a vossos pais, e vos disse: Nunca violarei e meu pacto convosco;
2 e, quanto a vós, não fareis pacto com os habitantes desta terra, antes derrubareis os seus altares. Mas vós não obedecestes à minha voz. Por que fizestes isso?
3 Pelo que também eu disse: Não os expulsarei de diante de vós; antes estarão quais espinhos nas vossas ilhargas, e os seus deuses vos serão por laço.”.
 Nós lembramos nisto,  das palavras de Paulo dirigidas aos Gálatas:
“Estou admirado de que tão depressa estejais desertando daquele que vos chamou na graça de Cristo, para outro evangelho,” (Gál 1.6). E ainda em Gál 5.7: “Corríeis bem; quem vos impediu de obedecer à verdade?”.

A síntese de todo o conteúdo do livro de Juízes, que é feita neste segundo capítulo, revela que o propósito principal da escrita deste livro foi o de ensinar que a mistura do povo de Deus com as práticas abomináveis do mundo o torna impotente para conhecer e fazer a vontade do Senhor.
Ensina também que a falta de fé e determinação para cumprir tudo aquilo que Deus nos tem ordenado expressamente, como no caso dos israelitas, a indiferença em realizar a conquista total de Canaã, acaba por conduzir o povo de Deus a perder o seu caráter único e santo, e em decorrência disto, não terá poder e autoridade que procedem do Senhor para poder conhecer e fazer a Sua vontade, deixando portanto, de ser bênção para as nações.
O mundo espiritual é discernido espiritualmente, pelo Espírito Santo, e este jamais se moverá naqueles que não estiverem se movendo em direção à obediência à Palavra de Deus, pela busca de comunhão com Ele, em vidas verdadeiramente santas.
Em linhas gerais, foi este o propósito principal do Espírito Santo ao ter inspirado a escrita do livro de Juízes.
Aprendemos também neste livro de Juízes que períodos de arrependimento e de retorno à comunhão com o Senhor, podem ser seguidos por períodos de apostasia, se não cuidarmos diligentemente em prosseguir adiante na aplicação em nossos deveres para com Deus e com o próximo.
Vitórias alcançadas jamais devem ser motivo para descansarmos e não incentivarmos as gerações seguintes à mesma fidelidade com que estivermos nos empenhando em agradar ao Senhor.
O livro de Juízes dá um claro testemunho e palavra de alerta à Igreja para que não descuide em avançar na comissão que lhe foi ordenada por Jesus de ir por todo o mundo e pregar o evangelho a toda criatura, pois quando a Igreja se desvia deste grande alvo, perdendo o ardor evangelístico e missionário, a conseqüência natural será o apostatar dos caminhos do Senhor, porque Ele não se deixará achar e não expulsará o Inimigo para que almas sejam conquistadas à fé, porque Ele faz isto, concedendo graça, somente quando há uma verdadeira disposição e empenho em se obedecer à Sua grande comissão.
A grande repreensão do anjo do Senhor aos israelitas, exibida nas palavras do verso 2: “Mas vós não obedecestes à minha voz. Por que fizestes isso comigo?”, bem demonstra a grande indignação que Jesus sente ao nos ver de braços cruzados em relação à ordem que deu à Igreja de fazer discípulos em todas as nações.
Isto é um dever real que impôs à Igreja até que Ele volte.
E nós sabemos, pelo testemunho da história, quantas derrotas o povo de Deus teve que amargar em relação aos seus inimigos espirituais, e o pouco ou quase nenhum avanço que fez em determinadas épocas da história, pelo mesmo motivo que levou o anjo a se indignar em relação aos israelitas no passado: falta de empenho em cumprir a Sua ordem de avançar e conquistar para Deus tudo aquilo que Ele nos tem ordenado.
Os israelitas choraram por causa da repreensão do anjo (v 4), mas isto não é suficiente.
Não basta estarmos dispostos a mudar nossas atitudes, e mesmo lamentar o nosso estado espiritual, se isto não for acompanhado por ações de fé reais na direção do cumprimento daquilo que Jesus nos ordenou quanto à evangelização mundial.
Planos, reuniões, congressos, concílios, e quaisquer outras iniciativas serão de nenhum valor se não forem acompanhados de ações concretas visando à conversão de almas para Cristo.
Se o Espírito Santo não for conosco, assim como o anjo acompanhava, dirigia, instruía e fazia as conquistas para os israelitas, de modo algum poderemos pensar que estamos agradando a Deus, se fugiu de nós o desejo e o empenho direcionados à salvação dos perdidos.
  Esta tarefa de conduzir o rebanho à obra de evangelização é uma das principais missões de qualquer pastor, pois são chamados de anjos das Igrejas, pelo Senhor Jesus, no livro de Apocalipse.
Foi a eles que se dirigiu cobrando o seu empenho em conduzir o rebanho segundo a Sua vontade, sob o risco de terem o seu candeeiro removido em caso de descumprimento daquilo de que foram encarregados pelo Senhor da Igreja.
Estes pastores, que são designados por anjos das Igrejas, aparecem em Apocalipse como estrelas nas mãos de Jesus.
Isto indica que assim como o Anjo da aliança apareceu a Josué, como príncipe do exército de Jeová, e conduziu tanto a Moisés, quanto a Josué, e todos os líderes verdadeiros de Israel, que foram levantados por Deus para conduzir o seu povo, de igual modo, Jesus é o mesmo Anjo na Nova Aliança, que tem toda a primazia sobre os pastores que Ele mesmo chama e constitui sobre o Seu povo, para que façam toda a Sua vontade.
O lugar onde o anjo falou aos israelitas ficou sendo conhecido por Boquim (v. 1 e 5), porque no hebraico, esta palavra significa chorões, porque que a palavra se encontra no plural, indicando que foram muitos os que prantearam em razão da repreensão do anjo do Senhor.
Quem dera, ao menos a Igreja chorasse a sua atual condição de quase completo desinteresse e imobilização quanto a buscar um real compromisso e consagração ao Senhor, para que no poder do Espírito Santo se entregue à obra de evangelização mundial.
Mas quando tão poucos se interessam pela salvação da própria alma, como estarão realmente interessados na salvação de outros?
Os israelitas ao menos lamentaram e choraram pela condição de desobediência à ordem de avançar e conquistar Canaã.
Sequer isto se vê na maior parte das Igrejas de nossos dias,  apesar de haver, certamente,  uma repreensão do Senhor pelo fato de não terem um maior empenho em prol da salvação dos perdidos em todo o mundo.
Os países da Ásia e de grande parte do Oriente, continuam com suas portas fechadas para o evangelho, mas importa que este seja pregado também a eles, para que Cristo volte.
Quando a Igreja despertará do seu sono e começará a trabalhar com todo o empenho na direção do cumprimento do Ide de Jesus?
Jesus disse que o evangelho será pregado em todo o mundo antes da Sua vinda, e o que nós estamos fazendo para que isto se cumpra?
O Senhor garantiu a posse de todo o território de Canaã aos israelitas, e o que eles fizeram em relação a isto?
O livro de Juízes revela o quadro, e este não é muito diferente do que tem ocorrido com a história da Igreja ao longo destes dois mil anos, em que o evangelho tem sido pregado no mundo.
Da parte do Senhor, a aliança que Ele fez conosco, nunca será quebrada, porque é fiel àquilo que prometeu, mas não se pode dizer o mesmo em relação a nós.
Devemos portanto, ser diligentes em todo o tempo e ter todo o cuidado necessário para que não nos desviemos do alvo que devemos atingir.
Gostando ou não, querendo ou não, temendo ou não, devemos nos lançar de corpo e alma à missão da qual fomos encarregados, e o Senhor será conosco e nos fará prosperar em nossos empreendimentos, porque Ele fez a promessa de não deixar e desamparar àqueles que Lhe obedecem e Lhe são fiéis.
Deste modo, os israelitas foram repreendidos, não somente por terem se desviado da missão de conquistar Canaã, como também por terem se misturado aos cananeus, que deixaram na terra, em vez de expulsá-los, e vieram a praticar as mesmas abominações que eles praticavam.
Não é de se estranhar portanto, que quando deixamos de ter este interesse em dar testemunho de Cristo às pessoas, que sejamos também encontrados em disposições de mundano proceder.
O pecado de Israel trouxe como consequência, o fato de Deus ter determinado que não expulsaria mais os cananeus.
De igual modo, quando deixamos de cumprir o Ide e passamos a nos misturar com as coisas que são do mundo, Deus também deixa de nos usar para conquistar as almas que são preciosas para Ele.
Outros o farão no nosso lugar, e teremos que lamentar uma vida vazia e sem frutos, porque o Senhor não dará jamais a honra de o indolente se gloriar em ter sido usado eficazmente por Ele.
Se não recebemos graça da parte de Deus, para realizar o trabalho que Ele nos designou, não teremos outra alternativa senão a de enterrar o talento que nos deu para fazer a Sua obra.
Aqueles que favorecem e são complacentes com as suas luxúrias e corrupções, que deveriam mortificar, perdem a graça de Deus, e esta é justamente retirada deles.
Se nós não resistirmos ao diabo, não devemos esperar que Deus o coloque debaixo dos nossos pés.
Por isso, aos infiéis, em vez de promessas de bênçãos, Deus promete dificuldades, assim como disse aos israelitas sobre o que deveriam esperar da parte daqueles aos quais haviam se associado em suas más obras.
Seriam como espinhos e laço para eles, e isto indicava dificuldades e opressões.
Pois em vez de dominar as nações, Israel seria dominado por elas.
Deus os entregaria nas mãos dos seus inimigos por causa do seu pecado.
Ele afirmou que os venderia aos seus inimigos, assim como quem é vendido por causa de uma grande dívida que não pode liquidar.
A dívida dos israelitas seria cobrada na forma de opressões dos seus inimigos, que seriam determinadas pelo próprio Deus.
Porém, sendo benigno e misericordioso, o Senhor prometeu livrá-los das mãos dos seus opressores caso se arrependessem dos seus pecados.
Ele suscitaria libertadores para este propósito, e nós vemos esta promessa sendo cumprida em diversas ocasiões na narrativa do livro de Juízes, revelando-se assim o caráter fiel do Senhor, em cumprir as Suas promessas, e a sua infinita misericórdia para conosco.
Entretanto, em razão do Seu atributo de justiça, apesar de ser tardio em se irar, o Senhor não pode ser, de modo algum, conivente com o pecado e permanecer insensível às apostasias do Seu povo, e por isso sempre torna a exercer os Seus juízos, a par de toda a misericórdia exibida anteriormente.
Por causa de Sua longanimidade, pode até suportar, tolerar por muito tempo todos os nossos pecados, mas certamente não nos deixará sem a devida correção no tempo apropriado.
Isto aprendemos não somente na revelação que fez no livro de Juízes, como também em toda a Bíblia.
 A história da Igreja, tal como a narrada em Juízes, tem revelado o modo como Deus tem levantado pessoas que qualificou e capacitou extraordinariamente, pela Sua graça, para redirecionar o Seu povo à prática da justiça e da santidade, e isto nos faz lembrar de Lutero, Calvino, Jonathan Edwards, Spurgeon, e muitos outros, que em suas próprias épocas, foram instrumentos nas mãos do Senhor para o referido propósito.
É notável também, que sempre segue a um período de grande reforma e retorno à santidade, períodos de apostasias.
Tal como se deu com Israel, ocorre com a Igreja, e por isso, cada época testemunhará acerca daqueles que Deus levantou e continuará levantando para avivar o Seu povo.
Isto indica que o ideal seria que a Igreja permanecesse permanentemente avivada e fiel à vontade de Deus.
Mas como o evangelho opera entre pecadores, e por serem estes dados a se desviarem da vontade do Senhor, sempre será necessário manter uma postura de reforma, de modo a não se experimentar apostasias, que sempre virão, sem falta, se deixamos esfriar este espírito de manter as pessoas ocupadas em serem fiéis à vontade de Deus.
Veja o caso de Israel, que enquanto vivia Josué e os anciãos da sua geração, o povo andou obedientemente cumprindo a vontade do Senhor, especialmente no que se refere à ocupação e conquista de Canaã.
Mas quando uma nova liderança se levantou, e que não tinha o mesmo empenho em conduzir o povo nos caminhos de Deus, o resultado é o que encontramos no livro de Juízes, que afirma o seguinte nos versos 16 a 19: “16 Mas o Senhor suscitou juízes, que os livraram da mão dos que os espojavam. 17 Contudo, não deram ouvidos nem aos seus juízes, pois se prostituíram após outros deuses, e os adoraram; depressa se desviaram do caminho, por onde andaram seus pais em obediência aos mandamentos do Senhor; não fizeram como eles. 18 Quando o Senhor lhes suscitava juízes, ele era com o juiz, e os livrava da mão dos seus inimigos todos os dias daquele juiz; porquanto o Senhor se compadecia deles em razão do seu gemido por causa dos que os oprimiam e afligiam. 19 Mas depois da morte do juiz, reincidiam e se corrompiam mais do que seus pais, andando após outros deuses, servindo-os e adorando-os; não abandonavam nenhuma das suas práticas, nem a sua obstinação.”.
E tal é esta obstinação da natureza terrena, do coração carnal, que se diz que o povo não deu ouvido aos juízes e se prostituiu após outros deuses (v. 17).
A advertência bíblica para que nos empenhemos com toda diligência em confirmar a nossa vocação e eleição, não é de pouca monta, porque se refere a uma luta titânica contra um inimigo poderoso que é a nossa natureza pecaminosa, que pode ser mortificada somente pelo Espírito Santo, mas este trabalho não poderá ser realizado se não cooperarmos com a Sua vontade, por não nos tornarmos verdadeiramente submissos ao Senhor, e por não crermos e não nos dispormos a colocar em prática, todas as coisas que nos tem ordenado em Sua Palavra, e especificamente em nossa caminhada diária.
Assim, os cananeus não seriam expulsos por Deus, para que por meio deles, provasse a fidelidade de Israel.
De igual modo o diabo e todos os seus demônios permanecem no mundo, não por que isto seja agradável ao Senhor, mas para que por meio desta presença, a nossa fidelidade possa ser provada, de maneira a permanecermos firmes em fazer a vontade de Deus, em meio a todas as tentações que o inferno possa realizar.
E parece que a missão da Igreja de ser sal e luz do mundo se deteriora cada vez mais, permitindo que a luz do evangelho não brilhe em todo o seu fulgor e que o sal perca o seu poder de salgar e preservar.
Isto decorre do pecado de os cristãos em serem mundanos, ignorando a ordenança bíblica de serem um povo distinto e de não amarem o mundo e não tomarem a forma dele, como nos exortam especialmente os apóstolos João e Paulo, respectivamente.
Muitos cristãos não querem ser diferentes do mundo. Ao contrário, querem trazer para suas vidas e para dentro da Igreja aquilo que não é de Cristo, mas do mundo.
Pensam erroneamente, que esta será a melhor forma de trazer outros à conversão.
Estamos empenhados numa batalha espiritual de vida ou de morte. Na qual operam principados e potestades com toda a fúria inimaginável, para permanecerem na posse das almas humanas, as quais, para serem resgatadas demandam que primeiro seja amarrado o valente que as aprisiona, e este é um trabalho único e exclusivo para o Senhor Jesus e o Espírito Santo de Deus, sob a atração exercida por Deus Pai para trazer os pecadores em submissão a Seu Filho.
E como isto poderá ocorrer quando os cristãos se tornam mundanos?
Deus usaria Israel caso eles evitassem o pecado de se misturar com o pecado das nações pagãs. E não é portanto para se admirar que tantas exortações sejam feitas na Sua Palavra neste sentido.
E para o propósito de desencorajar o Seu povo à mistura com as nações de Canaã, Deus acrescentou variadas e grandes ameaças de maldições e castigos para os israelitas no caso de serem desobedientes a tal ordenança específica.
Muitas aflições viriam sobre eles, da parte do próprio Deus, caso se misturassem com as práticas abomináveis daquelas nações.
O que acontece com a Igreja de Cristo em nossos dias não é muito diferente disso.
Muitas bênçãos não são alcançadas, e muita correção da parte do Senhor sobrevém à Igreja, exatamente por causa deste pecado de se assumir a forma do mundo.
Se, conforme dizer do apóstolo é necessário não se conformar ao mundo para que se possa conhecer a boa, agradável e perfeita vontade de Deus, então não é difícil de se entender que quando se toma a forma do mundo não somente ficamos impossibilitados de fazer a vontade de Deus, como até mesmo de conhecê-la, conforme se afirma em Rom 12.2.
Deus quer um povo santo, puro e separado, e este segundo capítulo de Juízes nos revela isto de forma muito direta e clara, e este povo, é formado na dispensação da graça, por pessoas que se convertem das trevas do mundo para a luz de Jesus.
Tudo o que estiver misturado com o mundo, passará debaixo do juízo ou da correção do Senhor, porque nada que provém do mundo pode ser um canal apropriado para trazer a nós a presença real e santa de Jesus.
Assim, todo ministério mundano não prevalecerá, e ficará destituído da graça de Deus.
Os pastores mundanos não terão qualquer mensagem recebida da parte de Deus para ser pregada com poder ao Seu povo. Porque o Espírito Santo não se detém onde mora o orgulho e disposições de mundano proceder.
Aquele que não separa o que é vil do que é precioso, não pode ser a boca de Deus.
Deste modo, todos os cristãos que se deixarem seduzir pelos prazeres deste mundo estarão áridos, vazios e confusos.
Serão como o povo de Israel, depois de ter fabricado o bezerro de ouro.
A presença da nuvem de glória entre eles se retirará e o Senhor não caminhará mais com eles, até que se arrependam e voltem a viver em verdadeira santidade.


Juízes 3

“1 Estas são as nações que o Senhor deixou ficar para, por meio delas, provar a Israel, a todos os que não haviam experimentado nenhuma das guerras de Canaã;
2 tão-somente para que as gerações dos filhos de Israel delas aprendessem a guerra, pelo menos os que dantes não tinham aprendido.
3 Estas nações eram: cinco chefes dos filisteus, todos os cananeus, os sidônios, e os heveus que habitavam no monte Líbano, desde o monte Baal-Hermom até a entrada de Hamate.
4 Estes, pois, deixou ficar, a fim de por eles provar os filhos de Israel, para saber se dariam ouvidos aos mandamentos do Senhor, que ele tinha ordenado a seus pais por intermédio de Moisés.
5 Habitando, pois, os filhos de Israel entre os cananeus, os heteus, os amorreus, os perizeus, os heveus e os jebuseus.
6 tomaram por mulheres as filhas deles, e deram as suas filhas aos filhos dos mesmos, e serviram aos seus deuses.
7 Assim os filhos de Israel fizeram o que era mau aos olhos do Senhor, esquecendo-se do Senhor seu Deus e servindo aos baalins e às aserotes.
8 Pelo que a ira do Senhor se acendeu contra Israel, e ele os vendeu na mão de Cusã-Risataim, rei da Mesopotâmia; e os filhos de Israel serviram a Cusã-Risataim oito anos.
9 Mas quando os filhos de Israel clamaram ao Senhor, o Senhor suscitou-lhes um libertador, que os livrou: Otniel, filho de Quenaz, o irmão mais moço de Calebe.
10 Veio sobre ele o Espírito do Senhor, e ele julgou a Israel; saiu à peleja, e o Senhor lhe entregou Cusã-Risataim, rei da Mesopotâmia, contra o qual prevaleceu a sua mão:
11 Então a terra teve sossego por quarenta anos; e Otniel, filho de Quenaz, morreu.
12 Os filhos de Israel tornaram a fazer o que era mau aos olhos do Senhor; então o Senhor fortaleceu a Eglom, rei de Moabe, contra Israel, por terem feito o que era mau aos seus olhos.
13 Eglom, unindo a si os amonitas e os amalequitas, foi e feriu a Israel, tomando a cidade das palmeiras.
14 E os filhos de Israel serviram a Eglom, rei de Moabe, dezoito anos.
15 Mas quando os filhos de Israel clamaram ao Senhor, o Senhor suscitou-lhes um libertador, Eúde, filho de Gêra, benjamita, homem canhoto. E, por seu intermédio, os filhos de Israel enviaram tributo a Eglom, rei de Moabe.
16 E Eúde fez para si uma espada de dois gumes, de um côvado de comprimento, e cingiu-a à coxa direita, por baixo das vestes.
17 E levou aquele tributo a Eglom, rei de Moabe. Ora, Eglom era muito gordo:
18 Quando Eúde acabou de entregar o tributo, despediu a gente que o trouxera.
19 Ele mesmo, porém, voltou das imagens de escultura que estavam ao pé de Gilgal, e disse: Tenho uma palavra para dizer-te em segredo, ó rei. Disse o rei: Silêncio! E todos os que lhe assistiam saíram da sua presença.
20 Eúde aproximou-se do rei, que estava sentado a sós no seu quarto de verão, e lhe disse: Tenho uma palavra da parte de Deus para dizer-te. Ao que o rei se levantou da sua cadeira.
21 Então Eúde, estendendo a mão esquerda, tirou a espada de sobre a coxa direita, e lha cravou no ventre.
22 O cabo também entrou após a lâmina, e a gordura encerrou a lâmina, pois ele não tirou a espada do ventre:
23 Então Eúde, saindo ao pórtico, cerrou as portas do quarto e as trancou.
24 Tendo ele saído vieram os servos do rei; e olharam, e eis que as portas do quarto estavam trancadas. Disseram: Sem dúvida ele está aliviando o ventre na privada do seu quarto.
25 Assim esperaram até ficarem alarmados, mas ainda não abria as portas do quarto. Então, tomando a chave, abriram-nas, e eis seu senhor estendido morto por terra.
26 Eúde escapou enquanto eles se demoravam e, tendo passado pelas imagens de escultura, chegou a Seirá.
27 E assim que chegou, tocou a trombeta na região montanhosa de Efraim; e os filhos de Israel, com ele à frente, desceram das montanhas.
28 E disse-lhes: Segui-me, porque o Senhor vos entregou nas mãos os vossos inimigos, os moabitas. E desceram após ele, tomaram os vaus do Jordão contra os moabitas, e não deixaram passar a nenhum deles.
29 E naquela ocasião mataram dos moabitas cerca de dez mil homens, todos robustos e valentes; e não escapou nenhum.
30 Assim foi subjugado Moabe naquele dia debaixo da mão de Israel; e a terra teve sossego por oitenta anos.
31 Depois dele levantou-se Sangar, filho de Anate, que matou seiscentos homens dos filisteus com uma aguilhada de bois; ele também libertou a Israel.” (Jz 3.1-31).

Os primeiros sete versículos deste capítulo descrevem as nações que foram deixadas em Canaã, para que as gerações, que não haviam conhecido as batalhas empreendidas nos dias de Josué, pudessem ser provadas em sua fidelidade ao Senhor, por não se misturarem  e por empreenderem as guerras ordenadas por Deus contra eles.
E dentre estas nações que permaneceram em Canaã são citadas as cinco cidades confederadas dos filisteus, a saber: Asdode, Gaza, Ascalom, Ecron e Gate.
Três destas cidades haviam sido conquistadas parcialmente, como se vê em Jz 1.18, mas ao que tudo indica, os filisteus, com a ajuda das outras duas cidades recuperaram a sua posse, vindo a dar muito trabalho a Israel, sem serem submetidos, senão apenas nos dias do rei Davi.
Além dos filisteus permaneceram também na posse de seus territórios os cananeus, sidônios e heveus, que habitavam ao norte e junto ao Mar Mediterrâneo (v. 3).
Aqueles que os israelitas não expulsaram dos territórios que haviam conquistado, permitindo-se habitar com eles, trouxe como resultado o que se descreve nos versos 5 a 7: “5 Habitando, pois, os filhos de Israel entre os cananeus, os heteus, os amorreus, os perizeus, os heveus e os jebuseus. 6 tomaram por mulheres as filhas deles, e deram as suas filhas aos filhos dos mesmos, e serviram aos seus deuses. 7 Assim os filhos de Israel fizeram o que era mau aos olhos do Senhor, esquecendo-se do Senhor seu Deus e servindo aos baalins e às aserotes.”.
Isto demonstra que não foi sem razão que o Senhor insistiu tão veementemente com eles, desde os dias de Moisés, mandando que se registrasse em Sua Palavra que não deixassem de conquistar toda Canaã, exterminando todos os seus habitantes, de modo a se prevenirem do que acabou ocorrendo: o se misturarem com eles e perderem a identidade de povo santo separado para o Senhor.
Israel foi preparado por Deus para ser uma nação guerreira. Eles combateriam as guerras de Deus contra as nações ímpias de modo a revelar ao mundo que há somente um Deus Todo-Poderoso, único e verdadeiro, e este é o Deus de Israel, que demanda santidade de todas as pessoas do mundo, porque quando Israel vivia santamente prevalecia sobre todos os seus inimigos, e quando se entregava à idolatria era sujeitado por eles, demonstrando com isto qual é o caráter santo do Deus que eles serviam.
De igual modo a Igreja está destinada a ser um povo guerreira que combata o bom combate da fé.
E as vitórias sobre as forças do inimigo serão alcançadas quando se vive em santidade, e em caso contrário, tal como ocorria com Israel, ficará sujeita a ser entregue ao inimigo, para destruição da carne, quando andar contrariamente com o Senhor, de modo que se revele também ao mundo o caráter santo do Deus que servimos, para que as pessoas sejam incentivadas a abandonarem o pecado e se arrependerem, para viverem de modo santo para Deus, porque esta é a única maneira de ser verdadeiramente abençoado por Ele, e de ser próspero em todas as coisas, particularmente naquelas que se referem a ter sucesso e vitória garantida na batalha contra a carne, o diabo e o mundo.
Como bons soldados de Cristo, os crentes devem estar preparados a suportarem dificuldades neste mundo (II Tim 2.3), e para isto deverão se equipar com toda a armadura de Deus, com suas armas de defesa e de ataque, relacionadas por Paulo no sexto capítulo de Efésios.
Quão rapidamente Israel deixou o caminho do Senhor para se envolver com os falsos deuses das nações, com as quais haviam se misturado.
E com que facilidade também se abandona a prática do único e verdadeiro evangelho, e da sã doutrina, quando não nos apegamos com grande firmeza ao que está revelado na Bíblia e não nos aplicamos em meditar na Palavra para conhecer ao Senhor e ao Seu caráter, conforme Ele mesmo o revelou a nós na Bíblia.
A repreensão de Paulo aos Gálatas é aplicável a muitos crentes, em toda a história da Igreja: “Estou admirado de que tão depressa estejais desertando daquele que vos chamou na graça de Cristo, para outro evangelho, o qual não é outro; senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo.” (Gál 1.6,7). E daí a exortação do apóstolo em Heb 2.1: “Por isso convém atentarmos mais diligentemente para as coisas que ouvimos, para que em tempo algum nos desviemos delas.”.
Não é porque existem várias heresias no mundo, que seremos justificados em nossa possível falta de fidelidade à vontade e verdade de Deus, já reveladas de uma vez para sempre na Bíblia, porque como vemos no testemunho que a Bíblia dá, é o próprio Deus que permite que haja heresias no meio dos crentes para que aqueles que são sinceros e fiéis sejam manifestados (I Cor 11.19), tal como o Senhor permitiu que aquelas nações permanecessem entre os israelitas, para provar por meio delas a fidelidade deles.
As mulheres israelitas se casaram com os povos idólatras de Canaã, e passaram a adorar os seus deuses (v. 6, 7), provocando a ira de Deus que os vendeu para castigá-los, por causa dos seus pecados, ao rei da Mesopotâmia, Cusã-Risataim, tendo ficado debaixo da sua sujeição por oito anos (v. 8).
Mas quando os israelitas clamaram ao Senhor por livramento, Ele levantou a Otniel, o sobrinho de Calebe ao qual dera sua filha em casamento, para libertar Israel (v. 9).
Ele foi capacitado pelo Espírito Santo (v. 10) para a obra que deveria realizar, bem como para ser juiz sobre os israelitas.
Portanto, do mesmo modo que foi permitido por Deus que o rei da Mesopotâmia oprimisse os israelitas, também procedeu dEle que fossem libertados em razão do seu clamor e arrependimento, tendo Otniel prevalecido sobre o rei da Mesopotâmia porque este foi entregue por Deus a Otniel, para que pudesse vencê-lo (v. 10).
E por quarenta anos, Israel teve paz e não foi oprimido por nenhum outro inimigo, debaixo da boa liderança de Otniel, que tinha uma fé igual à de seu tio Calebe (v. 11).
Por oito anos os israelitas continuaram em sua idolatria e se acomodaram à opressão de Cusã-Risataim, mas vendo eles que não podiam prevalecer sobre ele enquanto viviam em seu pecado adorando outros deuses, e certamente, dando ouvidos agora àqueles que permaneciam fiéis a Deus entre eles, lembrando-lhes do pacto que haviam feito com o Senhor através da mediação de Moisés, se deixaram convencer da causa da sua ruína e apelaram à misericórdia do Senhor para que lhes perdoasse o pecado e os libertasse dos seus opressores.
É digno de destaque o fato de que Otniel esperou a chamada de Deus para entrar em cena e começar a operar, liderando os israelitas nas ações de guerra contra o rei da Mesopotâmia.
De igual modo, ainda que muito pese e entristeça ao nosso coração fiel, o estado em que se encontra a Igreja de Cristo, tão misturada ao mundo, nada poderemos fazer em nossa fidelidade, se não formos levantados por Deus, mediante capacitação do Espírito, para tirar a Igreja da sua apostasia e trazê-la de volta a um caminhar santo e obediente na presença de Deus.
Se o próprio povo não clamar, nenhum Lutero será levantado.
Nenhuma reforma se verá.
O Senhor espera que o Seu povo se arrependa para que possa manifestar de novo a plenitude do Seu favor e graça, não apenas nos livrando das opressões do inferno, como também concedendo que tenhamos vitórias sobre os nossos inimigos espirituais.
Quando Otniel foi levantado por Deus, ele primeiro julgou Israel, e reprovou os israelitas chamando-os a responder pelos seus pecados, e foi somente depois de ter efetuado uma reforma, que ele saiu para a guerra.
Esta é a seqüência correta que deve seguir  toda Igreja, que deseja prosperar sendo usada por Deus: Primeiro resolver o problema do pecado por um abandono das coisas que provocam a ira do Senhor, porque o grande inimigo que deve ser vencido em primeiro lugar é o próprio pecado, e uma vez tendo sido feito isto, os inimigos do exterior serão vencidos por Deus por maior que seja o seu número e poder.
Não é sem motivo que, por tantas vezes no Novo Testamento, os crentes sejam exortados ao dever da vigilância. Vigiar e orar em todo o tempo para que não caiam em tentação e não sejam vencidos pelo mal. Porque a natureza terrena é dada a se desviar de Deus e a vigilância e a oração a manterão debaixo do jugo de Jesus, de modo que não tenha liberdade para nos conduzir à prática do pecado.
Foi exatamente por falta de vigilância, depois da morte de Otniel, que os israelitas voltaram a fazer o que era mau aos olhos do Senhor (v. 12), motivo porque o próprio Deus fortaleceu a Eglom, rei dos moabitas, para que pudesse prevalecer contra Israel, para serem castigados pelo retorno deles à prática do pecado.
Tendo o rei de Moabe se coligado aos amonitas e amalequitas derrotou Israel e o reduziu à servidão por dezoito anos (v 13,14).
Foi somente depois de terem ficado debaixo do jugo de Moabe por dezoito anos, que os israelitas clamaram a Deus por livramento, reconhecendo os seus maus caminhos e necessidade de retornarem à prática da Sua Palavra.
Nossas aflições não têm por propósito nos endurecer ainda mais no nosso orgulho e pecado, mas justamente o contrário disto: conduzir-nos à humildade e ao arrependimento.
Contudo, se o arrependimento não ocorrer, a justa destruição da carne pelo diabo, para que o espírito seja salvo, será algo que sempre se verá na vida de crentes que insistem em permanecer na prática deliberada do pecado, em nada se importando com o compromisso que têm com Deus, em razão da aliança que fizeram com Ele por meio do sangue de Jesus.
Então, como a própria Bíblia revela e a experiência prática confirma, Deus sempre castiga os pecados das pessoas do seu próprio povo neste mundo, uma vez que os crentes estão livres da condenação eterna, por causa da justificação que alcançaram por meio da fé em Cristo.
Mais uma vez o clamor dos israelitas fez com que Deus levantasse um libertador na pessoa de Eúde, que era da tribo de Benjamim (v 15).
É interessante o fato de o registro bíblico indicar que ele era canhoto, como que a ensinar que quando Deus levanta alguém para ser usado por Ele, esta pessoa não precisa estar revestida de todas as habilidades necessárias, porque Deus mesmo se encarregará de provê-las, conforme operação do Espírito Santo.
Deus usa as coisas desprezíveis e as que não são para que se reconheça que toda a glória deve ser tributada tão somente a Ele, pelo reconhecimento de que não nós, mas o Seu poder é quem realiza todas as coisas.
  E citado no texto que havia imagens de escultura em Gilgal (v. 19, 26), e sabemos que este foi o local onde Josué levantou pedras em testemunho da abertura do rio Jordão, quando eles entraram em Canaã, e foi também em Gilgal em que renovaram a aliança com Deus, pela circuncisão de todos os israelitas e celebração da páscoa, e foi também em Gilgal que o Senhor retirou de sobre eles o opróbrio, tendo este local sido escolhido como acampamento de Israel, enquanto realizava as campanhas de conquista da terra.
Tudo isto deve ter servido para aumentar ainda mais a indignação de Eúde contra a dominação de Israel, por um povo idólatra, e certamente isto pesou para que se decidisse em tirar a vida de Eglon, rei de Moabe, e conduzir os israelitas em Efraim a lutarem contra os moabitas, tendo sido mortos cerca de dez mil deles pelos israelitas (v. 29).
É dito que estes homens eram robustos e valentes, para que ficasse registrado que não foi propriamente pelo próprio poder dos israelitas que conseguiram tal façanha, mas pelo braço forte do Senhor que era agora com eles.
O resultado foi o de que Moabe deixou de ser opressor, e foi subjugado por Israel (v. 30).
Assim também ocorre com os crentes, quando se arrependem de seus pecados e se consertam com Deus.
Eles também deixam de ser oprimidos pelos espíritos malignos, e ganham autoridade da parte do Senhor sobre eles.    
O ato de Eúde, em nome de Deus, e para Deus, era plenamente justificável na dispensação da lei, em que Deus usava o Seu povo para se vingar dos Seus inimigos e deles, e para manifestar ao mundo a Sua justiça.
Todavia, agora, na dispensação da graça, nenhum fim justificará jamais o emprego de meios semelhantes pela Igreja.
Nenhuma ordem é determinada na Nova Aliança, aos crentes, neste sentido. Cristo mandou Pedro embainhar a espada, num ensino a todos nós de que não devemos fazê-lo, ainda que se trate do inimigo mais vil.

Este capítulo de Juízes é fechado com a breve citação a Sangar, no verso 31, onde se afirma que matou seiscentos homens dos filisteus, com uma aguilhada de bois, e que tal como Otniel e Eúde, também libertou Israel. (Obs: Aguilhada é o mesmo que aguilhão, e consiste numa vara comprida com um ferrão na ponta para se tanger com ela os bois).


Juízes 4

Débora, um Exemplo de Grande Fé – Parte 1

Este quarto capítulo de Juízes é introduzido com a citação de que os israelitas haviam retornado a fazer o que era mau aos olhos do Senhor, depois da morte de Eúde. Não se diz depois da morte de Sangar, e daí podemos inferir que este agira contra os filisteus em seu próprio território, nos dias em que Eúde julgava a Israel, e deste modo, é citado em apenas um versículo do terceiro capitulo de Juízes (v. 31).
Esta nova apostasia de Israel produziu uma nova opressão que veio sobre os israelitas e que durou vinte anos, e se diz que foram oprimidos cruelmente neste período pelo rei Jabim de Canaã, cujo general do seu exército se chamava Sísera, e que tinha sob o seu comando novecentos carros de ferro, que foram o motivo alegado pelos israelitas desde os dias de Josué, para não empreenderem guerra contra os cananeus do vale, por temerem aqueles carros.
Mas, tendo os israelitas clamado mais uma vez ao Senhor, depois de terem sido devidamente instruídos por Débora quanto ao modo como deviam caminhar diante de Deus, obedecendo os seus mandamentos, pois além de profetiza ela os julgava apontando-lhes qual era a vontade de Deus, e qual era o motivo daquela opressão que perdurava por vários anos. E isto certamente contribuiu grandemente para o arrependimento deles que trouxe como consequência uma promessa de livramento da parte do Senhor, que veio a Débora, apontando-lhe qual a estratégia de guerra que seria usada por Ele para prevalecer sobre o exército de Jabim e seus carros de ferro. A profecia afirmava que o Senhor atrairia o exército de Sísera ao ribeiro Quisom, com a intenção de destruir o exército de Israel que estaria sob o comando de Baraque. O texto deste capítulo não revela o modo como Deus inutilizou os carros de ferro dos cananeus, mas se pode inferir pelas palavras do cântico de vitória de Débora, do capítulo seguinte a este (quinto), que Deus fez desabar uma grande tempestade que fez com que o ribeiro Quisom transbordasse, tornando deste modo todos aqueles carros de ferro inúteis para as ações de guerra. Ao contrário, eles se transformaram num peso para os cananeus e serviram para abalar a confiança deles que era em grande parte depositada naquelas máquinas de guerra.
Destacamos a seguir trechos do quinto capítulo que denotam o uso desta estratégia de Deus para paralisar os carros de Sísera:
“Ó Senhor, quando saíste de Seir, quando caminhaste desde o campo de Edom, a terra estremeceu, os céus gotejaram, sim, as nuvens gotejaram águas.” (v 4).
“Desde os céus pelejaram as estrelas; desde as suas órbitas pelejaram contra Sísera.” (v. 20).
“O ribeiro de Quisom os arrastou, aquele antigo ribeiro, o ribeiro de Quisom. Ó minha alma, calcaste aos pés a força.” (v. 21)
“Então os cascos dos cavalos feriram a terra na fuga precipitada dos seus valentes.” (v. 22).
Israel havia sido desobediente ao mandado de Deus quanto a expulsar os cananeus, sem qualquer piedade, e agora estava pagando o preço da sua desobediência. De igual modo os cristãos quando se deixam arrastar por seus sentimentos e pelas razões do seu próprio coração, para estar em jugo desigual com os incrédulos, ainda que sabendo que está agindo contra a vontade de Deus, o preço a ser pago no final será caro. Há leis espirituais que sempre entrarão em ação para os cristãos, que necessariamente não atuam no caso dos incrédulos, isto em decorrência de os cristãos estarem aliançados com o Senhor e por isso as correções e disciplina da aliança sobrevirão sobre eles toda vez que desobedecerem expressamente o mandado de Deus, porque são filhos amados e já não serão mais condenados eternamente. No caso do ímpio, este poderá ter o seu caminho ainda mais alargado, quando pratica a iniquidade, porque não é filho, não está debaixo da aliança e do compromisso com o Senhor, e sofrerá um maior juízo, porque em vista da abundância de bens e de toda a longanimidade de Deus para com ele, em vez de se arrepender de seus pecados e emendar o seu caminho, isto serviu somente para que se afastasse ainda mais do Senhor. Por isso não se deve invejar a prosperidade do ímpio, enquanto pratica a iniquidade, porque sofrerá um maior juízo e estará sujeito a uma condenação eterna. Veja o caso do próprio Israel que foi vendido  a seus inimigos, quando deixou de caminhar com o Senhor e se voltou para os ídolos! A prosperidade deles serviu apenas para afastá-los de Deus, e que prosperidade é esta que nos leva a ficar debaixo da opressão dos nossos inimigos? Por isso se diz que uma grande fonte de lucro é a piedade, com contentamento (I Tim 6.6), e não as riquezas deste mundo que são incertas e passageiras. Todo aquele que quiser fazer do dinheiro a sua segurança estará construindo sobre a areia e mais cedo ou mais tarde sofrerá as consequências de ter colocado as suas esperanças no poder que o dinheiro dá, e não em um viver reto na presença do Senhor, fazendo dEle, em todo o tempo e circunstância, a verdadeira segurança da sua vida.
Enquanto os israelitas confiavam em si mesmos e sofriam uma dura opressão dos cananeus, uma mulher chamada Débora colocava toda a sua confiança no Deus de Israel e recebeu bênçãos da parte dEle não apenas para si mesma mas para todo o povo de Israel porque foi o instrumento usado pelo Senhor para trazer libertação a eles. O seu nome Débora significa, no hebraico, abelha, e o caráter dela fazia jus ao seu nome, porque ela produziu doçura para os seus amigos, e foi um ferrão doloroso para os seus inimigos. Ela tinha intimidade com Deus e era usada como Sua boca por ser uma profetiza, e era dotada do dom de conhecimento e de sabedoria, de modo que atingiu um reconhecimento admirável por parte dos israelitas que vinham serem julgados por ela (v. 5), certamente não em questões de demandas pessoais contra o próximo, mas para saberem o caminho e a vontade do Senhor para suas vidas. E ela os concitava a retornarem ao Senhor e abandonar a sua idolatria, que estava sendo a causa da dura opressão que toda a nação estava recebendo da parte dos cananeus por causa da sua desobediência a Deus. É dito que ela os julgava no lugar onde havia  uma palmeira, que ficou sendo conhecida como a palmeira de Débora, e disto se dá testemunho na Palavra porque a palmeira era símbolo da justiça.
Os julgamentos de Débora deviam reformar a muitos e encorajar os magistrados de Israel a colocarem em uso as leis que foram dadas por Deus através de Moisés.
Por ser uma mulher, ela não estava em condições de comandar um exército pessoalmente, e por isso nomeou Baraque, da tribo de Naftali, seguindo a direção e instrução do Espírito Santo, porque através da grande fé de Débora, Baraque seria encorajado a confiar que de fato seria possível, sob a provisão de Deus, vencer os novecentos carros de ferro dos cananeus. Deus havia associado então para aquela empresa a cabeça de Débora às mãos de Baraque, de forma que ela não poderia fazer nada sem as mãos de Baraque, e este nada poderia fazer sem a cabeça de Débora.  Isto é ilustrativo da cooperação que deve haver entre os membros do corpo de Cristo, no qual o maior e melhor nunca é auto-suficiente, pois Deus fez com que os membros do corpo necessitem um do outro, para o trabalho que devem realizar para Ele.
Débora afiançou a Baraque que ele poderia estar confiante, de acordo com a palavra dela, e a palavra de Débora, era de fato uma palavra de autoridade, porque Deus era com ela em tudo o que havia profetizado em nome dele, de modo que alcançou renome em Israel ao ponto de muitos virem ter com ela para serem julgados. Um ministério confirmado pelo Senhor é uma fonte de bênção para muitos porque é legitimado pelo próprio Deus pelos resultados que o acompanham, e tal era o caso de Débora.
  O que ela dizia era digno de confiança, de modo que todo um exército de dez mil homens sob o comando de Baraque, se colocou em ordem de batalha porque sabia que a palavra que aquela mulher proferia da parte de Deus era digna de inteiro crédito.
Em Amós 3.7 nós lemos o seguinte: “Certamente o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu segredo aos seus servos, os profetas.”. Se diz aqui de uma certeza de que Deus nada fará sem que antes o revele aos seus profetas, e isto tem a ver com o fato de que suas grandes ações devem ser preditas para que Ele possa receber a glória, o louvor e as ações de graças que Lhe são devidos, de modo que suas bênçãos não sejam consideradas como sendo obra do acaso. Daí a importância de que haja profetas que sejam reconhecidamente pessoas que são a boca de Deus, na Sua igreja, de modo que as operações da Sua graça e Seus grandes feitos possam ser preditos antes que se cumpram, para que se saiba que foi a Sua poderosa mão e não a força do homem que o fez.
Um profeta verdadeiro não profetiza para alcançar renome, e tendo o verdadeiro temor do Senhor, e sabendo a grande responsabilidade que é afirmar aquilo que Deus tem realmente dito, falará sempre debaixo deste temor, e não ousará proferir aquilo que Deus não lhe mandou dizer. E este caráter essencial que identifica um verdadeiro profeta de Deus é algo muito precioso e raro, porque não são poucos os que são governados pela sua própria imaginação e desejo de falarem coisas da parte do Senhor, e não é de se estranhar portanto que muito se ouça debaixo do nome de Deus, coisas que Ele não falou realmente.
Mas, no caso de Débora temos uma verdadeira profetiza, cuidadosa e criteriosa em todo o seu caminhar, e isto foi comprovado no fato de ter sido o instrumento escolhido por Deus para trazer a promessa de livramento de Israel depois de vinte longos anos debaixo da opressão dos cananeus.
Se a palavra do Senhor não tivesse sido realmente soado através de Débora, dez mil homens de Israel teriam sido horrivelmente massacrados pelos novecentos carros de ferro dos cananeus. Quão grande responsabilidade havia naquela palavra que foi proferida para os israelitas se juntarem em ordem de batalha contra os cananeus. E Baraque sabia disto, de modo que não se dispôs a subir ao campo de batalha sem que Débora estivesse presente com eles. A fé de Baraque não era tão grande ao ponto de receber ele próprio tal instrução diretamente da parte de Deus. E ele se moveu baseado não numa fé que descobrisse por si mesma qual seria a ação de Deus naquela guerra. A fé que descobriu e revelou a vontade de Deu não foi a de Baraque que estava se apoiando na palavra proferida por Débora. Uma fé forte descobre as coisas relativas à verdade que está em Cristo e se apropria tenazmente delas, e jamais se abala ou teme, porque sabe que tudo aquilo que a boca do Senhor proferiu terá cumprimento cabal. E tal era a fé de Débora.  
 Como a fé de Baraque não era tão forte como a de Débora, ela lhe disse que a honra da vitória seria atribuída a ela e não a ele, e isto não foi proferido por motivo de vanglória, mas por revelação de Deus, pois a mesma Débora disse em complementação a tal afirmação que isto se deveria ao fato de o Senhor ter vendido Sísera nas mãos de uma mulher (v. 9), como que a dizer que o mérito não era sequer propriamente dela, mas de Deus que lhe revelara o que iria fazer e a usou com sua grande fé para não somente encorajar o exército de Israel, como o seu próprio general, Baraque. Uma grande fé sempre será honrada por Deus, de modo que a Baraque não foi dada a honra de se gloriar naquela vitória, porque não tinha uma fé da qualidade da de Débora por meio da qual pudesse não apenas conhecer a vontade de Deus, como também ficar firme, sem vacilar até o cumprimento do que lhe foi revelado.

Tanto foi do propósito de Deus que Baraque não fosse honrado, apesar de ter dirigido o exército de Israel naquela batalha, que Sísera, general do exército dos cananeus foi morto pelas mãos de uma outra mulher, Jael, fazendo assim o Senhor uso do vaso mais fraco para que toda glória Lhe fosse tributada, como de fato convinha que o fosse.

Jael matou a Sísera depois de ter este fugido para onde um dos descendentes do sogro de Moisés havia se instalado com sua família, dando início a um povoado, e Jael fazia parte desta família. A narrativa do verso 11, aparentemente está solta e deslocada, mas, na verdade, foi feita a título de introdução e entendimento das ações de Jael que são narradas nos últimos versículos deste capítulo. No verso 17 se diz que havia paz entre o rei de Canaã, Jabim, e os queneus, de cujo povo Jael fazia parte. E foi por isso que Sísera fugiu para lá julgando que seria escondido por eles, de Baraque que saiu em sua perseguição.

Exausto que estava da batalha, e tendo sobrado somente ele dos dez mil homens do seu exército, que foram todos mortos pelos israelitas, pediu água a Jael, mas esta lhe deu leite a beber, contando certamente que isto ajudaria para que ele caísse num sono profundo, como de fato ocorreu, e ela pegando uma estaca de barraca cravou-a na cabeça de Sísera, pregando-a ao chão.

E uma vez morto o general do exército dos cananeus e a quase totalidade do seu exército, e tendo sido destruídos os carros de ferro, o rei de Canaã foi enfraquecido de maneira que se afirma que ele veio a ser destruído pelos israelitas, e ao que parece, eles baniram aquele reino da face da terra, de maneira que daqui em diante não se ouve mais falar em reis de Canaã.


JUÍZES 4

“1 Mas os filhos de Israel tornaram a fazer o que era mau aos olhos do Senhor, depois da morte de Eúde.
2 E o Senhor os vendeu na mão de Jabim, rei de Canaã, que reinava em Hazor; o chefe do seu exército era Sísera, o qual habitava em Harosete dos Gentios.
3 Então os filhos de Israel clamaram ao Senhor, porquanto Jabim tinha novecentos carros de ferro, e por vinte anos oprimia cruelmente os filhos de Israel.
4 Ora, Débora, profetisa, mulher de Lapidote, julgava a Israel naquele tempo.
5 Ela se assentava debaixo da palmeira de Débora, entre Ramá e Betel, na região montanhosa de Efraim; e os filhos de Israel subiam a ter com ela para julgamento.
6 Mandou ela chamar a Baraque, filho de Abinoão, de Quedes-Naftali, e disse-lhe: Porventura o Senhor Deus de Israel não te ordena, dizendo: Vai, e atrai gente ao monte Tabor, e toma contigo dez mil homens dos filhos de Naftali e dos filhos de Zebulom;
7 e atrairei a ti, para o ribeiro de Quisom, Sísera, chefe do exército de Jabim; juntamente com os seus carros e com as suas tropas, e to entregarei na mão?
8 Disse-lhe Baraque: Se fores comigo, irei; porém se não fores, não irei.
9 Respondeu ela: Certamente irei contigo; porém não será tua a honra desta expedição, pois à mão de uma mulher o Senhor venderá a Sísera. Levantou-se, pois, Débora, e foi com Baraque a Quedes.
10 Então Baraque convocou a Zebulom e a Naftali em Quedes, e subiram dez mil homens após ele; também Débora subiu com ele.
11 Ora, Heber, um queneu, se tinha apartado dos queneus, dos filhos de Hobabe, sogro de Moisés, e tinha estendido as suas tendas até o carvalho de Zaananim, que está junto a Quedes.
12 Anunciaram a Sísera que Baraque, filho de Abinoão, tinha subido ao monte Tabor.
13 Sísera, pois, ajuntou todos os seus carros, novecentos carros de ferro, e todo o povo que estava com ele, desde Harosete dos Gentios até o ribeiro de Quisom.
14 Então disse Débora a Baraque: Levanta-te, porque este é o dia em que o Senhor entregou Sísera na tua mão; porventura o Senhor não saiu adiante de ti? Baraque, pois, desceu do monte Tabor, e dez mil homens após ele.
15 E o Senhor desbaratou a Sísera, com todos os seus carros e todo o seu exército, ao fio da espada, diante de Baraque; e Sísera, descendo do seu carro, fugiu a pé.
16 Mas Baraque perseguiu os carros e o exército, até Harosete dos Gentios; e todo o exército de Sísera caiu ao fio da espada; não restou um só homem.
17 Entretanto Sísera fugiu a pé para a tenda de Jael, mulher de Heber, o queneu, porquanto havia paz entre Jabim, rei de Hazor, e a casa de Heber, o queneu.
18 Saindo Jael ao encontro de Sísera, disse-lhe: Entra, senhor meu, entra aqui; não temas. Ele entrou na sua tenda; e ela o cobriu com uma coberta.
19 Então ele lhe disse: Peço-te que me dês a beber um pouco d'água, porque tenho sede. Então ela abriu um odre de leite, e deu-lhe de beber, e o cobriu.
20 Disse-lhe ele mais: Põe-te à porta da tenda; e se alguém vier e te perguntar: Está aqui algum homem? responderás: Não.
21 Então Jael, mulher de Heber, tomou uma estaca da tenda e, levando um martelo, chegou-se de mansinho a ele e lhe cravou a estaca na fonte, de sorte que penetrou na terra; pois ele estava num profundo sono e mui cansado. E assim morreu.
22 E eis que, seguindo Baraque a Sísera, Jael lhe saiu ao encontro e disse-lhe: Vem, e mostrar-te-ei o homem a quem procuras. Entrou ele na tenda; e eis que Sísera jazia morto, com a estaca na fonte.
23 Assim Deus naquele dia humilhou a Jabim, rei de Canaã, diante dos filhos de Israel.


24 E a mão dos filhos de Israel prevalecia cada vez mais contra Jabim, rei de Canaã, até que o destruíram.” (Jz 4.1-24).


Juízes 5

Débora, um Exemplo de Grande Fé – Parte 2

O quinto capítulo de Juízes contém a canção triunfal que foi composta e cantada, na ocasião da vitória gloriosa que Israel obteve sobre as forças do rei Jabim de Canaã, e as consequências felizes daquela vitória.
Toda vez que é realmente o Senhor quem nos conduz em vitória sobre o inimigo, e quando podemos, pelo Seu poder e graça que nos são concedidos, quando clamamos a Ele por socorro e livramento, esmagar a cabeça da serpente, então a consequência disto sempre será sermos movidos pelo Espírito Santo a entoarmos cânticos de louvor e gratidão a Deus com grande alegria espiritual em nossos corações.
Esta é uma lei do mundo espiritual que nunca falha, porque nisto o Senhor é muito exaltado e glorificado, e Ele sempre o fará para testificação espiritual que foi o Seu forte braço que nos trouxe livramento, fazendo-nos triunfar sobre as forças do inimigo, que dantes nos oprimiam e amedrontavam, e que agora, pelo poderoso livramento operado por Deus se tornam como poderes inteiramente subjugados aos nossos pés. E isto traz descanso, paz e regozijo à alma. E a graça de Jesus se torna para nós como o fruto mais doce e valioso que nos satisfaz completamente, ao ponto de não necessitarmos de coisa alguma. E foi exatamente isto que os israelitas experimentaram depois de o Senhor ter subjugado as forças do inimigo diante deles, ao mesmo tempo que se tornava de novo favorável a Seu povo restaurando a comunhão com Ele e de uns com os outros.
Não pode haver sossego e paz num espírito verdadeiramente temente a Deus enquanto a força do inimigo prevalece sobre o seu povo, e será sempre pelo clamor por misericórdia e livramento destes, e pela tristeza e pesar em seus espíritos por não estarem vendo os planos de Deus prosperando por meio da igreja, que a mão do Senhor se moverá para restaurar todas as coisas, pelo derramar do Seu Espírito e da Sua graça sobre o Seu povo. E o cristão não pode respirar espiritualmente e experimentar a verdadeira vida celestial sem ter a aprovação e aceitação de Deus. Se a presença do Senhor não vai conosco o resultado imediato disto é que ficaremos à mercê dos nossos inimigos espirituais, e estaremos enfraquecidos diante deles e temeremos a sua força intimidadora, tal como os israelitas se sentiam diante dos carros de ferro dos cananeus. Mas uma vez retornando ao favor do Senhor, a situação se inverte, e nos tornamos fortes pela graça e podemos contemplar espiritualmente quão fracos e impotentes os nossos inimigos se tornam na presença de Deus quando Ele está pelejando por nós. Vale ou não a pena, portanto, sempre clamar e se arrepender do pecado para que possamos ter Deus agindo como nosso amigo e repreendendo todos aqueles que se levantam contra nós? Qual é o sentido que há na vida quando a presença do Senhor já não segue conosco por causa dos nossos pecados?
Quando entenderemos que é um dever orar pelos nossos líderes para que o Senhor os guarde do mal e da desgraça de não honrarem a Deus se aliançando com as coisas que são do mundo? A nossa bênção passa por eles porque somos de fato um só corpo. E o diabo sempre procurará neutralizá-los, para que em vez de prevalecermos sobre ele, ele possa prevalecer sobre nós. Josué enquanto vivia conduzia Israel nos caminhos do Senhor e o  resultado é que todos eram abençoados. Mas tendo morrido Josué, necessário se fazia que se levantassem outros líderes que honrassem ao Senhor como ele o fizera, tal como Otniel, Eúde, Débora e outros, para que conduzindo o povo pelo caminho de Deus, e levando-os ao arrependimento e à decisão de não se misturarem com os incrédulos praticando as suas obras, pudessem de novo experimentar as bênçãos do Senhor. O mesmo ocorre com a igreja, porque importa que aqueles que têm sido levantados por Deus para liderarem o Seu povo, sejam achados honrando-O e à Sua Palavra para que todo o povo sobre o qual foram constituídos pela vontade do Senhor possa ser de fato abençoado por Ele.    
Débora havia julgado os israelitas a caminharem na presença de Deus guardando os Seus mandamentos, e o resultado dela ter  honrado ao Senhor de tal maneira foi o estarem experimentando a grande bênção da vitória sobre todos os seus inimigos, e sentirem a grande alegria que os levou a entoar este cântico triunfal de louvor que encontramos registrado neste capítulo.
“Está aflito alguém entre vós? Ore. Está alguém contente? Cante louvores.” (Tg 5.13). Se está havendo aflição devemos orar com fé pedindo a bênção do Senhor. E quando esta vier e nos alegrar, devemos cantar louvores, e não o faremos certamente somente porque somos obrigados a isto, mas porque o Espírito Santo se moverá em nós conduzindo-nos neste sentido.
A própria Débora, inspirada pelo Espírito Santo, compôs esta canção, conforme se pode inferir do verso 7.
O propósito da canção é dar glória a Deus e louvá-lo pela vitória sobre os Seus inimigos, vingando Israel dos seus opressores cruéis e orgulhosos.
Mas o cântico não generaliza os louvores a todas as tribos de Israel, pois aqueles que subiram à batalha, os que clamaram a Deus por livramento e que choraram a condição em que o povo de Deus se encontrava debaixo da opressão dos seus inimigos são os que são convocados a se alegrarem no Senhor e a louvá-lo pelos seus grandes feitos, quer grandes ou pequenos, conforme apresentados no cântico como aqueles que cavalgavam sobre jumentas brancas, que se assentavam sobre ricos tapetes - grandes; e aqueles que andavam pelo caminho.- pequenos (v. 10).
De igual modo todos os que estão compromissados com Deus e que não fogem da batalha que têm que travar contra os poderes das trevas para que a causa de Cristo triunfe sobre a terra, sejam grandes ou pequenos, são chamados a louvar ao Senhor pelos seus grandes livramentos, porque eles têm efetivamente participação nisto, porque foi pelo esforço deles em oração e pela contrição de seus espíritos e empenho no serviço do Senhor que a Sua boa mão se mostrou favorável para com eles. Mas de fato, todos aqueles que preferem o conforto pelo temor da dificuldade e que ficam impedidos de cumprir o seu dever para com Deus, e que não se preocupam com a Sua honra, que direito têm de participar dos seus louvores, e que sinceridade haveria nisto se o fizessem? Seus espíritos egoístas e estreitos não se preocupam com os interesses da igreja do Senhor, e assim eles não têm outro interesse senão no dinheiro e naquilo que é do próprio interesse deles (Fp 2.21). E nisto são diferentes das tribos de Naftali e Zebulom, que nos dias de Débora foram os que efetivamente participaram da batalha contra os cananeus (v. 18). Rúben não fez mais do que se entregar a muitas cogitações, especialmente entre os seus príncipes que se dividiram ao considerar as vantagens e desvantagens em se empenharem na batalha, e prevaleceu a decisão final de não colaborarem, e isto trouxe muita tristeza àqueles que eram de opinião contrária (v. 15b,16). Divisões no corpo de Cristo sempre conduzirão a um impedimento de se servir a Deus, porque o Espírito não opera num corpo onde não haja unidade.
Então Deus dá prosseguimento à Sua obra usando aqueles que têm real compromisso com ele, e deixa entregue às muitas resoluções da própria cabeça àqueles que ficam na igreja cuidando apenas de fazer planos e avaliações estratégicas de como alcançar os perdidos e que são incapazes de produzir um só ato prático neste sentido.
Dã e Aser seguiram o exemplo de Rúben (v. 17). Dã se desculpou porque tinha que cuidar dos seus portos e navios e de manter suas relações comerciais em andamento, e não prejudicar os seus negócios com os riscos de uma guerra. E nada sabiam de que Deus mesmo pelejaria por Israel e destruiria o exército dos cananeus. A ordem foi clara e direta para que de Naftali e Zebulom se recrutassem dez mil homens e que eles deveriam subir o monte Tabor porque o exército de Sísera seria atraído pelo Senhor para junto do rio Quisom, onde ele os subjugaria numa grande inundação. Não há portanto nenhuma desculpa para que não nos empenhemos nas guerras do Senhor, porque quando nos dispomos a isto é sempre Ele quem pelejará por nós.
Os merozitas, habitantes de Meroz, possivelmente uma das cidades israelitas que ficavam próximas do front de batalha, não quiseram se envolver e por isso foram amaldiçoados por Deus, porque não vieram em socorro do Senhor e dos seus valentes (v. 23). Rúben, Gade, Gileade e Aser não se envolveram,  porém não foram amaldiçoados como Meroz! O Senhor não precisava da ajuda deles, e fez o Seu trabalho sem eles, mas marcou Meroz com uma maldição porque decidiram certamente se manter neutros para não contrariarem tanto os israelitas, quanto aos cananeus sob cuja dominação se encontravam. Temendo sofrer represálias futuras da parte deles caso os cananeus saíssem vencedores na guerra, decidiram por aquilo que parece ser indubitável e politicamente o mais seguro e correto, a saber a neutralidade. Só que Deus nunca admitirá neutralidade, especialmente da parte do Seu povo, no que tange a fazer a Sua vontade. Então eles fizeram a pior opção que poderiam fazer porque isto lhes trouxe uma maldição da parte de Deus que foi proferida pelo anjo da aliança, a saber, pelo príncipe do exército do Senhor que vinha acompanhando Israel desde a saída deles do Egito. E tal foi o cumprimento da maldição sobre os israelitas daquela cidade que desejando segurança acabaram por encontrar a sua própria destruição, porque deste ponto em diante nunca mais se ouviu falar na cidade de Meroz como sendo uma das cidades israelitas. Tal como a figueira que Jesus amaldiçoou e secou, eles também secaram com a maldição que o Senhor pronunciou contra eles.
E assim são descritas no cântico de Débora as manifestações de regozijo e congratulações com aqueles que se dispuseram a se empenhar na batalha contra os cananeus, e uma nota de lamento e tristeza e até mesmo de maldição contra aqueles que se recusaram a ajudar as tribos que lutaram. Isto que ocorreu com Israel também se dá em relação à igreja, porque o Israel de Deus é um só corpo formado por muitos membros, e com eles sucede o que está registrado em I Cor 12.24-26: “Mas Deus assim formou o corpo, dando muito mais honra ao que tinha falta dela, para que não haja divisão no corpo, mas que os membros tenham igual cuidado uns dos outros. De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele.”. E onde destacamos o que se afirma no verso 26 que o padecimento de um membro é na verdade o padecimento de todos, e o mesmo se dá em relação à alegria. Isto decorre do fato de o Espírito Santo se mover em nós fazendo-nos sentir como de fato somos, parte integrantes de um só corpo espiritual. E assim o fracasso de um membro, especialmente em razão do pecado é como se fosse o fracasso de toda a igreja, em razão desta vinculação de uns com os outros que foi estabelecida por Deus, e o sucesso de um membro que traz honra e glória para o nome de Deus produz realmente alegria, pelo Espírito, no coração de todos os cristãos, porque aquele triunfo é tido como sendo o triunfo de toda a igreja. É por isso que é ordenado aos cristãos que se exortem mutuamente, em face desta responsabilidade mútua de uns para com os outros. Este evangelho de mídia, sem uma igreja definida, sem compromisso mútuo entre os seus membros, desfigura e depõe totalmente contra o desígnio de Deus para a sua igreja.    


“1 Então cantaram Débora e Baraque, filho de Abinoão, naquele dia, dizendo:
2 Porquanto os chefes se puseram à frente em Israel, porquanto o povo se ofereceu voluntariamente, louvai ao Senhor.
3 Ouvi, ó reis; dai ouvidos, ó príncipes! eu cantarei ao Senhor, salmodiarei ao Senhor Deus de Israel.
4 Ó Senhor, quando saíste de Seir, quando caminhaste desde o campo de Edom, a terra estremeceu, os céus gotejaram, sim, as nuvens gotejaram águas.
5 Os montes se abalaram diante do Senhor, e até Sinai, diante do Senhor Deus de Israel.
6 Nos dias de Sangar, filho de Anate, nos dias de Jael, cessaram as caravanas; e os que viajavam iam por atalhos desviados.
7 Cessaram as aldeias em Israel, cessaram; até que eu Débora, me levantei, até que eu me levantei por mãe em Israel.
8 Escolheram deuses novos; logo a guerra estava às portas; via-se porventura escudo ou lança entre quarenta mil em Israel?
9 Meu coração inclina-se para os guias de Israel, que voluntariamente se ofereceram entre o povo. Bendizei ao Senhor.
10 Louvai-o vós, os que cavalgais sobre jumentas brancas, que vos assentais sobre ricos tapetes; e vós, que andais pelo caminho.
11 Onde se ouve o estrondo dos flecheiros, entre os lugares onde se tiram águas, ali falarão das justiças do Senhor, das justiças que fez às suas aldeias em Israel; então o povo do Senhor descia às portas.
12 Desperta, desperta, Débora; desperta, desperta, entoa um cântico; levanta-te, Baraque, e leva em cativeiro os teus prisioneiros, tu, filho de Abinoão.
13 Então desceu o restante dos nobres e do povo; desceu o Senhor por mim contra os poderosos.
14 De Efraim desceram os que tinham a sua raiz em Amaleque, após ti, Benjamim, entre os teus povos; de Maquir desceram os guias, e de Zebulom os que levam o báculo do inspetor de tropas.
15 Também os príncipes de Issacar estavam com Débora; e como Issacar, assim também Baraque; ao vale precipitaram-se em suas pegadas. Junto aos ribeiros de Rúben grandes foram as resoluções do coração.
16 Por que ficastes entre os currais a escutar os balidos dos rebanhos? Junto aos ribeiros de Rúben grandes foram as resoluções do coração.
17 Gileade ficou da banda dalém do Jordão; e Dã, por que se deteve com seus navios? Aser se assentou na costa do mar e ficou junto aos seus portos.
18 Zebulom é um povo que se expôs à morte, como também Naftali, nas alturas do campo.
19 Vieram reis e pelejaram; pelejaram os reis de Canaã, em Taanaque junto às águas de Megido; não tomaram despojo de prata.
20 Desde os céus pelejaram as estrelas; desde as suas órbitas pelejaram contra Sísera.
21 O ribeiro de Quisom os arrastou, aquele antigo ribeiro, o ribeiro de Quisom. Ó minha alma, calcaste aos pés a força.
22 Então os cascos dos cavalos feriram a terra na fuga precipitada dos seus valentes.
23 Amaldiçoai a Meroz, diz o anjo do Senhor, amaldiçoai acremente aos seus habitantes; porquanto não vieram em socorro do Senhor, em socorro do Senhor, entre os valentes.
24 Bendita entre todas as mulheres será Jael, mulher de Heber, o queneu; bendita será entre as mulheres nômades.
25 Água pediu ele, leite lhe deu ela; em taça de príncipes lhe ofereceu coalhada.
26 À estaca estendeu a mão esquerda, e ao martelo dos trabalhadores a direita, e matou a Sísera, rachando-lhe a cabeça; furou e traspassou-lhe as fontes.
27 Aos pés dela ele se encurvou, caiu, ficou estirado; aos pés dela se encurvou, caiu; onde se encurvou, ali caiu morto.
28 A mãe de Sísera olhando pela janela, através da grade exclamava: Por que tarda em vir o seu carro? por que se demora o rumor das suas carruagens?
29 As mais sábias das suas damas responderam, e ela respondia a si mesma:
30 Não estão, porventura, achando e repartindo os despojos? uma ou duas donzelas a cada homem? para Sísera despojos de estofos tintos, despojos de estofos tintos bordados, bordados de várias cores, para o meu pescoço?
31 Assim ó Senhor, pereçam todos os teus inimigos! Sejam, porém, os que te amam, como o sol quando se levanta na sua força.


32 E a terra teve sossego por quarenta anos.” (Jz 5.1-32).



Juízes 6

Gideão – Parte 1

Nós vemos no final do capítulo anterior (5º do livro de Juizes), que depois da libertação operada por Deus através de Débora e Baraque, houve paz em Israel por quarenta anos. Mas depois deste período os israelitas voltaram a ser sujeitados pelo Senhor a uma nova opressão, agora da parte dos midianitas, que durou sete anos.
Das experiências vividas por Israel, reveladas na Palavra, o salmista havia aprendido o que afirma no Sl 18.25-27: “25 Para com o benigno te mostras benigno, e para com o homem perfeito te mostras perfeito. 26 Para com o puro te mostras puro, e para com o perverso te mostras contrário. 27 Porque tu livras o povo aflito, mas os olhos altivos tu os abates.”. E estas opressões e livramentos sucessivos que ocorreram no período de Juízes bem ilustram esta verdade, que se aplica inclusive às pessoas do próprio povo de Deus.
E, então em Juízes 6, nós vemos que o Senhor entregou Israel a um povo ignorante, inculto, uma turba que não possuía qualquer rei ou general regulares, e foram tais pessoas que sujeitaram Israel como uma turba indisciplinada, tornando ainda maior a vergonha e o opróbrio dos israelitas, que sendo um povo vocacionado para conquistar e dominar, estava sendo sujeitado por um bando de vândalos que não eram uma força organizada, e por isso se diz deles o que lemos no versos 4 e 5 : “4 e, acampando-se contra ele, destruíam o produto da terra até chegarem a Gaza, e não deixavam mantimento em Israel, nem ovelhas, nem bois, nem jumentos. 5 Porque subiam com os seus rebanhos e tendas; vinham em multidão, como gafanhotos; tanto eles como os seus camelos eram inumeráveis; e entravam na terra, para a destruir.”.
E aproveitando-se da fragilidade de Israel os amalequitas (v. 3) sempre se coligavam aos seus opressores, pois era um povo que desde a saída do Egito, agia covardemente contra os israelitas, razão pela qual Deus mandou que se registrasse no livro da Lei que Ele destruiria os amalequitas totalmente, no tempo certo e determinado, quando estivesse completada a medida da iniquidade deles, e isto foi feito nos dias do rei Saul.
Tal era a carnificina e pilhagem que os midianitas faziam em Israel que o povo tinha que fazer covas, cavernas e fortalezas nos montes para se proteger dos ataques dos seus inimigos. Quando o povo do Senhor anda contrariamente com ele fica de tal modo enfraquecido, intimidado e acovardado, que diante das investidas dos espíritos das trevas não tem outra alternativa senão a de viver acuado, até que se arrependa dos seus pecados e volte a ter o braço forte do Senhor amarrando o valente e  pelejando por eles as batalhas espirituais que têm que empreender continuamente contra os poderes das trevas.        
O que os israelitas juntaram e as riquezas que acumularam vieram a se tornar espólio para os seus inimigos. O que eles haviam obtido no seu obstinado desejo de enriquecer, negligenciando totalmente o tempo que deveriam dedicar a Deus, serviu somente para o empobrecimento deles e enriquecimento daqueles que os pilhavam.
Aquilo que o homem juntar, enriquecendo, à custa de se empobrecer para com Deus na graça que deveria estar recebendo dele, ouro fino para enriquecer e colírio para que veja, e vestes dignas para cobrir a sua nudez espiritual, acabará por fim sendo também perdido porque nada levaremos deste mundo conosco na nossa morte. E o que juntamos, para quem será? Não importa para quem seja, porque certamente para nós mesmos não será de modo nenhum. Então aquilo que entesouramos para nós mesmos não será de qualquer valor para nós e em nada poderá nos recomendar a Deus, porque estas coisas não têm qualquer valor para Ele, se não forem empregadas nos interesses do Seu reino.
O que os israelitas semeavam eles não chegavam a colher e a desfrutar, porque os midianitas vinham e furtavam. Eles não honraram a Deus com as primícias de suas colheitas, e procurando tudo reter para si, acabaram ficando com nada. A justiça de Deus estava castigando o pecado deles, porque estavam oferecendo suas ofertas a Baal, e da parte de Baal não poderiam esperar receber qualquer bênção. Quando eles perceberam que a adoração a Baal estava lhes arruinando, e que Baal jamais os ajudaria, eles clamaram ao Senhor (v. 6).  
Antes de o anjo do Senhor vir ter com os israelitas, em resposta ao clamor que fizeram, foi enviado um profeta para reprovar o pecado deles e conduzi-los ao arrependimento (v. 8).
Não é dito qual foi o efeito da repreensão de Deus pela boca do profeta, mas certamente teve um bom resultado porque é citado imediatamente o anúncio da libertação deles pela chamada de Gideão (v. 11). E esta foi feita pelo anjo do Senhor, o mesmo anjo da aliança que apareceu a Josué e vinha conduzindo Israel desde o Egito, e como vimos antes, tratava-se do próprio Jesus numa teofania, porque é afirmado a respeito dele, que era Jeová (v. 14, 16).
Foi quando Gideão estava só que o anjo lhe falou. A solidão ajuda nossa comunhão com Deus, porque é comum que Ele nos fale quando estamos longe do barulho e pressa deste mundo.
O anjo o chamou de homem valoroso e disse que Deus era com ele. Se a presença do Senhor é conosco, esta é a garantia de que seremos bem sucedidos contra os nossos inimigos e nos confirmará no nosso trabalho. Deus estaria com Gideão para o fortalecer, instruir, animar e apoiar (v. 3). Se Deus é por nós, quem será contra nós, conforme afirma o apóstolo Paulo? Gideão era um homem valoroso mas nada poderia fazer sem a presença de Deus, e assim como ele, qualquer um de nós que estivermos empenhados por Ele no Seu serviço.
Gideão deu uma resposta melancólica ao anjo: “Ai, senhor meu, se o Senhor é conosco, por que tudo nos sobreveio? e onde estão todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram, dizendo: Não nos fez o Senhor subir do Egito? Agora, porém, o Senhor nos desamparou, e nos entregou na mão de Midiã.”. Gideão era valoroso, mas quão pequena era ainda a fé dele e o seu conhecimento da justiça e santidade de Deus. Ele tinha a fé de que Deus agira no passado, mas não considerava que as maravilhas de Deus estão associadas à santidade que lhe é devida. Ele esperava que os israelitas fossem continuamente abençoados pelo simples fato de serem israelitas. E assim também muitos cristãos que não conhecem ao Senhor e à Sua justiça, santidade e vontade, pensam que Deus está obrigado a abençoá-los continuamente pelo simples fato de serem cristãos, sem levar em conta o testemunho de vida deles. A intimidade do Senhor é para aqueles que conhecem a Sua vontade. A plenitude de Cristo é para aqueles que guardam a Sua Palavra e que têm real compromisso com Ele. Esta é a bênção principal que Deus almeja para todos os seus filhos, a saber, que sejam participantes da Sua santidade, e é em razão disso que os disciplina.
Aqueles que se submetem à disciplina do Senhor conhecerão a plenitude da Sua graça, porque isto está reservado somente para aqueles que conhecem a Sua vontade e a obedecem. Muitos cristãos, em sua ignorância dos caminhos e vontade de Deus, e mesmo, muitas vezes em seu comportamento desordenado, pelo desconhecimento do Deus deles e da Sua vontade, são alvo da misericórdia, bondade e longanimidade do Senhor, que está trabalhando pacientemente neles, procurando levá-los ao conhecimento da profundidade da graça e do amor de Cristo, mas isto não pode ser considerado como participação deles da plenitude que está reservada para aqueles que têm suas faculdades exercitadas para discernir tanto o bem quanto o mal. Por isso se ordena a todos os cristãos que tenham completa diligência em prosseguirem no conhecimento do Senhor e no desenvolvimento da sua salvação, para que não sejam meninos em Cristo, mas varões amadurecidos e prontos para toda boa obra.
E para provar a Gideão que Deus estava de fato agindo em favor do seu povo, o anjo lhe deu a comissão de libertar Israel dos midianitas e lhe assegurou completo sucesso (v. 14), e para fortalecer o espírito de Gideão deu-lhe a missão de confrontar o erro e a causa da miséria de Israel, determinando que ele derrubasse o altar de Baal que havia sido construído pelo seu pai. Ele estava sendo movido a provar que o seu amor a Deus era maior que ao seu pai, e a expor a sua própria vida pela causa da verdade, contendendo contra os inimigos de Deus que se encontravam no meio do seu próprio povo. Ele protestaria com aquele gesto contra a idolatria de toda a nação, simbolizando o rompimento dos israelitas com Baal, para que pudessem retornar ao Senhor e serem aceitos por Ele.
E Gideão seguiu as ordens e instruções do anjo e executou fielmente tudo o que lhe foi ordenado, e como era de se esperar houve uma grande reação da parte dos adoradores de Baal, que pediram a seu pai que lhe entregassem a Gideão para que o matassem (v. 30).
Mas o sentimento paterno falou mais alto, e o pai de Gideão lhes disse que se Baal era de fato deus ele contenderia por si mesmo contra Gideão. E por isso aqueles homens desistiram do seu intento, e permanecendo em sua fé cega num falso deus, a confirmaram apelidando a Gideão de Jerubaal, que significa Baal contenderá, na expectativa de que Baal se vingaria do que havia sido feito contra ele.
Ainda que fazendo o serviço que lhe fora designado à noite, por temer fazê-lo durante o dia, Gideão passou na prova de obediência às ordens que recebeu da parte do Senhor, e tendo os midianitas mais uma vez se coligado aos amalequitas e a outros habitantes daquela região, ajuntarem-se em ordem de batalha contra Israel, mas o Espírito do Senhor veio sobre Gideão e o fortaleceu e o animou a convocar os israelitas para pelejarem contra eles, tendo sido convocadas as tribos de Aser, Naftali e Zebulom, que se juntaram aos homens de Manassés.
Mas Gideão queria ter a plena certeza de que o Senhor seria com ele naquela ocasião e fez o famoso teste do velo de lã, para saber que o Deus dos milagres e maravilhas estaria de fato pelejando por eles conforme havia prometido. De fato somente um milagre divino poderia realizar o que Gideão havia proposto, pois sabemos que o orvalho que cai  num ponto determinado, nunca  deixa de cair neste mesmo ponto enquanto cai ao redor, pois cai homogênea e simultaneamente sobre todas as partes de uma área considerável. Assim se a lã molhasse enquanto ao seu redor tudo permanecesse seco, e depois, se somente a lã ficasse seca e tudo ao seu redor ficasse molhado, não haveria qualquer sombra de dúvida que fora a mão do Senhor que o fizera.
Gideão já havia tido antes a prova de que a comissão que recebera lhe fora dada por um ser celestial, porque o sacrifício que apresentara ao anjo foi consumido por um fogo sobrenatural quando ele tocou com o seu cajado no mesmo, e isto foi reconhecido por Gideão que de fato quem lhe falara era um anjo do céu.  Além disso, com a consumação do sacrifício que ele ofereceu por meio do fogo divino, ficava atestada a sua aceitação por Deus para ser o libertador do seu povo, uma vez que havia aceito o sacrifício que ele lhe apresentara.
A Gideão foi ordenado que erigisse um altar ao Senhor e que nele apresentasse em holocausto, um dos dois bois que seriam usados para derrubar o altar de Baal, e a madeira da Aserá que estava debaixo do altar de Baal deveria ser usada para queimar o sacrifício. Assim, antes de fazer guerra aos midianitas, primeiro deveria ser celebrada a comunhão e paz com Deus. Não podemos prevalecer contra o diabo se não estivermos em paz com o Senhor e se não tivermos por conseguinte a Sua presença conosco.
Como um tipo de Cristo Gideão teria que primeiro salvar o seu povo do próprio pecado deles, para que então pudessem prevalecer contra os seus inimigos. Daí ter recebido tais instruções da parte do Senhor, antes de se colocar em ordem de batalha contra os midianitas.


“1 Mas os filhos de Israel fizeram o que era mau aos olhos do Senhor, e o Senhor os entregou na mão de Midiã por sete anos.
2 Prevalecia, pois, a mão de Midiã sobre Israel e, por causa de Midiã, fizeram os filhos de Israel para si as covas que estão nos montes, as cavernas e as fortalezas.
3 Porque sucedia que, havendo Israel semeado, subiam contra ele os midianitas, os amalequitas e os filhos do oriente;
4 e, acampando-se contra ele, destruíam o produto da terra até chegarem a Gaza, e não deixavam mantimento em Israel, nem ovelhas, nem bois, nem jumentos.
5 Porque subiam com os seus rebanhos e tendas; vinham em multidão, como gafanhotos; tanto eles como os seus camelos eram inumeráveis; e entravam na terra, para a destruir.
6 Assim Israel se enfraqueceu muito por causa dos midianitas; então os filhos de Israel clamaram ao Senhor.
7 E sucedeu que, clamando eles ao Senhor por causa dos midianitas,
8 enviou-lhes o Senhor um profeta, que lhes disse: Assim diz o Senhor, Deus de Israel: Do Egito eu vos fiz subir, e vos tirei da casa da servidão;
9 livrei-vos da mão dos egípcios, e da mão de todos quantos vos oprimiam, e os expulsei de diante de vós, e a vós vos dei a sua terra.
10 Também eu vos disse: Eu sou o Senhor vosso Deus; não temais aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais. Mas não destes ouvidos à minha voz.
11 Então o anjo do Senhor veio, e sentou-se debaixo do carvalho que estava em Ofra e que pertencia a Joás, abiezrita, cujo filho Gideão estava malhando o trigo no lagar para o esconder dos midianitas.
12 Apareceu-lhe então o anjo do Senhor e lhe disse: O Senhor é contigo, ó homem valoroso.
13 Gideão lhe respondeu: Ai, senhor meu, se o Senhor é conosco, por que tudo nos sobreveio? e onde estão todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram, dizendo: Não nos fez o Senhor subir do Egito? Agora, porém, o Senhor nos desamparou, e nos entregou na mão de Midiã.
14 Virou-se o Senhor para ele e lhe disse: Vai nesta tua força, e livra a Israel da mão de Midiã; porventura não te envio eu?
15 Replicou-lhe Gideão: Ai, senhor meu, com que livrarei a Israel? eis que a minha família é a mais pobre em Manassés, e eu o menor na casa de meu pai.
16 Tornou-lhe o Senhor: Porquanto eu hei de ser contigo, tu ferirás aos midianitas como a um só homem.
17 Prosseguiu Gideão: Se agora tenho achado graça aos teus olhos, dá-me um sinal de que és tu que falas comigo.
18 Rogo-te que não te apartes daqui até que eu volte trazendo do meu presente e o ponha diante de ti. Respondeu ele: Esperarei até que voltes.
19 Entrou, pois, Gideão, preparou um cabrito e fez, com uma efa de farinha, bolos ázimos; pôs a carne num cesto e o caldo numa panela e, trazendo para debaixo do carvalho, lho apresentou.
20 Mas o anjo de Deus lhe disse: Toma a carne e os bolos ázimos, e põe-nos sobre esta rocha e derrama-lhes por cima o caldo. E ele assim fez.
21 E o anjo do Senhor estendeu a ponta do cajado que tinha na mão, e tocou a carne e os bolos ázimos; então subiu fogo da rocha, e consumiu a carne e os bolos ázimos; e o anjo do Senhor desapareceu-lhe da vista.
22 Vendo Gideão que era o anjo do Senhor, disse: Ai de mim, Senhor Deus! pois eu vi o anjo do Senhor face a face.
23 Porém o Senhor lhe disse: Paz seja contigo, não temas; não morrerás.
24 Então Gideão edificou ali um altar ao Senhor, e lhe chamou Jeová-Shalom; e ainda até o dia de hoje está o altar em Ofra dos abiezritas.
25 Naquela mesma noite, disse o Senhor a Gideão: Toma um dos bois de teu pai, a saber, o segundo boi de sete anos, e derriba o altar de Baal, que é de teu pai, e corta a asera que está ao pé dele.
26 Edifica ao Senhor teu Deus um altar no cume deste lugar forte, na forma devida; toma o segundo boi, e o oferece em holocausto, com a lenha da asera que cortares
27 Então Gideão tomou dez homens dentre os seus servos, e fez como o Senhor lhe dissera; porém, temendo ele a casa de seu pai e os homens daquela cidade, não o fez de dia, mas de noite.
28 Levantando-se, pois, os homens daquela cidade, de madrugada, eis que estava o altar de Baal derribado, cortada a asera que estivera ao pé dele, e o segundo boi oferecido no altar que fora edificado.
29 Pelo que disseram uns aos outros: Quem fez isto? E, depois de investigarem e inquirirem, disseram: Gideão, filho de Joás, é quem fez isto.
30 Então os homens daquela cidade disseram a Joás: Tira para fora teu filho, para que morra, porque derribou o altar de Baal e cortou a asera que estava ao pé dele.
31 Joás, porém, disse a todos os que se puseram contra ele: Contendereis vós por Baal? livrá-lo-eis vós? Qualquer que por ele contender, ainda esta manhã será morto; se ele é deus, por si mesmo contenda, pois foi derribado o seu altar.
32 Pelo que naquele dia chamaram a Gideão Jerubaal, dizendo: Baal contenda contra ele, pois derribou o seu altar.
33 Então todos os midianitas, os amalequitas e os filhos do oriente se ajuntaram e, passando o Jordão, acamparam no vale de Jizreel.
34 Mas o Espírito do Senhor apoderou-se de Gideão; e tocando ele a trombeta, os abiezritas se ajuntaram após ele.
35 E enviou mensageiros por toda a tribo de Manassés, que também se ajuntou após ele; e ainda enviou mensageiros a Aser, a Zebulom e a Naftali, que lhe saíram ao encontro.
36 Disse Gideão a Deus: Se hás de livrar a Israel por minha mão, como disseste,
37 eis que eu porei um velo de lã na eira; se o orvalho estiver somente no velo, e toda a terra ficar enxuta, então conhecerei que hás de livrar a Israel por minha mão, como disseste.
38 E assim foi; pois, levantando-se de madrugada no dia seguinte, pegou o velo, e espremeu dele o orvalho, que encheu uma taça.
39 Disse mais Gideão a Deus: Não se acenda contra mim a tua ira se ainda falar só esta vez. Permite que só mais esta vez eu faça prova com o velo; rogo-te que só o velo fique enxuto, e em toda a terra haja orvalho.
40 E Deus assim fez naquela noite; pois só o velo estava enxuto, e sobre toda a terra havia orvalho.” (Jz 6.1-40).


Juízes 7

Gideão – Parte 2

Estando convicto de que Deus se encarregaria de conduzir a bom termo a guerra de Israel contra os midianitas, Gideão se dispôs a convocar os israelitas para a batalha.
Quando Deus vai adiante de nós, é então também nosso dever nos movermos e realizar as ações necessárias para que se cumpra tudo O que Ele prometeu (II Sm 5.24,25).
E, nós vemos no 7º capitulo de Juízes, que se juntaram a Gideão 32.000 homens, e este era um exército pequeno comparado com o dos midianitas.
É provável que Gideão tenha pensado portanto que eram muito poucos homens para combater o grande exército inimigo, mas Deus lhe disse que eles eram muitos (v. 2), sendo a maioria inútil, desnecessária e que iria até mesmo atrapalhar os Seus planos, conforme seria demonstrado a Gideão, pois tendo lhe ordenado que enviasse de volta para casa os homens medrosos e tímidos, vinte e dois mil deles se apresentaram tendo ficado apenas dez mil homens. Eram vinte e dois mil que não confiavam no Senhor, que não tinham fé no que Ele havia prometido, pois temeram ser derrotados pelos midianitas e por isso voltaram de bom grado para suas casas. E caso o Senhor tivesse derrotado o inimigo com tais homens, pela falta de fé deles, certamente não tributariam a honra e a glória devidas a Deus pela vitória alcançada, posto que não criam nEle com uma genuína fé que é viva e operante, e que por conseguinte se traduz em obras.
E conhecendo o orgulho que está no coração dos homens, Ele sempre conduzirá aqueles que O servem à humildade, revelando-lhes que se quisesse poderia dispensá-los e fazer toda a Sua vontade sem o auxílio deles. E para que todo aquele que se gloriar, glorie-se no Senhor, e toda boca permaneça calada diante dEle, reconhecendo que a Sua Obra  somente Ele próprio pode realizar, sendo nós apenas seus cooperadores. De fato quem pode por si mesmo justificar, regenerar, santificar, glorificar, resgatar das mãos do diabo, livrar da condenação e da maldição da lei, uma só alma que seja? Do que nos gloriaremos então em nós mesmos quando pessoas são convertidas das trevas para luz, e do poder de Satanás para Deus?
Assim aqueles vinte e dois mil que não tinham o verdadeiro temor do Senhor jamais tributariam a vitória à força do Seu poderoso braço, senão à própria força deles. Ainda que isto seja paradoxal é a mais pura realidade, que o fraco e medroso glorie-se nos seus próprios feitos quando é bem sucedido em algo. O sábio e verdadeiramente forte, instruído pelo Espírito Santo, gloriar-se-á sempre no Senhor, pois sabe que é somente pelo poder da graça de Jesus, mediante operação do Espírito Santo, que podemos ser capacitados a enfrentar a morte de frente, com paz em nossa alma, enquanto a encaramos cara a cara. Tal como se lê em Apocalipse 12.11:” E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram as suas vidas até a morte.”.
A terça parte que ficara do exército de Gideão seria também reduzida pelo Senhor em proporções consideráveis, porque daqueles dez mil homens corajosos e que criam na promessa de Deus, apenas trezentos seriam considerados aptos para a batalha, de modo que Deus fosse glorificado por meio deles, pela sua estrita obediência a tudo que lhes fosse ordenado. Assim não é apenas a coragem e a boa disposição em desejar fazer a obra de Deus que nos qualifica para ela. É preciso mais do que isto, conforme seria feito por Deus com aqueles homens através de Gideão. É possível ter coragem e desejo de se fazer a obra de Deus, mas não a devida renúncia a si mesmo, aos interesses pessoais, e por se estar mais interessado no próprio conforto e descanso do que em se gastar nas muitas dificuldades que teriam que ser enfrentadas ao fazer a obra de Deus. Pessoas que podem suportar longas e continuadas fadigas e sofrimentos por amor a Cristo, sem reclamar de sede, fome, cansaço, são aquelas que têm melhores condições de serem bem sucedidas no serviço de Deus. E é bem provável que através do teste do modo como aqueles dez mil beberiam água, Deus estivesse se provendo de pessoas com as características apontadas, e apenas trezentos foram achado qualificados. Não é sem razão que são exigidas várias qualificações aos candidatos ao ministério, quer sejam aqueles que aspiram ao diaconato ou ao episcopado, conforme se vê sobretudo nas epístolas Pastorais. E é bem notório que nem todos os cristãos possuem as habilidades necessárias para o desempenho de tais ofícios, especialmente pela falta desta disponibilidade real e efetiva em servir sob quaisquer circunstâncias.  
E certamente grande era a fé de Gideão e dos seus trezentos homens, porque se dispor a enfrentar milhares de midianitas com apenas aquele tão pequeno exército exigia uma confiança total e firme em Deus e em Sua promessa de que lhes daria a vitória.
 E de fato o Senhor interviu em favor do seu povo, pois deu um sonho a um dos midianitas para que fosse contado e espalhado entre eles. E o sonho era aterrorizante, porque prenunciava a derrota deles por meio do exército de Gideão. E o fato de terem sabido que Gideão havia destruído o altar de Baal e que nada lhe havia acontecido deve ter aumentado ainda mais o temor deles, porque viram nisto que o Deus de Israel estava voltando a ser favorável a seu povo e a lutar miraculosamente por eles, tal como fizera tantas vezes no passado. E eles muito temeram ao ponto de entrarem em grande conturbação de mente e de espírito, ferindo-se mutuamente, enquanto fugiam atemorizados diante do toque de trombetas dos trezentos de Gideão, do grito deles: “A espada  do Senhor e de Gideão”, dando assim cumprimento à interpretação que foi dada ao sonho do midianita de que era a espada de Gideão que os destruiria, ao mesmo tempo que quebravam os cântaros no interior dos quais haviam tochas acesas, dando a impressão de um ataque inesperado, com o surgimento de toda aquela luz na escuridão, porque Gideão havia divido os trezentos em três companhias de cem homens cada, isto pareceu aos midianitas um exército inumerável que avançava sobre eles.
Com isto a glória do Senhor seria estabelecida e todos os descristãos de Israel teriam que se dobrar à evidência do que Deus havia feito, e os israelitas vacilantes recobrariam a fé e a confiança no Seu Deus e muitos deles se disporiam a pelejar contra os midianitas. Mesmo assim, como veremos no capitulo seguinte, houve duas cidades que não creram nas operações de Deus e que este pelejava por Israel por meio de Gideão, e se recusaram a dar alimento aos homens que estavam empenhados na perseguição aos midianitas, afirmando que não o fariam porque não estavam vendo nenhum midianita submetido nas mãos de Gideão. As cidades de Cafarnaum, Betsaida e Corazim também não creram em Jesus apesar dos muitos milagres que Ele vinha operando em todo o território de Israel, e seus habitantes foram por isso, duramente repreendidos pelo Senhor.    
E aderiram à perseguição aos midianitas tanto as tribos de Aser, Naftali e Efraim (v.23,24).
E os efraimitas mataram a Orebe e a Zeebe, dois príncipes midianitas, cujas cabeças levaram a Gideão, e nós veremos logo no início do capitulo seguinte, que nesta ocasião em vez de se congratularem com Gideão, eles o repreenderam com amargor de espírito sob a alegação de que não lhes havia chamado para guerrear juntamente com ele, quando foram iniciadas as ações de guerra contra os midianitas. A tribo de Efraim, juntamente com a de Manassés, à qual pertencia Gideão, compunham a casa de José, pois eram formadas de pessoas que eram descendentes deste patriarca, e segundo a profecia de Jacó, Efraim seria maior do que Manassés, apesar deste último ser o primogênito de José, e assim é possível que eles tivessem sido movidos na ocasião por um sentimento de superioridade carnal, pelo fato de em tendo a primazia, a tribo de Manassés, representada na pessoa de Gideão e seus trezentos, tomou-lhe a dianteira sem lhe consultar na guerra que travariam contra os midianitas. Mas Gideão contornou a situação como se pode ver nos versos 2 e 3 do capitulo oitavo, falando-lhes com humildade, o que lhes apaziguou, por satisfazer a vaidade e sentimento de superioridade deles.

“1 Então Jerubaal, que é Gideão, e todo o povo que estava com ele, levantando-se de madrugada acamparam junto à fonte de Harode; e o arraial de Midiã estava da banda do norte, perto do outeiro de Moré, no vale.
2 Disse o Senhor a Gideão: O povo que está contigo é demais para eu entregar os midianitas em sua mão; não seja caso que Israel se glorie contra mim, dizendo: Foi a minha própria mão que me livrou.
3 Agora, pois, apregoa aos ouvidos do povo, dizendo: Quem for medroso e tímido volte, e retire-se do monte Gileade. Então voltaram do povo vinte e dois mil, e dez mil ficaram.
4 Disse mais o Senhor a Gideão: Ainda são muitos. Faze-os descer às águas, e ali os provarei; e será que, aquele de que eu te disser: Este irá contigo, esse contigo irá; porém todo aquele de que eu te disser: Este não irá contigo, esse não irá.
5 E Gideão fez descer o povo às águas. Então o Senhor lhe disse: Qualquer que lamber as águas com a língua, como faz o cão, a esse porás de um lado; e a todo aquele que se ajoelhar para beber, porás do outro.
6 E foi o número dos que lamberam a água, levando a mão à boca, trezentos homens; mas todo o resto do povo se ajoelhou para beber.
7 Disse ainda o Senhor a Gideão: Com estes trezentos homens que lamberam a água vos livrarei, e entregarei os midianitas na tua mão; mas, quanto ao resto do povo, volte cada um ao seu lugar.
8 E o povo tomou na sua mão as provisões e as suas trombetas, e Gideão enviou todos os outros homens de Israel cada um à sua tenda, porém reteve os trezentos. O arraial de Midiã estava embaixo no vale.
9 Naquela mesma noite disse o Senhor a Gideão: Levanta-te, e desce contra o arraial, porque eu o entreguei na tua mão.
10 Mas se tens medo de descer, vai com o teu moço, Purá, ao arraial;
11 ouvirás o que dizem, e serão fortalecidas as tuas mãos para desceres contra o arraial. Então desceu ele com o seu moço, Purá, até o posto avançado das sentinelas do arraial.
12 Os midianitas, os amalequitas, e todos os filhos do oriente jaziam no vale, como gafanhotos em multidão; e os seus camelos eram inumeráveis, como a areia na praia do mar.
13 No momento em que Gideão chegou, um homem estava contando ao seu companheiro um sonho, e dizia: Eu tive um sonho; eis que um pão de cevada vinha rolando sobre o arraial dos midianitas e, chegando a uma tenda, bateu nela de sorte a fazê-la cair, e a virou de cima para baixo, e ela ficou estendida por terra.
14 Ao que respondeu o seu companheiro, dizendo: Isso não é outra coisa senão a espada de Gideão, filho de Joás, varão israelita. Na sua mão Deus entregou Midiã e todo este arraial.
15 Quando Gideão ouviu a narração do sonho e a sua interpretação, adorou a Deus; e voltando ao arraial de Israel, disse: Levantai-vos, porque o Senhor entregou nas vossas mãos o arraial de Midiã.
16 Então dividiu os trezentos homens em três companhias, pôs nas mãos de cada um deles trombetas, e cântaros vazios contendo tochas acesas,
17 e disse-lhes: Olhai para mim, e fazei como eu fizer; e eis que chegando eu à extremidade do arraial, como eu fizer, assim fareis vós.
18 Quando eu tocar a trombeta, eu e todos os que comigo estiverem, tocai também vós as trombetas ao redor de todo o arraial, e dizei: Pelo Senhor e por Gideão!
19 Gideão, pois, e os cem homens que estavam com ele chegaram à extremidade do arraial, ao princípio da vigília do meio, havendo sido de pouco colocadas as guardas; então tocaram as trombetas e despedaçaram os cântaros que tinham nas mãos.
20 Assim tocaram as três companhias as trombetas, despedaçaram os cântaros, segurando com as mãos esquerdas as tochas e com as direitas as trombetas para as tocarem, e clamaram: A espada do Senhor e de Gideão!
21 E conservou-se cada um no seu lugar ao redor do arraial; então todo o exército deitou a correr e, gritando, fugiu.
22 Pois, ao tocarem os trezentos as trombetas, o Senhor tornou a espada de um contra o outro, e isto em todo o arraial, e fugiram até Bete-Sita, em direção de Zererá, até os limites de Abel-Meolá, junto a Tabate.
23 Então os homens de Israel, das tribos de Naftali, de Aser e de todo o Manassés, foram convocados e perseguiram a Midiã.
24 Também Gideão enviou mensageiros por toda a região montanhosa de Efraim, dizendo: Descei ao encontro de Midiã, e ocupai-lhe as águas até Bete-Bara, e também o Jordão. Convocados, pois todos os homens de Efraim, tomaram-lhe as águas até Bete-Bara, e também o Jordão;
25 e prenderam dois príncipes de Midiã, Orebe e Zeebe; e mataram Orebe na penha de Orebe, e Zeebe mataram no lagar de Zeebe, e perseguiram a Midiã; e trouxeram as cabeças de Orebe e de Zeebe a Gideão, além do Jordão.”. (Jz 7.1-25)


Juízes 8

Gideão – Parte 3

Tendo comentado os três primeiros versículos deste 8º capítulo de Juízes, no final do comentário alusivo ao final do capítulo anterior, nós vemos uma afirmação no verso 4 que bem demonstra a qualidade do espírito de Gideão e dos trezentos que o seguiam:
“E Gideão veio ao Jordão e o atravessou, ele e os trezentos homens que estavam com ele, fatigados, mas ainda perseguindo.”.
Eles estavam fatigados não apenas pela perseguição que estavam empreendendo mas também pelo fato de estarem famintos, e isto se vê no verso 5. Mesmo extenuados, exauridos ainda estavam perseguindo.
Nada deteria aqueles homens dotados de tal qualidade de espírito. E por isso foram previamente selecionados por Deus, para servirem de exemplo a todo Israel, e a nós na igreja de Cristo, quanto ao modo como Deus deve ser servido na obra que realizamos em Seu nome e para Ele. O apóstolo Paulo testemunha de si mesmo que trabalhava até à exaustão no serviço de Cristo. E nisto deixou um exemplo para ser seguido por todos os obreiros de Jesus, especialmente pelos ministros do evangelho.
E a atitude dos habitantes de Sucote e de Penuel foi grave porque se recusaram alimentar a Gideão e a seus homens, de modo a terem melhores condições na perseguição que estavam empreendendo aos dois reis midianitas Zeba e Zalmuna. Eles se recusaram em ser generosos para com eles, apesar de que seriam também beneficiados com a libertação do jugo dos midianitas. Mas eles não criam nisto, em face do pequeno exército de Gideão, e não somente se negaram a ajudá-lo como também zombaram deles.
E mesmo com fome eles prosseguiram na perseguição, não sem que antes Gideão prometesse que castigaria a incredulidade e falta de generosidade dos homens de Sucote e de Penuel, aos primeiros dando-lhes uma surra com os espinhos e abrolhos do deserto, e aos moradores de Penuel traria danos, derrubando a torre deles, e até mesmo matando a alguns deles, certamente aqueles que haviam zombado mais acremente quando lhes pediram alimento. E ele o fizera conforme havia prometido depois de ter subjugado os dois reis midianitas.
 Deus havia por um processo extraordinariamente miraculoso feito com que o número assombroso de cento e vinte mil midianitas fossem mortos (v. 10), e apenas quinze mil homens haviam sobrado do exército deles e fugido com Zeba e Zalmuna, contra os quais Gideão estava empreendendo perseguição com os seus valentes, que haviam deixado suas trombetas e tochas para agora lançarem mão de espadas com as quais prevaleceriam sobre os midianitas, conforme a promessa que havia sido feita por Deus: “Disse ainda o Senhor a Gideão: Com estes trezentos homens que lamberam a água vos livrarei, e entregarei os midianitas na tua mão; mas, quanto ao resto do povo, volte cada um ao seu lugar.” (Jz 7.7).
Os reis midianitas foram julgados e condenados à morte por terem matado em tempos atrás os irmãos de Gideão no monte Tabor (Jz 6.2), que tendo buscado abrigo nas montanhas por medo dos midianitas foram achados por estes dois reis, e foram vil e barbaramente mortos a sangue frio.
Nos versos 20 e 21 nós vemos Gideão chamando seu filho ainda muito jovem para ser o vingador do sangue dos seus irmãos que foram mortos por aqueles reis, porque com isso a desonra deles seria ainda maior na execução da sua sentença de morte, entretanto o jovem não teve coragem suficiente para fazê-lo, e os reis rogaram a Gideão que ele mesmo os matasse, porque assim não seriam desonrados na morte, porque certamente correria a notícia que foram mortos pelas mãos de uma criança, caso o filho de Gideão tivesse a coragem de fazê-lo.
Depois de matá-los, Gideão se apoderou dos ornamentos em forma de lua que estavam nos pescoços dos camelos daqueles reis, que possivelmente se destinavam a honrar a deusa Asterote que era representada pela lua, assim como Baal era representado pelo sol. E certamente para evitar um uso indevido em idolatria, ele pegou todos os demais ornamentos, e na intenção de evitar um mal, acabou fazendo um outro, porque fabricou com eles uma estola sacerdotal e a colocou em sua  cidade, e aquela peça de uso sagrado exclusivo do tabernáculo era adorada pelos israelitas.
Quando os israelitas pediram a Gideão que ele se fizesse o governante deles, e que isto passasse a ser considerado um direito hereditário em sua família, conforme é próprio aos reis, ele se recusou em atender ao pedido deles, e afirmou que aquele que regeria sobre eles seria sempre o Senhor, e não ele e ninguém de sua casa. O desejo de Gideão era o de servir ao seu povo, e não o de governá-lo. Ele havia sido chamado e capacitado por Deus para a obra que realizara, e deveria se limitar ao que lhe foi ordenado, e ele estava bem consciente disto. A propósito, neste aspecto, o período dos juízes, em que não havia uma organização política, com um governo confederado e central sobre todas as tribos, se tinha o inconveniente de Israel não configurar uma unidade federativa, por outro lado, tinha a vantagem de ter líderes levantados e escolhidos diretamente pelo próprio Deus para conduzirem o seu povo. O modelo do direito sucessório por hereditariedade carregava consigo o grande inconveniente de serem conduzidas ao trono pessoas ímpias, conforme se vê na história dos reis de Israel.
Os versos 30 a 35 são introdutórios à narrativa do capítulo seguinte deste livro (nono) porque narra o número de filhos (setenta) que Gideão tivera com as muitas mulheres que possuía, não sendo destacado o nome de nenhum destes seus filhos, senão Jotão, e o filho que tivera com a concubina que ele tinha em Siquém chamado Abimeleque (v. 31), cuja história é narrada no nono capítulo.
E é também citado no verso 33 que depois da morte de Gideão os israelitas tornaram a se prostituir após os baalins, tendo posto a Baal-Berite por deus deles, sendo que Baal significa senhor, mestre ou esposo, e berite, aliança, portanto, traduzido daria senhor da aliança, e no entanto, os israelitas haviam se aliançado com o único e verdadeiro Senhor,  através da mediação de Moisés, configurando portanto esta falsa adoração numa alta traição e adultério, não se lembrando os israelitas do Deus que os livrara das mãos de todos os seus inimigos ao redor, e nem usaram de beneficência com a casa de Gideão, conforme veremos no comentário relativo ao nono capítulo.
Os siquemitas adoravam a Baal-Berite, e é significativo que se note a conexão desta adoração com a barbárie que seria realizada por Abimeleque, em conluio com os habitantes de Siquém, onde residia a parentela de sua mãe e de seu avô materno.


“1 Então os homens de Efraim lhe disseram: Que é isto que nos fizeste, não nos chamando quando foste pelejar contra Midiã? E repreenderam-no asperamente.
2 Ele, porém, lhes respondeu: Que fiz eu agora em comparação ao que vós fizestes? Não são porventura os rabiscos de Efraim melhores do que a vindima de Abiezer?
3 Deus entregou na vossa mão os príncipes de Midiã, Orebe e Zeebe; que, pois, pude eu fazer em comparação ao que vós fizestes? Então a sua ira se abrandou para com ele, quando falou esta palavra.
4 E Gideão veio ao Jordão e o atravessou, ele e os trezentos homens que estavam com ele, fatigados, mas ainda perseguindo.
5 Disse, pois, aos homens de Sucote: Dai, peço-vos, uns pães ao povo que me segue, porquanto está fatigado, e eu vou perseguindo a Zeba e Zalmuna, reis dos midianitas.
6 Mas os príncipes de Sucote responderam: Já estão em teu poder as mãos de Zeba e Zalmuna, para que demos pão ao teu exército?
7 Replicou-lhes Gideão: Pois quando o Senhor entregar na minha mão a Zeba e a Zalmuna, trilharei a vossa carne com os espinhos do deserto e com os abrolhos.
8 Dali subiu a Penuel, e falou da mesma maneira aos homens desse lugar, que lhe responderam como os homens de Sucote lhe haviam respondido.
9 Por isso falou também aos homens de Penuel, dizendo: Quando eu voltar em paz, derribarei esta torre.
10 Zeba e Zalmuna estavam em Carcor com o seu exército, cerca de quinze mil homens, os restantes de todo o exército dos filhos do oriente; pois haviam caído cento e vinte mil homens que puxavam da espada.
11 subiu Gideão pelo caminho dos que habitavam em tendas, ao oriente de Nobá e Jogbeá, e feriu aquele exército, porquanto se dava por seguro.
12 E, fugindo Zeba e Zalmuna, Gideão os perseguiu, tomou presos esses dois reis dos midianitas e desbaratou todo o exército.
13 Voltando, pois, Gideão, filho de Joás, da peleja pela subida de Heres,
14 tomou preso a um moço dos homens de Sucote, e o inquiriu; este lhe deu por escrito os nomes dos príncipes de Sucote, e dos seus anciãos, setenta e sete homens.
15 Então veio aos homens de Sucote, e disse: Eis aqui Zeba e Zalmuna, a respeito dos quais me escarnecestes, dizendo: Porventura já estão em teu poder as mãos de Zeba e Zalmuna, para que demos pão aos teus homens fatigados?
16 Nisso tomou os anciãos da cidade, e espinhos e abrolhos do deserto, e com eles deu uma severa lição aos homens de Sucote.
17 Também derrubou a torre de Penuel, e matou os homens da cidade.
18 Depois perguntou a Zeba e a Zalmuna: Como eram os homens que matastes em Tabor? E responderam eles: Qual és tu, tais eram eles; cada um parecia filho de rei.
19 Então disse ele: Eram meus irmãos, filhos de minha mãe; vive o Senhor, que se lhes tivésseis poupado a vida, eu não vos mataria.
20 E disse a Jeter, seu primogênito: Levanta-te, mata-os. O mancebo, porém, não puxou da espada, porque temia, porquanto ainda era muito moço.
21 Então disseram Zeba e Zalmuna: Levanta-te tu mesmo, e acomete-nos; porque, qual o homem, tal a sua força. Levantando-se, pois, Gideão, matou Zeba e Zalmuna, e tomou os crescentes que estavam aos pescoços dos seus camelos.
22 Então os homens de Israel disseram a Gideão: Domina sobre nós, assim tu, como teu filho, e o filho de teu filho; porquanto nos livraste da mão de Midiã.
23 Gideão, porém, lhes respondeu: Nem eu dominarei sobre vós, nem meu filho, mas o Senhor sobre vós dominará.
24 Disse-lhes mais Gideão: uma petição vos farei: dá-me, cada um de vós, as arrecadas do despojo. (Porque os inimigos tinham arrecadas de ouro, porquanto eram ismaelitas) .
25 Ao que disseram eles: De boa vontade as daremos. E estenderam uma capa, na qual cada um deles deitou as arrecadas do seu despojo.
26 E foi o peso das arrecadas de ouro que ele pediu, mil e setecentos siclos de ouro, afora os crescentes, as cadeias e as vestes de púrpura que os reis de Midiã trajavam, afora as correntes que os camelos traziam ao pescoço.
27 Disso fez Gideão um éfode, e o pôs na sua cidade, em Ofra; e todo o Israel se prostituiu ali após ele; e foi um laço para Gideão e para sua casa.
28 Assim foram abatidos os midianitas diante dos filhos de Israel, e nunca mais levantaram a cabeça. E a terra teve sossego, por quarenta anos nos dias de Gideão.
29 Então foi Jerubaal, filho de Joás, e habitou em sua casa.
30 Gideão teve setenta filhos, que procederam da sua coxa, porque tinha muitas mulheres.
31 A sua concubina que estava em Siquém deu-lhe também um filho; e pôs-lhe por nome Abimeleque.
32 Morreu Gideão, filho de Joás, numa boa velhice, e foi sepultado no sepulcro de seu pai Joás, em Ofra dos abiezritas.
33 Depois da morte de Gideão os filhos de Israel tornaram a se prostituir após os baalins, e puseram a Baal-Berite por deus.
34 Assim os filhos de Israel não se lembraram do Senhor seu Deus, que os livrara da mão de todos os seus inimigos ao redor;
35 nem usaram de beneficência para com a casa de Jerubaal, a saber, de Gideão, segundo todo o bem que ele havia feito a Israel.”. (Jz 8.1-35)


Juízes 9

“1 Abimeleque, filho de Jerubaal, foi a Siquém, aos irmãos de sua mãe, e falou-lhes, e a toda a parentela da casa de pai de sua mãe, dizendo:
2 Falai, peço-vos, aos ouvidos de todos os cidadãos de Siquém: Que é melhor para vós? que setenta homens, todos os filhos de Jerubaal, dominem sobre vós, ou que um só domine sobre vós? Lembrai-vos também de que sou vosso osso e vossa carne.
3 Então os irmãos de sua mãe falaram todas essas palavras a respeito dele aos ouvidos de todos os cidadãos de Siquém; e o coração deles se inclinou a seguir Abimeleque; pois disseram: E nosso irmão.
4 E deram-lhe setenta siclos de prata, da casa de Baal-Berite, com os quais alugou Abimeleque alguns homens ociosos e levianos, que o seguiram;
5 e foi à casa de seu pai, a Ofra, e matou a seus irmãos, os filhos de Jerubaal, setenta homens, sobre uma só pedra. Mas Jotão, filho menor de Jerubaal, ficou, porquanto se tinha escondido.
6 Então se ajuntaram todos os cidadãos de Siquém e toda a Bete-Milo, e foram, e constituíram rei a Abimeleque, junto ao carvalho da coluna que havia em Siquém.
7 Jotão, tendo sido avisado disso, foi e, pondo-se no cume do monte Gerizim, levantou a voz e clamou, dizendo: Ouvi-me a mim, cidadãos de Siquém, para que Deus: vos ouça a vós.
8 Foram uma vez as árvores a ungir para si um rei; e disseram à oliveira: Reina tu sobre nós.
9 Mas a oliveira lhes respondeu: Deixaria eu a minha gordura, que Deus e os homens em mim prezam, para ir balouçar sobre as árvores?
10 Então disseram as árvores à figueira: Vem tu, e reina sobre nós.
11 Mas a figueira lhes respondeu: Deixaria eu a minha doçura, o meu bom fruto, para ir balouçar sobre as árvores?
12 Disseram então as árvores à videira: Vem tu, e reina sobre nós.
13 Mas a videira lhes respondeu: Deixaria eu o meu mosto, que alegra a Deus e aos homens, para ir balouçar sobre as árvores?
14 Então todas as árvores disseram ao espinheiro: Vem tu, e reina sobre nós.
15 O espinheiro, porém, respondeu às árvores: Se de boa fé me ungis por vosso rei, vinde refugiar-vos debaixo da minha sombra; mas, se não, saia fogo do espinheiro, e devore os cedros do Líbano.
16 Agora, pois, se de boa fé e com retidão procedestes, constituindo rei a Abimeleque, e se bem fizestes para com Jerubaal e para com a sua casa, e se com ele usastes conforme o merecimento das suas mãos
17 (porque meu pai pelejou por vós, desprezando a própria vida, e vos livrou da mão de Midiã;
18 porém vós hoje vos levantastes contra a casa de meu pai, e matastes a seus filhos, setenta homens, sobre uma só pedra; e a Abimeleque, filho da sua serva, fizestes reinar sobre os cidadãos de Siquém, porque é vosso irmão);
19 se de boa fé e com retidão procedestes hoje para com Jerubaal e para com a sua casa, alegrai-vos em Abimeleque, e também ele se alegre em vós;
20 mas se não, saia fogo de Abimeleque, e devore os cidadãos de Siquém, e a Bete-Milo; e saia fogo dos cidadãos de Siquém e de Bete-Milo, e devore Abimeleque.
21 E partindo Jotão, fugiu e foi para Beer, e ali habitou, por medo de Abimeleque, seu irmão.
22 Havendo Abimeleque reinado três anos sobre Israel,
23 Deus suscitou um espírito mau entre Abimeleque e os cidadãos de Siquém; e estes procederam aleivosamente para com Abimeleque;
24 para que a violência praticada contra os setenta filhos de Jerubaal, como também o sangue deles, recaíssem sobre Abimeleque, seu irmão, que os matara, e sobre os cidadãos de Siquém, que fortaleceram as mãos dele para matar a seus irmãos.
25 E os cidadãos de Siquém puseram de emboscada contra ele, sobre os cumes dos montes, homens que roubavam a todo aquele que passava por eles no caminho. E contou-se isto a Abimeleque.
26 Também veio Gaal, filho de Ebede, com seus irmãos, e estabeleceu-se em Siquém; e confiaram nele os cidadãos de Siquém.
27 Saindo ao campo, vindimaram as suas vinhas, pisaram as uvas e fizeram uma festa; e, entrando na casa de seu deus, comeram e beberam, e amaldiçoaram a Abimeleque.
28 E disse Gaal, filho de Ebede: Quem é Abimeleque, e quem é Siquém, para que sirvamos a Abimeleque? não é, porventura, filho de Jerubaal? e não é Zebul o seu mordomo? Servi antes aos homens de Hamor, pai de Siquém; pois, por que razão serviríamos nós a Abimeleque?
29 Ah! se este povo estivesse sob a minha mão, eu transtornaria a Abimeleque. Eu lhe diria: Multiplica o teu exército, e vem.
30 Quando Zebul, o governador da cidade, ouviu as palavras de Gaal, filho de Ebede, acendeu-se em ira.
31 E enviou secretamente mensageiros a Abimeleque, para lhe dizerem: Eis que Gaal, filho de Ebede, e seus irmãos vieram a Siquém, e estão sublevando a cidade contra ti.
32 Levanta-te, pois, de noite, tu e o povo que tiveres contigo, e põe-te de emboscada no campo.
33 E pela manhã, ao nascer do sol, levanta-te, e dá de golpe sobre a cidade; e, saindo contra ti Gaal e o povo que tiver com ele, faze-lhe como te permitirem as circunstâncias.
34 Levantou-se, pois, de noite Abimeleque, e todo o povo que com ele havia, e puseram emboscadas a Siquém, em quatro bandos.
35 E Gaal, filho de Ebede, saiu e pôs-se à entrada da porta da cidade; e das emboscadas se levantou Abimeleque, e todo o povo que estava com ele.
36 Quando Gaal viu aquele povo, disse a Zebul: Eis que desce gente dos cumes dos montes. Respondeu-lhe Zebul: Tu vês as sombras dos montes como se fossem homens.
37 Gaal, porém, tornou a falar, e disse: Eis que desce gente do meio da terra; também vem uma tropa do caminho do carvalho de Meonenim.
38 Então lhe disse Zebul: Onde está agora a tua boca, com a qual dizias: Quem é Abimeleque, para que o sirvamos? Não é esse, porventura, o povo que desprezaste. Sai agora e peleja contra ele!
39 Assim saiu Gaal, à frente dos cidadãos de Siquém, e pelejou contra Abimeleque.
40 Mas Abimeleque o perseguiu, pois Gaal fugiu diante dele, e muitos caíram feridos até a entrada da porta.
41 Abimeleque ficou em Arumá. E Zebul expulsou Gaal e seus irmãos, para que não habitassem em Siquém.
42 No dia seguinte sucedeu que o povo saiu ao campo; disto foi avisado Abimeleque,
43 o qual, tomando o seu povo, dividiu-o em três bandos, que pôs de emboscada no campo. Quando viu que o povo saía da cidade, levantou-se contra ele e o feriu.
44 Abimeleque e os que estavam com ele correram e se puseram à porta da cidade; e os outros dois bandos deram de improviso sobre todos quantos estavam no campo, e os feriram.
45 Abimeleque pelejou contra a cidade todo aquele dia, tomou-a e matou o povo que nela se achava; e, assolando-a, a semeou de sal.
46 Tendo ouvido isso todos os cidadãos de Migdol-Siquém, entraram na fortaleza, na casa de El-Berite.
47 E contou-se a Abimeleque que todos os cidadãos de Migdol-Siquém se haviam congregado.
48 Então Abimeleque subiu ao monte Zalmom, ele e todo o povo que com ele havia; e, tomando na mão um machado, cortou um ramo de árvore e, levantando-o, pô-lo ao seu ombro, e disse ao povo que estava com ele: O que me vistes fazer, apressai-vos a fazê-lo também.
49 Tendo, pois, cada um cortado o seu ramo, seguiram a Abimeleque; e, pondo os ramos junto da fortaleza, queimaram-na a fogo com os que nela estavam; de modo que morreram também todos os de Migdol-Siquém, cerca de mil homens e mulheres.
50 Então Abimeleque foi a Tebez, e a sitiou e tomou.
51 Havia, porém, no meio da cidade uma torre forte, na qual se refugiaram todos os habitantes da cidade, homens e mulheres; e fechando após si as portas, subiram ao eirado da torre.
52 E Abimeleque, tendo chegado até a torre, atacou-a, e chegou-se à porta da torre, para lhe meter fogo.
53 Nisso uma mulher lançou a pedra superior de um moinho sobre a cabeça de Abimeleque, e quebrou-lhe o crânio.
54 Então ele chamou depressa o moço, seu escudeiro, e disse-lhe: Desembainha a tua espada e mata-me, para que não se diga de mim: uma mulher o matou. E o moço o traspassou e ele morreu.
55 Vendo, pois, os homens de Israel que Abimeleque já era morto, foram-se cada um para o seu lugar.
56 Assim Deus fez tornar sobre Abimeleque o mal que tinha feito a seu pai, matando seus setenta irmãos;
57 como também fez tornar sobre a cabeça dos homens de Siquém todo o mal que fizeram; e veio sobre eles a maldição de Jotão, filho de Jerubaal.” (Jz 9.1-57)

A apostasia de Israel depois da morte de Gideão é castigada, não como as apostasias anteriores por uma invasão estrangeira, mas por uma tirania do filho bastardo de Gideão, que destruiu os siquemitas, adoradores de Baal-Berite, depois de terem feito uma aliança entre si, para matarem vilmente os setenta filhos de Gideão, dos quais escapou apenas o caçula, chamado Jotão.
A aliança que eles haviam feito com Baal-Berite, que como vimos antes significa senhor da aliança, foi uma aliança maldita que causou a sua ruína, porque eram israelitas e deveriam manter a aliança que tinham feito com Jeová.
Este foi um modo muito amargo de se ensinar aos israelitas o que sucede aos que fazem aliança com Baal, e que viraram as suas costas ao único Deus verdadeiro. Deus não somente vingou a morte dos setenta filhos de Gideão, como vindicou Sua própria santidade nos siquemitas, que haviam se voltado para a adoração de Baal.
Ao que tudo indica, Gideão residia com seus filhos legítimos em Ofra, e como sua concubina morava em Siquém, o filho que tivera com ela, Abimeleque, era também residente nesta cidade.
Tendo Gideão recusado o convite para reger sobre Israel, e tendo vedado tal regência a qualquer um dos seus filhos, Abimeleque sentiu-se no direito de assumir o governo de Israel, uma vez que era também filho de Gideão, e para evitar que algum dos setenta filhos de Gideão, contrariando a decisão de seu pai, viesse a assumir o governo da nação, forjou um plano vil de matar a todos os seus irmãos, e o fez pagando um exército de mercenários levianos, que foram pagos com o dinheiro que lhe fora dado pelos siquemitas, dinheiro este retirado da casa de Baal-Berite, possivelmente com o intento de que o dinheiro que havia sido consagrado àquela divindade, desse a Abimeleque sucesso em seu empreendimento.  
 Como Siquém era uma cidade importante da tribo de Efraim, e como vimos antes, os efraimitas haviam se ressentido com Gideão, por não lhes ter convocado para lutar contra os midianitas, pois Gideão era da cidade de Ofra, que pertencia a outra tribo, a de Manassés, eles encontram agora oportunidade para dar um duro golpe na descendência de Gideão, através de uma aliança maldita que fizeram com Abimeleque, e isto foi facilitado porque desde a morte de Gideão, haviam se voltado para o culto a Baal, e como sabemos, tal a divindade, tais os seus adoradores.
Quando Jotão soube que os cidadãos de Siquém e de Bete-Milo haviam constituído a Abimeleque rei sobre Israel, ele proferiu uma parábola e uma maldição que se encontram nos versos 7 a 21, e que certamente lhes foram dadas por inspiração do Espírito Santo, e a maldição que ele proferiu teve cumprimento cabal tanto sobre Abimeleque quanto sobre os siquemitas.
A parábola revela a modéstia de Gideão e de seus filhos legítimos em recusarem o governo que lhes foi proposto pelos israelitas, apesar de serem pessoas habilitadas para exercer um bom governo; e a imodéstia e presunção de Abimeleque, que é o espinheiro da parábola, que se precipitou em assumir o governo de Israel, quando não tinha a menor qualificação moral para isto.
E assim como o fim do espinheiro é ser queimado, em razão da sua inutilidade e danos, que causa a outros, então, toda pessoa que é como um espinheiro, está sujeita à maldição, e o seu fim será ser queimada no fogo eterno do inferno.
Como, na parábola, o espinheiro veio a governar por assentimento das demais árvores, então que saísse fogo do espinheiro e as queimasse, e que o fogo das árvores também queimasse o espinheiro (v. 20), sendo isto uma clara referência a Abimeleque e aos cidadãos de Siquém e Bete-Milo que lhe haviam aclamado rei.
Depois de ter Abimeleque reinado três anos sobre Israel, Deus suscitou um mau espírito entre Abimeleque e os siquemitas com vistas a vingar a morte dos filhos de Gideão (v. 22, 23).
Os siquemitas começaram a ficar insatisfeitos com Abimeleque, e ele com eles, e isto procedia da parte de Deus, que permitiu que o diabo semeasse discórdia entre eles, pois nada dá ao diabo, maior prazer do que exercer o seu ministério corrompido de matar, roubar e destruir.
O mesmo diabo que aparentemente havia favorecido Abimeleque e os siquemitas conduzindo-os a uma posição de governo sobre Israel, por meio de um expediente extremamente vil, seria também o causador da destruição de Abimeleque e dos siquemitas.
E que isto sirva de alerta a todos os que se deixam usar por Satanás para prejudicarem a outros, porque no final eles próprios serão prejudicados pelo diabo, que não pode desejar o bem a qualquer homem, porque os odeia com um ódio mortal, e visa tão somente à sua destruição.
Por isso, nunca se nega a destruir a carne daqueles aos quais tal coisa lhe é permitida por Deus, para fim de juízo ou de correção, pois tem imenso prazer em fazer isto, e existe para isto, e para nenhum outro propósito, até que ele mesmo venha a receber a execução final da sentença que já foi pronunciada sobre ele, de queimar eternamente no lago de fogo e enxofre.
No caso de Saul é dito também que vinha sobre ele um espírito maligno da parte do Senhor, e isto significa ser permitido ao diabo que se apodere daqueles dos quais Deus retirou a Sua proteção, por andarem contrariamente com Ele e com a Sua vontade.
“Ora, o Espírito do Senhor retirou-se de Saul, e o atormentava um espírito maligno da parte do Senhor.” (I Sm 16.14).
Deus esperou três anos para começar a entregar a Abimeleque e os siquemitas à destruição.
Assim, ninguém se apresse em considerar que Deus não leva em conta o pecado, em razão de não ver juízos imediatos sendo exercidos sobre os seus praticantes.
Cabe destacar que conforme a Bíblia ensina, todos comparecerão diante dEle no tribunal em que cada um de nós prestará contas do bem ou do mal que tiver feito por meio do corpo (II Cor 5.10; Rom 14.10-12).
Se os siquemitas não foram gratos a Gideão, que lhes havia libertado do jugo dos midianitas, como seriam gratos a Abimeleque?
Porque não haveriam de traí-lo, já que haviam traído à memória de Gideão cooperando para matar toda a sua descendência?
Fazendo aliança com o mal nunca se poderá ter a garantia de cumprimento da promessa do bem.
Antes que Deus executasse o juízo de morte sobre Abimeleque, permitindo que fosse morto de modo desonroso pelas mãos de uma mulher, que lhe quebrou o crânio com uma pedra da parte superior de um moinho, Ele permitiu que Abimeleque destruísse os siquemitas, dando-se cumprimento à maldição proferida por Jotão, que dele sairia fogo e consumiria os siquemitas.
Ele pôs literalmente fogo na fortaleza de El-Berite, da cidade de Migdol-Siquém, onde seus habitantes haviam se refugiado (v. 49).
Eles foram mortos na casa do próprio deus que eles adoravam, julgando que ali estariam seguros, por pensarem que o seu deus viria em seu socorro.
Antes disso ele havia destruído uma insurreição dos habitantes de Siquém, que haviam colocado a um certo Gaal como cabeça deles, para derrubarem Abimeleque.
Seria a substituição intentada de um tirano por outro. E isto ocorreu para que conforme fora predito pela maldição proferida por Jotão, Abimeleque encontrasse ocasião para destruir os siquemitas.
Ele não estava portanto, prosperando em seus projetos e nem sendo abençoado por Deus, mas simplesmente sendo ele próprio o instrumento do juízo de Deus contra aqueles que lhe haviam conduzido ao poder, por meio da injustiça.
Muitos parecem prosperar neste mundo, quando prevalecem sobre seus inimigos, e no entanto, muitas vezes isto é apenas um juízo de Deus, que se cumpre pela instrumentalidade deles, até que eles próprios venham também a serem julgados.
Os ditadores sanguinários, têm geralmente o mesmo fim daqueles aos quais mataram a sangue-frio. Aquele que matar pela espada da injustiça, pela espada também será morto, e ainda que isto não se cumpra literalmente neste mundo, certamente, em face da falta de arrependimento para a vida, tal se cumprirá no juízo vindouro de Deus.
Abimeleque deixou a Zebul, que era seu confidente, como sendo o governante da cidade de Siquém, e este Zebul traiu a Gaal informando sobre suas intenções a Abimeleque.
Os que traem serão também traídos, de um modo ou de outro.
E Abimeleque derrotou as forças de Gaal, que saíram a lutar com seu exército fora dos muros da cidade de Siquém.
E como os siquemitas, apesar de terem abandonado a Gaal, permaneceram contrários a Abimeleque, este deu com tal fúria sobre a sua própria cidade natal de Siquém, que a transformou em ruínas, e para que ficasse na condição de uma assolação perpétua, fez com que fosse semeada com sal (v. 45).



Juízes 10

“1 Depois de Abimeleque levantou-se, para livrar a Israel, Tola, filho de Puva, filho de Dodó, homem de Issacar, que habitava em Samir, na região montanhosa de Efraim.
2 Ele julgou a Israel vinte e três anos; e morreu, e foi sepultado em Samir.
3 Depois dele levantou-se Jair, gileadita, que julgou a Israel vinte e dois anos.
4 Ele tinha trinta filhos, que cavalgavam sobre trinta jumentos; e tinham estes trinta cidades, que se chamam Havote-Jair, até a dia de hoje, as quais estão na terra de Gileade.
5 Morreu Jair, e foi sepultado em Camom.
6 Então tornaram os filhos de Israel a fazer o que era mau aos olhos do Senhor, e serviram aos baalins, e às astarotes, e aos deuses da Síria, e aos de Sidom, e de Moabe, e dos amonitas, e dos filisteus; e abandonaram o Senhor, e não o serviram.
7 Pelo que a ira do Senhor se acendeu contra Israel, e ele os vendeu na mão dos filisteus e na mão dos amonitas,
8 os quais naquele mesmo ano começaram a vexá-los e oprimi-los. Por dezoito anos oprimiram a todos os filhos de Israel que estavam dalém do Jordão, na terra dos amorreus, que é em Gileade.
9 E os amonitas passaram o Jordão, para pelejar também contra Judá e Benjamim, e contra a casa de Efraim, de maneira que Israel se viu muito angustiado.
10 Então os filhos de Israel clamaram ao Senhor, dizendo: Pecamos contra ti, pois abandonamos o nosso Deus, e servimos aos baalins.
11 O Senhor, porém, respondeu aos filhos de Israel: Porventura não vos livrei eu dos egípcios, dos amorreus, dos amonitas e dos filisteus?
12 Também os sidônios, os amalequitas e os maonitas vos oprimiram; e, quando clamastes a mim, não vos livrei da sua mão?
13 Contudo vós me deixastes a mim e servistes a outros deuses, pelo que não vos livrarei mais.
14 Ide e clamai aos deuses que escolhestes; que eles vos livrem no tempo da vossa angústia.
15 Mas os filhos de Israel disseram ao Senhor: Pecamos; faze-nos conforme tudo quanto te parecer bem; tão-somente te rogamos que nos livres hoje.
16 E tiraram os deuses alheios do meio de si, e serviram ao Senhor, que se moveu de compaixão por causa da desgraça de Israel.
17 Depois os amonitas se reuniram e acamparam em Gileade; também os filhos de Israel, reunindo-se, acamparam em Mizpá.
18 Então o povo, isto é, os príncipes de Gileade disseram uns aos outros: Quem será o varão que começará a peleja contra os amonitas? esse será o chefe de todos os habitantes de Gileade.” (Jz 10.1-18)

      Neste capítulo nós temos o relato dos tempos pacíficos que Israel desfrutou debaixo do governo de dois juízes, Tola, que julgou por 23 anos, e Jair, por 22 anos. Este Jair era um gileadita, isto é um habitante da Transjordânia, onde haviam se fixado as tribos de Rúben, Gade e Manassés, e onde habitavam ao Sul deste território os amonitas.
Depois dos dias de Jair, tendo os israelitas voltado à idolatria, os amonitas e os filisteus passaram a oprimir a Israel, sendo que os amonitas subiram pela Transjordânia, e oprimiram a todos os israelitas daquele território por dezoito anos, e partindo dali passaram para o outro lado do Jordão, onde foram lutar contra Judá, Benjamim e Efraim (v.9).
Em face de tal opressão, os israelitas clamaram ao Senhor por livramento, e Ele protestou contra a sua infidelidade, e lhes recordou que já havia livrado Israel por diversas vezes, e eles sempre lhe voltavam as costas, servindo a outros deuses, que clamassem portanto aos falsos deuses que serviam para que os livrassem.
Entretanto, eles persistiram em seu clamor e fizeram mais do que clamar, pois reconheceram o seu pecado diante de Deus, e tiraram do meio deles os falsos deuses e passaram a servir ao Senhor, e como demonstraram com isto um verdadeiro arrependimento, Deus se compadeceu deles mais uma vez, por causa da desgraça em que se encontravam (v. 16).

E tendo os amonitas acampado em Gileade, os israelitas se reuniram em Mizpá onde os príncipes de Gileade decidiram que o homem que os liderasse na luta contra os amonitas seria conduzido à posição de governante deles. Com isto, nós temos uma introdução à história de Jefté, que será narrada nos dois capítulos seguintes, homem sobre o qual o Senhor colocou o Seu Espírito (11.29), para libertar por meio dele, os israelitas da opressão dos amonitas.



Juízes 11

“1 Era então Jefté, o gileadita, homem valoroso, porém filho duma prostituta; Gileade era o pai dele.
2 Também a mulher de Gileade lhe deu filhos; quando os filhos desta eram já grandes, expulsaram a Jefté, e lhe disseram: Não herdarás na casa de nosso pai, porque és filho de outra mulher.
3 Então Jefté fugiu de diante de seus irmãos, e habitou na terra de Tobe; e homens levianos juntaram-se a Jefté, e saiam com ele.
4 Passado algum tempo, os amonitas fizeram guerra a Israel.
5 E, estando eles a guerrear contra Israel, foram os anciãos de Gileade para trazer Jefté da terra de Tobe,
6 e lhe disseram: Vem, sê o nosso chefe, para que combatamos contra os amonitas.
7 Jefté, porém, perguntou aos anciãos de Gileade: Porventura não me odiastes, e não me expulsastes da casa de meu pai? por que, pois, agora viestes a mim, quando estais em aperto?
8 Responderam-lhe os anciãos de Gileade: É por isso que tornamos a ti agora, para que venhas conosco, e combatas contra os amonitas, e nos sejas por chefe sobre todos os habitantes de Gileade.
9 Então Jefté disse aos anciãos de Gileade: Se me fizerdes voltar para combater contra os amonitas, e o Senhor mos entregar diante de mim, então serei eu o vosso chefe.
10 Responderam os anciãos de Gileade a Jefté: O Senhor será testemunha entre nós de que faremos conforme a tua palavra.
11 Assim Jefté foi com os anciãos de Gileade, e o povo o pôs por cabeça e chefe sobre si; e Jefté falou todas as suas palavras perante o Senhor em Mizpá.
12 Depois Jefté enviou mensageiros ao rei dos amonitas, para lhe dizerem: Que há entre mim e ti, que vieste a mim para guerrear contra a minha terra?
13 Respondeu o rei dos amonitas aos mensageiros de Jefté: É porque Israel, quando subiu do Egito, tomou a minha terra, desde o Arnom até o Jaboque e o Jordão; restitui-me, pois, agora essas terras em paz.
14 Jefté, porém, tornou a enviar mensageiros ao rei dos amonitas,
15 dizendo-lhe: Assim diz Jefté: Israel não tomou a terra de Moabe, nem a terra dos amonitas;
16 mas quando Israel subiu do Egito, andou pelo deserto até o Mar Vermelho, e depois chegou a Cades;
17 dali enviou mensageiros ao rei de Edom, a dizer-lhe: Rogo-te que me deixes passar pela tua terra. Mas o rei de Edom não lhe deu ouvidos. Então enviou ao rei de Moabe, o qual também não consentiu; e assim Israel ficou em Cades.
18 Depois andou pelo deserto e rodeou a terra de Edom e a terra de Moabe, e veio pelo lado oriental da terra de Moabe, e acampou além do Arnom; porém não entrou no território de Moabe, pois o Arnom era o limite de Moabe.
19 E Israel enviou mensageiros a Siom, rei dos amorreus, rei de Hesbom, e disse-lhe: Rogo-te que nos deixes passar pela tua terra até o meu lugar.
20 Siom, porém, não se fiou de Israel para o deixar passar pelo seu território; pelo contrário, ajuntando todo o seu povo, acampou em Jaza e combateu contra Israel.
21 E o Senhor Deus de Israel entregou Siom com todo o seu povo na mão de Israel, que os feriu e se apoderou de toda a terra dos amorreus que habitavam naquela região.
22 Apoderou-se de todo o território dos amorreus, desde o Arnom até o Jaboque, e desde o deserto até o Jordão.
23 Assim o Senhor Deus de Israel desapossou os amorreus de diante do seu povo de Israel; e possuirias tu esse território?
24 Não possuirias tu o território daquele que Quemós, teu deus, desapossasse de diante de ti? assim possuiremos nós o território de todos quantos o Senhor nosso Deus desapossar de diante de nós.
25 Agora, és tu melhor do que Balaque, filho de Zipor, rei de Moabe? ousou ele jamais contender com Israel, ou lhe mover guerra?
26 Enquanto Israel habitou trezentos anos em Hesbom e nas suas vilas, em Aroer e nas suas vilas em todas as cidades que estão ao longo do Arnom, por que não as recuperaste naquele tempo?
27 Não fui eu que pequei contra ti; és tu, porém, que usas de injustiça para comigo, fazendo-me guerra. O Senhor, que é juiz, julgue hoje entre os filhos de Israel e os amonitas.
28 Contudo o rei dos amonitas não deu ouvidos à mensagem que Jefté lhe enviou.
29 Então o Espírito do Senhor veio sobre Jefté, de modo que ele passou por Gileade e Manassés, e chegando a Mizpá de Gileade, dali foi ao encontro dos amonitas.
30 E Jefté fez um voto ao Senhor, dizendo: Se tu me entregares na mão os amonitas,
31 qualquer que, saindo da porta de minha casa, me vier ao encontro, quando eu, vitorioso, voltar dos amonitas, esse será do Senhor; eu o oferecerei em holocausto.
32 Assim Jefté foi ao encontro dos amonitas, a combater contra eles; e o Senhor lhos entregou na mão.
33 E Jefté os feriu com grande mortandade, desde Aroer até chegar a Minite, vinte cidades, e até Abel-Queramim. Assim foram subjugados os amonitas pelos filhos de Israel.
34 Quando Jefté chegou a Mizpá, à sua casa, eis que a sua filha lhe saiu ao encontro com adufes e com danças; e era ela a filha única; além dela não tinha outro filho nem filha.
35 Logo que ele a viu, rasgou as suas vestes, e disse: Ai de mim, filha minha! muito me abateste; és tu a causa da minha desgraça! pois eu fiz, um voto ao Senhor, e não posso voltar atrás.
36 Ela lhe respondeu: Meu pai, se fizeste um voto ao Senhor, faze de mim conforme o teu voto, pois o Senhor te vingou dos teus inimigos, os filhos de Amom.
37 Disse mais a seu pai: Concede-me somente isto: deixa-me por dois meses para que eu vá, e desça pelos montes, chorando a minha virgindade com as minhas companheiras.
38 Disse ele: Vai. E deixou-a ir por dois meses; então ela se foi com as suas companheiras, e chorou a sua virgindade pelos montes.
39 E sucedeu que, ao fim dos dois meses, tornou ela para seu pai, o qual cumpriu nela o voto que tinha feito; e ela não tinha conhecido varão. Daí veio o costume em Israel,
40 de irem as filhas de Israel de ano em ano lamentar por quatro dias a filha de Jefté, o gileadita.” (Jz 11.1-40).

Este capítulo é iniciado com a afirmação de que Jefté era um homem valoroso, apesar de ser filho de uma meretriz.
Seu pai o criou na casa de sua esposa, com a qual tivera outros filhos, e estes expulsaram Jefté, quando já eram grandes, sob o argumento de que não herdaria juntamente com eles, em razão de ser filho de uma outra mulher (v.2).
Mas o tempo que Jefté permaneceu em Gileade, antes de ir residir em Tobe, depois de ter sido expulso por seus irmãos, foi o bastante para que os príncipes de Israel reconhecessem o seu valor e coragem, de modo que ao tempo em que os amonitas declararam guerra aos israelitas, e acamparam em Gileade, conforme vimos no capítulo anterior, Jefté foi chamado de volta para ser o seu general, na guerra que teriam que empreender contra os amonitas, e para incentivá-lo a aceitar o convite, determinaram que caso obtivesse vitória, seria feito governante de toda Gileade.
No verso 9, Jefté revela na pergunta que fez aos anciãos de Gileade, que ele era um homem de fé, conforme se testifica dele na galeria dos heróis da fé em Hb 11.32, pois considerou que sua vitória sobre os amonitas somente poderia ocorrer caso o Senhor os entregasse nas suas mãos.
É dito no verso 11 que Jefté falou todas as suas palavras perante o Senhor em Mizpá, e ele demonstra não apenas ter o temor de Deus como um grande conhecimento da Lei de Moisés, pois nos argumentos que apresentou aos amonitas do direito de posse dos israelitas sobre o território de Gileade, que estava sendo contestado pelos amonitas, e que segundo eles era o motivo da guerra que pretendiam fazer contra Israel, ele não estruturou a sua defesa em termos de mera diplomacia política, mas extraindo e expondo com exatidão todos os seus argumentos simplesmente da Palavra de Deus.
É realmente uma pena, que hoje, quando a revelação de Deus em Sua Palavra está completa e fechada há mais de dois mil anos, que muitos ministros do evangelho usem do púlpito para exporem política, sociologia, psicologia, filosofia, e toda sorte de argumentos mundanos, em vez de aplicarem a simples e direta Palavra de Deus.
Muitos se recusam a ministrarem o evangelho ou o misturam com aquilo que é do mundo e não de Deus, e com isso cometem um pecado ainda maior, porque misturam veneno ao que é puro, aquilo que é vil ao que é precioso, e o Senhor não terá por inocente, de modo algum, a todo aquele que pratica tais coisas, pois como diz o apóstolo Paulo, que caso ele próprio ou mesmo um anjo do céu, adulterasse o único e verdadeiro evangelho, ele ou o anjo ficariam sujeitos a serem amaldiçoados por Deus.
Veja que Paulo inclui a si mesmo, e isto aponta para o fato de que os próprios crentes autênticos, que não estão mais debaixo da maldição da lei, para efeito de condenação eterna, porque foram resgatados de tal maldição por Cristo, no entanto, não estão livres de serem visitados com juízos de Deus, quando deliberadamente adulteram a Sua Palavra, tal como ocorreu com Himeneu, Fileto e Alexandre, que foram entregues pelo apóstolo Paulo a Satanás, porque estavam afirmando coisas contrárias à verdadeira Palavra de Deus.
Estes eram da fé, mas vieram a naufragar na fé, isto é, a se desviarem da verdade, por terem rejeitado uma boa consciência, que pode ser forjada somente pela verdade revelada na Bíblia:
“mantendo fé e boa consciência, porquanto alguns, tendo rejeitado a boa consciência, vieram a naufragar na fé. E dentre esses se contam Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para serem castigados, a fim de não mais blasfemarem.” (I Tim 1.19,20).
“Procura apresentar-te a Deus, aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade. Evita igualmente os falatórios inúteis e profanos, pois os que deles usam passarão a impiedade ainda maior. Além disso a linguagem deles corrói como câncer; entre os quais se incluem Himeneu e Fileto. Estes se desviaram da verdade, asseverando que a ressurreição já se realizou, e estão pervertendo a fé a alguns.” (II Tim 2.15-18).
Que sejamos então como Jefté, combatendo o bom combate da fé com os argumentos de Deus, e não com os argumentos do mundo, a bem de nossa própria saúde espiritual e a dos nossos ouvintes.
 E que tenhamos também o mesmo espírito magnânimo dele, que sendo um homem valoroso, corajoso, procurou antes evitar derramamento de sangue na guerra contra os amonitas, pois não havia uma ordem de extermínio em relação a eles, na Palavra de Deus, como havia em relação às nações de Canaã, porque eram da descendência de Ló.
E Gideão procurou fazer valer a Palavra de Deus também neste aspecto, e procurou antes de entrar em luta com eles, conhecer as razões da declaração de guerra que estavam fazendo, para que, sendo contornáveis, se evitasse com isso derramamento de sangue de ambas as partes. No entanto, a alegação imprópria dos amonitas de que os territórios ocupados por Israel lhes pertenciam, recebeu como resposta as razões do direito divino que concedeu a Israel a posse daquelas terras, e não tendo os amonitas dado qualquer atenção à resposta de Jefté, não restou outra alternativa, senão a da guerra.
No que depender do crente lhe é ordenado que tenha paz com todos.
Ele deve ser um pacificador. Deve ser um guerreiro diante de Deus em prol da causa da paz. E se houver guerra, que isto nunca ocorra por ter o próprio crente lhe dado causa.
Pela sua atitude Jefté demonstrou que apesar de ser um homem valoroso e corajoso, estava dotado de um espírito nobre e não tinha nenhum prazer na guerra, e tal deve ser a obra do Espírito Santo em todos os crentes, para que sejam Jeftés de Deus. E cabe destacar que também nisto, Jefté estava agindo de acordo com a direção contida na Palavra de Deus, que ensina que antes de Israel entrar em guerra com alguma nação, deveria antes, oferecer condições para o estabelecimento da paz (Dt 20.0).
A própria região de Gileade cuja posse pelos israelitas estava sendo contestada agora pelos amonitas, mais de trezentos anos depois de Moisés, quando ele a conquistou, fora também objeto deste princípio estabelecido por Deus, porque a causa da guerra havida com Ogue e Seom, reis de Basã e de Hesbom, foi exatamente por terem rejeitado a oferta de paz que Moisés lhes fizera, para que passasse pelos seus territórios rumo a Canaã (Dt 2.26,27).
Jefté estava sendo pois guiado por um senso de justiça, e não de justiça própria, mas da verdadeira justiça, que é baseada na Palavra de Deus, e este mesmo senso deveria ser cultivado por todos os crentes, porque é isto que lhes é ordenado, pois se diz na Bíblia que devem buscar o reino de Deus e a sua justiça, e que devem ser agora não mais servos do pecado, mas da justiça.
Dos versos 29 ao 40 nós temos o relato do voto que Jefté fizera quando foi enviado pelo Espírito Santo a guerrear contra os amonitas: ele se compromissou com Deus a dar a  primeira pessoa de sua casa que lhe viesse ao encontro depois de ser bem sucedido na guerra contra os amonitas, como oferta ao Senhor (v. 31), e a Bíblia no original hebraico registra a palavra olah, que significa sacrifício queimado.
A alegria de Jefté pela vitória que Deus lhe deu sobre os amonitas foi seguida por uma grande aflição em razão de seu voto precipitado, pois a primeira pessoa de sua casa que veio ao seu encontro não foi nenhum dos seus muitos servos, como ele talvez imaginou que seria provavelmente o que ocorreria, mas justamente a sua única filha, e além dela, não tinha nenhum outro filho. E tendo ficado grandemente transtornado e abatido disse que tinha sido ela a causa da sua desgraça, em razão do voto que fizera.
E a moça, submissa à vontade de Deus e a seu pai o encoraja a cumprir o voto que fizera, apesar de ter sido ela o objeto do citado voto.
Quando lemos esta passagem, também nos abatemos e nos comovemos, seja qual tenha sido o teor real daquele voto, se era para dedicação total ao Senhor, em vida, sem estar ligado a nenhum outro compromisso senão ao de servir exclusivamente a Deus no tabernáculo, que pensamos seja o mais provável, em razão de ter a moça chorado a sua virgindade, já que não poderia mais contrair matrimônio, em razão do voto que seu pai fizera, ou por outro lado, se houve de fato uma oferta literal de seu corpo a Deus, sendo queimado como sacrifício, o que consideramos improvável, principalmente em razão do grande conhecimento da Lei de Moisés, demonstrado por Jefté, e ele sabia da proibição expressa de os israelitas oferecerem seus filhos como sacrifícios a divindades, e não havia na lei nenhum respaldo para a apresentação de sacrifícios humanos a Deus, e caso ele aceitasse o voto de Jefté, caso direcionado neste sentido, estaria abrindo um precedente para tal prática em Israel.
“Não oferecerás a Moloque nenhum dos teus filhos, fazendo-o passar pelo fogo; nem profanarás o nome de teu Deus. Eu sou o Senhor.” (Lev 18.21).
“Também dirás aos filhos de Israel: Qualquer dos filhos de Israel, ou dos estrangeiros peregrinos em Israel, que der de seus filhos a Moloque, certamente será morto; o povo da terra o apedrejará. Eu porei o meu rosto contra esse homem, e o extirparei do meio do seu povo; porquanto deu de seus filhos a Moloque, assim contaminando o meu santuário e profanando o meu santo nome.” (Lev 20.2,3).
Veja que a oferta de um holocausto humano, ainda que direcionado a uma divindade falsa, seria considerado por Deus como uma profanação do tabernáculo e do seu santo nome.
Somente o próprio Deus poderia ordenar um tal sacrifício, e nós vemos no pedido que ele fizera a Abraão de oferecer a Isaque como holocausto, que Ele não recuara no pedido, mas apresentou a Abraão um substituto para Isaque, um cordeiro que estava próximo dele no monte Moriá, local onde Jesus seria oferecido em sacrifício no futuro.
Assim, o único sacrifício humano aceitável a Deus seria o do Seu próprio filho, para morrer no lugar dos pecadores, e jamais, mesmo a título de figura, tipo, ilustração deste sacrifício, poderia ter aceito um holocausto humano.
Se Jefté chegou a fazê-lo, ele o fizera como um ato conseqüente da sua precipitação e por sua própria conta, e não porque aquilo lhe seria exigido da parte de Deus como cumprimento de um voto que o Senhor define como profanação do Seu santuário e do Seu santo nome.
Em termos grosseiros seria o mesmo que alguém fizesse um voto dizendo que caso Deus o atendesse em sua petição ele iria se prostituir. Como Deus que é santo e  justo poderia cobrar e exigir o cumprimento de um tal voto?
Então não podemos conceber de modo algum que ainda que Jefté tenha determinado oferecer a Deus uma pessoa de sua casa em holocausto, queimando-a sobre um altar, jamais o Senhor teria participação e consentimento nisto. Muito pelo contrário, jamais aprovaria um tal ato, conforme aprendemos em Sua própria Palavra, pois nenhum sacrifício humano pode satisfazer à Sua justiça, senão o sacrifício de Jesus, que não somente a satisfaz como também é o único que poderia satisfazê-la, para que os pecadores pudessem ser reconciliados com Ele.
Fechamos este argumento com a citação de Jer 32.35: “Também edificaram os altos de Baal, que estão no vale do filho de Hinom, para fazerem passar seus filhos e suas filhas pelo fogo a Moloque; o que nunca lhes ordenei, nem me passou pela mente, que fizessem tal abominação, para fazerem pecar a Judá.”.
Veja que Deus diz que isto nunca foi ordenado por ele, e nem sequer passou pela Sua mente que fizessem tal abominação, revelando a Sua completa aversão à prática de se oferecer pessoas em sacrifício.


 Temos portanto o pensamento de que o voto de Jefté teve o mesmo caráter do voto que Ana fizera em relação ao profeta Samuel, em razão, como afirmamos antes, do conhecimento que Jefté tinha da lei de Deus e do seu caráter magnânimo, que como vimos antes não o dispunha a ser tão insensível para com a vida humana, pois antes de guerrear com os amonitas procurou estabelecer condições de paz, para evitar derramamento de sangue.



Juízes 12

“1 Então os homens de Efraim se congregaram, passaram para Zafom e disseram a Jefté: Por que passaste a combater contra os amonitas, e não nos chamaste para irmos contigo? Queimaremos a fogo a tua casa contigo.
2 Disse-lhes Jefté: Eu e o meu povo tivemos grande contenda com os amonitas; e quando vos chamei, não me livrastes da sua mão.
3 Vendo eu que não me livráveis, arrisquei a minha vida e fui de encontro aos amonitas, e o Senhor mos entregou nas mãos; por que, pois, subistes vós hoje para combater contra mim?
4 Depois ajuntou Jefté todos os homens de Gileade, e combateu contra Efraim, e os homens de Gileade feriram a Efraim; porque este lhes dissera: Fugitivos sois de Efraim, vós gileaditas que habitais entre Efraim e Manassés.
5 E tomaram os gileaditas aos efraimitas os vaus do Jordão; e quando algum dos fugitivos de Efraim dizia: Deixai-me passar; então os homens de Gileade lhe perguntavam: És tu efraimita? E dizendo ele: Não;
6 então lhe diziam: Dize, pois, Chibolete; porém ele dizia: Sibolete, porque não o podia pronunciar bem. Então pegavam dele, e o degolavam nos vaus do Jordão. Caíram de Efraim naquele tempo quarenta e dois mil.
7 Jefté julgou a Israel seis anos; e morreu Jefté, o gileadita, e foi sepultado numa das cidades de Gileade.
8 Depois dele julgou a Israel Ibzã de Belém.
9 Tinha este trinta filhos, e trinta filhas que casou fora; e trinta filhas trouxe de fora para seus filhos. E julgou a Israel sete anos.
10 Morreu Ibzã, e foi sepultado em Belém.
11 Depois dele Elom, o zebulonita, julgou a Israel dez anos.
12 Morreu Elom, o zebulonita, e foi sepultado em Aijalom, na terra de Zebulom.
13 Depois dele julgou a Israel Abdom, filho de Hilel, o piratonita.
14 Tinha este quarenta filhos e trinta netos, que cavalgavam sobre setenta jumentos. E julgou a Israel oito anos.
15 Morreu Abdom, filho de Hilel, o piratonita, e foi sepultado em Piratom, na terra de Efraim, na região montanhosa dos amalequitas. (Jz 12.1-15).

Tantas foram as iniqüidades de Efraim, contra a justiça de Deus, como a que vemos no início deste capitulo, e as narradas nos capítulos anteriores, e bem como as muitas que são descritas em todo o período da história de Israel, que Deus pronunciou uma sentença final contra eles, como lemos em Is 7.8, e em muitas outras passagens da Bíblia, pois de fato, tendo sido levado em cativeiro pelos assírios, com as demais tribos do Reino do Norte, diferentemente de Judá que foi levado para o cativeiro babilônico, perderam a sua nacionalidade pela forma de os assírios agirem contra as nações dominadas, porque dissolviam as famílias e enviavam as pessoas para diferentes nações, onde se aculturavam com o passar do tempo, vindo a perder a sua identidade cultural primitiva.
“Pois a cabeça da Síria é Damasco, e o cabeça de Damasco é Rezim; e dentro de sessenta e cinco anos Efraim será quebrantado, e deixará de ser povo.” (Is 7.8).
“E eu vos lançarei da minha presença, como lancei todos os vossos irmãos, toda a linhagem de Efraim.” (Jer 7.15).
“Quanto a Efraim, ele se mistura com os povos; Efraim é um bolo que não foi virado.” (Os 7.8).
“Efraim me cercou com mentira, e a casa de Israel com engano; mas Judá ainda domina com Deus, e com o Santo está fiel.” (Os 11.12)
Gideão era da meia tribo de Manassés de Canaã, e Jefté da outra meia tribo de Manassés da Transjordânia. E a tribo de Efraim, sendo irmã consangüínea deles, transformou em maldição, a bênção de Jacó em relação a eles, que lhes deu a primazia sobre Manassés, dizendo que seria maior do que ele, apesar de Manassés ser o filho primogênito de José,  porque se deixaram dominar pelo orgulho e pela inveja contra o seu irmão, não admitindo que Manassés fosse também abençoado e usado por Deus.
Mais uma vez, como haviam feito com Gideão, chegando ao extremo da ação dos siquemitas que destruíram seus setenta filhos, eles agora se levantam também contra Jefté com um desgosto irracional, orgulhoso e invejoso protestando contra ele e o ameaçando de morte e à sua casa por não lhes ter dado participação no despojo da vitória contra os amonitas.
Eles se recusaram a ajudá-lo e agora mentem dizendo que não foram chamados por ele para guerrear contra os amonitas.
A profecia de Jacó se cumpriu em Efraim porque eles viriam a ser a cabeça das dez tribos do Reino do Norte, cuja capital era Samaria, na tribo de Efraim, mas eles fizeram da sua grandeza uma causa para virarem as costas para Deus, em quase toda a longa história de Israel, entregando-se à idolatria ao bezerro que foi introduzida logo pelo primeiro rei deles, Jeroboão I, e que permaneceu até que fossem levados em cativeiro pela Assíria.
O orgulho é a causa da ruína de muitos ministros do evangelho, que sendo fortalecidos e engrandecidos por Deus, deixam-se dominar pelo orgulho espiritual e começam a estabelecer o seu próprio reino, em vez de permanecerem humildes diante do Senhor, tributando toda honra e glória a Ele, pelo sucesso alcançado em seus ministérios.
Assim, eles se fazem como Efraim, encontrando na sua própria grandeza, e nas bênçãos que receberam de Deus, a causa da sua ruína, por se deixarem dominar pelo pecado do orgulho e da vaidade.
O resultado da desaprovação do Senhor, pela ação injusta dos efraimitas contra Jefté foi a de ter dado a este filho de Manasses, vitória na guerra que empreendeu contra estes seus irmãos.
Mas nem com isso aprenderam a caminhar humildemente com o Seu Deus, e isto nós podemos ver ao longo de toda a história de Israel.
Deus os amava como a todos os demais israelitas, e os distinguiu ainda na pessoa do seu patriarca, o filho de José, a quem Deus abençoou através da profecia de Jacó.
Eles devem ter considerado ser pouca coisa o terem sido colocados acima de seu irmão Manassés, porque em vez de amá-lo e serem um com ele, ao contrário, em sua grandeza e força, pretendiam subjugá-lo.
Não é portanto, coisa incomum se ver na Igreja, ministros cujos ministérios foram confirmados e engrandecidos por Deus, procurando destruir e perseguir a outros ministros, que não admitem que sejam também abençoados pelo Senhor em seus ministérios, ainda que menos do que eles, e para a própria bênção deles e do povo que dirigem.
É a inveja espiritual que produz estas coisas. Em vez disso eles deveriam lutar como um só corpo, como de fato são, pela fé evangélica, como é do propósito do Senhor, que orou pela unidade do corpo de fiéis.      
A inveja matará mais do que a espada, e será sempre sábio nos guardarmos dela por um andar em humildade na presença do Senhor, sabendo que devemos nos comparar sempre com Ele próprio, para estarmos conscientes da nossa imensa pequenez, ainda que cresçamos muito, por meio da Sua graça.
Nunca devemos nos comparar com outras pessoas, pelo risco de não podermos considerá-las superiores a nós mesmos, por motivo da graça de Deus, que for concedida a elas, tanto quanto ou menos do que tenha sido concedida a nós.
A honra a quem é devido honra não é somente àqueles que estejam constituídos formalmente como autoridade sobre nós, mas a todos aqueles que servem fielmente ao Senhor, e assim, Jefté deveria ser honrado pelos efraimitas e não perseguido por eles, porque havia servido fielmente a Deus, e este serviço fiel havia livrado os próprios efraimitas dos amonitas, que intentavam também guerrear contra eles.
Eles não deram a Jefté a honra que lhe era devida, e nisto pecaram grandemente contra o Senhor.
“Recebei-o, pois, no Senhor com todo o gozo, e tende em honra a homens tais como ele; porque pela obra de Cristo chegou até as portas da morte, arriscando a sua vida para suprir-me o que faltava do vosso serviço.” (Fp 2.29,30).
O fato de Deus estar usando a muitos em seu serviço é motivo para nossa alegria e não tristeza.
O fato de um irmão estar sendo honrado por Ele é também motivo para nossa alegria, e não para que seja despertada em nós a inveja.
A carne é fraca, e por isso nos é ordenado que vigiemos e oremos em todo o tempo para não cairmos em tentação.
A tentação ao orgulho e à inveja é a mais comum entre nós, e a mais perigosa, porque através dela podemos ser corroídos pela amargura, pelo ódio, pelo ressentimento, pela indiferença, e assim sermos arruinados espiritualmente.
Tal era o pecado de Efraim, que Deus permitiu que pelas mãos dos seus próprios irmãos da tribo de Manassés, fossem mortos quarenta e dois mil efraimitas (v.6). E tal foi a devastação feita naquela tribo, que por muito tempo se viram impedidos de fazer qualquer retaliação a toda aquela matança, que inclusive se estendeu aos que tentavam fugir através do Jordão, e que eram identificados pelo artifício de se lhes ordenar que pronunciassem a palavra chibolete, que eles não conseguiam pronunciar com som de “x”, senão de “s”, e por isso diziam sibolete e sendo identificados como efraimitas eram mortos pelos gileaditas.
O orgulho de Efraim foi abatido pela justiça de Deus.
Eles se gloriavam em ser uma grande tribo, e agora estavam drasticamente reduzidos.
Isto sucede também com os ministros orgulhosos, porque o Senhor os abaterá das elevadas alturas em que se colocam a si mesmos, para que retornem à humildade necessária à continuação do recebimento da verdadeira graça da parte de Deus, porque Ele a concede somente aos humildes, e aos orgulhosos se coloca em ordem de batalha contra eles, como se pode ver neste caso específico relatado na Bíblia, para nossa advertência e ensino.
Os efraimitas haviam tentado desprezar os gileaditas dizendo que eles não passavam de fugitivos de Efraim (v. 4), e eles acabaram sendo fugitivos na prática, vítimas da própria arrogância de suas palavras e sentimento de superioridade.
A medida com que medirmos também nos medirá. Isto foi ensinado pelo próprio Jesus, e é uma lei espiritual que sempre se cumprirá.
Se semearmos ventos colheremos tempestades. Se semearmos o amor colheremos o bem. Aquilo que o homem semear, isto ele colherá.

Nos versos 8 a 15 são apresentados os governos curtos de mais três juízes de Israel, depois de Jefté, o primeiro, Ibzã, de Belém, da tribo de Judá, que julgou sete anos (v. 8-10), o segundo, Elom, da tribo de Zebulom, que julgou dez anos (v.11), e o terceiro, Abdom, da tribo de Efraim, que julgou oito anos (v. 13-15).



Juízes 13

Sansão – Parte 1

 O 13º capítulo do livro de Juízes relata o começo da história de Sansão, o último dos juízes de Israel, antes de Eli, que é citado no livro de I Samuel.
As passagens relacionadas a Sansão são, do início ao fim, muito surpreendentes e incomuns.
Sua história é realmente extraordinária, e bastante diferente dos seus antecessores.
Nós nunca o achamos à testa de qualquer tribunal, ou de um exército, nunca no trono de julgamento, nem no campo de batalha, contudo, em sua própria pessoa, ele foi um grande patriota, e um açoite terrível para os seus inimigos.
Ele é citado na galeria dos heróis da fé no livro de Hebreus (Hb 11.32), e apesar de tudo, ele merece realmente ser citado ali. Ele foi um tipo maravilhoso dAquele que forja a salvação com o Seu próprio braço.
A história dos demais juízes começa com a chamada deles numa época específica de suas vidas, mas a de Sansão começa com o seu nascimento, antes mesmo da sua concepção no ventre de sua mãe, conforme prenúncio feito por um anjo que veio do céu ter com seus pais, e especialmente com sua mãe, conforme veremos neste nosso estudo, e cujo anúncio seguiu o mesmo padrão da chamada de João Batista e de Jesus Cristo.
Ele foi designado por Deus, como veremos nestes capítulos 13 a 16 de Juízes, para ser um tipo de Cristo, em Sua obra de libertação do povo de Deus, guardadas entretanto, as grandes e imensas proporções que diferenciam a ambos e seus respectivos ministérios, pois aqui, se fala de homens sujeitos ao pecado e imperfeições, e no caso de Jesus, da perfeição da Majestade dos Céus que se fez carne para obter a nossa salvação.
Sansão era da tribo de Dã, e um dos motivos que levou o Senhor a se prover de um libertador naquela tribo, e não em qualquer outra, deve-se ao fato de ser esta tribo a que ficava mais próxima do território dos filisteus, dos quais Sansão estava encarregado de afligir como paga de Deus pela opressão que eles estavam exercendo sobre os israelitas.
Sua mãe era estéril e não podia portanto gerar filhos, e então o anúncio do nascimento do filho que teria e que deveria ser consagrado a Deus como nazireu desde o ventre, revelava que aquela criança seria uma pessoa especial porque foi conhecida do Senhor, tal como Jeremias, Paulo, João Batista, e outros, antes mesmo de ser gerado.
Em razão deste conhecimento prévio de Deus, pelo Seu atributo de presciência, pôde ser determinado que Sansão deveria ser nazireu por toda a sua vida, diferentemente daqueles que faziam este voto de nazireado, conforme prescrito na lei de Moisés, voluntariamente e por um período determinado de consagração ao Senhor.
Assim, o anjo que falou à mãe de Sansão  disse que ela própria deveria se submeter a Lei do nazireado enquanto carregasse o menino no ventre, não bebendo nenhum vinho ou bebida forte, ou se alimentando de qualquer coisa que fosse considerada imunda pela Lei (v. 4,5). Isto indicava que este libertador de Israel deveria ser dedicado da maneira mais rígida a Deus, e ser um exemplo de santidade.
Outros juízes tinham corrigido as apostasias dos israelitas, mas Sansão teria que ser mais do que qualquer um deles, inteiramente consagrado ao Senhor; e quando nós vemos as muitas faltas de Sansão, nós não podemos pensar que Deus tivesse falhado em Sua escolha, ao contrário, isto mostra que mesmo aqueles que são especialmente separados continuam tendo a liberdade de vontade e o poder de escolha de fazerem ou não a vontade do Senhor, de modo que entendemos que a graça de Deus é dada de modo poderoso mas deve ser recebida de forma diligente e voluntária.
Em caso contrário, caso deixemos esfriar o dom que recebemos de Deus, tal como ocorrera com Timóteo, que necessitou ser admoestado pelo apóstolo Paulo a reavivar o dom do Espírito que havia recebido, nós também, tal como Timóteo não poderemos produzir tudo quanto poderíamos e deveríamos para Deus, em razão da nossa falta de empenho em permanecer na Sua santa presença, fazendo inteiramente a Sua vontade.
Aqueles que estão comissionados por Deus para libertarem almas dos laços do diabo, devem estar eles próprios livres de qualquer laço e intimidade com as coisas da carne, do mundo e do diabo. Aquele que libertará deve ser também livre.
Sansão estava comissionado para libertar Israel, conforme o anjo predisse a seus pais, antes mesmo do seu nascimento.
Jesus, nosso grande libertador, não era um nazireu, mas ele foi tipificado pelos nazireus, por ser perfeitamente puro de todo pecado e completamente dedicado à honra do Seu Pai, tendo vivido para fazer exclusivamente a Sua vontade, e tudo o que fez foi também para a exclusiva glória de Deus.
Aqueles que são separados por Deus para o ministério devem portanto, de igual modo seguir os passos de Jesus neste particular, seguindo em tudo o exemplo que Ele nos deixou. Não poderão estar envolvidos com os negócios desta vida, conforme no dizer do grande apóstolo Paulo, porque de fato não poderiam agradar, em caso contrário, Àquele que os arregimentou para empreender o grande e bom combate da fé contra os poderes das trevas, com vistas à libertação e edificação dos pecadores.
Tendo o anjo falado à mãe de Sansão, esta foi informar alegremente, ao seu marido, as boas novas que o anjo lhe falara (v. 6,7). Ela descreveu o semblante do mensageiro de Deus que lhe falara como sendo terrível, e certamente o disse em razão do grande brilho que resplandecia em sua face celestial, tal como se descreve a face de Jesus no início do livro de Apocalipse, parecendo o sol brilhando em toda a sua força.
Nos versos 8 a 14 é citada uma segunda visita que o anjo fez a Manoá, pai de Sansão, e à sua esposa.
Quando a esposa de Manoá lhe disse as coisas que foram proferidas a ela pelo anjo, Manoá creu, ainda que tais coisas não tivessem sido proferidas e testemunhadas a ele. E nisto é bem-aventurado porque ainda que não tivesse visto, ele creu. E nós vemos a razão porque Deus escolheu esta família humilde e honesta para se prover de um libertador. A razão era a fé deles, naqueles dias em que a incredulidade grassava em todo Israel, e que certamente foi o principal motivo de terem sido os israelitas entregues por Deus nas mãos dos filisteus por quarenta anos (v. 1), isto é, eles foram deixados à mercê da opressão dos seus inimigos por terem virado as suas costas para Deus, fazendo o que era mau diante dos Seus olhos, em vez de caminharem no caminho que lhes foi ordenado na Lei de Moisés, amando o Senhor através da guarda dos Seus mandamentos.
E o motivo da segunda aparição do anjo àquele casal deveu-se à oração que Manoá fez  pedindo ao Senhor que lhes enviasse de volta o anjo para que lhes ensinasse tudo quanto deveriam fazer em relação ao menino que iria nascer (v.8). E Deus ouviu a oração de Manoá, tendo o anjo aparecido a sua mulher quando ela estava no campo. Como Manoá não se encontrava presente esta se apressou a se encontrar com ele para vir ter com anjo juntamente com ela.
Manoá e sua esposa deram um exemplo do significado de uma verdadeira fé, pois se dispuseram a se submeterem inteiramente às instruções e ordens que lhes fossem faladas da parte de Deus por meio do anjo. De igual modo a verdadeira fé de um cristão se revela na sua disposição de guardar tudo quanto Jesus nos ordenou da parte do Pai.
E a fé verdadeira também se contentará com a porção de bênçãos e revelações que lhe forem designadas por Deus, não insistindo em arrancar do Senhor aquilo que Ele tiver vedado a nós, tal como sucedeu com Manoá, que pretendendo agradar ao anjo preparando-lhe um cabrito, teve a sua oferta recusada e foi alertado que caso apresentasse sacrifícios pacíficos para celebrar alegremente aquela boa notícia que recebera da parte de Deus, que os oferecesse ao Senhor, e ele obedeceu o que lhe foi ordenado. De igual modo, quando perguntou o nome do anjo, porque, como afirmara, desejava honrá-lo quando se cumprisse o que ele havia predito, certamente dando o nome do anjo ao menino que nasceria, isto também não lhe foi concedido, e o anjo disse apenas que o seu nome era maravilhoso.
O que Manoá pediu em relação às instruções relativas ao seu dever foi atendido prontamente (v. 12, 13), mas o que ele pediu para satisfazer a sua curiosidade, foi negado. Deus tem nos dado muitas instruções em Sua Palavra quanto ao nosso dever para com Ele e com o nosso próximo, mas Ele nunca pretendeu responder a todas as especulações que passam por nossas cabeças.
A Josué foi permitido adorar a Jesus que lhe apareceu numa teofania como um Anjo. Mas a Manoá não foi permitido, presumindo-se que estenderia aquela adoração aos anjos, pois não saberia distinguir a pessoa divina que estava falando com ele. E assim, naquela dispensação da Lei havia este véu guardando o mistério da pessoa de Cristo que seria revelado na plenitude dos tempos.
Ao próprio Moisés foi falado do Profeta que seria levantado em Israel e que deveria ser ouvido por todos, a bem de suas próprias vidas (Dt 18), mas também não lhe foi revelado o nome que Ele teria entre os homens, Jesus, que significa O Salvador.
O anjo fez maravilhas (v. 19), porque o nome dele era maravilhoso. Provavelmente a maravilha que ele fez foi a mesma que ele tinha feito para Gideão, fazendo vir fogo do céu para queimar o sacrifício, pois o cabrito e a oferta de cereais que Manoá havia colocado sobre a pedra como oferta pacífica foram consumidas por uma chama na qual o anjo subiu de volta aos céus. Aquele fogo vindo do céu simbolizava a aceitação da parte de Deus do sacrifício que lhe fora oferecido.
Aqui cabe abrir um parêntesis, para entendermos porque aquele sacrifício foi aceito, quando a Lei prescrevia que todos os sacrifícios deveriam ser apresentados no tabernáculo na presença dos sacerdotes. Nós não podemos esquecer que a causa da opressão dos filisteus veio da parte do Senhor para castigar a apostasia do seu próprio povo. Esta apostasia deve ter atingido certamente o ofício sacerdotal que devia estar corrompido em Israel e as prescrições da Lei não deviam estar sendo observadas quanto à apresentação de sacrifícios. Assim, sem a devida consagração e santidade, os ofícios do tabernáculo eram o cumprimento de uma mera formalidade vazia e inaceitável a Deus. Daí ter sido permitido a Manoá apresentar sacrifícios a Deus em sua própria casa.
Quando a igreja se corrompe, o Espírito Santo move os cristãos sinceros a atuarem com poder fora da própria igreja institucionalizada. Tal como ocorreu com George Whitefield, que sendo proibido de ministrar na igreja nacional da Inglaterra, foi evangelizar as grandes massas que estavam fora da igreja, tendo iniciado seu trabalho junto aos mineiros, e obteve um grande número de convertidos ao longo de toda a sua carreira ministerial.
Deus não está amarrado às estruturas que são montadas pelos homens quando estas estruturas não seguem as Suas diretrizes e não admitem a Sua santa presença. Ele não honra os nossos edifícios, as nossas instituições, os nossos congressos, e tudo o mais que possamos fazer alegando que é em Seu nome, quando não andamos de fato na Sua presença. Se não O honrarmos de fato, do modo pelo qual deve ser honrado, Ele também não nos honrará.  
Então, houve uma inteira aceitação de Deus da oferta de Manoá, porque foi uma oferta de fé, sincera, de um coração obediente a Deus e desejoso de fazer a Sua vontade.
Entretanto, aquilo que deveria servir para fortalecer a fé de Manoá no cumprimento das promessas de Deus, que foi a maravilha realizada pelo anjo tanto com a queima do sacrifício, quanto a forma como retornou ao céu, produziu um efeito contrário nele, pois temeu muito, pois julgando ter visto a Deus pensou que ele e sua esposa morreriam. A falta de conhecimento das coisas celestiais, espirituais e divinas pode servir de motivo para enfraquecimento da fé. Daí a importância de prosseguirmos no conhecimento das coisas relativas ao caráter e operações de Deus para termos uma fé cada vez maior e mais forte.      
Se Manoá demonstrou possuir uma pequena fé, a sua esposa, ao contrário, demonstrou ter uma grande fé (v. 23), e daí talvez a razão porque o anjo escolheu aparecer primeiro a ela do que ao seu marido. E mesmo quando Manoá orou para que o anjo retornasse, ele não veio ter com ele, mas com sua esposa, e caso ela não o chamasse, teria que se contentar de novo com o relato que esta lhe faria das coisas que lhe foram reveladas por Deus através do anjo.
Uma grande fé será grandemente honrada por Deus.
O argumento da esposa de Manoá a ele foi que tendo Deus feito as promessas que havia feito, e tendo se agradado do sacrifício oferecido por eles, como poderia matá-los? Pois isto invalidaria a Sua promessa, e Ele não poderia de modo algum ser tido na conta de um mentiroso, pois aquilo que prometeu certamente o fará. Aqui está a fé daquela mulher. Ela sabia que Deus não pode mentir e nem deixar de cumprir as Suas promessas. Isto é muito agradável ao Senhor: ver que alguém se apóia inteiramente na Sua Palavra e dá-lhe o devido crédito, que inegavelmente, sempre deve lhe ser dado, diferentemente do que Adão e Eva haviam feito no Éden, deixando de dar crédito a Deus para confiarem no engano e na mentira do diabo.
Por outro lado, a mulher de Manoá também sabia que é o sacrifício que aplaca a ira de Deus em relação aos pecadores. Ele deu um grande testemunho de fé no fato de que é por causa do sacrifício de Jesus que os pecadores são salvos da ira futura, que será despejada por Deus sobre todos os incrédulos que se recusaram a aceitar a graça que lhes foi oferecida gratuitamente em Cristo Jesus. Isto é algo muito agradável a Deus, a saber, termos a convicção de que somos aceitáveis a Ele somente por causa da graça de Jesus e não por causa das nossas próprias obras. Deus jamais poderia se agradar das nossas obras de justiça, ainda que feitas mediante a fé, caso Cristo não tivesse morrido na cruz, pagando o preço devido por todos os nossos pecados. Então, é por causa da aceitação do Seu sacrifício que nós podemos ser também aceitos por Deus. Foi por meio do Seu sacrifício que fomos reconciliados com Deus, desfazendo-se a inimizade que havia entre nós e Ele. Inimizade por sermos carnais, porque a carne é inimizade contra Deus. E Ele estava em guerra contra nós, pronto a despejar a Sua ira, que se manifestará no Dia do Juízo, mas graças ao sacrifício de Jesus, esta terrível ira foi desviada de nós, e recaiu sobre Ele na cruz do Calvário, de modo que agora, reconciliados com Deus, mediante o arrependimento e a fé, possamos ter paz duradoura e eterna com Ele. Paz esta que estava simbolizada no sacrifício pacífico que foi oferecido por Manoá ao Senhor, e que era figura do sacrifício de Jesus, que também tem este caráter de paz eterna com Deus que o seu sacrifício propicia a nós, desfazendo a inimizade que herdamos em razão do pecado original de Adão.  
E finalmente, nos versos 24 e 25 é citado o nascimento de Sansão. O nome dele, Sansão, no hebraico é shimshon, O][¥N¦[, que significa sol brilhante,  e este nome lhe foi dado porque, tal como Moisés, ele seria um libertador de Israel da opressão daqueles que os mantinham sob dominação, no caso os filisteus, e ele estava destinado a brilhar como um pequeno sol, e os seus pais deram-lhe tal nome, talvez, em memória do semblante brilhante do anjo que lhes aparecera anunciando o nascimento e a missão do filho que eles gerariam pelo poder de Deus, já que a mãe de Sansão era estéril.
E devemos lembrar que Manoá havia manifestado o seu desejo de honrar o anjo que lhe aparecera quando o menino nascesse, e possivelmente isto seria feito dando-lhe o mesmo nome do anjo, mas como isto foi vedado, porque o anjo se recusou a lhe dizer qual era o seu nome, Manoá então deu ao menino um nome que correspondia à aparência do anjo, cujo brilho devia ser parecido ao brilho do sol.  
E é dito que Deus abençoou o menino e o Espírito Santo começou a incitá-lo, isto é, a se mover nele. E este mover do Espírito Santo era a evidência de que Deus lhe havia abençoado. De igual modo em nossas vidas, caso o Espírito Santo não se mova em nós, que tipo de viver abençoado podemos alegar estar recebendo da parte de Deus? A bênção que o Senhor reservou para nós e que agrada tanto a Ele quanto a nós não é simplesmente que tenhamos o Espírito Santo habitando em nós, mas também se movendo e se alegrando em nós, em íntima comunhão conosco. Pois que bênção podemos alegar ter caso entristeçamos e apaguemos o Espírito? Que bênção temos se não andamos nEle conforme nos é ordenado, para que tenhamos o Seu fruto, conforme descrito no quinto capítulo de Gálatas?


“1 Os filhos de Israel tornaram a fazer o que era mau aos olhos do Senhor, e ele os entregou na mão dos filisteus por quarenta anos.
2 Havia um homem de Zorá, da tribo de Dã, cujo nome era Manoá; e sua mulher, sendo estéril, não lhe dera filhos.
3 Mas o anjo do Senhor apareceu à mulher e lhe disse: Eis que és estéril, e nunca deste à luz; porém conceberás, e terás um filho.
4 Agora pois, toma cuidado, e não bebas vinho nem bebida forte, e não comas coisa alguma impura;
5 porque tu conceberás e terás um filho, sobre cuja cabeça não passará navalha, porquanto o menino será nazireu de Deus desde o ventre de sua mãe; e ele começara a livrar a Israel da mão dos filisteus.
6 Então a mulher entrou, e falou a seu marido, dizendo: Veio a mim um homem de Deus, cujo semblante era como o de um anjo de Deus, em extremo terrível; e não lhe perguntei de onde era, nem ele me disse o seu nome;
7 porém disse-me: Eis que tu conceberás e terás um filho. Agora pois, não bebas vinho nem bebida forte, e não comas coisa impura; porque o menino será nazireu de Deus, desde o ventre de sua mãe até o dia da sua morte.
8 Então Manoá suplicou ao Senhor, dizendo: Ah! Senhor meu, rogo-te que o homem de Deus, que enviaste, venha ter conosco outra vez e nos ensine o que devemos fazer ao menino que há de nascer.
9 Deus ouviu a voz de Manoá; e o anjo de Deus veio outra vez ter com a mulher, estando ela sentada no campo, porém não estava com ela seu marido, Manoá.
10 Apressou-se, pois, a mulher e correu para dar a notícia a seu marido, e disse-lhe: Eis que me apareceu aquele homem que veio ter comigo o outro dia.
11 Então Manoá se levantou, seguiu a sua mulher e, chegando à presença do homem, perguntou-lhe: És tu o homem que falou a esta mulher? Ele respondeu: Sou eu.
12 Então disse Manoá: Quando se cumprirem as tuas palavras, como se há de criar o menino e que fará ele?
13 Respondeu o anjo do Senhor a Manoá: De tudo quanto eu disse à mulher se guardará ela;
14 de nenhum produto da vinha comerá; não beberá vinho nem bebida forte, nem comerá coisa impura; tudo quanto lhe ordenei cumprirá.
15 Então Manoá disse ao anjo do Senhor: Deixa que te detenhamos, para que te preparemos um cabrito.
16 Disse, porém, o anjo do Senhor a Manoá: Ainda que me detenhas, não comerei de teu pão; e se fizeres holocausto, é ao Senhor que o oferecerás. (Pois Manoá não sabia que era o anjo do Senhor).
17 Ainda perguntou Manoá ao anjo do Senhor: Qual é o teu nome? - para que, quando se cumprir a tua palavra, te honremos.
18 Ao que o anjo do Senhor lhe respondeu: Por que perguntas pelo meu nome, visto que é maravilhoso?
19 Então Manoá tomou um cabrito com a oferta de cereais, e o ofereceu sobre a pedra ao Senhor; e fez o anjo maravilhas, enquanto Manoá e sua mulher o observavam.
20 Ao subir a chama do altar para o céu, subiu com ela o anjo do Senhor; o que vendo Manoá e sua mulher, caíram com o rosto em terra.
21 E não mais apareceu o anjo do Senhor a Manoá, nem à sua mulher; então compreendeu Manoá que era o anjo do Senhor.
22 Disse Manoá a sua mulher: Certamente morreremos, porquanto temos visto a Deus.
23 Sua mulher, porém, lhe respondeu: Se o Senhor nos quisera matar, não teria recebido da nossa mão o holocausto e a oferta de cereais, nem nos teria mostrado todas estas coisas, nem agora nos teria dito semelhantes coisas.
24 Depois teve esta mulher um filho, a quem pôs o nome de Sansão; e o menino cresceu, e o Senhor o abençoou.


25 E o Espírito do Senhor começou a incitá-lo em Maané-Dã, entre Zorá e Estaol. (Jz 13.1-25).



Juízes 14

Sansão – Parte 2

Nós vemos no início do 14º capítulo de Juízes, que Sansão estava debaixo da orientação extraordinária da Providência, pois se afirma no verso 4 que o desejo dele de se casar com uma mulher filisteia era procedente da parte do Senhor, o qual estava buscado uma ocasião para incitar Sansão contra os filisteus: “Mas seu pai e sua mãe não sabiam que isto vinha do Senhor, que buscava ocasião contra os filisteus; porquanto naquele tempo os filisteus dominavam sobre Israel.”.
Os pais de Sansão argumentaram com ele contra aquele casamento que contrariava o que estava prescrito na Lei de Moisés, mas não foi achado pecado em Sansão aos olhos de Deus em relação a isto porque aquilo, naquela situação excepcional estava provindo do próprio Senhor, e Sansão estava projetado para agir não debaixo de regras fixas, mas sob a completa direção de Deus, para cumprir os propósitos que havia fixado em relação a ele.
Tal como Davi foi citado por Jesus, que tendo comido dos pães da proposição do tabernáculo, que segundo a Lei deveriam ser consumidos exclusivamente pelos sacerdotes, e  no entanto não foi achado pecado em Davi  e seus homens, porque não o fizera por motivo de sacrilégio, mas por estar a serviço de Deus, e necessitavam saciar sua fome, e não havia à mão outro alimento, senão aquele.
Em tudo isto, tanto Sansão, quanto Davi, são tipo de Jesus em Seu elevado ministério, que tendo cumprido toda a Lei, estava não obstante, pela vontade do Pai, acima da própria Lei, e modificou a forma de aplicação de alguns dos seus preceitos para ajustá-la  à Nova Aliança, que Ele próprio inauguraria com a Sua morte e ressurreição. Somente Ele poderia dizer em relação à Lei, quando a modificou nestes aspectos em que deveria ser mudada: “Ouvistes o que foi dito aos antigos, eu porém vos digo...”. Aos antigos é uma referência aos que estavam debaixo do Antigo Pacto ou Antiga Aliança, mas aos que estariam a partir dali, debaixo de uma Nova Aliança, Jesus disse coisas que alteravam o modo de procedimento quanto a determinadas coisas que eram ordenadas na Lei de Moisés, como por exemplo a questão do olho por olho que foi substituída pelo amor aos inimigos, e à não retaliação, em qualquer caso considerado.
E assim, Sansão era um enigma, um homem que fez o que era realmente grande e bom, através do que era aparentemente fraco e mau, porque ele foi projetado por Deus, não para ser um padrão a nós, mas para ser um tipo dAquele que sozinho, com a força do Seu próprio braço, opera a salvação do seu povo; dAquele que não conheceu nenhum pecado, e que foi feito pecado por nós, e que  se manifestou na semelhança de carne pecadora para que pudesse destruir o pecado (Rm 8.3).
      Tal como no caso de Oseias, que foi levado por Deus a amar e a se casar com uma mulher adúltera, dada a prostituições, para revelar o Seu próprio amor por um povo, com o qual estava aliançado, e que era também adúltero e dado a se prostituir com falsos deuses, também procedeu do Senhor a afeição que ele sentiu por uma adoradora de Dagom, não para demonstrar, neste caso, o amor que Ele tinha pelos filisteus, mas para incitar o juízo que havia determinado sobre eles, em razão do pecado de estarem oprimindo duramente a Israel.
Sansão teria que se infiltrar entre os inimigos de Israel para que se achasse motivo para a destruição deles, e foi este o motivo de ter sido movido a desejar se casar com uma filisteia. Quanto a esta infiltração, Sansão foi também um tipo de Cristo, porque  ele necessitou se infiltrar neste mundo, entre os inimigos de Deus, para trazer salvação ao Seu povo escolhido.
Sansão foi capacitado para a obra de destruição que teria que realizar, recebendo de Deus uma força física maravilhosa e extraordinária, e para que tivesse consciência disso, foi permitido que um leão viesse sobre ele, e se afirma que tendo o Espírito do Senhor se apossado de Sansão, este foi capaz de despedaçar o leão com suas próprias mãos, como se fosse um cabrito (v 6).
Deus fez com que Sansão conhecesse a força que Ele podia lhe dar, de maneira a não temer a nenhuma das dificuldades que teria que enfrentar, por maiores que elas fossem. Do mesmo modo os cristãos na Nova Aliança devem se fortificar na graça que está em Jesus Cristo, porque é assim que poderão vencer todas as dificuldades e aflições deste mundo, por maiores que elas sejam.
Não seria necessário para que Sansão fosse incitado contra os filisteus estando no meio deles, por causa do caráter dos que vivem na prática da impiedade e não têm o temor de um Deus santo e justo que exige que caminhemos de modo correto na Sua presença.
Tendo as solenidades do casamento durado sete dias (v. 10) seguindo o costume dos filisteus, não faltaria oportunidade para que se achasse alguma controvérsia entre ele e aqueles que tinham sido convidados para a festa.
Possivelmente, era comum, para não serem vencidos pelo enfado, a prática de jogos e de propostas de resoluções de enigmas. E Sansão propôs aos filisteus um enigma relativo à colmeia de abelhas que havia produzido mel na carcaça do leão que ele havia matado, com as palavras que lemos no verso 14: “Do que come saiu comida, e do forte saiu doçura.”. E eles teriam o prazo de sete dias relativo às bodas para decifrá-lo, caso contrário teriam que dar a Sansão trinta mantos e trinta túnicas. Tendo passado três dias, e como não conseguiam decifrar, eles constrangeram a mulher de Sansão a conseguir tirar dele a solução do enigma, porque caso não o fizesse queimariam a ela e a seu pai.
Pensando poupar a própria vida e a de seu pai, e confiando mais no poder daqueles homens no que do seu marido, em vez de declarar o fato ocorrido a Sansão, ela o traiu ao dar a resposta do enigma aos filisteus. Nós veremos adiante que ela e o seu pai acabaram sendo queimados pelos filisteus, e a fidelidade conjugal ter-lhe-ia poupado daquele mal, mas isto seria muito para ser esperado de uma adoradora de Dagom.
Sansão pagou os trinta mantos e túnicas da aposta, só que com o espólio dos compatriotas daqueles filisteus, pois lhes tirou a vida para se apoderar de seus mantos e túnicas (v. 19).  E o Espírito Santo permitiu que Sansão fizesse isto, porque se diz que o Espírito do Senhor se apossou dele quando ele tomou a iniciativa de despojar os filisteus, e isto deu também ocasião para desvinculá-lo das suas novas relações, com o povo que ele deveria subjugar em vez de estar aliançado com ele.
Ao mesmo tempo que ele passou a ter aversão dos filisteus como era do propósito de Deus, para que vingasse as opressões deles sobre o Seu povo de Israel, Deus também fez com que o ódio dos filisteus fosse incitado contra Sansão, de modo que ao tentarem matá-lo, Deus teria ocasião de revelar através dele toda a Sua grande glória e poder, humilhando toda a força dos filisteus através de um só homem.
E tal foi a ira que se apoderou de Sansão contra a infidelidade de sua esposa, que ele voltou para a casa dos seus pais, como diz a Palavra, ardendo em ira.
E, sem consultá-lo, o pai da moça deu-a por mulher a um dos filisteus que estava presente à festa de casamento de Sansão.


“1 Desceu Sansão a Timnate; e vendo em Timnate uma mulher das filhas dos filisteus,
2 subiu, e declarou-o a seu pai e a sua mãe, dizendo: Vi uma mulher em Timnate, das filhas dos filisteus; agora pois, tomai-ma por mulher.
3 Responderam-lhe, porém, seu pai e sua mãe: Não há, porventura, mulher entre as filhas de teus irmãos, nem entre todo o nosso povo, para que tu vás tomar mulher dos filisteus, daqueles incircuncisos? Disse, porém, Sansão a seu pai: Toma esta para mim, porque ela muito me agrada.
4 Mas seu pai e sua mãe não sabiam que isto vinha do Senhor, que buscava ocasião contra os filisteus; porquanto naquele tempo os filisteus dominavam sobre Israel.
5 Desceu, pois, Sansão com seu pai e com sua mãe a Timnate. E, chegando ele às vinhas de Timnate, um leão novo, rugindo, saiu-lhe ao encontro.
6 Então o Espírito do Senhor se apossou dele, de modo que ele, sem ter coisa alguma na mão, despedaçou o leão como se fosse um cabrito. E não disse nem a seu pai nem a sua mãe o que tinha feito.
7 Depois desceu e falou àquela mulher; e ela muito lhe agradou.
8 Passado algum tempo, Sansão voltou para recebê-la; e apartando-se de caminho para ver o cadáver do leão, eis que nele havia um enxame de abelhas, e mel.
9 E tirando-o nas mãos, foi andando e comendo dele; chegando aonde estavam seu pai e sua mãe, deu-lhes do mel, e eles comeram; porém não lhes disse que havia tirado o mel do corpo do leão.
10 Desceu, pois, seu pai à casa da mulher; e Sansão fez ali um banquete, porque assim os mancebos costumavam fazer.
11 E sucedeu que, quando os habitantes do lugar o viram, trouxeram trinta companheiros para estarem com ele.
12 Disse-lhes, pois, Sansão: Permiti-me propor-vos um enigma; se nos sete dias das bodas o decifrardes e mo descobrirdes, eu vos darei trinta túnicas de linho e trinta mantos;
13 mas se não puderdes decifrar, vós me dareis a mim as trinta túnicas de linho e os trinta mantos. Ao que lhe responderam eles: Propõe o teu enigma, para que o ouçamos.
14 Então lhes disse: Do que come saiu comida, e do forte saiu doçura. E em três dias não puderam decifrar o enigma.
15 Ao quarto dia, pois, disseram à mulher de Sansão: Persuade teu marido a que declare o enigma, para que não queimemos a fogo a ti e à casa de teu pai. Acaso nos convidastes para nos despojardes?
16 E a mulher de Sansão chorou diante dele, e disse: Tão-somente me aborreces, e não me amas; pois propuseste aos filhos do meu povo um enigma, e não mo declaraste a mim. Respondeu-lhe ele: Eis que nem a meu pai nem a minha mãe o declarei, e to declararei a ti?
17 Assim ela chorava diante dele os sete dias em que celebravam as bodas. Sucedeu, pois, que ao sétimo dia lho declarou, porquanto o importunava; então ela declarou o enigma aos filhos do seu povo.
18 Os homens da cidade, pois, ainda no sétimo dia, antes de se pôr o sol, disseram a Sansão: Que coisa há mais doce do que o mel? e que coisa há mais forte do que o leão? Respondeu-lhes ele: Se vós não tivésseis lavrado com a minha novilha, não teríeis descoberto o meu enigma.
19 Então o Espírito do Senhor se apossou dele, de modo que desceu a Asquelom, matou trinta dos seus homens e, tomando as suas vestes, deu-as aos que declararam o enigma; e, ardendo em ira, subiu à casa de seu pai.
20 E a mulher de Sansão foi dada ao seu companheiro, que lhe servira de paraninfo.” (Jz 14.1-20).



Juízes 15

Sansão – Parte 3 – Juízes 15

No 15º capítulo de Juízes nós vemos Sansão sendo levado a agir numa sequência de ações vingativas que começaram com a queima das lavouras dos filisteus, trazendo um grande prejuízo à economia da nação, por represália ao ato de seu sogro que deu sua mulher como esposa a um outro.
E sabendo os filisteus que a causa da fúria de Sansão se deveu à ação do pai da sua esposa, eles se vingaram deles queimando tanto a ambos quanto a casa deles. E Sansão se vingou também matando a muitos desses que haviam queimado a sua mulher e o pai dela.
E muitos destes que haviam cometido esta barbárie, haveriam também de encontrar a morte no embate em que Sansão matou mil homens com a queixada de um asno, quando se dirigiram ao deserto para prendê-lo, e que contaram com a deslealdade dos compatriotas de Sansão que o entregaram aos filisteus. .
Até nesta deslealdade dos israelitas Sansão foi também um tipo de Jesus, porque Ele também foi traído pelos próprios judeus que entregaram Jesus aos romanos para ser crucificado; e também nisto Jesus encontrou a ocasião apropriada para despojar os principados e potestades que traziam o Seu povo em cativeiro, trazendo-lhes assim através da própria traição deles,  livramento dos seus inimigos.
Nós nunca achamos Sansão, em quaisquer das façanhas dele, fazendo uso de qualquer pessoa, sejam servos ou soldados, e quando ele queimou as lavouras dos filisteus ele usou cento e cinquenta pares de raposas aos quais amarrou uma tocha de fogo em suas caudas, de modo a produzir um grande incêndio, simultaneamente, em vários lugares, coisa que seria impossível de ser conseguida caso atuasse ele mesmo ateando fogo, lavoura por lavoura, o que daria tempo dos filisteus de reagirem para apagarem o incêndio.
Estava na época da colheita de trigo (v. 1), de forma que a palha estava bastante seca, o que facilitaria grandemente o alastramento do fogo, danificando também as plantações de milho, os vinhedos e olivais.
E Deus permitiu isto porque certamente os filisteus estavam preparando as primícias de suas colheitas para serem oferecidas em honra de Dagom.
A Antiga Aliança está repleta destes exemplos de demonstração da ira de Deus contra a idolatria e todas as formas de pecado, como uma ilustração de que as más obras dos ímpios serão completamente queimadas juntamente com eles no dia do Grande Juízo de Deus. O fato de não se ver ações imediatas de juízos divinos sobre as feitiçarias, idolatrias e toda a sorte de más obras dos homens, na presente dispensação da graça, não significa portanto, de modo algum, que a Sua ira tenha sido extinguida. Tão somente tem sido dado a todos, na presente dispensação da graça, um tempo de oportunidade para se arrependerem do pecado, sendo Deus longânimo para com todos, na expectativa de que se arrependam e vivam. Mas ai daquele que sair deste mundo sem ter sido perdoado pela fé em Jesus. Ele achará a devida paga por todas as suas más obras, por toda a eternidade.
Não devemos portanto confundir a longanimidade de Deus na dispensação da graça com a eliminação dos Seus juízos, ao contrário, os que têm vivido nesta dispensação e têm rejeitado a bondade, amor, misericórdia e graça de Deus, haverão de sofrer um maior juízo do que as pessoas da Antiga dispensação, como Jesus deixou bastante claro em seu ensino, e conforme o encontramos nos evangelhos, pois disse que haverá menos rigor para os de Sodoma e Gomorra do que para aqueles que ouvindo o evangelho, e testemunhando a graça que está sendo derramada abundantemente por Deus, não se arrependem, no entanto, de seus pecados.
E nós temos portanto, exemplificado em muitas porções do Antigo Testamento, e especialmente nestas relativas às ações de Sansão, ilustrações do Grande Juízo de Deus em que a Sua ira cairá sobre todos aqueles que não se arrependeram de seus pecados.
Os filisteus despejaram a fúria deles contra Sansão exatamente sobre a mulher dele e o pai dela, porque foi por causa do arranjo do pai da moça que a deu a outro, que levou Sansão a efetuar aquele grande incêndio nas lavouras dos filisteus. E Sansão se vingou também deste ato deles matando a um grande número dentre eles.
E tendo ele se recolhido em Etã, os filisteus se dirigiram para lá e certamente constrangeram os israelitas ameaçando-os, pois dominavam sobre eles. E estes, em vez de se voltarem pela fé a Deus e se unirem a Sansão na guerra solitária que estava realizando contra os filisteus, fizeram exatamente o oposto, pois, para aplacarem a ira dos seus inimigos e mostrar-lhes que nada tinham a ver com o que Sansão estava fazendo, se dispuseram em grande número, eles próprios, a prendê-lo e a entregá-lo aos filisteus. Os cristãos que deveriam lutar ao lado dos seus ministros ajudando-os principalmente com suas orações contra os poderes das trevas, muitas vezes, por temerem represálias de Satanás, cooperam com os seus desígnios malignos, falando mal de seus líderes e agindo contra eles. É uma triste coisa para se dizer, mas é infelizmente uma realidade lamentável que se tem alastrado principalmente nestes últimos dias em que se tem multiplicado a iniquidade, e muitos cristãos já não dão a devida atenção à necessidade de se viver de modo santo para Deus. Não levam em conta que não é possível amar e obedecer a Deus sem que se tenha um coração verdadeiramente santificado na e pela graça de Jesus.
A todos os israelitas cabia lutarem as guerras ordenadas por Deus contra as nações de Canaã e conquistarem os territórios por Ele designados, e dentre estes se incluía as terras dos filisteus. Mas, ao contrário, nós vemos um povo acovardado, sem fé no Seu Deus, e por isso impotente para cumprir aquilo que deveriam fazer, tal como a geração passada, dos dias de Josué havia feito. E em vez de avançarem e triunfarem sobre as forças do inimigo, eles recuaram. E de igual modo a igreja não está seguindo o exemplo deixado pelos apóstolos e pelos grandes reformadores, como também por todos aqueles que atuaram nos grandes despertamentos espirituais havidos nos séculos 18 e 19. A igreja do século 21 já não é movida pelo mesmo fogo missionário e desejo por evangelização mundial que incendiava o coração de todos eles. Ela não avança sobre as forças do inimigo e não conquista territórios para Deus. Almas permanecem aos milhões, sem serem conquistadas em todo o mundo, e isto para vergonha dos cristãos que não exercitam devidamente a Sua fé no Senhor para cumprir especialmente a Sua grande ordem de irem por todo o mundo fazendo discípulos em todas as nações. O esforço solitário de sansões é o que mantém a igreja na vanguarda, de modo que o propósito de Deus de salvar pecadores através da ação do Seu povo não seja frustrado, como de fato não pode ser.
Isto nos remete também a pensar no próprio Jesus que efetua sozinho a salvação do Seu povo em meio à incredulidade daqueles que deveriam estar ao seu lado lutando contra os poderes das trevas. Sansão é também neste particular um tipo de Jesus, pois se Israel não se dispõe a cumprir a ordem de Deus, Ele livrará o povo de Deus pela própria força do seu braço, conforme o poder que lhe era conferido pelo Espírito Santo.
Jesus foi traído pelos próprios compatriotas que o entregaram aos romanos sob a alegação que seria melhor que morresse um só homem do que perecesse toda a nação.
Sansão foi traído não pelas pessoas da sua tribo de Dã, mas pelos homens de Judá (v. 11). Não eram verdadeiros judeus aqueles homens. Eram uma geração degenerada daquela tribo valorosa! Totalmente desmerecedores de levar no brasão deles: o leão da tribo de Judá. Talvez eles preferissem no orgulho deles permanecerem submetidos aos filisteus do que serem livrados pelas mãos de um danita. Frequentemente tem a libertação da igreja sido atrapalhada por tais ciúmes e pontos de uma  falsa honra. É muito fácil se perder de vista, humanamente falando, que o povo de Deus é um só, ainda que composto por vários membros.
Provavelmente Sansão entrou nas terras de Judá para oferecer o seu serviço a eles, na luta contra os filisteus, supondo que os seus irmãos o reconheceriam como aquele que Deus havia levantado para os livrar. Mas eles o expulsaram do seu meio e também o culparam de ter despertado a ira dos filisteus contra eles.
Do mesmo modo Jesus fez muitas boas obras para os judeus, e eles estavam sempre prontos para apedrejá-lo. Ele foi convidado pelos gadarenos a se retirar da terra deles por causa do prejuízo que tiveram com suas manadas de porcos. Eles amaram mais as coisas deste mundo do que a própria salvação das almas deles. Quão prontamente os homens estão geralmente dispostos a negligenciarem a sua libertação por não desejarem lutar por ela, e por não desejarem conhecer a verdade que nos liberta. Liberta do pecado, dos temores, das superstições, da condenação da lei. Muitos preferem permanecer sob o jugo da lei do que experimentar a liberdade da graça do evangelho que lhes está sendo oferecida gratuitamente em Cristo Jesus. Tentam agradar a Deus na energia da carne e de suas próprias convicções, porque não conhecem por iluminação do Espírito Santo o real e extenso significado da verdade de que desde que Cristo se manifestou e morreu no lugar dos pecadores Ele tomou sobre si a maldição da lei para que fôssemos resgatados dela, de modo que livres da condenação da lei pudéssemos servir a Deus em novidade de vida. Desde que Cristo se manifestou entrou também em vigor uma Nova Aliança, na qual quem reina é a graça por meio da justiça de Cristo, e não pela nossa própria justiça. De modo que conhecer a verdade é prosseguir em ser instruído pelo Espírito Santo quanto ao verdadeiro significado do evangelho da graça pelo qual fomos salvos mediante a fé. De modo que sejamos livrados de todo legalismo, farisaísmo e superstições tolas, e incapacidade e impotência para subjugar os poderes das trevas, e para sermos tomados de toda a plenitude de Deus numa completa submissão à Sua vontade, fazendo o que lhe é agradável por meio da fortificação que recebemos da graça de Jesus, quando confiamos nEle e na Sua inteira capacidade e méritos e quando estamos convencidos da nossa própria insuficiência e incapacidade, e consequentemente não confiemos em nós mesmos, mas somente nEle, sabendo que sem Ele nada podemos fazer. Mas que nEle podemos todas as coisas pela força e capacidade que Ele supre, tal como Sansão fora suprido enquanto se mantinha fiel ao voto do seu nazireado que fora feito por iniciativa do próprio Deus ainda quando ele se encontrava no ventre de sua mãe. Deus também firmou um voto de consagração em todos os cristãos, antes mesmo de terem sido formados no ventre de suas mães, em razão da eleição que fizera desde antes da fundação do mundo. E não cabe portanto ao cristão qualquer outra alternativa senão a de ser fiel à consagração que é devida ao Senhor.
Quando os homens de Judá levaram Sansão manietado para ser entregue aos filisteus, e quando estes jubilaram ao verem-no com os braços amarrados, o Espírito Santo se apoderou de Sansão e fez com que ele rompesse aquelas cordas com extrema facilidade e prevalecesse sobre os seus inimigos matando a mil deles com a queixada de um asno.
Quando o Espírito do Senhor veio sobre Sansão as cordas que o amarravam foram destruídas. Onde o Espírito do Senhor está há liberdade. Isto tipificou a ressurreição de Cristo pelo poder do Espírito de santidade, que desprendeu as ligaduras da morte e o ressuscitou dentre os mortos.
A Sansão foi permitido efetuar aquela grande destruição com a queixada de um asno, um instrumento que sequer era de guerra, um osso desprezível para servir de ilustração que Deus usa as coisas desprezíveis para que a excelência do poder seja dEle, e reconheçamos que não é pela nossa própria capacidade e poder que realiza a Sua obra através de nós, mas pelo Seu Espírito que usa os vasos de barro que somos.
Os versos 18 a 20 descrevem a grande extenuação a que Sansão ficou sujeito depois daquela luta colossal que empreendeu contra os filisteus. Era um efeito natural do grande calor que ele havia suportado, e do enorme esforço que ele havia feito. Sendo deixado agora à mercê de suas próprias forças, já não sendo assistido sobrenaturalmente pelo Espírito, Sansão viu-se defronte à sua própria fraqueza.
Isto foi permitido por Deus para que Sansão não ficasse orgulhoso da sua grande força e realizações, e lhe deixou ver que era apenas um homem que estava sujeito às mesmas limitações e necessidades comuns a todos os homens. É bem possível que ele tenha se esquecido de tributar todo o louvor e glória a Deus pelo feito que ele havia realizado, porque na comemoração da sua vitória ele tributou todo o louvor a si mesmo quando disse: “Eu matei mil homens”; mas agora que ele está prestes a morrer de sede e então ficou debaixo de uma convicção sensata que o próprio braço dele não o poderia ter salvado, sem que a poderosa mão de  Deus não o capacitasse daquele modo sobrenatural, de modo que nunca se ouviu de tal façanha que somente um homem tivesse matado a mil homens com a força do seu próprio braço.
Cristo na cruz, disse, eu tenho sede. A extenuação dos seus grandes sofrimentos na luta contra os poderes das trevas em favor do povo de Deus o levou a clamar dizendo que estava com uma profunda sede. E também nisto, o ocorrido com Sansão foi um tipo do que viria a ocorrer com Cristo no grande trabalho da sua alma em favor da libertação dos pecadores dos poderes das trevas.
O trabalho de Jesus foi um trabalho completamente perfeito na presença de Deus e dos homens, mas o trabalho de Sansão está repleto de imperfeições, não naquilo diz respeito à obra do Espírito Santo, que é sempre perfeita, mas no tocante às limitações e imperfeições da natureza terrena decaída no pecado. E a Bíblia não esconde portanto nenhuma das faltas mesmo dos grandes heróis da fé, para nos convencer que o trabalho de salvação das nossas almas não poderia ser realizado por nenhum outro, e somente por Cristo, porque exigiria uma perfeição sem pecado, para que os que são pecadores pudessem ser aperfeiçoados no trabalho de santificação produzido pelo Espírito Santo.
Mas, pelo arrependimento e pela confissão nos foi aberta pela graça de Deus, uma porta para que possamos não consertar aquilo que nós mesmos fizemos de errado na presença de Deus, porque o que foi feito, feito está, ainda que possa ser remediado. Mas, para que possamos restabelecer a nossa comunhão com Deus e redirecionarmos o nosso caminhar na vereda da justiça e da verdade, através do reconhecimento de que somente a Ele devem ser tributados todo o louvor e toda a glória, pelos feitos que Ele realizar através de nós. Assim como fizera Sansão quando abatido pela sede. Ele clamou a Deus reconhecendo finalmente que não pelo seu próprio poder e capacidade fizera aquele grande feito, mas por causa da mão de Deus que fora com ele (v 18): “Pela mão do teu servo tu deste este grande livramento; e agora morrerei eu de sede, e cairei nas mãos destes incircuncisos?”. E o argumento de Sansão nessa oração é um argumento de fé porque ele não somente reconhece que Deus o capacitara para matar os filisteus e era também poderoso para prover água para ele naquele grande deserto. Ele como que argumenta com o Senhor dizendo que se Ele pôde fazer aquela grande maravilha através dele, não seria uma coisa difícil para Deus providenciar água no meio do deserto. E pela sua fé demonstrada o seu pedido foi atendido de modo também miraculoso porque o Senhor abriu uma fonte de água em Leí para que a sede de Sansão fosse saciada. E para testemunho aquela fonte não parou de jorrar desde então (v. 19). Assim, quando somos abençoados por Deus por causa da nossa fé, a bênção que dele recebemos acaba por deixar um rastro para que outros possam ser abençoados com a mesma bênção que nós fomos contemplados pelo fato de termos honrado a Deus com a nossa fé, em nosso trabalho para Ele em favor do Seu povo.  
Depois destes feitos Sansão foi reconhecido como governante de Israel (v. 20). E Deus o dirigiu como juiz deles por vinte anos, de modo que ele preservou a ordem em Israel no período em que eles estiveram debaixo da dominação dos filisteus.

“1 Alguns dias depois disso, durante a ceifa do trigo, Sansão, levando um cabrito, foi visitar a sua mulher, e disse: Entrarei na câmara de minha mulher. Mas o pai dela não o deixou entrar,
2 dizendo-lhe: Na verdade, pensava eu que de todo a aborrecias; por isso a dei ao teu companheiro. Não é, porém, mais formosa do que ela a sua irmã mais nova? Toma-a, pois, em seu lugar.
3 Então Sansão lhes disse: De agora em diante estarei sem culpa para com os filisteus, quando lhes fizer algum mal.
4 E Sansão foi, apanhou trezentas raposas, tomou fachos e, juntando as raposas cauda a cauda, pôs-lhes um facho entre cada par de caudas.
5 E tendo chegado fogo aos fachos, largou as raposas nas searas dos filisteus:, e assim abrasou tanto as medas como o trigo ainda em pé as vinhas e os olivais.
6 Perguntaram os filisteus: Quem fez isto? Respondeu-se-lhes: Sansão, o genro do timnita, porque este lhe tomou a sua mulher, e a deu ao seu companheiro. Subiram, pois, os filisteus, e queimaram a fogo a ela e a seu pai.
7 Disse-lhes Sansão: É assim que fazeis? pois só cessarei quando me houver vingado de vós.
8 E de todo os desbaratou, infligindo-lhes grande mortandade. Então desceu, e habitou na fenda do penhasco de Etã.
9 Então os filisteus subiram, acamparam-se em Judá, e estenderam-se por Leí.
10 Perguntaram-lhes os homens de Judá: Por que subistes contra nós. E eles responderam: Subimos para amarrar a Sansão, para lhe fazer como ele nos fez.
11 Então três mil homens de Judá desceram até a fenda do penhasco de Etã, e disseram a Sansão: Não sabias tu que os filisteus dominam sobre nós? por que, pois, nos fizeste isto? E ele lhes disse: Assim como eles me fizeram a mim, eu lhes fiz a eles.
12 Tornaram-lhe eles: Descemos para amarrar-te, a fim de te entregar nas mãos dos filisteus. Disse-lhes Sansão: Jurai-me que vós mesmos não me acometereis.
13 Eles lhe responderam: Não, não te mataremos, mas apenas te amarraremos, e te entregaremos nas mãos deles. E amarrando-o com duas cordas novas, tiraram-no do penhasco.
14 Quando ele chegou a Leí, os filisteus lhe saíram ao encontro, jubilando. Então o Espírito do Senhor se apossou dele, e as cordas que lhe ligavam os braços se tornaram como fios de linho que estão queimados do fogo, e as suas amarraduras se desfizeram das suas mãos.
15 E achou uma queixada fresca de jumento e, estendendo a mão, tomou-a e com ela matou mil homens.
16 Disse Sansão: Com a queixada de um jumento montões e mais montões! Sim, com a queixada de um jumento matei mil homens.
17 E acabando ele de falar, lançou da sua mão a queixada; e chamou-se aquele lugar Ramá-Leí.
18 Depois, como tivesse grande sede, clamou ao Senhor, e disse: Pela mão do teu servo tu deste este grande livramento; e agora morrerei eu de sede, e cairei nas mãos destes incircuncisos?
19 Então o Senhor abriu a fonte que está em Leí, e dela saiu água; e Sansão, tendo bebido, recobrou alento, e reviveu; pelo que a fonte ficou sendo chamada En-Hacore, a qual está em Leí até o dia de hoje.
20 E julgou a Israel, nos dias dos filisteus, vinte anos.” (Jz 15.1-20).



Juízes 16

Sansão – Parte 4

O nome Sansão, como nós comentamos antes, significa sol brilhante; e nós vemos que este sol começou a brilhar desde a manhã do seu nascimento pela esperança para Israel que foi prometida por Deus com o nascimento daquele menino, e este sol se fez forte e brilhante como ao meio-dia durante os vinte anos que ele julgou Israel, livrando-o das opressões dos filisteus, mas este capitulo mostra o entardecer e anoitecer de Sansão, quando o brilho do sol apagou na parte final da sua vida, conforme vemos neste 16º capítulo do livro de Juízes.
Aqui nós vemos como ele se arriscou grandemente por causa da intimidade com uma meretriz, quase não escapando (v. 1 a 3). E nós vemos ainda ele sendo infiel ao seu voto de nazireado, envolvendo-se com outra meretriz, Dalila, que seria o instrumento da sua ruína. E na infidelidade ao voto, pelo seu relacionamento com Dalila, ele acabou quebrando o mesmo, quando lhe revelou o segredo da forma de se quebrar o referido voto, pois o nazireado acabava quando o votante rapava a sua cabeça, conforme prescrito na lei de Moisés, indicando que estava livre do compromisso mútuo com Deus que era imposto enquanto durasse o voto. E foi esta a razão porque Sansão foi deixado à mercê dos seus inimigos. Não pelo segredo que lhe revelou, mas pelo fato de ter tido a cabeça rapada, o que consequentemente tornava o voto sem efeito, anulando-o. E se a força de Sansão era garantida pelo voto de nazireado, que no seu caso deveria durar toda a sua vida, conforme palavra do anjo aos seus pais, antes da sua concepção, não seria de se esperar que ele a mantivesse caso o voto fosse quebrado.
Antes mesmo de ter se unido a Dalila, Sansão pecou grandemente profanando a honra de um israelita e especialmente do nazireu que ele era, quando se afeiçoou a uma prostituta de Gaza e teve relações com ela. (v. 1).
Sabendo que ele se encontrava em Gaza, os filisteus fecharam os portões da cidade e planejaram matá-lo pela manhã, considerando que o tinham aprisionado na cidade ao fecharem os seus enormes portões. Mas, levantado-se à meia-noite, Sansão fugiu por onde eles menos esperavam, pelos portões da cidade, e certamente não montaram uma guarda especial no local, confiados que estavam na forte estrutura daqueles portões. Mas a força do Espírito Santo através de Sansão permitiu-lhe que arrancasse os portões com as próprias mãos, e não somente isto, que os levasse sobre os seus ombros até o cume de um monte fronteiriço a Hebrom.
Satanás estava trabalhando no ponto fraco de Sansão para conduzi-lo à derrota. Não para satisfazer os filisteus. Mas, como sempre faz, para atrapalhar os planos de Deus e tentar invalidar a Sua promessa e Palavra. E como não foi possível vencer a Sansão com uma prostituta rude, ele vai lançar mão agora de uma atração mais sofisticada. Uma mulher refinada que se relacionava com os príncipes filisteus. Uma cortesã que seria usada ardilosamente para que se quebrasse o voto de Nazireu que Sansão tinha com Deus, e deste modo, perdesse toda a sua força.
A estratégia de Satanás segue sendo a mesma em relação a todos os cristãos, como vemos ilustrado em variadas porções da Bíblia, porque o grande propósito dele é o de colocar-nos debaixo da correção do próprio Deus, pois isto fere tanto a nós quanto ao Seu coração amoroso de Pai. Nós vimos isto no livro de Números quando Balaão, por inspiração satânica, sugeriu que os midianitas dessem suas mulheres como esposas aos israelitas para que estas lhes ensinassem a se prostituírem com Baal, e o resultado foi que eles pecaram contra Deus, e não restou ao Senhor alternativa senão a de visitar o pecado deles com uma grande praga que matou a milhares de israelitas.
Especialmente os ministros do evangelho são os alvos preferenciais de Satanás, para serem conduzidos em pecado, de forma que o escândalo produzido pelo pecado deles traga grande prejuízo não somente ao rebanho que dirigem, como também traga desonra ao Deus sob cujo nome eles ministram.
Assim, não são propriamente as pessoas dos ministros que Satanás tem por objetivo atingir, mas a causa do evangelho. De igual modo não era propriamente a pessoa de Sansão o alvo do diabo, e não somente também manter os israelitas debaixo da dominação dos filisteus, senão do seu próprio domínio conforme estava conseguindo em sucessivas gerações de Israel, fazendo com que permanecessem endurecidos em seus pecados e incredulidade. E Satanás sabia o quanto a ação de Deus através da vida de Sansão poderia servir para despertar a fé dos israelitas e movê-los a viverem de novo obedientemente à Sua vontade, e cumprindo a Sua Palavra.
Mas, infelizmente, isto não ocorreu, não por ter Deus fracassado, mas por ter sido a vida de Sansão uma vida tão cheia de contradições.
Deus prepararia um outro libertador para Israel, para trazer a nação à fidelidade à Sua vontade, e fez isto nos dias de um outro juiz que foi levantado depois de Sansão, o sacerdote Eli, e esta pessoa que foi grandemente usada por Deus como modelo de obediência e santidade, para servir de bom exemplo para Israel retornar à fidelidade, foi o profeta Samuel.            
Então, ainda que Israel tivesse se livrado do jugo dos filisteus pela libertação obtida por Sansão em sua morte, foi apenas uma liberdade de caráter político, e não espiritual, porque os israelitas permaneceram escravizados à sua incredulidade.
Nós vemos o próprio Sansão, no final da sua vida, emaranhado no laço do diabo, porque ficou de tal maneira ligado em seu espírito a Dalila, que se tornou negligente com o dom de Deus que havia nele. Ele deixou de dar o devido valor ao que era precioso e passou a seguir as inclinações naturais de sua natureza carnal, ao ponto de não considerar a desonra que estava dando ao nome de Deus através do seu interesse em relacionar-se até mesmo com meretrizes.
Deste modo a sua queda era previsível e dependeria somente de uma mera questão de tempo. Quando o nosso coração se afasta de Deus e da santidade que é devida a Ele, pela necessária atenção e cuidado em guardar os Seus mandamentos, a consequência é que automaticamente ficamos sujeitos ao governo da carne e enfraquecidos espiritualmente diante do nosso arqui inimigo. Ainda que tivesse mantido a força física, enquanto estava com Dalila, conforme pôde demonstrar a ela nas vezes em que lhe disse falsamente o modo pelo qual poderia se tornar fraco, tendo rompido cordas de nervos, cordas novas, e se livrado do tear, com extrema facilidade, no entanto, o seu espírito estava enfraquecido porque já não poderia estar em comunhão com Deus, porque é impossível estar na presença de Deus ao mesmo tempo em que nos permitirmos ser vencidos pelo pecado.
E tendo perdido a comunhão com Deus Sansão passou a agir ingenuamente e colocou o seu coração e confiança numa mulher, ao ponto de não somente correr o grande risco de confiar nela para guardar o segredo que poderia torná-lo vulnerável, como também de confiar ao ponto de adormecer em seu colo.          
Não é incomum que Satanás use falsos consoladores,  conselheiros e amigos, com o propósito de nos afastar dos caminhos de Deus. Ele pode usar várias fontes de tentação com uma falsa aparência de beleza e conforto que acabarão se transformando na causa da nossa ruína espiritual. A beleza de uma Dalila pode ser trazida aos cristãos não necessariamente através do físico de uma mulher, mas nas mais variadas formas de imagens reais e virtuais, especialmente neste mundo tecnológico das TV`s, e todas as formas de equipamentos de áudio e de vídeo, nos quais são veiculadas em grande maioria as coisas que são forjadas no inferno com o propósito de manter os homens endurecidos em seus pecados e de afastar os cristãos da comunhão com Deus. Sempre haverá à nossa disposição um colo no qual poderemos ser entretidos com um sono que nos será mortal.
Temos que considerar quanto a isto que a simples resistência em não praticar o mal sugerido, tal como foi o caso de Sansão em sua resistência inicial em não ceder à  insistência de Dalila para arrancar dele o segredo da sua força, não será de qualquer valia e proveito a nós, se apesar de não praticarmos o mal que nos é sugerido pelas fontes de tentação às quais estamos ligados em nosso coração, porque na verdade, o não praticar é como se o tivéssemos praticado, porque o nosso coração já não é com Deus, mas com aquelas coisas às quais nos unimos através da nossa natureza carnal. Quando a atmosfera de santidade de Deus se vai de nós, e por meio da qual respiramos o ar vital para a vida do nosso espírito, o Senhor pode ter se ausentado de nós, e nem sempre o perceberemos, tal como ocorreu com Sansão (v 20).
    Quando o anjo anunciou o nascimento de Sansão a seus pais não disse nada a eles acerca da grande força física que ele teria. O anjo falou somente que deveria ser um nazireu, e que nenhuma navalha deveria ser passada em seu cabelo. Assim, a força dele estaria na sua consagração a Deus. E de igual modo a nossa força espiritual é decorrente da nossa consagração ao Senhor. Assim a força física de Sansão que era forjada pela ação do Espírito Santo serve de tipo e figura da força espiritual dos cristãos (Col 11.29). Assim se é a consagração a razão da nossa força, se perdermos a primeira, consequentemente perderemos a segunda. Não era portanto o cabelo de Sansão propriamente dito que era a fonte da sua força, mas a fidelidade a seu voto de nazireu que seria demonstrado exteriormente pelo fato de não raspar a sua cabeça.  Tudo nos chama a confiar e a esperar inteiramente na graça de Deus porque é somente vivendo e andando deste modo que podemos receber dEle poder e direção para nossas vidas. Veja o caso de Sansão, que perdendo a Sua comunhão com Deus, perdeu também a capacidade de ouvir a Sua voz, e fazendo-se negligente para com o seu dom, não foi alertado quanto ao perigo que estava correndo, e Deus o deixou entregue à sua própria carnalidade e às consequências que lhe sobreviriam em decorrência disso. Deus jamais encobrirá as nossas faltas por meio de distorcer a verdade e justiça. Ele jamais o fará porque não pode fazê-lo em razão da Sua perfeita santidade e justiça. Nem sequer o faria para preservar a honra do Seu bom nome, para que não seja infamado pelos escândalos produzidos pelos Seus servos. Ele suportará o dano, e vindicará a Sua santidade e justiça permitindo que soframos as consequências de nossas más ações, de modo que seja testemunhado que Ele nos abandonou não em razão de falta de amor por nós, mas por causa dos nossos pecados deliberados, de modo que aquilo de mau que fazemos publicamente possa ser também interpretado publicamente como sendo algo pertencente à nossa exclusiva maldade, e não em decorrência de qualquer maldade ou injustiça que pudessem ser achadas em Deus e serem a causa do nosso mau comportamento.
Tal como Judas se vendeu para trair a Jesus, Dalila também se vendeu aos príncipes filisteus para trair a Sansão. O salário da injustiça foi devidamente pesado e seria pago assim que a traição fosse consumada. E tudo isso estava oculto ao conhecimento de Sansão. Aquele homem que foi o instrumento poderoso para livrar Israel enquanto caminhava com Deus e que havia subjugado tantos e poderosos inimigos, seria agora vencido para sua vergonha, pela instrumentalidade de uma mulher, revelando-se assim quão fraca é a natureza humana quando está desprovida da força que decorre da graça do Senhor.        
Se descuidamos da nossa comunhão com Deus não devemos esperar prevalecer contra os nossos inimigos, porque eles virão disfarçados a nós sob a forma de uma fragilidade qualquer, tal como ocorreu com Sansão, e nos enganarão, assim como o enganaram.
E os olhos de Sansão foram vazados pelos filisteus para que não mais enxergasse, e assim pensavam que não correriam mais qualquer risco, mesmo que ele viesse a recobrar a sua antiga força, pois não teria os seus olhos para guiá-lo. E eles pretendiam mantê-lo como um troféu vivo para o deus Dagom deles, para tributar-lhe honra com a forma zombeteira com que tratariam o seu maior inimigo, de modo a exibir publicamente a supremacia do seu deus sobre o Deus de Sansão.
Não existe nenhum Dagom e nenhum outro Deus além do Deus único e verdadeiro. Mas certamente existe aquele que sempre está por detrás de todo culto idolátrico, instigando os homens a adorarem deuses que sequer existem. E isto sim é o maior escárnio que existe e que é produzido por Satanás para expor ao ridículo os homens que foram criados à imagem e semelhança de Deus. Através do engano ele consegue enganar aqueles que enganam. Porque se os filisteus haviam enganado a Sansão através de Dalila, eles também estavam sendo enganados pelo diabo de modo a julgarem que de fato um deus inexistente tinha sido quem lhes havia feito triunfar sobre o seu grande inimigo. Assim, aqueles que vivem a enganar são também enganados pelo diabo porque não podem andar na verdade e serem livrados do engano do Maligno por causa das suas más obras que os colocam debaixo da influência e do poder de Satanás.  
E mesmo no caso de cristãos, como Jesus alertou aos seus discípulos, se o sal vier a perder o sabor para nada mais presta senão para ser pisado pelos homens. E foi exatamente o que sucedeu a Sansão. Ele perdeu o sabor da sua consagração. Ele pensava que Deus ainda era com ele mesmo vivendo em pecado, pois o pecado tem esta propriedade de endurecer e cegar. De modo que Sansão já estava cego quando lhe vazaram os olhos, pois não podia mais enxergar a Deus em espírito.
Entretanto, em Sua grande misericórdia e para vindicar a Sua glória e santidade, Deus conduziu Sansão ao arrependimento quando os filisteus estavam glorificando e louvando a Dagom por ter entregue nas mãos deles o seu inimigo, e a forma que eles escolheram de tributar honra ao seu deus seria expondo Sansão ao ridículo perante ele e toda assembleia de filisteus. Este tipo de honra jamais seria aceita pelo Deus verdadeiro porque não tem prazer na iniquidade. E assim, o caráter do deus que é cultuado pelos ímpios será retratado com a mesma vileza daqueles que lhe prestam culto.
E as milhares de pessoas que estavam zombando de Sansão e do Deus de Sansão, e tributando honra a um deus falso não sabiam que havia um juízo de Deus determinado sobre elas, e prosseguiram em suas luxúrias e apresentação de sacrifícios ao seu deus enquanto zombavam de Sansão. O Senhor poderia castigá-los diretamente como fizera com os de Sodoma e Gomorra, e no dilúvio nos dias de Noé, mas o caso requeria, para glória da Sua justiça e misericórdia, que o instrumento da vergonha fosse restaurado, de modo a ser um instrumento de honra. E isto deveria ser feito pelo caminho do perdão e do arrependimento. E assim, em sua grande humilhação e indignação por estar testemunhando a forma como o nome do Deus de Israel estava sendo blasfemado, Sansão clamou ao Senhor com as seguintes palavras: “Então Sansão clamou ao Senhor, e disse: Ó Senhor Deus! lembra-te de mim, e fortalece-me agora só esta vez, ó Deus, para que duma só vez me vingue dos filisteus pelos meus dois olhos.” (v. 28).
E assim, a força que Sansão havia perdido no pecado, ele recuperou através da oração. E Deus poderia restaurar o voto de nazireu dele porque o seu cabelo havia crescido. Caso o cabelo tivesse crescido e Sansão não se arrependesse, mesmo que o voto fosse restaurado ele não poderia ser usado pelo Espírito de Deus, em razão da sua falta de arrependimento. Não basta portanto cumprir aquilo que votamos a Deus e nem ofertar e adorar a Ele sem que atendamos à condição necessária para que nossas ofertas, adoração e serviço sejam aceitáveis a Deus: a consagração de nossas vidas a Ele. Sem santificação, sem fé, sem amor, sem comunhão com o Senhor, será impossível agradá-lo e por conseguinte não seria possível andar em acordo com Ele. A simples ação exterior não será aceita por não ter sido acompanhada pela atitude interior adequada que deve lhe dar causa. Por isso se diz que Deus ama a quem dá com alegria, significando isto que nossas ofertas devem ser acompanhadas por um espírito de gratidão e alegria em se estar servindo ao Senhor.  Assim, Sansão não orou somente com os lábios, mas voltou verdadeiramente em seu coração para o Deus ao qual ele havia virado suas costas com o seu mau caminhar, e por isso teve a sua oração atendida.
E o atendimento do pedido de Sansão deixa bem marcado na Bíblia o caráter daquela Antiga Aliança, porque Sansão, ao morrer pediu a Deus para se vingar dos seus inimigos, e foi atendido porque na Antiga Aliança se dizia aos antigos:”Olho por olho, dente por dente.”. E Sansão poderia ter atendido o seu pedido de vingança por terem os filisteus vazado os seus olhos. Mas Cristo, ao morrer, inaugurando uma Nova Aliança, pediu perdão e não vingança para os seus inimigos que zombavam dele na cruz, bem como para todos os pecadores que deram causa à sua crucificação. E isto denota o novo caráter desta Nova Aliança onde já não mais se diz “olho por olho, dente por dente”, mas “amai os vossos inimigos.”.  
Embora Sansão tenha vivido na época da dispensação da Lei, no entanto era um salvo por causa da sua fé, e ainda que tenha morrido com os filisteus, não teve o mesmo destino deles, porque certamente foi conduzido à glória celestial por causa da bondade e misericórdia de Deus manifestadas a Ele, e o Senhor conhece aqueles que são seus.
E Deus honrou a Sansão mesmo depois da sua morte, pois não permitiu que o seu corpo ficasse enterrado no território dos seus inimigos juntamente com eles, pois seus familiares o descobriram entre os escombros do edifício que ele havia derrubado, e o trouxeram ao território de Israel onde foi sepultado.



“1 Sansão foi a Gaza, e viu ali uma prostituta, e entrou a ela.
2 E foi dito aos gazitas: Sansão entrou aqui. Cercaram-no, pois, e de emboscada à porta da cidade o esperaram toda a noite; assim ficaram quietos a noite toda, dizendo: Quando raiar o dia, matá-lo-emos.
3 Mas Sansão deitou-se até a meia-noite; então, levantando-se, pegou nas portas da entrada da cidade, com ambos os umbrais, arrancou-as juntamente com a tranca e, pondo-as sobre os ombros, levou-as até o cume do monte que está defronte de Hebrom.
4 Depois disto se afeiçoou a uma mulher do vale de Soreque, cujo nome era Dalila.
5 Então os chefes dos filisteus subiram a ter com ela, e lhe disseram: Persuade-o, e vê em que consiste a sua grande força, e como poderemos prevalecer contra ele e amarrá-lo, para assim o afligirmos; e te daremos, cada um de nós, mil e cem moedas de prata.
6 Disse, pois, Dalila a Sansão: Declara-me, peço-te, em que consiste a tua grande força, e com que poderias ser amarrado para te poderem afligir.
7 Respondeu-lhe Sansão: Se me amarrassem com sete cordas de nervos, ainda não secados, então me tornaria fraco, e seria como qualquer outro homem.
8 Então os chefes dos filisteus trouxeram a Dalila sete cordas de nervos, ainda não secados, com as quais ela o amarrou.
9 Ora, tinha ela em casa uns espias sentados na câmara interior. Então ela disse: Os filisteus vêm sobre ti, Sansão! E ele quebrou as cordas de nervos, como se quebra o fio da estopa ao lhe chegar o fogo. Assim não se soube em que consistia a sua força.
10 Disse, pois, Dalila a Sansão: Eis que zombaste de mim, e me disseste mentiras; declara-me agora com que poderia ser amarrado.
11 Respondeu-lhe ele: Se me amarrassem fortemente com cordas novas, que nunca tivessem sido usadas, então me tornaria fraco, e seria como qualquer outro homem.
12 Então Dalila tomou cordas novas, e o amarrou com elas, e disse-lhe: Os filisteus vêm sobre ti, Sansão! E os espias estavam sentados na câmara interior. Porém ele as quebrou de seus braços como a um fio.
13 Disse Dalila a Sansão: Até agora zombaste de mim, e me disseste mentiras; declara-me pois, agora, com que poderia ser amarrado. E ele lhe disse: Se teceres as sete tranças da minha cabeça com os liços da teia.
14 Assim ela as fixou com o torno de tear, e disse-lhe: Os filisteus vêm sobre ti, Sansão! Então ele despertou do seu sono, e arrancou o torno do tear, juntamente com os liços da teia.
15 Disse-lhe ela: como podes dizer: Eu te amo! não estando comigo o teu coração? Já três vezes zombaste de mim, e ainda não me declaraste em que consiste a tua força.
16 E sucedeu que, importunando-o ela todos os dias com as suas palavras, e molestando-o, a alma dele se angustiou até a morte.
17 E descobriu-lhe todo o seu coração, e disse-lhe: Nunca passou navalha pela minha cabeça, porque sou nazireu de Deus desde o ventre de minha mãe; se viesse a ser rapado, ir-se-ia de mim a minha força, e me tornaria fraco, e seria como qualquer outro homem.
18 Vendo Dalila que ele lhe descobrira todo o seu coração, mandou chamar os chefes dos filisteus, dizendo: Subi ainda esta vez, porque agora me descobriu ele todo o seu coração. E os chefes dos filisteus subiram a ter com ela, trazendo o dinheiro nas mãos.
19 Então ela o fez dormir sobre os seus joelhos, e mandou chamar um homem para lhe rapar as sete tranças de sua cabeça. Depois começou a afligi-lo, e a sua força se lhe foi.
20 E disse ela: Os filisteus vêm sobre ti, Sansão! Despertando ele do seu sono, disse: Sairei, como das outras vezes, e me livrarei. Pois ele não sabia que o Senhor se tinha retirado dele.
21 Então os filisteus pegaram nele, arrancaram-lhe os olhos e, tendo-o levado a Gaza, amarraram-no com duas cadeias de bronze; e girava moinho no cárcere.
22 Todavia o cabelo da sua cabeça, logo que foi rapado, começou a crescer de novo:
23 Então os chefes dos filisteus se ajuntaram para oferecer um grande sacrifício ao seu deus Dagom, e para se regozijar; pois diziam: Nosso deus nos entregou nas mãos a Sansão, nosso inimigo.
24 Semelhantemente o povo, vendo-o, louvava ao seu deus, dizendo: Nosso deus nos entregou nas mãos o nosso inimigo, aquele que destruía a nossa terra, e multiplicava os nossos mortos.
25 E sucedeu que, alegrando-se o seu coração, disseram: Mandai vir Sansão, para que brinque diante de nós. Mandaram, pois, vir do cárcere Sansão, que brincava diante deles; e fizeram-no estar em pé entre as colunas.
26 Disse Sansão ao moço que lhe segurava a mão: Deixa-me apalpar as colunas em que se sustém a casa, para que me encoste a elas.
27 Ora, a casa estava cheia de homens e mulheres; e também ali estavam todos os chefes dos filisteus, e sobre o telhado havia cerca de três mil homens e mulheres, que estavam vendo Sansão brincar.
28 Então Sansão clamou ao Senhor, e disse: Ó Senhor Deus! lembra-te de mim, e fortalece-me agora só esta vez, ó Deus, para que duma só vez me vingue dos filisteus pelos meus dois olhos.
29 Abraçou-se, pois, Sansão com as duas colunas do meio, em que se sustinha a casa, arrimando-se numa com a mão direita, e na outra com a esquerda.
30 E bradando: Morra eu com os filisteus! inclinou-se com toda a sua força, e a casa caiu sobre os chefes e sobre todo o povo que nela havia. Assim foram mais os que matou ao morrer, do que os que matara em vida.
31 Então desceram os seus irmãos e toda a casa de seu pai e, tomando-o, o levaram e o sepultaram, entre Zorá e Estaol, no sepulcro de Manoá, seu pai. Ele havia julgado a Israel vinte anos.” (Jz 16.1-31).



Juízes 17

“1 Havia um homem da região montanhosa de Efraim, cujo nome era Mica.
2 Disse este a sua mãe: As mil e cem moedas de prata que te foram tiradas, por cuja causa lançaste maldições, e acerca das quais também me falaste, eis que esse dinheiro está comigo, eu o tomei. Então disse sua mãe: Bendito do Senhor seja meu filho!
3 E ele restituiu as mil e cem moedas de prata a sua mãe; porém ela disse: Da minha mão dedico solenemente este dinheiro ao Senhor a favor de meu filho, para fazer uma imagem esculpida e uma de fundição; de sorte que agora to tornarei a dar.
4 Quando ele restituiu o dinheiro a sua mãe, ela tomou duzentas moedas de prata, e as deu ao ourives, o qual fez delas uma imagem esculpida e uma de fundição, as quais ficaram em casa de Mica.
5 Ora, tinha este homem, Mica, uma casa de deuses; e fez um éfode e terafins, e consagrou um de seus filhos, que lhe serviu de sacerdote.
6 Naquelas dias não havia rei em Israel; cada qual fazia o que parecia bem aos seus olhos.
7 E havia um mancebo de Belém de Judá, da família de Judá, que era levita, e peregrinava ali.
8 Este homem partiu da cidade de Belém de Judá para peregrinar onde quer que achasse conveniente. Seguindo ele o seu caminho, chegou à região montanhosa de Efraim, à casa de Mica,
9 o qual lhe perguntou: Donde vens? E ele lhe respondeu: Sou levita de Belém de Judá, e vou peregrinar onde achar conveniente.
10 Então lhe disse Mica: Fica comigo, e sê-me por pai e sacerdote; e cada ano te darei dez moedas de prata, o vestuário e o sustento. E o levita entrou.
11 Consentiu, pois, o levita em ficar com aquele homem, e lhe foi como um de seus filhos.
12 E Mica consagrou o levita, e o mancebo lhe serviu de sacerdote, e ficou em sua casa.
13 Então disse Mica: Agora sei que o Senhor me fará bem, porquanto tenho um levita por sacerdote.” (Jz 17.1-13).

Tudo o que se relata neste e nos demais capítulos deste livro pertence a um período muito anterior aos dias de Sansão, remontando, o que se descreve no vigésimo capítulo, aos dias de Finéias, filho de Eleazar e neto de Arão (20.28).
E certamente, foi registrado no final do livro para não interromper a história dos juízes, para revelar que apesar dos muitos problemas havidos em seus dias, a nação caminhava melhor com Deus, do que antes disso, como poderemos verificar nos relatos que se seguem.
A história que é narrada neste capítulo não é uma história solta e isolada, porque por ela é informado como a idolatria entrou em Israel, através de um homem chamado Mica, e depois se espalhou por toda a tribo de Dã (18.3).
Nós vemos neste primeiro capítulo, que a idolatria começou como conseqüência de um furto e de uma maldição, evidenciando-se o caráter que geralmente costuma acompanhar aqueles que a praticam, tão diferente da sinceridade, honestidade, santidade, e bênçãos que costumam acompanhar aqueles que verdadeiramente servem e temem a Deus.
Mica havia furtado as mil e cem moedas de prata que sua mãe havia juntado, mas por temor das maldições que ela havia proferido contra o ladrão, lhe revelou que o seu dinheiro estava em sua posse e o restituiu a ela.
Considerando que o que havia movido seu filho foram os seus deuses, em cujo nomes havia proferido tais maldições, reservou duzentas moedas de prata para fazer com  elas imagens de escultura para ficarem na posse de seu filho. Já que ele não ficaria com o dinheiro, ficaria pelo menos com a mesma “bênção” dos deuses, que haviam “abençoado” sua mãe.
Apesar de ela ter dito que o dinheiro seria consagrado solenemente ao Senhor, no original hebraico, Jeová, transgredindo o mandamento que diz  “não farás para ti imagem de escultura” (Êx 20.4), ela estava na verdade cultuando a outros deuses, tal como fizeram os filhos de Israel, quando saíram do Egito, fabricando o bezerro de ouro, e dizendo que era os deuses que lhes haviam retirado do cativeiro.
Quando dizemos que servimos a Jesus e fazemos aquilo que Ele nos tem proibido na sua Palavra, revelamos com isso, que não o conhecemos de fato, e fazemos parte do rol daqueles que dizem Senhor, Senhor, e que de modo algum entrarão no reino dos céus.
Tal era o caso da mãe de Mica.
Ela tentou anular as maldições que havia proferido, e que recaíram sem que o soubesse sobre o próprio filho, posto ser ele o ladrão, com uma maldição ainda maior, que se transformaria na causa da perdição não apenas de seu filho, como de toda uma tribo de Israel, a de Dã.    
A cobiça e a mentira acompanharam também a ação da mãe de Mica, porque tendo dito a ele que usaria todo o dinheiro (mil e cem moedas) para fazer as imagens de escultura como forma de dedicação do dinheiro a Deus, sob o possível argumento de retirar a maldição que havia proferido, no entanto usou apenas menos do que um quinto do total (duzentas moedas), agindo tal como Ananias e Safira.
Como o ídolo é um mestre de mentiras e engano, porque por detrás do seu culto sempre encontraremos o pai da mentira que é o diabo, a mãe de Mica enganava-se a si mesma, ao dizer que estava dedicando o dinheiro a Jeová, com o fabrico daqueles ídolos, porque se o tivesse feito de fato, não teria agido com cobiça e mentindo, pois como pode Deus aceitar algo que seja feito com base na cobiça e na mentira, e ainda por cima, tratando-se de uma transgressão direta de um dos mandamentos tão claramente ordenado por Ele de que o Seu povo não faça para si imagem de escultura para lhes prestar culto de adoração, ainda que em Seu nome, porque na verdade não aceitará jamais tal tipo de adoração, uma vez que não é dirigida a Ele na verdade, que é espírito invisível, santo e justo, e é zeloso quanto a não permitir que aqueles que Lhe pertencem dividam o amor, culto e adoração que lhe são exclusivamente devidos a qualquer outro ser ou pessoa que exista em cima nos céus, ou em baixo na terra, ou mesmo nas águas debaixo da terra.
Desta forma, querendo fugir da maldição, eles estavam entrando nela porque ao que adora falsos deuses e usa imagem de escultura em sua adoração, se coloca debaixo do juízo proferido pelo Senhor contra os idólatras afirmando que visita até mesmo esta iniqüidade dos pais nos seus próprios filhos, até à terceira e quarta geração daqueles que O aborrecem (Êx 20.3-5), por provocarem a Sua ira, ao não darem a honra de culto e adoração, que são devidos exclusivamente a Ele.  
O temor do cumprimento da maldição da parte de Mica, foi tão grande e talvez não menor do que a devoção que ele passou a prestar àqueles ídolos fabricados, no intuito de que a maldição fosse transformada em bênção, que colocou os ídolos que sua mãe mandara fazer na casa de deuses que ele tinha, e acrescentou a todo aquele aparato idolátrico uma estola sacerdotal e terafins, tendo ainda nomeado a um de seus filhos para atuar como sacerdote do culto, que era prestado àqueles falsos deuses (v. 5).
Mica tinha construído uma casa de deuses porque era fruto da sua própria imaginação, sabendo ou não que eram de inspiração demoníaca.
Ele julgava certamente que a forma de culto que havia inventado era muito melhor do que a do tabernáculo, que estava em Siló.
É bem provável que tenha feito isto depois dos dias de Finéias, neto de Arão, que era o sumo sacerdote, porque este Finéias estava cheio do zelo do Senhor e teria certamente castigado a idolatria de Mica, tal como fizera ainda nos dias de Moisés ao príncipe de Simeão e à sua mulher midianita, no caso da praga de Baal-Peor relatado no livro de Números (25.1-18).
Pois, estando o tabernáculo em Siló, uma das cidades de Efraim, este Mica teve a ousadia de construir uma casa de deuses na própria região de Efraim, onde residia.
Certamente o zelo de Finéias teria vindo sobre ele tal como fizera quando as tribos da Transjordânia erigiram um altar como memorial ao Senhor, quando partiram para suas terras depois de terem batalhado com as demais tribos em Canaã.
Naquela ocasião foi também Finéias que liderou a confederação das tribos para guerrearem contra as tribos da Transjordânia, julgando que tinham erigido aquele altar com o propósito de introduzirem uma nova forma de adoração, diferente da que deveria ser prestada exclusivamente no tabernáculo.
A idolatria começou no próprio território onde se encontrava o tabernáculo, denotando que o caráter dos dirigentes de Israel, nesta ocasião não estava provido do mesmo zelo que se encontrou em Moisés, Josué, Eleazar e Finéias.
Quando a liderança faz concessões ao erro dentro da própria casa de Deus, por uma alegada tolerância, pensando que estará fazendo com isso um grande bem, na verdade estará abrindo as portas para que o diabo entre e opere seus enganos, destruições e morte, com toda a liberdade.
E o sexto verso faz a afirmação com a qual o livro é fechado: “Naquelas dias não havia rei em Israel; cada qual fazia o que parecia bem aos seus olhos.”.
Isto indica a necessidade que havia de que libertadores fossem levantados por Deus para governarem a nação, quer no período dos Juízes, como vimos estudando até aqui, quer no período dos reis de Israel, mas tanto num quanto noutro período, nós vemos que o governo e o libertador do qual o povo de Deus necessita para poder vencer efetivamente o pecado, é o Senhor Jesus, do qual todos os demais libertadores terrenos eram apenas um pálido tipo.
Porque Ele estabelece o Seu governo em santidade nos nossos corações, e nos habilita, pela graça da Sua presença em nós, em andar de modo agradável a Deus, tendo a sua lei inscrita nas nossas mentes e corações.
Não é portanto sem motivo, que são tantas as figuras e profecias relativas a Ele no Velho Testamento, quer nos sacrifícios de animais e em todo o simbolismo de purificação, consagração e santificação, que havia naqueles sacrifícios, no que se refere à obra de redenção, justificação, regeneração, santificação e glorificação que estão nEle e com as quais somos beneficiados na nossa associação com Ele.
Bendito pois seja para todo o sempre o nosso Amado Salvador e Senhor, que nos tem apartado das nossas iniqüidades para sempre, dando cumprimento cabal às profecias que apontavam para Ele e para a obra que realizaria em nosso favor.
Nós vemos quantas iniqüidades Israel cometeu, mesmo sendo o povo de Deus, e tendo recebido dEle a Lei, os testemunhos, promessas e profetas.
Quantas abominações eles praticaram como as que estamos estudando no livro de Juízes e que se agravaram com o decorrer do tempo.
Tudo isto apontava para a necessidade de que o Libertador viesse a Sião e apartasse Jacó das suas iniqüidades, trazendo perdão e reconciliação para todos aqueles que se encontravam afastados de Deus, e impossibilitados de fazerem por si mesmos a Sua santa vontade.
Jesus trouxe com Ele a graça do evangelho e a conversão do coração com e para a habitação do Espírito Santo, que nos faz perseverar nos caminhos de Deus.
A Ele pois toda honra, glória e louvor.
Falemos então do dever de todos os homens de guardarem a Lei de Deus, mas excluamos todo o mérito dos homens pelo fazê-lo, porque não poderiam fazer isto de modo algum, sem o Senhor que os santifica.
Falemos do esforço e de todo o trabalho que se deve fazer por amor ao Senhor, mas reconheçamos como Paulo, que tudo o que fizermos terá sido possibilitado  somente  pela graça de Jesus que nos for concedida.
Tal como os Juízes necessitavam que o Espírito Santo viesse sobre eles e os capacitasse a realizarem a obra que realizaram, conforme temos aprendido em todo o nosso estudo deste livro.
“Virá de Sião o Libertador, ele apartará de Jacó as impiedades.” (Rm 11.26).
 “E agora diz o Senhor, que me formou desde o ventre para ser o seu servo, para tornar a trazer-lhe Jacó, e para reunir Israel a ele (pois aos olhos do Senhor sou glorificado, e o meu Deus se fez a minha força). Sim, diz ele: Pouco é que sejas o meu servo, para restaurares as tribos de Jacó, e tornares a trazer os preservados de Israel; também te porei para luz das nações, para seres a minha salvação até a extremidade da terra.” (Is 49.5,6).
Os versos 7 a 13 deste capítulo de Juízes narram como foi que um levita de Belém de Judá veio a ser colocado por Mica como sacerdote e dirigente espiritual em sua casa, não para oficiar segundo a lei de Deus, mas para aperfeiçoar a falsa adoração que ele havia iniciado.
Este levita andava errante em peregrinação, e segundo o seu próprio falar procurava peregrinar onde achasse conveniente, isto é, pelo seu próprio gosto e vontade, e não por estar seguindo a direção de Deus, e como ocorreu com ele, sucede com todos os ministros de Deus que não oram e não têm comunhão com Ele para terem direção vinda dEle a quem, onde e como ministrarem.
O que anda de acordo com o seu próprio conselho e vontade acabará caindo no laço do diabo, tal como sucedeu a este levita que acabou indo dar na casa de Mica.
Caso estivesse sendo dirigido pelo Senhor, jamais teria ido ter com ele, e muito menos se sujeitaria a ele, por dinheiro, para fazer a sua vontade servindo a falsos deuses.
E disfarçado em ministro da justiça, a serviço do diabo, que se disfarça em anjo de luz, tal foi o incremento e operações demoníacas que atuaram sob aquele levita, que a fama das coisas que ocorriam em resposta a petições, e bem provavelmente até mesmo sinais e maravilhas, correu por todo Israel, e particularmente na tribo de Dã, conforme veremos no capítulo seguinte.
E Mica considerou que quem lhe trouxera aquele levita foi a providência divina.
Para ele foi o próprio Jeová que o enviara, e assim julgou que seria deveras abençoado com o ministério daquele levita em sua casa.
Nós devemos julgar todas as coisas mediante os critérios da Palavra de Deus, e pela revelação da verdade que nela se encontra, e não pelos nossos sentimentos, tal como fizera Mica, porque se nos desviamos da Palavra de Deus, até mesmo a nossa oração será uma abominação, conforme se encontra no livro de Provérbios, porque não será feita de acordo com a vontade e verdade reveladas de Deus, mas segundo o nosso próprio coração.
Como Deus poderia estar enviando alguém para ministrar o erro? Qual é a comunhão que há entre Deus e Belial?
Mica era um ladrão que havia roubado sua própria mãe, e um homem ambicioso, que fazia da religião ocasião de lucro.
O que almejava na verdade era ganhar honra e dinheiro daqueles que o procurassem,  em busca de respostas para os seus problemas.
Isto não tem mudado desde então, porque as pessoas sabem que buscar respostas no Deus verdadeiro demandará a conversão das suas vidas, e por isso rejeitam a verdade, à busca de ilusões em falsas divindades e junto aos demônios que não exigirão delas qualquer transformação de vida, podendo seguir livremente fazendo aquilo que é da própria vontade, permanecendo escravizadas aos pecados que gostam de praticar.



Juízes 18

“1 Naqueles dias não havia rei em Israel; a tribo dos danitas buscava para si herança em que habitar; porque até então não lhe havia caído a sua herança entre as tribos de Israel.
2 E de Zorá e Estaol os filhos de Dã enviaram cinco homens da sua tribo, escolhidos dentre todo o povo, homens valorosos, para espiar e reconhecer a terra; e lhes disseram: Ide, reconhecei a terra. E chegaram eles à região montanhosa de Efraim, à casa de Mica, e passaram ali a noite.
3 Pois, estando eles perto da casa de Mica, reconheceram a voz do mancebo levita; e, dirigindo-se para lá, lhe perguntaram: Quem te trouxe para cá? que estás fazendo aqui? e que é isto que tens aqui?
4 E ele lhes respondeu: Assim e assim me tem feito Mica; ele me assalariou, e eu lhe sirvo de sacerdote.
5 Então lhe disseram: Consulta a Deus, para que saibamos se será próspero o caminho que seguimos.
6 Ao que lhes disse o sacerdote: Ide em paz; perante o Senhor está o caminho que seguis.
7 Então foram-se aqueles cinco homens, e chegando a Laís, viram o povo que havia nela, como vivia em segurança, conforme o costume dos sidônios, quieto e desprecavido; não havia naquela terra falta de coisa alguma; era um povo rico e, estando longe dos sidônios, não tinha relações com ninguém.
8 Então voltaram a seus irmãos, em Zorá e Estaol, os quais lhes perguntaram: Que dizeis vós?
9 Eles responderam: Levantai-vos, e subamos contra eles; porque examinamos a terra, e eis que é muito boa. E vós estareis aqui tranqüilos? Não sejais preguiçosos em entrardes para tomar posse desta terra.
10 Quando lá chegardes, achareis um povo desprecavido, e a terra é muito espaçosa; pois Deus vos entregou na mão um lugar em que não há falta de coisa alguma que há na terra.
11 Então seiscentos homens da tribo dos danitas partiram de Zorá e Estaol, munidos de armas de guerra.
12 E, tendo subido, acamparam-se em Quiriate-Jearim, em Judá; pelo que esse lugar ficou sendo chamado Maané-Dã, até o dia de hoje; eis que está ao ocidente de Quiriate-Jearim.
13 Dali passaram à região montanhosa de Efraim, e chegaram à casa de Mica.
14 Então os cinco homens que tinham ido espiar a terra de Laís disseram a seus irmãos: Sabeis vós que naquelas casas há um éfode, e terafins, e uma imagem esculpida e uma de fundição? Considerai, pois, agora o que haveis de fazer.
15 Então se dirigiram para lá, e chegaram à casa do mancebo, o levita, à casa de Mica, e o saudaram.
16 E os seiscentos homens dos danitas, munidos de suas armas de guerra, ficaram à entrada da porta.
17 Mas subindo os cinco homens que haviam espiado a terra, entraram ali e tomaram a imagem esculpida, o éfode, os terafins e a imagem de fundição, ficando o sacerdote em pé à entrada da porta, com os seiscentos homens armados.
18 Quando eles entraram na casa de Mica, e tomaram a imagem esculpida, o éfode, os terafins e a imagem de fundição, perguntou-lhes o sacerdote: Que estais fazendo?
19 E eles lhe responderam: Cala-te, põe a mão sobre a boca, e vem conosco, e sê-nos por pai e sacerdote. Que te é melhor? ser sacerdote da casa dum só homem, ou duma tribo e duma geração em Israel?
20 Então alegrou-se o coração do sacerdote, o qual tomou o éfode, os terafins e a imagem esculpida, e entrou no meio do povo.
21 E, virando-se, partiram, tendo posto diante de si os pequeninos, o gado e a bagagem.
22 Estando eles já longe da casa de Mica, os homens que estavam nas casas vizinhas à dele se reuniram, e alcançaram os filhos de Dã.
23 E clamaram após os filhos de Dã, os quais, virando-se, perguntaram a Mica: Que é que tens, visto que vens com tanta gente?
24 Então ele respondeu: Os meus deuses que eu fiz, vós me tomastes, juntamente com o sacerdote, e partistes; e agora, que mais me fica? Como, pois, me dizeis: Que é que tens?
25 Mas os filhos de Dã lhe disseram: Não faças ouvir a tua voz entre nós, para que porventura homens violentos não se lancem sobre vós, e tu percas a tua vida, e a vida dos da tua casa.
26 Assim seguiram o seu caminho os filhos de Dã; e Mica, vendo que eram mais fortes do que ele, virou-se e voltou para sua casa.
27 Eles, pois, levaram os objetos que Mica havia feito, e o sacerdote que estava com ele e, chegando a Laís, a um povo quieto e desprecavido, passaram-no ao fio da espada, e puseram fogo à cidade.
28 E ninguém houve que o livrasse, porquanto estava longe de Sidom, e não tinha relações com ninguém; a cidade estava no vale que está junto a Bete-Reobe. Depois, reedificando-a, habitaram nela,
29 e chamaram-lhe Dã, segundo o nome de Dã, seu pai, que nascera a Israel; era, porém, dantes o nome desta cidade Laís.
30 Depois os filhos de Dã levantaram para si aquela imagem esculpida; e Jônatas, filho de Gérsom, o filho de Manassés, ele e seus filhos foram sacerdotes da tribo dos danitas, até o dia do cativeiro da terra.
31 Assim, pois, estabeleceram para si a imagem esculpida que Mica fizera, por todo o tempo em que a casa de Deus esteve em Siló.” (Jz 18.1-31).

Quando a tribo de Dã estava procurando estender os seus domínios, depois da morte de Josué, pela conquista dos territórios que haviam sido designados por sortes, e não sendo ainda Israel uma unidade federativa, com um governo central sobre todas as tribos, pois Deus havia concedido a eles serem uma teocracia, na qual cada tribo teria a liberdade de ter os seus próprios príncipes, juízes e chefes, tanto eles, quanto as demais tribos de Israel não souberam fazer bom uso desta liberdade, e já não estando mais debaixo de uma direção geral como nos dias de Moisés e Josué, eles agiram como bem parecia aos seus próprios olhos como se lê em Jz 17.6 e como se confirma no versículo introdutório desta capitulo décimo oitavo, onde se enfatiza que não havia reis em Israel nos dias em que se deu esta narrativa, como que para justificar o porque de todas estas ações voltadas para a idolatria puderam ter lugar sem que nenhuma confrontação fosse levantada por parte das demais tribos.
Num mundo onde há o pecado, desde a queda de Adão, e no qual existirá até que Jesus restaure todas as coisas, muita liberdade não é bom, porque o pecado sempre conduzirá ao abuso dela.
Não se pode confiar na natureza terrena porque o coração humano é excessivamente corrupto por causa do pecado, e é necessário o freio das leis e do governo para que pelo temor da punição, a iniqüidade não se espalhe em níveis tais, que impossibilite qualquer tipo de convivência social pacífica.
Somente a graça de Jesus pode renovar as mentes corrompidas dos homens e converter o seu coração a Deus, mas o poder do magistrado pode conter as suas práticas ruins e pode prender as suas mãos, de modo que a impiedade do mau não seja tão prejudicial como seria na falta da ação do magistrado.
Embora a espada da justiça não possa cortar a raiz de amargura, pode cortar as suas conseqüências e impedir seu crescimento e alastramento.
Veja quão perto da ruína estão todos os lugares em que não há nenhum magistrado ou em que havendo, prevarique no exercício devido da sua função, como ministro de Deus que traz a espada para o castigo dos malfeitores! Feliz é o povo que tem um bom governo e leis justas e juízes imparciais.
Mesmo na Igreja de Cristo, onde se desfruta da liberdade que o Espírito Santo concede, e se tem a liberdade da escravidão do pecado, por meio da redenção que há em Cristo Jesus, faz-se necessário o governo de pastores, presbíteros, mestres e diáconos, porque apesar de o espírito estar pronto, a carne é fraca, e o rebanho de Deus precisa portanto, ser conduzido debaixo de um cajado que lhe aponte o caminho a seguir, e para exercer a disciplina determinada por Cristo, para ser aplicada à Sua Igreja.
Visões românticas relativas à liberdade total que se deve dar a cada crente, sob o argumento de que todos são sacerdotes reais, tem causado muitas dores àqueles que procuram viver a vida cristã por meio destes princípios idealistas contrários à Palavra de Deus, porque no final das contas, terão que sofrer as conseqüências do inevitável mau uso da liberdade total concedida, pelo equívoco cometido de pensarem que já estamos vivendo no céu onde não há pecado, e tudo é uma perfeição absoluta.
O homem é livre, mas Deus tem determinado para todo homem o jugo de Jesus, que apesar de suave, configura a obrigação e compromisso que temos para com Ele, traduzidos nos muitos deveres que devemos cumprir, pela própria determinação da Sua vontade divina.
A primeira coisa que a natureza pecaminosa terrena do homem procura fazer ao argumentar a sua liberdade é lançar fora todo jugo, e com estes joga fora também o próprio jugo de Jesus.
Este é o motivo de se ver tantos crentes desobedientes à Palavra de Deus, especialmente nestes últimos dias, no qual quase tudo é permitido e justificável.
Entretanto Deus não muda, nem a Sua Palavra e vontade.
Foi exatamente o que se viu em toda a história de Israel narrada na Bíblia.
Quando faltava uma liderança temente a Deus, ou quando havia uma liderança permissiva, o resultado disso  era a apostasia dos caminhos do Senhor.
Não é portanto, surpreendente, o fato de vermos a tribo de Dã procurando estabelecer uma nova forma de culto em seu território, assalariando o levita que servia de sacerdote à casa de deuses de Mica, e por terem também levado para Dã todo o aparato idolátrico que lá existia.
    Deus odeia o roubo, e o diabo adora roubar, matar e destruir. E os danitas roubaram os ídolos da casa de Mica porque além de transgredirem o oitavo mandamento que diz “não furtarás” também transgredirem o primeiro e o segundo mandamentos que proíbem ter outros deuses diante do Senhor e cultuar imagens de escultura.
E o levita que servia de sacerdote na casa de Mica não era melhor do que eles, pois o que se pode esperar daqueles que naufragaram na fé pela falta de uma boa consciência?
Mica confiou neste levita apóstata, e ele o traiu, pois assentiu rapidamente em deixar a sua casa e seguir os danitas pela sua cobiça e desejo de ter a sua fama e poder aumentados, deixando de servir na casa de um só homem, para servir a toda uma tribo.
Mica ainda vai protestar com eles quanto ao seu direito ao que lhe haviam roubado. Mas estando em menor número do que os danitas, e tendo sido ameaçado de morte por eles, bem como os da sua casa, desistiu de tentar reaver os seus pertences.
Na verdade, o único direito de Mica, do levita, dos adoradores da sua cidade e de todos aqueles seiscentos danitas era a morte prevista na lei para os idólatras.
Mas como não havia um governo central em Israel para fazer valer o cumprimento da Lei de Moisés, eles agiam segundo melhor parecia aos seus próprios olhos, por saberem que não haveria quem os punisse.
Assim, este relato justifica a prática de toda ação legal em Israel, isto é, conforme a lei, ainda que possa parecer em muitos casos, que possa ter havido extrema crueldade, na verdade, especialmente naqueles dias, tal se fazia necessário, porque, como já dissemos antes, o mal teria se alastrado de tal forma que a própria Palavra de Deus teria sido banida da terra, e toda a humanidade teria se corrompido, e os justos seriam mais perseguidos e destruídos, do que já o foram, nas mãos dos ímpios.
Infelizmente, em razão da longanimidade de Deus, que sempre é abusada pelos ímpios e por aqueles que não O temem, estes podem pensar que estão prosperando, tal como os danitas, em razão de terem conquistado a cidade de Lais, a par de toda a idolatria deles e de terem pedido ao levita que agia como sacerdote de Mica para consultar aqueles deuses para saberem se seriam bem sucedidos contra aquela cidade, e ele lhes disse que sim, tal como sucedera de fato.
Foi aquilo uma bênção de Deus? Deus estava com eles? Certamente que não. E tem sido assim ao longo da história da humanidade.
Muitos confundem a sua prosperidade e coisas que têm conquistado sob a alegação de as terem recebido por uma revelação ou bênção direta de Deus, quando na verdade, o que conquistaram e o meio pelo qual foi conquistado sejam na verdade uma abominação a Ele.
Assim, não é incomum que muitos justifiquem a sua impiedade pela prosperidade deles, tal como foi o caso dos danitas, pois pensavam erroneamente, que apesar de estarem vivendo impiamente, Deus estava com eles, já que desfrutavam de boa saúde e de prosperidade material e financeira, e isto era para eles um sinal da aprovação e bênção de Deus sobre suas vidas, como tem sido para muitas pessoas, ao longo da história da humanidade, sem que o seja necessariamente.
Aqueles danitas depois de terem conquistado Laís, mudaram seu nome para Dã, porque esta cidade era o extremo norte de Israel, muito distante do lote que coubera á tribo de Dã, e lhe deram este nome como memorial à tribo à qual pertenciam, e tal era o endurecimento de coração deles que tributaram a honra da conquista aos ídolos que haviam trazido da casa de Mica e instituíram um culto formal a eles que durou por todo o tempo que o tabernáculo permaneceu em Siló.
E é dito no verso 30 que “Jônatas, filho de Gérsom, o filho de Manassés, ele e seus filhos foram sacerdotes da tribo dos danitas, até o dia do cativeiro da terra.”.
Este Manassés não é o filho de José do qual descenderam todos os manassitas. Seus filhos foram Jair e Maquir, sendo que os descendentes de Maquir herdaram na Transjordânia, e os de Jair em Canaã.
Além do mais, esta narrativa de Juízes está separada no tempo, do filho de José, Manassés, por mais de quatrocentos anos.
Algumas versões, registram o nome de Moisés, no lugar do de Manassés, que aparece neste capítulo no original hebraico, julgando que houve uma incorreção do escriba ao escrever este versículo, primeiro porque Moisés teve um filho chamado Gérsom, e porque no hebraico a grafia do nome de Manassés é muito parecida à do nome de Moisés. Entretanto não há nenhum registro bíblico de que o filho de Moisés, Gérsom, tenha tido um filho chamado Jônatas.
Nós encontramos em I Crôn 26.24 o nome de Sebuel como sendo filho de Gérsom, filho de Moisés, e não Jônatas.

Nós chegamos portanto à conclusão de que estamos diante de um homônimo do Manassés, filho de José, e também de um outro homônimo quanto a Gérsom, filho de Moisés, tratando-se de outras pessoas que viveram numa outra época, e que possivelmente eram da tribo de Dã, e não da tribo de Levi, à qual pertencia Moisés e seus descendentes, e também não pertenciam à tribo de Manassés que levava o nome do seu patriarca.



Juízes 19

“1 Aconteceu também naqueles dias, quando não havia rei em Israel, que certo levita, habitante das partes remotas da região montanhosa de Efraim, tomou para si uma concubina, de Belém de Judá.
2 Ora, a sua concubina adulterou contra ele e, deixando-o, foi para casa de seu pai em Belém de Judá, e ali ficou uns quatro meses.
3 Seu marido, levantando-se, foi atrás dela para lhe falar bondosamente, a fim de tornar a trazê-la; e levava consigo o seu moço e um par de jumentos. Ela o levou à casa de seu pai, o qual, vendo-o, saiu alegremente a encontrar-se com ele.
4 E seu sogro, o pai da moça, o deteve consigo três dias; assim comeram e beberam, e se alojaram ali.
5 Ao quarto dia madrugaram, e ele se levantou para partir. Então o pai da moça disse a seu genro: Fortalece-te com um bocado de pão, e depois partireis:
6 Sentando-se, pois, ambos juntos, comeram e beberam; e disse o pai da moça ao homem: Peço-te que fiques ainda esta noite aqui, e alegre-se o teu coração.
7 O homem, porém, levantou-se para partir; mas, como seu sogro insistisse, tornou a passar a noite ali.
8 Também ao quinto dia madrugaram para partir; e disse o pai da moça: Ora, conforta o teu coração, e detém-te até o declinar do dia. E ambos juntos comeram.
9 Então o homem se levantou para partir, ele, a sua concubina, e o seu moço; e disse-lhe seu sogro, o pai da moça: Eis que já o dia declina para a tarde; peço-te que aqui passes a noite. O dia já vai acabando; passa aqui a noite, e alegre-se o teu coração: Amanhã de madrugada levanta-te para encetares viagem, e irás para a tua tenda.
10 Entretanto, o homem não quis passar a noite ali, mas, levantando-se, partiu e chegou à altura de Jebus (que é Jerusalém), e com ele o par de jumentos albardados, como também a sua concubina.
11 Quando estavam perto de Jebus, já o dia tinha declinado muito; e disse o moço a seu senhor: Vem, peço-te, retiremo-nos a esta cidade dos jebuseus, e passemos nela a noite.
12 Respondeu-lhe, porém, o seu senhor: Não nos retiraremos a nenhuma cidade estrangeira, que não seja dos filhos de Israel, mas passaremos até Gibeá.
13 Disse mais a seu moço: Vem, cheguemos a um destes lugares, Gibeá ou Ramá, e passemos ali a noite.
14 Passaram, pois, continuando o seu caminho; e o sol se pôs quando estavam perto de Gibeá, que pertence a Benjamim.
15 Pelo que se dirigiram para lá, a fim de passarem ali a noite; e o levita, entrando, sentou-se na praça da cidade, porque não houve quem os recolhesse em casa para ali passarem a noite.
16 Eis que ao anoitecer vinha do seu trabalho no campo um ancião; era ele da região montanhosa de Efraim, mas habitava em Gibeá; os homens deste lugar, porém, eram benjamitas.
17 Levantando ele os olhos, viu na praça da cidade o viajante, e perguntou-lhe: Para onde vais, e donde vens?
18 Respondeu-lhe ele: Estamos de viagem de Belém de Judá para as partes remotas da região montanhosa de Efraim, donde sou. Fui a Belém de Judá, porém agora vou à casa do Senhor; e ninguém há que me recolha em casa.
19 Todavia temos palha e forragem para os nossos jumentos; também há pão e vinho para mim, para a tua serva, e para o moço que vem com os teus servos; de coisa nenhuma há falta.
20 Disse-lhe o ancião: Paz seja contigo; tudo quanto te faltar fique ao meu cargo; tão-somente não passes a noite na praça.
21 Assim o fez entrar em sua casa, e deu ração aos jumentos; e, depois de lavarem os pés, comeram e beberam.
22 Enquanto eles alegravam o seu coração, eis que os homens daquela cidade, filhos de Belial, cercaram a casa, bateram à porta, e disseram ao ancião, dono da casa: Traze cá para fora o homem que entrou em tua casa, para que o conheçamos.
23 O dono da casa saiu a ter com eles, e disse-lhes: Não, irmãos meus, não façais semelhante mal; já que este homem entrou em minha casa, não façais essa loucura.
24 Aqui estão a minha filha virgem e a concubina do homem; fá-las-ei sair; humilhai-as a elas, e fazei delas o que parecer bem aos vossos olhos; porém a este homem não façais tal loucura.
25 Mas esses homens não o quiseram ouvir; então aquele homem pegou da sua concubina, e lha tirou para fora. Eles a conheceram e abusaram dela a noite toda até pela manhã; e ao subir da alva deixaram-na:
26 Ao romper do dia veio a mulher e caiu à porta da casa do homem, onde estava seu senhor, e ficou ali até que se fez claro.
27 Levantando-se pela manhã seu senhor, abriu as portas da casa, e ia sair para seguir o seu caminho; e eis que a mulher, sua concubina, jazia à porta da casa, com as mãos sobre o limiar.
28 Ele lhe disse: Levanta-te, e vamo-nos; porém ela não respondeu. Então a pôs sobre o jumento e, partindo dali, foi para o seu lugar.
29 Quando chegou em casa, tomou um cutelo e, pegando na sua concubina, a dividiu, membro por membro, em doze pedaços, que ele enviou por todo o território de Israel.
30 E sucedeu que cada um que via aquilo dizia: Nunca tal coisa se fez, nem se viu, desde o dia em que os filhos de Israel subiram da terra do Egito até o dia de hoje; ponderai isto, consultai, e dai o vosso parecer.” (Jz 19.1-30).

A narrativa deste capítulo e a dos dois seguintes, que estão relacionados a ele pertencem também a um período anterior ao dos Juízes, como se infere do primeiro versículo, que afirma que “aconteceu também naqueles dias, quando não havia rei em Israel”, isto é, quando não havia um governo central sobre todas as tribos, e quando cada uma delas tinha autonomia política nos seus respectivos territórios
Finéias, neto de Arão, era o sumo-sacerdote nos dias do evento aqui narrado (20.28), e daí podemos entender porque houve uma ação em resposta ao desatino cometido pela tribo de Benjamim e especificamente pelos cidadãos de Gibeá, que era uma das cidades desta tribo, porquanto apesar de não haver um governo central com autoridade formal sobre todas as tribos, Finéias, na condição de sumo-sacerdote, honrava o seu ofício, estando cheio do zelo de Deus, conforme aprendera de seu avô, Arão, e seu pai, Eleazar.
Um levita de Efraim tinha como concubina uma mulher de Belém de Judá, mas, tendo esta adulterado, retornou à casa de seu pai em Belém.
Passados quatro meses, o levita resolveu buscá-la, por lhe ter perdoado o pecado de adultério.
Embora coubesse à parte culpada fazer o primeiro movimento em direção à reconciliação, assim como cabe aos pecadores fazê-lo em relação a Deus quando se reconciliam com Ele, através da conversão, que procede de um sincero arrependimento, este levita estava cheio de bondade, perdão e graça, e tomou a iniciativa que não caberia a ele, e sim à mulher.
O esforço do pai da moça em reter o levita por três dias em sua casa, insistindo com ele continuamente para que ficasse, é uma forma de se revelar pelo relato bíblico, que o caráter daquele levita era realmente um caráter aprovado, e era por causa deste caráter uma pessoa benigna e agradável.
E não podia consentir em ficar em Belém de Judá porque o tabernáculo do Senhor se encontrava em Siló, em Efraim, e ele intentava retornar para lá para retomar o seu ofício.
Entre o agradável, o confortável e o dever para com Deus, ele havia aprendido a estabelecer a prioridade correta, e por isso não consentiu em permanecer em Belém, apesar dos insistentes pedidos do seu sogro.
Tendo partido, ele se recusou a se hospedar na cidade de Jebus, porque apesar de se encontrar dentro dos limites dos territórios de Israel, ainda se encontrava na posse dos jebuseus, que não haviam sido expulsos pelos benjamitas.
Então ele se dirigiu para Gibeá, onde não encontrando hospedagem, ficou na praça da cidade, onde, por bondade hospitaleira de um cidadão de Efraim, que habitava em Gibeá, foi convidado a passar a noite em sua casa.
Para atender ao mandado de Deus de não se misturarem os israelitas com os habitantes de Canaã, aquele homem e sua mulher acabariam por achar o mal entre os seus próprios irmãos, porque apesar de Gibeá ser uma cidade da tribo de Benjamim, que era uma das tribos de Israel, os seus habitantes não temiam ao Senhor, como o levita da nossa história.
  Tal como os habitantes de Sodoma, que intentavam abusar dos anjos que Ló havia hospedado em sua casa, julgando que fossem meros homens, os ímpios daquela cidade que são designados por homens de Belial, também se dirigiram para a casa daquela ancião de Efraim, que residia em Gibeá, com o intuito de abusarem do levita que estava hospedado em sua casa.
Estes homens de Belial, apesar de fazerem parte do povo de Israel, haviam se transformado em filhos do diabo, e viviam para lhe atender aos desígnios, e como sabiam que aquele levita se dirigia à casa do Senhor em Siló, intentaram abusando dele, por inspiração do diabo, trazer na verdade não somente e propriamente desonra contra ele, mas contra o ofício sagrado do qual ele estava investido por Deus.
Era mais um ataque às coisas do Senhor, como sempre faz o diabo, do que propriamente a um simples homem.
Eles queriam atacar o que ele representava, e tem sido sempre assim ao longo da história na luta que há entre os filhos da serpente e a descendência da mulher, entre os filhos do diabo e os filhos de Deus.
Aparentemente, foi o diabo que triunfou na situação, porque a mulher daquele levita foi horrivelmente abusada por eles, e veio a falecer, mas isto deu ocasião a uma tal compulsão nas demais tribos de Israel e aversão ao pecado daqueles homens, que a tribo de Benjamim foi quase que dizimada totalmente pelos demais israelitas, tendo assim, o Senhor julgado não apenas o pecado daqueles homens, como também a negligência e complacência de Benjamim, na sua indiferença em concordar que deveriam ser submetidos a juízo.  
Quando o levita esquartejou o corpo de sua mulher morta, e enviou um pedaço do corpo para cada uma das tribos de Israel, isto deu ocasião a uma assembléia em que quatrocentos mil homens foram reunidos para dar o devido tratamento que o caso requeria, e isto nós veremos em detalhes no capítulo a seguir.



Juízes 20

“1 Então saíram todos os filhos de Israel, desde Dã até Berseba, e desde a terra de Gileade, e a congregação, como se fora um só homem, se ajuntou diante do Senhor em Mizpá.
2 Os homens principais de todo o povo, de todas as tribos de Israel, apresentaram-se na assembléia do povo de Deus; eram quatrocentos mil homens de infantaria que arrancavam da espada.
3 (Ora, ouviram os filhos de Benjamim que os filhos de Israel haviam subido a Mizpá). E disseram os filhos de Israel: Dizei-nos, de que modo se cometeu essa maldade?
4 Então respondeu o levita, marido da mulher que fora morta, e disse: Cheguei com a minha concubina a Gibeá, que pertence a Benjamim, para ali passar a noite;
5 e os cidadãos de Gibeá se levantaram contra mim, e cercaram e noite a casa em que eu estava; a mim intentaram matar, e violaram a minha concubina, de maneira que morreu.
6 Então peguei na minha concubina, dividi-a em pedaços e os enviei por todo o país da herança de Israel, porquanto cometeram tal abominação e loucura em Israel:
7 Eis aqui estais todos vós, ó filhos de Israel; dai a vossa palavra e conselho neste caso.
8 Então todo o povo se levantou como um só homem, dizendo: Nenhum de nós irá à sua tenda, e nenhum de nós voltará a sua casa.
9 Mas isto é o que faremos a Gibeá: subiremos contra ela por sorte;
10 tomaremos, de todas as tribos de Israel, dez homens de cada cem, cem de cada mil, e mil de cada dez mil, para trazerem mantimento para o povo, a fim de que, vindo ele a Gibeá de Benjamim, lhe faça conforme toda a loucura que ela fez em Israel.
11 Assim se ajuntaram contra essa cidade todos os homens de Israel, unidos como um só homem.
12 Então as tribos de Israel enviaram homens por toda a tribo de Benjamim, para lhe dizerem: Que maldade é essa que se fez entre vós?
13 Entregai-nos, pois, agora aqueles homens, filhos de Belial, que estão em Gibeá, para que os matemos, e extirpemos de Israel este mal. Mas os filhos de Benjamim não quiseram dar ouvidos à voz de seus irmãos, os filhos de Israel;
14 pelo contrário, das suas cidades se ajuntaram em Gibeá, para saírem a pelejar contra os filhos de Israel:
15 Ora, contaram-se naquele dia dos filhos de Benjamim, vindos das suas cidades, vinte e seis mil homens que arrancavam da espada, afora os moradores de Gibeá, de que se contaram setecentos homens escolhidos.
16 Entre todo esse povo havia setecentos homens escolhidos, canhotos, cada um dos quais podia, com a funda, atirar uma pedra a um fio de cabelo, sem errar.
17 Contaram-se também dos homens de Israel, afora os de Benjamim, quatrocentos mil homens que arrancavam da espada, e todos eles homens de guerra.
18 Então, levantando-se os filhos de Israel, subiram a Betel, e consultaram a Deus, perguntando: Quem dentre nós subirá primeiro a pelejar contra Benjamim ? Respondeu o Senhor: Judá subirá primeiro.
19 Levantaram-se, pois, os filhos de Israel pela manhã, e acamparam contra Gibeá.
20 E os homens de Israel saíram a pelejar contra os benjamitas, e ordenaram a batalha contra eles ao pé de Gibeá.
21 Então os filhos de Benjamim saíram de Gibeá, e derrubaram por terra naquele dia vinte e dois mil homens de Israel.
22 Mas esforçou-se o povo, isto é, os homens de Israel, e tornaram a ordenar a batalha no lugar onde no primeiro dia a tinham ordenado.
23 E subiram os filhos de Israel, e choraram perante o Senhor até a tarde, e perguntaram-lhe: Tornaremos a pelejar contra os filhos de Benjamim, nosso irmão? E disse o Senhor: Subi contra eles.
24 Avançaram, pois, os filhos de Israel contra os filhos de Benjamim, no dia seguinte.
25 Também os de Benjamim, nesse mesmo dia, saíram de Gibeá ao seu encontro e derrubaram por terra mais dezoito mil homens, sendo todos estes dos que arrancavam da espada.
26 Então todos os filhos de Israel, o exército todo, subiram e, vindo a Betel, choraram; estiveram ali sentados perante o Senhor, e jejuaram aquele dia até a tarde; e ofereceram holocaustos e ofertas pacíficas perante ao Senhor.
27 Consultaram, pois, os filhos de Israel ao Senhor (porquanto a arca do pacto de Deus estava ali naqueles dias;
28 e Finéias, filho de Eleazar, filho de Arão, lhe assistia), e perguntaram: Tornaremos ainda a sair à pelejar contra os filhos de Benjamim, nosso irmão, ou desistiremos? Respondeu o Senhor: Subi, porque amanhã vo-los entregarei nas mãos.
29 Então Israel pôs emboscadas ao redor de Gibeá.
30 E ao terceiro dia subiram os filhos de Israel contra os filhos de Benjamim e, como das outras vezes, ordenaram a batalha junto a Gibeá.
31 Então os filhos de Benjamim saíram ao encontro do povo, e foram atraídos da cidade. e começaram a ferir o povo como das outras vezes, matando uns trinta homens de Israel, pelas estradas, uma das quais sobe para Betel, e a outra para Gibeá pelo campo.
32 Pelo que disseram os filhos de Benjamim: Vão sendo derrotados diante de nós como dantes. Mas os filhos de Israel disseram: Fujamos, e atraiamo-los da cidade para os caminhos.
33 Então todos os homens de Israel se levantaram do seu lugar, e ordenaram a batalha em Baal-Tamar; e a emboscada de Israel irrompeu do seu lugar, a oeste de Geba.
34 Vieram contra Gibeá dez mil homens escolhidos de todo o Israel, e a batalha tornou-se renhida; porém os de Gibeá não sabiam que o mal lhes sobrevinha.
35 Então o Senhor derrotou a Benjamim diante dos filhos de Israel, que destruíram naquele dia vinte e cinco mil e cem homens de Benjamim, todos estes dos que arrancavam da espada.
36 Assim os filhos de Benjamim viram que estavam derrotados; pois os homens de Israel haviam cedido terreno aos benjamitas, porquanto estavam confiados na emboscada que haviam posto contra Gibeá;
37 e a emboscada, apressando-se, acometeu a Gibeá, e prosseguiu contra ela, ferindo ao fio da espada toda a cidade:
38 Ora, os homens de Israel tinham determinado com a emboscada um sinal, que era fazer levantar da cidade uma grande nuvem de fumaça.
39 Viraram-se, pois, os homens de Israel na peleja; e já Benjamim começara a atacar es homens de Israel, havendo morto uns trinta deles; pelo que diziam: Certamente vão sendo derrotados diante de nós, como na primeira batalha.
40 Mas quando o sinal começou a levantar-se da cidade, numa coluna de fumaça, os benjamitas olharam para trás de si, e eis que toda a cidade subia em fumaça ao céu.
41 Nisso os homens de Israel se viraram contra os de Benjamim, os quais pasmaram, pois viram que o mal lhes sobreviera.
42 Portanto, virando as costas diante dos homens de Israel, fugiram para o caminho do deserto; porém a peleja os apertou; e os que saíam das cidades os destruíam no meio deles.
43 Cercaram os benjamitas e os perseguiram, pisando-os desde Noá até a altura de Gibeá para o nascente do sol.
44 Assim caíram de Benjamim dezoito mil homens, sendo todos estes homens valorosos.
45 Então os restantes, virando as costas fugiram para o deserto, até a penha de Rimom; mas os filhos de Israel colheram deles pelos caminhos ainda cinco mil homens; e, seguindo-os de perto até Gidom, mataram deles mais dois mil.
46 E, todos, os de Benjamim que caíram naquele dia foram vinte e cinco mil homens que arrancavam da espada, todos eles homens valorosos.
47 Mas seiscentos homens viraram as costas e, fugindo para o deserto, para a penha de Rimom, ficaram ali quatro meses.
48 E os homens de Israel voltaram para os filhos de Benjamim, e os passaram ao fio da espada, tanto os homens da cidade como os animais, tudo quanto encontraram; e a todas as cidades que acharam puseram fogo.” (Jz 20.1-48).

Milhares de vidas foram perdidas na guerra das tribos de Israel contra a tribo de Benjamim, tanto de um lado quanto de outro, e isto por causa da morte de uma só pessoa, a concubina do levita que havia sido abusada pelos homens de Belial, de Gibeá.
No entanto o que estava em foco não era a troca de uma única vida por milhares, mas o estabelecimento de um princípio em Israel de que as ações abomináveis dos israelitas não deveriam passar em branco, ainda que para isso fosse necessário declarar a guerra, de modo a que se aprendesse a temer a prática das mesmas abominações que haviam trazido o juízo de Deus sobre as nações de Canaã, e no passado sobre as cidades de Sodoma e Gomorra.
As tribos se reuniram em conselho em Mizpá, que ficava próxima a Siló, e talvez o motivo da sua escolha se deveu a ser uma cidade maior que Siló, com possibilidade de acolher toda aquela gente.
Depois de terem ouvido o relato feito pelo levita sobre o fato sucedido com sua concubina, eles decidiram se dirigir a Gibeá, tendo pedido à tribo de Benjamim que lhes entregasse nas mãos os homens de Gibeá que haviam praticado aquela maldade para que fossem mortos, mas os benjamitas não somente não consentiram com isto, como se colocaram em ordem de batalha contra os demais israelitas, dirigindo-se de suas cidades para Gibeá, com o intuito de protegê-la e foram enviados vinte e seis mil homens que usavam a espada, que se juntaram a setecentos guerreiros de Gibeá, e havia dentre todos estes homens setecentos especialistas no uso da funda, que arremessavam com  extrema precisão.
 Benjamim havia se endurecido pelo orgulho racial, e muitas vezes em nome da defesa de nossas instituições sacrificamos a honra, a verdade e a  justiça.
Colocamo-nos acima do bem e do mal.
Não aceitamos ser confrontados para que corrijamos o nosso caminhar.
E quão perigoso é isto. Quando em nome da manutenção do nosso status, os homens se conluiam na defesa do erro para não admitirem que estão errados, e assim a causa da verdade e da justiça sofre, e deixamos de ser abençoados por Deus, tal como a tribo de Benjamim, que no seu endurecimento, por conta do seu orgulho obstinado, foi entregue nas mãos de seus irmãos para ser destruída.
Tentar encobrir as nossas faltas para que mantenhamos a nossa reputação a todo o custo, lançando uma cortina de fumaça sobre os nossos pecados, há de tornar a nossa posição ainda mais grave aos olhos de Deus.
Benjamim não queria admitir o erro dos homens de Gibeá porque afinal eram benjamitas, e o pior de tudo, levantaram-se em sua defesa, quando deveriam castigá-los.
De igual modo, quando qualquer Igreja não tem a humildade e sinceridade de punir os erros graves de seus membros, pelo desejo de não se admitir que não haja falhas em seu meio, de modo a não se expor e ficar sujeita a uma possível crítica tanto por parte dos que são de dentro, quanto dos que são de fora, no final isto não terminará bem, porque a justiça de Deus se levanta contra tal estado de coisas.
Assim como Ele se colocou em ordem de batalha contra o orgulho nacional de Benjamim, de igual modo se colocará em ordem de batalha contra tais Igrejas, se não contemplar nelas um sincero arrependimento e procedimento segundo a reta justiça revelada na Sua Palavra.
Tal era o orgulho dos benjamitas que eles não aceitaram fazer uma negociação de paz com as demais tribos entregando-lhes os faltosos, ao contrário, eles ousaram guerrear com um exército de 26.700 homens, contra um exército de 400.000 homens, e o fato de terem vencido as primeiras batalhas só serviu para aumentar a fúria das forças que se reuniram contra eles, e para também aumentar a própria cegueira e endurecimento dos benjamitas, de modo que as ações de guerra se estenderiam também à população civil daquela tribo, e ao final restaram somente 600 homens de Benjamim, que se refugiaram no deserto por quatro meses, de onde, pela misericórdia de Deus que alcançou os israelitas, retornariam para constituírem novas famílias com quatrocentas mulheres de uma das cidades de Israel que havia se recusado subir à batalha, Jabes-Gileade (21.12), e como os israelitas haviam feito um voto de não darem aos filhos de Benjamim nenhuma de suas filhas por esposa, sob  pena de anátema,  para todo aquele que o fizesse, eles subiram contra Jabes-Gileade e mataram aos homens daquela cidade, conforme haviam dito que seria feito a todo que não subisse a guerrear contra Benjamim, quando se reuniram em Mispá, e tendo encontrado quatrocentas moças virgens na cidade deram-nas em casamento a 400 dos 600 benjamitas que haviam sobrevivido à guerra.
O modo como os 200 que haviam sobrado foram providos de esposas será visto no comentário do capitulo seguinte.
 Deve ser destacado que apesar de terem tido a aprovação de Deus para a batalha contra Benjamim, os israelitas devem ter colocado a confiança deles na força do próprio braço.
Havia um juízo de morte determinado sobre os benjamitas, mas isto deveria ser feito com total confiança no braço poderoso e justo do Senhor e não na superioridade numérica do exército de 400.000 homens contra 26.700.
Isto fez com que nas duas primeiras batalhas as forças coligadas de Israel perdessem 40.000 homens, isto é, a décima parte do seu exército.
E eles choraram por este motivo, e consultaram ao Senhor, se ainda deveriam continuar a luta contra Benjamim, porque os fatos estavam sendo contrários a eles.
Deus confirmou a Sua vontade, e diante da humildade demonstrada agora por eles, lhes prometeu entregar a Benjamim nas suas mãos no dia seguinte (v. 28).
E se diz no verso 35 que o Senhor mesmo derrotou Benjamim.
Que isto sirva de exemplo às Igrejas quando crescem e são confirmadas na fé!
Que permaneçam em humildade diante do Senhor para que possam prevalecer na luta contra o Inimigo.
Nunca devemos confiar em nossas estratégias, dons, finanças, edifícios, e número de membros cada vez maior, senão somente no Senhor e na Sua graça para conosco.
 Os israelitas estavam confiando tão somente na justiça da sua causa mas esta não prevaleceria por si só, e do mesmo modo ocorre conosco, não será pelo fato de estarmos com a razão e o direito do nosso lado que ele prevalecerá por si mesmo, senão pela nossa confiança no Senhor, que defende as nossas causas como nosso Juiz, quando as entregamos em Suas mãos, confiando somente nEle, e em nada mais, porque o diabo pode se levantar e perverter a decisão do Juiz ou do tribunal mais digno que exista sobre a face da terra. Mas confiando no Senhor, as ações do Inimigo serão neutralizadas, seja onde for.



Juízes 21

“1 Ora, os homens de Israel tinham jurado em Mizpá dizendo: Nenhum de nós dará sua filha por mulher aos benjamitas.
2 Veio, pois, o povo a Betel, e ali ficou sentado até a tarde, diante de Deus; e todos, levantando a voz, fizeram grande pranto,
3 e disseram: Ah! Senhor Deus de Israel, por que sucedeu isto, que falte uma tribo em Israel?
4 No dia seguinte o povo levantou-se de manhã cedo, edificou ali um altar e ofereceu holocaustos e ofertas pacíficas.
5 E disseram os filhos de Israel: Quem dentre todas as tribos de Israel não subiu à assembléia diante do Senhor? Porque se tinha feito um juramento solene acerca daquele que não subisse ao Senhor em Mizpá, dizendo: Certamente será morto.
6 E os filhos de Israel tiveram pena de Benjamim, seu irmão, e disseram: Hoje é cortada de Israel uma tribo.
7 Como havemos de conseguir mulheres para os que restam deles, desde que juramos pelo Senhor que nenhuma de nossas filhas lhes daríamos por mulher?
8 Então disseram: Quem é que dentre as tribos de Israel não subiu ao Senhor em Mizpá? E eis que ninguém de Jabes-Gileade viera ao arraial, à assembléia.
9 Porquanto, ao contar-se o povo, nenhum dos habitantes de Jabes-Gileade estava ali.
10 Pelo que a congregação enviou para lá doze mil homens dos mais valorosos e lhes ordenou, dizendo: Ide, e passai ao fio da espada os habitantes de Jabes-Gileade, juntamente com as mulheres e os pequeninos.
11 Mas isto é o que haveis de fazer: A todo homem e a toda mulher que tiver conhecido homem, totalmente destruireis.
12 E acharam entre os moradores de Jabes-Gileade quatrocentas moças virgens, que não tinham conhecido homem, e as trouxeram ao arraial em Siló, que está na terra de Canaã.
13 Toda a congregação enviou mensageiros aos filhos de Benjamim, que estavam na penha de Rimom, e lhes proclamou a paz.
14 Então voltaram os benjamitas, e os de Israel lhes deram as mulheres que haviam guardado com vida, das mulheres de Jabes-Gileade; porém estas ainda não lhes bastaram.
15 E o povo teve pena de Benjamim, porquanto o Senhor tinha aberto uma brecha nas tribos de Israel.
16 Disseram, pois os anciãos da congregação: Como havemos de conseguir mulheres para os que restam, pois que foram destruídas as mulheres de Benjamim?
17 Disseram mais: Deve haver uma herança para os que restam de Benjamim, para que uma tribo não seja apagada de Israel.
18 Contudo nós não lhes poderemos dar mulheres dentre nossas filhas. Pois os filhos de Israel tinham jurado, dizendo: Maldito aquele que der mulher aos benjamitas.
19 Disseram então: Eis que de ano em ano se realiza a festa do Senhor em Siló que está ao norte de Betel, a leste do caminho que sobe de Betel a Siquém, e ao sul de Lebona.
20 Ordenaram, pois, aos filhos de Benjamim, dizendo: Ide, ponde-vos de emboscada nas vinhas,
21 e vigiai; ao saírem as filhas de Siló a dançar nos coros, saí vós das vinhas, arrebatai cada um sua mulher, das filhas de Siló, e ide-vos para a terra de Benjamim.
22 Então quando seus pais e seus irmãos vierem queixar-se a nós, nós lhes diremos: Dignai-vos de no-las conceder; pois nesta guerra não tomamos mulheres para cada um deles, nem vós lhas destes; de outro modo seríeis agora culpados.
23 Assim fizeram os filhos de Benjamim; e conforme o seu número tomaram para si mulheres, arrebatando-as dentre as que dançavam; e, retirando-se, voltaram à sua herança, reedificaram as cidades e habitaram nelas.
24 Nesse mesmo tempo os filhos de Israel partiram dali, cada um para a sua tribo e para a sua família; assim voltaram cada um para a sua herança.
25 Naqueles dias não havia rei em Israel; cada um fazia o que parecia bem aos seus olhos.” (Jz 21.1-25).

Como já citamos no comentário do capítulo anterior, foi sob pena de anátema que os israelitas afirmaram que não dariam nenhuma de suas filhas por esposas aos benjamitas. Mas se isto não fosse feito eles teriam que casar com mulheres estrangeiras contrariando o mandamento de Deus, ou então, em não casando, aquela tribo acabaria sendo extinta com o passar do tempo.
Então foi necessário buscar uma solução para se conseguir esposas para aqueles seiscentos homens de Benjamim que haviam restado de todos os habitantes daquela tribo.
 O zelo excessivo dos israelitas na execução da justiça fez com que houvesse um exagero nas suas ações, que eles tentariam agora pelo menos reparar.
Isto nos ensina que até mesmo toda justiça que for necessária deve ser executada com compaixão e equilíbrio, de modo que não venhamos a nos lamentar depois das conseqüências das nossas ações corretivas e punitivas.
Não é bom ser parcial no juízo, nem complacente e fraco, mas também não convém que sejamos duros, inflexíveis e irrazoáveis.
Sempre devemos buscar um equilíbrio entre justiça e misericórdia para que o juízo seja o mais sábio possível.
Deixar de castigar o erro não é bom, mas é pior ainda castigar além da medida necessária, porque esta não trará bons resultados ao castigo aplicado.
Assim, depois de tudo o que fizeram, os israelitas se reuniram em Betel, onde se encontrava a arca de Deus naqueles dias, e se mostraram arrependidos de terem ido longe demais, ao quase exterminarem toda a tribo de Benjamim, conforme lemos nos versos 2 e 3: “Veio, pois, o povo a Betel, e ali ficou sentado até a tarde, diante de Deus; e todos, levantando a voz, fizeram grande pranto,  e disseram: Ah! Senhor Deus de Israel, por que sucedeu isto, que falte uma tribo em Israel?”.
Benjamim era especialmente querido a Jacó, porque era seu caçula, e o filho que tivera com Raquel, sendo irmão de José.
Quando nasceu sua mãe veio a falecer no parto, e antes disso queria lhe dar o nome de Benoni, que significa filho da minha tristeza, mas Jacó mudou-lhe o nome para Benjamim que significa filho do meu braço direito.
E a perda total daquela tribo seria uma causa de grande tristeza na memória de todo israelita dali para a frente, e uma causa de grande lamento entre eles.
Por isso eles se compadeceram daqueles 600 homens de Benjamim, que haviam fugido para o deserto, e manifestaram o seu perdão em relação a eles.
A perda de crentes na Igreja, por motivo de pecado que leve à sua exclusão, deve por isso ser seguida de um profundo perdão e conforto deles quando se mostram arrependidos, porque afinal é uma parte do corpo do Senhor que permanece mutilada enquanto se encontram afastados, e assim deve ser causa de grande alegria a sua reconciliação (II Cor 2.7).    
Nos versos 16 a 25 deste capitulo é descrito o modo pelo qual os duzentos benjamitas restantes daqueles 600, seriam providos de esposas.
Isto seria feito provavelmente na festa anual dos tabernáculos (v. 19), porque era somente nesta festa que era permitido que as virgens israelitas dançassem, nem tanto para a sua própria diversão, senão para expressarem a sua alegria santa, como exigido pela lei, que todo Israel se alegrasse nos dias daquela festa perante o Senhor.
Como haviam jurado que não dariam de suas filhas aos benjamitas, disseram àqueles duzentos que as tomassem então quando estivessem dançando na festa em Siló, e as levassem para sua terra, e que lá contraíssem matrimônio com elas.

Assim aquela tribo foi restaurada, e nós temos Eúde, o segundo juiz de Israel, que proveio daquela tribo (Jz 3.15), revelando-se assim que pelo sofrimento, haviam abandonado o caminho da maldade para andarem pelas veredas da justiça.







Rute 1

A narrativa do livro de Rute pertence, como se afirma no primeiro versículo, ao período conturbado dos Juízes.
É bem provável que os fatos narrados tenham ocorrido logo no início do referido período, porque Boaz, que se casou com Rute, era filho de Salmom, um dos príncipes da tribo de Judá, que havia se casado com Raabe (Mt 1.5).
E este Salmom era filho de Naassom, príncipe de Judá que apresentou a oferta daquela tribo no dia da consagração do tabernáculo, nos dias de Moisés (Nm 7.12).
Boaz era portanto neto de Naassom, e não estava assim distante no tempo dos dias de Josué, depois do qual teve início o período dos Juízes, com Otniel, sobrinho de Calebe.
Tal era o caráter e a honra deste Naassom e de sua família, que foi com a sua irmã, Eliseba, que Arão casou, tendo com ela gerado a Nadabe, Abiú, Eleazar e Itamar (Êx 6.23).
E Deus mesmo indicou a Naassom para ser príncipe dos filhos de Judá (Nm 2.3), sendo ele também o general de todo o exército de Judá nos dias de Moisés (Nm 10,14), revelando-se com isto que era antes de tudo um homem de fé, dado ter sido escolhido pelo próprio Deus.
Salmom era filho deste homem, que foi honrado de tal forma pelo próprio Deus, e se enamorou de Raabe nos dias de Josué, depois da conquista de Jericó.
E podemos imaginar qual era o porte e o caráter santo desta mulher, para ter sido a preferida dentre todas as filhas de Israel, para se casar com o príncipe mais honrado, da tribo mais honrada dentre todas de Israel, da qual procederia o Salvador do mundo.
Certamente era a mão do Senhor que estava em tudo isto, conduzindo mentes e corações a se unirem, para que cumprisse o Seu propósito determinado desde antes que tivesse chamado todas as coisas à existência.
Glorificado seja pois não o homem, mas o Senhor, Criador dos céus e da terra, que evidencia nesta e em tantas outras coisas a beleza da Sua infinita majestade e poder.
E tendo casado com Rute, Boaz gerou a Obede, pai de Jessé, pai de Davi (Rt 4.21,22), sendo portanto Rute e Boaz bisavós do rei Davi.
Nós aprendemos portanto da história do livro de Rute qual era o caráter moral, a santidade e a fé das pessoas que foram os ancestrais do rei Davi, e podemos então entender em que princípios de fé e de temor a Deus ele fora educado.
A Providência divina, tendo um olho voltado para o futuro, para o Messias e Rei que deveria vir ao mundo, fez com que fossem incluídas na Sua genealogia duas mulheres de fé, gentias e de testemunho irretocável: Raabe, de Jericó, e Rute de Moabe.
Mostrando que a família do Messias é uma família que é unida não pelos laços de sangue, ou mesmo da nacionalidade, mas pelos laços da fé comum, tanto a judeus quanto a gentios.
Não foi pelos caminhos da glória terrena que Deus trouxe o Messias ao mundo, mas pelos caminhos da aflição e da humildade, pois para que Rute viesse a se casar com Boaz e se converter à religião e ao Deus de Israel, ela teve que experimentar do cálice de aflição do qual todos os que têm parte com o Messias são chamados a beber, na participação dos Seus sofrimentos e conformação com a Sua morte (Fp 3.10).
Por isso o caminho trilhado até à posição determinada para Rute por Deus, passou primeiro pela estrada da aflição e da humilhação, que ela experimentou inicialmente em sua própria terra natal, com a perda de seu marido, e da dor que compartilhou e dividiu com sua sogra Noemi, que perdeu em Moabe dois filhos e o marido, tendo ficado só, com suas duas noras, das quais, uma ficou em Moabe servindo aos seus deuses, e a outra, Rute decidiu com as belas palavras que até hoje fazem eco do símbolo da fidelidade tanto a Deus quanto àqueles que O amam, não somente na prosperidade, mas também na adversidade:
“Respondeu, porém, Rute: Não me instes a que te abandone e deixe de seguir-te. Porque aonde quer que tu fores, irei eu; e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo será o meu povo, o teu Deus será o meu Deus. Onde quer que morreres, morrerei eu, e ali serei sepultada. Assim me faça o Senhor, e outro tanto, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti.” (1.16,17).
Quando havia escassez de alimento em Israel, Noemi, seu marido e dois filhos partiram de Belém, que no original é Beith-Lehem,  significando casa do pão, e não havia pão certamente como uma forma de juízo do Senhor contra a idolatria dos israelitas, que como vimos, era comum em Israel nos dias dos Juízes, e com isto, Deus estava fazendo valer as ameaças de maldições previstas na Lei, como forma de convencer o povo do seu pecado, e conduzi-lo ao arrependimento.
O fato de ter sido escolhida uma família de Belém, para que através dela, uma mulher gentia de Moabe,  mas cheia da verdadeira fé no Senhor, retornasse de lá para Belém, onde nasceria no futuro o Messias, não foi por puro acaso, mas o cumprimento do que Deus havia determinado em Sua Soberania.
E esta mulher de fé viria não casada com um dos israelitas que partiram para Moabe e que lá se casou com ela, mas viria como viúva, para casar com outro homem de fé e piedoso, de modo a formar mais um casal de pessoas de fé, participantes da genealogia do Messias, de modo a que se registrasse que a família de Deus, que é formada pelo Messias, é composta somente por pessoas de fé, tal como aquelas que o Senhor, em Sua providência, incluiu na genealogia de Jesus.
Isto não é maravilhoso aos nossos olhos?
Ainda que tenha sido uma perplexidade para Noemi, que julgou que a perda do marido e dos filhos em Moabe fosse uma forma de visitação dos juízos de Deus sobre ela, de modo que ao retornar pediu que não fosse mais chamada de Noemi, que no hebraico significa, agraciada, agradável, mas sim de Mara, que significa amargurada, como forma de declaração da amargura e aflição que haviam invadido a sua alma, pela sua consideração de que a mão do Senhor havia se abatido sobre a sua vida, tornando-a uma pessoa desventurada.
E mal sabia ela, que o seu testemunho de vida reta havia convertido de tal maneira a Rute, que ela veio a se tornar para ela como uma verdadeira mãe, que recusou abandoná-la, bem como ao Deus que Noemi servia.
Assim, na verdade, Deus estava dando uma alta honra a Noemi, permitindo que o seu nome fosse  lembrado perpetuamente, por incluí-la na narrativa bíblica, como aquela cujo testemunho trouxe para Israel uma mulher gentia que Deus havia determinado incluir na genealogia de Seu filho amado.
Com isto, ela estava sendo mais do que agraciada, e bem fazia jus ao nome que lhe fora dado.
Tendo vivido cerca de dez anos em Moabe (v.4), e já sem marido e os dois filhos, Noemi decidiu retornar a Judá porque ouviu em Moabe que o Senhor havia se tornado de novo favorável à terra de Israel, provendo-a de pão (v.6).
Isto demonstra que apesar de estar em Moabe, o coração de Noemi estava em Israel, principalmente porque o culto a falsos deuses daquela terra devia pesar muito no seu espírito piedoso e temente, ao único e verdadeiro Deus.
Isto demonstra que a emigração que fizera com sua família no início indo para Moabe, não tinha por alvo deixar Israel e o Deus de Israel e se fixar numa terra estranha, mas senão, como Abraão fizera no passado, simplesmente buscar condições de sobrevivência, enquanto perdurasse a fome em Israel, motivada pelos juízos de Deus contra a idolatria do Seu povo.
Isto nos ensina que a necessidade pode nos conduzir a lugares ruins onde as pessoas não tenham o temor de Deus, como conviver com parentes não cristãos e que nos persigam por causa do nosso amor ao Senhor, mas nós não temos nenhum motivo para permanecer debaixo desta condição ruim que tivemos que suportar por motivo de necessidade,  quando as coisas melhoram.
O cristão é um cidadão do céu, e assim, por melhores que sejam as condições e os lugares deste mundo, eles haverão de se tornar melancólicos para nós, com as perdas e experiências tristes que temos nesta vida, tal como a terra de Moabe se tornou para Noemi com a morte de seu marido e filhos, e criando nela o desejo de retornar ao seu povo de Israel; e de igual modo, as tristezas que temos neste mundo ajudam no propósito de Deus de nos levar a aspirar pela nossa verdadeira pátria, o céu.
Os dissabores desta vida são modos usados pelo Senhor para  nos atrair àquele lugar onde já não há mais morte, nem tristeza, nem dor.
Afinal Noemi é cidadã de Israel e não de Moabe, uma terra estranha para ela.
E o cristão é cidadão do céu, e não é deste mundo, que é uma terra estranha para ele, na qual está apenas em peregrinação rumo à pátria celestial, onde todos da família de Deus, seus verdadeiros parentes, aguardam por ele com grande expectativa e alegria.
Noemi tentou dissuadir suas noras de seguirem juntamente com ela para Israel, para evitar que viessem a passar necessidades, porque a propriedade de seu marido não poderia ser resgatada para que elas nela morassem, reavendo-a de volta de seus atuais proprietários, porque não tinha lembrança de que houvesse algum parente próximo que estivesse disposto a fazê-lo por ela, e ela não tinha mais condição em sua idade, de se casar ou de gerar filhos com algum  parente próximo, para que através deles, pela lei do levirato, voltasse a ter direito à sua herança nos territórios de Israel.
Mas ela não sabia o que Deus estava preparando,  um caminho totalmente diferente de tudo que ela pudesse imaginar, porque Ele faz infinitamente mais do que tudo o que pensamos ou pedimos (Ef 3.20).
Uma de suas noras, Órfa, ao pesar as aflições que lhe aguardavam numa terra estranha voltou atrás no seu desejo de acompanhar Noemi (v. 15), mas Rute estava apegada a ela por obra do Espírito de Deus e não a deixaria de modo algum.
Assim são aqueles que são nascidos de novo do Espírito: eles jamais deixarão de seguir a Jesus Cristo, e mesmo que venham a cair da Sua presença, jamais cairão de uma forma definitiva, porque pela fé, passaram a formar um só espírito com Ele.
Noemi julgava por sua condição que estava debaixo da vara da correção de Deus, que o Senhor estava contrariado com ela, e lhe havia escolhido para ser objeto dos Seus juízos, porque lhe tirara o marido e filhos, deixando-a numa terra estranha, e sem posses em sua própria terra natal, de onde havia partido para Moabe, sem saber que passaria por toda aquela aflição que a havia alcançado.
E tal foi o impacto da aflição na vida de Noemi que ao chegar em Belém com Rute, vinda de Moabe, as pessoas da cidade se comoveram com o estado delas, e as mulheres ficaram perplexas quanto a Noemi, que estava muito diferente da pessoa que havia partido para Moabe.
As aflições fazem grandes e surpreendentes mudanças num pequeno espaço de tempo.
Nós temos visto como a doença e a velhice alteram as pessoas, mudam o semblante delas e o seu temperamento. Por isso Noemi, que significa agradável, pediu que a chamassem de Mara, porque tinha agora um espírito triste.
É preciso pois considerar que há aflições temporárias que não chegam a operar toda esta transformação que foi operada em Noemi, mas pode haver um tempo em que Deus permitirá e nos chamará a experimentar provas que transformarão profundamente o nosso caráter, gerando sobriedade, seriedade, consideração adequada dos problemas e realidades da vida, e muitas outras coisas que nos tornarão muito diferentes das pessoas que éramos antes de ter passado pelos vales de aflição profundos e contínuos, que nos farão valorizar o céu e perceber quão passageiras são todas as coisas deste mundo, incluída aí a nossa própria constituição física.
A plenitude das coisas terrenas passará um dia, por maior que possa ser o tempo que nos seja concedido para participarmos dela. Mas a plenitude espiritual em Cristo jamais passará. Ao contrário ela se renova e cresce a cada dia e adentra pela eternidade afora.
“e os que usam deste mundo, como se dele não usassem em absoluto, porque a aparência deste mundo passa.” (I Cor 7.31).
 “Por isso não desfalecemos; mas ainda que o nosso homem exterior se esteja consumindo, o interior, contudo, se renova de dia em dia.” (II Cor 4.16).
Não é incomum que muitas vezes, muitos cristãos confundam as aflições pelas quais passarão inevitavelmente neste mundo, como falta de amor e de cuidado de Deus por eles, quando na verdade não é necessariamente o caso. Por isso Jesus nos alertou sobre as aflições que teríamos no mundo, a par de toda a nossa fidelidade a Ele e agrado de Deus em relação às nossas vidas.
Mas Rute não levou em conta nada disto e manteve a sua decisão de fazer do Deus de Noemi o seu Deus, e do povo dela o seu próprio povo.
E nisto fez a única coisa necessária da qual Jesus falou em seu diálogo com Marta. Ela fez a grande, melhor e sábia decisão que lhe daria a sua alma como despojo, na salvação que obteve pela fé.
As dificuldades que poderia enfrentar em Israel não poderiam separá-la do amor do Deus verdadeiro que ela havia conhecido.
Ofra, tendo escolhido evitar as dificuldades e permanecer com seus deuses em sua própria terra fez uma péssima escolha, apesar de para a carne e o mundo, parecer ter sido uma melhor decisão do que a de Rute.
Felizes são todos aqueles que decidem seguir a Deus independentemente das circunstâncias difíceis que terão que enfrentar por servi-lo, na sua luta contra os principados e potestades, e nas provações de fé que o Senhor certamente lhes submeterá, porque no fim, em sua perseverança, eles conquistarão o céu de glória.



“1 Nos dias em que os juízes governavam, houve uma fome na terra; pelo que um homem de Belém de Judá saiu a peregrinar no país de Moabe, ele, sua mulher, e seus dois filhos.
2 Chamava-se este homem Elimeleque, e sua mulher Noemi, e seus dois filhos se chamavam Malom e Quiliom; eram efrateus, de Belém de Judá. Tendo entrado no país de Moabe, ficaram ali.
3 E morreu Elimeleque, marido de Noemi; e ficou ela com os seus dois filhos,
4 os quais se casaram com mulheres moabitas; uma destas se chamava Orfa, e a outra Rute; e moraram ali quase dez anos.
5 E morreram também os dois, Malom e Quiliom, ficando assim a mulher desamparada de seus dois filhos e de seu marido.
6 Então se levantou ela com as suas noras, para voltar do país de Moabe, porquanto nessa terra tinha ouvido que o Senhor havia visitado o seu povo, dando-lhe pão.
7 Pelo que saiu do lugar onde estava, e com ela as duas noras. Indo elas caminhando para voltarem para a terra de Judá,
8 disse Noemi às suas noras: Ide, voltai, cada uma para a casa de sua mãe; e o Senhor use convosco de benevolência, como vós o fizestes com os falecidos e comigo.
9 O Senhor vos dê que acheis descanso cada uma em casa de seu marido. Quando as beijou, porém, levantaram a voz e choraram.
10 E disseram-lhe: Certamente voltaremos contigo para o teu povo.
11 Noemi, porém, respondeu: Voltai, minhas filhas; porque ireis comigo? Tenho eu ainda filhos no meu ventre, para que vos viessem a ser maridos?
12 Voltai, filhas minhas; ide-vos, porque já sou velha demais para me casar. Ainda quando eu dissesse: Tenho esperança; ainda que esta noite tivesse marido e ainda viesse a ter filhos,
13 esperá-los-íeis até que viessem a ser grandes? deter-vos-íeis por eles, sem tomardes marido? Não, filhas minhas, porque mais amargo me é a mim do que a vós mesmas; porquanto a mão do Senhor se descarregou contra mim.
14 Então levantaram a voz, e tornaram a chorar; e Orfa beijou a sua sogra, porém Rute se apegou a ela.
15 Pelo que disse Noemi: Eis que tua concunhada voltou para o seu povo e para os seus deuses; volta também tu após a tua concunhada.
16 Respondeu, porém, Rute: Não me instes a que te abandone e deixe de seguir-te. Porque aonde quer que tu fores, irei eu; e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo será o meu povo, o teu Deus será o meu Deus.
17 Onde quer que morreres, morrerei eu, e ali serei sepultada. Assim me faça o Senhor, e outro tanto, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti.
18 Vendo Noemi que de todo estava resolvida a ir com ela, deixou de lhe falar nisso.
19 Assim, pois, foram-se ambas, até que chegaram a Belém. E sucedeu que, ao entrarem em Belém, toda a cidade se comoveu por causa delas, e as mulheres perguntavam: É esta, porventura, Noemi?
20 Ela, porém, lhes respondeu: Não me chameis Noemi; chamai-me Mara, porque o Todo-Poderoso me encheu de amargura.
21 Cheia parti, porém vazia o Senhor me fez tornar. Por que, pois, me chamais Noemi, visto que o Senhor testemunhou contra mim, e o Todo-Poderoso me afligiu?
22 Assim Noemi voltou, e com ela Rute, a moabita, sua nora, que veio do país de Moabe; e chegaram a Belém no principio da sega da cevada.”



Rute 2

Logo no primeiro versículo do segundo capítulo de Rute é dito que Boaz era rico e poderoso, e era parente de Elimeleque, marido de Noemi, que havia morrido em Moabe.
No comentário do capítulo anterior nós vimos que Boaz era Neto de Naassom, que era príncipe da tribo de Judá quando Israel peregrinou no deserto com Moisés.
E Boaz sendo filho de Raabe, aquela mulher de grande fé cujo nome se encontra na galeria dos heróis da fé de Hebreus, aprendeu com seu pai e mãe não apenas como preservar e aumentar a fortuna material de seus ancestrais, mas sobretudo a ser uma pessoa piedosa, de uma verdadeira fé genuína que se evidencia por um caráter justo e temente a Deus, e que portanto, ama e pratica os Seus mandamentos e vontade.
Esta é a fé bíblica que salva. Uma fé que transforma o caráter segundo o caráter de Deus, que está revelado na Sua Palavra.
A verdadeira fé nos torna semelhantes ao Filho de Deus, quanto a todas as virtudes que fazem parte da Sua pessoa divina e santa.
Uma fé meramente intelectual que não se evidencia em obras de justiça é a fé dos demônios e não a fé dos que foram justificados e regenerados, sendo feitos novas criaturas em Cristo Jesus.
A piedade de Boaz se comprova no relato que a Bíblia nos dá sobre o seu testemunho de vida, porque sendo um homem rico e poderoso relacionava-se com as pessoas pobres e se interessava pessoalmente pelo bem-estar delas, ainda que fossem estrangeiras, como no caso de Rute.    
Ele era um patrão justo porque era temente a Deus e agia de acordo com a Sua vontade e Palavra. E não desdenhava e tratava com desprezo seus parentes pobres, pois nós vemos a manifestação da sua bondade para com Rute, pelo que soube do bem que ela havia feito à sua sogra.
E cabe destacar que não era propriamente Noemi que era parente de Boaz, mas Elimeleque, seu ex-marido, que havia morrido em Moabe.  
Boaz não fazia portanto acepção de pessoas porque o nosso Deus também não faz tal tipo de acepção.
E na verdade Deus se inclina mais para o pobre, o necessitado, o desprezado, do que para os que se encontram em posições confortáveis e elevadas, como forma de corrigir as distorções e injustiças que são muito comuns entre os homens.
Por isso nós vemos em Rute uma atitude permanentemente humilde. Ela não protesta diante de Deus sobre nenhum direito que lhe era devido em razão da sua fé nEle e de ter deixado a sua própria terra para servi-lo.
Ela não fez nenhuma determinação em relação a si mesma e nem a Noemi, quanto a isto, como que se Deus fosse obrigado a fazer aquilo que ela julgasse necessário ou conveniente.
E não o fez tão somente diante de Deus, como também diante dos homens. Ela não disse que iria respigar e que ninguém poderia impedi-la de fazê-lo. Ela simplesmente se entregou ao cuidado e à direção de Deus sobre a sua vida, e isto se demonstra nas palavras que proferiu, as quais lemos no segundo versículo:
“Rute, a moabita, disse a Noemi: Deixa-me ir ao campo a apanhar espigas atrás daquele a cujos olhos eu achar graça.”.
Ela teria que se humilhar para obter o alimento necessário para si e para Noemi, submetendo-se ao que estava prescrito na lei para o sustento daqueles que se encontravam em condições de miséria, a saber, rebuscar as sobras da lavoura que deveriam ser deixadas para os pobres.
Ela não ficaria se lastimando em casa, ou esperando que Deus lhe enviasse alguém para matar a sua fome e de sua sogra. Não. Fortalecida pela graça ela se pôs sobre os seus pés e partiu para ação, ainda que isso representasse uma humilhação para ela.    
Quando Boaz veio de Belém saudou seus segadores com a expressão:”O Senhor seja convosco” (v. 4), e já sabemos que no texto original a palavra traduzida por Senhor é Jeová.
E os segadores responderam: “O Senhor te abençoe.”.
E ao indagar àquele que supervisionava o serviço dos segadores quem era aquela desconhecida que estava respigando após os segadores, este lhe informou que se tratava da nora de Noemi, e que ela estava trabalhado desde a manhã sem descansar nem sequer um pouco (v. 7).
Pelo que se infere do contexto bíblico a norma legal do rebuscar era permitida somente aos pobres que também tivessem trabalhado na colheita. Eles trabalhariam assim, antes que pudessem pegar aquilo que havia ficado para trás, por alguma omissão na colheita, ou que tivesse caído ao solo, ou permanecido escondido entre os ramos e folhas.
Por isso Boaz recomendou a Rute que permanecesse trabalhando no seu campo e que se juntasse às moças israelitas que estavam trabalhando na colheita, de modo que não fosse molestada pelos homens que trabalhavam para Boaz, aos quais ele ordenou expressamente que não importunassem Rute em razão de ser pobre e estrangeira entre eles.
E tal foi a bondade de Boaz para com ela que lhes ordenou que a deixassem respigar até mesmo entre os molhos que já haviam sido colhidos, e que deixassem de colher espigas, propositalmente, num esquecimento voluntário, para que fossem respigadas por Rute.
E vale a pena destacar o cavalheirismo, bondade e atenção de Boaz, bem como a atitude humilde de Rute, que estão registradas nos versos oitavo a décimo sexto, onde lemos no verso 12 as seguintes palavras de Boaz dirigidas a Rute:
“O Senhor recompense o que fizeste, e te seja concedido pleno galardão da parte do Senhor Deus de Israel, sob cujas asas te vieste abrigar.”.
Isto é o que de fato sucede a todo o que confia inteiramente na graça de Jesus e que vem buscar refúgio debaixo das suas asas, pois o Senhor recompensará a todo que o fizer concedendo a plenitude da Sua graça. A uma entrega e confiança completa em Deus corresponde uma recompensa também completa.
Boaz orou para que o Senhor recompensasse Rute da forma referida, mas certamente ele o fez porque observou a grande diligência com que ela estava se empenhando em seu trabalho.
Assim devemos juntar à fé a ação e certamente o Senhor abençoará os nossos esforços, e devemos ser também diligentes para não perder o fruto do nosso trabalho, como somos exortados pela Palavra de Deus:
“Olhai por vós mesmos, para que não percais o fruto do nosso trabalho, antes recebeis plena recompensa.” (II Jo 8).
“mas o que tendes, retende-o até que eu venha. Ao que vencer, e ao que guardar as minhas obras até o fim, eu lhe darei autoridade sobre as nações,” (Apo 2.25,26).
“ Venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa.” (Apo 3.11).
Nos versos 17 a 23 nós temos o relatório que Rute fez a Noemi da bondade de Boaz para  com ela.
E o relatório de Rute avivou a memória de Noemi, de modo que ela se lembrou que Boaz era um dos parentes de seu ex-marido, que poderia resgatar a hipoteca da propriedade que lhe pertencia como herança vitalícia, segundo a lei de Moisés, segundo a qual, quando a própria pessoa não tivesse recursos para reaver a sua antiga posse, um parente próximo abastado poderia fazê-lo no lugar dela.
  E Noemi aconselhou Rute a continuar respigando somente nos campos de Boaz para que não parecesse a ele, em caso contrário, um desprezo da generosidade que ele havia lhe demonstrado.
Se elas esperavam uma generosidade ainda maior de Boaz, a ponto de se dispor a resgatar a propriedade hipotecada, haveria necessidade de se aproximar dele, de estar somente no campo dele e não em outro, e de igual modo aqueles que têm sido resgatados pelo Senhor Jesus ou que o estão esperando, não podem se envolver com os negócios deste mundo, eles devem permanecer na presença do Senhor, e trabalharem para ele, tornando-se familiares e apegados a Ele, e assim poderão ter a certeza de que receberão o Seu favor.
Aquele que busca agradar a Deus em tudo jamais será desamparado por Ele.      



“1 Ora, tinha Noemi um parente de seu marido, homem poderoso e rico, da família de Elimeleque; e ele se chamava Boaz.
2 Rute, a moabita, disse a Noemi: Deixa-me ir ao campo a apanhar espigas atrás daquele a cujos olhos eu achar graça. E ela lhe respondeu: Vai, minha filha.
3 Foi, pois, e chegando ao campo respigava após os segadores; e caiu-lhe em sorte uma parte do campo de Boaz, que era da família de Elimeleque.
4 E eis que Boaz veio de Belém, e disse aos segadores: O Senhor seja convosco. Responderam-lhe eles: O Senhor te abençoe.
5 Depois perguntou Boaz ao moço que estava posto sobre os segadores: De quem é esta moça?
6 Respondeu-lhe o moço: Esta é a moça moabita que voltou com Noemi do país de Moabe.
7 Disse-me ela: Deixa-me colher e ajuntar espigas por entre os molhos após os segadores: Assim ela veio, e está aqui desde pela manhã até agora, sem descansar nem sequer um pouco.
8 Então disse Boaz a Rute: Escuta filha minha; não vás colher em outro campo, nem tampouco passes daqui, mas ajunta-te às minhas moças.
9 Os teus olhos estarão atentos no campo que segarem, e irás após elas; não dei eu ordem aos moços, que não te molestem? Quando tiveres sede, vai aos vasos, e bebe do que os moços tiverem tirado.
10 Então ela, inclinando-se e prostrando-se com o rosto em terra, perguntou-lhe: Por que achei eu graça aos teus olhos, para que faças caso de mim, sendo eu estrangeira?
11 Ao que lhe respondeu Boaz: Bem se me contou tudo quanto tens feito para com tua sogra depois da morte de teu marido; como deixaste a teu pai e a tua mãe, e a terra onde nasceste, e vieste para um povo que dantes não conhecias.
12 O Senhor recompense o que fizeste, e te seja concedido pleno galardão da parte do Senhor Deus de Israel, sob cujas asas te vieste abrigar.
13 E disse ela: Ache eu graça aos teus olhos, senhor meu, pois me consolaste, e falaste bondosamente à tua serva, não sendo eu nem mesmo como uma das tuas criadas.
14 Também à hora de comer, disse-lhe Boaz: Achega-te, come do pão e molha o teu bocado no vinagre. E, sentando-se ela ao lado dos segadores, ele lhe ofereceu grão tostado, e ela comeu e ficou satisfeita, e ainda lhe sobejou.
15 Quando ela se levantou para respigar, Boaz deu ordem aos seus moços, dizendo: Até entre os molhos deixai-a respirar, e não a censureis.
16 Também, tirai dos molhos algumas espigas e deixai-as ficar, para que as colha, e não a repreendais.
17 Assim ela respigou naquele campo até a tarde; e debulhou o que havia apanhado e foi quase uma efa de cevada.
18 Então, carregando com a cevada, veio à cidade; e viu sua sogra o que ela havia apanhado. Também Rute tirou e deu-lhe o que lhe sobejara depois de fartar-se.
19 Ao que lhe perguntou sua sogra: Onde respigaste hoje, e onde trabalhaste? Bendito seja aquele que fez caso de ti. E ela relatou à sua sogra com quem tinha trabalhado, e disse: O nome do homem com quem hoje trabalhei é Boaz.
20 Disse Noemi a sua nora: Bendito seja ele do Senhor, que não tem deixado de misturar a sua beneficência nem para com os vivos nem para com os mortos. Disse-lhe mais Noemi: Esse homem é parente nosso, um dos nossos remidores.
21 Respondeu Rute, a moabita: Ele me disse ainda: Seguirás de perto os meus moços até que tenham acabado toda a minha sega.
22 Então disse Noemi a sua nora, Rute: Bom é, filha minha, que saias com as suas moças, e que não te encontrem noutro campo.
23 Assim se ajuntou com as moças de Boaz, para respigar até e fim da sega da cevada e do trigo; e morava com a sua sogra.”


Rute 3

Não foi somente pensando na honra de seu filho que havia morrido, de modo que  o seu nome fosse perpetuado em Israel, que Noemi aconselhou Rute a ir ter com Boaz, planejando que esta viesse a se casar com ele, na condição de remidor e perpetuador do nome de seu filho sobre a sua própria herança, através dos filhos que Rute viesse a conceber de Boaz.
Dizemos que certamente não foi esta a única razão do conselho de Noemi a Rute, porque havia uma sincera preocupação com o futuro e a felicidade dela.
Noemi havia decidido permanecer em viuvez perpétua em razão da sua idade avançada, mas Rute era jovem e tinha ainda toda uma jornada à sua frente.
E o estado de casado é um estado de descanso para as pessoas jovens, cujos afetos apaixonados particularmente pertinentes à juventude ficarão vagando caso o coração não esteja em repouso. E não há melhor lugar de descanso para um homem do que o coração da sua esposa, e vice-versa.
Noemi encorajou Rute a recorrer a Boaz porque se ele havia demonstrado bondade e justiça num assunto menor, muito mais seria de se esperar dele a mesma bondade e justiça num assunto maior como o de suscitar descendência ao filho de Noemi e de reaver como resgatador a posse da propriedade que lhe pertencia por direito divino, constante da Lei de Moisés (Dt 25.7-9).

Confiando na retidão do caráter de Boaz Noemi aconselhou Rute a se colocar próximo dele, como a lembrá-lo que na condição de remidor, cabia-lhe tomá-la por esposa, mas também segundo o caráter reto de Rute, recomendou-lhe que não expusesse a conhecimento público a sua honra, e que a aproximação íntima fosse feita em demonstração  de recato e humildade, pois que em vez de se deitar ao lado dele, deveria fazê-lo aos seus pés.
De igual modo devemos nos colocar aos pés do nosso Remidor, o Senhor Jesus Cristo, confiando inteiramente na Sua bondade e misericórdia para que em nossa união matrimonial com Ele possamos entrar na posse da herança que havíamos perdido em razão do pecado original.
Boaz, depois de ter supervisionado o joeiramento da cevada e tendo comido e se alegrado em Deus pela boa e grande colheita que lhe fora concedida, recolheu-se para dormir no próprio local de trabalho, junto à palha de um dos seus celeiros, e não se retirou para sua casa, provavelmente em razão do avançado da hora, e tendo em vista não perder tempo para as atividades do dia seguinte.
Isto foi providencial e facilitou grandemente o cumprimento de tudo que Noemi havia recomendado a Rute.  E deitando aos pés de Boaz, demonstrou que estava debaixo da proteção dele, como sendo a pessoa designada pela lei divina para ser o seu protetor e remidor.
E por reconhecer que não havia nenhuma intenção interesseira em Rute, senão a expressão da mais elevada virtude de quem não estava buscando honra para si mesma mas para o nome de seu ex-marido e da família dele, Boaz decidiu atender à petição de ser o remidor casando-se com ela (v. 11), desde que o parente mais próximo de Noemi, ao qual cabia a precedência do ato de remissão, renunciasse ao seu direito em favor de Boaz (v. 12).
Nós vemos nisto tudo, decência, diligência, honestidade e prudência. Quem dera, todas as nossas grandes ou pequenas decisões fossem tomadas pensando-se tudo o que é justo relativamente a cada uma delas.
E sob a condição considerada e declarada Boaz se comprometeu solenemente em se casar com Rute, e estava assumindo junto a ela um contrato do qual não voltaria atrás, ainda que firmado apenas com palavras e sem a presença de testemunhas.
Isto é o que significa sim, sim, não, não: o cumprimento daquilo que a boca tem proferido e prometido, sem enganos, sem rodeios e mentiras.
A fidelidade e a retidão de caráter podem ser medidos, pelo tanto que a pessoa age em conformidade com as suas palavras.
E além de tudo Boaz se esforçou para preservar a honra de Rute, de modo que não se soubesse que ela estivera com ele, evitando assim todo comentário malicioso possível e toda aparência do mal (v. 14).
Como reafirmação do seu cuidado e bondade para com ela e sua sogra não a despediu vazia, pois cuidou de prover o alimento necessário para ambas (v. 15), ainda que não tivesse a certeza absoluta da consolidação do seu casamento com Rute, pois ainda haveria de consultar o parente mais achegado de Elimeleque, ao qual cabia a precedência no ato de remissão.
Quando Rute relatou a Noemi o modo com o qual Boaz lhe havia tratado, esta, em sua longa experiência de vida, entendeu que Rute havia conquistado o coração de Boaz, e que ele não se daria descanso e se empenharia por todos os meios em não apenas cumprir o seu papel de remidor, mas sobretudo o desejo de se unir àquela mulher que Deus em Sua providência havia dirigido até ele para ser amada e também ser sua fiel companheira.
E assim a história daqueles que se aproximariam do Grande Remidor, em todas as nações, tinham nesta história de amor, uma prefiguração daquele amor que Cristo tem por todos aqueles que são atraídos pelo Pai até Ele, os quais são recebidos como noiva amada de um Esposo amoroso.
Ele não é apenas um mero Resgatador por um dever que impôs a Si mesmo na aliança eterna que fizera em relação a nós com o Pai e o Espírito Santo, mas nos resgata porque nos ama, e porque fomos criados para viver no mesmo amor que existe na trindade divina.
É à paz e ao amor que Cristo nos chama. Aqueles que conquistaram o Seu coração amoroso por toda a eternidade, assim como foram também conquistados por Ele, na Sua infinita retidão, amor, justiça e bondade, demonstrados para conosco.
É preciso pois guardar nossas mentes e corações das densas trevas que obscurecem o entendimento nestes dias de tanta iniquidade, porque Deus não muda, e por conseguinte também não mudará jamais o modo e o propósito com que nos salva por meio da nossa união com Cristo. Como já dissemos, reafirmamos: foi à paz e ao amor que fomos chamados por Deus (Col 3.15).  




“1 Depois lhe disse Noemi, sua sogra: Minha filha, não te hei de buscar descanso, para que fiques bem?
2 Ora pois, não é Boaz, com cujas moças estiveste, de nossa parentela. Eis que esta noite ele vai joeirar a cevada na eira.
3 Lava-te pois, unge-te, veste os teus melhores vestidos, e desce à eira; porém não te dês a conhecer ao homem, até que tenha acabado de comer e beber.
4 E quando ele se deitar, notarás o lugar em que se deita; então entrarás, descobrir-lhe-ás os pés e te deitarás, e ele te dirá o que deves fazer.
5 Respondeu-lhe Rute: Tudo quanto me disseres, farei.
6 Então desceu à eira, e fez conforme tudo o que sua sogra lhe tinha ordenado.
7 Havendo, pois, Boaz comido e bebido, e estando já o seu coração alegre, veio deitar-se ao pé de uma meda; e vindo ela de mansinho, descobriu-lhe os pés, e se deitou.
8 Ora, pela meia-noite, o homem estremeceu, voltou-se, e viu uma mulher deitada aos seus pés.
9 E perguntou ele: Quem és tu? Ao que ela respondeu: Sou Rute, tua serva; estende a tua capa sobre a tua serva, porque tu és o remidor.
10 Então disse ele: Bendita sejas tu do Senhor, minha filha; mostraste agora mais bondade do que dantes, visto que após nenhum mancebo foste, quer pobre quer rico.
11 Agora, pois, minha filha, não temas; tudo quanto disseres te farei, pois toda a cidade do meu povo sabe que és mulher virtuosa.
12 Ora, é bem verdade que eu sou remidor, porém há ainda outro mais chegado do que eu.
13 Fica-te aqui esta noite, e será que pela manhã, se ele cumprir para contigo os deveres de remidor, que o faça; mas se não os quiser cumprir, então eu o farei tão certamente como vive o Senhor; deita-te até pela manhã.
14 Ficou, pois, deitada a seus pés até pela manhã, e levantou-se antes que fosse possível a uma pessoa reconhecer outra; porquanto ele disse: Não se saiba que uma mulher veio à eira.
15 Disse mais: Traze aqui a capa com que te cobres, e segura-a. Segurou-a, pois, e ele as mediu seis medidas de cevada, e lhas pôs no ombro. Então ela foi para a cidade.
16 Quando chegou à sua sogra, esta lhe perguntou: Como te houveste, minha filha? E ela lhe contou tudo quanto aquele homem lhe fizera.
17 Disse mais: Estas seis medidas de cevada ele mas deu, dizendo: Não voltarás vazia para tua sogra.


18 Então disse Noemi: Espera, minha filha, até que saibas como irá terminar o caso; porque aquele homem não descansará enquanto não tiver concluído hoje este negócio.”


Rute 4

A autoridade e importância de Boaz em Belém de Judá são vistas logo no início deste quarto capítulo, pela forma como reuniu prontamente dez anciãos à porta principal da cidade para resolver  juntamente com eles a questão da remissão da propriedade de Elimeleque e ao ato de se dar continuidade à descendência de Malom, de quem Rute havia enviuvado, pela via do matrimônio, em cumprimento à lei do levirato.
Assim, aquele que remisse a propriedade deveria também se casar com Rute, para que através dela, fosse perpetuada a posse da herança que vinha passando desde os antepassados de Elimeleque, e que continuaria através de seus filhos Quiliom e Malom, caso ambos não tivessem morrido.
Como a viúva de Malom (Rute) estava recorrendo ao seu direito legítimo de reaver a propriedade que seria herdada pelo seu marido, e sabendo também do direito que tinha, pela Lei de Moisés, a se casar com um parente próximo que suscitasse descendência ao ex-marido dela, de forma que a sua propriedade permanecesse como herança perpétua em sua família, não houve interesse da parte do remidor a quem Boaz havia se referido, em resgatar a hipoteca da propriedade porque deveria também, simultaneamente, cumprir a lei do levirato, e assim, a posse da propriedade não seria dele, mas dos filhos que viesse a gerar com Rute. E Boaz teria assim o caminho aberto para realizar ambas as ações, conforme era da sua vontade.    
E ali mesmo junto àqueles anciãos e ao público que a tudo testemunhou, Boaz fechou tanto o contrato da remissão da hipoteca da propriedade quanto o relativo ao seu casamento com Rute para que se suscitasse descendência a Malom.
Assim como Boaz atentou para a condição de miséria em que Noemi e Rute se encontravam, e tomou providências para que pudesse restaurá-las a um estado venturoso, Jesus também contemplou com compaixão ao estado deplorável da raça humana, caída no pecado, e pagando um alto preço resgatou a herança divina para nós, que havia sido hipotecada em razão do pecado, estando esta hipoteca nas mãos da justiça divina, e que em nossa condição de miséria, jamais conseguiríamos resgatar por nós mesmos, senão por este parente riquíssimo, poderoso, bondoso, achegado a nós, que o fez voluntária e prazerosamente em nosso favor.
“Se teu irmão empobrecer e vender uma parte da sua possessão, virá o seu parente mais chegado e remirá o que seu irmão vendeu.” (Lev 25.25).
Jesus não se envergonhou em colocar a elevadíssima honra do Seus santo nome, e a dignidade infinita da Sua realeza divina, em se associar a pessoas pobres e miseráveis como nós, que não tínhamos como resgatar a herança que nos foi destinada por Deus e que havíamos perdido em razão do pecado. E Ele o fez não com prata e ouro, mas derramando o Seu precioso sangue, a Sua própria vida, que voluntariamente ofereceu como preço do nosso resgate. Graças sejam dadas pois a Ele por toda a eternidade, pois não temos como retribuir tão imenso e impagável favor.    
Boaz é digno de honra e louvor pelo seu gesto justo e bondoso, mas Jesus é digno de muito maior honra e louvor, porque não nos resgatou com dinheiro, mas oferecendo a própria vida por nós. E por isso recebeu do Pai um nome que é sobre todo o nome, e digno de honra, glória e  louvor acima de toda comparação.
Ele manifestou perfeitamente a completa extensão da bondade, amor e misericórdia de Deus para com os pecadores, e não vacilou em deixar a glória celestial, sendo Deus, para se tornar também homem como nós, para que pudesse realizar a Sua função de Remidor, que lhe foi designada pelo Pai.
Assim, do menino que nasceu a Rute, de seu casamento com Boaz, ao qual chamaram Obede, foi dito que seria o restaurador da vida de Noemi e o consolador da sua velhice (v. 15). E o menino que nos nasceu, e que nos foi dado por Deus para ser o nosso Remidor não é porventura o restaurador da nossa vida e o consolador da nossa velhice? Por isso se diz através do profeta Isaías:
“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o governo estará sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz.” (Is 9.6).
O futuro já não pode nos assustar mais em face da miséria em que nos encontrávamos por causa dos nossos pecados, porque a Providência Divina nos deu um filho, o Filho do homem, para ser o Redentor da nossa propriedade eterna.
“o qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão de Deus, para o louvor da sua glória.”  (Ef 1.14).
“em quem temos a redenção, a saber, a remissão dos pecados;” (Col 1.14).
“e não pelo sangue de bodes e novilhos, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez por todas no santo lugar, havendo obtido uma eterna redenção.” (Hb 9.12).
No verso 15 é afirmado o amor que Rute devotava a Noemi, e que por causa deste amor, aquele neto seria uma bênção para ela.
Ele não seria apenas um neto legítimo por força da lei justa e piedosa do levirato que Deus havia instituído em Israel, mas pelo fato de Rute se colocar não na posição de uma simples nora em relação a Noemi, mas na posição de uma filha devotada e amorosa.
O amor tudo vence.
E os habituais conflitos existentes entre noras e sogras não teriam lugar, caso tanto o exemplo de Noemi, quanto o de Rute fossem seguidos.
E tanto Noemi era para Rute uma verdadeira mãe e não simplesmente uma sogra, que ela deixou a criação de Obede aos cuidados da avó, de modo que ela pudesse se consolar da perda dos seus filhos na terra de Moabe.
Assim, o amor verdadeiro é constituído não apenas de palavras, mas de renúncias e atos de bondade em relação àqueles aos quais amamos.
Quantas lições extraordinárias de vida, podemos retirar deste pequeno livro de Rute!
O qual, a propósito, foi escrito bem depois de terem ocorrido os fatos que estão nele narrados, pois, são citados também os descendentes de Boaz e o rei Davi (v. 22). Sendo Jessé, pai de Davi, filho de Obede,  que havia nascido de Rute, então o rei Davi era bisneto dela.
E é maravilhoso observar como a providência divina se encarregou de deixar registrado os fatos marcantes da genealogia que conduziria ao Messias.
Antes que Jesus se manifestasse em carne, na plenitude dos tempos (Gál 4.4), Deus estava descrevendo o caminho pelo qual Ele viria ao mundo, na Sua plena inclusão e participação na natureza e história humanas, demonstrando assim que a Sua Pessoa e obra teriam a ver com o homem, segundo o propósito de Deus relativamente à humanidade.
“mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo de lei, para resgatar os que estavam debaixo de lei, a fim de recebermos a adoção de filhos.” (Gál 4.4,5).        



“1 Boaz subiu à porta da cidade, e assentou-se ali. Quando o remidor de que ele havia falado ia passando, disse-lhe Boaz: Meu amigo, vem cá, assenta-te aqui. Ele se virou, e se assentou.
2 Então Boaz tomou dez homens dentre os anciãos da cidade, e lhes disse: Sentai-vos aqui. E eles se sentaram.
3 Disse Boaz ao remidor: Noemi, que voltou da terra dos moabitas, vendeu a parte da terra que pertencia a Elimeleque; nosso irmão.
4 Resolvi informar-te disto, e dizer-te: Compra-a na presença dos que estão sentados aqui, na presença dos anciãos do meu povo; se hás de redimi-la, redime-a, e se não, declara-mo, para que o saiba, pois outro não há, senão tu, que a redima, e eu depois de ti. Então disse ele: Eu a redimirei.
5 Disse, porém, Boaz: No dia em que comprares o campo da mão de Noemi, também tomarás a Rute, a moabita, que foi mulher do falecido, para suscitar o nome dele na sua herança.
6 Então disse o remidor: Não poderei redimi-lo para mim, para que não prejudique a minha própria herança; toma para ti o meu direito de remissão, porque eu não o posso fazer.
7 Outrora em Israel, para confirmar qualquer negócio relativo à remissão e à permuta, o homem descalçava o sapato e o dava ao seu próximo; e isto era por testemunho em Israel.
8 Dizendo, pois, o remidor a Boaz: Compra-a para ti, descalçou o sapato.
9 Então Boaz disse aos anciãos e a todo o povo: Sois hoje testemunhas de que comprei tudo quanto foi de Elimeleque, e de Quiliom, e de Malom, da mão de Noemi,
10 e de que também tomei por mulher a Rute, a moabita, que foi mulher de Malom, para suscitar o nome do falecido na sua herança, para que a nome dele não seja desarraigado dentre seus irmãos e da porta do seu lugar; disto sois hoje testemunhas.
11 Ao que todo o povo que estava na porta e os anciãos responderam: Somos testemunhas. O Senhor faça a esta mulher, que entra na tua casa, como a Raquel e a Léia, que juntas edificaram a casa de Israel. Porta-te valorosamente em Efrata, e faze-te nome afamado em Belém.
12 Também seja a tua casa como a casa de Pérez, que Tamar deu a Judá, pela posteridade que o Senhor te der desta moça.
13 Assim tomou Boaz a Rute, e ela lhe foi por mulher; ele a conheceu, e o Senhor permitiu a Rute conceber, e ela teve um filho.
14 Disseram então as mulheres a Noemi: Bendito seja o Senhor, que não te deixou hoje sem remidor; e torne-se o seu nome afamado em Israel.
15 Ele será restaurador da tua vida, e consolador da tua velhice, pois tua nora, que te ama, o deu à luz; ela te é melhor do que sete filhos.
16 E Noemi tomou o menino, pô-lo no seu regaço, e foi sua ama.
17 E as vizinhas deram-lhe nome, dizendo: A Noemi nasceu um filho, E chamaram ao menino Obede. Este é o pai de Jessé, pai de Davi.
18 São estas as gerações de Pérez: Pérez gerou a Hezrom,
19 Hezrom gerou a Rão, Rão gerou a Aminadabe,
20 Aminadabe gereu a Nasom, Nasom gerou a Salmom,
21 Salmom gerou a Boaz, Boaz gerou a Obede,
22 Obede gerou a Jessé, e Jessé gerou a Davi.”



































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