sábado, 17 de outubro de 2015

DATA, LOCAL, E OCASIÃO DA ESCRITA DO NOVO TESTAMENTO

Novo Testamento



DATA       EPÍSTOLA               LOCAL DA ESCRITA     OCASIÃO DA ESCRITA  
(d.C)

49        Gálatas            Antioquia da Síria   Entre a 1a e 2a viagem de Paulo          

50/51   I Tessalonicenses        Corinto        Durante a 2a viagem de Paulo

50/51   II Tessalonicenses       Corinto        Durante a 2a viagem de Paulo

54        I Coríntios                  Éfeso          Durante a 3a viagem de Paulo

55        II Coríntios               Macedônia     Durante a 3a viagem de Paulo

55        Romanos                    Corinto        Durante a 3a viagem de Paulo

59        Efésios                        Roma  Durante 1a prisão de Paulo em Roma

59        Colossenses                 Roma  Durante 1a prisão de Paulo em Roma

59        Filemom                      Roma  Durante 1a prisão de Paulo em Roma

60        Filipenses                    Roma  Durante 1a prisão de Paulo em Roma

62        I Timóteo              Macedônia Entre a 1a e a 2a prisão de Paulo em Roma

63        Tito                       Nicópolis   Entre a 1a e a 2a prisão de Paulo em Roma

64        II Timóteo                   Roma  Durante 2a prisão de Paulo em Roma

As epístolas de Paulo já circulavam por algum tempo entre as igrejas conforme se subentende de Col 4.16, quando começaram a ser escritos os demais escritos do Novo Testamento. Procure situar a data provável destes demais escritos, com as datas assinaladas acima para as epístolas de Paulo. Estaremos apresentando portanto, a seguir, cada um destes documentos segundo a ordem cronológica provável da sua produção.

Tiago - 57 ou 58 d.C. – Escrita antes de 62 d.C., data do martírio de Tiago, segundo Flávio Josefo. Escrita em                                        Jerusalém aos cristãos judeus da dispersão, isto é, que se encontravam fora da Judéia, espalhados pelo mundo. Tiago era irmão de Jesus, e líder da igreja de Jerusalém (Gál 1.19). Foi ele quem deu a palavra final (At 15.13) relativa à controvérsia judaizante, no concílio de Jerusalém narrado em Atos 15.

Marcos – 59 ou 60 d.C. – Todos os evangelhos são anônimos, isto é, não traziam no original o nome do seu autor. O conhecimento da autoria vem do testemunho patrístico (dos primeiros pastores e doutores da igreja, chamados pais da igreja).
Papias (c. 140 d.C.); Justino Mártir (c. 150 d.C.); Irineu (c. 160 d.C.); Clemente de Alexandria (c. 200 d.C.) e Eusébio (c. 325 d.C.) atribuíram a autoria deste evangelho a João Marcos.
Foi provavelmente o primeiro evangelho a ser escrito. Isto se depreende das semelhanças que existem entre os três evangelhos sinópticos (Marcos, Mateus e Lucas), e que apenas 30 dos 661 versículos de Marcos não se encontram em Mateus e em Lucas. Lucas afirma no seu evangelho que havia recorrido a fontes orais e escritas para escrever o seu evangelho (1.1-4). Poderia portanto ter usado Marcos, tanto quanto Mateus para a produção do seu evangelho. Mas, a rigor, nem Mateus nem Lucas são uma mera cópia de Marcos, porque têm cada um o seu próprio estilo e propósito, além de inúmeras informações adicionais que não encontramos em Marcos. Por exemplo, das 70 parábolas, Marcos registra apenas 18. 
Marcos concede maior espaço aos milagres: registra 18 do total de 35.

Mateus – 60 d.C. – Eusébio (c. 325 d.C.) disse que Clemente de Roma (c. 101 d.C.) atribuiu o 1o dos 4 evangelhos a Mateus. Irineu (c. 160 d.C) afirmou que Mateus publicou um evangelho quando Paulo e Pedro pregavam em Roma. Sabemos que Paulo esteve a primeira vez em Roma quando foi levado preso para a referida cidade, cerca de 59 e 60 d.C. Não convém portanto datar Mateus antes de tal período.
Segundo a tradição patrística este evangelho foi escrito de Antioquia da Síria.
Dos 35 milagres narrados nos evangelhos, apenas 3 são exclusivos em Mateus: os dois cegos (9.27-31); o mudo endemoninhado (9.32,33); e a moeda na boca do peixe (17.24-27). 

I e II Pedro – 63 ou 64 d.C. – Segundo tradição patrística, Pedro foi também martirizado sob Nero, assim como o apóstolo Paulo, em 64 d.C. Desta forma, não convém datar as epístolas de Pedro posteriormente a tal data. E como o tema central em ambas as epístolas gira em torno da perseguição sofrida pela igreja gentílica da Ásia Menor, uma vez que Pedro escreveu suas epístolas para os crentes da referida região (Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia – I Pe 1.1 e II Pe 3.1), não convém também recuar a data da escrita destas duas epístolas, uma vez que a perseguição empreendida por Nero contra os cristãos não foi de longa duração.
Ambas as epístolas foram escritas de “Babilônia” (I Pe 5.13), nome simbólico para Roma, em Apo 17.4-6; 9.18.

Judas -  64 ou 65 d.C. – Judas se valeu de II Pedro para escrever sua epístola (Jd 17,18; II Pe 3.3). Escreveu portanto depois da escrita de II Pedro.  Era irmão de Tiago, e por conseguinte, de Jesus (Jd 1). Quando Paulo esteve em Jerusalém com Pedro e com Tiago, ele se referiu a Tiago como sendo o irmão do Senhor, em Gál 1.19.

Lucas – 64 ou 65 d.C. – Irineu afirmou que Lucas escreveu seu evangelho após a morte de Paulo em 64 d.C. Além de Irineu, Tertuliano,  Orígenes e Eusébio atribuíram a autoria do 3o evangelho a Lucas. Provavelmente foi escrito em Roma, porque Lucas encontrava-se em companhia de Paulo durante sua segunda prisão em Roma, que culminou com o martírio do apóstolo (II Tim 4.11).
Dos 35 milagres narrados nos evangelhos, 6 são exclusivos a Lucas (5.1-11; 7.11-17; 13.10-17; 14.1-6; 17.11-19; 22.49); e das 70 parábolas, 19 são exclusivas a Lucas (7.41-43; 10.30-37; 11.5-8; 12.13-21, 35-40, 41-48; 13.6-9; 14.7-11; 16.24, 28-30, 31,32; 15.8-10, 11-32; 16.1-13, 19-31; 17.7-10; 18.1-8, 9-14; 19.11-27).

Atos – 64 ou 65 d.C. – Escrito pouco tempo depois do evangelho, também em Roma, por Lucas, como um desenvolvimento de Atos 1.8, demonstrando como foi dado cumprimento pela igreja à ordem de Jesus de se pregar o evangelho começando por Jerusalém, Judéia, Samaria e até aos confins da terra. A narrativa de Atos segue portanto a referida ordem. O destinatário “Teófilo” é tanto citado no evangelho de Lucas, quanto em Atos (Lc 1.3; At 1.1). Teófilo no grego significa “amigo de Deus”, podendo se tratar  portanto de uma forma de se dirigir aos crentes em geral, e não apenas a uma determinada pessoa.

Hebreus – Autoria desconhecida. Se Paulo foi o autor, não poderia ter sido escrita depois de 64 d.C., ano do seu martírio. Clemente de Roma citou Hebreus cerca de 95 d.C. Assim, não pode ser datada depois de 95 d.C. O templo de Jerusalém, provavelmente,  não havia ainda sido destruído (70 d.C), porque o autor certamente usaria o fato para reforçar o seu argumento de que o sistema sacrificial do Velho Testamento havia se tornado obsoleto (8.7, 13) e não teria escrito “que estava prestes a desaparecer”, e sim, que havia desaparecido. Convém recuar a data da escrita portanto, para pouco antes de 70 d.C.
Hipólito de Roma, Irineu e Tertuliano não aceitavam a carta como sendo de autoria de Paulo. Orígenes embora aceitasse a carta como canônica, afirmou que somente Deus sabe com certeza quem a escreveu.

João – Segundo tradição patrística, João ministrou em Éfeso após a morte de Paulo, e lá escreveu seu evangelho e suas três epístolas próximo de 90 d.C. João contém mais discursos de Jesus do que os demais evangelhos. Dos 35 milagres narrados nos evangelhos, João cita apenas 8 milagres: 2.1-12; 4.46-54; 5.1-18; 6.1-15; 6.16-21; 9.1-41; 11.1-46; 21.6. Há uma clara intenção do autor em provar a divindade de Jesus e que somente a fé nEle conduz à salvação. João declara diretamente o propósito com que escreveu seu evangelho (20.30,31) e justificou o motivo porque não registrou todas as coisas que Jesus fez em seu ministério terreno (Jo 20.30; 21.25). Isto está plenamente em conformidade com os materiais exclusivos que lemos nos quatro evangelhos, indicando que certamente nem tudo o que Jesus fez foi registrado nos evangelhos. O percentual de material exclusivo de João é bem maior do que o dos demais evangelhos, como se percebe a seguir:
                 
Material Exclusivo (%)
Marcos               7
Mateus             42
Lucas               59        
João                 92

I, II e III João – Como já lemos em relação ao evangelho de João, segundo tradição patrística, João ministrou em Éfeso após a morte de Paulo, e lá escreveu seu evangelho e suas três epístolas próximo de 90 d.C. As duas primeiras epístolas visam principalmente combater o falso ensino dos mestres gnósticos que afirmavam que Jesus não havia encarnado. A 3a epístola de João elogia o bom procedimento de Gaio e de Demétrio quanto à acolhida dos evangelistas itinerantes, e repreende o comportamento de Diótrefes que não agia do mesmo modo, antes impedia a igreja de fazê-lo, resistindo à autoridade do próprio apóstolo João. 

Apocalipse – Escrito na ilha de Patmos (1.9), que fica a 96 km a sudoeste de Éfeso. Deve ser datado no período de reinado de Domiciano (81 a 96 d.C.) que instituiu o culto de adoração ao imperador romano, e que segundo tradição patrística enviou João para o exílio em Patmos. Justino Mártir (c. 135 d.C.) foi o primeiro a afirmar que João escreveu o Apocalipse. Irineu escreveu que João viveu na Ásia até os tempos do imperador Trajano (98-117 d.C)  e que escreveu o Apocalipse próximo do final do reinado de Domiciano.


APÊNDICE: Em razão das várias citações aos chamados pais da igreja, ao longo desta apostila, estamos destacando alguns deles a seguir, a título de mera informação e ilustração.

Policarpo (69-156 d.C) – Discípulo de João e bispo de Esmirna. Na perseguição ordenada pelo imperador, foi preso e queimado vivo, por ter se recusado a amaldiçoar a Cristo.

Inácio (67-110 d.C.) -  Discípulo de João e bispo de Antioquia. O imperador Trajano mandou prendê-lo e sentenciou que ele fosse lançado às feras em Roma.

Papias (70-155 d.C.) – Discípulo de João e bispo de Hierápolis, uns 160 km a leste de Éfeso. Sofreu martírio em Pérgamo.

Justino, o Mártir (100-167 d.C.) – Foi martirizado em Roma.

Irineu (130-200 d.C.) – Discípulo de Policarpo e Papias. Criou-se em Esmirna e veio a ser bispo de Lião, na Gália. Escreveu principalmente contra os gnósticos. Também foi martirizado.

Orígenes (185-254 d.C.) - Dois terços do Novo Testamento estão citados em seus escritos. Viveu em Alexandria, onde seu Pai, Leônidas, sofreu martírio. Morreu na Palestina em conseqüência de ter sido preso e torturado, sob o governo de Décio, imperador romano que perseguiu furiosamente os cristãos.

Tertuliano (160-220) –  Era natural de Cartago. Foi apologista, defensor do cristianismo.


Eusébio (264-340) -  Bispo de Cesaréia, ao tempo da conversão de Constantino, e teve muita influência junto a este.

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