domingo, 18 de outubro de 2015

Eclesiastes 1 a 12 - Cantares 1 a 8

ECLESIASTES

Eclesiastes 1

Se Salomão tivesse a vida atribulada de seu pai Davi, nas muitas guerras e oposições de muitos inimigos que ele enfrentou durante toda a sua vida, talvez tivesse se consagrado mais a Deus à busca de consolo e triunfo sobre as adversidades dirigidas contra ele e contra o reino de Israel.
Contudo, como o seu reino foi pacífico e próspero, e sua vida cheia de confortos, achou  então muita tristeza nas adversidades, desigualdades, enfim, em tudo aquilo que é consequente da presença do pecado no mundo.
Todavia, o seu testemunho nos é muito precioso, para nos advertir que de fato, conforme a própria experiência dele o comprovou, apesar de toda a sua grande riqueza e sabedoria, não está em nada disso o motivo da verdadeira vida e alegria, senão somente no Senhor e na nossa plena comunhão com Ele.
Então é importantíssimo que aqueles que andam à busca de prosperidade mundana, especialmente os cristãos da Igreja de Laodiceia, citada em Apo 3, como se fosse isto o triunfo da fé, porque a pessoa que colocar o seu coração em buscar uma vida vitoriosa fora do ato de se conquistar mais e mais da pessoa do próprio Deus, virá a reconhecer mais cedo ou mais tarde, tal como Salomão, que tudo o que há no mundo, ou que se possa obter dele, é vaidade, ou seja, vazio, algo vão, inútil para atender aos propósitos divinos e eternos, que Deus designou para o homem.
A vitória da fé é exatamente o oposto do que os cristãos carnais andam afirmando, porque a fé não é orientada para se alcançar resultados de triunfos mundanos, mas exatamente para vencer o mundo e o fascínio de suas riquezas e glória terrenas.

“porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé.” (I Jo 5.4)

A afirmação do verso 15 que não se pode endireitar o que é torto, está sendo considerada amplamente no comentário relativo a Eclesiastes 7.13.

Quando Salomão afirma no verso 18 que “o que aumenta o conhecimento aumenta a tristeza.”, ele está se referindo não ao aumento de conhecimento propriamente dito como sendo  uma fonte de tristeza para aquele que o possui, mas que é por ele que se chega a conhecer qual é a real condição da maldade que há no mundo, especialmente no coração humano.
Quem detém o verdadeiro conhecimento entenderá que este mundo não é nenhum parque de diversões, e que a vida não é uma coisa à qual não se deva dar a devida consideração, porque Deus prestará contas de todos os nossos atos, conforme o próprio Salomão afirma no capítulo 12 deste livro.
Por isso também, Salomão afirmou que não devemos aplicar o coração para sermos demasiadamente sábios (cap 7 verso 16), porque acharíamos enfado nisto, e não toparíamos com o grande sentido da vida, porque faríamos do ato de buscar sabedoria um fim em si mesmo, quando o fim primeiro e último da vida é o próprio Deus.
É possível conhecer até mesmo toda a Palavra de Deus, e no entanto não se ter qualquer comunhão ou intimidade com Ele.
É possível conhecer tudo acerca da doutrina da salvação, e não ser salvo por uma experiência pessoal e real com Jesus Cristo.
Então o conhecimento até mesmo como meio terá as suas limitações, caso não seja colocado em prática, e caso não seja orientado pelo próprio Deus, tanto no que se refere à recepção quanto à aplicação deste conhecimento.
Pretendendo saber mais acerca das leis e da justiça, alguém pode usar isto vindo a se transformar num ditador cruel, e fazer, portanto, um uso ruim de uma coisa boa.
Assim Paulo disse dos judeus legalistas, que a Lei é boa para quem faz um uso legítimo da Lei, e não errando como eles faziam dizendo que a justificação não era pela fé, mas mediante o cumprimento de todos os mandamentos da Lei de Moisés (I Tim 1.8-10).
A graça e a verdade não serão achadas nos escritos de Moisés, e nem mesmo nestes escritos de Salomão, senão somente em nosso Senhor Jesus Cristo, pela revelação melhor e mais ampla que Ele nos fez de toda a vontade de Deus, e que nos foi ensinada em figura ou em forma de sombra no Velho Testamento.

“Porque a lei foi dada por meio de Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo.” (Jo 1.17)

Então Salomão não proferiu toda a verdade quando afirmou que há muito enfado no conhecimento e na sabedoria, e que tudo é vaidade, porque estava se referindo principalmente à sua própria condição depois de ter investigado profundamente todas as coisas no que lhe fora possível investigar, à procura do verdadeiro conhecimento e da verdadeira sabedoria.
Há muita verdade no que ele disse, especialmente quanto às coisas deste mundo que passam, mas não podemos concordar com ele, quando diz que Deus nos pôs o enfado de ter que investigar acerca da natureza de todas as coisas, porque na verdade não nos foi imposto tal enfado, Salomão o impôs a si mesmo, porque se é certo de que Deus colocou a eternidade no coração do homem para que Ele cresça em sabedoria e conhecimento, no entanto, isto pode ser feito como um deleite, em Sua presença, aprendendo dEle em plena submissão e paciência, e não tentando fazê-lo pela nossa própria capacidade e esforço, ou pela própria inteligência, tal como Salomão o fizera em grande parte, porque no final, a conclusão a que chegaremos será a mesma à qual ele chegou de que tudo não passou de enfado, canseira e vaidade para nós, porque não teve este crivo da marca do Senhor em toda a nossa busca.
Veja a diferença destas palavras de Salomão, se comparadas com as que saíram da boca de seu pai Davi. Como ele se deleitava no Senhor e nas Suas obras. Como se agradava da Sua Lei, à qual ele chamava de perfeita. Deus era o centro em torno do qual girava toda a Sua vida, e por isso não achou nenhum enfado ou canseira em tudo o que aprendeu da parte do Senhor, porque teve sempre o Seu Espírito guiando todos os seus passos, pensamentos e ações, desde a sua infância.
Salomão tentou achar alegria nos prazeres terrenos, e somente depois de muito tempo, já nas reflexões que faz neste livro de Eclesiastes, chegou à conclusão que não se pode achar a verdadeira alegria em prazeres terrenos conforme ele afirma no primeiro versículo do capítulo seguinte (cap 2).
  Melhor instruído do que ele, Davi jamais buscou alegria em tais prazeres, porque o Senhor era toda a Sua alegria.



“1 Palavras do pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém.
2 Vaidade de vaidades, diz o pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade.
3 Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol?
4 Uma geração vai-se, e outra geração vem, mas a terra permanece para sempre.
5 O sol nasce, e o sol se põe, e corre de volta ao seu lugar donde nasce.
6 O vento vai para o sul, e faz o seu giro vai para o norte; volve-se e revolve-se na sua carreira, e retoma os seus circuitos.
7 Todos os ribeiros vão para o mar, e contudo o mar não se enche; ao lugar para onde os rios correm, para ali continuam a correr.
8 Todas as coisas estão cheias de cansaço; ninguém o pode exprimir: os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir.
9 O que tem sido, isso é o que há de ser; e o que se tem feito, isso se tornará a fazer; nada há que seja novo debaixo do sol.
10 Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? ela já existiu nos séculos que foram antes de nós.
11 Já não há lembrança das gerações passadas; nem das gerações futuras haverá lembrança entre os que virão depois delas.
12 Eu, o pregador, fui rei sobre Israel em Jerusalém.
13 E apliquei o meu coração a inquirir e a investigar com sabedoria a respeito de tudo quanto se faz debaixo do céu; essa enfadonha ocupação deu Deus aos filhos dos homens para nela se exercitarem.
14 Atentei para todas as obras que se e fazem debaixo do sol; e eis que tudo era vaidade e desejo vão.
15 O que é torto não se pode endireitar; o que falta não se pode enumerar.
16 Falei comigo mesmo, dizendo: Eis que eu me engrandeci, e sobrepujei em sabedoria a todos os que houve antes de mim em Jerusalém; na verdade, tenho tido larga experiência da sabedoria e do conhecimento.
17 E apliquei o coração a conhecer a sabedoria e a conhecer os desvarios e as loucuras; e vim a saber que também isso era desejo vão.
18 Porque na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta o conhecimento aumenta a tristeza.”



Eclesiastes 2

A verdadeira sabedoria é uma Pessoa (Cristo), e não algo que se adquire por exercício da mente.

“Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção;” (I Cor 1.30).

Então quanto mais se tem de Cristo, do conhecimento de Cristo, maior será a nossa sabedoria nas coisas relativas a Deus, ao Seu reino e ao propósito da nossa vida, tanto neste mundo quanto no porvir.

Por isso nos é ordenado:
“antes crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja dada a glória, assim agora, como até o dia da eternidade.” (II Pe 3.18).

A sabedoria de Salomão lhe foi dada num único dia, depois de ter tido um encontro com Deus em sonho em Gibeá.
Então o que ele recebeu foi na verdade uma grande inteligência natural com capacidade de investigar muitas coisas naturais, relativas ao homem natural.
Devemos considerar que ele escreveu Eclesiastes quando já era velho e havia acumulado larga experiência de vida. No entanto vemos pouco da expressão da sabedoria espiritual, relativa a coisas espirituais, sendo expressada em suas palavras, como já dissemos, que vemos por exemplo, nos Salmos de Davi, falando pelo Espírito.
 A verdadeira sabedoria espiritual que é a revelada por iluminação progressiva e gradual (cada vez maior) pelo Espírito, é operada portanto, no decorrer dos anos, e não pode ser obtida de  uma vez a partir de um único dia, tal como Deus fizera com Salomão.
Então, não seria de se esperar que falasse de ter buscado estimular o seu coração e a sua carne com vinho, sem no entanto deixar a sua sabedoria, e tentar manter-se com auto domínio de tal forma, ainda que alegrado pelo vinho, que não se deixasse dominar pela estultícia (v. 3).
Isto nada tem a ver com o domínio próprio que é fruto do Espírito Santo, e não o resultado de auto determinação. É sendo guiados pelo Espírito Santo, que podemos ter o verdadeiro auto-domínio.
Salomão usou a sua sabedoria para realizar obras magníficas, como edificação de casas, e plantação de vinhas, hortas e jardins, construção de tanques para regar seus bosques, e foi rico em possessão tanto de servos como de gados e rebanhos, tendo excedido a todos os que tinham vivido antes dele em Jerusalém.
Ajuntou prata e ouro e tesouros dos reis que lhe eram tributários, e teve cantores e concubinas em grande número, para aumentar com isto a glória e o fausto do seu reino.
Ele satisfez todos os desejos da sua alma e de nenhuma alegria terrena privara o seu coração, e lhe dava muita alegria o seu trabalho.
Todavia, quando veio a refletir sobre tudo o que havia feito, chegou à conclusão que tudo fora vaidade e um desejo vão, e que não havia proveito nenhum em tudo o que havia debaixo do sol, ou seja, sobre a terra (v. 11).
Certamente, o conselho de Salomão que o que nos resta, já que a morte é certa, é retirar o melhor do que a vida possa nos oferecer, não é o reto ensino divino acerca do assunto relativo ao modo como devemos viver neste mundo, mas sua afirmação está inserida na Bíblia, para que possamos ter o conhecimento e a convicção do que sucede àqueles que não fazem um uso apropriado da sabedoria e dos bens que tenha recebido até mesmo da parte do próprio Deus, tal como foi o caso de Salomão.
Daí dizermos então que é preciso ter muito cuidado ao se firmar doutrina, a partir das citações de Salomão neste livro, porque muito do que ele afirmou aqui, retrata a expressão dos seus próprios sentimentos, e não a verdade que lhe fora revelada por Deus acerca de muitas coisas que ele afirma neste livro que ele escreveu.
Todavia, devemos reafirmar aquelas verdades que são eternas e melhores, reveladas em toda a Palavra, do que nos concentrarmos em explicar exaustivamente tudo o que Salomão afirmou.
Temos nestas coisas afirmadas por ele, uma abertura para esta grande oportunidade de analisarmos melhor o que há no coração de uma pessoa que permanece em comunhão íntima com Deus e debaixo da direção do Seu Espírito (como foi o caso de Davi), e daqueles, que apesar de terem um conhecimento da Palavra do Senhor, não se aplicam inteiramente a tal comunhão, e o resultado será este, que vemos nos Escritos de Salomão, em que o Senhor não é exaltado o tanto quanto deveria, e a Sua Lei e vontade afirmadas, e não tanto as próprias conclusões a que chegamos depois de  uma investigação exaustiva, a partir não das coisas celestiais e divinas, mas nas que pertencem à própria natureza humana e tudo o mais que existe na terra, e que é procedente do mundo e não do céu.  



“1 Disse eu a mim mesmo: Ora vem, eu te provarei com a alegria; portanto desfruta o prazer; mas eis que também isso era vaidade.
2 Do riso disse: é loucura; e da alegria: de que serve?
3 Busquei no meu coração como estimular com vinho a minha carne, sem deixar de me guiar pela sabedoria, e como me apoderar da estultícia, até ver o que era bom que os filhos dos homens fizessem debaixo do céu, durante o número dos dias de sua vida.
4 Fiz para mim obras magníficas: edifiquei casas, plantei vinhas;
5 fiz hortas e jardins, e plantei neles árvores frutíferas de todas as espécies.
6 Fiz tanques de águas, para deles regar o bosque em que reverdeciam as árvores.
7 Comprei servos e servas, e tive servos nascidos em casa; também tive grandes possessões de gados e de rebanhos, mais do que todos os que houve antes de mim em Jerusalém.
8 Ajuntei também para mim prata e ouro, e tesouros dos reis e das províncias; provi-me de cantores e cantoras, e das delícias dos filhos dos homens, concubinas em grande número.
9 Assim me engrandeci, e me tornei mais rico do que todos os que houve antes de mim em Jerusalém; perseverou também comigo a minha sabedoria.
10 E tudo quanto desejaram os meus olhos não lho neguei, nem privei o meu coração de alegria alguma; pois o meu coração se alegrou por todo o meu trabalho, e isso foi o meu proveito de todo o meu trabalho.
11 Então olhei eu para todas as obras que as minhas mãos haviam feito, como também para o trabalho que eu aplicara em fazê-las; e eis que tudo era vaidade e desejo vão, e proveito nenhum havia debaixo do sol.
12 Virei-me para contemplar a sabedoria, e a loucura, e a estultícia; pois que fará o homem que seguir ao rei? O mesmo que já se fez!
13 Então vi eu que a sabedoria é mais excelente do que a estultícia, quanto a luz é mais excelente do que as trevas.
14 Os olhos do sábio estão na sua cabeça, mas o louco anda em trevas; contudo percebi que a mesma coisa lhes sucede a ambos.
15 Pelo que eu disse no meu coração: Como acontece ao estulto, assim me sucederá a mim; por que então busquei eu mais a sabedoria; Então respondi a mim mesmo que também isso era vaidade.
16 Pois do sábio, bem como do estulto, a memória não durará para sempre; porquanto de tudo, nos dias futuros, total esquecimento haverá. E como morre o sábio, assim morre o estulto!
17 Pelo que aborreci a vida, porque a obra que se faz debaixo do sol me era penosa; sim, tudo é vaidade e desejo vão.
18 Também eu aborreci todo o meu trabalho em que me afadigara debaixo do sol, visto que tenho de deixá-lo ao homem que virá depois de mim.
19 E quem sabe se será sábio ou estulto? Contudo, ele se assenhoreará de todo o meu trabalho em que me afadiguei, e em que me houve sabiamente debaixo do sol; também isso é vaidade.
20 Pelo que eu me volvi e entreguei o meu coração ao desespero no tocante a todo o trabalho em que me afadigara debaixo do sol.
21 Porque há homem cujo trabalho é feito com sabedoria, e ciência, e destreza; contudo, deixará o fruto do seu labor para ser porção de quem não trabalhou nele; também isso é vaidade e um grande mal.
22 Pois, que alcança o homem com todo o seu trabalho e com a fadiga em que ele anda trabalhando debaixo do sol?
23 Porque todos os seus dias são dores, e o seu trabalho é vexação; nem de noite o seu coração descansa. Também isso é vaidade.
24 Não há nada melhor para o homem do que comer e beber, e fazer que a sua alma se regozije do bem do seu trabalho. Vi que também isso vem da mão de Deus.
25 Pois quem pode comer, ou quem pode se regozijar, melhor do que eu?
26 Porque ao homem que lhe agrada, Deus dá sabedoria, e conhecimento, e alegria; mas ao pecador dá trabalho, para que ele ajunte e amontoe, a fim de dá-lo àquele que agrada a Deus: Também isso é vaidade e desejo vão.”



Eclesiastes 3

Comparemos a citação de Salomão constante do verso 21 deste capítulo:

“Quem sabe se o espírito dos filhos dos homens vai para cima, e se o dos animais desce para a terra?”

Com a que ele faz no verso 7 do capítulo 12:

“e o pó volte para a terra como o era, e o espírito volte a Deus que o deu.”

É necessário fazer tal comparação para que possamos entender o que ele pretendeu dizer com as palavras dos versos 18 a 21 deste capitulo terceiro, pelas quais parece estar afirmando que tanto homens quanto animais têm o mesmo destino comum, e que poderia haver alguma incerteza nele quanto ao destino de ambos depois da morte, todavia, o que parece que pretendia afirmar é que no que tange ao corpo é inegável que tanto homens quanto animais voltam ao pó, mas quanto ao espírito, ele diz em Ec 12.7 que este volta ao domínio de Deus depois da morte, porque foi dado por Deus, e não formado naturalmente dos próprios elementos naturais da terra, tal como fora o corpo, tanto de animais quanto de homens.
E ele afirmou também em relação ao espírito  em Ec 3.21, quanto ao destino eterno dos animais e dos homens, que não se pode afirmar que o espírito de todo o homem subirá ao céu depois da morte, bem como não podia afirmar se o dos animais desceria para a terra, parecendo atribuir aos animais terem um espírito que poderia ir para debaixo da terra depois da morte do seu corpo físico.
Todavia, tão ligado estava Salomão às coisas deste mundo, que havia nele esta incerteza quanto às coisas que se seguem depois da morte, e assim, não podemos ver em suas palavras senão a trágica e melancólica conclusão do verso 22 de que então, em face da realidade assim considerada por ele, que não há coisa melhor para o homem, do que se alegrar nas suas obras enquanto estiver neste mundo, porque somente este era o seu quinhão, ou seja, a sua herança, porque quem o faria voltar depois da morte para ver o que sucedeu depois dele?
Tão diferente são as afirmações de Davi em relação à certeza de que estaria com Deus para sempre, não somente Ele, bem como todos aqueles que tinham o verdadeiro temor do Senhor, e aos quais o Senhor não mais atribuiria a condenação eterna decorrente do pecado, por causa da justificação.
Em Davi havia esta certeza plena por causa da testificação do Espírito com o seu espírito, mas em Salomão nós encontramos estas expressões da incerteza da vida, e da instabilidade de tudo o que há no mundo, nas suas palavras nos primeiros versículos deste capítulo, embora, ele soubesse que Deus é eterno, e seu meio de comprovação desta eternidade divina, é que Deus colocou na própria mente do homem a ideia da eternidade (v. 11).
Embora, o homem não possa descobrir a obra de Deus desde o princípio até o fim (v. 11 b). Isto é uma afirmação doutrinária correta, ortodoxa, mas mal usada por Salomão no contexto da sua aplicação, porque concluiu que o melhor que há então para o homem fazer é se alegrar nesta vida e praticar o bem enquanto viver, comendo e bebendo, e gozando de todo o bem do seu trabalho (v. 12, 13). Podemos dizer disto que é parcialmente correto e que não expressa todo o desígnio de Deus quanto ao modo como espera que os Seus servos vivam neste mundo, porque Salomão associou todas as ações dos homens apenas àquilo que é terreno.
Ele falou da eternidade de Deus, e da eternidade colocada por Deus na mente do homem, mas não pôde afirmar que o homem deveria viver orientado para esta vida eterna no por vir, porque ele próprio não vivia desta forma.
Deste modo, ele expressa o seu conceito sobre eternidade nos versos 14 e 15 que podem bem se prestar a servir de base para a formulação de doutrinas errôneas de que tudo não passa afinal de um eterno voltar a ser o que já fora dantes, do que para firmar o verdadeiro conceito relativo à eternidade que consiste em progresso em santificação, quando tudo se faz novo, e o que era velho e pertencente à natureza de Adão é destruído progressivamente por Deus, para a formação de uma nova criação em Cristo Jesus.
Assim, as contradições do viver de Salomão especialmente nos últimos dias de sua vida, podem ser vistas em tudo o que escreveu em Eclesiastes, porque apesar de afirmar o temor devido a Deus, e que haverá um juízo perante Ele depois da morte, no entanto, em várias passagens de Eclesiastes afirma esta sua incerteza em relação ao futuro do espírito humano.
Nós encontramos o seguinte registro em I Reis 11.4-12, relativo a Salomão, pelo qual nós vemos a que ponto ele chegou por não ter perseverado em seguir ao Senhor com integridade de coração:

“4 Pois sucedeu que, no tempo da velhice de Salomão, suas mulheres lhe perverteram o coração para seguir outros deuses; e seu coração já não era perfeito para com o Senhor seu Deus, como fora o de Davi, seu pai;
5 Salomão seguiu a Astarete, deusa dos sidônios, e a Milcom, abominação dos amonitas.
6 Assim fez Salomão o que era mau aos olhos do Senhor, e não perseverou em seguir, como fizera Davi, seu pai.
7 Nesse tempo edificou Salomão um alto a Quemós, abominação dos moabitas, sobre e monte que está diante de Jerusalém, e a Moloque, abominação dos amonitas.
8 E assim fez para todas as suas mulheres estrangeiras, as quais queimavam incenso e ofereciam sacrifícios a seus deuses.
9 Pelo que o Senhor se indignou contra Salomão, porquanto o seu coração se desviara do Senhor Deus de Israel, o qual duas vezes lhe aparecera,
10 e lhe ordenara expressamente que não seguisse a outros deuses. Ele, porém, não guardou o que o Senhor lhe ordenara.
11 Disse, pois, o Senhor a Salomão: Porquanto houve isto em ti, que não guardaste a meu pacto e os meus estatutos que te ordenei, certamente rasgarei de ti este reino, e o darei a teu servo.
12 Contudo não o farei nos teus dias, por amor de Davi, teu pai; da mão de teu filho o rasgarei.”

Tão apegado estava Salomão à sua coroa, que mesmo sabendo que era da vontade de Deus dar as dez tribos do Norte para serem regidas por Jeroboão, conforme palavra do profeta Aías, Salomão tentou matá-lo, para que tal palavra não tivesse cumprimento, e nós vemos o quanto ele estava desviado do temor devido ao Senhor nesta fase da sua vida, conforme podemos ver no registro de I Reis 11.40:

“40 Pelo que Salomão procurou matar Jeroboão; porém este se levantou, e fugiu para o Egito, a ter com Sisaque, rei de Egito, onde esteve até a morte de Salomão.”



“1 Tudo tem a sua ocasião própria, e há tempo para todo propósito debaixo do céu.
2 Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
3 tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derribar, e tempo de edificar;
4 tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
5 tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de abster-se de abraçar;
6 tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de deitar fora;
7 tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
8 tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.
9 Que proveito tem o trabalhador naquilo em que trabalha?
10 Tenho visto o trabalho penoso que Deus deu aos filhos dos homens para nele se exercitarem.
11 Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs na mente do homem a ideia da eternidade, se bem que este não possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até o fim.
12 Sei que não há coisa melhor para eles do que se regozijarem e fazerem o bem enquanto viverem;
13 e também que todo homem coma e beba, e goze do bem de todo o seu trabalho é dom de Deus.
14 Eu sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se lhe pode acrescentar, e nada se lhe pode tirar; e isso Deus faz para que os homens temam diante dele:
15 O que é, já existiu; e o que há de ser, também já existiu; e Deus procura de novo o que já se passou.
16 Vi ainda debaixo do sol que no lugar da retidão estava a impiedade; e que no lugar da justiça estava a impiedade ainda.
17 Eu disse no meu coração: Deus julgará o justo e o ímpio; porque há um tempo para todo propósito e para toda obra.
18 Disse eu no meu coração: Isso é por causa dos filhos dos homens, para que Deus possa prová-los, e eles possam ver que são em si mesmos como os animais.
19 Pois o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos animais; uma e a mesma coisa lhes sucede; como morre um, assim morre o outro; todos têm o mesmo espírito; e o homem não tem vantagem sobre os animais; porque tudo é vaidade.
20 Todos vão para um lugar; todos são pó, e todos ao pó tornarão.
21 Quem sabe se o espírito dos filhos dos homens vai para cima, e se o dos animais desce para a terra?


22 Pelo que tenho visto que não há coisa melhor do que alegrar-se o homem nas suas obras; porque esse é o seu quinhão; pois quem o fará voltar para ver o que será depois dele?”



Eclesiastes 4

Tal era o desencanto de Salomão em relação à vida, pelo que viu da injustiça que há nos corações dos homens, que não chegou a entender os desígnios de Deus, na manifestação do Seu poder, graça e misericórdia, bem como dos Seus juízos, num mundo que havia ficado sujeito ao pecado desde Adão, e diferentemente de seu pai, Davi, que clamava por justiça ao Senhor, e por livramentos dos oprimidos, inclusive dele próprio debaixo da perseguições e pressões que sofria, Salomão preferiu filosofar sobre tal realidade opressiva, e chegou à conclusão de que era melhor nem sequer chegar à existência do que viver num mundo sujeito à opressão, ou então, considerava mais felizes os que já haviam morrido, do que aqueles que ainda estavam vivos (v. 1 a 3).
Seria compreensível que tivesse escrito isto numa forma de lamento, tal como fizera Jó, Jeremias e outros, quando estiveram debaixo de grandes aflições, no entanto, eles não filosofaram friamente acerca disso, porque estavam na verdade abrindo seus corações diante de Deus, desabafando quanto às suas condições, mas sem perderem a esperança de livramento, porque chegaram a compreender que Deus tem um bom propósito de nos fornecer aperfeiçoamento espiritual através de tais tribulações.
Então, para um cristão esclarecido, não há calamidades, mas oportunidades de crescimento em todas as vicissitudes desta vida.
Por isso o cristão não é um pacifista que tenta melhorar o mundo, porque o mundo sempre seguirá o seu curso, aumentando cada vez mais na multiplicação da iniquidade, mas é um pacificador, ou seja, alguém que prega a paz que há em Cristo, para aqueles que pretenderem deixar as trevas que há no mundo.
A partir do verso 4 deste capitulo nós encontramos algumas citações proverbiais que foram escritas por Salomão.
Ele afirma no verso 4 que todo trabalho e toda destreza em obras provêm da inveja que o homem tem do seu próximo, e que isso é também vaidade e um desejo vão.
Não padece dúvida de que muitas das realizações humanas são movidas pela inveja, no desejo de superação do próximo.
Todavia, não podemos fazer disso uma regra geral, porque especialmente os cristãos sinceros tudo fazem por amor a Deus e para Sua glória, e por amor ao próximo.
Mas vivendo cercado por uma rede de intrigas dos muitos nobres que compunham a sua corte, Salomão restringiu o seu campo de análise ao que havia de pior na humanidade e não naquilo que há de melhor nela.
É espantoso o relato que encontramos no livro de I Reis quanto às provisões diárias que eram necessárias, para alimentar todos os que compunham a corte do rei Salomão, e todas as tribos de Israel tinham que se revezar na produção de alimentos para alimentá-los com quantidades fixadas e vigiadas por superintendentes que foram colocados pelo rei sobre eles, de forma que para sustentá-los foram fixados pesados impostos sobre o povo, que eram insuportáveis a ponto de terem servido de motivo para a ruptura das demais tribos do Norte com Judá e Benjamin, para se colocarem debaixo do reinado de Jeroboão.
Nos versos 5 e 6 lemos que aquele que é preguiçoso faz mal à sua própria carne, porque não se alimentará corretamente, porque pensa que é melhor um pouco de pão com tranquilidade, do que ter ambas as mãos cheias com trabalho e correr atrás do vento.
De fato é uma grande tolice preferir viver em penúria do que ser diligente em trabalhar, a pretexto de se amar a tranquilidade, porque Deus não aprova tal tipo falso de tranquilidade, que é muito parecido com a atitude daqueles que não trabalham por alegarem viverem pela fé de que Deus lhes proverá de tudo o que for necessário. Todavia, o Senhor tem imposto ao homem que comerá o seu pão com o suor do seu rosto, e isto é indicativo de que Ele suprirá todas as suas necessidades, desde que trabalhe, conforme Ele o tem determinado.
Por outro lado é apontado um extremo que é o oposto deste citado, nos versos 7 e 8, que consiste em muito se trabalhar, sem cuidar do estado da alma, por se amar as riquezas como um fim em si mesmo, e sem ter com quem compartilhá-la.
Nos versos 9 a 12 é ensinada a superioridade do trabalho em conjunto sobre o individual. Especialmente na obra de Deus não existe uma tal coisa como a de obreiro independente e isolado.
O Senhor nos tem ordenado que vivamos congregados como um rebanho unido, em justa cooperação, e atuando como um só espírito.
Há grande vantagem nisto para cooperação mútua, e para que não haja derrota especialmente nas investidas do Inimigo, que terá muito maior dificuldade para derrotar um corpo de cristãos unidos, do que um cristão que viva isoladamente.
Nos versos 13 e 14 Salomão escreveu um provérbio que teria evitado a sua queda no pecado no final de sua vida caso o aplicasse a si mesmo, porque diz que:

“Melhor é o mancebo pobre e sábio do que o rei velho e insensato, que não se deixa mais admoestar, embora tenha saído do cárcere para reinar, ou tenha nascido pobre no seu próprio reino.” (v. 13 e 14)

É provável que os versos 15 e 16 tenham sido escritos por Salomão inspirando-se no seu próprio caso, porque poderia estar falando melancolicamente sobre as muitas reclamações que estavam sendo levantadas contra o seu reinado, e pela aspiração do povo pelo levantamento de um novo regente no seu lugar, no caso o seu filho Roboão que era ainda muito jovem, e ele via nisto que se desencantariam com o jovem, tanto quanto haviam ficado insatisfeitos com ele, e por isso classificou tal atitude de vaidade e desejo vão.
Não foi esta a condição com que Davi, seu pai o conduziu ao reino em seu lugar, quando ainda o próprio Salomão era muito jovem, porque Davi morreu em ditosa velhice, na presença de Deus, e certo em relação à Sua vontade de que deveria fazer de Salomão seu sucessor.
Mas desviado da presença de Deus, como Salomão se encontrava, como poderia saber em paz qual era a Sua vontade em relação a quem lhe deveria suceder no trono?
Como vimos antes, isto seria feito debaixo de um juízo de Deus, tendo a dois jovens por sucessores, porque por causa da sua idolatria, o reino de Israel seria dividido, e seu filho Roboão o sucederia no Sul, e Jeroboão começaria a reinar no novo reino que seria formado no Norte.  



“1 Depois volvi-me, e atentei para todas as opressões que se fazem debaixo do sol; e eis as lágrimas dos oprimidos, e eles não tinham consolador; do lado dos seus opressores havia poder; mas eles não tinham consolador.
2 Pelo que julguei mais felizes os que já morreram, do que os que vivem ainda.
3 E melhor do que uns e outros é aquele que ainda não é, e que não viu as más obras que se fazem debaixo do sol.
4 Também vi eu que todo trabalho e toda destreza em obras provêm da inveja que o homem tem do seu próximo. Também isso é e vaidade e desejo vão.
5 O tolo cruza as mãos, e come a sua própria carne, dizendo:
6 Melhor é um punhado com tranquilidade do que ambas as mãos cheias com trabalho e correr atrás do vento.
7 Outra vez me volvi, e vi outra vaidade debaixo do sol, isto é:
8 Há um homem que é só, não tendo parente; não tem filho nem irmão e, contudo, de todo o seu trabalho não há fim, nem os seus olhos se fartam de riquezas. E ele não pergunta: Para quem estou trabalhando e privando do bem a minha alma? Também isso é vaidade e enfadonha ocupação.
9 Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho.
10 Pois se caírem, um levantará o seu companheiro; mas ai do que estiver só, pois, caindo, não haverá outro que o levante.
11 Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só como se aquentará?
12 E, se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; e o cordão de três dobras não se quebra tão depressa.
13 Melhor é o mancebo pobre e sábio do que o rei velho e insensato, que não se deixa mais admoestar,
14 embora tenha saído do cárcere para reinar, ou tenha nascido pobre no seu próprio reino.
15 Vi a todos os viventes que andavam debaixo do sol, e eles estavam com o mancebo, o sucessor, que havia de ficar no lugar do rei.
16 Todo o povo, à testa do qual se achava, era inumerável; contudo os que lhe sucederam não se regozijarão a respeito dele. Na verdade também isso é vaidade e desejo vão.”




Eclesiastes 5

Ao lermos este quinto capítulo de Eclesiastes, fomos remetidos às palavras do sermão do Pr David Wilkerson no qual chama a Igreja de Laodiceia de Igreja de Salomão.
Ficamos a pensar até que ponto os pregadores de Laodiceia, que se firmam basicamente na doutrina da prosperidade material, encontram em Salomão um paradigma para os seus procedimentos.
Salomão se intitula no início deste seu livro de Eclesiastes como “pregador” (Ec 1.1).
Ele diz que o que escreveria seria um sermão, um sermão que ele pregaria.
Muito bem, temos então em Eclesiastes um longo sermão.
Todavia algumas coisas devem ser consideradas na apreciação deste sermão típico da Antiga Aliança, com os sermões pregados na Nova Aliança, durante a dispensação da graça inaugurada por Cristo.
Aquela dispensação era da letra, do ensino da letra da Palavra, e não do espírito (II Cor 3).
Se a Palavra e somente a Palavra estivesse em realce, tudo estaria bem naquela antiga dispensação em que vigorou a Antiga Aliança, que vigorou de Moisés até a morte de Jesus.
Todavia, desde que o Espírito Santo foi derramado no dia de Pentecostes em Jerusalém, todo sermão deve ser pregado na direção, no poder e na unção do Espírito, porque senão o que teremos será o que tem ocorrido em muitas igrejas, em plena dispensação do Espírito: Ele é colocado de lado, e quem fica em realce é a palavra do pregador, com simples palavras, ainda que sejam verdadeiras, tais como as que Salomão apresenta neste quinto capítulo de Eclesiastes.
Nos versos 1 a 7 Salomão se refere à devoção ao Senhor, especialmente no templo, na questão relativa a votos, que não devem ser feitos precipitadamente, para que não se fique sujeito a um juízo da parte de Deus.
No verso 7 há uma advertência contra a vaidade que há em sonhos e muitas palavras que não estejam conformados à revelação da vontade de Deus em sua lei, e que o melhor antídoto para tudo isto é temer ao Senhor.
A partir do verso 8 Salomão retoma o seu discurso relativo às opressões que existem na terra, à incerteza das riquezas e a vaidade que há em se amar ao dinheiro e a riqueza porque não há limite para ficar satisfeito com o que se tem, porque quanto maior for o ganho, maior será o gasto. E a muita fartura do rico lhe roubará o sono, enquanto o sono para o simples trabalhador lhe será doce. Salomão bem sabia o que era estar inquieto por causa da grande corte que ele tinha que manter.
Um filho irresponsável pode dissolver toda a riqueza que foi juntada pelo seu pai, e assim, o ter guardado tais riquezas não lhe trariam qualquer proveito. E o rico se irá deste mundo, sem levar nada consigo, tal como chegou a ele, quando saiu do ventre da sua mãe. Então, os que juntam para si riquezas deveriam levar em consideração este fato, porque todos os sacrifícios que fizeram, e os aborrecimentos que tiveram, pelo simples objetivo de serem ricos, no final não lhes servirá de qualquer proveito.
Então Salomão, concluiu que o melhor a fazer era comer, beber e se regozijar com o bem do seu próprio trabalho, porque este é, segundo ele, o propósito de Deus para o homem.
E quanto ao rico que recebeu de Deus suas riquezas e bens, e o poder para desfrutar deles, e receber a sua herança e regozijar-se no seu trabalho, isto lhe será um meio de alívio de muitas lutas e dificuldades, porque a nossa vida na terra está cheia de aflições. E isto lhe ajudará a esquecer os dias ruins que viveu neste mundo. Assim Deus também equilibrará as cruzes que terá que carregar com os dons da Sua graça para alegrar o coração daqueles que passaram pela aflição.
Na verdade, como diz Salomão no final do verso 20, será a própria alegria de Deus que consolará e encherá o coração ferido, e não propriamente os bens e os favores concedidos pela Sua graça aos que estiveram debaixo de sofrimentos.  



“1 Guarda o teu pé, quando fores à casa de Deus; porque chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos; pois não sabem que fazem mal.
2 Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma na presença de Deus; porque Deus está no céu, e tu estás sobre a terra; portanto sejam poucas as tuas palavras.
3 Porque, da multidão de trabalhos vêm os sonhos, e da multidão de palavras, a voz do tolo.
4 Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos. O que votares, paga-o.
5 Melhor é que não votes do que votares e não pagares.
6 Não consintas que a tua boca faça pecar a tua carne, nem digas na presença do anjo que foi erro; por que razão se iraria Deus contra a tua voz, e destruiria a obra das tuas mãos?
7 Porque na multidão dos sonhos há vaidades e muitas palavras; mas tu teme a Deus.
8 Se vires em alguma província opressão de pobres, e a perversão violenta do direito e da justiça, não te maravilhes de semelhante caso. Pois quem está altamente colocado tem superior que o vigia; e há mais altos ainda sobre eles.
9 O proveito da terra é para todos; até o rei se serve do campo.
10 Quem ama o dinheiro não se fartará de dinheiro; nem o que ama a riqueza se fartará do ganho; também isso é vaidade.
11 Quando se multiplicam os bens, multiplicam-se também os que comem; e que proveito tem o seu dono senão o de vê-los com os seus olhos?
12 Doce é o sono do trabalhador, quer coma pouco quer muito; mas a fartura do rico não o deixa dormir.
13 Há um grave mal que vi debaixo do sol: riquezas foram guardadas por seu dono para o seu próprio dano;
14 e as mesmas riquezas se perderam por qualquer má aventura; e havendo algum filho nada fica na sua mão.
15 Como saiu do ventre de sua mãe, assim também se irá, nu como veio; e nada tomará do seu trabalho, que possa levar na mão.
16 Ora isso é um grave mal; porque justamente como veio, assim há de ir; e que proveito lhe vem de ter trabalhado para o vento,
17 e de haver passado todos os seus dias nas trevas, e de haver padecido muito enfado, enfermidades e aborrecimento?
18 Eis aqui o que eu vi, uma boa e bela coisa: alguém comer e beber, e gozar cada um do bem de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol, todos os dias da vida que Deus lhe deu; pois esse é o seu quinhão.
19 E quanto ao homem a quem Deus deu riquezas e bens, e poder para desfrutá-los, receber o seu quinhão, e se regozijar no seu trabalho, isso é dom de Deus.
20 Pois não se lembrará muito dos dias da sua vida; porque Deus lhe enche de alegria o coração.”




Eclesiastes 6

Não podemos de modo algum concordar com as palavras de Salomão proferidas no último versículo deste capitulo, porque conhecemos  sim, se somos servos de Deus, aquilo que é bom para o homem nesta vida, ainda que sejam poucos os seus dias na terra, porque não é vã a vida para aqueles que andam na presença do Senhor e que o servem com um coração sincero, porque é em Deus mesmo que se encontra o sentido da vida, e não nos dons que recebemos dEle, nem mesmo na sabedoria que nos tenha dado, tal como fizera com Salomão, porque nada disso pode preencher a vida, senão o próprio Senhor.
A razão desta conclusão melancólica de Salomão pode ser vista em suas palavras proferidas no início deste capitulo no qual ele afirma que se Deus dá riquezas a um homem, mas ao mesmo tempo não lhe dá a condição de desfrutar delas, então, segundo Salomão, teria sido melhor para tal homem que nem tivesse nascido, porque um aborto está em vantagem em relação a ele, porque não tendo nascido, não pôde ter consciência de não poder desfrutar daquilo que lhe havia sido dado.
Veja o modo como Salomão lamenta, em sua velhice, a sua própria incapacidade, como há de declarar no último capitulo deste livro, o seu próprio estado de não sentir prazer mais em nada, por causa da sua idade avançada.
Assim, ao mesmo tempo em que falava da certeza e da instabilidade das riquezas, como no capítulo anterior, e que não é nelas que devemos colocar o nosso coração, todavia, era quase que exclusivamente nisto que Salomão somente pensava, ou seja, nas riquezas, e como poderia continuar desfrutando delas.
Temos assim nele, a mesma contradição dos pastores da Igreja de Laodiceia, que afirmam pregar a verdade do evangelho da cruz, mas na prática seus corações estão apegados irremediavelmente às coisas deste mundo. Pobres infelizes, como Cristo se referiu a eles, por viverem em tal contradição de vida, afirmando uma coisa e vivendo o oposto dela.
As igrejas estão cheias de pessoas que têm grande conhecimento teológico, mas nenhuma verdadeira piedade. Afirmam o valor da vida piedosa, mas negam a sua eficácia em suas próprias vidas.

“1 Sabe, porém, isto, que nos últimos dias sobrevirão tempos penosos;
2 pois os homens serão amantes de si mesmos, gananciosos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a seus pais, ingratos, ímpios,
3 sem afeição natural, implacáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, inimigos do bem,
4 traidores, atrevidos, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus,
5 tendo aparência de piedade, mas negando-lhe o poder. Afasta-te também desses.” (II Tim 3.1-5)

“Porque o reino de Deus não consiste em palavras, mas em poder.” (I Cor 4.20)

A pregação dos pastores da Igreja de Laodiceia está toda orientada para desfrutar os prazeres que a vida pode dar. Chamam à conquista de tal posição, de o triunfo da fé, na materialização de sonhos e desejos.
 Exatamente o que afirma Salomão no seu ensino neste capitulo, para o qual a vida não teria qualquer sentido caso não se pudesse experimentar tais prazeres que o mundo tem a nos oferecer (v. 6).
Ele até parece ter sido adepto da filosofia epicurista antes mesmo dela ter sido formulada na Grécia, pela qual se afirma o “comamos e bebamos porque amanhã morreremos”.
O evangelho está na contramão desta filosofia, porque não esperamos a nossa recompensa da fé em Cristo, apenas para este mundo, e não é para este tipo de recompensa mundana que ela está orientada, porque o triunfo da cruz, é triunfo sobre o mundo e a carne, pelo viver e andar no poder do Espírito, em novidade de vida, a vida ressurecta e poderosa de Cristo, que se manifesta em nós, quando negamos o eu e carregamos a nossa cruz diariamente.



“1 Há um mal que tenho visto debaixo do sol, e que pesa muito sobre o homem:
2 um homem a quem Deus deu riquezas, bens e honra, de maneira que nada lhe falta de tudo quanto ele deseja, contudo Deus não lhe dá poder para daí comer, antes o estranho lho come; também isso é vaidade e grande mal.
3 Se o homem gerar cem filhos, e viver muitos anos, de modo que os dias da sua vida sejam muitos, porém se a sua alma não se fartar do bem, e além disso não tiver sepultura, digo que um aborto é melhor do que ele;
4 porquanto debalde veio, e em trevas se vai, e de trevas se cobre o seu nome;
5 e ainda que nunca viu o sol, nem o conheceu, mais descanso tem do que o tal;
6 e embora vivesse duas vezes mil anos, mas não gozasse o bem. Não vão todos para um mesmo lugar?
7 Todo o trabalho do homem é para a sua boca, e contudo não se satisfaz o seu apetite.
8 Pois, que vantagem tem o sábio sobre o tolo? e que tem o pobre que sabe andar perante os vivos?
9 Melhor é a vista dos olhos do que o vaguear da cobiça; também isso é vaidade, e desejo vão.
10 Seja qualquer o que for, já há muito foi chamado pelo seu nome; e sabe-se que é homem; e ele não pode contender com o que é mais forte do que ele.
11 Visto que as muitas palavras aumentam a vaidade, que vantagem tira delas o homem?
12 Porque, quem sabe o que é bom nesta vida para o homem, durante os poucos dias da sua vida vã, os quais gasta como sombra? pois quem declarará ao homem o que será depois dele debaixo do sol?”



Eclesiastes 7

Salomão deu muitas provas e exemplos da vaidade deste mundo e de tudo o que pertence a ele, e agora neste capítulo ele nos recomenda alguns meios apropriados para nos prevenirmos e agirmos de tal maneira sábia, que não sejamos enredados ou prejudicados pela instabilidade e impureza das coisas do mundo em razão do pecado.
Então são recomendados principalmente, boa reputação (v. 1); seriedade (v. 2 a 6); tranquilidade de espírito (v. 7 a 10); prudência na administração de nossos negócios (v. 11, 12); submissão à vontade de Deus (v. 13 a 15); evitar os extremos perigosos (v. 16 e 18); mansidão e ternura para com aqueles que nos ofenderam (v. 19 a 22); e finalmente Salomão lamenta a sua própria iniquidade juntando para si várias mulheres, que acabaram lhe afastando de Deus e impedindo que ele cumprisse os seus deveres (v. 23 a 29).
Tão fundamental é que se viva permanentemente na prudência e vigilância que são essenciais à manutenção da nossa santificação, que é melhor estarmos num funeral, do que num banquete festivo (v. 2). Porque não somente aprendemos sobre quão breve é a nossa peregrinação neste mundo, como nada há num funeral que nos chame a sair de nosso estado de seriedade e humildade diante de Deus. Não há espaço para as paixões da carne se manifestarem na casa onde há luto. Todavia, dá-se o oposto onde há banquetes que têm por fim gerar alegria carnal.
Por isso se afirma também no verso 3 que é melhor a aflição do que o riso, porque a tristeza do rosto torna melhor o coração. Isto é uma referência especialmente às aflições que os cristãos fiéis sofrem neste mundo, sobre as quais Jesus alertou à Sua Igreja que por elas seria processado o crescimento da fé, e consumada a maturidade espiritual dos cristãos, porque sem tais aflições não se pode aprender paciência, experiência e esperança.
Onde há alegria carnal, o Espírito Santo se entristece, porque o Seu fruto de alegria e de paz, não são conformes a alegria e paz que procede do mundo e que consiste em simples consolações vãs que são oferecidas à alma, na tentativa de preencher o vazio da vida que somente a presença de Deus pode por um fim, pela manifestação da plenitude da vida de Cristo em nós, pelo Espírito.
Daí a conclusão do verso 4:

“O coração dos sábios está na casa do luto, mas o coração dos tolos na casa da alegria.”

Não se achará a verdadeira sabedoria na alegria carnal do mundo, e em tudo aquilo que o mundo busca para entreter a alma, porque o homem é espírito, e o espírito não pode estar vivo naqueles que não têm mortificado as paixões da carne.
Por isso Salomão afirma que:

“5 Melhor é ouvir a repreensão do sábio do que ouvir alguém a canção dos tolos.
6 Pois qual o crepitar dos espinhos debaixo da panela, tal é o riso do tolo; também isso é vaidade.”

A partir do verso 7 até o 9, Salomão passa a considerar como se deve considerar a questão da opressão e do suborno, os quais, conforme ele afirma, tira do seu juízo equilibrado até ao próprio sábio.

“7 Verdadeiramente a opressão faz endoidecer até o sábio, e o suborno corrompe o coração.
8 Melhor é o fim duma coisa do que o princípio; melhor é o paciente do que o arrogante.
9 Não te apresses no teu espírito a irar-te, porque a ira abriga-se no seio dos tolos.”

Salomão tinha reclamado muito das opressões que ele viu debaixo do sol, e que deram ocasião a muitas especulações que trouxeram tristezas e desânimos à sua devoção.
A opressão pode fazer com que um homem sábio fique irado, conforme vemos neste texto, mas o sábio deve evitar cair em tal tentação (v. 9).
Ele deve prosseguir agindo com paciência, porque toda opressão terá o seu fim, e assim será melhor aguardar com paciência o seu término, do que se tornar arrogante desde o princípio em que a opressão se manifestar.
Se o sábio perder a paciência debaixo das opressões que possa sofrer neste mundo, ele ficará sujeito à ira que se abrigará no seu coração, e será achado então na condição de um tolo e não de um sábio diante de Deus (v. 9).
Até mesmo um coração generoso está sujeito à tentação de se tornar arrogante quando debaixo de opressões.
As opressões às quais Salomão se refere, não se restringem apenas às injustiças do ímpios especialmente contra o próximo, mas também toda sorte de tribulação, especialmente, as que são produzidas pelos principados e potestades das trevas.
Por isso é necessário que se busque refúgio no Senhor, como Ele mesmo nos ordena na Sua Palavra.

“Vinde a mim, todos os que estai cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.” (Mt 11.28)

Não será lutando para remover a causa da opressão propriamente dita, que poderemos nos livrar dela ou mesmo achar descanso para as nossas almas, mas é clamando ao Senhor, esperando nEle, na expectativa de que Ele nos livrará a Seu tempo, que a opressão será vencida por nós, pela fé, ainda que estejam presentes as causas das coisas que vinham nos oprimindo, porque o Senhor será uma barreira entre tais causas (enfermidades, falta de provisão, ataques do Inimigo etc), e nós.
Nós entenderemos melhor o modo pelo qual convém nos comportarmos debaixo de opressões, no texto que usaremos de forma reduzida e adaptada da longa interpretação deste texto feita pelo puritano Thomas Bostons, especialmente sobre a afirmação do verso 13:
 
Ec 7.13:  “Considera as obras de Deus; porque quem poderá endireitar o que ele fez torto?”.

O propósito de Deus em afligir alguém para algum propósito de juízo ou de aperfeiçoamento espiritual haverá de ser cumprido pelo tempo que Ele determinou sem que ninguém possa mudar isto. Este é um dos principais significados de Ec 7.13.

O sofrimento não tem o propósito de ser algo em vão nas nossas vidas, do ponto de vista de Deus, pois tem determinado principalmente que através dele sejamos transformados segundo a Sua vontade e Palavra, para que Ele seja glorificado. A paciência na tribulação, no sofrimento que ela produz, é de grande valor para Deus, e também para nós, porque é por meio disto que aprendemos a ser pacientes e perseverantes nas coisas do Senhor, ensinando-nos a amar com o mesmo amor de Deus, que é sofredor, isto é, longânimo em sofrer em razão do pecado que há no mundo.

Uma visão correta da aflição é completamente necessária para um comportamento verdadeiramente cristão sob elas; e esta visão somente será obtida por fé, e nunca pelos sentidos; porque somente quando os desígnios divinos são descobertos nas aflições, pelos olhos da fé, sendo assim propriamente considerados, nós temos uma visão correta das tribulações, que são o meio provido para suprimir as ações de afetos corrompidos quando estão debaixo destas aflições.
Foi sob esta visão que Salomão afirmou as palavras de Ec 7.13: ““Considera as obras de Deus; porque quem poderá endireitar o que ele fez torto?”.
Antes, ele havia afirmado em 7.3-5 que: “Melhor é a mágoa do que o riso, porque a tristeza do rosto torna melhor o coração. O coração dos sábios está na casa do luto, mas o coração dos tolos na casa da alegria. Melhor é ouvir a repreensão do sábio do que ouvir alguém a canção dos tolos.”. Ele está se referindo às tribulações como o meio precioso de nos tornar úteis para os propósitos de Deus em transformar-nos em sábios, e que deveriam ser motivo de regozijo e não de abatimento o passar por várias provações, sabendo que a prova da fé produz perseverança, conforme diz em suas palavras: “a tristeza do rosto torna melhor o coração.”, a saber, aquilo que nos magoa, isto é, que nos machuca, pode nos fazer pessoas melhores, o que necessariamente não ocorrerá com aquilo que somente nos dá alegrias.
Salomão deduz, conforme de fato é segundo a vontade de Deus, que é melhor ser humilde e paciente do que orgulhoso e impaciente nas tribulações; porque no primeiro caso, nós nos submetemos sabiamente ao que é realmente melhor; e no segundo caso, nós lutamos contra isto. E ele então nos dissuade de estarmos contrariados com nossas provações, por causa da adversidade que se encontra nelas. Salomão nos acautela, falando pelo Espírito, para não fazermos comparações odiosas de tempos anteriores e presentes (“Não digas: Por que razão foram os dias passados melhores do que estes; porque não provém da sabedoria esta pergunta.” - v. 10), concluindo que não é sábio proceder desta forma, porque que insinua reflexões e julgamentos impróprios acerca da providência de Deus.
Ele prescreve um remédio geral, isto é, primeiro uma sabedoria santa, que nos permitirá tirar o melhor de tudo, até mesmo a vida em circunstâncias mortais; e então um remédio particular, consistindo numa aplicação devida daquela sabedoria, para levar a uma visão justa do caso: “Considera as obras de Deus; porque quem poderá endireitar o que ele fez torto?”, como que a dizer: quem ou o quê poderá impedir aquilo que foi determinado pela poderosa mão de Deus para nos provar? Por isso Pedro recomenda que nos humilhemos sob a potente mão do Senhor, para que no tempo dEle possa nos exaltar.
Assim, o próprio remédio é uma visão sábia da mão de Deus em tudo que nós achamos que seja duro de suportar. Isto é, "considere o trabalho de Deus" em suas desagradáveis aflições, nas cruzes que tem de carregar e nos cálices amargos que tem que beber. Porque há motivo de glória nisto, porque produzirá um peso eterno de glória, e o mesmo não pode ser dito de quem não tem experimentado os sofrimentos de Cristo dos quais todos os que são dEle têm se tornado participantes, e isto sim é para se lamentar, porque é indicador do fato de ser bastardo e não filho, porque todos os filhos de Deus são corrigidos e transformados por Ele por meio das suas provações.
Quando se procura uma segunda causa para a aflição além da cruz, isto normalmente conduz à lamúria. Mas sendo paciente na tribulação, é possível ver a mão de Deus nisto, e sujeitando-se à Sua vontade é a melhor forma para ser livrado porque Ele livra o justo de todas as suas aflições. Mas o que lamuria será geralmente ainda achado nelas.
Carregar a cruz voluntariamente faz com que ela se torne leve, mas carregá-la com a mente perturbada por inquietações à busca de respostas fora de Deus para aquilo que se esteja experimentando, quando estas provas vêm da Sua parte, somente serve para aumentar o peso da cruz que carregamos.
Ter um espírito contrito e quebrantado na aflição é algo muito apropriado para acalmar as agitações do coração, e nos fazer pacientes debaixo dela. Afinal, quem pode acabar com aquilo que Deus entortou? No quebrantamento em sua aflição Deus fez isto; e tem que continuar até que veja cumprido o Seu propósito. Se você pudesse usar toda a sua força, procurando consertar aquilo que somente Ele pode endireitar, sua tentativa será vã: Nada mudará apesar de tudo que você possa fazer. Somente Ele que produziu este entortamento que nos inquieta, pode repará-lo, e fazer isto diretamente. Esta consideração, esta visão do assunto, é o meio apropriado para silenciar e satisfazer os homens, e assim  trazê-los a uma submissão obediente ao seu Criador e Senhor, debaixo do quebrantamento das suas aflições.
Agora, nós estudaremos o nosso texto debaixo destes três aspectos principais: a)qualquer quebrantamento que há em nossa aflição, é Deus que está fazendo ou permitindo; b) o que Deus determinou arruinar, ninguém poderá reparar em sua aflição; c) considerar o quebrantamento na aflição como o trabalho de Deus, ou da ação direta dele, é o meio apropriado para nos levar a um comportamento cristão debaixo disto.

Quanto ao fato de que qualquer quebrantamento que há em nossa aflição, é  Deus que está fazendo ou permitindo, nós temos duas coisas a considerar, a saber, o próprio quebrantamento, e Deus que o está produzindo.
1. Sobre o próprio quebrantamento, o quebrantamento na aflição, para melhor entendê-lo, são postuladas estas poucas coisas que seguem:
Primeiro. Há um certo curso de eventos, pela providência de Deus, que caem sobre cada um de nós, durante nossa vida neste mundo. E isso é nossa aflição, como sendo dividida a nós pelo Deus soberano, nosso Criador e Senhor, "em quem vivemos e nos movemos”. Este conjunto de eventos é extensamente diferente para pessoas diferentes, de acordo com a vontade do soberano Administrador, que ordena a condição dos homens no mundo, numa grande variedade.
Segundo. Nesse conjunto de eventos, excluindo determinadas épocas, cruzes nos são trazidas para que as carreguemos, com o alvo de nos quebrantar em nossa aflição. Enquanto nós estivermos aqui, haverá eventos desagradáveis, como também agradáveis. Às vezes as coisas planarão suave e agradavelmente; mas, logo, há algum incidente que altera aquele curso, como se tivéssemos dado um passo errado que nos fez começar a mancar.
Terceiro. Todo a aflição neste mundo tem algum quebrantamento nisto. Os queixosos são hábeis para fazer comparações odiosas. Eles não conseguem olhar para muito longe e acabam pondo a culpa do que está lhes afligindo no seu próximo. Eles não conseguem ver a mão de Deus nisto, e assim, não se submetem a ela. E assim fazem uma falso veredicto; porque não há nenhuma aflição aqui que não tenha sido ligada ou permitida no céu. Quem teria pensado que a aflição de Hamã seria muito direta, quando a família dele estava numa condição próspera, e ele prosperando em riquezas e honras, como primeiro-ministro do estado Persa, e de pé no elevado favor do rei? Certamente ele não pôde ver que era a mão de Deus que estava produzindo a sua aflição. Ainda que os homens neguem que não é a mão de Deus que seja a causa de suas aflições, não há realmente uma só gota de conforto permitida; porque enquanto estivermos aqui, sempre será pelas misericórdias do Senhor que não somos consumidos.
Quarto. O quebrantamento na aflição entrou no mundo através do pecado. Ele existe por causa da queda, porque assim que o pecado entrou no mundo entrou com ele a enfermidade, o sofrimento e a morte. O pecado entortou o corpo, a mente e o espírito dos homens. E como  este entortamento está inseparavelmente ligado à aflição, conclui-se que isto nos acompanhará até que deixemos este corpo de morte e cheguemos aos portões do céu.
Assim, enquanto estivermos aqui, o quebrantamento na aflição produz o contraste de comportamento que há entre o dia  da adversidade e o dia da prosperidade. Como se lê em Ec 7.14: “No dia da prosperidade regozija-te, mas no dia da adversidade considera; porque Deus fez tanto este como aquele, para que o homem nada descubra do que há de vir depois dele.”. E isto segue de certo modo a recomendação de Tiago: “Está alguém alegre? Cante louvores. Está alguém triste. Faça oração.”. Esta oração na tristeza é sobretudo oração de dependência e de submissão à vontade de Deus, e não necessariamente oração para expulsar imediatamente a tristeza.
O quebrantamento na aflição, é portanto uma ou outra medida de adversidade. A Palavra ensina que tanto o dia da prosperidade quanto o da adversidade procedem da parte de Deus, “que fez assim este como aquele para que o homem nada descubra do que há de vir depois dele.”, isto é, para que ninguém saiba o que lhe reserva o futuro, e assim vivam dependendo inteiramente de Deus, confiando suas almas ao fiel Criador na prática do bem, enquanto sofrem neste mundo.
Deus misturou estes dois na condição dos homens neste mundo; que, tanto experimentam um pouco de prosperidade, quanto de adversidade. Esta mistura tem lugar, não somente na aflição de santos dos quais é dito que "no mundo terão tribulação", mas até mesmo na aflição de todos.
Estas são aplicações da vara da adversidade que passa pelas pessoas, e a aflição da pessoa pode ser extinta de repente, assim como a nuvem que desaparece antes que o percebamos, sem que seja produzido qualquer efeito duradouro. Assim o quebrantamento na aflição da adversidade, continua durante um tempo mais curto ou mais longo.
Mas um quebrantamento na aflição que produz efeitos duradouros. Como o quebrantamento produzido pela crueldade de Herodes que fez com que a aflição das mães em Belém lamentasse a morte de seus filhos produzisse um lamento para o qual não se encontrou conforto.
E há um quebrantamento produzido por um conjunto de aflições que se sucedem, tal como no caso de Jó, que enquanto um mensageiro de más notícias ainda falava, veio um outro com outras más notícias.
José experimentou este tipo de quebrantamento quando em sucessão foi lançado na cova pelos seus irmãos, vendido como escravo, e lançado numa prisão egípcia.
 Há quebrantamentos que são de tempo prolongado, como Sara, Raquel e Rebeca que foram impedidas de gerarem filhos por muito tempo. Outros que como aquela mulher que tocou em Jesus sofria de uma hemorragia de doze anos.
E assim há variedades de aflições, tanto na qualidade delas quanto em relação às pessoas.
E mais particularmente, encontramos na natureza do quebrantamento na aflição estas quatro coisas:
(1) Desarmonia. Uma coisa que aflige é persistente. E não há naturalmente, isto é, em sua própria natureza, em nenhuma pessoa, uma tal coisa como um quebrantamento em relação à vontade e propósitos de Deus. Se a vontade de Deus fosse aceita e feita no mundo, haveria nele uma harmonia perfeita. Mas como isto não é feito voluntariamente em razão da natureza terrena que não está sujeita à vontade de Deus e nem mesmo pode estar, então Ele fará com que todas as coisas cooperem juntamente para o cumprimento da Sua vontade, sejam agradáveis ou não agradáveis. Ele fará aquilo que tiver que ser feito. Assim se Paulo deve ser entregue nas mãos dos gentios, foi pela vontade de Deus que isto ocorreu, de modo que a Paulo foi revelado pelo Espírito as cadeias e tribulações que lhe aguardavam. E assim não havia nenhuma desarmonia nisto. Mas, na aflição de toda pessoa há uma desarmonia entre o que se passa em suas mentes e a inclinação natural delas.
A situação adversa traz a cruz à pessoa e esta não responderá harmoniosamente a isto. Quando a divina providência traz a provação a vontade do homem vai de um modo e a situação vai de outro, e a vontade puxa para cima, e a situação puxa para baixo, e assim vão em sentidos contrários. E é justamente nisto que consiste a aflição. É esta desarmonia produzida pela aflição que nos exercita no estado de provação, no qual somos chamados a confiar em Deus, enquanto caminhamos por fé, não através de visão, e temos que se aquietar e se ajustar à vontade e propósito de Deus, e não insistirmos que a situação devesse estar de acordo com o que estabelecemos em nossa mente.
(2) Perda de visão. Coisas entortadas são desagradáveis à vista; e nenhum quebrantamento na aflição parece ser alegre, mas doloroso (Hb 12.11). Então as pessoas precisam se  precaver de dar curso aos seus pensamentos enfatizando o quebrantamento na aflição delas, e de manter isto muito à vista. Davi mostra uma experiência dolorosa sua quando disse::. "Enquanto eu estava meditando o fogo estava queimando" e Jacó agiu de modo mais sábio, quando chamou o seu filho Benjamim, de filho da mão direita do que a mãe agonizante que lhe tinha chamado de Benoni, que significa o filho de minha tristeza. Porque com isto não estaria provendo um meio de quebrantamento na aflição toda vez que pronunciasse o nome do seu filho.
Realmente, um cristão pode ter uma visão fixa e fraca do seu quebrantamento na aflição à luz da Palavra santa que representa isto como a disciplina da aliança. Assim a fé descobrirá uma visão escondida nisto, debaixo de uma pequena aparência externa,  percebendo o quão agradável isto é à bondade infinita, amor, e sabedoria de Deus, e para a realidade de que na maioria dos valiosos interesses para que a pessoa possa experimentar aquele gozo mais elevado e refinado que resulta da alegria na provação e na angústia. Mas qualquer quebrantamento na aflição que é agradável ao olho da fé, não é de todo agradável ao olho dos sentidos.
(3.) Incapacidade para se movimentar. Salomão observa a causa do caminhar intranquilo e desajeitado do manco: "As pernas do manco não são iguais.". Esta intranquilidade deles é encontrada na caminhada cristã, pela aflição de um espírito dobre que tem pernas de tamanhos diferentes, e que traz grande dificuldade para a caminhada. Não há nada que dê um acesso mais fácil para a tentação do  que a aflição; nada é mais hábil para colocar os passos fora do rumo. Então, diz o apóstolo, no contexto das recomendações relativas à disciplina de Deus em Hb 12.11-13: “Na verdade, nenhuma correção parece no momento ser motivo de gozo, porém de tristeza; mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos que por ele têm sido exercitados. Portanto levantai as mãos cansadas, e os joelhos vacilantes, e fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que é manco não se desvie, antes seja curado.”. Devemos ter compaixão daqueles que estão sendo trabalhados debaixo disto e não os censurarmos rigidamente, porque ainda que tenham dificuldade de serem corrigidos por palavras eles aprenderão a lição que lhes será dada na sua própria experiência.
(4.) Inteligência para pegar e se segurar, como que usando ganchos (anzóis). O quebrantamento na aflição deixa prontamente uma forte impressão no espírito da pessoa, e as corrupções do pecado ou as tentações de Satanás deixam-na como que num embaraço do qual não consegue se desembaraçar. E esta tentação deixa à mostra alguma coisa muito feia que estava oculta no espírito, como o lodo que existe no fundo do mar e que é revelado pelo bater das ondas. Alguma blasfêmia ou ateísmo pode surgir na aflição, como revelado por Asafe: “foi inútil limpar meu coração e lavar minhas mãos na inocência.”. Foi parte do que ele disse em sua aflição.  Ah! É este o piedoso Asafe?  Como é que ele se virou tão rápido na direção contrária! Mas o quebrantamento na aflição é uma máquina reveladora pela qual o tentador faz descobertas surpreendentes de corrupção oculta até mesmo nos melhores santos.
  Assim o quebrantamento na aflição pode atingir qualquer pessoa, e ninguém está isento de ser apanhado por isto, e porque o pecado é achado em toda parte,´o quebrantamento pode acontecer em qualquer parte. As próprias enfermidades físicas e até mentais abundam visivelmente no mundo em razão disto, por que o pecado abunda em toda a parte, e a enfermidade é uma mera consequência da existência do pecado.
Uma pessoa pode ter um quebrantamento na aflição permanente de complexos de inferioridade por causa de sua constituição física que lhe parece inadequada; na falta de estima e reconhecimento da parte de seus semelhantes; na insatisfação por não ser capacitada intelectualmente tanto quanto gostaria de ser; e por uma série de outros motivos relativos a uma inaceitação pessoal.
Muita aflição pode ser resultante do relacionamento pessoal. Este quebrantamento pode ser produzido por perda de relacionamento, especialmente a perda de pessoas queridas. Pode ser por rompimento de relacionamento, como no caso de separações conjugais, abandono do convívio dos filhos com os pais, exclusão da igreja ou de qualquer outra sociedade de amigos.
Jó era afligido por sua esposa, Abigail por seu marido ranzinza Nabal; Eli pelos seus filhos obstinados;  Jônatas pelo temperamento de Saul; e assim as pessoas acham uma cruz exatamente naqueles em quem esperava o seu maior conforto. O pecado sujeitou a criação inteira à vaidade, e tornou todo relacionamento sujeito a produzir aflição. Na empresa são patrões duros e injustos; no bairro, homens egoístas e violentos; na igreja pessoas carnais e indolentes, um verdadeiro fardo para os ministros; no estado, magistrados opressores e corruptos; na família filhos contenciosos e rebeldes.
Tendo visto o próprio quebrantamento, nós vamos considerar qual é a participação de  Deus em tudo isto.
Primeiro, o quebrantamento na aflição, é uma forma de penalidade que os homens pagam como forma de juízo de Deus que começa já neste mundo, mesmo começando primeiro pela sua própria igreja, como diz o apóstolo Pedro, para que se saiba todo o mal que o pecado tem produzido na terra, e que Deus pôs um juízo sobre isto na forma de os homens serem quebrantados por suas aflições. Ninguém está inteiramente livre dos mais variados tipos de aflições que se pode sentir neste mundo, em razão de estar sujeito ao pecado que trouxe desarmonia e dor à criação. Mesmo quem se isole poderá ser achado por suas próprias aflições interiores como solidão, temores, enfermidades etc.
Em segundo  lugar, as doutrinas da Bíblia sobre a providência divina mostram claramente que Deus provoca a aflição de todos os homens. Não há nada que aconteça neste mundo que não seja permitido ou produzido por Deus. Satanás nada poderá fazer se o Senhor não o permitir. O pecador nada poderá fazer se Deus não o quiser, assim como impediu Abimeleque de tomar Sara, mulher de Abraão como esposa; e o poderoso Senaqueribe da Assíria levar Judá em cativeiro, assim como tinha levado Israel. No caso de Israel Ele permitiu, mas no de Judá, impediu. Ele permitiu que Tiago fosse morto por Herodes logo no início da igreja, e manteve João com vida até a mais avançada idade. Nem um só pássaro é morto sem a sua permissão, e até os cabelos de nossas cabeças estão contados.      
E o mais maravilhoso de tudo isto é que Deus age sem anular o livre arbítrio humano e sem traçar o destino de cada um em relação a tudo o que deve lhes suceder em sua vida terrena. O bem será recompensado e o mal será julgado. E o justo será feito mais justo. E o que se suja se sujará ainda mais. É com base neste princípio geral que Ele tudo governa e visita os homens controlando as suas tribulações; de modo que produzam quebrantamentos na aflição para conversão ou aperfeiçoamento espiritual dos justos, ou para juízo dos injustos.
O mistério da providência, no governo do mundo, está em todas as suas partes, em conformidade exata com o decreto de Deus que opera todas as coisas conforme o conselho da Sua vontade.
Há quebrantamentos puros e sem pecado; que são meras aflições, cruzes limpas, dolorosas realmente, mas não sujas. Tal era a pobreza de Lázaro; a esterilidade de Raquel, os olhos baços de Lia, a cegueira do cego de nascença. Agora, os quebrantamentos deste tipo são de Deus, que pela eficácia do Seu poder os faz passar diretamente por estas situações. Ele é o Criador do pobre. Ele formou os olhos do cego de nascença de modo que as suas obras sejam manifestadas nele. Então ele diz a Moisés: “Quem faz a boca do homem? ou quem faz o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego?. Não sou eu, o Senhor?” (Êx 4.11).
Em segundo lugar há quebrantamentos pecaminosos, isto é resultantes do pecado em sua própria natureza. Como foi a aflição de Davi em razão do seu pecado de adultério e morte de Urias, produzido pelo incesto de Amon com Tamar; o assassinato de Amon; a rebelião e morte de Absalão, e por todas as desordens havidas em sua família por causa do seu pecado. E as tribulações deste tipo não são de Deus, é a isto que Pedro chama sofrer como um malfeitor, isto é, por causa do mal praticado. Deus não põe o mal no coração de ninguém, nem incita ninguém à sua prática. Nem sequer tenta a ninguém. Mas estas tribulações são permitidas por Ele, de modo que venham como forma de julgamento sobre o pecado que é praticado.
 Está na esfera de soberania de Deus impedir ou não a prática de tais pecados, assim como impediu Abimeleque de pecar contra Ele, no caso de Sara, mulher de Abraão. Aquilo que Deus fecha ninguém pode abrir, e aquilo que Ele abre ninguém pode fechar. E quando Ele age ninguém poderá impedir. Então, Ele sabe em Sua providência a quem, onde e quando livrar da prática do pecado, bem como o contrário disto. Os juízos permitidos em forma de aflições chamam a atenção dos homens a serem responsáveis e eles próprios tomarem atitudes legais de modo a não permitir que a prática do mal venha a se espalhar, colocando em perigo a sobrevivência da própria sociedade.
Deus põe limites à prática do mal até ao próprio Satanás, como nós vemos no livro de Jó. Ele não pode ultrapassar os limites que lhe são impostos por Deus. E até mesmo todas as tentações dos cristãos têm estes limites demarcadores de modo que não sejam tentados além de suas forças.
O propósito de Satanás era o de fazer Jó blasfemar e o de Deus de provar a sinceridade do amor de Jó por Ele, ao mesmo tempo que aperfeiçoaria a intimidade de Jó com Ele, e por isso permitiu que Satanás produzisse todas aquelas aflições que trouxe sobre Jó. E Deus virou o cativeiro de Jó fazendo com que aquilo que Satanás lhe trouxe para o seu mal, se transformasse na vida de Jó em duplo bem. De modo que o Senhor demonstra o Seu poder de fazer com que tudo coopere juntamente para o bem daqueles que O amam. E Ele fez o mesmo em relação a Mordecai e aos judeus, a quem Hamã desejava destruir, e o mal sobreveio ao próprio Hamã, enquanto Mordecai e os judeus foram livrados. O mal intentado para a destruição de José trouxe o livramento da fome a todo o mundo.
Estes, e todos os verdadeiros cristãos sofrem, nestas ocasiões, muitas vezes não por praticarem o mal, mas exatamente por praticarem o bem, pelo bom nome de Cristo que levam sobre si, e disto falou o apóstolo Pedro nas seguintes palavras:
I Pe 2.20: “Pois, que glória é essa, se, quando cometeis pecado e sois por isso esbofeteados, sofreis com paciência? Mas se, quando fazeis o bem e sois afligidos, o sofreis com paciência, isso é agradável a Deus.”.
I Pe 3.17: “Porque melhor é sofrerdes fazendo o bem, se a vontade de Deus assim o quer, do que fazendo o mal.”.





“1 Melhor é o bom nome do que o melhor unguento, e o dia da morte do que o dia do nascimento.
2 Melhor é ir à casa onde há luto do que ir a casa onde há banquete; porque naquela se vê o fim de todos os homens, e os vivos o aplicam ao seu coração.
3 Melhor é a aflição do que o riso, porque a tristeza do rosto torna melhor o coração.
4 O coração dos sábios está na casa do luto, mas o coração dos tolos na casa da alegria.
5 Melhor é ouvir a repreensão do sábio do que ouvir alguém a canção dos tolos.
6 Pois qual o crepitar dos espinhos debaixo da panela, tal é o riso do tolo; também isso é vaidade.
7 Verdadeiramente a opressão faz endoidecer até o sábio, e o suborno corrompe o coração.
8 Melhor é o fim duma coisa do que o princípio; melhor é o paciente do que o arrogante.
9 Não te apresses no teu espírito a irar-te, porque a ira abriga-se no seio dos tolos.
10 Não digas: Por que razão foram os dias passados melhores do que estes; porque não provém da sabedoria esta pergunta.
11 Tão boa é a sabedoria como a herança, e mesmo de mais proveito para os que veem o sol.
12 Porque a sabedoria serve de defesa, como de defesa serve o dinheiro; mas a excelência da sabedoria é que ela preserva a vida de quem a possui.
13 Considera as obras de Deus; porque quem poderá endireitar o que ele fez torto?
14 No dia da prosperidade regozija-te, mas no dia da adversidade considera; porque Deus fez tanto este como aquele, para que o homem nada descubra do que há de vir depois dele.
15 Tudo isto vi nos dias da minha vaidade: há justo que perece na sua justiça, e há ímpio que prolonga os seus dias na sua maldade.
16 Não sejas demasiadamente justo, nem demasiadamente sábio; por que te destruirias a ti mesmo?
17 Não sejas demasiadamente ímpio, nem sejas tolo; por que morrerias antes do teu tempo?
18 Bom é que retenhas isso, e que também daquilo não retires a tua mão; porque quem teme a Deus escapa de tudo isso.
19 A sabedoria fortalece ao sábio mais do que dez governadores que haja na cidade.
20 Pois não há homem justo sobre a terra, que faça o bem, e nunca peque.
21 Não escutes a todas as palavras que se disserem, para que não venhas a ouvir o teu servo amaldiçoar-te;
22 pois tu sabes também que muitas vezes tu amaldiçoaste a outros.
23 Tudo isto provei-o pela sabedoria; e disse: Far-me-ei sábio; porém a sabedoria ainda ficou longe de mim.
24 Longe está o que já se foi, e profundíssimo; quem o poderá achar?
25 Eu me volvi, e apliquei o meu coração para saber, e inquirir, e buscar a sabedoria e a razão de tudo, e para conhecer que a impiedade é insensatez e que a estultícia é loucura.
26 E eu achei uma coisa mais amarga do que a morte, a mulher cujo coração são laços e redes, e cujas mãos são grilhões; quem agradar a Deus escapará dela; mas o pecador virá a ser preso por ela.
27 Vedes aqui, isto achei, diz o pregador, conferindo uma coisa com a outra para achar a causa;
28 causa que ainda busco, mas não a achei; um homem entre mil achei eu, mas uma mulher entre todas, essa não achei.


29 Eis que isto tão-somente achei: que Deus fez o homem reto, mas os homens se meteram em muitas astúcias.”




Eclesiastes 8

Deus comprova, por tudo o que Salomão escreveu neste livro, que somente Ele é perfeitamente Sábio e deve ser exaltado, e nenhum homem, mesmo àqueles aos quais deu sabedoria.
Ele impôs a Sua glória sobre toda glória terrena e humana, e é fácil de observar isto quando lemos este livro de Eclesiastes.
O próprio Salomão veio a reconhecer isto a que nos referimos ao ter afirmado o seguinte no verso 17, conclusivo desta capítulo:

“então contemplei toda obra de Deus, e vi que o homem não pode compreender a obra que se faz debaixo do sol; pois por mais que o homem trabalhe para a descobrir, não a achará; embora o sábio queira conhecê-la, nem por isso a poderá compreender.” (v. 17)

Por isso estão equivocados todos os comentaristas deste livro, que procuram por todos os meios justificar e exaltar Salomão pela sua sabedoria, porque não foi para este propósito que o Espírito lhe inspirou para que escrevesse qual foi a sua própria experiência, a conclusão a que ele havia chegado, depois de ter-se desviado de Deus.
Nós o vemos dizendo em sua velhice que tudo é vaidade, ou seja, vazio, porque reconheceu que nada há que se possa comparar ao próprio Deus.
Somente Deus é fonte de vida e sabedoria.
Então ao homem nada mais resta senão ter o temor do Senhor, porque Ele tudo julgará, porque somente Ele é o Criador e o Eterno, que compreende perfeitamente todas as coisas, e os desígnios para os quais as criou.  
Salomão começou este capítulo exaltando a si mesmo, perguntando quem pode ser comparado ao sábio e que sabe a interpretação das coisas.
Então realçou a sabedoria do homem como a causa de fazer brilhar e de quebrar a dureza do seu rosto.
Depois passou a afirmar o dever de se obedecer o mandamento do rei, por causa do temor devido a Deus, que instituiu toda autoridade.
E falou da necessidade de completa submissão à vontade do rei, porque ele faz aquilo que lhe agrada. E prosseguiu dizendo que isto deveria ser feito porque a palavra do rei é suprema e, portanto, nunca deveria  ser questionada. De modo que aquele que guardasse o mandamento do rei não teria que temer nenhum mal.
Tudo isto é verdade, mas há um fator limitante que Salomão passou a considerar a seguir, porque não é a palavra de nenhum rei que é suprema, senão somente a Palavra do Rei da terra e do céu.
Ele considerou a miséria da natureza humana (v. 6), e que havia então esta incompatibilidade entre o conhecimento do dever, e a incapacidade para a sua plena realização.
O homem é limitado também em seu conhecimento, e não há no próprio homem a condição de ter, por si mesmo, domínio sobre o seu espírito (v. 8 a). Se o homem tivesse tal poder, ele o exerceria para livrá-lo do dia da sua morte, mas não pode fazê-lo, porque há um poder acima dEle que tudo governa e dirige.
Então, mesmo no exercício da autoridade recebida de Deus, alguém pode fazê-lo para o seu próprio dano, se não o fizer dentro da vontade do Senhor, e segundo tudo o que Ele exige quanto ao exercício de uma liderança equilibrada e justa (v. 9).
Salomão percebeu que havia ímpios que entravam e saíam do lugar santo, e no entanto caíram no esquecimento depois de terem sido sepultados, porque abusaram da longanimidade de Deus, porque ele não executa logo o Seu juízo sobre a má obra, e assim os homens ímpios se sentem encorajados a aumentarem ainda mais a sua impiedade, por pensarem que não estão debaixo de qualquer julgamento da parte de Deus, pensando erroneamente que a simples religiosidade deles cobrirá as sua más obras (v. 10, 11).
Então é uma grande ilusão pensar que se pode praticar o mal centenas de vezes, enquanto os dias de vida vão se prolongando, porque somente sucederá bem àqueles que temem a Deus (v. 12). O ímpio não pode contar com isto, e portanto não irá bem (v. 13).
Todavia, Salomão ficava perplexo com o sofrimento e as aflições dos santos, e com o alívio prolongado dos ímpios (v. 14).
Como não podia entender o propósito de Deus em permitir que o justo seja afligido, então, chegou à conclusão errônea, que não havia nada melhor para se fazer do que comer, beber e se alegrar enquanto se vive neste mundo (v. 15).




“1 Quem é como o sábio? e quem sabe a interpretação das coisas? A sabedoria do homem faz brilhar o seu rosto, e com ela a dureza do seu rosto se transforma.
2 Eu digo: Observa o mandamento do rei, e isso por causa do juramento a Deus.
3 Não te apresses a sair da presença dele; nem persistas em alguma coisa má; porque ele faz tudo o que lhe agrada.
4 Porque a palavra do rei é suprema; e quem lhe dirá: que fazes?
5 Quem guardar o mandamento não experimentará nenhum mal; e o coração do sábio discernirá o tempo e o juízo.
6 Porque para todo propósito há tempo e juízo; porquanto a miséria do homem pesa sobre ele.
7 Porque não sabe o que há de suceder; pois quem lho dará a entender como há de ser?
8 Nenhum homem há que tenha domínio sobre o espírito, para o reter; nem que tenha poder sobre o dia da morte; nem há licença em tempo de guerra; nem tampouco a impiedade livrará aquele que a ela está entregue.
9 Tudo isto tenho observado enquanto aplicava o meu coração a toda obra que se faz debaixo do sol; tempo há em que um homem tem domínio sobre outro homem para o seu próprio dano.
10 Vi também os ímpios sepultados, os que antes entravam e saíam do lugar santo; e foram esquecidos na cidade onde haviam assim procedido; também isso é vaidade.
11 Porquanto não se executa logo o juízo sobre a má obra, o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para praticar o mal.
12 Ainda que o pecador faça o mal cem vezes, e os dias se lhe prolonguem, contudo eu sei com certeza que bem sucede aos que temem a Deus, porque temem diante dele;
13 ao ímpio, porém, não irá bem, e ele não prolongará os seus dias, que são como a sombra; porque ele não teme diante de Deus.
14 Ainda há outra vaidade que se faz sobre a terra: há justos a quem sucede segundo as obras dos ímpios, e há ímpios a quem sucede segundo as obras dos justos. Eu disse que também isso é vaidade.
15 Exalto, pois, a alegria, porquanto o homem nenhuma coisa melhor tem debaixo do sol do que comer, beber e alegrar-se; porque isso o acompanhará no seu trabalho nos dias da sua vida que Deus lhe dá debaixo do sol.
16 Quando apliquei o meu coração a conhecer a sabedoria, e a ver o trabalho que se faz sobre a terra (pois homens há que nem de dia nem de noite conseguem dar sono aos seus olhos),


17 então contemplei toda obra de Deus, e vi que o homem não pode compreender a obra que se faz debaixo do sol; pois por mais que o homem trabalhe para a descobrir, não a achará; embora o sábio queira conhecê-la, nem por isso a poderá compreender.”




Eclesiastes 9

Como Salomão não colocou a sabedoria que recebeu de Deus para avançar no conhecimento da Sua pessoa e das coisas espirituais, celestiais e divinas, o Senhor não lhe deu a revelação de muitas destas coisas, especialmente o conhecimento do motivo porque os justos sofrem, porque isto só pode ser conhecido sofrendo com paciência debaixo da potente mão do Senhor, tal como Jó viera a conhecer, por exemplo.
Porque quando se está no profundo poço da aflição, tal como Jeremias, é a hora de se clamar a Deus, não para entender porque os justos sofrem, mas para receber conforto, poder e revelações da Sua parte, mas revelações que forem do Seu propósito nos conceder, especialmente para a realização da Sua obra.  
Então vemos também neste capitulo a perplexidade de Salomão diante do sofrimento dos justos.
Ele chega a chamar isto de “um mal que ele viu debaixo do sol”, ou seja, algo, que no seu pensamento, fugia ao controle de um Deus justo, porque não podia admitir que o justo sofresse o mesmo que o ímpio neste mundo, e muito menos que ímpios fossem poupados de sofrimentos.
Ele chegou a admitir que tudo está nas mãos de Deus (v. 1) na administração de todas as obras que se fazem na terra, mas não com o devido conhecimento de causa como funciona tal soberania divina.
Salomão não podia entender a excelência da vida que o justo provará quando sair deste mundo, porque isto se experimenta na terra, em forma de amostragem, antes de se ir para o céu.
Os que caminham com Deus virão por fim a experimentá-lo por concessão da Sua graça e revelação divinas.
Davi e os santos que perseveraram em seguir ao Senhor, mesmo nos dias do Velho Testamento, experimentaram isto e falaram disto.
Todavia, Salomão diz que é melhor estar na companhia dos que vivem na terra, porque nisto há esperança, tanto que, para ele, em suas palavras, melhor é melhor o cão vivo do que o leão morto (v. 4).
Sabemos que nossa esperança em Cristo não se resume apenas a esta vida, e a vida plena que teremos na glória, ainda está por se manifestar, apesar de podermos trazer o céu para nossas vidas aqui na terra, antes de irmos para lá. No entanto, o que teremos do céu, não será toda a plenitude que nos será concedida por ocasião da volta de Cristo, quando então seremos perfeitos, e conheceremos como somos conhecidos.  
Assim, que o Senhor nos livre de nos gloriarmos na nossa própria sabedoria, ainda que a tenhamos recebido dEle, tal como fizera Salomão, porque não há sabedoria melhor do que estar debaixo do temor e da direção e governo do Espírito Santo em nosso coração, enquanto andamos em humildade perante o Senhor. Por isso se diz que o temor do Senhor é o princípio da verdadeira sabedoria, ou seja, a regra, o motriz que a produz  em nós.
Veja quão triste é ler as seguintes palavras de Salomão nos versos 5 e 6, pelas quais revela que realmente não tinha a plena convicção da vida gloriosa que lhe aguardava, apesar de não merecê-la como qualquer um de nós, porque não nos é dada por merecimento, mas pelo direito que Cristo adquiriu para nós.  

“5 Pois os vivos sabem que morrerão, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco têm eles daí em diante recompensa; porque a sua memória ficou entregue ao esquecimento.
6 Tanto o seu amor como o seu ódio e a sua inveja já pereceram; nem têm eles daí em diante parte para sempre em coisa alguma do que se faz debaixo do sol.”

Assim é possível estar na posse da vida eterna em Cristo, e não se ter convicção disto, seja por causa de se crer num ensino errôneo sobre perda da salvação, ou por não se andar no Espírito Santo, que é Aquele que gera tal convicção em nossos corações, e portanto, não é possível receber tal convicção da Sua parte, se não andarmos nEle.
Por isso Salomão continuava afirmando que não havia nada melhor para se fazer na terra do que comer, beber vinho com o coração contente, por saber que Deus se agrada de que trabalhemos (Salomão não estava se referindo a se servir a Deus, mas ao trabalho secular que daria a condição para se comprar comida e bebida).
“Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias da tua vida vã, os quais Deus te deu debaixo do sol, todos os dias da tua vida vã; porque este é o teu quinhão nesta vida, e do teu trabalho, que tu fazes debaixo do sol.” (v. 9)
Então ele recomenda mais uma vez a diligência no trabalhar para se obter bens para a própria provisão e dos seus, porque a morte é uma certeza, e depois dela não se poderia mais fazer qualquer trabalho (v. 10). Sabemos que não será assim, por uma melhor revelação que temos da parte de Jesus Cristo.
A Antiga Aliança estava cheia de sombras como esta, sobre a convicção das coisas que nos aguardam depois da morte, e que nos foram reveladas por Cristo.
Para Salomão, o ter sucesso no mundo era uma questão de oportunidade e sorte, que se apresentam para todos os homens. Então não seriam os mais rápidos que venceriam a corrida; nem os fortes que venceriam a batalha; nem os sábios que obteriam o alimento; nem os prudentes a riqueza; e nem os entendidos o favor (v. 11).
Um general pode se valer das circunstâncias para vencer uma batalha. E de igual modo elas podem ser usadas para muitos propósitos na vida. Mas acima de todas as circunstâncias, Deus faz prevalecer a Sua vontade, especialmente nas vidas dos Seus servos que Lhe são fiéis.
É certo que nenhum homem sabe com grande antecedência a hora da sua morte, mas não se pode ver isto como sendo uma fatalidade, conforme Salomão o via (v. 12).
Nos versos 13 a 18, através de um exemplo, Salomão exaltou a sabedoria, acima da força e do próprio poder, mas se for usada por um pobre para livrar ainda que seja uma cidade, ele logo cairá no esquecimento das pessoas às quais livrou. Porque não é comum que pobres sejam honrados na terra pela sociedade, senão somente os grandes e nobres.




“1 Deveras a tudo isto apliquei o meu coração, para claramente entender tudo isto: que os justos, e os sábios, e as suas obras, estão nas mãos de Deus; se é amor ou se é ódio, não o sabe o homem; tudo passa perante a sua face.
2 Tudo sucede igualmente a todos: o mesmo sucede ao justo e ao ímpio, ao bom e ao mau, ao puro e ao impuro; assim ao que sacrifica como ao que não sacrifica; assim ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme o juramento.
3 Este é o mal que há em tudo quanto se faz debaixo do sol: que a todos sucede o mesmo. Também o coração dos filhos dos homens está cheio de maldade; há desvarios no seu coração durante a sua vida, e depois se vão aos mortos.
4 Ora, para aquele que está na companhia dos vivos há esperança; porque melhor é o cão vivo do que o leão morto.
5 Pois os vivos sabem que morrerão, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco têm eles daí em diante recompensa; porque a sua memória ficou entregue ao esquecimento.
6 Tanto o seu amor como o seu ódio e a sua inveja já pereceram; nem têm eles daí em diante parte para sempre em coisa alguma do que se faz debaixo do sol.
7 Vai, pois, come com alegria o teu pão .e bebe o teu vinho com coração contente; pois há muito que Deus se agrada das tuas obras.
8 Sejam sempre alvas as tuas vestes, e nunca falte o óleo sobre a tua cabeça.
9 Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias da tua vida vã, os quais Deus te deu debaixo do sol, todos os dias da tua vida vã; porque este é o teu quinhão nesta vida, e do teu trabalho, que tu fazes debaixo do sol.
10 Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças; porque no Seol, para onde tu vais, não há obra, nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma.
11 Observei ainda e vi que debaixo do sol não é dos ligeiros a carreira, nem dos fortes a peleja, nem tampouco dos sábios o pão, nem ainda dos prudentes a riqueza, nem dos entendidos o favor; mas que a ocasião e a sorte ocorrem a todos.
12 Pois o homem não conhece a sua hora. Como os peixes que se apanham com a rede maligna, e como os passarinhos que se prendem com o laço, assim se enlaçam também os filhos dos homens no mau tempo, quando este lhes sobrevém de repente.
13 Também vi este exemplo de sabedoria debaixo do sol, que me pareceu grande:
14 Houve uma pequena cidade em que havia poucos homens; e veio contra ela um grande rei, e a cercou e levantou contra ela grandes tranqueiras.
15 Ora, achou-se nela um sábio pobre, que livrou a cidade pela sua sabedoria; contudo ninguém se lembrou mais daquele homem pobre.
16 Então disse eu: Melhor é a sabedoria do que a força; todavia a sabedoria do pobre é desprezada, e as suas palavras não são ouvidas.
17 As palavras dos sábios ouvidas em silêncio valem mais do que o clamor de quem governa entre os tolos.


18 Melhor é a sabedoria do que as armas de guerra; mas um só pecador faz grande dano ao bem.”




Eclesiastes 10

Este capítulo foi escrito no estilo do livro de Provérbios, onde encontramos várias citações miscelâneas.
Salomão se refere inicialmente ao fato de que um pouco de estultícia é o suficiente para estragar a sabedoria e a honra, assim como moscas mortas no perfume fazem com que ele  emita mau cheiro.
Isto se aplica também a questões doutrinárias, porque se à verdade se acrescenta ou se retira algo, dá-se o mesmo que colocar um pouco de veneno em muitos litros de leite, porque o que se obterá como resultado não será um pouco de leite com veneno, mas todo o leite envenenado.
Depois Salomão diz que a inclinação do coração para a sabedoria é correta, e é exatamente o lado oposto para o qual se inclina o coração do tolo (v. 2).
A tolice é de tal natureza que até mesmo quando o tolo está andando, proclama a todos, por seu comportamento e palavras, que ele é tolo (v. 3).
A deferência e a humilde submissão diante da ira dos que lideram, fará com que até mesmo grandes ofensas venham a ser desfeitas (v. 4). Isto se aplica a todas as áreas da vida em que exista uma relação de submissão imposta por Deus (filhos aos pais; esposas aos maridos; cidadãos às autoridades etc).
Os que lideram não devem colocar em posição de honra os que são estultos, como se afirma na parte “a” do verso 6. Contudo, é questionável a afirmação da parte “b” do mesmo versículo, porque não recomenda que se coloque os ricos em lugares humildes; porque se isto é uma regra válida para o mundo, não o é no entanto diante de Deus que não faz acepção de pessoas, e recomenda a submissão e humildade a todos na Sua Igreja, sejam eles pobres ou ricos.
Cristo coloca em posição de honra aos menores no Seu reino, e Deus dá maior honra ao membro que menos a possui.

“22 Antes, os membros do corpo que parecem ser mais fracos são necessários;
23 e os membros do corpo que reputamos serem menos honrados, a esses revestimos com muito mais honra; e os que em nós não são decorosos têm muito mais decoro,
24 ao passo que os decorosos não têm necessidade disso. Mas Deus assim formou o corpo, dando muito mais honra ao que tinha falta dela,
25 para que não haja divisão no corpo, mas que os membros tenham igual cuidado uns dos outros.” (I Cor 12.22-25)

Então o critério secular dos reis deste mundo não se aplicam ao reino de Deus, e não deveriam ser aplicados ao reino de Salomão, porque estava debaixo do governo de Deus para ser uma figura do reinado de Cristo. Contudo Salomão não afirmou os critérios do reino de Deus, mas os do mundo ao afirmar o que vemos nos verso 7, que não convinha que servos montassem a cavalo e que príncipes andassem a pé como servos.  
Não será por este critério que um príncipe deixará de ser honrado. Davi não se conduziu por tal critério, e muito menos nosso Senhor.
Foi a pé e dançando na frente de todos que Davi foi buscar a arca do Senhor para trazê-la a Jerusalém, e quando confrontado por Mical lhe disse o seguinte:

“21 Disse, porém, Davi a Mical: Perante o Senhor, que teu escolheu a mim de preferência a teu pai e a toda a sua casa, estabelecendo-me por chefe sobre o povo do Senhor, sobre Israel, sim, foi perante Senhor que dancei; e perante ele ainda hei de dançar
22 Também ainda mais do que isso me envilecerei, e me humilharei aos meus olhos; mas das servas, de quem falaste, delas serei honrado.” (II Sm 6.21,22)

E nosso Senhor, sendo o Rei dos reis e o Senhor dos senhores não somente lavou os pés dos discípulos como lhes recomendou a Sua mesma humildade no trato de uns com os outros, e que aquele que quisesse ser grande no reino de Deus deveria ser o maior servo de todos.
No assunto da prudência que é recomendada especialmente aos príncipes (líderes) Salomão lhes alerta que em toda a ação que realizassem haveria sempre o perigo deles próprios serem feridos de volta ou serem prejudicados por suas próprias decisões (v. 8, 9).
A sabedoria deve ser afiada para se ter prosperidade, tal como o ferro necessita ser afiado, para que se possa cortar melhor usando-se menos força (v. 10).
Toda habilidade deve ser confirmada pelos resultados que se esperam da sua aplicação, porque se um encantador de serpente for mordido antes de encantá-la, terá demonstrado por este fato que não é um hábil encantador.
Com isso Salomão parece ter pretendido demonstrar que um rei sábio seria aquele que soubesse conduzir o povo debaixo da sua autoridade, sem sofrer prejuízos da parte dos seus súditos.
Então recomenda para tal propósito que as palavras do rei sábio sejam cheias de graça, porque as palavras do tolo farão que seja devorado por causa das próprias palavras insensatas que proferiu (v. 12), porque se achará estultícia e loucura perversa no seu discurso (v. 13).
O ato de multiplicar palavras é próprio dos tolos, porque o conhecimento de qualquer homem é sempre parcial, especialmente em relação às coisas futuras (v. 14).
Os tolos não acham prazer no trabalho que realizam (v. 15).
Como estas coisas são mais fáceis de serem achadas nos que são ainda jovens e inexperientes, então haverá grande prejuízo em se conduzir a posições de liderança, especialmente de reinado (governo) aqueles que são ainda crianças, e que se entregam apenas aos prazeres, desde a manhã, banqueteando e bebendo, porque quando tal sucede, é porque não há disciplina em tal reino (v. 16, 17).
Quando a preguiça prevalece a casa de tal pessoa ficará sem os devidos cuidados, revelando o caráter  preguiçoso do seu dono (v. 18).
O verso 19 desmascara o verdadeiro propósito de festas e banquetes. Não são dados para se comer e beber. O seu grande propósito é tentar obter alegria carnal através deles.
“1 As moscas mortas fazem com que o ungüento do perfumista emita mau cheiro; assim um pouco de estultícia pesa mais do que a sabedoria e a honra.
2 O coração do sábio o inclina para a direita, mas o coração do tolo o inclina para a esquerda.
3 E, até quando o tolo vai pelo caminho, falta-lhe o entendimento, e ele diz a todos que é tolo.
4 Se levantar contra ti o espírito do governador, não deixes o teu lugar; porque a deferência desfaz grandes ofensas.
5 Há um mal que vi debaixo do sol, semelhante a um erro que procede do governador:
6 a estultícia está posta em grande dignidade, e os ricos estão assentados em lugar humilde.
7 Tenho visto servos montados a cavalo, e príncipes andando a pé como servos.
8 Aquele que abrir uma cova, nela cairá; e quem romper um muro, uma cobra o morderá.
9 Aquele que tira pedras é maltratado por elas, e o que racha lenha corre perigo nisso.
10 Se estiver embotado o ferro, e não se afiar o corte, então se deve pôr mais força; mas a sabedoria é proveitosa para dar prosperidade.
11 Se a cobra morder antes de estar encantada, não há vantagem no encantador.
12 As palavras da boca do sábio são cheias de graça, mas os lábios do tolo o devoram.
13 O princípio das palavras da sua boca é estultícia, e o fim do seu discurso é loucura perversa.
14 O tolo multiplica as palavras, todavia nenhum homem sabe o que há de ser; e quem lhe poderá declarar o que será depois dele?
15 O trabalho do tolo o fatiga, de sorte que não sabe ir à cidade.
16 Ai de ti, ó terra, quando o teu rei é criança, e quando os teus príncipes banqueteiam de manhã!
17 Bem-aventurada tu, ó terra, quando o teu rei é filho de nobres, e quando os teus príncipes comem a tempo, para refazerem as forças, e não para bebedice!
18 Pela preguiça se enfraquece o teto, e pela frouxidão das mãos a casa tem goteiras.
19 Para rir é que se dá banquete, e o vinho alegra a vida; e por tudo o dinheiro responde.
20 Nem ainda no teu pensamento amaldiçoes o rei; nem tampouco na tua recâmara amaldiçoes o rico; porque as aves dos céus levarão a voz, e uma criatura alada dará notícia da palavra.”




Eclesiastes 11

Os versos 1 e 2 recomendam a disponibilidade e a generosidade.
Disponibilidade para produzir, abrindo mão de parte dos grãos que serviriam para a própria alimentação, para serem semeados (lançar sobre a água, para germinar).
E generosidade para distribuir com outros o que vier a ser colhido depois de muitos dias depois de ter sido semeado.
Os versos 3 a 6 confirmam que a referência a se lançar “o pão sobre as águas”, se aplica ao plantio de grãos, porque o verso 3 é iniciado com a afirmação  que se deve fazê-lo com oportunidade, quando as nuvens estão cheias de chuva que é derramada sobre a terra. Ou seja, na estação chuvosa, na estação das águas, que é a época apropriada para se plantar.
Tanto está falando do ato de semear, que Salomão prossegue dizendo no verso 4 que aquele que observar o vento não semeará, do mesmo modo que aquele que fica olhando para as nuvens não segará.
Então se recomenda que deve ser feito aquilo que for necessário independentemente das circunstâncias, porque não se pode conhecer o milagre da germinação de sementes e o crescimento de plantas, tal como não se sabe como se formam os ossos no ventre da grávida, bem como todas demais obras de Deus (v. 5).
Logo, o trabalho de semear deve ser feito tanto pela manhã, quanto à tarde, reforçando a sementeira nos pontos em que já se havia semeado, porque não se sabe qual das duas sementes de uma determinada cova germinará e prosperará em seu crescimento.
É uma prática comum em agricultura se fazer o desbaste das plantas fracas de uma mesma cova, para que somente aquela que se revelar mais forte no seu crescimento seja preservada, para que se obtenha uma melhor colheita (v. 6).
Ao homem agrada mais estar sob o sol do que sob dias nublados, e disto Salomão retirou uma aplicação comparativa, para que o homem se lembre, caso venha a viver muitos anos, que deve se regozijar em todos eles, mas deve contudo se lembrar que haverá dias de trevas, que não são poucos, a saber, dias que lhe reservarão coisas que não são agradáveis (v. 7 e 8).
Por isso, especialmente os jovens, ao se alegrarem nos dias da sua mocidade, devem lembrar que se andarem pelos caminhos do próprio coração e pela vista dos seus olhos, que Deus lhes julgaria por todas estas coisas que viessem a fazer por sua própria deliberação e vontade.
Portanto, devem ter o cuidado de afastarem o desgosto do seu coração, e não permitirem serem dominados pelo mal que opera na carne, porque a mocidade e aurora da vida logo passam (v. 10).
Por isso Paulo recomendou a Timóteo que fugisse das paixões que são próprias de serem encontradas principalmente na fase da juventude.

“22 Foge também das paixões da mocidade, e segue a justiça, a fé, o amor, a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor.” (II Tim 2.22)



“1 Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás.
2 Reparte com sete, e ainda até com oito; porque não sabes que mal haverá sobre a terra.
3 Estando as nuvens cheias de chuva, derramam-na sobre a terra. Caindo a árvore para o sul, ou para o norte, no lugar em que a árvore cair, ali ficará.
4 Quem observa o vento, não semeará, e o que atenta para as nuvens não segará.
5 Assim como tu não sabes qual o caminho do vento, nem como se formam os ossos no ventre da que está grávida, assim também não sabes as obras de Deus, que faz todas as coisas.
6 Pela manhã semeia a tua semente, e à tarde não retenhas a tua mão; pois tu não sabes qual das duas prosperará, se esta, se aquela, ou se ambas serão, igualmente boas.
7 Doce é a luz, e agradável é aos olhos ver o sol.
8 Se, pois, o homem viver muitos anos, regozije-se em todos eles; contudo lembre-se dos dias das trevas, porque hão de ser muitos. Tudo quanto sucede é vaidade.
9 Alegra-te, mancebo, na tua mocidade, e anime-te o teu coração nos dias da tua mocidade, e anda pelos caminhos do teu coração, e pela vista dos teus olhos; sabe, porém, que por todas estas coisas Deus te trará a juízo.
10 Afasta, pois, do teu coração o desgosto, remove da tua carne o mal; porque a mocidade e a aurora da vida são vaidade.”




Eclesiastes 12

A fase da terceira idade não necessita ser vista como Salomão a via e a chamou, ou seja de “maus dias nos quais não se tem prazer”, como  se os bons dias fossem ditados somente pelo fato de se ter vigor e prazer.
Não é de modo nenhum este ensino que nós encontramos nos profetas e nas Escrituras de  um modo geral, porque é afirmado que “os velhos terão sonhos”, que “ainda darão frutos na velhice”, e que até mesmo a morte dos santos é algo bem-aventurado, porque as suas obras feitas em Deus lhes seguirão para efeito de galardão.
E é certo que quanto maior tempo de vida tivermos, tanto maior poderá ser o nosso galardão, em razão de se ter um tempo maior para praticar o bem, fazendo o que é agradável a Deus.
Salomão estava falando da sua própria experiência de vida quando chegou à velhice, e não do modo como esta deve ser encarada por todos.
Este modo, é na verdade visto somente por aqueles que esfriaram na comunhão com Deus, ou então, que sendo ímpios não conhecem ao Senhor, porque para estes, a velhice é de fato algo que eles acharão algo ruim e penoso, porque lhes privará não somente de muitos prazeres, como também lhes poderá trazer muitas limitações tanto físicas quanto mentais, ainda que não se possa fazer disto uma regra geral.
Salomão descreve a velhice até a morte, dos versos 2 a 7, usando metáforas, para se referir à condição em que serão achados nesta fase da vida, algumas partes do corpo.
Então ele afirma que: neste período da vida, o sol e a lua perderão o seu brilho e haverá escuridão, referindo-se ao enfraquecimento da visão e obscurecimento das faculdades intelectuais e o enfraquecimento da memória (v. 2); que os guardas da casa tremerão, ou seja, haverá tremores nos braços e nas mãos, dificultando que sejam usados para a proteção pessoal de ataques físicos que nos sejam dirigidos por outros; que os homens fortes se curvarão, a saber, a firmeza das pernas já não será a mesma; que os moedores cessarão, uma referência à perda e enfraquecimento dos dentes; que os que olham pelas janelas se escurecerão, novamente uma referência ao enfraquecimento da visão; que as portas da rua se fecharão, ou seja, quando se é velho já não se tem mais prazer em entretenimentos e passeios, e é comum que se permaneça muito mais tempo em casa; que o ruído da moedura será baixo, ou seja, uma voz fraca pela dificuldade de se mover os lábios; que o simples cantar das aves nos fará levantar, porque já não haverá mais a tolerância a ruídos como têm os jovens, e o sono pode ser perturbado pelo menor ruído quando se é idoso; que todas as filhas da música ficarão abatidas, ou seja não se terá mais o prazer de ouvir músicas, como Salomão tinha com os muitos cantores que havia em sua corte; que temerão o que é alto, porque os idosos temem lugares altos por causa de possíveis quedas; que terão espantos no caminho, a saber, o evitar passeios pelo temor de cair e quebrar os ossos fracos do corpo; que a amendoeira florescerá, ou seja os cabelos ficarão brancos; que o gafanhoto será um peso, e consequentemente o desejo falhará,  isto é, o membro viril não responderá mais ao desejo sexual; e finalmente chegará o dia da morte que é o último estágio da velhice avançada quando o homem vai para a sua casa eterna, ou seja, quando o seu espírito atingirá o estado de eternidade.
E a morte será uma ocasião de tristeza para os nossos amigos e aqueles que nos amam.
Todavia a morte prestará um bom serviço ao cristão porque desfará o seu tabernáculo terreno para que possa ser revestido daquele que é celestial e eterno.
 Então, como se afirma no verso 6, será rompida a corda de prata que unia firmemente o espírito ao corpo.
Este nó que os unia será desatado pela morte e estes velhos amigos serão forçados a se separarem.
Então o copo de ouro que retinha a vida do espírito, que é o nosso corpo, será quebrado para que o espírito seja liberado, e assim o cântaro com o qual nós buscávamos a água da fonte da vida, será quebrado junto à mesma; e a roda (os membros que nos permitiam nos movimentarmos e nos nutrimos) serão desfeitos na sepultura, à qual Salomão chama de cisterna.
O coração parou de bater, o sangue também parou de circular.
Todas as fontes vitais do corpo cessaram na morte e ele será desfeito no pó do qual fora tirado no princípio para a formação do primeiro homem, porque deve ser cumprida a maldição de Deus sobre o corpo para que volte ao pó na morte, por causa do pecado original, todavia tal maldição não foi dada ao espírito, que retornará ao domínio de Deus, e portanto, não será dissolvido (v. 7).
Então, quanto às coisas deste mundo natural, de fato pode-se dizer que tudo é vaidade (v. 8), porque nada subsistirá porque será desfeito pelo uso ou destruído pela morte.
Com a descrição da morte, Salomão encerrou o seu discurso, e o que temos do verso 9 ao 14, são palavras finais, não de saudação, como nas epístolas de Paulo, mas de alerta, de exaltação da sabedoria, e da sua própria sabedoria que ele afirma ter recebido do único pastor, que é o Senhor (v. 11).
Ele havia escrito muitos cânticos e provérbios, como vemos em I Reis 4.32,33, e discorreu sobre botânica e zoologia em vários tratados.

“Compôs três mil provérbios, e foram os seus cânticos mil e cinco. Discorreu sobre todas as plantas, desde o cedro que está no Líbano até ao hissopo que brota do muro; também falou dos animais e das aves, dos répteis e dos peixes” (I Reis 4:32-33).

Todavia, deu o conselho que vemos no verso 12 deste último capítulo de Eclesiastes:

“Além disso, filho meu, sê avisado. De fazer muitos livros não há fim; e o muito estudar é enfado da carne.” (v. 12)

Então ele conclui o livro com a advertência de que havia escrito para o propósito de lembrarmos que afinal, o dever do homem consiste em temer a Deus e guardar os Seus mandamentos, porque o Senhor julgará toda obra, e até aquilo que está encoberto, seja bom ou mau (v. 13, 14). Isto está plenamente de acordo com o ensino do Novo Testamento acerca do Tribunal de Cristo, conforme podemos ver nas seguintes palavras do apóstolo Paulo:

“Porque é necessário que todos nós sejamos manifestos diante do tribunal de Cristo, para que cada um receba o que fez por meio do corpo, segundo o que praticou, o bem ou o mal.” (II Cor 5.10)



“1 Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos em que dirás: Não tenho prazer neles;
2 antes que se escureçam o sol e a luz, e a lua, e as estrelas, e tornem a vir as nuvens depois da chuva;
3 no dia em que tremerem os guardas da casa, e se curvarem os homens fortes, e cessarem os moedores, por já serem poucos, e se escurecerem os que olham pelas janelas,
4 e as portas da rua se fecharem; quando for baixo o ruído da moedura, e nos levantarmos à voz das aves, e todas as filhas da música ficarem abatidas;
5 como também quando temerem o que é alto, e houver espantos no caminho; e florescer a amendoeira, e o gafanhoto for um peso, e falhar o desejo; porque o homem se vai à sua casa eterna, e os pranteadores andarão rodeando pela praça;
6 antes que se rompa a cadeia de prata, ou se quebre o copo de ouro, ou se despedace o cântaro junto à fonte, ou se desfaça a roda junto à cisterna,
7 e o pó volte para a terra como o era, e o espírito volte a Deus que o deu.
8 Vaidade de vaidades, diz o pregador, tudo é vaidade.
9 Além de ser sábio, o pregador também ensinou ao povo o conhecimento, meditando, e estudando, e pondo em ordem muitos provérbios.
10 Procurou o pregador achar palavras agradáveis, e escreveu com acerto discursos plenos de verdade.
11 As palavras dos sábios são como aguilhões; e como pregos bem fixados são as palavras coligidas dos mestres, as quais foram dadas pelo único pastor.
12 Além disso, filho meu, sê avisado. De fazer muitos livros não há fim; e o muito estudar é enfado da carne.
13 Este é o fim do discurso; tudo já foi ouvido: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é todo o dever do homem.


14 Porque Deus há de trazer a juízo toda obra, e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau.”




CANTARES



Cantares 1

“1 O cântico dos cânticos, que é de Salomão.
2 Beije-me ele com os beijos da sua boca; porque melhor é o seu amor do que o vinho.
3 Suave é o cheiro dos teus perfumes; como perfume derramado é o teu nome; por isso as donzelas te amam.
4 Leva-me tu; correremos após ti. O rei me introduziu nas suas recâmaras; em ti nos alegraremos e nos regozijaremos; faremos menção do teu amor mais do que do vinho; com razão te amam.
5 Eu sou escura, mas formosa, ó filhas de Jerusalém, como as tendas de Quedar, como as cortinas de Salomão.
6 Não repareis em eu ser escura, porque o sol crestou-me a tez; os filhos de minha mãe indignaram-se contra mim, e me puseram por guarda de vinhas; a minha vinha, porém, não guardei.
7 Dize-me, ó tu, a quem ama a minha alma: Onde apascentas o teu rebanho, onde o fazes deitar pelo meio-dia; pois, por que razão seria eu como a que anda errante pelos rebanhos de teus companheiros?
8 Se não o sabes, ó tu, a mais formosa entre as mulheres, vai seguindo as pisadas das ovelhas, e apascenta os teus cabritos junto às tendas dos pastores.
9 A uma égua dos carros de Faraó eu te comparo, ó amada minha.
10 Formosas são as tuas faces entre as tuas tranças, e formoso o teu pescoço com os colares.
11 Nós te faremos umas tranças de ouro, marchetadas de pontinhos de prata.
12 Enquanto o rei se assentava à sua mesa, dava o meu nardo o seu cheiro.
13 O meu amado é para mim como um saquitel de mirra, que repousa entre os meus seios.
14 O meu amado é para mim como um ramalhete de hena nas vinhas de En-Gedi.
15 Eis que és formosa, ó amada minha, eis que és formosa; os teus olhos são como pombas.
16 Eis que és formoso, ó amado meu, como amável és também; o nosso leito é viçoso.
17 As traves da nossa casa são de cedro, e os caibros de cipreste.”

Caso este livro de Cantares não tivesse a inspiração do Espírito Santo, e caso se tratasse apenas de um cântico dirigido por um esposo à sua esposa, certamente não constaria nas páginas da Bíblia, porque teria sido excluído do Cânon, porque não teríamos nele, nenhuma mensagem da parte de Deus para o Seu povo, para a Sua amada Igreja, senão apenas um poema dentre tantos outros poemas.
No entanto, nós podemos ver nas páginas deste livro, Cristo falando pela boca de Salomão à Sua noiva, que é a Igreja, que Ele tanto ama, e à qual estará ligado para sempre depois de celebradas as bodas de casamento, quando a apresentar a Si Igreja santa, perfeita, sem qualquer ruga ou mancha. E também nós vemos a Sua noiva lhe dirigindo os cânticos do seu amor por Ele, louvando-O por todos os Seus atributos, que são perfeitos, não apenas aos olhos da noiva, mas porque é de fato como eles existem neste Noivo celestial.
Neste livro de Cantares, podemos então, ver qual é o tipo de sentimento que há no coração do Senhor pelos amados que Ele comprou pelo Seu sangue, para estar aliançado com eles para sempre, numa aliança de caráter matrimonial, na qual há a intimidade da participação da Sua vida na nossa vida, do Seu espírito no nosso espírito, da Sua alma na nossa alma e do Seu corpo no nosso corpo, porque foi dado pelo Pai para ser a cabeça do corpo que é a Sua Igreja.
Este cântico foi composto também, para revelar como a Sua Noiva deve responder a tal amor.
Caso este cântico fosse apenas uma poesia que tivesse sido composta por Salomão para a sua esposa amada, ele o teria iniciado, falando do seu próprio amor pela noiva, mas ele fizera exatamente o oposto disso, porque o cântico é introduzido pela expressão do amor da sua esposa por ele.
Então, em nosso comentário, usaremos o nome de Cristo nas referências ao esposo, e o da Igreja, nas referências à esposa, porque o cântico foi escrito para o propósito de revelar o modo pelo qual deve ser exibido o  grande amor que eles sentem mutuamente.
Este cântico pode ser aplicado ao tempo da dispensação da Lei, mas é especialmente dirigido para a dispensação da graça, na qual o Senhor tem dado um novo cântico ao Seu povo. Um cântico que é resultante do vinho novo que foi colocado em odres novos, a saber, a habitação do Espírito Santo nos corações transformados dos crentes.    
Não é sem razão que Salomão intitulou esta composição que lhe fora dada pelo Espírito, de cântico dos cânticos, ou seja, o melhor dentre todos eles, que foram escritos para celebrar o amor, porque não celebra o amor filéo (de simples amigos), ou Eros (sensual), mas o amor ágape,que é o amor que existe entre Deus e os crentes e destes uns com os outros. É portanto um amor sobrenatural, espiritual produzido pelo Espírito Santo, que nos vem do céu, e não é um produto das coisas que há na terra.
Salomão havia composto mil e cinco canções, além dos três mil provérbios que ele escreveu (I Reis 4.32), e isto prova então, que somente esta teve a marca especial do Espírito Santo em tudo o que fora escrito, porque nenhuma das mil e cinco canções foram reconhecidas, como tendo tal inspiração divina, senão apenas esta à qual ele chamou, por isso, de cântico dos cânticos, porque ele próprio reconheceu que era um cântico diferente de todos os demais que havia escrito, porque houve nele esta inspiração que lhe veio do alto da parte de Deus, ligando o seu coração ao dEle, mostrando-lhe quão elevado é o Seu amor divino, que Ele tem derramando abundantemente em nossos corações por meio de Jesus Cristo, e pela habitação do Espírito.
O Senhor havia dado por isso a Salomão um nome profético, Jedidias, que significa “o amado do Senhor” (II Sam 12.25). Deus lhe havia conhecido antes mesmo de tê-lo formado no ventre de Bate-Seba, e lhe moldara o caráter pacífico que ele possuía, e tanto se agradou dele, que lhe deu sabedoria e riquezas mais do que a qualquer outro.
Em Sua presciência, o Senhor sabia que ele viria ser corrompido, na sua velhice, pelas muitas alianças que havia feito com nações estrangeiras, que lhe deram esposas idólatras para firmar aquelas alianças, e viria assim a fazer o que era mal perante aos olhos do Senhor, permitindo que elas dessem honra aos deuses de suas nações construindo santuários para eles em Israel.
Todavia, como ele era justificado pela graça de Deus, o Senhor profetizara a Davi, seu pai, que usaria de misericórdia para com ele, mas o corrigiria assim como um pai corrige a seu filho, mas não desfaria a aliança eterna que havia firmado com Salomão, porque era sem dúvida, um dos seus escolhidos, tal como fora Sansão, e para com o qual também usara de misericórdia, quando se desviou dos Seus caminhos, no final da sua vida, mas lhe deu honra, inserindo o seu nome na galeria dos heróis da fé de Hebreus 11.
Acerca de Salomão, o Senhor disse através do profeta Natã a Davi, o seguinte, em II Sam 7.12-15, onde vemos a promessa de não retirar de Salomão a Sua benignidade, tal como ela havia sido retirada de Saul, porque quanto à salvação, Salomão era um eleito de Deus, pelo que podemos inferir dos Provérbios e Salmos que escreveu, bem como deste cântico, e que estão na Bíblia como Palavra inspirada de quem tinha o Espírito Santo, e todo aquele que tem o Espírito Santo, pertence a Cristo, daí a promessa de que não seria lançado fora da presença de Deus, apesar de ter vindo a transgredir, como se vê no verso 14, mas foi castigado por Deus como filho, porque o Senhor disse que lhe seria por pai, e ele lhe seria por filho. Certamente esta parte da profecia não está dirigida a Cristo, a quem ela também se refere na condição de quem firma o trono de Davi para sempre, porque Ele nunca pecou, e jamais seria necessário dizer acerca dEle, que caso viesse a transgredir, que seria castigado pelo Pai.

“12 Quando teus dias forem completos, e vieres a dormir com teus pais, então farei levantar depois de ti um dentre a tua descendência, que sair das tuas entranhas, e estabelecerei o seu reino.
13 Este edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino.
14 Eu lhe serei pai, e ele me será filho. E, se vier a transgredir, castigá-lo-ei com vara de homens, e com açoites de filhos de homens;
15 mas não retirarei dele a minha benignidade como a retirei de Saul, a quem tirei de diante de ti.” (II Sam 7.12-15).

A transgressão de Salomão no final de sua vida, ainda que não deva servir de inspiração para ser imitada ou defendida por nenhum crente, no entanto, não pode desqualificá-lo como homem de Deus que ele havia sido, tal como todos os demais que vieram a transgredir naquela Antiga Aliança, firmada na Lei, tal como os reis piedosos Asa, Joás, Uzias e outros depois dele, e que eram também, sem dúvida eleitos de Deus, tal como Salomão.
Nós vemos então a segurança eterna da salvação que é garantida por causa da eleição de Deus, e não por qualquer mérito ou capacidade existente em nós para garantirmos a nossa própria salvação.
Em I Reis 3.3 está registrado que Salomão amava o Senhor e que andou nos estatutos de Davi.
Ele era Jedidias, o amado do Senhor, e por isso nós podemos agora comentar o cântico de louvor e amor que ele compôs, porque era do Seu amado, e o Seu amado era dele; ele amou o Senhor, porque o Senhor o amou primeiro, e o salvou para que fosse Seu filho.
Por vezes eu indagava por que Deus não deu a Davi este cântico, que perseverou em fidelidade a Ele até o final da sua vida? Por que havia dado a Salomão, e não a Davi? Creio ter a resposta para isto, provavelmente dentre outras razões, para que saibamos que o amor que temos para com Ele, e da Sua parte para conosco, não se baseia na nossa perfeição pessoal, que a propósito, ninguém a possui, mas na Sua graça e misericórdia, para com pessoas imperfeitas e pecadoras, tal como nós.
O amor que aqui se expressa não é o amor que existirá em perfeição para sempre, sem nenhum ruído na nossa comunhão com o Senhor, quando estivermos reunidos com Ele na glória, mas é o amor que Ele tem manifestado enquanto ainda permanecemos sujeitos à influência da natureza terrena e do pecado que opera na nossa carne.
É por este amor que temos sido aperfeiçoados, em graus cada vez maiores pelo derramar abundante da Sua graça. Amar o que é perfeito é fácil, mas como no dizer de Paulo:

“Mas Deus dá prova do seu amor para conosco, em que, quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós.” (Rom 5.8)

Não foi por pessoas perfeitas que Cristo morreu.  
Não foi um mundo de homens que eram perfeitos em amor e justiça, que Deus amou.
Então o que fez Deus para que pudéssemos amá-lO? Não somente nos deu Cristo para morrer pelos nossos pecados, como também nos deu o Espírito Santo para habitar em nossos corações, para que conhecêssemos o Seu fruto do amor:

“porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.” (Rom 5.5 b).

Foi para este amor que fomos criados, porque em Sua própria essência Deus é amor.
Então este cântico, nos alerta para esta realidade de que não acharemos a satisfação plena, a realização plena segundo a nossa real vocação, se não formos inteiramente absorvidos pelo amor de Deus.
Nada e ninguém poderá ocupar o lugar de Deus, porque fomos programados para amá-lO com toda a nossa força, com toda a nossa mente e com todo o nosso coração. E quem faz isto se transformar em realidade é o crescimento neste amor que é promovido em graus pelo Espírito Santo que Ele derramou em nossos corações para tal propósito.
Este amor é de intimidade. É de participação comum de vidas. Portanto, não pode ser conhecido e vivido por aqueles que não participam da intimidade com o Senhor, a qual é para aqueles que O temem.
Não é um amor romântico que está em foco. Não é um amor que consiste meramente em palavras. Mas um amor que funde espíritos num só espírito, a saber, o do crente com o de Cristo, de modo que já não são, como no casamento entre homem e mulher, mais dois, mas um só espírito, e daí se dizer em I Cor 6.17:

“Mas, o que se une ao Senhor é um só espírito com ele.” (I Cor 6.17).

E isto se aplica aos próprios crentes, em relação a uns com os outros, como se vê em textos como os seguintes:

“3 procurando diligentemente guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz.
4 Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação;” (Ef 4.3,4)

“Somente portai-vos, dum modo digno do evangelho de Cristo, para que, quer vá e vos veja, quer esteja ausente, ouça acerca de vós que permaneceis firmes num só espírito, combatendo juntamente com uma só alma pela fé do evangelho;” (Fp 1.27)

Tal unidade em Cristo, e uns com os outros, faz com que o Espírito Santo seja uma fonte inesgotável de um amor que não se cansa de expressar, e que quanto mais se experimenta dele, mais se deseja experimentar.
Por isso Cantares começa de modo abrupto e sem qualquer delonga, falando da expressão deste amor, da seguinte forma:
 
“2 Beije-me ele com os beijos da sua boca; porque melhor é o seu amor do que o vinho.
3 Suave é o cheiro dos teus perfumes; como perfume derramado é o teu nome; por isso as donzelas te amam.
4 Leva-me tu; correremos após ti. O rei me introduziu nas suas recâmaras; em ti nos alegraremos e nos regozijaremos; faremos menção do teu amor mais do que do vinho; com razão te amam.” (v. 2 a 4).

Pergunto-me se haveria forma mais bela de se exaltar este grande amor sobre o qual temos discorrido!
Que força de expressão amorosa há nestas palavras!
O Rei inspira em nós o desejo de o beijarmos por causa da excelência do Seu amor. O Seu perfume é desejável porque a simples menção do Seu nome é como o derramar dos mais preciosos perfumes. De modo que aqueles que O amam não conseguem resistir ao Seu chamado e logo correm após Ele, para privar da intimidade das suas recâmaras, que é a Sua própria pessoa, na qual encontramos vida, alegria e regozijo em abundância. Tal é a força impulsora deste amor espiritual em nós que nos leva a proclamá-lo, porque não é sem razão que Ele é amado, por tudo o que é em Si mesmo e por tudo o que faz por nós.  
Este amor não é um amor egoísta, é um amor para ser compartilhado com outros, e o impulsionar do Espírito em nós nos conduz a isto, quando estamos cheios do amor de Cristo.
As palavras proferidas pela esposa de Cristo (Igreja) nos versos seguintes deste capitulo do cântico bem comprovam o que afirmamos anteriormente quanto ao amor de um esposo perfeito por uma esposa ainda imperfeita que está destinada a ser perfeita na glória.
Ela afirma ser escura, apesar de saber que ainda assim é formosa para o Seu noivo. Ela pede para que os outros não reparem no fato dela ser escura, não no sentido da cor da sua pele, porque como dissemos, este cântico é espiritual, e portanto, retrata a condição escura da alma, por causa do pecado. É como se a noiva dissesse, que apesar de ter saído das trevas do pecado, e de ainda estar sujeita à ação destas trevas, no entanto, o seu Esposo a ama.
A noiva diz que os filhos da sua mãe, ou seja seus irmãos se indignaram contra ela (uma referência aos seus semelhantes, e não propriamente a crentes), e para impedir que ela estivesse com o amado da sua alma, lhe haviam colocado como guarda de vinhas, mas ela não se submeteu a eles e não cuidou da sua vinha como os demais. Ela não se envolveu com os negócios deste mundo porque o seu único desejo era o de agradar ao amado da Sua alma. Assim é como age de fato a Igreja que é fiel a Cristo.

“Nenhum soldado em serviço se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra.” (II Tim 2.4).

“4 Infiéis, não sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.
5 Ou pensais que em vão diz a escritura: O Espírito que ele fez habitar em nós anseia por nós até o ciúme?” (Tg 4.4,5)

Deus não dividirá o Seu amor por nós com coisas vãs, e de igual modo não devemos dividir o nosso afeto e amor por Ele com as coisas vãs deste mundo.
Entristece ao amor divino ver o nosso tempo sendo gasto com coisas vãs, quando deveria estar sendo ocupado com Ele e com os Seus interesses santos, justos, bons e perfeitos.
Então a esposa procura saber onde pode achar o Amado da sua alma. Ela deseja chegar ao lugar onde Ele apascenta costumeiramente o Seu rebanho. Ela não quer de modo nenhum ser achada errante em outro rebanho que não seja o do Seu Esposo, que é Cristo.
Como era este o desejo da Igreja então Cristo se deixou achar por ela.
É sempre assim que ocorre porque Ele prometeu se deixar achar por aquele que O buscar, e de abrir-lhe a porta ao bater nela.
É também Seu desejo nos achar, tanto quanto o nosso de achá-lo.
E é exatamente o que se afirma nos versos 8 a 17, o que ocorre quando estamos em comunhão com Ele, porque nestas horas, são trocadas as mais profundas e belas expressões de amor espiritual, que se traduz em aprovação, consolações, fortalecimentos de graça, visões e revelações do Espírito, enchimento de poder, amor, paz, alegria, bondade e todos os demais dons, da parte do Esposo (V. 8 a 11, 15); e da parte da esposa  (v. 12 a 14; 16, 17) Ele é brindado com reverência, humildade, louvores, intercessões, serviços, proclamação das Suas virtudes e obra, gratidão, e dando-Lhe por devolvido tudo o que recebe da Sua parte quanto ao Seu amor, alegria, justiça, bondade, etc.




Cantares 2

“1 Eu sou a rosa de Sarom, o lírio dos vales.
2 Qual o lírio entre os espinhos, tal é a minha amada entre as filhas.
3 Qual a macieira entre as árvores do bosque, tal é o meu amado entre os filhos; com grande regozijo sentei-me à sua sombra; e o seu fruto era doce ao meu paladar.
4 Levou-me à sala do banquete, e o seu estandarte sobre mim era o amor.
5 Sustentai-me com passas, confortai-me com maçãs, porque desfaleço de amor.
6 A sua mão esquerda esteja debaixo da minha cabeça, e a sua mão direita me abrace.
7 Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, pelas gazelas e cervas do campo, que não acordeis nem desperteis o amor, até que ele o queira.
8 A voz do meu amado! eis que vem aí, saltando sobre os montes, pulando sobre os outeiros.
9 O meu amado é semelhante ao gamo, ou ao filho da gazela; eis que está detrás da nossa parede, olhando pelas janelas, lançando os olhos pelas grades.
10 Fala o meu amado e me diz: Levanta-te, amada minha, formosa minha, e vem.
11 Pois eis que já passou o inverno; a chuva cessou, e se foi;
12 aparecem as flores na terra; já chegou o tempo de cantarem as aves, e a voz da rola ouve-se em nossa terra.
13 A figueira começa a dar os seus primeiros figos; as vides estão em flor e exalam o seu aroma. Levanta-te, amada minha, formosa minha, e vem.
14 Pomba minha, que andas pelas fendas das penhas, no oculto das ladeiras, mostra-me o teu semblante faze-me ouvir a tua voz; porque a tua voz é doce, e o teu semblante formoso.
15 Apanhai-nos as raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas; pois as nossas vinhas estão em flor.
16 O meu amado é meu, e eu sou dele; ele apascenta o seu rebanho entre os lírios.
17 Antes que refresque o dia, e fujam as sombras, volta, amado meu, e faze-te semelhante ao gamo ou ao filho das gazelas sobre os montes escabrosos.”

Foi com o nome de “Eu sou o que sou”, que  Deus se apresentou a Moisés, quando este lhe perguntou qual o nome que deveria dar aos israelitas quando fosse a eles no cativeiro no Egito, quando lhe perguntassem o nome do Deus que lhe havia enviado a eles.
Então não é incomum vermos nosso Senhor dizendo de si mesmo tanto no Antigo, quanto no Novo Testamento, esta expressão “Eu sou...”, como por exemplo:

“Eu sou o pão que desceu do céu...” (Jo 6.41)
“Eu sou o pão da vida...” (Jo 6.48)
“Eu sou o pão vivo que desceu do céu...” (Jo 6.51)
“Eu sou a luz do mundo...” (Jo 8.12)
“Eu sou a porta das ovelhas...” (Jo 10.7)
“Eu sou o bom pastor...” (Jo 10.11)
“Eu sou a ressurreição e a vida...” (Jo 11.25)
“Eu sou o caminho e a verdade e a vida...” (Jo 14.6)
“Eu sou a videira verdadeira...” (Jo 15.1)

E aqui logo no início do segundo capitulo de Cantares, o Senhor falou pela boca de Salomão que Ele é a rosa de Sarom e o lírio dos vales.
Nosso Senhor não é uma rosa de um jardim fechado, mas a rosa das campinas de Sarom, que era a rosa mais excelente que havia, e também não é o lírio entre rochas escabrosas, mas o lírio dos vales, pelos quais revelou a Sua beleza e o adorno do Seu povo, que não está em nenhum lugar de difícil acesso em que não possa ser achado, mas que se encontra à disposição de todo aquele que procurar por Ele.
A palavra hebraica Sarom, significa planície, lugar nivelado, e era por esse nome que era chamado o território que ficava situado entre as montanhas de Efraim e o Mar Mediterrâneo.
Então é num vale plano e não em terras escarpadas que nos encontramos com Cristo. Isto indica que Ele não criará nenhuma dificuldade para ser achado por aqueles que O buscam.  
Ele não é como a Sua Igreja amada, à qual ele se refere como sendo um lírio entre espinhos. A Igreja é um lírio, mas possui, enquanto neste mundo as imperfeições e pecados, com os quais fere o coração de Cristo.
Os crentes são nova criatura, são co-participantes da natureza divina, e por isso Cristo os chama também de lírios, mas, enquanto na carne, estão sujeitos aos espinhos da natureza terrena, que devem ter a diligência de mortificar, e de se despojar, para que não firam tanto ao Seu Amado, de modo que possam ter uma maior comunhão com Ele.
Todavia, em relação a Cristo, a Igreja não pode dizer que há qualquer espinho no lírio dEle, na condição de lírio dos vales, ao contrário, ela afirma que Ele é como a macieira entre as árvores do bosque; e que isto se refere à sua condição entre os seus filhos. Se Cristo e os crentes são considerados como árvores, Ele é uma árvore mais excelente do que eles, porque se estão sendo feitos à Sua semelhança, no entanto não são da Sua mesma essência, que em relação a Ele é somente igual à do Pai e à do Espírito Santo.
Por isso a Igreja descansa à Sua sombra, porque Ele mesmo é o descanso do Seu povo, e o Seu fruto que é implantado em nós pelo Espírito Santo, não é algo duro ou amargo, mas doce (v. 3).  
Se buscarmos a presença de Cristo sempre seremos achados em banquetes espirituais, e por isso é dito que a Igreja foi introduzida à sala do banquete pelo Seu Amado. E a condição em que se encontram estes crentes que estão participando do banquete espiritual de Cristo, em Sua adoração, sempre será a de triunfo e exaltação, porque o Senhor estenderá sobre eles a bandeira (estandarte) do Seu amor, pelo qual todo medo é lançado fora, porque nos fará sentir seguros em Sua presença, não por causa de fazer prevalecer o Seu domínio sobre nós pela força, senão unicamente pelo Seu amor (v. 4).

“Graças, porém, a Deus que em Cristo sempre nos conduz em triunfo, e por meio de nós difunde em todo lugar o cheiro do seu conhecimento;” (II Cor 2.14).

“Pois o amor de Cristo nos constrange, porque julgamos assim: se um morreu por todos, logo todos morreram;” (II Cor 5.14)

Embriagados não com vinho mas com o Espírito Santo (Ef 5.18), estando cheios da plenitude do amor de Cristo, os crentes somente acharão conforto no alimento espiritual que há no banquete espiritual do qual eles participam juntamente com nosso Senhor nas regiões celestiais, aos quais são chamados pela esposa em Cantares, por passas e por maçãs, que são frutos nobres de árvores nobres (v. 5).
E nesta condição nada mais lhes interessa senão o regozijo espiritual da manifestação da presença de Cristo, que arrebata todo o nosso ser à Sua própria presença, para a íntima comunhão em amor que Ele tanto anseia ter conosco, e que tanto nos agrada quando a estamos experimentando (v. 6).
Todavia, estas horas sagradas e elevadas de comunhão não ocorrerão sempre no momento mesmo em que as desejarmos, porque Ele sempre operará pela Sua própria e exclusiva soberania e autoridade.
Por vezes nos visitará inesperadamente, surpreendendo-nos com as manifestações do Seu poder e amor. Por isso se diz que o amor não deve ser despertado até que nosso Senhor o queira. Porque não o fará por ser obrigado a fazê-lo, porque agirá sempre de modo voluntário. Por isso espera que O busquemos também voluntariamente e por inspiração do Seu Espírito, e não por qualquer impulso da carne (v. 7).
Contudo, sempre que Ele vier ao nosso encontro, nós o saberemos, porque a Sua voz é inconfundível, e virá ao nosso encontro rapidamente, como um cavaleiro em seu cavalo que vem saltando velozmente sobre os montes elevados da Sua glória. Ele virá das alturas em que se encontra ao nosso encontro aqui embaixo, e  nos conduzirá em espírito às mesmas alturas em que Ele se encontra, para que o adoremos na beleza da Sua santidade (v. 8).

“19 Tendo pois, irmãos, ousadia para entrarmos no santíssimo lugar, pelo sangue de Jesus,
20 pelo caminho que ele nos inaugurou, caminho novo e vivo, através do véu, isto é, da sua carne,
21 e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus,
22 cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé; tendo o coração purificado da má consciência, e o corpo lavado com água limpa,
23 retenhamos inabalável a confissão da nossa esperança, porque fiel é aquele que fez a promessa;” (Hb 10.19-23)

Assim como o gamo ou o filho da gazela que espreita por entre as janelas das casas, aproximando-se delas inesperadamente, de igual modo nosso Senhor vigia constantemente a vida dos Seus amados, e os chama para se levantarem e caminharem ao Seu lado, porque importa que estejam onde Ele estiver.

“Se alguém me quiser servir, siga-me; e onde eu estiver, ali estará também o meu servo; se alguém me servir, o Pai o honrará.” (Jo 12.26)

Uma vez passado o inverno da disciplina do Espírito, ou a breve ausência do Senhor produzida por aflições ou quaisquer outras condições pelas quais esteja provando a nossa fé para que seja aumentada, Ele voltará a nos chamar para a primavera da alegria de andarmos com liberdade, sem o temor do frio ou da chuva, porque nos mostrará a beleza e das flores e nos fará sentir o seu aroma, os frutos, o cântico dos pássaros, porque é chegado o tempo de mais uma vez trazer regozijo, paz e alegria às nossas almas (v. 10 a 13).
O amor do Senhor pela Sua Igreja é tão grande que Ele lhe pede para que Lhe mostre o seu semblante e que lhe faça ouvir a sua voz, saindo das fendas e das penhas em que geralmente costuma ser encontrada, porque fora da Sua presença santa, não se pode ouvir a sua voz doce e o seu semblante formoso.
A tendência do pecador desde que Adão caiu no Éden, é sempre a de se esconder da presença do Senhor, como Adão tentara fazer atrás das árvores do jardim. Todavia o Senhor veio ao Seu encontro para lhe oferecer redenção. Mas Adão teria quer ser sincero, teria que mostrar a cara, teria que revelar o que estava atrapalhando agora a sua comunhão com Deus, e tudo aquilo que se encontrava em seu coração. Nosso Senhor é a verdade, e é necessário que sejamos verdadeiros perante Ele, e sairmos dos esconderijos em que nos encontramos em nossos espíritos, para que a Sua luz penetre o mais interior do nosso ser, para que possamos desfrutar da Sua presença no nosso interior.
Por isso se ordena que sejam capturadas as raposinhas que destróem as vinhas da Sua lavoura divina, a qual somos nós. E estas raposinhas representam tudo aquilo que possa nos separar da comunhão com Ele (v. 15).
Enquanto elas estiverem na lavoura não será possível frutificar para Deus. Então se exige diligência para que o pecado seja mortificado diariamente, porque é ele a raposinha principal que impede a nossa frutificação espiritual.
Há portanto este trabalho que deve ser feito pelo Espírito que visa à santificação da Igreja.
Todavia, independente do grau de santificação obtida por este trabalho, há uma relação de laços indissolúveis, como a do casamento, conforme estabelecido por Deus, para ser sinal da união que há entre Cristo e a Igreja.
Por isso a Igreja pode afirmar o que lemos no verso 16:

“O meu amado é meu, e eu sou dele; ele apascenta o seu rebanho entre os lírios.” (v. 16).

Não é somente Jesus que nos possui, porque a Igreja também Lhe possui. Ambos se pertencem mutuamente. Já não podem ser separados, porque aquilo que Deus uniu o homem não pode separar.
Por isso o apóstolo afirma o seguinte em Rom 8.35:

“quem nos separará do amor de Cristo? a tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?” (Rom 8.35.

E em I Cor 3.21-23:

“21 Portanto ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso;
22 seja Paulo, ou Apolo, ou Cefas; seja o mundo, ou a vida, ou a morte; sejam as coisas presentes, ou as vindouras, tudo é vosso,
23 e vós de Cristo, e Cristo de Deus.” ( I Cor 3.21-23).

O Senhor apascenta o Seu rebanho entre os lírios. É em pastos verdejantes que alimenta as Suas ovelhas. Isto significa que Ele é um provedor bondoso para os que Lhe pertencem. Ele não lhes dá o pão de amargura por alimento. Este pão de amargura do qual alguns crentes estão se alimentando não lhes foi dado certamente pelo Senhor, senão pelos seus próprios pecados.

A Igreja clama para que Cristo, Seu amado venha rapidamente ao Seu encontro, antes do cair da noite (v. 17).
Ela anseia andar como filha da luz, e somente na luz, porque sabe que já vai alta a noite de trevas sobre este mundo, que precipitará os juízos de Deus sobre toda a terra, e sabe que não tem participação neste juízos, porque não é filha da noite, mas do dia; não é filha das trevas, mas da luz. Todavia, sabe que não tem esta luz em si mesma, porque somente o Seu amado é a Luz, e ela apenas reflete esta luz, sem a qual não há a verdadeira vida que procede de Deus.

“1 No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
2 Ele estava no princípio com Deus.
3 Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.
4 Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.
5 E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.”. (Jo 1.1-5)

João afirma no verso 4 que a vida estava em Cristo, e que esta vida era a luz dos homens.
Ele é portanto o Deus vivo, que não é Deus de mortos, mas de vivos, porque tudo o que vive tem a sua origem em Deus, por meio de quem tudo subsiste. Todo espírito que está ligado a Deus vive e viverá eternamente. Mas fora de Deus tudo é morte.
O fato de ser a vida de Cristo a luz dos homens, isto está restringido no verso 5 àqueles que são de Cristo, porque aqueles que amam as trevas não podem compreender esta luz, espiritual, celestial e divina.
Mas os que compreendem e amam a luz, devem andar na luz de Jesus para que possam também ser luz no Senhor. Ele criou os homens para serem uma lâmpada que brilhe com a Sua luz, queimando com o óleo do Espírito Santo.
João diz que a vida de Cristo é a luz dos homens, porque os crentes devem ser como lâmpadas que emitem a luz de Cristo.
É a Palavra eterna na lâmpada que é o crente, que o faz brilhar com o brilho que procede de Deus.
 Sem a Palavra que acende esta lâmpada, ela permanece apagada. Por isso se ordena aos crentes que não apaguem o Espírito Santo, para não terem as suas próprias lâmpadas, que são suas vidas, apagadas.
Para que tenha luz, o crente depende inteiramente de Deus, e portanto da Sua Palavra e do fogo do Espírito Santo. Deus uniu a ambos para que o crente possa brilhar, e assim manifeste a vida eterna de Deus para iluminar este mundo de trevas.
A luz condenará as obras infrutíferas das trevas naqueles que permanecem no pecado, porque fará a exposição do que se ocultava nas trevas:
“Mas todas estas coisas, sendo condenadas, se manifestam pela luz, pois tudo o que se manifesta é luz.”  (Ef 5.13).
É pela luz da revelação divina que o pecado pode ser condenado ou extirpado.  E João nos diz que a vida está em Jesus, e que esta vida era a luz dos homens; isto é, somente quando a vida poderosa de Jesus se manifesta em alguém, que tal pessoa poderá vir para a luz de Deus e conhecer a Deus e compreender as coisas espirituais e divinas. Assim, fora de Cristo, não há tal possibilidade, porque vida e luz para os homens procedem dEle.
A vida eterna que nós necessitamos para escapar da morte eterna está somente em Cristo Jesus, e é nEle portanto que devemos buscá-la, e João nos indica o meio de obtê-la, a saber, por meio da Palavra e pelo andar na luz.  
É a luz de Cristo que ilumina o nosso entendimento e espírito para compreendermos as Escrituras.
Elas permanecem como um livro fechado para nós até que Cristo abra o nosso entendimento e se revele ao nosso espírito para que possamos compreendê-las; tal como fizera com os dois discípulos no caminho de Emaús, aos quais lhes abriu o entendimento para compreenderem tudo o que estava escrito acerca dEle nas Escrituras.
Não foi João quem conceituou Jesus como luz, pois Ele próprio fizera tal afirmação acerca de Si mesmo durante o Seu ministério terreno, confirmando aquilo que as Escrituras do Velho Testamento afirmam sobre Ele, especialmente de que Ele seria luz para os gentios.
“o povo que estava sentado em trevas viu uma grande luz; sim, aos que estavam sentados na região da sombra da morte, a estes a luz raiou.”  (Mt 4.16).
“E o julgamento é este: A luz veio ao mundo, e os homens amaram antes as trevas que a luz, porque as suas obras eram más.” (Jo 3.19).
“Então Jesus tornou a falar-lhes, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue de modo algum andará em trevas, mas terá a luz da vida.”  (Jo 8.12). Veja que foi Jesus quem disse que é a luz que dá vida aos homens, de maneira que aquele que não está na luz e que não é luz por ter recebido tal luz de Jesus, continua morto em seus pecados. A vida eterna consiste portanto na manifestação desta luz no nosso viver.
“pois em ti está o manancial da vida; na tua luz vemos a luz.”  (Sl 36.9).



Cantares 3

“1 De noite, em meu leito, busquei aquele a quem ama a minha alma; busquei-o, porém não o achei.
2 Levantar-me-ei, pois, e rodearei a cidade; pelas ruas e pelas praças buscarei aquele a quem ama a minha alma. Busquei-o, porém não o achei.
3 Encontraram-me os guardas que rondavam pela cidade; eu lhes perguntei: Vistes, porventura, aquele a quem ama a minha alma?
4 Apenas me tinha apartado deles, quando achei aquele a quem ama a minha alma; detive-o, e não o deixei ir embora, até que o introduzi na casa de minha mãe, na câmara daquela que me concebeu:
5 Conjuro-vos, ó filhos de Jerusalém, pelas gazelas e cervas do campo, que não acordeis, nem desperteis o amor, até que ele o queira.
6 Que é isso que sobe do deserto, como colunas de fumaça, perfumado de mirra, de incenso, e de toda sorte de pós aromáticos do mercador?
7 Eis que é a liteira de Salomão; estão ao redor dela sessenta valentes, dos valentes de Israel,
8 todos armados de espadas, destros na guerra, cada um com a sua espada a cinta, por causa dos temores noturnos.
9 O rei Salomão fez para si um palanquim de madeira do Líbano.
10 Fez-lhe as colunas de prata, o estrado de ouro, o assento de púrpura, o interior carinhosamente revestido pelas filhas de Jerusalém.
11 Saí, ó filhas de Sião, e contemplai o rei Salomão com a coroa de que sua mãe o coroou no dia do seu desposório, no dia do júbilo do seu coração.”

Não podemos sentir saudades ou tristezas por aquilo que nunca tivemos ou que nunca conhecemos.
Mas se temos conhecido ao Senhor, e quanto maior for este conhecimento íntimo de comunhão espiritual com Ele, não somente sentiremos saudades ou tristezas se ficarmos ausentes da Sua presença, como até mesmo seremos consumidos pela dor que existirá em nossas almas por tal ausência.
Se Ele passou a ser a nossa vida, a ponto de já não vivermos nós, mas termos a vida do Filho de Deus em nós como sendo a nossa própria vida, tal como Paulo viveu, então, tentar viver sem esta comunhão com Ele, seria o mesmo que tentar viver como um peixe fora da água.
Isto não é exagero, mas a pura realidade, especialmente para aqueles que foram chamados por Cristo a se consagrarem a Ele de um modo especial, porque Ele passará a ser o tudo deles, e para eles.
Por vezes, para fazer com que estes Seus servos tenham a consciência plena de que Ele passou a ser a vida deles, o Senhor se ausenta por curtos períodos, e logo eles se empenham a buscá-lO com todas as forças das suas almas, e investigam diligentemente, para descobrirem em que O teriam desapontado, para provocar tal ausência. E como Davi, suas almas suspiram pela Sua presença tal como a corça pelas águas, quando se acha sedenta.
A sede de vida deles não pode ser saciada por nada e ninguém a não ser pelo próprio Cristo, e a alma não pode estar sossegada enquanto não voltar a descansar nEle.
Contudo, assim como eles já não podem mais viver sem Cristo, é também correto dizer que Ele também já não pode estar sem a companhia deles, e por isso tudo fará para deixar-se encontrar por eles, quando lhe buscarem.

“7 Por um breve momento te deixei, mas com grande compaixão te recolherei;
8 num ímpeto de indignação escondi de ti por um momento o meu rosto; mas com benignidade eterna me compadecerei de ti, diz o Senhor, o teu Redentor.” (Is 54.7,8)

E se demoram nesta busca, ou se vêm a desfalecer na procura, Ele próprio virá ao encontro deles, tal como os procurou quando ainda estavam perdidos, como a ovelha desgarrada da Parábola, e lhes fortalecerá para que sejam reanimados e consolados.
Esta tem sido a experiência prática de milhões que lhe têm amado ao longo da história da humanidade.
Bem-aventurados são estes que têm fome e sede da Sua justiça, porque serão saciados. Ele não permitirá que venham a perecer por falta do alimento e da água espiritual pela qual têm vida eterna, abundante e plena.
Estas breves ausências não são uma atitude caprichosa da Sua parte, mas oportunidades que nos oferece para aumentar a nossa fé, e para aprendermos a andar espiritualmente, tal como os pais fazem com seus filhinhos colocando-os de pé e se afastando a uma distância segura para que eles caminhem na direção deles à busca de apoio, e quanto mais eles caminham para trás, mais seus pequeninos avançam, até que aprendem a andar firmados sobre os seus próprios pés.
Ele pretende portanto nos ensinar a ter tal maturidade e firmeza de fé, para aprendermos que mesmo nas horas de tribulações, em que pareça que Ele está ausente, possamos saber que está por perto e vigilante para evitar que venhamos a cair, e assim estarmos com os nossos corações sossegados de que voltaremos logo a estar em seus braços amorosos.
Além disso, é Seu desejo que aprendamos também a buscar auxílio nestas horas de aparente ausência, naqueles que estão vigiando, representados na pessoa dos guardas (vigias, sentinelas) de Jerusalém citados no cântico, que foram procurados pela esposa para ter notícias do paradeiro do Esposo.
Não será na companhia dos que andam negligentemente que poderemos achar a nossa comunhão com nosso Senhor, senão somente naqueles que vigiam e oram em todo o tempo, e que podem portanto nos ajudar como achá-lo, se por algum momento sentirmos que Ele se ausentou de nós.

“Foge também das paixões da mocidade, e segue a justiça, a fé, o amor, a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor.” (II Tim 2.22)

A perseverança na fé, na piedade, na paciência, terá por fim a sua recompensa, que será achar o próprio Cristo, e não bens terrenos ou qualquer outra coisa que não pode alimentar o espírito, porque somente o Espírito Santo pode alimentar o nosso espírito. Coisas espirituais se discernem espiritualmente, e podemos dizer também que podem ser alimentadas somente por coisas espirituais que procedem de Cristo, pelo Espírito. Como poderiam coisas materiais alimentar o nosso espírito?
Cristo é tão precioso que uma vez achado por nós, tudo devemos fazer para retê-lO, porque é nEle que se encontra todo o tesouro da sabedoria, e de tudo quanto necessita a nossa alma.
E isto faremos por diligente oração, meditação na Sua Palavra, empenho na comunhão com os irmãos, e por uma real consagração da nossa vida ao Seu serviço.
Por isso, ao achá-lO, a esposa diz que logo O introduziu na casa de sua mãe, e procurou tudo fazer para que Ele fosse bem cuidado e pudesse achar repouso, de modo que não fosse forçado a compartilhar Seu amor a não ser quando Ele o desejasse.
Isto representa a humildade, a reverência, o cuidado que devemos ter na nossa comunhão com Cristo, que sendo amigo é também Senhor e Rei, como o vemos sendo comparado a Salomão, quanto à glória que tivera aquele rei, maior do que a de qualquer outro rei da terra. E quem não demonstraria reverência e respeito pelo Rei dos reis, apesar de privar da Sua intimidade?
Deste modo, toda iniciativa de sermos usados por nosso Senhor sempre se achará sob a Sua exclusiva decisão, e não porque o determinemos, ou por pensarmos que poderemos de algum modo levá-lO à ação por nossas orações ou por qualquer outro meio. Ele sempre agirá de acordo com a Sua vontade e Soberania, e nunca pela nossa própria vontade, porque afinal é Rei, e não se deixará governar pelos Seus súditos.



Cantares 4

“1 Como és formosa, amada minha, eis que és formosa! os teus olhos são como pombas por detrás do teu véu; o teu cabelo é como o rebanho de cabras que descem pelas colinas de Gileade.
2 Os teus dentes são como o rebanho das ovelhas tosquiadas, que sobem do lavadouro, e das quais cada uma tem gêmeos, e nenhuma delas é desfilhada.
3 Os teus lábios são como um fio de escarlate, e a tua boca é formosa; as tuas faces são como as metades de uma romã por detrás do teu véu.
4 O teu pescoço é como a torre de Davi, edificada para sala de armas; no qual pendem mil broquéis, todos escudos de guerreiros valentes.
5 Os teus seios são como dois filhos gêmeos da gazela, que se apascentam entre os lírios.
6 Antes que refresque o dia e fujam as sombras, irei ao monte da mirra e ao outeiro do incenso.
7 Tu és toda formosa, amada minha, e em ti não há mancha.
8 Vem comigo do Líbano, noiva minha, vem comigo do Líbano. Olha desde o cume de Amana, desde o cume de Senir e de Hermom, desde os covis dos leões, desde os montes dos leopardos.
9 Enlevaste-me o coração, minha irmã, noiva minha; enlevaste-me o coração com um dos teus olhares, com um dos colares do teu pescoço.
10 Quão doce é o teu amor, minha irmã, noiva minha! quanto melhor é o teu amor do que o vinho! e o aroma dos teus ungüentos do que o de toda sorte de especiarias!
11 Os teus lábios destilam o mel, noiva minha; mel e leite estão debaixo da tua língua, e o cheiro dos teus vestidos é como o cheiro do Líbano.
12 Jardim fechado é minha irmã, minha noiva, sim, jardim fechado, fonte selada.
13 Os teus renovos são um pomar de romãs, com frutos excelentes; a hena juntamente com nardo,
14 o nardo, e o açafrão, o cálamo, e o cinamomo, com toda sorte de árvores de incenso; a mirra e o aloés, com todas as principais especiarias.
15 És fonte de jardim, poço de águas vivas, correntes que manam do Líbano!
16 Levanta-te, vento norte, e vem tu, vento sul; assopra no meu jardim, espalha os seus aromas. Entre o meu amado no seu jardim, e coma os seus frutos excelentes!”

Em todo este capítulo somente a esposa é exaltada pelo Esposo.
Ele se dirige a ela com palavras encorajadoras e de amor.
Ele exalta as Suas virtudes e dons, que  na verdade, todos foram recebidos dEle, porque era pobre e miserável quando foi enriquecida por Ele.
É pela nossa consagração a Ele, ou seja pelo preço que pagamos em nossa dedicação e diligência em buscarmos a nossa santificação nEle, que compramos os dons que Ele nos oferece pela graça, conforme podemos ver em Apo 3.18:

“aconselho-te que de mim compres ouro refinado no fogo, para que te enriqueças; e vestes brancas, para que te vistas, e não seja manifesta a vergonha da tua nudez; e colírio, a fim de ungires os teus olhos, para que vejas.” (Apo 3.18)

Tal será o Seu trabalho operante na Sua verdadeira Igreja, que nosso Senhor já a vê como estando sem qualquer mancha, e perfeita perante Ele, porque a santificará pelo Espírito até tal ponto, porque a Igreja lhe foi dada pelo Pai para ser Sua esposa para sempre.

“25 Vós, maridos, amai a vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela,
26 a fim de a santificar, tendo-a purificado com a lavagem da água, pela palavra,
27 para apresentá-la a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas santa e irrepreensível.” (Ef 5.25-27)

Nosso Senhor aprecia o amor da Sua esposa por Ele, e fica satisfeito somente quando ela se Lhe apresenta em santidade, porque não vemos no texto uma esposa desarrumada pelo pecado, desleixada em seus deveres para com o Seu Esposo, antes, alguém que vive para o Seu inteiro agrado, e assim, ela chega mesmo a se reservar somente para Ele, vivendo como um jardim fechado, onde não permitirá a entrada de nenhum outro, senão somente de Seu Esposo amado.
Nosso Senhor não pode ser  um jardim fechado, porque importa que seja achado por muitos como uma rosa ou lírio de um campo aberto, como já comentamos anteriormente, mas quanto a cada crente, estes devem ser jardins fechados para Ele, não que viverão isolados, mas que não amarão a ninguém, mais do que têm amado a Cristo, inclusive entes queridos, para que sejam achados dignos de serem chamados Seus discípulos. Somente a Ele amarão com toda a sua força, mente e coração. E a ninguém adorarão senão somente  a Ele.
Não há outro modo de se agradar a um Esposo tão excelente e digno. Ele deve ser amado ao nível da Sua Majestade divina.
Por isso se exige de nós empenho em guardar tudo o que Ele nos tem ordenado.

“Se me amardes, guardareis os meus mandamentos.” (Jo 14.15)

“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.” (Jo 14.21)

“Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor.” (Jo 15.10)




Cantares 5

“1 Venho ao meu jardim, minha irmã, noiva minha, para colher a minha mirra com o meu bálsamo, para comer o meu favo com o meu mel, e beber o meu vinho com o meu leite. Comei, amigos, bebei abundantemente, ó amados.
2 Eu dormia, mas o meu coração velava. Eis a voz do meu amado! Está batendo: Abre-me, minha irmã, amada minha, pomba minha, minha imaculada; porque a minha cabeça está cheia de orvalho, os meus cabelos das gotas da noite.
3 Já despi a minha túnica; como a tornarei a vestir? já lavei os meus pés; como os tornarei a sujar?
4 O meu amado meteu a sua mão pela fresta da porta, e o meu coração estremeceu por amor dele.
5 Eu me levantei para abrir ao meu amado; e as minhas mãos destilavam mirra, e os meus dedos gotejavam mirra sobre as aldravas da fechadura.
6 Eu abri ao meu amado, mas ele já se tinha retirado e ido embora. A minha alma tinha desfalecido quando ele falara. Busquei-o, mas não o pude encontrar; chamei-o, porém ele não me respondeu.
7 Encontraram-me os guardas que rondavam pela cidade; espancaram-me, feriram-me; tiraram-me o manto os guardas dos muros.
8 Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, se encontrardes o meu amado, que lhe digais que estou enferma de amor.
9 Que é o teu amado mais do que outro amado, ó tu, a mais formosa entre as mulheres? Que é o teu amado mais do que outro amado, para que assim nos conjures?
10 O meu amado é alvo e rosado, o primeiro entre dez mil.
11 A sua cabeça é como o ouro mais refinado, os seus cabelos são ondulados, pretos como o corvo.
12 Os seus olhos são como pombas junto às correntes das águas, lavados em leite, postos em engaste.
13 As suas faces são como um canteiro de bálsamo, os montões de ervas aromáticas; e os seus lábios são como lírios que gotejam mirra preciosa.
14 Os seus braços são como cilindros de ouro, guarnecidos de crisólitas; e o seu corpo é como obra de marfim, coberta de safiras.
15 As suas pernas como colunas de mármore, colocadas sobre bases de ouro refinado; o seu semblante como o Líbano, excelente como os cedros.
16 O seu falar é muitíssimo suave; sim, ele é totalmente desejável. Tal é o meu amado, e tal o meu amigo, ó filhas de Jerusalém.”

Mesmo desprezada e ferida pelo mundo a Igreja sustenta o testemunho de Cristo, e quando indagada acerca da Sua fé nEle e porque tanto O admira e ama, ela proclama as Suas virtudes incomparáveis, que nenhum outro pode ter.
O Senhor lhe veio ao encontro, confortou-a com Sua presença em meio à tempestade, e logo se retirou, mas não sem ter antes deixado a Sua forte impressão na Sua amada Igreja. O início deste cântico nos lembra o Senhor confortando os Seus discípulos antes de ir para o Pai, porque esteve entre eles, até que subisse ao céu, de onde lhes enviaria o Espírito para que dessem testemunho sobre Ele, em meio a aflições, aqui embaixo na terra.
Todavia, cada Pentecostes, individual, em igrejas, ou em nações, sempre tem esta marca de ser antecedido pela visita de Cristo à Sua Igreja fazendo com ela um banquete espiritual no qual Seus filhos comem juntamente com Ele à Sua mesa, e são fortalecidos pelas Suas graças (v. 1).
Então Ele chama Sua Igreja quando ela estiver dormindo por estes despertamentos ou avivamentos espirituais, para que se levante e dê testemunho ao mundo pelo carregar o Seu bom perfume, tanto de vida para a vida nos que se salvam, como também como cheiro de morte para a morte nos que se perdem (II Cor 2.15).
E este testemunho deve ser sustentado pela Igreja como pomba imaculada (inofensiva – v. 2) porque é enviada por Cristo para o meio de lobos, e por isso também necessitará da prudência característica da serpente.
Depois de nosso Senhor ter morrido na cruz e ter sido sepultado, o sentimento dos discípulos naquela ocasião bem pode ser descrito pelas palavras da esposa no verso 6:

“Eu abri ao meu amado, mas ele já se tinha retirado e ido embora. A minha alma tinha desfalecido quando ele falara. Busquei-o, mas não o pude encontrar; chamei-o, porém ele não me respondeu.”

Eles não poderiam achar consolação em ninguém naquela hora, e assim se dá conosco nas horas em que nos sentimos desolados e solitários e quando a alma busca consolo em pessoas amigas, que certamente não poderão preencher esta ausência de Cristo. Estas são horas para aprendizado, a não dar à alma consolações a todo momento que ela as desejar. É preciso fazer prevalecer o governo do espírito sobre a alma e fazer com que ela aprenda a esperar em silêncio até que o Senhor volte a manifestar a Sua presença.
Isto faz parte do aprendizado de carregar a cruz para mortificação do nosso ego.
O Senhor deseja que a Igreja aprenda isto para que possa dar um testemunho vigoroso na terra, em face de todas as perseguições e tribulações que terá que suportar, principalmente por parte dos principados e potestades das trevas.  
O Esposo veio procurar a esposa estando com a cabeça molhada pelo orvalho e depois de ter lavado os pés da lama deste mundo, que representa todo o ataque que Ele recebeu em Sua natureza santa, limpa e perfeita, por parte do pecado deste mundo, que não lhe penetrou a alma, mas que sujou-Lhe senão os pés.
Ele se dispôs a sofrer por amor à Igreja, e então ela deve estar disposta a compartilhar em alguma medida dos mesmos sofrimentos, se quando ao buscar santificar-se, for também atingida pela sujeira do mundo em seus pés, que devem ser continuamente lavados pelo auxílio de seus irmãos na fé, por encorajamento e oração intercessória.
O Cristo que amamos e servimos é invisível. Ele não se encontra mais presente no corpo entre nós, mas nós o amamos e desfalecemos de amor por Ele, porque somos guiados e instruídos pelo Seu Espírito.
Ele continua observando permanentemente os nossos passos, o nosso deitar e o nosso levantar, e nada que o Espírito fizer em nós e por nós, terá sido sem o propósito da glorificação do Esposo, e mediante tudo o que tiver recebido dEle para nós.
Então o Seu cuidado é permanente conforme nos tem prometido de estar conosco até a consumação dos séculos.
Tão real é a presença do Senhor em nossos corações que à medida que a nossa comunhão com Ele aumenta em graus, não conseguimos ocupar a nossa mente e coração senão somente com aquilo que é relativo a Ele e ao Seu reino, e do que estiver cheio o coração, a boca falará, e todo mundo saberá quão grande é o nosso amor pelo nosso Esposo e Senhor.
Na verdade, nada poderá nos fazer calar, porque a força propulsora do Seu próprio amor em nós nos levará a fazer isto, mesmo quando estivermos debaixo de grandes aflições por causa do testemunho fiel que dermos da Sua pessoa amada.
Nós falaremos somente dEle e não de nós. De Suas virtudes e não das nossas. Falaremos da Sua excelência, tal como a esposa fez a partir do verso 10 deste capítulo de Cantares.

“10 O meu amado é alvo e rosado, o primeiro entre dez mil.
11 A sua cabeça é como o ouro mais refinado, os seus cabelos são ondulados, pretos como o corvo.
12 Os seus olhos são como pombas junto às correntes das águas, lavados em leite, postos em engaste.
13 As suas faces são como um canteiro de bálsamo, os montões de ervas aromáticas; e os seus lábios são como lírios que gotejam mirra preciosa.
14 Os seus braços são como cilindros de ouro, guarnecidos de crisólitas; e o seu corpo é como obra de marfim, coberta de safiras.
15 As suas pernas como colunas de mármore, colocadas sobre bases de ouro refinado; o seu semblante como o Líbano, excelente como os cedros.
16 O seu falar é muitíssimo suave; sim, ele é totalmente desejável. Tal é o meu amado, e tal o meu amigo, ó filhas de Jerusalém.”

Estes versos mostram a excelência da natureza de Cristo que mistura tanto simplicidade (v. 10, 12) com majestade e formosura (v. 11, 13); força e poder (v. 14, 15) com mansidão e falar muitíssimo suave (v. 16)




Cantares 6

“1 Para onde foi o teu amado, ó tu, a mais formosa entre as mulheres? para onde se retirou o teu amado, a fim de que o busquemos juntamente contigo?
2 O meu amado desceu ao seu jardim, aos canteiros de bálsamo, para apascentar o rebanho nos jardins e para colher os lírios.
3 Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu; ele apascenta o rebanho entre os lírios.
4 Formosa és, amada minha, como Tirza, aprazível como Jerusalém, imponente como um exército com bandeiras.
5 Desvia de mim os teus olhos, porque eles me perturbam. O teu cabelo é como o rebanho de cabras que descem pelas colinas de Gileade.
6 0s teus dentes são como o rebanho de ovelhas que sobem do lavadouro, e das quais cada uma tem gêmeos, e nenhuma delas é desfilhada.
7 As tuas faces são como as metades de uma romã, por detrás do teu véu.
8 Há sessenta rainhas, oitenta concubinas, e virgens sem número.
9 Mas uma só é a minha pomba, a minha imaculada; ela é a única de sua mãe, a escolhida da que a deu à luz. As filhas viram-na e lhe chamaram bem-aventurada; viram-na as rainhas e as concubinas, e louvaram-na.
10 Quem é esta que aparece como a alva do dia, formosa como a lua, brilhante como o sol, imponente como um exército com bandeiras?
11 Desci ao jardim das nogueiras, para ver os renovos do vale, para ver se floresciam as vides e se as romanzeiras estavam em flor.
12 Antes de eu o sentir, pôs-me a minha alma nos carros do meu nobre povo.
13 Volta, volta, ó Sulamita; volta, volta, para que nós te vejamos. Por que quereis olhar para a Sulamita como para a dança de Maanaim?”

Impressionados pelo testemunho da Igreja relativo a Cristo, depois de lhe terem perguntado qual era o motivo de tanto apreciá-lO, como vimos no verso 9 do capítulo anterior, estes que a ouviram passam então a se interessar também quanto ao modo como poderão encontrá-lO.
Eles desejam buscar o Amado da Igreja juntamente com ela, ou seja, eles buscam a conversão das suas almas a Ele (v. 1).
 A resposta dada pela igreja é que Ele será achado no Seu jardim, nos canteiros de bálsamo, porque será achado onde estiver reunido o Seu rebanho de ovelhas para ser apascentado por Ele, e para colher os lírios (v. 2). Os canteiros são de bálsamo porque Ele o usará para curar as ovelhas que estiverem feridas.  
O lugar apropriado para se ter um encontro com Cristo não é no bar, nas ruas, mas onde estiver a Sua Igreja reunida. Ele será achado com  toda a certeza no meio do Seu povo, e daí fazerem bem aqueles que não O procuram às apalpadelas por todos os recantos deste mundo, senão na congregação dos justos, que é a Sua Igreja.
Isto sucede porque a Igreja não é deste mundo tal como o Seu Esposo. Ele pertence somente a ela, e ela somente a Ele. Então todo aquele que quiser encontrar a Cristo deve buscá-lO não no mundo, mas na Sua Igreja (v. 3).
De ninguém mais dá o Senhor o testemunho de ser a luz ou o sal do mundo, senão somente à Sua Igreja. Ninguém mais tem a Sua aprovação divina, senão apenas aqueles que Lhe pertencem.
E isto está de acordo com o testemunho que o próprio Esposo dá em relação à esposa a partir do verso 4 deste capitulo de Cantares.
A Igreja não é apenas formosa perante Ele como uma cidade santa, mas é também imponente como um forte exército com suas bandeiras, porque Ele mesmo é a força do Seu povo, e as bandeiras que a Sua Igreja eleva para serem vistas pelo mundo é a Sua Palavra, ou seja, a verdade (v. 4).
A busca da fé, o olhar espiritual que é dirigido pela Igreja a Cristo, leva-O a ficar perturbado, ou seja, comovido e enternecido por ela em Seu coração amoroso (v. 5 a).
A beleza da santidade da Igreja e a Sua grande fertilidade em produzir filhos espirituais para Ele como Esposo amado O encantam (v. 5 b, 6, 7).
São inúmeros os que professam amar a Cristo e conhecê-lO, mas ninguém O conhece senão somente a Sua Igreja (v. 7 a 9).

“Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece plenamente o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece plenamente o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar.” (Mt 11.27)

O Senhor define a Sua Igreja como um forte exército, que tem a missão de fazer brilhar a Sua luz, no mundo de trevas (v. 10).
E tem sido plantada por Ele para frutificar (v. 11).
Se Igreja se permitir por algum momento ser dirigida pelas emoções, pelos sentimentos, pela vontade de sua alma (ego), e seguir após a carruagem do mundo que a afastará da presença do Seu Esposo e dos Seus irmãos amados (v. 12), Eles clamarão pelo Seu retorno para que esteja ao alcance da vista deles, ou seja, da sua presença (v. 13).



Cantares 7

“1 Quão formosos são os teus pés nas sandálias, ó filha de príncipe! Os contornos das tuas coxas são como jóias, obra das mãos de artista.
2 O teu umbigo como uma taça redonda, a que não falta bebida; o teu ventre como montão de trigo, cercado de lírios.
3 Os teus seios são como dois filhos gêmeos da gazela.
4 O teu pescoço como a torre de marfim; os teus olhos como as piscinas de Hesbom, junto à porta de Bate-Rabim; o teu nariz é como torre do Líbano, que olha para Damasco.
5 A tua cabeça sobre ti é como o monte Carmelo, e os cabelos da tua cabeça como a púrpura; o rei está preso pelas tuas tranças.
6 Quão formosa, e quão aprazível és, ó amor em delícias!
7 Essa tua estatura é semelhante à palmeira, e os teus seios aos cachos de uvas.
8 Disse eu: Subirei à palmeira, pegarei em seus ramos; então sejam os teus seios como os cachos da vide, e o cheiro do teu fôlego como o das maçãs,
9 e os teus beijos como o bom vinho para o meu amado, que se bebe suavemente, e se escoa pelos lábios e dentes.
10 Eu sou do meu amado, e o seu amor é por mim.
11 Vem, ó amado meu, saiamos ao campo, passemos as noites nas aldeias.
12 Levantemo-nos de manhã para ir às vinhas, vejamos se florescem as vides, se estão abertas as suas flores, e se as romanzeiras já estão em flor; ali te darei o meu amor.
13 As mandrágoras exalam perfume, e às nossas portas há toda sorte de excelentes frutos, novos e velhos; eu os guardei para ti, ó meu amado.”

Dos versos 1 a 9 o Esposo descreve as belezas e virtudes da Sua esposa; e dos versos 10 a 13, a esposa fala da estima mútua pelo Esposo e o convida a desfrutar com ela do amor que sentem um pelo outro; porque o verdadeiro amor, é afinal, uma propriedade de ambos.
A igreja que honra a Cristo é por Ele honrada. Ele não poderá elogiar aquilo que for reprovável na Sua Esposa, mas não deixará de reconhecer e louvar aquilo que for aprovado, como podemos ver nas Suas palavras dirigidas às sete igrejas citadas nos capítulos 2 e 3 de Apocalipse.
O Senhor manifestará sempre o Seu agrado pelos crentes que Lhe forem fiéis, e lhes fará saber disso, porque não o fará somente para incentivá-los para prosseguirem na busca de uma santidade cada vez maior, mas principalmente porque é do Seu agrado fazê-lo, para demonstrar o quanto aprecia o amor deles por Ele.
Amor demonstrado na frutificação e na reserva deste frutos para o Seu Esposo, como se vê nos dois versículos finais deste capitulo, porque não podemos convidar Cristo a compartilhar do Seu amor conosco, se não tivermos em nós nenhum fruto espiritual para Lhe oferecer.

“11 Porque desejo muito ver-vos, para vos comunicar algum dom espiritual, a fim de que sejais fortalecidos;
12 isto é, para que juntamente convosco eu seja consolado em vós pela fé mútua, vossa e minha.” (Rom 1.11,12)

Pelos versículos destacados anteriormente, nós podemos ver que é uma grande forma de demonstrar amor por Cristo, quando compartilhamos mutuamente os dons espirituais que recebemos dEle, com os nossos irmãos.

“34 Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai. Possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;
35 porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me acolhestes;
36 estava nu, e me vestistes; adoeci, e me visitastes; estava na prisão e fostes ver-me.
37 Então os justos lhe perguntarão: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber?
38 Quando te vimos forasteiro, e te acolhemos? ou nu, e te vestimos?
39 Quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos visitar-te?
40 E responder-lhes-á o Rei: Em verdade vos digo que, sempre que o fizestes a um destes meus irmãos, mesmo dos mais pequeninos, a mim o fizestes.” (Mt 25.34-40)

Cristo fará aumentar cada vez mais o brilho destes que Lhe têm servido fielmente, porque Lhe agrada manifestar quanto é grande o Seu agrado pela igreja que Lhe seja fiel, e faz com que outros vejam tal brilho, que traz muita glória para o Seu próprio nome e para Deus Pai.

“8 Conheço as tuas obras (eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, que ninguém pode fechar), que tens pouca força, entretanto guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome.
9 Eis que farei aos da sinagoga de Satanás, aos que se dizem judeus, e não o são, mas mentem, eis que farei que venham, e adorem prostrados aos teus pés, e saibam que eu te amo.” (Apo 3.8,9)

Isto sucede porque o desejo da Igreja fiel é revelar ao mundo o amor mútuo que existe entre ela e Cristo, e por isso ela convida o Esposo a vir em sua companhia às aldeias, ou seja, a capacitá-la a proclamar o evangelho do modo como Ele lhe tem ordenado.

“E disse-lhes: Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura.” (Mc 16.15)



Cantares 8

“1 Ah! quem me dera que foras como meu irmão, que mamou os seios de minha mãe! quando eu te encontrasse lá fora, eu te beijaria; e não me desprezariam!
2 Eu te levaria e te introduziria na casa de minha mãe, e tu me instruirias; eu te daria a beber vinho aromático, o mosto das minhas romãs.
3 A sua mão esquerda estaria debaixo da minha cabeça, e a sua direita me abraçaria.
4 Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, que não acordeis nem desperteis o amor, até que ele o queira.
5 Quem é esta que sobe do deserto, e vem encostada ao seu amado? Debaixo da macieira te despertei; ali esteve tua mãe com dores; ali esteve com dores aquela que te deu à luz.
6 Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço; porque o amor é forte como a morte; o ciúme é cruel como o Seol; a sua chama é chama de fogo, verdadeira labareda do Senhor.
7 As muitas águas não podem apagar o amor, nem os rios afogá-lo. Se alguém oferecesse todos os bens de sua casa pelo amor, seria de todo desprezado.
8 Temos uma irmã pequena, que ainda não tem seios; que faremos por nossa irmã, no dia em que ela for pedida em casamento?
9 Se ela for um muro, edificaremos sobre ela uma torrezinha de prata; e, se ela for uma porta, cercá-la-emos com tábuas de cedro.
10 Eu era um muro, e os meus seios eram como as suas torres; então eu era aos seus olhos como aquela que acha paz.
11 Teve Salomão uma vinha em Baal-Hamom; arrendou essa vinha a uns guardas; e cada um lhe devia trazer pelo seu fruto mil peças de prata.
12 A minha vinha que me pertence está diante de mim; tu, ó Salomão, terás as mil peças de prata, e os que guardam o fruto terão duzentas.
13 Ó tu, que habitas nos jardins, os companheiros estão atentos para ouvir a tua voz; faze-me, pois, também ouvi-la:
14 Vem depressa, amado meu, e faze-te semelhante ao gamo ou ao filho da gazela sobre os montes dos aromas.”

Os afetos entre Cristo e a Sua esposa são vivamente representados neste último capítulo de Cantares.
A esposa continua a demonstrar o grande desejo que sente pelo Esposo, tão ardente a ponto de conjurar as filhas de Jerusalém a não interromperem a sua comunhão com Ele.
Tal é a intensidade do amor que ela Lhe devota que outros percebem o quanto está ligada ao Seu Amado, mesmo quando anda com Ele no deserto (v. 5 a).
E a razão de tal união, de tal comunhão é descrita nos versos 6 e 7:

“6 Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço; porque o amor é forte como a morte; o ciúme é cruel como o Seol; a sua chama é chama de fogo, verdadeira labareda do Senhor.
7 As muitas águas não podem apagar o amor, nem os rios afogá-lo. Se alguém oferecesse todos os bens de sua casa pelo amor, seria de todo desprezado.”

Haveria um modo mais profundo de descrever a qualidade do amor que une Cristo à Sua Igreja?
É um amor de zelo, que não permite ser dividido com outros, porque é um amor matrimonial de que se está falando, e não pode lhe faltar a devida fidelidade, que é para toda a vida, de modo que este amor que une mutuamente a Igreja e Cristo é qual chama de fogo, não de um fogo pequeno, mas de grandes labaredas, que nenhuma quantidade de água usada pelos homens, e até mesmo peio diabo, pode apagar. E tal é a força deste amor que ele vence a morte, porque todo aquele que está em Cristo já não morre, e estará unido a ele para sempre.
Então nada há de mais valioso do que tal amor que nos tem unido indissoluvelmente ao nosso Esposo, que é Cristo.
Por isso nenhum crente trocaria as riquezas de todo este mundo, e ainda que todos os reinos lhe fossem oferecidos em troca de renunciar a tal amor, ele jamais o faria, porque sabe que tudo que há no mundo não somente não é eterno, como também não pode dar verdadeira satisfação à alma, como somente o amor de Cristo pode dar. Por isso se diz que aquele que tentasse comprar este amor do crente por Cristo oferecendo os bens de sua casa em troca, seria totalmente rejeitado e desprezado pelo crente fiel a Cristo, ao qual fizesse tal oferta.
Tal é o caráter do amor que deve haver na Igreja como reflexo do amor do próprio Cristo, que o que for fraco deve ser fortalecido pelo forte; a igreja que estiver fraca e empobrecida será fortalecida e enriquecida pelos dons abundantes da igreja que estiver fortalecida e enriquecida com a graça de Cristo.
Haverá este interesse mútuo entre os irmãos, como se vê nos versos 8 a 10. Porque estes crentes ou igrejas fracos e pobres serão cercados de cuidados pelas igrejas fortes e ricas como é do desejo do Esposo, para que haja igualdade entre todos os membros do Seu corpo.

“13 Pois digo isto não para que haja alívio para outros e aperto para vós,
14 mas para que haja igualdade, suprindo, neste tempo presente, na vossa abundância a falta dos outros, para que também a abundância deles venha a suprir a vossa falta, e assim haja igualdade;
15 como está escrito: Ao que muito colheu, não sobrou; e ao que pouco colheu, não faltou.” (II Cor 8.13-15)

Nos versos 11 e 12, o rei Salomão é posto como figura do Rei dos reis que arrenda a Sua vinha para que tenha o devido lucro dos frutos que forem produzidos nela. Conforme se vê na Parábola citada por Jesus em Mt 21:

“33 Ouvi ainda outra parábola: Havia um homem, proprietário, que plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar, e edificou uma torre; depois arrendou-a a uns lavradores e ausentou-se do país.
34 E quando chegou o tempo dos frutos, enviou os seus servos aos lavradores, para receber os seus frutos.” (Mt 21.33,34)

Deus requer que Sua Igreja seja frutífera, para que receba dela os devidos frutos que deve produzir para Ele.

Frutificando para Cristo, teremos um desejo permanente da Sua presença para que possamos Lhe dar os frutos que temos produzido pela Sua própria graça, e assim como todos os demais santos, desejamos ouvir a Sua voz, tal como eles (v. 13), e por isso clamamos Àquele que habita nos jardins, porque é ali que poderá achar os Seus frutos, para que venha depressa ao nosso encontro, porque é o Amado da nossa alma, sem O qual a nossa vida não tem qualquer objetivo ou sentido (v. 14).





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