sábado, 17 de outubro de 2015

Gálatas 1 a 6

Gálatas 1

As Credenciais do Apostolado de Paulo (Gál 1 – P 1)

“1 Paulo, apóstolo (não da parte dos homens, nem por homem algum, mas por Jesus Cristo, e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos),
2 E todos os irmãos que estão comigo, às igrejas da Galácia:
3 Graça e paz da parte de Deus Pai e do nosso Senhor Jesus Cristo,
4 O qual se deu a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau, segundo a vontade de Deus nosso Pai,
5 Ao qual seja dada glória para todo o sempre. Amém.” (Gál 1.1-5)

Nestes versos relativos ao prefácio e à introdução da epístola aos Gálatas, nós vemos que havia algumas pessoas entre os gálatas que estavam se esforçando para minar o caráter e a autoridade apostólica de Paulo, então não é nada surpreendente encontrá-lo afirmando que não fora constituído apóstolo pela vontade de qualquer homem, mas diretamente pelo próprio Senhor Jesus.

Ele fora chamado por Deus para o exercício deste elevado ofício por uma chamada especial do céu, de modo que a sua qualificação para o apostolado não viera do desígnio, nem da mediação de homens, mas recebera esta comissão da parte de Deus para dar um testemunho público de Cristo e do Seu evangelho.
Havia várias igrejas na região da Galácia, conforme nós podemos ver na citação das localidades evangelizadas por Paulo em sua primeira viagem missionária (Perge, Listra, Icônio, Derbe e Antioquia da Psídia, dentre outras).
Os gálatas haviam sido evangelizados na primeira viagem missionária de Paulo.
Grato por tão grande amor de Deus por nós que O levou a dar o Seu próprio Filho para nos libertar do horror eterno, e pelo fato de nosso Senhor Jesus Cristo ter efetivamente obedecido à vontade do Pai, entregando-se por nós, o apóstolo Paulo prorrompeu num grande louvor e gratidão ao Senhor dizendo no verso 5:
“Ao qual seja dada glória para todo o sempre. Amém.”.
E assim como o livramento é eterno, a glória tributada a Deus deve ser portanto também eterna.


Há Somente um Evangelho (Gál 1 – P 2)

“6 Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho;
7 O qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo.
8 Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema.
9 Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema.”  (Gál 1.6-9)

O apóstolo afirma a sua perplexidade diante da rápida apostasia dos gálatas do evangelho que ele lhes havia ensinado, para abraçarem aquilo que ele chama de um outro “evangelho”.
Paulo diz que eles haviam se afastado daquele que os havia chamado para serem alcançados pela graça de Cristo, e nisto não estava se referindo apenas a ele próprio que fora o instrumento da evangelização deles, mas a Deus, quem é que de fato chama eficazmente, pelo poder do Espírito Santo, os pecadores à salvação.
E a chamada à salvação consiste basicamente em se amar a Cristo em espírito, o que se comprova, segundo Ele, em se guardando os seus mandamentos (Jo 14.15), conforme revelados no evangelho (veja por exemplo o sermão do monte em Mateus 5 a 7).
A fé no evangelho é comprovada portanto pelo amor a Jesus Cristo.
É por este amor que atua pela fé, que multidão de pecados são perdoados.
Como Jesus disse da pecadora citada em Lc 7.47,48:

Luc 7:47 Por isso, te digo: perdoados lhe são os seus muitos pecados, porque ela muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama.
Luc 7:48 Então, disse à mulher: Perdoados são os teus pecados.

E o modo de permanecer no amor ao Senhor é pela prática da palavra do evangelho.
Não admira portanto, o grande empenho que o Inimigo faz para tentar desviar os cristãos desta verdade do evangelho.
Porque por este meio, ele os afastará da comunhão com o próprio Cristo (Jo 15.7,8).
Deste modo o apóstolo se refere no versículo 8 ao único, verdadeiro e imutável evangelho como sendo o que ele já havia anunciado aos gálatas.
Isto implica que a Palavra revelada do Novo Testamento é definitiva e inalterável.
Portanto, deixar o verdadeiro evangelho para abraçar um outro “evangelho” é negar aos pecadores o único poder que pode salvá-los, porque é pela verdade do evangelho que eles são salvos, de modo que não há nenhum outro poder designado por Deus para que os pecadores possam ser salvos dos seus pecados.
Assim toda doutrina pregada à igreja de Cristo, que oculte ou adultere o verdadeiro evangelho, conforme faziam os judaizantes nos dias de Paulo, faz com que os que pregam tal doutrina sejam achados culpados diante de Deus e sujeitos ao anátema que está proferido contra eles, porque o Senhor não pode abençoar aqueles que são contra Ele e o Seu ensino.


Pregar o Evangelho para a Glória de Deus (Gál 1 – P 3)

“10 Porque, persuado eu agora a homens ou a Deus? ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo.
11 Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens.
12 Porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo.
13 Porque já ouvistes qual foi antigamente a minha conduta no judaísmo, como sobremaneira perseguia a igreja de Deus e a assolava.
14 E na minha nação excedia em judaísmo a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais.
15 Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou, e me chamou pela sua graça,
16 Revelar seu Filho em mim, para que o pregasse entre os gentios, não consultei a carne nem o sangue,
17 Nem tornei a Jerusalém, a ter com os que já antes de mim eram apóstolos, mas parti para a Arábia, e voltei outra vez a Damasco.
18 Depois, passados três anos, fui a Jerusalém para ver a Pedro, e fiquei com ele quinze dias.
19 E não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor.
20 Ora, acerca do que vos escrevo, eis que diante de Deus testifico que não minto.
21 Depois fui para as partes da Síria e da Cilícia.
22 E não era conhecido de vista das igrejas da Judéia, que estavam em Cristo;
23 Mas somente tinham ouvido dizer: Aquele que já nos perseguiu anuncia agora a fé que antes destruía.
24 E glorificavam a Deus a respeito de mim.”  (Gál 2.10-24)


Os inimigos de Paulo faziam todo o possível para minar a reputação do apóstolo, que pregava o puro evangelho de Cristo aos gentios, e então ele se esforçou para demonstrar que eram divinas, tanto a sua missão quanto a doutrina que ele pregava e ensinava, de modo a rechaçar as acusações dos seus inimigos tanto contra ele quanto contra a sã doutrina, para que pudesse ser restaurada a confiança dos cristãos da Galácia no evangelho que havia sido pregado a eles.
No verso 10 deste primeiro capítulo de Gálatas Paulo faz duas indagações que são seguidas por uma afirmação conclusiva, como que sendo a resposta para a pergunta que havia feito anteriormente.
“Porque, persuado eu agora a homens ou a Deus? ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo.” (v. 10).
O verbo persuadir, peítho, no grego, tem o sentido de tentar alcançar o favor de alguém através de argumentos.
Assim, a primeira pergunta de Paulo tinha em vista levar os gálatas a refletirem que não era para alcançar o favor dos homens que ele pregava o evangelho, mas para agradar a de Deus que lhe havia separado e designado para o apostolado.
E na segunda pergunta o verbo usado é agradar, no grego, arésko, que significa provocar emoções, excitamento, alegria em alguém.
Daí a razão de não ter se referido a Deus nesta segunda pergunta, senão somente aos homens.
E assim nós aprendemos que a finalidade do evangelho não é produzir estas coisas nas pessoas.
O apóstolo diz que se ainda estivesse fazendo isto, a saber, agradando a homens, ele não poderia efetivamente servir a Cristo, cujo propósito em relação à pregação do evangelho não é este.
Por isso ele não moldou e nem mesmo poderia moldar a sua doutrina ao gosto das pessoas, com o fim de obter o afeto delas ou mesmo para evitar que ficassem ressentidas.
Afinal ele não estava buscando a aprovação dos homens mas a de Deus, por obedecer tudo quanto Ele lhe havia ordenado relativamente ao dever e modo de pregar o evangelho.
Paulo sabia que Jesus é o único caminho, e sair deste caminho estreito e único, significava conduzir seus ouvintes ao caminho amplo da perdição.

João 14:6 Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.

Os judaizantes estavam misturando a fé com as obras para a salvação, e a graça do evangelho com as exigências cerimoniais da lei, com o fim de escaparem das perseguições que teriam que enfrentar dos judeus, caso pregassem um evangelho que não se amoldasse ao gosto deles.
Paulo reforçou seu argumento dizendo aos gálatas que não havia recebido o seu evangelho por meio de qualquer homem, mas diretamente do próprio Cristo.
Como os judaizantes se gloriavam no conhecimento deles do judaísmo, Paulo relembrou aos Gálatas que eles sabiam como ele havia sobrepujado a muitos da sua idade no judaísmo, e como era extremamente zeloso da tradição religiosa que havia recebido dos seus pais, a ponto de ter sido um perseguidor implacável da Igreja.
O seu argumento se centralizava então no fato de que se fosse o caso seria muito mais cômodo para ele ter ministrado aos Gálatas o mesmo ensino dos judaizantes, e até mesmo de uma forma mais elevada do que a deles.
E se não o fizera, era então para eles refletirem no fato de que a doutrina que ele lhes havia ensinado era superior à que lhes estava sendo ministrada pelos judaizantes, e na verdade Paulo havia renunciado a ela, não às Escrituras do Antigo Testamento, mas ao falso ensino de que a salvação era consequência de se guardar toda a Lei de Moisés, inclusive a cerimonial, coisa que jamais foi ensinada por Deus nas Escrituras como sendo o caminho da salvação eterna.
A salvação é pela graça, mediante a fé, e somente isto. Nada mais.
E deste modo nós vemos Paulo revelando ao mesmo tempo duas coisas importantes, a primeira que ele era indigno como qualquer outra pessoa da salvação, porque todos são pecadores, e no seu caso havia a agravante de ter sido perseguidor da Igreja.
Mas como a salvação não é segundo o nosso mérito e obras, mas pelo Deus que ama de modo incondicional e segundo o exercício de pura graça e misericórdia, ele chamou Paulo pela Sua graça para ser apóstolo dos gentios, desde o ventre da sua mãe (v. 15).
Ele afirma que aprouve a Deus revelar Jesus nele, que fora perseguidor da igreja, para que O pregasse entre os gentios (v. 16).
Quando isto ocorreu, ele não consultou nenhum homem, nem voltou para Jerusalém para consultar os que já eram apóstolos antes dele, mas viajou de Damasco, onde havia se convertido, para a Arábia, tendo retornado a Damasco (v. 17).
Somente depois de terem decorrido três anos que ele se dirigiu a Jerusalém para se avistar com Pedro, tendo permanecido com ele quinze dias (v. 18), e não tinha visto nenhum outro apóstolo, senão Tiago, irmão do Senhor, segundo a carne, porque era também filho de Maria (v. 19).
Depois disto ele foi para a Síria e Cilícia (v. 21), e nesta ocasião não era conhecido de vista pelos cristãos da circuncisão, mas eles souberam que aquele que antes os perseguia, anunciava a fé que antes destruía (v. 23), e davam glória a Deus pela sua graça, longanimidade, amor e poder, manifestados na vida de Paulo (v. 24).
Deste modo, o apóstolo estava, pelo seu próprio testemunho, encorajando os Gálatas a confiarem na bondade, longanimidade e misericórdia de Deus para renová-los na graça da qual eles haviam se afastado, uma vez que havia lhes demonstrado como ele próprio havia sido salvo e eleito pelo Senhor para ser o apóstolo dos gentios desde o ventre de sua mãe.
O argumento aqui era o de que eles confiassem que a salvação é exclusivamente pela graça de Deus, e então havia a oportunidade para que fossem reconciliados com o Seu Senhor e Salvador, por causa do Seu grande amor e misericórdia.
Se Cristo havia se revelado não somente a ele, mas nele, que antes era perseguidor da Igreja, quanto mais não poderia ser favorável aos Gálatas que haviam sido enganados por falsos apóstolos, pastores e mestres, que falavam em nome de Cristo, mas com um evangelho totalmente diferente do verdadeiro evangelho, que se funda na graça de Deus, e não nas obras meritórias dos homens.
Nem, mesmo debaixo da autoridade dos apóstolos de Jerusalém, Paulo se encontrava, porque fora chamado pelo Senhor para ser apóstolo como eles, com a mesma autoridade deles, para ministrar aos gentios.
Por isso ele deixa registrado que foi ter com Pedro somente três anos depois de ter viajado para a Arábia e ter retornado a Damasco.
Isto implica que o evangelho que ele pregava era o mesmo evangelho que era pregado por Pedro e pelos demais apóstolos.



Gálatas 2

Nada Além do Evangelho para a Salvação (Gál 2 – P 1)

“1 Depois, passados catorze anos, subi outra vez a Jerusalém com Barnabé, levando também comigo Tito.
2 E subi por uma revelação, e lhes expus o evangelho, que prego entre os gentios, e particularmente aos que estavam em estima; para que de maneira alguma não corresse ou não tivesse corrido em vão.
3 Mas nem ainda Tito, que estava comigo, sendo grego, foi constrangido a circuncidar-se;
4 E isto por causa dos falsos irmãos que se intrometeram, e secretamente entraram a espiar a nossa liberdade, que temos em Cristo Jesus, para nos porem em servidão;
5 Aos quais nem ainda por uma hora cedemos com sujeição, para que a verdade do evangelho permanecesse entre vós.
6 E, quanto àqueles que pareciam ser alguma coisa (quais tenham sido noutro tempo, não se me dá; Deus não aceita a aparência do homem), esses, digo, que pareciam ser alguma coisa, nada me comunicaram;
7 Antes, pelo contrário, quando viram que o evangelho da incircuncisão me estava confiado, como a Pedro o da circuncisão
8 (Porque aquele que operou eficazmente em Pedro para o apostolado da circuncisão, esse operou também em mim com eficácia para com os gentios),
9 E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas, a graça que me havia sido dada, deram-nos as destras, em comunhão comigo e com Barnabé, para que nós fôssemos aos gentios, e eles à circuncisão;
10 Recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também procurei fazer com diligência.” (Gál 2.1-10).

Pelo relato que Paulo faz neste capítulo parece que os primeiros cristãos judeus mantiveram uma consideração à lei cerimonial, conforme testemunho que se dá do próprio Ananias a quem Paulo havia sido enviado no princípio quando se converteu, de quem se diz que era homem piedoso conforme a lei e que tinha bom testemunho dos judeus (At 22.12); mas os primeiros cristãos gentios viviam um cristianismo inteiramente independente da lei cerimonial de Moisés, conforme estavam sendo instruídos por Paulo que um gentio não necessitava viver como um judeu para que fosse salvo, porque o povo da Nova Aliança era um povo formado tanto por judeus quanto por gentios, porque em Cristo a barreira que os separava havia caído.
Antes, os gentios não tinham a Deus e eram estranhos às suas alianças, mas pela fé em Cristo estavam também sendo adotados como filhos de Deus e aproximados dEle somente pela fé, porque as bases que regiam a Nova Aliança, conforme promessa do próprio Deus seriam inteiramente diferentes das que regiam a Antiga (Jer 31.31-34).
Contudo, como entre os gentios havia também judeus, porque estes se encontravam espalhados pelo mundo desde o cativeiro  babilônico, muitos destes que se convertiam ao cristianismo se mantinham fiéis às tradições  do judaísmo, e portanto se revoltavam contra Paulo alegando que ele pregava um evangelho sem lei.
Porém, Paulo jamais pregou contra a importância da Lei para outros propósitos, como por exemplo nos levar ao conhecimento do pecado, e também da sua importância na nossa santificação, dentre outros usos que foram determinados para ela por Deus.
Então havia esta tensão entre a circuncisão e a incircuncisão nos primeiros anos do cristianismo.
Não pela existência de duas doutrinas diferentes, mas pela dificuldade que os judeus tinham em reconhecer que em Cristo a Lei cerimonial havia sido completamente revogada quanto à obrigatoriedade de seu cumprimento, inclusive pelos judeus.
No período do Antigo Testamento  todo gentio que quisesse fazer parte do povo de Deus, deveria ser circuncidado e se submeter a toda a Lei de Israel, tanto civil, quanto moral e  cerimonial, para que fosse aceito como um israelita.
Mas isto havia sido derrubado na Nova Aliança, ficando os gentios obrigados somente ao cumprimento da Lei moral, que é eterna e aplicável a todos os homens, de todas as épocas e lugares.

Contudo, em sua ignorância os judeus continuavam afirmando que os gentios deviam ser circuncidados e guardarem toda a Lei de Moisés, sem o quê não poderiam ser salvos (At 15.1,5).
Porém, Paulo reafirma a falsidade deste ensino dizendo aos Gálatas que ele havia dado o exemplo de não ter permitido que Tito, seu cooperador no ministério, não fosse circuncidado quando havia descido com ele a Jerusalém, de maneira que a verdade do evangelho que afirma que a justificação é independente das obras da Lei fosse mantida entre os gentios.
E o perigo não se encontrava no fato de que um gentio poderia se circuncidar ou não, porque os cristãos judeus continuavam circuncidando seus filhos. O perigo não era a circuncisão mas o fato de crer que alguém pode ser salvo e entrar no reino dos céus por meio da circuncisão do prepúcio.
Este sim era o grande perigo: afirmar um caminho de salvação diferente da graça mediante a fé, que sempre foi e será o caminho de salvação para qualquer pessoa, quer no passado, quer no presente, quer no futuro.
O problema era exatamente este.
E por isso Paulo se levantou com tanta veemência em defesa da verdade. Porque se a causa judaizante tivesse triunfado, muitas outras maneiras diferentes da verdade evangélica, para que os homens sejam salvos, estariam sendo pregadas pela própria igreja dos gentios.    
Por isso Paulo cita que retornara a Jerusalém quatorze anos depois de ter ali estado por quinze dias com Pedro (Gál 1.18), ocasião em que se fazia acompanhar de Barnabé e Tito.
Nós vemos que ele não havia ainda se separado de Barnabé, o que ocorreria não muito depois quando desse início à sua segunda viagem missionária, depois de ter retornado de Jerusalém a Antioquia da Síria.
Ele desceu a Jerusalém para defender a doutrina da justificação pela fé.
Ao se referir a Tito que era um grego que havia se convertido ao cristianismo, e agora um pastor de pastores, porque seria a ele que Paulo encarregaria de organizar a igreja em Creta no futuro, o apóstolo quis dar um recado muito claro aos Gálatas que eles não deveriam se deixar persuadir com a idéia de que deviam se circuncidar para serem salvos, conforme lhes haviam ensinado os judaizantes, aqueles judeus aferrados à Lei, mas sem discernimento nos assuntos relativos à salvação dos pecadores.
Porque ele, Paulo, não havia se deixado persuadir pelos argumentos daqueles que haviam se levantado contra ele em Jerusalém, de modo que a causa da justificação pela graça, mediante a fé, havia triunfado, conforme reconhecimento dos apóstolos e presbíteros da Igreja de Jerusalém, conforme se vê no parecer  final que havia sido expedido pelo apóstolo Tiago naquela ocasião em que a igreja, os apóstolos e pastores se reuniram em Jerusalém, conforme narrativa de Atos 15.
É muito importante que destaquemos que esta ida de Paulo a Jerusalém foi em razão de uma revelação direta que ele recebera de Deus para proceder tal defesa da graça, conforme se vê no verso 2, e sem esta revelação ele não teria ido lá.
Ele foi portanto em obediência à vontade do Senhor para firmar de uma vez para sempre o ensino relativo ao modo da nossa salvação.
Paulo não condenou a circuncisão em si mesma. Nem por palavra nem por ação ele foi contra a circuncisão. Mas ele protestou contra a circuncisão que é feita como sendo uma condição para a salvação.
Ele citou o caso dos patriarcas de Israel. Eles não foram  justificados através da circuncisão. Ela era apenas um sinal e selo da justiça. Eles viam a circuncisão como uma confissão da fé deles.


A Defesa do Evangelho Verdadeiro (Gál 2 – P 2)

“11 E, chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível.
12 Porque, antes que alguns tivessem chegado da parte de Tiago, comia com os gentios; mas, depois que chegaram, se foi retirando, e se apartou deles, temendo os que eram da circuncisão.
13 E os outros judeus também dissimulavam com ele, de maneira que até Barnabé se deixou levar pela sua dissimulação.
14 Mas, quando vi que não andavam bem e direitamente conforme a verdade do evangelho, disse a Pedro na presença de todos: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?
15 Nós somos judeus por natureza, e não pecadores dentre os gentios.
16 Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada.
17 Pois, se nós, que procuramos ser justificados em Cristo, nós mesmos também somos achados pecadores, é porventura Cristo ministro do pecado? De maneira nenhuma.
18 Porque, se torno a edificar aquilo que destruí, constituo-me a mim mesmo transgressor.
19 Porque eu, pela lei, estou morto para a lei, para viver para Deus.
20 Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim.
21 Não aniquilo a graça de Deus; porque, se a justiça provém da lei, segue-se que Cristo morreu debalde.” (Gál 2.11-21).

Para dar um maior peso ao que já havia dito anteriormente, para fortalecer os Gálatas contra as insinuações dos falsos mestres judaizantes, Paulo passou a narrar o que ocorrera na visita que Pedro e alguns cristãos da circuncisão haviam feito a ele em Antioquia.
Antioquia era na ocasião uma das principais igrejas dos gentios. E Paulo diz que resistiu a Pedro face a face diante de toda a congregação porque era repreensível no que havia feito.
Ele não agira como os falsos mestres judaizantes que estavam falando contra ele com os Gálatas pelas costas, sem terem a coragem de enfrentá-lo na face porque as suas consciências os condenavam e eles sabiam que não tinham argumentos verdadeiros para sustentar contra o apóstolo.
Paulo está dizendo então que não havia falado mal de Pedro pelas suas costas quanto ao que ele havia feito de errado contra a verdade do evangelho, mas que lhe havia resistido franca e abertamente.
Na antiga dispensação (do Velho Testamento) era vedado aos israelitas comerem na companhia de gentios porque estes não eram circuncidados, e apenas Israel era considerado o povo de Deus naquele período.
Mas em Cristo caiu a barreira de separação, de maneira que não era mais vedado a qualquer judeu comer na companhia dos gentios.
Portanto, qual foi o erro de Pedro?
Não foi o de estar comendo na companhia dos cristãos não circuncidados de Antioquia, porque eram gentios, mas o de ter dissimulado que estava comendo com eles quando chegou uma embaixada de cristãos de Jerusalém que eram aferrados à idéia da necessidade da circuncisão, mesmo dos cristãos gentios.
Com isto, ele estava sinalizando, ainda que indiretamente, que assumia a importância da circuncisão para a salvação, e para alguém ser considerado como parte integrante do povo de Deus.
E certamente isto não correspondia à verdade do evangelho, que afirma que uma pessoa é salva somente pela graça, mediante a fé.  
E Paulo demonstrou então aos Gálatas que o que se encontrava na atitude de Pedro não era uma questão de somenos importância, mas o coração mesmo da verdade do Evangelho, que é a doutrina da justificação somente pela graça e mediante a fé.
E havia um agravante na atitude de Pedro, porque depois da repreensão que ele havia recebido do Senhor, com a visão do grande lençol, quando lhe foi ordenado que se dirigisse à casa do centurião romano chamado Cornélio, tudo indica que Pedro havia sido curado do seu sentimento preconceituoso contra os gentios, de maneira que tendo entendido que em Cristo haviam caído as obrigações da Lei cerimonial, que ele próprio veio a chamar de “jugo que nem nossos pais nem nós pudemos suportar” (At 15.10).
Estas palavras e as de Paulo em relação a Pedro (Gál 2.14) de que este apesar de ser um judeu vivia como um gentio, bem comprovam que ele havia deixado para trás os costumes do judaísmo e quem via Pedro, via mais um gentio do que um judeu. Então Paulo se referiu à contradição que havia nele, de exigir pelo seu comportamento que os gentios vivessem como judeus, quando ele próprio já não vivia debaixo daqueles costumes que identificavam os judeus como tais.
Assim, aquele erro foi uma tentação que lhe sobreveio na ocasião, e na qual caiu em face de se sentir pressionado psicologicamente por aqueles judeus que haviam chegado de Jerusalém.
Não era insensato e errado voltar à Lei e esperar ser justificado pelo mérito de boas obras ou qualquer sacrifício ou purificação cerimonial?
E se era errado que os judeus, que por natureza não eram considerados estranhos para Deus como os demais pecadores gentios, se voltarem para a Lei buscando serem justificados dos seus pecados, quanto mais não seria errado requerer isto dos gentios?
Para dar maior peso ao seu ensino Paulo acrescentou no verso 17 que: “Pois, se nós, que procuramos ser justificados em Cristo, nós mesmos também somos achados pecadores, é porventura Cristo ministro do pecado? De maneira nenhuma.”.
O que ele está dizendo é que a justificação nos salva mas não é um passe livre para que possamos pecar, uma vez que se diz que não são exigidas as obras da lei para a justificação.
Assim os que querem afirmar a necessidade da Lei para a justificação e para a santificação e bom testemunho de vida, alegando que é exigido afinal por Deus em sua Palavra, erram não no que dizem em relação à santificação, mas no que dizem quanto à justificação que realmente é somente por graça mediante a fé.
Mas se eles querem e exigem, como de fato deve se exigir testemunho de vida em boas obras, eles devem saber que Cristo não é ministro do pecado, senão de completa pureza e santidade de vida.
E os que são justificados o são exatamente para que se cumpra o propósito de santificação completa de suas vidas.
O que, a propósito não pode ser alcançado de fato, caso o homem não seja antes justificado e regenerado.  
Uma obra espiritual como esta é algo que pode ser realizado somente por Deus, pelo Seu Espírito, e jamais pelo próprio poder do homem.
As obras da Lei que os judaizantes afirmavam como necessárias para a justificação não poderiam jamais atingir tal propósito por causa da fragilidade e pecaminosidade da natureza terrena.
Se a justificação pudesse ser alcançada por obras da Lei Cristo não precisaria ter morrido pelos pecadores. Ele teria morrido em vão, já que o próprio homem poderia ser justificado pelo seu próprio e exclusivo esforço em guardar a Lei de Deus.
Somente a justificação verdadeira, que é pela graça, pode transformar o coração do pecador e inserir nele um novo princípio espiritual de vida que o levará a detestar o pecado e desejar se consagrar inteiramente a Deus.
A Lei é boa, santa, e justa, mas não justifica.
Calvino disse que nós não podemos acrescentar com nenhuma das nossas boas obras de justiça, mesmo que sejamos cristãos, um só milímetro à justiça perfeita de Jesus Cristo que recebemos somente pela graça e mediante a fé.
Spurgeon acrescentou que, sendo cristãos, nós não teremos no céu uma justiça mais perfeita do que a que temos aqui na terra. A obra que Jesus realizou na cruz foi plenamente consumada de maneira que não necessita que nada mais lhe seja acrescentado para a nossa salvação.
A justiça que recebemos dEle na conversão é suficiente para nos dar o céu, porque ela é perfeita em todos os aspectos necessários para satisfazer as demandas da própria justiça de Deus em relação a nós.
De maneira que a justiça que é implantada em nós pelo Espírito Santo, através da prática das nossas boas obras não acrescenta nenhum mérito a nós de forma que possamos nos tornar mais merecedores do amor de Deus. Ele nos tem amado incondicionalmente por causa de Cristo.
Ele nos tem recebido incondicionalmente e sempre nos receberá, sempre e sempre, por causa dos méritos de Cristo e nunca pelos nossos próprios méritos.
Nós poderemos agradá-lo ou desagradá-lo, respectivamente, pela prática, ou não prática, das boas obras, mas não será pela aprovação ou pela reprovação que nós acrescentaremos ou perderemos um só côvado da justiça perfeita que recebemos de Cristo na nossa justificação.
Nós O amamos, amamos a Sua Palavra, amamos a santificação, e é isto que é tido em conta em nosso favor, superando as nossas limitações e fraquezas, porque o amor cobre multidão de pecados.
Esta veste com a qual fomos vestidos está perfeita e nada deve lhe ser acrescentado ou retirado.
O nosso aperfeiçoamento espiritual não significa o aperfeiçoamento desta justiça que nos foi atribuída na conversão.
Nós crescemos espiritualmente, nós desenvolvemos a nossa salvação com temor e tremor, mas nada disto nos tornará mais filhos de Deus do que já somos pela simples fé em Cristo.
Por isso o Evangelho é retratado na experiência do filho pródigo da parábola narrada por Jesus Cristo. Ele foi recebido de braços abertos pelo Pai porque era filho.
Ele tinha a justiça perfeita que livra de toda condenação e foi isto que o habilitou a ser recebido daquela maneira, porque tinha a justiça perfeita de Cristo, foi adotado como filho de Deus, e aqueles que são Seus filhos podem desfrutar inteiramente do Seu amor.
Esta é a grande e essencial diferença entre o Evangelho e a Lei.
Daí se dizer que em Cristo, todos os cristãos se encontram aperfeiçoados, diante de Deus, quanto a esta justiça perfeita que receberam pela fé, ainda que possam não estarem ainda aperfeiçoados em seu amadurecimento espiritual, que será realizado pelo processo da santificação do Espírito mediante a Palavra de Deus, conforme se afirma em textos como Col 2.10; Hb 7.19, 25; 10.1, 14; 12.23.







Gálatas 3

O Poder da Graça Opera pelo Evangelho (Gál 3 – P 1)

“1 Ó Insensatos gálatas! quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi exposto crucificado, entre vós?
2 Só quisera saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé?
3 Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne?
4 Será em vão que tenhais padecido tanto? Se é que isso também foi em vão.
5 Aquele, pois, que vos dá o Espírito, e que opera maravilhas entre vós, fá-lo pelas obras da lei, ou pela pregação da fé?” (Gál 3.1-5).

O apóstolo interrompeu o seu discurso sobre a justificação que havia iniciado na parte final do capítulo anterior, para repreender os gálatas chamando-os de insensatos, por terem permitido ser fascinados para abraçarem um falso evangelho que  obscurecia e  negava a doutrina da justificação pela graça mediante a fé.
É dever de todo pastor cristão disciplinar as pessoas sobre as quais foi constituído pelo Espírito como líder de suas almas à verdade.
Então Paulo primeiramente os reprovou para em seguida se esforçar para lhes convencer, pela evidência da verdade.
E este é o método correto, quando nós reprovamos alguém por uma falta ou erro, porque necessitamos convencê-lo quanto ao que é o erro que cometeu.
E o apóstolo destaca que o erro dos gálatas não consistiu simplesmente em terem se colocado debaixo do jugo da Lei cerimonial, mas terem desobedecido à verdade.
Isto revela que não é suficiente saber a verdade e dizer que nós cremos nela, mas nós temos também que obedecê-la. Nós temos que nos submeter à verdade e praticá-la.
Nós podemos inferir do verso 1 que aqueles que estão espiritualmente encantados, que mesmo que a verdade em Jesus esteja claramente diante deles, ela não será obedecida.
Deste modo, é importante evitar todo tipo de fascínio espiritual que opere no sentido de nos separar da verdade que está em Cristo.
Nós temos aqui um exemplo característico das coisas ruins que sucedem a cristãos individualmente e mesmo a congregações inteiras.
A graça não transforma um cristão instantaneamente, em nova criatura perfeita, porque restos de corrupção permanecem na velha natureza.
O Espírito Santo não pode vencer imediatamente  a deficiência humana.
A santificação leva tempo.
Paulo disse que Jesus havia sido exposto crucificado, diante dos gálatas, isto é, a doutrina da cruz tinha sido pregada a eles.
A morte vicária de Cristo tinha sido ensinada a eles como o fundamento da nossa salvação porque o pecador necessitava que alguém morresse no seu lugar, em face da sua completa insuficiência e incapacidade para operar a sua própria salvação em razão principalmente da dívida de pecados que não pode ser liquidada eternamente pelos homens, ainda que sofrendo um castigo eterno.
E o que fizeram os gálatas?
Eles abandonaram esta doutrina e abraçaram em seu lugar a doutrina da salvação pelas suas próprias obras.
Isto não era uma tremenda insensatez?
Isto não poderia ser explicado senão somente como sendo o resultado de um fascínio diabólico?
Por isso Paulo os chamou de insensatos e encantados, porque haviam permitido que fossem persuadidos pelo encantamento de Satanás através dos seus falsos profetas, pastores e mestres.
Satanás é astuto. Ele não somente encanta os homens de uma maneira crua, como também de  uma maneira sutil.
Ele maltrata as mentes dos homens com falácias horrorosas.
Não há ninguém entre nós que não tenha sido seduzido alguma vez por Satanás em falsas convicções sobre o evangelho.
Mas os ataques da velha Serpente não são sem lucro a nós, porque eles confirmam nossa doutrina e fortalecem nossa fé em Cristo.
Assim não devemos pensar que apenas os gálatas foram os únicos a serem fascinados pelo diabo.
Conseqüentemente nos é ordenado que estejamos revestidos de toda a armadura de Deus para resistir aos principados e potestades, e a vigiar em todo o tempo, de maneira que não sejamos também seduzidos pelo Inimigo de nossas almas.
Com a pergunta: “Quem vos fascinou”, Paulo  desculpa os gálatas, ao mesmo tempo em que culpa os falsos apóstolos que lhes haviam conduzido à apostasia.
É como se ele estivesse dizendo: “eu sei que a apostasia de vocês não foi voluntária. O diabo enviou falsos apóstolos a vocês, e eles lhes ensinaram que vocês deveriam crer que somente poderão ser justificados pela Lei. Então, com esta nossa epístola nós pretendemos desfazer o dano que os falsos apóstolos produziram em vocês.”.
Como o diabo tem esta habilidade misteriosa de nos fazer crer numa mentira a ponto de jurarmos mil vezes que ela seja a verdade, nós não deveríamos então ser orgulhosos, mas estar em temor e humildade diante de Deus, e clamar por nosso Senhor Jesus Cristo para não nos deixar cair em tentação.
Para provar a insensatez dos gálatas em terem renunciado à doutrina que lhes havia sido pregada e ensinada, Paulo se vale do argumento de que eles tinham recebido o Espírito Santo simplesmente pela fé na doutrina que lhes havia sido pregada de que a salvação é obtida exclusivamente pela graça.
Isto não era uma prova suficiente para eles de que o Evangelho que Paulo lhes havia pregado era a verdade?
As suas palavras não os levaram a receber o Espírito prometido?
A presença do Espírito Santo neles não era a assinatura de aprovação da verdade da Palavra que lhes havia sido pregada?  
Não foi também debaixo da doutrina da graça que Deus havia feito tantas maravilhas entre eles?
E a pregação desta verdade não lhes trouxe sofrimentos por conta das perseguições, tribulações, aflições que experimentaram e que visavam ao aperfeiçoamento espiritual deles?  (v. 4).
Deus fizera todas estas coisas neles e entre eles sem nenhum ensino sobre salvação pelas obras da Lei, senão somente pelo Evangelho que eles haviam abraçado, a saber da salvação pela graça, mediante a fé, e como é que eles estavam renunciando à Palavra da verdade que estava produzindo tais operações reais e celestiais entre eles?
Isto não ocorrera afinal  porque foram fascinados e não agiram com sabedoria divina, senão com insensatez carnal?
Não foi por crerem em justificação por obras da Lei que Deus havia operado entre eles, e como poderiam então ter apostatado da verdade?
Se era o Espírito Santo que estava produzindo novo nascimento e santificação neles, como poderiam tentar aperfeiçoar a sua vida espiritual pela simples observância da Lei cerimonial, e segundo a própria capacidade deles em cumprir a Lei.
Eles estavam intentando fazer pela carne aquilo que somente pode ser produzido pelo Espírito, porque sem estar debaixo da instrução, da direção e do poder do Espírito, não é possível guardar de fato os mandamentos de Deus, e não haverá nenhuma transformação espiritual que nos conduza a uma semelhança cada vez maior com Cristo.
Por isso o apóstolo disse que eles haviam começado no Espírito mas estavam tentando se aperfeiçoar pela carne (v. 3).
Estavam tentando aperfeiçoar o velho homem, a velha natureza decaída no pecado que a Bíblia chama de carne. Quando Cristo veio para crucificar em nós esta natureza e nos revestir de uma inteiramente nova e celestial.

A Justificação é Somente pela Fé no Evangelho (Gál 3 – P 2)

“6 Assim como Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça.
7 Sabei, pois, que os que são da fé são filhos de Abraão.
8 Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti.
9 De sorte que os que são da fé são benditos com o cristão Abraão.
10 Todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las.
11 E é evidente que pela lei ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá da fé.
12 Ora, a lei não é da fé; mas o homem, que fizer estas coisas, por elas viverá.
13 Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro;
14 Para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios por Jesus Cristo, e para que pela fé nós recebamos a promessa do Espírito.
15 Irmãos, como homem falo; se a aliança de um homem for confirmada, ninguém a anula nem a acrescenta.
16 Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às descendências, como falando de muitos, mas como de um só: E à tua descendência, que é Cristo.
17 Mas digo isto: Que tendo sido a aliança anteriormente confirmada por Deus em Cristo, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois, não a invalida, de forma a abolir a promessa.
18 Porque, se a herança provém da lei, já não provém da promessa; mas Deus pela promessa a deu gratuitamente a Abraão.” (Gál 3.6-18).

Paulo disse aos gálatas e o diz a nós, que o Espírito Santo foi dado para salvar, santificar e operar milagres pela graça e não pelas obras da Lei.
O que aconteceu à igreja da Galácia ensejou a escrita desta epístola para a advertência dos cristãos e igrejas de todas as épocas, para que vigiemos intensamente para não incorrermos no mesmo erro deles, por abandonarmos verdades reveladas por Deus no Evangelho para abraçar falsas doutrinas inventadas por homens e por demônios.
Por isso, se somos dignos de repreensão, submetamo-nos humildemente a ela e nos apressemos em retornar à verdade da qual possivelmente tenhamos nos desviado por persuasões e argumentações meramente humanas, e baseadas em palavras de sabedoria deste mundo, e não das que provêm do céu, e que foram registradas na Bíblia.
A partir do verso 6 nós vemos então o apóstolo, depois de ter repreendido os gálatas, esforçando-se para expor-lhes de novo a doutrina que eles haviam rejeitado, e da qual certamente já deviam estar esquecidos.
E ele fez isto de diversas maneiras: primeiro usando o argumento que havia sido justificado pela fé o próprio Abraão, que era o grande patriarca de todos os judeus, e designado como o  pai de todos os cristãos em todas as nações, por conta da promessa que Deus lhe fizera, em razão de que se proveria de muitos filhos através daquele que descenderia dele segundo a carne, a saber o Senhor Jesus Cristo.
Paulo diz que os cristãos são filhos de Abraão (v. 7), não segundo a carne, mas segundo a promessa, e por conseguinte, eles são justificados da mesma maneira que o patriarca havia sido.
O apóstolo identifica a promessa que havia sido feita por Deus a Abraão de abençoar na sua descendência todas  as nações da terra (Gên 12.3), como um prenúncio da justificação pela fé, isto é, Deus fizera naquela ocasião a Abraão a promessa do Evangelho (v..8), muitos séculos antes do evangelho ter sido manifestado e cumprido em Jesus Cristo.
Consequentemente, o resultado da fé nesta promessa é bênção para todo o que crê, assim como o próprio Abraão havia sido abençoado sendo justificado pela sua fé, para que fosse o patriarca de todos aqueles, que tal como ele, viessem a crer no futuro (v. 9).
A fé verdadeiramente honra a Deus, porque é a firme confiança em tudo o que a boca de Deus tem proferido. E porque a fé honra a Deus, Deus imputa a fé para justiça de todo aquele que Nele crê.  
A Lei revela que a transgressão de qualquer mandamento de Deus torna o homem culpado de uma condenação eterna.
E quem, na condição de pecador por natureza poderia cumprir tal exigência moral de Deus?
A Sua justiça o exige, porque se demanda conformação perfeita à Sua santidade para que alguém possa ir para o céu, sem culpa alguma.
Mas o pecado ofendeu a justiça de Deus. Foi por causa desta ofensa que o pecador perdeu o céu.
Então o caminho de volta ao céu deve passar obrigatoriamente pela plena satisfação da justiça de Deus.
O homem necessita então de justiça para ser salvo.
Mas o alto nível desta justiça não pode ser encontrado nele ou ser produzido por ele.
Daí ter o próprio Cristo se tornado a nossa justiça.
É pela Sua justiça imputada a nós que podemos nos aproximar do Deus que é inteiramente justo e santo.
Consequentemente a Lei afirma que todo aquele que não cumpre os seus mandamentos permanece debaixo de maldição, porque os mandamentos da Lei refletem o caráter da perfeita justiça de Deus.
E há somente uma maneira de ser resgatado desta maldição, uma vez que a própria maldição não pode ser removida, em razão da exigência da justiça de Deus que amaldiçoa todos os transgressores da Sua vontade, a menos que eles tenham sido justificados em Cristo Jesus, pela justiça que lhes é imputada por Deus somente pela graça e mediante a fé.
Deste modo, Paulo explica que nós somente podemos ser justificados pela fé que se firma no Evangelho, na boa nova de grande alegria de que Deus se faz favorável para com os pecadores que se arrependam de seus pecados e que se unem pela fé a Cristo, para serem justificados e santificados.
Por isso aqueles que pensam que poderão ser justificados pelo mero esforço deles em praticarem as obras da lei, à parte da fé em Cristo, estarão permanentemente debaixo da maldição da Lei, porque a Lei não foi dada por Deus para o propósito de justificar, e não poderia ser dada para tal objetivo, porque o homem é pecador e já se encontra condenado, independentemente do que possa fazer de bom.
As santas exigências da Lei comprovam o quanto o homem está distanciado da perfeita justiça e santidade de Deus.
Então a Lei não poderá justificá-lo, porque para isto seria necessário que o homem fosse perfeito no cumprimento de tudo o que a Lei exige desde o seu nascimento, quer em palavras, em pensamentos e ações, e tanto nos deveres relativos a Deus quanto ao seu próximo.
Ninguém além de Jesus Cristo conseguiu cumprir perfeitamente toda a Lei, e somente ele poderia reivindicar a justificação da Lei caso necessitasse dela, mas isto nunca seria preciso no seu caso, porque Ele não tinha do que ser justificado, porque era sem pecado.
Quando alguém confia em seu coração, que seus pecados são perdoados por causa do sacrifício de Cristo, e por causa da Sua justiça, Deus cobrirá os seus muitos pecados com o sangue do Seu Filho, e lhe aceitará por causa desta sua confiança nos méritos de Cristo como suficientes para expiar a sua culpa e dar-lhe a salvação.  
É como se Deus dissesse: “Eu perdoarei os seus pecados porque você crê que o meu Filho é poderoso para livrá-lo da condenação futura, porque Ele próprio se fez maldição no seu lugar na cruz para que você não estivesse mais debaixo da maldição da Lei.
E por causa desta sua confiança nEle, Eu lhe darei o Espírito Santo que prometi derramar como aceitação plena do sacrifício que o meu Filho fez por você na cruz, de maneira que o Espírito Santo possa transformar o Seu coração e operar em você um caráter verdadeiramente santo, assim como Eu sou santo.”.


A Finalidade da Lei de Moisés (Gál 3 – P 3)

“19 Logo, para que é a lei? Foi ordenada por causa das transgressões, até que viesse a posteridade a quem a promessa tinha sido feita; e foi posta pelos anjos na mão de um mediador.
20 Ora, o mediador não o é de um só, mas Deus é um.
21 Logo, a lei é contra as promessas de Deus? De nenhuma sorte; porque, se fosse dada uma lei que pudesse vivificar, a justiça, na verdade, teria sido pela lei.
22 Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a promessa pela fé em Jesus Cristo fosse dada aos cristãos.
23 Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar.
24 De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados.
25 Mas, depois que veio a fé, já não estamos debaixo de aio.
26 Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus.
27 Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo.
28 Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.
29 E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa.”  (Gál 3.19-29).

Ao introduzirmos o comentário desta passagem de Gálatas 3.19 a 29 é importante fixarmos diante de nós, ao longo de tudo o que falarmos e ouvirmos acerca deste assunto, que as coisas que são afirmadas relativamente ao mesmo não significam que devemos ter a Lei de Deus em baixa estima.
Ao contrário, devemos estimá-la muito, amá-la e estarmos sinceramente interessados em não apenas em ouvir seus mandamentos, mas sobretudo praticá-los.
No entanto, quando o assunto que se tem em vista é o relativo à nossa justificação, então a Lei deve ser deixada de lado nesta hora, e confiarmos somente em Cristo e na Sua graça para que possamos ser justificados, porque se olharmos para a Lei, somente acharemos motivo para sermos condenados e continuarmos sendo condenados, porque somos pecadores, e não podemos cumprir perfeitamente todos os Seus mandamentos.
Não somos, à vista de Deus pecadores apenas pelos atos consumados que praticamos, mas também pelas intenções dos nossos corações e nossas atitudes.
Mas como os gálatas estavam fascinados pela Lei e não mais pela graça, Paulo se esforçou para lhes explicar o que é a Lei e qual foi o propósito de Deus ao dar a Lei a Moisés.
Evidentemente ele não esgotou o assunto na epístola aos Gálatas, mas destacou alguns exemplos sobre o caráter e propósito da Lei, que julgou necessários para que eles pudessem entender o uso adequado que deveriam fazer da Lei, para o benefício do crescimento deles na graça e no conhecimento de Jesus.
Então ele introduz o assunto com a pergunta que encontramos no verso 19: “Logo, para que é a Lei?. Este “logo” demonstra que a pergunta que ele estava fazendo, era conclusiva dos argumentos que ele havia apresentado anteriormente, isto é, em face de tudo o que ele havia dito, qual era a conclusão que se poderia chegar em relação ao que é a Lei?
Ele poderia ter perguntado em face da promessa que havia sido feita a Abraão antes da Lei, e à qual ele havia se referido anteriormente: “Se aquela promessa é suficiente para a salvação, para que então serve a Lei? Ou, por que Deus deu a Lei por intermédio de Moisés?”.
E o apóstolo responde abreviadamente que a Lei foi acrescentada por causa das transgressões (v. 19).
Ela não foi projetada para anular a promessa, ou para estabelecer um segundo modo diferente de justificação, que não fosse simples e unicamente, pela promessa que Deus fez de salvar aqueles que se unissem pela fé ao descendente de Abraão que é Cristo.
Porque a promessa diz que é nEle, isto é, pela união com Ele, que são benditas todas as nações da terra.
A Lei foi dada principalmente, para comprovar que vivemos num mundo que ficou sujeito ao pecado.
Por isso, a dispensação da Lei deveria vigorar primeiro, antes da dispensação da graça,  e as punições que estão previstas na própria Lei, que foram aplicadas abundantemente sobre a nação de Israel no período do Antigo Testamento, no qual vigorou a dispensação da Lei naquela nação, tiveram a sua razão de ser nos conselhos de Deus para nos convencer de que Ele é santo e que exige santidade de Seus filhos.
Aqueles que são do povo de Deus receberam a Lei para entenderem principalmente esta grande verdade que Deus exige santidade do Seu povo, e por isso, Jesus nos foi dado, bem como a Sua graça, para que pudéssemos viver nesta santidade que nos é ensinada pela Lei.
E a Lei veio colocar o pecado em realce, como se afirma em Rom 5.20:
“Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça;”.
Como se vive num mundo onde todos são pecadores, e como a tendência da natureza terrena decaída no pecado é justificar o pecado, então Deus revelou a Sua santidade e justiça pela Lei de maneira que sejamos indesculpáveis em relação ao pecado.
Também foi pretendido por Deus com a Lei que a prática do pecado fosse contida, pelo temor que a Lei produz nas mentes, de maneira que aja como um freio naquilo para o que os homens são naturalmente inclinados.
E ainda pelo motivo de ter sido acrescentada a Lei por causa das transgressões, ela cumpre a sua grande e principal finalidade que é a de nos convencer da nossa necessidade absoluta de um Salvador que possa nos apartar das nossas iniqüidades.
Paulo acrescenta que a Lei foi determinada para este propósito até que viesse  a posteridade à qual a promessa do Evangelho havia sido feita.
Então a Antiga Aliança baseada na Lei teria um tempo pré-determinado por Deus para a sua duração e efetivamente ela vigorou desde Moisés até João Batista como se afirma em Mt 11.13; Lc 16.16.
Portanto, a Nova Aliança entraria em vigor a partir da morte de Jesus, porque esta foi estabelecida no sangue que Ele derramou na cruz, e passaria a vigorar não com base na Lei, mas na Graça.
Daí se afirmar em João 1.7 que “a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo.”.
Ou seja, a promessa do evangelho entraria plenamente em vigor com a morte de nosso Senhor na cruz.
Assim a Antiga Aliança seria revogada para dar lugar à uma Nova Aliança muito melhor que a primeira como se lê em Hb 8.7,8, e que consiste na promessa de Deus feita a Abraão, e nas fiéis misericórdias prometidas a Davi de que faria uma aliança eterna com todos os que são da sua casa espiritual, como se afirma em Is 55.3; At 13.34.
Portanto, o terror dos juízos de Deus na Antiga Aliança contra o pecado dos israelitas tinha o propósito de levá-los a aspirar pela Nova Aliança que seria feita segundo a promessa e a graça e não segundo a Lei.
Todo cristão deveria ser imensamente grato a Deus por ter preparado uma tal Aliança na qual seria inteiramente longânimo para com os pecadores, enquanto eles viverem neste mundo sujeito às trevas do pecado. Porque a promessa se refere a este novo pacto do qual se diz:
“31 Eis que dias vêm, diz o Senhor, em que farei uma aliança nova com a casa de Israel e com a casa de Judá.
32 Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porque eles invalidaram a minha aliança apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor.
33 Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo.
34 E não ensinará mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o Senhor; porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados.”. (Jer 31.31-34).

E ainda:

“38 E eles serão o meu povo, e eu lhes serei o seu Deus;
39 E lhes darei um mesmo coração, e um só caminho, para que me temam todos os dias, para seu bem, e o bem de seus filhos, depois deles.
40 E farei com eles uma aliança eterna de não me desviar de fazer-lhes o bem; e porei o meu temor nos seus corações, para que nunca se apartem de mim.
41 E alegrar-me-ei deles, fazendo-lhes bem; e plantá-los-ei nesta terra firmemente, com todo o meu coração e com toda a minha alma.” (Jer 32.38-41).

Deus é um só, mas não é Deus de uma só pessoa e de uma só nação. Moisés foi o mediador da Aliança que foi feita com um só povo, a saber, o de Israel, mas Jesus é o Mediador de muitas nações, porque foi este o caráter da promessa feita a Abraão, de que seria através de Jesus pai de numerosas nações (Rom 4.16,17).
Além disso, Jesus é o Mediador de ambas as partes envolvidas na Aliança que é feita no Seu sangue, tanto Deus quanto o pecador.
O pecador como a parte ofensora da justiça, e Deus a parte ofendida. Ele, e somente Ele poderia satisfazer à justiça de Deus de modo que, agindo também como nosso Mediador, limpando-nos das nossas culpas e ofensas, pudéssemos ser reconciliados com Deus, por este Seu (de Jesus) trabalho de mediação.
E como Moisés e a Lei poderiam fazer este trabalho? Pois ele recebeu além dos mandamentos morais, mandamentos civis e cerimoniais para serem cumpridos por Israel. E isto seria exigido de todos os israelitas para que agradassem a justiça de Deus naquela Antiga Aliança.
Eles deveriam atender a todas as especificações relativas aos sacrifícios de animais, para a cobertura do pecado deles.
Ainda que fossem oferecidos com toda a sinceridade aqueles sacrifícios não podiam remover a culpa do pecado, porque eram apenas figura, do único sacrifício que pode remover a culpa do pecador, a saber, o de Jesus Cristo.
Mas tal era exigido naquela Aliança, da qual Moisés era o mediador.
Por conseguinte, diz-se que ele era mediador de um pacto inferior, que a ninguém podia aperfeiçoar na justiça e santidade de Deus (Hb  7,19; 8.6).

 “Pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou e desta sorte é introduzida uma melhor esperança, pela qual chegamos a Deus.” (Hb 7.19).

“Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de uma melhor aliança que está confirmada em melhores promessas.” (Hb 8.6).

Moisés, simples homem que era, não poderia também, na qualidade de mediador, capacitar o povo a amar e obedecer a Deus, de maneira que cumprissem efetivamente os Seus mandamentos. E muito menos havia nele poder para purificar os seus corações do pecado.
Como poderia então Moisés e a Lei que lhe fora dada promoverem a plena satisfação da justiça de Deus?
Por isso há apenas um só Mediador entre Deus e os homens para tal propósito de se satisfazer à justiça divina.
Porque na condição de Mediador, Jesus é infinitamente superior a Moisés e não somente pôde remover inteiramente a culpa do pecador, quanto reconciliá-lo com Deus, pelo sacrifício de si mesmo, como também é poderoso para aperfeiçoar os cristãos na justiça, tanto por ter se tornado a justiça deles, pela justificação imputada, quanto como Sumo Sacerdote que lhes deu o Espírito Santo para a transformação de suas vidas em santidade, tanto na regeneração quanto na santificação.
De maneira que eles são capacitados a amarem e a obedecerem efetivamente a Deus.
Não é portanto maravilhoso o plano de salvação de Deus estabelecido em Cristo Jesus? Glórias ao Seu santo nome!
Deste modo, a Lei não é Graça, porque a Antiga Aliança é totalmente diferente da Nova, mas a Lei cumpre o propósito que Deus designou para ela tanto na Antiga quanto na Nova Aliança de convencer-nos do pecado e levar-nos a depender inteiramente do Senhor em tudo o que se refere à nossa salvação (eleição, chamada, justificação, regeneração, santificação, glorificação).
Conseqüentemente, a Lei não é de modo algum incompatível com a promessa, mas é sua serva, pelo desígnio que lhe foi dado por Deus de revelar o pecado dos homens, e de lhes mostrar que eles necessitam de uma justiça mais elevada do que a justiça que é decorrente das obras da Lei, a saber, da simples prática dos seus mandamentos.
Por isso é dito que a justiça com a qual somos justificados por Cristo é evangélica, isto é, ela é decorrente da graça e da nossa fé no evangelho, e não por causa da nossa  perfeição moral total e absoluta, a qual não é possível de ser atingida por ninguém enquanto estiver vivendo neste mundo.
Os atos produzidos debaixo do Espírito dão para vida e paz. Mas os que são produzidos debaixo da carne produzem morte das graças que estão destinadas a viver e a crescer e não a morrer.
A carne quer reconhecimento e louvor, mas o espírito dá glória e graças a Deus por tudo.
Quão fácil é errar continuamente o alvo, porque estamos inclinados naturalmente para a carne e não para o Espírito.
A falta de empenho em submissão ao Espírito dá natural e consequentemente o governo à carne.
Paulo diz que a lei nos serviu como um pedagogo, isto é, um professor de infantes cujo alvo foi o de nos preparar para nos apresentar a Cristo.
Assim, depois que a fé do evangelho veio na dispensação da graça, já não haveria mais necessidade da Antiga Aliança, e por isso ela foi revogada, o pedagogo não seria mais necessário porque já havia cumprido o papel que havia sido designado a ele por Deus, de nos convencer que somos pecadores que transgridem os Seus mandamentos santos e justos.
A Graça é diferente da Lei, mas não é contra a Lei.
A Lei é diferente da Graça, mas não é contra a Graça.
Ambas são diferentes em seus propósitos e cumprimentos, mas procedem do mesmo Deus santo e verdadeiro.
E então, depois de ter apresentado todos os argumentos relativos ao propósito da Lei que foi um servo, um professor que nos conduziu a Cristo, Paulo faz a declaração solene que encontramos em Gál 3.26-29.
Mesmo em sua desobediência, por  estarem debaixo da Nova Aliança, os gálatas podiam contar com os seus privilégios e benefícios, porque através da união deles com Cristo foram feitos filhos de Deus, e esta união não pode ser desfeita por nenhum poder terreno ou celestial, porque Deus fez a promessa de não lançar fora a nenhum daqueles que fossem transformados em Seus filhos por meio da fé em Cristo.
Tentar separá-los de Cristo é uma tarefa impossível porque os cristãos foram batizados nEle próprio, e tanto na Sua morte, quanto na Sua ressurreição, de maneira que tudo o que Jesus conquistou em Seu trabalho por eles, é também propriedade deles.
A promessa que Deus fez a Abraão foi selada com um juramento do próprio Deus, de maneira que por essas duas coisas imutáveis (a promessa e o juramento) os cristãos estejam certos de que a salvação deles é segura e eterna, independentemente do grau de santificação que eles possam vir a obter neste mundo, porque regenerados pelo Espírito, todos eles foram transformados em santos para o Seu Deus, que determinou salvá-los não segundo as obras deles, mas segundo a Sua promessa.
Portanto, se somos salvos por promessa o meio desta salvação não é condicional a nada que devamos fazer para sermos salvos. Não é por mérito pessoal porque é por promessa.
Então somente pode ser por graça, porque o que foi prometido é que seríamos salvos se estivéssemos unidos ao descendente de Abraão que é Cristo. E como esta união é espiritual, sobrenatural, ela não pode ser realizada por nenhum meio carnal, senão unicamente pela fé.
Deste modo, os cristãos na Nova Aliança desfrutam de muito maiores e melhores privilégios que os judeus tinham debaixo da Antiga Aliança, e por isso nenhum deles deveria se gloriar no fato de serem superiores aos gentios, pelo argumento de serem os depositários da Lei, porque, como temos visto, a Lei foi um servo para nos conduzir a Cristo, e em Cristo já não permanecemos debaixo da autoridade deste aio, de maneira que em Cristo já não há mais as distinções que existiam na Antiga Aliança, entre  judeus e gregos; entre servos e livres, entre homens e mulheres, porque como diz o apóstolo, todos os cristãos são um em Cristo Jesus.








Gálatas 4

A Lei Serve para nos Conduzir a Cristo (Cap 4 – P 1)

O apóstolo, neste capítulo, ainda está tendo o mesmo propósito geral dos capítulos anteriores que era o de levar os cristãos gálatas a serem purificados dos falsos ensinos que eles haviam abraçado por terem sido fascinados e enganados pelos falsos apóstolos e mestres.

“1 Digo, pois, que todo o tempo que o herdeiro é menino em nada difere do servo, ainda que seja senhor de tudo;
2 Mas está debaixo de tutores e curadores até ao tempo determinado pelo pai.
3 Assim também nós, quando éramos meninos, estávamos reduzidos à servidão debaixo dos primeiros rudimentos do mundo.
4 Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei,
5 Para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos.
6 E, porque sois filhos, Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai.
7 Assim que já não és mais servo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro de Deus por Cristo.” (Gál 4.1-7).

Os falsos apóstolos, que haviam fascinado os gálatas, transitavam como mestres da Lei, pessoas entendidas nos assuntos relativos ao Deus que havia se revelado a Israel, e agindo falsamente em nome dos apóstolos que estavam em Jerusalém, sem estarem autorizados por eles, ou mesmo que isto fosse do seu conhecimento, afirmavam que estavam defendendo em nome deles a Lei de Moisés que Paulo estava desprezando.
Veja a sutileza dos argumentos do diabo. Paulo não estava falando contra a Lei, mas apenas dizendo que ela havia sido dada para propósitos completamente diferentes do relativo à justificação dos pecadores, ainda que contribuísse até mesmo para este propósito conduzindo os pecadores a Cristo, por convencê-los acerca do pecado e da santidade que é devida a Deus.
Mas como Paulo havia demonstrado claramente que a Lei era apenas um servo de um propósito muito maior, então os falsos mestres estavam se jactando de um conhecimento sem entendimento, porque não conseguiam discernir o plano de salvação de Deus e mesmo qual foi o Seu propósito quando estabeleceu a Antiga Aliança.
Eles haviam tropeçado na Rocha de escândalo (Rom 9.33; I Pe 2.8) porque a confiança deles estava na sua mera religiosidade e não propriamente em Deus e na Sua vontade, tanto que eles haviam rejeitado a Cristo, e a promessa que foi feita a Abraão, por causa do seu orgulho nacional que os levava a crer que eram superiores a todos os homens e que o mero ritualismo da lei que eles seguiam e que haviam adulterado de várias maneiras era o padrão a ser seguido para se agradar a Deus. Quanta ilusão e engano havia da parte deles!
Eram na verdade guias cegos, nuvens sem água, mestres sequer da Lei que eles fartamente transgrediam, como se afirma na Bíblia, mas mesmo assim, eles se consideravam a luz e a esperança dos gentios, e não nosso Senhor Jesus Cristo.
As palavras que Paulo usou em Romanos 2 e 3, para se referir a estes judeus bem definem os sentimentos e pensamentos deles a que nos referimos:
Os judaizantes estavam equivocados, por se considerarem os depositários de uma revelação melhor (a da Lei), que a do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Porque se dá exatamente o oposto, conforme Paulo estava demonstrando na sua argumentação junto aos gálatas.


Os Rudimentos da Lei são Fracos Para a Nossa Justificação (Gál 4 – P 2)

“8 Mas, quando não conhecíeis a Deus, servíeis aos que por natureza não são deuses.
9 Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?
10 Guardais dias, e meses, e tempos, e anos.
11 Receio de vós, que não haja trabalhado em vão para convosco.” (Gál 4.8-11).

Paulo chama a Lei cerimonial e civil do Antigo Testamento, e a própria Antiga Aliança de rudimentos fracos que os gálatas queriam servir.
Eles eram pagãos antes de terem vindo a Cristo, isto é, não tinham nenhum conhecimento sobre a vontade revelada de Deus nas Escrituras, e não eram contados em suas nações com o povo de Israel, que era a única nação com a qual Deus estava aliançado no Velho Testamento.
Não que Ele esteja agora propriamente aliançado com todas as nações da terra, mas na dispensação da Lei nenhuma outra nação se encontrava debaixo do regime teocrático, senão Israel, de modo, que naquele tempo todas as demais nações eram consideradas pagãs.
E cada uma destas nações, serviam aos seus falsos deuses, até que Cristo veio, e muitos destes pagãos se converteram ao Deus vivo e verdadeiro, como foi o caso dos gálatas, de maneira que deixaram os falsos deuses deles para servirem unicamente ao Senhor que eles passaram a conhecer pessoalmente pela revelação do Espírito Santo em seus corações.
Mas ainda que alguns deles ou a maioria deles apesar desta experiência pessoal com Deus, não o conhecessem da maneira pela qual convém ser conhecido através de um amadurecimento espiritual em santificação que nos habilita a conhecer melhor qual é o caráter e vontade do Deus que servimos, no entanto todos os filhos de Deus, sem uma única exceção, são perfeitamente conhecidos por Ele (II Tim 2.19).
Por isso, no ato de se voltarem para os rudimentos fracos da Antiga Aliança, tendo uma vez sido revogados por Cristo, eles eram mais indesculpáveis do que os próprios judeus, porque, afinal, não haviam sido educados nos costumes deles.
Eles serviam a ídolos, e conheceram a santidade do Senhor pelo Espírito e pela palavra do Evangelho, e agora estavam deixando uma adoração espiritual, na liberdade do Espírito, por uma adoração cerimonial que se baseava em guardar dias, meses, épocas e anos sagrados.
É provável que estivessem guardando as festas dos tabernáculos, o sábado da Lei com todas as suas prescrições cerimoniais previstas na Lei de Moisés, e todas as demais festas e celebrações judaicas.
Deus é espírito e deve ser adorado somente em espírito. Deus é verdade e deve ser adorado somente em verdade. E a graça e a verdade foram trazidas por Cristo, de modo que não se sirva mais a Deus nas bases de um antigo pacto que Ele revogou.
E lembremos que Deus nunca prometeu salvar qualquer pessoa pela observância religiosa, de cerimônias e rituais.


O Poder do Evangelho se Manifesta na Nossa Fraqueza (Gál 4 – P 3)

“12 Irmãos, rogo-vos que sejais como eu, porque também eu sou como vós; nenhum mal me fizestes.
13 E vós sabeis que primeiro vos anunciei o evangelho estando em fraqueza da carne;
14 E não rejeitastes, nem desprezastes isso que era uma tentação na minha carne, antes me recebestes como um anjo de Deus, como Jesus Cristo mesmo.
15 Qual é, logo, a vossa bem-aventurança? Porque vos dou testemunho de que, se possível fora, arrancaríeis os vossos olhos, e mos daríeis.
16 Fiz-me acaso vosso inimigo, dizendo a verdade?” (Gál 4.12-16).

Paulo agora, roga humildemente como um pai que insta com seu filho perdido a voltar ao mesmo bom caminho em que andava antes da sua perdição.  
Ele havia desabafado no verso 11 dizendo que estava perplexo com o que eles haviam feito, e receava então que não tivesse trabalhando em vão em relação a eles.
Mas como que logo lembrando imediatamente da condição deles de terem sido feitos filhos de Deus, tal como ele havia sido feito também, ele desce ao nível deles, não no que se refere ao pecado, mas da miséria deles, e por um momento também se sente miserável com eles, ante a impotência de poder fazer por si mesmo algo em relação a eles, de modo que todo o seu trabalho e cuidado não se tornasse infrutífero.
E assim lhes fez recordar quão grande era o afeto que eles tinham por ele quando lhes pregou o evangelho pela primeira vez, e como lhe haviam tratado tão bem, mesmo diante da sua fraqueza na ocasião, provavelmente em razão de alguma possível enfermidade, pois lhes disse que estavam dispostos até mesmo, se possível fora, a arrancarem os seus próprios olhos para lhos darem.
Ou isto foi o resultado de ferimentos produzidos pelo apedrejamento que ele havia sofrido dos judaizantes naquela região. O livro de Atos conta detalhes do que ocorreu ao apóstolo quando pregava o evangelho nas cidades da Galácia (Perge, Derbe, Listra, Antioquia da Psídia e Icônio).
Aquela fraqueza quanto à sua incapacidade e impotência pessoais, serviram aos propósitos de Deus, porque o poder de Cristo, e a Sua graça, se aperfeiçoam na nossa fraqueza. De modo que quando somos fracos então é que somos fortes, porque trocamos a nossa incapacidade pelo poder do Espírito Santo, que nos assiste nas nossas fraquezas.
Deste modo, Paulo introduz esta seção da epístola chamando os gálatas de irmãos.
Ele quer demonstrar que apesar de apóstolo de Cristo ele não se envergonha de chamá-los de irmãos, desde o maior até o menor deles, assim como o nosso Salvador também não se envergonha de nos chamar de irmãos, apesar de ser o nosso Senhor.  
No amor cristão as diferenças se dissolvem.
Assim como Cristo se rebaixou deixando a glória dos céus, por amor, também devemos nos humilhar para que possamos ser úteis àqueles que se encontram em necessidade espiritual, que é comum a todos nós.
Não devemos lhes falar do alto da nossa autoridade e importância, porque esmagaríamos a cana quebrada e apagaríamos o pavio fumegante, e certamente não é este o ministério do Senhor Jesus neste mundo, porque tem se compadecido das nossas misérias espirituais.
E quando o próprio Paulo havia pregado o evangelho em fraqueza, os gálatas superaram por causa do seu amor a ele, a tentação que foi para eles vê-lo naquela fraqueza.
Eles não o desconsideraram e nem o desprezaram como possivelmente estavam fazendo agora, por causa dos argumentos dos judaizantes, porque procuravam por todos os meios desqualificar e rebaixar o apóstolo diante dos seus olhos, afirmando que se fosse verdadeiro ministro de Cristo não estaria sujeito a tantas tribulações, fraquezas e perseguições.
Os falsos apóstolos se gloriavam das suas honrarias, das suas posses e conquistas terrenas, alegando que eram bênçãos de Deus por observarem a Lei de Moisés.
E agora os gálatas não haviam conseguido vencer a tentação de considerar Paulo alguém que não era bem sucedido segundo os padrões do mundo.
Ele rogou que eles voltassem a ser como foram no princípio. Que não julgassem segundo a aparência, e que não interpretassem as tribulações como prova de um possível desfavor de Deus.  
Paulo fecha esta seção da epístola afirmando que o que estava dizendo quanto à reprovação do que eles estavam fazendo agora, não era movido por nenhum ressentimento pessoal, ou por inimizade, ao contrário, eram palavras de um autêntico amigo, porque eram a pura expressão da verdade. O amor folga com a verdade.
O amor não recorre à mentira. Que então os gálatas aprendessem a julgar segundo a reta justiça conforme convém a todo filho de Deus.
Um verdadeiro amigo prevenirá o seu irmão que estiver errando, e se o irmão errado tiver algum senso ele agradecerá ao seu amigo.
O apóstolo queria que os gálatas soubessem por que ele lhes tinha falado a verdade, para o próprio bem deles, e que não pensassem que ele os repugnava. Ele lhes falou a verdade porque os amava.


O Falso Zelo dos Falsos Pastores e Mestres (Gál 4 – P 4)

 “17 Eles têm zelo por vós, não como convém; mas querem excluir-vos, para que vós tenhais zelo por eles.
18 É bom ser zeloso, mas sempre do bem, e não somente quando estou presente convosco.
19 Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós;
20 Eu bem quisera agora estar presente convosco, e mudar a minha voz; porque estou perplexo a vosso respeito.” (Gál 4.17-20).

O apóstolo alerta aos gálatas sobre as reais intenções dos judaizantes.
Eles protestavam que tudo o que estavam fazendo era por causa do zelo deles em relação aos gálatas.
Mas Paulo lhes disse qual era a real motivação por detrás daquele suposto zelo: eles odiavam a doutrina de Paulo e queriam jogá-la fora da vida dos gálatas.
Eles queriam afastar os corações deles do coração de Paulo. Eles queriam em última instância afastá-los de Cristo.
Eles agiam movidos por inveja porque lhes incomodava o modo como o evangelho avançava rapidamente no mundo, ganhando muito mais adeptos do que o judaísmo, que nos dias de Jesus havia se transformado numa religião pervertida, baseada em mandamentos de homens, enfatuados em sua compreensão carnal.
Enquanto a mensagem dos judaizantes estava muito afastada da revelação das Escrituras, o cristianismo nos dias de Paulo seguia fielmente esta revelação, e o evangelho estava plenamente em conformidade com tudo o que os profetas do Velho Testamento haviam falado da parte de Deus a respeito dele.  
Então que zelo pelo que é bom, era aquele que os judaizantes afirmavam ter pelos gálatas?
Aquilo que parecia um grande zelo era na verdade ausência de sinceridade e amor à verdade.
É costume dos sedutores insinuarem muito afeto pelas pessoas, somente com a intenção de ganhá-las para as causas deles.
Eles as adulam, e envolvem-nas com apelos emocionais e sentimentais, e procuram agradá-las dando-lhes aquilo para o qual a natureza delas está inclinada, sem levar em conta se estas coisas estão em conformidade com a vontade revelada de Deus.
O diabo não se importa nem um pouco em concordar com todos os nossos desejos e em estimular a realização de todos os nossos sonhos. Neste sentido ele é o maior amigo dos pecadores, só que o que ele faz é agravar ainda mais a culpa pelos seus pecados.
Ele usa sempre a mesma estratégia do Éden, pois promete mundos e fundos, tal como fez descaradamente até com o próprio Jesus na tentação do deserto.
Foi a mesma velha Serpente que prometeu onisciência divina a Adão e Eva, e que procurou se mostrar mais amigo deles do que o próprio Deus, dizendo-lhes que eram livres e deveriam fazer um bom uso da liberdade deles fazendo tudo o que desejassem, inclusive comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal.
Ele não disciplina, não cura feridas com remédios amargos, antes sempre sinaliza o que é doce e agradável, promete riquezas, fama e honrarias, e não são poucos os que caem nos seus laços vitimados pelas suas próprias cobiças pecaminosas.
Então o trabalho do diabo é basicamente este de estimular a própria natureza decaída do homem a pecar e a se desviar da verdade, não importando que a Palavra de Deus seja transgredida e que os autênticos ministros que Deus tem levantado para nos servir sejam feridos por nossas ingratidões e rebeliões.
Foi assim que o diabo agiu no céu quando da sua queda e ele tem procurado ardorosamente discípulos na terra entre os homens que estejam dispostos a seguir os seus passos.
O que os gálatas haviam feito então foi um ato de rebelião contra a verdade revelada, para seguirem após o diabo, virando as costas para o Senhor que lhes havia salvado, e serem ingratos a Paulo.
Deste modo, todo zelo verdadeiro deve ser sempre zelo pelo bem, que é a verdade (v. 18), e um zelo sincero e bem disciplinado que exista não somente na presença dos homens, mas em todas as ocasiões da nossa vida, porque não é zelo para agradar a homens, mas para agradar a Deus.
O sentimento de Paulo em relação aos gálatas era o de que ele necessitaria gerar de novo neles a vida de Cristo.
Isto não seria necessário quanto à regeneração, porque eles eram nascidos de novo pelo Espírito, e por isso Paulo os chama de “meus filhinhos”.
Mas eles necessitavam serem renovados na Palavra da verdade, na vida e no andar no Espírito.
Isto era algo que havia deixado o apóstolo inteiramente perplexo. Eles haviam se afastado da verdade em muito pouco tempo.
Todo pastor deveria ser como Paulo no esforço de formar Cristo no coração dos seus ouvintes.
Os Gálatas haviam perdido a forma de Cristo, mas Paulo estava dizendo que estava disposto a reformar Cristo neles, isto é, a formá-lo de novo em seus corações.
Paulo expressa que gostaria de fazer isto estando presente entre eles, e mudando o seu tom de voz, porque em face do arrependimento que visse neles à medida que lhes expusesse estas coisas, ele mudaria também o tom de suas palavras repreensivas.
Ele preferiria fazê-lo realmente com outro tom de voz porque é muito doloroso para todo pai ter que corrigir duramente os seus filhos, à altura da gravidade dos erros que eles cometeram, mas todo pai amoroso sempre abaixará o tom da sua voz quando perceber um sincero arrependimento no filho que se submeteu à sua repreensão.

A Liberdade dos Filhos da Promessa Pelo Evangelho (Gál 4 – P 5)

“21 Dizei-me, os que quereis estar debaixo da lei, não ouvis vós a lei?
22 Porque está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava, e outro da livre.
23 Todavia, o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas, o que era da livre, por promessa.
24 O que se entende por alegoria; porque estas são as duas alianças; uma, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar.
25 Ora, esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde à Jerusalém que agora existe, pois é escrava com seus filhos.
26 Mas a Jerusalém que é de cima é livre; a qual é mãe de todos nós.
27 Porque está escrito: Alegra-te, estéril, que não dás à luz; Esforça-te e clama, tu que não estás de parto; Porque os filhos da solitária são mais do que os da que tem marido.
28 Mas nós, irmãos, somos filhos da promessa como Isaque.
29 Mas, como então aquele que era gerado segundo a carne perseguia o que o era segundo o Espírito, assim é também agora.
30 Mas que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho, porque de modo algum o filho da escrava herdará com o filho da livre.
31 De maneira que, irmãos, somos filhos, não da escrava, mas da livre.” (Gál 4.21-31).

Paulo demonstra nesta seção da epístola que o que estava ocorrendo com os gálatas era o mesmo que havia ocorrido entre Ismael e Isaque, porque Ismael zombava de Isaque porque era filho da mulher livre (Sara), e ele, filho de uma escrava (Agar).
De igual modo, os dois povos que haviam se formado como descendência de Abraão, o terreno (Israel na Palestina) e o celestial (os cristãos) estariam na mesma condição relativa a Isaque e Ismael, pois os que nasceram como povo no Sinai, onde a Lei foi promulgada e Deus fez aliança com este Israel terreno através de Moisés, viria a perseguir o povo nascido pela aliança firmada no sangue de Jesus derramado no monte Sião, e cuja pátria não é a Jerusalém terrena, mas a Jerusalém celestial.
Então não era nada surpreendente que aqueles judeus estivessem perseguindo a Igreja de Cristo para sujeitá-la à escravidão da Lei. E os gálatas deviam estar bem inteirados disto de modo que entendessem qual era a verdadeira natureza do assédio que estavam sofrendo da parte dos judeus.
Deus havia profetizado que colocaria Israel em ciúmes com os gentios, porque em face do endurecimento deles ele estenderia a salvação aos gentios, e eles não concordariam, do ponto de vista religioso deles, que pagãos pudessem ser aceitos por Deus, ainda que se convertendo a Ele, fora dos termos da Aliança que havia sido feita no monte Sinai.
Assim, como no dizer de Paulo, Agar e Sara representam alegoricamente duas alianças, duas dispensações diferentes. Uma que gera filhos para servidão (Agar) porque não são nascidos segundo a promessa de Deus, tal como fora Isaque.
E a Jerusalém terrena gerou filhos para servidão na Antiga Aliança, isto é, debaixo da Lei, porque não havia naquela aliança nenhuma promessa de Deus relativa à vida eterna, tal como há na Nova.
Deus salvou naquela dispensação também pela graça, mediante a fé, mas não por alguma promessa inerente àquela dispensação para os que faziam parte da Antiga Aliança.
As promessas que encontramos nos profetas do Velho Testamento neste sentido se referem à Nova Aliança que ainda seria inaugurada com a morte de Jesus.
A igreja é a noiva de Cristo, e é nEle que se cumprem as promessas de Deus relativas à vida eterna celestial.
A Jerusalém celestial ainda não foi manifestada, e pode-se dizer dela que é uma mulher estéril, por ora, tal como Sara, mas no momento aprazado pelo Senhor ela estará cheia de filhos, filhos que viverão eternamente, porque o que Deus tem prometido, cumprir-se-á a seu tempo.
Os judeus, que ainda hoje permanecem com seus filhos, resistindo à Aliança da Graça, por estarem apegados à justiça da Lei, permanecem em estado de escravidão e não conhecerão a liberdade dos filhos de Deus, caso não se convertam, voltando-se para Cristo.
Enquanto isto, os gentios que não conheciam a revelação de Deus estão se convertendo pelo mundo afora porque estes que se convertem são filhos da promessa, e vivem na liberdade do Evangelho, e não sob o jugo da Antiga Aliança.
E devemos considerar que aqueles que são das obras da Lei, ainda em nossos dias, perseguem aqueles que vivem na graça de Cristo.
Os próprios cristãos legalistas são assassinos da graça, e apesar de livres, agem como se fossem escravos porque querem viver debaixo da Lei, não sabendo que em Cristo não estão mais debaixo da Lei e por isso não devem viver debaixo dela, colocando-se debaixo de um jugo do qual foram livrados pela promessa que Deus fez acerca dos seus filhos gerados na Nova Aliança.









Gálatas 5

O Que é Decair da Graça (Gál 5 - P 1)

 “1 Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão.
2 Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará.
3 E de novo protesto a todo o homem, que se deixa circuncidar, que está obrigado a guardar toda a lei.
4 Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído.
5 Porque nós pelo Espírito da fé aguardamos a esperança da justiça.
6 Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem valor algum; mas sim a fé que opera pelo amor.
7 Corríeis bem; quem vos impediu, para que não obedeçais à verdade?
8 Esta persuasão não vem daquele que vos chamou.
9 Um pouco de fermento leveda toda a massa.
10 Confio de vós, no Senhor, que nenhuma outra coisa sentireis; mas aquele que vos inquieta, seja ele quem for, sofrerá a condenação.
11 Eu, porém, irmãos, se prego ainda a circuncisão, por que sou, pois, perseguido? Logo o escândalo da cruz está aniquilado.” (Gál 5.1-11).

Tendo argumentado no capítulo anterior quanto à liberdade que os cristãos têm em Cristo por serem filhos da promessa, da Jerusalém celestial, por terem sido libertados em Cristo da condenação e da maldição da Lei, é seu dever viverem para Cristo, não como escravos, mas como livres que são.
O cristão é livre até mesmo da escravidão do seu próprio ego, da sua própria vontade, porque é livre para poder escolher e viver segundo a vontade de Deus pelo poder do Espírito.
Portanto, uma vez que os gálatas retornassem à obediência à verdade do Evangelho deveriam ter o devido cuidado de não retornarem a cair na mesma sedução que lhes havia vencido e removido da liberdade em que se encontravam, para serem sujeitados ao jugo de servidão que lhes foi imposto pelos judaizantes.
Há poderes terríveis operando no mundo espiritual, e eles disputam pelo governo total de nossas vontades e espíritos.
A carne sempre tentará trazer o cristão de novo à sujeição total que exercia sobre ele, quando andava no mundo sem Cristo.
O mundo também faz o mesmo tentando cativar totalmente a vontade e os afetos do cristão nos tesouros terrenos, sejam eles lícitos ou não.
Satanás, o diabo, dispensa comentários quanto a isto, quer agindo diretamente, quer usando os seus ministros que se transfiguram em ministros de justiça, para enganar os cristãos.

A liberdade com que Cristo nos libertou é muito ampla, mas Paulo tem em mente aqui nesta seção de Gálatas, a liberdade relativa ao jugo da Lei que havia sido colocado pelos judaizantes sobre os cristãos gálatas.  
Aprouve a Deus salvar e libertar os pecadores através da fé, conforme revelou ao profeta Habacuque (2.4). Então a mensagem de salvação e libertação do evangelho é a pregação  da fé e não das obras da Lei.
Assim, os muitos “evangelhos” que não ensinam que Cristo é o tudo da nossa salvação, e que é olhando sempre para Ele com os olhos espirituais da fé, que progredimos espiritualmente, sempre produzirão o efeito de nos separar da comunhão com o Senhor, ainda que afirmemos que é em Seu nome que nos submetemos às práticas que são estranhas ao evangelho.
Uma vez estando separado da comunhão com o Senhor, por se entristecer e apagar a atuação do Espírito Santo, com este pecado de ingratidão e de desconsideração para com Ele e com tudo o que fez por nós, e que nos tem ordenado no evangelho, a conseqüência imediata é a de se decair da graça, isto é, não a perda da salvação, mas ficar privado do crescimento na graça, e das consolações da graça pelo Espírito.
A propósito, faremos bem em considerar que a graça não é uma filosofia, mas um poder, na verdade, o maior poder operante neste mundo, porque é por ela que se destrói o pecado, e que se transforma progressivamente pecadores em santos, pela regeneração (novo nascimento espiritual), e o processo da santificação, pelo Espírito Santo.
Como o objetivo dos gálatas era o de serem justificados pela circuncisão, Paulo lhes lembrou que isto era muito pouco ou quase nada, porque segundo a justiça da lei, para a justificação, é necessário cumprir perfeitamente todos os demais mandamentos e isto continuamente por toda a vida. E temos demonstrado anteriormente que isto é uma tarefa impossível, porque o homem é pecador.
Nós não estamos tratando agora de um assunto sem importância.
É uma questão que envolve liberdade perpétua ou escravidão perpétua.
Porque a libertação da ira de Deus pelo ofício amoroso de Cristo não é um benefício transitório, mas uma bênção permanente, assim como o jugo da Lei, para os que permanecem debaixo da maldição da Lei, por não terem sido libertados por Jesus, não é temporário, mas uma aflição perpétua.
Contudo os gálatas haviam sido encantados e estavam cegos quanto a esta verdade que lhes havia sido ensinada, mas na qual eles não haviam ficado firmes.
Eles não permaneceram firmes na graça, e decaíram da graça.
Porque não há outro modo de permanecer na graça a não ser o de ficar firme na palavra do evangelho, sem se deixar remover na mente ou no espírito, dando crédito a doutrinas que afirmam o oposto da nossa segurança em Jesus.
Este descaimento, como afirmamos anteriormente é conseqüente da desonra que se dá ao poder do Senhor, à Sua graça e Palavra, quando se pensa que há outro modo de se agradar a Deus a não ser pela fé.
A falta de fé naquilo que Deus tem afirmado é incredulidade, e isto é um pecado terrível.
Deixar de crer naquilo que a boca de Deus tem proferido para se dar crédito ao homem ou ao diabo, é falta de fé, e desonra ao Senhor,e é por isso que Paulo afirma que é pelo Espírito da fé que aguardamos a esperança da justiça, isto é, esta fé e operada pelo Espírito, de modo que temos plena esperança da justiça (v. 5) que temos recebido em Cristo Jesus.
Assim, Paulo afirma que não é ser judeu ou gentio que tem qualquer valor, mas ter esta fé que opera pelo amor (v. 6).
O amor é sobretudo a união do cristão com Cristo, que é a fonte do amor.
Isto significa então que não é possível ter fé à parte da comunhão com Cristo.
E se os gálatas estavam se desligando de Cristo para se ligarem aos judaizantes e ao ensino pervertido deles, que fé eles poderiam ter?
Como uma fé que não atuava pelo amor poderia aumentar?
Tal como a igreja de Éfeso citada em Apocalipse, os gálatas haviam abandonado o seu primeiro amor, e como a igreja de Laodicéia, tinham deixado Cristo do lado de fora dos seus corações batendo à porta para que se arrependessem.
E o Senhor estava fazendo exatamente isto, através da epístola que Paulo escreveu aos Gálatas. Jesus mesmo o inspirou a isto para buscar as Suas ovelhas que haviam fugido do aprisco.
O lobo tinha-lhes atacado e não poucas estavam muito feridas.
A perplexidade de Paulo em relação aos gálatas estava fundada no fato de que eles vinham correndo bem a carreira cristã, eles estavam progredindo na fé, e de repente, por terem permitido serem removidos da sua própria firmeza por darem ouvidos aos judaizantes, ficaram paralisados e impedidos de continuar a carreira que vinham efetuando.
Lembremos que a nossa luta não é contra a carne e o sangue, mas contra Satanás que semeia o joio do erro enquanto dormimos, isto é, quando descuidamos na nossa vigilância e diligência.
As realidades espirituais do cristianismo, que se manifestam em nossa experiência real de vida, operam somente pela verdade, de maneira que Jesus pediu ao Pai que os cristãos fossem santificados, e Ele indicou o meio pelo qual o Espírito realizaria esta santificação: a Palavra da verdade (Jo 17.17).
Então nada além da verdade revelada na Bíblia pode produzir o novo nascimento do Espírito Santo e as Suas operações poderosas em nossa experiência real desta vida divina, até a sua plenitude, conforme é da vontade de Deus.
Devemos portanto zelar pela manutenção da verdade, tal como está revelada na Palavra, para que possamos garantir a manifestação e manutenção da vida abundante que recebemos da parte de nosso Senhor Jesus Cristo, à medida que permanecemos nEle e na Sua Palavra, que é a verdade.
Paulo esclareceu aos gálatas que quem lhes havia persuadido àquela insensatez que eles haviam cometido não fora o Senhor que os chamou, mas o diabo através dos seus instrumentos, com o fim de separá-los da comunhão com Cristo.
O diabo sabe quão difícil é a reconciliação de um cristão desviado com o seu Senhor.
Por isso Satanás tudo fará para trazer dores aos cristãos, por saber que não os terá mais consigo no inferno depois que eles saírem deste mundo
Portanto eles deveriam ter muito cuidado com o fermento do erro, porque não é necessário muito fermento para levedar toda a massa de cristãos, desviando-os da verdade.
Todo aquele que pregava o evangelho era motivo de escândalo para os judeus e suscitava a perseguição deles.
O verso 11 deve ser entendido da seguinte forma, porque o que ali se afirma é como se Paulo o dissesse deste modo, em outras palavras: “Porém, irmãos, se é verdade que eu continuo a anunciar que a circuncisão é necessária, por que é que sou perseguido? Se eu anunciasse isso, então a minha pregação a respeito da cruz de Cristo não causaria dificuldade para ninguém.”.
Isto implica que é possível que os oponentes de Paulo podem ter até mesmo usado o seu nome para enganar os gálatas, dizendo-lhes falsamente que Paulo dizia que a circuncisão era necessária para a salvação.
Isto explicaria a defesa que ele fez ironicamente desautorizando o que haviam falado a seu respeito.


O Amor é o Cumprimento da Lei e a Luta da Carne e o Espírito (Gál 5 – P 2)

“12 Eu quereria que fossem cortados aqueles que vos andam inquietando.
13 Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis então da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros pelo amor.
14 Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.
15 Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede não vos consumais também uns aos outros.
16 Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne.
17 Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis.
18 Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei.
19 Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza, lascívia,
20 Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias,
21 Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus.
22 Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança.
23 Contra estas coisas não há lei.
24 E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.
25 Se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito.
26 Não sejamos cobiçosos de vanglórias, irritando-nos uns aos outros, invejando-nos uns aos outros.” (Gál 5.12-26).

Ao se referir aos judaizantes no verso 12 dizendo: “Eu quereria que fossem cortados aqueles que vos andam inquietando.“, parece que o apóstolo tinha em mente a circuncisão que eles tanto prezavam e pregavam como o fim mesmo da vida com Deus, e assim ele diz, já que eles gostam tanto de cortar os prepúcios, que eles então se mutilem totalmente.
Parece que Paulo estava falando de modo irônico para deixar nos gálatas uma impressão bastante forte quanto à religião que eles estavam querendo seguir: baseada na carne e não no Espírito.
Ele vai falar logo a seguir da luta da carne contra o Espírito e do Espírito contra a carne.
Na ilustração do capítulo anterior ele havia demonstrado que é um princípio inalterável esta luta entre o que é carnal e o que é espiritual no exemplo que ele havia fixado em Ismael e Isaque, em Agar e Sara; entre a Jerusalém terrena e a Jerusalém celestial; entre o escravo e o livre; entre o nascido por promessa e o não nascido por promessa.
Todas estas comparações tinham em vista conduzir ao entendimento de que o cristão estará sempre empenhado numa luta contra a carne (natureza terrena), não propriamente ele, senão o Espírito que nele habita (nova natureza obtida pela fé em Cristo).
Aquelas ilustrações do capítulo anterior tinham em vista ensinar que o que é nascido meramente da carne, não herdará o céu e tudo o que é espiritual, celestial e divino, juntamente com o que é nascido do Espírito.
Porque o que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.
O homem não herdará o céu, a menos que tenha sido transformado em espiritual, e isto é uma obra exclusiva do Espírito Santo que é dado somente àqueles que crêem em Cristo.
Foi somente a estes que Deus fez a promessa de conceder o Espírito, porque disse a Abraão que daria esta bênção somente aos que estivessem unidos ao seu descendente, que é Cristo, verdade à qual Paulo já havia se referido no terceiro capítulo.
Ao chegar a este nível de argumentos na epístola, Paulo iria deixar de lado o assunto da circuncisão para se concentrar na fonte que havia dado causa ao problema dos gálatas.
Ele iria colocar o dedo na ferida para extirpar a infecção que havia contaminado toda a igreja.
Ele fez o diagnóstico espiritual e afirmou a eles que haviam caído não por uma mera troca de doutrina.
Não foi meramente a  circuncisão que lhes havia afastado da comunhão com Cristo.
Algo tinha acontecido com eles antes de terem sido fascinados pelos judaizantes, e foi isto que permitiu a facilidade de semear sua heresia entre eles.
Eles haviam feito um mau uso da liberdade que alcançaram em Cristo. Eles não usaram a liberdade da graça para crescerem no amor servindo uns aos outros.
Antes, eles usaram esta liberdade para dar ocasião às suas cobiças carnais.
Eles pensaram que ser livrado por Cristo significava liberdade para fazerem o que fosse do agrado deles. Isto é, para fazerem a vontade do ego. Eles perderam de vista o jugo e o fardo de Jesus, que é a obediência devida a Ele.
Eles perderam de vista a cruz que deve ser carregada diariamente, e o dever da auto-negação.
Eles esqueceram o que o apóstolo lhes havia ensinado acerca da vida eterna que existe nos cristãos e que deve crescer até à inteira plenitude de Deus, para que através disso possa ser possível combater o erro e toda forma de morte espiritual que é decorrente dele.
  É somente pela permanência na vida espiritual que é operada pela fé, e que cresce na provação da fé, que se pode ser mais do que vencedor na prática da vida cristã diária, e não apenas por mero conhecimento doutrinário.
A doutrina verdadeira deve ser praticada, senão as graças que existem em nós, estão prestes a morrer (desaparecer), tal como havia ocorrido com a Igreja de Sardes (Apo 3.1,2).
Contudo quem é suficiente para estas coisas?
Então eles perderam também de vista a necessidade de se estar debaixo da influência do Espírito Santo, praticando a Palavra de Deus (andar no Espírito) para que então, estas coisas ordenadas pelo Senhor possam ser cumpridas e vividas.
A liberdade cristã não é liberdade para a carne, mas liberdade para a nova criatura.
A carne deve ser mortificada, e por isso foi crucificada juntamente com Cristo quando Ele morreu na cruz do Calvário (v. 24).
A nova criatura, esta sim, é livre, ela é celestial e não terrena.
Ela é responsável e perfeitamente santa. É a semente da vida eterna que foi semeada no coração do cristão.
É a nova vida do céu que foi implantada nele, e que está destinada a crescer e a vencer a antiga natureza, assim como a Nova Aliança revogou e substituiu a Antiga.
Ela é o odre novo no qual o Senhor está colocando o seu vinho celestial da verdadeira alegria.
É por viver e andar no Espírito, no crescimento progressivo da nova natureza, que os cristãos são habilitados e capacitados a viverem em unidade, sendo um só corpo em Cristo, unidos pelo vinculo do amor.
Somente assim se cumpre o propósito de Deus em relação a eles.
Porém, quando se deixam governar pela carne, e negligenciam os deveres que lhes são ordenados na Palavra, quando deixam de ser diligentes no hábito da santificação, esquecendo de purificar seus corações pela Palavra, pelo poder do Espírito, e de permanecerem continuamente nisto por todos os dias das suas vidas, então o que se verá são todas as manifestações que são designadas por obras da carne (dissensões, iras etc) e não o fruto do EspÍrito, que é amor, paz etc.
Os que andam na carne jamais cumprirão a Lei, e se iludirão se pensarem que a estão cumprindo.
Os que andam no Espírito têm cumprido a Lei, e por isso não estão debaixo da Lei (v. 18), porque não há lei que possa ser contrária ao fruto do Espírito Santo (v. 23).
Como toda Lei se cumpre no amor (v. 14) que é fruto do Espírito, então nenhum cristão deve negligenciar o dever de amar a Deus e ao próximo, para que não seja achado em falta quanto ao cumprimento da Lei. Porque se diz que aquele que ama tem cumprido a Lei.
É muito fácil errar esse alvo, e é aí que Satanás encontra facilidade para semear o joio.
Não basta portanto somente defender a sã doutrina, é necessário praticá-la por um viver no amor de Deus.
É por isso que Paulo diz no verso 24 que: “os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências”.
Ora, se Deus sentenciou à morte a carne com suas paixões e cobiças na cruz, como podem os cristãos viverem, debaixo desta influência, em vez de se despojarem de tudo isto, uma vez que a vontade de Deus é que este corpo de morte de pecado não seja apenas morto, mas também lançado fora?
A nós é dado o dever de fazermos este trabalho de despojamento pelo Espírito Santo, em vez de hospedarmos o velho homem que já foi morto desde o dia que nos convertemos a Cristo e passamos a pertencer a Ele.
Deste modo quanto mais uma igreja se torna carnal mais ela estará sujeita à influência das falsas doutrinas.
Elas serão recepcionadas com muito maior facilidade, porque é somente sendo espirituais que podemos discernir não somente estas coisas, porque o homem espiritual discerne todas as coisas, principalmente as coisas que são do Espírito, porque elas se discernem espiritualmente.
Portanto é nosso dever nos interessarmos por esta luta do  Espírito contra a carne, para apoiarmos a parte que deve ser apoiada, e destruir a que deve ser despojada.
Paulo fala disto como sendo o dever não somente dos gálatas, mas de todos os cristãos.
Se é por um andar no Espírito que se vence a cobiça da carne, então devemos nos empenhar firmemente em não apenas aprender o significado disto, como também o modo correto de praticá-lo.
A vida cristã não é uma vida contemplativa, não é uma mera devoção mística, porque é possível ser isto e estar completamente distante da verdade revelada.
Antes é uma vida que deve ser aprendida. É uma prática, é um hábito, é um constante crescimento na graça e no conhecimento de Jesus.
Por isso, para dissuadir os gálatas das suas falsas convicções, Paulo argumentou fortemente com eles dizendo que se é pelos pecados, que os praticantes deles que os amam e não pretendem deixá-los, serão deixados do lado de fora do céu, como podem os cristãos, que ganharam o céu por Jesus Cristo, permanecerem na prática destas mesmas obras pecaminosas?
É portanto, dever de todos eles purificarem seus corações pela Palavra, mediante o poder do Espírito.
É somente na Palavra revelada que os cristãos podem portanto achar segurança para ficarem livres dos erros satânicos, e de juízos errados relativos à verdade.

Veja o que o apóstolo nos ensina sobre a luta que existe permanentemente entre a carne e o Espírito, e vice- versa:

"Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao outro, para que não façais o que quereis." (Gál 5.17).

Observe que ele afirma que a carne e o Espírito se opõem mutuamente para que  não façamos o que seja do nosso querer. O que ele quis dizer com isto?
É que  na verdade tanto a carne quanto o Espírito lutam contra a lei natural da  nossa mente, e contra as disposições da nossa alma. Isto é, tanto um quanto o  outro, pretendem ter o domínio da nossa vontade e de todo o nosso ser.
A  carne pretende nos levar a pecar ainda que não o queiramos; e  o  Espírito Santo pretende nos santificar e levar-nos a viver não pelo que é propriamente  da nossa vontade, mas por aquilo que é da vontade de Deus.
Então o Espírito não luta contra a carne para que seja feito o que seja do nosso querer, mas para que a vontade de Deus possa se cumprir em nós.
O Espírito procurará nos  levar portanto à cruz para que a carne possa ser crucificada com as suas  paixões e desejos (Gál 5.24).
Jesus diz que as Suas palavras são espírito e vida  (João 6.63). Isto é, elas não são mera letra, e não devem ser captadas, apenas pela mente como tal, mas deve ser buscada a realidade para a qual elas  apontam.








Gálatas 6

A Lei da Longanimidade e do Amor do Evangelho (Gál 6 – P 1)

“1 Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, restaurai o tal com espírito de mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado.
2 Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo.
3 Porque, se alguém cuida ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo.
4 Mas prove cada um a sua própria obra, e terá glória só em si mesmo, e não noutro.
5 Porque cada qual levará a sua própria carga.
6 E o que é instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui.
7 Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará.
8 Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.
9 E não nos cansemos de fazer bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido.
10 Então, enquanto temos tempo, façamos bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé.” (Gál 6.1-10).

A palavra grega paraptoma, usada por Paulo e traduzida por “ofensa” no verso 1, é a mesma palavra usada em várias passagens do Novo Testamento para se referir a pecados ou faltas, sendo a mesma palavra usada por Jesus no Pai Nosso, onde se diz “perdoa as nossas ofensas”.
Então não significa apenas injúrias, mas todo tipo de falta que possa ser praticada contra o próximo. E Tiago faz o mesmo uso desta palavra quando diz que devemos confessar nossas ofensas uns aos outros.
Paulo não estava portanto se referindo aqui a erros doutrinais, mas a pecados  que operam na carne e que sujam o coração do cristão. E ele expõe a maneira como isto deve ser tratado na Igreja: os que são fortes devem levantar o caído com espírito de mansidão.
Esta norma deveria ser seguida particularmente pelos ministros da Palavra.
Os pastores devem reprovar o caído, mas quando vêem que o caído sente e se entristece pela sua condição, devem, confortá-lo e cobrirem a sua falta com o amor que cobre multidão de pecados, tanto quanto possam.
Assim como o Espírito Santo é inflexível quanto  ao assunto de manter a doutrina da fé, Ele é também muito misericordioso para com os pecados dos homens, contanto que os pecadores se arrependam. Porque Ele não consola aquele que vive deliberadamente no pecado, apesar de ser um Consolador amoroso e fiel.
A palavra no original grego para o verbo restaurar do verso 1 é katartizo, que significa restaurar como quem liga de novo um osso que foi quebrado.
Deste modo, o dever do cristão espiritual não é o de condenar o cristão fraco, mas de restaurá-lo com a paciência e o cuidado com que um ortopedista cuida de uma fratura.
O espírito de mansidão é o modo correto determinado pelo apóstolo de fazê-lo.
Não com ira e paixão, como aqueles que triunfam sobre a queda de um irmão, mas como aqueles que choram por eles.
Muitas reprovações necessárias perdem a sua eficácia quando são determinadas em ira.
Ainda mais um cuidado é colocado pelo apóstolo para aqueles que estiverem empenhados no trabalho de restaurar os que estão caídos.
Eles devem olhar por si mesmos de maneira que não venham também a cair como eles.
Nós também podemos ser tentados e sermos vencidos pela tentação, e isto nos ajudará a ter em mente, enquanto ajudamos outros, que não somos melhores do que eles, porque como disse Agostinho, “não há nenhum pecado que uma pessoa cometa, que outra pessoa também não possa cometer”.
Nós andamos em lugares escorregadios neste mundo, e como diz Tiago, tropeçamos em muitas coisas.
Daí a advertência de I Cor 10.12:

“Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia.”.

E em razão da nossa fraqueza e debilidade comum, somos orientados a carregar os fardos uns dos outros (verso 2), porque é nisto que consiste principalmente a Lei de Cristo relativa ao novo mandamento que Ele deu ao povo de Deus, a saber, que nos amemos uns aos outros assim como Ele nos amou.
Jesus não esmagou a cana quebrada, e nos é imposto o dever de fazer o mesmo, porque foi por amor ao pecador e por ser paciente com a sua fragilidade que Ele procedeu de tal maneira.
Aqueles que se gloriam no seu conhecimento das coisas de Deus e que não vivem de acordo com esta regra, tal como era o caso dos falsos apóstolos, na verdade nada são, e estão enganando a si mesmos (v. 3).
Eles se consideram mestres, e não o são; eles se consideram superiores aos demais pecadores e não o são.
Cada qual deve examinar as suas próprias obras segundo esta regra que foi exposta, e então terá motivo de se gloriar em si mesmo, e não naquilo que os outros estão fazendo debaixo da suas ordens.
Afinal, cada um dará contas de si mesmo a Deus, e não será considerado de modo algum no Juízo, como atenuante ou agravante, quanto fomos ajudados ou atrapalhados por outros.
Particularmente o trabalho do ministério deve ser auto examinado por esta regra, de modo que permaneçamos em dependência e humildade diante de Deus.
Não será pela quantidade de louvores que recebemos dos outros que seremos aprovados por Deus. Ao contrário, há um grande perigo nisto, e por isso fomos devidamente alertados pelo Senhor.
A carga que cada um levará respectivamente referida no verso 5 é uma referência ao julgamento das nossas obras no Tribunal de Cristo. E onde cada um dará contas de si mesmo a Deus.
E, se há um tal tempo terrível a ser esperado, quando Deus julgará a cada um conforme as suas obras, isto serve de uma boa razão para julgarmos a nós mesmos e qual tem sido afinal o nosso trabalho na presença de Deus.
Quanto ao que Paulo diz no verso 6 : “E o que é instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui.”, a determinação deste versículo se faz necessária porque quando Satanás não pode suprimir a pregação do verdadeiro Evangelho por força, ele tenta atingir o seu propósito golpeando os ministros do Evangelho com pobreza extrema.
Deste modo  a advertência de Paulo de que os cristãos compartilhem todas as coisas boas com os seus pastores e com os seus mestres, que tenham sido chamados por Deus a servir o evangelho em tempo integral, é certamente correta.
Do verso 7 até o 10 nós encontramos tanto um encorajamento quanto uma séria advertência quanto a isto que Paulo havia falado nos versos anteriores.
Porque os cristãos devem ser diligentes e se aplicarem seriamente a todas estas ordenanças porque elas estão de acordo com o mandamento do Senhor para a Igreja, de modo que estão sujeitos à lei espiritual da colheita, segundo a semeadura, pois tudo o que semeassem seria o que colheriam.
Se bem, colheriam bem; se mal colheriam mal, segundo a justa retribuição de Deus.
E na semeadura há também um princípio relativo à intensidade porque o que semeia pouco colhe pouco e o que semeia muito colhe muito, e ele aponta para o dia do julgamento das obras dos cristãos mostrando que tudo está sendo considerado por Deus para aquele dia de acerto de contas, para imputação de dano, ou distribuição de recompensa.
E ele lembra que é tanto possível semear na carne quanto no Espírito.
O cristão deve optar não por semear na carne, mas senão no Espírito porque é somente assim que ele poderá obter o galardão de Deus. E por isso ele conclui no verso 10 com as seguintes palavras: “Então, enquanto temos tempo, façamos bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé.”.


O Zelo de um Verdadeiro Apóstolo Comparado com o do Falsos (Gál 6 – P 2)

“11 Vede com que grandes letras vos escrevi por minha mão.
12 Todos os que querem ostentar-se na carne, esses vos obrigam a circuncidar-vos, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo.
13 Porque nem ainda esses mesmos que se circuncidam guardam a lei, mas querem que vos circuncideis, para se gloriarem na vossa carne.
14 Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.
15 Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura.
16 E a todos quantos andarem conforme esta regra, paz e misericórdia sobre eles e sobre o Israel de Deus.
17 Desde agora ninguém me inquiete; porque trago no meu corpo as marcas do Senhor Jesus.
18 A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja, irmãos, com o vosso espírito! Amém.” (Gál 6.11-18).

Nós chegamos à última seção desta epístola onde o apóstolo começa a se despedir dos gálatas a partir do verso 11,  fazendo suas considerações finais, e para mostrar a eles o zelo que teve em lhes dirigir esta epístola, registrou que foi ele próprio o seu redator, e que não tinha se valido de qualquer amanuense, como fazia em todas as suas demais epístolas, nas quais fazia apenas questão de escrever de próprio punho a saudação das mesmas, como um sinal de que eram de sua autoria (II Tes 3.17), para prevenir falsificações em seu nome.
Quando ele diz neste verso 11: “Vede com que grandes letras vos escrevi”, a expressão grandes letras, certamente não é uma referência ao tamanho das letras, mas a extensão da epístola, considerando que era muito grande para ele não  ter se valido de um amanuense, tendo em vista que era uma tarefa difícil escrever naqueles dias, tanto no que tange ao uso da tinta, quanto ao tipo de superfície usada para a escrita, sendo em pergaminho ou papiro.
Ao falar dos falsos apóstolos e mestres Paulo fez de si mesmo um contraste com eles, conforme vemos nos versos 12 a 15, e 17.
Os falsos apóstolos buscavam a sua própria glória ao manipularem os gálatas ao seu bel prazer, sujeitando-os a fazer a própria vontade deles, especialmente por constrangê-los a se circuncidarem.
Paulo trazia no seu corpo as marcas das perseguições que havia sofrido por amor a Cristo (v. 17).
E os falsos apóstolos e mestres em vez de trazerem marcas no seu corpo faziam estas marcas no corpo dos outros, como faziam com os gálatas em relação à circuncisão.
Além disso eram covardes e temiam muito sofrerem por causa da sua religião, porque ordenavam aos gentios a se circuncidarem para não serem perseguidos pelos judeus.
Eles haviam se convertido nominalmente ao cristianismo, não conheciam de fato ao Senhor, e o único senhor deles era Satanás que lhes havia infiltrado como joio na Igreja para inquietarem os verdadeiros cristãos.
Paulo disse ainda neste verso 17 que dali por diante ninguém mais lhe inquietasse.
Muitos devem lhe ter aborrecido com questionamentos sobre quem de fato estava com a verdade, se ele ou os judaizantes, e ele deve ter sido pressionado pelos gálatas também quanto aos reais motivos que o levaram a lhes pregar o evangelho, dentre muitas outras questões que não somente denunciavam as dúvidas que estavam levantando não somente quanto à doutrina que Paulo lhes pregara, como também quanto ao próprio caráter do apóstolo.
Eles lhe haviam provocado, inquietado, aborrecido o suficiente, e tiveram com esta epístola uma resposta bem mais alta do que a expectativa deles, e por conseguinte ele lhes disse, em outras palavras: “Não me aborreçam mais daqui em diante com estes questionamentos. Tudo está respondido. As marcas que trago no corpo por amor ao evangelho são a minha resposta relativamente ao meu caráter e às intenções com que tenho pregado.”.
Enquanto os falsos apóstolos buscavam a sua própria glória com o fim de fazerem ostentação na carne, isto é, para mero exibicionismo pessoal (v. 12, 13), Paulo afirmou que diferentemente deles, ele se gloriava somente na cruz de Cristo, porque por ela ele estava crucificado para o mundo e o mundo para ele.
Então não tinha nenhum motivo para procurar para si qualquer glória mundana.
A glória pela qual ele aspirava era a celestial e esta se alcança buscando somente glória para o próprio Deus (v. 14).
E não somente Paulo como todos os cristãos têm fundas razões para se gloriarem somente na cruz de Cristo, porque foi por causa da Sua morte que alcançaram toda sorte de bênçãos espirituais nas regiões celestes (Ef  1.3).
Como Paulo sabia que aqueles falsos apóstolos não eram nascidos de novo pelo Espírito, como não eram novas criaturas em Cristo, ele podia afirmar com toda a segurança em relação a eles que nenhum deles guardava a lei (v. 13) que afirmavam defender com suas práticas cerimoniais e rituais, porque sabemos que aquele que não é nova criatura não pode de modo algum guardar os mandamentos de Deus da maneira que convém guardá-los, de forma que se possa dizer deles que estão Lhe obedecendo verdadeiramente.
Nós já apresentamos anteriormente fartos argumentos para afirmar a razão desta impossibilidade. Daí Paulo afirmar que “em Cristo Jesus nem a circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura.” (v. 15).
Tão convicto o apóstolo estava da verdade da sua doutrina, que afirmou no verso 16 que: “a todos quantos andarem conforme esta regra, paz e misericórdia sobre eles e sobre o Israel de Deus.”, isto é, aos gálatas que se submetessem a todos os mandamentos e à doutrina que lhes passou nesta epístola, estes, e somente estes, poderiam contar com a misericórdia e a paz de Deus em suas vidas, e para não restringir a área de efeito desta bênção, Paulo a estendeu a todo o Israel  de Deus, a saber, sobre toda a Igreja de Cristo de todas as épocas e lugares.
Não há bênção de paz e misericórdia, ou qualquer outra bênção de Deus senão para aqueles que obedecem a Sua Palavra, especialmente nos aspectos destacados por Paulo nesta epístola.
Para fechar a epístola, Paulo recomendou os gálatas à graça de nosso Senhor Jesus Cristo, e para fixar neles que a graça opera nos cristãos, forjando sobretudo as bênçãos espirituais, ele delimita a ação da graça no espírito deles (v. 18), de modo que fossem desestimulados de buscarem as bênçãos de Deus através de práticas carnais de cunho cerimonial e ritualístico.





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