sábado, 17 de outubro de 2015

Judas 1

O Judas, autor desta epístola, era, tanto quanto Tiago, que também escreveu  a epístola que leva o seu nome,  filho de Maria e de José, e portanto, eram irmãos de Jesus, segundo a carne.
Paulo escreveu em Gálatas 1.19 que Tiago era irmão de Jesus.
Em Mateus 13.55 são citados Tiago e Judas, juntamente com outros irmãos de Jesus:
“Não é este o filho do carpinteiro? e não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão, e Judas?”  (Mt 13.55).
Estes vieram a se converter, provavelmente depois da ressurreição de Jesus, porque, até então é dito que até mesmo seus irmãos não criam nEle (João 7.5).
Mas, uma vez convertidos, tanto Tiago quanto Judas se tornaram apóstolos fervorosos, notáveis e empenhados na obra do evangelho, testemunhando que Aquele que era irmão deles segundo a carne, era na verdade o próprio Filho de Deus que havia morrido, ressuscitado e subido aos céus em glória, para a salvação dos pecadores.
No entanto, Judas não se apresentou como irmão de Jesus, mas de Tiago. Ele afirmou na introdução da epístola ser servo de Jesus, para que ficasse firmado não o laço natural de família que tivera com Ele, mas a submissão ao Seu senhorio no reconhecimento a que chegara pela conversão, de que Ele era o Messias que deveria vir ao mundo, conforme havia sido profetizado desde os dias do Velho Testamento.

Judas escreveu aos chamados, que são aqueles que são santificados e regenerados pelo Espírito segundo a vontade de Deus Pai, e que são conservados para não mais morrerem eternamente por causa de Jesus Cristo, e da obra de expiação e redenção que fizera em favor deles.
A estes, que são pertencentes ao Senhor, por terem sido lavados e remidos no sangue do Senhor, Judas lhes saudou desejando que a misericórdia, a paz e o amor lhes fossem multiplicados, isto é, que estas graças aumentassem continuamente neles.
Porque é necessário ter o aumento destas e de outras graças na vida espiritual, para que haja crescimento e amadurecimento na fé, de maneira que os crentes possam estar habilitados a se empenharem na batalha da fé, para a propagação do evangelho, conforme a grande comissão que Jesus deu à Igreja de fazer discípulos em todas as nações.
Os ministros do evangelho, tal como Judas, têm o dever de exortar os crentes a se empenharem diligentemente na obra do evangelho, na defesa da fé, que foi entregue de uma vez aos santos desde o Pentecostes, para permanecerem fiéis na realização da obra de evangelização do mundo, que lhes foi designada pelo Senhor.  
Judas disse que tinha se empenhado com toda diligência para escrever aos crentes, acerca da salvação comum em Jesus Cristo, e percebeu que havia necessidade, ao se referir a este assunto que é o de principal interesse de Deus e da Sua Igreja, que deve haver uma permanente exortação para que se batalhe o bom combate da fé para a propagação do evangelho.
O motivo destas exortações ao empenho na obra de Deus, tinha principalmente a sua razão de ser por causa da intromissão de alguns homens com dissimulação no ministério, que estavam convertendo a graça de Deus que foi dada aos crentes para santificá-los, como motivo para justificarem um viver na carne e no pecado, sob o argumento de que uma vez que é pela graça que se é salvo, não há nenhum impedimento em que se viva pecando, porque afinal, a graça cobrirá todas as transgressões do pecador.
Isto é, no dizer de Judas, transformar a graça em licenciosidade, em luxúria, em dissolução; porque não fora afinal para este propósito que ela foi dada aos pecadores, senão para operar a santificação de suas vidas.
Quem se empenhar na realização de uma verdadeira obra de Deus há de sentir a necessidade de santificar-se porque sem isto não se pode combater os poderes das trevas, e prevalecer com os pecadores, trazendo-os à obediência de Cristo.                
Quando falta tal compromisso que é esperado por Deus, que todos os Seus filhos tenham com Ele, e com a obra do evangelho que Ele lhes designou para ser feita, não é possível ser usado pelo Senhor, porque Ele requer a santificação dos crentes para que possam ser empenhados numa obra regular do evangelho, e é fazendo a obra que eles são santificados. Há portanto uma relação de causa e efeito neste caso, porque é fazendo a obra que aprendemos o significado da verdade de suportar aflições e oposições por amor a Cristo, porque todos os que se comprometerem de fato com a obra do Senhor, sofrerão perseguições; e é nisto que se revelará até que ponto estão realmente andando em fidelidade com Deus.    
Por isso Judas exortou os crentes a combater em defesa da fé, isto é, do verdadeiro evangelho, para manterem a verdade em face dos muitos falsos obreiros que estavam se levantando no seio da Igreja, para introduzirem heresias destruidoras, de maneira dissimulada.
Estes falsos profetas, pastores e mestres pregam a si mesmos e não a Cristo. Mesmo quando eles falam do Senhor, não é o Cristo da Bíblia que eles apresentam aos seus ouvintes, mas o cristo criado pela própria imaginação deles.
Mas tanto as Escrituras do Antigo Testamento, quanto o Senhor Jesus Cristo haviam alertado à Igreja quanto ao trabalho destes ministros de Satanás, que procuram afastar o povo de Deus da verdade.
Estes homens são ímpios (v. 4). Eles têm aparência de piedosos, mas negam a eficácia da piedade e santidade em suas próprias vidas, porque são carnais, e andam segundo o homem, e não segundo o Espírito de Deus.
A propósito Judas afirma acerca destes homens que eles são os que causam divisões na Igreja, porque são sensuais, isto é, carnais, e não andam segundo o Espírito, porque eles não têm o Espírito Santo (v. 19).
Este falso evangelho que é pregado por estes ímpios que não tem o Espírito deve ser veementemente rejeitado.
Judas chamou o argumento em prol da necessidade de uma santificação experiencial e real na vida de todos os crentes, em recusa à proposta de um viver negligente e licencioso proposto pelos falsos mestres, lembrando a Igreja o que sucedeu aos judeus incrédulos e que viveram transgredindo os mandamentos de Deus nos dias de Moisés, e o que também sucedera aos anjos que se rebelaram no céu contra o Senhor (v. 5,6), os quais foram reservados às trevas em prisões eternas até o grande dia do Juízo de Deus que lavrará para sempre a sentença de condenação deles a viverem eternamente no lago de fogo e enxofre.
Também, para o mesmo propósito lembrou que Sodoma e Gomorra foram destruídas no passado para serem postas como um monumento do juízo de Deus sobre os que permanecerem na prática deliberada do pecado (v. 7).
Uma das características destes falsos líderes é que falta a eles espírito de submissão, porque eles sempre serão achados desejando fazer valer a própria vontade e projetos deles. Não se verá nunca neles aquela humildade,mansidão, humildade que estiveram no próprio Cristo,e que se vê nos Seus verdadeiros discípulos.
Eles não podem ver as coisas espirituais, celestiais e divinas, porque não têm a iluminação do Espírito Santo, em seus espíritos e corações para poderem enxergar que há princípios de autoridade no mundo espiritual, a ponto do próprio arcanjo Miguel não ter ousado pronunciar juízo de maldição contra Satanás quando contendia com ele a respeito do corpo de Moisés, que o diabo, certamente pretendia colocar como objeto de adoração para Israel, depois da sua morte; de maneira que o Senhor mesmo sepultou o corpo de Moisés, e nunca se soube o lugar da sua sepultura, e não foi permitido a Satanás divulgá-lo aos israelitas.
Como lhes falta este conhecimento verdadeiro do reino espiritual, eles falam mal das coisas que não conhecem, e até naquilo que é natural agem como irracionais, corrompendo-se (v. 10).
Eles são os descendentes autênticos de Caim porque vivem a invejar os que são verdadeiramente devotados a Deus; e também de Balaão, porque servem na Igreja por interesse de ganho pessoal; e também de Coré, porque ambicionam a posição de autoridade espiritual em que se encontram aqueles que foram chamados verdadeiramente por Deus (v. 11).
Eles são árvores que não foram plantadas pelo Senhor; são árvores murchas, sem raízes, que não podem dar frutos; são nuvens que são desfeitas pelo vento porque não têm nenhuma chuva de graça para derramar sobre os seus seguidores. Eles não estão enraizados no Senhor e na Sua verdade, e assim não conhecem a festa do Espírito, nos banquetes espirituais dos quais participam somente aqueles que têm o temor do Senhor e Lhe obedecem. Eles amam banquetes e festas carnais, a pretexto de serem festas para incrementar o amor da Igreja, mas não é este amor para o qual Cristo tem chamado os crentes a viverem, porque não é carnal, natural, mas espiritual.
Eles não se despojam dos feitos da carne, que são trazidos de volta de tempos a tempos, tal como fazem as ondas do mar com as escumas que elas sempre mantêm em movimento, e que não podem, por si mesmas, serem livradas de suas sujidades.
Eles aparecem aos seus ouvintes como estrelas, porque Satanás e seus ministros se transfiguram em anjos de luz,  mas são estrelas errantes para as quais está reservada eternamente a negrura das trevas.
Os crentes devem portanto zelar pela sua santificação e não se deixarem levar pelo falso evangelho e pela graça barata que estes falsos pastores lhes oferecem, e que é uma grande tentação para eles, porque afinal, eles não lhes exigem nenhuma diligência para viverem de modo agradável a Deus, e não lhes incentivam a fazer uma obra genuína de evangelização, para a propagação do reino de Deus, pela conversão real de pecadores, pela pregação do evangelho e pela operação do poder do Espírito.
O Senhor virá com todos os seus santos para dar a cada um conforme as suas obras. Para condenar todos os ímpios, por causa de suas obras de impiedade e por todas as duras palavras que proferiram contra Ele.
Estes falsos pastores não pregam o evangelho da cruz, não ensinam que o crente se encontra crucificado juntamente com Cristo para as paixões da carne e para o mundo, devendo se despojar do velho homem, e vencer o mundo e o diabo, por um testemunho de vida de quem anda por fé  e não por vista, e cujo coração está no tesouro celestial e não nas coisas terrenas.
O crente verdadeiro se gloria na cruz e nas suas fraquezas; e não se queixa da sua sorte porque sabe que a sua vida está nas mãos de Deus, mas estes falsos líderes apontam para facilidades e riquezas, e criticam aqueles que não são tão prósperos materialmente quanto eles, alegando que é por falta de fé deles. São arrogantes, aduladores de homens, e fazem tudo por serem interesseiros, e não por amor ao Senhor.
Para não serem enganados, abraçando um evangelho falso, os crentes foram previamente alertados por Jesus e pelos apóstolos, de maneira que, especialmente nos últimos tempos, não sigam as pegadas destes ímpios escarnecedores que andam segundo as suas cobiças.
Então, o melhor remédio contra uma possível apostasia é edificar a si mesmo em santificação, pelo exercício da fé, orando em todo o tempo no Espírito; esforçando-se diligentemente para permanecer no amor de Deus, aguardando a misericórdia de Jesus Cristo quanto à promessa da vida eterna que Ele nos fez.
Diferentemente dos falsos mestres que pensam somente em si mesmos e nos seus próprios interesses, os crentes autênticos devem usar de misericórdia para com os pecadores e se empenharem debaixo do temor de Deus, com vistas à salvação de alguns, arrebatando-os das mãos do diabo e do fogo, detestando até mesmo a roupa manchada da carne, isto é, o zelo pela santificação deve ser de tal ordem, que até mesmo as roupas que foram usadas na prática da impiedade devem ser inteiramente rejeitadas.
Este trabalho deve ser feito com oração perseverante, com plena confiança de que o Senhor é  poderoso para nos guardar de tropeçar, e para nos apresentar irrepreensíveis, com alegria, perante a Sua glória.
Deste modo, como é o próprio Senhor quem garante a nossa vida vitoriosa, na medida em que nos dispomos a combater em favor da fé do evangelho, independentemente das coisas que possamos vir a sofrer por causa do Seu nome, a Ele somente seja toda a glória, majestade, domínio e poder, agora  e para todo o sempre.
Amém!                                



“1 Judas, servo de Jesus Cristo, e irmão de Tiago, aos chamados, santificados em Deus Pai, e conservados por Jesus Cristo:
2 Misericórdia, e paz, e amor vos sejam multiplicados.
3 Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da salvação comum, tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos.
4 Porque se introduziram alguns, dissimuladamente, que já antes estavam escritos para este mesmo juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de Deus, e negam a Deus, único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo.
5 Mas quero lembrar-vos, como a quem já uma vez soube isto, que, havendo o Senhor salvo um povo, tirando-o da terra do Egito, destruiu depois os que não creram;
6 E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele grande dia;
7 Assim como Sodoma e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que, havendo-se entregue à fornicação como aqueles, e ido após outra carne, foram postas por exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno.
8 E, contudo, também estes, semelhantemente adormecidos, contaminam a sua carne, e rejeitam a dominação, e vituperam as dignidades.
9 Mas o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele; mas disse: O Senhor te repreenda.
10 Estes, porém, falam mal do que não sabem; e, até naquilo que naturalmente conhecem, como animais irracionais se corrompem.
11 Ai deles! porque entraram pelo caminho de Caim, e foram levados pelo engano do prêmio de Balaão, e pereceram na contradição de Coré.
12 Estes são manchas em vossas festas de amor, banqueteando-se convosco, e apascentando-se a si mesmos sem temor; são nuvens sem água, levadas pelos ventos de uma para outra parte; são como árvores murchas, infrutíferas, duas vezes mortas, desarraigadas;
13 Ondas impetuosas do mar, que escumam as suas mesmas abominações; estrelas errantes, para os quais está eternamente reservada a negrura das trevas.
14 E destes profetizou também Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos;
15 Para fazer juízo contra todos e condenar dentre eles todos os ímpios, por todas as suas obras de impiedade, que impiamente cometeram, e por todas as duras palavras que ímpios pecadores disseram contra ele.
16 Estes são murmuradores, queixosos da sua sorte, andando segundo as suas concupiscências, e cuja boca diz coisas mui arrogantes, admirando as pessoas por causa do interesse.
17 Mas vós, amados, lembrai-vos das palavras que vos foram preditas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo;
18 Os quais vos diziam que nos últimos tempos haveria escarnecedores que andariam segundo as suas ímpias concupiscências.
19 Estes são os que causam divisões, sensuais, que não têm o Espírito.
20 Mas vós, amados, edificando-vos a vós mesmos sobre a vossa santíssima fé, orando no Espírito Santo,
21 Conservai-vos a vós mesmos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna.
22 E apiedai-vos de alguns, usando de discernimento;
23 E salvai alguns com temor, arrebatando-os do fogo, odiando até a túnica manchada da carne.
24 Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória,
25 Ao único Deus sábio, Salvador nosso, seja glória e majestade, domínio e poder, agora, e para todo o sempre. Amém.”

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