terça-feira, 20 de outubro de 2015

I Samuel 1 a 31

I Samuel 1

O Nascimento do Grande Profeta Samuel

O primeiro capítulo do livro de I Samuel destaca a maravilhosa e sobrenatural providência e presciência de Deus trazendo ao mundo um menino que marcaria uma grande diferença na história de Israel, reconduzindo o povo do Senhor aos Seus caminhos, influenciando a muitos em Israel, pelo seu exemplo de santidade e obediência.
Com Samuel, Deus estaria comprovando mais uma vez, tal como fizera no período dos Juízes, que é pela Sua própria soberania e poder, que Ele reconduz o Seu povo à verdade, e que aviva aquilo que estava morrendo, e com isto nós podemos tirar a lição de que podemos confiar inteiramente nEle, de modo a não concluirmos que a situação da Igreja possa ser de desespero, isto é, de não haver qualquer esperança para ela, quando as coisas não caminham segundo a verdade, e quando o povo de Deus se desvia da prática da Sua vontade.
A Igreja prevalecerá como Cristo tem prometido. E isto está sendo demonstrado pelo Senhor ao longo da história.
A Igreja não estava morta na Inglaterra, no País de Gales, na própria América, nos primórdios do século XVIII?
E o que fez Deus a partir de fins da década de 30 daquele século? Ele não reavivou poderosamente a Igreja através do testemunho e da pregação dos homens que levantou?
Os Wesleys e George Whitefield na Inglaterra; Daniel Rowland e Howell Harris, no País de Gales; Jonathan Edwards nos EUA, para não citar outros.
E quando as coisas não iam bem de igual modo, na Igreja antiga de Israel, Ele levantou Samuel, conforme nos é revelado na Sua Palavra, e é isto que devemos aprender principalmente de toda esta história que nos é narrada no livro que estamos estudando: a dependência que os servos de Deus têm da Sua ação direta para promover os consertos de rumo que são necessários na história do Seu povo.
Podemos estar certos de que Ele sempre levantará pastores segundo o Seu coração, que apascentem o Seu rebanho com inteligência e com conhecimento, conforme tem prometido. E Ele tem sido inteiramente fiel no que nos tem prometido, de modo que isto sirva de encorajamento a confiarmos e intensificarmos nossas orações junto ao trono da graça, para que o próprio Deus venha estabelecer o Seu reino entre nós e a capacitar-nos a fazer a Sua vontade.  
Comparando a citação do primeiro versículo: “Houve um homem de Ramataim-Zofim, da região montanhosa de Efraim, cujo nome era Elcana, filho de Jeroão, filho de Eliú, filho de Toú, filho de Zufe, efratita.”, com o texto de I Cr 6.33-38, que destacamos a seguir, nós podemos ver que apesar de a família de Samuel residir em Efraim, e se afirmar isto no primeiro versículo de I Sm 1, todos eles eram levitas, e da mesma genealogia de Coate, um dos filhos de Levi, tal como Moisés e Arão o foram.
No texto de I Crôn 6.33-38, nós vemos que Hemã, que foi designado ao lado de Asafe e Etã a entoarem salmos e cânticos no templo (I Cr 15.19), era neto de Samuel, pois era filho de Joel, filho de Samuel.
Concluímos então que a citação a Efraim deveu-se não à naturalidade dos familiares de Samuel como pertencentes àquela tribo, mas como levitas que haviam se fixado na citada tribo, pois como sabemos, os levitas não receberam herança em Canaã, senão quarenta e oito cidades espalhadas em todo Israel, nas quais habitavam; e também já aprendemos especialmente em Josué, que seis destas quarenta e oito cidades eram cidades de refúgio.
Muitas versões traduzem de modo equivocado a palavra do original hebraico, que aparece no final do verso 1: “, efrata, por efraimita, quando a melhor tradução seria efratita ou efrateu, isto é, alguém natural, de Efrata, uma antiga designação de Belém (Rute 1.2).
Como se vê neste primeiro capitulo do primeiro livro de Samuel, a sua família era devotada a Deus, especialmente em razão de serem levitas.
Elcana seu pai, subia de ano em ano a Siló, onde estava o tabernáculo, para apresentar sacrifícios e adorar ao Senhor (v. 3).
E é aqui que é usada pela primeira vez nas Escrituras o nome de Senhor dos Exércitos,  Jeová Tzabaoth (v. 3, 11), provavelmente para confortar Israel naquela época em que o seu exército era pequeno e fraco, e era consolador saber que o Deus que serviam era o Senhor de todos os exércitos, quer na terra como no céu.
A fidelidade de Elcana é particularmente destacada porque num tempo em que os próprios sacerdotes, Hofni e Finéias, filhos de Eli, eram infiéis a Deus e ao serviço sagrado, que deveriam realizar com zelo e fidelidade; e que tantos em Israel estavam entregues a uma grosseira idolatria.
Mas em meio a tudo isto, Elcana mantinha a sua integridade no dever de adorar ao Senhor, e o fazia com toda a sua família, quando a Lei exigia somente dos homens o dever de subir anualmente ao local onde se encontrasse o tabernáculo, para celebrarem as festas fixas e solenes determinadas pelo Senhor.
E seria no meio desta família devotada, que o Senhor se proveria de um menino, que lhe seria consagrado desde o seu nascimento, conforme inspiraria a Sua mãe a fazê-lo, de modo que purificasse o ofício sagrado do sacerdócio do tabernáculo, pondo-o como sacerdote no lugar de Eli e seus filhos Hofni e Finéias.
A obra de um Deus santo deve ser realizada obrigatoriamente por aqueles que atentam para a necessidade de santidade de suas próprias vidas.
Todavia, mesmo que o ministro seja infiel, Deus permanecerá fiel e fará a sua parte relativamente às bênçãos que tem determinado para o Seu povo, e esta é a razão de derramar a Sua graça sobre aqueles que o buscam, e que se encontram debaixo de um ministério infiel, porque a validade e a eficácia do sacramento não depende da pureza daquele que o administra, senão da sinceridade daquele que os recepciona, com verdadeira fé no Senhor.
É por isso que os sacrifícios oferecidos por Elcana eram aceitáveis a Deus, apesar de os sacerdotes Hofni e Finéias terem estado reprovados aos olhos do Senhor.
Este é o motivo de que mesmo no ministério de pastores, que não honram ao Senhor do modo adequado, pelo qual deve ser honrado, se veja as graças de Deus sendo derramadas sobre o povo que se encontra debaixo da direção deles, porque buscam o Senhor com sinceridade de coração.
Por isso, nenhum crente está impedido de ser abençoado por Deus. ainda que, por força das circunstâncias, esteja debaixo de um mau ministério.
Ainda que os dons da graça não possam ser revogados e impedidos de serem concedidos por Deus em Sua soberania aos Seus escolhidos, por conta de um ministério infiel, descuidado e pecaminoso, certamente aqueles que o ocupam receberão das mãos dEle, no tempo apropriado, a devida paga pelos seus maus atos, tal como sucedera com Eli e seus dois filhos.
O Senhor não terá por inocente aquele que faz a Sua obra relaxadamente, e interpõe uma maldição sobre os tais.
Eles ficam sob a pena de um anátema que trará os juízos do Senhor sobre eles, tal como se refere o apóstolo em Gálatas, quanto àqueles que pregam um evangelho diferente do único e verdadeiro evangelho.
Não se pense portanto, que a dispensação da graça alterou o modo de Deus julgar o Seu próprio povo, pois Jesus fala da remoção de castiçais (Igrejas) cujos anjos (pastores) não levassem a sério as Suas exortações, sobre a necessidade de arrependimento (Apo 2.5).
E isto se aplica às Igrejas de todas as épocas, que tal como a Igreja de Éfeso, citada em Apocalipse, abandonam o primeiro amor e necessitam portanto, de arrependimento.
Não temos deste modo, diante de nós uma história que ilustra a maneira de se gerar um filho quando se é estéril, mas como Deus cumpre os seus propósitos, trazendo ao mundo pessoas até mesmo de mulheres estéreis, como foi o caso não apenas de Ana, mãe de Samuel, mas de Sara, Rebeca, Raquel, da mãe de Sansão e de Isabel, mãe de João, que geraram filhos segundo o propósito estabelecido por Deus para a vida daqueles que seriam por elas gerados.
A lição é que nenhum impedimento natural poderá frustrar o cumprimento do propósito sobrenatural de Deus, conforme bem o ilustra a história de todos os filhos que foram gerados por estas mulheres.
Possivelmente Ana era a primeira e legítima esposa de Elcana, e ele deve ter tomado a Penina como sua segunda esposa pelo fato de Ana não ter gerado filhos.
E assim, transgredindo a instituição original do matrimônio (Mt 19.5,8), ele ficou sujeito ao mesmo dano de divisões a que haviam ficado sujeitos no passado tanto Jacó, quanto Abraão.
No entanto, as divisões não puderam impedir a devoção daquela família.
E por certo, nenhum tipo de divisão na Igreja pode impedir a nossa devoção ao Senhor, caso estejamos determinados a isto, tal como Elcana.
Na verdade, a devoção de uma família deve acabar com as suas divisões.
Daí a importância do chamado culto doméstico, que é um poderoso instrumento para acabar com as divisões num lar, pelas intervenções e operações do Espírito Santo, que gera unidade nos corações daqueles que buscam a Deus.
Se as devoções de uma família não conseguem acabar com suas divisões, contudo não deixe as divisões acabarem com as devoções.
Nós vemos no verso 5 que tal como no caso de Jacó, Penina era como Léia, que deu muitos filhos a Jacó, mas Ana, como Raquel, apesar de estéril era mais amada por Elcana, e ele procurava compensá-la com agrados e atenções maiores do que os que dispensava a Penina, para mostrar o maior afeto que sentia por ela.
Isto certamente provocava ciúmes em Penina, que se tornou arrogante e insolente, pois procurava ocasião para humilhar Ana, pelo fato de ser estéril (v. 6,7).
E isto sucedia especialmente quando iam anualmente a Siló para apresentarem sacrifícios ao Senhor e adorá-lo; pois era uma forma que Penina encontrava para tentar impedir a devoção de Ana a Deus.
A provocação que lhe era dirigida a entristecia de tal modo que se sentia impedida de comer da oferta pacífica que era oferecida ao Senhor.
A Lei determinava que a parte que cabia ao ofertante deveria ser comida na presença do sacerdote, com alegria.
Então a tristeza seria um impedimento para se comer como sinal de gratidão a Deus (Lev 10.19; Dt 26.14).
Certamente Penina sabia disto e era por este motivo que irritava Ana.
Apesar de receber uma porção maior da parte de Elcana, ela ficaria impedida de comê-la, por causa da tristeza que era produzida por Penina no seu coração.
Veja que isto sucedeu por anos sucessivos até que Ana resolveu derramar a sua alma na presença de Deus.
Vale a pena destacar o modo pelo qual ela o fizera, e quais foram as consequências imediatas daquela oração, pois se diz que o seu rosto já não era triste e ela pôde assim demonstrar a Sua gratidão a Deus, mesmo em meio ao seu sofrimento, porque agora havia esperança em seu coração de que o Senhor faria algo em seu favor. Isto nós vemos nos versos 10 a 18.
Ela orou com amargura de alma e chorou muito (v. 10), e fez um voto, dizendo que se Deus atentasse para a sua aflição e lhe desse um filho varão, ao Senhor ela o dedicaria por todos os dias da sua vida, e pela sua cabeça não passaria navalha, por consagrá-lo para sempre como nazireu a Deus (v. 11).
Ela orava com o seu coração, movendo apenas os lábios, de modo que sua voz não fosse ouvida, e para não ser revelado a ninguém a amargura da sua alma e o voto que estava fazendo a Deus (v. 12,13).
Tendo o sacerdote Eli observado o seu comportamento pensou que estivesse embriagada e a repreendeu (v. 14), e não era fácil para ele distinguir entre mulheres sinceramente devotadas e o contrário, porque era muito mais comum os casos de prostituição desenfreada promovida pelos seus próprios filhos, que se prevaleciam do cargo que ocupavam, para se deitarem com mulheres que serviam no tabernáculo (2.22).
Entretanto, Ana não levou em conta a repreensão de Eli e revelou a ele a tribulação do seu espírito (v. 15 e 16). Contudo, não lhe disse nada sobre o voto que fizera.
Mas tendo Eli visto a sua sinceridade, disse-lhe que fosse em paz e que o Deus de Israel lhe concedesse a petição que fizera (v. 17).
E ela acrescentou o seu amém à bênção de Eli dizendo que esperava achar graça aos seus olhos, e tendo sido revigorada em sua alma, pela oração que fizera, saiu da presença de Eli e comeu a parte da oferta pacífica que lhe cabia, e se afirma que o seu semblante já não era triste (v. 18).
A submissão de Ana e seu respeito ao ofício sumo sacerdotal, do qual Eli estava investido, fez com que a repreensão dele se transformasse em bênção.
E há nisto uma grande lição para todos nós no sentido de que pela nossa atitude submissa e humilde diante da repreensão injusta que sofremos por parte daqueles que estão investidos de autoridade, podemos torná-los favoráveis a nós, e transformar as suas censuras, em orações em nosso favor.
Aqui cabe assinalar que a palavra templo é usada pela primeira vez em relação ao tabernáculo no verso 9, porque agora ele estava instalado de forma fixa em Siló, e já não era mais transportado de lugar a lugar, como nos dias da peregrinação no deserto.
A palavra para tabernáculo é mishekan, que significa morada habitação, e a que encontramos aqui no verso 9, para templo é heykal, que significa um lugar público espaçoso, um palácio, um templo propriamente dito.
Ana era realmente uma mulher consagrada ao Senhor, e esta era a razão pela qual Satanás a provocava através de Penina, pois ele sempre procura interferir na adoração dos filhos de Deus, tentando desfigurá-la ou mesmo impedi-la. Mas a vigilância, a perseverança na oração sempre o vencerá, tal como sucedeu com Ana.
Por isso nós lemos em Jó 1.6 que quando os filhos de Deus vieram se apresentar ao Senhor, Satanás veio entre eles.  
Como o voto das mulheres, segundo a lei, deveriam ser confirmados pelos maridos, certamente Elcana foi informado por Ana do voto que fizera e este o confirmara com o seu silêncio ou com sua aprovação positiva, conforme prescrito na Lei de Moisés.
E é um direito dos pais o de dedicarem seus filhos a Deus, especialmente para que venham a servi-lo como seus ministros, quando crescerem e se converterem a Ele, pela instrução recebida de seus pais, quanto ao modo que o Deus vivo deve ser adorado e servido.
É uma ordenança de Deus de que os pais ensinem a seus filhos o caminho do Senhor, e especialmente a Sua Palavra.
E nenhuma consagração que não leve em conta este dever, terá sido uma consagração verdadeira, porque aquele que não honra e não teme a Deus e não obedece a Sua Palavra, não está em condições de dedicar nenhum outro ser, enquanto o seu próprio não Lhe está consagrado.
No verso 19 é dito que antes de regressar à sua residência em Ramá, Elcana e sua família se levantaram de madrugada para adorarem perante o Senhor.
E se diz também que Elcana conheceu a Ana e o Senhor se lembrou dela, isto é, da petição que ela lhe havia dirigido, e decorrido o tempo devido, Ana concebeu e teve um menino ao qual chamou de Samuel, Shemuel, que no hebraico significa pedido a Deus (v. 20).
Depois do nascimento de Samuel, Elcana retornou a Siló com sua família no tempo designado, para oferecer o sacrifício anual e cumprir o seu voto (v. 21). Entretanto, Ana decidiu não subir até que o menino fosse desmamado, ocasião em que compareceria perante o Senhor para cumprir o voto de dedicação que havia feito, de modo que Samuel ficaria no tabernáculo para sempre (v. 22).
Nós vemos nisto tudo a mão do Senhor, porque humanamente falando, é totalmente contrário à natureza materna, especialmente no caso de uma mulher piedosa como Ana, abrir mão de um filho, e ainda mais em se tratando de um filho único que fora concebido em meio a uma esterilidade, sem que houvesse sequer o vislumbre da possibilidade de uma nova gravidez.
Ela dera um passo pela fé, sem a qual é impossível agradar a Deus, e como agira pela fé, o Senhor que é bom e gracioso viria a conceder que ela engravidasse no futuro e ela teve mais três filhos e duas filhas (2.21).
 Mas tudo isto estava encoberto a Ana quando agiu contra a sua própria natureza, por inspiração e capacitação recebida de Deus para dar-lhe por devolvido aquele que a história de Israel haveria de comprovar, que pertencia de fato ao Senhor e não a Ana.
Ela pôs este nome no menino (pedido a Deus) para certamente recordar da obrigação que tinha se comprometido a cumprir por meio de voto, de dedicá-lo para sempre ao Senhor, pois fora recebido dEle como resposta de oração, para o propósito afirmado em seu coração de dá-lo de volta ao Senhor, de quem ela o havia recebido de modo sobrenatural, pois não poderia concebê-lo de outro modo porque era estéril.
Ao conceder-lhe que concebesse, o Senhor retirou de sobre ela a vergonha que sentia no seio de sua família, e o motivo das acusações cruéis de Penina, e estaria agora, em reconhecida gratidão, cumprindo o voto que se sentira inspirada a fazer a Deus, pois este fizera com que concebesse um menino muito especial, que Ele conhecera antes mesmo de formá-lo no seu ventre, de forma que seria grandemente usado para fazer aquilo que nenhum dos juízes de Israel havia conseguido, num período superior a trezentos anos, a saber, reestruturar a vida religiosa de Israel segundo a Lei de Moisés, e fazer com que retornassem os dias áureos vividos por Israel enquanto vivia Josué.  
Nada disto fora revelado a Ana, e Deus cumpriu o Seu propósito em meio ao que parecia uma simples questão de atendimento de uma necessidade pessoal.
Interesses muito mais elevados e de toda uma nação estavam em jogo em tudo aquilo.
Certamente o mesmo se dá conosco em obras, que começamos a fazer pela vontade de Deus, e que culminam em resultados extraordinários, que jamais seríamos capazes de conceber, que já se encontravam no coração de Deus desde antes do início da chamada que nos fizera para dar os primeiros passos de um empreendimento que haveria de culminar em obras muito maiores do que a simples imaginação humana seria capaz de conceber.    
E quando Samuel foi desmamado, quando era ainda muito criança, Ana tomou consigo um novilho de três anos para ser oferecido em sacrifício ao Senhor, uma efa de farinha e um odre de vinho como oferta pacífica e libação, e tendo apresentado tais ofertas em Siló trouxe Samuel a Eli e somente então lhe revelou qual era o pedido que havia feito ao Senhor, quando ele, Eli, lhe havia abençoado, e que havia consagrado Samuel ao Senhor por todos os dias da sua vida.
Tendo feito isto, ambos adoraram ali mesmo ao Senhor (v. 24 a 28).


“1 Houve um homem de Ramataim-Zofim, da região montanhosa de Efraim, cujo nome era Elcana, filho de Jeroão, filho de Eliú, filho de Toú, filho de Zufe, efratita.
2 Tinha ele duas mulheres: uma se chamava Ana, e a outra Penina. Penina tinha filhos, porém Ana não os tinha.
3 De ano em ano este homem subia da sua cidade para adorar e sacrificar ao Senhor dos exércitos em Siló. Assistiam ali os sacerdotes do Senhor, Hofni e Finéias, os dois filhos de Eli.
4 No dia em que Elcana sacrificava, costumava dar porções deste a Penina, sua mulher, e a todos os seus filhos e filhas;
5 porém a Ana, porque a amava, dava porção dupla, ainda mesmo que o Senhor a houvesse deixado estéril.
6 Ora, a sua rival muito a provocava para irritá-la, porque o Senhor lhe havia cerrado a madre.
7 E assim sucedia de ano em ano que, ao subirem à casa do Senhor, Penina provocava a Ana; pelo que esta chorava e não comia.
8 Então Elcana, seu marido, lhe perguntou: Ana, por que choras? e por que não comes? e por que está triste o teu coração? Não te sou eu melhor do que dez filhos?
9 Então Ana se levantou, depois que comeram e beberam em Siló; e Eli, sacerdote, estava sentado, numa cadeira, junto a um pilar do templo do Senhor.
10 Ela, pois, com amargura de alma, orou ao Senhor, e chorou muito,
11 e fez um voto, dizendo: ó Senhor dos exércitos! se deveras atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva não te esqueceres, mas lhe deres um filho varão, ao Senhor o darei por todos os dias da sua vida, e pela sua cabeça não passará navalha.
12 Continuando ela a orar perante o Senhor, Eli observou a sua boca;
13 porquanto Ana falava no seu coração; só se moviam os seus lábios, e não se ouvia a sua voz; pelo que Eli a teve por embriagada,
14 e lhe disse: Até quando estarás tu embriagada? Aparta de ti o teu vinho.
15 Mas Ana respondeu: Não, Senhor meu, eu sou uma mulher atribulada de espírito; não bebi vinho nem bebida forte, porém derramei a minha alma perante o Senhor.
16 Não tenhas, pois, a tua serva por filha de Belial; porque da multidão dos meus cuidados e do meu desgosto tenho falado até agora.
17 Então lhe respondeu Eli: Vai-te em paz; e o Deus de Israel te conceda a petição que lhe fizeste.
18 Ao que disse ela: Ache a tua serva graça aos teus olhos. Assim a mulher se foi o seu caminho, e comeu, e já não era triste o seu semblante.
19 Depois, levantando-se de madrugada, adoraram perante o Senhor e, voltando, foram a sua casa em Ramá. Elcana conheceu a Ana, sua mulher, e o Senhor se lembrou dela.
20 De modo que Ana concebeu e, no tempo devido, teve um filho, ao qual chamou Samuel; porque, dizia ela, o tenho pedido ao Senhor.
21 Subiu, pois aquele homem, Elcana, com toda a sua casa, para oferecer ao Senhor o sacrifício anual e cumprir o seu voto.
22 Ana, porém, não subiu, pois disse a seu marido: Quando o menino for desmamado, então o levarei, para que apareça perante o Senhor, e lá fique para sempre.
23 E Elcana, seu marido, lhe disse: faze o que bem te parecer; fica até que o desmames; tão-somente confirme o Senhor a sua palavra. Assim ficou a mulher, e amamentou seu filho, até que o desmamou.
24 Depois de o ter desmamado, ela o tomou consigo, com um touro de três anos, uma efa de farinha e um odre de vinho, e o levou à casa do Senhor, em Siló; e era o menino ainda muito criança.
25 Então degolaram o touro, e trouxeram o menino a Eli;
26 e disse ela: Ah, meu Senhor! tão certamente como vive a tua alma, meu Senhor, eu sou aquela mulher que aqui esteve contigo, orando ao Senhor.
27 Por este menino orava eu, e o Senhor atendeu a petição que eu lhe fiz.
28 Por isso eu também o entreguei ao Senhor; por todos os dias que viver, ao Senhor está entregue. E adoraram ali ao Senhor.” (I Sm 1.1-28).




I Samuel 2

O Deus Que Exalta e Que Abate

Nós vemos no segundo capítulo de I Samuel, que Ana entoou um cântico de louvor e gratidão a Deus pelo menino que lhe nascera, e que havia pedido emprestado ao Senhor por um tempo, reconhecendo que de fato aquela criança pertencia a Ele e não a ela.
Na verdade, tudo o que somos e temos, com exceção do pecado e suas consequências, o temos recebido emprestado do Senhor, para ser usado como mordomos, que têm que prestar contas Àquele a quem de fato pertencem todas as coisas.
E o menino Samuel havia nascido tanto para bênção quanto para juízo de muitos em Israel, a começar pela casa do próprio Eli, pois que Deus estava se provendo de um sacerdote fiel na pessoa de Samuel, para trazer juízos sobre Eli e seus filhos.
É por isso que nós vemos no cântico profético que fora dado a Ana, por inspiração do Espírito Santo (versos 1 a 10), tanto palavras de bênçãos, quanto de juízos, pois seria exatamente isto que o nascimento daquela criança propiciaria.
Nós vemos isto também no cântico de Maria, mãe de Jesus (Lc 1.46-55), e nas palavras de Simeão a respeito dEle: “E Simeão os abençoou, e disse a Maria, mãe do menino: Eis que este é posto para queda e para levantamento de muitos em Israel, e para ser alvo de contradição,” (Lc 2.34).
O mesmo teor de bênção e de juízos são encontrados no cântico de Isabel, mãe de João Batista, no ensejo do nascimento do menino.
Tal como Jesus, guardadas as devidas proporções, todos estes foram levantados por Deus tanto para bênção dos humildes quanto para juízo dos arrogantes.
O atributo da justiça divina requer tanto uma coisa quanto outra. A recompensa dos justos e o castigo dos ímpios.
Por isso se diz dos cristãos serem o bom perfume de Cristo, sendo aroma de vida para vida nos que se salvam, e cheiro de morte para morte nos que se perdem (II Cor 2.15,16).
Foi para o mesmo propósito que Samuel fora levantado em Israel, sendo assim, um tipo de Jesus, e é por este motivo que encontramos o teor das palavras, tanto de bênçãos quanto de juízos, no cântico que foi proferido pela sua mãe.
Nele se destaca especialmente, a soberania de Deus sobre tudo e todos na Sua criação, e que todas as ações dos homens são pesadas por Ele, de modo que o homem deve se cuidar da altivez e da arrogância (v. 3).
Porque os fortes são quebrados (Deus abate o soberbo) e os fracos são fortalecidos (Deus dá graça aos humildes) (v.4); o rico será arruinado com toda a sua prosperidade, e o faminto será farto (especialmente da justiça) (v. 5), pois na Sua soberania o Senhor tira a vida e a dá, conduz a quem quer ao Seol, da palavra Sheol, no original hebraico, que significa a sepultura e todos os acessórios que lhe seguem no caso da morte dos ímpios, como por exemplo o castigo eterno e as chamas do inferno; e também livra a quem quer dali (terá misericórdia de quem Lhe aprouver ter misericórdia) (v. 6), de modo que provê aos homens do modo que Lhe agrada, repartindo os Seus dons como quer e a quem quer, enriquecendo e empobrecendo, abatendo e exaltando (v. 7).
Ele pode, se o desejar, fazer com que o pobre e necessitado venha a se assentar entre os príncipes, e fazê-los herdar um trono de glória (nisto se incluem todos os verdadeiros cristãos, lavados e remidos no sangue de Jesus, conforme há de se revelar no porvir) (v.8).
Os pés dos santos serão guardados (Deus os fará perseverar em santidade, de modo a garantir a plena segurança da sua salvação); mas os ímpios ficarão mudos nas trevas, porque o homem não prevalecerá pela força (v.9).
No mesmo verso 9 se diz que Deus guardará os pés dos seus santos, isto é, o caminhar deles na Sua presença será garantido pelo próprio Deus, com Sua graça, amor e poder, como podemos ler no Sl 37.23,24:
“Confirmados pelo Senhor são os passos do homem em cujo caminho ele se deleita; ainda que caia, não ficará prostrado, pois o Senhor lhe segura a mão.”.
Enquanto nós retivermos as ordenanças de Deus e guardá-las, Ele manterá firmes os nossos pés.
Quando os nossos pés estiverem a ponto de deslizarem (Sl 73.2), a misericórdia do Senhor nos segurará e nos manterá de pé (Sl 94.18) e Ele nos guardará de cair (Jd 24).
Não é pela própria capacidade, força, sabedoria, riqueza, poder que se alcança a salvação eterna, senão unicamente pela graça de Deus, que é concedida aos que se arrependem dos seus pecados.
De modo que todos os que contendem com Deus, e resistem à Sua vontade, serão abatidos, porque a justiça de Deus se manifestará desde os céus contra eles, e o fará por meio dos Seus juízos, dando força e poder ao seu rei e ungido, para que julgue com justiça (v. 10).
Esta última palavra profética do cântico de Ana aponta certamente para o reino de Cristo, mas nela pode ser incluído o reino de Davi, que ainda seria levantado para ser um tipo do reino de poder e justiça do Senhor Jesus, e Israel, nos dias de Davi seria fortalecido de modo que triunfaria sobre todos os seus inimigos ao redor, especialmente contra os jebuseus e os filisteus.              
Segundo a Lei de Moisés, os levitas somente poderiam ser admitidos oficialmente no serviço do tabernáculo a partir dos trinta anos de idade, e assim, podemos concluir que a expressão que o menino Samuel ficou servindo ao Senhor perante o sacerdote Eli, quando seu pai e toda a sua família retornaram a Ramá, quer se referir à ajuda que ele prestava a Eli como sumo sacerdote, pois se diz que ele ficou servindo ao Senhor perante Eli.
Imediatamente, no verso seguinte (12) é dito que os filhos de Eli (Hofni e Fineias, que oficiavam como sacerdotes), eram homens ímpios (no original hebraico nós temos a expressão “filhos de Belial”, aqui traduzida por ímpios), e que eles não conheciam ao Senhor.
Com isto, se quer dizer que não eram convertidos, que não eram homens de Deus, e esta era razão de praticarem todas as impiedades e sacrilégios que são descritos nos versos 13 a 17 e no verso 22.
Em contraste com a impiedade deles é referido no verso 23 que Samuel ministrava perante o Senhor, sendo ainda menino, vestido de uma estola sacerdotal de linho.
Não que ele fosse um sacerdote em idade tão tenra, mas certamente Eli providenciou uma estola sacerdotal para ele por ter reconhecido que Deus era com o menino (v. 21 e 26), apesar da sua pouca idade, e da forma devotada como o pequeno Samuel servia ao Senhor, e isto talvez para se consolar e compensar dos maus atos de seus próprios filhos, que apesar de serem sacerdotes, por direito hereditário, não se comportavam à altura do que era exigido por tão elevado ofício, de modo que se diz no verso 17 que era grande o pecado de ambos, e que vieram a desprezar as ofertas do Senhor, que eram apresentadas no tabernáculo, pois  desrespeitavam tudo o que a Lei prescrevia em relação à parte das ofertas a que tinham direito os sacerdotes, e se apropriavam do que não lhes era devido, bem como não queimavam a carne destinada aos holocaustos para tê-la crua, possivelmente com a intenção de comercializá-la posteriormente.
Além de profanos se entregavam à prática de impurezas no próprio tabernáculo, porque se deitavam com mulheres naquele recinto tendo relações sexuais com elas (v. 22), e isto era do conhecimento de todo o povo ( v. 23).
Eli já era muito velho (v. 22) na ocasião que decidiu advertir os seus filhos, pelo que eles vinham fazendo (v. 23 a 25), mas não foi concedida graça a eles por Deus para que se arrependessem, pois o Senhor já havia determinado destruir a ambos (v. 25).
É possível que Eli tenha decidido repreender os abusos de seus filhos somente quando ficou sabendo da impureza sexual que  vinham praticando com as mulheres que vinham ao tabernáculo, como se estivesse esperando por tantos anos por esta gota de água, para que enfim pudesse partir para algum tipo de repreensão, pelo mau comportamento deles.
Na verdade ele deveria tê-lo feito desde o princípio, e com toda a firmeza que o caso requeria, até mesmo pela medida extrema de proibi-los de continuarem oficiando no tabernáculo.
É possível que o sentimento paternal falou mais ao seu coração do que o seu amor pelo Senhor, e assim deixou de amar verdadeiramente a Deus e a seus filhos, porque o amor não folga com a injustiça, senão com a verdade, e é portanto prova de amor e não o contrário, disciplinarmos nossos filhos, porque um bom pai disciplina os seus filhos para poupá-los, tanto como a si próprio, dos justos juízos de Deus.
Eli teve de certa forma uma participação direta no juízo de morte que sobreviria aos seus filhos, porque os deixou entregues a si mesmos, e só veio a repreendê-los, quando já era muito velho.
Nós lemos em I Sm 3.13 as seguintes palavras do Senhor em relação a Eli e seus dois filhos: “porque já lhe fiz saber que hei de julgar a sua casa para sempre, por causa da iniquidade de que ele bem sabia, pois os seus filhos blasfemavam a Deus, e ele não os repreendeu.”.
Não estamos portanto amando os nossos filhos quando os deixamos entregues a si mesmos, praticando toda sorte de pecados, sem repreendê-los e sem dizer a eles o dever que têm de mortificarem os seus pecados.
A omissão de Eli prejudicou a muitos e não somente os seus próprios filhos.
Porque o sacerdote tinha a função de desviar as pessoas dos seus maus caminhos, e de conduzi-las ao Senhor.
Mas os filhos de Eli estavam fazendo exatamente o contrário, porque em vez de ajudarem Israel a se santificar, estavam expondo o povo a uma condição ainda pior do que a em que se encontravam.
Por isso, são exatas as palavras que Eli dirigiu a seus filhos: “Fazeis transgredir o povo do Senhor.” (v. 24).
Nós vemos nesta porção dos versos 13 a 26, que Elcana e sua família se dirigiam todos os anos ao tabernáculo para adorarem a Deus, mesmo depois que Samuel foi consagrado inteiramente ao Senhor, sendo deixado aos cuidados de Eli, e que nas ocasiões que para lá se dirigiam Eli sempre os abençoava e orava em favor de Ana, para que Deus lhe desse outros filhos no lugar de Samuel, que ela havia emprestado ao Senhor (v. 20).
O verbo emprestar, aqui, tem o sentido não de que Ana dera algo de si mesma a Deus, mas que ela havia dado por devolvido a Deus o filho que ela Lhe pedira emprestado, porque no hebraico, nós temos neste versículo a expressão  shelah (emprestado) esher (que) shaal (pediu), que significa “que pediu emprestado”, indicando assim o modo como ela havia pedido um filho a Deus, a saber, como um empréstimo para ser devolvido posteriormente.
Ela não pediu um filho para si para decidir sobre consagrá-lo depois ao Senhor. Não, ela já o havia pedido como quem pede algo emprestado por um tempo para ser devolvido em seguida ao seu legítimo dono.
Em seu coração ela sabia que aquele filho era alguém muito especial para Deus, e que de fato procedia inteiramente dEle e para Ele, para fazer a Sua vontade.
Nisto Ana e Samuel são respectivamente um tipo de Maria e de Jesus, pois Maria sabia desde o princípio que aquele menino que nasceu em Belém, não era propriamente dela mas de Deus e para viver inteiramente dedicado a Ele, quanto a fazer a Sua vontade.
E é bastante interessante notarmos que a expressão que é usada em relação ao desenvolvimento de Samuel, no verso 26, é a mesma que nós encontramos em relação a Jesus em Lc 2.52:
 “E o menino Samuel ia crescendo em estatura e em graça diante do Senhor, como também diante dos homens.” (I Sm 2.26).
“E crescia Jesus em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens.” (Lc 2.52).
Em ambos os casos nós não temos uma mera referência à condição pessoal de ambos, mas ao cumprimento do propósito de Deus de dar ao Seu povo quem poderia ser canal da Sua graça em favor deles, por viverem em santidade na Sua presença, e por terem sido o instrumento escolhido por Ele para tal propósito.
Evidentemente, no caso de Samuel, estamos falando de um mero homem, mas no caso de Jesus do perfeito homem e Deus.
Por isso, Samuel é apenas um pálido tipo dAquele que é dado por Deus, para converter a Si o verdadeiro Israel, e para conduzi-lo por toda a eternidade.
Dos versos 27 a 36 nós lemos os juízos proferidos pelo Senhor contra Eli, seus dois filhos, e toda a descendência deles, por meio de um profeta.
Deus lembra a Eli, em primeiro lugar, a grande honra do ofício sacerdotal do qual ele estava encarregado e a sua descendência, por direito perpétuo desde os dias de Arão (v. 27).
Nisto estava mostrando que aqueles que são grandemente honrados por Ele têm o dever de Lhe tributar uma maior honra do que todos os demais.
Em suma, se alguém é honrado por Deus, tem o dever de honrá-lo também.
E a casa de Eli não estava fazendo isto, e por isso o Senhor repreendeu Eli com as palavras do verso 29: “Por que desprezais o meu sacrifício e a minha oferta, que ordenei se fizessem na minha morada, e por que honras a teus filhos mais do que a mim, de modo a vos engordardes do principal de todas as ofertas do meu povo Israel?”.
Como toda desonra ao nosso Criador e Senhor não ficará sem o devido castigo, foi proferido contra Eli e toda a sua casa os juízos que encontramos nos versos 30 a 36.
Não sabemos quando foi que o sumo sacerdócio foi transferido por Deus da casa de Eleazar, filho de Arão, para a casa de Itamar, irmão de Eleazar.
Porém, nós vemos no verso 30 Deus afirmando que desfaria o arranjo que fizera, de modo que transferiria de novo o sacerdócio para a casa de Eleazar, e nós vemos que isto foi cumprido nos dias de Salomão, quando o sacerdote Abiatar, da casa de Eli, foi substituído por Zadoque, que era da casa de Eleazar (I Rs 2.26,27).
Nisto nós podemos aprender pelo menos duas coisas importantes, a primeira delas se refere à grande longanimidade de Deus, que cumpriu o juízo de afastar a casa de Eli do sacerdócio, mais de oitenta anos depois de ter proferido tal sentença, pois temos sem contar o período em que Samuel julgou Israel, oitenta anos relativos aos reinados de Saul e Davi, antes que Salomão começasse a reinar.
E a segunda coisa importante que podemos aprender é que a infidelidade de um ministro jamais poderá destruir o ministério determinado por Deus, como se pode ver no caso de Judas, que foi substituído por um outro em seu ofício, nos dias dos apóstolos, e nos descendentes de Eli.
Por isso, como veremos adiante, o juízo sobre a casa de Eli foi acompanhado pelo levantamento de um sacerdócio fiel, que seria iniciado com Zadoque, e cuja culminância seria realizada no ofício sumo sacerdotal de Cristo, que é totalmente fiel e para sempre.
Desta forma, a necessidade de um sacerdote fiel para o povo de Deus, não poderia jamais ser anulada pela infidelidade de alguns homens, que não honraram o seu ofício sagrado.
Esta longanimidade de Deus a que nos referimos anteriormente, e que é fartamente exemplificada na Bíblia, no longo tempo que Ele costuma levar para cumprir muitos dos seus juízos, atesta que de fato há um juízo final que há de ser cumprido a partir da volta de Jesus, e o motivo deste ser prolongado é exatamente o fato de Deus ser longânimo, como afirmado nas palavras do apóstolo Pedro:
“O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; porém é longânimo para convosco, não querendo que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se.” (II Pe 3.9).
A casa de Eli não havia honrado ao Senhor por uma estrita obediência a tudo o que Ele tem ordenado na Sua Lei, e especialmente, no caso deles, as leis relativas ao exercício do sacerdócio, e por isso não seriam honrados, antes teriam o desgosto de provar o Seu desagrado, porque Lhe haviam desprezado (v. 30).
Não podemos negligenciar os mandamentos de Cristo, senão para a ruína de nossa própria alma, porque as grandes seções doutrinárias de todas as epístolas dos apóstolos, que falam de toda a graça, amor e perdão que alcançamos em Deus por meio de Cristo, são seguidas por seções finais introduzidas por um “portanto”, um “por conseguinte” indicando os deveres dos quais somos agora encarregados por Deus, quanto à estrita obediência que Lhe devemos, em razão do favor e da honra que Ele demonstrou a nós, por nos ter salvado por meio de Seu Filho.
Ele nos honrou com a manifestação da Sua graça a nós, e é portanto nosso dever honrá-lo com a nossa obediência especialmente no que tange a mortificar o pecado, a adorá-lo e a praticar o que é justo tanto em relação a Ele quanto ao nosso próximo.
Por isso bem vai a todo o cristão que se empenha em honrar ao Senhor, e mal vai a todo aquele que O despreza por viver numa desobediência voluntária.
Por isso o apóstolo Paulo diz o que lemos em Rom 2.9-11: ”9 tribulação e angústia sobre a alma de todo homem que pratica o mal, primeiramente do judeu, e também do grego; 10 glória, porém, e honra e paz a todo aquele que pratica o bem, primeiramente ao judeu, e também ao grego; 11 pois para com Deus não há acepção de pessoas.”.
Ele fala de honra e paz para quem pratica o bem (v. 10), e de tribulação e angústia para quem pratica o mal (v. 9).
Isto é uma lei espiritual que governa as almas dos homens bem como todos os seres morais criados por Deus.
A justiça é recompensada e  honrada por Ele, mas a iniquidade é castigada e os seus praticantes não podem ser honrados pelo Senhor.
Ele revelou no cântico profético que dera a Ana, honrará somente àqueles que Lhe honrarem. Nisto, estava sendo passada uma repreensão à casa de Eli.
Todo cristão esclarecido quanto à justiça do Senhor sabe que apesar de estar coberto com o manto da justiça de Cristo, que obteve em sua justificação e que o livra da condenação eterna, pode no entanto, por causa da carne, viver de modo que não honre ao Senhor que o salvou, e enquanto permanecer nesta condição, não será honrado por Deus, enquanto viver neste mundo, ao contrário será sujeitado à Sua disciplina exatamente em razão do fato de que não será mais condenado eternamente juntamente com o ímpio, por causa de estar aliançado com Cristo e ter sido tornado um filho de Deus por meio da fé nEle, que lhe trouxe justificação e regeneração e o começo do processo da santificação, que ele paralisou por causa da sua prática deliberada do pecado, e por não estar vivendo de modo que honre ao Senhor que o salvou da condenação eterna.
Eli, pelo que tudo indica, conhecia ao Senhor, e era um verdadeiro crente, e no entanto recebeu a sentença de um duro juízo, que lhe sobreveio da parte de Deus, por não tê-lo honrado da maneira devida.
Que isto sirva de alerta para todos aqueles que estão aliançados com Deus por meio da fé em Cristo Jesus.
Que sejam instruídos sobre esta verdade de que se não viverem para honrar ao Senhor,  serão desonrados por Ele, e trarão a si mesmos muitas dores, por conta do seu caminhar desordenado.
Quanto maior for a honra recebida de Deus maior será o Seu juízo, caso não O honremos.
Por isso Jesus disse o que lemos em Lc 12.47,48: “47 O servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites; 48 mas o que não a soube, e fez coisas que mereciam castigo, com poucos açoites será castigado. Daquele a quem muito é dado, muito se lhe requererá; e a quem muito é confiado, mais ainda se lhe pedirá.”.
E a vida de Eli ilustra de modo bastante vivo esta verdade.
Ele havia recebido muito de Deus pela honra do exercício do sacerdócio, e por isso também mais foi pedido a ele do que a qualquer outro em Israel, porque ele era o sumo-sacerdote.
Por ter sido achado em falta no ajuste de contas que o Senhor fizera com ele, este foi o motivo do duro juízo que foi proferido sobre ele e toda a sua descendência, conforme podemos ver nos versos 31 a 36, que fecham este segundo capítulo de I Samuel, e que se resumia no seguinte:
Não haveria entre os descendentes de Eli quem chegasse a ser ancião, e provavelmente este juízo se cumpriria por Deus não permitir que nenhum descendente de Eli chegasse à velhice, em face da desonra que eles haviam trazido àquele sagrado ofício (v. 31, 32).  
Todos os descendentes de Eli morreriam de morte violenta (pela espada dos homens), para servir de sinal que havia um juízo de Deus sobre a casa do sacerdote que havia desonrado o seu cargo.
Com isto Israel estaria sendo ensinado a ter o devido temor pelas coisas sagradas relativas ao serviço do tabernáculo, que os filhos de Eli haviam desprezado de modo tão profundo, e que foi o motivo da ruína deles (v. 33).
Para que se soubesse que a morte de Hofni e Fineias não foi obra do acaso mas de um juízo de Deus determinado sobre eles, foi profetizado que ambos morreriam no mesmo dia (v. 34).
E juntamente com o juízo proferido sobre Eli e sua casa, Deus prometeu levantar um sacerdote fiel, que atuaria segundo aquilo que está na Sua mente e no Seu coração, e por causa desta fidelidade o próprio Deus edificaria para ele uma casa duradoura, de modo que não sendo removido do seu ministério sacerdotal, poderia andar sempre diante do Seu ungido (v. 35).
Aqueles que sobrassem da casa de Eli, por não terem sido ainda alcançados pelo juízo de morte determinado sobre eles, viriam a implorar a este sacerdote fiel, humilhando-se diante dele para serem admitidos em algum serviço relativo ao sacerdócio para que pudessem ter o direito que Deus concedeu aos sacerdotes de viverem das ofertas que fossem trazidas ao tabernáculo (v. 36).
Eles haviam desprezado o sacerdócio do qual a sobrevivência deles dependia, e o valor do ofício e a necessidade dele para os descendentes de Arão, seria agora reconhecida por estes descendentes de Eli.
Eli não repreendeu seus filhos com o rigor devido e assim ele ajudou a fortalecer as mãos deles na prática da maldade, em razão da sua negligência.
Quando os homens de Deus são desleixados no cumprimento do seu dever, acabam contribuindo para o aumento do pecado dos pecadores, por entenderem erroneamente, no que observam na omissão dos justos, que eles são aprovados por Deus, apesar de todo o mal que possam praticar; isto é, o silêncio diante do mal é interpretado como consentimento, e daí o ditado de que aquele que cala, consente.  





“1 Então Ana orou, dizendo: O meu coração exulta no Senhor; o meu poder está exaltado no Senhor; a minha boca dilata-se contra os meus inimigos, porquanto me regozijo na tua salvação.
2 Ninguém há santo como o Senhor; não há outro fora de ti; não há rocha como o nosso Deus.
3 Não faleis mais palavras tão altivas, nem saia da vossa boca a arrogância; porque o Senhor é o Deus da sabedoria, e por ele são pesadas as ações.
4 Os arcos dos fortes estão quebrados, e os fracos são cingidos de força.
5 Os que eram fartos se alugam por pão, e deixam de ter fome os que eram famintos; até a estéril teve sete filhos, e a que tinha muitos filhos enfraquece.
6 O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer ao Seol e faz subir dali.
7 O Senhor empobrece e enriquece; abate e também exalta.
8 Levanta do pó o pobre, do monturo eleva o necessitado, para os fazer sentar entre os príncipes, para os fazer herdar um trono de glória; porque do Senhor são as colunas da terra, sobre elas pôs ele o mundo.
9 Ele guardará os pés dos seus santos, porém os ímpios ficarão mudos nas trevas, porque o homem não prevalecerá pela força.
10 Os que contendem com o Senhor serão quebrantados; desde os céus trovejará contra eles. O Senhor julgará as extremidades da terra; dará força ao seu rei, e exaltará o poder do seu ungido.
11 Então Elcana se retirou a Ramá, à sua casa. O menino, porém, ficou servindo ao Senhor perante o sacerdote Eli.
12 Ora, os filhos de Eli eram homens ímpios; não conheciam ao Senhor.
13 Porquanto o costume desses sacerdotes para com o povo era que, oferecendo alguém um sacrifício, e estando-se a cozer a carne, vinha o servo do sacerdote, tendo na mão um garfo de três dentes,
14 e o metia na panela, ou no tacho, ou no caldeirão, ou na marmita; e tudo quanto a garfo tirava, o sacerdote tomava para si. Assim faziam a todos os de Israel que chegavam ali em Siló.
15 Também, antes de queimarem a gordura, vinha o servo do sacerdote e dizia ao homem que sacrificava: Dá carne de assar para o sacerdote; porque não receberá de ti carne cozida, mas crua.
16 Se lhe respondia o homem: Sem dúvida, logo há de ser queimada a gordura e depois toma quanto desejar a tua alma; então ele lhe dizia: Não hás de dá-la agora; se não, à força a tomarei.
17 Era, pois, muito grande o pecado destes mancebos perante o Senhor, porquanto os homens vieram a desprezar a oferta do Senhor.
18 Samuel, porém, ministrava perante o Senhor, sendo ainda menino, vestido de uma estola sacerdotal de linho.
19 E sua mãe lhe fazia de ano em ano uma túnica pequena, e lha trazia quando com seu marido subia para oferecer o sacrifício anual.
20 Então Eli abençoava a Elcana e a sua mulher, e dizia: O Senhor te dê desta mulher descendência, pelo empréstimo que fez ao Senhor. E voltavam para o seu lugar.
21 Visitou, pois, o Senhor a Ana, que concebeu, e teve três filhos e duas filhas. Entrementes, o menino Samuel crescia diante do Senhor.
22 Eli era já muito velho; e ouvia tudo quanto seus filhos faziam a todo o Israel, e como se deitavam com as mulheres que ministravam à porta da tenda da revelação.
23 E disse-lhes: Por que fazeis tais coisas? pois ouço de todo este povo os vossos malefícios.
24 Não, filhos meus, não é boa fama esta que ouço. Fazeis transgredir o povo do Senhor.
25 Se um homem pecar contra outro, Deus o julgará; mas se um homem pecar contra o Senhor, quem intercederá por ele? Todavia eles não ouviram a voz de seu pai, porque o Senhor os queria destruir.
26 E o menino Samuel ia crescendo em estatura e em graça diante do Senhor, como também diante dos homens.
27 Veio um homem de Deus a Eli, e lhe disse: Assim diz o Senhor: Não me revelei, na verdade, à casa de teu pai, estando eles ainda no Egito, sujeitos à casa de Faraó?
28 E eu o escolhi dentre todas as tribos de Israel para ser o meu sacerdote, para subir ao meu altar, para queimar o incenso, e para trazer a estola sacerdotal perante mim; e dei à casa de teu pai todas as ofertas queimadas dos filhos de Israel.
29 Por que desprezais o meu sacrifício e a minha oferta, que ordenei se fizessem na minha morada, e por que honras a teus filhos mais do que a mim, de modo a vos engordardes do principal de todas as ofertas do meu povo Israel?
30 Portanto, diz o Senhor Deus de Israel: Na verdade eu tinha dito que a tua casa e a casa de teu pai andariam diante de mim perpetuamente. Mas agora o Senhor diz: Longe de mim tal coisa, porque honrarei aos que me honram, mas os que me desprezam serão desprezados.
31 Eis que vêm dias em que cortarei o teu braço e o braço da casa de teu pai, para que não haja mais ancião algum em tua casa.
32 E tu, na angústia, olharás com inveja toda a prosperidade que hei de trazer sobre Israel; e não haverá por todos os dias ancião algum em tua casa.
33 O homem da tua linhagem a quem eu não desarraigar do meu altar será para consumir-te os olhos e para entristecer-te a alma; e todos os descendentes da tua casa morrerão pela espada dos homens.
34 E te será por sinal o que sobrevirá a teus dois filhos, a Hofni e a Fineias; ambos morrerão no mesmo dia.
35 E eu suscitarei para mim um sacerdote fiel, que fará segundo o que está no meu coração e na minha mente. Edificar-lhe-ei uma casa duradoura, e ele andará sempre diante de meu ungido.


36 Também todo aquele que ficar de resto da tua casa virá a inclinar-se diante dele por uma moeda de prata e por um pedaço de pão, e dirá: Rogo-te que me admitas a algum cargo sacerdotal, para que possa comer um bocado de pão.” (I Sm 2.1-36).


I Samuel 3

Deus Fala em Sonhos com Samuel

O primeiro versículo deste 3º capítulo de I Samuel nos dá conta de uma religião morta em Israel, em razão não somente do pecado dos filhos de Eli, como de todo o povo, que como veremos adiante, necessitava ser purificado da sua idolatria.
A citação do verso 1 de que a palavra do Senhor era muito rara e que as visões não eram frequentes é uma forma de retratar a escassez das operações de Deus em face da desobediência do Seu povo.
Um despertamento ou avivamento espiritual é sobretudo então um retorno do povo de Deus à obediência que Lhe é devida, mediante prática da Sua Palavra.
Samuel foi confirmado como profeta do Senhor desde Dã até Berseba, e o motivo desta confirmação é citado no verso 19: “o Senhor era com ele e não deixou nenhuma de todas as suas palavras cair em terra.”.
As palavras proféticas de Samuel procediam do céu e para lá retornavam, dando cumprimento ao propósito do Senhor.
Não era uma palavra para agradar aos homens e que procedia do próprio homem. Era uma palavra que procedia de Deus e subia à presença de Deus nos céus, daí se dizer que nenhuma das palavras que Samuel proferiu em nome do Senhor caiu em terra. Deus aparecia no tabernáculo em Siló e se manifestava por meio da Sua palavra a Samuel (v. 21).
A palavra ensinada por Samuel não eram palavras persuasivas de sabedoria humana, do que também se guardaram os apóstolos de Cristo, porque a Palavra de Deus traz em si mesma a força da persuasão de ser a verdade, e é poderosa para quebrar corações de pedra.
Quando o Senhor se manifestou pela primeira vez a Samuel Ele lhe revelou que faria uma coisa incomum em Israel: “Eis que vou fazer uma coisa em Israel, a qual fará tinir ambos os ouvidos a todo o que a ouvir.”.
Deus se moveria em Israel especialmente através do ministério de Samuel, e o povo reconheceria este mover e muitos chegariam ao arrependimento e à conversão dos seus maus caminhos, voltando à prática da Sua Palavra.
Samuel haveria de ser confirmado como profeta do Senhor em todo Israel, como vemos no final deste terceiro capítulo (v. 20), e o Senhor começaria a fazer isto se revelando a ele, ainda quando era muito jovem e quando se encontrava ainda sob os cuidados de Eli.
As manifestações do Senhor Lhe trariam grande honra e glória e despertaria o desejo em muitos de Israel de honrarem o único Deus verdadeiro.
Tal com o profeta Samuel foi levantado em Israel quando a nação estava desviada dos caminhos de Deus.
O avivamento está ligado à necessidade de reforma.
De trazer as pessoas ao modo pelo qual devem viver para o Senhor.
 E isto está muito além de mero conhecimento da doutrina correta, a par deste ser muito importante e necessário, porque é possível ser absolutamente corretos em nossa doutrina, e não termos nenhuma prática daquilo em que cremos e também nenhuma comunhão real com o Senhor.
Um falso profeta jamais conduzirá o povo do Senhor à prática da Sua Palavra, e não disciplinará os contradizentes, antes, falará segundo aquilo que o coração carnal humano deseja ouvir.
Mas um verdadeiro profeta como Samuel, procurará apartar o povo de Deus das suas transgressões, para um viver obediente ao Senhor e à Sua Palavra.
Por isso nós lemos em I Sm 7.3 o seguinte: “Samuel, pois, falou a toda a casa de Israel, dizendo: Se de todo o vosso coração voltais para o Senhor, lançai do meio de vós os deuses estranhos e as astarotes, preparai o vosso coração para com o Senhor, e servi a ele só; e ele vos livrará da mão dos filisteus.”.
Israel estava lamentando a ausência da arca do Senhor do meio deles já por vinte anos, pois esta havia sido tomada pelos filisteus e se encontrava agora em Quiriate-Jearim (I Sm 7.2) e não no tabernáculo em Siló.
A arca representava a presença abençoadora de Deus.
E o que foi que eles fizeram naquela ocasião?
O que foi que o líder espiritual deles lhes ordenou?
Que dessem muitas glórias a Deus?
Que eles determinassem pela fé a sua vitória?
Não! Eles lamentaram a ausência do Senhor e Samuel lhes convocou a um verdadeiro arrependimento, pelo abandono dos falsos deuses e a uma consagração total a Deus de todo o coração.
A bênção é consequência da obediência ao Senhor e à Sua Palavra. Em outras palavras, a um caminhar na justiça.
A bem-aventurança verdadeira é sempre fruto da justiça. De um caminhar em comunhão com Deus em santidade.
Foi para isto que Cristo morreu e nos salvou.
Ele não nos salvou para permanecermos na prática do pecado, senão para mortificá-lo e praticar a justiça do reino de Deus.
O que fica aquém disso é mera religião e não cristianismo, porque este é a vida de Cristo em nós.  
Por causa do pecado de Eli, apesar de ser o sumo sacerdote, Deus já não falava mais diretamente a ele, pois perdera a comunhão com o Senhor, pela falta desta santidade.
Deus chamou o menino Samuel e insistiu em falar com ele por quatro vezes seguidas.
Ele não falaria com Eli, senão por meio da boca de um dos seus profetas, que o repreendera duramente, conforme vimos no capítulo anterior, e também através do próprio Samuel, que iria confirmar as palavras proferidas pelo referido profeta, conforme vemos nos versos 11 a 14, deste terceiro capítulo.
Nós podemos falar da perda de comunhão de Eli com Deus pelo teor das suas palavras quando soube do juízo que fora proferido por Deus a ele pela boca de Samuel: “Ele é o Senhor, faça o que bem parecer aos seus olhos (v. 18).”.
Ele havia esquecido da misericórdia do Senhor e não insistiu, como Moisés para que perdoasse o seu pecado e o dos seus filhos.
Moisés conseguira perdão para todo um povo, lutando em intercessão, jejuando por quarenta dias e noites, até que o obteve do Senhor.
E Eli foi incapaz de lutar pelo próprio bem e da sua casa.
Acrescente-se a isso que temendo lhe dizer os juízos proferidos por Deus, Samuel guardou silêncio, e Eli sabendo que se tratava de alguma palavra contra ele e seus filhos, constrangeu Samuel sob a ameaça de maldição, dizendo que caso não lhe dissesse o que Deus lhe havia revelado, que viesse sobre o próprio Samuel os juízos que haviam sido proferidos e mais outro tanto (v. 17), isto é, que ele sofresse o dobro do que havia sido dito por Deus.
Isto não seria de se esperar de um ministro do Senhor, que é levantado para interceder em favor daqueles que estão rodeados de fraquezas.
Ele sequer atentou para a consagração que ele bem sabia existir na vida daquele menino.
Temos aqui a atitude de um homem que não está de fato andando em comunhão com o Senhor.
Ele estava ocupando o cargo de sumo sacerdote, mas não agindo em conformidade com a exigência do ofício que exercia.
Importa que andemos humildemente com o Senhor e diante dEle.
É por isso que sempre que o Espírito Santo nos enche, Ele primeiro nos esvazia, Ele nos humilha, revelando a nossa completa insuficiência e pequenez diante do Deus Altíssimo e da Sua gloriosa majestade.
E isto nos abate e enfraquece em muitos modos, até mesmo fisicamente, de maneira que quando somos fortalecidos pela graça e levados a exultar na presença de Deus, geralmente temos este poder manifestado na nossa fraqueza, e com isto somos guardados do orgulho espiritual.
E nós temos muitos motivos para caminharmos humildemente com o Senhor, porque ainda que haja uma manifestação poderosa da Sua santa presença na Igreja, ainda deveremos por toda a vida crescer espiritualmente, amadurecer o fruto que temos recebido do Espírito, pois não há fruto que nasça maduro, e todo fruto tem o seu tempo de amadurecimento.
Relativamente às coisas espirituais, este é um processo que dura toda a nossa vida, e que razão teríamos para nos gloriar senão no Senhor mesmo e na nossa fraqueza?
É andando em humildade que recebemos mais graça. Graça sobre graça conforme é da vontade de Deus. Pois dá graça a quem se humilha reconhecendo que tudo temos recebido dEle, e que por mais que nos esforcemos e trabalhemos, tudo terá sido produzido em nós pela graça de Jesus, sendo assim simples servos inúteis, pois nada teríamos feito sem esta assistência da graça que tudo opera em nós e através de nós.



“1 Entretanto, o menino Samuel servia ao Senhor perante Eli. E a palavra do Senhor era muito rara naqueles dias; as visões não eram frequentes.
2 Sucedeu naquele tempo que, estando Eli deitado no seu lugar (ora, os seus olhos começavam já a escurecer, de modo que não podia ver),
3 e ainda não se havendo apagado a lâmpada de Deus, e estando Samuel também deitado no templo do Senhor, onde estava a arca de Deus,
4 o Senhor chamou: Samuel! Samuel! Ele respondeu: Eis-me aqui.
5 E correndo a Eli, disse-lhe: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Mas ele disse: Eu não te chamei; torna a deitar-te. E ele foi e se deitou.
6 Tornou o Senhor a chamar: Samuel! E Samuel se levantou, foi a Eli e disse: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Mas ele disse: Eu não te chamei, filho meu; torna a deitar-te.
7 Ora, Samuel ainda não conhecia ao Senhor, e a palavra do Senhor ainda não lhe tinha sido revelada.
8 O Senhor, pois, tornou a chamar a Samuel pela terceira vez. E ele, levantando-se, foi a Eli e disse: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Então entendeu Eli que o Senhor chamava o menino.
9 Pelo que Eli disse a Samuel: Vai deitar-te, e há de ser que, se te chamar, dirás: Fala, Senhor, porque o teu servo ouve. Foi, pois, Samuel e deitou-se no seu lugar.
10 Depois veio o Senhor, parou e chamou como das outras vezes: Samuel! Samuel! Ao que respondeu Samuel: Fala, porque o teu servo ouve.
11 Então disse o Senhor a Samuel: Eis que vou fazer uma coisa em Israel, a qual fará tinir ambos os ouvidos a todo o que a ouvir.
12 Naquele mesmo dia cumprirei contra Eli, do princípio ao fim, tudo quanto tenho falado a respeito da sua casa.
13 Porque já lhe fiz: saber que hei de julgar a sua casa para sempre, por causa da iniquidade de que ele bem sabia, pois os seus filhos blasfemavam a Deus, e ele não os repreendeu.
14 Portanto, jurei à casa de Eli que nunca jamais será expiada a sua iniquidade, nem com sacrifícios, nem com ofertas.
15 Samuel ficou deitado até pela manhã, e então abriu as portas da casa do Senhor; Samuel, porém, temia relatar essa visão a Eli.
16 Mas chamou Eli a Samuel, e disse: Samuel, meu filho! Ao que este respondeu: Eis-me aqui.
17 Eli perguntou-lhe: Que te falou o Senhor? peço-te que não mo encubras; assim Deus te faça, e outro tanto, se me encobrires alguma coisa de tudo o que te falou.
18 Samuel, pois, relatou-lhe tudo, e nada lhe encobriu. Então disse Eli: Ele é o Senhor, faça o que bem parecer aos seus olhos.
19 Samuel crescia, e o Senhor era com ele e não deixou nenhuma de todas as suas palavras cair em terra.
20 E todo o Israel, desde Dã até Berseba, conheceu que Samuel estava confirmado como profeta do Senhor.


21 E voltou o Senhor a aparecer em Siló; porquanto o Senhor se manifestava a Samuel em Siló pela sua palavra. E chegava a palavra de Samuel a todo o Israel.” (I Sm 3.1-21).


I Samuel 4

Icabod - Foi-se a Glória de Deus, de Siló

Este quarto capítulo de I Samuel descreve as circunstâncias em que teve cumprimento a profecia relativa à morte dos filhos de Eli.
E nele também aprendemos a nulidade de invocarmos a presença de Deus, enquanto não nos convertemos dos nossos maus caminhos.
Os nossos inimigos espirituais prevalecerão contra nós, ainda que invoquemos o nome do Senhor e sejamos parte do Seu povo, caso estejamos vivendo deliberadamente na prática do pecado.
Os israelitas trouxeram a arca da aliança para o campo de batalha, pensando que com isto poderiam prevalecer contra os filisteus, mas acabaram sendo derrotados e a arca foi apreendida pelos filisteus, ainda que para a sua ruína, conforme se descreve nos capítulos seguintes.
Eles decidiram trazer a arca de Siló para o campo de batalha, porque haviam sido mortos cerca de quatro mil homens do exército de Israel (v. 2).
Os filhos de Eli, Hofni e Fineias acompanharam a arca, na condição de sacerdotes, e foi com grande grita que os israelitas celebraram a sua chegada, confiantes de que ela traria temor aos filisteus, e Deus lhes daria vitória sobre eles.
Realmente os filisteus foram tomados de grande temor e lembraram do que o Deus de Israel (que eles pensavam serem muitos deuses) havia feito aos egípcios (v. 7, e 8).
Mas como o Senhor não era com Israel, Ele permitiu que os filisteus matassem a trinta mil homens do exército israelita (v. 10), e Hofni e Fineias foram mortos na batalha (v. 11).
O pecado de idolatria deles foi agravado pelo conselho dos anciãos, que permitiu a retirada da arca do Santo dos Santos.
Eles queriam fazer uma exposição pública do Deus deles.
Queriam fazer uma exibição de poder, e  usar a arca como uma espécie de talismã.
Desde que haviam cessado as peregrinações no deserto, e que o tabernáculo foi instalado de maneira fixa em Siló, a arca não poderia de modo algum ser retirada do Santo dos Santos, e ninguém poderia vê-la, senão o sumo-sacerdote, senão uma única vez por ano, no Dia da Expiação Nacional.
Eles estavam demonstrando uma grande irreverência para com o Senhor, quando retiraram a arca do tabernáculo, pelas mãos de dois sacerdotes, aos quais era vedado o próprio ato de entrada no Santo dos Santos, pois isto era permitido somente ao sumo-sacerdote, no caso, Eli, o seu pai.
E para marcar a grande transgressão deles, o Senhor permitiu que trinta mil israelitas caíssem diante dos filisteus.
Eles haviam perdido quatro mil na primeira batalha e trouxeram a arca pensando que outros israelitas não morreriam, porque julgavam que Deus pelejaria por eles.
Mas acabou ocorrendo uma derrota muito maior e uma grande perda de vidas.
Quando nós tentamos adorar a Deus como os pagãos adoram os seus deuses.
Quando nós estabelecemos uma forma de adoração de Deus diferente do que Ele nos tem ordenado na Sua Palavra, em vez de sermos beneficiados por isto, nós traremos Seus justos juízos sobre nós.
Os coríntios se descuidaram da forma  como deveriam celebrar a ceia do Senhor, e Deus visitou o pecado deles com muitas mortes e enfermidades.
Eli contava na ocasião com noventa e oito anos de idade, e já não mais enxergava (v. 15), e sentiu um grande temor pela retirada da arca do tabernáculo (v. 13), porque ele não foi capaz de impedi-lo.
Ele sabia que aquilo era uma grande transgressão da Lei de Moisés e Deus não deixaria aquela ação sem o devido castigo.
E foi com esta grande inquietação de alma que ele ficou aguardando notícias sobre as coisas que sucederiam.
Quando lhe trouxeram notícias sobre a morte de seus dois filhos, ele não se sentiu tão impactado quanto quando soube que a arca havia sido tomada pelos filisteus.
Isto significava que ele fracassara totalmente no seu dever de ser o guardião do santuário e que ficaria sujeito a um juízo ainda maior da parte do Senhor.
Tal foi o seu pavor que ele se desequilibrou da cadeira em que estava sentado, e tendo caído para trás quebrou o pescoço e morreu (v. 18).
Por mais de trezentos anos a arca estivera em Siló, na tribo de Efraim, mas a desonra trazida ao sacerdócio pela casa de Eli, determinaria a transferência do tabernáculo de Siló para Jerusalém, nos dias de Davi.
A glória do Senhor abandonou Siló, e por isso, com a tomada da arca pelos filisteus, a esposa de Fineias que se encontrava grávida, deu à luz prematuramente a seu filho, ao qual deu o nome de Icabôd, (v. 21), que no hebraico significa sem glória ou nenhuma glória, porque a glória do Senhor havia abandonado Siló.



“1 Ora, saiu Israel à batalha contra os filisteus, e acampou-se perto de Ebenézer; e os filisteus se acamparam junto a Afeque.
2 E os filisteus se dispuseram em ordem de batalha contra Israel; e, travada a peleja, Israel foi ferido diante dos filisteus, que mataram no campo cerca de quatro mil homens do exército.
3 Quando o povo voltou ao arraial, disseram os anciãos de Israel: Por que nos feriu o Senhor hoje diante dos filisteus? Tragamos para nós de Siló a arca do pacto do Senhor, para que ela venha para o meio de nós, e nos livre da mão de nossos inimigos.
4 Enviou, pois, o povo a Siló, e trouxeram de lá a arca do pacto do Senhor dos exércitos, que se assenta sobre os querubins; e os dois filhos de Eli, Hofni e Fineias, estavam ali com a arca do pacto de Deus.
5 Quando a arca do pacto do Senhor chegou ao arraial, prorrompeu todo o Israel em grandes gritos, de modo que a terra vibrou.
6 E os filisteus, ouvindo o som da gritaria, disseram: Que quer dizer esta grande vozearia no arraial dos hebreus? Quando souberam que a arca do Senhor havia chegado ao arraial,
7 os filisteus se atemorizaram; e diziam: Os deuses vieram ao arraial. Diziam mais: Ai de nós! porque nunca antes sucedeu tal coisa.
8 Ai de nós! quem nos livrará da mão destes deuses possantes? Estes são os deuses que feriram aos egípcios com toda sorte de pragas no deserto.
9 Esforçai-vos, e portai-vos varonilmente, ó filisteus, para que porventura não venhais a ser escravos dos hebreus, como eles o foram vossos; portai-vos varonilmente e pelejai.
10 Então pelejaram os filisteus, e Israel foi derrotado, fugindo cada um para a sua tenda; e houve mui grande matança, pois caíram de Israel trinta mil homens de infantaria.
11 Também foi tomada a arca de Deus, e os dois filhos de Eli, Hofni e Fineias, foram mortos.
12 Então um homem de Benjamim, correndo do campo de batalha chegou no mesmo dia a Siló, com as vestes rasgadas e terra sobre a cabeça.
13 Ao chegar ele, estava Eli sentado numa cadeira ao pé do caminho vigiando, porquanto o seu coração estava tremendo pela arca de Deus. E quando aquele homem chegou e anunciou isto na cidade, a cidade toda prorrompeu em lamentações.
14 E Eli, ouvindo a voz do lamento, perguntou: Que quer dizer este alvoroço? Então o homem, apressando-se, chegou e o anunciou a Eli.
15 Ora, Eli tinha noventa e oito anos; e os seus olhos haviam cegado, de modo que já não podia ver.
16 E disse aquele homem a Eli: Estou vindo do campo de batalha, donde fugi hoje mesmo. Perguntou Eli: Que foi que sucedeu, meu filho?
17 Então respondeu o que trazia as novas, e disse: Israel fugiu de diante dos filisteus, e houve grande matança entre o povo; além disto, também teus dois filhos, Hofni e Fineias, são mortos, e a arca de Deus é tomada.
18 Quando ele fez menção da arca de Deus, Eli caiu da cadeira para trás, junto à porta, e quebrou-se-lhe o pescoço, e morreu, porquanto era homem velho e pesado. Ele tinha julgado a Israel quarenta anos.
19 E estando sua nora, a mulher de Fineias, grávida e próxima ao parto, e ouvindo estas novas, de que a arca de Deus era tomada, e de que seu sogro e seu marido eram mortos, encurvou-se e deu à luz, porquanto as dores lhe sobrevieram.
20 E, na hora em que ia morrendo, disseram as mulheres que estavam com ela: Não temas, pois tiveste um filho. Ela, porém, não respondeu, nem deu atenção a isto.
21 E chamou ao menino de Icabô, dizendo: De Israel se foi a glória! Porque fora tomada a arca de Deus, e por causa de seu sogro e de seu marido.


22 E disse: De Israel se foi a glória, pois é tomada a arca de Deus.” (I Sm 4.1-22)


I Samuel 5

Não se Pode Vencer a Deus

Nós vemos no quinto capítulo de I Samuel que os filisteus tentaram se apoderar da arca da aliança como um troféu da sua conquista sobre os israelitas e o seu Deus.
Os filisteus habitavam junto à costa do Mar Mediterrâneo, em cinco cidades confederadas (Asdode, Gate, Ascalom, Ecrom e Gaza).
Ao que tudo indica, o templo principal do deus deles, Dagom, ficava em Asdode, e foi para lá que levaram a arca, com o intuito de consagrá-la a Dagom, em reconhecimento da vitória que lhes dera sobre os israelitas.
Eles não sabiam que Deus permanece invencível e imutável, soberano Senhor, mesmo quando o Seu povo é derrotado por causa dos seus pecados.
E o próprio Deus os entrega nas mãos do inimigo para que sejam corrigidos e se arrependam dos seus maus caminhos.
Eles não sabiam nada a respeito do fato de que Deus vindica a Sua santidade, quando revela que não aprova os pecados do Seu povo, por sujeitá-lo à correção.
Se o Israel de Deus é vitorioso é porque tem andado nos Seus caminhos. E se Israel é derrotado pelos seus inimigos é porque tem andado contrariamente com o seu Deus.
Todavia, aos olhos dos adoradores de Dagom, de um culto religioso sensual e pecaminoso, esta verdade estava totalmente encoberta, pois se soubessem disso, jamais teriam se apoderado da arca da aliança, com o propósito de dedicá-la como oferenda a Dagom.
Desse modo, seriam humilhados e abatidos por causa daquele grande erro, pois pensando que poderiam submeter o Deus de Israel, acabariam sendo submetidos por Ele, sem a necessidade do auxílio de qualquer pessoa do Seu povo.
O falso deus dos filisteus, assim como eles próprios, seriam duramente humilhados, pois tendo colocado a arca diante do ídolo, que representava Dagom eles o encontraram no dia seguinte prostrado ao solo, com o rosto em terra, aos pés da arca, como quem estivesse prestando reverência humilde a alguém superior (v. 2, 3).
O reino de Satanás cairá prostrado diante do reino de Cristo, e por mais que os seus seguidores tentem apoiá-lo, como os filisteus o fizeram, pois tornaram a levantar Dagom, depois de tê-lo encontrado prostrado com o rosto em terra, tiveram que suportar a humilhação de encontrá-lo no dia seguinte, não apenas caído, mas com os membros e a cabeça cortados, separados do seu tronco.
Isto indica que por mais que o reino das trevas tente prevalecer, ele será por fim destroçado pelo poderoso braço do Senhor, sem o auxílio de mãos humanas.
Por mais que os idólatras tentem manter os seus ídolos elevados e estimados em grande honra, haverão de ser abatidos juntamente com os seus ídolos, no dia do justo juízo de Deus.
“Os outros homens, que não foram mortos por estas pragas, não se arrependeram das obras das suas mãos, para deixarem de adorar aos demônios, e aos ídolos de ouro, de prata, de bronze, de pedra e de madeira, que nem podem ver, nem ouvir, nem andar.” (Apo 9.20).
Os filisteus anteciparam o que há de ocorrer no tempo do fim, porque mesmo diante dos juízos do Senhor sobre o seu falso deus, não se arrependeram de suas más obras, e não se converteram ao único Deus verdadeiro.
Em razão disso, eles próprios foram submetidos a duros castigos e humilhações, pois o Senhor feriu os filisteus de Asdode, e de suas cercanias, com tumores  (v. 6).
Nisto, reconheceram que era a mão do Deus de Israel que estava pesando sobre eles, e sobre o seu falso deus (v. 7).
Todavia, em vez de se arrependerem, decidiram permanecer adorando a Dagom, e pensando em se livrar de seus problemas, resolveram enviar a arca para a cidade de Gate, que também pertencia aos filisteus (v. 8).
Eles podem ter pensado que o Deus de Israel havia se incompatibilizado com Dagom, pois os pagãos tinham o costume de juntar outros deuses à divindade principal que eles adoravam, formando assim um panteão de deuses.
Um idólatra pode se devotar a uma divindade mais do que a outras, mas presta culto ou honra a todas as demais divindades, pois julga com isso que terá uma maior cobertura de proteção.
Desta forma, decidiram levar a arca para Gate (v. 8), onde poderia ficar longe de Dagom.
Contudo, o juízo estava determinado sobre os filisteus, não propriamente por terem derrotado os israelitas, porque isto fora também um juízo de Deus sobre eles, mas pela própria impiedade dos filisteus, pela sua idolatria e irreverência, e assim, as pessoas de Gate, grandes e pequenas, foram também assoladas com tumores e com a morte (v. 9).
Pelo que decidiram se livrar imediatamente da arca, enviando-a para outra cidade dos filisteus (Ecrom).
E os seus habitantes muito temeram e disseram que lhes haviam enviado a arca para que fossem mortos pelo Deus de Israel (v. 10), e como era muito grande o castigo de Deus sobre eles, foi decidido em conselho que a arca deveria ser devolvida a Israel (v. 10-12).
Como Cristo é, por meio do testemunho dos cristãos fiéis, cheiro de morte para morte nos que se perdem, de igual modo as tábuas do testemunho com os dez mandamentos, que estavam no interior da arca, eram cheiro de morte para morte dos incircuncisos filisteus, que se recusavam a dar crédito à verdade, por estarem apegados à mentira.
“Pois do céu é revelada a ira de Deus contra toda a impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça.” (Rm 1.18).
“pois trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram à criatura antes que ao Criador, que é bendito eternamente. Amém.” (Rm 1.25).




“1 Os filisteus, pois, tomaram a arca de Deus, e a levaram de Ebenézer a Asdode.
2 Então os filisteus tomaram a arca de Deus e a introduziram na casa de Dagom, e a puseram junto a Dagom.
3 Levantando-se, porém, de madrugada no dia seguinte os de Asdode, eis que Dagom estava caído com o rosto em terra diante da arca do Senhor; e tomaram a Dagom, e tornaram a pô-lo no seu lugar.
4 E, levantando-se eles de madrugada no dia seguinte, eis que Dagom estava caído com o rosto em terra diante da arca do Senhor; e a cabeça de Dagom e ambas as suas mãos estavam cortadas sobre o limiar; somente o tronco ficou a Dagom.
5 Pelo que nem os sacerdotes de Dagom, nem nenhum de todos os que entram na casa de Dagom, pisam o limiar de Dagom em Asdode, até o dia de hoje.
6 Entretanto a mão do Senhor se agravou sobre os de Asdode, e os assolou, e os feriu com tumores, a Asdode e aos seus termos.
7 O que tendo visto os homens de Asdode, disseram: Não fique conosco a arca do Deus de Israel, pois a sua mão é dura sobre nós, e sobre Dagom, nosso deus.
8 Pelo que enviaram mensageiros e congregaram a si todos os chefes dos filisteus, e disseram: Que faremos nós da arca do Deus de Israel? Responderam: Seja levada para Gate. Assim levaram para lá a arca do Deus de Israel.
9 E desde que a levaram para lá, a mão do Senhor veio contra aquela cidade, causando grande pânico; pois feriu aos homens daquela cidade, desde o pequeno até o grande, e nasceram-lhes tumores.
10 Então enviaram a arca de Deus a Ecrom. Sucedeu porém que, vindo a arca de Deus a Ecrom, os de Ecrom exclamaram, dizendo: Transportaram para nós a arca de Deus de Israel, para nos matar a nós e ao nosso povo.
11 Enviaram, pois, mensageiros, e congregaram a todos os chefes dos filisteus, e disseram: Enviai daqui a arca do Deus de Israel, e volte ela para o seu lugar, para que não nos mate a nós e ao nosso povo. Porque havia pânico mortal em toda a cidade, e a mão de Deus muito se agravara sobre ela.
12 Pois os homens que não morriam eram feridos com tumores; de modo que o clamor da cidade subia até o céu.” (I Sm 5.1-12)


I Samuel 6

O Retorno da Arca da Aliança para Israel

No sexto capítulo de I Samuel nós temos o registro não apenas do que os filisteus fizeram para devolver a arca a Israel, como também o grande juízo do Senhor sobre os israelitas de Bete-Semes, que ocasionou a morte de cinquenta mil e setenta homens, em razão de terem olhado o interior da arca (v. 19).
Todos estes juízos estavam produzindo temor em Israel, e preparando o povo para o arrependimento, que nós veremos no sétimo capitulo.
A arca se encontrava há sete meses no território dos filisteus (v. 1) quando eles começaram a tomar providências para devolvê-la a Israel, e serem livrados da grande praga que Deus havia trazido sobre eles.
Pelas medidas tomadas pelos filisteus, para a remoção da sua culpa, conforme proposto pelos seus sacerdotes e adivinhos, nós vemos que as principais pragas eram os tumores e a infestação de ratos, pois decidiram oferecer como oferta pela culpa juntamente com a arca, quando esta fosse devolvida a Israel, gravuras de ouro com a forma de ratos e tumores, cinco de cada, sendo um para cada um dos cinco príncipes dos filisteus.
Eles não fizeram isto intuitivamente, ou seguindo simplesmente a sua forma ritual própria, quanto às oferendas que dedicavam aos seus deuses.
Note-se que levaram em conta a necessidade de remoção de culpa diante do Deus de Israel, que sabiam ser exigente em relação à apresentação de sacrifícios e ofertas, para tratar das transgressões do Seu próprio povo de Israel.
Não seria entretanto, nenhuma oferta de ouro que faria expiação da culpa deles, porque isto é feito com sangue e não com ouro ou com prata.
É com vida que se faz expiação em virtude da continuidade da vida, e foi por isso que Cristo se ofereceu como sacrifício em nosso lugar.
Eles decidiram devolver a arca, pois reconheciam que o seu endurecimento, em tentarem mantê-la em seu território, acabaria por lhes trazer uma destruição ainda maior, tal como haviam se lembrado do que havia ocorrido aos egípcios, em razão do endurecimento de faraó (v. 6).
Entretanto, além da necessidade de que se desse glória ao Deus de  Israel (v. 5), reconhecendo a sua superioridade sobre o seu próprio deus, resolveram acrescentar esta oferenda adicional, como forma de pagamento pelo erro de terem se apropriado de um utensílio sagrado, pertencente ao Deus de Israel.
Eles decidiram ainda fazer uma prova, enquanto devolviam a arca, para ter a convicção de que fora realmente um castigo de Deus o que lhes sobreviera ou se fora obra do acaso (v. 9), pois fizeram com que a arca fosse transportada por vacas que ainda estavam amamentando os seus bezerros, e caso não fosse obra do sobrenatural, o que havia ocorrido, as vacas em vez de seguirem adiante na estrada rumo a Israel, seriam conduzidas pelo instinto natural a retornarem a seus bezerros, que haviam sido separados delas e deixados em seu próprio lugar, na terra dos filisteus.
Este não era o modo correto de se conduzir a arca, mas como estava em terra alheia, e não havia lá nenhum levita de Israel para conduzi-la pelos varais, Deus permitiu que agissem daquele modo, até mesmo porque daria ocasião de lhes manifestar que não fora obra do acaso o que lhes sucedera, mas sim um juízo procedente da Sua poderosa mão, porque as vacas seguiram adiante, contra o instinto natural, até chegarem a Bete-Semes, cidade de Israel mais próxima de Ecrom, de onde elas haviam partido (v. 12).
Bete-Semes e Quiriate-Jearim pertenciam à tribo de Judá, sendo que Bete-Semes era uma das quarenta e oito cidades distribuídas aos levitas, e Quiriate-Jearim, para onde a arca foi conduzida posteriormente, depois de ter estado em Bete-Semes, era uma das cidades fortificadas.
 Os bete-semitas olharam para o interior da arca e o Senhor os castigou matando  cinquenta mil e setenta deles (v. 19).
Eles devem ter tentado remover a tampa do propiciatório para olhar as tábuas do testemunho, o pote com maná, e a vara de Arão, que havia florescido e dado amêndoas, que se encontravam no interior da arca.
Mas nem mesmo ao sumo-sacerdote isto era permitido, senão contemplar os querubins com as asas estendidas sobre o propiciatório do meio de uma nuvem de incenso.
Tal era a reverência que o Senhor determinou para com aquele utensílio sagrado que simbolizava a Sua presença entre o Seu povo.
Ele está presente entre aqueles que são Seus mas exige santidade verdadeira de todos os que desejam se aproximar dEle.
Deus se faz íntimo mas com reverência plena e sem qualquer promiscuidade.
E até que Cristo viesse e fizesse expiação pelos nossos pecados, o modo de culto ordenado naquela dispensação exigia dos israelitas, por não terem em sua grande maioria, um conhecimento verdadeiro do Senhor e uma real união com Ele, por meio da fé e da presença abençoadora do Espírito, que houvesse uma total reverência para com todos os utensílios sagrados do tabernáculo, de modo que a Lei prescrevia duras penas para todos os sacrílegos, até ao castigo extremo da morte física.
Nós lembramos ainda como os filhos de Arão, Nadabe e Abiú foram consumidos pelo fogo, que saiu do Senhor, por terem oferecido fogo estranho no santuário.
Os filhos de Eli, Hofni e Fineias foram destruídos pela falta de reverência no exercício do ofício sacerdotal, o rei Uzias foi castigado com lepra, por ter exercido uma função exclusiva dos sacerdotes, a saber, queimar incenso no templo (II Cr 26.18), e todos aqueles que não tiveram a devida reverência para com as prescrições divinas relativas ao serviço do santuário tiveram que arcar com as consequências da sua transgressão.



“1 A arca do Senhor ficou na terra dos filisteus sete meses.
2 Então os filisteus chamaram os sacerdotes e os adivinhadores para dizer-lhes: Que faremos nós da arca do Senhor? Fazei-nos saber como havemos de enviá-la para o seu lugar.
3 Responderam eles: Se enviardes a arca do Deus de Israel, não a envieis vazia, porém sem falta enviareis a ele uma oferta pela culpa; então sereis curados, e se vos fará saber por que a sua mão não se retira de vós.
4 Então perguntaram: Qual é a oferta pela culpa que lhe havemos de enviar? Eles responderam: Segundo o número dos chefes dos filisteus, cinco tumores de ouro e cinco ratos de ouro, porque a praga é uma e a mesma sobre todos os vossos príncipes.
5 Fazei, pois, imagens, dos vossos tumores, e dos ratos que andam destruindo a terra, e dai glória ao Deus de Israel; porventura aliviará o peso da sua mão de sobre vós, e de sobre vosso deus, e de sobre vossa terra:
6 Por que, pois, endureceríeis os vossos corações, como os egípcios e Faraó endureceram os seus corações? Porventura depois de os haver Deus castigado, não deixaram ir o povo, e este não se foi?
7 Agora, pois, fazei um carro novo, tomai duas vacas que estejam criando, sobre as quais não tenha vindo o jugo, atai-as ao carro e levai os seus bezerros de após elas para casa.
8 Tomai a arca do Senhor, e ponde-a sobre o carro; também metei num cofre, ao seu lado, as jóias de ouro que haveis de oferecer ao Senhor como ofertas pela culpa; e assim a enviareis, para que se vá.
9 Reparai então: se ela subir pelo caminho do seu termo a Bete-Semes, foi ele quem nos fez este grande mal; mas, se não, saberemos que não foi a sua mão que nos feriu, e que isto nos sucedeu por acaso.
10 Assim, pois, fizeram aqueles homens: tomaram duas vacas que criavam, ataram-nas ao carro, e encerraram os bezerros em casa;
11 também puseram a arca do Senhor sobre o carro, bem como e cofre com os ratos de ouro e com as imagens dos seus tumores.
12 Então as vacas foram caminhando diretamente pelo caminho de Bete-Semes, seguindo a estrada, andando e berrando, sem se desviarem nem para a direita nem para a esquerda; e os chefes dos filisteus foram seguindo-as até o termo de Bete-Semes.
13 Ora, andavam os de Bete-Semes fazendo a sega do trigo no vale; e, levantando os olhos, viram a arca e, vendo-a, se alegraram.
14 Tendo chegado o carro ao campo de Josué, o bete-semita, parou ali, onde havia uma grande pedra. Fenderam a madeira do carro, e ofereceram as vacas ao Senhor em holocausto.
15 Nisso os levitas desceram a arca do Senhor, como também o cofre que estava junto a ela, em que se achavam as jóias de ouro, e puseram-nos sobre aquela grande pedra; e no mesmo dia os homens de Bete-Semes ofereceram holocaustos e sacrifícios ao Senhor.
16 E os cinco chefes dos filisteus, tendo visto aquilo, voltaram para Ecrom no mesmo dia.
17 Estes, pois, são os tumores de ouro que os filisteus enviaram ao Senhor como oferta pela culpa: por Asdode um, por Gaza outro, por Asquelom outro, por Gate outro, por Ecrom outro.
18 Como também os ratos de ouro, segundo o número de todas as cidades dos filisteus, pertencentes aos cinco chefes, desde as cidades fortificadas até as aldeias campestres. Disso é testemunha a grande pedra sobre a qual puseram a arca do Senhor, pedra que ainda está até o dia de hoje no campo de Josué, o bete-semita.
19 Ora, o Senhor feriu os homens de Bete-Semes, porquanto olharam para dentro da arca do Senhor; feriu do povo cinquenta mil e setenta homens; então o povo se entristeceu, porque o Senhor o ferira com tão grande morticínio.
20 Disseram os homens de Bete-Semes: Quem poderia subsistir perante o Senhor, este Deus santo? e para quem subirá de nós?


21 Enviaram, pois, mensageiros aos habitantes de Quiriate-Jearim, para lhes dizerem: Os filisteus remeteram a arca do Senhor; descei, e fazei-a subir para vós.” (I Sm 6.1-21)


I Samuel 7

A Presença de Deus É Essencial à Vida

Começaremos o comentário deste sétimo capitulo de I Samuel com as seguintes palavras de I Cr 13.1-5:
“1 Ora, Davi consultou os chefes dos milhares, e das centenas, a saber, todos os oficiais.
2 E disse Davi a toda a congregação de Israel: Se bem vos parece, e se isto vem do Senhor nosso Deus, enviemos mensageiros por toda parte aos nossos outros irmãos que estão em todas as terras de Israel, e com eles aos sacerdotes e levitas nas suas cidades, e nos seus campos, para que se reúnam conosco,
3 e tornemos a trazer para nós a arca do nosso Deus; porque não a buscamos nos dias de Saul.
4 E toda a congregação concordou em que assim se fizesse; porque isso pareceu reto aos olhos de todo o povo.
5 Convocou, pois, Davi todo o Israel desde Sior, o ribeiro do Egito, até a entrada de Hamate, para trazer de Quiriate-Jearim a arca de Deus.” (I Cr 13.1-5).
O relato do primeiro livro de Crônicas nos dá conta que a arca permaneceu em Quiriate-Jearim durante todo o período do reinado de Saul, que durou quarenta anos, sem contar os anos restantes do ministério de Samuel como Juiz até que Saul começasse a reinar.
Isto revela de modo muito claro que a iniquidade dos filhos de Eli e a pouca importância que os chefes de Israel estavam dando ao mau comportamento deles, permitindo que os serviços do tabernáculo fossem desprezados, trouxe este grande juízo do Senhor sobre Siló, que fora abandonada como local de culto depois de ter sido designado por Deus como o lugar central onde deveria estar o tabernáculo.
A glória havia se ido de fato daquele lugar como bem o atestava o nome que foi dado pela mulher de Fineias ao  filho  (Icabod), que lhe nascera quando soube da morte do marido e da tomada da arca pelos filisteus.
Nós entendemos melhor o motivo deste abandono de Siló, como tendo sido realmente causado pelo pecado de Israel, e particularmente pelo desprezo deles para com o tabernáculo, nas palavras proferidas pelo Senhor ao profeta Jeremias, quando determinou a destruição do templo de Jerusalém pelos babilônios, em razão de estarem reinando em Israel as mesmas condições que prevaleceram nos dias de Eli, até o fim do reinado de Saul (Jer 7.11-15).
Todos estes cerca de quarenta anos de silêncio em Siló, correspondem aos quatrocentos anos do período interbíblico, quando a glória do primeiro pacto foi substituída pela maior glória do Novo Pacto, que seria inaugurado com a vinda de Jesus.
A arca de Deus, e consequentemente a Sua glória iriam para Jerusalém nos dias do reinado do rei que tipificava a Jesus como rei, a saber, Davi.
Isto já estava determinado nos conselhos do Senhor e Ele o cumpriu cabalmente para revelar que aqueles que O desprezam são desprezados e deixados para trás, assim como havia sido deixada Siló, e que Ele honra àqueles que O honram, assim como havia honrado Davi, e não a Saul, que não era um homem segundo o Seu coração, apesar de tê-lo escolhido como rei de Israel, segundo o que o povo desejava, e não segundo aquilo que Ele esperava de um rei, e que sabia de antemão que jamais o encontraria em Saul, senão em Davi.
Este foi um dos motivos de não ter inspirado em Saul o desejo de restaurar o culto do tabernáculo, porque este não poderia ser realizado mais nos termos de Efraim, onde estava Siló, senão em Judá, para onde seria transferida a capital do reino nos dias de Davi.
Mas em tudo isso nós vemos o quão pouco Saul estava interessado em honrar a Deus, segundo tudo o que estava prescrito na Lei de Moisés.
Ele não seguia de fato tudo o que Deus havia determinado em relação aos governantes de Israel, que deveriam exercer o seu governo debaixo do governo de Deus, segundo tudo o que estava prescrito na Lei, conforme vemos especialmente em Dt 17.14-20.
Deste modo, não seria dada a ele a honra de conquistar Jerusalém, e de restaurar o culto do tabernáculo, mas a Davi que era um homem segundo o coração de Deus e que fez toda a Sua vontade.
Nós vemos então mais uma vez, dentre as muitas que já temos observado, o cumprimento do princípio de Deus honrar somente aqueles que O honram, e de desprezar aqueles que O desprezam.    
Isto não mudou na dispensação da graça, porque Jesus ensinou que todos aqueles que não crêem nEle serão condenados, mas os que crêem serão salvos, e que aqueles que com Ele não ajuntam são espalhados, pois não serão reunidos ao povo de Deus, antes serão sujeitados a uma condenação eterna.
Mesmo dentre os salvos, os que são fiéis serão distinguidos com galardões (I Cor 3.14), e os cristãos infiéis sofrerão dano (I Cor 3.15),  além de serem sujeitados aqui neste mundo à disciplina e a correção do Senhor (I Cor 11.30-32).
Foi este abandono da presença do Senhor entre eles, e a falta do culto no tabernáculo em Siló, que fez com que os israelitas o lamentassem mais profundamente, depois de terem passado vinte anos que a arca se encontrava em Quiriate-Jearim (v. 1, 2).
Não havia nenhum culto em Quiriate-Jearim.
Apenas guardaram seguramente a arca na casa de Aminadabe, que devia ser dotada de uma estrutura adequada, que poderia manter a arca guardada, afastada até mesmo da curiosidade das próprias pessoas da sua casa; pois tinham ainda bem vivo em suas memórias, toda a grande matança e destruição que o Senhor fizera entre os filisteus e até mesmo entre os israelitas de Bete-Semes, por não manterem a arca afastada do alcance da vista humana.
Ela não podia ser vista por ninguém, como já dissemos, senão pelo sumo-sacerdote, somente no Dia da Expiação.
Durante todo este tempo, e mesmo nos dias de Saul, sem a arca no tabernáculo, Israel ficou sem o exercício do sacerdócio e da apresentação de sacrifícios para expiação do pecado e das ofertas pacíficas, especialmente sem a expiação que era feita por toda a nação no décimo dia do sétimo mês, conforme se vê em Lev 16.29,30.
Os efeitos da falta do cumprimento destas ordenanças deveria estar produzindo muitas condições desfavoráveis em Israel.
E eles vieram sentir de modo muito profundo esta ausência do Senhor.
Não haveria, mesmo em face do arrependimento demonstrado por eles, e do abandono da idolatria, uma restauração completa, porque cometeriam ainda o erro de pedir um rei para si nos moldes de todas as demais nações.
Eles estavam sentindo a falta das bênçãos do Senhor, mas não estavam preparados naquela geração por tudo o que haviam aprendido da casa de Eli, quanto ao desprezo do serviço sagrado, a desejarem se colocarem debaixo das ordenanças de Deus, e foi por isso que Ele disse a Samuel que não era a ele que eles estavam rejeitando quando pediram um rei, mas a Ele, porque não desejavam de fato se colocar debaixo de toda a Sua vontade, cumprindo os Seus mandamentos.
Uma nova geração se levantaria nos dias de Davi, e então a restauração do culto no tabernáculo seria promovida pelo Senhor.
Deus não olha de fato para a aparência dos homens, senão para o coração.
Ele vê o coração e age de acordo com o que está realmente em nós.
Ele não determinou a Lei como um mero cerimonial, senão como algo para ser cumprido de fato e em verdade, na Sua presença, com um espírito reto e que se arrependesse do pecado, com um verdadeiro arrependimento, que inclui o desejo de fazer a Sua vontade, e não somente lamentarmos os nossos pecados.
Mas o fato de Israel estar lamentando a ausência das bênçãos do Senhor, e ter atendido à voz de Samuel, permitindo serem julgados por ele, e lançando fora os falsos deuses que eles estavam adorando, já era um bom começo.
E Samuel convocou a nação a se reunir em Mizpá para orar por eles, e para consagrarem um dia de jejum ao Senhor como sinal do seu arrependimento (v. 6)  
Vendo que os israelitas haviam se reunido em Mizpá, os filisteus entraram em conselho para guerrearem contra Israel.
E o povo pediu a Samuel que continuasse intercedendo por eles junto ao Senhor, porque estavam temendo os filisteus.
Samuel ofereceu um cordeiro em sacrifício ao Senhor e clamou em favor de Israel, e é dito no mesmo verso 9 que Deus atendeu ao seu pedido.
O sacrifício ainda estava sendo queimado como holocausto quando os filisteus apareceram, mas Deus fez trovejar de tal modo sobre eles que fugiram apavorados, e sendo perseguidos pelos israelitas foram derrotados.
E Samuel colocou uma pedra em memorial daquela bênção de Deus, entre Mizpá e Sem, e a chamou de Ebenezer, que no hebraico significa pedra (eben); de socorro, ou ajuda (ezer), e Samuel disse na ocasião em que assentou aquela pedra: “até aqui nos ajudou o Senhor” indicando que foi Ele a Pedra, a Rocha, que os socorrera.
Tudo isto que temos comentado até aqui, conforme revelado nas Escrituras, consiste em se estudar os poderosos feitos do Senhor, que como dissemos na parte introdutória do comentário relativo a este livro, não devem ser estudados apenas no que está relatado na Bíblia, como também em toda a história da Igreja.
As lições que devemos aprender, segundo é da vontade do Senhor, não se limitam apenas ao Seus poderosos livramentos, como este Ebenezer, mas sobretudo os Seus juízos como os que trouxera sobre o próprio povo de Israel, em razão do pecado.
É aprendendo sobre as ações de Deus, que revelam o Seu caráter Santo, Justo, Misericordioso e Amoroso, que aprendemos o modo pelo qual devemos andar na Sua presença, que consiste, nas palavras do autor de Hebreus “com reverência e santo temor”:
“Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo consumidor.” (Hb 12.28, 29).
Não foi a ímpios que ele dirigiu estas palavras, mas à Igreja de Cristo.
A graça é concedida pelo Senhor e opera em nós para que o sirvamos deste modo, que é o único que lhe é agradável.
A graça não nos foi dada para que vivamos desordenadamente, sem dar a devida honra e obediência a Deus, conforme exigido por Ele, e que tem sido revelado a nós, não somente nas Escrituras, como no testemunho de toda a  história.
Estando debaixo de um ministério abençoado, como o de Samuel, e lhe dando ouvido quanto ao modo como deveriam andar na presença de Deus, os israelitas foram não somente livrados da opressão dos filisteus, como tomaram de volta as cidades que lhes haviam subtraído, e que ficavam situadas entre as cidades dos filisteus de Ecrom e Gate.
Além disso os amorreus entraram em acordo de paz com os israelitas, pelo temor do Deus de Israel, pelo que Ele havia feito aos filisteus (v. 13, 14).
Quando o povo do Senhor dá ouvidos aos Seus ministros fiéis, eles são abençoados debaixo dos seus ministérios.
Mas quando há ministros fiéis, como Jeremias, Sofonias e outros, mas o povo não lhes dá ouvido, permanecendo com seus corações endurecidos contra as exortações que lhes dirigem quanto à necessidade de arrependimento e de conversão ao Senhor, não se pode esperar por bênçãos, senão por correções e juízos de Deus.
Contudo, quando o povo do Senhor dá ouvido aos seus ministros fiéis, eles não somente subjugam o Inimigo como também alcançam a restauração das coisas que ele havia roubado (paz, bondade, harmonia nos lares, na Igreja etc), como sucedeu com Israel nos dias de Samuel, que não somente puderam subjugar os filisteus, como retomaram a posse das cidades que lhes haviam tomado.
 Nós vemos nos versos 15 e 16, que Samuel julgava Israel em Betel, Gilgal e Mizpá, e que depois que julgava o povo nestas localidades, retornava à sua casa em Ramá,  onde residiam seus pais, e na qual havia edificado um altar ao Senhor (v. 17), uma vez que, como vimos antes, os serviços do tabernáculo em Siló haviam sido desativados pelo mandado de Deus.
Samuel seria então profeta e sacerdote, mas não no tabernáculo, mas em Ramá e nas cidades em que julgava Israel.
O ofício sacerdotal, com todos os serviços designados na Lei de Moisés, somente viria a ser restaurado nos dias de Davi.


“1 Vieram, pois, os homens de Quiriate-Jearim, tomaram a arca do Senhor e a levaram à casa de Abinadabe, no outeiro; e consagraram a Eleazar, filho dele, para que guardasse a arca do Senhor.
2 E desde o dia em que a arca ficou em Quiriate-Jearim passou-se muito tempo, chegando até vinte anos; então toda a casa de Israel suspirou pelo Senhor.
3 Samuel, pois, falou a toda a casa de Israel, dizendo: Se de todo o vosso coração voltais para o Senhor, lançai do meio de vós os deuses estranhos e as astarotes, preparai o vosso coração para com o Senhor, e servi a ele só; e ele vos livrará da mão dos filisteus.
4 Os filhos de Israel, pois, lançaram do meio deles os baalins e as astarotes, e serviram ao Senhor.
5 Disse mais Samuel: Congregai a todo o Israel em Mizpá, e orarei por vós ao Senhor.
6 Congregaram-se, pois, em Mizpá, tiraram água e a derramaram perante o Senhor; jejuaram aquele dia, e ali disseram: Pecamos contra o Senhor. E Samuel julgava os filhos de Israel em Mizpá.
7 Quando os filisteus ouviram que os filhos de Israel estavam congregados em Mizpá, subiram os chefes dos filisteus contra Israel. Ao saberem disto os filhos de Israel, temeram por causa dos filisteus.
8 Pelo que disseram a Samuel: Não cesses de clamar ao Senhor nosso Deus por nós, para que nos livre da mão dos filisteus.
9 Então tomou Samuel um cordeiro de mama, e o ofereceu inteiro em holocausto ao Senhor; e Samuel clamou ao Senhor por Israel, e o Senhor o atendeu.
10 Enquanto Samuel oferecia o holocausto, os filisteus chegaram para pelejar contra Israel; mas o Senhor trovejou naquele dia com grande estrondo sobre os filisteus, e os aterrou; de modo que foram derrotados diante dos filhos de Israel.
11 Os homens de Israel, saindo de Mizpá, perseguiram os filisteus e os feriram até abaixo de Bete-Car.
12 Então Samuel tomou uma pedra, e a pôs entre Mizpá e Sem, e lhe chamou Ebenézer; e disse: Até aqui nos ajudou o Senhor.
13 Assim os filisteus foram subjugados, e não mais vieram aos termos de Israel, porquanto a mão do Senhor foi contra os filisteus todos os dias de Samuel.
14 E as cidades que os filisteus tinham tomado a Israel lhe foram restituídas, desde Ecrom até Gate, cujos termos também Israel arrebatou da mão dos filisteus. E havia paz entre Israel e os amorreus.
15 Samuel julgou a Israel todos os dias da sua vida.
16 De ano em ano rodeava por Betel, Gilgal e Mizpá, julgando a Israel em todos esses lugares.
17 Depois voltava a Ramá, onde estava a sua casa, e ali julgava a Israel; e edificou ali um altar ao Senhor.” (I Sm 7.1-17)


I Samuel 8

Os Israelitas Pedem Um Rei

Israel havia sido formado por Deus para ser uma nação teocrática, ou seja, para estar debaixo do governo direto do próprio Deus.
Reis, príncipes, juízes, sacerdotes, profetas seriam apenas Seus instrumentos e mediadores entre Ele e o Seu povo.
Por isso se diz na Lei o que deveria ser feito pelo rei que viesse a governar Israel.
Nós temos em Dt 17.14-20 as prescrições que haviam sido dadas por Deus a Moisés quanto aos deveres do rei e do povo, quando fosse inaugurada a monarquia em Israel.
Quão diferente seria o procedimento do rei escolhido pelo Senhor para governar o Seu povo, conforme a Sua vontade, do que encontramos registrado neste capitulo de Samuel, nos versos 11 a 18.
Como o próprio povo estava rejeitando o governo de Deus (v. 7), por não desejarem obedecer os Seus mandamentos, eles teriam o rei que queriam e mereciam, que em vez de não se exaltar sobre eles, sendo um irmão entre irmãos (Dt 17.20), seria um tirano, sem o verdadeiro temor do Senhor, e sem dar a devida honra à Sua Palavra.
Por isso Deus disse a Samuel que não era a ele que os israelitas estavam rejeitando, mas o Seu próprio governo sobre eles, pois que sempre haviam agido deste modo, desde que lhes havia tirado com braço forte da escravidão no Egito, nos dias de Moisés (v. 7, 8).
O procedimento incorreto dos filhos de Samuel, que aceitavam subornos para distorcer a justiça, no julgamento que faziam na condição de juízes, foi apenas um pretexto para que o povo colocasse em marcha o que  estavam desejando de fato.
Um governo segundo o modelo de todas as demais nações, onde não é Deus o soberano, mas o povo e o homem, e aquele que  escolhiam para estarem sobre eles.
Todavia, os termos da aliança feita com Israel, desde os patriarcas, não poderiam jamais ser invalidados, até que fosse inaugurada uma nova aliança por meio de Cristo.
Então, as coisas deveriam ser ajustadas de modo que Deus continuasse sendo o soberano de Israel, apesar da atitude de rebelião do povo contra o Seu governo, mediante atendimento das prescrições da Lei de Moisés.
Mais do que obedecido em Seus mandamentos, Deus é digno de ser amado e adorado, e isto de modo voluntário, com um coração contrito, arrependido, temente, fervoroso.
Afinal, além de Criador Ele se tornou o Salvador do Seu povo. Aquele que livra do mal presente e da condenação eterna. Aquele que é o Único que é capaz de perdoar e remover os nossos pecados e culpa.
Mas como podem estas bênçãos estarem presentes na vida daqueles cujos corações estão endurecidos, e mentes embotadas pelo amor ao mundo e pelo governo da carne?
Por isso, os israelitas decidiram manter o pedido de um rei nos mesmos moldes das demais nações, apesar de terem sido advertidos do tudo a que teriam que se submeter para manter a pompa do reino que seria estabelecido sobre eles.
É uma grande loucura e ignorância agir de tal modo, mas é exatamente isto que muitos fazem, mesmo na Igreja de Cristo, porque em vez de escolherem ministros santos e que os liderem conduzindo-os a viverem em santidade de vida e obediência a Deus,  preferem ter ministros carnais que os deixem à mercê de suas próprias vontades e para não serem repreendidos pelos seus pecados.
Com isso, trocam a bênção do Senhor, pela tirania do Inimigo, que certamente passará a governar as Suas vidas, por terem rejeitado o governo de Deus.
Desta forma, nós lemos em Dt 32.6 Israel sendo chamado de “povo louco e insensato”, pelas coisas que viriam a fazer no futuro, em razão desta obstinada relutância da carne, em se submeter à vontade de Deus, e que conduz os servos do Senhor a ficarem sujeitos à Sua correção e disciplina, em vez de terem um viver abençoado e aprovado por Ele.
Os israelitas, em sua loucura e insensatez, foram despedidos por Samuel de Ramá, para as suas respectivas tribos, depois dele ter consultado o Senhor, e este lhe ter dito que desse ouvido aos israelitas constituindo um rei sobre eles (v. 21,22).
Muitas vezes recebemos de Deus aquilo que em nossa obstinação insistimos em Lhe pedir, só que, não será para nossa bênção, mas para aprendermos, que devemos nos submeter à Sua vontade, e deixar a questão daquilo que nos convém ou não, em Suas santas e poderosas mãos, pois Ele sabe o que é melhor para nós.
Quando reconhecemos que é a Sua vontade e não a nossa, que deve ser feita, e nos sujeitamos a isto, com singeleza de coração, então tudo irá bem, ainda que estejamos cercados de tribulações e toda sorte de provações.  
O reino de Deus e a sua justiça devem ser sempre buscados em primeiro lugar, e tudo o mais que for necessário, ser-nos-á acrescentado.
Bem vai aos que se colocam debaixo do governo do Senhor.
E muitas angústias virão sobre aqueles que rejeitam o Seu governo, como bem veremos na história de Israel, registrada nos capítulos seguintes, sob o governo de Saul.
Os filisteus que haviam sido rechaçados pelo Senhor, durante o período em que Samuel os liderava, voltaram a ameaçar os israelitas nos dias de Saul, e eles ficariam em completa sujeição, se Deus em Sua misericórdia, não lhes tivesse dado a Davi como libertador, não em razão da obediência deles, mas para cumprir tudo o que havia determinado fazer através daquele que viria a ser levantado como contraste entre o que é um rei segundo o Seu coração, isto é, segundo a Sua vontade e caráter, e um rei que era segundo o coração do próprio povo, em sua rebelião, do qual Saul foi um tipo perfeito.
Como o Senhor havia dado água ao Israel rebelde no deserto, ele lhes daria também agora pela mesma misericórdia, e não pelo merecimento deles, o rei que haviam pedido, mas que os regeria não segundo a sabedoria e bondade prescritas na Lei para os reis de Israel, mas segundo os novos estatutos que seriam adicionados aos previstos na Lei de Moisés (8.11-17; 10.25); pois eles pediram para estarem debaixo de um rei, conforme estavam todas as demais nações, e então a lei que os regeria seria também conforme a das demais nações.



“ Ora, havendo Samuel envelhecido, constituiu a seus filhos por juízes sobre Israel.
2 O seu filho primogênito chamava-se Joel, e o segundo Abias; e julgavam em Berseba.
3 Seus filhos, porém, não andaram nos caminhos dele, mas desviaram-se após o lucro e, recebendo peitas, perverteram a justiça.
4 Então todos os anciãos de Israel se congregaram, e vieram ter com Samuel, a Ramá,
5 e lhe disseram: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam nos teus caminhos. Constitui-nos, pois, agora um rei para nos julgar, como o têm todas as nações.
6 Mas pareceu mal aos olhos de Samuel, quando disseram: Dá-nos um rei para nos julgar. Então Samuel orou ao Senhor.
7 Disse o Senhor a Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não é a ti que têm rejeitado, porém a mim, para que eu não reine sobre eles.
8 Conforme todas as obras que fizeram desde o dia em que os tirei do Egito até o dia de hoje, deixando-me a mim e servindo a outros deuses, assim também fazem a ti.
9 Agora, pois, ouve a sua voz, contudo lhes protestarás solenemente, e lhes declararás qual será o modo de agir do rei que houver de reinar sobre eles.
10 Referiu, pois, Samuel todas as palavras do Senhor ao povo, que lhe havia pedido um rei,
11 e disse: Este será o modo de agir do rei que houver de reinar sobre vós: tomará os vossos filhos, e os porá sobre os seus carros, e para serem seus cavaleiros, e para correrem adiante dos seus carros;
12 e os porá por chefes de mil e chefes de cinquenta, para lavrarem os seus campos, fazerem as suas colheitas e fabricarem as suas armas de guerra e os petrechos de seus carros.
13 Tomará as vossas filhas para perfumistas, cozinheiras e padeiras.
14 Tomará o melhor das vossas terras, das vossas vinhas e dos vossos olivais, e o dará aos seus servos.
15 Tomará e dízimo das vossas sementes e das vossas vinhas, para dar aos seus oficiais e aos seus servos.
16 Também os vossos servos e as vossas servas, e os vossos melhores mancebos, e os vossos jumentos tomará, e os empregará no seu trabalho.
17 Tomará o dízimo do vosso rebanho; e vós lhe servireis de escravos.
18 Então naquele dia clamareis por causa de vosso rei, que vós mesmos houverdes escolhido; mas o Senhor não vos ouvirá.
19 O povo, porém, não quis ouvir a voz de Samuel; e disseram: Não, mas haverá sobre nós um rei,
20 para que nós também sejamos como todas as outras nações, e para que o nosso rei nos julgue, e saia adiante de nós, e peleje as nossas batalhas.
21 Ouviu, pois, Samuel todas as palavras do povo, e as repetiu aos ouvidos do Senhor.


22 Disse o Senhor a Samuel: Dá ouvidos à sua voz, e constitui-lhes rei. Então Samuel disse aos homens de Israel: Volte cada um para a sua cidade.” (I Sm 8.1-22)


I Samuel 9

O Primeiro Encontro de Samuel com Saul

Saul haveria de se revelar um audaz guerreiro, o seu filho Jônatas, seguiria nisto os passos do seu pai.
Se Israel devia ter um rei, estando sob ameaça constante das nações ao redor, particularmente dos filisteus, que este rei fosse dado aos assuntos relativos à guerra.
Foi principalmente isto que conduziu à escolha de Saul por Deus, como vemos no verso 16 deste nono capítulo de I Samuel, que estaremos comentando.
Ele estava dando ao povo um rei segundo o que eles queriam.
Um homem, cuja aparência continha tudo o que se esperava de um rei, segundo aquilo que o mundo considera grande.
Pois, além de forte e valoroso (v.1) era mais alto e belo do que todos em Israel (v. 2).
Não se faz qualquer referência à piedade dele ou a qualquer virtude interior do espírito.
Nada se diz do temor que Ele tinha ao Deus de Israel.
Tão somente se destaca aquilo que os israelitas estavam buscando num rei, e o Senhor estava lhes dando o que realmente queriam.
Eles encontrariam o que estavam buscando, e não é por acaso que este capítulo nono começa com a narrativa de que Saul estava buscando as jumentas extraviadas de seu pai (v. 3).
Este desaparecimento das jumentas proveio certamente da providência de Deus, porque depois de terem empreendido uma longa jornada (v. 4), e quando Saul já havia perdido a esperança de encontrá-las, o seu moço sugeriu que ele fosse ter com o vidente que habitava  naquela região montanhosa de Efraim (Ramá), referindo-se a Samuel, para que consultasse a Deus a respeito da localização das jumentas, pois tinha a fama de que tudo o que dizia ocorria infalivelmente (v. 6).
Nós dissemos que o extravio das jumentas fora obra da Providência, porque quando Saul foi ter com Samuel em Ramá, Deus já havia falado a seu respeito a Samuel, um dia antes, como sendo aquele que havia escolhido para ser rei em Israel (v.  15-17).
Nós vemos neste capitulo, que Samuel continuava oferecendo sacrifícios ao Senhor no altar que edificara em Ramá (v. 12), e disto se conclui que os serviços no tabernáculo em Siló continuavam desativados.
Quando Samuel se revelou a Saul como sendo o vidente pelo qual ele procurava, convidou-o a participar do banquete que seria oferecido depois do sacrifício, e lhe disse que não se preocupasse com as jumentas, porque já haviam sido encontradas, e que tudo o que havia de desejável em Israel era para ele, Saul, e para a casa do seu pai (v. 19, 20).
Saul, em sua perplexidade, diante de tais palavras de honra e distinção, mostrou-se humilde, dizendo que a tribo de Benjamim, à qual ele pertencia, era a menor de Israel, e o mesmo se podia dizer em relação à casa de seu pai (v. 21).
Saul tinha em sua personalidade este misto de humildade e de exaltação.
Especialmente quando vencia as batalhas contra os inimigos de Israel, não tributava honra e glória ao Senhor, de quem procediam aquelas vitórias, mas exaltava-se a si mesmo, e era extremamente ciumento da sua própria honra, como se viu especialmente no caso de Davi, contra quem se voltou, a par de ser o seu mais leal servo e capitão.
A humildade dele era facilmente obscurecida por esta grande fome de glória pessoal que possuía. E isto o tempo haveria de revelar. Por causa do seu ciúme, tentaria matar o seu próprio filho Jônatas, mas isto é assunto para ser tratado mais adiante.
O governo de Samuel estava sendo rejeitado pelos israelitas, mas foi a ele a quem Deus deu a honra de revelar o rei que  escolhera.
 Por isso Samuel honrou a Saul, porque  havia sido honrado por Deus, e escolhido para ser ungido como rei sobre o Seu povo, dando-lhe o primeiro lugar à mesa do banquete.
Esta mesma honra Saul viria a reclamar no futuro quando foi rejeitado por Deus, em razão da sua desobediência, e por ter oferecido sacrifícios, sem ser sacerdote.
Ele queria que Samuel o honrasse mesmo sabendo que havia sido desprezado pelo Senhor.
Ele não sabia discernir as coisas de modo conveniente. Ele pensava que poderia permanecer em honra na desobediência, do mesmo modo que havia sido honrado quando havia sido escolhido.
Voltamos a repetir o que temos falado de modo insistente sobre o princípio espiritual de Deus honrar somente àqueles que O honrarem.
Ele pode usar de misericórdia para com os rebeldes, com os pecadores, como tem de fato demonstrado, especialmente na dispensação da graça, por causa dos méritos de Cristo, mas entre usar de misericórdia para com alguém e honrar esta mesma pessoa vai uma grande distância, pois se o uso da misericórdia pode ser manifestado incondicionalmente, a honra sempre é condicional, pois depende de que Deus seja honrado primeiro.
Quando Saul foi inserido à mesa do banquete, que estava sendo oferecido por Samuel em Ramá, o profeta o distinguiu dando-lhe a parte que lhe cabia (a espádua do animal sacrificado), que era a parte reservada para o sacerdote (Dt 18.3).
Isto representava simbolicamente uma transferência formal de governo, não do sacerdócio, que não poderia ser exercido por Saul, que era da tribo de Benjamim, mas do governo propriamente dito, pois aquele gesto sinalizava que o juizado de Samuel estava sendo transferido para o reinado de Saul (v. 23, 24).
A espádua (ombro) do carneiro, que era a porção do sacerdote, significava o governo relativo às coisas de Deus que estavam sobre o ombro deles.
E o governo civil de Israel estaria sobre os ombros de Saul. Mas Cristo, que se ofereceu a Si mesmo como sacrifício por nós, é Aquele sobre cujos ombros se encontra o governo de todas as coisas.
“6 Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o governo estará sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz.
7 Do aumento do seu governo e da paz não haverá fim, sobre o trono de Davi e no seu reino, para o estabelecer e o fortificar em retidão e em justiça, desde agora e para sempre; o zelo do Senhor dos exércitos fará isso.” (Is 9.6,7).
Quando eles retornaram do lugar onde se encontrava o altar onde foi oferecido o sacrifício e o banquete, Samuel retornou com Saul à cidade de Rama, e Samuel conversou com Saul no eirado de sua casa, onde Saul dormiu.
E chamando-o na madrugada do dia seguinte para o despedir, pediu que ele fizesse com que o seu moço seguisse adiante, quando chegaram na extremidade da cidade, mas que Saul aguardasse a palavra que Samuel lhe proferiria da parte do Senhor (v. 25-27).



“1 Ora, havia um homem de Benjamim, cujo nome era Quis, filho de Abiel, filho de Zeror, filho de Becorate, filho de Afias, filho dum benjamita; era varão forte e valoroso.
2 Tinha este um filho, chamado Saul, jovem e tão belo que entre os filhos de Israel não havia outro homem mais belo do que ele; desde os ombros para cima sobressaía em altura a todo o povo.
3 Tinham-se perdido as jumentas de Quis, pai de Saul; pelo que disse Quis a Saul, seu filho: Toma agora contigo um dos moços, levanta-te e vai procurar as jumentas.
4 Passaram, pois, pela região montanhosa de Efraim, como também pela terra de Salisa, mas não as acharam; depois passaram pela terra de Saalim, porém tampouco estavam ali; passando ainda pela terra de Benjamim, não as acharam.
5 Vindo eles, então, à terra de Zufe, Saul disse para o moço que ia com ele: Vem! Voltemos, para que não suceda que meu pai deixe de inquietar-se pelas jumentas e se aflija por causa de nós.
6 Mas ele lhe disse: Eis que há nesta cidade um homem de Deus, e ele é muito considerado; tudo quanto diz, sucede infalivelmente. Vamos, pois, até lá; porventura nos mostrará o caminho que devemos seguir.
7 Então Saul disse ao seu moço: Porém se lá formos, que levaremos ao homem? Pois o pão de nossos alforjes se acabou, e presente nenhum temos para levar ao homem de Deus; que temos?
8 O moço tornou a responder a Saul, e disse: Eis que ainda tenho em mão um quarto dum siclo de prata, o qual darei ao homem de Deus, para que nos mostre o caminho.
9 (Antigamente em Israel, indo alguém consultar a Deus, dizia assim: Vinde, vamos ao vidente; porque ao profeta de hoje, outrora se chamava vidente.)
10 Então disse Saul ao moço: Dizes bem; vem, pois, vamos! E foram-se à cidade onde estava o homem de Deus.
11 Quando eles iam subindo à cidade, encontraram umas moças que saíam para tirar água; e perguntaram-lhes: Está aqui o vidente?
12 Ao que elas lhes responderam: Sim, eis aí o tens diante de ti; apressa-te, porque hoje veio à cidade, porquanto o povo tem hoje sacrifício no alto.
13 Entrando vós na cidade, logo o achareis, antes que ele suba ao alto para comer; pois o povo não comerá até que ele venha, porque ele é o que abençoa a sacrifício, e depois os convidados comem. Subi agora, porque a esta hora o achareis.
14 Subiram, pois, à cidade; e, ao entrarem, eis que Samuel os encontrou, quando saía para subir ao alto.
15 Ora, o Senhor revelara isto aos ouvidos de Samuel, um dia antes de Saul chegar, dizendo:
16 Amanhã a estas horas te enviarei um homem da terra de Benjamim, o qual ungirás por príncipe sobre o meu povo de Israel; e ele livrará o meu povo da mão dos filisteus; pois olhei para o meu povo, porque o seu clamor chegou a mim.
17 E quando Samuel viu a Saul, o Senhor lhe disse: Eis aqui o homem de quem eu te falei. Este dominará sobre o meu povo.
18 Então Saul se chegou a Samuel na porta, e disse: Mostra-me, peço-te, onde é a casa do vidente.
19 Respondeu Samuel a Saul: Eu sou o vidente; sobe diante de mim ao alto, porque comereis hoje comigo; pela manhã te despedirei, e tudo quanto está no teu coração to declararei.
20 Também quanto às jumentas que há três dias se te perderam, não te preocupes com elas, porque já foram achadas. Mas para quem é tudo o que é desejável em Israel? porventura não é para ti, e para toda a casa de teu pai?
21 Então respondeu Saul: Acaso não sou eu benjamita, da menor das tribos de Israel? E não é a minha família a menor de todas as famílias da tribo de Benjamim? Por que, pois, me falas desta maneira?
22 Samuel, porém, tomando a Saul e ao seu moço, levou-os à câmara, e deu-lhes o primeiro lugar entre os convidados, que eram cerca de trinta homens.
23 Depois disse Samuel ao cozinheiro: Traze a porção que te dei, da qual te disse: põe-na à parte contigo.
24 Levantou, pois, o cozinheiro a espádua, com o que havia nela, e pô-la diante de Saul. E disse Samuel: Eis que o que foi reservado está diante de ti. Come; porque te foi guardado para esta ocasião, para que o comesses com os convidados. Assim comeu Saul naquele dia com Samuel.
25 Então desceram do alto para a cidade, e falou Samuel com Saul, no eirado.
26 E se levantaram de madrugada, quase ao subir da alva, pois Samuel chamou a Saul, que estava no eirado, dizendo: Levanta-te para eu te despedir. Levantou-se, pois, Saul, e saíram ambos, ele e Samuel.
27 Quando desciam para a extremidade da cidade, Samuel disse a Saul: Dize ao moço que passe adiante de nós (e ele passou); tu, porém, espera aqui, e te farei ouvir a palavra de Deus.” (I Sm 9.1-27).


I Samuel 10

Saul é Ungido Rei Sobre Israel

Nós vemos no décimo capítulo de I Samuel, Saul sendo ungido pelo profeta Samuel com azeite derramado sobre a sua cabeça, só que a unção de Saul foi feita com um vaso (v. 1) e a de Davi com um chifre (16.1, 13).
O vaso, diferentemente do chifre se quebra facilmente, e nisto havia uma indicação da unção de Saul, que não receberia do Espírito na mesma medida que Davi o receberia, pois o seu reino se quebraria, pois seria removido dele por causa da sua desobediência.
Nosso Senhor Jesus Cristo também foi ungido pelo Espírito para dar início ao Seu ministério terreno, mas o Espírito não lhe foi dado por medida (Jo 3.34), pois na Sua condição de ser perfeito Deus e perfeito homem, sem pecado, Ele tinha a plenitude do Espírito, diferentemente de todos aqueles que são ungidos por Deus para cumprirem os seus ministérios, quer na Antiga, quer na Nova Aliança.
A expressão usada na unção de Saul “vaso de azeite” traz no original hebraico a palavra, pheke, que significa frasco, vaso, e no caso de Davi a expressão “chifre de azeite” tem a palavra qeren, que significa chifre.
As particularidades e detalhes da profecia que Samuel deu da parte de Deus a Saul, e que nós lemos nos versos 2 a 6, demonstram o grande profeta que ele era, em transmitir com segurança e precisão de detalhes, todas as coisas, inclusive em minúcias, sem acrescentar ou faltar palavra, em tudo o que recebia da parte de Deus.
A sua estatura espiritual era de tal envergadura, que conduziu outros homens ao conhecimento da Lei de Deus, e a terem comunhão com ele, no que havia fundado, e que ficou sendo conhecido como casa de profetas (I Sm 19.20-23).
No original hebraico, nós temos a palavra naiot, que significa casa, residência, nos versículos 18, 19, 22 e 23 de I Sm 19, que em algumas versões é traduzida por “casa dos profetas”, uma vez que no verso 20 se diz que Samuel estava presidindo um grupo de profetas, que profetizavam naquela casa.
Então era de fato um lugar especial em sua cidade de Ramá, onde ele dirigia este trabalho como uma verdadeira escola de profetas.
Assim, estes profetas aos quais Samuel se referiu a Saul, neste décimo capítulo, deveriam estar certamente vinculados ao seu ministério, e deste modo Deus preparou através de Samuel o caminho para os dias de Davi.
Um trabalho longo e paciente estava sendo realizado para disseminar a Palavra de Deus em Israel, e tornar a Sua presença mais efetiva entre os israelitas.
Tudo isto se observa em tempos de Reforma.
Não é de repente que tudo acontece.
Os corações vão sendo preparados paulatinamente pelo Senhor, através da oração e da pregação da Palavra verdadeira.
As pessoas vão se convertendo a Ele. E o desejo pela Sua presença se torna cada vez maior. E o resultado de tudo isto é que o solo fica preparado para um grande avivamento, tal como ocorreu nos dias de Davi.
Na verdade, o terreno estava sendo arado desde os dias de Samuel, e Davi pôde colher os frutos de todo este trabalho que estava sendo feito anteriormente por aqueles homens de Deus, que estavam ligados ao ministério do profeta Samuel.
Um rei seria entronizado e tudo isto seria possível, porque houve um trabalho anterior para preparar as pessoas para o reino.
De igual modo Jesus assumirá cabalmente o Seu reinado sobre todo o mundo, mas não sem antes que o Seu povo seja reunido e preparado pelos homens e mulheres, que o Senhor tem levantado na Igreja para converter pecadores do domínio de Satanás para Deus (At 26.18).
Saul foi ungido mas teria que esperar ainda por sete dias por Samuel em Gilgal, quando lhe seria dito o que deveria fazer (v. 8).
Ele estava sendo instruído, que como rei não deveria agir por sua própria e exclusiva conta, mas que deveria depender das direções do Senhor para que dirigisse o Seu povo.
A principal parte da profecia dirigida por Samuel destacava que ele seria transformado em outro homem, quando o Espírito Santo se apoderasse dele, no momento em que  estivesse profetizando juntamente com o grupo de profetas, que encontraria no caminho, e que estariam profetizando:
“5 Depois chegarás ao outeiro de Deus, onde está a guarnição dos filisteus; ao entrares ali na cidade, encontrarás um grupo de profetas descendo do alto, precedido de saltérios, tambores, flautas e harpas, e eles profetizando.
6 E o Espírito do Senhor se apoderará de ti, e profetizarás com eles, e serás transformado em outro homem.”.
Estes profetas estavam sendo precedidos por um grupo de pessoas, que tocavam adiante deles saltérios, tambores, flautas e harpas.
Eram músicos que louvavam ao Senhor, e que serviam ao ministério dos profetas, de modo a criar uma atmosfera favorável à manifestação da presença do Espírito Santo entre eles.
Isto demonstra a importância da música instrumental e do louvor nos serviços espirituais.
Mas o ponto de destaque na profecia é que Saul teria uma experiência com o Espírito Santo, como um fogo novo queimando em seu peito, algo que ele nunca tinha experimentado antes.
Ele seria convencido por esta experiência que o ministério profético era real e digno de honra, de maneira que como rei ele não viesse a impedir a continuidade do ofício profético em Israel.
Ao mesmo tempo ele receberia uma capacitação especial do Espírito para exercer o reinado que fora colocado sobre os seus ombros, assim como os juízes haviam sido capacitados no passado pelo Espírito Santo para cumprirem os seus ministérios.
Foi basicamente nisto que consistiu a mudança de Saul em outro homem, não necessariamente que ele tenha de fato se convertido, por um trabalho da graça no seu coração, tornando-o alguém apegado a Deus.
Os dons extraordinários do Espírito podem ser distribuídos a qualquer pessoa, porque eles não estão ligados à natureza. São capacitações passageiras, como o próprio dom de profecia, e por isso, tais dons estão destinados a desaparecer no futuro, quando da volta do Senhor (I Cor 13.8).
No momento mesmo em que Saul virou as costas para sair da presença de Samuel, Deus lhe mudou o coração em outro, e todos os sinais preditos por Samuel lhe sucederam naquele mesmo dia (v. 9).
Deus é poderoso para imbuir uma pessoa de sentido de dever público, e inclinar e dispor o coração de quem Ele quiser a se gastar num determinado ofício.
Isto se aplica inclusive às chamadas seculares, e os homens em sua ignorância deixam de tributar honra e glória a Deus, por capacitá-los a exercerem funções em benefício da continuidade da vida na terra.
Todos os dons e talentos úteis procedem de Deus, e a Saul estava sendo dado um coração novo, isto é, todo o seu ser estaria envolvido na aspiração de governar Israel.
É o Senhor quem implanta tais aspirações, especialmente nos Seus servos, que são chamados para o exercício do ministério.
De modo que os que são efetivamente chamados passarão a ter no ministério a razão de ser de suas vidas.
Isto porque Deus produziu neles uma mudança de coração, fazendo com que todos os seus objetivos de vida fossem canalizados para o desejo de cumprir fielmente o ministério que receberam da parte de Deus.
Quando chegou em sua cidade, Saul foi interpelado pelo seu tio, e nada lhe disse sobre a sua chamada para ser rei, senão o que Samuel havia dito sobre as jumentas de seu pai, que haviam se extraviado.
Nisto ele demonstrou a capacitação para guardar segredos, que é necessária na pessoa de um rei.
Samuel lhe falara do reinado como um segredo, e ele soube guardar isto até mesmo de sua família.
No tempo designado por Deus, Samuel congregou todo Israel em Mizpá (v. 17), e ali profetizou a eles as seguintes palavras:
“Assim diz o Senhor Deus de Israel: Eu fiz subir a Israel do Egito, e vos livrei da mão dos egípcios e da mão de todos os reinos que vos oprimiam. Mas vós hoje rejeitastes a vosso Deus, àquele que vos livrou de todos os vossos males e angústias, e lhe dissestes: Põe um rei sobre nós. Agora, pois, ponde-vos perante o Senhor, segundo as vossas tribos e segundo os vossos milhares.” (v. 18, 19).
Assim, Saul seria escolhido pelo lançamento de sortes, porém não sem uma palavra de repreensão dirigida por Deus a Israel, manifestando o Seu desagrado pela precipitação deles em desejar um rei.
Quando a sorte recaiu sobre Saul ele não foi encontrado, e Deus revelou que estava escondido entre a bagagem (v. 22).
É possível que Saul tenha se escondido por temer ter que assumir tão grande responsabilidade, para a qual não havia recebido qualquer preparo anterior.
Deus já havia escolhido Saul e mandou Samuel ungi-lo como rei.
E agora Ele vai revelar por meio do lançamento de sortes, publicamente, diante de todo Israel, quem era o Seu escolhido.
Saul foi apresentado ao povo de Israel como aquele que foi escolhido por Deus, e conforme o lançamento de sortes havia confirmado, mas suas palavras encerram mais o tom do rei que vocês desejaram do que o rei que Deus escolheu, pois disse que não havia entre o povo nenhum semelhante a ele, referindo-se à sua aparência externa, uma vez que dos ombros para cima sobressaía a todos em Israel (v. 23, 24).
Saul foi aclamado rei, mas não sem a oposição de alguns homens ímpios que resistiram à própria escolha de Deus.
Estes líderes de Israel não o honraram trazendo-lhe presentes, e o desprezaram, por não verem nele qualificações que servissem de evidência, que poderia de fato governá-los e livrá-los das investidas de seus inimigos, mas Saul se fez como surdo e ignorou o fato (v. 27), porque Deus havia movido o coração de alguns homens de valor para o acompanharem no seu retorno à sua residência em Gibeá (v. 26).
Foi o próprio Deus que moveu o coração desses homens para serem os guarda costas de Saul e seus ministros auxiliares.
Nós deveríamos reconhecer e sermos gratos a Deus por todos aqueles que Ele levanta para nos auxiliarem em nossos ministérios, em vez de lutar contra eles pelo temor de que venham tomar o nosso lugar, como faria o próprio Saul no futuro, em relação a Davi.          




“ Então Samuel tomou um vaso de azeite, e o derramou sobre a cabeça de Saul, e o beijou, e disse: Porventura não te ungiu o Senhor para ser príncipe sobre a sua herança?
2 Quando te apartares hoje de mim, encontrarás dois homens junto ao sepulcro de Raquel, no termo de Benjamim, em Zelza, os quais te dirão: Acharam-se as jumentas que foste buscar, e eis que já o teu pai deixou de pensar nas jumentas, e anda aflito por causa de ti, dizendo: Que farei eu por meu filho?
3 Então dali passarás mais adiante, e chegarás ao carvalho de Tabor; ali te encontrarão três homens, que vão subindo a Deus, a Betel, levando um três cabritos, outro três formas de pão, e o outro um odre de vinho.
4 Eles te saudarão, e te darão dois pães, que receberás das mãos deles.
5 Depois chegarás ao outeiro de Deus, onde está a guarnição dos filisteus; ao entrares ali na cidade, encontrarás um grupo de profetas descendo do alto, precedido de saltérios, tambores, flautas e harpas, e eles profetizando.
6 E o Espírito do Senhor se apoderará de ti, e profetizarás com eles, e serás transformado em outro homem.
7 Quando estes sinais te vierem, faze o que achar a tua mão para fazer, pois Deus é contigo.
8 Tu, porém, descerás adiante de mim a Gilgal, e eis que eu descerei a ter contigo, para oferecer holocaustos e sacrifícios de ofertas pacíficas. Esperarás sete dias, até que eu vá ter contigo e te declare o que hás de fazer.
9 Ao virar Saul as costas para se apartar de Samuel, Deus lhe mudou o coração em outro; e todos esses sinais aconteceram naquele mesmo dia.
10 Quando eles iam chegando ao outeiro, eis que um grupo de profetas lhes saiu ao encontro; e o Espírito de Deus se apoderou de Saul, e ele profetizou no meio deles.
11 Todos os que o tinham conhecido antes, ao verem que ele profetizava com os profetas, diziam uns aos outros: Que é que sucedeu ao filho de Quis? Está também Saul entre os profetas?
12 Então um homem dali respondeu, e disse: Pois quem é o pai deles? Pelo que se tornou em provérbio: Está também Saul entre os profetas?
13 Tendo ele acabado de profetizar, seguiu para o alto.
14 Depois o tio de Saul perguntou-lhe, a ele e ao seu moço: Aonde fostes?: Respondeu ele: Procurar as jumentas; e, não as tendo encontrado, fomos ter com Samuel.
15 Disse mais o tio de Saul: Declara-me, peço-te, o que vos disse Samuel.
16 Ao que respondeu Saul a seu tio: Declarou-nos, seguramente, que as jumentas tinham sido encontradas. Mas quanto ao assunto do reino, de que Samuel falara, nada lhe declarou.
17 Então Samuel convocou o povo ao Senhor em Mizpá;
18 e disse aos filhos de Israel: Assim diz o Senhor Deus de Israel: Eu fiz subir a Israel do Egito, e vos livrei da mão dos egípcios e da mão de todos os reinos que vos oprimiam.
19 Mas vós hoje rejeitastes a vosso Deus, àquele que vos livrou de todos os vossos males e angústias, e lhe dissestes: Põe um rei sobre nós. Agora, pois, ponde-vos perante o Senhor, segundo as vossas tribos e segundo os vossos milhares.
20 Tendo, pois, Samuel feito chegar todas as tribos de Israel, foi tomada por sorte a tribo de Benjamim.
21 E, quando fez chegar a tribo de Benjamim segundo as suas famílias, foi tomada a família de Matri, e dela foi tomado Saul, filho de Quis; e o procuraram, mas não foi encontrado.
22 Pelo que tornaram a perguntar ao Senhor: Não veio o homem ainda para cá? E respondeu o Senhor: Eis que se escondeu por entre a bagagem:
23 Correram, pois, e o trouxeram dali; e estando ele no meio do povo, sobressaía em altura a todo o povo desde os ombros para cima.
24 Então disse Samuel a todo o povo: Vedes já a quem o Senhor escolheu: Não há entre o povo nenhum semelhante a ele. Então todo o povo o aclamou, dizendo: Viva o rei;
25 Também declarou Samuel ao povo a lei do reino, e a escreveu num livro, e pô-lo perante o Senhor. Então Samuel despediu todo o povo, cada um para sua casa.
26 E foi também Saul para sua casa em Gibeá; e foram com ele homens de valor, aqueles cujo coração Deus tocara.


27 Mas alguns homens ímpios disseram: Como pode este homem nos livrar? E o desprezaram, e não lhe trouxeram presentes; porém ele se fez como surdo.” (I Sm 10.1-27)



I Samuel 11

A Consolidação do Reinado de Saul

Nós vemos no 11º capítulo de I Samuel que quando os amonitas ousaram desafiar mais uma vez os israelitas, que viviam do outro lado do Jordão, em Jabes-Gileade, e tendo estes se sentido incapazes de enfrentá-los, lembraram que havia agora sobre eles um rei escolhido pelo Senhor, e recorreram a ele, apesar de não ter tomado nenhuma iniciativa prática para dar início ao seu reinado, continuando nas suas atividades rotineiras pastoris, por acomodação ou por ter-se sentido  intimidado pelos líderes de Israel, que se opunham ao seu governo.
Mas quando soube das dificuldades dos cidadãos de Jabes-Gileade, o Espírito Santo veio sobre ele e o despertou para a realidade, e se sentindo fortalecido por Deus, tomou a iniciativa de impressionar os israelitas, tendo despedaçado uma junta de bois e enviado os seus pedaços por todo Israel, informando que se ordenaria que o mesmo fosse feito ao gado de todos eles, caso não se dispusessem para a batalha contra os amonitas (v. 7).
Com isto, se reuniram em Bezeque trezentos e trinta mil israelitas(v. 8), e  prevaleceram contra os amonitas.
Esta vitória confirmou a Saul como rei sobre Israel, pois se dispuseram até mesmo a dar cabo da vida daqueles homens, que estavam se opondo ao reinado de Saul (v. 12).
Nós vemos Saul tributando ao Senhor a vitória sobre os amonitas, motivo porque decidiu que ninguém deveria ser morto naquele dia em Israel, em razão do grande livramento que o Senhor lhes dera (v. 13).
O momento era oportuno para consolidar o reino, e por isso Samuel convocou o povo a estar em Gilgal, onde seriam oferecidos sacrifícios e ofertas pacíficas perante o Senhor, para confirmar o reinado de Saul, e este muito se alegrou com todos os homens de Israel (v. 14 e 15).


“1 Então subiu Naás, o amonita, e sitiou a Jabes-Gileade. E disseram todos os homens de Jabes a Naás: Faze aliança conosco, e te serviremos.
2 Respondeu-lhes, porém, Naás, o amonita: Com esta condição farei aliança convosco: que a todos vos arranque o olho direito; assim porei opróbrio sobre todo o Israel.
3 Ao que os anciãos de Jabes lhe disseram: Concede-nos sete dias, para que enviemos mensageiros por todo o território de Israel; e, não havendo ninguém que nos livre, nos entregaremos a ti.
4 Então, vindo os mensageiros a Gibeá de Saul, falaram estas palavras aos ouvidos do povo. Pelo que todo o povo levantou a voz e chorou.
5 E eis que Saul vinha do campo, atrás dos bois; e disse Saul: Que tem o povo, que chega? E contaram-lhe as palavras dos homens de Jabes.
6 Então o Espírito de Deus se apoderou de Saul, ao ouvir ele estas palavras; e acendeu-se sobremaneira a sua ira.
7 Tomou ele uma junta de bois, cortou-os em pedaços, e os enviou por todo o território de Israel por mãos de mensageiros, dizendo: Qualquer que não sair após Saul e após Samuel, assim se fará aos seus bois. Então caiu o temor do Senhor sobre o povo, e acudiram como um só homem.
8 Saul passou-lhes revista em Bezeque; e havia dos homens de Israel trezentos mil, e dos homens de Judá trinta mil.
9 Então disseram aos mensageiros que tinham vindo: Assim direis aos homens de Jabes-Gileade: Amanhã, em aquentando o sol, vos virá livramento. Vindo, pois, os mensageiros, anunciaram-no aos homens de Jabes, os quais se alegraram.
10 E os homens de Jabes disseram aos amonitas: Amanhã nos entregaremos a vós; então nos fareis conforme tudo o que bem vos parecer.
11 Ao outro dia Saul dividiu o povo em três companhias; e pela vigília da manhã vieram ao meio do arraial, e feriram aos amonitas até que o dia aquentou; e sucedeu que os restantes se espalharam de modo a não ficarem dois juntos.
12 Então disse o povo a Samuel: Quais são os que diziam: Reinará porventura Saul sobre nós? Dai cá esses homens, para que os matemos.
13 Saul, porém, disse: Hoje não se há de matar ninguém, porque neste dia o Senhor operou um livramento em Israel:
14 Depois disse Samuel ao povo: Vinde, vamos a Gilgal, e renovemos ali o reino.


15 Foram, pois, para Gilgal, onde constituíram rei a Saul perante o Senhor, e imolaram sacrifícios de ofertas pacíficas perante o Senhor; e ali Saul se alegrou muito com todos os homens de Israel.” (I Sm 11.1-15)



I Samuel 12

Samuel Admoesta Saul e o Povo

É provável que ali mesmo em Gilgal, quando confirmavam a Saul no reino, com alegria pela vitória sobre os amonitas, que Samuel tenha percebido algo de uma alegria mundana e carnal entre o povo e o seu rei, como vemos no relato do 12º capítulo de I Samuel.
Afinal, temperamentos como o de Saul, são dados a não tributarem verdadeiramente de coração, honra e glória ao Senhor, pois tendem a se gloriar em si mesmos, em seus atos, ainda que fortalecidos e capacitados por Deus.
Eles furtam a honra e a glória que são devidas exclusivamente ao Senhor, para si mesmos.
Eles, apesar do seu grande tamanho, carisma, e aparência que impressionam a muitos, sem o poder do Senhor, são tão fracos quanto qualquer outro ser mortal, mas incitados pela aclamação popular, são grandemente tentados a se gloriarem em si mesmos, e não no Senhor.
Certamente, este foi o motivo para que Samuel protestasse contra a maldade dos israelitas em terem pedido um rei para si, como o tinham todas as demais nações.
A sua repreensão e o teor das suas palavras foram confirmados por Deus com um milagre inaudito, pois dissera que o Senhor faria trovejar e chover numa época em que isto não ocorria, a saber, na sega do trigo (v. 17, 18).
Mas antes disto, Samuel fez uma confrontação com todos eles na presença de Saul, a quem chamou de ungido do Senhor, em relação ao seu próprio ministério.
Não foi uma prestação de contas o que ele fez, mas uma verdadeira confrontação, como que a convencê-los, já que nada havia de repreensível na forma como vinha conduzindo o povo, não podiam ser justificados no seu pedido de um rei.
Isto estava dando ocasião para que mais uma vez examinassem os seus corações e vissem quais foram os reais motivos que lhes havia conduzido a tomar a decisão de pedir para si um rei.
Não seria porque estavam se predispondo a abandonarem o Senhor e os Seus mandamentos, o que estava bem representado na pessoa e no governo de Samuel?
Não era na verdade ao Senhor que eles estavam se predispondo a abandonar?
O pedido de um rei não teria em vista a intenção de substituir o governo de Deus pelo mero governo do homem?
Isto era de fato uma maldade e deveriam vigiar contra tais sentimentos, e se arrependerem do seu pecado, redirecionando as suas intenções para o bem, e não abandonarem a direção de Deus, tanto eles quanto o rei que havia sido colocado sobre eles.
A máscara foi retirada com as palavras de Samuel e com a confirmação delas com os trovões e a chuva que Deus enviou atendendo à sua oração, e eles reconheceram o seu pecado (v. 19), e pediram a Samuel que intercedesse em seu favor, para que o Senhor não lhes matasse.  
As palavras que Samuel usou em resposta ao seu pedido, são dignas de serem destacadas:
“20 Então disse Samuel ao povo: Não temais; vós fizestes todo este mal; porém não vos desvieis de seguir ao Senhor, mas servi-o de todo o vosso coração.
21 Não vos desvieis; porquanto seguiríeis coisas vãs, que nada aproveitam, e tampouco vos livrarão, porque são vãs.
22 Pois o Senhor, por causa do seu grande nome, não desamparará o seu povo; porque aprouve ao Senhor fazer de vós o seu povo.
23 E quanto a mim, longe de mim esteja o pecar contra o Senhor, deixando de orar por vós; eu vos ensinarei o caminho bom e direito.
24 Tão-somente temei ao Senhor, e servi-o fielmente de todo o vosso coração; pois vede quão grandiosas coisas vos fez.
25 Se, porém, perseverardes em fazer o mal, perecereis, assim vós como o vosso rei.” .
Estas palavras revelam que estavam pensando em coisas vãs (v. 21), em grandeza mundana, em glória terrena, e isto não poderia livrá-los de maneira alguma, porque o modo de Deus tratar com eles era diferente da forma como tratava com as demais nações, porque tinham uma aliança com o Senhor.
Estas palavras tinham por alvo servir de alerta, não somente ao povo como ao próprio Saul, pois se perseverassem em fazer o mal, pereceriam, tanto eles quanto o próprio rei (v. 25).
Este alerta veio a ser desconsiderado, e tanto os israelitas viriam a tombar no campo de batalha, quanto o próprio Saul, decorridos quarenta anos do seu governo sobre Israel.
Daí a necessidade de nos apegarmos e meditarmos na Palavra do Senhor dia e noite, tal como fizera Josué, para que possamos prosperar em todos os nossos caminhos.



“1 Então disse Samuel a todo o Israel: Eis que vos dei ouvidos em tudo quanto me dissestes, e constituí sobre vós um rei.
2 Agora, eis que o rei vai adiante de vós; quanto a mim, já sou velho e encanecido, e meus filhos estão convosco: eu tenho andado adiante de vós desde a minha mocidade até o dia de hoje.
3 Eis-me aqui! testificai contra mim perante o Senhor, e perante o seu ungido. De quem tomei o boi? ou de quem tomei o jumento? ou a quem defraudei? ou a quem tenho oprimido? ou da mão de quem tenho recebido peita para encobrir com ela os meus olhos? E eu vo-lo restituirei.
4 Responderam eles: Em nada nos defraudaste, nem nos oprimiste, nem tomaste coisa alguma da mão de ninguém.
5 Ele lhes disse: O Senhor é testemunha contra vós, e o seu ungido é hoje testemunha de que nada tendes achado na minha mão. Ao que respondeu o povo: Ele é testemunha.
6 Então disse Samuel ao povo: O Senhor é o que escolheu a Moisés e a Arão, e tirou a vossos pais da terra do Egito.
7 Agora ponde-vos aqui, para que eu pleiteie convosco perante o Senhor, no tocante a todos os atos de justiça do Senhor, que ele fez a vós e a vossos pais.
8 Quando Jacó entrou no Egito, e vossos pais clamaram ao Senhor, então o Senhor enviou Moisés e Arão, que tiraram vossos pais do Egito, e os fizeram habitar neste lugar.
9 Esqueceram-se, porém, do Senhor seu Deus; e ele os entregou na mão de Sísera, chefe do exército de Hazor, e na mão dos filisteus, e na mão do rei de Moabe, os quais pelejaram contra eles.
10 Clamaram, pois, ao Senhor, e disseram: Pecamos, porque deixamos ao Senhor, e servimos aos baalins e astarotes; agora, porém, livra-nos da mão de nossos inimigos, e te serviremos:
11 Então o Senhor enviou Jerubaal, e Baraque, e Jefté, e Samuel; e vos livrou da mão de vossos inimigos em redor, e habitastes em segurança.
12 Quando vistes que Naás, rei dos filhos de Amom, vinha contra vós, dissestes-me: Não, mas reinará sobre nós um rei; entretanto, o Senhor vosso Deus era o vosso Rei.
13 Agora, eis o rei que escolhestes e que pedistes; eis que o Senhor tem posto sobre vós um rei.
14 Se temerdes ao Senhor, e o servirdes, e derdes ouvidos à sua voz, e não fordes rebeldes às suas ordens, e se tanto vós como o rei que reina sobre vós seguirdes o Senhor vosso Deus, bem está;
15 mas se não derdes ouvidos à voz do Senhor, e fordes rebeldes às suas ordens, a mão do Senhor será contra vós, como foi contra vossos pais:
16 Portanto ficai agora aqui, e vede esta grande coisa que o Senhor vai fazer diante dos vossos olhos.
17 Não é hoje a sega do trigo? clamarei, pois, ao Senhor, para que ele envie trovões e chuva; e sabereis e vereis que é grande a vossa maldade, que fizestes perante o Senhor, pedindo para vós um rei.
18 Então invocou Samuel ao Senhor, e o Senhor enviou naquele dia trovões e chuva; pelo que todo o povo temeu sobremaneira ao Senhor e a Samuel.
19 Disse todo o povo a Samuel: Roga pelos teus servos ao Senhor teu Deus, para que não morramos; porque a todos os nossos pecados temos acrescentado este mal, de pedirmos para nós um rei.
20 Então disse Samuel ao povo: Não temais; vós fizestes todo este mal; porém não vos desvieis de seguir ao Senhor, mas servi-o de todo o vosso coração.
21 Não vos desvieis; porquanto seguiríeis coisas vãs, que nada aproveitam, e tampouco vos livrarão, porque são vãs.
22 Pois o Senhor, por causa do seu grande nome, não desamparará o seu povo; porque aprouve ao Senhor fazer de vós o seu povo.
23 E quanto a mim, longe de mim esteja o pecar contra o Senhor, deixando de orar por vós; eu vos ensinarei o caminho bom e direito.
24 Tão-somente temei ao Senhor, e servi-o fielmente de todo o vosso coração; pois vede quão grandiosas coisas vos fez.
25 Se, porém, perseverardes em fazer o mal, perecereis, assim vós como o vosso rei.” (I Sm 12.1-25)


I Samuel 13

O Paradoxal Saul – Agradável e Implacável

O capítulo precedente a este 13º de I Samuel, que estaremos comentando, revelou que Deus, como não podia deixar de ser, estava com a razão em repreender o povo e a Saul através das palavras de Samuel, porque Saul veio mui depressa a se desviar da presença do Senhor, já no segundo ano do seu reinado, como veremos neste capitulo.
Depois da grande vitória sobre os amonitas e da euforia da comemoração juntamente com todo o povo de Israel, Saul tomou a iniciativa de dispensar quase que todo o exército, pois ficou com apenas dois mil homens consigo em Micmás de Betel, e outros mil homens ele deixou com Jônatas, seu filho, em Gibeá, da tribo de Benjamim, sua cidade natal, onde havia uma guarnição de filisteus, que permanecia numa parte que haviam conquistado daquele território de Israel (v. 2).
Com esta medida precipitada, Saul deve ter gerado grande descontentamento nas tribos de Israel, pois aqueles que não foram escolhidos como soldados devem ter se ressentido certamente contra o rei, que escolhera a um tão pequeno número deles, sendo tantas as ameaças que tinham dos seus inimigos ao redor.
Isto trouxe a grande instabilidade que nós vemos neste capítulo, quando os filisteus vieram em grande número contra Israel, com trinta mil carros, seis mil cavaleiros e uma infantaria incontável, porque souberam que a guarnição que eles mantinham em Gibeá, havia sido destruída por Jônatas, filho de Saul.
Pelo que se pode inferir dos versos 4 a 10, foi ajustado para a batalha contra os filisteus, que Saul deveria convocar os israelitas a estarem com ele em Gilgal, a mesma localidade em que as tribos confederadas de Israel, sob o comando de Josué, acamparam para a conquista inicial de Canaã.
Saul deveria esperar que se passassem sete dias, ocasião em que Samuel viria a ter com ele em Gilgal e ofereceria sacrifícios e holocaustos ao Senhor, para que eles pudessem entrar em batalha contra os filisteus.
A fé de Saul estava sendo provada pelas circunstâncias adversas que lhe sucederam, sendo a principal delas, o abandono de muitos homens das fileiras do exército de Israel, tendo alguns até mesmo atravessado o Jordão para passarem para o lado das tribos de Gade e Manassés (Gileade).
Ele conseguiu esperar até o sétimo e último dia aprazado, e demonstrou não ter uma fé viva, que é perseverante, porque não aguardou que o dia terminasse, e se apressou em exercer a função de oferecer os sacrifícios e ofertas, que estavam designados para serem apresentados por Samuel.
Ele fez o papel do sacerdote, coisa que lhe era vedada naquela situação específica, pois havia uma determinação da parte de Deus quanto ao que se deveria fazer.
Os Sauls do povo de Deus fazem exatamente isto.
Eles são ativistas e se atrevem a fazer tudo o que é do ministério de outros cristãos, pois julgam que são indispensáveis e os melhores entre o povo de Deus.
Eles determinam o modo pelo qual a obra de Deus deve ser tocada, e não dão grande importância ao que Deus já tenha determinado previamente.
Eles simplesmente atropelam a tudo e a todos, para fazerem afinal, não a vontade de Deus, mas a sua própria vontade.
E o argumento que usam comumente é o de que a obra de Deus deve seguir, e julgam que há muita indolência em todos, e se eles não agirem, o próprio Deus não poderá se encarregar de arrumar as coisas.
Mas por mais paradoxal que possa parecer, muitas vezes estes Sauls são necessários, para que Deus possa levar a efeito o cumprimento dos Seus propósitos, pois pode usar a sua obstinação, para alguns fins úteis, como por exemplo o enfrentamento dos inimigos da Igreja.
Eles foram especialmente úteis nos dias do Velho Testamento, e temos um outro bom exemplo destes na pessoa de Jeú, que exerceu juízos contra a casa de Acabe.
O próprio Sansão, num certo sentido, guardadas as devidas proporções, foi um destes Sauls a que nos referimos.
Deus usa os diversos temperamentos e as condições pessoais para a construção do Seu reino.
No final da construção o que se espera é que os Sauls sejam removidos, pois são como andaimes usados para a construção do edifício espiritual, mas por fim não podem ser partes integrantes da consolidação da construção, em razão do seu caráter destrutivo.
O iracundo pode ser um útil instrumento para destruição e demolição, mas não para a construção das coisas que são estáveis e permanentes, e que são conformes o caráter do próprio Deus.
Saul está cheio de contradições.
Ele pode perdoar os que se opõem tenazmente ao seu reinado e poupá-los da morte, mas pode decidir pela morte do próprio filho, como veremos adiante.
Ele pode ser dócil ao mesmo tempo em que é implacável.
Não há nele a paz e a estabilidade dos que se sujeitam inteiramente ao governo de Deus, e por isso Ele foi escolhido pelo Senhor para ser o representante de um povo, que não queria estar debaixo do Seu governo divino.  
Eles experimentariam na prática, sob Saul, o que é estar fora do governo de Deus no coração.
Eles aprenderiam do modo mais duro, apesar de todas as conquistas que Deus concedesse a Israel através de Saul, sobre os seus inimigos, quão doloroso seria ter um regente que não os governasse segundo o que está no coração do Senhor, mas segundo a Sua própria vontade obstinada.
Ele viria a determinar até mesmo a morte de sacerdotes, por mera vingança odiosa na sua perseguição furiosa a Davi.
Saul era um homem dividido pela origem humilde que tivera, e a exaltação que lhe fora concedida pelo Senhor, ao chamá-lo para ser rei de Israel.
Ele misturaria algo da sua antiga humildade com o incontrolável orgulho que o levava a erigir colunas em sua própria homenagem, quando voltava vitorioso de suas campanhas militares (15.12).
Saul não era dado a se arrepender senão a se justificar, e por isso em vez de admitir o erro que cometera ao se apressar em oferecer os sacrifícios no lugar de Samuel, ele tenta se justificar, colocando a culpa no próprio Samuel que demorara, e no povo que lhe estava abandonando.
Ele sempre terá que achar um culpado, mas jamais admitirá a sua própria culpa.
O mesmo nós veremos quando ele não exterminou totalmente os amalequitas e as suas posses, tendo poupado ao seu rei e ao melhor do gado.
Mais uma vez, ele apresentou justificativas a Samuel, quando foi repreendido em não ter cumprido o mandado do Senhor.
Aqui ele não culpou ninguém, mas alegou que fizera aquilo para oferecer o que havia de melhor dos amalequitas em sacrifício a Deus. Ele agia por sua própria deliberação e não era dado a esperar no Senhor.
Não é de se admirar portanto que tivesse recebido da parte de Deus a sentença que vemos nos versos 13 e 14:
“13 Então disse Samuel a Saul: Procedeste nesciamente; não guardaste o mandamento que o Senhor teu Deus te ordenou. O Senhor teria confirmado o teu reino sobre Israel para sempre;
14 agora, porém, não subsistirá o teu reino; já tem o Senhor buscado para si um homem segundo o seu coração, e já o tem destinado para ser príncipe sobre o seu povo, porquanto não guardaste o que o Senhor te ordenou.”.
Saul continuaria a reinar mas já estava determinado que não seria um rei que pudesse contar com o favor direto de Deus, privando de comunhão com Ele, tal como ocorreria com o rei que o Senhor já havia buscado para si e que era um homem segundo o Seu coração.
O nome de Davi não foi citado, mas Ele já era conhecido do Senhor na ocasião, ainda que estivesse oculto ao próprio Samuel, a quem se referia aquela profecia, como veremos adiante, pois ele sabia qual era o escolhido do Senhor entre os filhos de Jessé.
Deus guardara segredo naquela ocasião para preservar a segurança do próprio Davi, que ainda era muito jovem, e passaria certamente a ser perseguido por Saul, por ciúme, muito antes do tempo previsto pelo Senhor.  
Saul se apegara ao reino de tal forma, que de maneira nenhuma admitiria que outro assumisse o seu cargo, ainda que pela vontade expressa do Senhor.
Ele tentaria eliminar mesmo aqueles a quem Deus tivesse escolhido, como efetivamente o fizera.
Nisto agiu tão diferentemente do próprio Samuel, que concedeu a ele honra no alto em Ramá, dando-lhe o melhor lugar e a melhor parte do banquete, por ter sabido que havia sido escolhido para reinar sobre Israel.
Samuel resignara ao seu próprio cargo de juiz para que Saul assumisse o comando geral da nação, pois era um homem inteiramente sujeito à vontade do Senhor.
Mas há muitos que pensam que a obra do Senhor, o rebanho do Senhor, é propriedade particular deles, e dominam sobre tudo e sobre todos, esquecidos que a obra e o rebanho não pertencem a eles mas ao Senhor.
“2 Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, não por força, mas espontaneamente segundo a vontade de Deus; nem por torpe ganância, mas de boa vontade;
3 nem como dominadores sobre os que vos foram confiados, mas servindo de exemplo ao rebanho.” (I Pe 5.2,3).
“não que tenhamos domínio sobre a vossa fé, mas somos cooperadores de vosso gozo; pois pela fé estais firmados.” (II Cor 1.24).
Deus havia determinado quando escolheu Saul para ser rei, que livraria os israelitas da opressão dos filisteus pelas mãos dele, e assim, a vitória que teriam sobre os filisteus, como veremos no capítulo seguinte, apesar do exército de Israel estar desorganizado e fraco na ocasião, até mesmo sem instrumentos de guerra, porque os filisteus haviam proibido que Israel fabricasse instrumentos de guerra, não seria em razão da fidelidade de Saul ou do agrado do Senhor em relação ao seu reinado, mas por simples misericórdia e fidelidade de Deus em cumprir a Sua Palavra.
Um juízo havia sido determinado sobre a desobediência de Saul, mas os israelitas não seriam afetados por este juízo, que havia sido estabelecido por Deus sobre ele, em razão da sua desobediência.




“1 Um ano reinara Saul em Israel. No segundo ano de seu reinado sobre seu povo,
2 escolheu para si três mil homens de Israel; dois mil estavam com Saul em Micmás e no monte de Betel, e mil estavam com Jônatas em Gibeá de Benjamim. Quanto ao resto do povo, mandou-o cada um para sua tenda.
3 Ora, Jônatas feriu a guarnição dos filisteus que estava em Gibeá, o que os filisteus ouviram; pelo que Saul tocou a trombeta por toda a terra, dizendo: Ouçam os hebreus.
4 Então todo o Israel ouviu dizer que Saul ferira a guarnição dos filisteus, e que Israel se fizera abominável aos filisteus. E o povo foi convocado após Saul em Gilgal.
5 E os filisteus se ajuntaram para pelejar contra Israel, com trinta mil carros, seis mil cavaleiros, e povo em multidão como a areia que está à beira do mar subiram e se acamparam em Micmás, ao oriente de Bete-Aven.
6 Vendo, pois, os homens de Israel que estavam em aperto (porque o povo se achava angustiado), esconderam-se nas cavernas, nos espinhais, nos penhascos, nos esconderijos subterrâneos e nas cisternas.
7 Ora, alguns dos hebreus passaram o Jordão para a terra de Gade e Gileade; mas Saul ficou ainda em Gilgal, e todo o povo o seguia tremendo.
8 Esperou, pois, sete dias, até o tempo que Samuel determinara; não vindo, porém, Samuel a Gilgal, o povo, deixando a Saul, se dispersava.
9 Então disse Saul: Trazei-me aqui um holocausto, e ofertas pacíficas. E ofereceu o holocausto.
10 Mal tinha ele acabado de oferecer o holocausto, eis que Samuel chegou; e Saul lhe saiu ao encontro, para o saudar.
11 Então perguntou Samuel: Que fizeste? Respondeu Saul: Porquanto via que o povo, deixando-me, se dispersava, e que tu não vinhas no tempo determinado, e que os filisteus já se tinham ajuntado em Micmás,
12 eu disse: Agora descerão os filisteus sobre mim a Gilgal, e ainda não aplaquei o Senhor. Assim me constrangi e ofereci o holocausto.
13 Então disse Samuel a Saul: Procedeste nesciamente; não guardaste o mandamento que o Senhor teu Deus te ordenou. O Senhor teria confirmado o teu reino sobre Israel para sempre;
14 agora, porém, não subsistirá o teu reino; já tem o Senhor buscado para si um homem segundo o seu coração, e já o tem destinado para ser príncipe sobre o seu povo, porquanto não guardaste o que o Senhor te ordenou.
15 Então Samuel se levantou, e subiu de Gilgal a Gibeá de Benjamim. Saul contou o povo que se achava com ele, cerca de seiscentos homens.
16 E Saul, seu filho Jônatas e o povo que se achava com eles, ficaram em Gibeá de Benjamim, mas os filisteus se tinham acampado em Micmás.
17 Nisso os saqueadores saíram do arraial dos filisteus em três companhias: uma das companhias tomou o caminho de Ofra para a terra de Sual,
18 outra tomou o caminho de Bete-Horom, e a outra tomou o caminho do termo que dá para o vale de Zebuim, na direção do deserto.
19 Ora, em toda a terra de Israel não se achava um só ferreiro; porque os filisteus tinham dito: Não façam os hebreus para si nem espada nem lança.
20 Pelo que todos os israelitas tinham que descer aos filisteus para afiar cada um a sua relha, a sua enxada, o seu machado e o seu sacho.
21 Tinham porém limas para os sachos, para as enxadas, para as forquilhas e para os machados, e para consertar as aguilhadas.
22 Assim, no dia da peleja, não se achou nem espada nem lança na mão de todo o povo que estava com Saul e com Jônatas; acharam-se, porém, com Saul e com Jônatas seu filho.
23 E saiu a guarnição dos filisteus para o desfiladeiro de Micmás.” (I Sm 13.1-23)


I Samuel 14

O Caráter Reprovado de Saul

Saul pusera a sua confiança nos homens e não em Deus, e continuou fazendo isto, pois nós vemos a citação no final deste 14º capítulo de I Samuel, que estaremos comentando, que afirma que todo homem poderoso e valente que Saul via, ele o agregava a si (v. 52).
Este é o incorrigível Saul, que tendo escolhido 3.000 homens para o acompanharem aonde quer que fosse, é achado no início da narrativa deste capitulo com apenas 600 homens.
Os outros fugiram de medo dos filisteus e o abandonaram. E o que ele poderia fazer com este punhado de homens desarmados contra o poderoso exército dos filisteus, sem a fé de um Gideão e os seus trezentos?
Mas independentemente das loucuras de Saul, Deus mais uma vez assistiu os israelitas e lhes abençoou com a vitória, porque quando Ele intervém em favor do Seu povo, não é por haverem muitos ou poucos ao Seu lado, que Ele dá a vitória, como aprendemos do exemplo de Gideão, e da ação do próprio Jônatas, que destruiu a guarnição de filisteus de Gibeá, dizendo as seguintes palavras, que revelam a grande fé que Ele tinha em Deus: “operará o Senhor por nós, porque para o Senhor nenhum impedimento há de livrar com muitos ou com poucos” (v. 6).
De igual modo na Igreja de Cristo as bênçãos determinadas por Deus continuam a ser derramadas pelo Espírito Santo ao seu povo, independentemente da insensatez de muitos dos seus líderes.
Caso os livramentos e bênçãos do Senhor dependessem da sabedoria e fidelidade plena dos que lideram a Igreja, de há muito ela já teria desaparecido da terra, e os cristãos teriam sido subjugados pelo reino das trevas, porque tanto os líderes, quanto o povo do Senhor, permanecem imerecedores dos Seus grandes livramentos, porque não se vê na maior parte dos cristãos o tanto da fidelidade que deveria haver neles.
Não que com isso o Senhor deixe de disciplinar, corrigir e sujeitar a juízos a muitos dentre os que andam desordenadamente na Sua presença, mas a história da Igreja tem testemunhado que a proteção da Igreja está debaixo inteiramente da Soberania e da misericórdia do Senhor e não a uma fidelidade completa do Seu povo, que como no dizer de Tiago, tropeça em muitas coisas.
Esta vitória dos israelitas sobre os filisteus, bem ilustra este ponto.
E eles só não tiveram uma vitória maior, por causa dos desatinos de Saul, que na sua precipitação colocou sob pena de anátema a todo aquele que comesse pão, antes dele subjugar inteiramente os seus inimigos.
Isto deu ocasião a que os guerreiros de Israel desfalecessem de fome e que o seu próprio filho Jônatas ficasse debaixo da maldição, que ele havia proferido, pois havia comido um pouco de mel, sem nada saber sobre a maldição que seu pai havia proferido.
Além disso, tal deliberação expôs o povo a comer carne com sangue, depois da batalha, em razão da grande extenuação em que se encontravam.
A medida que Saul tomou para impedir que continuassem comendo carne com o sangue, pode revelar aparentemente alguma forma de zelo dele pela Palavra de Deus, mas na verdade queria apenas se livrar de algum possível juízo da parte dEle, de maneira que não pudesse continuar prevalecendo contra os filisteus, conforme havia decidido fazer já a partir do cair da tarde daquele mesmo dia.  
Não havia um real temor da Palavra do Senhor nele, porque cometeu dentre os erros que já citamos, mais o que é declarado neste capítulo, de ter decidido trazer a arca da aliança de Quiriate-Jearim para o campo de batalha, e isto lhe traria a mesma ruína que sucedeu ao povo de Israel nos dias de Eli, por cometerem tal erro.
Alguns mais sábios e prudentes do que ele decidiram não lhe dar ouvido e a arca permaneceu no mesmo lugar.
Ele queria usar, como os israelitas do passado, a arca como um talismã, tal como os pagãos fazem com os seus deuses.
Além disso, convocou para o campo de batalha o neto de Fineias, sobrinho de Icabode, que trazia na ocasião a estola sacerdotal em Siló.
Ele não percebeu que a glória do Senhor havia se retirado de Siló, e pouco se importou em dar honra ao Senhor, insistindo com Ele na restauração do culto do tabernáculo.
Mas agora, na sua costumeira precipitação e obstinação, decidiu agir seguindo os seus impulsos, e assim mesmo tenta obter uma resposta de Deus, se deveria ou não, continuar em perseguição aos filisteus.
O resultado, como era de se esperar, é que Deus não lhe deu nenhuma resposta através do neto de Fineias.
É bem provável que Deus não falaria com ele nesta ocasião, nem mesmo através de Samuel, pois já lhe havia rejeitado, como vimos no capítulo anterior.
Ele atribuiu apressadamente o fato de Deus não falar com ele, ao pecado praticado por alguém.
Ele procurou mais uma vez uma justificativa para o seu insucesso com o Senhor, e estava procurando um culpado.
Para que ficasse ainda mais atestada a sua loucura e insensatez, foi permitido pelo Senhor que o lançamento de sortes recaísse sobre Jônatas, de modo que a questão do anátema precipitado que ele proferira viesse à tona e se revelasse qual seria o seu comportamento em relação ao próprio filho.
De um homem que tinha sido ungido por Deus para reinar em Seu nome deveria se esperar coisas melhores, assim como estas são esperadas de verdadeiros cristãos, que levam  sobre si o nome do Senhor (Hb 6.9).
O anátema não foi proferido em nome do Senhor e assim não tinha nenhuma obrigatoriedade de ser cumprido.
Saul poderia tê-lo revogado, e se arrependido de tê-lo proferido ao observar o grande dano que havia produzido em sua própria tropa.
Mas a sua vaidade não lhe permitiria isto, e então decidiu que o próprio filho deveria ser morto, e só não  foi por causa do povo que intercedeu em seu favor.
Para acobertar o seu erro, demonstrou uma falsa piedade e zelo pelo Senhor, ordenando ao povo que não comesse mais carne com sangue, mas que os animais tomados em despojo dos filisteus fossem oferecidos em sacrifício no altar que mandou construir, de modo que não viessem a pecar comendo carne com sangue.
Saul é assim. Ele tenta nos confundir e enganar, mostrando ao mesmo tempo um zelo aparente por Deus, enquanto está lutando a todo custo pela sua própria honra pessoal, e para a preservação e engrandecimento do seu próprio nome e reputação.
Desta forma, não é para a honra dele, mas para exibir a grande misericórdia do Senhor, que estão registradas as palavras que nós lemos sobre as suas conquistas nos versos 47 e 48:
“47 Tendo Saul tomado o reino sobre Israel, pelejou contra todos os seus inimigos em redor: contra Moabe, contra os filhos de Amom, contra Edom, contra os reis de Zobá e contra os filisteus; e, para onde quer que se voltava, saía vitorioso.
48 Houve-se valorosamente, derrotando os amalequitas, e libertando Israel da mão dos que o saqueavam.”.
 Uma tal citação não foi interpretada pelo autor de Hebreus como o resultado da fé e obediência de Saul, mas como pura misericórdia de Deus que havia determinado estender os termos de Israel já a partir dos seus dias para entregar o reino a Davi, que era um homem segundo o seu coração. Não é portanto de se admirar que apesar de a narrativa bíblica ser bastante longa em relação a Saul, que o seu nome não conste na galeria dos heróis da fé de Hebreus 11.
Na verdade, o seu nome não é citado em todo o Novo Testamento, senão em At 13.21, em profundo contraste com o de Davi, pois o que certamente a revelação divina queria destacar é este profundo contraste que há entre um ministro que é segundo o coração de Deus e aquele que não o é.




“1 Sucedeu, pois, um dia, que Jônatas, filho de Saul, disse ao seu escudeiro: Vem, passemos à guarnição dos filisteus, que está do outro lado. Mas não o fez saber a seu pai.
2 Ora Saul estava na extremidade de Gibeá, debaixo da romeira que havia em Migrom; e o povo que estava com ele era cerca de seiscentos homens;
3 e Aíja, filho de Aitube, irmão de Icabô, filho de Fineias, filho de Eli, sacerdote do Senhor em Siló, trazia a estola sacerdotal. E o povo não sabia que Jônatas tinha ido.
4 Ora, entre os desfiladeiros pelos quais Jônatas procurava chegar à guarnição dos filisteus, havia um penhasco de um e de outro lado; o nome de um era Bozez, e o nome do outro Sené.
5 Um deles estava para o norte defronte de Micmás, e o outro para o sul defronte de Gibeá.
6 Disse, pois, Jônatas ao seu escudeiro: Vem, passemos à guarnição destes incircuncisos; porventura operará o Senhor por nós, porque para o Senhor nenhum impedimento há de livrar com muitos ou com poucos.
7 Ao que o seu escudeiro lhe respondeu: Faze tudo o que te aprouver; segue, eis-me aqui, a tua disposição será a minha.
8 Disse Jônatas: Eis que passaremos àqueles homens, e nos descobriremos a eles.
9 Se nos disserem: Parai até que cheguemos a vós; então ficaremos no nosso lugar, e não subiremos a eles.
10 Se, porém, disserem: Subi a nós; então subiremos, pois o Senhor os entregou em nossas mãos; isso nos será por sinal.
11 Então ambos se descobriram à guarnição dos filisteus, e os filisteus disseram: Eis que já os hebreus estão saindo das cavernas em que se tinham escondido.
12 E os homens da guarnição disseram a Jônatas e ao seu escudeiro: Subi a nós, e vos ensinaremos uma coisa. Disse, pois, Jônatas ao seu escudeiro: Sobe atrás de mim, porque o Senhor os entregou na mão de Israel.
13 Então trepou Jônatas de gatinhas, e o seu escudeiro atrás dele; e os filisteus caíam diante de Jônatas, e o seu escudeiro os matava atrás dele.
14 Esta primeira derrota, em que Jônatas e o seu escudeiro mataram uns vinte homens, deu-se dentro de meia jeira de terra.
15 Pelo que houve tremor no arraial, no campo e em todo o povo; também a própria guarnição e os saqueadores tremeram; e até a terra estremeceu; de modo que houve grande pânico.
16 Olharam, pois, as sentinelas de Saul a Gibeá de Benjamim, e eis que a multidão se derretia, fugindo para cá e para lá.
17 Disse então Saul ao povo que estava com ele: Ora, contai e vede quem é que saiu dentre nós: E contaram, e eis que nem Jônatas nem o seu escudeiro estava ali.
18 Então Saul disse a Aíja: Traze aqui a arca de Deus. Pois naquele dia estava a arca de Deus com os filhos de Israel.
19 E sucedeu que, estando Saul ainda falando com o sacerdote, o alvoroço que havia no arraial dos filisteus ia crescendo muito; pelo que disse Saul ao sacerdote: Retira a tua mão.
20 Então Saul e todo o povo que estava com ele se reuniram e foram à peleja; e eis que dentre os filisteus a espada de um era contra o outro, e houve mui grande derrota.
21 Os hebreus que estavam dantes com os filisteus, e tinham subido com eles ao arraial, também se ajuntaram aos israelitas que estavam com Saul e Jônatas.
22 E todos os homens de Israel que se haviam escondido na região montanhosa de Efraim, ouvindo que os filisteus fugiam, também os perseguiram de perto na peleja.
23 Assim o Senhor livrou a Israel naquele dia, e a batalha passou além de Bete-Aven.
24 Ora, os homens de Israel estavam já exaustos naquele dia, porquanto Saul conjurara o povo, dizendo: Maldito o homem que comer pão antes da tarde, antes que eu me vingue de meus inimigos. Pelo que todo o povo se absteve de comer.
25 Mas todo o povo chegou a um bosque, onde havia mel à flor da terra.
26 Chegando, pois, o povo ao bosque, viu correr o mel; todavia ninguém chegou a mão à boca, porque o povo temia a conjuração.
27 Jônatas, porém, não tinha ouvido quando seu pai conjurara o povo; pelo que estendeu a ponta da vara que tinha na mão, e a molhou no favo de mel; e, ao chegar a mão à boca, aclararam-se-lhe os olhos.
28 Então disse um do povo: Teu pai solenemente conjurou o povo, dizendo: Maldito o homem que comer pão hoje. E o povo ainda desfalecia.
29 Pelo que disse Jônatas: Meu pai tem turbado a terra; ora vede como se me aclararam os olhos por ter provado um pouco deste mel.
30 Quanto maior não teria sido a derrota dos filisteus se o povo hoje tivesse comido livremente do despojo, que achou de seus inimigos?
31 Feriram, contudo, naquele dia aos filisteus, desde Micmás até Aijalom. E o povo desfaleceu em extremo;
32 então o povo se lançou ao despojo, e tomou ovelhas, bois e bezerros e, degolando-os no chão, comeu-os com o sangue.
33 E o anunciaram a Saul, dizendo: Eis que o povo está pecando contra o Senhor, comendo carne com o sangue. Respondeu Saul: Procedestes deslealmente. Trazei-me aqui já uma grande pedra.
34 Disse mais Saul: Dispersai-vos entre e povo, e dizei-lhes: Trazei-me aqui cada um o seu boi, e cada um a sua ovelha e degolai-os aqui, e comei; e não pequeis contra e Senhor, comendo com sangue. Então todo o povo trouxe de noite, cada um o seu boi, e os degolaram ali.
35 Então edificou Saul um altar ao Senhor; este foi o primeiro altar que ele edificou ao Senhor.
36 Depois disse Saul: Desçamos de noite atrás dos filisteus, e despojemo-los, até o amanhecer, e não deixemos deles um só homem. E o povo disse: Faze tudo o que parecer bem aos teus olhos. Disse, porém, o sacerdote: Cheguemo-nos aqui a Deus.
37 Então consultou Saul a Deus, dizendo: Descerei atrás dos filisteus? entregá-los-ás na mão de Israel? Deus, porém, não lhe respondeu naquele dia.
38 Disse, pois, Saul: Chegai-vos para cá, todos os chefes do povo; informai-vos, e vede em quem se cometeu hoje este pecado;
39 porque, como vive o Senhor que salva a Israel, ainda que seja em meu filho Jônatas, ele será morto. Mas de todo o povo ninguém lhe respondeu.
40 Disse mais a todo o Israel: Vós estareis dum lado, e eu e meu filho Jônatas estaremos do outro. Então disse o povo a Saul: Faze o que parecer bem aos teus olhos.
41 Falou, pois, Saul ao Senhor Deus de Israel: Mostra o que é justo. E Jônatas e Saul foram tomados por sorte, e o povo saiu livre.
42 Então disse Saul: Lançai a sorte entre mim e Jônatas, meu filho. E foi tomado Jônatas.
43 Disse então Saul a Jônatas: Declara-me o que fizeste. E Jônatas lho declarou, dizendo: Provei, na verdade, um pouco de mel com a ponta da vara que tinha na mão; eis-me pronto a morrer.
44 Ao que disse Saul: Assim me faça Deus, e outro tanto, se tu, certamente, não morreres, Jônatas.
45 Mas o povo disse a Saul: Morrerá, porventura, Jônatas, que operou esta grande salvação em Israel? Tal não suceda! como vive o Senhor, não lhe há de cair no chão um só cabelo da sua cabeça! pois com Deus fez isso hoje. Assim o povo livrou Jônatas, para que não morresse.
46 Então Saul deixou de perseguir os filisteus, e estes foram para o seu lugar.
47 Tendo Saul tomado o reino sobre Israel, pelejou contra todos os seus inimigos em redor: contra Moabe, contra os filhos de Amom, contra Edom, contra os reis de Zobá e contra os filisteus; e, para onde quer que se voltava, saía vitorioso.
48 Houve-se valorosamente, derrotando os amalequitas, e libertando Israel da mão dos que o saqueavam.
49 Ora, os filhos de Saul eram Jônatas, Isvi e Malquisua; os nomes de suas duas filhas eram estes: o da mais velha Merabe, e o da mais nova Mical.
50 O nome da mulher de Saul era Ainoã, filha de Aimaaz; e o nome do chefe do seu exército, Abner, filho de Ner, tio de Saul.
51 Quis, pai de Saul, e Ner, pai de Abner, eram filhos de Abiel.


52 E houve forte guerra contra os filisteus, por todos os dias de Saul; e sempre que Saul via algum homem poderoso e valente, o agregava a si.” (I Sm 14.1-52)


I Samuel 15

É Melhor Obedecer do Que Sacrificar

Este 15º capítulo de I Samuel, que estaremos comentando, inicia com uma ordem de Deus dada a Saul, através do profeta Samuel para que destruísse totalmente os amalequitas.
Com isto Ele tinha em vista cumprir o que  havia determinado cerca de quatrocentos anos antes, ainda nos dias de Moisés (Êx 17.14).
Então esta era uma ordem muito especial com a qual Saul deveria ter o maior cuidado, porque Deus vela sobre a Sua Palavra, para a cumprir, e ela não pode falhar de modo algum.
Saul mandou avisar aos queneus (Jz 116; 4.11, 17; 5.24), que eram descendentes de Jetro, sogro de Moisés, que saíssem do meio dos amalequitas, para não serem destruídos juntamente com eles (v. 6).
Não sabemos entretanto, se ele fez isto por sua exclusiva iniciativa ou a pedido de Samuel.    
O que é narrado neste capitulo ensina uma das mais preciosas lições da Bíblia, porque apesar de todo o empenho de Saul, na guerra, contra os amalequitas, trouxe sobre si um grande e final juízo de Deus, relativo ao seu ministério como rei.
Ou este homem não conhecia ao Senhor ou era um rebelde contumaz à Sua vontade.
Ainda que alertado quanto a tudo o que deveria fazer, sempre fazia uma adaptação das ordens de Deus, e agia a seu próprio modo, fazendo parcialmente o que lhe era ordenado.
Não são poucos os ministros do evangelho, que na Igreja de Cristo, agem contra o que Ele tem ordenado relativamente ao modo como Deus deve ser reverenciado e adorado, cumprindo apenas parte de tudo o que Cristo tem ordenado, que deve ser ensinado a ser guardado pelos seus discípulos (Mt 28.20), e ousada e insensatamente fazem adaptações carnais, especialmente no culto de adoração pública, onde o homem é também exaltado e não apenas o Deus Altíssimo.
Eles misturam o que é da vontade do homem com aquilo que é a vontade de Deus, e como Saul são reprovados em seus ministérios, porque o Senhor os deixa sem direção, sem palavra, sem revelação, e isto os estimula a prosseguirem com aquilo que é introduzido no culto, como fruto da sua vã imaginação.
O povo que não participa da insensatez de tais ministros e que clama ao Senhor para que coloque em ordem as coisas em Sua casa, é livrado do juízo que Deus tem determinado sobre estes ministros, e as pessoas do seu povo continuam a serem visitadas e abençoadas por Deus, apesar dos ministros que têm que suportar, até que alguém que seja segundo o coração de Deus venha apascentá-las com sabedoria e com inteligência (Jer 3 .15).      
Davi estava a caminho, e enquanto isto Saul teria que arcar sozinho com as consequências de suas rebeliões contra a vontade do Senhor.
Se num certo sentido, ministros fiéis são canais de bênçãos para o povo de Deus, no entanto, Ele não é injusto para castigar o seu povo, por causa da maldade e negligência daqueles que o dirigem.
Afinal é um princípio ensinado pela Palavra, que cada um dará contas de si mesmo a Deus.
Entretanto, como a Igreja é um único corpo, formado por muitos membros, o Senhor pode, em Sua soberania, trazer juízos sobre os que andam e os que não andam em erro, em determinada Igreja, com vistas ao conserto de todos os que andam de modo errado perante Ele, de forma que todos sejam convencidos da sua responsabilidade mútua, de uns para com os outros.
Ainda que ninguém venha a responder no Tribunal de Cristo pelos erros cometidos por outros, Deus pode, como a Palavra ensina (caso de Acã etc) ferir até mesmo inocentes, de modo que todos temam o modo pelo qual devem andar em Sua presença, e que a Igreja discipline e exorte os que andam de modo errado, e ore em favor deles, para que se arrependam, de modo que o corpo não padeça, porque por princípio, quando um membro do corpo padece, todos sofrem com ele.
No entanto, a determinação destas coisas, destes juízos referidos, permanece exclusivamente debaixo da exclusiva autoridade e soberania do Senhor, e não cabe a nós julgar quando, onde e  quem deve ser submetido aos Seus juízos, porque não podemos esquecer que Ele é perdoador e misericordioso além de ser justo Juiz.
O que se aprende de tudo isto é que os membros da Igreja farão muito bem em se exortarem mutuamente para que vivam em santidade e para que andem com santo temor e reverência diante do Senhor, como Paulo o fazia, temendo e tremendo da Palavra de Deus, relativamente à obrigação que nos é imposta por estarmos aliançados com Ele, a cumpri-la cabalmente, não sendo apenas meros ouvintes ou defensores da Palavra, mas verdadeiros praticantes.
Saul pensou que seria digno de ser honrado por Deus, porque desceu aos amalequitas com um exército de 210.000 homens (v. 4).
E mais uma vez ele foi traído pela sua vaidade.
Assim como o orgulho espiritual tem destruído muitos ministérios.
Pois no afã de trazer honra para si poupou ao rei dos amalequitas provavelmente para exibi-lo em Israel como um troféu do seu triunfo.
A vaidade do coração obscureceu o seu entendimento, pois não viu que com isso estava desobedecendo ao mandado de Deus.
E para confirmar que de fato estava pensando em honra pessoal, erigiu uma coluna no Monte Carmelo, para celebrar a sua vitória (v. 12).
Só que, na noite anterior, Deus tinha revelado a Samuel que havia se arrependido de haver posto a Saul como rei, pois ele havia deixado de segui-lo, e não cumpriu as Suas palavras (v.11).
Apesar de Samuel ter se entristecido com esta sentença, e ter clamado a Deus por toda a noite, ele haveria de constatar com os seus próprios olhos o porque das palavras que Deus havia proferido contra Saul.
A palavra hebraica usada para arrependimento, shab, tem o mesmo sentido da palavra grega no NT, metanóia, que significa mudança de mente, tomada de uma nova posição, alteração daquilo que havia sido determinado anteriormente, retornar, voltar atrás.
De modo que, o que está em foco não é nenhuma admissão de Deus de que Ele teria errado ao escolher Saul, mas que em tendo dito que ele seria rei sobre Israel, isto seria mudado, e já não seria rei, porque tomaria providências para que fosse removido da posição que lhe havia dado, para colocar um outro em seu lugar.
Do que se lê no verso 22, que “o obedecer é melhor do que o sacrificar” se tornou um dito comum entre o povo de Deus, mas muitas vezes esta citação tem sido tomada de modo impróprio, para justificar que Deus não requer nenhum esforço e sacrifício da nossa parte para servi-lo, senão que se obedeça apenas à Sua voz, quando falar conosco.
Entretanto, esta não é uma interpretação exata das palavras dirigidas por Samuel a Saul, que devem ser interpretadas em seu próprio contexto.
Saul estava justificando a sua “obediência” à ordem de Deus, dizendo que os animais que  havia poupado de Amaleque eram para serem oferecidos como sacrifício ao Senhor, como expressão da gratidão da vitória, que havia dado aos israelitas sobre os amalequitas.
Todavia, nós vimos antes, e como o confirmarão os versículos seguintes a estes, que Saul não estava de fato preocupado com a honra do Senhor, senão com a sua própria honra.
Ainda que fosse sincero o seu desejo de honrar a Deus, com a apresentação daqueles animais em sacrifício, não poderia tê-lo feito contrariando uma ordem expressa do Senhor, que lhe havia sido expedida, de que tudo o que tivesse vida em Amaleque deveria ser destruído, em seu próprio território, pois haviam sido considerados anátema por Deus.
Como poderia apresentar sacrifício daquilo que foi amaldiçoado?
Outra questão que se levanta é a relativa ao oferecimento propriamente dito, que não consistiria num ato de devoção e adoração real de Saul, senão de uma mera ostentação pública do seu poder militar.
Seria um culto formal e falso, e portanto condenável.
O que ele deveria ter feito era obedecer o mandado de Deus, e não tomar a iniciativa de oferecer sacrifício daquilo que era a prova da sua desobediência.    
Podemos aprender de Saul que nenhuma intenção boa justificará uma ação ruim.
Quando Samuel disse a Saul as palavras do verso 23, ele alegou estar arrependido, e disse que havia pecado, mas aquele arrependimento foi um arrependimento de palavras, superficial, pois no que tange aos pecadores, um verdadeiro arrependimento é acompanhado por uma mudança de direção, por um mudança em nossas atitudes e atos, mas não foi isto o que ocorreu com Saul, como a Bíblia testifica contra ele em tudo o que se escreveria ainda a seu respeito.
Atitudes do tipo eu pequei, confesso, vamos então esquecer tudo, me perdoe, e coisas como estas, sem que sejam acompanhadas por uma verdadeira mudança de comportamento, não podem ser aceitas por Deus em Sua santidade e justiça, como um verdadeiro arrependimento, senão como uma tentativa pecaminosa de escapar dos Seus juízos.
Assim, acrescenta-se um novo pecado a pecados cometidos dos quais deveríamos nos arrepender verdadeiramente.
Quem está entristecido pelo pecado que cometeu, terá obrigatoriamente um coração contrito, um espírito abatido e não exaltado.
E o que nós vemos em Saul logo depois de ter dito a Samuel que havia pecado e transgredido a ordem do Senhor? (v. 24).
No mesmo versículo, ele põe a culpa no povo, dizendo que havia temido o povo e dado ouvido à sua voz.
Ainda que isso fosse verdade, quem se arrepende nunca transfere a sua culpa para outros.
Tal foi o caso de Adão no Éden, que quando confrontado por Deus, pôs a culpa em Eva. E Eva na serpente.
Esta não admissão da própria culpa não pode conduzir a um verdadeiro arrependimento.
Além disso, quem se arrepende, como dissemos antes, humilha-se diante de Deus, e não procura encobrir as coisas, procurando dissimular publicamente que continua em honra e exaltação diante do Senhor, tal como Saul fizera pedindo insistentemente a Samuel que o honrasse voltando juntamente com ele para adorar ao Senhor (v. 25).
Samuel lhe deu como resposta inicialmente o que lemos no verso 26. “Samuel porém disse a Saul: Não voltarei contigo; porquanto rejeitaste a palavra do Senhor, e o Senhor te rejeitou a ti, para que não sejas rei sobre Israel:”.
Quando Samuel ia se retirando, Saul lhe pegou pela orla da capa e esta se rasgou (v. 27), e em razão disso Samuel lhe disse as seguintes palavras: “O Senhor rasgou de ti hoje o reino de Israel, e o deu a um teu próximo, que é melhor do que tu. Também aquele que é a Força de Israel não mente nem se arrepende, porquanto não é homem para que se arrependa.” (v 28, 29).
O que Deus havia determinado Ele faria, porque nunca volta atrás naquilo que Ele decide de um modo definitivo, como nesta questão de tirar o reino de Saul para dá-lo a um outro.
E é nestes decretos imutáveis de Deus que repousa a segurança da salvação dos cristãos, porque Ele determinou salvá-los com uma justificação eterna, que Ele jamais invalidará (Is 51.6 ; Dn 9.24).
Tendo pena de Saul, diante da insistência de que Samuel o honrasse perante o povo subindo com ele à adoração em Gilgal, o profeta assentiu ao seu pedido, e em vez de se dirigir diretamente à sua residência em Ramá, voltou  com Saul a Gilgal, onde se diz que Saul adorou ao Senhor (v. 31).
Isto deve ter feito com que Agague, rei dos amalequitas, que ali se encontrava aprisionado, pensasse que o gesto de Saul havia sido finalmente aceito por Deus, e assim ele seria poupado da sentença de morte que pesou sobre ele e o seu povo (v. 32).
Entretanto Samuel o convocou à sua presença e deu cumprimento cabal à Palavra de Deus, fazendo aquilo que Saul deveria ter feito, pois despedaçou Agague perante o Senhor (v. 33).
Dali cada um retornou para a sua própria residência. Samuel a Ramá e Saul a Gibeá (v. 34).
Samuel não mais veria a Saul até o dia da sua morte, mas ele, humanamente, teve pena de Saul. E para não se pensar que a adoração de Saul havia mudado o parecer de Deus em relação a ele, o último verso deste capítulo registra mais uma vez que o Senhor se arrependeu de haver posto a Saul rei sobre Israel (v. 35).
Nós ficamos a imaginar um Deus santo, amoroso e verdadeiro, por contingência da entrada do pecado no mundo,  tendo que tratar com a impiedade das nações, e mesmo com os resquícios do pecado, que permanecem em Seu próprio povo.
Quanto devia pesar no Seu coração amoroso e justo as deliberações que tinha que tomar contra as nações pagãs, contra os próprios israelitas, contra um Saul.
Quão poucos são os Samuéis, e quão raros eles vão se tornando no mundo à medida que o tempo avança.
Não devemos portanto pensar que temos que servir a um Deus irado, implacável, inflexível cujo desagrado não se possa aplacar.
Muito ao contrário, Ele revelou toda a Sua bondade, graça, misericórdia, amor, longanimidade ao ter dado o Seu próprio Filho para morrer por nós na cruz, exatamente para o propósito da satisfação da Sua perfeita justiça e santidade, que de outro modo jamais poderiam ser satisfeitas.
Quão sofredor é o coração do próprio Deus em razão do pecado que há no mundo.
Como poderíamos estar contentes com o fato de sabermos quantas dores podemos trazer ao Seu coração amoroso por causa das nossas transgressões e pecados?
Que possamos nos empenhar em todo o tempo atendendo à exortação que nos dirige o autor de Hebreus: “Vede, irmãos, que nunca se ache em qualquer de vós um perverso coração de incredulidade, que vos aparte do Deus vivo;” (Hb 3.12).
Que não creiamos pois somente em tudo o que a boca do Senhor tem dito, mas que nos empenhemos de fato com toda a força do nosso ser em colocá-lo em prática, com vistas a alegrarmos o Seu coração e para que o Seu santo nome seja santificado, glorificado e honrado.
De modo que Ele nunca venha a se apartar de nós, pela quebra da comunhão conosco, em razão de entristecermos o Seu Espírito com os nossos pecados, e pelas dores que trazemos ao Seu coração paterno, em ter que corrigir aos filhos que Ele tanto ama.
Alguém poderá contudo, tenta objetar e impugnar o amor de Deus, pelo fato de ter ordenado o extermínio dos amalequitas.
Todavia, não se deve esquecer que Deus é presciente e onisciente, e já há quatrocentos anos atrás, antes de ter dado a ordem de execução a Saul, já havia sentenciado tal extermínio nos dias de Moisés, porque, costumeiramente, desde que os israelitas haviam saído do Egito, que Amaleque visava ao seu extermínio, atacando Israel covardemente, em várias ocasiões.
Este desejo maligno deles, de extermínio, se revelou de forma muito aguda em Hamã, nos dias da rainha Ester, que foi um dos descendentes daqueles que haviam sido poupados por Saul.
A longanimidade de Deus aguardou por 400 anos, e eles não mudaram a sua conduta e intenção, de maneira que o desejo de extermínio de Israel, se voltaria contra eles próprios, por uma decisão final do Senhor.    




“1 Disse Samuel a Saul: Enviou-me o Senhor a ungir-te rei sobre o seu povo, sobre Israel; ouve, pois, agora as palavras do Senhor.
2 Assim diz o Senhor dos exércitos: Castigarei a Amaleque por aquilo que fez a Israel quando se lhe opôs no caminho, ao subir ele do Egito.
3 Vai, pois, agora e fere a Amaleque, e o destrói totalmente com tudo o que tiver; não o poupes, porém matarás homens e mulheres, meninos e crianças de peito, bois e ovelhas, camelos e jumentos.
4 Então Saul convocou o povo, e os contou em Telaim, duzentos mil homens de infantaria, e mais dez mil dos de Judá.
5 Chegando, pois, Saul à cidade de Amaleque, pôs uma emboscada no vale.
6 E disse Saul aos queneus: Ide, retirai-vos, saí do meio dos amalequitas, para que eu não vos destrua juntamente com eles; porque vós usastes de misericórdia com todos os filhos de Israel, quando subiram do Egito. Retiraram-se, pois, os queneus do meio dos amalequitas.
7 Depois Saul feriu os amalequitas desde Havilá até chegar a Sur, que está defronte do Egito.
8 E tomou vivo a Agague, rei dos amalequitas, porém a todo o povo destruiu ao fio da espada.
9 Mas Saul e o povo pouparam a Agague, como também ao melhor das ovelhas, dos bois, e dos animais engordados, e aos cordeiros, e a tudo o que era bom, e não os quiseram destruir totalmente; porém a tudo o que era vil e desprezível destruíram totalmente.
10 Então veio a palavra do Senhor a Samuel, dizendo:
11 Arrependo-me de haver posto a Saul como rei; porquanto deixou de me seguir, e não cumpriu as minhas palavras. Então Samuel se contristou, e clamou ao Senhor a noite toda.
12 E Samuel madrugou para encontrar-se com Saul pela manhã; e foi dito a Samuel: Já chegou Saul ao Carmelo, e eis que levantou para si uma coluna e, voltando, passou e desceu a Gilgal.
13 Veio, pois, Samuel ter com Saul, e Saul lhe disse: Bendito sejas do Senhor; já cumpri a palavra do Senhor.
14 Então perguntou Samuel: Que quer dizer, pois, este balido de ovelhas que chega aos meus ouvidos, e o mugido de bois que ouço?
15 Ao que respondeu Saul: De Amaleque os trouxeram, porque o povo guardou o melhor das ovelhas e dos bois, para os oferecer ao Senhor teu Deus; o resto, porém, destruímo-lo totalmente.
16 Então disse Samuel a Saul: Espera, e te declararei o que o Senhor me disse esta noite. Respondeu-lhe Saul: Fala.
17 Prosseguiu, pois, Samuel: Embora pequeno aos teus próprios olhos, porventura não foste feito o cabeça das tribos de Israel? O Senhor te ungiu rei sobre Israel;
18 e bem assim te enviou o Senhor a este caminho, e disse: Vai, e destrói totalmente a estes pecadores, os amalequitas, e peleja contra eles, até que sejam aniquilados.
19 Por que, pois, não deste ouvidos à voz do Senhor, antes te lançaste ao despojo, e fizeste o que era mau aos olhos do Senhor?
20 Então respondeu Saul a Samuel: Pelo contrário, dei ouvidos à voz do Senhor, e caminhei no caminho pelo qual o Senhor me enviou, e trouxe a Agague, rei de Amaleque, e aos amalequitas destruí totalmente;
21 mas o povo tomou do despojo ovelhas e bois, o melhor do anátema, para o sacrificar ao Senhor teu Deus em Gilgal.
22 Samuel, porém, disse: Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à voz do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, do que a gordura de carneiros
23 Porque a rebelião é como o pecado de adivinhação, e a obstinação é como a iniquidade de idolatria. Porquanto rejeitaste a palavra do Senhor, ele também te rejeitou, a ti, para que não sejas rei.
24 Então disse Saul a Samuel: Pequei, porquanto transgredi a ordem do Senhor e as tuas palavras; porque temi ao povo, e dei ouvidos a sua voz.
25 Agora, pois, perdoa o meu pecado, e volta comigo, para que eu adore ao Senhor.
26 Samuel porém disse a Saul: Não voltarei contigo; porquanto rejeitaste a palavra do Senhor, e o Senhor te rejeitou a ti, para que não sejas rei sobre Israel:
27 E, virando-se Samuel para se ir, Saul pegou-lhe pela orla da capa, a qual se rasgou.
28 Então Samuel lhe disse: O Senhor rasgou de ti hoje o reino de Israel, e o deu a um teu próximo, que é melhor do que tu.
29 Também aquele que é a Força de Israel não mente nem se arrepende, porquanto não é homem para que se arrependa.
30 Ao que disse Saul: Pequei; honra-me, porém, agora diante dos anciãos do meu povo, e diante de Israel, e volta comigo, para que eu adore ao Senhor teu Deus.
31 Então, voltando Samuel, seguiu a Saul, e Saul adorou ao Senhor.
32 Então disse Samuel: Trazei-me aqui a Agague, rei dos amalequitas. E Agague veio a ele animosamente; e disse: Certamente já passou a amargura da morte.
33 Disse, porém, Samuel: Assim como a tua espada desfilhou a mulheres, assim ficará desfilhada tua mãe entre as mulheres. E Samuel despedaçou a Agague perante o Senhor em Gilgal.
34 Então Samuel se foi a Ramá; e Saul subiu a sua casa, a Gibeá de Saul.
35 Ora, Samuel nunca mais viu a Saul até o dia da sua morte, mas Samuel teve dó de Saul. E o Senhor se arrependeu de haver posto a Saul rei sobre Israel.” (I Sm 15.1-35)


I Samuel 16

Samuel é Enviado Para Ungir Davi

Havia uma joia preciosa de Deus escondida na casa de Jessé, o belemita, e este era descendente de pessoas de fé como Naassom, Salmom, Boaz, Raabe (a ex-prostituta de Jericó), e Rute, a moabita.
A graça não corre no sangue. Não é hereditária. Mas uma família piedosa pode influenciar em muito no caráter dos seus descendentes.
Tal era o caso de Davi. Mas ele estava oculto aos olhos de Samuel porque o Senhor não lho revelara até então como sendo aquele que havia escolhido para ficar no lugar de Saul.
Samuel lamentava e ainda estava compadecido de Saul.
Ele lamentava a perda de alguém que possivelmente, por tudo o que chegou ao nosso conhecimento, através do relato das Escrituras, talvez não fosse um autêntico eleito, alguém que tivesse  sido transformado pela operação da graça em seu coração.
Alguém que o Senhor havia rejeitado e que daria provas da sua rejeição pela retirada da influência do Espírito Santo sobre ele, e por tê-lo entregue a um espírito maligno, para destruição da carne, como sinal do Seu juízo sobre alguém que apesar de ter sido ungido por Ele, para ser rei sobre o Seu povo, não Lhe deu por devolvida a devida honra.
Nós não podemos estabelecer um juízo final sobre a salvação de Saul, porque isto permanece debaixo da exclusiva autoridade do Senhor, e nem mesmo afirmar que o fato de ter sido entregue a Satanás para a destruição da carne, comprova definitivamente que não era um verdadeiro crente, pois o que ocorreu com ele quanto a ter apagado o Espírito e ter sido entregue a Satanás, para destruição da carne, foi o mesmo que sucedeu ao cristão incestuoso de Corinto, do qual se diz que o seu espírito seria salvo no dia do Senhor.
O nome de Sansão consta da galeria dos heróis da fé de Hebreus 11, a par de todas as transgressões que ele cometeu, particularmente no final de sua vida.
As operações renovadoras do Espírito Santo na alma, por meio da graça divina, não podem ser removidas, porque permanecem unidas, ligadas à alma que é regenerada, pelas Suas operações santificadoras.
Deste modo, nós não podemos excluir a possibilidade da retirada das operações extraordinárias do Espírito, que atuavam em Saul, como sendo apenas a retirada dos dons sobrenaturais que ele recebera do Espírito, até o dia em que o Espírito o abandonou e um espírito imundo passou a atormentá-lo.
Se temos dúvidas em relação à salvação de Saul, já em relação a Davi temos plena certeza, pelo testemunho de sua vida, que trazia muitas das evidências que caracterizam um autêntico filho de Deus.
No verso 13 se diz que depois que foi ungido por Samuel com o chifre de azeite, o Espírito do Senhor se apoderou dele daquele dia em diante, e isto se deu com certeza até o dia da sua morte, e mesmo depois dela, porque o selo do Espírito é eterno nos verdadeiros cristãos, que são edificados juntamente em casa espiritual para habitação de Deus no Espírito (Ef 2.22).
A vida de Davi e de todos os santos da Bíblia, nos ensinam esta verdade.
Nós não podemos julgar sobre a salvação de ninguém em quem não sejam perceptíveis as evidências da salvação, mas podemos afirmá-la com segurança em relação a todos aqueles em quem são percebidas tais evidências.
Se assim não fora, Paulo jamais poderia ter afirmado o que lemos nos seguintes textos, dentre outros:
“Saudai a Rufo, eleito no Senhor, e a sua mãe e minha.” (Rm 6.13).
“E peço também a ti, meu verdadeiro companheiro, que as ajudes, porque trabalharam comigo no evangelho, e com Clemente, e com os outros meus cooperadores, cujos nomes estão no livro da vida.” (Fp 4.3).
É bem provável que Samuel tenha se consolado das suas inquietações quanto ao futuro de Israel, quando o Senhor o conduziu até Davi para que ele ungisse como futuro rei aquele a quem Ele havia escolhido. Pois se diz que quando Samuel foi ter com ele, Davi era ruivo, de belos olhos e de gentil aspecto (v. 12).
Samuel ficou impressionado com o porte e a altura do primeiro filho de Jessé que lhe foi apresentado, Eliabe, pensando que era ele o escolhido do Senhor, mas Deus lhe disse que não olhasse para a sua aparência e estatura porque Ele não vê como o homem, que julga segundo a aparência, pois Ele vê o coração.
Deus conhecia o espírito e o caráter de Davi e o tudo que Ele viria a ser em Suas mãos.
Jamais Davi intentaria contra a vida de Samuel, como Saul seria capaz de fazê-lo e como o próprio Samuel demonstrou nas palavras que disse ao Senhor para justificar o seu temor de descer à casa de Jessé para ungir a um de seus filhos para ser rei no lugar de Saul (v. 2), pois ele bem conhecia o caráter de Saul, que se voltaria contra ele num ataque de ciúme, que o levaria a ter Samuel na conta de um traidor, ainda que sabendo que sempre agia sob a direção de Deus.
Como dissemos, Davi jamais faria isto contra qualquer ungido de Deus, mesmo naqueles em quem não houvesse fortes evidências da sua salvação, como no caso de Saul, e ele pôde demonstrar isto na prática quando o teve à sua mercê para atentar contra a sua vida, quando Saul o perseguia, e nada fez senão se limitar a cortar a orla da sua veste, e assim mesmo até isto lhe pesou no coração.
O Espírito Santo agia com graça em Davi e o transformou num verdadeiro filho de Deus, por estar unido para sempre à sua natureza, e nós vemos quão diferentes são aqueles que são de fato nascidos de Deus.
Isto não significa que não terão qualquer tipo de pecado, pois a vida de Davi é um grande exemplo, que mesmo grandes santos estão sujeitos a pecar, mas muito maior foi a sua grandeza em se humilhar diante de Deus, e buscar sempre lugar de arrependimento perante Ele, confessando-Lhe todas as suas faltas.
Assim se dá com todos aqueles que estão de fato ligados a Deus como um só espírito. Eles se movem conforme o mover de Deus. Eles discernem pelo Espírito as coisas que fazem parte da mente de Deus. Eles conferem coisas espirituais com coisas espirituais, e tudo discernem sem que possam ser discernidos por aqueles que estão na carne.
Este era o verdadeiro caráter da mudança que seria feita.
Um rei que seja segundo o coração de Deus deve ser obrigatoriamente um verdadeiro crente, porque de outro modo jamais poderá discernir o que está no Seu coração divino, tal como era o caso de Saul, que não era um rei segundo o Seu coração.
O reino de Deus não é comida e bebida mas justiça, e paz e alegria no Espírito Santo, e se tudo isto é no Espírito, como poderão tê-lo os que não estão de fato ligados em suas próprias naturezas ao Espírito?
  Tais foram as mudanças operadas pela presença do Espírito Santo em Davi que isto se tornou notório a muitos, a ponto de ter sido recomendado a Saul como quem poderia tocar a harpa de tal modo, que ele acharia alívio nos ataques do espírito imundo que o atormentava, enviado como juízo sobre ele, da parte do Senhor, e ele foi descrito por um dos mancebos de Saul com as seguintes palavras:
“Eis que tenho visto um filho de Jessé, o belemita, que sabe tocar bem, e é forte e destemido, homem de guerra, sisudo em palavras, e de gentil aspecto; e o Senhor é com ele.” (v. 18).
Tendo Saul mandado buscar a Davi para estar com ele, se agradou tanto dele que o tornou seu escudeiro, e toda vez que Davi tocava a harpa o espírito maligno se retirava de Saul.
 Esta expulsão do espírito não era devida ao tipo da música mas à unção que estava em Davi, e que era transferida para o seu louvor e às músicas que ele compunha.
Não é de se admirar que se veja tanta unção nas letras dos seus Salmos, que através dos séculos têm ajudado a muitos atormentados pelos ataques dos espíritos malignos, tal como Saul, e não somente a estes, mas a muitos que Deus tem abençoado com a inspiração do Espírito Santo, que pode ser achada nos Salmos de Davi.



“1 Então disse o Senhor a Samuel: Até quando terás dó de Saul, havendo-o eu rejeitado, para que não reine sobre Israel? Enche um chifre de azeite, e vem; enviar-te-ei a Jessé o belemita, porque dentre os seus filhos me tenho provido de um rei.
2 Disse, porém, Samuel: Como irei eu? pois Saul o ouvirá e me matará. Então disse o Senhor: Leva contigo uma bezerra, e dize: Vim para oferecer sacrifício ao Senhor:
3 E convidarás a Jessé para o sacrifício, e eu te farei saber o que hás de fazer; e ungir-me-ás a quem eu te designar.
4 Fez, pois, Samuel o que dissera o Senhor, e veio a Belém; então os anciãos da cidade lhe saíram ao encontro, tremendo, e perguntaram: É de paz a tua vinda?
5 Respondeu ele: É de paz; vim oferecer sacrifício ao Senhor. Santificai-vos, e vinde comigo ao sacrifício. E santificou ele a Jessé e a seus filhos, e os convidou para o sacrifício.
6 E sucedeu que, entrando eles, viu a Eliabe, e disse: Certamente está perante o Senhor o seu ungido.
7 Mas o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a grandeza da sua estatura, porque eu o rejeitei; porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem olha para o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração.
8 Depois chamou Jessé a Abinadabe, e o fez passar diante de Samuel, o qual disse: Nem a este escolheu o Senhor.
9 Então Jessé fez passar a Samá; Samuel, porém, disse: Tampouco a este escolheu o Senhor.
10 Assim fez passar Jessé a sete de seus filhos diante de Samuel; porém Samuel disse a Jessé: O Senhor não escolheu a nenhum destes.
11 Disse mais Samuel a Jessé: São estes todos os teus filhos? Respondeu Jessé: Ainda falta o menor, que está apascentando as ovelhas. Disse, pois, Samuel a Jessé: Manda trazê-lo, porquanto não nos sentaremos até que ele venha aqui.
12 Jessé mandou buscá-lo e o fez entrar. Ora, ele era ruivo, de belos olhos e de gentil aspecto. Então disse o Senhor: Levanta-te, e unge-o, porque é este mesmo.
13 Então Samuel tomou o chifre de azeite, e o ungiu no meio de seus irmãos; e daquele dia em diante o Espírito do Senhor se apoderou de Davi. Depois Samuel se levantou, e foi para Ramá.
14 Ora, o Espírito do Senhor retirou-se de Saul, e o atormentava um espírito maligno da parte do Senhor.
15 Então os criados de Saul lhe disseram: Eis que agora um espírito maligno da parte de Deus te atormenta;
16 dize, pois, senhor nosso, a teus servos que estão na tua presença, que busquem um homem que saiba tocar harpa; e quando o espírito maligno da parte do Senhor vier sobre ti, ele tocará com a sua mão, e te sentirás melhor.
17 Então disse Saul aos seus servos: Buscai-me, pois, um homem que toque bem, e trazei-mo.
18 Respondeu um dos mancebos: Eis que tenho visto um filho de Jessé, o belemita, que sabe tocar bem, e é forte e destemido, homem de guerra, sisudo em palavras, e de gentil aspecto; e o Senhor é com ele.
19 Pelo que Saul enviou mensageiros a Jessé, dizendo: Envia-me Davi, teu filho, o que está com as ovelhas.
20 Jessé, pois, tomou um jumento carregado de pão, e um odre de vinho, e um cabrito, e os enviou a Saul pela mão de Davi, seu filho.
21 Assim Davi veio e se apresentou a Saul, que se agradou muito dele e o fez seu escudeiro.
22 Então Saul mandou dizer a Jessé: Deixa ficar Davi ao meu serviço, pois achou graça aos meus olhos.


23 E quando o espírito maligno da parte de Deus vinha sobre Saul, Davi tomava a harpa, e a tocava com a sua mão; então Saul sentia alívio, e se achava melhor, e o espírito maligno se retirava dele.” (I Sm 16.1-23)



I Samuel 17

Deus Venceu Golias Pelas Mãos de Davi

A história narrada neste capítulo 17º de I Samuel, que estaremos comentando, é uma das mais conhecidas da Bíblia, em todo o mundo.
Entretanto isto não configura uma vantagem para o reconhecimento da glória de Deus, porque quase tudo o que se sabe a respeito desta história, pela grande maioria, é que Davi, um jovem pastor de ovelhas, venceu um gigante chamado Golias, e não que foi o Deus de Israel que capacitou Davi a fazê-lo.
Mas na verdade, o que foi escrito não foi para a exclusiva honra de Davi, senão para a honra e glória do Deus de Israel.
E o próprio Davi não buscava nenhuma honra para si mesmo, senão unicamente para o Senhor.
Como vemos nos capítulos anteriores, este desejo de ser honrado existia em Saul, mas não em Davi, que declarou por diversas vezes ao longo de toda a sua vida, o quanto se achava pequeno aos seus próprios olhos, e que se humilharia cada vez mais diante da Majestade do Deus vivo.
São estas e outras grandes lições que podemos aprender com a narrativa deste capítulo, como veremos adiante, e não simplesmente que Davi venceu Golias.
Se queremos aprender o modo pelo qual devemos nos gloriar em Deus e de exaltar o Seu santo nome, basta recorrer aos Salmos de Davi, pois ali encontraremos uma viva demonstração da sua total consagração ao Senhor.
É difícil deixar para trás as muitas lições que podemos aprender com este homem sobre o modo como devemos andar na presença de Deus.
A sua profunda humildade e a nobreza do seu caráter é o que há de melhor para ser aprendido com a sua vida.
Não é o guerreiro corajoso e valente que agrada tanto ao coração de Deus, como o homem que se reconhece pecador e pequeno diante dEle e inteiramente dependente do Seu favor e graça, para ser perdoado, aceito e habilitado a fazer a Sua vontade.
Davi nos foi dado portanto, por Deus, para que aprendamos qual é a disposição de espírito que devemos ter diante dEle.
Davi nos foi dado para servir de encorajamento em nossa caminhada, por sabermos que o justo que confia inteiramente no Senhor, triunfará, por maiores que sejam as dificuldades que tenha que enfrentar.
 Deus havia escolhido Davi para ser rei, e então Ele mesmo estava providenciando as condições necessárias para conduzi-lo ao poder.
Ele lhe havia tornado famoso no palácio cuidando de Saul, prevalecendo sobre o espírito imundo que o atormentava, e agora Deus o tornaria famoso no campo de batalha, à vista de todo o exército de Israel.
O Senhor é soberano e faz com que todos os homens sejam reféns da História.
Até mesmo o próprio Golias foi feito refém dela pois seria usado como o instrumento pelo qual Davi se tornaria famoso aos olhos de Israel.
Não é dado aos homens escolherem a época em que viverão, pois terão que viver no período em que forem chamados por Deus.
Desta forma, todos são feitos reféns da Sua soberania e vontade.
Aqueles que viveram antes de Cristo se manifestar em carne teriam que viver sob a obscuridade das trevas da ignorância, relativa à graça e à verdade, e sem o derramar do Espírito em todas as nações, até que Cristo viesse no tempo determinado pelo Pai, na plenitude dos tempos.
Como podem então os homens se gloriarem da sua condição terrena, tal como estava fazendo Golias, o filisteu, em razão de ter sido distinguido entre os homens, com os dotes que havia recebido por ação direta ou por permissão da Providência, chegando a ter cerca de três metros de altura?
Ele não se valeu daquele porte para servir a causa da justiça, mas, ao contrário, para afrontar o próprio Deus, que a tudo governa e dirige.
E o seu fim não poderia ser outro senão aquele que encontramos neste capítulo, pois vemos o que Deus declarou pela boca do próprio Davi no Salmo 18, qual é o modo pelo qual Ele age em relação a todos os homens:
“25 Para com o benigno te mostras benigno, e para com o homem perfeito te mostras perfeito.
26 Para com o puro te mostras puro, e para com o perverso te mostras contrário.
27 Porque tu livras o povo aflito, mas os olhos altivos tu os abates.” (Sl 18.25-27).
O que a si mesmo se exalta será abatido e humilhado, mas o que se humilha será exaltado.
Golias vem a ser então o símbolo do que Deus fará a todo altivo e arrogante.
Davi, em sua piedade e amor a Ele, é o símbolo de que aqueles que esperam no Senhor e confiam nEle são mais do que vencedores, por meio dAquele que lhes capacita para a batalha, a saber, o Senhor Jesus.
Mas, para os filisteus Golias era o campeão e a causa do seu orgulho na recuperação da reputação do domínio e do poder que tinham sobre Israel, e que haviam perdido na última batalha travada com os israelitas, e na qual foram duramente derrotados por causa da intervenção do Senhor.
Os pecadores renitentes agem sempre deste modo.
Eles não aprendem das lições de humilhação que a Providência permite que  tenham na vida, para que pudessem chegar ao arrependimento.
Ao contrário, em sua grande maioria, ficam ainda mais endurecidos, por causa do pecado do orgulho, que não lhes permite admitirem que o homem nada é sem a bênção de Deus.
Eles se esforçam para se levantarem do pó da sua ruína para restaurar o seu orgulho, que fora ferido, em vez de se arrependerem, refletindo que todo o mal que lhes sobreviera, foi em razão dos justos juízos sobre os seus pecados.
Era o sentimento de orgulho nacional ferido que havia nos filisteus, que  estavam tentando resgatar com as afrontas de Golias dirigidas contra os israelitas e o Deus deles, que duravam já por quarenta dias, todas as manhãs e tardes, até que Davi, revestido com a armadura da piedade e da justiça, da humildade e da fé, derrubou o gigante e o decapitou, conforme a palavra que o Senhor havia colocado na sua boca, dizendo aquilo que Ele faria não somente a Golias mas a todo o exército dos filisteus (v. 45-47).
A fé de Davi havia sido aperfeiçoada para aquela hora, pois lhe foi permitido pela capacitação do Espírito e pela grande coragem, que nele havia, e que fora aperfeiçoada pela fé em Deus, segundo as Suas operações nele, matar antes um leão e um urso, que deram contra o rebanho que ele apascentava.
Ele era o pastor que defendia as suas ovelhas do lobo, com o risco da sua própria vida, pois o bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas.
Deus demonstraria aos olhos de todo Israel que ele estava dotado destas qualidades, quando se apresentou para matar Golias.
Não foi somente a Golias que ele enfrentou, mas toda a resistência que a própria circunstância apresentava, pois teria que se submeter ao escárnio, tanto dos filisteus, de Golias e dos próprios soldados israelitas, que devem tê-lo considerado no mínimo um louco.
Ele teve que vencer as resistências que se encontravam no argumento dos seus próprios irmãos, que na pessoa do primogênito, Eliabe, foi repreendido, pois este lhe acusou de negligência, por ter abandonado as ovelhas no deserto (o que não era verdade, pois Davi tivera o cuidado de colocá-las sob o cuidado de um outro), e por ter vindo ao campo de batalha, por simples curiosidade, e afirmou que conhecia a sua presunção e a maldade do seu coração (v. 28).
Necessitaríamos de mais evidências relativas ao motivo por que Eliabe havia sido rejeitado por Deus, para não ser ungido por Samuel como rei sobre Israel?
Mas Davi tinha vindo ao campo em obediência ao seu pai, e para o benefício de seus próprios irmãos, pois lhes enviou suprimentos pelas suas mãos.
Na verdade, não foi Jessé que enviou Davi ao campo de batalha.
Foi o Espírito Santo que o incitou a estar ali, para que se cumprisse tudo o que haveria de acontecer através dele.
Contudo, Davi não procurou se justificar perante Eliabe, usando tais argumentos em sua defesa.
Ele simplesmente não se deixou intimidar pelas palavras de seu irmão, e continuou se informando sobre a situação, e o que seria feito pelo rei ao homem que matasse o gigante, pois havia um rumor de que Saul cumularia tal pessoa de grandes riquezas, e lhe daria por mulher a sua filha, e isentaria a casa de seu pai de impostos (v. 25).
É interessante destacar que quando Davi foi repreendido por Eliabe, ele lhe disse: “Que fiz eu agora? porventura não há razão para isso?” (v. 29).
Isto denota que as acusações injustas de seu irmão mais velho contra ele eram frequentes.
Talvez por motivo de ciúme, em razão de ser o mais velho de oito irmãos, e sendo Davi o caçula, era exatamente no mais novo que se viam qualificações extraordinárias.
Davi revelou suas qualidades na firmeza que demonstrou, não se deixando intimidar pelas ameaças do irmão, e prosseguiu em sua investigação sobre o que seria feito àquele que matasse o gigante, e deixou claro ao seu irmão, que havia suficiente razão no seu interesse naquele assunto, pois a casa de seu pai seria abençoada com a isenção de impostos, ele seria genro do rei, seria enriquecido, mas a maior razão de todas para ele, que ultrapassava tudo isto, em se dispor a lutar contra o gigante, era defender a honra do Deus de Israel, a quem o gigante estava infamando.
O próprio Saul foi outro obstáculo que Davi teve que vencer, antes de enfrentar Golias, porque o rei tentou convencê-lo de que não seria possível a ele vencer o gigante, porque este era guerreiro desde a sua mocidade, e Davi era muito moço.
Contudo Davi lhe disse que o Senhor que lhe havia livrado das garras do leão e do urso seria o mesmo que lhe livraria da mão daquele filisteu (v. 37).
Ele expusera a sua própria vida colocando-a em risco para livrar os cordeiros do seu rebanho do leão e do urso, quanto mais não estaria disposto a colocá-la em risco pelo povo do Senhor e pela honra do seu Deus!
Com estas palavras convenceu a Saul de que não ele, Davi, mas Deus, agiria em favor de Israel através dele.
Esta grande verdade de que ainda que façamos tudo, é na verdade a graça de Jesus que tudo faz através de nós, é esquecida por muitos dos seus ministros.
Eles não são como Paulo que disse o seguinte em relação ao seu ministério: “Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus que está comigo.” (I Cor 15.10).
A própria armadura de Saul, com a qual tentaram lhe vestir para enfrentar Golias, foi também um outro desafio que ele teve que vencer, porque não estava acostumado àquilo e nem sequer podia andar.
E ele foi resoluto em se desfazer da armadura, mesmo contra uma possível insatisfação que poderia causar ao rei, pois  estava decidido a enfrentar o gigante, não com as armas de Saul, mas somente com as do Senhor.
Daí ele pôde demonstrar toda a sua grande fé e confiança no Deus de Israel, e isto deu ensejo às palavras que dirigiu a Golias e à firme convicção com que as falou e que evidenciavam a sua grande fé:
“45 Davi, porém, lhe respondeu: Tu vens a mim com espada, com lança e com escudo; mas eu venho a ti em nome do Senhor dos exércitos, o Deus dos exércitos de Israel, a quem tens afrontado.
46 Hoje mesmo o Senhor te entregará na minha mão; ferir-te-ei, e tirar-te-ei a cabeça; os cadáveres do arraial dos filisteus darei hoje mesmo às aves do céu e às feras da terra; para que toda a terra saiba que há Deus em Israel;
47 e para que toda esta assembleia saiba que o Senhor salva, não com espada, nem com lança; pois do Senhor é a batalha, e ele vos entregará em nossas mãos.” (v. 45-47).
Quão piedoso era Davi! Nós não observamos nenhuma ostentação pessoal em suas palavras, porque Deus era tudo para ele.
O feito da derrota do gigante é atribuído por ele a Deus, que lhe havia comissionado para aquela hora.
Seria manifestada a autoridade de Deus naquele evento, e não propriamente a dele.
Ele quer exibir o braço forte do Senhor, sendo um mero instrumento em Suas poderosas mãos.
É nesta posição que ele se colocou conforme podemos depreender das suas palavras.
Este deveria ser o desejo de todo verdadeiro servo de Deus, simplesmente ser instrumentos em Suas mãos, para que a Sua glória e poder possam ser manifestados, e com isso ser glorificado pelos homens, ao verem as obras que Ele faz através dos seus servos.
Com isto provaria que um jovem que ousava desafiar e partir resoluto para o combate contra um gigante armado até aos dentes, e protegido por todo um aparato de metal, que quase lhe tornava invulnerável aos golpes desferidos pelos seus inimigos, e que o faria sem contar com qualquer equipamento de proteção individual, ou de qualquer arma visível de ataque em suas mãos, senão apenas uma pequena funda, e o seu cajado, não deveria ser considerado de modo nenhum como um caso de extrema insensatez, mas de prova de fé, porque afirmou com grande fé a plena certeza que tinha na vitória do Senhorm pois sabia que a mão do Deus de Israel era com ele, como efetivamente foi, a ponto de todo o exército filisteu ter temido muitom depois que ele matou Golias, e se apressou em bater em retirada.
E as palavras de Deus na boca de Davi: “para que toda esta assembleia saiba que o Senhor salva, não com espada, nem com lança; pois do Senhor é a batalha” (v. 47), permanecem verdadeiras para sempre, porque não importa quanto os homens possam se tornar poderosos, e por maior e mais complexo que seja o arsenal de guerra que eles possam fabricar, Deus dará a posse da terra aos mansos e não aos arrogantes e orgulhosos.
Ele livrará o Seu povo da opressão e da injustiça, sem qualquer ajuda dos homens poderosos.
Por isso Davi disse a Golias que o que Deus faria através dele seria para que todos que se encontravam naquele campo de batalha aprendessem que é o Senhor mesmo quem peleja pelo Seu povo, e é a Ele que pertence a batalha, uma vez que Golias não seria abatido por nenhuma lança ou espada, mas pelo modo humilhante que Deus havia determinado que deveria ser abatido: por uma pedra lançada pela funda de um jovem, que não trazia consigo nenhuma armadura, lança ou espada.
A espada de Golias foi colocada em Nobe, numa das cidades dos sacerdotes (21.9), como um troféu da vitória de Deus sobre a violência dos homens.
A espada, que simboliza todo o tipo de arma de ataque usada na guerra, sendo colocada atrás de uma estola sacerdotal, carrega a mensagem de que um dia tudo o que é usado para ferir o próximo será sujeitado debaixo do poder do Senhor Jesus, quando Ele se levantar para julgar todos os moradores da terra e inaugurar o Seu reino de justiça e de paz.
Davi trouxe a cabeça de Golias a Jerusalém (v. 54), provavelmente inspirado por Deus, para que ela fosse um terror aos jebuseus, que ainda permaneciam habitando no meio de Israel naquela cidade, e que viria a ser tomada pelo próprio Davi, como veremos adiante.
Não se pode realmente confiar no homem no que tange à direção do rumo da nossa vida, senão unicamente no Senhor, e disto nós temos um exemplo perfeito no esquecimento de Saul em relação a Davi, pois a par de todo o bem que tinha feito a Saul, repreendendo o espírito maligno que o atormentava, a ponto de tê-lo feito o seu escudeiro, se esqueceu de quem ele era, quando se apresentou no campo de batalha, para lutar contra Golias.
Saul estava tão aterrorizado pela ameaça do gigante, e tão transtornado pelo fato de ter sido abandonado pelo Espírito Santo, que sequer foi capaz de ter qualquer serenidade de espírito para reconhecer que aquele que tinha sido uma bênção para ele no palácio, era o mesmo que seria uma benção não somente para ele, como para todo o Israel, no campo de batalha (v. 55-58).



“1 Ora, os filisteus ajuntaram as suas forças para a guerra e congregaram-se em Socó, que pertence a Judá, e acamparam entre Socó e Azeca, em Efes-Damim.
2 Saul, porém, e os homens de Israel se ajuntaram e acamparam no vale de Elá, e ordenaram a batalha contra os filisteus.
3 Os filisteus estavam num monte de um lado, e os israelitas estavam num monte do outro lado; e entre eles o vale.
4 Então saiu do arraial dos filisteus um campeão, cujo nome era Golias, de Gate, que tinha de altura seis côvados e um palmo.
5 Trazia na cabeça um capacete de bronze, e vestia uma couraça escameada, cujo peso era de cinco mil siclos de bronze.
6 Também trazia grevas de bronze nas pernas, e um dardo de bronze entre os ombros.
7 A haste da sua lança era como o órgão de um tear, e a ponta da sua lança pesava seiscentos siclos de ferro; adiante dele ia o seu escudeiro.
8 Ele, pois, de pé, clamava às fileiras de Israel e dizia-lhes: Por que saístes a ordenar a batalha? Não sou eu filisteu, e vós servos de Saul? Escolhei dentre vós um homem que desça a mim.
9 Se ele puder pelejar comigo e matar-me, seremos vossos servos; porém, se eu prevalecer contra ele e o matar, então sereis nossos servos, e nos servireis.
10 Disse mais o filisteu: Desafio hoje as fileiras de Israel; dai-me um homem, para que nós dois pelejemos.
11 Ouvindo, então, Saul e todo o Israel estas palavras do filisteu, desalentaram-se, e temeram muito.
12 Ora, Davi era filho de um homem efrateu, de Belém de Judá, cujo nome era Jessé, que tinha oito filhos; e nos dias de Saul este homem era já velho e avançado em idade entre os homens.
13 Os três filhos mais velhos de Jessé tinham seguido a Saul à guerra; eram os nomes de seus três filhos que foram à guerra: Eliabe, o primogênito, o segundo Abinadabe, e o terceiro Samá:
14 Davi era o mais moço; os três maiores seguiram a Saul,
15 mas Davi ia e voltava de Saul, para apascentar as ovelhas de seu pai em Belém.
16 Chegava-se, pois, o filisteu pela manhã e à tarde; e apresentou-se por quarenta dias.
17 Disse então Jessé a Davi, seu filho: Toma agora para teus irmãos uma efa deste grão tostado e estes dez pães, e corre a levá-los ao arraial, a teus irmãos.
18 Leva, também, estes dez queijos ao seu comandante de mil; e verás como passam teus irmãos, e trarás notícias deles.
19 Ora, estavam Saul, e eles, e todos os homens de Israel no vale de Elá, pelejando contra os filisteus.
20 Davi então se levantou de madrugada e, deixando as ovelhas com um guarda, carregou-se e partiu, como Jessé lhe ordenara; e chegou ao arraial quando o exército estava saindo em ordem de batalha e dava gritos de guerra.
21 Os israelitas e os filisteus se punham em ordem de batalha, fileira contra fileira.
22 E Davi, deixando na mão do guarda da bagagem a carga que trouxera, correu às fileiras; e, chegando, perguntou a seus irmãos se estavam bem.
23 Enquanto ainda falava com eles, eis que veio subindo do exército dos filisteus o campeão, cujo nome era Golias, o filisteu de Gate, e falou conforme aquelas palavras; e Davi as ouviu.
24 E todos os homens de Israel, vendo aquele homem, fugiam, de diante dele, tomados de pavor.
25 Diziam os homens de Israel: Vistes aquele homem que subiu? pois subiu para desafiar a Israel. Ao homem, pois, que o matar, o rei cumulará de grandes riquezas, e lhe dará a sua filha, e fará livre a casa de seu pai em Israel.
26 Então falou Davi aos homens que se achavam perto dele, dizendo: Que se fará ao homem que matar a esse filisteu, e tirar a afronta de sobre Israel? pois quem é esse incircunciso filisteu, para afrontar os exércitos do Deus vivo?
27 E o povo lhe repetiu aquela palavra, dizendo: Assim se fará ao homem que o matar.
28 Eliabe, seu irmão mais velho, ouviu-o quando falava àqueles homens; pelo que se acendeu a sua ira contra Davi, e disse: Por que desceste aqui, e a quem deixaste aquelas poucas ovelhas no deserto? Eu conheço a tua presunção, e a maldade do teu coração; pois desceste para ver a peleja.
29 Respondeu Davi: Que fiz eu agora? porventura não há razão para isso?
30 E virou-se dele para outro, e repetiu as suas perguntas; e o povo lhe respondeu como da primeira vez.
31 Então, ouvidas as palavras que Davi falara, foram elas referidas a Saul, que mandou chamá-lo.
32 E Davi disse a Saul: Não desfaleça o coração de ninguém por causa dele; teu servo irá, e pelejará contra este filisteu.
33 Saul, porém, disse a Davi: Não poderás ir contra esse filisteu para pelejar com ele, pois tu ainda és moço, e ele homem de guerra desde a sua mocidade.
34 Então disse Davi a Saul: Teu servo apascentava as ovelhas de seu pai, e sempre que vinha um leão, ou um urso, e tomava um cordeiro do rebanho,
35 eu saía após ele, e o matava, e lho arrancava da boca; levantando-se ele contra mim, segurava-o pela queixada, e o feria e matava.
36 O teu servo matava tanto ao leão como ao urso; e este incircunciso filisteu será como um deles, porquanto afrontou os exércitos do Deus vivo.
37 Disse mais Davi: O Senhor, que me livrou das garras do leão, e das garras do urso, me livrará da mão deste filisteu. Então disse Saul a Davi: Vai, e o Senhor seja contigo.
38 E vestiu a Davi da sua própria armadura, pôs-lhe sobre a cabeça um capacete de bronze, e o vestiu de uma couraça.
39 Davi cingiu a espada sobre a armadura e procurou em vão andar, pois não estava acostumado àquilo. Então disse Davi a Saul: Não posso andar com isto, pois não estou acostumado. E Davi tirou aquilo de sobre si.
40 Então tomou na mão o seu cajado, escolheu do ribeiro cinco seixos lisos e pô-los no alforje de pastor que trazia, a saber, no surrão, e, tomando na mão a sua funda, foi-se chegando ao filisteu.
41 O filisteu também vinha se aproximando de Davi, tendo a: sua frente o seu escudeiro.
42 Quando o filisteu olhou e viu a Davi, desprezou-o, porquanto era mancebo, ruivo, e de gentil aspecto.
43 Disse o filisteu a Davi: Sou eu algum cão, para tu vires a mim com paus? E o filisteu, pelos seus deuses, amaldiçoou a Davi.
44 Disse mais o filisteu a Davi: Vem a mim, e eu darei a tua carne às aves do céu e às bestas do campo.
45 Davi, porém, lhe respondeu: Tu vens a mim com espada, com lança e com escudo; mas eu venho a ti em nome do Senhor dos exércitos, o Deus dos exércitos de Israel, a quem tens afrontado.
46 Hoje mesmo o Senhor te entregará na minha mão; ferir-te-ei, e tirar-te-ei a cabeça; os cadáveres do arraial dos filisteus darei hoje mesmo às aves do céu e às feras da terra; para que toda a terra saiba que há Deus em Israel;
47 e para que toda esta assembleia saiba que o Senhor salva, não com espada, nem com lança; pois do Senhor é a batalha, e ele vos entregará em nossas mãos.
48 Quando o filisteu se levantou e veio chegando para se defrontar com Davi, este se apressou e correu ao combate, a encontrar-se com o filisteu.
49 E Davi, metendo a mão no alforje, tirou dali uma pedra e com a funda lha atirou, ferindo o filisteu na testa; a pedra se lhe cravou na testa, e ele caiu com o rosto em terra.
50 Assim Davi prevaleceu contra o filisteu com uma funda e com uma pedra; feriu-o e o matou; e não havia espada na mão de Davi.
51 Correu, pois, Davi, pôs-se em pé sobre o filisteu e, tomando a espada dele e tirando-a da bainha, o matou, decepando-lhe com ela a cabeça. Vendo então os filisteus que o seu campeão estava morto, fugiram.
52 Então os homens de Israel e de Judá se levantaram gritando, e perseguiram os filisteus até a entrada de Gai e até as portas de Ecrom; e caíram os feridos dos filisteus pelo caminho de Saraim até Gate e até Ecrom.
53 Depois voltaram os filhos de Israel de perseguirem os filisteus, e despojaram os seus arraiais.
54 Davi tomou a cabeça do filisteu e a trouxe a Jerusalém; porém pôs as armas dele na sua tenda.
55 Quando Saul viu Davi sair e encontrar-se com o filisteu, perguntou a Abner, o chefe do exército: De quem é filho esse jovem, Abner? Respondeu Abner: Vive a tua alma, ó rei, que não sei.
56 Disse então o rei: Pergunta, pois, de quem ele é filho.
57 Voltando, pois, Davi de ferir o filisteu, Abner o tomou consigo, e o trouxe à presença de Saul, trazendo Davi na mão a cabeça do filisteu.
58 E perguntou-lhe Saul: De quem és filho, jovem? Respondeu Davi: Filho de teu servo Jessé, belemita.” (I Sm 17.1-58)


I Samuel 18

Protegidos no Meio da Fornalha

No verso 10 do capítulo 18º de I Samuel, que estaremos comentando,  é dito que Saul começou a profetizar no meio da casa quando um espírito maligno da parte de Deus se apossou dele.
Em outras versões, em vez de “começou a profetizar no meio da casa é dito que ele “teve uma crise de raiva em casa”.
A par de ter sido isso realmente o efeito da ação do espírito imundo nele, pois tentou encravar a Davi com sua lança na parede, o original hebraico traz a palavra nabe, que significa profetizar.
Não estava profetizando pelo Espírito Santo, como lhe fora permitido na ocasião em que foi ungido por Samuel, e nem como o viria a fazer depois, como se relata em I Sm 19.23,24.
Mas aqui, ele estava profetizando pelo espírito maligno, e isto indica o quanto estava debaixo da influência daquele espírito, a ponto deste falar por intermédio dele.
Certamente o teor daquelas palavras que o espírito maligno falou através dele não era nenhuma bênção, senão blasfêmias e mentiras, como é comum ocorrer com aqueles que são possessos de espíritos malignos.
É importante que fiquemos com a tradução do original, que diz que profetizava pelo espírito maligno, e não simplesmente o efeito disso, que foi o seu acesso de raiva, porque isto indica de um modo bastante claro, que a par de todo o lugar que Saul dava ao maligno, era o próprio espírito imundo que estava tentando dar cabo da vida de Davi, não apenas porque este o expulsava de Saul, quando dedilhava a sua harpa e louvava a Deus, como também pelo fato de tentar impedir que Deus viesse a fazer tudo o que faria para o progresso do Seu reino, através da vida de Davi.
Aqueles que servem a Deus do modo fiel como Davi o serviu, devem estar preparados para estes ataques que o diabo desferirá contra eles, na tentativa de interromper a obra que o Senhor estiver fazendo através deles.
O modo usual de Deus proteger o Seu povo é em meio à fornalha, assim como se deu com Sadraque, Mesaque e Abdnego, e como também bem o exemplifica a vida de Davi.
Os servos de Deus devem estar preparados para lutarem contra todo tipo de dificuldades, e em vez disto ser motivo de tristeza, deve ser de grande alegria, conforme o dizer do apóstolo Tiago.
A Igreja deve ser devidamente instruída quanto a isto, porque a proteção de Deus não significa ser mantido por Ele, longe de todas as tribulações e problemas.
Ao contrário traz  muita glória e ações de graças ao Seu santo nome os livramentos que Ele opera.
Como poderiam existir tais livramentos se não tivéssemos problemas que enfrentar, e que por meio da Sua graça e pela fé nEle os possamos vencer a todos, sendo livrados de todas as nossas tribulações?
Deus prepara um banquete espiritual para os Seus filhos, mas comumente o faz na presença dos seus inimigos (Sl 23.5).
O problema não é se estamos em meio a uma tempestade, mas sim, se Jesus não está no nosso barco.
Davi é protegido de Deus mas será encontrado muitas vezes se desviando dos golpes de lança que Saul desferia contra ele.
A sua luta não era contra a carne e o sangue, e de igual modo a luta do cristão também não é.
O diabo e todos os espíritos das trevas que ele governa, sempre se levantarão contra a alma do justo e tentarão impedir a sua caminhada para que o nome de Deus não seja glorificado.
E sabedor disto, o cristão deve sempre se levantar do seu abatimento, e confiar inteiramente no Senhor, enquanto estiver sendo submetido às fornalhas desta vida, sabendo que poderá fazê-lo, enquanto permanece na prática do bem, atendendo à exortação do apóstolo Pedro neste sentido: “Portanto os que sofrem segundo a vontade de Deus confiem as suas almas ao fiel Criador, praticando o bem.” (I Pe 4.19).
Ficar portanto, esperando por uma felicidade que signifique ausência de problemas e dificuldades na vida, é puro romantismo e isto nada tem a ver com a realidade do viver, pois este é lutar, e a tudo vencer por meio dAquele que somos mais do que vencedores.
Há uma armadura espiritual que Davi conhecia e que usava constantemente, não apenas no combate contra Golias e na defesa dos ataques de Saul, mas em todas as circunstâncias da vida.
Esta armadura espiritual tem os seus componentes descritos por Paulo no sexto capítulo de Efésios.
Devemos fazer uso constante dela para que possamos prevalecer diante de Deus e dos homens, nas batalhas que temos que empreender contra os poderes das trevas.
A Bíblia ensina que o bom ânimo é prometido por Deus àqueles que se disponham a lutar pela causa da verdade, o bom combate da fé na pregação do evangelho, estando dispostos a perseverarem em meio a toda sorte de tribulações e provações, porque o Senhor tem prometido livrar o justo de todas as suas tribulações.
Assim como fizera em relação a Davi, que enquanto permanecia na casa de Saul, caiu em graça aos olhos do seu filho Jônatas, que o amou como a si mesmo.
Este amor de Jônatas por Davi procedia de Deus, porque foi o Senhor que inclinou o seu coração a isto, para que pudesse ser um amparo para Davi, enquanto este estivesse não somente na presença de Saul e até mesmo quando fosse obrigado a fugir dele.
De igual modo, Deus levantará pessoas para serem bênçãos na vida de todos os Seus servos fiéis.
Vale a pena servir a Deus. O nosso trabalho nEle não é vão. Porque com isto temos a garantia de ter sempre a Sua proteção, ainda que como falamos, e a Bíblia o revela claramente, em meio a muitas tribulações.
É isto que nós vamos encontrar exemplificado em Davi.
Ele fala das angústias da sua alma, mas sempre afirma a sua esperança, que o Senhor tornaria a alegrá-lo.
Ele nunca se permitiu vencer pelos seus problemas e sofrimentos, pois sabia que Deus é maior do que tudo e pode salvar perfeitamente os de espírito oprimido (Sl 34.17, 18).
Até que recebamos a coroa da vida teremos que esperar e enfrentar muitas dificuldades e oposições, sabendo que para isto mesmo fomos chamados pelo Senhor.
“confirmando as almas dos discípulos, exortando-os a perseverarem na fé, dizendo que por muitas tribulações nos é necessário entrar no reino de Deus.” (At 14.22).
Assim, Deus estava preparando Davi para reger o seu povo, pelo seu aprendizado  da obediência debaixo das circunstâncias mais adversas.
Ele foi obediente a seu pai, e agora estava sendo obediente a Saul.
Aqueles que irão governar devem primeiro aprender a obedecer.
Porque aqueles que são bons numa relação serão bons também na que lhe seja oposta. Daí se dizer que um bom filho virá a ser um bom pai.
Foi este espírito audaz e ao mesmo tempo submisso, forte e ao mesmo tempo doce, guerreiro e ao mesmo tempo gentil que fazia de Davi uma pessoa agradável aos seus semelhantes.
O modo como se houve perante Saul e Golias encheu a alma de Jônatas de uma grande admiração por ele, porque no próprio Jônatas habitavam muitas das qualidades que existiam em Davi.
Ambos tinham um caráter reto, mas Jônatas deveria  renunciar, inclusive à coroa que lhe pertenceria por direito hereditário porque aprouve a Deus exaltar e honrar a Davi.
Por isso até mesmo no campo de batalha o Espírito do Senhor não veio sobre Jônatas para que enfrentasse Golias, e ele, valente que era poderia ter sido disposto a isto, mas deveria ficar parado porque aquela honra de vencer o gigante havia sido reservada por Deus a Davi.
Os grandes atos de Deus não podem ser portanto interpretados, como muitos costumam fazer, como mera obra do acaso ou da mera iniciativa dos homens.
Desde o dia que Davi venceu Golias, Saul o reteve consigo e não permitiu que retornasse à casa de Jessé, seu pai (v. 2).
E quando Saul pôs a Davi sobre tropas do seu exército, Jônatas, para ajudá-lo, lhe deu o seu próprio equipamento de guerra, a saber, a capa que vestia, sua armadura, e até mesmo a sua espada, o seu arco e o seu cinto (v. 4,5).
Como seria de se esperar, Davi era bem sucedido em todos os seus empreendimentos militares, e todo o povo de Israel estava muito satisfeito com ele, a ponto de as mulheres de todas as cidades de Israel terem cantado diante de Saul, quando Davi tinha sido bem sucedido numa batalha contra os filisteus, que Saul havia ferido a seus milhares, mas Davi a seus dez milhares.
Só que este elogio, em vez de fazer com que Saul se sentisse honrado por ter nas fileiras do exército de Israel a tão valoroso soldado, ele, como era de se esperar, conforme era da sua natureza, foi tomado de grande espírito de inveja, e desde aquele dia passou a ver Davi com suspeita, desconfiando que estava se esforçando daquele modo com a única intenção de lhe tomar o reino (v. 6 a 9).
Já no dia seguinte, em razão desta inveja e raiva de Saul, o espírito maligno que o atormentava encontrou facilidades para se apoderar dele, em razão de todo aquele seu descontrole, e ainda que Davi dedilhasse a sua harpa tentando afastar o espírito, Saul tentou matá-lo fazendo dois arremessos de lança contra ele, e caso Davi não tivesse se desviado dos golpes teria sido morto (v. 9-11).
Saul sabia que Deus era com Davi por tudo o que ele era e fazia, e também sabia que o Senhor lhe havia abandonado definitivamente (v. 12), e usando de uma estratégia política afastou Davi da sua presença, não permitindo que estivesse em sua casa, mas o manteve como capitão sobre mil homens do seu exército, e assim o teria sob o seu controle,  debaixo de suas vistas, e poderia continuar se beneficiando do fato de Deus ser com Davi, ao mesmo tempo que não produziria nenhuma insatisfação no povo, o que ocorreria sem nenhuma sombra de dúvida caso o banisse completamente, e tudo o que se diz nos versículos restantes deste capitulo (14 a 30) consiste no estratagema político de Saul, para se livrar de Davi ao mesmo tempo em que disfarçava estar sendo favorável a ele.
Enquanto isto, ele ganharia tempo para formular uma teoria de que Davi era um traidor em potencial que queria lhe arrebatar a coroa, e assim poderia empreender uma perseguição direta a ele, como realmente o faria posteriormente.    
Enquanto Saul conspirava contra a vida de Davi nós lemos o seguinte no verso 14:
“E Davi era bem sucedido em todos os seus caminhos; e o Senhor era com ele.”.
Tal como ocorria com a Igreja no seu início, que tinha paz, que vinha da parte de Deus, enquanto sofria dura perseguição dos judeus:
“Assim, pois, a Igreja em toda a Judeia, Galileia e Samaria, tinha paz, sendo edificada, e andando no temor do Senhor; e, pelo auxílio do Espírito Santo, se multiplicava.” (At 9.31).
Não importa quais sejam os inimigos do povo de Deus e da Sua causa, pois o Senhor sempre os conduzirá em triunfo, assim como fez com Davi, a par de todas as maquinações sórdidas de Saul.
O temor que se diz neste capitulo, que Saul tinha de Davi (v. 12, 15, 29), tem a ver com o fato de perder o reino para ele, em razão da grande afeição que o povo lhe devotava.
Agir diretamente contra ele seria portanto agir contra a sua própria popularidade, e isto fez com que não tivesse agido diretamente contra a vida de Davi no início.
Saul não havia cumprido, e provavelmente nem cumpriria a promessa que fez de dar ao homem que vencesse a Golias uma de suas filhas por esposa.
Saul não honrava sequer a própria palavra dele, e como poderia honrar a Palavra de Deus?
Tendo prometido dar a Davi a sua filha mais velha chamada Merabe por esposa, ele estava pensando em usá-la como uma isca, para que Davi morresse nas mãos dos filisteus, e não para cumprir a promessa que havia feito a respeito de quem vencesse Golias.
O plano seria o mesmo que usou para dar Mical, sua filha mais nova a Davi, pois exigiria que lhe trouxesse cem prepúcios de filisteus, contando que ele seria morto na batalha.
Entretanto, antes do prazo de colocar o seu plano diabólico em prática, Saul deu Merabe por esposa a outro homem, chamado Adriel (v. 17-19).
Mas como lhe contaram que sua filha Mical amava a Davi, decidiu levar o seu plano adiante, e usando de falsidade, pediu que dissessem a Davi que ele tinha afeição por ele e que todos os seus servos o amavam, e que gostaria que consentisse em ser o seu genro (v. 22).
Mais uma vez Davi se mostrou humilde, dizendo que era homem pobre e de humilde condição para ser genro do rei (v. 18, 21).
Como foi esta a sua resposta, que indicava que consentiria em se casar com Mical, Saul mandou lhe dizer que não queria nenhum dote pelo casamento, senão somente que Davi lhe trouxesse cem prepúcios de filisteus (v. 25).
Caso Davi não morresse nas mãos dos filisteus Saul ainda teria a vantagem, porque ao dar a ele a mão se sua filha Mical em casamento, dissimularia diante de todo Israel que não tinha nada contra Davi, e assim a sua teoria de conspiração teria muito mais chances de ser aceita pelo povo, em face da suposta afeição que ele tinha demonstrado, dando a sua própria filha para ser esposa de Davi.
Davi, juntamente com seus homens conseguiu não cem, mas duzentos prepúcios, e  Saul lhe deu a Mical por esposa, e nisto ele reconheceu que o Senhor era de fato com Davi, e isto fez com que temesse ainda mais que Davi viesse a reinar em seu lugar, e se diz também no verso 29 que ele foi continuamente inimigo de Davi.
Como a fama de Davi ia crescendo cada vez mais, porque era quem lograva mais êxito nas batalhas contra os filisteus, tendo o seu nome se tornado muito estimado em Israel (v. 30), Saul decidiria partir, em desespero de causa, para o ataque direto, e viria a ordenar como veremos no início do capitulo seguinte que Davi fosse morto.




“1 Ora, acabando Davi de falar com Saul, a alma de Jônatas ligou-se com a alma de Davi; e Jônatas o amou como à sua própria alma.
2 E desde aquele dia Saul o reteve, não lhe permitindo voltar para a casa de seu pai.
3 Então Jônatas fez um pacto com Davi, porque o amava como à sua própria vida.
4 E Jônatas se despojou da capa que vestia, e a deu a Davi, como também a sua armadura, e até mesmo a sua espada, o seu arco e o seu cinto.
5 E saía Davi aonde quer que Saul o enviasse, e era sempre bem sucedido; e Saul o pôs sobre a gente de guerra, e isso pareceu bem aos olhos de todo o povo, e até aos olhos dos servos de Saul.
6 Sucedeu porém que, retornando eles, quando Davi voltava de ferir os filisteus, as mulheres de todas as cidades de Israel saíram ao encontro do rei Saul, cantando e dançando alegremente, com tamboris, e com instrumentos de música.
7 E as mulheres, dançando, cantavam umas para as outras, dizendo: Saul feriu os seus milhares, porém Davi os seus dez milhares.
8 Então Saul se indignou muito, pois aquela palavra pareceu mal aos seus olhos, e disse: Dez milhares atribuíram a Davi, e a mim somente milhares; que lhe falta, senão só o reino?
9 Daquele dia em diante, Saul trazia Davi sob suspeita.
10 No dia seguinte o espírito maligno da parte de Deus se apoderou de Saul, que começou a profetizar no meio da casa; e Davi tocava a harpa, como nos outros dias. Saul tinha na mão uma lança.
11 E Saul arremessou a lança, dizendo consigo: Encravarei a Davi na parede. Davi, porém, desviou-se dele por duas vezes.
12 Saul, pois, temia a Davi, porque o Senhor era com Davi e se tinha retirado dele.
13 Pelo que Saul o afastou de si, e o fez comandante de mil; e ele saía e entrava diante do povo.
14 E Davi era bem sucedido em todos os seus caminhos; e o Senhor era com ele.
15 Vendo, então, Saul que ele era tão bem sucedido, tinha receio dele.
16 Mas todo o Israel e Judá amavam a Davi, porquanto saía e entrava diante deles.
17 Pelo que Saul disse a Davi: Eis que Merabe, minha filha mais velha, te darei por mulher, contanto que me sejas filho valoroso, e guerreies as guerras do Senhor. Pois Saul dizia consigo: Não seja contra ele a minha mão, mas sim a dos filisteus.
18 Mas Davi disse a Saul: Quem sou eu, e qual é a minha vida e a família de meu pai em Israel, para eu vir a ser genro do rei?
19 Sucedeu, porém, que ao tempo em que Merabe, filha de Saul, devia ser dada a Davi, foi dada por mulher a Adriel, meolatita.
20 Mas Mical, a outra filha de Saul, amava a Davi; sendo isto anunciado a Saul, pareceu bem aos seus olhos.
21 E Saul disse: Eu lha darei, para que ela lhe sirva de laço, e para que a mão dos filisteus venha a ser contra ele. Pelo que Saul disse a Davi: com a outra serás hoje meu genro.
22 Saul, pois, deu ordem aos seus servos: Falai em segredo a Davi, dizendo: Eis que o rei se agrada de ti, e todos os seus servos te querem bem; agora, pois, consente em ser genro do rei.
23 Assim os servos de Saul falaram todas estas palavras aos ouvidos de Davi. Então disse Davi: Parece-vos pouca coisa ser genro do rei, sendo eu homem pobre e de condição humilde?
24 E os servos de Saul lhe anunciaram isto, dizendo: Assim e assim falou Davi.
25 Então disse Saul: Assim direis a Davi: O rei não deseja dote, senão cem prepúcios de filisteus, para que seja vingado dos seus inimigos. Porquanto Saul tentava fazer Davi cair pela mão dos filisteus.
26 Tendo os servos de Saul anunciado estas palavras a Davi, pareceu bem aos seus olhos tornar-se genro do rei. Ora, ainda os dias não se haviam cumprido,
27 quando Davi se levantou, partiu com os seus homens, e matou dentre os filisteus duzentos homens; e Davi trouxe os prepúcios deles, e os entregou, bem contados, ao rei, para que fosse seu genro. Então Saul lhe deu por mulher sua filha Mical.
28 Mas quando Saul viu e compreendeu que o Senhor era com Davi e que todo o Israel o amava,
29 temeu muito mais a Davi; e Saul se tornava cada vez mais seu inimigo.


30 Então saíram os chefes dos filisteus à campanha; e sempre que eles saíam, Davi era mais bem sucedido do que todos os servos de Saul, pelo que o seu nome era mui estimado.” (I Sm 18.1-30)



I Samuel 19

A Inveja Conduz à Ira e Esta ao Ódio

Nós vemos no 19º capítulo de I Samuel, que estaremos comentando, que Saul retrocedeu na ordem que dera a Jônatas e a seus homens de matarem a Davi, porque Jônatas lhe revelou as intenções de seu pai e lhe recomendou que se escondesse, e além disso intercedeu em favor dele junto a Saul, lhe lembrando de todo o bem que Davi lhe havia feito e da grande alegria que ele lhe dera quando matou Golias, tendo colocado em risco a sua própria vida (v. 1 a 5).
Saul deu ouvido a Jônatas e jurou pelo Senhor que não mataria Davi (v. 6).
Isto deu ocasião a que Jônatas introduzisse novamente Davi à presença de seu pai e ele assistia ao rei como antes (v. 7).
Davi poderia evitar toda aquela perseguição caso se anulasse e deixasse de agir segundo o dom que havia recebido de Deus, ficando somente como escudeiro de Saul por toda a vida.
Os Sauls deste mundo são tomados de tal modo pela inveja, que não admitem que ninguém possa sequer ameaçar chegar perto da posição elevada em que se encontram.
Eles invejam muito mais a estes que estão sendo exaltados por Deus, do que propriamente aqueles que se encontram em posição superior à deles.
Mas como Davi poderia deixar de ser leal para consigo mesmo e para com o Seu Deus?
Importa antes dar ouvido a Deus do que aos homens (At 4.19).
Por conseguinte, nós o vemos mais uma vez triunfando no campo de batalha contra os filisteus, que eram inimigos de Deus e de Israel (v. 8).
Isto bastou para que a inveja de Saul fosse de novo acesa, e toda vez que isto ocorria, o espírito maligno se apoderava dele, e mais uma vez tentou matar Davi com a sua lança. E mais uma vez Davi escapou dele e fugiu (v. 9, 10).
A inveja de Saul acendia a sua raiva e isto dava lugar para que o espírito imundo se apoderasse dele.
Mesmo cristãos autênticos são exortados por isso a não permitirem que uma ira justificada passageira se transforme num estado doentio de alma que faz com que percam o domínio próprio e sejam dirigidos pela ira que estão sentindo, motivada por inveja, ciúme ou por qualquer outro tipo de pecado.
“26 Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira;
27 nem deis lugar ao Diabo.” (Ef 4.26, 27).
Nós observamos nestas palavras do apóstolo Paulo que o ato de deixar o sol se por sobre a nossa ira permite que demos lugar ao Diabo, dando-lhe acesso para perturbar a nossa paz.
Paulo está dizendo que com isso nós abrimos espaço para ele e o convidamos indiretamente com o nosso procedimento irado a exercer domínio sobre nós, de modo que as ações de Satanás têm a sua origem geralmente nos próprios pecados e loucuras dos homens.
Sabendo Saul, que Davi estava em sua casa com sua mulher Mical, enviou mensageiros para que o vigiassem e o matassem quando o dia amanhecesse.
Porém, Mical ajudou Davi a fugir por uma janela e colocou na cama, no lugar dele, uma estátua que ela cobriu com uma capa para enganar os seus perseguidores (v. 11 a 13).
Quando Saul enviou mensageiros para prenderem Davi, Mical mentiu dizendo que ele estava doente e acamado.
Saul mandou que o trouxessem com cama e tudo para que ele mesmo o matasse (v. 14, 15).
Mas quando os mensageiros viram que haviam sido enganados por Mical, e tendo Saul lhe interpelado porque havia deixado escapar o seu inimigo, ela mentiu para salvar a sua própria pele, dizendo que Davi lhe havia ameaçado de morte caso o entregasse nas mãos de Saul (v. 16, 17).
Davi tinha fugido para Ramá, onde residia o profeta Samuel. E juntamente com ele se dirigiram à casa de profetas, que no nosso texto está designada pela palavra Naiote, que como comentamos antes, significa habitação, casa, residência.
E nesta edificação havia uma congregação de profetas que profetizavam sob a presidência de Samuel (v. 18, 19).
E as coisas que são ditas nos versos 20 a 24 bem comprovam que o dom de profecia, como qualquer outro dom extraordinário do Espírito Santo, é realmente temporário e transitório, e pode ser concedido a qualquer pessoa, independentemente de serem ou não verdadeiros servos de Deus, e estes dons extraordinários são listados pelo apóstolo Paulo em I Coríntios 12 a 14, com exceção do caminho sobremodo excelente do amor que não é um dom extraordinário, mas a graça comum, assim chamada, porque é a mesma que está presente em todos os verdadeiros cristãos, promovendo uma ação transformadora em seus corações, e que está ligada à sua natureza, e na qual devem crescer e amadurecer.
Daí a surpresa de muitos que ouvirão de Cristo no dia do juízo que nunca os conheceu apesar de tudo o que profetizaram, dos demônios que expulsaram e dos milagres que  fizeram em Seu nome (Mt 7.22).
Não podemos esquecer que Judas estava entre os apóstolos e juntamente com eles expulsou demônios, curou enfermos, e até mesmo pode ter profetizado em nome de Cristo.
Esta passagem das Escrituras referente a Saul e aos mensageiros que ele enviou à casa de profetas (Naiote), bem demonstra esta possibilidade de que pessoas que não conheçam realmente ao Senhor possam profetizar conforme lhes seja concedido pelo Espírito Santo.
É nesta categoria que se inclui o próprio Balaão, nas ocasiões que Deus falou efetivamente por meio dele, para a sua própria ruína e perdição.
Nós vamos encontrar Saul, mais uma vez, dando ocasião a Deus de acrescentar mais juízos à sua vida, porque na sua obstinada perseguição a Davi enviou mensageiros à casa de profetas, para matá-lo, mas foram impedidos, porque o Espírito Santo vinha sobre eles e fazia com que  profetizassem.
Por fim, o próprio Saul se dirigiu à casa de profetas, mas também foi impedido de matar Davi, porque ficou profetizando de tal maneira, conforme o Espírito Santo operava nele, que chegou a se despir de suas vestes e ficou caído por terra todo um dia e noite, tal foi o êxtase em que ele ficou pelo modo como o Espírito Santo o tomou, e assim, enquanto debaixo de tal influência do Espírito, ele não poderia fazer qualquer mal a Davi.
O que deu ocasião a que se reforçasse o dito popular irônico que já circulava a seu respeito: “Está também Saul entre os profetas?”  (v. 24), como um indicador da perplexidade deles quanto ao fato de como podia um homem do seu caráter profetizar pela operação do Espírito Santo?
A razão desta possibilidade já foi comentada por nós anteriormente.
Muitos têm grandes dons e ainda nenhuma graça, profetizam no nome de Cristo e ainda são desconhecidos por Ele (Mt 7.22,23).



“1 Falou, pois, Saul a Jônatas, seu filho, e a todos os seus servos, para que matassem a Davi. Porém Jônatas, filho de Saul, estava muito afeiçoado a Davi.
2 Pelo que Jônatas o anunciou a Davi, dizendo: Saul, meu pai, procura matar-te; portanto, guarda-te amanhã pela manhã, fica num lugar oculto e esconde-te;
3 eu sairei e me porei ao lado de meu pai no campo em que estiveres; falarei acerca de ti a meu pai, verei o que há, e to anunciarei.
4 Então Jônatas falou bem de Davi a Saul, seu pai, e disse-lhe: Não peque o rei contra seu servo Davi, porque ele não pecou contra ti, e porque os seus feitos para contigo têm sido muito bons.
5 Porque expôs a sua vida e matou o filisteu, e o Senhor fez um grande livramento para todo o Israel. Tu mesmo o viste, e te alegraste; por que, pois, pecarias contra o sangue inocente, matando sem causa a Davi?
6 E Saul deu ouvidos à voz de Jônatas, e jurou: Como vive o Senhor, Davi não morrerá.
7 Jônatas, pois, chamou a Davi, contou-lhe todas estas palavras, e o levou a Saul; e Davi o assistia como dantes.
8 Depois tornou a haver guerra; e saindo Davi, pelejou contra os filisteus, e os feriu com grande matança, e eles fugiram diante dele.
9 Então o espírito maligno da parte do Senhor veio sobre Saul, estando ele sentado em sua casa, e tendo na mão a sua lança; e Davi estava tocando a harpa.
10 E Saul procurou encravar a Davi na parede, porém ele se desviou de diante de Saul, que fincou a lança na parede. Então Davi fugiu, e escapou naquela mesma noite.
11 Mas Saul mandou mensageiros à casa de Davi, para que o vigiassem, e o matassem pela manhã; porém Mical, mulher de Davi, o avisou, dizendo: Se não salvares a tua vida esta noite, amanhã te matarão.
12 Então Mical desceu Davi por uma janela, e ele se foi e, fugindo, escapou.
13 Mical tomou uma estátua, deitou-a na cama, pôs-lhe à cabeceira uma pele de cabra, e a cobriu com uma capa.
14 Quando Saul enviou mensageiros para prenderem a Davi, ela disse: Está doente.
15 Tornou Saul a enviá-los, para que vissem a Davi, dizendo-lhes: Trazei-mo na cama, para que eu o mate.
16 Vindo, pois, os mensageiros, eis que estava a estátua na cama, e a pele de cabra à sua cabeceira.
17 Então perguntou Saul a Mical: Por que assim me enganaste, e deixaste o meu inimigo ir e escapar? Respondeu Mical a Saul: Porque ele me disse: Deixa-me ir! Por que hei de matar-te?
18 Assim Davi fugiu e escapou; e indo ter com Samuel, em Ramá, contou-lhe tudo quanto Saul lhe fizera; foram, pois, ele e Samuel, e ficaram em Naiote.
19 E foi dito a Saul: Eis que Davi está em Naiote, em Ramá.
20 Então enviou Saul mensageiros para prenderem a Davi; quando eles viram a congregação de profetas profetizando, e Samuel a presidi-los, o Espírito de Deus veio sobre os mensageiros de Saul, e também eles profetizaram.
21 Avisado disso, Saul enviou outros mensageiros, e também estes profetizaram. Ainda terceira vez enviou Saul mensageiros, os quais também profetizaram.
22 Então foi ele mesmo a Rama e, chegando ao poço grande que estava em Sécu, perguntou: Onde estão Samuel e Davi? Responderam-lhe: Eis que estão em Naiote, em Ramá.
23 Foi, pois, para Naiote, em Ramá; e o Espírito de Deus veio também sobre ele, e ele ia caminhando e profetizando, até chegar a Naiote, em Ramá.


24 E despindo as suas vestes, ele também profetizou diante de Samuel; e esteve nu por terra todo aquele dia e toda aquela noite. Pelo que se diz: Está também Saul entre os profetas?” (I Sm 19.1-24)


I Samuel 20

Os Gigantes Emocionais que Enfrentamos

Nós temos neste 20º capítulo de I Samuel, um diálogo de dois homens honrados: Davi e Jônatas.
Este último mesmo sendo incitado pelo seu pai contra Davi, sob o argumento que caso o deixasse viver, ele tomaria a coroa que lhe pertencia por direito hereditário, não se deixou mover por este espírito incitador e manteve a sua dignidade muito acima destas águas turvas e lodosas do coração de seu pai.
Ele não o fez simplesmente porque tinha firmado uma aliança com Davi no dia em que ele matou Golias, mas sobretudo porque o amava com um amor santo e verdadeiro.
Era sem dúvida o amor ágape de Deus que o movia, porque o amor que procede do Senhor não busca o que é do seu próprio interesse, e não é invejoso ou ciumento, e tudo suporta e sofre, e deste modo, as palavras de Saul não fizeram qualquer eco na alma de Jônatas.
Como o amor não folga com a injustiça, senão com a verdade, jamais se colocaria ao lado da causa injusta e pecaminosa de seu pai, e ficaria firme na defesa da justiça e da verdade que estavam em Davi, pois sabia que ele não havia cometido nenhum pecado contra o rei, e muito pelo contrário, somente lhe tinha feito o bem, tanto pessoalmente, quanto nos assuntos relativos ao reino.
Assim, eles renovaram a aliança que haviam feito, e Jônatas sabendo que Davi viria certamente a ser o futuro rei de Israel, se submeteu humildemente à decisão de Deus relativa ao caso, e somente pediu a Davi que usasse de benevolência para com ele e para com os seus descendentes (v. 14-16), pois ele agora tinha a convicção de que realmente seu pai intentava o mal contra ele, coisa que Saul vinha escondendo de Jônatas até aquele momento, porque sabia que ele amava a Davi como à sua própria alma.
Davi foi digno o suficiente para ocultar de Jônatas as agressões que vinha sofrendo da parte de Saul, para não colocar um filho contra seu pai.
Ele somente agora lhe declararia o fato, porque Saul estava deliberadamente procurando matá-lo.
Deus fez de Jônatas para Davi um irmão na hora da adversidade (Pv 17.17).
Para revelar a Jônatas as verdadeiras intenções de seu pai, em relação a ele, Davi usou de um estratagema, pois faltou deliberadamente ao banquete que seria oferecido durante os dois dias em que Saul jantaria publicamente, por ocasião das solenidades da lua nova, quando eram oferecidos sacrifícios adicionais, e pediu que Jônatas dissesse a seu pai, caso perguntasse por ele, que teve que se dirigir à casa de Jessé, seu pai, em Belém, e ao ouvir tais palavras Saul muito se encolerizaria, pois devia ter planejado capturá-lo, enquanto se procedia à solenidade.
Saul muito se enfureceu contra Jônatas, quando ele tentou justificar a ausência de Davi, a ponto de ameaçá-lo de morte, pois sabia que estava lhe protegendo.
Eles haviam combinado um sinal para que Davi soubesse se Saul havia sido favorável ou não a ele, pois Jônatas lançaria suas flechas na direção em que Davi deveria se encontrar no dia aprazado, e caso dissesse ao moço que iria apanhar as flechas, que elas estavam para além do lugar em que ele se encontrava, era para que Davi soubesse que deveria fugir, porque Saul determinara matá-lo, e em caso contrário, se dissesse que as flechas estavam aquém do moço, seria porque Saul havia se mostrado favorável a ele.
E tendo uma vez feito o sinal combinado Davi não se expôs senão com o devido cuidado para que a sua presença não fosse denunciada, e assim pudesse se despedir de Jônatas, porque dali para a frente ele seria um fugitivo permanente de Saul.
Davi e Jônatas em sua despedida se beijaram mutuamente com ósculo santo e choraram, e o texto destaca que Davi chorou muito mais do que ele (v. 41).
Jônatas voltaria para a segurança de sua casa, mas Davi teria que viver dali em diante despojado de tudo quanto possuía, e a ter que viver como um fugitivo sobre a terra.
O sofrer esta grande injustiça e ingratidão de Saul estava sendo uma luta muito maior para ele do que a que havia travado com o gigante Golias.
Há gigantes espirituais e emocionais que são duros de serem vencidos, e com isto nós podemos entender o profundo clamor que encontramos nos Salmos de Davi, pedindo a Deus por justiça e que o consolasse dos muitos inimigos que perseguiam a sua alma justa, procurando destruí-la por causa do Seu grande amor pelo Senhor, demonstrado em sua vida piedosa e santa.


“1 Então fugiu Davi de Naiote, em Ramá, veio ter com Jônatas e lhe disse: Que fiz eu? qual é a minha iniquidade? e qual é o meu pecado diante de teu pai, para que procure tirar-me a vida?
2 E ele lhe disse: Longe disso! não hás de morrer. Meu pai não faz coisa alguma, nem grande nem pequena, sem que primeiro ma participe; por que, pois, meu pai me encobriria este negócio? Não é verdade.
3 Respondeu-lhe Davi, com juramento: Teu pai bem sabe que achei graça aos teus olhos; pelo que disse: Não saiba isto Jônatas, para que não se magoe. Mas, na verdade, como vive o Senhor, e como vive a tua alma, há apenas um passo entre mim e a morte.
4 Disse Jônatas a Davi: O que desejas tu que eu te faça?
5 Respondeu Davi a Jônatas: Eis que amanhã é a lua nova, e eu deveria sentar-me com o rei para comer; porém deixa-me ir, e esconder-me-ei no campo até a tarde do terceiro dia.
6 Se teu pai notar a minha ausência, dirás: Davi me pediu muito que o deixasse ir correndo a Belém, sua cidade, porquanto se faz lá o sacrifício anual para toda a parentela.
7 Se ele disser: Está bem; então teu servo tem paz; porém se ele muito se indignar, fica sabendo que ele já está resolvido a praticar o mal.
8 Usa, pois, de misericórdia para com o teu servo, porque o fizeste entrar contigo em aliança do Senhor; se, porém, há culpa em mim, mata-me tu mesmo; por que me levarias a teu pai?
9 Ao que respondeu Jônatas: Longe de ti tal coisa! Se eu soubesse que meu pai estava resolvido a trazer o mal sobre ti, não to descobriria eu?
10 Perguntou, pois, Davi a Jônatas: Quem me fará saber, se por acaso teu pai te responder asperamente?
11 Então disse Jônatas a Davi: Vem, e saiamos ao campo. E saíram ambos ao campo.
12 E disse Jônatas a Davi: O Senhor, Deus de Israel, seja testemunha! Sondando eu a meu pai amanhã a estas horas, ou depois de amanhã, se houver coisa favorável para Davi, eu não enviarei a ti e não to farei saber?
13 O Senhor faça assim a Jônatas, e outro tanto, se, querendo meu pai fazer-te mal, eu não te fizer saber, e não te deixar partir, para ires em paz; e o Senhor seja contigo, assim como foi com meu pai.
14 E não somente usarás para comigo, enquanto viver, da benevolência do Senhor, para que não morra,
15 como também não cortarás nunca da minha casa a tua benevolência, nem ainda quando o Senhor tiver desarraigado da terra a cada um dos inimigos de Davi.
16 Assim fez Jônatas aliança com a casa de Davi, dizendo: O Senhor se vingue dos inimigos de Davi.
17 Então Jônatas fez Davi jurar de novo, porquanto o amava; porque o amava com todo o amor da sua alma.
18 Disse-lhe ainda Jônatas: Amanhã é a lua nova, e notar-se-á a tua ausência, pois o teu lugar estará vazio.
19 Ao terceiro dia descerás apressadamente, e irás àquele lugar onde te escondeste no dia do negócio, e te sentarás junto à pedra de Ezel.
20 E eu atirarei três flechas para aquela banda, como se atirasse ao alvo.
21 Então mandarei o moço, dizendo: Anda, busca as flechas. Se eu expressamente disser ao moço: Olha que as flechas estão para cá de ti, apanha-as; então vem, porque, como vive o Senhor, há paz para ti, e não há nada a temer.
22 Mas se eu disser ao moço assim: Olha que as flechas estão para lá de ti; vai-te embora, porque o Senhor te manda ir.
23 E quanto ao negócio de que eu e tu falamos, o Senhor é testemunha entre mim e ti para sempre.
24 Escondeu-se, pois, Davi no campo; e, sendo a lua nova, sentou-se o rei para comer.
25 E, sentando-se o rei, como de costume, no seu assento junto à parede, Jônatas sentou-se defronte dele, e Abner sentou-se ao lado de Saul; e o lugar de Davi ficou vazio.
26 Entretanto Saul não disse nada naquele dia, pois dizia consigo: Aconteceu-lhe alguma coisa pela qual não está limpo; certamente não está limpo.
27 Sucedeu também no dia seguinte, o segundo da lua nova, que o lugar de Davi ficou vazio. Perguntou, pois, Saul a Jônatas, seu filho: Por que o filho de Jessé não veio comer nem ontem nem hoje?
28 Respondeu Jônatas a Saul: Davi pediu-me encarecidamente licença para ir a Belém,
29 dizendo: Peço-te que me deixes ir, porquanto a nossa parentela tem um sacrifício na cidade, e meu irmão ordenou que eu fosse; se, pois, agora tenho achado graça aos teus olhos, peço-te que me deixes ir, para ver a meus irmãos. Por isso não veio à mesa do rei.
30 Então se acendeu a ira de Saul contra Jônatas, e ele lhe disse: Filho da perversa e rebelde! Não sei eu que tens escolhido ao filho de Jessé para vergonha tua, e para vergonha de tua mãe?
31 Pois por todo o tempo em que o filho de Jessé viver sobre a terra, nem tu estarás seguro, nem o teu reino; pelo que envia agora, e traze-mo, porque ele há de morrer.
32 Ao que respondeu Jônatas a Saul, seu pai, e lhe disse: Por que há de morrer? que fez ele?
33 Então Saul levantou a lança, para o ferir; assim entendeu Jônatas que seu pai tinha determinado matar a Davi.
34 Pelo que Jônatas, todo encolerizado, se levantou da mesa, e no segundo dia do mês não comeu; pois se magoava por causa de Davi, porque seu pai o tinha ultrajado.
35 Jônatas, pois, saiu ao campo, pela manhã, ao tempo que tinha ajustado com Davi, levando consigo um rapazinho.
36 Então disse ao moço: Corre a buscar as flechas que eu atirar. Correu, pois, o moço; e Jônatas atirou uma flecha, que fez passar além dele.
37 Quando o moço chegou ao lugar onde estava a flecha que Jônatas atirara, gritou-lhe este, dizendo: Não está porventura a flecha para lá de ti?
38 E tornou a gritar ao moço: Apressa-te, anda, não te demores! E o servo de Jônatas apanhou as flechas, e as trouxe a seu senhor.
39 O moço, porém, nada percebeu; só Jônatas e Davi sabiam do negócio.
40 Então Jônatas deu as suas armas ao moço, e lhe disse: Vai, leva-as à cidade.
41 Logo que o moço se foi, levantou-se Davi da banda do sul, e lançou-se sobre o seu rosto em terra, e inclinou-se três vezes; e beijaram-se um ao outro, e choraram ambos, mas Davi chorou muito mais.
42 E disse Jônatas a Davi: Vai-te em paz, porquanto nós temos jurado ambos em nome do Senhor, dizendo: O Senhor seja entre mim e ti, e entre a minha descendência e a tua descendência perpetuamente.


43 Então Davi se levantou e partiu; e Jônatas entrou na cidade.” (I Sm 20.1-43)


I Samuel 21

Davi Fugindo da Perseguição de Saul

Depois de ter se despedido de Jônatas, Davi foi para Nobe, uma das cidades dos sacerdotes, que eram treze ao todo (Js 21.19).
Neste capítulo 21º de I Samuel, que estaremos comentando, nós vemos que Davi, apesar de todas as qualidades de que estava dotado o seu espírito, era também um homem sujeito às fraquezas, e nós o vemos mentindo ao sacerdote Aimeleque em Nobe, dizendo que estava em missão secreta, a mando de Saul, e provavelmente ele fizera isto porque se achava ali naquele lugar um edomita chamado Doegue, que era o maioral dos pastores de Saul (v. 7).
Estando Davi faminto e também os homens que o acompanhavam, pediu comida ao sacerdote e este lhe deu os cinco pães, que haviam sido consagrados ao Senhor, os pães da proposição que eram colocados na mesa dos pães do tabernáculo, sob a condição de que ele e seus homens não estivessem imundos cerimonialmente, por haver ainda neles alguma polução de um possível contato com mulheres, e Davi lhe disse que era costume dele e de seus homens não tocarem em mulher quando saíam em campanha (v. 3-6)
É bem provável que nesta ocasião, toda a estrutura do tabernáculo havia sido transferida de Siló para Nobe, sem a arca, que continuava em Quiriate-Jearim, e isto em razão de Siló ter sido abandonada pelo Senhor.
É também provável que Samuel tenha recebido ordem direta do Senhor para proceder a tal transferência para indicar de modo visível que havia de fato rejeitado a Siló.
Davi estava recebendo o seu espinho na carne tal como o apóstolo Paulo recebera o dele, para o mesmo fim de não se ensoberbecer diante das grandes maravilhas que o Senhor estava fazendo e que ainda faria através dele.
Ele é deixado à mercê das circunstâncias difíceis que o rodeavam, e ele se sente transtornado a ponto de buscar refúgio entre os próprios inimigos de Israel, uma vez que estava sendo declarado por Saul como sendo um traidor do seu povo, por ter deserdado de suas obrigações, como um dos chefes do exército de Israel.
Davi não havia desertado, mas certamente Saul estava espalhando esta falsa notícia enquanto ocultava a verdadeira causa da fuga de Davi, que era a sua determinação de que o mataria injusta e covardemente.
Por certo, as perseguições que empreenderia contra Davi deveriam ser justificadas por ele perante o povo como a busca de um desertor e traidor (22.8).
Davi não pôde sequer levar qualquer arma consigo e por isso retomou a espada de Golias, que se encontrava com os sacerdotes em Nobe, e partiu para Gate, exatamente a cidade dos filisteus à qual pertencia Golias, e ele vai ter com o rei filisteu chamado Aquis, e como os servos do rei desconfiavam de que ele era o Davi do qual se dizia ter ferido os seus dez milhares, e Saul os seus milhares, ele teve muito medo de ser descoberto no meio dos inimigos de Israel, e passou a se fingir de louco, e saiu-se tão bem em sua representação teatral que convenceu ao próprio Áquis que tinha de fato problemas mentais (v. 10-15).
E tendo conseguido escapar de ser identificado pelos filisteus, Davi retirou-se dali e foi buscar refúgio na caverna de Adulão, como veremos no capitulo seguinte.
Para podermos conhecer algo mais do estado de espírito em que Davi se encontrava, quando na caverna de Adulão, e como ele buscou auxílio em Deus naquela ocasião, devemos ler o Salmo 142,  que ele compôs quando estava na citada caverna.
Nós vemos através da exposição deste Salmo que não havia nenhuma contradição entre o fato de Davi ter sido ungido a mando de Deus para ser rei de Israel e toda a situação que Deus estava permitindo que lhe sobreviesse, pois até mesmo em suas dificuldades e tribulações o Senhor estava cumprindo todos os Seus propósitos em relação à vida de Davi, de modo que ele viesse a ser um rei justo e compassivo, que se apiedasse dos fracos e perseguidos, por causa das experiências que ele estava vivendo.
Além disso ele estava aprendendo o quão duro é ser perseguido, de maneira que quando estivesse no trono, não viria a perseguir injustamente a qualquer pessoa, pois estava aprendendo em sua própria experiência pessoal, quão pecaminosa é tal atitude aos olhos de Deus, e quão afastada ela está de um espírito verdadeiramente reto e justo.
Devemos dizer numa palavra final para sermos justos com Davi, que a par de toda o transtorno que havia sentido em razão de suas tribulações, nós vemos que continuava no pleno exercício de suas faculdades, e nada havia mudado em seu espírito quando mudou o seu comportamento e se fingiu de louco na presença de Aquis, rei de Gate, como bem podemos observar no Salmo 34 que ele compôs naquela ocasião,
Além disso, as duras experiências de Davi para que fosse aperfeiçoado em seu aprendizado para o exercício de uma sábia liderança, não terminariam aqui com as perseguições de Saul.
Ele aprenderia também a dura lição de ter que suportar a ingratidão dos homens, especialmente no caso dos cidadãos de Queila e dos zifeus, como veremos adiante, e ele demonstrou em outros Salmos que compôs nestas ocasiões, que havia de fato aprendido que não se deve confiar na instabilidade da natureza terrena, mas somente no Senhor, porque somente Ele é inteiramente fiel, santo e justo.




“1 Então veio Davi a Nobe, ao sacerdote Aimeleque, o qual saiu, tremendo, ao seu encontro, e lhe perguntou: Por que vens só, e ninguém contigo?
2 Respondeu Davi ao sacerdote Aimeleque: O rei me encomendou um negócio, e me disse: Ninguém saiba deste negócio pelo qual eu te enviei, e o qual te ordenei. Quanto aos mancebos, apontei-lhes tal e tal lugar.
3 Agora, pois, que tens à mão? Dá-me cinco pães, ou o que se achar.
4 Ao que, respondendo o sacerdote a Davi, disse: Não tenho pão comum à mão; há, porém, pão sagrado, se ao menos os mancebos se têm abstido das mulheres.
5 E respondeu Davi ao sacerdote, e lhe disse: Sim, em boa fé, as mulheres se nos vedaram há três dias; quando eu saí, os vasos dos mancebos também eram santos, embora fosse para uma viagem comum; quanto mais ainda hoje não serão santos os seus vasos?
6 Então o sacerdote lhe deu o pão sagrado; porquanto não havia ali outro pão senão os pães da proposição, que se haviam tirado de diante do Senhor no dia em que se tiravam para se pôr ali pão quente.
7 Ora, achava-se ali naquele dia um dos servos de Saul, detido perante o Senhor; e era seu nome Doegue, edomita, chefe dos pastores de Saul.
8 E disse Davi a Aimeleque: Não tens aqui à mão uma lança ou uma espada? porque eu não trouxe comigo nem a minha espada nem as minhas armas, pois o negócio do rei era urgente.
9 Respondeu o sacerdote: A espada de Golias, o filisteu, a quem tu feriste no vale de Elá, está aqui envolta num pano, detrás da estola sacerdotal; se a queres tomar, toma-a, porque não há outra aqui senão ela. E disse Davi: Não há outra igual a essa; dá-ma.
10 Levantou-se, pois, Davi e fugiu naquele dia de diante de Saul, e foi ter com Áquis, rei de Gate.
11 Mas os servos de Áquis lhe perguntaram: Este não é Davi, o rei da terra? não foi deste que cantavam nas danças, dizendo: Saul matou os seus milhares, mas Davi os seus dez milhares?
12 E Davi considerou estas palavras no seu coração, e teve muito medo de Áquis, rei de Gate.
13 Pelo que se contrafez diante dos olhos deles, e fingiu-se doido nas mãos deles, garatujando nas portas, e deixando correr a saliva pela barba.
14 Então disse Áquis aos seus servos: Bem vedes que este homem está louco; por que mo trouxestes a mim?


15 Faltam-me a mim doidos, para que trouxésseis a este para fazer doidices diante de mim? há de entrar este na minha casa?” (I Sm 21.1-15)


I Samuel 22

A Sede de Sangue de Saul

Como nós vimos no comentário do capítulo precedente, Davi havia se refugiado na caverna de Adulão, quando deixou a cidade de Nobe.
O presente capítulo 22º de I Samuel, que estaremos comentando, começa com Davi na citada caverna e que seus pais e irmãos vieram ter com ele naquele lugar (v. 1), e que se juntaram a ele todos os que estavam em aperto, todos os endividados e amargurados de espírito, cerca de quatrocentos homens, que deveriam também estar sob algum tipo de ameaça de Saul, assim como também o estava agora a família de Davi (v. 2).
E deste modo, ele começa o seu governo sobre os homens de Israel pelos injustiçados, desamparados, marginalizados.
Nisto ele é tipo de Jesus, que governa sobre os pecadores e especialmente sobre os que choram, sobre os perseguidos, sobre os que têm fome e sede de justiça.
Um rei segundo o coração de Deus não se isolará no conforto do seu palácio, de onde passará apenas a dar ordens tirânicas e autoritariamente, mas será alguém que estará junto do Seu povo, sofrendo e lutando juntamente com ele as batalhas contra o reino espiritual da maldade.
Era exatamente isto que Davi estava aprendendo das circunstâncias que estava vivendo.
Ele terá que se humilhar para prover segurança para os seus pais, e por isso teve que pedir a um rei de uma terra estrangeira, o rei de Moabe, que cuidasse deles, até que soubesse o que Deus viria a fazer da sua vida (v. 3, 4).
Nós vemos que o profeta Gade o acompanhava na ocasião do seu período de fuga (v. 5), o qual, provavelmente, por uma revelação divina aconselhou Davi a deixar a segurança da terra de Moabe, e que voltasse para a tribo de Judá, na qual ficava a sua cidade de Belém (v. 5). E atendendo às suas palavras, Davi se dirigiu para lá e foi se refugiar no bosque de Herete.
Saul estava acusando Davi injustamente de estar conspirando contra a sua vida e acusou o seu próprio filho Jônatas, quanto a ter feito uma aliança com Davi neste sentido.
Aos seus próprios olhos, a sua causa era justa, porque, afinal ele era o rei e havia sido ungido a mando de Deus para ser rei sobre todo Israel.
Como poderia o filho de Jessé se levantar contra ele daquela maneira? No entanto Davi sempre lhe fora leal, e aquela acusação não era procedente de modo nenhum.
Tal era a lealdade de Davi a Saul que o sacerdote Aimeleque testemunhou em favor dela na presença de Saul, com o risco de sua própria vida, e ele foi inteiramente verdadeiro quando lhe disse que nada sabia sobre o assunto de que Davi esta fugindo do rei, porque como vimos antes, Davi lhe havia mentindo que estava em missão secreta naquela região a mando de Saul.
Mas a verdade de Aimeleque soou aos ouvidos de Saul como uma mentira, em razão do grande ódio que ele vinha alimentando contra Davi, e considerou que todos os sacerdotes de Nobe estavam aliados a Davi na sua alegada conspiração contra ele.
Com isso, viria a cometer uma grande injustiça e transgressão, pois não somente ordenou a morte de todos os sacerdotes, e não somente matou oitenta e cinco deles, pelas mãos de Doegue, o edomita, tendo escapado apenas um, chamado Abiatar, filho de Aimeleque, que fugira e foi ter com Davi, como também matou à espada homens, mulheres, meninos e até mesmo crianças de peito, bois, jumentos e ovelhas daquela cidade.
O rei que deveria cuidar da segurança do povo do Senhor estava fazendo com grande injustiça, exatamente o oposto do que exigia o seu cargo.
Isto não ficaria sem a devida resposta da parte de Deus, pois os que matam de tal modo injusto, pela espada também serão mortos, como viria a ocorrer mais tarde com Saul, em razão do juízo que o Senhor determinara sobre ele.
Doegue não somente denunciou a Saul que Davi estivera em Nobe com os sacerdotes (v. 9), quando Saul se encontrava em sua cidade de Gibeá, na tribo de Benjamim, como também se encarregou de matar os oitenta e cinco sacerdotes, que compareceram à presença de Saul em Gibeá, quando os seus soldados israelitas se negaram a fazê-lo por temerem ao Senhor.
O temor que faltava ao rei foi achado nos seus servos.
Isto mostra que a sede de sangue de Saul não teria mais limites por causa do seu ódio a Davi, tanto que ele não se satisfez simplesmente em matar os sacerdotes, como também ordenou que suas tropas se dirigissem a Nobe, para fazer aquela grande assolação à cidade sacerdotal, a que já nós referimos anteriormente.
Os israelitas não somente se negaram a informar a Saul o paradeiro de Davi, como se negaram a matar os sacerdotes do Senhor.
Entretanto, um edomita fez a ambos porque aqueles que não conhecem o temor de Deus não têm as suas consciências perturbadas pelas injustiças que possam cometer, porque a falta do conhecimento do Senhor produz tal cauterização da consciência e dureza de coração.  
Estes sacerdotes foram mortos por causa do pecado dos seus pais, porque todos eles eram da casa de Eli, sobre os quais Deus havia pronunciado um juízo, dizendo que todos os da sua casa viriam a ser mortos pela espada, e que não chegariam a envelhecer (I Sm 2.31-33; 3.11-13).
Assim, nós temos uma grande injustiça e impiedade de Saul ao fazer o que ele fez, mas Deus continuou justo ao permitir que tal acontecesse por causa deste juízo que havia sido pronunciado contra a grande impiedade que a casa de Eli praticou contra o ofício sacerdotal.
As consequências do pecado deles estava ainda alcançando os seus descendentes e familiares pertencentes à casa de Eleazar, de modo que todo Israel poderia entender o grande temor e reverência que devia ser prestado ao ofício sagrado do tabernáculo.
 Quando Doegue denunciou Davi a Saul, ele escreveu as palavras do Salmo 52, que revelam a sua inteira confiança na justiça de Deus para livrá-lo e para trazer juízos sobre os ímpios que intentavam contra a sua vida.
Nós vemos que a providência divina inspirou tais palavras de Davi, sem que ele citasse o nome de Doegue, que foi quem inspirou na verdade a escrita deste Salmo, mas a verdade que ele contém é uma verdade universal e não apenas uma verdade relativa a uma só pessoa ímpia, no caso a de Doegue.



“1 Depois Davi, retirando-se desse lugar, escapou para a caverna de Adulão. Quando os seus irmãos e toda a casa de seu pai souberam disso, desceram ali para ter com ele.
2 Ajuntaram-se a ele todos os que se achavam em aperto, todos os endividados, e todos os amargurados de espírito; e ele se fez chefe deles; havia com ele cerca de quatrocentos homens.
3 Dali passou Davi para Mizpe de Moabe; e disse ao rei de Moabe: Deixa, peço-te, que meu pai e minha mãe fiquem convosco, até que eu saiba o que Deus há de fazer de mim.
4 E os deixou com o rei de Moabe; e ficaram com ele por todo o tempo que Davi esteve neste lugar seguro.
5 Disse o profeta Gade a Davi: Não fiques neste lugar seguro; sai, e entra na terra de Judá. Então Davi saiu, e foi para o bosque de Herete.
6 Ora, ouviu Saul que já havia notícias de Davi e dos homens que estavam com ele. Estava Saul em Gibeá, sentado debaixo da tamargueira, sobre o alto, e tinha na mão a sua lança, e todos os seus servos estavam com ele.
7 Então disse Saul a seus servos que estavam com ele: Ouvi, agora, benjamitas! Acaso o filho de Jessé vos dará a todos vós terras e vinhas, e far-vos-á a todos chefes de milhares e chefes de centenas,
8 para que todos vós tenhais conspirado contra mim, e não haja ninguém que me avise de ter meu filho, feito aliança com o filho de Jessé, e não haja ninguém dentre vós que se doa de mim, e me participe o ter meu filho sublevado meu servo contra mim, para me armar ciladas, como se vê neste dia?
9 Então respondeu Doegue, o edomita, que também estava com os servos de Saul, e disse: Vi o filho de Jessé chegar a Nobe, a Aimeleque, filho de Aitube;
10 o qual consultou por ele ao Senhor, e lhe deu mantimento, e lhe deu também a espada de Golias, o filisteu.
11 Então o rei mandou chamar a Aimeleque, o sacerdote, filho de Aitube, e a toda a casa de seu pai, isto é, aos sacerdotes que estavam em Nobe; e todos eles vieram ao rei.
12 E disse Saul: Ouve, filho de Aitube! E ele lhe disse: Eis-me aqui, senhor meu.
13 Então lhe perguntou Saul: Por que conspirastes contra mim, tu e o filho de Jessé, pois lhe deste pão e espada, e consultaste por ele a Deus, para que ele se levantasse contra mim a armar-me ciladas, como se vê neste dia?
14 Ao que respondeu Aimeleque ao rei dizendo: Quem há, entre todos os teus servos, tão fiel como Davi, o genro do rei, chefe da tua guarda, e honrado na tua casa?
15 Porventura é de hoje que comecei a consultar por ele a Deus? Longe de mim tal coisa! Não impute o rei coisa nenhuma a mim seu servo, nem a toda a casa de meu pai, pois o teu servo não soube nada de tudo isso, nem muito nem pouco.
16 O rei, porém, disse: Hás de morrer, Aimeleque, tu e toda a casa de teu pai.
17 E disse o rei aos da sua guarda que estavam com ele: Virai-vos, e matai os sacerdotes do Senhor, porque também a mão deles está com Davi, e porque sabiam que ele fugia e não mo fizeram saber. Mas os servos do rei não quiseram estender as suas mãos para arremeter contra os sacerdotes do Senhor.
18 Então disse o rei a Doegue: Vira-te e arremete contra os sacerdotes. Virou-se, então, Doegue, o edomita, e arremeteu contra os sacerdotes, e matou naquele dia oitenta e cinco homens que vestiam éfode de linho.
19 Também a Nobe, cidade desses sacerdotes, passou a fio de espada; homens e mulheres, meninos e criancinhas de peito, e até os bois, jumentos e ovelhas passou a fio de espada.
20 Todavia um dos filhos de Aimeleque, filho de Aitube, que se chamava Abiatar, escapou e fugiu para Davi.
21 E Abiatar anunciou a Davi que Saul tinha matado os sacerdotes do Senhor.
22 Então Davi disse a Abiatar: Bem sabia eu naquele dia que, estando ali Doegue, o edomita, não deixaria de o denunciar a Saul. Eu sou a causa da morte de todos os da casa de teu pai.


23 Fica comigo, não temas; porque quem procura a minha morte também procura a tua; comigo estarás em segurança.” (I Sm 22.1-23)



I Samuel 23

Bênçãos Pagas com Ingratidões

Nós vemos neste 23º capítulo de I Samuel, que estaremos comentando, que Davi demonstrou o seu sincero desejo de expor a sua vida para o bem-estar do Seu povo, revelando o seu espírito público e heróico, quando mesmo em meio às perseguições de Saul, se dispôs a livrar a cidade israelita de Queila de um ataque dos filisteus.
Ele havia consultado o Senhor para saber se deveria combater os filisteus em Queila, e  Ele lhe disse que deveria fazê-lo ferindo os filisteus e salvando aquela cidade.
Mas seus homens protestaram com ele a respeito da condição em que se encontravam, pois temiam sofrer uma investida de Saul numa exposição como aquela.
Davi consultou o Senhor mais uma vez, certamente não porque duvidasse da primeira resposta dEle, porque Davi era um homem de fé, mas para dar aos seus homens a convicção que de fato o Senhor havia feito tal determinação.
E a resposta que foi dada nesta segunda consulta garantia que os filisteus seriam entregues nas mãos deles. E com isto se dispuseram à peleja.
  Há uma citação no sexto versículo que quando o sacerdote Abiatar viera a ter com Davi na cidade de Queila, ele o fizera com uma estola sacerdotal na mão.
Esta citação parece estar deslocada no que é dito antes e depois, mas ela foi aqui inserida para indicar que foi provavelmente por meio de Abiatar, que Deus fora consultado, conforme o confirma os versos 9 e 10, pois depois de ter livrado a Queila, e quando soube que Saul estava se dirigindo para lá com suas tropas, para matar a Davi e seus homens, que nesta ocasião haviam subido a seiscentos, ele mandou Abiatar trazer a estola e consultar a Deus, para saber se Saul desceria efetivamente a Queila, e se os cidadãos daquela cidade o entregariam nas mãos de Saul. E o Senhor respondeu afirmativamente a ambas perguntas.
Nem sempre se pode contar com a gratidão dos homens, quando os interesses deles estão correndo algum risco.
Tal se dera com os gadarenos que expulsaram Jesus do território deles, por causa do prejuízo que poderiam continuar sofrendo em suas propriedades pela ação dos demônios que ele estava expulsando.
Para manterem o seu conforto e segurança mundanos eles preferiram ficar sem a bênção de Deus.
O mesmo estava acontecendo com Davi, em relação aos habitantes de Queila.
Apesar de terem sido livrados por ele do ataque dos filisteus, temiam uma possível represália de Saul contra eles, caso não entregassem Davi em suas mãos, e com isto estariam imitando os homens de Judá, nos dias de Sansão, que o amarraram para entregá-lo aos filisteus, por temerem uma represália deles caso acobertassem Sansão, que vinha agindo como um grande inimigo dos filisteus.
Isto é uma coisa deplorável, mas muito comum de ser vista entre os homens.
Foi por esta mesma razão que Jesus foi entregue pelo seu próprio povo, os judeus, aos romanos, para ser crucificado.
Ele somente lhes fizera bem durante todo o seu ministério terreno, e pagaram o bem que receberam com o mal, por temerem uma represália dos romanos contra eles.
A causa da justiça sempre sofrerá quando os homens buscarem o próprio interesse deles.
Apesar da triste realidade que se vê no mundo político, porque os homens sempre se ligarão em sua grande maioria àqueles que detêm o poder em suas mãos, ainda que a causa da justiça e da verdade possam sofrer os maiores danos, este livramento produzido por Davi em Queila confirmaria o seu espírito público e heróico, e o seu total desinteresse em colocar a sua vida em risco pela causa de Deus e do Seu povo.
Isto contribuiria grandemente para que  viesse a ser reconhecido pelo povo como aquele que deveria realmente reinar sobre eles.
Ele era o escolhido do Senhor, mas se faria também necessário contar com a aprovação dos israelitas, e foi por isso que Deus ordenou que Ele libertasse os cidadãos de Queila, independentemente de saber que eles o entregariam assim mesmo nas mãos de Saul.
A propósito, inclusive Saul foi reconhecido como rei em Israel, quando se dispôs a libertar os cidadãos de Gileade, do ataque que seria despejado sobre eles pelos amonitas.
Aquela dificuldade havia contribuído para o reconhecimento dele como rei, e as dificuldades que Davi estava vencendo também contribuiriam para o mesmo propósito.
Foi por isso que o profeta Gade falou a Davi que ele deveria retornar das terras de Moabe para Judá, pois Deus começaria a produzir as condições que o conduziriam ao trono, e uma delas foi esta ação dele para libertar os habitantes de Queila.
Então as ingratidões do homens, não podem interferir nos projetos de Deus em relação às nossas vidas.
O sacerdote Abiatar é visto neste capítulo servindo fielmente a Davi, e ele foi estabelecido como sacerdote até o início do reinado de Salomão, quando foi substituído por Zadoque, por ter sido acusado de traição.
Com isto se deu cumprimento cabal à palavra de Deus em relação à casa de Eli, porque sendo o que restara da sua descendência, veio por fim a ser afastado do sacerdócio, conforme Deus havido sentenciado em relação à casa de Eli, de que removeria o sacerdócio dela.
De Queila, Davi partiu sem um rumo definido (v. 13), e veio dar na região montanhosa do deserto de Zife, e ainda que Saul o buscasse todos os dias, Deus não o entregou nas suas mãos (v. 14).
E quando Davi se encontrava numa região do deserto de Zife, chamada Horesa, Jônatas veio ao seu encontro para fazer uma aliança com ele perante o Senhor, pois Jônatas viera com o propósito de fortalecer a confiança de Davi em Deus (v. 16), e lhe disse da sua convicção de que não deveria temer a mão de seu pai, Saul, porque sabia que Davi viria a reinar sobre Israel, e que ele havia renunciado à coroa em favor de Davi diante de seu próprio pai.
E Jônatas esperava ser o segundo homem em importância no reino, e não sabia que o Senhor tinha outros planos para ele, pois viria também a morrer numa batalha contra os filisteus, juntamente com seu pai, de modo que Davi não ficaria vinculado à casa de Saul, quando assumisse o reino, e isto certamente seria feito não porque Jônatas não reunisse qualidades morais e espirituais para estar ao seu lado, mas pela confusão política e a dificuldade que seria a de o povo aceitar que Jônatas, que seria o sucessor legal ao trono, ficar sob as ordens de Davi.
Então o próprio Deus estava se encarregando de acomodar as coisas de tal forma, que não houvesse divisões sérias e profundas que se prolongariam durante todo o reinado de Davi.
Nós veremos que a par de todas estas providências, não foi com pouca resistência, que Davi assumiu o reino de Israel, tanto que  teve que reinar em princípio, somente sobre Judá, em Hebrom, por sete anos, até que fosse reconhecido por todo o povo de Israel como rei de toda a nação.
 Movidos pelo mesmo sentimento dos cidadãos de Queila, os habitantes do deserto de Zife, os zifeus, também denunciaram a presença de Davi entre eles a Saul, mas quando este empreendeu perseguição a Davi e aos seus seiscentos homens, estes já haviam se deslocado para o deserto de Maom, e ainda embriagado com o sangue dos sacerdotes de Nobe e com uma sede ainda maior de sangue, Saul insistiu na perseguição, e foi também para o deserto de Maom, e enquanto ele e seus homens percorriam um lado do monte em que Davi se encontrava, este com seus homens se deslocavam no lado oposto do monte, de modo que um encontro entre eles seria inevitável, e mais uma vez nós vemos a providência de Deus operando, pois certamente o Senhor incitara os filisteus a atacarem Israel, e isto fez com que Saul tivesse que suspender e adiar a perseguição a Davi, motivo porque aquele lugar foi chamado de Selá-Hamalecote, que é uma palavra hebraica composta que significa Pedra de Escape (v. 28).
Tendo recebido tal livramento da parte do Senhor, Davi não  tentou a Deus permanecendo ali, e se dirigiu para uma região mais segura chamada En-Gedi (v. 29).
Enquanto estava sendo duramente espiado pelos zifeus para ser denunciado a Saul em todo aquele grande deserto de Judá, ele escreveu as palavras do Salmo 63, no qual vemos que a sua confiança permanecia inabalável em Deus, enquanto homens perversos e interesseiros se levantavam contra ele.
Ele afirma a sua inteira confiança na justiça de Deus para recompensar o justo e castigar os perversos.


“1 Ora, foi anunciado a Davi: Eis que os filisteus pelejam contra Queila e saqueiam as eiras.
2 Pelo que consultou Davi ao Senhor, dizendo: Irei eu, e ferirei a esses filisteus? Respondeu o Senhor a Davi: Vai, fere aos filisteus e salva a Queila.
3 Mas os homens de Davi lhe disseram: Eis que tememos aqui em Judá, quanto mais se formos a Queila, contra o exército dos filisteus!
4 Davi, pois, tornou a consultar ao Senhor, e o Senhor lhe respondeu: Levanta-te, desce a Queila, porque eu hei de entregar os filisteus na tua mão.
5 Então Davi partiu com os seus homens para Queila, pelejou contra os filisteus, levou-lhes o gado, e fez grande matança entre eles; assim Davi salvou os moradores de Queila.
6 Ora, quando Abiatar, filho de Aimeleque, fugiu para Davi, a Queila, desceu com uma estola sacerdotal na mão.
7 Então foi anunciado a Saul que Davi tinha ido a Queila; e disse Saul: Deus o entregou nas minhas mãos; pois está encerrado, porque entrou numa cidade que tem portas e ferrolhos.
8 E convocou todo o povo à peleja, para descerem a Queila, e cercar a Davi e os seus homens.
9 Sabendo, pois, Davi que Saul maquinava este mal contra ele, disse a Abiatar, sacerdote: Traze aqui a estola sacerdotal.
10 E disse Davi: Ó Senhor, Deus de Israel, teu servo acaba de ouvir que Saul procura vir a Queila, para destruir a cidade por causa de mim.
11 Entregar-me-ão os cidadãos de Queila na mão dele? descerá Saul, como o teu servo tem ouvido? Ah, Senhor Deus de Israel! faze-o saber ao teu servo. Respondeu o Senhor: Descerá.
12 Disse mais Davi: Entregar-me-ão os cidadãos de Queila, a mim e aos meus homens, nas mãos de Saul? E respondeu o Senhor: Entregarão.
13 Levantou-se, então, Davi com os seus homens, cerca de seiscentos, e saíram de Queila, e foram-se aonde puderam. Saul, quando lhe foi anunciado que Davi escapara de Queila, deixou de sair contra ele.
14 E Davi ficou no deserto, em lugares fortes, permanecendo na região montanhosa no deserto de Zife. Saul o buscava todos os dias, porém Deus não o entregou na sua mão.
15 Vendo, pois, Davi que Saul saíra à busca da sua vida, esteve no deserto de Zife, em Hores.
16 Então se levantou Jônatas, filho de Saul, e foi ter com Davi em Hores, e o confortou em Deus;
17 e disse-lhe: Não temas; porque não te achará a mão de Saul, meu pai; porém tu reinarás sobre Israel, e eu serei contigo o segundo; o que também Saul, meu pai, bem sabe.
18 E ambos fizeram aliança perante o Senhor; Davi ficou em Hores, e Jônatas, voltou para sua casa.
19 Então subiram os zifeus a Saul, a Gibeá, dizendo: Não se escondeu Davi entre nós, nos lugares fortes em Hores, no outeiro de Haquilá, que está à mão direita de Jesimom?
20 Agora, pois, ó rei, desce apressadamente, conforme todo o desejo da tua alma; a nós nos cumpre entregá-lo nas mãos do rei.
21 Então disse Saul: Benditos sejais vós do Senhor, porque vos compadecestes de mim:
22 Ide, pois, informai-vos ainda melhor; sabei e notai o lugar que ele frequenta, e quem o tenha visto ali; porque me foi dito que é muito astuto.
23 Pelo que atentai bem, e informai-vos acerca de todos os esconderijos em que ele se oculta; e então voltai para mim com notícias exatas, e eu irei convosco. E há de ser que, se estiver naquela terra, eu o buscarei entre todos os milhares de Judá.
24 Eles, pois, se levantaram e foram a Zife adiante de Saul; Davi, porém, e os seus homens estavam no deserto de Maom, na campina ao sul de Jesimom.
25 E Saul e os seus homens foram em busca dele. Sendo isso anunciado a Davi, desceu ele à penha que está no deserto de Maom. Ouvindo-o Saul, foi ao deserto de Maom, a perseguir Davi.
26 Saul ia de uma banda do monte, e Davi e os seus homens da outra banda. E Davi se apressava para escapar, por medo de Saul, porquanto Saul e os seus homens iam cercando a Davi e aos seus homens, para os prender.
27 Nisso veio um mensageiro a Saul, dizendo: Apressa-te, e vem, porque os filisteus acabam de invadir a terra.
28 Pelo que Saul voltou de perseguir a Davi, e se foi ao encontro dos filisteus. Por esta razão aquele lugar se chamou Selá-Hamalecote.
29 Depois disto, Davi subiu e ficou nos lugares fortes de En-Gedi.” (I Sm 23.1-29)




I Samuel 24

O Caráter Leal e Aprovado de Davi

Nós vemos no 24º capítulo de I Samuel, que Saul pensava que Davi não poderia escapar de modo algum de sua mão em En-Gedi, mas a providência de Deus fez com que ocorresse exatamente o oposto disto, pois foi ele quem veio a ficar à mercê das mãos de Davi, porque entrou sozinho numa caverna com o propósito de aliviar o ventre, e era justamente naquela caverna que Davi estava escondido com seus homens.
Mas Davi poupou a sua vida e apenas cortou a orla da veste de Saul, para lhe provar que tivera a sua vida ao alcance da sua mão e no entanto, não aproveitou a ocasião para matá-lo, pois sabia que isto não era para ser decidido por ele, senão pelo próprio Deus, que havia ungido a Saul como rei.
Davi teve discernimento suficiente para perceber que a profecia que lhe foi dirigida quanto ao fato de que Saul seria entregue em suas mãos para matá-lo, era uma profecia falsa, pois eis o teor das palavras que lhe foram ditas pelos seus homens na ocasião:
“Eis aqui o dia do qual o Senhor te disse: Eis que entrego o teu inimigo nas tuas mãos; far-lhe-ás como parecer bem aos teus olhos.” (v. 4).
Era uma profecia falsa porque Deus nunca agirá contra a verdade revelada na Sua Palavra.
Na Lei de Moisés está dito que nenhum israelita deveria agir contra o príncipe do seu povo. Ainda que se alguém viesse a fazê-lo, certamente não o estaria fazendo com a aprovação do Senhor, e também não seria isentado do seu juízo.
Foi por conhecer tal lei, que Paulo temeu quando disse ao sumo-sacerdote Ananias que Deus o feriria, e se desculpou por suas palavras, ainda que o sumo-sacerdote estivesse agindo de modo injusto mandando que batessem na boca do apóstolo (At 23.3-5), e as palavras que ele citou na ocasião para se justificar foi a sua ignorância de que ele era sumo-sacerdote, e citou a referida lei de Moisés que proibia qualquer ato desrespeitoso contra aqueles que fossem investidos por Ele em posição de autoridade: “Aos juízes não maldirás, nem amaldiçoarás ao governador do teu povo.” (Êx 22.28).
Assim, além do conhecimento que Davi tinha da Lei do Senhor, ele era um homem dirigido pelo Espírito Santo, e foi por esta intimidade com o Senhor e o conhecimento da Sua Palavra que ele pôde sentir o seu coração doer quando cortou o manto de Saul, quanto mais não sentiria a desaprovação de Deus se o matasse?
Para não errarmos nas coisas relativas a Deus é necessário tanto conhecer as Escrituras quanto o Seu poder.
Se a Lei de Moisés proibia o falar mal e o amaldiçoar o príncipe, quanto mais tirar-lhe a vida.
Este respeito exigido em relação às autoridades não foi mudado na dispensação da graça, conforme podemos ver nas palavras dos apóstolos Pedro (I Pe 2.13, 17,.18) e Paulo (Rm 13.1).
Acrescente-se a isto que caso Davi matasse Saul, em vez de ser conhecido como o rei heróico de Israel, que havia livrado seu povo várias vezes dos seus inimigos, Davi seria reconhecido como o rei traidor que matara o seu próprio soberano.
Então ele agiu debaixo da direção de Deus e sabiamente, quando disse a Saul as palavras dos versos 9 a 15, nas quais deixou bem claro, depois de ter prestado a devida reverência a Saul por ser o rei, que estava deixando o caso inteiramente nas mãos do Senhor, para que Ele julgasse entre Saul e ele, e que Ele o vingasse de todo o mal que estava recebendo de Saul, pois não seria a sua própria mão que seria contra o rei, e citou o provérbio dos antigos de que dos ímpios é que procede a impiedade, provavelmente insinuando que não ele, mas Saul estava agindo de modo ímpio porque não era um homem piedoso, mas tal jamais se veria nele, que perseguisse ou matasse a alguém por motivos ímpios, porque ele, Davi, era um homem piedoso, e a perseguição feroz e incansável que Saul empreendia contra ele tinha ainda o agravante de estar sendo feita contra alguém que não estava procurando fazer-lhe mal, e por isso Davi se comparou a um cão morto, e a uma pulga, pois que dano mortal ambos podem fazer a um homem?
E, deste modo, ele estava entregando a sua causa ao Senhor, para que  fosse o seu juiz e advogado, de modo a livrá-lo da mão de Saul (v. 12-15).
O espírito imundo não estava atuando sobre Saul naquela hora e ele foi convencido naquele momento, que de fato estava pagando todo o bem que Davi lhe fizera com o  mal, e então levantando a sua voz ele chorou e o chamando de meu filho declarou que Davi era mais justo do que ele, porque lhe havia recompensado com o bem, e ele lhe havia recompensado com o mal (v. 16,17), pois havia mostrado que era inocente perante ele e havia procedido bem, porque havendo Deus lhe entregado nas mãos de Davi ele não o matara (v. 18).
Saul reconhece que é agir contra a própria natureza terrena encontrar o inimigo e deixá-lo ir em paz, quando se poderia de algum modo prejudicá-lo (v. 19).
Então declarou que esperava que  Deus pagasse a Davi pelo bem que lhe havia feito naquele dia, e que estava convicto, que de fato Davi haveria de reinar e que o reino de Israel haveria de ser firmar na sua mão (v. 19,20).
E para confirmar que era real esta certeza ele pediu a Davi que jurasse pelo Senhor, que não desarraigaria a sua descendência quando viesse a reinar e nem extinguiria o nome dele da casa de seu pai, não matando a todos os seus descendentes (v. 20, 21).
E Davi lhe jurou que o atenderia no que ele estava lhe pedindo (v. 21).
Deste modo, nós aprendemos deste capitulo, que o temor e o respeito devido àqueles que estão em posição de autoridade sobre nós, não significa que devemos silenciar diante das injustiças que estejam praticando.
Subserviência não é a submissão bíblica esperada por Deus de seus servos.
A submissão bíblica implica a presença da virtude da humildade, da moderação, mas não da covardia e da falta de ousadia, pois nos é dito pelo apóstolo que o espírito que temos recebido de Deus não é de covardia, mas de poder, de amor e de moderação (II Tim 1.7).
Podemos aprender muito do exemplo prático de Davi, que não agiu contra Saul, por motivo de covardia, e nem de falta de poder, mas porque era movido pelo amor de Deus, e pela moderação dos que são dirigidos pelo Espírito Santo.
A palavra para moderação no original grego é sofronismós, que significa prudência, disciplina própria, domínio próprio, prudência, moderação.
Nós vemos em Davi este equilíbrio entre coragem e domínio próprio ou moderação.
É isto que deve existir em todo verdadeiro cristão, para que não deixem de dar honra a quem é devido honra, mas que não deixem reprovar o mau comportamento destes a quem deve honra, por motivo de covardia.
Nós estamos fazendo este comentário para que se evite a todo custo uma falsa interpretação do que é autoridade espiritual e como se deve agir diante daqueles que estão investidos pelo próprio Deus de autoridade sobre nós, como era o caso de Saul em relação a Davi, porque ele estava reinando porque fora ungido por ordem de Deus para tal, e portanto, cabia ao próprio Deus e a nenhum homem de Israel decidir sobre a questão se Saul deveria ou não continuar reinando.
É comum que aqueles que estão investidos de autoridade façam uso do artifício da intimidação, de modo que os que estão debaixo do seu governo se sintam temerosos de emitir qualquer opinião contrária à deles, por um falso convencimento de que o ato de fazê-lo ainda que por amor à verdade e à justiça seria estar agindo contra Deus, que os colocou na posição de autoridade, em que eles se encontram.    
Cada servo do Senhor deve manifestar a sua própria personalidade e firmeza para a glória de Deus, porque foram criados para tal propósito.
Eles não devem anular as próprias vontades e torcer até mesmo o direito para se colocarem debaixo da dependência total de outros homens, a pretexto do dever da obediência devida àqueles que os lideram.
Isto não tem nada a ver com a verdadeira obediência ou submissão, pois dependência demais não é bom, tanto quanto a independência também não o é.
Por isso a Bíblia fala em moderação, que significa evitar excessos, comportamentos extremos.
Se Davi se anulasse perante Saul a pretexto de uma obediência absoluta, ele não viria jamais a ser rei em Israel, e até mesmo poderia ser morto por ele.
Mas ele tinha personalidade o bastante para seguir a vontade de Deus, e não a mera vontade dos homens. E se o fizesse ele não estaria de modo nenhum agradando ao Senhor, que foi quem na verdade lhe havia ungido para ser o novo rei de Israel.
Assim, uma verdadeira atitude de rebeldia, de confrontação indevida da autoridade sempre deve ser medida pela identificação de um espírito atrevido e não moderado, de um espírito de desamor e não de amor.
Mas não se pode falar em rebeldia onde a virtude, o respeito e o amor prevalecem.
Não se pode falar de deslealdade onde se age em estrita obediência à vontade de Deus.
Deste modo, tal como Davi, devemos sempre pedir que seja o Senhor mesmo o juiz entre nós e aqueles que nos acusam de rebeldia, ou de qualquer outra falta que tenhamos convicção de que não esteja  em nós, tal como fazia o apóstolo Paulo:
“1 Que os homens nos considerem, pois, como ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus.
2 Ora, além disso, o que se requer nos despenseiros é que cada um seja encontrado fiel.
3 Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós, ou por qualquer tribunal humano; nem eu tampouco a mim mesmo me julgo.
4 Porque, embora em nada me sinta culpado, nem por isso sou justificado; pois quem me julga é o Senhor.
5 Portanto nada julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor, o qual não só trará à luz as coisas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o seu louvor.” (I Cor 4.1-4).
“Pois busco eu agora o favor dos homens, ou o favor de Deus? ou procuro agradar aos homens? se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo.” (Gál 1.10).





“1 Ora, quando Saul voltou de perseguir os filisteus, foi-lhe dito: Eis que Davi está no deserto de En-Gedi.
2 Então tomou Saul três mil homens, escolhidos dentre todo o Israel, e foi em busca de Davi e dos seus homens, até sobre as penhas das cabras montesas.
3 E chegou no caminho a uns currais de ovelhas, onde havia uma caverna; e Saul entrou nela para aliviar o ventre. Ora Davi e os seus homens estavam sentados na parte interior da caverna.
4 Então os homens de Davi lhe disseram: Eis aqui o dia do qual o Senhor te disse: Eis que entrego o teu inimigo nas tuas mãos; far-lhe-ás como parecer bem aos teus olhos. Então Davi se levantou, e de mansinho cortou a orla do manto de Saul.
5 Sucedeu, porém, que depois doeu o coração de Davi, por ter cortado a orla do manto de Saul.
6 E disse aos seus homens: O Senhor me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor, ao ungido do Senhor, que eu estenda a minha mão contra ele, pois é o ungido do Senhor.
7 Com essas palavras Davi conteve os seus homens, e não lhes permitiu que se levantassem contra Saul. E Saul se levantou da caverna, e prosseguiu o seu caminho.
8 Depois também Davi se levantou e, saindo da caverna, gritou por detrás de Saul, dizendo: Ó rei, meu senhor! Quando Saul olhou para trás, Davi se inclinou com o rosto em terra e lhe fez reverência.
9 Então disse Davi a Saul: por que dás ouvidos às palavras dos homens que dizem: Davi procura fazer-te mal?
10 Eis que os teus olhos acabam de ver que o Senhor hoje te pôs em minhas mãos nesta caverna; e alguns disseram que eu te matasse, porém a minha mão te poupou; pois eu disse: Não estenderei a minha mão contra o meu senhor, porque é o ungido do Senhor.
11 Olha, meu pai, vê aqui a orla do teu manto na minha mão, pois cortando-te eu a orla do manto, não te matei. Considera e vê que não há na minha mão nem mal nem transgressão alguma, e que não pequei contra ti, ainda que tu andes à caça da minha vida para ma tirares.
12 Julgue o Senhor entre mim e ti, e vingue-me o Senhor de ti; a minha mão, porém, não será contra ti.
13 Como diz o provérbio dos antigos: Dos ímpios procede a impiedade. A minha mão, porém, não será contra ti.
14 Após quem saiu o rei de Israel? a quem persegues tu? A um cão morto, a uma pulga?
15 Seja, pois, o Senhor juiz, e julgue entre mim e ti; e veja, e advogue a minha causa, e me livre da tua mão.
16 Acabando Davi de falar a Saul todas estas palavras, perguntou Saul: E esta a tua voz, meu filho Davi? Então Saul levantou a voz e chorou.
17 E disse a Davi: Tu és mais justo do que eu, pois me recompensaste com bem, e eu te recompensei com mal.
18 E tu mostraste hoje que procedeste bem para comigo, por isso que, havendo-me o Senhor entregado na tua mão, não me mataste.
19 Pois, quem há que, encontrando o seu inimigo, o deixará ir o seu caminho? O Senhor, pois, te pague com bem, pelo que hoje me fizeste.
20 Agora, pois, sei que certamente hás de reinar, e que o reino de Israel há de se firmar na tua mão.
21 Portanto jura-me pelo Senhor que não desarraigarás a minha descendência depois de mim, nem extinguirás o meu nome da casa de meu pai.


22 Então jurou Davi a Saul. E foi Saul para sua casa, mas Davi e os seus homens subiram ao lugar forte.” (I Sm 24.1-22)


I Samuel 25

Deus nos Livra de Cometer Muitos Erros

O 25º capítulo de I Samuel é iniciado com uma informação breve de que Samuel havia morrido, e que todo Israel lhe havia pranteado, tendo sido sepultado em sua casa em Ramá.
Seus pais residiam ali mas ele havia passado uma grande parte da sua vida no tabernáculo em Siló, porque havia sido consagrado como nazireu a Deus, por sua mãe Ana, por todos os dias da sua vida.
Ele nasceu nazireu e morreu nazireu e nunca quebrou o voto que ele aceitou voluntariamente como sendo feito por ele próprio.
Ele foi um grande homem todos os dias da sua vida e por isso todo o povo de Israel o pranteou no dia da sua morte, e eles tinham razão para isto, porque a morte de Samuel significava uma grande perda para eles, pois ele era mais do que um profeta, uma vez que era um homem de oração, que intercedia diariamente diante de Deus em favor deles (12.23).
Quantos livramentos não puderam ser realizados debaixo do reinado ímpio de Saul, por causa daquelas intercessões de Samuel?
Quanto ele não deve ter intercedido para que Davi fosse livrado dos ataques e das perseguições de Saul?
Ele era um verdadeiro pai em Israel, assim como Débora havia sido uma verdadeira mãe em seus dias.
Há ainda em nossos dias, pela graça de Deus, que os levanta para tal propósito, alguns destes pais e mães do verdadeiro Israel de Deus, a Igreja, que intercedem continuamente pelo bem do Seu povo.
E quão eficazes são as intercessões que eles fazem em favor de todos os homens, especialmente por aqueles que estão investidos de autoridade, e pelo povo do Senhor.
Quantos ataques do inferno não são neutralizados por causa da intercessão destes grandes santos de Deus?
Possivelmente, em razão desta perda de Samuel, Davi se deslocou para fora dos termos de Israel, indo para o deserto de Parã, onde Israel havia peregrinado quando havia saído do Egito.
Já não existiam agora as intercessões de Samuel por Davi, porque ele havia morrido. E talvez este tenha sido um dos maiores motivos para o modo como nós o vamos encontrar neste capítulo, pronto a realizar uma grande carnificina por causa do pecado de um só homem, chamado Nabal, cujo nome no hebraico significa tolo, insensato.
Nenhum homem é perfeito, nem mesmo Davi, que é um homem segundo o coração de Deus, e esta e outras passagens das Escrituras o revelam claramente a nós.
De modo que somente Deus é digno de adoração, e total honra, glória e louvor.
Nunca devemos nos comparar com os homens, porque podemos correr o risco de nos sentirmos piores ou melhores do que eles, tal como ocorrera com Saul em relação a Davi, e como vimos no capítulo anterior.
Nós devemos sempre nos comparar com Deus, sempre ter a Cristo como nosso grande modelo, porque somente Deus é perfeito, onipotente, onisciente, onipresente, infinito, completamente santo, justo, amoroso e bondoso.
Diante dEle, por melhores que sejamos, seremos sempre o pó da terra, e é por isso que devemos sempre nos comparar com Ele, porque isto sempre nos fará entender e viver a verdadeira humildade, pois esta é uma virtude comparativa, isto é, ela sempre é determinada por aquilo que somos em relação a outros.
E nós temos um grande exemplo desta humildade em Abigail, mulher de Nabal, que por causa desta mesma humildade, livrou toda a sua casa da destruição, que viria sobre ela, em razão do pecado do seu marido, e como também impediu o próprio  Davi de cometer este grande pecado, e consequentemente de sujar para sempre a sua folha de serviços diante do povo de Israel.
Se ele tivesse matado a Saul teria recebido a fama de traidor, mas se matasse todos da casa de Nabal, inclusive suas crianças, seria conhecido dali por diante como covarde e carniceiro, e foi a humildade e a prudência daquela mulher, que foi dirigida por Deus a isto, que livrou Davi de cometer tão grave pecado.
O homem nada é. O melhor dos cristãos continua pecador. Todos os nossos atos de bondade são influenciados pelo Senhor.
Muito da maldade que deixamos de praticar é também o resultado das suas ações, que nos impedem de praticá-las, tal como Ele próprio afirmou em relação a Abimeleque, quanto a ter impedido que tomasse a Sara por mulher, e lhe disse as seguintes palavras:
“Ao que Deus lhe respondeu em sonhos: Bem sei eu que na sinceridade do teu coração fizeste isto; e também eu te tenho impedido de pecar contra mim; por isso não te permiti tocá-la;” (Gên 20.6).
São inumeráveis as intervenções de Deus na terra, inclusive entre os incrédulos, impedindo-lhes de cometerem determinados pecados, e não seria nenhuma impossibilidade para ele deter a insensatez que Davi estava prestes a praticar.
Desta forma, a glória da santificação não pertence ao homem, ainda que seja seu dever mortificar a carne, mas de Deus, do seu Cristo, e do Espírito Santo.
Glórias ao seu santo nome, porque Ele é o Deus que nos santifica!
Não podemos esquecer que expressões na Bíblia, que se referem aos homens como aqueles que santificaram outros homens, seguindo em muitos casos ordens de Deus para realizar tal santificação, que tenham sido eles próprios os agentes desta santificação, senão aqueles que promoveram os meios necessários para que o Senhor, que é o agente ativo da santificação os santificasse.
Por exemplo, quando se diz que Samuel santificou as pessoas da casa de Jessé antes de oferecer sacrifícios ali e ungir aquele que Deus havia escolhido como rei, só podemos entender isto como não apenas a supervisão das exigências cerimoniais da lei, como por exemplo se haviam tido algum contato com mulher naquele dia, ou se haviam tido contato com algum morto etc, mas sobretudo, este ato de santificar as pessoas, mesmo no Velho Testamento, significava orar com elas e louvar a Deus juntamente, até que a Sua presença fosse sentida entre eles.
Isto é o mesmo que a Igreja deve fazer quando se reúne para realizar quaisquer dos seus serviços.
Os cristãos devem orar e louvar até que o Espírito Santo manifeste a Sua presença entre eles. E somente depois disto é que deveriam ser realizadas todas as ministrações e serviços, como a pregação da Palavra, a ministração da ceia e do batismo e todos os demais atos relacionados à adoração.
Nós vemos pelas palavras de Abigail, no verso 30, que o fato de Davi ter sido ungido por Samuel a mando de Deus, para ser o futuro rei de Israel, já havia se tornado uma notícia de conhecimento público em todo Israel.
O próprio Saul, como vimos no capítulo precedente, confirma isto.
A prudência e sabedoria de Abigail foram reconhecidas por Davi, e ele viu o quanto seria vantajoso para ele ter por perto uma tal mulher como esposa, especialmente quando estivesse reinando, a qual seria sobretudo uma boa conselheira.
O próprio Deus se encarregou de matar a Nabal,  que deve ter tido um ataque cardíaco cerca de dez dias depois de ter usado de uma grande ingratidão para com Davi, pois em paga do fato dele ter cuidado dos seus pastores e vigiado o seu rebanho, fez com que ele lhe dirigisse duras palavras e se negado a dar qualquer alimento a ele e a seus homens, apesar de não terem lançado mão de uma só de suas ovelhas, quando isto estava facilmente ao alcance das suas mãos.
Como Abigail havia enviuvado, Davi a tomou por esposa, uma vez que Saul havia dado Mical por esposa a outro homem (v. 44).  
No verso 43 é dito que Davi tomou também por esposa a Ainoã, de Jizreel.
Havia nisto uma transgressão do mandado original de Deus que o homem tenha uma só esposa, mas não da lei de Moisés que não somente permitia o divórcio, como também que se tomasse outras esposas, especialmente em se tratando de mulheres de povos conquistados às quais os soldados de Israel se afeiçoassem.
Mas havia prescrições legais detalhadas quanto ao modo de se proceder para se desestimular a realização de tais casamentos poligâmicos (Dt 21.10-17).



“1 Ora, faleceu Samuel; e todo o Israel se ajuntou e o pranteou; e o sepultaram na sua casa, em Ramá. E Davi se levantou e desceu ao deserto de Parã.
2 Havia um homem em Maom que tinha as suas possessões no Carmelo. Este homem era muito rico, pois tinha três mil ovelhas e mil cabras e estava tosquiando as suas ovelhas no Carmelo.
3 Chamava-se o homem Nabal, e sua mulher chamava-se Abigail; era a mulher sensata e formosa; o homem porém, era duro, e maligno nas suas ações; e era da casa de Calebe.
4 Ouviu Davi no deserto que Nabal tosquiava as suas ovelhas,
5 e enviou-lhe dez mancebos, dizendo-lhes: Subi ao Carmelo, ide a Nabal e perguntai-lhe, em meu nome, como está.
6 Assim lhe direis: Paz seja contigo, e com a tua casa, e com tudo o que tens.
7 Agora, pois, tenho ouvido que tens tosquiadores. Ora, os pastores que tens acabam de estar conosco; agravo nenhum lhes fizemos, nem lhes desapareceu coisa alguma por todo o tempo que estiveram no Carmelo.
8 Pergunta-o aos teus mancebos, e eles to dirão. Que achem, portanto, os teus servos graça aos teus olhos, porque viemos em boa ocasião. Dá, pois, a teus servos e a Davi, teu filho, o que achares à mão.
9 Chegando, pois, os mancebos de Davi, falaram a Nabal todas aquelas palavras em nome de Davi, e se calaram.
10 Ao que Nabal respondeu aos servos de Davi, e disse: Quem é Davi, e quem o filho de Jessé? Muitos servos há que hoje fogem ao seu senhor.
11 Tomaria eu, pois, o meu pão, e a minha água, e a carne das minhas reses que degolei para os meus tosquiadores, e os daria a homens que não sei donde vêm?
12 Então os mancebos de Davi se puseram a caminho e, voltando, vieram anunciar-lhe todas estas palavras.
13 Pelo que disse Davi aos seus homens: Cada um cinja a sua espada. E cada um cingiu a sua espada, e Davi também cingiu a sua, e subiram após Davi cerca de quatrocentos homens, e duzentos ficaram com a bagagem.
14 um dentre os mancebos, porém, o anunciou a Abigail, mulher de Nabal, dizendo: Eis que Davi enviou mensageiros desde o deserto a saudar o nosso amo; e ele os destratou.
15 Todavia, aqueles homens têm-nos sido muito bons, e nunca fomos agravados deles, e nada nos desapareceu por todo o tempo em que convivemos com eles quando estávamos no campo.
16 De muro em redor nos serviram, assim de dia como de noite, todos os dias que andamos com eles apascentando as ovelhas.
17 Considera, pois, agora e vê o que hás de fazer, porque o mal já está de todo determinado contra o nosso amo e contra toda a sua casa; e ele é tal filho de Belial, que não há quem lhe possa falar.
18 Então Abigail se apressou, e tomou duzentos pães, dois odres de vinho, cinco ovelhas assadas, cinco medidas de trigo tostado, cem cachos de passas, e duzentas pastas de figos secos, e os pôs sobre jumentos.
19 E disse aos seus mancebos: Ide adiante de mim; eis que vos seguirei de perto. Porém não o declarou a Nabal, seu marido.
20 E quando ela, montada num jumento, ia descendo pelo encoberto do monte, eis que Davi e os seus homens lhe vinham ao encontro; e ela se encontrou com eles.
21 Ora, Davi tinha dito: Na verdade que em vão tenho guardado tudo quanto este tem no deserto, de sorte que nada lhe faltou de tudo quanto lhe pertencia; e ele me pagou mal por bem.
22 Assim faça Deus a Davi, e outro tanto, se eu deixar até o amanhecer, de tudo o que pertence a Nabal, um só varão.
23 Vendo, pois, Abigail a Davi, apressou-se, desceu do jumento e prostrou-se sobre o seu rosto diante de Davi, inclinando-se à terra,
24 e, prostrada a seus pés, lhe disse: Ah, senhor meu, minha seja a iniquidade! Deixa a tua serva falar aos teus ouvidos, e ouve as palavras da tua serva.
25 Rogo-te, meu senhor, que não faças caso deste homem de Belial, a saber, Nabal; porque tal é ele qual é o seu nome. Nabal é o seu nome, e a loucura está com ele; mas eu, tua serva, não vi os mancebos de meu senhor, que enviaste.
26 Agora, pois, meu senhor, vive o Senhor, e vive a tua alma, porquanto o Senhor te impediu de derramares sangue, e de te vingares com a tua própria mão, sejam agora como Nabal os teus inimigos e os que procuram fazer o mal contra o meu senhor.
27 Aceita agora este presente que a tua serva trouxe a meu senhor; seja ele dado aos mancebos que seguem ao meu senhor.
28 Perdoa, pois, a transgressão da tua serva; porque certamente fará o Senhor casa firme a meu senhor, pois meu senhor guerreia as guerras do Senhor; e não se achará mal em ti por todos os teus dias.
29 Se alguém se levantar para te perseguir, e para buscar a tua vida, então a vida de meu senhor será atada no feixe dos que vivem com o Senhor teu Deus; porém a vida de teus inimigos ele arrojará ao longe, como do côncavo de uma funda.
30 Quando o Senhor tiver feito para com o meu senhor conforme todo o bem que já tem dito de ti, e te houver estabelecido por príncipe sobre Israel,
31 então, meu senhor, não terás no coração esta tristeza nem este remorso de teres derramado sangue sem causa, ou de haver-se vingado o meu senhor a si mesmo. E quando o Senhor fizer bem a meu senhor, lembra-te então da tua serva.
32 Ao que Davi disse a Abigail: Bendito seja o Senhor Deus de Israel, que hoje te enviou ao meu encontro!
33 E bendito seja o teu conselho, e bendita sejas tu, que hoje me impediste de derramar sangue, e de vingar-me pela minha própria mão!
34 Pois, na verdade, vive o Senhor Deus de Israel que me impediu de te fazer mal, que se tu não te apressaras e não me vieras ao encontro, não teria ficado a Nabal até a luz da manhã nem mesmo um menino.
35 Então Davi aceitou da mão dela o que lhe tinha trazido, e lhe disse: Sobe em paz à tua casa; vê que dei ouvidos à tua voz, e aceitei a tua face.
36 Ora, quando Abigail voltou para Nabal, eis que ele fazia em sua casa um banquete, como banquete de rei; e o coração de Nabal estava alegre, pois ele estava muito embriagado; pelo que ela não lhe deu a entender nada daquilo, nem pouco nem muito, até a luz da manhã.
37 Sucedeu, pois, que, pela manhã, estando Nabal já livre do vinho, sua mulher lhe contou essas coisas; de modo que o seu coração desfaleceu, e ele ficou como uma pedra.
38 Passados uns dez dias, o Senhor feriu a Nabal, e ele morreu.
39 Quando Davi ouviu que Nabal morrera, disse: Bendito seja o Senhor, que me vingou da afronta que recebi de Nabal, e deteve do mal a seu servo, fazendo cair a maldade de Nabal sobre a sua cabeça. Depois mandou Davi falar a Abigail, para tomá-la por mulher.
40 Vindo, pois, os servos de Davi a Abigail, no Carmelo, lhe falaram, dizendo: Davi nos mandou a ti, para te tomarmos por sua mulher.
41 Ao que ela se levantou, e se inclinou com o rosto em terra, e disse: Eis que a tua serva servirá de criada para lavar os pés dos servos de meu senhor.
42 Então Abigail se apressou e, levantando-se, montou num jumento, e levando as cinco moças que lhe assistiam, seguiu os mensageiros de Davi, que a recebeu por mulher.
43 Davi tomou também a Ainoã de Jizreel; e ambas foram suas mulheres.


44 Pois Saul tinha dado sua filha Mical, mulher de Davi, a Palti, filho de Laís, o qual era de Galim.” (I Sm 25.1-44)



I Samuel 26

O Amor Não É Vingativo

Quando Saul foi poupado por Davi na caverna, na ocasião que lhe cortou a orla da sua veste, prometeu-lhe que não mais o perseguiria, mas nós o encontramos aqui, no 26º capítulo de I Samuel, de novo em perseguição a ele, pois foi incitado pelos zifeus a fazê-lo, uma vez que estes vieram lhe denunciar o local em que Davi se encontrava.
E caindo à noite um profundo sono que vinha da parte do Senhor, sobre Saul e seus homens, Davi desceu ao local onde estavam acampados e pegou a lança e a bilha d'água de Saul, que estava à sua cabeceira e os carregou consigo (v. 12).
Mas antes, Abisai, irmão de Joabe, que o acompanhava, pediu-lhe que o deixasse encravar a lança em Saul de um só golpe, porque aquilo, segundo ele, só poderia ser obra de Deus, entregando Saul nas mãos de Davi.
Mas este sabiamente o dissuadiu a não se deixar levar pelas aparências e circunstâncias, mas pela verdade da Palavra, pois a nenhum israelita era dado por Deus agir contra aqueles que Ele havia constituído como autoridade sobre eles, e ficar sem culpa.
Então Davi concluiu também sabiamente que o modo de Saul morrer não seria pelas suas mãos ou a de quaisquer dos homens que haviam se juntado a ele, mas isto seria feito por uma obra direta da parte de Deus, como foi o caso de Nabal, ou então Saul morreria de morte natural, ou ainda em campo de batalha contra os inimigos de Israel.
Ele viria a morrer desta última forma citada, e a grande lição que aprendemos com Davi, em resumo, neste aspecto particular, é que o modo de morrer de qualquer pessoa permanece debaixo da exclusiva autoridade de Deus, e não é dado ao homem, que não esteja investido de autoridade para tal, e amparado pela lei, decidir sobre quem deve ou não morrer, ou o modo pelo qual deve morrer.        
O profundo sono que o Senhor trouxe sobre os homens do acampamento onde se encontrava Saul, não foi para lhe facilitar as coisas para matá-lo, mas para livrar o próprio Davi de ser surpreendido por eles, e também para colocá-lo à prova quanto ao fato de se obedeceria à Sua vontade ou se agiria seguindo qualquer impulso vingativo de sua própria natureza.
São muitas as situações em que os verdadeiros servos de Deus são colocados à prova, para que se veja se amarão os seus inimigos ou se procurarão se vingar deles quando têm oportunidade para fazê-lo.
Bem irá àquele que não se vingar, porque este não é um mandamento exclusivo da Nova Aliança, pois nós o vemos também no Antigo Testamento:
“Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor.” (Lev 19.18).
“Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira de Deus, porque está escrito: Minha é a vingança, eu retribuirei, diz o Senhor.” (Rm 12.19).
Temos portanto esta ordem de não nos vingarmos, da parte do Senhor, e como poderíamos agradá-lO, não dando o devido acatamento à Sua Palavra.
Davi decidiu então não seguir a palavra do homem (Abisai) e nem seguir qualquer instinto vingativo em sua própria natureza, mas obedecer à Palavra de Deus.
E é esta a fórmula da verdadeira prosperidade.
Em face da benignidade de Davi demonstrada a ele, o próprio Saul como que profetizou acerca dele: “Bendito sejas tu, meu filho Davi, pois grandes coisas farás e também certamente prevalecerás.” (v. 25).
Nós podemos inferir das palavras do verso 19, que Saul saiu em perseguição a Davi, desta vez mais pela incitação dos zifeus e dos homens que estavam com ele, do que pela sua própria iniciativa, e por isso Davi impôs um anátema sobre aqueles que estavam incitando Saul a persegui-lo.
O reino das trevas sempre agirá deste modo, pois quando Satanás perde um instrumento de perseguição, ele tentará reavivá-la em outros.
Por isso o cristão deve saber que a sua luta não é contra carne e sangue, para que não pense que ao se apaziguar com alguns de seus inimigos, que a intensidade da perseguição será abrandada, pois isto não se encontra na esfera de iniciativa dos homens, mas do diabo e dos demônios, que se levantam contra os servos de Deus, ainda que os poderes das trevas estejam também debaixo da autoridade do Senhor, não lhes sendo permitido atuar contra os santos senão naquilo que lhes for permitido por Deus.
É provável que o Salmo 54 tenha sido escrito por Davi nesta ocasião pois ele reconheceu na perseguição dos zifeus uma tentativa do diabo em afastá-lo dos termos de Israel, da presença do Senhor, para que indo buscar refúgio em terras estrangeiras viesse a ter que adorar por força das circunstâncias, os falsos deuses que eles adoravam, de modo que não fosse acusado de ingratidão da sua acolhida, pela recusa de prestar homenagens aos seus deuses.
É sob esta perspectiva que nós podemos entender o significado das palavras que ele proferiu no verso 19: “Se é o Senhor quem te incita contra mim, receba ele uma oferta; se, porém, são os filhos dos homens, malditos sejam perante o Senhor, pois eles me expulsaram hoje para que eu não tenha parte na herança do Senhor, dizendo: Vai, serve a outros deuses.”.
Como não era certamente o Senhor quem estava incitando aquela perseguição, então esta somente poderia estar sendo movida pelos seus inimigos.
As duras perseguições que Davi sofreu por ser servo de Deus permanecem sendo uma verdade para as perseguições do diabo à Igreja de Cristo na dispensação da graça. E nós vemos isto de um modo muito vivo e claro em toda a história da Igreja, especialmente na história dos mártires do cristianismo, na qual se incluem os próprios apóstolos. Mas eles tudo sofreram por buscarem a salvação dos seus inimigos, e nos é ordenado a seguir os seus passos, no exemplo que eles nos deixaram do seu amor e paciência debaixo das perseguições que tiveram que sofrer.
“Não temas o que hás de padecer. Eis que o Diabo está para lançar alguns de vós na prisão, para que sejais provados; e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida.” (*Apo 2.10).
Quantas lutas os cristãos fiéis não têm que enfrentar por causa do seu testemunho e amor a Cristo?
Quantas dores de parto eles não sofrem para gerarem novos filhos de Deus? Pessoas que sejam geradas em Cristo como novas criaturas.
Quantos não clamaram pelo Espírito Santo que os movia segundo o coração de Deus como um dos antigos reformadores: “Oh Deus! Dá-me filhos ou então eu morro!”. Este anelo, este intenso desejo de ser efetivamente instrumento nas mãos de Deus para a conversão de outros é o desejo legítimo inspirado pelo céu no coração de todo aquele que está sendo de fato movido pelo Espírito Santo.    




“1 Ora, vieram os zifeus a Saul, a Gibeá, dizendo: Não está Davi se escondendo no outeiro de Haquilá, defronte de Jesimom?
2 Então Saul se levantou, e desceu ao deserto de Zife, levando consigo três mil homens escolhidos de Israel, para buscar a Davi no deserto de Zife.
3 E acampou-se Saul no outeiro de Haquilá, defronte de Jesimom, junto ao caminho; porém Davi ficou no deserto, e percebendo que Saul vinha após ele ao deserto,
4 enviou espias, e certificou-se de que Saul tinha chegado.
5 Então Davi levantou-se e foi ao lugar onde Saul se tinha acampado; viu Davi o lugar onde se deitavam Saul e Abner, filho de Ner, chefe do seu exército. E Saul estava deitado dentro do acampamento, e o povo estava acampado ao redor dele.
6 Então Davi, dirigindo-se a Aimeleque, o heteu, e a Abisai, filho de Zeruia, irmão de Joabe, perguntou: Quem descerá comigo a Saul, ao arraial? Respondeu Abisai: Eu descerei contigo.
7 Foram, pois, Davi e Abisai de noite ao povo; e eis que Saul estava deitado, dormindo dentro do acampamento, e a sua lança estava pregada na terra à sua cabeceira; e Abner e o povo estavam deitados ao redor dele.
8 Então disse Abisai a Davi: Deus te entregou hoje nas mãos o teu inimigo; deixa-me, pois, agora encravá-lo na terra, com a lança, de um só golpe; não o ferirei segunda vez.
9 Mas Davi respondeu a Abisai: Não o mates; pois quem pode estender a mão contra o ungido do Senhor, e ficar inocente?
10 Disse mais Davi: Como vive o Senhor, ou o Senhor o ferirá, ou chegará o seu dia e morrerá, ou descerá para a batalha e perecerá;
11 o Senhor, porém, me guarde de que eu estenda a mão contra o ungido do Senhor. Agora, pois, toma a lança que está à sua cabeceira, e a bilha d'água, e vamo-nos.
12 Tomou, pois, Davi a lança e a bilha d'água da cabeceira de Saul, e eles se foram. Ninguém houve que o visse, nem que o soubesse, nem que acordasse; porque todos estavam dormindo, pois da parte do Senhor havia caído sobre eles um profundo sono.
13 Então Davi, passando à outra banda, pôs-se no cume do monte, ao longe, de maneira que havia grande distância entre eles.
14 E Davi bradou ao povo, e a Abner, filho de Ner, dizendo: Não responderás, Abner? Então Abner respondeu e disse: Quem és tu, que bradas ao rei?
15 Ao que disse Davi a Abner: Não és tu um homem? e quem há em Israel como tu? Por que, então, não guardaste o rei, teu senhor? porque um do povo veio para destruir o rei, teu senhor.
16 Não é bom isso que fizeste. Vive o Senhor, que sois dignos de morte, porque não guardastes a vosso senhor, o ungido do Senhor. Vede, pois, agora onde está a lança do rei, e a bilha d'água que estava à sua cabeceira.
17 Saul reconheceu a voz de Davi, e disse: Não é esta a tua voz, meu filho Davi? Respondeu Davi: E minha voz, ó rei, meu senhor.
18 Disse mais: Por que o meu senhor persegue tanto o seu servo? que fiz eu? e que maldade se acha na minha mão?
19 Ouve pois agora, ó rei, meu senhor, as palavras de teu servo: Se é o Senhor quem te incita contra mim, receba ele uma oferta; se, porém, são os filhos dos homens, malditos sejam perante o Senhor, pois eles me expulsaram hoje para que eu não tenha parte na herança do Senhor, dizendo: Vai, serve a outros deuses.
20 Agora, pois, não caia o meu sangue em terra fora da presença do Senhor; pois saiu o rei de Israel em busca duma pulga, como quem persegue uma perdiz nos montes.
21 Então disse Saul: Pequei; volta, meu filho Davi, pois não tornarei a fazer-te mal, porque a minha vida foi hoje preciosa aos teus olhos. Eis que procedi como um louco, e errei grandissimamente.
22 Davi então respondeu, e disse: Eis aqui a lança, ó rei! venha cá um dos mancebos, e leve-a.
23 O Senhor, porém, pague a cada um a sua justiça e a sua lealdade; pois o Senhor te entregou hoje na minha mão, mas eu não quis estender a mão contra o ungido do Senhor.
24 E assim como foi a tua vida hoje preciosa aos meus olhos, seja a minha vida preciosa aos olhos do Senhor, e livre-me ele de toda a tribulação.
25 Então Saul disse a Davi: Bendito sejas tu, meu filho Davi, pois grandes coisas farás e também certamente prevalecerás. Então Davi se foi o seu caminho e Saul voltou para o seu lugar.” (I Sm 26.1-25)


I Samuel 27

O Temor Expulsa a Fé

Nós vimos no verso 27 do capítulo precedente a este 27º de I Samuel, que estaremos comentando, Saul garantindo a Davi que voltasse para ele pois não lhe faria mais nenhum mal.
Mas a prudência recomendava a Davi que não se fiasse a Saul, por experiência própria, especialmente em razão do espírito imundo que nele atuava e que o atormentava continuamente.
Eis aqui um claro exemplo do que é ser entregue a Satanás para destruição da carne, por motivo de castigo.
A pessoa se torna desequilibrada por causa da atuação do diabo sobre a sua vida.
E como o inimigo é mentiroso, aquele que estiver debaixo da sua influência também se entregará à mentira, não podendo ser, de modo algum, uma pessoa confiável.
Tal era a situação de Saul, e assim Davi achou mais conveniente naquele momento, sequer permanecer em Judá, porque os zifeus e muitos outros israelitas estavam à sua caça, para caírem no agrado de Saul.
Ele partiu mais uma vez para a terra dos filisteus, e foi ter com Aquis em Gate.
Como Davi pensou, sucedeu, pois Saul desistiu de continuar a persegui-lo, quando soube que tinha ido buscar refúgio junto aos filisteus (v.4).
Principalmente para evitar participar dos costumes dos filisteus, e se contaminar com a sua idolatria, Davi pediu a Aquis que consentisse que ele morasse longe da cidade real com seus seiscentos homens, e as suas esposas, pelo que recebeu de Aquis a cidade de Ziclague (v. 5,6) que acabaria sendo reanexada aos termos de Judá, pois havia sido perdida para os filisteus (Js 15.31).    
Ao que parece, Davi consultou apenas o seu próprio coração desta vez, e não a Deus, através do profeta Gade, ou da estola sacerdotal que se encontrava com o sacerdote Abiatar.
Ele o fez porque estava cansado da perseguição de Saul, e foi buscar refúgio, descanso e paz no território do próprio inimigo, pois foi se juntar aos filisteus.
E de fato as perseguições cessaram, tanto de Saul, quanto dos filisteus. E ausência de lutas espirituais não é um bom sinal para verdadeiros cristãos, pois podem ser um sinal de que estão apaziguados com o próprio inimigo de suas almas, fazendo, ainda que indiretamente, uma negociação de termos de paz com ele.
Isto não é bom, porque no fim acabaremos ficando sujeitos ao seu poder, e desprovidos da assistência da graça e do poder de Deus.
Isto se dá com cristãos que deixam de orar por temerem represálias do diabo.
Com cristãos que andam em jugo desigual com os incrédulos pelo temor de desagradá-los, e que no fim acabam desagradando a Deus, e ficando enfraquecidos para lutarem contra aqueles com os quais se apaziguou e que acabarão se voltando contra eles, pois não pode existir nenhuma comunhão entre luz e trevas, entre Cristo e Belial.
Ainda que a cidade que foi dada por Aquis a Davi tenha sido queimada e saqueada pelos amalequitas, e não pelos filisteus, entretanto todos estes povos estavam a serviço do reino das trevas e não do Senhor, e a questão da proveniência do ataque não era nenhum fator relevante, senão a própria natureza dele.
Nós não sabemos de nenhuma outra ocasião, mesmo sob as perseguições de Saul, que Deus tivesse permitido que ele e os seiscentos homens que com ele estavam, tivessem sofrido tão dura perda.
Isto sucede exatamente agora que ele se associou aos inimigos de Israel. Assim, as evidências se somavam e auxiliaram a Áquis a formar um julgamento, ainda que errôneo, que Davi estaria para sempre com os filisteus em razão da prova de que havia de fato se voltado contra o seu próprio povo, pois Davi lhe mentia dizendo que estava matando a muitos deles nas campanhas que empreendia contra algumas cidades de Israel (v. 10), quando na verdade estava fazendo incursões entre os gesuritas, os girzitas, e os amalequitas (v. 8); e que não havia condições para ele retornar a Israel, pelo menos enquanto vivesse Saul.
E assim Davi, que havia sido ungido para ser rei de Israel, estava se colocando voluntariamente sob a condição de servo do rei de Gate (v. 12). E não podemos entender, de modo algum, que isto estivesse procedendo de Deus, senão da decisão que o próprio Davi tomara.
O ministério sempre estará rodeado deste tipo de tentação, pois não são poucos os ministros do evangelho que renunciam às suas obrigações, e que fogem da vontade de Deus para eles, ainda que por determinados períodos, tal como se dera com Davi, por causa da pressão das perseguições que possam estar sofrendo no desempenho dos seus ministérios.
Mas a experiência sempre tem demonstrado que no final esta nunca será uma condição em que possamos nos gloriar, senão na qual encontraremos profundos motivos para nos arrependermos depois.      



“1 Disse, porém, Davi no seu coração: Ora, perecerei ainda algum dia pela mão de Saul; não há coisa melhor para mim do que escapar para a terra dos filisteus, para que Saul perca a esperança de mim, e cesse de me buscar por todos os termos de Israel; assim escaparei da sua mão.
2 Então Davi se levantou e passou, com os seiscentos homens que com ele estavam, para Áquis, filho de Maoque, rei de Gate.
3 E Davi ficou com Áquis em Gate, ele e os seus homens, cada um com a sua família, e Davi com as suas duas mulheres, Ainoã, a jizreelita, e Abigail, que fora mulher de Nabal, o carmelita.
4 Ora, sendo Saul avisado de que Davi tinha fugido para Gate, não cuidou mais de buscá-lo.
5 Disse Davi a Áquis: Se eu tenho achado graça aos teus olhos, que se me dê lugar numa das cidades do país, para que eu ali habite; pois, por que haveria o teu servo de habitar contigo na cidade real?
6 Então lhe deu Áquis naquele dia a cidade de Ziclague; pelo que Ziclague pertence aos reis de Judá, até o dia de hoje.
7 E o número dos dias que Davi habitou na terra dos filisteus foi de um ano e quatro meses.
8 Ora, Davi e os seus homens subiam e davam sobre os gesuritas, e os girzitas, e os amalequitas; pois, desde tempos remotos, eram estes os moradores da terra que se estende na direção de Sur até a terra do Egito.
9 E Davi feria aquela terra, não deixando com vida nem homem nem mulher; e, tomando ovelhas, bois, jumentos, camelos e vestuários, voltava, e vinha a Áquis.
10 E quando Áquis perguntava: Sobre que parte fizestes incursão hoje? Davi respondia: Sobre o Negebe de Judá; ou: Sobre o Negebe dos jerameelitas; ou: Sobre o Negebe dos queneus.
11 E Davi não deixava com vida nem homem nem mulher para trazê-los a Gate, pois dizia: Para que porventura não nos denunciem, dizendo: Assim fez Davi. E este era o seu costume por todos os dias que habitou na terra dos filisteus.
12 Áquis, pois, confiava em Davi, dizendo: Fez-se ele por certo aborrecível para com o seu povo em Israel; pelo que me será por servo para sempre.” (I Sm 27.1-12)


I Samuel 28

Samuel Estando Morto Falou com Saul?

Antes de qualquer comentário relativo a este 28º capitulo de I Samuel, julgamos importante destacar logo de início o que diz a Lei de Moisés a respeito de se consultar os necromantes e adivinhos:
“6 Quanto àquele que se voltar para os que consultam os mortos e para os feiticeiros, prostituindo-se após eles, porei o meu rosto contra aquele homem, e o extirparei do meio do seu povo.
7 Portanto santificai-vos, e sede santos, pois eu sou o Senhor vosso Deus.” (Lev 20.6,7).
“O homem ou mulher que consultar os mortos ou for feiticeiro, certamente será morto. Serão apedrejados, e o seu sangue será sobre eles.” (Lev 20.27).
“Não se achará no meio de ti quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro, nem encantador, nem quem consulte um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos;” (Dt 18.10, 11).
“Porque estas nações, que hás de possuir, ouvem os prognosticadores e os adivinhadores; porém, quanto a ti, o Senhor teu Deus não te permitiu tal coisa.” (Dt 18.14).
  Tendo a Davi entre eles, os filisteus ganhavam uma grande vantagem moral sobre Israel, porque não era Saul o campeão dos israelitas, mas Davi, e o fato dele subir com eles à guerra contra Israel era algo para ser muito temido, e então nós vemos Saul em completo desespero, não somente em razão disso, mas principalmente pelo fato de ter sido abandonado por Deus, que se recusava a dar qualquer resposta a ele quanto à batalha que teria que travar contra os filisteus, quer em sonhos, quer pelos profetas, quer pelo urim e tumim dos sacerdotes (v. 5,6).
E se a presença de Davi entre os filisteus enfraquecia Saul por um lado, por outro fortalecia o ânimo dos próprios filisteus, e tal era a confiança de Aquis em Davi, que ele pretendia fazer dele o seu guarda-costas (v. 2).
Saul ficou aterrorizado com a visão do exército dos filisteus acampado em Suném, por ser mais numeroso do que o exército de Israel, e ele não tinha mais o Espírito Santo para fortalecê-lo e animá-lo para as batalhas.
As dificuldades aterrorizam os filhos da desobediência porque eles não têm a Deus por eles para firmar os seus corações.
E as circunstâncias desmascarariam Saul quanto ao desterro que ele havia feito dos  necromantes e adivinhos em Israel (v. 3), pois não o fizera por motivos sequer religiosos e muito menos por causa da sua piedade em cumprir a Lei de Moisés, quanto aos textos que destacamos no início deste nosso comentário, mas para outros propósitos que nós desconhecemos.
Mas podemos dizer que a máscara seria retirada, de modo que ele não pudesse ser considerado alguém que fosse zeloso pela causa de Deus e da verdade, porque não tendo recebido nenhuma resposta do céu, foi bater nos portões do inferno, para ver se alguém de lá lhe ajudaria e lhe daria conselho, e para saber como o mundo espiritual estava se movendo em relação àquela batalha, que teria que travar com os filisteus, pois foi consultar uma feiticeira em En-Dor, para que esta lhe fizesse aparecer pela necromancia (consulta aos mortos) a Samuel.
Uma grande prova de que não era nenhuma pessoa que havia morrido que aparecia aos necromantes, pode ser inferida de duas citações encontradas nos versos 11 e 13, pois no verso 11 a mulher pergunta a quem ela deveria fazer “subir” pela necromancia, e no verso 13 ela afirma que via um deus “subindo do meio da terra”.
No pensamento dos necromantes todos os mortos ficavam no Seol, que seria uma região no meio da terra.
Mas sabemos que, com toda a certeza, os espíritos dos santos sobem para a presença de Deus no céu, na morte deles (Ec 12.7).
Como poderia ser verdadeiramente o espírito de Samuel subindo do meio da terra?
Como poderiam os servos de Satanás subordinar ao seu próprio poder os espíritos dos santos de Deus?
Como o Senhor permitiria que eles tivessem tal poder em algo que Ele mesmo proibiu expressamente, não pela possibilidade de um necromante trazer um espírito da região dos mortos, mas para evitar o engano diabólico, porque Satanás se disfarça em anjo de luz.
Ele pode agir com engano assumindo formas de pessoas ou imitar a voz delas, e até mesmo dizer coisas referentes às suas vidas, por meio de uma observação do seu comportamento e de situações que viveram.
Enfim, não há nenhuma possibilidade de que o espírito de alguém que morreu e que se encontra no céu com Deus desça à terra, senão por uma permissão expressa do próprio Deus, como foi o caso de Moisés que apareceu com Elias no monte da Transfiguração a Jesus.
Não está na esfera de Satanás exercer qualquer tipo de domínio sobre os espíritos desencarnados, que se encontram no céu.
  Uma outra prova de que foi Satanás ou um demônio que apareceu a Saul disfarçado em Samuel e não o próprio profeta, está no fato de que em vez de ser convocado ao arrependimento e a buscar a misericórdia de Deus, o suposto “Samuel” exerceu o ministério do diabo somente acusando a Saul.
Este lhe perguntou o que deveria fazer, e em vez de receber uma resposta à sua pergunta, como o que acabamos de dizer anteriormente, foi acusado do que havia feito, e também lhe foi dito o que lhe seria feito em razão disso.
Nós temos muitas outras evidências contra a possibilidade total de ter sido Samuel que apareceu a Saul.
Uma outra é que a aparição estava envolta numa capa, e porque razão estava envolta numa capa?
Para que qualquer falha no disfarce não fosse percebida por Saul, e acrescente-se a isto que a perturbação de espírito em que ele se encontrava na ocasião já era um fator desfavorável para ele em tal sentido, pois não estava no completo domínio das suas faculdades perceptivas, por estar com a mente conturbada pelo grande pavor que havia se apoderado dele.      
 Nós vemos também que o engano chama engano, pois Saul se disfarçou para ir ter com a feiticeira e o diabo se disfarçou em Samuel para enganá-lo.
Até mesmo a própria feiticeira poderia ser uma fraude, e nenhum espírito maligno provavelmente não tinha a mesma debaixo dos seus serviços, pois quando ela viu o suposto “Samuel”  gritou em alta voz (v.12) e isto se deu possivelmente em razão do grande espanto do que havia acontecido, porque até então podia vir enganando as pessoas falando a elas, como se fossem as pessoas que haviam morrido, sem que qualquer demônio a usasse de fato.
O ter dito a feiticeira que via um deus subindo de dentro da terra (v. 13), refere-se ao fato de que anjos e seres espirituais eram chamados de deuses.
Deve ser destacado também que o fato do texto bíblico se referir à aparição chamando-a em todo o tempo de Samuel não é uma evidência suficiente para assegurar que é uma referência ao próprio profeta Samuel, porque nós temos no relato de Gênesis, o diabo sendo chamado em todo o tempo de serpente, no episódio da tentação que conduziu ao pecado original, e nós sabemos que não era propriamente o animal que estava se comunicando com Eva, mas o diabo através dele, como outras porções das Escrituras o esclarecem.
Aprouve ao Espírito Santo manter o relato da revelação na perspectiva de como o assunto foi vivido na ocasião, para demonstrar que Saul deu total crédito ao engano diabólico pensando que realmente se tratava de Samuel, para que possamos aprender quão fácil é ser enganado pelo Inimigo, se não usamos todos critérios da Palavra para provar os espíritos, para saber se procedem de Deus ou não.
Saul foi enganado porque ele cria que poderia haver uma real comunicação de pessoas que haviam morrido com os vivos.
Por isso chegou até mesmo a reverenciar a presença do falso Samuel, inclinando o seu rosto em terra.
A primeira fala de Satanás a Saul passando-se por Samuel foi uma pergunta: “Por que me inquietaste, fazendo-me subir?”. Como já comentamos anteriormente o verdadeiro Samuel jamais perguntaria por que fora inquietado, porque não está no poder dos feiticeiros inquietar os espíritos dos justos que se encontram no céu, e muito menos afirmaria que o fizeram subir, porque aquele que sobe vem das profundezas, e Samuel não se encontrava em nenhuma profundeza, mas no céu (v. 15).
Para o propósito de enganar, o diabo sempre dirá alguma verdade, pois é isto que produz o engano, pois dando crédito à parte verdadeira, aquele que está debaixo da sua influência dará também crédito às suas mentiras, como se fossem verdade.
Foi a mesma técnica que ele usou no Éden. Primeiro ele disse que Deus não havia dado acesso a Adão e a Eva a todas as árvores do Jardim, mas logo depois afirmou que não morreriam de modo nenhum, se viessem a comer do fruto que Deus lhes havia proibido, e eles deram crédito a esta mentira como se fosse uma verdade, e consequentemente tiveram o próprio Deus na conta de um mentiroso.
Então ele disse a Saul que Deus havia se desviado dele e passou a ser seu inimigo (v. 16). E que havia rasgado o reino da mão dele e o havia dado a Davi (v. 17), ele está dizendo uma verdade, mas com o propósito de reacender a raiva de Saul, e fazê-lo enfraquecido e vulnerável.
Saul já estava sendo destruído na carne pelo diabo e quando foi à procura da feiticeira ele lhe abriu uma porta para se comunicar diretamente com ele para produzir o efeito de enfraquecê-lo totalmente, de modo que subisse à batalha contra os filisteus e viesse a ser morto na mesma.
O diabo veio matar, roubar e destruir.
E ele cumprirá sempre este ministério quando a proteção do Senhor for retirada da vida de alguém, como estava ocorrendo com Saul.
Nunca é demais lembrar que isto pode ocorrer como procedendo da parte do Senhor até mesmo para a correção de cristãos rebeldes, tal como ocorrera com o cristão incestuoso da Igreja de Corinto (I Cor 5.1-5).
Então, aqui neste caso, o propósito do diabo não era tanto o de dizer mentiras a Saul, mas o de destruí-lo com tudo aquilo que doía na sua consciência, pois não podemos esquecer que ele é o acusador, e o vemos aqui cumprindo esta sua função com Saul.
Ele lhe disse que como não tinha dado ouvidos à voz do Senhor, e não havia executado o furor da sua ira contra Amaleque, por isso Deus lhe havia feito o que estava fazendo naquele dia, isto é, entregando-o na mão dos filisteus.
Não somente a ele como também a Israel (v.19). Isto foi dito com o propósito de Saul subir à peleja já se sentindo derrotado. E a pá de cal do diabo foi jogada sobre ele com uma meia verdade pois lhe disse como se fora Samuel que no dia seguinte Saul estaria com seus filhos juntamente com ele.
Se era verdade que Saul morreria, no entanto não era verdade que ele estaria com Samuel, pois tudo nos leva a crer, pelo tudo o que ele foi e viveu, que se tratava de um homem irregenerado que não conhecia de fato ao Senhor, e portanto não poderia ser reunido a Samuel no céu.
Quanto ao ter sido prognosticada a morte de Saul, devemos lembrar do caso da morte do rei Acabe que ele foi persuadido por um espírito maligno, ao qual foi revelado por Deus que a batalha em que ele deveria morrer (I Rs 22.19-23).
É bem provável que tivesse também sido revelado por Deus ao espírito maligno que enganou Saul, que ele morreria naquela batalha contra os filisteus.
Mas o grande e final argumento contra a possibilidade de ter sido realmente Samuel que apareceu a Saul reside no fato de que se Deus se recusava a falar com Saul por todos os meios e modos como Ele lhe faria através de Samuel exatamente pelo atendimento da invocação de uma necromante?
Ao contrário, foi permitido por Deus a Satanás ter o seu último engano sobre Saul, enquanto ainda ele estava neste mundo, porque Saul se determinara durante toda a sua vida a dar ouvido ao diabo e não ao Senhor.
Então ele sairá deste mundo dialogando com aquele que havia procurado por toda a sua vida, e não com Aquele ao qual ele havia virado as suas costas.
E tal foi a influência maligna sobre Saul, que se entregou imediatamente à ideia de suicídio.
Ele havia perdido o apetite por causa do grande temor dos filisteus que havia invadido o seu coração.
Agora ele cai prostrado totalmente sem forças e disposto a morrer por uma greve de fome, em vez de morrer com honra no campo de batalha.
E não deu continuidade ao seu plano porque foi dissuadido pela própria feiticeira e pelos seus servos que o acompanhavam (v. 21-25).
É quase certo que a feiticeira na agiu por benevolência, mas simplesmente para se livrar de futuros problemas, por não ter como justificar que o rei havia morrido de inanição em sua casa.
O diabo agiu com Saul do mesmo modo como agiu com Judas. Primeiro ele fez com que Judas fizesse todo o mal que ele fez, e que culminou com a traição de Jesus, e depois ele o conduziu ao suicídio.
Geralmente é este o modo pelo qual ele age com aqueles que lhes são entregues para a destruição da carne.




“1 Naqueles dias ajuntaram os filisteus os seus exércitos para a guerra, para pelejarem contra Israel. Disse Áquis a Davi: Sabe de certo que sairás comigo ao arraial, tu e os teus homens.
2 Respondeu Davi a Áquis: Assim saberás o que o teu servo há de fazer. E disse Áquis a Davi: Por isso te farei para sempre guarda da minha pessoa.
3 Ora, Samuel já havia morrido, e todo o Israel o tinha chorado, e o tinha sepultado  em Ramá, que era a sua cidade. E Saul tinha desterrado os necromantes e os adivinhos.
4 Ajuntando-se, pois, os filisteus, vieram acampar-se em Suném; Saul ajuntou também todo o Israel, e se acamparam em Gilboa.
5 Vendo Saul o arraial dos filisteus, temeu e estremeceu muito o seu coração.
6 Pelo que consultou Saul ao Senhor, porém o Senhor não lhe respondeu, nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas.
7 Então disse Saul aos seus servos: Buscai-me uma necromante, para que eu vá a ela e a consulte. Disseram-lhe os seus servos: Eis que em En-Dor há uma mulher que é necromante.
8 Então Saul se disfarçou, vestindo outros trajes; e foi ele com dois homens, e chegaram de noite à casa da mulher. Disse-lhe Saul: Peço-te que me adivinhes pela necromancia, e me faças subir aquele que eu te disser.
9 A mulher lhe respondeu: Tu bem sabes o que Saul fez, como exterminou da terra os necromantes e os adivinhos; por que, então, me armas um laço à minha vida, para me fazeres morrer?
10 Saul, porém, lhe jurou pelo Senhor, dizendo: Como vive o Senhor, nenhum castigo te sobrevirá por isso.
11 A mulher então lhe perguntou: Quem te farei subir? Respondeu ele: Faze-me subir Samuel.
12 Vendo, pois, a mulher a Samuel, gritou em alta voz, e falou a Saul, dizendo: Por que me enganaste? pois tu mesmo és Saul.
13 Ao que o rei lhe disse: Não temas; que é que vês? Então a mulher respondeu a Saul: Vejo um deus que vem subindo de dentro da terra.
14 Perguntou-lhe ele: Como é a sua figura? E disse ela: Vem subindo um ancião, e está envolto numa capa. Entendendo Saul que era Samuel, inclinou-se com o rosto em terra, e lhe fez reverência.
15 Samuel disse a Saul: Por que me inquietaste, fazendo-me subir? Então disse Saul: Estou muito angustiado, porque os filisteus guerreiam contra mim, e Deus se tem desviado de mim, e já não me responde, nem por intermédio dos profetas nem por sonhos; por isso te chamei, para que me faças saber o que hei de fazer.
16 Então disse Samuel: Por que, pois, me perguntas a mim, visto que o Senhor se tem desviado de ti, e se tem feito teu inimigo?
17 O Senhor te fez como por meu intermédio te disse; pois o Senhor rasgou o reino da tua mão, e o deu ao teu próximo, a Davi.
18 Porquanto não deste ouvidos à voz do Senhor, e não executaste o furor da sua ira contra Amaleque, por isso o Senhor te fez hoje isto.
19 E o Senhor entregará também a Israel contigo na mão dos filisteus. Amanhã tu e teus filhos estareis comigo, e o Senhor entregará o arraial de Israel na mão dos filisteus.
20 Imediatamente Saul caiu estendido por terra, tomado de grande medo por causa das palavras de Samuel; e não houve força nele, porque nada havia comido todo aquele dia e toda aquela noite.
21 Então a mulher se aproximou de Saul e, vendo que estava tão perturbado, disse-lhe: Eis que a tua serva deu ouvidos à tua voz; e arriscando a minha vida atendi às palavras que me falaste.
22 Agora, pois, ouve também tu as palavras da tua serva, e permite que eu ponha um bocado de pão diante de ti; come, para que tenhas forças quando te puseres a caminho.
23 Ele, porém, recusou, dizendo: Não comerei. Mas os seus servos e a mulher o constrangeram, e ele deu ouvidos à sua voz; e levantando-se do chão, sentou-se na cama.
24 Ora, a mulher tinha em casa um bezerro cevado; apressou-se, pois, e o degolou; também tomou farinha, e a amassou, e a cozeu em bolos ázimos.


25 Então pôs tudo diante de Saul e de seus servos; e eles comeram. Depois levantaram-se e partiram naquela mesma noite.” (I Sm 28.1-25)



I Samuel 29

A Ação Preventiva do Senhor Conduz os Justos

Nós vemos no 29º capítulo de I Samuel, que a providência de Deus impediu que Davi subisse à batalha com os filisteus, pois não sabia que estava já determinada pelo Senhor a morte de Saul naquela batalha, e Davi em razão da sua lealdade, certamente não deixaria de lutar contra os israelitas, caso descesse à peleja, e isto em muito arruinaria a sua subida ao trono, pois como se justificaria a entronização de um rei que havia lutado contra o seu próprio povo?
Vemos assim, que mesmo um ministro sábio e prudente como Davi, está sujeito a errar em suas deliberações e se não fosse a intervenção da providência divina, em diversas situações, seriam muitos os ministérios que seriam de todo arruinados, até mesmo antes de serem iniciados.
Deus nos envia as provas, mas também juntamente com elas o escape:
“Não vos sobreveio nenhuma tentação, senão humana; mas fiel é Deus, o qual não deixará que sejais tentados acima do que podeis resistir, antes com a tentação dará também o meio de saída, para que a possais suportar (I Cor 10.13).
Nós só podemos então entender o desagrado dos demais chefes dos filisteus em que Davi subisse com eles à batalha, apesar da insistência de Aquis que ele o fizesse, como procedente do Senhor, para que não fosse prejudicado o seu plano de fazer de Davi rei de Israel, ao mesmo tempo que o livrou de ser morto por eles juntamente com os seus homens, por terem lembrado na ocasião que fora justamente ele quem havia ferido mortalmente a muitos filisteus no passado.    
Então os demais príncipes filisteus insistiram com Aquis que ele fizesse Davi retornar com seus homens a Ziclague, apesar do testemunho da firme lealdade de Davi da qual Áquis lhes falara.
E nós podemos deslumbrar por suas palavras no verso 9, um pouco do caráter e da doçura de Davi, que quando na presença dele devia entoar os seus cânticos de louvor e adoração a Deus tocando a sua harpa: “Respondeu, porém, Áquis e disse a Davi: Bem o sei; e, na verdade, aos meus olhos és bom como um anjo de Deus.”.
Todos os cristãos deveriam ser mais ousados no seu testemunho cristão, não se envergonhando do evangelho e de revelarem ao mundo, o modo como adoram e servem ao Senhor, e testemunhando aos incrédulos toda a verdade, não temendo lhes falar acerca do pecado e da santidade que há no Senhor, e que Ele exige de todas as pessoas, como também da justificação que há em Cristo, do trabalho de regeneração do Espírito Santo, habitando no coração, e até mesmo sobre o juízo que aguarda a todos aqueles que não se arrependerem de seus pecados, e que não viverem para dar glória a Deus.
Tudo isto deve ser testemunhado, não por motivo de ira, mas por amor a eles, na expectativa de que se convertam a Deus, para escaparem da condenação eterna e viverem de modo que traga honra e glória ao Senhor.
Certamente, foi também o Senhor que fez com que Davi achasse graça aos olhos de Aquis, de modo que se apegou totalmente a ele. Isto lhe seria segurança enquanto estivesse junto aos filisteus.
Quando Davi soube da decisão dos príncipes dos filisteus em relação a ele, ainda insistiu com Aquis para ir à batalha, mas foi dissuadido finalmente da possibilidade de fazê-lo, e não sabia que a mão do Senhor estava naquilo tudo. Assim se dá com todos os servos de Deus, pois não podem entender muitas coisas que o Senhor faz agora com eles, mas entenderão depois (Jo 13.7).



“1 Os filisteus ajuntaram todos os seus exércitos em Afeque; e acamparam-se os israelitas junto à fonte que está em Jizreel.
2 Então os chefes dos filisteus se adiantaram com centenas e com milhares; e Davi e os seus homens iam com Áquis na retaguarda.
3 Perguntaram os chefes dos filisteus: que fazem aqui estes hebreus? Respondeu Áquis aos chefes dos filisteus: Não é este Davi, o servo de Saul, rei de Israel, que tem estado comigo alguns dias ou anos? e nenhuma culpa tenho achado nele desde o dia em que se revoltou, até o dia de hoje.
4 Mas os chefes dos filisteus muito se indignaram contra ele, e disseram a Áquis: Faze voltar este homem para que torne ao lugar em que o puseste; não desça ele conosco à batalha, a fim de que não se torne nosso adversário no combate; pois, como se tornaria este agradável a seu senhor? porventura não seria com as cabeças destes homens?
5 Este não é aquele Davi, a respeito de quem cantavam nas danças: Saul feriu os seus milhares, mas Davi os seus dez milhares?
6 Então Áquis chamou a Davi e disse-lhe: Como vive o Senhor, tu és reto, e a sua entrada e saída comigo no arraial é boa aos meus olhos, pois nenhum mal tenho achado em ti, desde o dia em que vieste ter comigo, até o dia de hoje; porém aos chefes não agradas.
7 Volta, pois, agora, e vai em paz, para não desagradares os chefes dos filisteus.
8 Ao que Davi disse a Áquis: Por quê? que fiz eu? ou, que achaste no teu servo, desde o dia em que vim ter contigo, até o dia de hoje, para que eu não vá pelejar contra os inimigos do rei meu senhor?
9 Respondeu, porém, Áquis e disse a Davi: Bem o sei; e, na verdade, aos meus olhos és bom como um anjo de Deus; contudo os chefes dos filisteus disseram: Este não há de subir conosco à batalha.
10 Levanta-te, pois, amanhã de madrugada, tu e os servos de teu senhor que vieram contigo; e, tendo vos levantado de madrugada, parti logo que haja luz.
11 Madrugaram, pois, Davi e os seus homens, a fim de partirem, pela manhã, e voltarem à terra dos filisteus; e os filisteus subiram a Jizreel.” (I Sm 29.1-11)



I Samuel 30

Ziclague É Destruída pelos Amalequitas

Nós vemos no 30º capítulo de I Samuel, que Davi e seus homens, quando saíram da presença de Aquis, levaram três dias para chegar ao acampamento em Ziclague, e neste intervalo de tempo havia ocorrido um ataque dos amalequitas, que o haviam queimado, e tomado como despojo as mulheres, crianças e tudo o que lá estava.
Este ataque comprova que não foi apenas a Agague, rei dos amalequitas que Saul havia poupado, quando recebeu de Deus a ordem de exterminar a todos eles, pois ainda havia muitos deles sobre a terra.
É possível que tivessem feito este ataque em represália às incursões que Davi havia feito entre eles neste período em que se encontrava em Ziclague, como nós já vimos antes, e ele o fazia para dizer a Aquis que estava fazendo incursões nos territórios de Israel (27.8).
A desolação realizada pelos amalequitas em Ziclague muito angustiou a Davi, e todos os seus homens, e tal era a dor deles, que até mesmo pensaram em apedrejar a Davi, por culpá-lo por lhes expor àquela situação, por ter decidido ir residir com os filisteus, colocando-se debaixo dos serviços de Aquis.
Isto deve ter produzido muita insatisfação em muitos deles porque na verdade não queriam estar debaixo do serviço de Saul, e de nenhum rei estrangeiro, pois haviam procurado a Davi na condição de pessoas que haviam sido banidas do convívio na sociedade.
Davi estava aprendendo em tudo isto que não era nada seguro tomar decisões sem antes consultar a Deus em tudo.
E mesmo vencendo ao impulso natural de partir logo em perseguição aos amalequitas, ele chamou Abiatar, e lhe pediu que trouxesse a estola sacerdotal para que o Senhor fosse consultado quanto a se deveriam ou não perseguir os amalequitas.
Mais uma vez foi por um milagre de Deus em favor de Davi que os amalequitas nada fizeram contra as mulheres e filhos, dele e dos homens que com ele estavam. E nada fizeram também contra eles quando foram alcançados por Davi, e quando entrou em peleja com eles com quatrocentos homens, porque os restantes duzentos haviam ficado para trás, de exaustos que estavam, no ribeiro de Besor (v. 10).
Está no poder de Deus conter a fúria até mesmo dos homens mais cruéis, porque todos os corações estão em Suas mãos, e pode também impedir ou permitir a ação de anjos ou de espíritos malignos nos corações dos homens.
Há um governo real no mundo espiritual que os olhos não veem, mas que se encontra debaixo do governo total do Senhor pois até mesmo nenhum pássaro cai do céu sem a Sua permissão, quanto mais a vida dos homens que Ele criou à Sua própria imagem e semelhança.
Assim, Davi pôde recuperar tudo que os amalequitas haviam tomado, e muito mais, pois também tomou por despojo a tudo o que eles tinham, exceto quatrocentos camelos nos quais quatrocentos deles haviam conseguido fugir.
A grande generosidade e amabilidade de Davi para com os seus amigos pode ser vista nos versos 26 a 31 no presente que ele fez do despojo que tomou aos amalequitas, aos anciãos de Judá, de várias localidades daquela tribo de Israel, e aos anciãos de todos os lugares que ele costumava frequentar com os seus homens.
Com este presentes ele estava enviando ao mesmo tempo uma mensagem que o seu interesse não era o de enriquecer pessoalmente, mas de servir o seu país.
Ele não buscava honras e riquezas para si, e por isso Deus concedeu a ele que morresse em ditosa velhice, com honra e riquezas (I Crôn 29.28).



“1 Sucedeu, pois, que, chegando Davi e os seus homens ao terceiro dia a Ziclague, os amalequitas tinham feito uma incursão sobre o Negebe, e sobre Ziclague, e tinham ferido a Ziclague e a tinham queimado a fogo;
2 e tinham levado cativas as mulheres, e todos os que estavam nela, tanto pequenos como grandes; a ninguém, porém, mataram, tão-somente os levaram consigo, e foram o seu caminho.
3 Quando Davi e os seus homens chegaram à cidade, eis que estava queimada a fogo, e suas mulheres, seus filhos e suas filhas tinham sido levados cativos.
4 Então Davi e o povo que se achava com ele alçaram a sua voz, e choraram, até que não ouve neles mais forças para chorar.
5 Também as duas mulheres de Davi foram levadas cativas: Ainoã, a jizreelita, e Abigail, que fora mulher de Nabal, o carmelita.
6 Também Davi se angustiou; pois o povo falava em apedrejá-lo, porquanto a alma de todo o povo estava amargurada por causa de seus filhos e de suas filhas. Mas Davi se fortaleceu no Senhor seu Deus.
7 Disse Davi a Abiatar, o sacerdote, filho de Aimeleque: Traze-me aqui a estola sacerdotal. E Abiatar trouxe a estola sacerdotal a Davi.
8 Então consultou Davi ao Senhor, dizendo: Perseguirei eu a esta tropa? alcançá-la-ei? Respondeu-lhe o Senhor: Persegue-a; porque de certo a alcançarás e tudo recobrarás.
9 Ao que partiu Davi, ele e os seiscentos homens que com ele se achavam, e chegaram ao ribeiro de Besor, onde pararam os que tinham ficado para trás.
10 Mas Davi ainda os perseguia, com quatrocentos homens, enquanto que duzentos ficaram atrás, por não poderem, de cansados que estavam, passar o ribeiro de Besor.
11 Ora, acharam no campo um egípcio, e o trouxeram a Davi; deram-lhe pão a comer, e água a beber;
12 deram-lhe também um pedaço de massa de figos secos e dois cachos de passas. Tendo ele comido, voltou-lhe o ânimo; pois havia três dias e três noites que não tinha comido pão nem bebido água.
13 Então Davi lhe perguntou: De quem és tu, e donde vens? Respondeu ele: Sou um moço egípcio, servo dum amalequita; e o meu senhor me abandonou, porque adoeci há três dias.
14 Nós fizemos uma incursão sobre o Negebe dos queretitas, sobre o de Judá e sobre o de Calebe, e pusemos fogo a Ziclague.
15 Perguntou-lhe Davi: Poderias descer e guiar-me a essa tropa? Respondeu ele: Jura-me tu por Deus que não me matarás, nem me entregarás na mão de meu senhor, e eu descerei e te guiarei a essa tropa.
16 Desceu, pois, e o guiou; e eis que eles estavam espalhados sobre a face de toda a terra, comendo, bebendo e dançando, por causa de todo aquele grande despojo que haviam tomado da terra dos filisteus e da terra de Judá.
17 Então Davi os feriu, desde o crepúsculo até a tarde do dia seguinte, e nenhum deles escapou, senão só quatrocentos mancebos que, montados sobre camelos, fugiram.
18 Assim recobrou Davi tudo quanto os amalequitas haviam tomado; também libertou as suas duas mulheres.
19 De modo que não lhes faltou coisa alguma, nem pequena nem grande, nem filhos nem filhas, nem qualquer coisa de tudo quanto os amalequitas lhes haviam tomado; tudo Davi tornou a trazer.
20 Davi lhes tomou também todos os seus rebanhos e manadas; e o povo os levava adiante do outro gado, e dizia: Este é o despojo de Davi.
21 Quando Davi chegou aos duzentos homens que, de cansados que estavam, não tinham podido segui-los, e que foram obrigados a ficar ao pé do ribeiro de Besor, estes saíram ao encontro de Davi e do povo que com ele vinha; e Davi, aproximando-se deles, os saudou em paz.
22 Então todos os malvados e perversos, dentre os homens que tinham ido com Davi, disseram: Visto que não foram conosco, nada lhes daremos do despojo que recobramos, senão a cada um sua mulher e seus filhos, para que os levem e se retirem.
23 Mas Davi disse: Não fareis assim, irmãos meus, com o que nos deu o Senhor, que nos guardou e entregou nas nossas mãos a tropa que vinha contra nós.
24 E quem vos daria ouvidos nisso? pois qual é a parte dos que desceram à batalha, tal será também a parte dos que ficaram com a bagagem; receberão partes.
25 E assim foi daquele dia em diante, ficando estabelecido por estatuto e direito em Israel até o dia de hoje.
26 Quando Davi chegou a Ziclague, enviou do despojo presente aos anciãos de Judá, seus amigos, dizendo: Eis aí para vós um presente do despojo dos inimigos do Senhor;
27 aos de Betel, aos de Ramote do Sul, e aos de Jatir;
28 aos de Aroer, aos de Sifmote, e aos de Estemoa;
29 aos de Racal, aos das cidades dos jerameelitas, e aos das cidades dos queneus;
30 aos de Horma, aos de Corasã, e aos de Atace;
31 e aos de Hebrom, e aos de todos os lugares que Davi e os seus homens costumavam frequentar.” (I Sm 30.1-31)



I Samuel 31

Os Justos Juízos de Deus

Nada do que está escrito na Bíblia foi escrito por acaso ou para nenhum propósito.
O que nós lemos no capítulo anterior e neste 31º de I Samuel, que estaremos comentando, nos ensina acerca do que ocorrerá àqueles que confiam em Deus (Davi no cap 30), e àqueles que não confiam nEle (Saul, neste capítulo).
Enquanto Davi estava triunfando sobre os amalequitas, Saul estava sendo vencido e morto pelos filisteus.
A mensagem é a mesma do evangelho.
Aquele que nele crê não é condenado, mas o que não crê já está condenado. Isto é, os que demonstram a Sua confiança em Deus por meio de uma genuína fé em Cristo, não perecerão eternamente, mas todos que não creem em Cristo, já estão condenados, tal como Saul estava, e somente se aguarda pelo cumprimento da sentença de morte eterna que paira sobre eles.
E Deus mandou registrar tais coisas na Bíblia, para que os homens se arrependam de seus pecados e se voltem para Ele, para que possam escapar da condenação futura.
Saul viu seus soldados caindo mortos pelos filisteus no monte Gilboa (v. 1), e agora ele tem os filisteus empreendendo uma perseguição a ele e a seus três filhos, Jônatas,  Abinadabe e  Malquisua (v. 2), que foram mortos pelos filisteus, e feriram a Saul gravemente com as flechas que lhe atiraram (v. 3).
Deus havia entregue a todos eles nas mãos dos filisteus, e com exceção de Jônatas, e talvez uns poucos soldados, a maioria deles havia perseguido a Davi injustamente e havia participado das atrocidades de Saul.
Agora havia chegado o dia da recompensa, o dia do juízo do Senhor sobre eles. E o justo Jônatas cairia com os injustos mas não iria para o mesmo lugar para onde eles foram depois da morte, porque certamente Jônatas era um servo do Senhor, e foi receber a sua coroa de justiça celestial, enquanto Davi receberia a terrena, e reinaria no tempo determinado por Deus, para que depois fosse também juntado a Jônatas para receber também a sua coroa celestial.
No dia do ajuste de contas do Senhor, contra o seu próprio povo caíram na batalha tanto os justos quanto os perversos, e foi exatamente isto o que ocorreu nos dias em que Judá foi levada para o cativeiro em Babilônia, como vemos o Senhor declarando através do profeta Ezequiel:
“1 Ainda veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:
2 Filho do homem, dirige o teu rosto para Jerusalém, e derrama as tuas palavras contra os santuários, e profetiza contra a terra de Israel.
3 E dize à terra de Israel: Assim diz o Senhor: Eis que estou contra ti, e tirarei a minha espada da bainha, e exterminarei do meio de ti o justo e o ímpio.
4 E, por isso que hei de exterminar do meio de ti o justo e o ímpio, a minha espada sairá da bainha contra toda a carne, desde o sul até o norte.
5 E saberá toda a carne que eu, o Senhor, tirei a minha espada da bainha nunca mais voltará a ela.
6 Suspira, pois, ó filho do homem; suspira à vista deles com quebrantamento dos teus lombos e com amargura.
7 E será que, quando eles te disserem: Por que suspiras tu dirás: por causa das novas, porque vêm; e todo coração desmaiará, e todas as mãos se enfraquecerão, e todo espírito se angustiará, e todos os joelhos se desfarão em águas; eis que vêm, e se realizarão, diz o Senhor Deus.” (Ez 21.1-7).
E o que estava ocorrendo nos dias em que Israel caiu diante dos filisteus com Saul, foi o mesmo que viria a ocorrer nos dias do profeta Ezequiel.
Havia um juízo do Senhor determinado contra a impiedade que eles haviam praticado.
As duras e constantes perseguições injustas a Davi só serviram para aumentar o juízo que viria sobre eles.
Agora era o dia do ajuste de contas. A casa de Saul seria desarraigada para que todo Israel soubesse que Deus o havia rejeitado e a toda a sua casa, para reinar sobre Israel, por causa da impiedade dele, tal como havia feito com Eli e com toda a sua descendência.
Se não fosse pelo juramento que Davi havia feito a Jônatas, e ao próprio Saul de poupar aqueles que sobrassem da descendência deles quando viesse a reinar sobre Israel, certamente nenhum deles teria sido poupado.
Mas a misericórdia os alcançou, enquanto a soberania do Senhor executou o juízo sobre aqueles que segundo a Sua exclusiva autoridade deveriam morrer, para que o caminho do reino ficasse aberto para Davi.
O juízo pode demorar a vir mas pode ser dado como certo, e nunca falhará porque todos terão que prestar contas de seus atos injustos ao fiel Criador.
Estes juízos temporais, que ocorrem no mundo, são apenas um testemunho em favor daquele grande, completo e final Juízo que o Senhor trará sobre todos os que viveram sobre a terra, inclusive sobre estes que estavam morrendo com Saul, que serão levantados para serem definitivamente julgados e condenados.
Saul e o seu escudeiro preferiram se suicidar, lançando-se sobre as suas espadas para não terem que sofrer a desonra de morrerem às mãos dos filisteus, mas se eles pensavam que com isto achariam alívio, quando saíssem deste mundo, eles não sabiam que algo muito pior e incomparavelmente pior ainda aguardava por eles.
E tão terríveis e assombrosos são os justos juízos do Senhor, que foi ordenado ao profeta Ezequiel que suspirasse com dó por aqueles que teriam que sofrê-los.
Pois é algo para ser lamentado e realmente sentido ter que testemunhar a queda daqueles que Deus chamou para andarem de pé na Sua presença, e que preferiram voltar-Lhe as costas.
“Suspira, pois, ó filho do homem; suspira à vista deles com quebrantamento dos teus lombos e com amargura. E será que, quando eles te disserem: Por que suspiras? tu dirás: por causa das novas, porque vêm; e todo coração desmaiará, e todas as mãos se enfraquecerão, e todo espírito se angustiará, e todos os joelhos se desfarão em águas; eis que vêm, e se realizarão, diz o Senhor Deus.” (Ez 21.6,7).
Os servos piedosos e leais a Deus choram e lamentam a queda daqueles que pertencendo ao povo do Senhor são sujeitados a Seus juízos por causa de seus pecados e rebeliões.
Quanta dor isto traz aos seus corações apesar de saberem que é completamente justo aquilo que Deus determinou fazer em relação a eles.
É por isso que nós podemos entender o pranto e o lamento de Davi, não somente pela morte de Jônatas, como também pelo próprio Saul, pois apesar de tudo, ele era o rei de Israel, e a ruína dele era contada pelas nações inimigas como sendo a própria ruína de todo o povo, e o abandono deles pelo Seu Deus.
Tanto que os filisteus cortaram a cabeça de Saul e a levaram consigo como um troféu e dedicaram as suas armas aos seus deuses.
 O corpo de Saul e de seus filhos foram dependurados em um muro de Bete-Seã, mas uns homens valentes de Jabes-Gileade os tiraram de lá e os trouxeram para serem queimados e sepultados com honra na terra deles de Jabes.
Eles haviam sido livrados por Saul da destruição pelos amonitas, logo no início do seu reinado, e agora eles estavam dando a prova da sua gratidão por aquele livramento, ainda que na sua morte, impedindo que o seu corpo e de seus filhos fossem profanados pelos filisteus.



“1 Ora, os filisteus pelejaram contra Israel; e os homens de Israel fugiram de diante dos filisteus, e caíram mortos no monte Gilboa.
2 E os filisteus apertaram com Saul e seus filhos, e mataram a Jônatas, a Abinadabe e a Malquisua, filhos de Saul.
3 A peleja se agravou contra Saul, e os flecheiros o alcançaram, e o feriram gravemente.
4 Pelo que disse Saul ao seu escudeiro: Arranca a tua espada, e atravessa-me com ela, para que porventura não venham esses incircuncisos, e me atravessem e escarneçam de mim. Mas o seu escudeiro não quis, porque temia muito. Então Saul tomou a espada, e se lançou sobre ela.
5 Vendo, pois, o seu escudeiro que Saul já era morto, também ele se lançou sobre a sua espada, e morreu com ele.
6 Assim morreram juntamente naquele dia Saul, seus três filhos, e seu escudeiro, e todos os seus homens.
7 Quando os israelitas que estavam no outro lado do vale e os que estavam além do Jordão viram que os homens de Israel tinham fugido, e que Saul e seus filhos estavam mortos, abandonaram as suas cidades e fugiram; e vieram os filisteus e habitaram nelas.
8 No dia seguinte, quando os filisteus vieram para despojar os mortos, acharam Saul e seus três filhos estirados no monte Gilboa.
9 Então cortaram a cabeça a Saul e o despojaram das suas armas; e enviaram pela terra dos filisteus, em redor, a anunciá-lo no templo dos seus ídolos e entre o povo.
10 Puseram as armas de Saul no templo de Astarote; e penduraram o seu corpo no muro de Bete-Seã.
11 Quando os moradores de Jabes-Gileade ouviram isso a respeito de Saul, isto é, o que os filisteus lhe tinham feito,
12 todos os homens valorosos se levantaram e, caminhando a noite toda, tiraram e corpo de Saul e os corpos de seus filhos do muro de Bete-Seã; e voltando a Jabes, ali os queimaram.
13 Depois tomaram os seus ossos, e os sepultaram debaixo da tamargueira, em Jabes, e jejuaram sete dias.” (I Sm 31.1-13)









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