terça-feira, 20 de outubro de 2015

Deuteronômio 1 a 34

Deuteronômio 1

Passando a história de Israel em Revista

O livro de Deuteronômio é um conjunto de sermões proferidos por Moisés aos israelitas no último ano de sua vida.
São, portanto recordações, palavras de exortação e advertência, profecias e prescrições das últimas ordenanças do Senhor para Israel, pouco antes da partida de Moisés para a glória celestial.
O primeiro sermão começa foi proferido no primeiro dia do décimo primeiro mês do quadragésimo ano (Deut 1.3), quando Israel estava acampado na terra de Moabe (Deut 1.5), e se estende até o final do quarto capítulo do livro.
No primeiro capítulo passa em revista de forma resumida os eventos havidos desde a chegada dos israelitas em Cades-Barneia, de onde foram enviados os doze homens para espiar a terra de Canaã; a nomeação de auxiliares para ajudarem Moisés; a incredulidade do povo com o relatório pessimista de dez daqueles doze espias; o castigo de Deus relativo àquela incredulidade; e a derrota do povo em Hormá, por causa do seu pecado de presunção, de guerrear sem a aprovação do Senhor (quantas vezes na vida cristã, somos provados quanto a este pecado de presunção, porque há momentos em que devemos somente esperar em Deus, e não insistir em atuar em assuntos específicos, quanto aos quais percebemos que há uma direção do Espírito Santo para ficarmos parados ou recuarmos. Nessas situações, atuar será desobediência, e por conseguinte, derrota, por maiores e melhores que sejam nossas intenções e a aparente urgência do caso.)
 Uma nova geração de israelitas estava prestes a entrar em Canaã, e teria que guerrear contra os cananeus, e então são pregados estes sermões por Moisés e é ordenado o seu registro para testemunho de todas as gerações de israelitas, que viveriam em Canaã, acerca da vontade específica de Deus.
Não é um discurso sobre estratégias militares de guerra, mas a descrição do seu dever para com Deus, porque se mantivessem debaixo do Seu temor e favor, Ele lhes afiançaria a conquista da terra.
No caso de Israel, a sua força não repousaria no seu poderio militar, mas na força do Espírito Santo.
No caso da Igreja de Cristo é também o Espírito Santo a nossa força; e a arma (espada) do nosso exército  é a Palavra de Deus, tanto quanto era para Israel.
  A jornada de 40 anos no deserto foi uma espécie de cativeiro para Israel, pelo impedimento de viver em liberdade em sua própria terra.
Ainda que não fossem tributários de nenhum outro reino visível, estavam sendo tributários da sua própria incredulidade, até que se formasse entre eles uma nova geração de israelitas, que sairia daquele cativeiro espiritual, para experimentar a liberdade prometida para aqueles que confiam em Deus.
Todavia, para aqueles que pertencem ao verdadeiro Israel de Deus, não há cativeiro que dure para sempre, assim como o cativeiro babilônico durou setenta anos depois dos dias dos reis de Israel, como ilustração de que aqueles que são do Senhor não podem mais ser retidos pelo cativeiro da corrupção e da morte, porque são livres, por meio da fé em Jesus Cristo, e já não podem mais ser retidos pelas cadeias do pecado, da morte e do inferno.  
Nos versos 6-8 é descrita a ordem que foi dada por Deus aos israelitas, depois de terem construído e erigido o tabernáculo, para que deixassem o monte Sinai rumo à terra de Canaã.  
Deste modo, são lembrados por Deus, através de Moisés, que estavam debaixo do governo de homens especialmente escolhidos, que lhes vinham governando e julgando com sabedoria e justiça, sob a liderança geral de Moisés, porque conquistariam a terra prometida, e estes líderes e juízes os governariam e julgariam, respectivamente, em Canaã (Deut 1.9-18).
No verso 15 Moisés declara qual foi o critério principal que norteou a escolha daqueles líderes: homens sábios e experimentados que foram colocados por chefes de milhares, de cem, de cinquenta, de dez e oficiais.
Eram sábios especialmente nas coisas relativas ao conhecimento de Deus e da Sua vontade, e experimentados quanto ao seu caráter provado e aprovado.
Não menos se requer dos oficiais da Igreja de Cristo, que devem ser homens cheios do Espírito e de sabedoria (At 6.3), homens que devem ser primeiro experimentados para que seja observado que são irrepreensíveis (I Tim 3.10), que governem bem a sua própria casa e que criem os filhos sob disciplina com todo respeito (I Tim 3.4), homens temperantes, sóbrios, modestos, hospitaleiros, aptos para ensinar (I Tim 3.2) dentre todas as demais qualificações exigidas para o ministério.  
Não foram, portanto escolhidos por Moisés homens que fossem hábeis políticos, mas homens de caráter comprovado e reconhecidamente sábios nas coisas de Deus, que seriam fiéis à confiança neles depositada, para conduzirem o povo do Senhor consoante a Sua santa vontade.
Daí o conselho de Paulo a Timóteo e Tito, quanto à escolha de líderes e mestres para as Igrejas:
“O que de minha parte ouviste, através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros.” (II Tim 2.2).

Quanto ao esforço necessário para se manter na condição exigida por Deus para a liderança do seu povo, aconselhou-o ainda a se “aplicar à leitura, à exortação, ao ensino” (I Tim 4.13).
Isto nos faz ver que o obreiro aprovado é formado mediante diligência na aplicação nos deveres ordenados por Deus.
Especialmente, porque ainda que os ministros sejam escolhidos e ordenados pelos homens, a Sua chamada foi originada no céu.
Não foi propriamente o homem quem os chamou, mas o Senhor.
Nos versos finais deste primeiro capítulo de Deuteronômio (19 a 46) são narrados eventos relacionados à incredulidade de Cades, que culminaram com a proibição daquela geração de israelitas de entrar em Canaã.
Em Deut 1.22,23, vemos que a ordem expedida por Deus a Moisés, para que fossem enviados, um líder de cada tribo para espiar Canaã em Núm 13.1,2, foi na verdade um consentimento ao pedido que os próprios israelitas fizeram neste sentido.
Moisés, antes disso, quando os israelitas chegaram em Cades-Barneia, lhes deu a Palavra de ordem de Deus que subissem e conquistassem a terra (Dt 1.20,21), mas  não confiaram o suficiente para simplesmente obedecerem à ordem divina e procuraram se cercar de garantias.
Desta forma, a política humana se interpôs à sabedoria divina e deu o resultado que já conhecemos.
Estratégias políticas funcionam para o mundo, mas não para a Igreja de Deus.
Como os israelitas não estavam seguros de que Deus iria adiante deles, pediram que fossem enviados primeiro alguns espiões, para que vissem qual seria o risco de obedecerem ao Senhor.
Abraão deixou a sua terra natal pela fé e peregrinou numa terra estranha, que lhe foi mostrada por Deus.
Fé é isto.
É partir e agir, sem primeiro consultar a carne e o sangue para saber o quanto se poderá perder ou ganhar em obedecer àquilo que foi determinado pelo Senhor.
Se há Sua palavra de ordem num determinado sentido não devemos avaliar as vantagens e desvantagens daquela e de outras direções.
Devemos simplesmente obedecer à direção que Ele nos deu e ponto final.
Esse é o único caminho para o sucesso e para a vitória na obra do Senhor.
Se conhecêssemos de antemão todo o grau de riscos e dificuldades do empreendimento no qual nos enveredamos, pelo mandado de Deus, é bem provável que não nos dispuséssemos a iniciá-lo.
Desta forma, em Sua infinita sabedoria, nem a todos tem revelado tudo quanto terão que enfrentar em sua luta contra a carne, o diabo e o mundo de trevas.
O Senhor os conduzirá em triunfo, em meio às batalhas que terão que empreender, fazendo com que a cada dia baste o seu próprio mal, para que nenhum dos seus servos seja esmagado debaixo da pressão de ansiedades, que possam asfixiar a sua fé, antes mesmo de iniciarem as batalhas em que terão que se empenhar em Seu serviço.
Deste modo, o expediente de enviar espias e fosse qual fosse o seu relatório, não teria o poder de invalidar a ordem original de Deus de entrarem na terra e conquistá-la.
Contudo, não pensavam desta forma, e então, Moisés destaca no verso 26 que não quiseram subir e foram rebeldes à ordem do Senhor.
Em vez de confiarem nEle, murmuraram e chegaram a dizer até mesmo que Deus lhes tinha ódio (v. 27), porque na sua perspectiva, lhes havia tirado do Egito para entregá-los nas mãos dos amorreus para serem destruídos.
Qualquer cristão em suas tribulações pode ser tentado a fazer o mesmo juízo errado acerca do desígnio de Deus, tal como eles fizeram.
Podem pensar que suas provações são maiores do que a providência e os livramentos do Senhor em seu favor.
Podem pensar que Satanás está tendo da parte de Deus, mais liberdade do que deveria ter, em se apoderar das almas que cabia a eles libertarem pelo poder do evangelho e da graça do Senhor.    
Não foi propriamente a nova geração à qual Moisés estava se dirigindo que havia se rebelado há quarenta anos atrás, mas narra aquela incredulidade havida no passado, porque estava falando à nação de Israel, e ainda que não viessem a responder em juízo pela incredulidade de seus pais, carregavam ainda sobre eles o opróbrio relativo à sua incredulidade, e Moisés estava relatando as coisas que haviam sido feitas pela nação de Israel, e que deveriam servir de advertência para eles, para que não incorressem no mesmo erro de seus pais.
No verso 36 se distingue a fé de Calebe e a sua perseverança em seguir ao Senhor, como o motivo de não ter sido submetido ao juízo de não entrar em Canaã, juntamente com os israelitas incrédulos.
Cabe destacar que o Senhor afirma que aqueles que perseverarem até o fim é que serão salvos.
Aqueles que são verdadeiramente da fé têm esta evidência:  perseveram em seguir ao Senhor tal como Calebe, e não recuarão jamais diante das circunstâncias adversas, porque uma fé autêntica vence as tribulações e persevera.
Desta forma, a perseverança não é a causa da salvação, que é unicamente pela graça mediante a fé, mas é a sua melhor evidência.  


“1 Estas são as palavras que Moisés falou a todo Israel além do Jordão, no deserto, na Arabá defronte de Sufe, entre Parã, Tofel, Labã, Hazerote e Di-Zaabe.
2 São onze dias de viagem desde Horebe, pelo caminho da montanha de Seir, até Cades-Barneia.
3 No ano quadragésimo, no mês undécimo, no primeiro dia do mês, Moisés falou aos filhos de Israel, conforme tudo o que o senhor lhes mandara por seu intermédio,
4 depois que derrotou a Siom, rei dos amorreus, que habitava em Hesbom, e a Ogue, rei de Basã, que habitava em Astarote, em Edrei.
5 Além do Jordão, na terra de Moabe, Moisés se pôs a explicar esta lei, e disse:
6 O Senhor nosso Deus nos falou em Horebe, dizendo: Assaz vos haveis demorado neste monte.
7 Voltai-vos, ponde-vos a caminho, e ide à região montanhosa dos amorreus, e a todos os lugares vizinhos, na Arabá, na região montanhosa, no vale e no sul; à beira do mar, à terra dos cananeus, e ao Líbano, até o grande rio, o rio Eufrates.
8 Eis que tenho posto esta terra diante de vós; entrai e possuí a terra que o Senhor prometeu com juramento dar a vossos pais, Abraão, Isaque, e Jacó, a eles e à sua descendência depois deles.
9 Nesse mesmo tempo eu vos disse: Eu sozinho não posso levar-vos,
10 o Senhor vosso Deus já vos tem multiplicado, e eis que hoje sois tão numerosos como as estrelas do céu.
11 O Senhor Deus de vossos pais vos faça mil vezes mais numerosos do que sois; e vos abençoe, como vos prometeu.
12 Como posso eu sozinho suportar o vosso peso, as vossas cargas e as vossas contendas?
13 Tomai-vos homens sábios, entendidos e experimentados, segundo as vossas tribos, e eu os porei como cabeças sobre vós.
14 Então me respondestes: bom fazermos o que disseste.
15 Tomei, pois, os cabeças de vossas tribos, homens sábios e experimentados, e os constituí por cabeças sobre vós, chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinquenta e chefes de dez, por oficiais, segundo as vossas tribos.
16 E no mesmo tempo ordenei a vossos juízes, dizendo: Ouvi as causas entre vossos irmãos, e julgai com justiça entre o homem e seu irmão, ou o estrangeiro que está com ele.
17 Não fareis acepção de pessoas em juízo; de um mesmo modo ouvireis o pequeno e o grande; não temereis a face de ninguém, porque o juízo é de Deus; e a causa que vos for difícil demais, a trareis a mim, e eu a ouvirei.
18 Assim naquele tempo vos ordenei todas as coisas que devíeis fazer.
19 Então partimos de Horebe, e caminhamos por todo aquele grande e terrível deserto que vistes, pelo caminho das montanhas dos amorreus, como o Senhor nosso Deus nos ordenara; e chegamos a Cades-Barneia.
20 Então eu vos disse: Chegados sois às montanhas dos amorreus, que o Senhor nosso Deus nos dá.
21 Eis aqui o Senhor teu Deus tem posto esta terra diante de ti; sobe, apodera-te dela, como te falou o Senhor Deus de teus pais; não temas, e não te assustes.
22 Então todos vós vos chegastes a mim, e dissestes: Mandemos homens adiante de nós, para que nos espiem a terra e, de volta, nos ensinem o caminho pelo qual devemos subir, e as cidades a que devemos ir.
23 Isto me pareceu bem; de modo que dentre vós tomei doze homens, de cada tribo um homem;
24 foram-se eles e, subindo as montanhas, chegaram até o vale de Escol e espiaram a terra.
25 Tomaram do fruto da terra nas mãos, e no-lo trouxeram; e nos informaram, dizendo: Boa é a terra que nos dá o Senhor nosso Deus.
26 Todavia, vós não quisestes subir, mas fostes rebeldes ao mandado do Senhor nosso Deus;
27 e murmurastes nas vossas tendas, e dissestes: Porquanto o Senhor nos odeia, tirou-nos da terra do Egito para nos entregar nas mãos dos amorreus, a fim de nos destruir.
28 Para onde estamos nós subindo? nossos irmãos fizeram com que se derretesse o nosso coração, dizendo: Maior e mais alto é o povo do que nós; as cidades são grandes e fortificadas até o céu; e também vimos ali os filhos dos anaquins.
29 Então eu vos disse: Não vos atemorizeis, e não tenhais medo deles.
30 O Senhor vosso Deus, que vai adiante de vós, ele pelejará por vós, conforme tudo o que tem feito por vós diante dos vossos olhos, no Egito,
31 como também no deserto, onde vistes como o Senhor vosso Deus vos levou, como um homem leva seu filho, por todo o caminho que andastes, até chegardes a este lugar.
32 Mas nem ainda assim confiastes no Senhor vosso Deus,
33 que ia adiante de vós no caminho, de noite no fogo e de dia na nuvem, para vos achar o lugar onde devíeis acampar, e para vos mostrar o caminho por onde havíeis de andar.
34 Ouvindo, pois, o Senhor a voz das vossas palavras, indignou-se e jurou, dizendo:
35 Nenhum dos homens desta geração perversa verá a boa terra que prometi com juramento dar a vossos pais,
36 salvo Calebe, filho de Jefoné; ele a verá, e a terra que pisou darei a ele e a seus filhos, porquanto perseverou em seguir ao Senhor.
37 Também contra mim o Senhor se indignou por vossa causa, dizendo: Igualmente tu lá não entrarás.
38 Josué, filho de Num, que te serve, ele ali entrará; anima-o, porque ele fará que Israel a receba por herança.
39 E vossos pequeninos, dos quais dissestes que seriam por presa, e vossos filhos que hoje não conhecem nem o bem nem o mal, esses lá entrarão, a eles a darei e eles a possuirão.
40 Quanto a vós, porém, virai-vos, e parti para o deserto, pelo caminho do Mar Vermelho.
41 Então respondestes, e me dissestes: Pecamos contra o Senhor; subiremos e pelejaremos, conforme tudo o que nos ordenou o Senhor nosso Deus. Vós, pois, vos armastes, cada um, dos vossos instrumentos de guerra, e temerariamente propusestes subir a montanha.
42 E disse-me o Senhor: Dize-lhes: Não subais nem pelejeis, pois não estou no meio de vós; para que não sejais feridos diante de vossos inimigos.
43 Assim vos falei, mas não ouvistes; antes fostes rebeldes à ordem do Senhor e, agindo presunçosamente, subistes à montanha.
44 E os amorreus, que habitavam naquela montanha, vos saíram ao encontro e, perseguindo-vos como fazem as abelhas, vos destroçaram desde Seir até Horma.
45 Voltastes, pois, e chorastes perante o Senhor; mas o Senhor não ouviu a vossa voz, nem para vós inclinou os ouvidos.
46 Assim foi grande a vossa demora em Cades, pois ali vos demorastes muitos dias.”  (Dt 1.1-46).



Deuteronômio 2

Consequências da Rejeição da Oferta de Paz do Evangelho

Moisés relata no segundo capítulo de Deuteronômio  que o número de dias, que os israelitas haviam peregrinado no deserto desde a incredulidade de Cades-Barneia, até passarem o ribeiro de Zerede, a sudeste do Mar Morto, para chegaram às planícies de Moabe, foram trinta e oito anos, até que toda aquela geração, dos homens de guerra incrédulos, fosse consumida do meio do arraial, como o Senhor lhes jurara, e lhes fizera, fazendo com que a Sua mão fosse contra eles para destruí-los do meio do Seu povo, até havê-los consumido (v. 13-15).
Muitos consideram que este juízo de Deus sobre os israelitas incrédulos foi extremamente duro, mas, na verdade foi uma grande prova da Sua infinita misericórdia e amor à humanidade, como forma de alertar às gerações subsequentes, de todas as épocas, pela ilustração daquele juízo, que há uma condenação eterna terrível aguardando por todos aqueles que não abandonarem a incredulidade, para que temendo, creiam em Cristo como o Senhor e Salvador de suas vidas.  
Não é dito nada sobre o que aconteceu naqueles 38 anos de peregrinação no deserto, exceto que lhes foi ordenado por Deus que retornassem em direção ao Mar Vermelho.
Foram dadas ordens expressas por Deus para que os israelitas não guerreassem contra os edomitas, e contra os moabitas e amonitas, por serem respectivamente descendentes de Esaú, filho de Isaque, e de Ló, sobrinho de Abraão, como também, não ocupassem nenhum dos seus territórios, porque havia lhes dado como herança aquelas terras.
Não pela fidelidade dos edomitas, moabitas e amonitas, mas por amor a Isaque e a Abraão.
Nisto se cumpre a promessa do Senhor de que usa de misericórdia com milhares da descendência daqueles que O amam e guardam os Seus mandamentos.
Em Dn 4.17, 25, 32 se repete a citação:
“o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer, e até o mais humilde dos homens constitui sobre eles.”
Deste modo, a terra não será herdada pelos violentos, mas por aqueles a quem o Senhor a tem destinado como herança, a saber os mansos (Mt 5.5).
O homem não prevalecerá pela força, porque é Deus que tudo dirige, assim como deu aos amonitas uma terra de gigantes.
Eles não puderam resistir aos amonitas porque o Senhor pelejou por eles (v. 20, 21) e fez com que prevalecessem sobre os gigantes que habitavam a terra, que passaram a ocupar.
Os gigantes que foram expulsos pelos amonitas, pela ajuda do Senhor foram temidos pela geração de Israel, que veio a perecer no deserto.
Que desonra para eles! Que vergonha para a sua falta de fé! Pois eram eles e não os amonitas que traziam a promessa de receberem Canaã por herança, conforme Deus havia prometido desde Abraão.
Apesar de Moisés ter enviado uma embaixada ao rei Siom, de Hesbom, como se vê no livro de Números, propondo-lhe condições de paz para passar por suas terras em direção a Canaã, este foi endurecido pelo Senhor, tal qual faraó, e veio guerrear contra os israelitas, de modo que entraram na posse daquele território.
Não se entenda este endurecimento de modo incorreto, porque Deus a ninguém tenta, então, o seu signficado só pode estar associado ao fato de não ter recebido graça da parte do Senhor, para abandonar a perversidade do seu mau caminho.
Cabe ainda, em nome do que é justo, esclarecer que a todas as nações com as quais Israel guerreou, foi ordenado por Deus, que antes, lhes fosse proposta a paz.
Como havia rejeição e até mesmo coligação de naçções, com a intenção de destruir Israel, então o Senhor agia para dar a vitória ao Seu povo.
Não houve portanto uma carnificina realizada por Israel contra as cidades estado fortificadas da terra de Canaã, como alguns costumam pensar, sem que tenham feito uma análise adequada e completa de todo o registro bíblico acerca de tais fatos históricos.
Eles entrariam em Canaã com Josué, não muito tempo depois, cruzando o rio Jordão, que se abriu para que passassem a pé enxuto para o outro lado, à altura de Jericó, e do extremo norte do Mar Morto, e Hesbom ficava naquela direção, e seria deste modo, um lugar estratégico para ser ocupado pelos israelitas, antes da sua travessia do Jordão.
Desta forma, Deus daria aos israelitas aquelas terras, mas teriam que lutar para conquistá-las.
Aquilo que Deus nos dá, devemos nos esforçar para adquirir. Se Ele nos fizer promessas, não devemos nos acomodar, mas orar com perseverança para que elas sejam cumpridas.
Contudo devemos confiar não na nossa própria força e capacidade mas no fato de que Ele pelejará por nós conforme nos tem prometido, pois sem fé, por mais que nos esforcemos, isto em nada lhe agradará, porque estaríamos buscando mérito e louvor para nós mesmos e não ocasião para que o nome dEle e exclusivamente Ele sejam glorificados.
Por isso sempre faz a promessa em nossas lutas, de que é Ele quem peleja por nós, assim como fizera em relação a Israel (Dt 1.30; 3.22).
A paz oferecida por Moisés foi rejeitada por Siom, por causa da dureza do seu próprio coração e do seu povo.
Tal como o evangelho que é oferecido também a todas as pessoas, com sua oferta de paz do pecador com Deus, por meio do recebimento gratuito da justiça de Cristo para a nossa justificação.
E há muitos que, como Siom e o seu povo, rejeitam tal oferta de paz, e permanecem numa atitude de guerra espiritual contra a vontade de Deus.
Não é necessário dizer qual será o resultado da tomada de tal atitude.



  “1 Depois viramo-nos, e caminhamos para o deserto, pelo caminho do Mar Vermelho, como o Senhor me tinha dito, e por muitos dias rodeamos o monte Seir.
2 Então o Senhor me disse:
3 Basta de rodeardes este monte; virai-vos para o norte.
4 Dá ordem ao povo, dizendo: Haveis de passar pelo território de vossos irmãos, os filhos de Esaú, que habitam em Seir; e eles terão medo de vós. Portanto guardai-vos bem;
5 não contendais com eles, porque não vos darei da sua terra nem sequer o que pisar a planta de um pé; porquanto a Esaú dei o monte Seir por herança.
6 Comprareis deles por dinheiro mantimento para comerdes, como também comprareis deles água para beberdes.
7 Pois o Senhor teu Deus te há abençoado em toda obra das tuas mãos; ele tem conhecido o teu caminho por este grande deserto; estes quarenta anos o Senhor teu Deus tem estado contigo; nada te há faltado.
8 Assim, pois, passamos por nossos irmãos, os filhos de Esaú, que habitam em Seir, desde o caminho da Arabá de Elate e de Eziom-Geber: Depois nos viramos e passamos pelo caminho do deserto de Moabe.
9 Então o Senhor me disse: Não molestes aos de Moabe, e não contendas com eles em peleja, porque nada te darei da sua terra por herança; porquanto dei Ar por herança aos filhos de Ló.
10 (Antes haviam habitado nela os emins, povo grande e numeroso, e alto como os anaquins;
11 eles também são considerados refains como os anaquins; mas os moabitas lhes chamam emins.
12 Outrora os horeus também habitaram em Seir; porém os filhos de Esaú os desapossaram, e os destruíram de diante de si, e habitaram no lugar deles, assim como Israel fez à terra da sua herança, que o Senhor lhe deu.)
13 Levantai-vos agora, e passai o ribeiro de Zerede. Passamos, pois, o ribeiro de Zerede.
14 E os dias que caminhamos, desde Cades-Barneia até passarmos o ribeiro de Zerede, foram trinta e oito anos, até que toda aquela geração dos homens de guerra se consumiu do meio do arraial, como o Senhor lhes jurara.
15 Também foi contra eles a mão do Senhor, para os destruir do meio do arraial, até os haver consumido.
16 Ora, sucedeu que, sendo já consumidos pela morte todos os homens de guerra dentre o povo,
17 o Senhor me disse:
18 Hoje passarás por Ar, o limite de Moabe;
19 e quando chegares defronte dos amonitas, não os molestes, e com eles não contendas, porque nada te darei da terra dos amonitas por herança; porquanto aos filhos de Ló a dei por herança.
20 (Também essa é considerada terra de refains; outrora habitavam nela refains, mas os amonitas lhes chamam zanzumins,
21 povo grande e numeroso, e alto como os anaquins; mas o Senhor os destruiu de diante dos amonitas; e estes, tendo-os desapossado, habitaram no lugar deles;
22 assim como fez pelos filhos de Esaú, que habitam em Seir, quando de diante deles destruiu os horeus; e os filhos de Esaú, havendo-os desapossado, habitaram no lugar deles até hoje.
23 Também os caftorins, que saíram de Caftor, destruíram os aveus, que habitavam em aldeias até Gaza, e habitaram no lugar deles.)
24 Levantai-vos, parti e passai o ribeiro de Arnom; eis que entreguei nas tuas mãos a Siom, o amorreu, rei de Hesbom, e à sua terra; começa a te apoderares dela, contendendo com eles em peleja.
25 Neste dia começarei a meter terror e medo de ti aos povos que estão debaixo de todo o céu; os quais, ao ouvirem a tua fama, tremerão e se angustiarão por causa de ti.
26 Então, do deserto de Quedemote, mandei mensageiros a Siom, rei de Hesbom, com palavras de paz, dizendo:
27 Deixa-me passar pela tua terra; somente pela estrada irei, não me desviando nem para a direita nem para a esquerda.
28 Por dinheiro me venderás mantimento, para que eu coma; e por dinheiro me darás a água, para que eu beba. Tão-somente deixa-me passar a pé,
29 assim como me fizeram os filhos de Esaú, que habitam em Seir, e os moabitas que habitam em Ar; até que eu passe o Jordão para a terra que o Senhor nosso Deus nos dá.
30 Mas Siom, rei de Hesbom, não nos quis deixar passar por sua terra, porquanto o Senhor teu Deus lhe endurecera o espírito, e lhe fizera obstinado o coração, para to entregar nas mãos, como hoje se vê.
31 Disse-me, pois, o Senhor: Eis aqui, comecei a entregar-te Siom e a sua terra; começa, pois, a te apoderares dela, para possuíres a sua terra por herança.
32 Então Siom nos saiu ao encontro, ele e todo o seu povo, à peleja, em Jaza;
33 e o Senhor nosso Deus no-lo entregou, e o ferimos a ele, e a seus filhos, e a todo o seu povo.
34 Também naquele tempo lhe tomamos todas as cidades, e fizemos perecer a todos, homens, mulheres e pequeninos, não deixando sobrevivente algum;
35 somente tomamos por presa o gado para nós, juntamente com o despojo das cidades que havíamos tomado.
36 Desde Aroer, que está à borda do vale do Arnom, e desde a cidade que está no vale, até Gileade, nenhuma cidade houve tão alta que de nós escapasse; tudo o Senhor nosso Deus no-lo entregou.
37 Somente à terra dos amonitas não chegastes, nem a parte alguma da borda do ribeiro de Jaboque, nem a cidade alguma da região montanhosa, nem a coisa alguma que o Senhor nosso Deus proibira.“ (Dt 2.1-37).



Deuteronômio 3

Ilustrações do Juízo Final

Em Sua presciência, Deus havia declarado, há mais de quatrocentos anos, antes de Moisés, a Abraão, que a medida da iniquidade dos amorreus seria completada, isto é, nos dias de Abraão  não tinham ainda atingido o nível de iniquidade que viriam a atingir nos dias de Moisés, e Deus estabeleceria um juízo sobre aquele povo usando os israelitas como a Sua espada vingadora.
Tanto Siom, rei de Hesbom, quanto Ogue, rei de Basã, que ficava ao norte de Hesbom, eram reis dos amorreus.
Desta forma, o Senhor sabe também quando se completará a medida da iniquidade do mundo, e que a propósito, vem se multiplicando rapidamente em nossos dias, conforme Jesus havia profetizado, e quando esta medida estiver completa Ele voltará para julgar a todos os que vivem na prática da iniquidade.
Isto é tão certo de ter cumprimento assim como o Senhor o cumpriu depois de o haver prometido a Abraão em relação aos amorreus.
Na verdade, aqueles povos tiveram a oportunidade, pela longanimidade divina, de mudarem o seu procedimento, durante quatro séculos, mas em vez disso, só progrediram na maldade e na perversidade.
E desde então, há vários séculos que Deus vem dando oportunidade aos homens para se arrependerem e crerem em Cristo, para serem justificados, para viverem na prática da justiça.
Mas parece que se dá com o homem moderno, o mesmo que sucedeu aos amorreus.
Aqueles juízos foram apenas uma ilustração, uma pequena amostra, do grande juízo que virá sobre todos os homens, que não se arrependerem dos seus pecados.
Tudo sucedeu e foi registrado na Bíblia, para a nossa advertência.
Deus ordenou a Moisés a por tudo por escrito, para testemunho a todas as gerações. E o fizera por amor e misericórdia, na expectativa de que nos arrependamos, porque não tem prazer na morte espiritual de ninguém.
Aqui em Deuteronômio é citado o número das cidades dos amorreus de Basã, que foram destruídas pelos israelitas, e que eram fortificadas com altos muros, portas e ferrolhos: 60 cidades.
Além destas  conquistaram outras cidades dos amorreus que não tinham muros (v. 4,5). Deste modo, Israel estendeu os seus domínios na Transjordânia até os limites do monte Hermon (v. 8,9).
Ogue, rei de Basã, era o último descendente dos refains, os gigantes, e a sua cama tinha cerca de quatro metros e meio de comprimento (nove côvados) e dois metros de largura (v. 11).
Mas, como falamos antes, nenhum dos inimigos daqueles que amam e servem a Deus, será páreo para eles, se confiarem tão somente no Seu Senhor, porque Ele mesmo pelejará por Eles, e quem é mais forte do que Deus? Quem poderá vencê-lo? Pois somente Ele é Criador e tudo o mais é criatura.
Dos versos 12 a 20 é citada a partilha das terras conquistadas na Transjordânia pelas tribos de Ruben, Gade e à meia tribo de Manasses, conforme se detalha no livro de Números.
Os limites de demarcação daquelas terras estão claramente definidos aqui neste terceiro capítulo de Deuteronômio.
Moisés disse aos israelitas, mais uma vez, que foi pela proibição expressa do Senhor que ele não poderia entrar em Canaã e que Josué fora designado como seu sucessor para liderá-los na sua conquista.
Com isto não ficariam desanimados porque saberiam que a morte de Moisés não  significava que estavam perdendo o favor de Deus.
Na Igreja, o interesse individual deve ser absorvido pelo coletivo, e este, pelo do Senhor.
Eis a grande lição que deve ser retirada da negação do pedido de Moisés para entrar na terra pelo Senhor.
O povo deveria aprender a confiar no Seu Deus.
Os líderes terrenos vêm e vão, mas o Senhor permanece para sempre na companhia do Seu povo, conforme a Sua promessa de estar com eles todos os dias até a consumação dos séculos (Mt 28.20).
Nossos líderes devem ser amados e estimados mas, se por alguma circunstância  já não seguem conosco, sendo levantados em seu lugar outros líderes pelo Senhor, assim do modo que O servimos debaixo da liderança dos que se foram, devemos mostrar a mesma diligência e fidelidade aos novos, e não agirmos em bases sentimentais e emocionais, mas segundo a verdade, em cumprimento aos elevados interesses do reino de Deus.
Moisés lembra o povo que a proibição dele entrar na terra fora em decorrência de um juízo de Deus por causa do pecado de rebelião deles nas águas de Meribá de Cades, isto é, cerca de apenas um ano antes, quando chegaram naquela localidade, quando foram ordenados por Deus a retomarem a conquista da terra prometida, depois de haverem peregrinado no deserto.
Ele disse o seguinte:
“Mas o Senhor indignou-se muito contra mim por causa de vós, e não me ouviu; antes me disse: Basta; não me fales mais nisto.” (v. 26).
Isto é, queria que entendessem que caso não houvessem murmurado e se rebelado contra ele e contra o Senhor, não teria sido induzido à tentação de não crer que Deus lhes daria de beber mesmo em face de toda aquela rebeldia, e consequentemente não teria se exaltado contra eles como havia feito.
Que isto, pois lhes servisse de advertência para não prejudicarem dali por diante o trabalho de seus novos líderes, especialmente de Josué, com os seus pecados.
O juízo contra ele era de certo modo também um juízo contra eles, pois por aquele juízo ficariam privados da sua companhia.
Se prejudicamos o trabalho da liderança, em vez de cooperar com ele, de certo modo somos indiretamente também prejudicados porque ficaremos privados das bênçãos que fluiriam da parte de Deus para nós através deles.
Mas os juízos de Deus sobre o Seu povo vêm acompanhados da Sua misericórdia, pois não apenas permitiu a Moisés ver a terra de Canaã do topo do monte de Pisga (v. 27), antes de morrer, como preparou Josué para ser seu sucessor na liderança dos israelitas.

“1 Depois nos viramos e subimos pelo caminho de Basã; e Ogue, rei de Basã, nos saiu ao encontro, ele e todo o seu povo, à peleja, em Edrei.
2 Então o Senhor me disse: Não o temas, porque to entreguei nas mãos, a ele e a todo o seu povo, e a sua terra; e farás a ele como fizeste a Siom, rei dos amorreus, que habitava em Hesbom.
3 Assim o Senhor nosso Deus nos entregou nas mãos também a Ogue, rei de Basã, e a todo o seu povo; de modo que o ferimos, até que não lhe ficou sobrevivente algum.
4 E naquele tempo tomamos todas as suas cidades; nenhuma cidade houve que não lhes tomássemos: sessenta cidades, toda a região de Argobe, o reino de Ogue em Basã,
5 cidades estas todas fortificadas com altos muros, portas e ferrolhos, além de muitas cidades sem muros.
6 E destruímo-las totalmente, como fizéramos a Siom, rei de Hesbom, fazendo perecer a todos, homens, mulheres e pequeninos.
7 Mas todo o gado e o despojo das cidades, tomamo-los por presa para nós.
8 Assim naquele tempo tomamos a terra da mão daqueles dois reis dos amorreus, que estavam além do Jordão, desde o rio Arnom até o monte Hermom
9 (ao Hermom os sidônios chamam Siriom, e os amorreus chamam-lhe Senir) ,
10 todas as cidades do planalto, e todo o Gileade, e todo o Basã, até Salca e Edrei, cidades do reino de Ogue em Basã.
11 Porque só Ogue, rei de Basã, ficou de resto dos refains; eis que o seu leito, um leito de ferro, não está porventura em Rabá dos amonitas? o seu comprimento é de nove côvados, e de quatro côvados a sua largura, segundo o côvado em uso.
12 Naquele tempo, pois, tomamos essa terra por possessão. Desde Aroer, que está junto do vale do Arnom, e a metade da região montanhosa de Gileade, com as suas cidades, dei aos nibenitas e gaditas;
13 e dei à meia tribo de Manassés o resto de Gileade, como também todo o Basã, o reino de Ogue, isto é, toda a região de Argobe com todo o Basã. (O mesmo se chamava a terra dos refains.
14 Jair, filho de Manassés, tomou toda a região de Argobe, até a fronteira dos resuritas e dos maacatitas, e lhes chamou, inclusive o Basã, pelo seu nome, Havote-Jair, até hoje).
15 E a Maquir dei Gileade.
16 Mas aos rubenitas e gaditas dei desde Gileade até o vale do Arnom, tanto o meio do vale como a sua borda, e até o ribeiro de Jaboque, o termo dos amonitas;
17 como também a Arabá, com o Jordão por termo, desde Quinerete até o mar da Arabá, o Mar Salgado, pelas faldas de Pisga para o oriente.
18 No mesmo tempo também vos ordenei, dizendo: O Senhor vosso Deus vos deu esta terra, para a possuirdes; vós, todos os homens valentes, passareis armados adiante de vossos irmãos, os filhos de Israel.
19 Tão-somente vossas mulheres, e vossos pequeninos, e vosso gado (porque eu sei que tendes muito gado) ficarão nas cidades que já vos dei;
20 até que o Senhor dê descanso a vossos irmãos como a vós, e eles também possuam a terra que o Senhor vosso Deus lhes dá além do Jordão: Então voltareis cada qual à sua herança que já vos tenho dado.
21 Também dei ordem a Josué no mesmo tempo, dizendo: Os teus olhos viram tudo o que o Senhor vosso Deus tem feito a esses dois reis; assim fará o Senhor a todos os reinos a que tu estás passando.
22 Não tenhais medo deles, porque o Senhor vosso Deus é o que peleja por nós.
23 Também roguei ao Senhor nesse tempo, dizendo:
24 Ó Senhor Jeová, tu já começaste a mostrar ao teu servo a tua grandeza e a tua forte mão; pois, que Deus há no céu ou na terra, que possa fazer segundo as tuas obras, e segundo os teus grandes feitos?
25 Rogo-te que me deixes passar, para que veja essa boa terra que está além do Jordão, essa boa região montanhosa, e o Líbano!
26 Mas o Senhor indignou-se muito contra mim por causa de vós, e não me ouviu; antes me disse: Basta; não me fales mais nisto.
27 sobe ao cume do Pisga, e levanta os olhos para o ocidente, para o norte, para o sul e para o oriente, e contempla com os teus olhos; porque não passarás este Jordão.
28 Mas dá ordens a Josué, anima-o, e fortalece-o, porque ele passará adiante deste povo, e o levará a possuir a terra que tu verás.
29 Assim ficamos no vale defronte de Bete-Peor.“ (Dt 3.1-29).


Deuteronômio 4

Ira Equilibrada com Longanimidade

No quarto capítulo de Deuteronômio encontramos uma séria exortação à obediência, com uma grande variedade de argumentos.
Depois de ter falado as coisas dos capítulos precedentes e contemplando aquelas que ainda viria a falar, Moisés, pelo Espírito Santo, começa este discurso com as seguintes palavras:
“Agora, pois, ó Israel, ouve os estatutos e os preceitos que eu vos ensino, para os observardes” (v. 1a),
E, tendo definido que o propósito dos estatutos e preceitos de Deus era para que fossem cumpridos, ele define a finalidade desta obediência:
“a fim de que vivais, e entreis e possuais a terra que o Senhor Deus de vossos pais vos dá.”
A Bíblia ensina que houve uma dispensação da lei, mas não uma dispensação da lei sem a graça.
Assim como ensina que há uma dispensação da graça, mas não sem a lei.
Quando Abraão foi justificado pela fé, o que foi isto senão a operação da graça?
A conversão da prostituta Raabe deveu-se a quê, senão também à graça?
Multiplicam-se os exemplos daqueles que foram salvos pela graça, mediante a fé nos dias do Velho Testamento.
Os exemplos dos que se converteram foram registrados para deixar marcado que desde que o homem pecou, no ato mesmo de Deus ter procurado Adão entre as árvores do Éden, e tê-lo vestido, bem como à sua mulher, com vestes de peles de animais, isto indica que Ele é o Deus de graça, tanto quanto é o Deus da ira.
É o Deus da misericórdia, perdoador, tanto quanto é o Deus que não inocenta o culpado e que visita a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração.
Deste modo, sempre houve para todos os israelitas, na chamada dispensação da lei, em que havia, como já nos referimos antes, a disponibilidade da graça salvadora, uma porta aberta para a salvação eterna por se estar unido a Deus pela fé nEle, e isto se comprovaria pelo cumprimento dos Seus mandamentos, como evidência desta fé, não mecanicamente, mas numa sincera obediência de coração, conforme a que é ordenada pelo Espírito através de Moisés, ao longo de todo o livro de Deuteronômio.
Ele lembra aos israelitas, que Deus é um fogo consumidor e que havia manifestado o atributo da Sua ira quando Eles a provocaram (Deut 4.25) com suas práticas idolátricas, e destacou a morte daqueles 24.000 israelitas por terem idolatrado por influência das mulheres midianitas em Baal-Peor (Deut 4.3).
Seguir o Senhor cumprindo os Seus mandamentos significava vida e posse da terra de Canaã, mas para um verdadeiro israelita, que estivesse ligado pela fé ao Senhor, certamente isto seria vida eterna, e livramento eterno da condenação futura, porque os que nEle crêem são livrados da Sua ira, e por conseguinte da condenação eterna no inferno de fogo.
A Bíblia está repleta de exemplos desta manifestação da ira de Deus contra o pecado e contra o pecador, que permanece na prática do pecado.
Esta é uma época de misericórdia, como dissemos, desde Adão, e a manifestação desta misericórdia, se intensificou em todas as nações, desde a morte de nosso Senhor Jesus Cristo, no entanto, isto não excluiu o atributo divino da ira, que está ligado à Sua própria natureza.
Especialmente aqueles que partem deste mundo, sem ter a Jesus como Seu Salvador pessoal, são imediatamente colocados debaixo da ação da ira de Deus contra o pecado, numa condenação eterna, conforme vários textos bíblicos o confirmam.
Um verdadeiro israelita, que fosse da fé, conhecido de Deus, e que conhecesse a Deus, nos dias de Moisés, que pecasse, e fosse alvo da correção do Senhor, não era, no entanto sujeitado ao juízo da condenação eterna no inferno de fogo, por causa desta fé que livra da ira futura.
No entanto, todos aqueles que não conheciam a Deus e que, por conseguinte evidenciavam isto não amando e não guardando Seus mandamentos, já estavam condenados; e a execução da sentença ao sofrimento eterno aguardava somente pela saída deles deste mundo, pela morte.  
A ira de Deus é uma perfeição divina tanto quanto é a sua fidelidade, a Sua misericórdia, o Seu amor, e todos os Seus demais atributos.
Se não fosse assim poderia ser dito que há falha no caráter de Deus, mas isto é impossível, pois não há nenhuma imperfeição nEle.
Se não houvesse o atributo da ira divina Ele seria indiferente para com o pecado e isto configuraria uma nódoa moral, porque aquele que não odeia o pecado é um enfermo moral.
Como poderia o Senhor, que é a soma de todas as virtudes olhar com igual satisfação para as virtudes e para os vícios?
Como poderia Aquele que é infinitamente santo ficar indiferente ao pecado e negar-Se a manifestar a Sua ira em relação aos que vivem na prática deliberada do pecado (Rm.11:22)?
Desta forma, a natureza de Deus faz do inferno uma necessidade tão real e imperativa tanto quanto o céu.
Era isto que o Espírito estava mantendo em perspectiva através das palavras de Moisés que lemos neste quarto capítulo de Deuteronômio.
A Palavra de Deus é a verdade. Ela é o meio da nossa santificação. Ela aponta tanto para a misericórdia quanto para a ira de Deus. Precisamos lembrar de ambas as coisas.
É por isso que o Espírito Santo passa em revista na Palavra tanto a bondade de Deus para com a nossa obediência, quanto a manifestação da Sua ira para com os nossos pecados voluntários, pelo desprezo da graça que Ele nos oferece para um viver santo.
A meditação sobre a ira não é menos necessária do que a meditação sobre a misericórdia, porque é pela meditação na ira e não na misericórdia, que os nossos corações ficam devidamente impressionados com o ódio que  Deus tem ao pecado.
Isto é necessário porque a inclinação da nossa natureza terrena está disposta para a carne e não para o Espírito, e a carne nunca fará a devida avaliação do que seja o pecado, e sempre procurará lhe fazer concessões por não lhe dar a devida atenção.
É pelo conhecimento da ira de Deus, revelada em toda a sua extensão nas Escrituras, que se chega ao verdadeiro temor a Deus (Hb 12.28,29).
Também faz com que demos o devido valor à obra de salvação de Jesus Cristo em nosso favor, levando-nos a sermos gratos e a louvá-lo sempre, pelo livramento de tão grande ira do Deus Todo-Poderoso, que há de cair sobre todos aqueles que não creem no Seu santo nome (I Tes 1.10).
O motivo da nossa santificação era o amor do Senhor por nós, mas será uma santificação em piedade, temor e tremor, por conhecermos o quanto Ele detesta o pecado.
Por isso não há nada Bíblia que mande os cristãos desconsiderarem a ira divina, por terem sido livrados da condenação eterna pela fé em Cristo, porque a ira é contra o pecado, em quem quer que se encontre, ainda que sejam autênticos cristãos que não sofrerão mais a manifestação da ira em condenação eterna, porque Cristo a sofreu no lugar deles.
Vale considerar que o fogo do inferno não foi criado pelo diabo, pois jamais criaria aquele fogo para atormentar a ele próprio.
A manifestação deste fogo contra o pecado foi exibida inúmeras vezes entre os próprios israelitas.
Eles viram por diversas vezes a glória de Deus trazendo este fogo consumidor, quer na vida de Nadabe e Abiú, quer em Taberá; onde as extremidades do arraial foram consumidas pelo fogo; quer em Corá, Datã  e Abirão, que desceram vivos ao Seol, em fogo quando a terra abriu a boca e os engoliu; quer os 250 príncipes que foram queimados quando se apresentaram com seus incensários diante do tabernáculo; e cabe destacar que para demonstrar a manifestação da Sua ira como um fogo consumidor, as cidades de Sodoma e Gomorra foram destruídas nos dias de Abraão com o fogo que desceu do céu sobre elas.
Por isso é dito no versículo 12 que quando o Senhor proferiu audivelmente os dez mandamentos a Israel, Ele o fez do meio do fogo, para que Israel soubesse que Ele é um fogo consumidor (v. 24).
Quando lhes falou do meio do fogo não viram nenhuma aparência, para que não tentassem representá-lo sob qualquer forma de criatura, para que em O abandonando, para adorá-las, viessem a estar sujeitos àquele fogo da ira divina, que ainda que não fosse manifestado imediatamente contra o seu pecado, certamente o seria para sempre quando chegassem ao inferno, que é o lugar reservado para todos aqueles que provocam a ira de Deus, servindo a outros deuses.  
Vivemos em dias em que usa de longanimidade para com todos na expectativa de que venham a alcançar a salvação.
Mas está sob a exclusiva autoridade e soberania de Deus, quando, onde e sobre quem executar tais juízos, nos que vivem sobre a terra.
O modo de se provocar a Sua ira é transgredindo os Seus mandamentos, e o modo de obter o Seu favor e louvor é se arrependendo e guardando os Seus mandamentos, em tudo quanto tem revelado em Sua Palavra quanto à Sua vontade, e por isso afirma através de Moisés:
“Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor vosso Deus, que eu vos mando.” (v. 2).
Moisés enfatizou que a Palavra não era propriamente sua, mas é a Palavra de Deus, conforme lhe foi ordenado que a ensinasse aos israelitas:
“Eis que vos ensinei estatutos e preceitos, como o Senhor meu Deus me ordenou, para que os observeis no meio da terra na qual estais entrando para a possuirdes.” (v. 5)
Uma grande prova de que aquela Palavra não era realmente procedente do homem, mas do céu, era o fato de que nenhuma das nações da terra tinha qualquer lei, que pudesse ser comparada à que foi dada aos israelitas, e que não constava de mandamentos criados pela conveniência dos homens, mas que era a essência mesma da justiça de Deus, da Sua própria pessoa, que se manifestava a eles quando O invocavam, por guardarem os seus estatutos e preceitos (v. 6-8).
Por isso, o israelita que quisesse guardar a si mesmo e à sua alma, não deveria esquecer que Deus lhes havia falado no Horebe e havia feito um pacto com eles através dos Seus mandamentos, e deveriam se esforçar para que isto nunca se apagasse de seus corações, e um excelente meio para que isto não ocorresse seria o dever de contar todas as coisas que o Senhor fez a eles tanto a seus filhos quanto aos seus netos (v. 6-9), conforme o próprio mandado do Senhor de que aprendessem Seus mandamentos, para que O temessem todos os dias que vivessem na terra, e que os ensinassem a seus filhos (v. 10).
Veja que o temor que é devido ao Senhor é durante todos os dias das nossas vidas.
Este temor é mediante a prática da Sua Palavra e o dever de ensiná-la a outros.
Jesus nos deu o grande mandamento do nosso dever de pregar o evangelho a toda criatura, e não somente aos nossos familiares, e com o cumprimento deste e de todos os demais mandamentos que Ele nos deu, inclusive pela confirmação de toda a lei moral do Antigo Testamento, é que se cumprem as Suas promessas de se manifestar a nós, de atender os nossos pedidos, que sejam segundo a Sua vontade, e que enfim, se alcança uma vida verdadeiramente abençoada.
“Se me amardes, guardareis os meus mandamentos.” (Jo 14.15).
“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.” (Jo 14.21).
“Quem não me ama, não guarda as minhas palavras; ora, a palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai que me enviou.” (Jo 14.24).
“Se vós permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e vos será feito.” (Jo 15.7).
O pacto que o Senhor fez com os israelitas nos dias de Moisés estava firmado na obediência deles aos dez mandamentos e aos demais estatutos e preceitos que Ele deu a Moisés para que eles cumprissem (v. 11-14).
De igual modo o pacto que tem feito conosco através de Jesus é para que obedeçamos a Sua Palavra. A fidelidade à aliança requer a nossa obediência à Sua vontade, e esta está revelada na Bíblia.
Guardar os mandamentos de Deus requer que se guarde bem a própria alma, e isto deve ser feito com diligência conforme afirmado nos versos 9 e 15. Cuidar de si mesmo é um dever imposto pela Palavra do Senhor, e no caso de ministros do evangelho, estes devem cuidar também do rebanho de  Deus (At 20.28).
 Desta forma, o Espírito não estava ordenando através de Moisés o mero cumprimento legal dos mandamentos, mas a necessidade de se esforçar para alcançar a graça do Senhor para cuidarem, zelarem, e serem diligentes em relação a ter a alma preservada, em santidade (v. 9, 15, 23).
Ser diligente para guardar a sua alma em santidade diante do Senhor é o dever de todo verdadeiro cristão.
Os cristãos devem ser cautelosos em sua caminhada neste mundo, considerando a quantas tentações estamos expostos, e quantas inclinações pecaminosas carregamos em nosso próprio seio.
Deste modo, temos grande necessidade de cuidar de nós mesmos e manter nossos corações puros com toda a diligência.
Não podem caminhar corretamente no caminho do Senhor aqueles que são negligentes em sua caminhada.
Moisés alertou os israelitas especialmente quanto ao pecado de idolatria, porque seria por ele que seriam mais tentados, por causa da sua predominância em todas as demais nações com as quais teriam que lutar e conviver.
Particularmente no caso dos cananeus, cuja idolatria combateriam, havia o perigo de contaminação.
Cautela, diligência, cuidado de si mesmo com toda a atenção são necessários para não se deixar vencer pelo mal.
 “Ou pensais que em vão diz a escritura: O Espírito que ele fez habitar em nós anseia por nós até o ciúme?” (Tg 4.5)
A palavra ciúme vem de zelo (v. 24). Zelo em guardar o que Lhe pertence. Ele nos criou para ter todo o nosso afeto e não permitirá que não O amemos em santa amizade e comunhão, e pior ainda, por motivo de dedicarmos esta devoção a falsos deuses.
Alguém poderia argumentar: “mas este preceito da idolatria se referia a Israel no Velho Testamento.” Todavia, devemos lembrar que Jesus validou tudo que o que há na Lei moral, quando disse que não veio revogá-la, mas cumprir.
O zelo de Deus sobre nós é uma boa razão para o nosso zelo em nossa consagração e cumprimento dos Seus mandamentos.
A graça que nos salvou não nos salvou para uma vida descuidada, senão para produzir em nós uma viva verdadeiramente santa.
A operação desta graça está condicionada à nossa diligência, ao nosso zelo nas coisas que nos são ordenadas pelo Senhor em Sua Palavra.
Ainda que o fogo da ira de Deus não destruirá mais, eternamente, àqueles que estão unidos pela fé a Cristo, ele arderá eternamente sobre todos aqueles que não conhecem o Senhor, se eles saírem deste mundo sem este conhecimento salvífico (Jo 17.3).
É isto que dói no coração dos cristãos. E é isto que os leva a se empenharem tanto na salvação de pessoas em todas as ocasiões e lugares, porque conhecem as consequências terríveis da ignorância da pessoa e vontade de Deus, que é produzida pela incredulidade.
Jesus diz que Ele conhece as suas ovelhas e que elas O conhecem.
Isto é o que salva da ira futura. Os que conhecem a Deus não serão destruídos pela Sua ira.
Israel tinha o privilégio de poder ter comunhão com Deus (v. 7), mas isto é feito sempre mediante a Palavra e a oração, em quem habite uma fé genuína.
A nossa comunhão com Deus é a mais elevada honra e felicidade que podemos desfrutar neste mundo. Deus está sempre pronto a se deixar encontrar por aqueles que o adoram em espírito e em verdade.
Era um dever de Israel honrar este nome, que o próprio Senhor lhe dera e que significa príncipe de Deus.
Qual outra nação era designada por este nome? A Igreja é designada como Israel de Deus (Gl 6.16; Rm 9.6-8; Fp 3.3).
Assim como Deus distinguiu o Seu povo dentre as nações, é dever deste povo viver de modo distinto, conforme designado pelo Senhor, para que o Seu nome seja glorificado entre aqueles que não O conhecem (gentios, estranhos). Foi para este propósito que livrou os israelitas do Egito. (v. 20)
Os argumentos para convencer Israel, que deveria viver de modo distinto para Deus, diferentemente dos costumes das demais nações se estendem até o versículo 40.
Aqui são descritas as consequências fatais da apostasia (v. 25-31), como por exemplo, o serem espalhados entre as nações, reduzidos em número e serem destruídos:
Seriam constrangidos, pelo próprio pecado de idolatria deles a adorarem os deuses das nações para onde fossem espalhados, e não os deuses que haviam escolhido adorar em Israel, porque seriam a isto obrigado pelos governantes das nações que os dominassem (v. 28).
Mas, como o Senhor é também misericordioso, além de justo, e que se ira contra o pecado, dar-lhes-ia uma oportunidade para o arrependimento, se da terra do cativeiro O buscassem de todo o seu coração e alma  (Dt 4.29-31).
Daí se retira uma preciosa lição para os verdadeiros cristãos, quando estes se encontram em profundezas, em razão de pecados que tenham praticado: eles devem clamar a Deus, confiados em Sua misericórdia, pois este é um tempo de graça e misericórdia, pois enquanto houver mundo, e antes que Jesus venha, há uma disponibilidade de graça e misericórdia para os pecadores, sejam eles cristãos ou não cristãos.
É o próprio Deus que lhes ordena a clamarem por Ele e a buscarem-no com todo o coração e alma.
A promessa para aqueles que se voltarem para o Senhor é a de que ouvirão a Sua voz, porquanto é Deus misericordioso, e não desampara os que são seus por causa da aliança que fez com eles por meio de Cristo, do mesmo modo que havia se aliançado com os israelitas por causa da promessa feita aos patriarcas de fazer um pacto com eles.
Quando os cristãos são corrigidos pelo Senhor por causa dos seus pecados, devem clamar pela Sua misericórdia, pois a promessa que lhes faz é a de que serão ouvidos.
Na parte final deste quarto capítulo de Deuteronômio, são designadas três cidades de refúgio na Transjordânia, nos territórios que seriam ocupados pela tribos de Ruben, Gade e Manassés (v. 41-43); e se afirma que esta lei, testemunhos, estatutos e preceitos que Moisés deu aos israelitas foram proferidos no vale fronteiriço a Bete-Peor, nos territórios conquistados a Siom, rei dos amorreus (v.44-46).
Os três versos finais (47-49) citam os territórios conquistados pelos israelitas na Transjordânia, além das terras que haviam sido conquistadas de Siom, rei dos amorreus.
Não existe algo como uma obediência implícita, daí a necessidade da Palavra de Deus.
Foi com este propósito que Ele deu não somente aos israelitas, como também a nós, os mandamentos morais que lhes ensinou através de Moisés, e que ordenou que fossem registrados por escrito para o conhecimento de todas as gerações.
Isto é estritamente necessário porque como podemos cumprir o nosso dever se não o conhecermos? Para praticar a Palavra é preciso conhecer a Palavra.
É para este objetivo que estamos trabalhando neste nosso comentário da Bíblia.


“1 Agora, pois, ó Israel, ouve os estatutos e os preceitos que eu vos ensino, para os observardes, a fim de que vivais, e entreis e possuais a terra que o Senhor Deus de vossos pais vos dá.
2 Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor vosso Deus, que eu vos mando.
3 Os vossos olhos viram o que o Senhor fez por causa de Baal-Peor; pois a todo homem que seguiu a Baal-Peor, o Senhor vosso Deus o consumiu do meio de vós.
4 Mas vós, que vos apegastes ao Senhor vosso Deus, todos estais hoje vivos.
5 Eis que vos ensinei estatutos e preceitos, como o Senhor meu Deus me ordenou, para que os observeis no meio da terra na qual estais entrando para a possuirdes.
6 Guardai-os e observai-os, porque isso é a vossa sabedoria e o vosso entendimento à vista dos povos, que ouvirão todos estes, estatutos, e dirão: Esta grande nação é deveras povo sábio e entendido.
7 Pois que grande nação há que tenha deuses tão chegados a si como o é a nós o Senhor nosso Deus todas as vezes que o invocamos?
8 E que grande nação há que tenha estatutos e preceitos tão justos como toda esta lei que hoje ponho perante vós?
9 Tão-somente guarda-te a ti mesmo, e guarda bem a tua alma, para que não te esqueças das coisas que os teus olhos viram, e que elas não se apaguem do teu coração todos os dias da tua vida; porém as contarás a teus filhos, e aos filhos de teus filhos;
10 o dia em que estiveste perante o Senhor teu Deus em Horebe, quando o Senhor me disse: Ajunta-me este povo, e os farei ouvir as minhas palavras, e aprendê-las-ão, para me temerem todos os dias que na terra viverem, e as ensinarão a seus filhos.
11 Então vós vos chegastes, e vos pusestes ao pé do monte; e o monte ardia em fogo até o meio do céu, e havia trevas, e nuvens e escuridão.
12 E o Senhor vos falou do meio do fogo; ouvistes o som de palavras, mas não vistes forma alguma; tão-somente ouvistes uma voz.
13 Então ele vos anunciou o seu pacto, o qual vos ordenou que observásseis, isto é, os dez mandamentos; e os escreveu em duas tábuas de pedra.
14 Também o Senhor me ordenou ao mesmo tempo que vos ensinasse estatutos e preceitos, para que os cumprísseis na terra a que estais passando para a possuirdes.
15 Guardai, pois, com diligência as vossas almas, porque não vistes forma alguma no dia em que o Senhor vosso Deus, em Horebe, falou convosco do meio do fogo;
16 para que não vos corrompais, fazendo para vós alguma imagem esculpida, na forma de qualquer figura, semelhança de homem ou de mulher;
17 ou semelhança de qualquer animal que há na terra, ou de qualquer ave que voa pelo céu;
18 ou semelhança de qualquer animal que se arrasta sobre a terra, ou de qualquer peixe que há nas águas debaixo da terra;
19 e para que não suceda que, levantando os olhos para o céu, e vendo o sol, a lua e as estrelas, todo esse exército do céu, sejais levados a vos inclinardes perante eles, prestando culto a essas coisas que o Senhor vosso Deus repartiu a todos os povos debaixo de todo o céu.
20 Mas o Senhor vos tomou, e vos tirou da fornalha de ferro do Egito, a fim de lhe serdes um povo hereditário, como hoje o sois.
21 O Senhor se indignou contra mim por vossa causa, e jurou que eu não passaria o Jordão, e que não entraria na boa terra que o Senhor vosso Deus vos dá por herança;
22 mas eu tenho de morrer nesta terra; não poderei passar o Jordão; porém vós o passareis, e possuireis essa boa terra.
23 Guardai-vos de que vos esqueçais do pacto do Senhor vosso Deus, que ele fez convosco, e não façais para vós nenhuma imagem esculpida, semelhança de alguma coisa que o Senhor vosso Deus vos proibiu.
24 Porque o Senhor vosso Deus é um fogo consumidor, um Deus zeloso.
25 Quando, pois, tiverdes filhos, e filhos de filhos, e envelhecerdes na terra, e vos corromperdes, fazendo alguma imagem esculpida, semelhança de alguma coisa, e praticando o que é mau aos olhos do Senhor vosso Deus, para o provocar a ira,-
26 hoje tomo por testemunhas contra vós o céu e a terra, bem cedo perecereis da terra que, passado o Jordão, ides possuir. Não prolongareis os vossos dias nela, antes sereis de todo destruídos.
27 E o Senhor vos espalhará entre os povos, e ficareis poucos em número entre as nações para as quais o Senhor vos conduzirá.
28 Lá servireis a deuses que são obra de mãos de homens, madeira e pedra, que não vêem, nem ouvem, nem comem, nem cheiram.
29 Mas de lá buscarás ao Senhor teu Deus, e o acharás, quando o buscares de todo o teu coração e de toda a tua alma.
30 Quando estiveres em angústia, e todas estas coisas te alcançarem, então nos últimos dias voltarás para o Senhor teu Deus, e ouvirás a sua voz;
31 porquanto o Senhor teu Deus é Deus misericordioso, e não te desamparará, nem te destruirá, nem se esquecerá do pacto que jurou a teus pais.
32 Agora, pois, pergunta aos tempos passados que te precederam desde o dia em que Deus criou o homem sobre a terra, desde uma extremidade do céu até a outra, se aconteceu jamais coisa tão grande como esta, ou se jamais se ouviu coisa semelhante?
33 Ou se algum povo ouviu a voz de Deus falar do meio do fogo, como tu a ouviste, e ainda ficou vivo?
34 Ou se Deus intentou ir tomar para si uma nação do meio de outra nação, por meio de provas, de sinais, de maravilhas, de peleja, de mão poderosa, de braço estendido, bem como de grandes espantos, segundo tudo quanto fez a teu favor o Senhor teu Deus, no Egito, diante dos teus olhos?
35 A ti te foi mostrado para que soubesses que o Senhor é Deus; nenhum outro há senão ele.
36 Do céu te fez ouvir a sua voz, para te instruir, e sobre a terra te mostrou o seu grande fogo, do meio do qual ouviste as suas palavras.
37 E, porquanto amou a teus pais, não somente escolheu a sua descendência depois deles, mas também te tirou do Egito com a sua presença e com a sua grande força;
38 para desapossar de diante de ti nações maiores e mais poderosas do que tu, para te introduzir na sua terra e te dar por herança, como neste dia se vê.
39 Pelo que hoje deves saber e considerar no teu coração que só o Senhor é Deus, em cima no céu e embaixo na terra; não há nenhum outro.
40 E guardarás os seus estatutos e os seus mandamentos, que eu te ordeno hoje, para que te vá bem a ti, e a teus filhos depois de ti, e para que prolongues os dias na terra que o Senhor teu Deus te dá, para todo o sempre.
41 Então Moisés separou três cidades além do Jordão, para o nascente,
42 para que se refugiasse ali o homicida que involuntariamente tivesse matado o seu próximo a quem dantes não tivesse ódio algum; para que, refugiando-se numa destas cidades, vivesse:
43 a Bezer, no deserto, no planalto, para os rubenitas; a Ramote, em Gileade, para os paditas; e a Golã, em Basã, para os manassitas.
44 Esta é a lei que Moisés propôs aos filhos de Israel;
45 estes são os testemunhos, os estatutos e os preceitos que Moisés falou aos filhos de Israel, depois que saíram do Egito,
46 além do Jordão, no vale defronte de Bete-Peor, na terra de Siom, rei dos amorreus, que habitava em Hesbom, a quem Moisés e os filhos de Israel derrotaram, depois que saíram do Egito;
47 pois tomaram a terra deles em possessão, como também a terra de Ogue, rei de Basã, sendo esses os dois reis dos amorreus, que estavam além do Jordão, para o nascente;
48 desde Aroer, que está à borda do ribeiro de Arnom, até o monte de Siom, que é Hermom,


49 e toda a Arabá, além do Jordão, para o oriente, até o mar da Arabá, pelas faldas de Pisga.“ (Dt 4.1- 49).



Deuteronômio 5

Coração Circuncidado Para Guardar a Lei

Temos no quinto capítulo de Deuteronômio, do sexto ao vigésimo primeiro versículos, a repetição dos dez mandamentos, citados no vigésimo capitulo de Êxodo.
Aqui são acrescentadas informações adicionais, não aos mandamentos propriamente ditos, mas quanto à sua introdução e circunstâncias, pois Moisés chamou todos os israelitas e lhes repetiu os dez mandamentos, começando pelos estatutos e preceitos que deveriam aprender a fim de os cumprir.
Note a alusão à necessidade de se aprender para que se possa cumprir.
No comentário do capítulo anterior já nos referimos ao fato de que não se pode fazer aquilo que não conhecemos.
Especialmente em relação à vontade de Deus, importa que esta seja conhecida devidamente, conforme está revelada na Sua Palavra, para que possamos fazê-la, contando com a capacitação da Sua graça e poder.
Como obedeceremos aquilo que não conhecemos?
Por isso Moisés aponta aos israelitas o dever deles de em primeiro lugar aprenderem os mandamentos para que tivessem o cuidado de cumpri-los (Deut 5.1).
Quando ouvimos a Palavra de Deus, temos que nos empenhar em aprendê-la para que possamos tê-la sempre conosco para colocar em prática, em todas as ocasiões, tudo aquilo que aprendemos, pois esta é a finalidade de ouvir e aprender, não para que enchamos nossas mentes de noções, ou nossa boca de conversa, mas para orientar e dirigir os nossos afetos e conversações.
Posteriormente ele faz referência que o pacto que Deus fez com eles no monte Sinai, não havia sido feito com os seus antepassados, pois, o Senhor não fizera com os patriarcas uma aliança que se baseasse no cumprimento de uma lei escrita, que eles deveriam cumprir (Deut 5.2,3).
O grande argumento para o dever da obediência aos mandamentos era o pacto, a aliança, que Deus havia feito com eles no Horebe, nome genérico do monte Sinai.
Desta forma, a graça divina colocou os mandamentos dentro de uma aliança.
Não eram os mandamentos de um déspota, de um governante que não teria qualquer vínculo com eles, mas os mandamentos do Monarca do universo que os convocava como um Pai, para que tivessem a adoção de filhos, todos aqueles que dentre eles entendessem e atendessem aos termos da aliança, achegando-se ao Senhor para amá-lo e obedecê-lo com todo o seu coração, força e alma.
É ordenada, pois uma obediência, mas ela deve ser voluntária e de coração. Há uma convocação para uma aliança, mas, para uma aliança em amor, e não comercial, trabalhista, ou de qualquer outro caráter que seja.
Há uma chamada para que sejam firmados laços de amizade familial, mas uma amizade santa e justa, baseada no caráter do próprio Deus.
Nesta altura alguém poderia perguntar: “se era do conhecimento de Deus que a natureza do homem é carnal e não está sujeita à sua lei e nem mesmo pode estar, por que ele ordenou a todos os israelitas que guardassem os Seus mandamentos, sabendo previamente, que isto seria uma impossibilidade para a maioria deles, uma vez que não viriam a se converter pela fé?”
Ou ainda: “se a lei deve ser inscrita nas mentes e corações dos que crêem, e somente nestes pode ser inscrita, para que possa ser cumprida de modo agradável a Deus, por que”, continua a pergunta que não quer calar, “teria Ele ordenado a todos em Israel que cumprissem os Seus mandamentos?”
A resposta é: porque é obrigação de todo homem cumprir os mandamentos de Deus, ainda que estejam incapacitados para isto pela sua falta de fé e endurecimento voluntário de coração no pecado.
E ainda mais: é com angústias em Seu coração divno, e também os cristãos autênticos, destas compartilham, com lágrimas nos olhos, conclamando a todos, em todos os lugares, que se arrependam e creiam para escaparem da ira vindoura, tanto quanto fizeram os apóstolos em seus dias.
Sabemos que não é um assunto confortável falar de condenação eterna, mas seria prova de amor ao próximo deixar negligentemente que se perca por falta de aviso? E mais do que não avisar, deixar de pregar o evangelho e de interceder em oração em favor de todos os homens, com lágrimas em nossos olhos e com grande dor em nossos corações?
A Lei foi dada para calar toda boca, silenciar todos os argumentos que operam a nossa própria ruína, e torna todas as pessoas indesculpáveis diante de Deus, porque todos somos pecadores.
Assim, somos justamente condenados pela própria Lei quando deliberadamente transgredimos os seus mandamentos e não nos voltamos para Jesus Cristo para sermos salvos.
Pela Lei chegamos a entender o quanto necessitamos da graça para que possamos fazer o que é agradável a Deus.
Os dez mandamentos foram proferidos com uma solenidade terrível, com uma grande voz do meio do fogo e de uma densa nuvem de escuridão (v. 22) trazendo desta forma, a demonstração da ameaça dos juízos que sobreviriam aos transgressores da lei divina.
A ira de Deus contra o pecado estava sendo manifestada, contra aquelas coisas que estavam sendo condenadas nos dez mandamentos, e o descumprimento dos deveres neles ordenados.
A lei condena a natureza pecaminosa que há em todo homem, e lhe lembra o dever de mortificá-la, para que possa ter comunhão amigável com Deus, pois Ele é santo e odeia o pecado.
De fato, como afirma o apóstolo Paulo em Rm 1.18:
“Pois do céu é revelada a ira de Deus contra toda a impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça.”
Desde que o homem pecou no Éden, o Senhor tem revelado através dos Seus justos juízos que Ele realmente odeia o pecado, e o homem deve temê-lo e tremer diante da Sua santidade, porque é pecador.
Não há outro modo de escapar da ira divina, de ser livrado do Seu justo juízo, a não ser pela redenção que há em Jesus Cristo, por se receber a graça prometida no evangelho para o perdão de todas as transgressões.
Por isso este versículo 18 de Romanos é antecedido pela seguinte afirmação do apóstolo:
“Porque não me envergonho do evangelho, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego. Porque no evangelho é revelada, de fé em fé, a justiça de Deus, como está escrito: Mas o justo viverá da fé.” (Rm 1.16, 17).
Todo pecador, para ter comunhão com Deus, como foi o caso do próprio Noé, Abraão, Moisés, dentre outros, deve estar revestido da justiça de Cristo, que é obtida somente mediante a fé.
É por causa desta fé que justifica o pecador diante do Senhor, que ele pode ter comunhão com o Deus que é totalmente santo e justo, e que pelo Seu atributo da ira divina consome o pecado com o fogo do Seu juízo aonde e em quem Ele o encontre.
Não estamos falando da ira do homem, mas da ira de Deus.
Do Deus que não se exaspera, que não se descontrola, que não se perturba, que não deixa de ser amor, justiça, bondade, verdade, longanimidade, enquanto julga o pecador como um fogo consumidor, e do qual, aquelas manifestações tremendas de fogo, nuvem de escuridão que aterrorizaram todos os israelitas eram apenas uma demonstração da onipotência do Seu poder divino que visitará com ira vingativa todos aqueles que não tiverem a cobertura da justiça de Cristo, que é obtida pela fé.
A reação da quase totalidade dos israelitas, sobre a qual lemos nos versículos 24 a 27, às manifestações de Deus quando lhes deu a lei no Sinai bem demonstra que não eram da fé, e isto ficaria comprovado na incredulidade deles em Cades e em todas as coisas que fizeram para provocar a ira de Deus.
Eles temeram serem mortos pelo Senhor, mas não tinham o verdadeiro temor em seus corações de não pecarem contra Ele, contra o Seu Espírito, por não desejarem entristecê-lo.
Eles tiveram o temor ao juízo, mas não o temor por amor.
Foi por isso que Deus disse a Moisés as seguintes palavras, quando afirmaram que cumpririam todos os Seus mandamentos:
“Eu ouvi as palavras deste povo, que te disseram; falaram bem em tudo quanto disseram. Quem dera que  tivessem tal coração que me temessem, e guardassem em todo o tempo todos os meus mandamentos, para que bem lhes fosse a eles, e a seus filhos para sempre!” (v. 28b, 29)
Quando disseram que ouviriam a Moisés em relação a todos os mandamentos que Deus lhes desse através dele, como seu mediador, e que obedeceriam tais mandamentos, eles falaram bem, como o próprio Deus atestou em relação a tal afirmação (v. 28); porém, falar e prometer é uma coisa, e fazer e ter o poder para fazer é outra muito diferente.
Afirmar temer a Deus com a boca qualquer um pode dizer, mas ter tal temor no coração é algo bem diferente.
Nenhum homem pode de si mesmo, pelo seu próprio poder, fazer a vontade de Deus, porque todos somos pecadores.
É preciso receber um novo coração de Deus.
É preciso ter o coração de pedra mudado por um coração de carne.
Isto somente Deus pode fazer naqueles que dEle se aproximam pela fé.
Se não há arrependimento em relação ao pecado, não pode ser dado ao homem o dom da fé. E sem fé, não é possível agradar a Deus, porque o coração não será transformado.
Como já vimos antes, na citação de Romanos, a justiça de Deus é revelada de fé em fé.
Concluímos então, que sem a fé, não pode ser conhecida e vivida a justiça de Deus, por conseguinte, Ele não poderá ter qualquer agrado, qualquer satisfação em nós, porque não poderemos fazer o que é da Sua vontade.
Uma nova criação produz na alma uma semelhança com Deus. Então, o fim da nova criatura, é a glória de Deus.
Nos primeiros passos da nova criatura há uma forte resistência, ela está numa terra estranha, os exércitos do inferno estão em ordem contra ela, assim como Daniel estava na cova dos leões, e somente Deus tem a força para vencer estes inimigos.
Como a velha criatura é alguém que descendeu de Adão, há um princípio de corrupção natural que revela todo tipo de maldade; que não manifesta toda a sua força porque está sujeita a outras causas intervenientes.
Deste modo, o cristão não tem uma prontidão para realizar ações elevadas em Deus, sendo laboriosos como Paulo, zelosos como Elias e pacientes como Jó, mas embora esteja agora neste estado, chegará um tempo em que deverá crescer, porque há nele também uma nova natureza ao lado da antiga.
Há uma infância na graça, como também no homem natural. Apesar da alma de uma criança ser da mesma natureza de a de um homem amadurecido, contudo ela não pode exercitar os atos de um adulto, e entendê-los e argumentar sobre eles, por causa da sua falta de maturidade; e o mesmo se dá com um cristão que seja jovem na fé ou que não tenha crescido espiritualmente apesar do tempo decorrido.
Ele pode ter uma disposição igual à dos melhores cristãos, mas não tem a mesma força; a relutância dos hábitos corruptos é mais vigorosa, e impede ou dificulta o crescimento da nova criatura, e estes hábitos antigos não foram muito mortificados; e ele necessita também daquela força adicional da graça que é ganha através do exercício.
Havendo uma resistência maior do que a justa cooperação com a graça, e esta se opondo à graça, o querer fazer o bem pode estar presente, não, porém o efetuá-lo (Rom 7.18).
Desta forma, a prontidão para todo serviço não aparece em pessoas recentemente regeneradas.
A nova criatura é chamada espírito:
“0 que nasce do Espírito é espírito;”  quer dizer, uma criatura espiritual. Jo 3.6
A nova natureza é poderosamente ativa. Não é somente um afeto ilimitado, mas possui um poder inerente sobrenatural procedente do céu, que conduz a alma a agir.
É chamada de homem interior (Ef 3.16), de espírito de poder (II Tim 1.7), porque é posta como uma ação no coração, para produzir os atos de santidade, assim como a seiva está na raiz para produzir folhas e frutos.
Jesus Cristo foi designado como espírito vivificante para produzir uma vida poderosa e nos permitir a viver para Deus.
Por isso diz que o reino de Deus está dentro de nós, e Paulo afirma que este reino não consiste em palavras, mas em poder (II Cor 5.20).
Por natureza, somos sem força como se afirma em Rom 5.6, mas sendo regenerados pelo Espírito ficamos fortes e ganhamos a capacidade de entrar nos estatutos de Deus, com um coração novo, e a alma é livrada da fraqueza e é feita forte, e a graça interior, colaborando com as operação do Espírito Santo, é suficiente para isto.
Então a nova criatura tem um tipo de poder de atividade que é  todo-poderoso, e que trabalha em favor dela.
Este poder reside no coração, e sendo aderente está ali presente, e pronto para atuar, mas nem sempre é perceptível, mas em alguma emergência, a fé, que é a principal graça evangélica, da qual todas as demais derivam, há de revelar o poder que há na nova criatura e que a habilita a realizar e a suportar todas as coisas nAquele que a fortalece.
Concluímos então, que para fazer a vontade do Senhor, do modo que lhe agradasse; os israelitas teriam que ter o coração circuncidado por Deus.
Isto não pode ocorrer sem fé, porque sem fé é impossível agradar a Deus, porque é por ela que se ganha um novo coração e é por ela que se realiza o crescimento de todas as demais graças divinas, como o arrependimento, a bondade, a longanimidade, o amor, a justiça, o domínio próprio, a paciência etc.
“E lhes darei um só coração, e um só caminho, para que me temam para sempre, para seu bem e o bem de seus filhos, depois deles;” (Jer 32.39).
E Moisés falou desta necessidade de circuncidar o coração, aos isarelitas, em Deuteronômio 10, de forma que não se esperava deles que guardassem a Lei sem ter um coração circuncidado por Deus.



“1 Chamou, pois, Moisés a todo o Israel, e disse-lhes: Ouve, ó Israel, os estatutos e preceitos que hoje vos falo aos ouvidos, para que os aprendais e cuideis em os cumprir.
2 O Senhor nosso Deus fez um pacto conosco em Horebe.
3 Não com nossos pais fez o Senhor esse pacto, mas conosco, sim, com todos nós que hoje estamos aqui vivos.
4 Face a face falou o Senhor conosco no monte, do meio o fogo
5 (estava eu nesse tempo entre o Senhor e vós, para vos anunciar a palavra do Senhor; porque tivestes medo por causa do fogo, e não subistes ao monte) , dizendo ele:
6 Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.
7 Não terás outros deuses diante de mim.
8 Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra;
9 não te encurvarás diante delas, nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam,
10 e uso de misericórdia com milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos.
11 Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; porque o Senhor não terá por inocente aquele que tomar o seu nome em vão.
12 Guarda o dia do sábado, para o santificar, como te ordenou o senhor teu Deus;
13 seis dias trabalharás, e farás todo o teu trabalho;
14 mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; nesse dia não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu boi, nem o teu jumento, nem animal algum teu, nem o estrangeiro que está dentro das tuas portas; para que o teu servo e a tua serva descansem assim como tu.
15 Lembra-te de que foste servo na terra do Egito, e que o Senhor teu Deus te tirou dali com mão forte e braço estendido; pelo que o Senhor teu Deus te ordenou que guardasses o dia do sábado.
16 Honra a teu pai e a tua mãe, como o senhor teu Deus te ordenou, para que se prolonguem os teus dias, e para que te vá bem na terra que o Senhor teu Deus te dá.
17 Não matarás.
18 Não adulterarás.
19 Não furtarás.
20 Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.
21 Não cobiçarás a mulher do teu próximo; não desejarás a casa do teu próximo; nem o seu campo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo.
22 Essas palavras falou o senhor a toda a vossa assembleia no monte, do meio do fogo, da nuvem e da escuridão, com grande voz; e nada acrescentou. E escreveu-as em duas tábuas de pedra, que ele me deu.
23 Mas quando ouvistes a voz do meio das trevas, enquanto ardia o monte em fogo, viestes ter comigo, mesmo todos os cabeças das vossas tribos, e vossos anciãos,
24 e dissestes: Eis que o Senhor nosso Deus nos fez ver a sua glória e a sua grandeza, e ouvimos a sua voz do meio do fogo; hoje vimos que Deus fala com o homem, e este ainda continua vivo.
25 Agora, pois, por que havemos de morrer? Este grande fogo nos consumirá; se ainda mais ouvirmos a voz do Senhor nosso Deus, morreremos.
26 Porque, quem há de toda a carne, que tenha ouvido a voz do Deus vivente a falar do meio do fogo, como nós a ouvimos, e ainda continue vivo?
27 Chega-te tu, e ouve tudo o que o Senhor nosso Deus falar; e tu nos dirás tudo o que ele te disser; assim o ouviremos e o cumpriremos.
28 Ouvindo, pois, o Senhor as vossas palavras, quando me faláveis, disse-me: Eu ouvi as palavras deste povo, que eles te disseram; falaram bem em tudo quanto disseram.
29 Quem dera que eles tivessem tal coração que me temessem, e guardassem em todo o tempo todos os meus mandamentos, para que bem lhes fosse a eles, e a seus filhos para sempre!
30 Vai, dize-lhes: Voltai às vossas tendas.
31 Tu, porém, deixa-te ficar aqui comigo, e eu te direi todos os mandamentos, estatutos e preceitos que tu lhes hás de ensinar, para que eles os cumpram na terra que eu lhes dou para a possuírem.
32 Olhai, pois, que façais como vos ordenou o Senhor vosso Deus; não vos desviareis nem para a direita nem para a esquerda.


33 Andareis em todo o caminho que vos ordenou a Senhor vosso Deus, para que vivais e bem vos suceda, e prolongueis os vossos dias na terra que haveis de possuir.“ (Dt 5.1-33).


Deuteronômio 6

A Vida Que Há na Obediência à Palavra

A Nova Aliança em nada mudou o princípio espiritual e geral de que uma vida verdadeiramente  abençoada está em se temer a Deus e guardar os Seus mandamentos.
“A circuncisão nada é, e também a incircuncisão nada é, mas sim a observância dos mandamentos de Deus.” (I Cor 7.19).
Jesus se manifestou para este propósito de que, pela Sua graça, mediante o poder do Espírito, derramado em todas as nações da terra, pudéssemos pela fé, fazer a vontade Deus, temendo-O e guardando a Sua Palavra.
O propósito de Deus para os israelitas na Antiga Aliança não era diferente disto.
Moisés ensinou aos israelitas, somente aquilo que Deus lhe ordenou que lhes ensinasse.
Deste modo, os ministros de Cristo devem ensinar às suas Igrejas somente aquilo que o Senhor lhes tem ordenado em Sua Palavra, nem mais, nem menos (Mt 28.20).
Devem fazer isto em todo o tempo, e não somente quando estão pregando a Palavra.
Nós vemos no sexto capitulo de Deuteronômio a ordem do Senhor expedida através de Moisés para que os pais ensinassem a Palavra a seus filhos, em todo o tempo, e em todos os dias.
Não há outra maneira de se vencer a natureza terrena e de se ficar ricamente habitado pela palavra de Cristo.
Sempre houve, e hoje mais do que nunca, uma tendência a se pensar que pastores e líderes, e qualquer cristão, só devem falar as coisas de Deus quando estiverem reunidos em suas congregações; pois, segundo o seu entendimento carnal, não é adequado falar sobre tais coisas em outras ocasiões e lugares.
Quão pecaminosa é a atitude de verdadeiros cristãos considerarem que é vergonhoso falar do Deus Altíssimo e da Sua santa Palavra em lugares diferentes da Igreja, e somente nos momentos reservados para tal propósito.
Que desonra para o elevado nome do Senhor, ser usado segundo a conveniência dos seus filhos, quando e como eles querem e preferem.
Não é Ele nem a Sua vontade o centro das suas conversações. Eles preferem falar de banalidades, de coisas que são de nenhum valor, em vez de falarem das coisas que mantêm as suas mentes alimentadas com a verdade, e guardadas do mal, por pensarem somente em;
 “tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, e se há alguma virtude, e se há algum louvor,” (Fp 4.8).
Mas não são poucos que se envergonham do Senhor e das Suas palavras.
Que têm vergonha de parecerem santos aos olhos de outros, ainda que sejam também cristãos como eles.
Não têm o temor do Senhor diante dos seus olhos, e não consideram o sentido interior destas Suas palavras:
 “Porquanto, qualquer que, entre esta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e das minhas palavras, também dele se envergonhará o Filho do homem quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos.” (Mc 8.38).
Por isso o mandamento é claro e direto:
“Ouve, ó Israel; o Senhor nosso Deus é o único Senhor.  Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças. E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as ensinarás a teus filhos, e delas falarás sentado em tua casa e andando pelo caminho, ao deitar-te e ao levantar-te. Também as atarás por sinal na tua mão e te serão por frontais entre os teus olhos; e as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas.” (Deut 6.4-9).
A palavra de Deus deve ser exibida exteriormente. Mas isto deve partir do fundo do nosso coração, voluntariamente, por amar ao Senhor e à Sua Palavra, pois se diz que Ele deve ser amado de todo o coração, de toda a alma e de todas as nossas forças.
É estando primeiro no coração que a Palavra de Deus deve ser exposta e ensinada, a começar da nossa própria casa, aos nossos filhos, e isto em todo o tempo, quer estando em casa, quer andando pelo caminho, e desde o acordar até a hora de dormir.
É por se conhecer, amar e obedecer esta Palavra que temos a manifestação da vida de Deus em nossa vida, portanto é preciso meditar nela em todo o tempo, ainda que tenhamos para isso que escrevê-la na nossa mão e nos umbrais e nas portas de nossas casas, para que a tenhamos sempre diante dos nossos olhos, se não a temos em grande disponibilidade em escritos, assim como os israelitas não os possuíam nos dias de Moisés.
Ela deve ser assim exposta por nós, porque não nos foi dada para que a represemos, senão que declaremos a todos ao nosso redor o nosso amor pelo Senhor e pela Sua Palavra, expondo-o a eles, sem qualquer reserva ou vergonha em nossos corações.
Afinal, o grande mandamento da lei é o amor a Deus.
Desta forma, deve ser um prazer nos agradarmos em todos os Seus atributos, e termos nEle todo a nossa alegria, e ser inteiramente dependentes dEle, falando com Ele e O servindo em todo o tempo.
Fomos criados para amá-lo como nosso Pai e o melhor dos amigos. Nós temos que amá-lo não somente de língua, mas de verdade, com grande fervor e afeto.
Mas este amor deve ser baseado na obediência da Palavra, na qual devemos meditar em todo o tempo, para que nossa alma possa ser impressionada por ela.
Moisés preveniu os israelitas quanto ao perigo da apostasia quando estivessem desfrutando da prosperidade da terra de Canaã, na posse dos despojos dos inimigos de Deus, pois eles tomariam, pelo mandado do Senhor, as suas cidades e todos os seus bens, e o perigo de se esquecerem de Deus e dos Seus mandamentos estaria sempre presente.
Daí a importância de se guardarem (Deut 6.12), temendo o Senhor (v. 13), e meditando e cumprindo diligentemente os Seus mandamentos (v.17).
Isto também não mudou na Nova Aliança, pois o perigo dos cristãos apostatarem do Senhor está sempre presente, e eles somente poderão ser salvos de caírem nas tentações da carne, de Satanás e do mundo, e dos falsos ventos de doutrina, cuidando de si mesmos e da sã doutrina.
É preciso vigiar em todo o tempo, mas segundo a determinação de cumprir os mandamentos do Senhor.
Daí o conselho de Paulo a Timóteo:
 “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina; persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem.” (I Tim 4.16).
Moisés disse que o cuidado de cumprir todos os mandamentos seria imputado para justiça aos israelitas (Deut 6.25).
Não para a justiça que é pela fé, mas a que é pelas obras, e que não pode justificar para a salvação eterna da alma, porque esta é somente por meio da justiça da fé.
Por isso, o próprio Moisés havia escrito antes, em Gênesis, que Abraão creu em Deus e isto lhe foi imputado para justiça, fazendo assim uma clara referência à justificação que é pela fé (Gên 15.6).
Então, obviamente, ao falar que o homem viveria por guardar a Lei, Moisés estava se referindo à preservação do israelita, naquela Antiga Aliança, não sendo sujeitado aos juízos de penas de morte previstas na Lei, para os casos de transgressão dos seus mandamentos.
Também está implícita em tais palavras, a verdade de que está sujeito à maldição de condenação eterna da Lei, todos aqueles que não permanecerem na prática dos seus mandamentos.
Maldição esta, da qual, podemos ser resgatados, somente por meio da fé em Jesus, porque não há quem não peque contra a Lei de Deus.
Na própria transgressão da lei está prescrita a nossa condenação e somos indesculpáveis, porque o mandamento transgredido exige que sejamos mortos.
A impossibilidade de se cumprir perfeitamente a lei deveria convencer àqueles que quisessem se aproximar de Deus a buscarem a justificação por outro caminho, a saber o da fé na Sua promessa de que perdoa os pecadores por Sua exclusiva bondade e misericórdia.
Daí nos exortar o autor de Hebreus a buscar o novo e vivo caminho que nos foi dado para a justificação, em vez de confiarmos no caminho difícil e impossível das obras da lei para tal justificação:
 “pelo caminho que ele nos inaugurou, caminho novo e vivo, através do véu, isto é, da sua carne,” (Hb 10.20).
No entanto, deve ser considerado que o amor à Lei de Deus e o dispor sincero a cumprir os Seus mandamentos, pelo impulso da fé e da força da graça, são realmente uma grande evidência da salvação eterna.
Deus tem considerado a diligência em cumprir a Sua vontade, como sendo o cumprimento propriamente dito.
Então daí ter afirmado, que o viver seria por se guardar os Seus mandamentos, para que ninguém se iluda que pertence a Ele, sem amar e guardar a Sua Palavra.
Foi a este espirito da Lei a que Moisés se referiu, e não propriamente a uma disposição de caráter legalista, de aprovar somente para a vida com Deus, aqueles que cumprissem à risca, com total perfeição todos os mandamentos, porque sabemos que isto é impossível a qualquer pessoa, enquanto estivermos neste mundo.
Então a justificação será sempre pela graça, mediante a fé, mas os que são justificados, tal como Abraão, evidenciarão esta justificação, pela prática das obras de Abraão.
Então, ser justificado pela lei sem a graça e a fé, é uma impossibilidade para o pecador, por causa da sua natureza carnal, pecaminosa, porque o único modo de se confirmar o que é exigido pela lei é mediante a fé, porque é mediante a fé que se obtém um novo coração, segundo o coração de Deus, capaz de fazer a Sua vontade (Rm 3.31), por conseguinte, capaz de atender às exigências da Sua lei.



“1 Estes, pois, são os mandamentos, os estatutos e os preceitos que o Senhor teu Deus mandou ensinar-te, a fim de que os cumprisses na terra a que estás passando: para a possuíres;
2 para que temas ao Senhor teu Deus, e guardes todos os seus estatutos e mandamentos, que eu te ordeno, tu, e teu filho, e o filho de teu filho, todos os dias da tua vida, e para que se prolonguem os teus dias.
3 Ouve, pois, ó Israel, e atenta em que os guardes, para que te vá bem, e muito te multipliques na terra que mana leite e mel, como te prometeu o Senhor Deus de teus pais.
4 Ouve, ó Israel; o Senhor nosso Deus é o único Senhor.
5 Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças.
6 E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração;
7 e as ensinarás a teus filhos, e delas falarás sentado em tua casa e andando pelo caminho, ao deitar-te e ao levantar-te.
8 Também as atarás por sinal na tua mão e te serão por frontais entre os teus olhos;
9 e as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas.
10 Quando, pois, o Senhor teu Deus te introduzir na terra que com juramento prometeu a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó, que te daria, com grandes e boas cidades, que tu não edificaste,
11 e casas cheias de todo o bem, as quais tu não encheste, e poços cavados, que tu não cavaste, vinhas e olivais, que tu não plantaste, e quando comeres e te fartares;
12 guarda-te, que não te esqueças do Senhor, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão.
13 Temerás ao Senhor teu Deus e o servirás, e pelo seu nome jurarás.
14 Não seguirás outros deuses, os deuses dos povos que houver à roda de ti;
15 porque o Senhor teu Deus é um Deus zeloso no meio de ti; para que a ira do Senhor teu Deus não se acenda contra ti, e ele te destrua de sobre a face da terra.
16 Não tentareis o Senhor vosso Deus, como o tentastes em Massá.
17 Diligentemente guardarás os mandamentos do Senhor teu Deus, como também os seus testemunhos, e seus estatutos, que te ordenou.
18 Também praticarás o que é reto e bom aos olhos do Senhor, para que te vá bem, e entres, e possuas a boa terra, a qual o Senhor prometeu com juramento a teus pais;
19 para que lance fora de diante de ti todos os teus inimigos, como disse o Senhor.
20 Quando teu filho te perguntar no futuro, dizendo: Que significam os testemunhos, estatutos e preceitos que o Senhor nosso Deus vos ordenou?
21 responderás a teu filho: Éramos servos de Faraó no Egito, porém o Senhor, com mão forte, nos tirou de lá;
22 e, aos nossos olhos, o Senhor fez sinais e maravilhas grandes e penosas contra o Egito, contra Faraó e contra toda a sua casa;
23 mas nos tirou de lá, para nos introduzir e nos dar a terra que com juramento prometera a nossos pais.
24 Pelo que o Senhor nos ordenou que observássemos todos estes estatutos, que temêssemos o Senhor nosso Deus, para o nosso bem em todo o tempo, a fim de que ele nos preservasse em vida, assim como hoje se vê.
25 E será justiça para nós, se tivermos cuidado de cumprir todos estes mandamentos perante o Senhor nosso Deus, como ele nos ordenou.“ (Dt 6.1-25).


Deuteronômio 7

Prenúncio do Juízo Vindouro

No sétimo capítulo de Deuteronômio, nos versículos 1 a 5, são nomeadas as sete nações que deveriam ser inteiramente destruídas, em razão das grosseiras práticas a que há muito estavam entregues, sem que houvesse possibilidade de cura daquele grande mal, que era uma terrível influência para todas as demais nações do mundo antigo, que transitavam por aquele ponto estratégico do território de Canaã, que era passagem obrigatória das caravanas que vinham do Norte, da Ásia e Europa Oriental, para o Egito, e demais nações do território africano.
Então Deus havia formado Israel, e a elegeu como Sua nação para cumprir o Seu propósito de revelar a Sua vontade em toda a terra, e Ele o cumpriu cabalmente através deles, principalmente, por ter trazido através deles, o Messias ao mundo.
O Messias não veio de um povo que cultuasse a falsos deuses por determinação dos seus oráculos demoníacos, mas de um povo separado das demais nações da terra, que recebera mandamentos e estatutos do Deus verdadeiro, que revelou o quanto abomina a idolatria, a feitiçaria, e toda prática de caráter ocultista inspirada pelos espiritos das trevas,    por ter determinado através da nação eleita que fossem destruídos não somente os ídolos e altares daquelas sete nações pagãs, como os seus próprios adoradores.
Por meio disto, Deus revelou que não tem qualquer comunhão com as obras das trevas, e que os que são praticantes de tais obras estão sujeitos por Ele à condenação eterna.
Uma condenação em que Ele não terá qualquer misericórdia por toda a eternidade, pois determinou aos israelitas que os destruíssem sem qualquer misericórdia (Deut 7.2), para servir de sinal de que a Sua misericórdia divina não pode alcançar aqueles que vivem deliberadamente  sob a influência do pecado, sem desejarem achar lugar de arrependimento.
Por isso, o Senhor disse que Ele próprio expulsaria aquelas nações, pois eram mais numerosas e poderosas do que Israel (v. 1,2, 20-24), para que ficasse revelado para todo o sempre que É Ele mesmo quem toma vingança contra os Seus inimigos para os destruir (v. 10).
É somente pela reconciliação, que há no evangelho de Cristo, pela expiação operada pela Sua morte, que podemos ser reconciliados e ter paz com Deus, deixando de ser seus inimigos, para nos tornarmos seus amigos.
Deste modo, qualquer que não esteja unido a Cristo, pela fé, permanece debaixo da ira divina, e é tido por Ele como seu inimigo, e está revelado nas Escrituras, que Ele despejará os Seus juízos sobre os Seus inimigos, num castigo eterno, sem a chance de acharem qualquer misericórdia (Tg 2.13a).
Para fixar esta condenação que está reservada aos Seus inimigos, num juízo que servisse de ilustração desta realidade maior e eterna, foram nomeadas apenas sete nações que deveriam ser totalmente exterminadas em Canaã, não porque as demais fossem melhores do que estas, mas pela determinação da Soberania divina, de modo que servissem de exemplo ao temor que Lhe é devido em todas as nações, e que o pecado sujeita à Sua destruição.
O número sete é usado por Deus para indicar perfeição, e aqui no caso há um simbolismo da perfeição do Seu juízo que não deixará de dar a devida paga a qualquer dos seus inimigos.
Mas, como a misericórdia acompanha o juízo, enquanto estivermos neste mundo, é concedido a todos pela graça, misericórdia e longanimidade de Deus, um tempo para que se arrependam e vivam, pois não tem prazer na morte do ímpio, antes deseja que todos se arrependam e cheguem ao conhecimento da verdade, para que vivam eternamente.
Com isto, os próprios israelitas deveriam aprender que havia um limite fixado por Deus para a severidade deles, e que não deveriam agir por conta própria, mas sob o comando do Altíssimo, pois não era a justiça deles que estava sendo feita, senão a de Deus.
Eles não deveriam, portanto, ir além e nem ficar aquém, da comissão que lhes foi dada, para que não agissem com barbárie, e de modo que isto não servisse de pretexto, para as nações justificarem o uso de ações de extermínio de outras nações.                  
O juízo daquelas nações veio da parte de Deus, para ser executado por Israel, e não foram os próprios israelitas que determinaram isto para objetivos terrenos, como por exemplo, o de ser uma nação imperialista na terra, pela imposição do seu próprio poder.
Por isso, é ordenado aos cristãos que não se vinguem a si mesmos, mas que deem lugar à ira de Deus, pois somente Ele julga com justiça, e no tempo determinado, dará a justa paga a todos os seus inimigos.
Sabendo isto, em vez de amaldiçoarmos nossos inimigos, sabendo que há disponibilidade de graça e misericórdia para eles, enquanto viverem na terra devemos abençoá-los e orar em favor da sua salvação, sabendo que caso isto não ocorra, estarão sujeitos a um juízo terrível e eterno debaixo da ira de Deus.
“Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira de Deus, porque está escrito: Minha é a vingança, eu retribuirei, diz o Senhor. Antes, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça.” (Rm 12.19,20).
Foi proibido expressamente aos israelitas, que não cobiçassem nenhuma das abominações daquelas nações que deveriam ser exterminadas pelo mandado de Deus  (v. 25,26).
Não deveriam se apropriar destas abominações para que não fossem enlaçados por elas.
Desta forma, não deveriam introduzir nenhuma daquelas coisas condenadas, por mais ricas e belas que fossem em suas casas, ao contrário, deveriam detestá-las por serem uma abominação ao Senhor.
Deste modo, os israelitas foram lembrados que caso se esforçassem sinceramente em fazer a parte que lhes cabia na aliança, que o Senhor fizera com eles, Ele também faria certamente a Sua parte, e manteria a misericórdia que havia prometido aos patriarcas (v. 12).
Desta forma, quando somos constantes no cumprimento do nosso dever para com Deus, jamais poderemos questionar a constância da misericórdia dEle para conosco.  
 Se eles amassem e servissem ao Senhor, Ele os amaria, e os abençoaria e grandemente os multiplicaria, daí a promessa de que não haveria nem homens, nem mulheres estéreis entre eles.
A promessa da fertilidade como sendo um sinal da bênção e do favor de Deus não significa para os cristãos da Igreja, que estão aliançados com o Senhor numa Nova Aliança, que o fato de haver estéreis entre eles seja um sinal da maldição de Deus.
Devemos entender que esta promessa de multiplicação do povo para poder, principalmente, prevalecer diante das demais nações, era algo que se impunha como uma necessidade para a nação de Israel, debaixo dos termos da Antiga Aliança, e na condição de nação eleita pela promessa feita aos patriarcas, nos dias do Velho Testamento.
Deste modo, a promessa da bênção para a nação não se limita apenas ao fruto do ventre, como também ao fruto da terra, e mesmo dos animais domésticos (v. 13,14).
Neste contexto, foi prometido também, saúde física e livramento de doenças epidêmicas, que poderiam reduzir a população de Israel.
Desta forma, os israelitas, em sua obediência ao Senhor, seriam multiplicados, enquanto Ele dizimaria pelas enfermidades, as nações inimigas de Israel (v.15).


“1 Quando o Senhor teu Deus te houver introduzido na terra a que vais a fim de possuí-la, e tiver lançado fora de diante de ti muitas nações, a saber, os heteus, os girgaseus, os amorreus, os cananeus, os perizeus, os heveus e os jebuseus, sete nações mais numerosas e mais poderosas do que tu;
2 e quando o Senhor teu Deus as tiver entregue, e as ferires, totalmente as destruirás; não farás com elas pacto algum, nem terás piedade delas;
3 não contrairás com elas matrimônios; não darás tuas filhas a seus filhos, e não tomarás suas filhas para teus filhos;
4 pois fariam teus filhos desviarem-se de mim, para servirem a outros deuses; e a ira do Senhor se acenderia contra vós, e depressa vos consumiria.
5 Mas assim lhes fareis: Derrubareis os seus altares, quebrareis as suas colunas, cortareis os seus aserins, e queimareis a fogo as suas imagens esculpidas.
6 Porque tu és povo santo ao Senhor teu Deus; o Senhor teu Deus te escolheu, a fim de lhe seres o seu próprio povo, acima de todos os povos que há sobre a terra.
7 O Senhor não tomou prazer em vós nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que todos os outros povos, pois éreis menos em número do que qualquer povo;
8 mas, porque o Senhor vos amou, e porque quis guardar o juramento que fizera a vossos pais, foi que vos tirou com mão forte e vos resgatou da casa da servidão, da mão de Faraó, rei do Egito.
9 Saberás, pois, que o Senhor teu Deus é que é Deus, o Deus fiel, que guarda o pacto e a misericórdia, até mil gerações, aos que o amam e guardam os seus mandamentos;
10 e que retribui diretamente aos que o odeiam, para os destruir; não será remisso para quem o odeia, diretamente lhe retribuirá.
11 Guardarás, pois, os mandamentos, os estatutos e os preceitos que eu hoje te ordeno, para os cumprires.
12 Sucederá, pois, que, por ouvirdes estes preceitos, e os guardardes e cumprirdes, o Senhor teu Deus te guardará o pacto e a misericórdia que com juramento prometeu a teus pais;
13 ele te amará, te abençoará e te fará multiplicar; abençoará o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, o teu grão, o teu mosto e o teu azeite, a criação das tuas vacas, e as crias dos teus rebanhos, na terra que com juramento prometeu a teus pais te daria.
14 Bendito serás mais do que todos os povos; não haverá estéril no meio de ti, seja homem, seja mulher, nem entre os teus animais.
15 E o Senhor desviará de ti toda enfermidade; não porá sobre ti nenhuma das más doenças dos egípcios, que bem conheces; no entanto as porás sobre todos os que te odiarem.
16 Consumirás todos os povos que o Senhor teu Deus te entregar; os teus olhos não terão piedade deles; e não servirás a seus deuses, pois isso te seria por laço.
17 Se disseres no teu coração: Estas nações são mais numerosas do que eu; como as poderei desapossar?
18 delas não terás medo; antes lembrarte-ás do que o Senhor teu Deus fez a Faraó e a todos os egípcios;
19 das grandes provas que os teus olhos viram, e dos sinais, e das maravilhas, e da mão forte, e do braço estendido, com que o Senhor teu Deus te tirou: Assim fará o Senhor teu Deus a todos os povos, diante dos quais tu temes.
20 Além disso o Senhor teu Deus mandará entre eles vespões, até que pereçam os restantes que se tiverem escondido de ti.
21 Não te espantes diante deles, porque o Senhor teu Deus está no meio de ti, Deus grande e terrível.
22 E o Senhor teu Deus lançará fora de diante de ti, pouco a pouco, estas nações; não poderás destruí-las todas de pronto, para que as feras do campo não se multipliquem contra ti.
23 E o Senhor as entregará a ti, e lhes infligirá uma grande derrota, até que sejam destruídas.
24 Também os seus reis te entregará nas tuas mãos, e farás desaparecer o nome deles de debaixo do céu; nenhum te poderá resistir, até que os tenhas destruído.
25 As imagens esculpidas de seus deuses queimarás a fogo; não cobiçarás a prata nem o ouro que estão sobre elas, nem deles te apropriarás, para que não te enlaces neles; pois são abominação ao Senhor teu Deus.
26 Não meterás, pois, uma abominação em tua casa, para que não sejas anátema, semelhante a ela; de todo a detestarás, e de todo a abominarás, pois é anátema.“ (Dt 7.1-26).


Deuteronômio 8

A Fonte do Alimento Material e Espiritual

No capítulo oitavo de Deuteronômio o povo de Israel é exortado a cumprir todos os mandamentos de Deus (v. 1), com um temor santo (v. 6) à Sua majestade, em submissão à Sua autoridade, e à Sua ira, de modo que não fossem visitados com juízos de morte, ao contrário que tivessem a bênção da vida e da multiplicação do povo na terra, que iriam conquistar (Voltamos a lembrar que estas ameaças da Lei quanto à morte física de muitos em Israel, como consequência de transgressões da mesma, não se aplicam na presente dispensação da graça, por causa de nosso Senhor Jesus Cristo, que abrandou em medida considerável estes juízos com sua morte na cruz no lugar dos pecadores).
Os israelitas deveriam se lembrar das experiências que haviam tido com Deus naqueles quarenta anos de peregrinação no deserto, pois Ele teve o propósito de usar o deserto como uma escola para humilhar e provar os israelitas, de modo que  pudessem conhecer o que estava no coração deles, quanto a se obedeceriam ou não os seus mandamentos, debaixo daquelas circunstâncias adversas (v. 2).
É muito importante que nos lembremos de todos os modos com que a providência de Deus nos tem conduzido até aqui neste deserto espiritual chamado mundo (porque não há nada inerentemente nele que seja relativo à natureza espiritual divina), para que louvemos ao Senhor com o nosso Ebenezer, por todas as Suas graças, misericórdias e livramentos.
Os israelitas deveriam se lembrar dos dilemas aos quais foram muitas vezes submetidos, para a mortificação do seu orgulho, através da humilhação, de modo que não se exaltassem fora de medida, com a abundância de milagres, que estavam sendo feitos por Deus em favor deles, e que poderiam não ser realizados em Canaã, em razão da manifestação da perversidade deles, pelas experiências que haviam vivido anteriormente no deserto, relativas ao desagrado do Senhor, especialmente em razão da incredulidade e da murmuração.
O Senhor colocou assim, a obediência deles à prova no deserto, tal como havia provado a obediência de Adão e Eva no Éden, com a proibição de comerem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal.
Caso eles não tivessem sido conduzidos pelo deserto, todo aquele tempo, não haveria necessidade de serem provados pelo maná (Ex 16.26-28; Dt 8.3).
Eles deveriam lembrar de todo o bem que o Senhor lhes havia concedido, pois tivera um cuidado particular com a alimentação deles, vestimentas e saúde (v. 3,4).
Deus deixa frequentemente que as pessoas do Seu povo experimentem provações, para que Ele tenha a honra de ajudá-los e lhes dar assim uma prova prática do Seu amor e cuidado por eles.
Deste modo, o maná das consolações divinas é dado àqueles que têm fome e sede de justiça (Mt 5.6).
O maná era algo do qual se diz que era um tipo de comida que nem eles nem os seus pais conheceram (v. 3, 16).
Pois pelo espaço de quarenta anos, caía do céu todos os dias, exceto aos sábados, porque toda sexta-feira caía em porção dobrada em relação aos demais dias da semana, e era algo que caía em grande quantidade para poder alimentar aquela imensa multidão do povo de Israel, em todas as épocas do ano, e somente na área em que os israelitas estivessem acampados.
Isto era algo milagroso e sem precedentes, que Deus havia criado para a provisão deles.
Por este meio lhes ensinou que o homem não vive somente de pão, mas de tudo o que procede da boca de Deus.
É do que Deus tem ordenado pela Sua palavra de ordem em relação à provisão dos homens que a vida é mantida na terra.
Mesmo a produção de alimentos pelos chamados processos naturais estão debaixo do comando de Deus.
O diabo disse a Jesus à vista da sua fome, que ele ordenasse às pedras que se transformassem em pães, mas o Senhor lhe disse as palavras de Mt 4.4, como a dizer-lhe:
“O meu Pai pode me manter vivo sem pão”.
Por isso nenhum filho de Deus tem o direito de duvidar da Sua provisão para atender às suas necessidades, pois de um modo ou de outro, Deus proverá  para eles tudo quanto necessitam.
Jesus deixou isto bastante claro no seu ensino de Mt 6.25-34.
A provisão que se aplica ao corpo, também se aplica ao espírito, porque é o espírito a vida do corpo.
O espírito deve ser, portanto, também alimentado por Deus.
O maná tipificava Cristo, o pão da vida.
Ele é Palavra de Deus, por meio da qual vivemos.
O Senhor nos dá o pão que subsiste para a vida eterna, e não nos deixou apenas com o alimento que perece.
As mesmas roupas que os israelitas usaram no Egito se mantiverem novas e não envelheceram (v. 4). Isto foi outro milagre operado por Deus em favor deles.
Assim, pelo modo que Deus proveu alimentação e vestes para os israelitas, Ele os humilhou, pois era algo penoso para eles terem, por quarenta anos, que se alimentar do mesmo tipo de comida e usar a mesma roupa.
Deste modo, Deus lhes ensinou que a vida do homem não consiste na qualidade ou quantidade de suas vestes e comida, e nem mesmo de todos os seus bens terrenos, mas sim, em se estar aliançado com Ele em comunhão espiritual, cumprindo os Seus mandamentos.
Eles aprenderiam também através daquelas provações e humilhações a dependerem da Providência, e não ficarem ansiosos quanto ao que deveriam comer, beber e vestir.
Quando Cristo enviou seus discípulos:
“E perguntou-lhes: Quando vos mandei sem bolsa, alforje, ou alparcas, faltou-vos porventura alguma coisa? Eles responderam: Nada.” (Lc 22.35).
Nada lhes faltou porque Deus cuidou da saúde e das necessidades deles.
Embora tivessem atravessado um país árido, os seus pés não incharam.
Deus os preservou de possíveis lesões decorrentes das inconveniências da viagem.
Devemos reconhecer e agradecer todas as misericórdias deste tipo.
Os israelitas também deveriam se lembrar das correções divinas sob as quais haviam estado (v. 5).
Durante aqueles anos no deserto haviam sido mantidos debaixo de uma disciplina rígida, e não sem necessidade.
Como um pai corrige o seu filho, para o bem dele, e porque o ama, assim o Senhor havia corrigido os israelitas (v. 5).
Deus é um Pai terno e amoroso para com todos os seus filhos, contudo, Ele os disciplinará com a vara da correção.
Como Deus tratava a Israel como um pai trata a seu filho, eles deveriam se voltar para Ele com uma reverência filial.
O maior argumento para a obediência ao Senhor e aos Seus mandamentos era a demonstração de toda a Sua bondade e graça para com eles, dando-lhes a terra fértil de Canaã, onde teriam abundância de bens, e não teriam falta de qualquer coisa.
Deus lhes faria prosperar, e deveriam se cuidar em sua prosperidade a não se esquecerem que todo aquele bem provinha do Senhor, e não propriamente da força e habilidade deles, que em última instância, também era procedente de Deus, segundo os dons e talentos, que reparte entre todos os homens.  
As coisas boas que eles encontrariam em Canaã são mencionadas, para mostrar a grande diferença entre o deserto e o lugar para o qual Deus lhes teria conduzido desde o princípio, caso os seus pais não tivessem se rebelado contra Ele, por causa da sua incredulidade.
Mas a paciência e submissão daquela nova geração, demonstradas debaixo da provação e humilhação a que foram submetidos no deserto, fez com que fossem conduzidos a circunstâncias melhores.
Eles haviam se humilhado debaixo da potente mão de Deus e seriam então exaltados.
Todavia, eles são alertados a continuarem na constância do cumprimento dos seus deveres para com o Senhor, para que  continuassem também debaixo do Seu favor.
Este seria o único modo de manter a posse daquela boa terra: serem constantes no cumprimento dos mandamentos de Deus.  



“1 Todos os mandamentos que hoje eu vos ordeno cuidareis de observar, para que vivais, e vos multipliqueis, e entreis, e possuais a terra que o Senhor, com juramento, prometeu a vossos pais.
2 E te lembrarás de todo o caminho pelo qual o Senhor teu Deus tem te conduzido durante estes quarenta anos no deserto, a fim de te humilhar e te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias ou não os seus mandamentos.
3 Sim, ele te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que nem tu nem teus pais conhecíeis; para te dar a entender que o homem não vive só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor, disso vive o homem.
4 Não se envelheceram as tuas vestes sobre ti, nem se inchou o teu pé, nestes quarenta anos.
5 Saberás, pois, no teu coração que, como um homem corrige a seu filho, assim te corrige o Senhor teu Deus.
6 E guardarás os mandamentos de Senhor teu Deus, para andares nos seus caminhos, e para o temeres.
7 Porque o Senhor teu Deus te está introduzindo numa boa terra, terra de ribeiros de águas, de fontes e de nascentes, que brotam nos vales e nos outeiros;
8 terra de trigo e cevada; de vides, figueiras e romeiras; terra de oliveiras, de azeite e de mel;
9 terra em que comerás o pão sem escassez, e onde não te faltará coisa alguma; terra cujas pedras são ferro, e de cujos montes poderás cavar o cobre.
10 Comerás, pois, e te fartarás, e louvarás ao Senhor teu Deus pela boa terra que te deu.
11 Guarda-te, que não te esqueças do Senhor teu Deus, deixando de observar os seus mandamentos, os seus preceitos e os seus estatutos, que eu hoje te ordeno;
12 para não suceder que, depois de teres comido e estares farto, depois de teres edificado boas casas e estares morando nelas,
13 depois de se multiplicarem as tuas manadas e es teus rebanhos, a tua prata e o teu ouro, sim, depois de se multiplicar tudo quanto tens,
14 se exalte e teu coração e te esqueças do Senhor teu Deus, que te tirou da terra o Egito, da casa da servidão;
15 que te conduziu por aquele grande e terrível deserto de serpentes abrasadoras e de escorpiões, e de terra árida em que não havia água, e onde te fez sair água da rocha pederneira;
16 que no deserto te alimentou com o maná, que teus pais não conheciam; a fim de te humilhar e te provar, para nos teus últimos dias te fazer bem;
17 e digas no teu coração: A minha força, e a fortaleza da minha mão me adquiriram estas riquezas.
18 Antes te lembrarás do Senhor teu Deus, porque ele é o que te dá força para adquirires riquezas; a fim de confirmar o seu pacto, que jurou a teus pais, como hoje se vê.
19 Sucederá, porém, que, se de qualquer maneira te esqueceres de Senhor teu Deus, e se seguires após outros deuses, e os servires, e te encurvares perante eles, testifico hoje contra ti que certamente perecerás.
20 Como as nações que o Senhor vem destruindo diante de vós, assim vós perecereis, por não quererdes ouvir a voz do Senhor vosso Deus.“ (Dt 8.1-20).



Deuteronômio 9

Eleição de Graça e Misericórdia

A eleição não está baseada na justiça ou méritos das pessoas, senão na exclusiva misericórdia e justiça de Deus, que escolhe pecadores, e que chama, portanto pecadores e não justos para comporem as fileiras dos Seus eleitos.
Assim, Deus se provê de filhos dentre pecadores, pois fora de Cristo, não há um só justo diante dEle, pois todos foram encerrados no pecado por causa do pecado original de Adão.
Este caráter da eleição está revelado na própria eleição da nação de Israel, como povo da aliança com Deus, como se lê em Deuteronômio 9.3-6.
Não era por não serem pecadores como os cananeus que os israelitas os desapossariam da terra prometida.
Tal se dá com os eleitos de Deus para a salvação: não é por serem menos pecadores do que as demais pessoas que são reconciliados com Deus, por meio de Jesus Cristo.
Os pecados da nação eleita estavam registrados no livro da Lei, para protestar contra eles, para revelar esta verdade de que  estavam herdando a terra pela misericórdia e fidelidade de Deus à promessa que fizera aos patriarcas, mas não por causa de qualquer justiça própria que houvesse na nação.
Por isso Moisés lhes relembrou algumas das ocasiões em que o pecado deles se manifestou em tal grau, que foi submetido a duros juízos da parte do Senhor, como o fabrico do bezerro de ouro (v. 12), e a ira de Deus foi provocada por aquele pecado a ponto dEle ter desejado destruir todos os israelitas, inclusive o próprio Arão, e formar uma nova nação a partir de Moisés (v. 14, 17-20).
Moisés lhes relembrou também a murmuração de Taberá, de Massá, de Quibrote-Hataavá em que os israelitas provocaram a ira do Senhor (v. 22), pecados estes que são citados no livro de Números.
A incredulidade de Cades-Barneia (v. 23) também foi citada por Moisés para que fizesse a seguinte conclusão no verso 24:
“Tendes sido rebeldes contra o Senhor desde o dia em que vos conheci.”
Então, não seria por causa da própria justiça da nação israelita, que aquelas nações seriam vencidas por eles em Canaã.
Assim como não é em razão da própria justiça da Igreja de Cristo, que Ele salva os pecadores e abençoa o Seu povo.
É por causa da justiça dEle e não da nossa, que somos abençoados por Deus.
Ainda que se exija de nós um caminhar na justiça e que tenhamos uma posição bem firme contra o pecado, sempre será por causa dos méritos de Cristo e da Sua justiça que seremos aceitos e abençoados por Deus, e nunca pelos nossos próprios méritos e justiça própria.
Nossas melhores obras sempre estarão de alguma forma, maculadas pelo pecado, e assim não podem ser a causa da bênção de Deus.
O que se requer de nós é que creiamos nEle, que nos disponhamos a obedecer a Sua vontade e que nos empenhemos nisto com toda a diligência, mas nunca será o nosso elevado grau de santificação a causa de sermos abençoados por Ele, e particularmente termos vitórias sobre os nossos inimigos.
Afinal todo o bem espiritual que houver em nós, é puro fruto da Sua graça.
Se falharmos nesta caminhada e pecarmos, devemos lembrar que temos um Advogado junto ao Pai, e um Parácleto para nos ajudar na terra, e a misericórdia e longanimidade de Deus, e a cobertura da justiça e dos méritos de Cristo, e então, com inteira certeza de fé, devemos confessar e abandonar o pecado, sabendo que o Senhor será propício a nós, porque não estamos baseando a nossa comunhão com Ele confiados na nossa própria justiça, senão e unicamente na Sua justiça e misericórdia.
Em sua intercessão em favor dos israelitas, para que não fossem destruídos por Deus, em razão dos seus pecados, Moisés invocava a aliança feita com Abraão, Isaque e Jacó:
“Lembra-te dos teus servos, Abraão, Isaque e Jacó; não atentes para a dureza deste povo, nem para a sua iniquidade, nem para o seu pecado;” (v. 27).
Os cristãos da Igreja de Cristo devem argumentar com Deus para receberem o favor do perdão dos seus pecados, se referindo à aliança que Deus fez com eles através do sangue de Jesus.
Da aliança que Ele fez com o Filho desde antes da fundação do mundo, de que perdoaria nEle a iniquidade do Seu povo.
Há gigantes para serem vencidos neste mundo, assim como os israelitas deveriam lutar com os anaquins em Canaã, mas Deus tem assegurado a vitória ao Seu povo, pela promessa da Sua presença conosco, e é Ele mesmo quem os destrói por amor de nós (v. 3).
Na verdade, todas as conquistas espirituais são operações da exclusiva graça de Jesus.
Sem Ele nada podemos fazer, não somente em relação à nossa salvação, como também em relação à Sua obra.
De onde vem o poder e instrução para se pregar e ensinar de forma a que sejam movidos e convertidos corações?
Isto não está em nós. Vem de Deus, quando quer, onde quer e com quem quiser.
O maior pregador é menos do que palha se o Espírito de Deus não usá-lo como Seu instrumento.
Esta unção nunca será por causa da sua própria justiça, mas pela de Cristo, com a qual está vestido, para que suas obras sejam aceitas por Deus.
Quantos ministros fracassam em seus ministérios porque roubam para si a glória, que é exclusiva do Senhor. Eles pensam que são poderosos em si mesmos, ou que alcançaram isto em Cristo em certo período, para agora não mais dependerem dEle.    
Os israelitas foram lembrados por Moisés, que foi pela pura obra da  misericórdia que eles não foram destruídos por Deus no deserto. E de igual modo e pelo mesmo motivo os cristãos não são destruídos.
Moisés se esforçou para trazer estas coisas na lembrança dos israelitas, porque somos hábeis em esquecer as nossas provocações da ira do Senhor, especialmente quando cessa a ação da Sua vara de correção.
Mas se temos a humildade de reconhecer que não há nenhum bem na nossa natureza terrena, então somos livrados do pecado do orgulho, que se baseie na nossa própria justiça.
Estes argumentos em favor da justiça de Deus contra a justiça própria. Em favor da graça divina contra as obras meritórias humanas, não tinham logicamente em vista defender a aberração de se pensar em favor de se praticar o pecado para que possa ser manifestada a misericórdia de Deus.
Ao contrário, lembra do dever do povo de Deus de se empenhar na busca de santidade, porque a natureza terrena sempre há de prevalecer, provocando a justa ira do Senhor, quando se deixa de ter a devida vigilância contra o pecado, e uma vida de oração incessante.
A graça e a misericórdia se mostram abundantes, porque Deus conhece perfeitamente a corrupção que há nos nossos corações, e não interrompe o trabalho de santificação e correção por causa destas corrupções, ainda que as abomine, por ser inteiramente Santo e Justo.
Ele sabe como preservar o Seu povo, ainda que constituído de pecadores, e ainda que o furor do atributo da ira divina clame pela sua destruição, entra também em cena os atributo do amor, da misericórdia, e da longanimidade, de modo que assim como fez com Israel, preservando-os da destruição merecida por suas más obras, faz em relação aos cristãos da Igreja de Cristo, prosseguindo pacientemente a operar neles com o trabalho de aperfeiçoamento espiritual.
“Pois quê? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo nenhum. Não sabeis que daquele a quem vos apresentais como servos para lhe obedecer, sois servos desse mesmo a quem obedeceis, seja do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?” (Rm 6.15,16).
Destes versículos da epístola aos Romanos podemos inferir que cristãos fiéis e infiéis não receberão o mesmo tratamento e bênçãos da parte de Deus.
A distinção que é prometida por Deus em honrar os que Lhe honrarem não será vista apenas neste mundo, como por toda a eternidade, pois o galardão será diferente de acordo com as nossas obras feitas no Senhor e para Ele.
Elas indicarão o grau do nosso compromisso com Ele e fidelidade à Sua vontade.
Por conseguinte, mesmo em face da verdade da bênção da conquista de Canaã, que não seria feita com base na justiça dos israelitas, eles foram exortados à prática da justiça, pelo cumprimento dos mandamentos do Senhor, para o Seu inteiro agrado; pois Deus não se agrada da injustiça e do pecado, em quaisquer de suas manifestações e formas, senão da justiça e da verdade.
Tanto que os israelitas foram expulsos da terra de Canaã, por causa do pecado, pelos assírios, babilônios e romanos.
Ainda que tenhamos sido salvos pela justiça de Jesus, e ainda que sejamos também abençoados com base na Sua justiça, é nosso dever viver de modo agradável a Deus, e isto não poderá ser feito sem que nos esforcemos na prática da justiça, conforme visto nos versículos destacados no sexto capítulo da epístola aos Romanos.
Os filhos de Deus devem se santificar porque Ele é santo. Devem praticar a justiça porque Ele é justo. Devem andar na verdade porque Ele é a verdade. Devem amar, porque Ele é amor. Devem odiar o pecado porque Ele é um fogo consumidor que odeia o pecado.
A Canaã celestial será conquistada por pecadores, mas por pecadores remidos, que manterão a posse da herança prometida, por meio do trabalho da graça, que os transformará em pessoas perfeitamente santas e justas, assim como é o Seu Pai celestial.        
Mas, enquanto neste mundo, todos os servos de Deus devem lembrar, que do mesmo modo que a ira do Senhor ardeu contra o pecado de Arão, que sem sombra de dúvida, era um dos eleitos de Deus, de igual modo o caráter de nenhum homem, seja cristão ou não, poderá abrigá-lo da ira de Deus, se ele se fizer companheiro das obras das trevas.
Entretanto nunca devemos esquecer que o que qualquer pecador merece, seja cristão ou não cristão, é a justa condenação e maldição de Deus, mas pela Sua exclusiva misericórdia Ele determinou livrar eternamente da Sua ira e maldição a todo aquele que tiver lavado as suas vestes no sangue do Cordeiro, que tira o pecado do mundo, o nosso amado e bendito Salvador e Senhor.



“1 Ouve, ó Israel: hoje tu vais passar o Jordão para entrares para desapossares nações maiores e mais fortes do que tu, cidades grandes e muradas até o céu;
2 um povo grande e alto, filhos dos anaquins, que tu conhecestes, e dos quais tens ouvido dizer: Quem poderá resistir aos filhos de Anaque?
3 Sabe, pois, hoje que o Senhor teu Deus é o que passa adiante de ti como um fogo consumidor; ele os destruirá, e os subjugará diante de ti; e tu os lançarás fora, e cedo os desfarás, como o Senhor te prometeu.
4 Depois que o Senhor teu Deus os tiver lançado fora de diante de ti, não digas no teu coração: por causa da minha justiça é que o Senhor me introduziu nesta terra para a possuir. Porque pela iniquidade destas nações é que o Senhor as lança fora de diante de ti.
5 Não é por causa da tua justiça, nem pela retidão do teu coração que entras a possuir a sua terra, mas pela iniquidade destas nações o Senhor teu Deus as lança fora de diante de ti, e para confirmar a palavra que o Senhor teu Deus jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó.
6 Sabe, pois, que não é por causa da tua justiça que o Senhor teu Deus te dá esta boa terra para a possuíres, pois tu és povo de dura cerviz.
7 Lembra-te, e não te esqueças, de como provocaste à ira o Senhor teu Deus no deserto; desde o dia em que saíste da terra do Egito, até que chegaste a este lugar, foste rebelde contra o Senhor;
8 também em Horebe provocastes à ira o Senhor, e o Senhor se irou contra vós para vos destruir.
9 Quando subi ao monte a receber as tábuas de pedra, as tábuas do pacto que o Senhor fizera convosco, fiquei no monte quarenta dias e quarenta noites; não comi pão, nem bebi água.
10 E o Senhor me deu as duas tábuas de pedra, escritas com o dedo de Deus; e nelas estavam escritas todas aquelas palavras que o Senhor tinha falado convosco no monte, do meio do fogo, no dia da assembleia.
11 Sucedeu, pois, que ao fim dos quarenta dias e quarenta noites, o Senhor me deu as duas tábuas de pedra, as tábuas do pacto.
12 E o Senhor me disse: Levanta-te, desce logo daqui, porque o teu povo, que tiraste do Egito, já se corrompeu; cedo se desviaram do caminho que eu lhes ordenei; fizeram para si uma imagem de fundição.
13 Disse-me ainda o Senhor: Atentei para este povo, e eis que ele é povo de dura cerviz;
14 deixa-me que o destrua, e apague o seu nome de debaixo do céu; e farei de ti nação mais poderosa e mais numerosa do que esta.
15 Então me virei, e desci do monte, o qual ardia em fogo; e as duas tábuas do pacto estavam nas minhas duas mãos.
16 Olhei, e eis que havíeis pecado contra o Senhor vosso Deus; tínheis feito para vós um bezerro de fundição; depressa vos tínheis desviado do caminho que o Senhor vos ordenara.
17 Peguei então das duas tábuas e, arrojando-as das minhas mãos, quebrei-as diante dos vossos olhos.
18 Prostrei-me perante o Senhor, como antes, quarenta dias e quarenta noites; não comi pão, nem bebi água, por causa de todo o vosso pecado que havíeis cometido, fazendo o que era mau aos olhos do Senhor, para o provocar a ira.
19 Porque temi por causa da ira e do furor com que o Senhor estava irado contra vós para vos destruir; porém ainda essa vez o Senhor me ouviu.
20 O Senhor se irou muito contra Arão para o destruir; mas também orei a favor de Arão ao mesmo tempo.
21 Então eu tomei o vosso pecado, o bezerro que tínheis feito, e o queimei a fogo e o pisei, moendo-o bem, até que se desfez em pó; e o seu pó lancei no ribeiro que descia do monte.
22 Igualmente em Taberá, e em Massá, e em Quibrote-Hataavá provocastes à ira o Senhor.
23 Quando também o Senhor vos enviou de Cades-Barneia, dizendo: Subi, e possuí a terra que vos dei; vós vos rebelastes contra o mandado do Senhor vosso Deus, e não o crestes, e não obedecestes à sua voz.
24 Tendes sido rebeldes contra o Senhor desde o dia em que vos conheci.
25 Assim me prostrei perante o Senhor; quarenta dias e quarenta noites estive prostrado, porquanto o Senhor ameaçara destruir-vos.
26 Orei ao Senhor, dizendo: ó Senhor Jeová, não destruas o teu povo, a tua herança, que resgataste com a tua grandeza, que tiraste do Egito com mão forte.
27 Lembra-te dos teus servos, Abraão, Isaque e Jacó; não atentes para a dureza deste povo, nem para a sua iniquidade, nem para o seu pecado;
28 para que o povo da terra de onde nos tiraste não diga: Porquanto o Senhor não pôde introduzi-los na terra que lhes prometera, passou a odiá-los, e os tirou para os matar no deserto.
29 Todavia são eles o teu povo, a sua herança, que tiraste com a sua grande força e com o teu braço estendido.“ (Dt 9.1-29).



Deuteronômio 10

A Palavra Viva

O fato de Deus ter mandado Moisés lavrar outras duas tábuas de pedra, para reescrever nelas os dez mandamentos, para substituírem as duas primeiras que ele havia quebrado, em razão do pecado de idolatria do bezerro de ouro, era uma indicação clara do perdão concedido aos israelitas e da manutenção da aliança que fora feita com eles.
No verso 4 do décimo capítulo de Deuteronômio é afirmado claramente que o que foi escrito tanto nas primeiras tábuas, que foram quebradas, quanto nas segundas, foram os dez mandamentos.
O Senhor ordenou que as duas tábuas com os dez mandamentos fossem colocadas no interior da arca da aliança, que ficava no Santo dos Santos do tabernáculo, para servir de testemunho a todas as gerações de Israel, que Deus fizera uma aliança com eles através daqueles mandamentos, que Ele próprio havia escrito naquelas tábuas.
Como o tabernáculo seria ainda construído, é provável que a arca tenha sido o primeiro objeto do tabernáculo a ser feito, de forma que se guardasse nela as duas tábuas, enquanto as demais peças do santuário eram fabricadas.
Por causa de ter as tábuas com os mandamentos, guardadas no seu interior, a arca era também chamada de arca do testemunho, porque o seu interior continha aquelas tábuas, que davam o testemunho da aliança que Deus havia feito com os israelitas.
Deus quis deixar marcado também em figura que é a Sua Palavra que deve servir de testemunho da Sua aliança com os cristãos de todas as épocas.
O testemunho de que Deus tem habitado em nós deve ser dado pela Sua Palavra, inscrita em nossas mentes e corações, pelo Espírito Santo.
Este é o elemento de convencimento do Seu testemunho em nós, que Lhe pertencemos: a própria Palavra de Deus, a verdade revelada nas Escrituras.
Moisés guardou as tábuas com a Palavra de Deus no interior da arca, e é o Espírito Santo quem guarda a Palavra nos nossos corações.
Deus enviará a Palavra do evangelho àqueles cujos corações estejam preparados como arcas para recebê-la.  
Aprouve a Deus dar ao Seu povo a revelação escrita da Sua Palavra, de forma que este nunca viesse a se desviar da verdade.
Por isso são inúmeras as associações na Bíblia entre a Palavra escrita de Deus e a Sua própria pessoa.
Guardar os Seus mandamentos (e estes estão para sempre registrados na Bíblia) está tão associado à comunhão e ao verdadeiro amor ao Senhor, que não pode haver verdadeira adoração, que não esteja baseada na Sua Palavra, e por isso Jesus diz que o Pai procura quem O adore em espírito e em verdade, e a verdade está definida como sendo a própria Palavra, pois Jesus diz que a santificação é feita por Deus com base na verdade, e Ele diz que a verdade é a Palavra (Jo 17.17).
Daí a ordenança que lemos, por exemplo, anteriormente, em Dt 4.2: “Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor vosso Deus, que eu vos mando.”
Aqui se diz expressamente que para que houvesse um verdadeiro cumprimento dos mandamentos, nada poderia ser acrescentado ou diminuído da Palavra da revelação escrita, e que estava sendo dada pelo próprio Deus a Moisés.
Assim, sempre que a tradição é elevada a tal nível de autoridade, ela prejudica inevitavelmente a autoridade das Escrituras. Não acharemos nenhuma verdadeira autoridade espiritual fora da revelação que Deus fez em Sua Palavra.
Quando líderes religiosos fazem valer qualquer outra palavra e ensino que não se conformam com as sãs palavras de Jesus Cristo, o que se verá será a autoridade do homem, mas não a autoridade de Deus.
“3 Se alguém ensina alguma doutrina diversa, e não se conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade,
4 é soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, injúrias, suspeitas maliciosas,
5 disputas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade, cuidando que a piedade é fonte de lucro;” (I Tim 6.3-5).
Por isso se ordena que o povo de Deus fique sempre dentro dos limites daquilo que lhe é ordenado pelo Senhor.
Se o homem fala algo que vai contra aquilo que está revelado na Palavra de Deus, deve-se evidentemente desagradar ao homem para que se continue agradando a Deus, conforme vemos em Dt 12.32:
“Tudo o que eu te ordeno, observarás; nada lhe acrescentarás nem diminuirás.” (Dt 12.32).
Mas, os judeus, se desviaram do mandamento do Senhor e por isso sofreram e têm sofrido tudo o que tem acontecido com eles ao longo da sua história.
Deus em Sua misericórdia os tem preservado conforme prometeu aos patriarcas, mas tem feito conhecidos os Seus juízos sobre eles, em razão, principalmente, deste desvio da Sua vontade, tanto na Antiga Aliança, quanto na Nova Aliança, pois não têm ouvido o Profeta ao qual Moisés se referiu que eles deveriam ouvir e obedecer (Jesus).
Mas a Palavra escrita foi colocada na Arca da Aliança, simbolizando sempre sua autoridade suprema  nas vidas e na adoração dos judeus.
Desta forma, os que rejeitam e combatem o princípio do Sola Scriptura estarão na verdade rejeitando e combatendo um princípio que não foi estabelecido pelos reformadores, mas pelo próprio Deus, pois é Ele mesmo quem ordena que nada seja acrescentado ou retirado da Sua Palavra.
Por exemplo, se em Sua Palavra Deus condena a adoração e o culto de imagens de escultura, ou de pessoas, ou de anjos, como é que os que praticam tais coisas podem alegar que não estão cometendo  pecado diante dEle?
Eles não estão contrariando diretamente um mandamento que está registrado claramente na Sua Palavra?
Defender o princípio do Sola Scriptura não é portanto defender em última instância os reformadores, senão a verdade revelada pelo próprio Deus.
Se amar a Jesus é guardar os Seus mandamentos, e estes mandamentos estão registrados na Bíblia, como se pode amá-lO desconsiderando esta verdade revelada em prol de uma “nova verdade” ou “nova revelação” que contrarie aquilo que está registrado nas Escrituras?
Não há duas verdades sobre uma mesma realidade: ódio é ódio, e amor é amor. O ódio nunca foi e jamais será outra face do amor. As trevas nunca serão uma das formas de expressão da luz. Deus estabelece um contraste bem definido entre o que é sagrado e o que é profano, entre o que é justo e o que é injusto, entre o que é limpo e o que é imundo.
Então, afirmar que o Espírito está ensinando novas revelações, que atualizam e que modificam as que já estão reveladas na Bíblia é o mesmo que afirmar que Deus não é imutável e fiel.
Que Ele não é confiável, não é verdadeiro. Mas isto é impossível, pois Ele é o mesmo ontem, hoje e será o mesmo para sempre.
O que Ele tem definido como verdade jamais será mudado porque Ele, que é a verdade, não muda.
Ele não pode se corromper, e não pode melhorar porque é perfeito como sempre foi perfeito.
Nada precisa ser acrescentado ou retirado ou melhorado no Seu caráter divino. Aleluia! Ele mesmo é a garantia da imutabilidade da Sua revelação. Por isso Jesus diz que:
“Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras jamais passarão.” (Mt 24.35).
Precisaríamos de outra afirmação para nos assegurarmos da imutabilidade da Palavra do Senhor?
Afinal, transgredir os mandamentos que estão registrados na Palavra de Deus não é uma questão opcional para os homens, pois o pecado de comissão ou omissão consiste em não se cumprir o que nos é ordenado na Palavra, e o Senhor não é indiferente a nenhuma das ações ou omissões dos homens, quer sejam cristãos ou não cristãos.
Vale lembrar que até de cada palavra proferida em vão se dará conta no juízo.
Se requer de cada homem que viva conforme diz o apóstolo:
“Ora, uma vez que todas estas coisas hão de ser assim dissolvidas, que pessoas não deveis ser em santidade e piedade, aguardando, e desejando ardentemente a vinda do dia de Deus, em que os céus, em fogo se dissolverão, e os elementos, ardendo, se fundirão?” (II Pe 3.16,17).
Não se pode desconsiderar a santidade e piedade devidas a Deus, a não ser em prejuízo próprio, pois o Senhor é justo Juiz e tudo passará em julgado, não pelo padrão da nossa fraqueza e imperfeição, mas pelo padrão da Sua perfeita justiça e santidade.
Quem será suficiente para isto, se não tiver nascido de novo do Espírito e se não andar no Espírito?
Como será suficiente se não tiver o devido apreço e temor da Palavra de Deus?
Se a Palavra da verdade for considerada meramente como fonte de estudos teológicos, se for colocada sob o nosso julgamento, em vez de nos colocarmos sob o julgamento dela, como poderemos viver do modo exigido por Deus?
Israel foi poupado da destruição que Deus lhes traria por causa da idolatria do bezerro de ouro (Deut 10.10), mas foi devidamente advertido por Moisés, quanto ao compromisso que  tinham com Deus, na condição de ser o Seu povo, e em razão da aliança que tinham feito com Ele (v. 12,13).
Deus lhes havia elegido para amá-los e serem Seus, dentre todos os demais povos (v. 15).
Eles deveriam corresponder a esta eleição e amor de Deus por eles, temendo-O, andando em todos os Seus caminhos, amando-O e servindo-O de todo o coração e de toda a alma, guardando os Seus mandamentos e estatutos, que foram dados pelo Senhor, para o próprio bem deles.
Ninguém pode ser plenamente feliz e ter vida abundante, se não for obediente à Palavra de Deus, pois é nela que se revela aquilo que o homem deve ser e fazer, para que possa viver de modo agradável para si mesmo, para o próximo e para o Seu Criador, pois tudo o que o homem deve ser e fazer para ter vida e vida em abundância, está revelado na Palavra, e especificamente nos mandamentos do Senhor.
Por isso Jesus diz que veio para que tivéssemos vida e a tivéssemos em abundância, pois não somente somos transformados pelo poder do Espírito Santo, por meio da fé nEle, como somos santificados progressivamente pela Sua Palavra, de modo que transformados de glória em glória, à Sua própria imagem, vamos cumprindo cada vez mais o propósito de Deus na nossa criação, até que cheguemos à estatura de varão perfeito.
O que queremos dizer, em resumo, é que não se pode ser feliz caso não se esteja vivendo em conformidade com tudo o que Deus determinou que fôssemos e fizéssemos, e a revelação desta Sua vontade para conosco, somente pode ser encontrada em Sua Palavra.
Deste modo, os judeus não deveriam colocar a sua confiança de pertencerem ao Senhor na circuncisão do seu prepúcio, que era o sinal visível da aliança que Ele fizera com eles, desde Abraão, de ser o Deus dele e da sua descendência, mas sim na circuncisão do  coração, e por não mais endurecerem a cerviz deles (v. 16).
O ato de circuncidar é um dever nosso. Circuncidar não o prepúcio, mas o coração, isto é, lançar longe de nós tudo o que sirva para guardar impurezas, assim como o prepúcio de carne, que deveria ser arrancado e lançado fora pelos israelitas.
A mortificação do pecado é o que se tem em vista no mandamento, pela firme determinação de lançar fora tudo o que possa nos tornar impuros aos olhos de Deus.
 “Ora, amados, visto que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus.” (II Cor 7.1).
Nós devemos servir ao Senhor com todo o nosso coração e alma, consagrando-nos para honrá-lo em todas as coisas, colocando-nos debaixo do Seu governo e nos dispondo a que Ele faça avançar através de nós, os interesses do Seu reino entre os homens.
O temor, o amor e o serviço a Deus segundo Seus mandamentos incluem o amor e serviço ao próximo, inclusive àqueles que não conhecem ao Senhor, e que não fazem parte do Seu povo, na condição de serem nossos semelhantes (v. 19).
No amor mesmo demonstrado àqueles que não conhecem ao Senhor, nós revelamos como o próprio Deus é em Sua natureza.
Ele é amor, e prova que é perdoador, compassivo e longânimo, pelo fato de operar num mundo que está sujeito ao pecado.
Como Deus revelaria aos anjos no céu que Ele perdoa a transgressão e o pecado caso o pecado não tivesse entrado no mundo?
Deste modo, embora odeie o pecado e submeta o pecado a juízo, Ele também perdoa o pecado daqueles que Se arrependem, e tem demonstrado esta verdade abundantemente nas vidas que tem transformado e abençoado pela Sua graça, através dos séculos.
Desta forma, nenhum dos homens que acessarem o céu, estará lá por causa da sua própria bondade e justiça. Nenhum deles estará lá porque conhecia a Deus e fazia perfeitamente a Sua vontade. Todos, sem qualquer exceção estarão lá porque foram alcançados pela graça e misericórdia do Senhor.
Deste modo, estão obrigados a demonstrar também misericórdia a todos aqueles que não conhecem a Deus, que não fazem parte do Seu povo, na expectativa de que venham também a se arrepender como eles, e assim saiam das trevas para a luz, da morte para a vida, conforme é da vontade do Senhor, em relação a todos os homens.
Uma vez tendo sido alcançado pela misericórdia de Deus é dever de todo convertido viver para Aquele que os amou e salvou.
A Igreja de Cristo não deve falhar neste ponto, assim como falharam os judeus, pois em vez de amarem os gentios, eles os odiaram e desprezaram, por não fazerem parte da comunidade de Israel.
O Senhor ordena a Seu povo que não somente ame os estranhos, como também ame os seus inimigos.
Que façam o bem a todos.
Que não amaldiçoem sequer aos seus perseguidores, antes que orem em favor deles, e os abençoem.
A Ele somente pertence o juízo e a vingança. Caso não se arrependam, todo o bem que tivermos demonstrado a eles somente servirá para agravar ainda mais o castigo que receberão do Justo Juiz, quando eles deixarem este mundo pela morte.
Deus quer manifestar, especialmente através da Igreja, que enquanto os homens vivem na terra, há uma porta aberta para os pecadores, uma fonte que pode lavá-los de todos os seus pecados, que a misericórdia e longanimidade lhes concede tempo para que possam chegar ao arrependimento.
Deste modo, é nosso dever fazer o bem a todos os homens.
A misericórdia dos servos de Deus deve se estender aos desamparados, pois Deus dá prova do seu cuidado com os tais, nas pessoas dos órfãos e das viúvas (v. 18), especialmente nos dias de Moisés, em que não havia nenhuma instituição para ampará-los regularmente.
Desta forma, o amor deve ser prático e se voltar especialmente em favor daqueles que se encontram em necessidades.
Daí se ordenar que o fraco deve ser amparado em vez de ser condenado e desamparado pela Igreja; e de igual forma, o desanimado deve ser consolado, em vez de abandonado; e se ordena longanimidade para com todos (I Tes 5.14), e particularmente, em relação ao que tem necessidade de bens materiais, se não tiverem familiares aos quais cabe o dever de ajudá-los, devem ser amparados pela Igreja (I Tim 5.16), mas de um modo geral, a todos os cristãos é ordenado por Deus que se lembrem de fazer o bem a todos os homens (Gl 6.10), particularmente àqueles que são pobres (Gl 2.10).      



“1 Naquele mesmo tempo me disse o Senhor: Alisa duas tábuas de pedra, como as primeiras, e sobe a mim ao monte, e faze uma arca de madeira.
2 Nessas tábuas escreverei as palavras que estavam nas primeiras tábuas, que quebras-te, e as porás na arca.
3 Assim, fiz ume arca de madeira de acácia, alisei duas tábuas de pedra, como as primeiras, e subi ao monte com as duas tábuas nas mãos.
4 Então o Senhor escreveu nas tábuas, conforme a primeira escritura, os dez mandamentos, que ele vos falara no monte, do meio do fogo, no dia da assembleia; e o Senhor mas deu a mim.
5 Virei-me, pois, desci do monte e pus as tábuas na arca que fizera; e ali estão, como o Senhor me ordenou.
6 (Ora, partiram os filhos de Israel de Beerote-Bene-Jaacã para Mosera. Ali faleceu Arão e foi sepultado; e Eleazar, seu filho, administrou o sacerdócio em seu lugar.
7 Dali partiram para Gudgoda, e de Gudgoda para Jotbatá, terra de ribeiros de águas.
8 Por esse tempo o Senhor separou a tribo de Levi, para levar a arca do pacto do Senhor, para estar diante do Senhor, servindo-o, e para abençoar em seu nome até o dia de hoje.
9 Pelo que Levi não tem parte nem herança com seus irmãos; o Senhor é a sua herança, como o Senhor teu Deus lhe disse.)
10 Também, como antes, eu estive no monte quarenta dias e quarenta noites; e o Senhor me ouviu ainda essa vez; o Senhor não te quis destruir;
11 antes disse-me o Senhor: Levanta-te, põe-te a caminho diante do povo; eles entrarão e possuirão a terra que com juramento prometi a seus pais lhes daria.
12 Agora, pois, ó Israel, que é que o Senhor teu Deus requer de ti, senão que temas o Senhor teu Deus, que andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao Senhor teu Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma,
13 que guardes os mandamentos do Senhor, e os seus estatutos, que eu hoje te ordeno para o teu bem?
14 Eis que do Senhor teu Deus são o céu e o céu dos céus, a terra e tudo o que nela há.
15 Entretanto o Senhor se afeiçoou a teus pais para os amar; e escolheu a sua descendência depois deles, isto é, a vós, dentre todos os povos, como hoje se vê.
16 Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração, e não mais endureçais a vossa cerviz.
17 Pois o Senhor vosso Deus, é o Deus dos deuses, e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e terrível, que não faz acepção de pessoas, nem recebe peitas;
18 que faz justiça ao órfão e à viúva, e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e roupa.
19 Pelo que amareis o estrangeiro, pois fostes estrangeiros na terra do Egito.
20 Ao Senhor teu Deus temerás; a ele servirás, e a ele te apegarás, e pelo seu nome; jurarás.
21 Ele é o teu louvor e o teu Deus, que te fez estas grandes e terríveis coisas que os teus olhos têm visto.
22 Com setenta almas teus pais desceram ao Egito; e agora o Senhor teu Deus te fez, em número, como as estrelas do céu.“ (Dt 10.1-22).


Deuteronômio 11

O Amor Deve Ser Constante

“Seja Constante o amor fraternal.” (Hb 13.1)
Moisés apresenta, em Deuteronômio 11, argumentos em prol da obediência devida a Deus, recordando aos israelitas que Ele havia destruído os Seus inimigos, que se opuseram a Ele, fora e dentro de Israel, a saber, os egípcios, quando libertou os israelitas do cativeiro, e Corá, Datã e Abirão cuja rebelião contra o Senhor foi punida com a descida deles vivos, com tudo o que possuíam ao fogo do Seol.
Além disso, pela obediência ao Senhor, eles garantiriam a posse da terra de Canaã, que iriam conquistar, e Deus proveria aquela terra de uma fertilidade excepcional, de modo que obteriam maravilhosas safras agrícolas.
Esta obediência deveria ser de acordo com os termos expressados no primeiro versículo:
“Amarás, pois, ao Senhor teu Deus, e guardarás as suas ordenanças, os seus estatutos, os seus preceitos e os seus mandamentos, por todos os dias.”
A Lei deveria ser portanto, guardada por eles, por amor ao Senhor, e isto em todos os dias das suas vidas.
Deus ama a constância, e a graça se empenha em ensinar os Seus filhos a amá-lo e a servi-lo de modo constante, debaixo de toda e qualquer circunstância.
É especialmente, para que aprendam a serem constantes no amor e serviço a Ele, que os cristãos são provados.
Deus, se o desejasse, poderia ter criado o homem e todos os demais seres que habitam a terra, como criaturas que não necessitassem de água, de alimento ou de qualquer outro tipo de provisão para a sua subsistência.
Mas, para vários propósitos Ele nos criou dependentes destas coisas para que pudesse manifestar de modo prático e visível o Seu cuidado provedor por nós; para aprendermos a servir uns aos outros em amor, a trabalhar pela obtenção do pão diário e das condições que sejam favoráveis à manutenção da vida, dentre tantos outros propósitos que poderiam ser enumerados.
Dentro deste critério de provisão geral, Israel, por meio da obediência a Deus, demonstrada de modo prático na guarda dos Seus mandamentos, receberia uma atenção especial da Sua parte, para que as condições climáticas de Canaã fossem sempre favoráveis à vida (v. 10, 11, 14), como prova do seu amor e agrado por eles.
As admoestações e repreensões da Lei, visavam portanto à manutenção do amor.
Mas caso fossem desobedientes a Ele, particularmente adorando falsos deuses, experimentariam, ao contrário, o desfavor do Senhor, expressado nas condições citadas no verso 17:
“e a ira do Senhor se acenda contra vós, e feche ele o céu, e não caia chuva, e a terra não dê o seu fruto, e cedo pereçais da boa terra que o Senhor vos dá.”
Para se prevenirem do perigo da apostasia, deveriam atender à instrução, que já havia sido dada anteriormente no sexto capítulo, de aprenderem, ensinarem e praticarem a Palavra do Senhor, fazendo-o, todavia não como quem aprende maquinalmente conceitos educativos, mas colocando a palavra de Deus no coração e na alma (v. 18), meditando nela em todo o tempo.
Guardar os mandamentos na forma adequada (apegando-se ao Senhor e andando em todos os Seus caminhos – v. 22), conforme esperado por Deus, traria grande recompensa aos israelitas, pois Ele mesmo lançaria fora todas as nações inimigas de Israel, independentemente do tamanho e força delas (v. 23), e os termos de Israel seriam dilatados pelo Senhor (v. 24) e nenhum dos inimigos de Israel poderia lhe resistir, porque Deus mesmo colocaria pavor em todos eles, relativamente aos israelitas (v. 25).
Desta forma, optar pela obediência seria sinônimo de bênção, e pela desobediência, de maldição (v. 26-28).



“1 Amarás, pois, ao Senhor teu Deus, e guardarás as suas ordenanças, os seus estatutos, os seus preceitos e os seus mandamentos, por todos os dias.
2 Considerai hoje (pois não falo com vossos filhos, que não conheceram, nem viram) a instrução do Senhor vosso Deus, a sua grandeza, a sua mão forte, e o seu braço estendido;
3 os seus sinais, as suas obras, que fez no meio do Egito a Faraó, rei do Egito, e a toda a sua terra;
4 o que fez ao exército dos egípcios, aos seus cavalos e aos seus carros; como fez passar sobre eles as águas do Mar Vermelho, quando vos perseguiam, e como o Senhor os destruiu até o dia de hoje;
5 o que vos fez no deserto, até chegardes a este lugar;
6 e o que fez a Datã e a Abirão, filhos de Eliabe, filho de Rúben; como a terra abriu a sua boca e os tragou com as suas casas e as suas tendas, e bem assim todo ser vivente que lhes pertencia, no meia de todo o Israel;
7 porquanto os vossos olhos são os que viram todas as grandes obras que fez o Senhor.
8 Guardareis, pois, todos os mandamentos que eu vos ordeno hoje, para que sejais fortes, e entreis, e ocupeis a terra a que estais passando para a possuirdes;
9 e para que prolongueis os dias nessa terra que o Senhor, com juramento, prometeu dar a vossos pais e à sua descendência, terra que mana leite e mel.
10 Pois a terra na qual estais entrando para a possuirdes não é como a terra do Egito, de onde saístes, em que semeáveis a vossa semente, e a regáveis com o vosso pé, como a uma horta;
11 mas a terra a que estais passando para a possuirdes é terra de montes e de vales; da chuva do céu bebe as águas;
12 terra de que o Senhor teu Deus toma cuidado; os olhos do Senhor teu Deus estão sobre ela continuamente, desde o princípio até o fim do ano.
13 E há de ser que, se diligentemente obedeceres a meus mandamentos que eu hoje te ordeno, de amar ao Senhor teu Deus, e de o servir de todo o teu coração e de toda a tua alma,
14 darei a chuva da tua terra a seu tempo, a temporã e a serôdia, para que recolhas o teu grão, o teu mosto e o teu azeite;
15 e darei erva no teu campo para o teu gado, e comerás e fartar-te-ás.
16 Guardai-vos para que o vosso coração não se engane, e vos desvieis, e sirvais a outros deuses, e os adoreis;
17 e a ira do Senhor se acenda contra vós, e feche ele o céu, e não caia chuva, e a terra não dê o seu fruto, e cedo pereçais da boa terra que o Senhor vos dá.
18 Ponde, pois, estas minhas palavras no vosso coração e na vossa alma; atá-las-eis por sinal na vossa mão, e elas vos serão por frontais entre os vossos olhos;
19 e ensiná-las-eis a vossos filhos, falando delas sentados em vossas casas e andando pelo caminho, ao deitar-vos e ao levantar-vos;
20 e escrevê-las-eis nos umbrais de vossas casas, e nas vossas portas;
21 para que se multipliquem os vossos dias e os dias de vossos filhos na terra que o Senhor, com juramento, prometeu dar a vossos pais, enquanto o céu cobrir a terra.
22 Porque, se diligentemente guardardes todos estes mandamentos que eu vos ordeno, se amardes ao Senhor vosso Deus, e andardes em todos os seus caminhos, e a ele vos apegardes,
23 também o Senhor lançará fora de diante de vós todas estas nações, e possuireis nações maiores e mais poderosas do que vós.
24 Todo lugar que pisar a planta do vosso pé será vosso; o vosso termo se estenderá do deserto ao Líbano, e do rio, o rio Eufrates, até o mar ocidental.
25 Ninguém vos poderá resistir; o Senhor vosso Deus porá o medo e o terror de vós sobre toda a terra que pisardes, assim como vos disse.
26 Vede que hoje eu ponho diante de vós a bênção e a maldição:
27 A bênção, se obedecerdes aos mandamentos do Senhor vosso Deus, que eu hoje vos ordeno;
28 porém a maldição, se não obedecerdes aos mandamentos do Senhor vosso Deus, mas vos desviardes do caminho que eu hoje vos ordeno, para seguirdes outros deuses que nunca conhecestes.
29 Ora, quando o Senhor teu Deus te introduzir na terra a que vais para possuí-la, pronunciarás a bênção sobre o monte Gerizim, e a maldição sobre o monte Ebal.
30 Porventura não estão eles além do Jordão, atrás do caminho do pôr do sol, na terra dos cananeus, que habitam na Arabá defronte de Gilgal, junto aos carvalhos de Moré?
31 Porque estais a passar o Jordão para entrardes a possuir a terra que o Senhor vosso Deus vos dá; e a possuireis, e nela habitareis.
32 Tende, pois, cuidado em observar todos os estatutos e os preceitos que eu hoje vos proponho.“ (Dt 11.1-32).



Deuteronômio 12

Como Deus Vê a Idolatria

Da grande verdade que há somente um Deus surgem todas as grandes leis fundamentais, especialmente a de que somente este Deus deve ser adorado, e que nós não devemos ter nenhum outro deus diante dEle, e por isto este é o primeiro dos dez mandamentos, e o segundo está relacionado ao primeiro.
A mão que sempre está por detrás de toda falsa adoração, de toda idolatria a falsos deuses é a de Satanás, o arqui-inimigo de Deus.
No livro de Deuteronômio o culto a falsos deuses está relacionado à operação dos demônios:
“Ofereceram sacrifícios aos demônios, não a Deus, a deuses que não haviam conhecido, deuses novos que apareceram há pouco, aos quais os vossos pais não temeram.” (Dt 32.17).
E em Levítico encontramos também a seguinte citação do próprio Deus:
“E nunca mais oferecerão os seus sacrifícios aos demônios, após os quais eles se prostituem; isso lhes será por estatuto perpétuo pelas suas gerações.” (Lev 17.7).
O que se tem em vista então com a proibição da idolatria não é a simples escolha de uma forma de adoração diferente da única verdadeira, mas a associação com Satanás e os demônios.
Na verdade, não há alternativas diferentes para os homens a não ser a de estar a serviço do reino da Luz, ou então do reino das trevas.
Quem não se junta ao Senhor Jesus, espalha, e permanece debaixo da escravidão do pecado e do diabo.
Quem está fora do governo do Senhor, está automaticamente debaixo do governo de Satanás.
Por isso, o primeiro mandamento aponta para o dever de todo homem de reconhecer a Deus como o único soberano e Senhor de sua alma, porque se alguém se rebela contra isto, e não se coloca debaixo do governo de Deus, ficará como a Bíblia ensina sob o governo de Satanás, onde na verdade, todo homem se encontra, antes que seja libertado pela fé em Cristo.
“Eu, que sou a luz, vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas.” (Jo 12.46).
“para lhes abrir os olhos a fim de que se convertam das trevas à luz, e do poder de Satanás a Deus, para que recebam remissão de pecados e herança entre aqueles que são santificados pela fé em mim.” (At 26.18).
“pois outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor; andai como filhos da luz” (Ef 5.8).
“e que nos tirou do poder das trevas, e nos transportou para o reino do seu Filho amado;” (Col 1.13).
Vemos desta forma, que não é sem razão que são insistentes em toda a Lei de Moisés as exortações contra a adoração de falsos deuses, e particularmente contra a idolatria.
E, não são menores as exortações de que os israelitas se apegassem ao Senhor de todo o seu coração e que aprendessem, ensinassem e cumprissem os Seus mandamentos, em todos os dias das suas vidas, porque apesar de fazerem parte do povo da aliança, qualquer um deles que não estivesse ligado a Deus pela fé, permanecia na condição de escravo do pecado e de Satanás, portanto propenso a atender-lhe os desígnios malignos expressados nas obras infrutíferas das trevas.
A história de Israel comprovou que toda a insistência da Lei não foi capaz de impedir que se desviassem do Senhor, em sua grande maioria, e em todas as suas gerações.
Eles viriam a destruir os ídolos e altares dos falsos deuses em Canaã, mas fariam tal como fizera Jeú nos dias dos reis, que sob o mandado de Deus exterminou com a dinastia de Acabe e com o culto idolátrico a Baal em Israel, sem que, todavia ele mesmo se voltasse de todo o seu coração para o Senhor.
Quem não é pelo Senhor, é contra Ele.
Ainda que o homem não se julgue inimigo de Deus e não deseje ser amigo de Satanás, em seu espírito, se ele não se converter de todo o seu coração ao Senhor, viverá em inimizade contra Deus, e estará debaixo da Sua ira, por causa da nautrezas terrena que todos possuímos.
Somente Jesus pode amarrar o valente (Satanás) e libertar o pecador do seu senhorio tirânico. Mas Ele somente poderá libertar aqueles que renunciarem às trevas, para virem para a Sua maravilhosa Luz.
O que estava sendo ordenado aos israelitas, através de Moisés, não era meramente uma questão de se evitar um culto exterior e formal, mas que se mortificasse todo tipo de idolatria, no mais profundo do coração.
Seria pela comunhão com o Senhor, que poderiam experimentar uma verdadeira abominação pelos falsos deuses.
O homem não amará a santidade se não andar na Luz em comunhão com Deus.
Não abominará o pecado se o Espírito Santo não lhe der um coração puro, que sentirá repulsa por tudo aquilo que provoca a justa ira do Senhor, por ofender a Sua justiça e santidade.
É caminhando no Espírito, que não se tem prazer nas obras da carne.
Tudo irá bem com aquele que caminhar com Deus tendo o governo dEle sobre o seu coração.
O Senhor é sol e escudo para os que nEle confiam. Ele é um castelo forte contra toda investida do mal. Por isso não se pode sequer pensar em vitória sobre o pecado e os poderes das trevas, sem se levar em conta, uma anterior e necessária comunhão com o Senhor, por se andar na Sua Luz (I João 1).
O mundo moderno está repleto de perigos, para nos afastar da comunhão com Deus. Objetos, imagens, entretenimentos dos mais variados tipos, podem ocupar o lugar que é devido exclusivamente ao Senhor, e assim afastar a Sua santa presença de nossas vidas.
Se antes, era necessário vigiar e orar em todo o tempo, em prol da manutenção da comunhão com Deus, hoje, tal necessidade é mais imperiosa do que nunca.
Cada um daqueles falsos deuses em formas de esculturas, e de outros objetos associados ao seu culto deveria ser procurado diligentemente pelo povo de Deus, para serem destruídos, e eis aí uma grande ilustração para a Igreja de Cristo, que deve fazer o mesmo tipo de procura de todas aquelas coisas que têm atrapalhado ou impedido a comunhão com o Senhor, para que sejam extirpadas para sempre de suas vidas.
Essa busca deve ser feita no território do nosso próprio coração, o qual era ilustrado pelas abominações da terra de Canaã, que deveria ser purificada pelos israelitas, para poderem habitar nela juntamente com o Senhor.
Deste modo, para que não houvesse o risco de oferecerem sacrifícios, e culto de adoração a demônios, todo serviço religioso deveria ser feito pelos israelitas somente no tabernáculo, que foi o lugar designado por Deus, naquela Antiga Aliança, como o único lugar separado para o serviço religioso.
Isto era uma medida preventiva para que ninguém estabelecesse a sua própria forma de cultuar e adorar a Deus, que poderia se desviar numa forma corrompida associada aos demônios.
Jesus deixou também limites demarcados para a adoração da Igreja. Há ministérios e governos constituídos. Uma disciplina para ser aplicada. Uma ordem e decência a serem observadas.
A ordenança de Moisés para que os israelitas não imitassem a forma dos cananeus de cultuarem os seus falsos deuses (v. 4), e que nem sequer lhes perguntassem como era o culto destes deuses tinha o alvo de que não se sentissem tentados a enfeitar, a melhorar, segundo o parecer e imaginação deles, a forma de culto e adoração que haviam sido estabelecidos por Deus.
Os sacrifícios só poderiam ser oferecidos no tabernáculo.
A meditação na Palavra, as orações e louvores que fossem feitos em cada lar, não deveriam ser diante de imagens de escultura, em altares improvisados, ou debaixo de árvores frondosas, que fossem consagradas como lugar místico para adoração, conforme faziam os cananeus.
Nenhum culto seria aceito por Deus, que fosse realizado em conformidade com a fantasia da imaginação de cada um, ao contrário, Ele traria aos seus praticantes os castigos previstos na aliança.
Deus está acima de qualquer falso deus e jamais lhe agradará ser adorado como fazem aqueles que lhes prestam culto. Na verdade eles estão cultuando, sabendo ou não sabendo, a demônios.
O culto a Deus, no tabernáculo, deveria ser feito pelos israelitas com prazer, com alegria (v. 7, 12) e não como uma obrigação maçante.
O grande privilégio de ser a nação eleita pelo Deus Altíssimo deveria ser reconhecido como um motivo de servi-lo voluntariamente e de coração, alegremente.
A referência ao animal imundo que poderia ser comido pelos israelitas, constante do verso 15, não é às espécies de animais que eram classificados como imundos na Lei, pois o consumo da carne de tais animais era proibido na Antiga Aliança, mas aos animais que não haviam sido sacrificados no tabernáculo; pois não haveria como sacrificar no tabernáculo, todos os animais, cuja carne seria consumida em todas as tribos de Israel, levando-se principalmente em conta que o tabernáculo seria erigido num lugar previamente designado por Deus, no território de uma das tribos.
Foi feita uma advertência solene para que se cumprisse estritamente tudo o que era exigido pela Lei, e que pelas contingências da peregrinação no deserto, não pudesse ainda estar sendo cumprido (v. 8-10), como por exemplo, a legislação relativa às festas.
À guisa de ilustração, a festa das primícias somente poderia ser cumprida depois que eles entrassem em Canaã e colhessem os primeiros frutos da terra.
Desta forma, o povo de Deus só deve viver numa condição incerta, que pode ser tolerada, enquanto perdurar a necessidade, mas que não deve ser permitida uma vez que esta for superada.
Os casos de necessidade foram suportados enquanto a necessidade prevaleceu, mas a necessidade seria removida assim que eles tivessem conquistado a terra de Canaã.
Enquanto uma casa está sendo construída há muita poeira e sujeira que deverão ser inteiramente removidas assim que a construção for concluída.
Deste modo, este capítulo 12º de Deuteronômio é encerrado com a exortação de que nada deveria ser acrescentado ou retirado das ordenanças de Deus (v. 32), sob qual pretexto fosse, nada deveria ser alterado daquilo que Deus haja ordenado para que a Sua Palavra não fosse invalidada.
Nada deveria ser alterado para ser tornado mais atraente, mais magnífico, mais praticável ou o que fosse, porque o nosso dever, assim como o dos israelitas é o de cumprir o que Deus nos tem ordenado em sua totalidade, e não o que julguemos ser da nossa conveniência.
Deus criou o homem para que faça a Sua vontade, e, se o homem pensa que faz a vontade de Deus não dando a devida atenção e obediência ao que Ele tem ordenado, certamente prestará contas a Ele, pelo seu procedimento desobediente.
O que importa fazer afinal, não é humanizar o cristianismo, mas cristianizar a humanidade, como afirmou o teólogo Karl Barth.  



“1 São estes os estatutos e os preceitos que tereis cuidado em observar na terra que o Senhor Deus de vossos pais vos deu para a possuirdes por todos os dias que viverdes sobre a terra.
2 Certamente destruireis todos os lugares em que as nações que haveis de subjugar serviram aos seus deuses, sobre as altas montanhas, sobre os outeiros, e debaixo de toda árvore frondosa;
3 e derrubareis os seus altares, quebrareis as suas colunas, queimareis a fogo os seus aserins, abatereis as imagens esculpidas dos seus deuses e apagareis o seu nome daquele lugar.
4 Não fareis assim para com o Senhor vosso Deus;
5 mas recorrereis ao lugar que o Senhor vosso Deus escolher de todas as vossas tribos para ali pôr o seu nome, para sua habitação, e ali vireis.
6 A esse lugar trareis os vossos holocaustos e sacrifícios, e os vossos dízimos e a oferta alçada da vossa mão, e os vossos votos e ofertas voluntárias, e os primogênitos das vossas vacas e ovelhas;
7 e ali comereis perante o Senhor vosso Deus, e vos alegrareis, vós e as vossas casas, em tudo em que puserdes a vossa mão, no que o Senhor vosso Deus vos tiver abençoado.
8 Não fareis conforme tudo o que hoje fazemos aqui, cada qual tudo o que bem lhe parece aos olhos.
9 Porque até agora não entrastes no descanso e na herança que o Senhor vosso Deus vos dá;
10 mas quando passardes o Jordão, e habitardes na terra que o senhor vosso Deus vos faz herdar, ele vos dará repouso de todos os vossos inimigos em redor, e morareis seguros.
11 Então haverá um lugar que o Senhor vosso Deus escolherá para ali fazer habitar o seu nome; a esse lugar trareis tudo o que eu vos ordeno: os vossos holocaustos e sacrifícios, os vossos dízimos, a oferta alçada da vossa mão, e tudo o que de melhor oferecerdes ao Senhor em cumprimento dos votos que fizerdes.
12 E vos alegrareis perante o Senhor vosso Deus, vós, vossos filhos e vossas filhas, vossos servos e vossas servas, bem como o levita que está dentro das vossas portas, pois convosco não tem parte nem herança.
13 Guarda-te de ofereceres os teus holocaustos em qualquer lugar que vires;
14 mas no lugar que o Senhor escolher numa das tuas tribos, ali oferecerás os teus holocaustos, e ali farás tudo o que eu te ordeno.
15 Todavia, conforme todo o teu desejo, poderás degolar, e comer carne dentro das tuas portas, segundo a bênção do Senhor teu Deus que ele te houver dado; tanto o imundo como o limpo comerão dela, como da gazela e do veado;
16 tão-somente não comerás do sangue; sobre a terra o derramarás como água.
17 Dentro das tuas portas não poderás comer o dízimo do teu grão, do teu mosto e do teu azeite, nem os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas, nem qualquer das tuas ofertas votivas, nem as tuas ofertas voluntárias, nem a oferta alçada da tua mão;
18 mas os comerás perante o Senhor teu Deus, no lugar que ele escolher, tu, teu filho, tua filha, o teu servo, a tua serva, e bem assim e levita que está dentre das tuas portas; e perante o Senhor teu Deus te alegrarás em tudo em que puseres a mão.
19 Guarda-te, que não desampares o levita por todos os dias que viveres na tua terra.
20 Quando o Senhor teu Deus dilatar os teus termos, como te prometeu, e tu disseres: Comerei carne (porquanto tens desejo de comer carne); conforme todo o teu desejo poderás comê-la.
21 Se estiver longe de ti o lugar que o Senhor teu Deus escolher para ali pôr o seu nome, então degolarás do teu gado e do teu rebanho, que o Senhor te houver dado, como te ordenei; e poderás comer dentro das tuas portas, conforme todo o teu desejo.
22 Como se come a gazela e o veado, assim comerás dessas carnes; o imundo e o limpo igualmente comerão delas.
23 Tão-somente guarda-te de comeres o sangue; pois o sangue é a vida; pelo que não comerás a vida com a carne.
24 Não o comerás; sobre a terra o derramarás como água.
25 Não o comerás, para que te vá bem a ti, a teus filhos depois de ti, quando fizeres o que é reto aos olhos do Senhor.
26 Somente tomarás as coisas santas que tiveres, e as tuas ofertas votivas, e irás ao lugar que o Senhor escolher;
27 oferecerás os teus holocaustos, a carne e o sangue sobre o altar do Senhor teu Deus; e o sangue dos teus sacrifícios se derramará sobre o altar do Senhor teu Deus, porém a carne comerás.
28 Ouve e guarda todas estas palavras que eu te ordeno, para que te vá bem a ti, e a teus filhos depois de ti, para sempre, se fizeres o que é bom e reto aos olhos do Senhor teu Deus.
29 Quando o Senhor teu Deus exterminar de diante de ti as nações aonde estás entrando para as possuir, e as desapossares e habitares na sua terra,
30 guarda-te para que não te enlaces para as seguires, depois que elas forem destruídas diante de ti; e que não perguntes acerca dos seus deuses, dizendo: De que modo serviam estas nações os seus deuses? pois do mesmo modo também farei eu.
31 Não farás assim para com o Senhor teu Deus; porque tudo o que é abominável ao Senhor, e que ele detesta, fizeram elas para com os seus deuses; pois até seus filhos e suas filhas queimam no fogo aos seus deuses.


32 Tudo o que eu te ordeno, observarás; nada lhe acrescentarás nem diminuirás.“ (Dt 12.1-32).



Deuteronômio 13

Os Juízos do Velho Testamento Para a Idolatria

No início do capítulo 13º de Deuteronômio é reafirmada a palavra do dever de adoração exclusiva de Deus, pelo modo ordenado na Sua Palavra.
Quem falasse em nome de seus deuses, alegando ter recebido mensagens proféticas ou sonhos destes deuses, que fossem confirmados por meio da realização de sinais e prodígios, que acontecessem segundo eles haviam prognosticado, e que protestassem com isso que fossem seguidos pelos israelitas na adoração daqueles deuses, em razão dos sinais e prodígios que realizaram, de modo nenhum deveriam ser obedecidos, e ao contrário, o mandado do Senhor é que eles fossem mortos (Deut 13.1-5).
Moisés alertou o povo (v. 3) que estas coisas sucederiam por permissão de Deus, para provar a fidelidade dos israelitas a Ele, para que ficasse manifesto que eles estavam apegados a Ele de todo o coração e alma.
Realização de sinais e prodígios, ainda que em nome de Deus, sem que se dê o devido apreço e obediência à Sua Palavra, não tem qualquer valor diante dEle, como também é uma provocação direta da Sua ira, como o apóstolo Paulo se refere em Gl 1.8:
“Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos pregasse outro evangelho além do que já vos pregamos, seja anátema.”
Ainda em II Tes 2.9: “a esse iníquo cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás com todo o poder e sinais e prodígios de mentira,”
Nem mesmo razões sentimentais e fidelidade a laços de família e amizade seria um motivo aprovado para se abandonar o Senhor para se adorar outros deuses, porque até mesmo se irmãos, ou filhos, ou esposos, ou amigos tentassem desviar alguém da Sua fidelidade a Deus, os tais deveriam ser mortos por apedrejamento (v. 6-11).
Este rigor da Lei, ilustrava naquela Antiga Dispensação, que a desobediência à Palavra do Senhor, sujeita a uma condenação de morte espiritual eterna, que é muito mais rigorosa e dolorosa que a morte física.
Até mesmo todos os moradores de uma das cidades de Israel que viessem a se desviar após outros deuses, deveriam ser mortos e a sua cidade deveria ser totalmente destruída, considerando-se todo o seu despojo como anátema, que deveria ser queimado, e nada daquela cidade deveria ser tomado pelos demais israelitas, de modo a desviar deles o ardor da ira de Deus, que tendo misericórdia e piedade deles, pelo pecado cometido pelos seus irmãos, não destruísse toda a nação, de modo que eles poderiam continuar se multiplicando na terra que lhes dera por herança (v. 12-18).
Foi também proibido que aquela cidade fosse reedificada, de modo a servir de testemunho e memorial a todas as gerações, a razão do juízo que o Senhor trouxera sobre aquela cidade, de modo que não se repetisse tal iniquidade em Israel.
No caso de uma cidade que se revoltasse contra o Deus de Israel, servindo a outros deuses, o caso deveria ser examinado com todo o cuidado (v. 14) em face da destruição, que estava determinada no caso de confirmação da denúncia.
As provas deveriam ser examinadas e não se agir sobre boatos, de modo que todas as evidências deveriam ser bastante claras.
Em processos judiciais se requer que se gaste tempo, para se descobrir a verdade, sem paixão, preconceito ou parcialidade.



“1 Se levantar no meio de vós profeta, ou sonhador de sonhos, e vos anunciar um sinal ou prodígio,
2 e suceder o sinal ou prodígio de que vos houver falado, e ele disser: Vamos após outros deuses que nunca conhecestes, e sirvamo-los,
3 não ouvireis as palavras daquele profeta, ou daquele sonhador; porquanto o Senhor vosso Deus vos está provando, para saber se amais o Senhor vosso Deus de todo o vosso coração e de toda a vossa alma.
4 Após o Senhor vosso Deus andareis, e a ele temereis; os seus mandamentos guardareis, e a sua voz ouvireis; a ele servireis, e a ele vos apegareis.
5 E aquele profeta, ou aquele sonhador, morrerá, pois falou rebeldia contra o Senhor vosso Deus, que vos tirou da terra do Egito e vos resgatou da casa da servidão, para vos desviar do caminho em que o Senhor vosso Deus vos ordenou que andásseis; assim exterminareis o mal do meio vós.
6 Quando teu irmão, filho da tua mãe, ou teu filho, ou tua filha, ou a mulher do teu seio, ou teu amigo que te é como a tua alma, te incitar em segredo, dizendo: Vamos e sirvamos a outros deuses!-deuses que nunca conheceste, nem tu nem teus pais,
7 dentre os deuses dos povos que estão em redor de ti, perto ou longe de ti, desde uma extremidade da terra até a outra-
8 não consentirás com ele, nem o ouvirás, nem o teu olho terá piedade dele, nem o pouparás, nem o esconderás,
9 mas certamente o matarás; a tua mão será a primeira contra ele para o matar, e depois a mão de todo o povo;
10 e o apedrejarás, até que morra, pois procurou apartar-te do Senhor teu Deus, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão.
11 Todo o Israel o ouvirá, e temerá, e não se tornará a praticar semelhante iniquidade no meio de ti.
12 Se, a respeito de alguma das tuas cidades que o Senhor teu Deus te dá para ali habitares, ouvires dizer:
13 Uns homens, filhos de Belial, saindo do meio de ti, incitaram os moradores da sua cidade, dizendo: Vamos, e sirvamos a outros deuses!-deuses que nunca conheceste-
14 então inquirirás e investigarás, perguntando com diligência; e se for verdade, se for certo que se fez tal abominação no meio de ti,
15 certamente ferirás ao fio da espada os moradores daquela cidade, destruindo a ela e a tudo o que nela houver, até os animais.
16 E ajuntarás todo o seu despojo no meio da sua praça; e a cidade e todo o seu despojo queimarás totalmente para o Senhor teu Deus, e será montão perpétuo; nunca mais será edificada.
17 Não se te pegará às mãos nada do anátema; para que o Senhor se aparte do ardor da sua ira, e te faça misericórdia, e tenha piedade de ti, e te multiplique; como jurou a teus pais,
18 se ouvires a voz do Senhor teu Deus, para guardares todos os seus mandamentos, que eu hoje te ordeno, para fazeres o que é reto aos olhos do Senhor teu Deus.“ (Dt 13.1-18).



Deuteronômio 14

Escolhidos para a Santificação

Mais uma vez, Moisés se refere no 14º capitulo de Deuteronômio à eleição de Israel (v. 1,2) que não foi baseada no próprio mérito deles, para viverem como filhos de Deus, como povo santo do Senhor.
Deus os escolheu, assim como os cristãos na Igreja de Cristo, como se afirma em Ef 1.4-6:
“como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; e nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para o louvor da glória da sua graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado;”
Este caráter da eleição, para o propósito da santificação, também é citado pelo apóstolo Pedro:
 “eleitos segundo a presciência de Deus Pai, na santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas.” (I Pe 1.2)
Ninguém é eleito por Deus dentre os homens senão para ser santificado.
Assim, não seria diferente em relação a Israel.
O grande alvo de Deus não era apenas o de eleger uma nação sem o propósito de santificar as pessoas desta nação; pois seria na santificação do povo, que se confirmaria a eleição.
Por isso, Paulo diz que nem todo israelita é um verdadeiro israelita, segundo o propósito de Deus na eleição; que a vocação de Israel é mantida naqueles que são eleitos e não nos que são endurecidos, de modo que ele afirma:
“Pois quê? O que Israel busca, isso não o alcançou; mas os eleitos alcançaram; e os outros foram endurecidos,” (Rm 11.7).
Os eleitos, cuja eleição é comprovada pela santificação, foram os que alcançaram o propósito de Deus na vocação de Israel, pois foi para o propósito da santificação que Deus havia elegido aquela nação, para viver como Seu povo na terra.
Então a convocação para guardarem os Seus mandamentos, e a viverem como Seus filhos, santos e amados, era uma chamada realmente séria à confirmação da eleição pela santificação.
Como lemos em II Pe 1.10:
“Portanto, irmãos, procurai mais diligentemente fazer firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis.”
Este “fazendo isto” que ele cita neste versículo se refere ao que ordenara anteriormente nos versos 5 a 8:
“E por isso mesmo vós, empregando toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência, e à ciência o domínio próprio, e ao domínio próprio a perseverança, e à perseverança a piedade, e à piedade a fraternidade, e à fraternidade o amor. Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas, elas não vos deixarão ociosos nem infrutíferos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo.”
É pela eleição que Deus se provê de filhos, assim, os verdadeiros israelitas em toda a nação de Israel é que seriam as pessoas realmente adotadas por Deus (v. 1), porque é impossível ser filho de Deus, sem que se esteja unido a Ele pela fé.
Foi para este propósito de tornar a muitos israelitas verdadeiros filhos de Deus, que Cristo se manifestou, pois Moisés havia se referido ao grande Profeta e Mediador que seria levantado em Israel depois dele, para que sendo ouvido e crido, pudessem ter vida.
Disto nos fala o apóstolo João:
“Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus;” (Jo 1.11,12).
Israel significa príncipe de Deus, e isto indica a condição de serem filhos deste Rei. Desta forma, todo verdadeiro israelita é um filho de Deus, participante da Sua natureza, favor, amor e bênção.
“Vede que grande amor nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus; e nós o somos. Por isso o mundo não nos conhece; porque não conheceu a ele.” (I Jo 3.1).
Aqui está a santificação: pessoas separadas para Deus, dedicadas ao seu serviço e louvor.
As pessoas que são de Deus estão debaixo das maiores obrigações de serem santas, segundo a graça do Senhor, que as conduzirá a isto.
Deus as tem reservado para Si e as tem qualificado para o Seu serviço e agrado.
Por conseguinte, os israelitas deveriam se distinguir por uma grande singularidade de todas as demais nações da terra.
De igual modo, a Igreja, o Israel de Deus, deve ser distinto. No caso dos israelitas, é citado neste capítulo que eles deveriam se distinguir particularmente em duas coisas, a saber:
1 – No seu luto pelos mortos, pois não deveriam se cortar (v. 1). Eles não deveriam se cortar para satisfazer com o seu próprio sangue às falsas divindades do inferno, como fizeram os profetas de Baal (I Reis 18.28).
2 – No tipo de alimentação deles. Conforme distinção entre animais limpos e imundos, que já havia sido descrita em Levítico 11, sendo que aqui é citado que tudo que não fosse expressamente proibido na lei poderia ser consumido (v. 11-20).
Todavia, não se deveria comer de nenhuma carne de qualquer animal que tivesse morrido por si mesmo, especialmente em razão de não ter sido sangrado devidamente, tendo o sangue ficado coagulado e impregnado na carne, não sendo, portanto uma alimentação saudável, e que também faria com que fosse transgredida a ordenança cerimonial de não se comer sangue ou carne com sangue.
Também foi proibido cozinhar um filhote de cabra no leite de sua mãe, por ter sido provavelmente algum tipo de prática supersticiosa pagã.
Os dízimos tinham uma função social, na Antiga Aliança, especialmente a de sustentar os levitas, e os sacerdotes entre eles, porque os descendentes de Arão eram também levitas, pois não tinham recebido herança em Canaã, como se lê em Lev 18.21:
“Eis que aos filhos de Levi tenho dado todos os dízimos em Israel por herança, pelo serviço que prestam, o serviço da tenda da revelação.”




“1 Filhos sois do Senhor vosso Deus; não vos cortareis a vós mesmos, nem abrireis calva entre vossos olhos por causa de algum morto.
2 Porque és povo santo ao Senhor teu Deus, e o Senhor te escolheu para lhe seres o seu próprio povo, acima de todos os povos que há sobre a face da terra.
3 Nenhuma coisa abominável comereis.
4 Estes são os animais que comereis: o boi, a ovelha, a cabra,
5 o veado, a gazela, o cabrito montês, a cabra montesa, o antílope, o órix e a ovelha montesa.
6 Dentre os animais, todo o que tem a unha fendida, dividida em duas, e que rumina, esse podereis comer.
7 Porém, dos que ruminam, ou que têm a unha fendida, não podereis comer os seguintes: o camelo, a lebre e o querogrilo, porque ruminam, mas não têm a unha fendida; imundos vos serão;
8 nem o porco, porque tem unha fendida, mas não rumina; imundo vos será. Não comereis da carne destes, e não tocareis nos seus cadáveres.
9 Isto podereis comer de tudo o que há nas águas: tudo o que tem barbatanas e escamas podereis comer;
10 mas tudo o que não tem barbatanas nem escamas não comereis; imundo vos será.
11 De todas as aves limpas podereis comer.
12 Mas estas são as de que não comereis: a águia, o quebrantosso, o xofrango,
13 o açor, o falcão, o milhafre segundo a sua espécie,
14 todo corvo segundo a sua espécie,
15 o avestruz, o mocho, a gaivota, o gavião segundo a sua espécie,
16 o bufo, a coruja, o porfirião,
17 o pelicano, o abutre, o corvo marinho,
18 a cegonha, a garça segundo a sua espécie, a poupa e o morcego.
19 Também todos os insetos alados vos serão imundos; não se comerão.
20 De todas as aves limpas podereis comer.
21 Não comerás nenhum animal que tenha morrido por si; ao peregrino que está dentro das tuas portas o darás a comer, ou o venderás ao estrangeiro; porquanto és povo santo ao Senhor teu Deus. Não cozerás o cabrito no leite de sua mãe.
22 Certamente darás os dízimos de todo o produto da tua semente que cada ano se recolher do campo.
23 E, perante o Senhor teu Deus, no lugar que escolher para ali fazer habitar o seu nome, comerás os dízimos do teu grão, do teu mosto e do teu azeite, e os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas; para que aprendas a temer ao Senhor teu Deus por todos os dias.
24 Mas se o caminho te for tão comprido que não possas levar os dízimos, por estar longe de ti o lugar que Senhor teu Deus escolher para ali por o seu nome, quando o Senhor teu Deus te tiver abençoado;
25 então vende-os, ata o dinheiro na tua mão e vai ao lugar que o Senhor teu Deus escolher.
26 E aquele dinheiro darás por tudo o que desejares, por bois, por ovelhas, por vinho, por bebida forte, e por tudo o que te pedir a tua alma; comerás ali perante o Senhor teu Deus, e te regozijarás, tu e a tua casa.
27 Mas não desampararás o levita que está dentro das tuas portas, pois não tem parte nem herança contigo.
28 Ao fim de cada terceiro ano levarás todos os dízimos da tua colheita do mesmo ano, e os depositarás dentro das tuas portas.


29 Então virá o levita (pois nem parte nem herança tem contigo), o peregrino, o órfão, e a viúva, que estão dentro das tuas portas, e comerão, e fartar-se-ão; para que o Senhor teu Deus te abençoe em toda obra que as tuas mãos fizerem.“ (Dt 14.1-29).



Deuteronômio 15

A Generosidade Recompensada

No 15º capítulo de Deuteronômio são dados mandamentos relativos ao perdão das dívidas a cada sete anos (v. 1-7), no chamado ano sabático, citado em Levítico 25.
Como as dívidas, especialmente dos pobres deveriam ser perdoadas a cada sete anos, são dadas também ordens relativas para que não houvesse nenhuma precaução da parte dos credores, criando obstáculos a um empréstimo caridoso (v. 7-11), especialmente quando estivesse próximo o ano sabático.
A libertação de servos israelitas que tivessem sido comprados por dinheiro, também deveria ser feita a cada sete anos (v. 12-18).
Este ano de liberação tipificava a graça do evangelho, pela qual é proclamado o ano aceitável do Senhor, e pelo qual obtemos o perdão de nossas dívidas, quer dizer, o perdão de nossos pecados, e somos ensinados por Jesus, a perdoar dívidas, assim como também o fomos por Deus.
Esta lei do perdão de dívidas a cada sétimo ano tinha em vista prevenir que qualquer israelita caísse em pobreza extrema, que serviria para repreensão tanto da nação de Israel, quanto da religião deles, cuja reputação lhes cabia preservar.
A liberalidade no perdão foi encorajada pela promessa de Deus, que Ele abençoaria os credores compensando-os em seu aparente prejuízo (v. 4-6, 10); e a atitude de se prevenir de futuros prejuízos, negando-se a emprestar por temor da proximidade do ano sabático, seria considerado por Deus como sendo pecado (v. 9).
Em Pv 22.7 lemos a seguinte verdade:
“O rico domina sobre os pobres; e o que toma emprestado é servo do que empresta.”
Deste modo, havia uma promessa específica da parte de Deus atrelada à obediência a este mandamento de liberar as dívidas dos pobres, em que a nação de Israel, em sendo fiel ao cumprimento do mandamento, viria a ser credora de muitas nações, e consequentemente, dominaria sobre elas.
É uma prática secular entre os israelitas se auxiliarem financeiramente como irmãos, e não é de se estranhar que por séculos tenham sido eles os grandes agentes financeiros do mundo; e podemos ver nisto o cumprimento literal e fiel da promessa que Deus fez a eles quanto ao cumprimento deste mandamento específico da lei.      
É afirmado que sempre haveria pobres em Israel para o propósito de os israelitas exercitarem a generosidade, de modo que uma mão fechada indicaria um coração endurecido, que não seria abençoado por Deus. Daí ser ordenado o contrário, que generosamente abrissem a mão ao necessitado.
O empréstimo generoso é encorajado na Lei, porque se não fosse possível confiar no que tomou o empréstimo, sempre seria possível confiar na promessa de compensação de Deus, e mesmo que isto não fosse feito neste mundo, certamente Ele o fará, justo Juiz que é na ressurreição dos justos (Lc 6.34, 35).
Dar e emprestar é uma prova prática de confiança em Deus, e quando se faz isto, por motivo de obediência à Sua vontade, e com alegria no coração, isto nos torna alvo do Seu agrado, porque ama a quem dá com alegria (II Cor 9.7).
Nos versículos 12 a 18 temos uma repetição da lei relativa aos servos, já comentada em Êxodo 21.
Nos versículos 19 a 23 há também uma repetição relativa à lei dos primogênitos do gado dos israelitas, que deveriam ser santificados ao Senhor (v. 19), sendo oferecidos como sacrifício pacífico, cuja carne eles comeriam no tabernáculo, salvo se tivessem algum defeito, caso em que não deveriam ser ofertados diante do Senhor, mas deveriam ser sacrificados nas próprias casas dos israelitas como alimento comum.
Estas são apenas algumas das muitas prescrições civis e cerimoniais da Lei dada a Moisés, que Pedro e Paulo chamaram de jugo pesado e insuportável, que graças a Deus, não figuram como prescrições na Nova Aliança que temos com Jesus Cristo.
Todavia, por meio delas, muito se aprende sobre o caráter santo, justo e criterioso de Deus.




“1 Ao fim de cada sete anos farás remissão.
2 E este é o modo da remissão: todo credor remitirá o que tiver emprestado ao seu próximo; não o exigirá do seu próximo ou do seu irmão, pois a remissão do Senhor é apregoada.
3 Do estrangeiro poderás exigi-lo; mas o que é teu e estiver em poder de teu irmão, a tua mão o remitirá.
4 Contudo não haverá entre ti pobre algum (pois o Senhor certamente te abençoará na terra que o Senhor teu Deus te dá por herança, para a possuíres),
5 contanto que ouças diligentemente a voz do Senhor teu Deus para cuidares em cumprir todo este mandamento que eu hoje te ordeno.
6 Porque o Senhor teu Deus te abençoará, como te prometeu; assim, emprestarás a muitas nações, mas não tomarás empréstimos; e dominarás sobre muitas nações, porém elas não dominarão sobre ti.
7 Quando no meio de ti houver algum pobre, dentre teus irmãos, em qualquer das tuas cidades na terra que o Senhor teu Deus te dá, não endurecerás o teu coração, nem fecharás a mão a teu irmão pobre;
8 antes lhe abrirás a tua mão, e certamente lhe emprestarás o que lhe falta, quanto baste para a sua necessidade.
9 Guarda-te, que não haja pensamento vil no teu coração e venhas a dizer: Vai-se aproximando o sétimo ano, o ano da remissão; e que o teu olho não seja maligno para com teu irmão pobre, e não lhe dês nada; e que ele clame contra ti ao Senhor, e haja em ti pecado.
10 Livremente lhe darás, e não fique pesaroso o teu coração quando lhe deres; pois por esta causa te abençoará o Senhor teu Deus em toda a tua obra, e em tudo no que puseres a mão.
11 Pois nunca deixará de haver pobres na terra; pelo que eu te ordeno, dizendo: Livremente abrirás a mão para o teu irmão, para o teu necessitado, e para o teu pobre na tua terra.
12 Se te for vendido um teu irmão hebreu ou irmã hebreia, seis anos te servirá, mas na sétimo ano o libertarás.
13 E, quando o libertares, não o deixarás ir de mãos vazias;
14 liberalmente o fornecerás do teu rebanho, e da tua eira, e do teu lagar; conforme o Senhor teu Deus tiver abençoado te darás.
15 Pois lembrar-te-ás de que foste servo na terra do Egito, e de que o Senhor teu Deus te resgatou; pelo que eu hoje te ordeno isso.
16 Mas se ele te disser: Não sairei de junto de ti; porquanto te ama a ti e a tua casa, por estar bem contigo;
17 então tomarás uma sovela, e lhe furarás a orelha contra a porta, e ele será teu servo para sempre; e também assim farás à tua serva.
18 Não seja duro aos teus olhos de teres de libertá-lo, pois seis anos te prestou serviço equivalente ao dobro do salário dum mercenário; e o Senhor teu Deus te abençoará em tudo o que fizeres.
19 Todo primogênito que nascer das tuas vacas e das tuas ovelhas santificarás ao Senhor teu Deus; com o primogênito do teu boi não trabalharás, nem tosquiarás o primogênito das tuas ovelhas.
20 Perante o Senhor teu Deus os comerás, tu e a tua casa, de ano em ano, no lugar que o Senhor escolher.
21 Mas se nele houver algum defeito, como se for coxo, ou cego, ou tiver qualquer outra deformidade, não o sacrificarás ao Senhor teu Deus.
22 Nas tuas portas o comerás; o imundo e o limpo igualmente o comerão, como da gazela ou do veado.
23 Somente do seu sangue não comerás; sobre a terra o derramarás como água.“ (Dt 15.1-23).


Deuteronômio 16

Neste capítulo temos uma repetição das leis relativas às três festas anuais: a da páscoa (v. 1-8); do pentecoste (v. 9-12) e a dos tabernáculos (v. 13-15).
Nos versos 16 e 17 é ordenado que nenhum israelita do sexo masculino (v. 16) se dirigisse ao local onde estaria o tabernáculo, e ao redor do qual seriam realizadas as festas, sem que trouxesse consigo as ofertas exigidas pela lei.
Isto não deveria ser feito como uma obrigação legal, mas como um motivo de gratidão e alegria, pelas bênçãos recebidas do Senhor.
É da vontade de Deus que o seu povo seja alegre. Daí o mandamento da Nova Aliança: “Alegrai-vos sempre no Senhor”, porque se aqueles que estavam debaixo da Lei tinham que se alegrar diante de Deus, muito mais nós que O servimos debaixo da graça do evangelho, temos o dever de nos alegrarmos não somente em nossos cultos de adoração, como em todo o tempo e eternamente, por estarmos no Senhor, que nos livrou da ira vindoura e nos tornou coparticipantes da Sua própria natureza.
Nós devemos nos alegrar no Senhor, não somente por causa do que recebemos e temos recebido diariamente dEle, mas por causa do que prometeu, e que esperamos ainda receber dEle mais adiante; porque tem prometido cuidar do Seu povo e abençoá-lo.
Desta forma, o crente deve se regozijar na esperança (Rm 12.12), porque Aquele que prometeu é fiel.
Nos versos 18-20 é designada uma magistratura inferior para funcionar em todas as cidades de Israel, quando estivessem em Canaã, e é relembrado o dever de os juízes julgarem com justiça, sem fazerem acepção de pessoas e sem aceitarem suborno.
No verso 20 se destaca que a manutenção da posse da terra de Canaã dependeria também da prática da justiça.
O costume pagão de plantar árvores como poste-ídolo, e até mesmo arvoredos com o fim de serem consagrados como locais para a prática da idolatria, e especialmente para o sacrifício de animais, é expressamente condenado, assim como a elevação de colunas para o mesmo fim, por serem uma abominação ao Senhor (v. 21, 22).



“1 Guarda o mês de abibe, e celebra a páscoa ao Senhor teu Deus; porque no mês de abibe, de noite, o Senhor teu Deus tirou-te do Egito.
2 Então, das ovelhas e das vacas, sacrificarás a páscoa ao Senhor teu Deus, no lugar que o Senhor escolher para ali fazer habitar o seu nome.
3 Nela não comerás pão levedado; por sete dias comerás pães ázimos, pão de aflição (porquanto apressadamente saíste da terra do Egito), para que te lembres do dia da tua saída da terra do Egito, todos os dias da tua vida.
4 O fermento não aparecerá contigo por sete dias em todos os teus termos; também da carne que sacrificares à tarde, no primeiro dia, nada ficará até pela manhã.
5 Não poderás sacrificar a páscoa em qualquer uma das tuas cidades que o Senhor teu Deus te dá,
6 mas no lugar que o Senhor teu Deus escolher para ali fazer habitar o seu nome; ali sacrificarás a páscoa à tarde, ao pôr do sol, ao tempo determinado da tua saída do Egito.
7 Então a cozerás, e comerás no lugar que o Senhor teu Deus escolher; depois, pela manhã, voltarás e irás às tuas tendas.
8 Seis dias comerás pães ázimos, e no sétimo dia haverá assembleia solene ao Senhor teu Deus; nele nenhum trabalho farás.
9 Sete semanas contarás; desde o dia em que começares a meter a foice na seara, começarás a contar as sete semanas.
10 Depois celebrarás a festa das semanas ao Senhor teu Deus segundo a medida da oferta voluntária da tua mão, que darás conforme o Senhor teu Deus te houver abençoado.
11 E te regozijarás perante o Senhor teu Deus, tu, teu filho e tua filha, teu servo e tua serva, o levita que está dentro das tuas portas, o peregrino, o órfão e a viúva que estão no meio de ti, no lugar que o Senhor teu Deus escolher para ali fazer habitar o seu nome.
12 Também te lembrarás de que foste servo no Egito, e guardarás estes estatutos, e os cumpriras.
13 A festa dos tabernáculos celebrarás por sete dias, quando tiveres colhido da tua eira e do teu lagar.
14 E na tua festa te regozijarás, tu, teu filho e tua filha, teu servo e tua serva, e o levita, o peregrino, o órfão e a viúva que estão dentro das tuas portas.
15 sete dias celebrarás a festa ao Senhor teu Deus, no lugar que o senhor escolher; porque o Senhor teu Deus te há de abençoar em toda a tua colheita, e em todo trabalho das tuas mãos; pelo que estarás de todo alegre.
16 Três vezes no ano todos os teus homens aparecerão perante o Senhor teu Deus, no lugar que ele escolher: na festa dos pães ázimos, na festa das semanas, e na festa dos tabernáculos. Não aparecerão vazios perante o Senhor;
17 cada qual oferecerá conforme puder, conforme a bênção que o Senhor teu Deus lhe houver dado.
18 Juízes e oficiais porás em todas as tuas cidades que o Senhor teu Deus te dá, segundo as tuas tribos, para que julguem o povo com justiça.
19 Não torcerás o juízo; não farás acepção de pessoas, nem receberás peitas; porque a peita cega os olhos dos sábios, e perverte a causa dos justos.
20 A justiça, somente a justiça seguirás, para que vivas, e possuas em herança a terra que o Senhor teu Deus te dá.
21 Não plantarás nenhuma árvore como asera, ao pé do altar do Senhor teu Deus, que fizeres,
22 nem levantarás para ti coluna, coisas que o Senhor teu Deus detesta.“ (Dt 16.1-22).




Deuteronômio 17

O Princípio Divino da Autoridade

Temos, no capítulo 17º de Deuteronômio, a repetição de leis contra a idolatria, e na verdade grande parte do livro de Deuteronômio consiste na repetição de diversas leis, tendo em vista que cerca de quarenta anos haviam se passado, desde a escrita dos livros de Êxodo e Levítico, e aquela nova geração de israelitas que entraria em Canaã, estava sendo relembrada nestes discursos de Moisés no último ano da sua vida, qual era o dever deles para com o Senhor.
Daí o significado do livro de Deuteronômio, deutero = segunda, nomos = lei, isto é, uma segunda lei, não no sentido de uma nova lei, ou uma outra aliança, mas no de ser uma repetição da primeira, ainda que nem tudo o que está registrado nos demais livros da Lei, esteja contido neste livro.
Um detalhamento da Lei é feito aqui e ali, especificando mandamentos anteriormente registrados em Êxodo, Levítico e Números, sendo que neste capítulo, em relação à idolatria é dito diretamente que a adoração de falsos deuses, incluindo a adoração do sol, da lua ou de qualquer astro, muito comum entre os pagãos, era terminantemente proibida (v. 3).
Os idólatras israelitas deveriam ser mortos por apedrejamento, mas não seria aceita a denúncia de uma só testemunha contra eles, senão de duas ou três no mínimo (v. 6), e cabia às próprias testemunhas iniciar o ato de apedrejamento.
Paulo retirou deste princípio da lei a ordenança de que não se aceitasse nenhuma denúncia contra um presbítero da Igreja de Cristo senão pela boca de duas ou três testemunhas (I Tim 5.19).
É ordenada uma completa obediência às autoridades, especialmente às sentenças determinadas pelos sacerdotes e juízes, e os casos de rebelião contra a autoridade, particularmente contra um sacerdote ou juiz,  deveriam ser punidos com a morte (v. 13).
Disto se aprende por princípio que o mandamento que encontramos no Novo Testamento do dever de se honrar e de ser submisso às autoridades constituídas é um dever que foi estabelecido pelo próprio Deus, desde o princípio.
Daí, retiramos nosso dever de obedecer e sermos submissos aos ministros do evangelho, aos governantes e aos magistrados, porque a autoridade civil, como diz Paulo em Rom 13.4, é ministro de Deus para o nosso bem, e quem resiste portanto à autoridade, resiste à ordenança de Deus.    
Num mundo especialmente como o nosso, em que se perdeu muito do respeito e o temor da autoridade, pela insuflação do inferno contra a obediência que lhe é devida, tem sido a causa de muito transtorno nas vidas de muitos, que por não   viverem numa atitude interna, de coração, de submissão à autoridade, conforme é da vontade do Senhor, difamam aqueles que estão em posição de autoridade, se opõem e se rebelam contra o cargo, em que estão investidos, para o seu próprio mal, porque poderes espirituais e leis espirituais, operam em todo o tempo, vindo especialmente da parte de Deus, contra os que se rebelam contra a autoridade, sejam eles quem forem.
A morte determinada na Antiga Aliança para os casos de rebelião contra a autoridade é na verdade, uma figura da punição que ocorre no mundo espiritual, vinda da parte de Deus, como castigo ou correção contra a rebelião, que na verdade não é contra a pessoa que ocupa a posição de autoridade, mas contra o próprio Deus que a instituiu. Daí dizer o apóstolo Paulo em Rom 13.2:
“Por isso quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação.”
Há, portanto uma condenação determinada, que não vindo sobre nós da parte da própria autoridade, certamente virá da parte de Deus, que é justo Juiz, e tudo julga.
Em II Pe 2.9-11 lemos o seguinte:
“também sabe o Senhor livrar da tentação os piedosos, e reservar para o dia do juízo os injustos, que já estão sendo castigados; especialmente aqueles que, seguindo a carne, andam em imundas concupiscências, e desprezam toda autoridade. Atrevidos, arrogantes, não receiam blasfemar das dignidades, enquanto que os anjos, embora maiores em força e poder, não pronunciam contra eles juízo blasfemo diante do Senhor.”
Se os ímpios já estão sendo castigados, conforme diz o apóstolo em razão destas coisas, como Deus se agradaria de ver tais atitudes no Seu próprio povo?
É para a honra do próprio Deus que a autoridade deve ser respeitada e obedecida.
Em Israel, o rei deveria ser escolhido pelo Senhor, e não poderia ser de um país estrangeiro (v. 15).
Diferentemente dos reis das demais nações ele não poderia governar tiranicamente sobre Israel, nem buscar se exaltar sobremaneira acima do povo, pela acumulação de riquezas, para afirmar a sua dominação pessoal, como por exemplo, multiplicar para si cavalos, mulheres, prata e ouro (v. 16,17).
Comumente, Salomão paga a conta sozinho da fama da transgressão deste mandamento, apesar de ser correto que ele sobejou em muito em relação a isto, no entanto não foi o único rei em Israel que deixou de atender este mandado de Deus, para que não se tornasse um laço, não somente para o próprio rei, como também para todo o povo.
O Rei de Israel, que deve ser exaltado é o Senhor, e não o ocupante do trono.
Para tanto, o rei deveria se submeter a Deus, através da obediência aos Seus mandamentos, tornando-se exemplo para o povo, e assim foi ordenado que tivesse uma cópia da Lei consigo em todo o tempo, e que a lesse todos os dias da sua vida, com o propósito de aprender a temer a Deus e a guardar os Seus mandamentos (v. 18,19).
Traçando um paralelo disto com os ministros do evangelho, que foram constituídos pelo Espírito Santo para o governo da Igreja, como poderão os mesmos apascentarem o rebanho do Senhor, se eles próprios não se alimentam diariamente da Sua Palavra?
Como alimentarão os famintos quando eles não têm qualquer alimento para lhes dar?
Como ensinarão o temor do Senhor pelo que aprenderam em Sua Palavra, quando eles próprios não o conhecem?
Paulo pôde cumprir fielmente o ministério que recebeu da parte de Deus, porque  conhecia o temor do Senhor, que foi adquirido especialmente pela meditação contínua na Sua Palavra, chegando portanto ao conhecimento de qual é a Sua vontade para o Seu povo.
“Portanto, conhecendo o temor do Senhor, procuramos persuadir os homens; mas, a Deus já somos manifestos, e espero que também nas vossas consciências sejamos manifestos.” (II Cor 5.11).        
É por isso que ele descreve o dever da obediência e submissão como sendo, sobretudo um ato motivado pelo temor devido a Deus:
“sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo.” (Ef 5.21).
“Vós, servos, obedecei a vossos senhores segundo a carne, com temor e tremor, na sinceridade de vosso coração, como a Cristo,” (Ef 6.5).
“De sorte que, meus amados, do modo como sempre obedecestes, não como na minha presença somente, mas muito mais agora na minha ausência, efetuai a vossa salvação com temor e tremor;” (Fp 2.12).
Nisto é acompanhado pelos demais apóstolos:
“E, se invocais por Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de cada um, andai em temor durante o tempo da vossa peregrinação,” (I Pe 1.17).
“Pelo que, recebendo nós um reino que não pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente, com reverência e temor; (Hb 12.28).
Destes poucos versículos podemos apreender um pouco da atmosfera que reinava na Igreja Primitiva, pelos ensinamentos recebidos diretamente de Cristo, e que apontavam para a própria atmosfera celestial, que é de plena obediência e submissão pelo devido temor à majestade, santidade e justiça de Deus, que abomina um espírito de rebelião em quaisquer de suas formas. Satanás e os demônios foram precipitados do céu em razão deste pecado.
O espírito de respeito e temor cai bem a todos e em todas as ocasiões, mesmo quando são contestados os atos injustos de uma autoridade tirânica.
Mas se entre as autoridades, que são instituídas por Deus, alguém abusar ou desonrar o cargo em que foi investido, o tal prestará contas a Ele, mas ainda neste caso, cabe aos que lhe estão subordinados, manter a devida atitude de submissão em seus corações, conforme é da vontade do Senhor, e por isso vemos em não poucas passagens bíblicas tal recomendação, mesmo no Novo Testamento, como por exemplo, em I Pe 2.17-19:
“Honrai a todos. Amai aos irmãos. Temei a Deus. Honrai ao rei. Vós, servos, sujeitai-vos com todo o temor aos vossos senhores, não somente aos bons e moderados, mas também aos maus. Porque isto é agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, suporte tristezas, padecendo injustamente.”
É importante observar que o objetivo em vista do Senhor é principalmente o de gerar o temor em nossos espíritos, pela Sua própria autoridade, em nome da qual devem atuar os Seus ministros.
Por conseguinte vemos neste capítulo um tipo de introdução para o que será dito no seguinte, especialmente em Dt 18.19, onde é referido pelo próprio Deus o juízo que sobreviria àqueles que desprezassem a autoridade de Jesus.
O mal da desobediência.
A rebelião e teimosia de um espírito de contradição e oposição a Deus, ou daqueles que estão investidos da Sua autoridade, é um princípio de desprezo e egoísmo de justiça própria, e para o Senhor isto é como a feitiçaria e a idolatria.
A sentença da Lei para os que se rebelassem contra a autoridade era a de morte.
Isto é algo muito sério para ser considerado, porque ainda que muitos não sejam visitados com a morte física na presente dispensação da graça, por conta da sua rebelião contra a autoridade, certamente permanecerão em estado de morte espiritual, enquanto permanecerem neste estado, porque Deus não concede a Sua graça ao soberbo, senão ao humilde.
Mesmo cristãos autênticos estão sujeitos a isto e somente serão abençoados quando forem curados de sua rebelião.
Há um castigo espiritual que pode passar despercebido até mesmo daqueles que estiverem sendo submetidos ao mesmo.
Um castigo maior e final será aplicado àqueles que partirem deste mundo em estado de resistência à autoridade do Filho de Deus.
Por isso o autor de Hebreus diz o seguinte:
“Havendo alguém rejeitado a lei de Moisés, morre sem misericórdia, pela palavra de duas ou três testemunhas; de quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue do pacto, com que foi santificado, e ultrajar ao Espírito da graça?”
Pois conhecemos aquele que disse:
“Minha é a vingança, eu retribuirei.”
E outra vez:
“O Senhor julgará o seu povo. Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo.” (Hb 10.28-31).
Os sacerdotes e juízes de Israel eram tipo de Cristo, no que se refere a julgarem o povo segundo os preceitos da Antiga Aliança, que também se referem em princípio, como figura de realidades espirituais, pois como vimos antes, aquela morte física determinada para certos tipos de pecados se refere a uma morte muito pior que é a morte espiritual, que pode conduzir à morte eterna.
Nós vemos nos versículos de 8 a 13 deste 17º capitulo de Deuteronômio que todo aquele que rejeitasse a sentença passada pelo sacerdote ou juiz, relativa a um caso difícil deveria ser cumprida fielmente, porque no caso de desconsideração pela decisão do sacerdote ou juiz, por motivo de soberba em julgar e agir segundo a própria deliberação e vontade, o soberbo deveria ser morto de modo a se retirar o mal de Israel, de modo que outros não se sentissem encorajados a seguir o exemplo do rebelde, e assim tivessem o devido temor ao Senhor e às autoridades que Ele constituiu.
Vemos desta forma, a importância de se dar a devida atenção e consideração ao que está revelado na Lei, porque destas passagens das Escrituras, se aprende, por princípio, o grau do temor e obediência que é devido às autoridades constituídas por Deus, a bem das nossas próprias almas, porque a bênção está associada à obediência, e não propriamente obediência aos nossos próprios juízos e valores, senão aos juízos e valores de Deus revelados na Sua Palavra.  
O temor à autoridade traz uma vida quieta e sossegada entre as pessoas, a qual é muito agradável a Deus.
Será a crescente falta deste temor uma das principais causas do tipo de sociedade que temos em nossos dias?


“1 Ao Senhor teu Deus não sacrificarás boi ou ovelha em que haja defeito ou qualquer deformidade; pois isso é abominação ao senhor teu Deus.
2 Se no meio de ti, em alguma das tuas cidades que te dá o Senhor teu Deus, for encontrado algum homem ou mulher que tenha feito o que é mau aos olhos do Senhor teu Deus, transgredindo o seu pacto,
3 que tenha ido e servido a outros deuses, adorando-os, a eles, ou ao sol, ou à lua, ou a qualquer astro do exército do céu (o que não ordenei),
4 e isso te for denunciado, e o ouvires, então o inquirirás bem; e eis que, sendo realmente verdade que se fez tal abominação em Israel,
5 então levarás às tuas portas o homem, ou a mulher, que tiver cometido esta maldade, e apedrejarás o tal homem, ou mulher, até que morra.
6 Pela boca de duas ou de três testemunhas, será morto o que houver de morrer; pela boca duma só testemunha não morrerá.
7 A mão das testemunhas será a primeira contra ele, para matá-lo, e depois a mão de todo o povo; assim exterminarás o mal do meio de ti.
8 Se alguma causa te for difícil demais em juízo, entre sangue e sangue, entre demanda e demanda, entre ferida e ferida, tornando-se motivo de controvérsia nas tuas portas, então te levantarás e subirás ao lugar que o Senhor teu Deus escolher;
9 virás aos levitas sacerdotes, e ao juiz que houver nesses dias, e inquirirás; e eles te anunciarão a sentença da juízo.
10 Depois cumprirás fielmente a sentença que te anunciarem no lugar que o Senhor escolher; e terás cuidado de fazer conforme tudo o que te ensinarem.
11 Conforme o teor da lei que te ensinarem, e conforme o juízo que pronunciarem, farás da palavra que te disserem não te desviarás, nem para a direita nem para a esquerda.
12 O homem que se houver soberbamente, não dando ouvidos ao sacerdote, que está ali para servir ao Senhor teu Deus, nem ao juiz, esse homem morrerá; assumirá de Israel o mal.
13 E todo o povo, ouvindo isso, temerá e nunca mais se ensoberbecerá.
14 Quando entrares na terra que o Senhor teu Deus te dá, e a possuíres e, nela habitando, disseres: Porei sobre mim um rei, como o fazem todas as nações que estão em redor de mim;
15 porás certamente sobre ti como rei aquele que o Senhor teu Deus escolher. Porás um dentre teus irmãos como rei sobre ti; não poderás pôr sobre ti um estrangeiro, homem que não seja de teus irmãos.
16 Ele, porém, não multiplicará para si cavalos, nem fará voltar o povo ao Egito, para multiplicar cavalos; pois o Senhor vos tem dito: Nunca mais voltareis por este caminho.
17 Tampouco multiplicará para si mulheres, para que o seu coração não se desvie; nem multiplicará muito para si a prata e o ouro.
18 Será também que, quando se assentar sobre o trono do seu reino, escreverá para si, num livro, uma cópia desta lei, do exemplar que está diante dos levitas sacerdotes.
19 E o terá consigo, e nele lerá todos os dias da sua vida, para que aprenda a temer ao Senhor seu Deus, e a guardar todas as palavras desta lei, e estes estatutos, a fim de os cumprir;
20 para que seu coração não se exalte sobre seus irmãos, e não se aparte do mandamento, nem para a direita nem para a esquerda; a fim de que prolongue os seus dias no seu reino, ele e seus filhos, no meio de Israel.“ (Dt 17.1-20).



Deuteronômio 18

O Maior de Todos os Profetas

O capítulo 18º de Deuteronômio é introduzido com a ordem de que os sacerdotes e todos os levitas não se envolvessem com os negócios desta vida, nem se empenhassem em serem ricos segundo o mundo, senão do Senhor e da Sua graça.
Eles deveriam viver das ofertas que lhes eram devidas pelo restante do povo, segundo determinado e prescrito pela lei.
Este modo de vida é designado somente para aqueles que têm sido chamados pelo Senhor a viverem de tal forma no exercício integral do ministério.
São reafirmadas também neste capítulo as severas proibições de todo tipo de idolatria e especialmente a prática abominável de oferecer os filhos como sacrifício a Moloque, um ídolo que representava o sol, e que sendo feito de metal ficava incandescente com o fogo que se acendia nele, para que as crianças que fossem colocadas em seus braços fossem inteiramente consumidas pelo fogo.
Outras práticas malignas foram expressamente proibidas, pois todas são feitas por inspiração e atuação de espíritos malignos, tais como as citadas nos versículos 10 e 11.
Satanás e os demônios foram expulsos do céu e são grandes inimigos de Deus, e assim todos aqueles que se associam às obras deles são, por conseguinte, inimigos do Senhor.
É o próprio Deus que ordena que se tenha plena confiança na Sua providência, e que nos sujeitemos à Sua vontade soberana, sendo pacientes na tribulação, e que nos regozijemos nEle com contentamento, em toda e qualquer circunstância, mediante a graça que Ele supre aos que O temem.
Esta é a Sua vontade para todos aqueles que fazem parte do Seu povo e que, por conseguinte, devem viver como seus amigos, sendo-Lhe leais e fiéis em tudo, e em todas as circunstâncias.
Ele jamais justificará por maior que seja, a aflição ou angústia de espírito, que algum de seus filhos esteja experimentando, se ele se voltar para os Seus arqui inimigos espirituais a fim de buscarem resposta e solução para os seus problemas, pois é através destas aflições e dificuldades que a fidelidade e o amor deles ao Senhor são colocados à prova.
  Estas práticas abomináveis tinham sido a causa da ruína dos cananeus, pelas destruições divinas determinadas sobre eles, para exemplo de que não somente Satanás e os demônios serão condenados à destruição eterna no inferno, como também todos os seus seguidores.
A graça de Deus não pode ser obtida das mãos do diabo e dos seus demônios.
A Sua vontade não pode ser conhecida entre os falsos profetas, que não amam e praticam a Sua Palavra, e que nunca foram enviados por Ele.
Não será entre adivinhos, encantadores, quiromantes, necromantes, cartomantes, feiticeiros, falsos profetas, falsos sacerdotes e quaisquer pessoas que se dizem agentes a serviço do céu para beneficiar os homens, e que na verdade, não são, que se achará a vontade, a graça, a verdade e o  favor de Deus, senão na revelação, que estava fazendo através de Moisés, e que estava sendo registrada por Ele, nos cinco primeiros livros da Bíblia (Pentateuco), nos profetas que ainda seriam levantados em Israel, e cuja autenticidade ministerial seria atestada pelo cumprimento das profecias que falariam da parte do Senhor (demais livros do Antigo Testamento), e especialmente por meio de Jesus que é o Profeta e Mediador do qual Deus havia falado a Moisés que revelaria toda a Sua vontade para o Seu povo (Deut 18.15 a 19).
Quando os israelitas ouviram a voz de Deus do meio do fogo, quando estava proferindo a eles os dez mandamentos, a partir do cume do monte Sinai, eles pediram a Moisés que fosse Mediador entre eles e Deus, de modo que ouviriam e cumpririam tudo o que Deus dissesse a Moisés como a Sua vontade para eles.
Foi comentando esta afirmação deles que Deus disse a Moisés o que lemos no verso 17:
“Falaram bem naquilo que disseram.”
Isto foi dito porque seria através de um Mediador que Ele se revelaria a Seu povo, assim como toda a Sua vontade.
Isto seria feito através de Jesus, conforme revelou a Moisés nos versos seguintes (18 e19).
Deste modo, toda a profecia que fosse proferida em Israel deveria ser avaliada segundo o critério de se verificar a sua procedência (se verdadeiramente do Senhor) e a sua veracidade, por estar relacionada a um fiel cumprimento do que foi profetizado e por estar em perfeita consonância com a vontade de Deus, revelada em Sua Palavra.
Na verdade, os versículos finais deste capítulo, quanto à identificação dos verdadeiros profetas de Deus, estão relacionados ao Grande Profeta, que é Cristo, que se levantaria do meio dos israelitas no futuro.
Esta promessa feita a Moisés era em si mesma uma grande profecia, pois afirma que Jesus seria um israelita.
Se Jesus tivesse nascido em outra nação, diferente de Israel, seria para se duvidar que era o Cristo, porque a profecia diz que o Messias nasceria em Israel, já a partir desta profecia dada a Moisés.          
Jesus é o Profeta por excelência, porque foi por causa dEle e para falar a respeito dEle que foram levantados todos os demais profetas.
Desta forma, Ele não é um Profeta entre os profetas, mas o Profeta dos profetas, assim como é o Rei dos reis, e o Senhor dos senhores.
Deste modo, o profeta de Deus não é um mero prognosticador de eventos futuros, ele é alguém que deve falar da parte de Deus, relativamente à Sua vontade para o Seu povo, de modo que este ande nos Seus caminhos.
Um bom profeta é aquele que conduz o povo a andar segundo a vontade do Senhor.
Por conseguinte, todo aquele que se levantasse em Israel e falasse em nome dEle aquilo que Ele não havia falado, especialmente por não estar em conformidade com a Sua vontade revelada na Sua Palavra, tal profeta deveria ser morto, sobretudo aqueles que falassem em nome de outros deuses (v. 20).
Desta forma, o Grande Profeta que é Cristo, instituiu uma Nova Aliança, com o perdão dos pecados dos que se arrependem e creem no Seu nome, e ao falar da parte de Deus aos homens, confirmou a Lei de Moisés, não a revogando, porque a natureza terrena é de tal forma corrompida e avessa à vontade de Deus, que Ele nos deu o registro da Sua Palavra como testemunho a todos e em todas as gerações, do modo como devem viver os Seus filhos.
Todos os que rejeitarem a Cristo e as palavras que Ele nos tem ordenado da parte do Pai, prestarão contas em juízo da Sua desobediência, conforme afirmado neste texto de Deuteronômio.
Os próprios cristãos bem farão em não andarem segundo os ditames do mundo, mas segundo os mandamentos de Jesus, porque Ele tem definido os que são seus amigos e os que lhe amam, como sendo apenas aqueles que cumprem os Seus mandamentos.
Quão dura coisa é andar em inimizade com Jesus, por não cumprir os Seus mandamentos, ainda que tenhamos sido salvos da ira futura, por tê-lo como Salvador, mas importa conhecê-lo não apenas como Salvador, mas, sobretudo como Senhor, pois foi para isto que fomos salvos.
“Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando.” (Jo 15.14).
“E por que me chamais: Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu vos digo?” (Lc 6.46).
“E sede cumpridores da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos.” (Tg 1.22).
Vivemos numa época de rebeliões declaradas aos mandamentos do Senhor, e no meio do próprio povo de Deus encontraremos muitas pessoas que não estarão dispostas a abandonarem suas próprias convicções pecaminosas, para se renderem à vontade de Deus.



“1 Os levitas sacerdotes, e toda a tribo de Levi, não terão parte nem herança com Israel. Comerão das ofertas queimadas do Senhor e da herança dele.
2 Não terão herança no meio de seus irmãos; o Senhor é a sua herança, como lhes tem dito.
3 Este, pois, será o direito dos sacerdotes, a receber do povo, dos que oferecerem sacrifícios de boi ou de ovelha: o ofertante dará ao sacerdote a espádua, as queixadas e o bucho.
4 Ao sacerdote darás as primícias do teu grão, do teu mosto e do teu azeite, e as primícias da tosquia das tuas ovelhas.
5 Porque o Senhor teu Deus o escolheu dentre todas as tribos, para assistir e ministrar em nome do Senhor, ele e seus filhos, para sempre.
6 Se um levita, saindo de alguma das tuas cidades de todo o Israel em que ele estiver habitando, vier com todo o desejo da sua alma ao lugar que o Senhor escolher,
7 e ministrar em nome do Senhor seu Deus, como o fazem todos os seus irmãos, os levitas, que assistem ali perante o Senhor,
8 comerá porção igual à deles, fora a das vendas do seu patrimônio.
9 Quando entrares na terra que o Senhor teu Deus te dá, não aprenderás a fazer conforme as abominações daqueles povos.
10 Não se achará no meio de ti quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro,
11 nem encantador, nem quem consulte um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos;
12 pois todo aquele que faz estas coisas é abominável ao Senhor, e é por causa destas abominações que o Senhor teu Deus os lança fora de diante de ti.
13 Perfeito serás para com o Senhor teu Deus.
14 Porque estas nações, que hás de possuir, ouvem os prognosticadores e os adivinhadores; porém, quanto a ti, o Senhor teu Deus não te permitiu tal coisa.
15 O Senhor teu Deus te suscitará do meio de ti, dentre teus irmãos, um profeta semelhante a mim; a ele ouvirás;
16 conforme tudo o que pediste ao Senhor teu Deus em Horebe, no dia da assembleia, dizendo: Não ouvirei mais a voz do Senhor meu Deus, nem mais verei este grande fogo, para que não morra.
17 Então o Senhor me disse: Falaram bem naquilo que disseram.
18 Do meio de seus irmãos lhes suscitarei um profeta semelhante a ti; e porei as minhas palavras na sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar.
19 E de qualquer que não ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome, eu exigirei contas.
20 Mas o profeta que tiver a presunção de falar em meu nome alguma palavra que eu não tenha mandado falar, ou o que falar em nome de outros deuses, esse profeta morrerá.
21 E, se disseres no teu coração: Como conheceremos qual seja a palavra que o Senhor falou?


22 Quando o profeta falar em nome do Senhor e tal palavra não se cumprir, nem suceder assim, esta é a palavra que o Senhor não falou; com presunção a falou o profeta; não o temerás.“ (Dt 18.1-22).


Deuteronômio 19

As Cidades de Refúgio

São citadas no 19º capitulo de Deuteronômio as cidades de refúgio, que foram designadas apenas para abrigarem os assassinos de crime culposo, isto é, não intencional, e de modo nenhum poderia se abrigar nelas os praticantes de crimes dolosos, isto é, intencionais.
Desta forma, não há nenhum refúgio em Cristo para quem deseja permanecer deliberadamente na prática do pecado.
A Igreja não é uma cidade de refúgio para criminosos serem abrigados da justiça comum.
O criminoso deve responder pelos seus crimes perante a sociedade, ainda que tenha sido perdoado por Deus e se convertido pela fé no Senhor.
Deste modo, aqueles que fogem de seus pecados, para abandoná-los, poderão se abrigar em Cristo e estarão seguros nEle, mas não aqueles que esperam ser abrigados por Ele permanecendo em seus pecados.
O cuidado que se deve ter ao se dar um testemunho em juízo contra alguém, que não corresponda à verdade, ainda que escape ao julgamento dos juízes, certamente não escapará dos olhos de Deus porque Ele abomina o falso testemunho.
O crime de perjúrio deveria ser punido infligindo-se na pessoa que acusou falsamente o mesmo castigo que deveria ser aplicado na pessoa que ela falsamente acusou (v. 18, 19).  
Quando lemos palavras como estas, proferidas pelo apóstolo Paulo em relação aos cristãos de Creta, devemos refletir melhor sobre a verdade que estar sob a graça não significa ter liberdade para viver de modo desordenado diante de Deus, a pretexto de que Cristo já nos libertou do castigo por todos os nossos pecados, pois se isto é uma verdade em relação ao livramento da condenação futura, não é, no entanto, quanto a uma possível desconsideração da parte de Deus quanto aos nossos atos pecaminosos presentes, que nos impedem de ter um viver vitorioso nEle:
“Um dentre eles, seu próprio profeta, disse: Os cretenses são sempre mentirosos, bestas ruins, glutões preguiçosos. Este testemunho é verdadeiro. Portanto repreende-os severamente, para que sejam sãos na fé,” (Tt 1.12,13).


“1 Quando o Senhor teu Deus desarraigar as nações cuja terra ele te dá, e tu as desapossares, e morares nas suas cidades e nas suas casas,
2 designarás para ti no meio da terra que o Senhor teu Deus te dá para a possuíres, três cidades;
3 preparar-lhe-ás caminhos, e partirás em três os termos da tua terra, que o Senhor teu Deus te dará em herança; isto será para que todo homicida se acolha nessas cidades.
4 Este, pois é o caso no tocante ao homicida que se acolher ali para que viva: aquele que involuntariamente matar o seu próximo, a quem dantes não odiava;
5 como, por exemplo, aquele que entrar com o seu próximo no bosque para cortar lenha e, pondo força na sua mão com o machado para cortar a árvore, o ferro saltar do cabo e ferir o seu próximo de sorte que venha a morrer; o tal se acolherá a uma dessas cidades, e viverá;
6 para que o vingador do sangue não persiga o homicida, enquanto estiver abrasado o seu coração, e o alcance, por ser comprido o caminho, e lhe tire a vida, não havendo nele culpa de morte, pois que dantes não odiava o seu próximo.
7 Pelo que eu te deu esta ordem: Três cidades designarás para ti.
8 E, se o Senhor teu Deus dilatar os teus termos, como jurou a teus pais, e te der toda a terra que prometeu dar a teus pais
9 (quando guardares, para o cumprires, todo este mandamento que eu hoje te ordeno, de amar o Senhor teu Deus e de andar sempre nos seus caminhos), então acrescentarás a estas três, mais três cidades;
10 para que não se derrame sangue inocente no meio da tua terra, que o Senhor teu Deus te dá por herança, e não haja sangue sobre ti.
11 Mas se alguém, odiando a seu próximo e lhe armando ciladas, se levantar contra ele e o ferir de modo que venha a morrer, e se acolher a alguma destas cidades,
12 então os anciãos da sua cidade, mandando tirá-lo dali, o entregarão nas mãos do vingador do sangue, para que morra.
13 O teu olho não terá piedade dele; antes tirarás de Israel o sangue inocente, para que te vá bem.
14 Não removerás os marcos do teu próximo, colocados pelos teus antecessores na tua herança que receberás, na terra que o Senhor teu Deus te dá para a possuíres.
15 uma só testemunha não se levantará contra alguém por qualquer iniquidade, ou por qualquer pecado, seja qual for o pecado cometido; pela boca de duas ou de três testemunhas se estabelecerá o fato.
16 Se uma testemunha iníqua se levantar contra alguém, para o acusar de transgressão,
17 então aqueles dois homens que tiverem a demanda se apresentarão perante o Senhor, diante dos sacerdotes e dos juízes que houver nesses dias.
18 E os juízes inquirirão cuidadosamente; e eis que, sendo a testemunha falsa, e falso o testemunho que deu contra seu irmão,
19 far-lhe-ás como ele cuidava fazer a seu irmão; e assim exterminarás o mal do meio de ti.
20 Os restantes, ouvindo isso, temerão e nunca mais cometerão semelhante mal no meio de ti.


21 O teu olho não terá piedade dele; vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé.“ (Dt 19.1-21).


Deuteronômio 20

O Senhor dos Exércitos

O capítulo 20º de Deuteronômio estabelece as leis e ordenações de guerra, sendo enfatizado inicialmente que os israelitas não deveriam temer os seus inimigos, porque seria o próprio Deus que pelejaria por eles.
Deve-se entender que isto era aplicável no Velho Testamento, porque pela Antiga Aliança, Israel era considerado uma nação teocrática, cuja constituição era a própria Lei dada a Moisés.
Assim, a Lei continha também prescrições de guerra e paz de Israel em relação às demais nações.
Quanto aos soldados israelitas as ordenações de guerra se referiam em primeiro lugar ao fato de que não poderiam ser empenhados na batalha os homens que tivessem negócios pendentes particulares, nos quais estaria concentrada toda a sua atenção, e que lhes atrapalharia quando estivessem empenhados na luta (v. 5 a 7).
Disto, é retirado pelo apóstolo Paulo, um princípio para o Novo Testameto, no qual o bom combate da fé não pode ser conduzido por aqueles que estão envolvidos com os negócios deste mundo, e não podem agradar exclusivamente Aquele que arregimenta Seus soldados para o campo de batalha.
Em segundo lugar, não deveriam ser empenhados em combate os que fossem covardes (v. 8), para principalmente, não desencorajarem os demais combatentes na batalha.
Deste modo, os cristãos que não são maduros na fé ou que  sejam ainda tímidos, não devem ser empenhados nos trabalhos da Igreja, dirigidos a destruir as fortalezas e potestades dos poderes das trevas, bem como devem ser incentivados a se fortificarem na graça de Cristo, para poderem batalhar, especialmente, na mortificação dos seus próprios pecados.
Cabia aos oficiais fazer tal avaliação, para que não se empenhasse tais homens nas batalhas que seriam travadas contra as nações inimigas em Canaã.
De igual modo é responsabilidade dos ministros de Cristo organizarem o povo que está sob a respectiva responsabilidade, de modo que não mantenham no meio daqueles que estão fazendo a obra do Senhor, quem não deseja fazê-la, senão atrapalhar aqueles que estão trabalhando.
Ainda que não devam ser excluídos da comunhão por tal motivo, devem ser deixados no banco de reservas, até que mudem de atitude ou amadureçam, para que possam ser empenhados no trabalho da casa de Deus, sem serem um empecilho ou impedimento para a realização da Sua obra.
Ainda nas ordenações relativas à guerra, temos a descrição do modo como deveriam ser tratadas as nações inimigas.
Caso fossem da terra de Canaã, em razão das abominações deles, que haviam chegado ao ápice da maldade, Deus ordenou o extermínio total de todas as pessoas (v. 16-18), e no caso das demais nações que se levantassem em guerra contra Israel, os israelitas deveriam primeiro estabelecer condições para um tratado de paz, mas caso esta fosse rejeitada, então deveriam ser exterminados todos os do sexo masculino, deixando-se em vida apenas mulheres e crianças (v. 10-15).
Certamente, tudo isto prefigurava a batalha espiritual dos cristãos contra os poderes das trevas e especialmente contra o pecado em si mesmos.
Há uma ordem para uma mortificação geral dos inimigos espirituais do povo de Deus, que operam na própria natureza terrena do cristão.
Uma matança de todos aqueles que poderiam trazer-lhes danos no presente e no futuro, particularmente por afastá-los dos caminhos do Senhor.
Há desta forma na Lei, uma matança total que apontava para a matança geral do pecado que reina na carne.



“1 Quando saíres à peleja, contra teus inimigos, e vires cavalos, e carros, e povo mais numeroso do que tu, deles não terás temor, pois contigo está o Senhor teu Deus que te fez subir da terra do Egito.
2 Quando estiveres para entrar na peleja, o sacerdote se chegará e falará ao povo,
3 e lhe dirá: Ouvi, é Israel; vós estais hoje para entrar na peleja contra os vossos inimigos; não se amoleça o vosso coração; não temais nem tremais, nem vos aterrorizeis diante deles;
4 pois e Senhor vosso Deus é o que vai convosco, a pelejar por vós contra os vossos inimigos, para vos salvar.
5 Então os oficiais falarão ao povo, dizendo: Qual é o homem que edificou casa nova e ainda não a dedicou? vá, e torne para casa; não suceda que morra na peleja e outro a dedique.
6 E qual é o homem que plantou uma vinha e ainda não a desfrutou, vá, e torne para casa; não suceda que morra na peleja e outro a desfrute.
7 Também qual é e homem que está desposado com uma mulher e ainda não a recebeu? vá, e torne para casa; não suceda que morra na peleja e outro a receba.
8 Assim continuarão os oficiais a falar ao povo, dizendo: Qual é o homem medroso e de coração tímido? vá, e torne para casa, a fim de que o coração de seus irmãos não se derreta como o seu coração.
9 Então, tendo os oficiais, acabado de falar ao povo, designarão chefes das tropas para estarem à frente do povo.
10 Quando te aproximares duma cidade para combatê-la, apregoar-lhe-ás paz.
11 Se ela te responder em paz, e te abrir as portas, todo o povo que se achar nela será sujeito a trabalhos forçados e te servirá.
12 Se ela, pelo contrário, não fizer paz contigo, mas guerra, então a sitiarás,
13 e logo que o Senhor teu Deus a entregar nas tuas mãos, passarás ao fio da espada todos os homens que nela houver;
14 porém as mulheres, os pequeninos, os animais e tudo o que houver na cidade, todo o seu despojo, tomarás por presa; e comerás o despojo dos teus inimigos, que o Senhor teu Deus te deu.
15 Assim farás a todas as cidades que estiverem mais longe de ti, que não são das cidades destas nações.
16 Mas, das cidades destes povos, que o Senhor teu Deus te dá em herança, nada que tem fôlego deixarás com vida;
17 antes destruí-los-ás totalmente: aos heteus, aos amorreus, aos cananeus, aos perizeus, aos heveus, e aos jebuseus; como Senhor teu Deus te ordenou;
18 para que não vos ensinem a fazer conforme todas as abominações que eles fazem a seus deuses, e assim pequeis contra o Senhor vosso Deus.
19 Quando sitiares uma cidade por muitos dias, pelejando contra ela para a tomar, não destruirás o seu arvoredo, metendo nele o machado, porque dele poderás comer; pelo que não o cortarás; porventura a árvore do campo é homem, para que seja sitiada por ti?
20 Somente as árvores que souberes não serem árvores cujo fruto se pode comer, é que destruirás e cortarás, e contra a cidade que guerrear contra ti edificarás baluartes, até que seja vencida.“ (Dt 20.1-20).


Deuteronômio 21

Deus é Contra a Impunidade

No 21º capítulo de Deuteronômio é descrito o procedimento para o caso de ser encontrado um morto no campo, cuja autoria do assassinato fosse desconhecida, de forma que ficasse consignado que não foi por nenhuma negligência das autoridades, que o assassino não foi descoberto, e para ser uma forma de expressão de que não eram indiferentes para aquele pecado, antes o abominavam (v. 1 a 9).
A autoria de crimes praticados em oculto e que não é descoberta, será trazida à luz no juízo de Deus, conforme se afirma em textos como o de Is 26.21:
“Pois eis que o Senhor está saindo do seu lugar para castigar os moradores da terra por causa da sua iniquidade; e a terra descobrirá o seu sangue, e não encobrirá mais os seus mortos.”
Entretanto, era determinada uma investigação rigorosa, a começar da cidade mais próxima do local onde havia sido encontrado o corpo do morto, de modo a se tentar determinar a autoria; isto revela claramente que Deus não é de modo nenhum pela impunidade.
Os crimes comuns devem ser julgados e punidos pelos magistrados civis, na condição de ministros de Deus investidos de autoridade, para punir os transgressores da lei.  
Graças principalmente à moralidade bíblica que foi trazida especialmente ao mundo ocidental, que se pôde atravessar tantos séculos com as condições de vida diferentes das que reinavam no mundo paganizado.
Mas temos testemunhado um afastamento cada vez maior, em nossos dias, daqueles princípios, em razão do estabelecimento de uma sociedade e cultura permissivas e nas quais não somente se tem visto a banalização do mal, como também a sua impunidade.
Mas a Bíblia revela a condição reinante destes últimos dias, que dará causa à multiplicação da iniquidade que precipitará o retorno de Cristo à terra para juízo.    
Nos versos 10 a 14 é descrito como se deveria proceder com as mulheres que fossem tomadas em cativeiro, das nações conquistadas por Israel, particularmente no caso de se desejar tomar alguma delas como esposa.
Por esta lei era permitido a um soldado tomar por esposa a uma das mulheres que fosse feita cativa, e da qual viesse a se afeiçoar.
Esta lei não foi dada por consentimento, mas por permissão divina, por causa da dureza do coração deles, de modo que não abusassem das mulheres conquistadas sem assumir compromisso com elas.
Pressupõe-se que este caso contemplasse principalmente os israelitas que já fossem casados, conforme se verá nos versículos seguintes, de modo que esta escrava, que fosse tomada por esposa seria a sua segunda esposa, a quem os judeus chamavam de esposa secundária.
Esta indulgência, que há na Lei de Moisés, não é permitida na Nova Aliança feita com Cristo, em que é ordenado a todos os cristãos que tenham uma só esposa, de modo que em desobedecendo a Lei de Cristo serão considerados na prática do pecado de adultério.
Deus sujeita os adúlteros a juízos. Certamente Ele visitará a desobediência deles com os seus juízos, pois Ele corrige o Seu povo para que não seja condenado juntamente com o mundo.
Mas havia na Lei de Moisés esta concessão, e isto demonstra que a Lei de Cristo excede em muito a justiça da Lei de Moisés, pois ordena àqueles que estão debaixo da graça, que vivam na prática de uma justiça que exceda em muito a dos escribas e fariseus que era baseada exclusivamente na Lei de Moisés.
Entretanto, apesar de ter sido permitido aos israelitas tal prática, certas medidas foram determinadas para evitar um abuso da liberdade que lhes fora dada.
Primeiro, pelo compromisso ordenado do casamento se evitaria uma dominação para satisfazer uma luxúria momentânea e imunda, no calor da paixão contra a razão e a virtude; e ao mesmo tempo impunha o dever de um afeto generoso e amável para com a pessoa que deveria ser tratada com honra e não como uma meretriz.
Por isso, depois de ser levada para sua casa, o marido deveria esperar um mês inteiro antes de coabitar com ela, de modo que isto impediria qualquer ação impulsiva, e o tempo serviria para confirmar o real interesse em se viver compromissado àquela pessoa.
Possivelmente, também para o propósito de provar o real interesse em se casar com ela, era ordenado que a beleza dela fosse arruinada neste período pelo raspar da sua cabeça, corte das unhas, e troca das vestes da sua cultura.
Isto revela o dever de moderar o nosso afeto por aquelas coisas que somos tentados a amar desordenadamente.
Este período de um mês serviria também para se respeitar a tristeza dela pelo afastamento abrupto de seus familiares, para viver numa terra estranha.
É descrito também nos versos 15 a 17 o direito de primogenitura, no caso de alguém que tivesse duas esposas, de modo a se fazer justiça com o filho da que não fosse a favorita do marido.
Esta lei é muito instrutiva porque revela o problema que é ter mais do que uma esposa.
Quando um homem tem duas esposas, na quase totalidade dos casos, uma será mais amada do que a outra, e ele terá constantemente em casa ciúme, confusão e toda obra má que será uma intranquilidade permanente, que se agravará com a administração das disputas das mães em relação aos respectivos filhos.
A história de Jacó, Davi, Salomão, e outros que tiveram mais de uma esposa; bem demonstra esta verdade.
Desta forma, era garantido por Lei o direito de primogenitura ao filho da mulher desprezada e não ao da mulher amada.
Isto seria uma compensação para a parte não favorita, e um agravo para a mãe e filho preferidos.
Parece que todas estas prescrições tinham o propósito de desencorajar a prática de tomar mais do que uma mulher por esposa, porque aquele que o fizesse ficaria sujeito a estas ordenanças da Lei.
Nos versos 18 a 21 há uma repetição da lei que ordenava que um filho rebelde fosse sentenciado à morte, depois de o caso ter sido devidamente examinado pelos sacerdotes e juízes.
O dever dos filhos obedecerem e honrarem a seus pais foi revelado por Deus desde o princípio, e Ele mostrou até que ponto Ele atribui grande importância a tal dever pela punição capital prevista na lei para os casos de não reconhecimento da autoridade paterna.
O Novo Testamento revogou a sentença da Lei, mas confirmou o mesmo dever de se obedecer e honrar os pais.
 Finalmente são dadas instruções nos versos 22 e 23 para preservar a honra do corpo humano, mesmo dos piores malfeitores, que deviam ser pendurados em madeiro, como sinal da maldição que estava sobre eles e que foi a causa da sua morte.
A forma de execução aqui referida não era a de enforcamento, mas a de se amarrar num poste de madeira o criminoso sentenciado à morte, para que fosse apedrejado.
Apesar de não ter sido pendurado num madeiro para morrer por apedrejamento, mas por crucificação, conforme o costume dos romanos, Cristo foi feito maldição por nós, porque, segundo a Lei, a pessoa que fosse  pendurada em madeiro era considerada maldito de Deus, isto é, o grau mais elevado de desgraça e dano que poderia ser feito a um homem para proclamar isto a todos que tivessem conhecimento da forma da sua morte.
É dito na Lei que com isto a contaminação da terra seria removida pela satisfação da justiça em remover o mal pela morte daquele que carregou sobre si a culpa dos seus pecados graves, e que foram enterrados com ele no mesmo dia da sua morte, porque era ordenado que fosse retirado do madeiro antes que chegasse a noite.
Isto apontava seguramente para a obra de expiação do pecado que seria realizada por Cristo, carregando sobre Si os nossos pecados, e não propriamente os Seus porque Ele não tinha pecado, e os pecados foram levados com Ele para a sepultura de modo que a maldição da terra pudesse ser removida, obtendo, tanto nós, quanto a criação, a redenção que há na Sua morte.
De modo que na própria morte de Cristo, Deus comprova que é contra a impunidade, porque Alguém pagou com a Sua vida, por causa dos nossos pecados.



“1 Se na terra que o Senhor teu Deus te dá para a possuíres, for encontrado algum morto caído no campo, sem que se saiba quem o matou,
2 sairão os teus anciãos e os teus juízes, e medirão as distâncias dali até as cidades que estiverem em redor do morto;
3 e será que, na cidade mais próxima do morto, os anciãos da mesma tomarão uma novilha da manada, que ainda não tenha trabalhado nem tenha puxado na canga,
4 trarão a novilha a um vale de águas correntes, que nunca tenha sido lavrado nem semeado, e ali, naquele vale, quebrarão o pescoço à novilha.
5 Então se achegarão os sacerdotes, filhos de Levi; pois o Senhor teu Deus os escolheu para o servirem, e para abençoarem em nome do Senhor; e segundo a sua sentença se determinará toda demanda e todo ferimento;
6 e todos os anciãos da mesma cidade, a mais próxima do morto, lavarão as mãos sobre a novilha cujo pescoço foi quebrado no vale,
7 e, protestando, dirão: As nossas mãos não derramaram este sangue, nem os nossos olhos o viram.
8 Perdoa, ó Senhor, ao teu povo Israel, que tu resgataste, e não ponhas o sangue inocente no meio de teu povo Israel. E aquele sangue lhe será perdoado.
9 Assim tirarás do meio de ti o sangue inocente, quando fizeres o que é reto aos olhos do Senhor.
10 Quando saíres à peleja contra os teus inimigos, e o Senhor teu Deus os entregar nas tuas mãos, e os levares cativos,
11 se vires entre os cativas uma mulher formosa à vista e, afeiçoando-te a ela, quiseres tomá-la por mulher,
12 então a trarás para a tua casa; e ela, tendo rapado a cabeça, cortado as unhas,
13 e despido as vestes do seu cativeiro, ficará na tua casa, e chorará a seu pai e a sua mãe um mês inteiro; depois disso estarás com ela, e serás seu marido e ela será tua mulher.
14 E, se te enfadares dela, deixá-la-ás ir à sua vontade; mas de modo nenhum a venderás por dinheiro, nem a tratarás como escrava, porque a humilhaste.
15 Se um homem tiver duas mulheres, uma a quem ama e outra a quem despreza, e ambas lhe tiverem dado filhos, e o filho primogênito for da desprezada,
16 quando fizer herdar a seus filhos o que tiver, não poderá dar a primogenitura ao filho da amada, preferindo-o ao filha da desprezada, que é o primogênito;
17 mas ao filho da aborrecida reconhecerá por primogênito, dando-lhe dobrada porção de tudo quanto tiver, porquanto ele é as primícias da sua força; o direito da primogenitura é dele.
18 Se alguém tiver um filho contumaz e rebelde, que não obedeça à voz de seu pai e à voz de sua mãe, e que, embora o castiguem, não lhes dê ouvidos,
19 seu pai e sua mãe, pegando nele, o levarão aos anciãos da sua cidade, e à porta do seu lugar;
20 e dirão aos anciãos da cidade: Este nosso filho é contumaz e rebelde; não dá ouvidos à nossa voz; é comilão e beberrão.
21 Então todos os homens da sua cidade o apedrejarão, até que morra; assim exterminarás o mal do meio de ti; e todo o Israel, ouvindo isso, temerá.
22 Se um homem tiver cometido um pecado digno de morte, e for morto, e o tiveres pendurado num madeiro,


23 o seu cadáver não permanecerá toda a noite no madeiro, mas certamente o enterrarás no mesmo dia; porquanto aquele que é pendurado é maldito de Deus. Assim não contaminarás a tua terra, que o Senhor teu Deus te dá em herança.“ (Dt 21.1-23).


Deuteronômio 22

O Caráter de Pureza da Lei

À medida que continuamos avançando com o estudo da Lei sempre se faz necessária uma parada de reflexão junto ao Calvário, para que não nos desviemos da compreensão de que estamos numa nova dispensação, a da graça, em que apesar de não estarmos desobrigados de um viver segundo as exigências morais da Lei, no entanto não estamos mais debaixo da Lei quanto a sermos obrigados ao cumprimento dos Seus mandamentos civis e cerimoniais.
A dureza do coração somente pode ser corrigida por meio da graça na obra de regeneração e santificação do Espírito, e isto não é uma propriedade da Lei, mas do Evangelho.
Deve ser considerado também que mesmo depois da regeneração, ainda permanece nos filhos de Deus os restos de desejos carnais, que deverão ser mortificados progressivamente pelo Espírito, no processo de santificação de suas vidas, pelo despojamento das obras da carne, para o revestimento das virtudes de Cristo.
Esta é uma parte importante e principal da graça e da verdade que foi revelada em Cristo, e que não estava claramente revelada na Lei de Moisés.
A bênção diferente da Nova Aliança é a de que a lei é escrita nas mentes e corações dos cristãos, e a exigência severa da Lei é relaxada, de modo que os pesos e pecados que ainda assediam tenazmente os cristãos não chega a ser um obstáculo quanto a poder impedir que sejam agradáveis a Deus, porque no Evangelho são convocados a agradá-lo por um caminhar por fé.
Todavia, não podemos negligenciar o estudo e a meditação da Lei, mas como dissemos anteriormente, não podemos esquecer que não estamos mais debaixo da Lei, e sim da graça.
Se o evangelho abrandou em muito a exigência quanto à aceitação por Deus por conta da justificação que há em Jesus, por outro aumentou o padrão da justiça que deve ser vista nos cristãos, maior do que a dos fariseus e escribas que era baseada na Lei, pois se define o olhar impuro como o ato de adultério mesmo, o ódio a um irmão como o próprio crime de homicídio; ordena-se o amor aos inimigos e a oração pelo bem dos que nos perseguem e amaldiçoam, dentre tantas outras ordenanças, que revelam que o seguir a Cristo exige uma completa transformação interior, no coração, pela operação regeneradora e renovadora do Espírito Santo.
Nós vemos no 22º capítulo de Deuteronômio vários mandamentos, sendo que nos versos 1 a 4 é ordenado que se tratasse o próximo com bondade, particularmente os irmãos israelitas, e eles eram assim tratados por serem todos descendentes de um patriarca comum, a saber, Jacó, cujo nome Deus mudou para Israel.
O sentido mais interior destas leis relativas ao cuidado do patrimônio do próximo revela o caráter de exigência de Deus para as pessoas do Seu povo, quer no Velho, que no Novo Testamento, de que se faça o bem a todos os homens, e especialmente aos domésticos da fé.  
Dos versos 5 a 12 há várias proibições.
Aqui se revela que Deus não se ocupa apenas das grandes coisas, mas também das pequenas, pois a Lei chega à minúcia do cuidado com a preservação das espécies de aves, pela proibição de se tomar a mãe com os seus filhotes (v. 6, 7), e com a segurança das pessoas, pela determinação de se colocar parapeito no terraço das casas (v. 8), e pela imputação de responsabilidade de culpa de quem não o fizesse, no caso de alguém vir a se acidentar em razão da falta da referida proteção preventiva.
A lei referente aos pássaros comprova o que foi dito por Jesus que nem mesmo os pássaros estão esquecidos diante de Deus (Lc 12.6).
Se a mãe fosse retirada do ninho, e deixados os filhotes, estes viriam a morrer, e assim a Lei preservava tanto a mãe quanto os filhotes, porque estes deveriam ser tomados e criados,  e se deveria deixar a mãe livre.    
No verso 5 é determinado que houvesse uma distinção no vestuário masculino e feminino, para que se identificasse claramente a diferença ensinada pela própria natureza quanto ao homem e à mulher.
Segundo a vontade de Deus, os homens não devem ser efeminados e as mulheres não devem ser viris.
Nos versos 9 a 11 são proibidas misturas de sementes de vinha (v. 9), numa clara demonstração de intenção de Deus de preservar a peculiaridade de cada espécie, pois numa época em que o homem nada sabia acerca de cruzamento genético, Deus que é o Criador de todas as coisas, antecipou esta informação em Sua Palavra de que o cruzamento de espécies degenera por mutações as espécies originais que Ele criou.
Foi também proibida a mistura de boi com jumento em trabalhos agrícolas e o uso de veste feita com tecido de lã e linho juntamente.
Neste caso não havia nenhum princípio moral a ser preservado senão a prova de uma obediência direta àquilo que Deus tem ordenado, tal como o primeiro casal foi provado no Éden com a proibição de comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal.
Daqui se aprende por princípio que a obediência nem sempre deve ter uma razão moral ou lógica para ser praticada.
É um dever acatar sem questionar a tudo que o Senhor tem determinado e parece que era este o fim em vista destes mandamentos dos versos 10 e 11.
Todavia, daí se aprende por ilustração, que Israel deveria se guardar para não se misturar com as práticas abomináveis das nações que habitavam em Canaã.  
O mandamento relativo às franjas do vestuário dos israelitas, é uma repetição de Nm 15.38,39.
Finalmente, nos versos 13 a 30 são descritas as leis relacionadas ao sétimo mandamento, impondo-se restrições e penalidades às cobiças carnais que guerreiam contra a alma.
Nos versos 13 a 21 é descrito o tratamento que se deveria dar aos casos de denúncia de um homem contra a sua mulher, quanto à alegação de que não era virgem quando se casaram.
No caso de ser uma denúncia falsa o homem deveria ser castigado e além de pagar uma multa de cem siclos de prata, não poderia se divorciar da moça pelo motivo alegado.
No caso de a denúncia ser verdadeira, a mulher deveria ser morta por apedrejamento.
No verso 22 há uma repetição da lei de Lev 20.10 sobre homem casado ou solteiro que se deitasse com uma mulher casada, sendo ordenado que ambos deveriam ser mortos.
Nos versos 23 a 27 é descrita a lei destinada a proteger a castidade feminina pela determinação de que fossem mortos o homem e a moça virgem comprometida pelo noivado, que se deitasse com alguém que não fosse o seu noivo, tendo o ato sexual ocorrido numa cidade, onde ela poderia se fosse o caso de desejar evitar a sua consumação, ter gritado por socorro, assim, o silêncio da moça insinuaria consentimento.
Mas no caso de o fato ter ocorrido no campo, em área isolada, sem que se pudesse comprovar que a noiva tivesse ou não sido forçada, somente o homem deveria ser morto, pois seria pressuposto que a moça teria gritado por socorro sem ser ouvida.
Desta forma, a lei divina revela que sofreremos as penas da maldade que tivermos feito e não da maldade que foi feita a nós.  
Mas no caso de virgem não compromissada em noivado, que fosse seduzida, deveria ser pago pelo homem que a havia seduzido, ao pai dela, uma multa de cinquenta siclos de prata, além disso, deveria desposá-la sem que lhe fosse permitido se divorciar da mesma por toda a sua vida (v. 28,29).
Em nenhum caso seria permitido o casamento incestuoso de um homem com qualquer mulher que tivesse sido desposada pelo pai dele, mesmo no caso de viúva.
Subentende-se obviamente que a lei não alude à sua própria mãe, caso em que o seu pecado seria considerado muito mais grave.
Houve nos dias do apóstolo Paulo um pecado deste tipo praticado por um cristão da Igreja de Corinto, e ele se referiu ao seu pecado nestes termos:
 “Geralmente se ouve que há entre vós imoralidade, imoralidade que nem mesmo entre os gentios se vê, a ponto de haver quem vive com a mulher de seu pai.” (I Cor 5.1).
Ora, todas estas prescrições, parecem ter o intuito de se preservar a honra que Deus dá à instituição do casamento, criado por Ele próprio.
Por isso o autor de Hebreus diz que Deus julgará os adúlteros e os fornicários que não honrarem o matrimômio, demonstrando com isto, que havia aprendido isto por princípio do que havia lido nestes e em outros mandamentos da Lei de Moisés.




“1 Se vires extraviado o boi ou a ovelha de teu irmão, não te desviarás deles; sem falta os reconduzirás a teu irmão.
2 E se teu irmão não estiver perto de ti ou não o conheceres, leva-los-ás para tua casa e ficarão contigo até que teu irmão os venha procurar; então lhes restituirás.
3 Assim farás também com o seu jumento, bem como com as suas vestes, e com toda coisa que teu irmão tiver perdido e tu achares; não te poderás desviar deles.
4 Se vires o jumento ou o boi de teu irmão caídos no caminho, não te desviarás deles; sem falta o ajudarás a levantá-los.
5 Não haverá traje de homem na mulher, e não vestirá o homem vestido de mulher, porque qualquer que faz isto é abominação ao Senhor teu Deus.
6 Se encontrares pelo caminho, numa árvore ou no chão, um ninho de ave com passarinhos ou ovos, e a mãe posta sobre os passarinhos, ou sobre os ovos, não temerás a mãe com os filhotes;
7 sem falta deixarás ir a mãe, porém os filhotes poderás tomar; para que te vá bem, e para que prolongues os teus dias.
8 Quando edificares uma casa nova, farás no terraço um parapeito, para que não tragas sangue sobre a tua casa, se alguém dali cair.
9 Não semearás a tua vinha de duas espécies de semente, para que não fique sagrado todo o produto, tanto da semente que semeares como do fruto da vinha.
10 Não lavrarás com boi e jumento juntamente.
11 Não te vestirás de estofo misturado, de lã e linho juntamente.
12 Porás franjas nos quatro cantos da tua manta, com que te cobrires.
13 Se um homem tomar uma mulher por esposa, e, tendo coabitado com ela, vier a desprezá-la,
14 e lhe atribuir coisas escandalosas, e contra ela divulgar má fama, dizendo: Tomei esta mulher e, quando me cheguei a ela, não achei nela os sinais da virgindade;
15 então o pai e a mãe da moça tomarão os sinais da virgindade da moça, e os levarão aos anciãos da cidade, à porta;
16 e o pai da moça dirá aos anciãos: Eu dei minha filha por mulher a este homem, e agora ele a despreza,
17 e eis que lhe atribuiu coisas escandalosas, dizendo: Não achei na tua filha os sinais da virgindade; porém eis aqui os sinais da virgindade de minha filha. E eles estenderão a roupa diante dos anciãos da cidade.
18 Então os anciãos daquela cidade, tomando o homem, o castigarão,
19 e, multando-o em cem siclos de prata, os darão ao pai da moça, porquanto divulgou má fama sobre uma virgem de Israel. Ela ficará sendo sua mulher, e ele por todos os seus dias não poderá repudiá-la.
20 Se, porém, esta acusação for confirmada, não se achando na moça os sinais da virgindade,
21 levarão a moça à porta da casa de seu pai, e os homens da sua cidade a apedrejarão até que morra; porque fez loucura em Israel, prostituindo-se na casa de seu pai. Assim exterminarás o mal do meio de ti.
22 Se um homem for encontrado deitado com mulher que tenha marido, morrerão ambos, o homem que se tiver deitado com a mulher, e a mulher. Assim exterminarás o mal de Israel.
23 Se houver moça virgem desposada e um homem a achar na cidade, e se deitar com ela,
24 trareis ambos à porta daquela cidade, e os apedrejareis até que morram: a moça, porquanto não gritou na cidade, e o homem, porquanto humilhou a mulher do seu próximo. Assim exterminarás o mal do meio de ti.
25 Mas se for no campo que o homem achar a moça que é desposada, e o homem a forçar, e se deitar com ela, morrerá somente o homem que se deitou com ela;
26 porém, à moça não farás nada. Não há na moça pecado digno de morte; porque, como no caso de um homem que se levanta contra o seu próximo e lhe tira a vida, assim é este caso;
27 pois ele a achou no campo; a moça desposada gritou, mas não houve quem a livrasse. em juízo, entre sangue
28 Se um homem achar uma moça virgem não desposada e, pegando nela, deitar-se com ela, e forem apanhados,
29 o homem que se deitou com a moça dará ao pai dela cinquenta siclos de prata, e porquanto a humilhou, ela ficará sendo sua mulher; não a poderá repudiar por todos os seus dias.


30 Nenhum homem tomará a mulher de seu pai, e não levantará a cobertura de seu pai.“ (Dt 22.1-30).


Deuteronômio 23

Leis Relativas à Pureza

Neste capítulo são descritas quais as pessoas que estariam excluídas da assembleia do Senhor: os eunucos, os bastardos, os amonitas e os moabitas (excluídos para sempre em todas as suas gerações) e os edomitas e egípcios que poderiam entrar a partir da terceira geração daqueles que se encontravam em Israel quando do proferimento deste mandamento no último ano da vida de Moisés.
Nisto se marca o caráter bem distintivo entre a Antiga e a Nova Aliança, pois em Jesus Cristo, ninguém está impedido de se aproximar da assembleia dos santos, por qualquer condição física, social, psicológica, racial, ou seja, qual for, pois todos serão recebidos de bom grado pelo Senhor, e pela Sua Igreja, desde que se arrependam e se convertam de seus pecados pela fé nEle.
O Evangelho não impõe qualquer tipo de barreira para a participação de homens e mulheres de qualquer condição, no banquete espiritual que Deus está oferecendo a todos na presente dispensação pela Sua graça.
A mulher de má fama, o ladrão, o que falava mal de Jesus e da Sua Igreja serão bem vindos aos cultos de adoração, e eles têm o direito garantido pelo Senhor em fazê-lo, e serão perdoados e aceitos por Ele, se o fizerem com um coração contrito e arrependido.
Mas a Antiga Aliança nos ensina em figura e também diretamente, que as pessoas que não se arrependerem de seus pecados, aqueles que não tiverem sido aceitos por Deus por causa dos seus pecados, e aqueles que forem seus inimigos, pela falta de arrependimento e endurecimento no pecado, serão para sempre excluídos do céu, e serão sujeitados ao sofrimento eterno no inferno.
Mas como Deus elege por graça, e para a santificação, ninguém que confie na Sua bondade e queira ter sua vida transformada deixando as trevas e vindo para a luz será decepcionado e frustrado, porque Jesus tem prometido não rejeitar e lançar fora a qualquer que venha a Ele.    
Nos versos 9 a 14 são dadas diretrizes quanto à ordem e limpeza do acampamento daquele vasto exército de mais de seiscentos mil homens. O acampamento deveria estar sempre limpo de qualquer impureza moral, cerimonial e natural.
Quando estivessem acampados em ordem de batalha contra os seus inimigos haveria um grande ajuntamento de homens, e com isto, também haveria uma inclinação natural para conversações e práticas pecaminosas, e contra isto eles foram ordenados a se guardarem pela ordenação de evitarem toda coisa má (v. 9). O ajuntamento não era o de um bando, mas de uma tropa organizada, que deveria ser mantida sob disciplina, vigiando contra toda prática inconsequente e pecaminosa.
O Senhor seria com eles nas batalhas se eles se comportassem como convém aos soldados do Seu exército, em caso contrário,  não poderiam contar com a Sua ajuda.
Os soldados que estão empenhados em missão divina devem vigiar em todo o tempo contra as cobiças e paixões que guerreiam contra a alma, porque é tendo vitória sobre o grande inimigo que é o pecado, que se obtém da parte de Deus vitória sobre todos os demais inimigos.
As coisas más das quais eles deveriam se guardar incluía também e principalmente tudo o que servisse de tentação a eles dentre os despojos dos inimigos, especialmente os ídolos fabricados com materiais preciosos e o culto sensual de adoração dos seus falsos deuses, que incluía em seus serviços a prática da prostituição cultual.      
Para impedir qualquer impureza sexual dos homens no acampamento do exército de Israel, foi determinado que qualquer polução, mesmo involuntária, obrigaria aquele que a tivera a sair do acampamento e permanecer fora dele até ao cair da tarde, quando deveria se lavar e somente poderia retornar ao acampamento depois que o sol se pusesse (v.10,11).
Foi ordenado que se escolhesse um lugar fora do acampamento para servir de instalação sanitária (v. 12,13).
É afirmado expressamente no verso 14 que o acampamento deveria ser santo, e que não houvesse coisa impura nele, de modo que o Senhor não se apartasse do meio dos israelitas. A guerra espiritual é vencida somente quando estamos santificados. Sem santidade de vida será vão todo o nosso esforço.
Nos versos 15 a 25 há a repetição de várias leis relativas à acolhida de escravo que conseguisse fugir de um senhor tirânico (v. 15,16); à proibição de prostituição cultual entre os israelitas (v. 17), e do recebimento de ofertas em dinheiro no tabernáculo, provindas de salário de prostituta ou de aluguel de sodomita, pois de ambas as coisas se declara serem uma abominação ao Senhor (v. 17,18); à proibição de se emprestar com juros entre os próprios israelitas (v. 18.20); à responsabilidade em se fazer e cumprir votos ao Senhor, para que não se pecasse pela falta de cumprimento que seria certamente requerido por Deus, uma vez que o voto é voluntário e a ninguém Deus obriga a fazê-lo (v. 21 a 23) Finalmente é prescrito nos versos 24 e 25 a permissão de se comer uvas ou colher espigas na vinha e na seara do próximo, mas somente o necessário para se matar a fome, não sendo permitido que se levasse uvas e espigas para fora da propriedade em que foram consumidas.      




“1 Aquele a quem forem trilhados os testículos, ou for cortado o membro viril, não entrará na assembleia do Senhor.
2 Nenhum bastardo entrará na assembleia do Senhor; nem ainda a sua décima geração entrará na assembleia do Senhor.
3 Nenhum amonita nem moabita entrará na assembleia do Senhor; nem ainda a sua décima geração entrará jamais na assembleia do Senhor;
4 porquanto não saíram com pão e água a receber-vos no caminho, quando saíeis do Egito; e, porquanto alugaram contra ti a Balaão, filho de Beor, de Petor, da Mesopotâmia, para te amaldiçoar.
5 Contudo o Senhor teu Deus não quis ouvir a Balaão, antes trocou-te a maldição em bênção; porquanto o Senhor teu Deus te amava.
6 Não lhes procurarás nem paz nem prosperidade por todos os teus dias para sempre.
7 Não abominarás o edomeu, pois é teu irmão; nem abominarás o egípcio, pois peregrino foste na sua terra.
8 Os filhos que lhes nascerem na terceira geração entrarão na assembleia do Senhor.
9 Quando te acampares contra os teus inimigos, então te guardarás de toda coisa má.
10 Se houver no meio de ti alguém que por algum acidente noturno não estiver limpo, sairá fora do arraial; não entrará no meio dele.
11 Porém, ao cair da tarde, ele se lavará em água; e depois do sol posto, entrará no meio do arraial.
12 Também terás um lugar fora do arraial, para onde sairás.
13 Entre os teus utensílios terás uma pá; e quando te assentares lá fora, então com ela cavarás e, virando-te, cobrirás o teu excremento;
14 porquanto o Senhor teu Deus anda no meio do teu arraial, para te livrar, e para te entregar a ti os teus inimigos; pelo que o teu arraial será santo, para que ele não veja coisa impura em ti, e de ti se aparte.
15 Não entregarás a seu senhor o servo que, fugindo dele, se tiver acolhido a ti;
16 contigo ficará, no meio de ti, no lugar que escolher em alguma das tuas cidades, onde lhe agradar; não o oprimirás.
17 Não haverá dentre as filhas de Israel quem se prostitua no serviço do templo, nem dentre os filhos de Israel haverá quem o faça;
18 não trarás o salário da prostituta nem o aluguel do sodomita para a casa do Senhor teu Deus por qualquer voto, porque uma e outra coisa são igualmente abomináveis ao Senhor teu Deus.
19 Do teu irmão não exigirás juros; nem de dinheiro, nem de comida, nem de qualquer outra coisa que se empresta a juros.
20 Do estrangeiro poderás exigir juros; porém do teu irmão não os exigirás, para que o Senhor teu Deus te abençoe em tudo a que puseres a mão, na terra à qual vais para a possuíres.
21 Quando fizeres algum voto ao Senhor teu Deus, não tardarás em cumpri-lo; porque o Senhor teu Deus certamente o requererá de ti, e em ti haverá pecado.
22 Se, porém, te abstiveres de fazer voto, não haverá pecado em ti.
23 O que tiver saído dos teus lábios guardarás e cumprirás, tal como voluntariamente o votaste ao Senhor teu Deus, prometendo-o pela tua boca.
24 Quando entrares na vinha do teu próximo, poderás comer uvas conforme o teu desejo, até te fartares, porém não as porás no teu alforje.
25 Quando entrares na seara do teu próximo, poderás colher espigas com a mão, porém não meterás a foice na seara do teu próximo.“ (Dt 23.1-25).


Deuteronômio 24

A Lei Revela o Caráter de Deus

O 24º capítulo de Deuteronômio  contém diversos mandamentos, sendo relativos ao divórcio (v. 1 a 4); à convocação para a guerra (v. 5); a penhores (v. 6, 10-13, 17); a furtos (v. 7); à lepra (v. 8,9); à injustiça de senhores contra seus servos (v. 14,15); a juízes (v. 16); a responsabilidades civis (v. 17, 18); e à assistência dos pobres (v. 19-22).
Apesar de ter sido permitido o divórcio por causa da dureza dos corações de muitos israelitas sob a Antiga Aliança, por que nem todos se convertiam ao Senhor, havia algumas restrições impostas a esta permissão para se divorciar como vimos estudando até aqui, e no início deste capítulo há uma nova restrição que se referia à proibição de voltar a tomar por esposa quem houvesse sido repudiada e que tivesse contraído novas núpcias, e que viesse a ficar livre do laço matrimonial, pela morte do segundo marido, ou por ter sido também repudiada por ele.
Com isto Deus revelou claramente que a permissão para o divórcio não significava uma permissão à promiscuidade, e reafirmou também a seriedade do compromisso do casamento.
Foi para preservar a instituição do matrimônio, que foi ordenado em sequência, no verso 5, a proibição de se empenhar no primeiro ano de casamento o marido com qualquer cargo público ou obrigação de sair à guerra, de modo a que pudesse consolidar o seu relacionamento conjugal e a aprender a estimar e a amar a sua esposa, e esta a seu marido.
Do verso 6, se aprende por princípio que não se deve usar de oportunismo, penhorando ao próximo as coisas que lhe são essenciais à manutenção da sua vida.
No caso específico contemplado pela lei era proibido penhorar a pedra de moer grãos, nem mesmo a superior, sob a alegação de que permanecia ainda assim a inferior, com a qual se poderia moer os grãos, ainda que com maior dificuldade e esforço.
Deus prova com isto que se preocupa com os meios de nossa subsistência, e em face disso, um homem deveria cuidar bem de sua profissão e trazer sempre em boas condições os seus instrumentos de trabalho, por meio dos quais obtém o sustento da sua família.
Esta é, portanto uma outra lei que tinha em vista proteger a estabilidade da família.
Os versos 10 a 13 e 17 reforçam as recomendações relativas à prática do penhor, com determinações proibitivas de constrangimentos e de exploração da pobreza, e impondo a responsabilidade de se devolver o penhor no prazo estipulado.
Os casos de sequestro de pessoas para serem vendidas como escravas deveriam ser punidos com a morte (v.7).
Quanto à lepra é feita apenas uma recomendação de se observar diligentemente as prescrições detalhadas e complexas quanto ao modo se lidar com tal enfermidade, se determinando assim que os sacerdotes fossem obedecidos em tudo que lhes ordenassem em relação a este assunto (v. 8).
Como esta enfermidade impunha uma restrição ao convívio social além da grande aflição que causava ao seu portador, eles são lembrados a andarem em obediência ao Senhor com um espírito submisso, pois estava no Seu poder trazer a lepra a quem quisesse, na Antiga Aliança, como sinal de Sua repreensão, como uma marca do Seu desgosto pelo pecado, tal como se dera com Miriã (v. 9).
Os salários que, nos dias antigos, eram pagos no mesmo dia da execução da tarefa, deveriam ser pagos de modo pontual, especialmente em se tratando de trabalhador pobre e necessitado ou estrangeiro (v. 14,15).
As penas de morte impostas aos casos específicos previstos na Lei não deveriam ser executadas sobre os filhos, ou sobre os pais dos sentenciados (v. 16).
Não seria admitido que alguém tomasse o lugar do culpado, ainda que fosse um familiar próximo, como um pai ou um filho.
Nisto está revelado claramente que nenhum homem poderia realizar a redenção que somente Jesus pôde efetuar.
A Lei ensina este princípio espiritual verdadeiro que todos são pecadores e nenhum pecador satisfará à justiça morrendo no lugar de outro.
Somente o Filho de Deus, que é inteiramente sem pecado poderia morrer no lugar dos pecadores, trazendo-lhes redenção.
Deus revela um cuidado especial para com os pobres.
Ele sabe que por Sua providência tem dado talentos e capacidade a muitos para serem fortes, poderosos, prósperos, e também pela mesma providência tem deixado a um número muito maior de pessoas nas condições descritas em I Cor 1.26-28: “Ora, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos. nem muitos os nobres que são chamados. Pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para confundir os sábios; e Deus escolheu as coisas fracas do mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas ignóbeis do mundo, e as desprezadas, e as que não são, para reduzir a nada as que são;”
O fato de ser pobre não é necessariamente uma desvantagem diante de Deus, que permitindo em Sua Providência que haja mais pobres no mundo do que ricos, entretanto, pode fazer rico da Sua graça a muitos destes que são pobres de bens materiais.
Ele faz isto para que se manifeste a glória da Sua graça e misericórdia, em dar a vida eterna a quem não é capacitado e nem suficiente para isto.
E, comprova na própria Lei que o pobre não está em situação de desprezo perante Ele em razão da sua condição relativa à sua pobreza.
Jesus ensinou clara e diretamente que é mais fácil um pobre ser salvo do que um rico.
Disse também que o valor da nossa vida não está na quantidade de bens materiais que possuímos.
Isto não é um convite a se erigir um altar à pobreza, e nem mesmo considerá-la algo bom em si mesmo, porque não é da vontade do Senhor que o homem viva em estado de penúria, e isto está claramente revelado na Lei, pelos muitos mandamentos que ordenam o cuidado que se deve ter com os pobres.
Temos aqui nos versos 19 a 22 uma ordenança aos senhores de terra, que forem habilitados e capacitados pela Providência para isto, a não esquecerem do dever de lembrar dos pobres quando fizessem a colheita em seus campos, de modo que não voltassem a rebuscar, isto é, a retornar depois de terem feito a colheita a procurar o que não houvesse sido colhido, de modo que estas sobras que poderiam ter ficado eventualmente na lavoura, por descuido ou por terem ficado ocultadas aos olhos dos coletadores, pudessem alimentar os pobres que fossem estrangeiros, órfãos ou viúvas, que não tivessem como se prover regularmente de alimentos (v. 19-22).        
Por obedecer a esta Lei, Boaz achou uma esposa em Rute, que foi rebuscar espigas em sua lavoura, por ser pobre e estrangeira.



“1 Quando um homem tomar uma mulher e se casar com ela, se ela não achar graça aos seus olhos, por haver ele encontrado nela coisa vergonhosa, far-lhe-á uma carta de divórcio e lha dará na mão, e a despedirá de sua casa.
2 Se ela, pois, saindo da casa dele, for e se casar com outro homem,
3 e este também a desprezar e, fazendo-lhe carta de divórcio, lha der na mão, e a despedir de sua casa; ou se este último homem, que a tomou para si por mulher, vier a morrer;
4 então seu primeiro marido que a despedira, não poderá tornar a tomá-la por mulher, depois que foi contaminada; pois isso é abominação perante o Senhor. Não farás pecar a terra que o Senhor teu Deus te dá por herança.
5 Quando um homem for recém-casado não sairá à guerra, nem se lhe imporá cargo público; por um ano inteiro ficará livre na sua casa, para se regozijar com a sua mulher, que tomou.
6 Ninguém tomará em penhor as duas mós, nem mesmo a mó de cima, pois se penhoraria assim a vida.
7 Se for descoberto alguém que, havendo furtado um dentre os seus irmãos, dos filhos de Israel, e tenha escravizado, ou vendido, esse ladrão morrerá. Assim exterminarás o mal do meio de ti.
8 No tocante à praga da lepra, toma cuidado de observar diligentemente tudo o que te ensinarem os levitas sacerdotes; segundo lhes tenho ordenado, assim cuidarás de fazer.
9 Lembra-te do que o Senhor teu Deus fez a Miriã no caminho, quando saíste do Egito.
10 Quando emprestares alguma coisa ao teu próximo, não entrarás em sua casa para lhe tirar o penhor;
11 ficarás do lado de fora, e o homem, a quem fizeste o empréstimo, te trará para fora o penhor.
12 E se ele for pobre, não te deitarás com o seu penhor;
13 ao pôr do sol, sem falta lhe restituirás o penhor, para que durma na sua roupa, e te abençoe; e isso te será justiça diante do Senhor teu Deus.
14 Não oprimirás o trabalhador pobre e necessitado, seja ele de teus irmãos, ou seja dos estrangeiros que estão na tua terra e dentro das tuas portas.
15 No mesmo dia lhe pagarás o seu salário, e isso antes que o sol se ponha; porquanto é pobre e está contando com isso; para que não clame contra ti ao Senhor, e haja em ti pecado.
16 Não se farão morrer os pais pelos filhos, nem os filhos pelos pais; cada qual morrerá pelo seu próprio pecado.
17 Não perverterás o direito do estrangeiro nem do órfão; nem tomarás em penhor o vestido da viúva.
18 Lembrar-te-ás de que foste escravo no Egito, e de que o Senhor teu Deus te resgatou dali; por isso eu te dou este mandamento para o cumprires.
19 Quando no teu campo fizeres a tua sega e esqueceres um molho no campo, não voltarás para tomá-lo; para o estrangeiro para o órfão, e para a viúva será, para que o Senhor teu Deus te abençoe em todas as obras das tuas mãos.
20 Quando bateres a tua oliveira, não voltarás para colher o fruto dos ramos; para o estrangeiro, para o órfão, e para a viúva será.
21 Quando vindimares a tua vinha, não voltarás para rebuscá-la; para o estrangeiro, para o órfão, e para a viúva será.
22 E lembrar-te-ás de que foste escravo na terra do Egito; por isso eu te dou este mandamento para o cumprires.“ (Dt 24.1-22).


Deuteronômio 25

As Trevas Odeiam a Luz

A Lei não diz apenas: “Não matarás”; “Não adulterarás”; Não furtarás”, e assim por diante.
Ela descreve, conforme podemos ver no 25º capitulo de Deuteronômio, e nos muitos outros do Pentateuco o nível de trato respeitoso que se deve ter com Deus e com o nosso próximo.
É pelo nível de detalhamento dos mandamentos que chegamos a perceber o quanto Deus é a favor de um comportamento santo, justo, responsável, honesto, obediente, generoso, que é totalmente o contrário das coisas que são aprovadas pela sociedade e cultura modernas.
Não é de se admirar que o único Deus verdadeiro, o Deus da Bíblia, seja odiado por tantos que amam as trevas, e que tentam desqualificá-lo, dizendo que é rigoroso, odioso e usando tantos outros adjetivos da mesma ordem, procurando justificar as suas próprias más obras e vão procedimento.
Deus é o que a Lei revela.
É imutável, puro e santo.
E criou o homem para ser à Sua imagem e semelhança quanto a tais atributos. Não foi dado ao homem, portanto, ser considerado aprovado, traçando um caminho moral e comportamental diferente daquele que já está traçado por Deus.
À luz dos mandamentos do Senhor, vemos o quanto é abominável a Ele, todo o tipo de comportamento aparentemente inofensivo, como por exemplo, o que é próprio aos lugares de má fama, e dentre estes, muitos programas de TV de nossos dias, que não deixam de ser também, a rigor, um lugar onde tudo o que se aprende por princípio ou diretamente, acerca da vontade de Deus, é afrontado e deliberadamente transgredido.
As demandas entre as pessoas não são casos artísticos para serem exibidos na televisão de modo a se incrementar a audiência daqueles que vêem nisto uma ocasião para diversão.
Na verdade são transgressões do dever imposto por Deus de se amar e respeitar o próximo.
Aos Seus olhos, ainda que não seja avaliado assim aos olhos humanos, há sempre uma parte culpada e outra inocente. A inocente será justificada e a culpada será condenada.
Os juízes de Israel deveriam agir por este princípio geral no julgamento das demandas entre pessoas.
No caso de ser imposto o castigo de açoites à parte culpada, esta não deveria ser açoitada com mais de quarenta açoites, porque o objetivo do castigo não seria o de envilecer o castigado, mas corrigi-lo (v. 2,3).
O castigado deveria ser olhado, apesar da dura forma como foi disciplinado, como um irmão (I Tes 3.15), e sua reputação deveria ser preservada por esta limitação misericordiosa do seu castigo.
Devemos guardar o nosso coração do rancor contra aqueles que disciplinamos, especialmente depois de tê-los submetido à disciplina, porque Deus pode ainda lhes dar graça para fazê-los preciosos à sua vista.
Justificar o culpado é tão abominável para Deus quanto condenar o inocente (Pv 17.15).
Por este princípio do Seu atributo de Juízo observamos que Ele jamais poderia justificar pecadores culpados, dignos da morte eterna, se não fosse por meio do perdão de suas dívidas para com Ele e com o próximo, por ter Jesus pago o preço exato da redenção deles com o sangue que derramou na cruz.
O espírito humanitário desta lei de não se humilhar o culpado que fosse submetido ao castigo de açoites é confirmado pela lei breve que se lhe segue e que trata do dever de se deixar o animal que trabalha na lavoura, comer enquanto trabalha, e não deveria ser amordaçado por motivo de avareza, uma vez que o seu trabalho o tornava digno de se alimentar dos frutos que ele estava ajudando a produzir, por arar a terra para o agricultor.
De igual modo, aqueles que são empenhados por Deus no ministério de tal forma que ficam impedidos de se dedicarem a atividades seculares para obterem o próprio sustento e de sua família, não devem deixar de ser assistidos por aqueles para os quais estão trabalhando para produzir fruto espiritual em suas vidas (I Cor 9.9,10; I Tim 5.17,18).      
Nos versos 5 a 10 é confirmado por Lei um costume antigo (Gên 38.8) de se suscitar descendência a um irmão casado que tivesse morrido sem deixar filhos (a chamada Lei do Levirato).
O cunhado da mulher que se negasse a cumprir para com ela este direito legal deveria ser desonrado publicamente por ela à vista dos anciãos de Israel, por lhe tirar o sapato e lhe cuspir na face, e a casa deste deveria ser chamada de a casa do descalçado para que se soubesse que por sua recusa o nome do seu irmão não foi perpetuado na terra.
Nos versos 11 e 12 é prescrita uma lei bastante severa que determinava que fosse decepada a mão da mulher que porventura se intrometesse numa briga de homens em que estivesse envolvido o seu marido, e esta na tentativa de subjugar o inimigo do marido viesse a apertar os seus órgãos genitais.
Esta lei severa tinha em vista preservar a virtude e a honra, e para evitar que os juízes usassem de compaixão e não aplicassem a lei, lhes foi ordenado que não deveriam ter pena no caso, porque era uma ordem expressa que deveria ser ensinada em Israel e para a qual todas as israelitas deveriam atentar seriamente a bem de sua própria preservação pessoal.
Os magistrados não deveriam fingir que eram mais misericordiosos do que Deus, porque preservar a humanidade de ser afligida pelo espalhar do mal, é uma grande misericórdia.
 Nos versos 13 a 16 é determinada a honestidade nos negócios de todas as famílias de Israel, de modo que não se tivesse em casa pesos e medidas diferentes dos padrões, com o fim de ludibriar o próximo na venda de produtos que deveriam ser medidos ou pesados.
Finalmente, nos versos 17 a 19 é recordado o dever de se destruir totalmente os amalequitas depois que eles tivessem conquistado Canaã, na ocasião que fosse determinada por Deus, e isto viria a ocorrer somente nos dias do rei Saul, cerca de quatrocentos anos depois, indicando que Deus é longânimo na execução de Seus juízos, e isto deve nos ensinar a não abusarmos da Sua misericórdia e longanimidade, de modo a andarmos desordenadamente pela falta de juízos imediatos à nossa vista.
Muitos acumulam ira para o dia da ira do justo juízo de Deus, quando que deveriam ser sábios se arrependendo de seus pecados, porque um terrível juízo já está determinado sobre todos aqueles que permanecerem deliberadamente na prática do pecado se recusando a lavarem as suas vestes no sangue de Cristo.




“1 Se houver contenda entre alguns, e vierem a juízo para serem julgados, justificar-se-á ao inocente, e ao culpado condenar-se-á.
2 E se o culpado merecer açoites, o juiz fará que ele se deite e seja açoitado na sua presença, de acordo com a gravidade da sua culpa.
3 Até quarenta açoites lhe poderá dar, não mais; para que, porventura, se lhe der mais açoites do que estes, teu irmão não fique envilecido aos teus olhos.
4 Não atarás a boca ao boi quando estiver debulhando.
5 Se irmãos morarem juntos, e um deles morrer sem deixar filho, a mulher do falecido não se casará com homem estranho, de fora; seu cunhado estará com ela, e a tomará por mulher, fazendo a obrigação de cunhado para com ela.
6 E o primogênito que ela lhe der sucederá ao nome do irmão falecido, para que o nome deste não se apague de Israel.
7 Mas, se o homem não quiser tomar sua cunhada, esta subirá à porta, aos anciãos, e dirá: Meu cunhado recusa suscitar a seu irmão nome em Israel; não quer cumprir para comigo o dever de cunhado.
8 Então os anciãos da sua cidade o chamarão, e falarão com ele. Se ele persistir, e disser: Não quero tomá-la;
9 sua cunhada se chegará a ele, na presença dos anciãos, e lhe descalçará o sapato do pé, e lhe cuspirá ao rosto, e dirá: Assim se fará ao homem que não edificar a casa de seu irmão.
10 E sua casa será chamada em Israel a casa do descalçado.
11 Quando pelejarem dois homens, um contra o outro, e a mulher de um chegar para livrar a seu marido da mão daquele que o fere, e ela, estendendo a mão, lhe pegar pelas suas vergonhas,
12 decepar-lhe-á a mão; o teu olho não terá piedade dela.
13 Não terás na tua bolsa pesos diferentes, um grande e um pequeno.
14 Não terás na tua casa duas efas, uma grande e uma pequena.
15 Terás peso inteiro e justo; terás efa inteira e justa; para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá.
16 Porque é abominável ao Senhor teu Deus todo aquele que faz tais coisas, todo aquele que pratica a injustiça.
17 Lembra-te do que te fez Amaleque no caminho, quando saías do Egito;
18 como te saiu ao encontro no caminho e feriu na tua retaguarda todos os fracos que iam após ti, estando tu cansado e afadigado; e não temeu a Deus.
19 Quando, pois, o Senhor teu Deus te houver dado repouso de todos os teus inimigos em redor, na terra que o Senhor teu Deus te dá por herança para a possuíres, apagarás a memória de Amaleque de debaixo do céu; não te esquecerás.“ (Dt 25.1-19).



Deuteronômio 26

O Caráter Preventivo da Lei

Com o capítulo 26 de Deuteronômio são concluídas as instruções e mandamentos específicos da Lei, que deveriam ser cumpridos juntamente com os demais mandamentos da Lei contidos nos livros de Êxodo, Levítico e Números, para regular a conduta e a forma de culto e serviço a Deus, por parte dos israelitas.
Os capítulos que se seguem tratam basicamente das instruções relativas à preservação dos mandamentos; das bênçãos e maldições decorrentes, respectivamente, da obediência e transgressão deles, e das profecias relativas ao futuro de Israel.
Nos versos 1 a 11 são dadas instruções para a dedicação das primícias da lavoura, e é citada a fórmula que deveria ser proferida pelo sacerdote quando o cesto com as primícias da terra fosse oferecido como prova de gratidão ao Senhor.
Nos versos 10 e 11 é ensinado que o momento da oferta deveria ensejar adoração a Deus e alegria por todo o bem que o Senhor estava fazendo ao ofertante e à sua casa.
Tantas são as ordenanças da lei relativas às penas associadas à descrição dos correspondentes pecados, em razão da natureza terrena que há no homem e que o inclina naturalmente à prática do pecado, que é inimizade contra Deus, que nos esquecemos que o propósito da Lei não era o de meramente punir o pecado, mas o de criar as condições propícias para a adoração e comunhão com o Senhor, que são interrompidas em razão do pecado.
Servir a Deus é motivo de alegria e não de tristeza, porque o Senhor é justo, fiel, santo, bondoso, amoroso, provedor, perdoador e amigo.
A adoração e a alegria em Sua presença não são propriamente uma obrigação, mas um prazer.
A Lei está simplesmente lembrando isto, quando impõe o dever de adorá-lO e de se alegrar na Sua presença.
O aparente rigor das penas da Lei (não havia rigor porque é justa) se aplicava apenas aos malfeitores, aos transgressores deliberados de tudo quanto é bom, justo e amoroso.
Para os que andavam em retidão, e com o sincero desejo de agradar ao Senhor, a Lei seria uma amiga e não uma inimiga, pois estaria sempre lembrando o seu dever para com Deus e para com o próximo.
Daí se afirmar mesmo no Novo Testamento, que a Lei é santa, justa e boa.
Nos versos 12 a 15 é passada a última ordenança particular da lei de Moisés, e esta é relativa aos dízimos do terceiro ano, também citados em Dt 14.28,29, que deveriam ser separados a cada três anos para a manutenção dos levitas, do estrangeiro, do órfão e da viúva.
Os últimos versos deste capítulo 26º (16 a 19) introduzem antecipadamente o teor do capítulo seguinte sobre o dever de cumprir todos os mandamentos com todo o coração e com toda a alma (v. 16).
E há uma renovação da aliança que havia sido feita no Horebe há quarenta anos atrás, com base na promessa dos israelitas daquela nova geração  de cumprir os mandamentos que o Senhor lhes havia dado desde o Sinai, e que agora foram confirmados e acrescidos das novas ordenanças constantes dos discursos proferidos por Moisés, nas campinas de Moabe, no quadragésimo ano depois da saída do Egito (v. 17 a 19).



“1 Também, quando tiveres entrado na terra que o Senhor teu Deus te dá por herança, e a possuíres, e nela habitares,
2 tomarás das primícias de todos os frutos do solo que trouxeres da terra que o senhor teu Deus te dá, e as porás num cesto, e irás ao lugar que o Senhor teu Deus escolher para ali fazer habitar o seu nome.
3 E irás ao sacerdote que naqueles dias estiver de serviço, e lhe dirás: Hoje declaro ao Senhor teu Deus que entrei na terra que o senhor com juramento prometeu a nossos pais que nos daria.
4 O sacerdote, pois, tomará o cesto da tua mão, e o porá diante do altar do Senhor teu Deus.
5 E perante o Senhor teu Deus dirás: Arameu prestes a perecer era meu pai; e desceu ao Egito com pouca gente, para ali morar; e veio a ser ali uma nação grande, forte e numerosa.
6 Mas os egípcios nos maltrataram e nos afligiram, e nos impuseram uma dura servidão.
7 Então clamamos ao Senhor Deus de nossos pais, e o Senhor ouviu a nossa voz, e atentou para a nossa aflição, o nosso trabalho, e a nossa opressão;
8 e o Senhor nos tirou do Egito com mão forte e braço estendido, com grande espanto, e com sinais e maravilhas;
9 e nos trouxe a este lugar, e nos deu esta terra, terra que mana leite e mel.
10 E eis que agora te trago as primícias dos frutos da terra que tu, ó Senhor, me deste. Então as porás perante o Senhor teu Deus, e o adorarás;
11 e te alegrarás por todo o bem que o Senhor teu Deus te tem dado a ti e à tua casa, tu e o levita, e o estrangeiro que está no meio de ti.
12 Quando acabares de separar todos os dízimos da tua colheita do terceiro ano, que é o ano dos dízimos, dá-los-ás ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva, para que comam dentro das tuas portas, e se fartem.
13 E dirás perante o Senhor teu Deus: Tirei da minha casa as coisas consagradas, e as dei ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva, conforme todos os teus mandamentos que me tens ordenado; não transgredi nenhum dos teus mandamentos, nem deles me esqueci.
14 Delas não comi no meu luto, nem delas tirei coisa alguma estando eu imundo, nem delas dei para algum morto; ouvi a voz do senhor meu Deus; conforme tudo o que me ordenaste, tenho feito.
15 Olha desde a tua santa habitação, desde o céu, e abençoa o teu povo de Israel, e a terra que nos deste, como juraste a nossos pais, terra que mana leite e mel.
16 Neste dia o Senhor teu Deus te manda observar estes estatutos e preceitos; portanto os guardarás e os observarás com todo o teu coração e com toda a tua alma.
17 Hoje declaraste ao Senhor que ele te será por Deus, e que andarás nos seus caminhos, e guardarás os seus estatutos, os seus mandamentos e os seus preceitos, e darás ouvidos à sua voz.
18 Outrossim, o Senhor hoje te declarou que lhe serás por seu próprio povo, como te tem dito, e que deverás guardar todos os seus mandamentos;
19 para assim te exaltar em honra, em fama e em glória sobre todas as nações que criou; e para que sejas um povo santo ao Senhor teu Deus, como ele disse.“ (Dt 26.1-19).


Deuteronômio 27

Trazendo a Lei em Lembrança

São designados meios externos no 27º capítulo de Deuteronômio, que auxiliariam os israelitas a recordarem os mandamentos da Lei, de modo que nunca se esquecessem deles ou que viessem a considerá-los algo estranho.
Assim, os mandamentos deveriam ser escritos em pedras grandes que deveriam ser erigidas no monte Ebal, local de onde seriam proferidas as maldições da Lei (v. 1. 1 10).
Foi ordenado que se fizesse um altar de pedras não lavradas, de modo a se evitar qualquer tentativa de representação de figuras nas pedras que o compusessem, para que não viessem a ser objeto de adoração.
O altar que deveria ser levantado no monte Ebal serviria para lembrar especialmente as futuras gerações de Israel que aqueles mandamentos foram dados por Deus e que o modo correto de cumpri-los exige um espírito de devoção verdadeira baseada na oração.
A Palavra e a oração devem caminhar juntas.
Deus não é meramente um Legislador.
Ele é o Criador, o autor da vida, a fonte de todo o bem, e o homem lhe deve adoração num testemunho de vida santa, que se expresse em seu comportamento e ações.
Era isto que os mandamentos registrados naquelas pedras e o altar ensinariam silenciosamente ao povo de Deus.  
Do verso 11 ao 26 são descritas as maldições que deveriam ser proferidas a partir do monte Ebal, que ficava defronte ao monte Gerizim, monte este do qual seriam proferidas as bênçãos que não são descritas quanto à formula que deveria ser proferida, tal como as maldições.
O propósito da Lei é o de produzir santidade, e por isso o seu caráter aponta basicamente para o dever de se mortificar a carne, pelo horror ao pecado e abandono da sua prática.
A bênção vem como consequência disto.
O Espírito Santo avança onde a carne recua.
As obras da carne dão lugar ao fruto do Espírito.
O despojamento da carne abre espaço para o revestimento de Cristo.
Agora, graças a Jesus Cristo, fomos resgatados, na Nova Aliança, da maldição da Lei, de modo que não se pode dizer do cristão, que seja maldito de Deus pelo fato de ter transgredido algum dos mandamentos da Lei, tal como eram considerados os israelitas debaixo da Antiga Aliança, isto é, debaixo da Lei.
Ainda que o cristão fique sujeito à correção de Deus pela transgressão dos Seus mandamentos, ele não está mais debaixo de maldição.
Não se pode dizer, entretanto que o seu viver desordenado seja um viver abençoado, ou que ainda que vivendo deliberadamente no pecado, esteja debaixo da bênção, no sentido de que esteja agradando a Deus, apesar de estar em pecado.
O fato é que ele não deixa de ser aceito como filho por Deus apesar do pecado, e não será rejeitado por causa da obra de redenção que Jesus fez em seu favor, e das bases da Nova Aliança que foi feita no Seu sangue.
Entretanto é um  dever dos ministros da Nova Aliança pregarem os terrores da Lei tanto quanto os confortos do evangelho, de modo a trazer à lembrança, mesmo de cristãos, o quanto Deus detesta o pecado, e tem a Sua ira provocada por todos aqueles que transgridem os Seus mandamentos, porque é inteiramente justo e santo.
Muitos veem a Deus apenas como amor e bondade e se esquecem deste outro aspecto do Seu caráter, que não é contrário e nen exclui, entretanto, o seu amor e bondade, antes o confirmam.
É preciso, pois ter uma visão adequada do caráter de Deus, e isto podemos ver somente nas Escrituras, porque a Bíblia é a verdade, e somente ela apresenta o equilíbrio que há entre os atributos de Deus e o exercício deles.
Por exemplo, apenas à guisa de ilustração, a Bíblia mostra que apesar de se irar contra o pecado, Deus é perdoador e compassivo, e não raro perdoa e apaga a Sua ira, conforme se vê em vários exemplos bíblicos, quando há arrependimento e confissão do pecado.
Portanto, não cabe apenas afirmar quais são os atributos de Deus, pois importa também aprender como Ele se manifesta como pessoa em relação às suas criaturas, pela interação de todos os Seus atributos.



“1 Moisés, com os anciãos de Israel, deu ordem ao povo, dizendo: Guardai todos estes mandamentos que eu hoje vos ordeno.
2 E no dia em que passares o Jordão para a terra que o Senhor teu Deus te dá, levantarás umas pedras grandes e as caiarás.
3 E escreverás nelas todas as palavras desta lei, quando tiveres passado para entrar na terra que o Senhor teu Deus te dá, terra que mana leite e mel, como o Senhor, o Deus de teus pais, te prometeu.
4 Quando, pois, houverdes passado o Jordão, levantareis no monte Ebal estas pedras, como eu hoje vos ordeno, e as caiareis.
5 Também ali edificarás um altar ao Senhor teu Deus, um altar de pedras; não alçarás ferramenta sobre elas.
6 De pedras brutas edificarás o altar do Senhor teu Deus, e sobre ele oferecerás holocaustos ao Senhor teu Deus.
7 Também sacrificarás ofertas pacíficas, e ali comerás, e te alegrarás perante o Senhor teu Deus.
8 Naquelas pedras escreverás todas as palavras desta lei, gravando-as bem nitidamente.
9 Falou mais Moisés, e os levitas sacerdotes, a todo o Israel, dizendo: Guarda silêncio, e ouve, ó Israel! hoje vieste a ser o povo do Senhor teu Deus.
10 Portanto obedecerás à voz do Senhor teu Deus, e cumprirás os seus mandamentos e os seus estatutos, que eu hoje te ordeno.
11 Nesse mesmo dia Moisés deu ordem ao povo, dizendo:
12 Quando houverdes passado o Jordão, estes estarão sobre o monte Gerizim, para abençoarem o povo: Simeão, Levi, Judá, Issacar, José e Benjamim;
13 e estes estarão sobre o monte Ebal para pronunciarem a maldição: Rúben, Gade, Aser, Zebulom, Dã e Naftali.
14 E os levitas dirão em alta voz a todos os homens de Israel:
15 Maldito o homem que fizer imagem esculpida, ou fundida, abominação ao Senhor, obra da mão do artífice, e a puser em um lugar escondido. E todo o povo, respondendo, dirá: Amém.
16 Maldito aquele que desprezar a seu pai ou a sua mãe. E todo o povo dirá: Amém.
17 Maldito aquele que remover os marcos do seu próximo. E todo o povo dirá: Amém.
18 Maldito aquele que fizer que o cego erre do caminho. E todo o povo dirá: Amém.
19 Maldito aquele que perverter o direito do estrangeiro, do órfão e da viúva. E todo o povo dirá: Amém,
20 Maldito aquele que se deitar com a mulher de seu pai, porquanto levantou a cobertura de seu pai. E todo o povo dirá: Amém.
21 Maldito aquele que se deitar com algum animal. E todo o povo dirá: Amem.
22 Maldito aquele que se deitar com sua irmã, filha de seu pai, ou filha de sua mãe. E todo o povo dirá: Amém.
23 Maldito aquele que se deitar com sua sogra. E todo o povo dirá: Amém.
24 Maldito aquele que ferir ao seu próximo em oculto. E todo o povo dirá: Amém.
25 Maldito aquele que receber peita para matar uma pessoa inocente. E todo o povo dirá: Amém.
26 Maldito aquele que não confirmar as palavras desta lei, para as cumprir. E todo o povo dirá: Amém. “ (Dt 27.1-26).



Deuteronômio 28

A Bênção e a Maldição

A obediência a Deus e aos Seus mandamentos traria bênçãos aos israelitas, e a desobediência traria maldições. São descritas as promessas de bênçãos da Antiga Aliança, tanto quanto das maldições.
Ambas são introduzidas, respectivamente, pelas seguintes fórmulas em Deuteronômio 28:
a) Bênçãos:
“Se ouvires atentamente a voz do Senhor teu Deus, tendo cuidado de guardar todos os seus mandamentos que eu hoje te ordeno, o Senhor teu Deus te exaltará sobre todas as nações da terra; e todas estas bênçãos virão sobre ti e te alcançarão, se ouvires a voz do Senhor teu Deus: “(v. 1;2).
b) Maldições:
“Se, porém, não ouvires a voz do Senhor teu Deus, se não cuidares em cumprir todos os seus mandamentos e os seus estatutos, que eu hoje te ordeno, virão sobre ti todas estas maldições, e te alcançarão:” (v. 15).
É importante observar, que na dispensação da Lei, as promessas de ameaças de maldições eram bem maiores do que as promessas de bênçãos.
Na Nova Aliança os cristãos são resgatados não apenas das ameaças e maldições da Lei, como também têm recebido maiores e superiores promessas, relativamente à Antiga Aliança, conforme afirma o autor de Hebreus:
“Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de um melhor pacto, o qual está firmado sobre melhores promessas.” (Hb 8.6).
O que se aprende por princípio destas promessas de bênçãos e de maldições da Antiga Aliança, é que, na prática, um viver abençoado realmente demanda obediência a Deus e aos Seus mandamentos, com todas as nossas imperfeições e limitações, pois como já comentamos anteriormente, o que se exige para plena aceitação não é perfeição de cumprimento de todos os mandamentos, mas o desejo de ser aperfeiçoado na prática do amor, da santidade, da justiça, por um sincero caminhar com Deus.
Ele considerará os nossos esforços por causa dos méritos de Cristo e da Sua justiça, que nos foram imputados.
A graça de Deus e o Seu favor é a primeira de todas as bênçãos, e a ira de Deus é a primeira de todas as maldições, e obtivemos o primeiro, e fomos livrados da segunda, unicamente pela redenção de Jesus.
As bênçãos prometidas aos israelitas sob a Antiga Aliança, nos versos 1 a 14 podem ser resumidas na promessa de Deus de fazê-los prosperar pela Sua providência, contra todas as suas preocupações exteriores.
Deste modo, são enumeradas várias coisas nas quais, Deus pela Sua providência os abençoaria.
Caso fossem obedientes à Sua voz guardando os Seus mandamentos, Ele os guardaria em segurança e em paz quer no campo, quer na cidade (v. 3).
Deus abençoaria os filhos deles e toda a produção da sua lavoura bem como dos seus animais (v. 4, 11), e todas as suas provisões (v. 5). Eles seriam guardados em paz e em segurança em suas viagens, tanto na ida quanto na volta (v. 6).
Isto é uma dependência necessária e constante que precisamos de Deus para a continuidade e conforto desta vida.
Se o Senhor retirasse a Sua proteção de sobre nós, estaríamos perdidos, não somente pela ação dos homens maus como também dos demônios e perigos que nos rodeiam em todo o tempo.
Como o caráter da Antiga Aliança era, sobretudo nacional, vemos também promessas dirigidas à nação de Israel como um todo, como a do verso 7, em que é prometido vitória sobre os povos inimigos, e a confirmação da nação israelita como povo santo do Senhor, pela abastança que enviaria aos seus celeiros (v. 8, 9); o que faria com que todos os povos da terra chegassem ao reconhecimento de que o Senhor era com eles, e assim passariam a temê-los (v. 10).
De tal modo Deus fá-los-ia prosperar que eles seriam os credores de muitas nações, e não necessitariam tomar empréstimos para tocar os negócios de Israel (v. 12).
Como consequência disto, seriam distinguidos pelo Senhor para estarem à dianteira das demais nações quanto à sua posição de destaque no cenário mundial (v. 13).
Embora as promessas de bênçãos temporais não ocupem tanto espaço nas páginas do Novo Testamento, quanto nas do Velho, relativamente à Nova Aliança, Jesus nos tem afiançado pela Sua Palavra que se buscarmos primeiro o reino de Deus e a sua justiça, todas as demais coisas serão acrescentadas (Mt 6.33).
Examinando agora as maldições da Lei, devemos destacar antes que é dito claramente como já destacamos anteriormente, que estas maldições são direcionadas àqueles que se colocam em posição confrontativa à vontade de Deus, que se rebelam contra Ele e os Seus mandamentos e não demonstram interesse em submeter-se ao Seu governo divino. Certamente este não é o caso de um cristão autêntico.
Este estado; como vemos nas páginas do Velho Testamento, foi uma realidade não apenas para uns poucos israelitas, mas até mesmo para a quase totalidade da nação, que não raras vezes se desviou do caminho de Deus para seguir adorando falsos deuses, e foi a estes que se dirigiram e se aplicaram as maldições previstas nos versos 15 a 44 deste capítulo 28.
Na verdade os que estão debaixo da maldição da Lei são aqueles que não estão em Cristo, por não terem sido resgatados da maldição pela nova vida e o conhecimento de Deus e da Sua vontade, que alcançaram por meio da fé nEle.
Os que não eram da fé, na Antiga Aliança, estavam nesta condição porque a carne não está sujeita à Lei de Deus e nem mesmo pode estar.
Agora, veja então que não é apropriado chamar ou considerar maldito de Deus a qualquer cristão autêntico porque eles conhecem ao Senhor e a Sua vontade, e não são contrários a Ele, por desejarem viver fazendo aquilo que sabem provocar a Sua ira justa e santa contra o pecado.
Um cristão autêntico, quando peca eventualmente, ou mesmo quando está enfraquecido vivendo de tal modo que chega a aparentar que ainda está escravizado ao pecado, apesar de ter sido libertado do seu senhorio por Jesus, não é, no entanto inimigo de Deus que está debaixo da Sua ira, por não estar debaixo da graça.
A maldição da Lei revela, portanto, mesmo aos israelitas sob o antigo pacto, que não é o fato de ser descendente de Abraão segundo a carne que garante a bênção de Deus, senão um conhecimento de Deus e um caminhar em conformidade com a Sua vontade.
Por exemplo, o simples cumprimento externo do mandamento, sem este conhecimento, e o temor devido ao Senhor pelo desejo de se fazer a Sua vontade não seria uma garantia para livramento de pessoas e até mesmo da nação, das maldições previstas na Lei.
Veja o que aconteceu nos dias do profeta Isaías em que os israelitas foram repreendidos por isto, pois eles apresentavam os sacrifícios exigidos pela Lei e compareciam às festividades religiosas também previstas na Lei, sem que, no entanto tivessem um verdadeiro desejo de fazerem a vontade do Senhor.
Desta forma, as maldições, são em si mesmas auto-explicativas e elas são descritas em resumo, como sendo o oposto das bênçãos prometidas.
Desta forma, em vez de saúde, paz, prosperidade, honra e segurança; são prometidas enfermidades, pragas e pestes, terrores, penúria, desonra e insegurança.
É prescrito particularmente o domínio e opressão que os israelitas sofreriam da parte de outras nações, inclusive o cativeiro, pela expulsão do território de Canaã.
A história tem testemunhado o cumprimento fiel destas ameaças de maldições sobre os israelitas em razão da transgressão deles da Aliança que fora feita com eles.
O livro de Juízes foi pontilhado de longos períodos de opressão por causa do desvio dos israelitas em ouvirem a Deus e cumprirem os Seus mandamentos.
Muito sofrimento e dor sobrevieram aos judeus ao longo de toda a sua história, com massacres indescritíveis, por serem uma nação eleita por Deus, na qual Ele tem revelado que vela sobre a Sua Palavra para a cumprir conforme tem prometido.            
Especialmente no período em que vigorava a Antiga Aliança os israelitas foram sujeitados aos castigos previstos para a desobediência deles.
Tudo está registrado na Bíblia, inclusive a dispersão deles por todas as nações, o que ocorreu conforme fora predito desde os dias de Moisés,  e conforme vemos neste capítulo e em outras passagens deste e outros livros da Bíblia.
Entretanto o cumprimento destas maldições sobre Israel não se limita ao período de vigência da Antiga Aliança, mas a todas as gerações de Israel, como se lê no verso 45 e 46:
“Todas estas maldições virão sobre ti, e te perseguirão, e te alcançarão, até que sejas destruído, por não haveres dado ouvidos à voz do Senhor teu Deus, para guardares os seus mandamentos, e os seus estatutos, que te ordenou. Estarão sobre ti por sinal e por maravilha, como também sobre a tua descendência para sempre.”
 As coisas ruins que sobrevêm a Israel servem para indicar o seu afastamento de Deus.
Assim  como determinadas tribulações servem para indicar aos cristãos o desagrado de Deus em relação à caminhada desordenada deles.
O maior pecado cometido pelos israelitas foi a rejeição de Cristo por eles, uma vez que na própria Lei Deus disse que pediria contas de todo aquele que não ouvisse o Profeta que seria levantado em Israel, depois dos dias de Moisés (Dt 18.15-19).
Eles têm sofrido as consequências desta rejeição, e a principal delas se dará quando forem perseguidos pelo Anticristo.  




“1 Se ouvires atentamente a voz do Senhor teu Deus, tendo cuidado de guardar todos os seus mandamentos que eu hoje te ordeno, o Senhor teu Deus te exaltará sobre todas as nações da terra;
2 e todas estas bênçãos virão sobre ti e te alcançarão, se ouvires a voz do Senhor teu Deus:
3 Bendito serás na cidade, e bendito serás no campo.
4 Bendito o fruto do teu ventre, e o fruto do teu solo, e o fruto dos teus animais, e as crias das tuas vacas e das tuas ovelhas.
5 Bendito o teu cesto, e a tua amassadeira.
6 Bendito serás quando entrares, e bendito serás quando saíres.
7 O Senhor entregará, feridos diante de ti, os teus inimigos que se levantarem contra ti; por um caminho sairão contra ti, mas por sete caminhos rugirão da tua presença.
8 O Senhor mandará que a bênção esteja contigo nos teus celeiros e em tudo a que puseres a tua mão; e te abençoará na terra que o Senhor teu Deus te dá.
9 O Senhor te confirmará para si por povo santo, como te jurou, se guardares os mandamentos do Senhor teu Deus e andares nos seus caminhos.
10 Assim todos os povos da terra verão que és chamado pelo nome do Senhor, e terão temor de ti.
11 E o Senhor te fará prosperar grandemente no fruto do teu ventre, no fruto dos teus animais e no fruto do teu solo, na terra que o Senhor, com juramento, prometeu a teus pais te dar.
12 O Senhor te abrirá o seu bom tesouro, o céu, para dar à tua terra a chuva no seu tempo, e para abençoar todas as obras das tuas mãos; e emprestarás a muitas nações, porém tu não tomarás emprestado.
13 E o Senhor te porá por cabeça, e não por cauda; e só estarás por cima, e não por baixo; se obedeceres aos mandamentos do Senhor teu Deus, que eu hoje te ordeno, para os guardar e cumprir,
14 não te desviando de nenhuma das palavras que eu hoje te ordeno, nem para a direita nem para a esquerda, e não andando após outros deuses, para os servires.
15 Se, porém, não ouvires a voz do Senhor teu Deus, se não cuidares em cumprir todos os seus mandamentos e os seus estatutos, que eu hoje te ordeno, virão sobre ti todas estas maldições, e te alcançarão:
16 Maldito serás na cidade, e maldito serás no campo.
17 Maldito o teu cesto, e a tua amassadeira.
18 Maldito o fruto do teu ventre, e o fruto do teu solo, e as crias das tuas vacas e das tuas ovelhas.
19 Maldito serás ao entrares, e maldito serás ao saíres.
20 O Senhor mandará sobre ti a maldição, a derrota e o desapontamento, em tudo a que puseres a mão para fazer, até que sejas destruído, e até que repentinamente pereças, por causa da maldade das tuas obras, pelas quais me deixaste.
21 O Senhor fará pegar em ti a peste, até que te consuma da terra na qual estás entrando para a possuíres.
22 O Senhor te ferirá com a tísica e com a febre, com a inflamação, com o calor forte, com a seca, com crestamento e com ferrugem, que te perseguirão até que pereças
23 O céu que está sobre a tua cabeça será de bronze, e a terra que está debaixo de ti será de ferro.
24 O Senhor dará por chuva à tua terra pó; do céu descerá sobre ti a poeira, ate que sejas destruído.
25 O Senhor fará que sejas ferido diante dos teus inimigos; por um caminho sairás contra eles, e por sete caminhos fugirás deles; e serás espetáculo horrendo a todos os reinos da terra.
26 Os teus cadáveres servirão de pasto a todas as aves do céu, e aos animais da terra, e não haverá quem os enxote.
27 O Senhor te ferirá com as úlceras do Egito, com tumores, com sarna e com coceira, de que não possas curar-te;
28 o Senhor te ferirá com loucura, com cegueira, e com pasmo de coração.
29 Apalparás ao meio-dia como o cego apalpa nas trevas, e não prosperarás nos teus caminhos; serás oprimido e roubado todos os dias, e não haverá quem te salve.
30 Desposar-te-ás com uma mulher, porém outro homem dormirá com ela; edificarás uma casa, porém não morarás nela; plantarás uma vinha, porém não a desfrutarás.
31 O teu boi será morto na tua presença, porém dele não comerás; o teu jumento será roubado diante de ti, e não te será restituído a ti; as tuas ovelhas serão dadas aos teus inimigos, e não haverá quem te salve.
32 Teus filhos e tuas filhas serão dados a outro povo, os teus olhos o verão, e desfalecerão de saudades deles todo o dia; porém não haverá poder na tua mão.
33 O fruto da tua terra e todo o teu trabalho comê-los-á um povo que nunca conheceste; e serás oprimido e esmagado todos os dias.
34 E enlouquecerás pelo que hás de ver com os teus olhos.
35 Com úlceras malignas, de que não possas sarar, o Senhor te ferirá nos joelhos e nas pernas, sim, desde a planta do pé até o alto da cabeça.
36 O Senhor te levará a ti e a teu rei, que tiveres posto sobre ti, a uma nação que não conheceste, nem tu nem teus pais; e ali servirás a outros deuses, ao pau e à pedra.
37 E virás a ser por pasmo, provérbio e ludíbrio entre todos os povos a que o Senhor te levar.
38 Levarás muita semente para o teu campo, porem colherás pouco; porque o gafanhoto a consumirá.
39 Plantarás vinhas, e as cultivarás, porém não lhes beberás o vinho, nem colherás as uvas; porque o bicho as devorará.
40 Terás oliveiras em todos os teus termos, porém não te ungirás com azeite; porque a azeitona te cairá da oliveira.
41 Filhos e filhas gerarás, porém não te pertencerão; porque irão em cativeiro.
42 Todo o teu arvoredo e o fruto do teu solo consumi-los-á o gafanhoto.
43 O estrangeiro que está no meio de ti se elevará cada vez mais sobre ti, e tu cada vez mais descerás;
44 ele emprestará a ti, porém tu não emprestarás a ele; ele será a cabeça, e tu serás a cauda.
45 Todas estas maldições virão sobre ti, e te perseguirão, e te alcançarão, até que sejas destruído, por não haveres dado ouvidos à voz do Senhor teu Deus, para guardares os seus mandamentos, e os seus estatutos, que te ordenou.
46 Estarão sobre ti por sinal e por maravilha, como também sobre a tua descendência para sempre.
47 Por não haveres servido ao Senhor teu Deus com gosto e alegria de coração, por causa da abundância de tudo,
48 servirás aos teus inimigos, que o Senhor enviará contra ti, em fome e sede, e em nudez, e em falta de tudo; e ele porá sobre o teu pescoço um jugo de ferro, até que te haja destruído.
49 O Senhor levantará contra ti de longe, da extremidade da terra, uma nação que voa como a águia, nação cuja língua não entenderás;
50 nação de rosto feroz, que não respeitará ao velho, nem se compadecerá do moço;
51 e comerá o fruto dos teus animais e o fruto do teu solo, até que sejas destruído; e não te deixará grão, nem mosto, nem azeite, nem as crias das tuas vacas e das tuas ovelhas, até que te faça perecer;
52 e te sitiará em todas as tuas portas, até que em toda a tua terra venham a cair os teus altos e fortes muros, em que confiavas; sim, te sitiará em todas as tuas portas, em toda a tua terra que o Senhor teu Deus te deu.
53 E, no cerco e no aperto com que os teus inimigos te apertarão, comerás o fruto do teu ventre, a carne de teus filhos e de tuas filhas, que o Senhor teu Deus te houver dado.
54 Quanto ao homem mais mimoso e delicado no meio de ti, o seu olho será mesquinho para com o seu irmão, para com a mulher de seu regaço, e para com os filhos que ainda lhe ficarem de resto;
55 de sorte que não dará a nenhum deles da carne de seus filhos que ele comer, porquanto nada lhe terá ficado de resto no cerco e no aperto com que o teu inimigo te apertará em todas as tuas portas.
56 Igualmente, quanto à mulher mais mimosa e delicada no meio de ti, que de mimo e delicadeza nunca tentou pôr a planta de seu pé sobre a terra, será mesquinho o seu olho para com o homem de seu regaço, para com seu filho, e para com sua filha;
57 também ela será mesquinha para com as suas páreas, que saírem dentre os seus pés, e para com os seus filhos que tiver; porque os comerá às escondidas pela falta de tudo, no cerco e no aperto com que o teu inimigo te apertará nas tuas portas.
58 Se não tiveres cuidado de guardar todas as palavras desta lei, que estão escritas neste livro, para temeres este nome glorioso e temível, o Senhor teu Deus;
59 então o Senhor fará espantosas as tuas pragas, e as pragas da tua descendência, grandes e duradouras pragas, e enfermidades malignas e duradouras;
60 e fará tornar sobre ti todos os males do Egito, de que tiveste temor; e eles se apegarão a ti.
61 Também o Senhor fará vir a ti toda enfermidade, e toda praga que não está escrita no livro desta lei, até que sejas destruído.
62 Assim ficareis poucos em número, depois de haverdes sido em multidão como as estrelas do céu; porquanto não deste ouvidos à voz do Senhor teu Deus.
63 E será que, assim como o Senhor se deleitava em vós, para fazer-vos o bem e multiplicar-vos, assim o Senhor se deleitará em destruir-vos e consumir-vos; e sereis desarraigados da terra na qual estais entrando para a possuirdes.
64 E o Senhor vos espalhará entre todos os povos desde uma extremidade da terra até a outra; e ali servireis a outros deuses que não conhecestes, nem vós nem vossos pais, deuses de pau e de pedra.
65 E nem ainda entre estas nações descansarás, nem a planta de teu pé terá repouso; mas o Senhor ali te dará coração tremente, e desfalecimento de olhos, e desmaio de alma.
66 E a tua vida estará como em suspenso diante de ti; e estremecerás de noite e de dia, e não terás segurança da tua própria vida.
67 Pela manhã dirás: Ah! quem me dera ver a tarde; E à tarde dirás: Ah! quem me dera ver a manhã! pelo pasmo que terás em teu coração, e pelo que verás com os teus olhos.


68 E o Senhor te fará voltar ao Egito em navios, pelo caminho de que te disse: Nunca mais o verás. Ali vos poreis a venda como escravos e escravas aos vossos inimigos, mas não haverá quem vos compre. “ (Dt 28.1-68).


Deuteronômio 29

A Ratificação e Renovação da Aliança

O pacto que havia sido feito há quarenta anos atrás, no Monte Sinai é ratificado, contudo era uma nova promulgação que estava sendo feita com os israelitas, e daí se dizer que Deus estava fazendo um pacto com eles em Moabe, além do pacto que havia feito no Horebe.
Era, portanto uma renovação do pacto feito no Horebe, e não uma revogação do anterior, para se estabelecer o que estava sendo feito nas campinas de Moabe.
Todos aqueles anos que haviam passado enquanto caminhavam no deserto, poderiam ter levado muitos ao esquecimento de que Deus havia feito uma aliança com Israel, e isto, por si só, explicaria a necessidade da renovação da aliança, que havia sido celebrada com base no compromisso dos israelitas em guardarem todos os mandamentos que o Senhor lhes havia dado através da mediação de Moisés.  
O deserto, depois da incredulidade de Cades, foi uma grande escola de humilhação do orgulho carnal dos israelitas, e para o conhecimento do desagrado de Deus em relação ao pecado, especialmente ao maior pecado de todos que é a incredulidade.
Se alguma outra nação podia seguir o seu próprio rumo, conforme a sua própria vontade, este não era no entanto o caso de Israel, que havia sido formado por Deus para ser de Sua exclusiva propriedade, povo que Ele resgatou do Egito com braço forte, e cuja prosperidade dependeria portanto da Sua obediência à vontade do Senhor.
Eles são lembrados da sua vocação, ainda que isto estivesse encoberto aos olhos deles pela dureza dos seus corações, pois, sem fé, sem um coração verdadeiramente convertido, não podiam entender os sinais visíveis do cuidado de Deus em relação a eles.
A forma miraculosa como os preservou desde o Egito, cuidando até mesmo de detalhes pessoais, como a roupa e o calçado deles, que não envelheceram naqueles quarenta anos.
Mas eles não tiveram em sua grande maioria um coração grato e sábio para entenderem estas coisas, como se diz no verso 4:
“Mas até hoje o Senhor não vos tem dado um coração para entender, nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir.”
 Isto nos faz lembrar das palavras de Jesus relativas aos israelitas dos seus dias:
“Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não vêem; e ouvindo, não ouvem nem entendem. E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, e de maneira alguma entendereis; e, vendo, vereis, e de maneira alguma percebereis. Porque o coração deste povo se endureceu, e com os ouvidos ouviram tardiamente, e fecharam os olhos, para que não vejam com os olhos, nem ouçam com os ouvidos, nem entendam com o coração, nem se convertam, e eu os cure.” (Mt 13.13-15).
Quando se diz que Deus não lhes deu coração para entender, nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir, não significa que Deus mesmo estava produzindo neles esta condição, senão o próprio endurecimento deles.
O fato de não terem recebido graça de Deus para que pudessem entender, ver, e ouvir as realidades espirituais das quais estavam sendo alvo pela misericórdia do Senhor confirmava que Ele não poderia fazê-lo conforme era da Sua vontade, porque não havia na maioria deles um coração que O buscasse de modo a ser transformado e movido pelo Seu Espírito.
É desperdício dar comida a quem não tem fome. Dar água a quem não tem sede. Deus não desperdiça os seus dons. A graça é rica, santa e preciosa, e Deus não desperdiça o Seu dom, dando-o àqueles que não o desejam. Este é o significado de se dar coisas santas a cães e lançar pérolas a porcos, proferido por Jesus Cristo, pois não sabem fazer a justa avaliação do que lhes está sendo dado, e não teriam com isso qualquer proveito em recebê-lo.
Deste modo, os israelitas teriam recebido a graça de Deus em vão caso esta lhes fosse dada por Ele.
Desta forma, quando são poucas as nossas graças a culpa terá sido sempre nossa, e nunca de Deus, em não recebermos mais graça, pois isto é da Sua vontade, mas, como vimos, Ele nunca desperdiça os Seus dons.
Se não batermos à porta, ela nunca se abrirá.
Se não pedirmos pela oração, nunca receberemos.
Se não buscarmos as graças e os dons de Deus nós nunca os receberemos.    
Apesar de todo este endurecimento deles, o Senhor lhes havia dado vitória sobre Ogue e Siom, reis dos amorreus, que eles haviam vencido recentemente, e estava fazendo isto não pelo merecimento deles, mas por causa da aliança que fizera com eles, e da promessa que fizera aos patriarcas de ser o Deus de Israel.
De igual modo, a Igreja de Cristo teria desaparecido de há muito da terra, se dependesse da fidelidade dos homens, que sempre é falha, mas como está fundada não no homem, mas na Rocha que é Cristo, e na Sua fidelidade que dura para sempre, ela jamais poderá ser destruída, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela, porque Deus a fará triunfar por causa da Sua própria promessa e por amor de Seu Filho, e não pela nossa própria justiça e méritos.
Grandes foram as misericórdias que Deus manifestou à nação de Israel, e estas misericórdias não são menores em relação à Igreja de Cristo na Nova Aliança, que Ele tem feito com o Seu povo através do Seu sangue.
“A benignidade do Senhor jamais acaba, as suas misericórdias não têm fim;” (Jer 3.22).
Mas Israel foi solenemente advertido a guardar o pacto que fizera com o Senhor, cumprindo todos os Seus mandamentos, uma vez que a violação da aliança, especialmente pela adoração de falsos deuses, conforme o costume das demais nações faria com que a terra de Israel fosse transformada pelo Senhor numa grande desolação, de modo a servir de testemunho a todas as nações de que Ele exige que o Seu povo viva em santidade, guardando a aliança que tem com Ele, por fazer a Sua vontade revelada em Seus mandamentos.
Daí se dizer no verso 29 que:
“As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus, mas as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que observemos todas as palavras desta lei.“
O que é dito aqui não é propriamente que Deus não fala com o Seu povo além do que já revelou na Bíblia, pois ainda que não mude a verdade revelada de uma vez para sempre, ainda que não fale contra esta verdade já revelada, Deus é vivo e soberano para falar conosco o que bem deseje.
Não é este o sentido do versículo, senão que aquilo que está encoberto, como por exemplo o modo da eleição pela graça, como Deus o planejou, o que Ele nunca revelou a ninguém, não é pretexto para que não O sirvamos em relação a tudo aquilo que Ele tem revelado clara e diretamente na Bíblia, como sendo a Sua vontade para ser feita não somente por todas as gerações de Israel, como especialmente por todos aqueles que creem no Seu santo nome.
Ele as revelou para o propósito de serem cridas, aprendidas, ensinadas e cumpridas.
Este é o nosso dever para com Ele e não fazer cogitações sobre as coisas que Ele encobriu, não as revelando a nós.      
Deste modo, os israelitas são lembrados que Deus havia destruído Sodoma e Gomorra no furor da Sua ira por causa das suas práticas abomináveis, e os israelitas não seriam poupados da mesma ira caso violassem a aliança para se entregarem às mesmas práticas deles, e para isto estavam alertados quanto às maldições prescritas na Lei, para a desobediência ao Senhor e aos Seus mandamentos.




“1 Estas são as palavras do pacto que o Senhor ordenou a Moisés que fizesse com os filhos de Israel na terra de Moabe, além do pacto que fizera com eles em Horebe.
2 Chamou, pois, Moisés a todo o Israel, e disse-lhes: Vistes tudo quanto o Senhor fez perante vossos olhos, na terra do Egito, a Faraó, a todos os seus servos e a toda a sua terra;
3 as grandes provas que os teus olhos viram, os sinais e aquelas grandes maravilhas.
4 Mas até hoje o Senhor não vos tem dado um coração para entender, nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir.
5 Quarenta anos vos fiz andar pelo deserto; não se envelheceu sobre vós a vossa roupa, nem o sapato no vosso pé.
6 Pão não comestes, vinho e bebida forte não bebestes; para que soubésseis que eu sou o Senhor vosso Deus.
7 Quando, pois, viemos a este lugar, Siom, rei de Hesbom, e Ogue, rei de Basã, nos saíram ao encontro, à peleja, e nós os ferimos;
8 e lhes tomamos a terra, e a demos por herança aos rubenitas, aos gaditas e à meia tribo dos manassitas.
9 Guardai, pois, as palavras deste pacto e cumpri-as, para que prospereis em tudo quanto fizerdes.
10 Vós todos estais hoje perante o Senhor vosso Deus: os vossos cabeças, as vossas tribos, os vossos anciãos e os vossos oficiais, a saber, todos os homens de Israel,
11 os vossos pequeninos, as vossas mulheres, e o estrangeiro que está no meio do vosso arraial, tanto o rachador da vossa lenha como o tirador da vossa água;
12 para entrardes no pacto do Senhor vosso Deus, e no seu juramento que o Senhor vosso Deus hoje faz convosco;
13 para que hoje vos estabeleça por seu povo, e ele vos seja por Deus, como vos disse e como prometeu com juramento a vossos pais, a Abraão, a Isaque e a Jacó.
14 Ora, não é somente convosco que faço este pacto e este juramento,
15 mas é com aquele que hoje está aqui conosco perante o Senhor nosso Deus, e também com aquele que hoje não está aqui conosco
16 (porque vós sabeis como habitamos na terra do Egito, e como passamos pelo meio das nações, pelas quais passastes;
17 e vistes as suas abominações, os seus ídolos de pau e de pedra, de prata e de ouro, que havia entre elas);
18 para que entre vós não haja homem, nem mulher, nem família, nem tribo, cujo coração hoje se desvie do Senhor nosso Deus, e vá servir aos deuses dessas nações; para que entre vós não haja raiz que produza veneno e fel,
19 e aconteça que alguém, ouvindo as palavras deste juramento, se abençoe no seu coração, dizendo: Terei paz, ainda que ande na teimosia do meu coração para acrescentar à sede a bebedeira.
20 O Senhor não lhe quererá perdoar, pelo contrário fumegará contra esse homem a ira do Senhor, e o seu zelo, e toda maldição escrita neste livro pousará sobre ele, e o Senhor lhe apagará o nome de debaixo do céu.
21 Assim o Senhor o separará para mal, dentre todas as tribos de Israel, conforme todas as maldições do pacto escrito no livro desta lei.
22 Pelo que a geração vindoura-os vossos filhos que se levantarem depois de vós-e o estrangeiro que vier de terras remotas dirão, ao verem as pragas desta terra, e as suas doenças, com que o Senhor a terá afligido,
23 e que toda a sua terra é enxofre e sal e abrasamento, de sorte que não será semeada, e nada produzirá, nem nela crescerá erva alguma, assim como foi a destruição de Sodoma e de Gomorra, de Admá e de Zeboim, que o Senhor destruiu na sua ira e no seu furor;
24 sim, todas as nações dirão: Por que fez o Senhor assim com esta terra? Que significa o furor de tamanha ira?
25 Então se dirá: Porquanto deixaram o pacto do Senhor, o Deus de seus pais, que tinha feito com eles, quando os tirou da terra do Egito;
26 e se foram e serviram a outros deuses, e os adoraram; deuses que eles não tinham conhecido, e que lhes não foram dados;
27 por isso é que a ira do Senhor se acendeu contra esta terra, para trazer sobre ela toda maldição que está escrita neste livro;
28 e o Senhor os arrancou da sua terra com ira, com furor e com grande indignação, e os lançou em outra terra, como neste dia se vê.
29 As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus, mas as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que observemos todas as palavras desta lei.“ (Dt 29.1-29).


Deuteronômio 30

O Deus de Toda a Graça

Se nada mais fosse dito além das coisas referidas nos capítulos anteriores, e se o livro de Deuteronômio fosse fechado com as palavras do capítulo precedente, não haveria nenhuma esperança para Israel prosseguir como povo da aliança feita com Abraão, Isaque e Jacó, e mesmo da aliança feita com eles no Sinai, porque a maldição da Lei os baniria para sempre da presença de Deus quando invalidassem a aliança com os seus pecados.
Entretanto, este capítulo 30º de Deuteronômio é iniciado com a promessa de Deus de usar de misericórdia para com eles, quando na terra do seu cativeiro eles se voltassem arrependidos de seus pecados para Ele.
A Lei colocou diante deles a escolha da bênção ou da maldição, conforme o seu comportamento diante do Senhor e dos Seus mandamentos.
Haveria bênçãos no caso de obediência, e maldições no caso de desobediência.
Servir ou não a Deus não seria uma opção que não afetaria as suas vidas.
Ao contrário, seria uma questão de vida ou de morte.
A Aliança que eles fizeram com o Senhor não gerou um compromisso de serem meramente religiosos, mas um compromisso que afetaria profundamente o rumo das suas vidas; quer para o bem, quer para o mal.
O bem por escolherem ouvir o Senhor e guardarem os Seus mandamentos, e o mal, em caso contrário.
Mas eles são lembrados que não estavam diante de um Deus inflexível e implacável, pois Ele sabia perfeitamente que o homem é carnal e dado a se desviar dos Seus caminhos, e não andará neles caso não seja assistido pela Sua graça e misericórdia, e também pelo temor que Lhe é devido.
Assim como Ele disse que não destruiria mais a terra com as águas do dilúvio, por saber que o homem é carnal; de igual modo Ele fez promessas de misericórdia para que Israel pudesse retornar para Ele depois que eles Lhe tivessem voltado as costas para servirem a outros deuses.
Ele aceitaria a esposa infiel de volta, desde que esta deixasse os seus amantes e voltasse para o Seu marido.
O Senhor sabia em todo o tempo que estava entrando em aliança com uma esposa que lhe seria infiel em várias ocasiões, mas nem por isso deixou de desposá-la (a nação de Israel) porque a amava.
De igual modo, os cristãos da Igreja de Cristo, apesar de suas infidelidades para com o Senhor, não podem romper o laço matrimonial que têm com Ele porque são laços indissolúveis em razão da perfeita fidelidade do Senhor, que permanece fiel ao que nos tem prometido, apesar da nossa infidelidade.          
Por esta promessa de misericórdia e restauração da Antiga Aliança, vemos que o caráter de Deus é realmente perdoador e compassivo.
Nenhum pecador, por pior que seja, poderá se desculpar em juízo de não ter alcançado a salvação, porque a misericórdia do Senhor é infinita.
Ele tem prometido que usa de misericórdia com qualquer um, independentemente de seus méritos.
Isto significa que ninguém poderá impugnar a decisão de Deus de usar de misericórdia para com o pior dos pecadores, porque Ele determinou em Sua Soberania usar de misericórdia com quem Ele quisesse, isto é, conforme a Sua própria vontade, e nada mais.
Ninguém poderá se desculpar pelo fato de se ter desviado e não ter buscado reconciliação com o Senhor e com a Sua Igreja, porque ninguém está excluído de alcançar misericórdia quando se arrepende e se volta para Deus.
O verso 10 fala de conversão e do modo desta conversão:
“quando obedeceres à voz do Senhor teu Deus, guardando os seus mandamentos e os seus estatutos, escritos neste livro da lei; quando te converteres ao Senhor teu Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma.”
Os versos 11 a 14 falam da possibilidade e alcance próximo desta conversão, uma vez que a vontade revelada de Deus é conhecida na Sua Palavra, e o que crê na Palavra do Senhor e se dispõe a obedecê-la, será salvo.
Estas palavras de Moisés citadas nos versos 11 a 14 são usadas pelo apóstolo Paulo em Rom 10.6-8 para se referir ao evangelho de Cristo, que salva mediante a mesma conversão em se dizer não ao pecado e se voltar para Deus e para a Sua Palavra:
“Porque este mandamento, que eu hoje te ordeno, não te é difícil demais, nem tampouco está longe de ti. Não está no céu para dizeres: Quem subirá por nós ao céu, e no-lo trará, e no-lo fará ouvir, para que o cumpramos? Nem está além do mar, para dizeres: Quem passará por nós além do mar, e no-lo trará, e no-lo fará ouvir, para que o cumpramos? Mas a palavra está mui perto de ti, na tua boca, e no teu coração, para a cumprires.” (Rom 10.11 a 14).
O que tanto Moisés quanto Paulo querem se referir é que a Palavra de Deus para a salvação já foi revelada por Ele de uma vez para sempre e está registrada na Bíblia.
Não precisamos de nenhuma nova revelação, de nenhum novo profeta, de nenhuma nova visão ou sonho para sabermos qual é a vontade de Deus relativamente a nós para que possamos ser salvos.
A Sua vontade já está revelada na Bíblia.
O Espírito Santo abrirá o entendimento daqueles que Se aproximarem de Deus com todo o coração e alma, para que possam não somente entender a Sua Palavra, como também a serem transformados por meio dela em novas criaturas.
Há uma ilustração interessante neste capítulo, quanto ao fato de que os povos inimigos que o próprio Deus trouxe para oprimir e desterrar os israelitas, por causa da sua desobediência, seriam repreendidos pelo Senhor assim que Seu povo buscasse se converter dos seus maus caminhos.
O mesmo se dá com cristãos desobedientes que são entregues a Satanás para destruição da carne.
Caso eles se arrependam dos seus pecados e voltem para Deus numa verdadeira conversão que implique na obediência à Sua Palavra, eles não são apenas restaurados à comunhão, como os espíritos malignos que os oprimiam são repreendidos e afastados pelo Senhor.
Muitas das aflições que sofremos têm o propósito de nos conduzirem ao arrependimento e à conversão ao Senhor e à Sua Palavra.
Ninguém deve contar com a aprovação e a bênção do Senhor quando vive na prática deliberada do pecado, mas pode e deve esperar a Sua bênção quando se arrepende e se converte dos seus maus caminhos.
Isto é prometido pelo Senhor abundantemente em várias passagens das Escrituras, como por exemplo em Jer 31.18-20 e II Crôn 7.13,14.
Verdadeiros penitentes podem ter grande encorajamento quanto às compaixões e misericórdias do Senhor, que nunca falham.
Moisés fecha este capítulo 30º com uma convocação aos israelitas para que se apegassem verdadeiramente ao Senhor, porque nisto estava a felicidade e a vida deles.
Não haveria nenhuma bênção vivendo longe do Senhor.
Não haveria nenhuma vida aparte da comunhão com Ele.
Seria marcante entre eles a diferença que haveria entre os que servissem e amassem a Deus e aqueles que não o servissem e amassem, porque o próprio Deus os distinguiria com o derramar da sua bênção e vida para os primeiros, e das suas maldições e castigos para os últimos.
A adoração verdadeira ao Senhor traria vida, e a adoração aos falsos deuses lhes traria morte.
É isto o que sempre ocorreu no mundo.
Os que se voltam para Deus encontram a vida, e os que resistem a Ele à Sua vontade permanecem debaixo da Sua ira e mortos em seus pecados.
A Palavra de Deus é, portanto um atalaia que adverte aos homens em toda a parte sobre a sua condição diante de Deus.
Ela é uma Palavra de vida para os que nela crêem e se arrependem de seus pecados, por darem crédito à Palavra do Senhor que é a verdade.
E os que a ignoram ou que resistem a ela não lhe dando a devida atenção permanecerão condenados em seus pecados.
Por isso Jesus diz quanto à Palavra do evangelho:
“Quem me rejeita, e não recebe as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o julgará no último dia.” (Jo 12.48).
O sentido do Novo Testamento é o mesmo, porque o evangelho coloca todo homem diante da vida ou da morte, da maldição ou da bênção.
“Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.” (Mc 16.16).




“1 Quando te sobrevierem todas estas coisas, a bênção ou a maldição, que pus diante de ti, e te recordares delas entre todas as nações para onde o Senhor teu Deus te houver lançado,
2 e te converteres ao Senhor teu Deus, e obedeceres à sua voz conforme tudo o que eu te ordeno hoje, tu e teus filhos, de todo o teu coração e de toda a tua alma,
3 o Senhor teu Deus te fará voltar do teu cativeiro, e se compadecerá de ti, e tornará a ajuntar-te dentre todos os povos entre os quais te houver espalhado o senhor teu Deus.
4 Ainda que o teu desterro tenha sido para a extremidade do céu, desde ali te ajuntará o Senhor teu Deus, e dali te tomará;
5 e o Senhor teu Deus te trará à terra que teus pais possuíram, e a possuirás; e te fará bem, e te multiplicará mais do que a teus pais.
6 Também o Senhor teu Deus circuncidará o teu coração, e o coração de tua descendência, a fim de que ames ao Senhor teu Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma, para que vivas.
7 E o Senhor teu Deus porá todas estas maldições sobre os teus inimigos, sobre aqueles que te tiverem odiado e perseguido.
8 Tu te tornarás, pois, e obedecerás à voz do Senhor, e observarás todos os seus mandamentos que eu hoje te ordeno.
9 Então o Senhor teu Deus te fará prosperar grandemente em todas as obras das tuas mãos, no fruto do teu ventre, e no fruto dos teus animais, e no fruto do teu solo; porquanto o Senhor tornará a alegrar-se em ti para te fazer bem, como se alegrou em teus pais;
10 quando obedeceres à voz do Senhor teu Deus, guardando os seus mandamentos e os seus estatutos, escritos neste livro da lei; quando te converteres ao Senhor teu Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma.
11 Porque este mandamento, que eu hoje te ordeno, não te é difícil demais, nem tampouco está longe de ti.
12 Não está no céu para dizeres: Quem subirá por nós ao céu, e no-lo trará, e no-lo fará ouvir, para que o cumpramos?
13 Nem está além do mar, para dizeres: Quem passará por nós além do mar, e no-lo trará, e no-lo fará ouvir, para que o cumpramos?
14 Mas a palavra está mui perto de ti, na tua boca, e no teu coração, para a cumprires.
15 Vê que hoje te pus diante de ti a vida e o bem, a morte e o mal.
16 Se guardares o mandamento que eu hoje te ordeno de amar ao Senhor teu Deus, de andar nos seus caminhos, e de guardar os seus mandamentos, os seus estatutos e os seus preceitos, então viverás, e te multiplicarás, e o Senhor teu Deus te abençoará na terra em que estás entrando para a possuíres.
17 Mas se o teu coração se desviar, e não quiseres ouvir, e fores seduzido para adorares outros deuses, e os servires,
18 declaro-te hoje que certamente perecerás; não prolongarás os dias na terra para entrar na qual estás passando o Jordão, a fim de a possuíres.
19 O céu e a terra tomo hoje por testemunhas contra ti de que te pus diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência,
20 amando ao Senhor teu Deus, obedecendo à sua voz, e te apegando a ele; pois ele é a tua vida, e o prolongamento dos teus dias; e para que habites na terra que o Senhor prometeu com juramento a teus pais, a Abraão, a Isaque e a Jacó, que lhes havia de dar.“ (Dt 30.1-20).



Deuteronômio 31

A Apostasia de Israel Foi Predita

Depois da promessa da misericórdia para o arrependimento de Israel de uma futura apostasia que vimos no capítulo anterior, nós vemos neste capítulo 31º de Deuteronômio, uma solene profecia e advertência de Deus contra a apostasia de Israel depois da morte de Moisés.
Foi dado a este, por revelação divina, as palavras do cântico que está registrado no capítulo 32 que serviriam para protestar contra o pecado que Israel viria a cometer mesmo tendo sido alertados previamente pelo Senhor.
O pecado deles e a punição justa do pecado de apostasia ficariam antecipadamente registrados para que soubessem que não foi por falta de aviso da parte do Senhor, que se afastariam da Sua presença.
O Senhor não se fia aos homens porque lhes conhece o coração que é desesperadamente corrupto.
“e não necessitava de que alguém lhe desse testemunho do homem, pois bem sabia o que havia no homem.” (Jo 2.25).
As promessas de fidelidade por parte dos homens a Deus, de que não pecarão, e enfim, tudo o que possam dizer com a boca nem sempre corresponderá ao que está no coração, e mesmo quando é o caso, a natureza terrena se levantará, não raro, para revelar que não há no homem tal capacidade para não pecar.
É a graça do Senhor, o poder do Seu Espírito, o único poder que pode vencer o pecado e habilitar o homem à obediência a Deus.
Não seria difícil presumir o que viria a ocorrer no futuro em relação aos israelitas, que não tinham em sua grande maioria um andar dependente da graça de Deus.
Os que confiam na carne, no braço de carne e não no Senhor e no Seu braço poderoso que subjuga a carne e aplica a graça ao coração, não prosperarão.
O fim deles é ruína e fracasso, porque a suficiência que nos põe de pé, não se encontra em nós mesmos, antes vem do alto, do Pai das luzes, para aqueles que se submetem à Sua vontade.
O único remédio para os israelitas é apontado em todo o tempo nos livros da Lei, e especialmente neste de Deuteronômio, onde repetidas vezes é dito que eles deveriam se apegar ao Senhor e à Sua Palavra.
A meditação constante nos mandamentos de Deus.
O ato de aprendê-los, ensiná-los e praticá-los todos os dias era o único remédio contra a apostasia, e a causa desta, que reside na fraqueza da carne.
Por isso é ordenado que fosse feita uma leitura da Lei, a cada sete anos, na festa dos tabernáculos, para o mesmo propósito.
Isto é muito significativo e aprendemos por princípio da Lei, que é guardando a Palavra de Deus no nosso coração, por meditar nela em todo o tempo, que não apenas o jovem pode manter puro o seu coração, como todos aqueles que desejam viver para Deus.
“Escondi a tua palavra no meu coração, para não pecar contra ti.” (Sl 119.11).
Deus assegurou que não abandonaria o povo.
Ele faria a Sua parte na aliança sendo fiel a eles.
Mas os israelitas iriam abandoná-lo.
O Senhor o declarou antes que acontecesse para testemunhar contra a infidelidade deles.
O autor de Hebreus se referiu à fidelidade de Deus à aliança com o Seu povo:
“Seja a vossa vida isenta de ganância, contentando-vos com o que tendes; porque ele mesmo disse: Não te deixarei, nem te desampararei.” (Hb 13.5).
Seria muito bom se fosse possível dizer o mesmo da fidelidade dos homens em relação a Deus.
Mas se enfatiza a fidelidade de Deus no pacto ao Israel espiritual para que a fé deles seja encorajada, e fiquem firmes na esperança, uma vez que Deus jamais falhará em cumprir o que tem prometido.
Isto foi retirado provavelmente pelo autor de Hebreus da promessa do versos 6:
“Sede fortes e corajosos; não temais, nem vos atemorizeis diante deles; porque o Senhor vosso Deus é quem vai convosco. Não vos deixará, nem vos desamparará.”
A questão da apostasia de verdadeiros cristãos da Igreja de Cristo é colocada em termos pelo próprio Jesus que não é possível enganar os eleitos de uma forma final (Mt 24.24) porque, como no dizer de Judas, o próprio Jesus guarda o Seu povo de heresias arruinadoras que venham a lhes afastar definitivamente dEle (Jd 1, 24).
Como a Nova Aliança é feita apenas com pessoas de fé, e que são justificadas e regeneradas, não há como caírem numa apostasia final, ainda que estejam sujeitos a apostatar temporária e parcialmente da fé, conforme afirma o apóstolo Paulo em I Tim 4.1:
“Mas o Espírito expressamente diz que em tempos posteriores alguns apostatarão da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios,”
 E, se esta palavra se aplica a autênticos cristãos, pelo contexto geral das Escrituras, sabemos que esta apostasia não é uma apostasia final, para uma queda final da fé, senão um desvio da fé do qual o verdadeiro cristão se recuperará por causa da graça que lhe é concedida por Deus.
Ainda que este venha a ser entregue a Satanás para a destruição da carne, o espírito será salvo no dia do Senhor.
Disto se aprende que ainda que Deus venha a corrigi-los com a punição extrema da morte física, eles serão achados na glória, aperfeiçoados em seu espírito, por terem sido justificados e regenerados pela graça que um dia eles receberam pela fé.
Entretanto, que ninguém se anime a ser salvo como que pelo fogo, e tendo a carne destruída por Satanás, por motivo de apostatar da fé.
Que todo cristão seja achado se esforçando em perseverar na fé, e para isto fará bem se der atenção ao aprendizado e à prática da Palavra de Deus, que lhe impedirá de errar e se afastar dos caminhos do Seu Senhor.
Moisés chamou Josué e o confirmou diante de todo o povo com estas palavras:
“Então chamou Moisés a Josué, e lhe disse à vista de todo o Israel: Sê forte e corajoso, porque tu entrarás com este povo na terra que o Senhor, com juramento, prometeu a teus pais lhes daria; e tu os farás herdá-la. O Senhor, pois, é aquele que vai adiante de ti; ele será contigo, não te deixará, nem te desamparará. Não temas, nem te espantes.” (v. 7,8).
Moisés ordenou também que uma cópia do livro de Deuteronômio que ele estava acabando de escrever fosse colocada com as demais Escrituras do Pentateuco ao lado da arca da aliança (v. 24 a 26), não para ser escondida, mas para ser preservada como original que evitaria possíveis futuras falsificações.
Não havia lugar mais seguro para ser guardada a Palavra revelada do Senhor, uma vez que somente o sumo sacerdote poderia entrar no lugar onde estava a arca, uma vez por ano, no dia da expiação nacional.



“1 Prosseguindo Moisés, falou ainda estas palavras a todo o Israel,
2 dizendo-lhes: Cento e vinte anos tenho eu hoje. Já não posso mais sair e entrar; e o Senhor me disse: Não passarás este Jordão.
3 O Senhor teu Deus passará adiante de ti; ele destruirá estas nações de diante de ti, para que as possuas. Josué passará adiante de ti, como o Senhor disse.
4 E o Senhor lhes fará como fez a Siom e a Ogue, reis dos amorreus, e à sua terra, aos quais destruiu.
5 Quando, pois, o Senhor vo-los entregar, fareis com eles conforme todo o mandamento que vos tenho ordenado.
6 Sede fortes e corajosos; não temais, nem vos atemorizeis diante deles; porque o Senhor vosso Deus é quem vai convosco. Não vos deixará, nem vos desamparará.
7 Então chamou Moisés a Josué, e lhe disse à vista de todo o Israel: Sê forte e corajoso, porque tu entrarás com este povo na terra que o Senhor, com juramento, prometeu a teus pais lhes daria; e tu os farás herdá-la.
8 O Senhor, pois, é aquele que vai adiante de ti; ele será contigo, não te deixará, nem te desamparará. Não temas, nem te espantes.
9 Moisés escreveu esta lei, e a entregou aos sacerdotes, filhos de Levi, que levavam a arca do pacto do Senhor, e a todos os anciãos de Israel.
10 Também Moisés lhes deu ordem, dizendo: Ao fim de cada sete anos, no tempo determinado do ano da remissão, na festa dos tabernáculos,
11 quando todo o Israel vier a comparecer perante ao Senhor teu Deus, no lugar que ele escolher, lereis esta lei diante de todo o Israel, para todos ouvirem.
12 Congregai o povo, homens, mulheres e pequeninos, e os estrangeiros que estão dentro das vossas portas, para que ouçam e aprendam, e temam ao Senhor vosso Deus, e tenham cuidado de cumprir todas as palavras desta lei;
13 e que seus filhos que não a souberem ouçam, e aprendam a temer ao Senhor vosso Deus, todos os dias que viverdes sobre a terra a qual estais passando o Jordão para possuir.
14 Também disse o Senhor a Moisés: Eis que vem chegando o dia em que hás de morrer. Chama a Josué, e apresentai-vos na tenda da revelação, para que eu lhe dê ordens. Assim foram Moisés e Josué, e se apresentaram na tenda da revelação.
15 Então o Senhor apareceu na tenda, na coluna de nuvem; e a coluna de nuvem parou sobre a porta da tenda.
16 E disse o Senhor a Moisés: Eis que dormirás com teus pais; e este povo se levantará, e se prostituirá indo após os deuses estranhos da terra na qual está entrando, e me deixará, e quebrará o meu pacto, que fiz com ele.
17 Então se acenderá a minha ira naquele dia contra ele, e eu o deixarei, e dele esconderei o meu rosto, e ele será devorado. Tantos males e angústias o alcançarão, que dirá naquele dia: Não é, porventura, por não estar o meu Deus comigo, que me sobrevieram estes males?
18 Esconderei pois, totalmente o meu rosto naquele dia, por causa de todos os males que ele tiver feito, por se haver tornado para outros deuses.
19 Agora, pois, escrevei para vós este cântico, e ensinai-o aos filhos de Israel; ponde-o na sua boca, para que este cântico me sirva por testemunha contra o povo de Israel.
20 Porque o introduzirei na terra que, com juramento, prometi a seus pais, terra que mana leite e mel; comerá, fartar-se-á, e engordará; então, tornando-se para outros deuses, os servirá, e me desprezará, violando o meu pacto.
21 E será que, quando lhe sobrevierem muitos males e angústias, então este cântico responderá contra ele por testemunha, pois não será esquecido da boca de sua descendência; porquanto conheço a sua imaginação, o que ele maquina hoje, antes de eu o ter introduzido na terra que lhe prometi com juramento.
22 Assim Moisés escreveu este cântico naquele dia, e o ensinou aos filhos de Israel.
23 E ordenou o Senhor a Josué, filho de Num, dizendo: sê forte e corajoso, porque tu introduzirás os filhos de Israel na terra que, com juramento, lhes prometi; e eu serei contigo.
24 Ora, tendo Moisés acabado de escrever num livro todas as palavras desta lei,
25 deu ordem aos levitas que levavam a arca do pacto do Senhor, dizendo:
26 Tomai este livro da lei, e ponde-o ao lado da arca do pacto do Senhor vosso Deus, para que ali esteja por testemunha contra vós.
27 Porque conheço a vossa rebeldia e a vossa dura cerviz; eis que, vivendo eu ainda hoje convosco, rebeldes fostes contra o Senhor; e quanto mais depois da minha morte!
28 Congregai perante mim todos os anciãos das vossas tribos, e vossos oficiais, para que eu fale estas palavras aos seus ouvidos, e tome por testemunhas contra eles o céu e a terra.
29 Porque eu sei que depois da minha morte certamente vos corrompereis, e vos desviareis do caminho que vos ordenei; então este mal vos sobrevirá nos últimos dias, quando fizerdes o que é mau aos olhos do Senhor, para o provocar à ira com a obra das vossas mãos.


30 Então Moisés proferiu todas as palavras deste cântico, ouvindo-o toda a assembleia de Israel:“ (Dt 31.1-30).


Deuteronômio 32

O Cântico Profético Relativo à Apostasia

O cântico que protestaria contra a infidelidade e apostasia dos israelitas, conforme prenunciado por Deus no capítulo anterior, está registrado nos versos 1 a 43 deste 32º capítulo de Deuteronômio.
Neste cântico Deus registra a vingança da Sua ira contra aqueles que se mantêm deliberadamente na prática do pecado.
São ameaças terríveis que os israelitas teriam sempre diante de si, toda vez que o cantassem, e se lembrariam do caráter justo e de reto juiz, do Senhor.
Ele é perdoador e compassivo, mas não inocenta o culpado, e por isso todos responderão perante Ele por suas ações e omissões.
“Porque é necessário que todos sejamos manifestos diante do tribunal de Cristo, para que cada um receba o que fez por meio do corpo, segundo o que praticou, o bem ou o mal.” (II Cor 5.10).  
Este cântico é uma doutrina, isto é, um ensino, como se declara no verso 2, na parte introdutória do cântico, e se deseja que as palavras deste ensino sejam como a chuva, mas não a chuva torrencial, senão a que destila como orvalho, como chuvisco sobre a erva e chuvas sobre a relva.
É o nome do Senhor que seria proclamado para que fosse engrandecido pelo Seu povo (v. 3).
Isto deve penetrar como a chuva fina, que amolece a terra e que a deixa impregnada de umidade, e não como a chuva forte que escoa rapidamente pela superfície.
A Palavra de Deus deve ser meditada, como que ruminada, de modo que possa penetrar profundamente no coração e ali fazer o seu trabalho e amolecer a sequidão e dureza de espírito, de modo que se disponha a se submeter ao que é procedente do Senhor, e seja habilitado a praticá-lo.
Quantos mandamentos Israel não deveria cumprir!
Quanta comunhão era exigida para terem com o seu Deus!
E como eles poderiam fazê-lo a não ser por um trabalho de encherem suas mentes, corações e almas com a doutrina da Palavra do Senhor?
É por isso que muitos dos salmos de Davi são intitulados Masquil, isto é, para dar instrução.
Esta doutrina que cai do céu como chuva tem o propósito de preparar a terra do coração para dar frutos para Deus.
“Porque, assim como a chuva e a neve descem dos céus e para lá não tornam, mas regam a terra, e a fazem produzir e brotar, para que dê semente ao semeador, e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca: ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei.” (Is 55.10,11).
A primeira coisa que se declara é que a honra de Deus seria preservada.
O Senhor vindicaria a santidade do Seu nome visitando com juízos a apostasia do Seu povo.
Ninguém poderá falar contra a justiça de Deus, por ser parcial com o Seu povo, pois Ele corrigirá os pecados deles com total imparcialidade, de modo que seja testemunhada a Sua justiça e santidade a todos os viventes, tanto os do céu quanto os da terra.
Aqueles que são chamados pelo nome do Senhor devem santificar o Seu nome.
Quando eles não o fazem, Deus vindicará a Sua santidade neles, revelando pelos Seus juízos que Ele nada tem a ver com os pecados que eles praticam.
“Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os seus ouvidos atento à sua súplica; mas o rosto do Senhor é contra os que fazem o mal.” (I Pe 3.12).
É isto que diz o apóstolo, em resumo, no que consiste o teor do cântico.
Deus julga com imparcialidade e não deixará de dar a devida paga aos que praticam males.
O caráter imutável de Deus é designado por cinco vezes neste 32º capítulo de Deuteronômio, como sendo Ele a Rocha (v. 4, 15, 18, 30, 31). Não uma Rocha fria, insensível, implacável, impiedosa, mas uma Rocha viva, santa, amável, justa, inabalável, imutável.
O cântico demonstra isto, pois não é uma ameaça tirânica, senão um lamento de quem vê se estragar aquilo que era de tanta estima.
Israel foi escolhido para ser adotado como filho de Deus (v. 6 a 9).
As palavras do cântico prosseguem dizendo que o Senhor cercou Israel de proteção e cuidou dele guardando-o como a menina do seu olho (v. 10), e os conduziu como a águia carrega os seus pintainhos sobre as suas asas (v. 11), e os fez cavalgar sobre as alturas da terra, e comer os frutos do campo e lhes deu o melhor da terra (v. 13,14), e assim eram guiados pelo Senhor porque não havia com eles deuses estranhos (v. 12).
Este cântico não é o lamento do coração de um pai por um filho perdido, que se extraviou em seus caminhos?
Não é um lamento pela perda de um bem precioso?
Quanto dói no coração de Deus ver Seus filhos apostatarem da Sua presença!
Isto não pode ser considerado de forma fria, técnica, meramente em afirmações teológicas, que não levem em conta esta grande realidade do que sente a pessoa de Deus pelos nossos descaminhos.
Não podemos dizer simplesmente que aquele que apostata da fé será firmado na perseverança caso seja um verdadeiro eleito de Deus, como se estivéssemos falando de coisas inanimadas.
Há dores e perdas envolvidas nesta questão.
Não há nenhum agrado em Deus em ter que corrigir os Seus filhos que se desviam.
Não há nenhum prazer nEle em ver Seus filhos se desviando dos Seus caminhos.
O Espírito Santo se entristece em nós quando nos desviamos, revelando a profunda tristeza que há no coração do Senhor.
Ele nos corrigirá, é certo, porque é um Pai perfeito que não deixa de corrigir os filhos que ama.
Mas isto dói muito mais nEle do que em nós. Podemos estar certos disto, porque se diz:
 “Em toda a angústia deles foi ele angustiado, e o anjo da sua presença os salvou; no seu amor, e na sua compaixão ele os remiu; e os tomou, e os carregou todos os dias da antiguidade.” (Is 63.9).      
Deus é a Rocha porque Ele é o fundamento da vida eterna.
Fora dEle não há vida espiritual eterna.
A própria humanidade somente pode ser vivida se estiver fundamentada nEle que é a Rocha, porque o homem foi criado à Sua imagem e semelhança.
Como haverá acordo e harmonia então quando o homem caminha em sentido contrário ao que foi estabelecido por Deus?
Deus é a Rocha sobre a qual devemos edificar as nossas vidas.
A Sua Palavra é a verdade e podemos confiar inteiramente nas Suas promessas, porque Ele não pode mentir e é fiel em cumprir tudo o que tem prometido.
Ele nunca enganou qualquer pessoa que nEle confiou, e nunca prejudicou a qualquer um com injustiça, e nem foi duro com qualquer pessoa que clamou pela Sua misericórdia.
Deus não entregou o Seu povo à corrupção, mas eles se corromperam pela própria maldade deles, apesar de terem sido chamados tantas vezes ao arrependimento.
O caráter de Deus permanecia imutável como a Rocha, mas o deles era totalmente contrário ao caráter de Deus. Eles seriam os autores do seu próprio pecado e ruína.
As palavras deste cântico lhes ensinava claramente isto, usando estas expressões:
“Corromperam-se contra ele; não são seus filhos, e isso é a sua mancha; geração perversa e depravada é. É assim que recompensas ao Senhor, povo louco e insensato?” (v. 5, 6).
“e disse: Esconderei deles o meu rosto, verei qual será o seu fim, porque geração perversa são eles, filhos em quem não há fidelidade.” (v. 20).
“Porque são gente falta de conselhos, e neles não há entendimento.” (v. 28).
É dito deles que não são filhos de Deus, mas manchas.
É preciso considerar que os cristãos verdadeiros são filhos de Deus apesar de ainda carregarem neste mundo as manchas do pecado.
Mas o pecado de Israel não era como o dos cristãos da Igreja de Cristo.
Não era uma fraqueza contra a qual eles se esforçavam, vigiavam e oravam contra ela, mas um mal que estava completamente fixado nos corações deles.
Eles eram guiados por um espírito de contradição e faziam o que era proibido porque foi proibido, e fariam o que era da própria imaginação deles em oposição à vontade de Deus.
Por isso se diz que não eram filhos, mas uma mancha, um borrão. Pois o que se podia ver do caráter de Deus neles?
O cântico seria assim um lamento mas também uma forma de adverti-los quanto à real predisposição da natureza deles.
Se eles desejassem prevalecer com Deus e com os homens, eles teriam que se voltar para Ele e aprenderem e guardarem os Seus mandamentos.
O Novo Testamento também não esconde dos cristãos a realidade sobre a fraqueza da sua natureza terrena, que eles têm o dever de mortificar para serem revestidos das virtudes de Cristo.
À vista do cuidado amoroso de Deus todos os pecadores rebeldes, especialmente os de Israel, são as pessoas menos inteligentes e mais ingratas do mundo.
Por isso se diz: “povo louco e ignorante”, porque não conseguem ver a bondade e as perfeições do Criador, e a disponibilidade de graça que há nEle para os que O temem e O amam, para serem transformados à imagem de Cristo.
Nos versos 15 a 18 é destacado o fato de que foi pelo aumento da própria prosperidade que Israel veio a apostatar de Deus.
Deus envia a prosperidade para o Seu povo, mas é preciso permanecer em humildade perante Ele, para que o nosso coração não seja enlaçado pelo orgulho, pelo prazer sensual, pela insolência e por outros abusos comuns à abundância e prosperidade.
A palavra hebraica Jesurum (v. 15), nome simbólico aplicado a Israel, significa próspero, reto. Assim, Israel não se desviaria por causa da penúria, mas na sua própria prosperidade.
Eles se desviariam em seus apetites carnais e no seu amor ao mundo e àquilo que no mundo está esquecendo-se da sua vocação e compromisso com Deus.
A bênção da prosperidade pode se transformar numa armadilha para a apostasia se não guardarmos o coração em fidelidade à vontade do Senhor.
Isto é também um perigo para os cristãos da Igreja de Cristo, e daí não serem poucas as exortações que encontramos também no Novo Testamento contra o amor ao mundo e ao dinheiro, que pode facilmente ocupar o lugar que é devido ao amor a Deus e à Sua Palavra.      
O dinheiro pode se transformar facilmente numa espécie de falso deus, e vir a ser objeto de idolatria. E, não somente o dinheiro, como tudo aquilo que ele pode comprar.
A partir do verso 19 até o final do cântico no 43 são pronunciados os juízos que o Senhor traria sobre os Seus inimigos.
Foi baseado no versículo 35 que Jonathan Edwards elaborou o seu sermão textual que veio a ser intitulado “Pecadores nas Mãos de Um Deus Irado.“
Deus revela claramente nesta porção das Escrituras que não se deixará escarnecer pelos tolos incrédulos que não dão a devida atenção às Suas advertências. Muito ao contrário, será Ele quem os desprezará e esconderá deles o Seu rosto (v. 19, 20).
Um juízo terrível é pronunciado sobre aqueles que desprezarem o Senhor nos versos 22 a 25.
Se é isto o que é dito aos ímpios de Israel, da nação que Ele elegeu, o que devem esperar os ímpios das nações pagãs?
Há um fogo que é aceso pela ira do Senhor e que arde até o mais profundo do inferno (v. 22). Um fogo consumidor do pecado e que se acende contra o pecado.
É por porções como esta da Palavra de Deus que chegamos a conhecer o quanto Ele abomina o pecado, e é somente assim que podemos chegar a ter um verdadeiro temor e tremor quanto ao nosso modo de caminhar na Sua presença.
É por isso que se ordena que se medite na Palavra de Deus em todo o tempo, e que se aprenda tudo o que convém ser aprendido, não se omitindo nem se alterando o que ela contém.
A promessa de misericórdia constante do capítulo precedente (31) não deveria ser entendida então como um indulto para a prática do pecado.
A reconciliação de eventuais apostasias deve ser portanto vista como exceção e não como regra.
Não é algo de que devemos dispor segundo a nossa própria deliberação e vontade, senão algo que deve ser evitado a todo o custo, sabendo nós o quanto Deus detesta o pecado e a apostasia.
Para que não tivéssemos dúvidas quanto a isto, foi ordenado a Moisés que ensinasse ao Seu povo as palavras deste cântico contido nos versos 1 a 43 deste capítulo.
A partir do verso 26 Deus revela claramente que faz distinção entre aqueles que o servem e aqueles que não o servem. Como no dizer de Pedro, Ele sabe livrar da provação os piedosos e reservar sob castigo os injustos para o dia do juízo (II Pe 2.9).
O verdadeiro Israel seria vindicado por Deus contra os ímpios que lhes haviam oprimido (v. 36, 43). O justo não será desamparado e esquecido pelo Deus Justo e Santo.
Ainda que ele padeça por causa dos pecados dos ímpios, por viver num mundo sujeito ao pecado, Deus lhe fará justiça por perseverar em segui-Lo e guardar os Seus mandamentos.
Deus o fará sempre porque o tem prometido, e isto está em conformidade com o Seu caráter justo.
Ele tomará vingança contra os inimigos do verdadeiro Israel, que é composto pelas pessoas que o temem e amam.
Por isso os cristãos não devem vingar a si mesmos, mas dar lugar à ira de Deus que se manifestará no momento próprio, em juízo, para julgar a causa deles com justiça.
“Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira de Deus, porque está escrito: Minha é a vingança, eu retribuirei, diz o Senhor.” (Rm 12.19).
Os cristãos são exortados a não apenas deixarem todo juízo nas mãos de Deus, como a amarem os seus inimigos, não porque eles o mereçam, mas por causa da sua consciência para com Deus, e por reconhecerem que somente Deus pode julgar com perfeita justiça.
Nações pagãs seriam o instrumento de Deus para castigar o pecado de Israel, e estas nações viriam a se elevar contra o próprio Deus por infamarem o Seu nome e desonrá-lo pelo que viriam a fazer ao povo que levava o Seu próprio nome.
Mas Ele não deixaria o pecado deles sem o devido castigo, e lhes daria o pago diretamente das Suas mãos.
Havendo tal Juiz sobre toda a terra, que tudo vê, e retribui a cada um conforme as suas próprias obras, não seria sábio considerar em todo o tempo o temor e tremor com que devemos andar em Sua presença?
Deus é longânimo e dá tempo à grande maioria dos pecadores para que se arrependam e se convertam dos seus pecados. Mas o juízo já está determinado, o fogo do inferno já está aceso de há muito, e a execução da condenação se apressa, e somente está em Deus submeter os seus inimigos à execução do juízo.
A rebelião contra a fé em Cristo será vingada no devido tempo, no momento oportuno. O que aparenta agora estar de pé virá a cair para nunca mais se levantar (v. 35).
Deus julgará o seu povo (v. 36; Hb 10.30), isto é, julgará a causa do seu povo contra os seus inimigos. Como se vê no clamor dos cristãos em Apo 6.9,10:
“Quando abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que deram. E clamaram com grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano, santo e verdadeiro, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?”
Quando as coisas parecem não ter mais remédio, é quando Deus entra em cena para libertar o seu povo. Ele permite que assim seja para provar a nossa fé e nos mover à oração, de modo que vejamos que Ele encherá a face dos seus inimigos de vergonha e os corações dos seus servos com uma maior alegria por salvá-los como quem livra alguém do fogo.  
“E não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que dia e noite clamam a ele, já que é longânimo para com eles?” (Lc 18.7).
Mas aqueles que se voltam para os falsos deuses ficarão sem ajuda porque eles não poderão ajudá-los no dia da sua calamidade. Quem se levantará para tentar impedir o juízo de Deus contra aqueles que o abandonam para adorarem outros deuses?
“Então dirá: Onde estão os seus deuses, a rocha em que se refugiavam, os que comiam a gordura dos sacrifícios deles e bebiam o vinho das suas ofertas de libação? Levantem-se eles, e vos ajudem, a fim de que haja agora refúgio para vós. Vede agora que eu, eu o sou, e não há outro deus além de mim; eu faço morrer e eu faço viver; eu firo e eu saro; e não há quem possa livrar da minha mão.” (v. 37 a 39).
É nas mãos de Deus que está o poder sobre a vida e sobre a morte. Nem mesmo demônios que atuam por detrás da falsa adoração podem matar a quem quer que seja se não for permitido por Deus, a quem pertence o poder sobre a vida e a morte.
 “E, aproximando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra.” (Mt 28.18).
“Eu sou o que vivo; fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre! e tenho as chaves da morte e do inferno.” (Apo 1.18).
O Senhor tenta trazer aos israelitas este entendimento que somente Ele é Deus, de modo que eles não viessem a temer e servir outros deuses para a própria ruína deles.
No verso 44 é descrita a entrega solene do cântico a todos os israelitas, por Moisés e Josué, que o sucederia.
Eles são alertados quanto ao teor daquelas palavras bem como de toda a Lei, que não deveriam ser reputadas como coisa vã, pois em atentar para elas e obedecê-las estava a própria vida deles (v. 45).
A desobediência de Moisés e Arão nas águas de Meribá não lhes furtou o céu que eles haviam alcançado pela graça, mediante a fé.
Arão já havia sido convocado à eternidade, e agora seria a vez de Moisés, pois lhe foi ordenado tão logo depois que pronunciou as palavras deste cântico, que subisse o monte de Abarim (Nebo), que ficava nas terras de Moabe, onde ele morreria (v. 48-52).





“1 Inclinai os ouvidos, ó céus, e falarei; e ouça a terra as palavras da minha boca.
2 Caia como a chuva a minha doutrina; destile a minha palavra como o orvalho, como chuvisco sobre a erva e como chuvas sobre a relva.
3 Porque proclamarei o nome do Senhor; engrandecei o nosso Deus.
4 Ele é a Rocha; suas obras são perfeitas, porque todos os seus caminhos são justos; Deus é fiel e sem iniquidade; justo e reto é ele.
5 Corromperam-se contra ele; não são seus filhos, e isso é a sua mancha; geração perversa e depravada é.
6 É assim que recompensas ao Senhor, povo louco e insensato? não é ele teu pai, que te adquiriu, que te fez e te estabeleceu?
7 Lembra-te dos dias da antiguidade, atenta para os anos, geração por geração; pergunta a teu pai, e ele te informará, aos teus anciãos, e eles to dirão.
8 Quando o Altíssimo dava às nações a sua herança, quando separava os filhos dos homens, estabeleceu os termos dos povos conforme o número dos filhos de Israel.
9 Porque a porção do Senhor é o seu povo; Jacó é a parte da sua herança.
10 Achou-o numa terra deserta, e num erma de solidão e horrendos uivos; cercou-o de proteção; cuidou dele, guardando-o como a menina do seu olho.
11 Como a águia desperta o seu ninho, adeja sobre os seus filhos e, estendendo as suas asas, toma-os, e os leva sobre as suas asas,
12 assim só o Senhor o guiou, e não havia com ele deus estranho.
13 Ele o fez cavalgar sobre as alturas da terra, e comer os frutos do campo; também o fez chupar mel da rocha e azeite da dura pederneira,
14 coalhada das vacas e leite das ovelhas, com a gordura dos cordeiros, dos carneiros de Basã, e dos bodes, com o mais fino trigo; e por vinho bebeste o sangue das uvas.
15 E Jesurum, engordando, recalcitrou (tu engordaste, tu te engrossaste e te cevaste); então abandonou a Deus, que o fez, e desprezou a Rocha da sua salvação.
16 Com deuses estranhos o moveram a zelos; com abominações o provocaram à ira:
17 Ofereceram sacrifícios aos demônios, não a Deus, a deuses que não haviam conhecido, deuses novos que apareceram há pouco, aos quais os vossos pais não temeram.
18 Olvidaste a Rocha que te gerou, e te esqueceste do Deus que te formou.
19 Vendo isto, o Senhor os desprezou, por causa da provocação que lhe fizeram seus filhos e suas filhas;
20 e disse: Esconderei deles o meu rosto, verei qual será o seu fim, porque geração perversa são eles, filhos em quem não há fidelidade.
21 A zelos me provocaram cem aquilo que não é Deus, com as suas vaidades me provocaram à ira; portanto eu os provocarei a zelos com aquele que não é povo, com uma nação insensata os despertarei à ira.
22 Porque um fogo se acendeu na minha ira, e arde até o mais profundo do Seol, e devora a terra com o seu fruto, e abrasa os fundamentos dos montes.
23 Males amontoarei sobre eles, esgotarei contra eles as minhas setas.
24 Consumidos serão de fome, devorados de raios e de amarga destruição; e contra eles enviarei dentes de feras, juntamente com o veneno dos que se arrastam no pó.
25 Por fora devastará a espada, e por dentro o pavor, tanto ao mancebo como à virgem, assim à criança de peito como ao homem encanecido.
26 Eu teria dito: Por todos os cantos os espalharei, farei cessar a sua memória dentre os homens,
27 se eu não receasse a vexação da parte do inimigo, para que os seus adversários, iludindo-se, não dissessem: A nossa mão está exaltada; não foi o Senhor quem fez tudo isso.
28 Porque são gente falta de conselhos, e neles não há entendimento.
29 Se eles fossem sábios, entenderiam isso, e atentariam para o seu fim!
30 Como poderia um só perseguir mil, e dois fazer rugir dez mil, se a sua Rocha não os vendera, e o Senhor não os entregara?
31 Porque a sua rocha não é como a nossa Rocha, sendo até os nossos inimigos juízes disso.
32 Porque a sua vinha é da vinha de Sodoma e dos campos de Gomorra; as suas uvas são uvas venenosas, seus cachos são amargos.
33 O seu vinho é veneno de serpentes, e peçonha cruel de víboras.
34 Não está isto encerrado comigo? selado nos meus tesouros?
35 Minha é a vingança e a recompensa, ao tempo em que resvalar o seu pé; porque o dia da sua ruína está próximo, e as coisas que lhes hão de suceder se apressam a chegar.
36 Porque o Senhor vindicará ao seu povo, e se arrependerá no tocante aos seus servos, quando vir que o poder deles já se foi, e que não resta nem escravo nem livre.
37 Então dirá: Onde estão os seus deuses, a rocha em que se refugiavam,
38 os que comiam a gordura dos sacrifícios deles e bebiam o vinho das suas ofertas de libação? Levantem-se eles, e vos ajudem, a fim de que haja agora refúgio para vós.
39 Vede agora que eu, eu o sou, e não há outro deus além de mim; eu faço morrer e eu faço viver; eu firo e eu saro; e não há quem possa livrar da minha mão.
40 Pois levanto a minha mão ao céu, e digo: Como eu vivo para sempre,
41 se eu afiar a minha espada reluzente, e a minha mão travar do juízo, então retribuirei vingança aos meus adversários, e recompensarei aos que me odeiam.
42 De sangue embriagarei as minhas setas, e a minha espada devorará carne; do sangue dos mortes e dos cativos, das cabeças cabeludas dos inimigos
43 Aclamai, ó nações, com alegria, o povo dele, porque ele vingará o sangue dos seus servos; aos seus adversários retribuirá vingança, e fará expiação pela sua terra e pelo seu povo.
44 Veio, pois, Moisés, e proferiu todas as palavras deste cântico na presença do povo, ele e Oseias, filho de Num.
45 E, acabando Moisés de falar todas essas palavras a todo o Israel,
46 disse-lhes: Aplicai o vosso coração a todas as palavras que eu hoje vos testifico, as quais haveis de recomendar a vossos filhos, para que tenham cuidado de cumprir todas as palavras desta lei.
47 Porque esta palavra não vos é vã, mas é a vossa vida, e por esta mesma palavra prolongareis os dias na terra à qual ides, passando o Jordão, para a possuir.
48 Naquele mesmo dia falou o Senhor a Moisés, dizendo:
49 Sobe a este monte de Abarim, ao monte Nebo, que está na terra de Moabe, defronte de Jericó, e vê a terra de Canaã, que eu dou aos filhos de Israel por possessão;
50 e morre no monte a que vais subir, e recolhe-te ao teu povo; assim como Arão, teu irmão, morreu no monte Hor, e se recolheu ao seu povo;
51 porquanto pecastes contra mim no meio dos filhos de Israel, junto às águas de Meribá de Cades, no deserto de Zim, pois não me santificastes no meio dos filhos de Israel.


52 Pelo que verás a terra diante de ti, porém lá não entrarás, na terra que eu dou aos filhos de Israel.“ (Dt 32.1-52).



Deuteronômio 33

A Bênção Profética de Moisés

Pouco antes de sua morte, assim como Jacó fizera em relação aos seus filhos, que viriam a compor as tribos de Israel, Moisés também abençoou profeticamente a cada uma das tribos.
Ele os abençoou como homem de Deus (v. 1), como o mediador da aliança que Deus fizera com eles, como o profeta que lhes falou acerca da vontade de Deus segundo aquela aliança.
Moisés introduz a sua bênção descrevendo os aparecimentos gloriosos de Deus a eles, lhes dando a lei, e a glória divina iluminou não somente o Sinai, mas até mesmo os seus raios refletiram sobre os montes de Seir e Parã que estavam a certa distância do Sinai.
A lei é chamada de lei de fogo, porque foi dada a eles do meio do fogo, e porque opera como fogo queimando as consciências pecaminosas, com o fogo da revelação da santidade de Deus (v. 2).
O Espírito Santo desceu em Pentecoste com a aparência de línguas de fogo, porque o evangelho é também uma lei de fogo, porque queima e destrói o pecado nos nossos corações.
A Lei foi dada aos israelitas como uma lei de fogo, mas não para a destruição deles, senão para o seu benefício, porque é dito logo em seguida que Deus ama o seu povo e que todos os seus santos estão na sua mão, e que se colocam aos Seus pés para receberem dEle as Suas palavras (v.3).
Isto denota então que a Lei foi dada por amor e para que eles vivessem no amor de Deus, que tão ternamente os havia colocado sob a proteção e o cuidado da Sua mão, e os achegou carinhosamente aos seus pés, assim como um pai achega os seus filhos a si.
Todos os santos do Senhor estão firmemente seguros na Sua mão:
“eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que, mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai.” (Jo 10.28,29).
Jesus revelou o caráter deste amor de Deus pela nação de Israel quando proferiu acerca deles as seguintes palavras:
“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, apedrejas os que a ti são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e não o quiseste!” (Mt 23.37).
A Lei foi então um dom da graça divina para o seu povo.
Esta Palavra nos foi dada para o nosso bem, para nos conduzir das trevas para a luz.
Para nos ensinar a necessidade que temos da graça de Jesus.
Para nos ensinar quão justo, santo e amoroso é o nosso Deus.
A Lei é então uma herança para a congregação de Jacó (v. 4), isto é, para o Israel de Deus de todas as épocas.
E, todo aquele que tem a Palavra de Cristo habitando nele tem uma rica herança que o acompanhará por toda a eternidade.
A partir do verso 6 as bênçãos são iniciadas com a tribo de Rúben, da qual foi dito:
“Viva Rúben, e não morra; e não sejam poucos os seus homens.”
Esta tribo havia ocupado uma parte do território da Transjordânia e suas mulheres, filhos e gado ficariam aguardando pelos homens de guerra desta tribo enquanto eles fossem lutar com seus irmãos em Canaã, do outro lado do rio Jordão.
A bênção profética é então consoladora para todos daquela tribo, porque afirma que Rúben viverá e não morreria como tribo, e não seriam poucos os seus homens.
A bênção de Judá vem logo em seguida à de Rúben (v. 7):
“Ouve, ó Senhor, a voz de Judá e introduze-o no meio do seu povo; com as suas mãos pelejou por si; sê tu o seu auxílio contra os seus inimigos.”
Deus ouviria as orações de Judá e lutaria por eles, auxiliando-os contra os seus inimigos, sobre os quais lhes daria vitória.
E, ao dizer “introduze-o no meio do seu povo”, o que isto parece indicar é o que ocorreu: Judá viria a ser o centro das tribos de Israel, especialmente no sentido espiritual, porque o tabernáculo e o templo ficariam no seu território e seria para lá que todas as tribos rumariam anualmente para celebrar as festividades prescritas pela Lei.
Nos versos 8 a 11 nós temos a bênção da tribo de Levi.
O Senhor era a herança desta tribo, e dela seriam todos os sacerdotes, descendentes de Arão.
Cabia a ela os serviços do tabernáculo, e ensinar a Lei a Israel (v. 10).
O zelo deles por Deus é lembrado, pois ficaram do lado de Moisés quando os israelitas fabricaram o bezerro de ouro (v. 9), quando executaram os líderes daquela adoração ao bezerro, sem considerar laços de família e de amizade, por causa do zelo do Senhor, guardando a Sua Palavra e a aliança.
Moisés orou para que o Senhor aceitasse as obras das mãos dos levitas (v. 10) e que os fizesse prosperar contra aqueles que se levantassem contra eles na obra que faziam para Deus, e que prevalecessem sobre eles, de modo que nunca mais se levantassem.
A causa dos levitas era a causa de Deus e Deus evidentemente lutaria pela sua própria causa.
Os ministros do evangelho não devem temer em fazer a obra de Deus e especialmente no que concerne ao ensino e pregação da Sua Palavra, porque Deus mesmo lutará por eles, e vencerá todos os seus opositores.  
No verso 12 é descrita a bênção da tribo de Benjamim.
Ele é chamada de amado do Senhor e dele se diz que habitaria seguro junto de Deus, e o Senhor o guardaria todo o dia, e que habitaria entre os seus ombros.
Esta profecia teve um cumprimento especial quando a tribo de Benjamin foi a única que aderiu à tribo de Judá, quando as demais tribos apostataram nos dias do rei Jeroboão, quando Israel foi dividido em Reino do Norte e Reino do Sul.
Nos versos 13 a 17 é descrita a bênção de José, que englobava as tribos de Efraim e Manassés (v. 17 b), seus descendentes.
A fidelidade de José a Deus fez não somente que ele fosse distinguido pelo Senhor entre seus irmãos (v. 16), como garantiu a bênção de Deus para os seus descendentes, por amor dele e da sua fidelidade.
Assim como os descendentes de Davi foram abençoados por causa do amor de Deus a ele, em face da fidelidade que ele demonstrou durante toda a sua vida.
Isto é um incentivo para aqueles que temem ao Senhor e andam nos seus caminhos, porque não somente eles têm a promessa de serem abençoados como Deus tem prometido usar de misericórdia com a descendência deles:
“Saberás, pois, que o Senhor teu Deus é que é Deus, o Deus fiel, que guarda o pacto e a misericórdia, até mil gerações, aos que o amam e guardam os seus mandamentos;” (Dt 7.9).
Não é por acaso que grandes ministérios são observados ao longo da história da Igreja, dentro de famílias cujos patriarcas serviram fielmente a Deus.
Deus marca a vida dos seus servos fiéis nas gerações subsequentes, especialmente dentro da sua descendência, como prova da fidelidade deles.    
Deste modo, é destacado que as bênçãos da tribo de Efraim e Manassés lhes estavam sendo destinadas por causa da fidelidade de José.
Eles teriam grande abundância (v. 13 a 16) e poder bélico (v. 17).
As bênçãos de Zebulom e de Issacar são proferidas em conjunto porque ambos eram filhos de Jacó com Lia, e porque os lotes deles em Canaã ficariam próximos:
“De Zebulom disse: Zebulom, alegra-te nas tuas saídas; e tu, Issacar, nas tuas tendas”.
“Eles chamarão os povos ao monte; ali oferecerão sacrifícios de justiça, porque chuparão a abundância dos mares e os tesouros escondidos da areia.” (v. 18 e 19).
Zebulom se alegraria nas suas saídas porque era um porto de navios, e Deus lhes faria prosperar em suas viagens em comércio marítimo.
E Issacar tem motivo para se alegrar em suas tendas porque eles prosperariam em seus trabalhos na terra.
Deus em sua Providência vocaciona e dá dons aos homens, e até mesmo a nações.
Era para o bem de Israel que os homens de Zebulom seriam comerciantes, e os de Issacar fazendeiros.
Nos versos 20 e 21 é citada a bênção da tribo de Gade.
Esta era uma das tribos que estava assentada na Transjordânia, juntamente com a tribo de Rúben e metade da tribo de Manassés.
Eles seriam aumentados em número e eles tirariam a força dos seus inimigos (como leoa que devora o braço) e a autoridade política deles (a coroa da cabeça).
É dito que eles se proveram da primeira parte (v. 21) e isto se refere ao fato de terem sido a primeira tribo a ter território designado para ser ocupado, antes mesmo da tribo de Rúben e Manassés que herdariam juntamente com eles na Transjordânia (Nm 32.2).
No verso 22 é citada a bênção de Dã:
“Dã é leãozinho, que salta de Basã.”
Dã é comparado em coragem a um leão.
A bênção de Naftali é citada no verso 23:
“ó Naftali, saciado de favores, e farto da bênção do Senhor, possui o lago e o sul.”
Naftali está satisfeito com os favores e a bênção do Senhor.
A satisfação da alma traz verdadeira alegria ao coração.
Os que estão satisfeitos em toda e qualquer situação têm o favor e a bênção de Deus.
Nos versos 24 e 25 é descrita a bênção de Aser:
“Bendito seja Aser dentre os filhos de Israel; seja o favorecido de seus irmãos; e mergulhe em azeite o seu pé; de ferro e de bronze sejam os teus ferrolhos; e como os teus dias, assim seja a tua força.”
Aser era agora uma tribo numerosa (Nm 26.47). Eles teriam a estima das demais tribos. E, tal seria a abundância de azeite em suas terras que eles não ungiriam somente a cabeça mas também os pés.
Eles teriam cidades fortificadas por portas com ferrolhos de ferro e de bronze, e eles receberiam força e longevidade da parte do Senhor.
Concluindo as bênçãos, Moisés se dirige a todo o Israel, chamando-o pelo seu nome simbólico hebraico de Jesurum, que como vimos significa alguém próspero e justo, e exaltou a Deus dizendo que não há semelhante a Ele, que cavalga sobre o céu na Sua majestade nas mais altas nuvens para ajudar o Seu povo (v. 26).
As demais nações adoravam a falsos deuses que não tinham por propósito ajudá-las e nem mesmo poderiam fazê-lo, porque toda falsa adoração é inspirada por demônios, e estes não têm qualquer outra ação e propósito que não sejam voltados para o mal.
O Deus Altíssimo, apesar de toda Sua Majestade, onipotência e santidade, é o Deus que se deixa achar pelo Seu povo e tem comunhão com ele, quando este anda em retidão e santidade.
Moisés lhes disse que o Deus eterno era a morada de Israel, e os carregava em Seus braços eternos, arrojando os inimigos de Israel, ordenando-lhes que os destruíssem (v. 27).
A destruição dos cananeus pelos israelitas prefigurava a destruição final de todos os pecadores que são inimigos de Deus.
O pecado será destruído por Deus no Juízo Final, aonde quer que ele se encontre.
É dever de todo cristão cooperar com o trabalho do Espírito Santo e da graça de Jesus em destruir o pecado em si mesmo e na Igreja do Senhor.
Esta destruição de tão grande inimigo é determinada pelo próprio Deus ao Seu povo.
Nisto se inclui toda tentação maligna proveniente dos espíritos das trevas.
O capitão da nossa salvação expulsou o inimigo diante de nós quando ele venceu o mundo e expôs os principados e potestades ao desprezo na cruz; e nos tem comandado agora: "Destrua-os; procure a vitória, e você dividirá o espólio."
 A par de todos os protestos da Lei contra a futura apostasia de Israel, é dito o que se lê no final deste capitulo:
“Israel pois habitará seguro, a fonte de Jacó a sós, na terra de grão e de mosto; e o seu céu gotejará o orvalho. Feliz és tu, ó Israel! quem é semelhante a ti? um povo salvo pelo Senhor, o escudo do teu socorro, e a espada da tua majestade; pelo que os teus inimigos te serão sujeitos, e tu pisarás sobre as suas alturas.“ ( v. 28 e 29).





“1 Esta é a bênção com que Moisés, homem de Deus, abençoou os filhos de Israel antes da sua morte.
2 Disse ele: O Senhor veio do Sinai, e de Seir raiou sobre nós; resplandeceu desde o monte Parã, e veio das miríades de santos; à sua direita havia para eles o fogo da lei.
3 Na verdade ama o seu povo; todos os seus santos estão na sua mão; postos serão no meio, entre os teus pés, e cada um receberá das tuas palavras.
4 Moisés nos prescreveu uma lei, uma herança para a assembleia de Jacó.
5 E tornou-se rei em Jesurum, quando se congregaram os cabeças do povo juntamente com as tribos de Israel.
6 Viva Rúben, e não morra; e não sejam poucos os seus homens.
7 E isto é o que disse de Judá: Ouve, ó Senhor, a voz de Judá e introduze-o no meio do seu povo; com as suas mãos pelejou por si; sê tu o seu auxílio contra os seus inimigos.
8 De Levi disse: Sejam teu Tumim e teu Urim para o teu homem santo, que provaste em Massá, com quem contendeste junto às águas de Meribá;
9 aquele que disse de seu pai e de sua mãe: Nunca os vi, e não reconheceu a seus irmãos, e não conheceu a seus filhos; pois esses levitas guardaram a tua palavra e observaram o teu pacto.
10 Ensinarão os teus preceitos a Jacó, e a tua lei a Israel; chegarão incenso ao seu nariz, e porão holocausto sobre o teu altar.
11 Abençoa o seu poder, ó Senhor, e aceita a obra das suas mãos; fere os lombos dos que se levantam contra ele e o odeiam, para que nunca mais se levantem.
12 De Benjamim disse: O amado do Senhor habitará seguro junto a ele; e o Senhor o cercará o dia todo, e ele habitará entre os seus ombros.
13 De José disse: Abençoada pelo Senhor seja a sua terra, com os mais excelentes dons do céu, com o orvalho, e com as águas do abismo que jaz abaixo;
14 com os excelentes frutos do sol, e com os excelentes produtos dos meses;
15 com as coisas mais excelentes dos montes antigos, e com as coisas excelentes dos outeiros eternos;
16 com as coisas excelentes da terra, e com a sua plenitude, e com a benevolência daquele que habitava na sarça; venha tudo isso sobre a cabeça de José, sobre o alto da cabeça daquele que é príncipe entre seus irmãos.
17 Eis o seu novilho primogênito; ele tem majestade; e os seus chifres são chifres de boi selvagem; com eles rechaçará todos os povos, sim, todas as extremidades da terra. Tais são as miríades de Efraim, e tais são os milhares de Manassés.
18 De Zebulom disse: Zebulom, alegra-te nas tuas saídas; e tu, Issacar, nas tuas tendas.
19 Eles chamarão os povos ao monte; ali oferecerão sacrifícios de justiça, porque chuparão a abundância dos mares e os tesouros escondidos da areia.
20 De Gade disse: Bendito aquele que faz dilatar a Gade; habita como a leoa, e despedaça o braço, e o alto da cabeça.
21 Ele se proveu da primeira parte, porquanto ali estava reservada a porção do legislador; pelo que veio com os chefes do povo, executou a justiça do Senhor e os seus juízos para com Israel.
22 De Dã disse: Dã é cachorro de leão, que salta de Basã.
23 De Naftali disse: ó Naftali, saciado de favores, e farto da bênção do Senhor, possui o lago e o sul.
24 De Aser disse: Bendito seja Aser dentre os filhos de Israel; seja o favorecido de seus irmãos; e mergulhe em azeite o seu pé;
25 de ferro e de bronze sejam os teus ferrolhos; e como os teus dias, assim seja a tua força.
26 Não há outro, ó Jesurum, semelhante a Deus, que cavalga sobre o céu para a tua ajuda, e na sua majestade sobre as mais altas nuvens.
27 O Deus eterno é a tua habitação, e por baixo estão os braços eternos; ele lançou o inimigo de diante de ti e disse: Destrói-o.
28 Israel pois habitará seguro, a fonte de Jacó a sós, na terra de grão e de mosto; e o seu céu gotejará o orvalho.
29 Feliz és tu, ó Israel! quem é semelhante a ti? um povo salvo pelo Senhor, o escudo do teu socorro, e a espada da tua majestade; pelo que os teus inimigos te serão sujeitos, e tu pisarás sobre as suas alturas.“ (Dt 33.1-29).


Deuteronômio 34

A Entrada de Moisés na Glória Celestial

Este último capítulo de Deuteronômio (34º), não poderia ter sido escrito pelo próprio Moisés, e foi acrescentado provavelmente por Josué ou Eleazar.
Nós temos aqui o registro da sua morte no monte Nebo, depois de o Senhor ter-lhe mostrado toda a terra de Canaã (v. 1 a 5).
É dito no verso 6, que o próprio Deus sepultou o corpo de Moisés de forma que ninguém descobriu onde Ele havia sido sepultado.
Que ele havia morrido e que não fora arrebatado tal com Enoque e Elias, pode ser entendido de que em várias passagens anteriores Deus disse a Moisés que ele morreria no monte Nebo, na terra de Moabe.
E, como Deus disse assim se fez: Moisés morreu e seu corpo foi sepultado, e não transformado enquanto ele vivia para que fosse arrebatado.
Moisés se dirigiu sozinho para o cume do monte, sem que ninguém o seguisse, conforme deve ter sido ordenado por Deus, para que ninguém visse onde ele seria sepultado, ainda que Deus seja poderoso para esconder isto dos olhos deles.    
Moisés é chamado aqui de servo do Senhor (v. 5). Moisés foi um líder admirável porque ele não governou o povo de Israel baseado na sua própria força e poder, mas sendo apenas um instrumento nas mãos de Deus.
Ele era muito submisso, e em tudo se submeteu ao Senhor e à Sua vontade.
Cabia-lhe melhor e era mais honroso para ele ser conhecido como o servo do Senhor, do que o rei em Jesurum.
Entretanto, ele deveria morrer, porque os servos do Senhor devem descansar das suas obras e receberem a sua recompensa, abrindo espaço para outros entrarem no seu trabalho.
Na Canaã celestial não haverá mais nenhuma morte.
A morte de Moisés foi mais uma prova do amor e do cuidado de Deus pelo seu servo, porque sua saúde foi mantida em condições perfeitas pelo Senhor, pois se diz no verso 7, que aos cento e vinte anos não se lhe escurecera a vista,  nem lhe fugira o vigor.
Ele teve vigor o suficiente para subir o monte sozinho, demonstrando quenão tinha qualquer enfermidade que viesse a ser a causa da sua morte.
Deus o tomou para si, removendo suavemente e sem qualquer dor, o espírito do seu corpo, e encarregou-se o próprio Deus de sepultar o corpo de Moisés.
Foi um funeral sem pompa terrena, mas certamente acompanhado por um cortejo celestial de anjos, e tendo ao próprio Deus como oficiante.
Os servos do Senhor podem estar certos de contarem com a Sua presença na hora da sua morte.
Especialmente, aqueles que lhe são fiéis podem contar com a certeza do Seu cuidado e nada precisam temer, ainda que a vida lhes seja tirada de forma brutal tal como no caso de Estevão, que na hora da sua morte foi consolado e fortificado com a visão do Senhor na Sua glória celestial.          
Os israelitas prantearam a morte de Moisés por trinta dias (v. 8).
Eles passaram a obedecer a Josué como sucessor de Moisés (v. 9).
O próprio Moisés lhe havia comissionado para isto, quando lhe impôs as mãos para receber o dom do Espírito Santo, conforme se vê no livro de Números.
Moisés foi sem dúvida o maior profeta do Velho Testamento.
Este testemunho é dado de forma profética nos versos 10 a 12, onde são destacadas as obras que Deus fizera por intermédio dele para Israel.


“1 Então subiu Moisés das planícies de Moabe ao monte Nebo, ao cume de Pisga, que está defronte de Jericó; e o Senhor mostrou-lhe toda a terra desde Gileade até Dã,
2 todo o Naftali, a terra de Efraim e Manassés, toda a terra de Judá, até o mar ocidental,
3 o Negebe, e a planície do vale de Jericó, a cidade das palmeiras, até Zoar.
4 E disse-lhe o Senhor: Esta é a terra que prometi com juramento a Abraão, a Isaque e a Jacó, dizendo: À tua descendência a darei. Eu te fiz vê-la com os teus olhos, porém para lá não passarás.
5 Assim Moisés, servo do Senhor, morreu ali na terra de Moabe, conforme o dito do Senhor,
6 que o sepultou no vale, na terra de Moabe, defronte de Bete-Peor; e ninguém soube até hoje o lugar da sua sepultura.
7 Tinha Moisés cento e vinte anos quando morreu; não se lhe escurecera a vista, nem se lhe fugira o vigor.
8 Os filhos de Israel prantearam a Moisés por trinta dias nas planícies de Moabe; e os dias do pranto no luto por Moisés se cumpriram.
9 Ora, Josué, filho de Num, foi cheio do espírito de sabedoria, porquanto Moisés lhe tinha imposto as mãos; assim se filhos de Israel lhe obedeceram , e fizeram como o Senhor ordenara a Moisés.
10 E nunca mais se levantou em Israel profeta como Moisés, a quem o Senhor conhecesse face a face,
11 nem semelhante em todos os sinais e maravilhas que o Senhor o enviou para fazer na terra do Egito, a Faraó: e a todos os seus servos, e a toda a sua terra;
12 e em tudo o que Moisés operou com mão forte, e com grande espanto, aos olhos de todo o Israel.“ (Dt 34.1-12).
























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