segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Salmo 101 a 150

Salmo 101

Salmo de Davi

Davi fala neste salmo qual seria a sua atitude como rei, para que Israel andasse nos caminhos do Senhor.
Ele se dispôs a atentar sabiamente ao caminho da perfeição, mas sabia que para isto dependeria de que a presença do Senhor fosse sempre com ele.
Davi havia se determinado ter da porta para dentro de sua casa um coração sincero, e isto significa que nem aos seus íntimos se permitiria usar de alguma falsidade para com eles em nome da familiaridade.
Ele guardaria os seus olhos de contemplarem qualquer coisa injusta, e aborreceria o proceder dos que se desviam, e não permitiria ser influenciado por eles.
Ele guardaria o seu coração de toda perversidade, porque cultivaria um coração puro para com Deus, que não conhecesse o mal por experiência.
Ele não permitiria que escapassem do juízo no seu reino, aos que caluniassem o seu próximo às ocultas,  e não toleraria os de olhar altivo e coração soberbo.
Antes, procuraria estar na companhia dos que são fiéis, para que reinassem com ele, habitando em sua corte, e somente aqueles que andassem em caminhos retos, lhe serviriam.
Ele não deixaria que ficassem em sua casa o que usa de fraude, e que profere mentiras, nem sequer permitiria que estivessem em sua presença.
Todos os dias, ele procuraria manter a cidade santa do Senhor livre da influência dos ímpios e dos que praticam a iniquidade, que nela se encontravam.
O mesmo se dará em relação ao reino de Jesus, quando for estabelecido na terra no período do milênio, que será inaugurado por ocasião do Seu retorno, reino este do qual o de Davi era um tipo, porque não herdarão o reino de Deus todos os que se encaixam nas descrições daqueles que Davi afirmou, que não teria a seu lado.    


“Cantarei a bondade e a justiça; a ti, SENHOR, cantarei.
Atentarei sabiamente ao caminho da perfeição.
Oh! Quando virás ter comigo?
Portas a dentro, em minha casa, terei coração sincero.
Não porei coisa injusta diante dos meus olhos; aborreço o proceder dos que se desviam; nada disto se me pegará.
Longe de mim o coração perverso; não quero conhecer o mal.
Ao que às ocultas calunia o próximo, a esse destruirei; o que tem olhar altivo e coração soberbo, não o suportarei.
Os meus olhos procurarão os fiéis da terra, para que habitem comigo; o que anda em reto caminho, esse me servirá.
Não há de ficar em minha casa o que usa de fraude; o que profere mentiras não permanecerá ante os meus olhos.
Manhã após manhã, destruirei todos os ímpios da terra, para limpar a cidade do SENHOR dos que praticam a iniquidade.”


Salmo 102

Este salmo foi escrito provavelmente depois de Jerusalém ter sido assolada pelos babilônios, e o povo de Judá sido levado para o cativeiro.
O salmista lamenta pela condição de ruína a que foi deixada a cidade santa, mas ao mesmo tempo vislumbra o futuro, quanto à promessa de Deus de restaurar o Seu povo no próprio monte Sião, para reinarem juntamente com o Messias.
Os profetas haviam feito menção a isto e o salmista escreve confiado em tais promessas de restauração e consolação futuras para Israel.

“Ouve, SENHOR, a minha súplica, e cheguem a ti os meus clamores.
Não me ocultes o rosto no dia da minha angústia; inclina-me os ouvidos; no dia em que eu clamar, dá-te pressa em acudir-me.
Porque os meus dias, como fumaça, se desvanecem, e os meus ossos ardem como em fornalha.
Ferido como a erva, secou-se o meu coração; até me esqueço de comer o meu pão.
Os meus ossos já se apegam à pele, por causa do meu dolorido gemer.
Sou como o pelicano no deserto, como a coruja das ruínas.
Não durmo e sou como o passarinho solitário nos telhados.
Os meus inimigos me insultam a toda hora; furiosos contra mim, praguejam com o meu próprio nome.
Por pão tenho comido cinza e misturado com lágrimas a minha bebida, por causa da tua indignação e da tua ira, porque me elevaste e depois me abateste.
Como a sombra que declina, assim os meus dias, e eu me vou secando como a relva.
Tu, porém, SENHOR, permaneces para sempre, e a memória do teu nome, de geração em geração.
Levantar-te-ás e terás piedade de Sião; é tempo de te compadeceres dela, e já é vinda a sua hora;  porque os teus servos amam até as pedras de Sião e se condoem do seu pó.
Todas as nações temerão o nome do SENHOR, e todos os reis da terra, a sua glória;  porque o SENHOR edificou a Sião, apareceu na sua glória, atendeu à oração do desamparado e não lhe desdenhou as preces.
Ficará isto registrado para a geração futura, e um povo, que há de ser criado, louvará ao SENHOR;  que o SENHOR, do alto do seu santuário, desde os céus, baixou vistas à terra,  para ouvir o gemido dos cativos e libertar os condenados à morte,  a fim de que seja anunciado em Sião o nome do SENHOR e o seu louvor, em Jerusalém, quando se reunirem os povos e os reinos, para servirem ao SENHOR.
Ele me abateu a força no caminho e me abreviou os dias.
Dizia eu: Deus meu, não me leves na metade de minha vida; tu, cujos anos se estendem por todas as gerações.
Em tempos remotos, lançaste os fundamentos da terra; e os céus são obra das tuas mãos.
Eles perecerão, mas tu permaneces; todos eles envelhecerão como uma veste, como roupa os mudarás, e serão mudados.
Tu, porém, és sempre o mesmo, e os teus anos jamais terão fim.
Os filhos dos teus servos habitarão seguros, e diante de ti se estabelecerá a sua descendência.”


Salmo 103

Salmo de Davi

Desde que Adão se escondeu atrás de uma árvore no Éden, com medo de Deus, e quando este veio ao Seu encontro para lhe oferecer redenção e perdão, também trouxe, por causa do pecado, maldições sobre a serpente, o homem, a mulher e a terra.
Esta seria a condição de se viver neste mundo desde então, como por exemplo a de o homem comer o seu pão como suor do rosto, apesar de se ter esta possibilidade de redenção do pecado, por causa do amor e misericórdia de Deus.
Davi era uma pessoa redimida e especial para o Senhor, mas teve que compartilhar muitas das misérias a que estão sujeitos todos os homens, por causa do pecado original.
Por isso nós o vemos neste Salmo bendizendo ao Senhor com todo o seu ser, e ordenando à própria alma que nunca se esquecesse de um só dos Seus benefícios.
Davi sabia que não eram suas boas obras e própria justiça que perdoavam as suas iniquidades, mas o próprio Deus.
Como também era Ele que sarava todas as usas enfermidades, e que livrava a sua vida da morte, e a coroava de graça e misericórdia, fartando de bens a sua velhice, de maneira que era renovado em mocidade tal como a águia.
É o Senhor que faz justiça e julga a todos os oprimidos, porque julga todas as suas causas e até mesmo atos de suas vidas, que na grande maioria, jamais serão julgados pelos magistrados da terra, e não é comum, que pessoas necessitadas sejam julgadas com justiça e misericórdia por muitos deles.
Todavia, não há verdadeiro e perfeito juiz humano, senão somente o Senhor.
Nós podemos contemplar a perfeição da Sua Lei, conforme a revelou a Moisés, para ser dada aos filhos de Israel.
Deus é cheio de misericórdia e longânimo, ou seja, tardio em se irar, e grandemente benigno.
Davi podia falar destas virtudes de Deus por tê-las experimentado abundantemente em sua própria vida.
Além disso, ele tivera a experiência de que o Senhor não repreende perpetuamente, e nem conserva para sempre a sua ira, porque se mostra perdoador e consolador para todo aquele que se arrepende.
Deus não trata conosco segundo os nossos pecados e nem nos retribui segundo as nossas iniquidades, caso contrário não nos deixaria viver tantos anos na terra, e logo executaria um juízo de condenação sobre nós, porque a Sua justiça não pode tolerar um só pecado, no entanto, Ele equilibra a justiça com a misericórdia e o Seu grande amor, bondade e longanimidade.
Especialmente aqueles que O têm são beneficiados por tal misericórdia que é elevada, tal o como o céu está acima da terra, porque é do alto que ela nos vem, do Seu trono de graça.
Por isso pode afastar as nossas transgressões de nós, tal como o Oriente está distante do Ocidente.
A compaixão que ele tem por nós é maior do que a de um pai por seus filhos, porque conhece perfeitamente a nossa estrutura, e sabe que somos pó.
Que não temos em nós mesmos o poder de vencer e resistir ao mal.
E que dependemos inteiramente dEle e da Sua graça para poder vencê-lo.
Somos responsabilizados portanto, por Ele, quanto ao pecado, por não buscarmos tal auxílio e socorro que estão disponíveis nEle para todo pecador.
Esta é portanto a base da condenação: a rejeição da Sua graça, o ato de se voltar as costas para Ele, e tentar se esconder atrás de alguma coisa, tal como Adão no passado, para não irmos a Jesus Cristo para termos vida, assim como os escribas e fariseus haviam feito nos dias do Seu ministério terreno, escondendo-se atrás da descendência de Abraão, e até mesmo das próprias Escrituras, afirmando que já conheciam a Deus porque conheciam os mandamentos, quando na verdade nunca estiveram de fato na Sua presença, porque sempre haviam rejeitado a Sua própria pessoa e graça, para serem perdoados e salvos, e continuavam confiando na própria justiça pessoal deles (Jo 5.40).
Eis porque a incredulidade, a rejeição da misericórdia e graça de Deus serão a grande base da condenação futura, porque Deus sabe que o homem não tem o poder de si mesmo para viver a vida celestial e divina para a qual ele foi criado.
Esta inabilidade e impotência do homem estão bem reveladas em estar Deus demonstrando qual tem sido a consequência do pecado, relativamente à morte.
Os anos de vida do homem na terra foram abreviados drasticamente.
E mesmo tendo permitido que se vivesse até cerca de 900 anos no mundo antigo, à medida que a iniquidade foi se multiplicando na terra o tempo de existência foi sendo progressivamente reduzido para ser um sinal para o homem de que ele é impotente por si mesmo para ter vida abundante, por causa do pecado, e ser-lhe-á possível recuperar tal vida somente pela via da redenção em Jesus Cristo.
Então se o homem alcança a misericórdia de Deus para a salvação, ele viverá eternamente porque a misericórdia divina dura de eternidade a eternidade, isto é, ela sempre será renovada garantindo a eternidade da nossa redenção e salvação.
Estas bênçãos espirituais e eternas nos são garantidas desde o céu, onde está estabelecido o trono do Senhor, e do qual manifesta o seu reino, que domina sobre tudo.
Motivo  pelo qual devem Lhe bendizer os seus anjos valorosos em poder, e que executam as suas ordens e obedecem à Sua Palavra, a saber, os anjos eleitos.
Todos os exércitos do Senhor, tanto os celestiais, quanto os da terra, especialmente os seus ministros, que fazem a Sua vontade, devem bendizê-lo.
Na verdade, tudo o que foi criado deve bendizer ao Senhor, porque Ele tudo criou para o louvor da glória da Sua graça.          


“Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e tudo o que há em mim bendiga ao seu santo nome.
Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e não te esqueças de nem um só de seus benefícios.
Ele é quem perdoa todas as tuas iniquidades; quem sara todas as tuas enfermidades; quem da cova redime a tua vida e te coroa de graça e misericórdia; quem farta de bens a tua velhice, de sorte que a tua mocidade se renova como a da águia.
O SENHOR faz justiça e julga a todos os oprimidos. Manifestou os seus caminhos a Moisés e os seus feitos aos filhos de Israel.
O SENHOR é misericordioso e compassivo; longânimo e assaz benigno.
Não repreende perpetuamente, nem conserva para sempre a sua ira.
Não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui consoante as nossas iniquidades.
Pois quanto o céu se alteia acima da terra, assim é grande a sua misericórdia para com os que o temem.
Quanto dista o Oriente do Ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões.
Como um pai se compadece de seus filhos, assim o SENHOR se compadece dos que o temem.
Pois ele conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó.
Quanto ao homem, os seus dias são como a relva; como a flor do campo, assim ele floresce; pois, soprando nela o vento, desaparece; e não conhecerá, daí em diante, o seu lugar.
Mas a misericórdia do SENHOR é de eternidade a eternidade, sobre os que o temem, e a sua justiça, sobre os filhos dos filhos,  para com os que guardam a sua aliança e para com os que se lembram dos seus preceitos e os cumprem.
Nos céus, estabeleceu o SENHOR o seu trono, e o seu reino domina sobre tudo.
Bendizei ao SENHOR, todos os seus anjos, valorosos em poder, que executais as suas ordens e lhe obedeceis à palavra.
Bendizei ao SENHOR, todos os seus exércitos, vós, ministros seus, que fazeis a sua vontade.
Bendizei ao SENHOR, vós, todas as suas obras, em todos os lugares do seu domínio.


Bendize, ó minha alma, ao SENHOR.”


Salmo 104

Este salmo apesar de não trazer a indicação de ser da autoria de Davi, tem muitos pontos de semelhança com o salmo anterior que é da sua autoria.
O salmista bendiz ao Senhor pela Sua magnificência, glória e majestade, estando cheio de luz.
Ele faz dos anjos seus ministros que são velozes como vento e fervorosos como labaredas de fogo.
Foi o Senhor que fundou a terra de tal maneira que ela prossiga por muitos séculos sem que seja destruída.
A mesma terra que fora tomada da água no princípio, foi coberta pelas águas no dilúvio, por causa da voz da repreensão de Deus.
Foi Ele quem formou os montes e que pôs limites às águas dos mares para que não tornem a cobrir a terra.
Ele formou também as fontes de água para saciar a sede de todas as suas criaturas.
Ele faz chover desde o céu e rega a terra para que produza os seus frutos, e a relva para os animais, e as plantas para servirem ao homem, especialmente lhe dando o alimento que lhe sustém as forças.
Para cada criatura Ele preparou um habitat específico.
Formou o sol e a luz para também marcarem o tempo e as estações.
Para os animais de hábito noturno, preparou as trevas.
Ao homem dispõe que deixe o lar durante o dia para se dedicar ao seu trabalho.
O salmista se encantava em tal variedade das obras de Deus.
Feitas com sabedoria para encher toda a terra com as Suas riquezas.
Todos os seres, tanto da terra quanto do mar dependem do fôlego da vida que Deus lhes deu, para que vivam.
Se o Senhor lhes retira a respiração, logo morrem.
Mas o trabalho do Espírito Santo renova a criação de Deus na face da terra.
Por isso o salmista louvaria ao Senhor enquanto vivesse, e desejava que Lhe fosse agradável a sua meditação com a qual se alegrava no Senhor.
Como somente os justos podem dar o devido tributo de louvor ao Senhor, o salmista orou para que viesse o dia que já não houvesse mais perversos na terra.


“Bendize, ó minha alma, ao SENHOR!
SENHOR, Deus meu, como tu és magnificente: sobrevestido de glória e majestade, coberto de luz como de um manto.
Tu estendes o céu como uma cortina, pões nas águas o vigamento da tua morada, tomas as nuvens por teu carro e voas nas asas do vento.
Fazes a teus anjos ventos e a teus ministros, labaredas de fogo.
Lançaste os fundamentos da terra, para que ela não vacile em tempo nenhum.
Tomaste o abismo por vestuário e a cobriste; as águas ficaram acima das montanhas; à tua repreensão, fugiram, à voz do teu trovão, bateram em retirada.
Elevaram-se os montes, desceram os vales, até ao lugar que lhes havias preparado.
Puseste às águas divisa que não ultrapassarão, para que não tornem a cobrir a terra.
Tu fazes rebentar fontes no vale, cujas águas correm entre os montes;  dão de beber a todos os animais do campo; os jumentos selvagens matam a sua sede.
Junto delas têm as aves do céu o seu pouso e, por entre a ramagem, desferem o seu canto.
Do alto de tua morada, regas os montes; a terra farta-se do fruto de tuas obras.
Fazes crescer a relva para os animais e as plantas, para o serviço do homem, de sorte que da terra tire o seu pão,  o vinho, que alegra o coração do homem, o azeite, que lhe dá brilho ao rosto, e o alimento, que lhe sustém as forças.
Avigoram-se as árvores do SENHOR e os cedros do Líbano que ele plantou, em que as aves fazem seus ninhos; quanto à cegonha, a sua casa é nos ciprestes.
Os altos montes são das cabras montesinhas, e as rochas, o refúgio dos arganazes.
Fez a lua para marcar o tempo; o sol conhece a hora do seu ocaso.
Dispões as trevas, e vem a noite, na qual vagueiam os animais da selva.
Os leõezinhos rugem pela presa e buscam de Deus o sustento;  em vindo o sol, eles se recolhem e se acomodam nos seus covis.
Sai o homem para o seu trabalho e para o seu encargo até à tarde.
Que variedade, SENHOR, nas tuas obras!
Todas com sabedoria as fizeste; cheia está a terra das tuas riquezas.
Eis o mar vasto, imenso, no qual se movem seres sem conta, animais pequenos e grandes.
Por ele transitam os navios e o monstro marinho que formaste para nele folgar.
Todos esperam de ti que lhes dês de comer a seu tempo.
Se lhes dás, eles o recolhem; se abres a mão, eles se fartam de bens.
Se ocultas o rosto, eles se perturbam; se lhes cortas a respiração, morrem e voltam ao seu pó.
Envias o teu Espírito, eles são criados, e, assim, renovas a face da terra.
A glória do SENHOR seja para sempre!
Exulte o SENHOR por suas obras!
Com só olhar para a terra, ele a faz tremer; toca as montanhas, e elas fumegam.
Cantarei ao SENHOR enquanto eu viver; cantarei louvores ao meu Deus durante a minha vida.
Seja-lhe agradável a minha meditação; eu me alegrarei no SENHOR.
Desapareçam da terra os pecadores, e já não subsistam os perversos.


Bendize, ó minha alma, ao SENHOR! Aleluia!”


Salmo 105

Este salmo passa em revista as bênçãos e maldições de Deus desde a formação das doze tribos de Israel através de Jacó, até a entrada deles em Canaã.
Ele passou em revista tais ações de Deus em relação a eles, para que se lembrassem que eram o povo da aliança, e que portanto lhes sobrevieram todas aquelas coisas, tanto para alegria, quanto para correção, e por este motivo deveriam render graças ao Senhor e invocar o Seu nome, tornando conhecidos entres os povos, todos os Seus feitos.
Estes que buscam o Senhor devem se gloriar no Seu santo nome, e terem o coração alegre.
Nunca o cristão deve deixar de buscar o poder e a presença do Senhor, seja qual for a circunstância em que estiver vivendo.
Para tanto, devem ser trazidas à lembrança todas as maravilhas que Ele fez, bem como dos Seus juízos, para que seja não somente admirado mas também temido.
Foi para tal propósito que o salmista passou a enumerar os feitos e os juízos de Deus que estão registrados no Pentateuco.


“Rendei graças ao SENHOR, invocai o seu nome, fazei conhecidos, entre os povos, os seus feitos.
Cantai-lhe, cantai-lhe salmos; narrai todas as suas maravilhas.  Gloriai-vos no seu santo nome; alegre-se o coração dos que buscam o SENHOR.
Buscai o SENHOR e o seu poder; buscai perpetuamente a sua presença.
Lembrai-vos das maravilhas que fez, dos seus prodígios e dos juízos de seus lábios,  vós, descendentes de Abraão, seu servo, vós, filhos de Jacó, seus escolhidos.
Ele é o SENHOR, nosso Deus; os seus juízos permeiam toda a terra.
Lembra-se perpetuamente da sua aliança, da palavra que empenhou para mil gerações;  da aliança que fez com Abraão e do juramento que fez a Isaque;  o qual confirmou a Jacó por decreto e a Israel por aliança perpétua,  dizendo: Dar-te-ei a terra de Canaã como quinhão da vossa herança.
Então, eram eles em pequeno número, pouquíssimos e forasteiros nela;  andavam de nação em nação, de um reino para outro reino.
A ninguém permitiu que os oprimisse; antes, por amor deles, repreendeu a reis,  dizendo: Não toqueis nos meus ungidos, nem maltrateis os meus profetas.
Fez vir fome sobre a terra e cortou os meios de se obter pão.
Adiante deles enviou um homem, José, vendido como escravo;  cujos pés apertaram com grilhões e a quem puseram em ferros,  até cumprir-se a profecia a respeito dele, e tê-lo provado a palavra do SENHOR.
O rei mandou soltá-lo; o potentado dos povos o pôs em liberdade.
Constituiu-o senhor de sua casa e mordomo de tudo o que possuía,  para, a seu talante, sujeitar os seus príncipes e aos seus anciãos ensinar a sabedoria.
Então, Israel entrou no Egito, e Jacó peregrinou na terra de Cam.
Deus fez sobremodo fecundo o seu povo e o tornou mais forte do que os seus opressores.
Mudou-lhes o coração para que odiassem o seu povo e usassem de astúcia para com os seus servos.
E lhes enviou Moisés, seu servo, e Arão, a quem escolhera,  por meio dos quais fez, entre eles, os seus sinais e maravilhas na terra de Cam.
Enviou trevas, e tudo escureceu; e Moisés e Arão não foram rebeldes à sua palavra.
Transformou-lhes as águas em sangue e assim lhes fez morrer os peixes.
Sua terra produziu rãs em abundância, até nos aposentos dos reis.
Ele falou, e vieram nuvens de moscas e piolhos em todo o seu país. Por chuva deu-lhes saraiva e fogo chamejante, na sua terra.
Devastou-lhes os vinhedos e os figueirais e lhes quebrou as árvores dos seus limites.
Ele falou, e vieram gafanhotos e saltões sem conta,  os quais devoraram toda a erva do país e comeram o fruto dos seus campos.
Também feriu de morte a todos os primogênitos da sua terra, as primícias do seu vigor.
Então, fez sair o seu povo, com prata e ouro, e entre as suas tribos não havia um só inválido. Alegrou-se o Egito quando eles saíram, porquanto lhe tinham infundido terror.
Ele estendeu uma nuvem que lhes servisse de toldo e um fogo para os alumiar de noite.
Pediram, e ele fez vir codornizes e os saciou com pão do céu.
Fendeu a rocha, e dela brotaram águas, que correram, qual torrente, pelo deserto.
Porque estava lembrado da sua santa palavra e de Abraão, seu servo.
E conduziu com alegria o seu povo e, com jubiloso canto, os seus escolhidos.
Deu-lhes as terras das nações, e eles se apossaram do trabalho dos povos,  para que lhe guardassem os preceitos e lhe observassem as leis. Aleluia!


Salmo 106

Este salmo segue o mesmo arranjo do salmo anterior, no qual o povo do Senhor é convocado a Lhe render graças por Sua bondade e misericórdia, que dura para sempre, bem como por todos os Seus feitos manifestados na história de Israel, dos quais o salmista vai destacar especialmente os havidos sob Moisés, e conforme estão registrados no Pentateuco.
O salmista reconhece que Israel havia pecado tal como seus ancestrais haviam feito no passado.
Foram rebeldes tanto quanto eles, mas de igual modo também estavam sendo alvo da salvação do Senhor por amor do Seu próprio nome, para manifestar o Seu poder.
O Senhor havia aberto o Mar Vermelho e subjugado os seus inimigos, mas eles logo se esqueceram desta grande obra e não guardaram o caminho do Senhor, por terem se entregado à cobiça no deserto.
Houve inveja entre eles, especialmente no caso de Datã, Coré e Abirão, que foram tragados vivos pela terra, que abriu sob os seus pés e o grupo que lhes seguia.
A tal ponto chegou a iniquidade deles, mesmo em face de todas as maravilhas do Senhor, que fizeram um ídolo para si, um bezerro de ouro, e o adoraram.
Trocando a glória de Deus pela figura de um novilho que come erva.
Deus os teria destruído se Moisés não tivesse intercedido por eles. Porém não se emendaram e se juntaram a Baal-Peor e comeram dos sacrifícios oferecidos a este falso deus pelos midianitas, aos quais haviam se misturado.
Por isso o Senhor matou a muitos israelitas pela peste e esta teria avançado se não fosse pelo zelo de Finéias, que executou o juízo do Senhor, transpassando com sua lança a um príncipe da tribo de Simeão, juntamente com uma princesa midianita, à qual havia se juntado.
Por causa da rebeldia de Israel na contenda das águas de Meribá, Moisés foi impedido de entrar na terra de Canaã, porque eles haviam sido rebeldes ao Espírito Santo, levando Moisés a falar irrefletidamente.
Eles se misturaram aos povos pagãos de Canaã, em vez de exterminá-los, conforme mandado do Senhor, e se contaminaram com eles dando culto aos seus ídolos, e praticando os seus costumes contrários aos mandamentos de Deus.
Até a seus próprios filhos ofereceram como sacrifícios aos demônios e aos ídolos de Canaã.
Isto fez com que a ira do Senhor se acendesse contra eles e lhes entregou ao poder das nações, como se vê especialmente no período dos juízes e dos reis de Israel.
Apesar de o Senhor tê-los libertado várias vezes, quando Lhe clamavam por socorro, no entanto, voltavam à prática das mesmas más obras.
Todavia, por causa da fidelidade da aliança que havia feito com eles, sempre se compadeceu segundo a multidão das Suas misericórdias, e fez com que lograssem receber compaixão dos povos que lhes haviam levado cativos.
Então, confiado nestas misericórdias divinas, o salmista orou para que o Senhor tornasse a congregar Israel, das nações para as quais lhe havia dispersado, para que dessem graças ao Seu santo nome e se gloriassem no Seu louvor.


“Aleluia! Rendei graças ao SENHOR, porque ele é bom; porque a sua misericórdia dura para sempre.
Quem saberá contar os poderosos feitos do SENHOR ou anunciar os seus louvores?
Bem-aventurados os que guardam a retidão e o que pratica a justiça em todo tempo.
Lembra-te de mim, SENHOR, segundo a tua bondade para com o teu povo; visita-me com a tua salvação, para que eu veja a prosperidade dos teus escolhidos, e me alegre com a alegria do teu povo, e me regozije com a tua herança.
Pecamos, como nossos pais; cometemos iniquidade, procedemos mal.
Nossos pais, no Egito, não atentaram às tuas maravilhas; não se lembraram da multidão das tuas misericórdias e foram rebeldes junto ao mar, o mar Vermelho.
Mas ele os salvou por amor do seu nome, para lhes fazer notório o seu poder.
Repreendeu o mar Vermelho, e ele secou; e fê-los passar pelos abismos, como por um deserto. Salvou-os das mãos de quem os odiava e os remiu do poder do inimigo.
As águas cobriram os seus opressores; nem um deles escapou.
Então, creram nas suas palavras e lhe cantaram louvor.
Cedo, porém, se esqueceram das suas obras e não lhe aguardaram os desígnios; entregaram-se à cobiça, no deserto; e tentaram a Deus na solidão.
Concedeu-lhes o que pediram, mas fez definhar-lhes a alma.
Tiveram inveja de Moisés, no acampamento, e de Arão, o santo do SENHOR.
Abriu-se a terra, e tragou a Datã, e cobriu o grupo de Abirão.
Ateou-se um fogo contra o seu grupo; a chama abrasou os ímpios.
Em Horebe, fizeram um bezerro e adoraram o ídolo fundido.
E, assim, trocaram a glória de Deus pelo simulacro de um novilho que come erva.
Esqueceram-se de Deus, seu Salvador, que, no Egito, fizera coisas portentosas,  maravilhas na terra de Cam, tremendos feitos no mar Vermelho.
Tê-los-ia exterminado, como dissera, se Moisés, seu escolhido, não se houvesse interposto, impedindo que sua cólera os destruísse.
Também desprezaram a terra aprazível e não deram crédito à sua palavra; antes, murmuraram em suas tendas e não acudiram à voz do SENHOR.
Então, lhes jurou, de mão erguida, que os havia de arrasar no deserto;  e também derribaria entre as nações a sua descendência e os dispersaria por outras terras.
Também se juntaram a Baal-Peor e comeram os sacrifícios dos ídolos mortos.
Assim, com tais ações, o provocaram à ira; e grassou peste entre eles.
Então, se levantou Finéias e executou o juízo; e cessou a peste.
Isso lhe foi imputado por justiça, de geração em geração, para sempre.
Depois, o indignaram nas águas de Meribá, e, por causa deles, sucedeu mal a Moisés, pois foram rebeldes ao Espírito de Deus, e Moisés falou irrefletidamente.
Não exterminaram os povos, como o SENHOR lhes ordenara.
Antes, se mesclaram com as nações e lhes aprenderam as obras;  deram culto a seus ídolos, os quais se lhes converteram em laço;  pois imolaram seus filhos e suas filhas aos demônios e derramaram sangue inocente, o sangue de seus filhos e filhas, que sacrificaram aos ídolos de Canaã; e a terra foi contaminada com sangue.
Assim se contaminaram com as suas obras e se prostituíram nos seus feitos.
Acendeu-se, por isso, a ira do SENHOR contra o seu povo, e ele abominou a sua própria herança  e os entregou ao poder das nações; sobre eles dominaram os que os odiavam.
Também os oprimiram os seus inimigos, sob cujo poder foram subjugados.
Muitas vezes os libertou, mas eles o provocaram com os seus conselhos e, por sua iniquidade, foram abatidos.
Olhou-os, contudo, quando estavam angustiados e lhes ouviu o clamor;  lembrou-se, a favor deles, de sua aliança e se compadeceu, segundo a multidão de suas misericórdias.
Fez também que lograssem compaixão de todos os que os levaram cativos.
Salva-nos, SENHOR, nosso Deus, e congrega-nos de entre as nações, para que demos graças ao teu santo nome e nos gloriemos no teu louvor.


Bendito seja o SENHOR, Deus de Israel, de eternidade a eternidade; e todo o povo diga: Amém! Aleluia!


Salmo 107

Nos dois salmos precedentes o salmista celebrou a majestade, o poder, a sabedoria e a bondade de Deus nos Seus procedimentos em relação à criação e ao Seu povo, e neste salmo, ele destaca alguns exemplos da Sua providência e cuidado com os filhos dos homens em geral, especialmente nas suas angústias, porque Ele não é apenas o Deus e Rei de Israel, mas de todas as nações da terra.

“Rendei graças ao SENHOR, porque ele é bom, e a sua misericórdia dura para sempre.  Digam-no os remidos do SENHOR, os que ele resgatou da mão do inimigo  e congregou de entre as terras, do Oriente e do Ocidente, do Norte e do mar. Andaram errantes pelo deserto, por ermos caminhos, sem achar cidade em que habitassem. Famintos e sedentos, desfalecia neles a alma. Então, na sua angústia, clamaram ao SENHOR, e ele os livrou das suas tribulações. Conduziu-os pelo caminho direito, para que fossem à cidade em que habitassem.  Rendam graças ao SENHOR por sua bondade e por suas maravilhas para com os filhos dos homens! Pois dessedentou a alma sequiosa e fartou de bens a alma faminta. Os que se assentaram nas trevas e nas sombras da morte, presos em aflição e em ferros,  por se terem rebelado contra a palavra de Deus e haverem desprezado o conselho do Altíssimo,  de modo que lhes abateu com trabalhos o coração—caíram, e não houve quem os socorresse.  Então, na sua angústia, clamaram ao SENHOR, e ele os livrou das suas tribulações. Tirou-os das trevas e das sombras da morte e lhes despedaçou as cadeias.  Rendam graças ao SENHOR por sua bondade e por suas maravilhas para com os filhos dos homens!  Pois arrombou as portas de bronze e quebrou as trancas de ferro. Os estultos, por causa do seu caminho de transgressão e por causa das suas iniquidades, serão afligidos. A sua alma aborreceu toda sorte de comida, e chegaram às portas da morte. Então, na sua angústia, clamaram ao SENHOR, e ele os livrou das suas tribulações. Enviou-lhes a sua palavra, e os sarou, e os livrou do que lhes era mortal. Rendam graças ao SENHOR por sua bondade e por suas maravilhas para com os filhos dos homens! Ofereçam sacrifícios de ações de graças e proclamem com júbilo as suas obras! Os que, tomando navios, descem aos mares, os que fazem tráfico na imensidade das águas,  esses veem as obras do SENHOR e as suas maravilhas nas profundezas do abismo. Pois ele falou e fez levantar o vento tempestuoso, que elevou as ondas do mar.  Subiram até aos céus, desceram até aos abismos; no meio destas angústias, desfalecia-lhes a alma. Andaram, e cambalearam como ébrios, e perderam todo tino. Então, na sua angústia, clamaram ao SENHOR, e ele os livrou das suas tribulações.  Fez cessar a tormenta, e as ondas se acalmaram. Então, se alegraram com a bonança; e, assim, os levou ao desejado porto. Rendam graças ao SENHOR por sua bondade e por suas maravilhas para com os filhos dos homens! Exaltem-no também na assembleia do povo e o glorifiquem no conselho dos anciãos. Ele converteu rios em desertos e mananciais, em terra seca; terra frutífera, em deserto salgado, por causa da maldade dos seus habitantes. Converteu o deserto em lençóis de água e a terra seca, em mananciais. Estabeleceu aí os famintos, os quais edificaram uma cidade em que habitassem. Semearam campos, e plantaram vinhas, e tiveram fartas colheitas. Ele os abençoou, de sorte que se multiplicaram muito; e o gado deles não diminuiu. Mas tornaram a reduzir-se e foram humilhados pela opressão, pela adversidade e pelo sofrimento. Lança ele o desprezo sobre os príncipes e os faz andar errantes, onde não há caminho. Mas levanta da opressão o necessitado, para um alto retiro, e lhe prospera famílias como rebanhos. Os retos veem isso e se alegram, mas o ímpio por toda parte fecha a boca. Quem é sábio atente para essas coisas e considere as misericórdias do SENHOR.”




SALMO 108 – Salmo de Davi

“Firme está o meu coração, ó Deus!
Cantarei e entoarei louvores de toda a minha alma.
Despertai, saltério e harpa!
Quero acordar a alva.  Render-te-ei graças entre os povos, ó SENHOR!
Cantar-te-ei louvores entre as nações. Porque acima dos céus se eleva a tua misericórdia, e a tua fidelidade, para além das nuvens.
Sê exaltado, ó Deus, acima dos céus; e em toda a terra esplenda a tua glória,  para que os teus amados sejam livres; salva com a tua destra e responde-nos.
Disse Deus na sua santidade: Exultarei; dividirei Siquém e medirei o vale de Sucote.  Meu é Gileade, meu é Manassés; Efraim é a defesa de minha cabeça; Judá é o meu cetro.
Moabe, porém, é a minha bacia de lavar; sobre Edom atirarei a minha sandália; sobre a Filístia jubilarei.  Quem me conduzirá à cidade fortificada?
Quem me guiará até Edom? Não nos rejeitaste, ó Deus?
Tu não sais, ó Deus, com os nossos exércitos! Presta-nos auxílio na angústia, pois vão é o socorro do homem.
Em Deus faremos proezas, porque ele mesmo calca aos pés os nossos adversários.”

Este salmo nos faz recordar que Davi era um compositor, cantor e instrumentista ungido, que louvava o Senhor continuamente, especialmente com a harpa.
E isto desde a mais tenra idade, porque era tocando a sua harpa que expulsava os demônios que atormentavam o rei Saul, quando Davi ainda era muito jovem.
Nós temos citações neste salmo de porções dos salmos 57.7,8 :” 7 Firme está o meu coração, ó Deus, firme está o meu coração; cantarei, sim, cantarei louvores. 8 Desperta, minha alma; despertai, alaúde e harpa; eu mesmo despertarei a aurora.”, e 60.5,8: “5 Para que os teus amados sejam livres, salva-nos com a tua destra, e responde-nos. 6 Deus falou na sua santidade: Eu exultarei; repartirei Siquém e medirei o vale de Sucote. 7 Meu é Gileade, e meu é Manassés; Efraim é o meu capacete; Judá é o meu cetro. 8 Moabe é a minha bacia de lavar; sobre Edom lançarei o meu sapato; sobre a Filístia darei o brado de vitória.”
Como já comentamos anteriormente, este Salmo 60 parece ter sido escrito em plena batalha que foi empreendida em várias frentes contra exércitos dos filisteus, moabitas e sobre os siros de Zobá e de Damasco, além de ter feito os edomitas tributários de Israel.
Assim, Davi clamava para que Deus não o rejeitasse e dispersasse as forças dos exércitos de Israel, por algum motivo de indignação da Sua parte, de modo que em vez disto, os restabelecesse, e que no meio dos reveses que havia feito o Seu povo experimentar, e que lhes desse um estandarte, para fazer com que os inimigos de Israel batessem em retirada.
Estas batalhas empreendidas por Davi ilustram a nossa vida neste mundo, em que nossas alegrias nas vitórias que o Senhor nos concede estão misturadas aos reveses constantes que sofremos por causa das investidas do Inimigo.
Somente o Senhor pode libertar o Seu povo dos ataques do Inimigo, e por isso Davi lhe pediu que respondesse à sua oração, e que os salvasse com a Sua destra.


Salmo 108

Salmo de Davi

“Firme está o meu coração, ó Deus!
Cantarei e entoarei louvores de toda a minha alma.
Despertai, saltério e harpa!
Quero acordar a alva.  Render-te-ei graças entre os povos, ó SENHOR!
Cantar-te-ei louvores entre as nações. Porque acima dos céus se eleva a tua misericórdia, e a tua fidelidade, para além das nuvens.
Sê exaltado, ó Deus, acima dos céus; e em toda a terra esplenda a tua glória,  para que os teus amados sejam livres; salva com a tua destra e responde-nos.
Disse Deus na sua santidade: Exultarei; dividirei Siquém e medirei o vale de Sucote.  Meu é Gileade, meu é Manassés; Efraim é a defesa de minha cabeça; Judá é o meu cetro.
Moabe, porém, é a minha bacia de lavar; sobre Edom atirarei a minha sandália; sobre a Filístia jubilarei.  Quem me conduzirá à cidade fortificada?
Quem me guiará até Edom? Não nos rejeitaste, ó Deus?
Tu não sais, ó Deus, com os nossos exércitos! Presta-nos auxílio na angústia, pois vão é o socorro do homem.
Em Deus faremos proezas, porque ele mesmo calca aos pés os nossos adversários.”

Este salmo nos faz recordar que Davi era um compositor, cantor e instrumentista ungido, que louvava o Senhor continuamente, especialmente com a harpa.
E isto desde a mais tenra idade, porque era tocando a sua harpa que expulsava os demônios que atormentavam o rei Saul, quando Davi ainda era muito jovem.
Nós temos citações neste salmo de porções dos salmos 57.7,8 :” 7 Firme está o meu coração, ó Deus, firme está o meu coração; cantarei, sim, cantarei louvores. 8 Desperta, minha alma; despertai, alaúde e harpa; eu mesmo despertarei a aurora.”, e 60.5,8: “5 Para que os teus amados sejam livres, salva-nos com a tua destra, e responde-nos. 6 Deus falou na sua santidade: Eu exultarei; repartirei Siquém e medirei o vale de Sucote. 7 Meu é Gileade, e meu é Manassés; Efraim é o meu capacete; Judá é o meu cetro. 8 Moabe é a minha bacia de lavar; sobre Edom lançarei o meu sapato; sobre a Filístia darei o brado de vitória.”
Como já comentamos anteriormente, este Salmo 60 parece ter sido escrito em plena batalha que foi empreendida em várias frentes contra exércitos dos filisteus, moabitas e sobre os siros de Zobá e de Damasco, além de ter feito os edomitas tributários de Israel.
Assim, Davi clamava para que Deus não o rejeitasse e dispersasse as forças dos exércitos de Israel, por algum motivo de indignação da Sua parte, de modo que em vez disto, os restabelecesse, e que no meio dos reveses que havia feito o Seu povo experimentar, e que lhes desse um estandarte, para fazer com que os inimigos de Israel batessem em retirada.
Estas batalhas empreendidas por Davi ilustram a nossa vida neste mundo, em que nossas alegrias nas vitórias que o Senhor nos concede estão misturadas aos reveses constantes que sofremos por causa das investidas do Inimigo.
Somente o Senhor pode libertar o Seu povo dos ataques do Inimigo, e por isso Davi lhe pediu que respondesse à sua oração, e que os salvasse com a Sua destra.


Salmo 109

Salmo de Davi

Quando lemos o testemunho de Davi acerca das suas muitas tribulações, tais como temos o de Paulo, registrado no Novo Testamento, perguntamo-nos qual era o segredo de ambos para estarem em permanente comunhão com o Senhor, apesar das muitas aflições que sofreram, especialmente da parte de pessoas ligadas ao ministério de ambos, e que lhes eram muito estimadas.
O coração desfalece e a alma se abate quando estamos diante do sofrimento de pessoas amadas.
Ainda mais quando nossa alma está ligada à de tais pessoas, tal como a alma de Jacó estava ligada à de Raquel, José e Benjamim.
Quando enfermidades, que são para a morte, atingem estes amados, parece que a sentença de morte é maior em nós do que neles, pela dor da separação previamente sentida.
A dor dos discípulos quando receberam de Jesus a notícia de que Ele partiria e que os deixaria, foi algo insuportável, porque Ele era todo perfeição, amor, bondade.
E neste, caso, é tão mais dura a perda, quando as pessoas que nos abandonam se aproximam de tal caráter de nosso Senhor.
Mas, no geral, não é este o caso. É a luz destas reflexões que podemos entender melhor os sentimentos de Davi expressados neste salmo.
É o lamento de uma alma justa suspirando tal como Jesus e como o apóstolo Paulo, diante da iniquidade dos homens.
A condição da realidade do pecado que opera na humanidade leva a alma do justo a se consagrar e a se voltar inteiramente a Deus, e esperar pela Sua consolação, não raras vezes com as dores dos muitos espinhos na carne, que nos foram lançados pelo diabo, contra quem temos realmente de lutar, porque as pessoas nada mais são do que meros instrumentos em suas mãos para afligirem os santos.
Davi diz que em paga do seu amor estava sendo hostilizado pelas pessoas que amava.
As quais falavam dele com lábios maldosos e fraudulentos, e mentirosos.
Derramavam palavras odiosas contra ele e sem causa lhe faziam guerra.
E ele diz o que se limitava a fazer nestas situações: orava.
Todo o bem que ele lhes havia feito foi pago com o mal, e o amor com o ódio.
É assim que a humanidade em geral faz em relação a nosso Senhor Jesus Cristo. É triste e lamentável, mas é verdade.
É possível que a pessoa que inspirou a escrita deste Salmo tenha sido Aitofel.
Davi lançou sobre ele o mesmo anátema que usava contra todos aqueles que se fazendo de seus amigos, buscavam na verdade o seu mal e o da causa da justiça e da verdade.
Ele não ficava se remoendo em suas dores, mas entregava o caso nas mãos de Deus, para que exercesse os Seus Juízos, segundo a Sua justiça.
Davi não ficava a lamentar num canto por esta condição quase reinante da iniqüidade nos corações das pessoas, e que se manifesta em grande fúria contra aqueles que são devotados verdadeiramente a Deus.
Na dispensação da graça, não devemos usar as mesmas palavras amaldiçoadoras, porque aqui não nos é permitido pelo Senhor amaldiçoar os nossos inimigos, mas devemos entregar-lhes em Suas mãos, pela oração, porque é a Ele que compete  julgar com  justiça, e devemos fazer isto sem lhes desejar qualquer mal, senão o bem.
O que deve prevalecer é a atitude de pedir ao Senhor que aja por nós, por amor do Seu nome, para que não seja infamado, e que nos livre do mal, segundo a Sua grande misericórdia, tal como fizera Davi, para que o nosso coração continue experimentando a paz do Senhor.
E ele declarou o motivo de estar fazendo tal pedido a Deus: “Porque estou aflito e necessitado e, dentro de mim, sinto ferido o coração. Vou passando, como a sombra que declina; sou atirado para longe, como um gafanhoto. De tanto jejuar, os joelhos me vacilam, e de magreza vai mirrando a minha carne. Tornei-me para eles objeto de opróbrio; quando me vêem, meneiam a cabeça. Socorre, SENHOR, Deus meu! Salva-me segundo a tua misericórdia. Para que saibam vir isso das tuas mãos; que tu, SENHOR, o fizeste. Amaldiçoem eles, mas tu, abençoa; sejam confundidos os que contra mim se levantam; alegre-se, porém, o teu servo. Cubram-se de ignomínia os meus adversários, e a sua própria confusão os envolva como uma túnica. Muitas graças darei ao SENHOR com os meus lábios; louva-lo-ei no meio da multidão; porque ele se põe à direita do pobre, para o livrar dos que lhe julgam a alma.”


“Ó Deus do meu louvor, não te cales! Pois contra mim se desataram lábios maldosos e fraudulentos; com mentirosa língua falam contra mim.  Cercam-me com palavras odiosas e sem causa me fazem guerra. Em paga do meu amor, me hostilizam; eu, porém, oro.  Pagaram-me o bem com o mal; o amor, com ódio. Suscita contra ele um ímpio, e à sua direita esteja um acusador. Quando o julgarem, seja condenado; e, tida como pecado, a sua oração. Os seus dias sejam poucos, e tome outro o seu encargo. Fiquem órfãos os seus filhos, e viúva, a sua esposa.  Andem errantes os seus filhos e mendiguem; e sejam expulsos das ruínas de suas casas. De tudo o que tem, lance mão o usurário; do fruto do seu trabalho, esbulhem-no os estranhos.  Ninguém tenha misericórdia dele, nem haja quem se compadeça dos seus órfãos.  Desapareça a sua posteridade, e na seguinte geração se extinga o seu nome.  Na lembrança do SENHOR, viva a iniquidade de seus pais, e não se apague o pecado de sua mãe.  Permaneçam ante os olhos do SENHOR, para que faça desaparecer da terra a memória deles. Porquanto não se lembrou de usar de misericórdia, mas perseguiu o aflito e o necessitado, como também o quebrantado de coração, para os entregar à morte. Amou a maldição; ela o apanhe; não quis a bênção; aparte-se dele. Vestiu-se de maldição como de uma túnica: penetre, como água, no seu interior e nos seus ossos, como azeite. Seja-lhe como a roupa que o cobre e como o cinto com que sempre se cinge. Tal seja, da parte do SENHOR, o galardão dos meus contrários e dos que falam mal contra a minha alma. Mas tu, SENHOR Deus, age por mim, por amor do teu nome; livra-me, porque é grande a tua misericórdia. Porque estou aflito e necessitado e, dentro de mim, sinto ferido o coração. Vou passando, como a sombra que declina; sou atirado para longe, como um gafanhoto. De tanto jejuar, os joelhos me vacilam, e de magreza vai mirrando a minha carne. Tornei-me para eles objeto de opróbrio; quando me vêem, meneiam a cabeça. Socorre, SENHOR, Deus meu! Salva-me segundo a tua misericórdia. Para que saibam vir isso das tuas mãos; que tu, SENHOR, o fizeste. Amaldiçoem eles, mas tu, abençoa; sejam confundidos os que contra mim se levantam; alegre-se, porém, o teu servo. Cubram-se de ignomínia os meus adversários, e a sua própria confusão os envolva como uma túnica. Muitas graças darei ao SENHOR com os meus lábios; louva-lo-ei no meio da multidão; porque ele se põe à direita do pobre, para o livrar dos que lhe julgam a alma.”


Salmo 110

Salmo de Davi

Este salmo é totalmente profético e se refere ao Messias.
Por ele vemos que Davi não era apenas rei, mas também era profeta.
E lhe foi dado falar de muitas coisas relativas à Igreja e ao reino futuro do Messias.
O início deste salmo foi citado pelo próprio Jesus no seu debate com os fariseus, quando lhes mostrou que Davi havia dado testemunho dEle, pelo Espírito:
“41 Ora, enquanto os fariseus estavam reunidos, interrogou-os Jesus, dizendo: 42 Que pensais vós do Cristo? De quem é filho? Responderam-lhe: De Davi. 43 Replicou-lhes ele: Como é então que Davi, no Espírito, lhe chama Senhor, dizendo: 44 Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos de baixo dos teus pés? 45 Se Davi, pois, lhe chama Senhor, como é ele seu filho? (Mt 22.41-45).
É afirmado também neste salmo que Jesus reinaria sobre as nações, estando em Sião.
E que o povo que o servirá se apresentará a Ele de modo voluntário no dia em que manifestar o Seu poder reinando e convertendo-lhes os corações a Ele, e que o farão estando ornamentados santamente, tal com o orvalho que cai na aurora.
É declarado também no salmo o sumo sacerdócio eterno de Jesus, não sendo da ordem dos levitas, mas segundo a ordem de Melquisedeque, porque Ele faria alterações na lei sacerdotal, uma vez que aboliria todos os ritos e sacrifícios cerimoniais.
E quando se manifestar o dia do Juízo, por ocasião da Sua segunda vinda, ao qual Davi chama no salmo de “dia da sua ira”, as nações serão julgadas, os reis ímpios esmagados, e muitos ímpios morrerão, mas o Senhor passará entre eles de cabeça erguida, rumo do caminho da entronização eterna que Lhe foi designado pelo Pai.


“Disse o SENHOR ao meu senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés.
O SENHOR enviará de Sião o cetro do seu poder, dizendo:
Domina entre os teus inimigos. Apresentar-se-á voluntariamente o teu povo, no dia do teu poder; com santos ornamentos, como o orvalho emergindo da aurora, serão os teus jovens.
O SENHOR jurou e não se arrependerá: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.
O Senhor, à tua direita, no dia da sua ira, esmagará os reis.  Ele julga entre as nações; enche-as de cadáveres; esmagará cabeças por toda a terra.
De caminho, bebe na torrente e passa de cabeça erguida.”



Salmo 111

O salmista está alegre no espírito, e por isso se dispôs a render graças ao Senhor na comunhão dos santos.
Ele exaltou as grandes obras do Senhor, que são entendidas somente por aqueles que nelas se comprazem.
As obras de Deus possuem glória e majestade e a Sua justiça é eterna.
O Senhor fez Suas obras de tal maneira, que o Seu povo pode e deve trazê-las em memória, especialmente para terem sempre a convicção de quanto Ele é benigno e misericordioso.
Ele provê todo o necessário para todos os que O temem, especialmente no que tange à sua transformação à imagem de Cristo, porque sempre é fiel à Sua aliança com eles.
As obras do Senhor são estáveis porque são verdade e justiça, e são conformes a fidelidade e estabilidade dos Seus preceitos.
Por tudo isto tem revelado que tem estendido a Sua redenção, ou seja, libertação do Seu povo, para entrar em aliança com ele.
Isto se alcança pelo temor do Senhor, que é o princípio da sabedoria, ou seja, a base e a condição para que seja sábio segundo Deus.


“Aleluia!
De todo o coração renderei graças ao SENHOR, na companhia dos justos e na assembléia. Grandes são as obras do SENHOR, consideradas por todos os que nelas se comprazem.
Em suas obras há glória e majestade, e a sua justiça permanece para sempre.
Ele fez memoráveis as suas maravilhas; benigno e misericordioso é o SENHOR.
Dá sustento aos que o temem; lembrar-se-á sempre da sua aliança.
Manifesta ao seu povo o poder das suas obras, dando-lhe a herança das nações.
As obras de suas mãos são verdade e justiça; fiéis, todos os seus preceitos.
Estáveis são eles para todo o sempre, instituídos em fidelidade e retidão.
Enviou ao seu povo a redenção; estabeleceu para sempre a sua aliança; santo e tremendo é o seu nome.
O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria; revelam prudência todos os que o praticam.
O seu louvor permanece para sempre.”


Salmo 112

Como o anterior, este salmo também começa com “aleluia”, que significa no hebraico, “louvado seja Deus”, e declara ser bem-aventurado, ou seja, verdadeiramente feliz segundo o plano de Deus, o homem que teme ao Senhor e que se compraz nos Seus mandamentos.
Os que andam assim com o Senhor também terão uma descendência abençoada, porque não somente a ensinarão a andar nos seus mesmos caminhos, como contarão com a bênção de Deus na vida de seus descendentes, por causa do bom testemunho dos seus pais.
Na casa do justo há a verdadeira prosperidade e riqueza, porque tem o favor do Senhor que é quem o justifica.
O justo achará luz nas trevas, e isto o capacitará a ser benigno, misericordioso e justo.
O Espírito Santo o fortalecerá em suas fraquezas, e calcará a seus pés Satanás e todos os demônios.
Ele é feliz porque pode se compadecer e emprestar, porque não é avarento, e é gentil e misericordioso para com o seu próximo, conforme a graça de Deus o impele a não somente a agir, mas a ser tal qual o Seu Senhor.
A quem tem misericórdia do próximo Deus defenderá a sua causa em juízo, e jamais será abalado, e sua memória será lembrada eternamente.
Ele também não fica alarmado e atemorizado com más notícias, porque Sua confiança está no Senhor, que faz com que o seu coração fique firme, a ponto de não temer, até ver cumprido nos seus adversários espirituais, o seu desejo de ser livre pelo p0oder do Senhor  das suas investidas malignas.
Nada retém para si mesmo, e é generoso em dar aos pobres, de maneira que isto lhe é não somente contado para justiça para o seu galardão, como também faz parte da justiça que é implantada na sua natureza, e pela qual será exaltado em glória.
O perverso inveja a integridade dos justos e se encoleriza, a ponto de ranger os dentes, consumindo-se no seu próprio ódio, mas o desejo deles perecerá.    


“Aleluia!
Bem-aventurado o homem que teme ao SENHOR e se compraz nos seus mandamentos.
A sua descendência será poderosa na terra; será abençoada a geração dos justos.
Na sua casa há prosperidade e riqueza, e a sua justiça permanece para sempre.
Ao justo, nasce luz nas trevas; ele é benigno, misericordioso e justo.
Ditoso o homem que se compadece e empresta; ele defenderá a sua causa em juízo;  não será jamais abalado; será tido em memória eterna.
Não se atemoriza de más notícias; o seu coração é firme, confiante no SENHOR.
O seu coração, bem firmado, não teme, até ver cumprido, nos seus adversários, o seu desejo.
Distribui, dá aos pobres; a sua justiça permanece para sempre, e o seu poder se exaltará em glória.


O perverso vê isso e se enraivece; range os dentes e se consome; o desejo dos perversos perecerá.”


Salmo 113

Como os dois salmos anteriores, este também começa com “aleluia”, sendo que também termina com a mesma palavra.
Isto indica que eram salmos usados especialmente para a adoração pública, estando a assembléia reunida.
As letras destes salmos elevam a alma a considerar na grandeza de Deus e de Suas obras, dispondo o espírito à adoração.
É lamentável que muito do louvor atual das igrejas não tenha mais esta característica de levar o adorador a meditar nos feitos e atributos do Senhor para adorá-lo consoante aquilo que Ele é e faz, conforme convém para uma adoração em espírito e em verdade.
Os servos de Deus são convocados no salmo a louvar o Seu nome e a bendizer-Lhe o nome no presente e para sempre.
E que o louvem desde o nascer do sol até a noite.
Porque grande e excelente é o Senhor, acima de todas as nações, e a Sua glória é maior do que a dos próprios céus.
Não há quem possa ser comparado a Ele, que tendo o Seu trono no terceiro céu, inclina-se para ver o que se passa no céu e sobre a terra.
E o faz para erguer do pó o desvalido, e do monturo o necessitado, fazendo-lhes assentar-se ao lado dos príncipes do Seu povo, porque não há acepção de pessoas na família de Deus.
Tão grande é o poder do Senhor que até mesmo faz com que a mulher estéril viva em família e seja alegre mãe de filhos espirituais, ensinando-lhes a andar nos caminhos do Senhor.


“Aleluia!
Louvai, servos do SENHOR, louvai o nome do SENHOR.
Bendito seja o nome do SENHOR, agora e para sempre.
Do nascimento do sol até ao ocaso, louvado seja o nome do SENHOR.
Excelso é o SENHOR, acima de todas as nações, e a sua glória, acima dos céus.
Quem há semelhante ao SENHOR, nosso Deus, cujo trono está nas alturas,  que se inclina para ver o que se passa no céu e sobre a terra?
Ele ergue do pó o desvalido e do monturo, o necessitado,  para o assentar ao lado dos príncipes, sim, com os príncipes do seu povo.
Faz que a mulher estéril viva em família e seja alegre mãe de filhos.


Aleluia!”


Salmo 114

Este salmo destaca que quando Israel saiu do cativeiro do Egito, a vocação de Judá era a de ser o centro do santuário de Deus, assim como o poder político estava espalhado pelas doze tribos de Israel.
Como se soubessem desta vocação de Judá e Israel, o Mar Vermelho e o rio Jordão se abriram, respectivamente, nos dias de Moisés, e nos de Josué, para que o povo do Senhor passasse para o outro lado a pé enxuto, de maneira que as nações vissem que o Senhor lutava pelo Seu povo, e cuidada dele.
Os montes da cordilheira do Sinai tremeram com a presença do Senhor, e até água da rocha Deus tirou para o seu povo.


“Quando saiu Israel do Egito, e a casa de Jacó, do meio de um povo de língua estranha, Judá se tornou o seu santuário, e Israel, o seu domínio.
O mar viu isso e fugiu; o Jordão tornou atrás.
Os montes saltaram como carneiros, e as colinas, como cordeiros do rebanho. Que tens, ó mar, que assim foges?
E tu, Jordão, para tornares atrás?
Montes, por que saltais como carneiros?
E vós, colinas, como cordeiros do rebanho?


Estremece, ó terra, na presença do Senhor, na presença do Deus de Jacó, o qual converteu a rocha em lençol de água e o seixo, em manancial.”



Salmo 115

O salmista exalta ao Senhor porque é o único Deus verdadeiro e vivo que abençoa o povo de Israel, e particularmente a casa de Arão, ou seja, os sacerdotes de Israel que foram separados por Ele para o serviço do santuário.
Como o Deus vivo é invisível, o salmista pede ao Senhor que desse glória ao Seu Nome, manifestando as Suas obras, para que calasse as nações idólatras que confiavam em ídolos de prata e ouro, feitos pelas próprias mãos dos homens, e que não falam, não veem e nem ouvem, e que deixam seus adoradores nas mesmas condições deles, ou seja, incapazes de ouvirem, verem e falarem com Deus.
Todavia Deus não somente se comunicava com Israel como é o amparo e escudo do Seu povo.
Ele nunca esqueceu o Seu povo e a Sua bênção no presente e no futuro, para o salmista, era uma certeza.
Uma bênção que não faz acepção de pessoas, porque é destinada a todos os que O temem, tanto pequenos como grandes.
É provável que este salmo tenha sido escrito por um dos sacerdotes porque ele impetra a bênção do Senhor sobre o Seu povo.


“Não a nós, SENHOR, não a nós, mas ao teu nome dá glória, por amor da tua misericórdia e da tua fidelidade.
Por que diriam as nações: Onde está o Deus deles? No céu está o nosso Deus e tudo faz como lhe agrada.
Prata e ouro são os ídolos deles, obra das mãos de homens.
Têm boca e não falam; têm olhos e não veem;  têm ouvidos e não ouvem; têm nariz e não cheiram. Suas mãos não apalpam; seus pés não andam; som nenhum lhes sai da garganta.
Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem e quantos neles confiam.
Israel confia no SENHOR; ele é o seu amparo e o seu escudo.
A casa de Arão confia no SENHOR; ele é o seu amparo e o seu escudo. Confiam no SENHOR os que temem o SENHOR; ele é o seu amparo e o seu escudo.
De nós se tem lembrado o SENHOR; ele nos abençoará; abençoará a casa de Israel, abençoará a casa de Arão.
Ele abençoa os que temem o SENHOR, tanto pequenos como grandes.
O SENHOR vos aumente bênçãos mais e mais, sobre vós e sobre vossos filhos.
Sede benditos do SENHOR, que fez os céus e a terra. Os céus são os céus do SENHOR, mas a terra, deu-a ele aos filhos dos homens.
Os mortos não louvam o SENHOR, nem os que descem à região do silêncio.

Nós, porém, bendiremos o SENHOR, desde agora e para sempre. Aleluia!”


Salmo 116

O início deste salmo é muito parecido com o Salmo 18, de maneira que é possível que seja também de autoria de Davi.
O salmista declara o seu amor pelo Senhor porque Ele ouve a sua voz e súplicas, inclinando os Seus ouvidos para atendê-lo, motivo porque estava determinado a invocá-lO enquanto vivesse.
Mesmo com os laços de morte que lhe haviam cercado em grandes perigos, e as angústias do inferno que se apoderaram da sua alma, fazendo-o cair em tribulação e tristeza.
Ele invocou o nome do Senhor pedindo-Lhe que livrasse a sua alma.
Ele sabia que Deus é justo, mas também compassivo e misericordioso, e por isso tinha sempre bom ânimo em Lhe dirigir clamores.
Sabia também que o Senhor vela pelos que são pobres de espírito, como ele, o próprio salmista, de modo que achando-se prostrado, foi salvo da sua angústia pelo Senhor.
Quando Deus opera na alma ela volta ao seu sossego, que é a condição em que deve se encontrar, conforme o propósito de Deus na criação do homem.
Assim, em sua confiança no Senhor, o salmista foi livrado da morte que sentia em sua alma, das suas lágrimas, e da queda na tentação e na ruína.
Como sua segurança estava em andar na presença do Senhor, então estava determinado a fazê-lo durante todo o tempo da sua peregrinação neste mundo.
Ele mantinha a fé, mesmo quando dizia que estava sobremodo aflito.
Enquanto esteve perturbado em sua paz de mente e espírito, disse que todo homem é mentiroso.
Todavia o Senhor quebrou todas as cadeias que acorrentavam a sua alma, e o libertou completamente, de modo que se dispôs a ofertar ao Senhor, pelos benefícios que havia recebido dEle, e percebeu que não havia maior oferta do que tomar o cálice da salvação e invocar o nome do Senhor.
Por isso cumpriria todos os seus votos feitos ao Senhor na presença de todo o Seu povo, para que lhes servisse de testemunho da sua consagração.
A citação do verso 15 de que “Preciosa é aos olhos do Senhor a morte dos seus santos.”, merece uma reflexão especial quanto ao seu significado, porque à vista do Senhor a morte dos Seus santos é tão preciosa, que não satisfará aos desejos ímpios de um Saul, de um Absalão, nem de quaisquer inimigos de Davi, para que triunfassem sobre ele, lhe tirando a vida.
Davi sabia, pelo Espírito Santo, que morreria em ditosa velhice, em seu leito, para que o nome do Senhor fosse glorificado, por tê-lo poupado de tantos perigos de morte, revelando assim o Seu poder para preservar os Seus santos.
Se a alguns deles permite saírem deste mundo pelo martírio, é pelo mesmo motivo de ser glorificado neles, pela total falta de temor que eles demonstram em face da morte, porque são assistidos pelo Seu poder.
Mas nenhum santo, morrerá sem que isto seja do desígnio de Deus.
Então esta citação de ser preciosa a morte dos santos aos olhos de Deus, deve ser entendida no contexto bíblico em que se afirma que é preciosa para Ele a vida deles (II Rs 1.13), bem como o seu sangue (Sl 72.14).
   

“Amo o SENHOR, porque ele ouve a minha voz e as minhas súplicas.
Porque inclinou para mim os seus ouvidos, invoca-lo-ei enquanto eu viver.
Laços de morte me cercaram, e angústias do inferno se apoderaram de mim; caí em tribulação e tristeza.
Então, invoquei o nome do SENHOR: ó SENHOR, livra-me a alma.
Compassivo e justo é o SENHOR; o nosso Deus é misericordioso.
O SENHOR vela pelos simples; achava-me prostrado, e ele me salvou.
Volta, minha alma, ao teu sossego, pois o SENHOR tem sido generoso para contigo.
Pois livraste da morte a minha alma, das lágrimas, os meus olhos, da queda, os meus pés.
Andarei na presença do SENHOR, na terra dos viventes.
Eu cria, ainda que disse: estive sobremodo aflito. Eu disse na minha perturbação: todo homem é mentiroso.
Que darei ao SENHOR por todos os seus benefícios para comigo?
Tomarei o cálice da salvação e invocarei o nome do SENHOR.
Cumprirei os meus votos ao SENHOR, na presença de todo o seu povo.
Preciosa é aos olhos do SENHOR a morte dos seus santos. SENHOR, deveras sou teu servo, teu servo, filho da tua serva; quebraste as minhas cadeias.
Oferecer-te-ei sacrifícios de ações de graças e invocarei o nome do SENHOR.
Cumprirei os meus votos ao SENHOR, na presença de todo o seu povo,  nos átrios da Casa do SENHOR, no meio de ti, ó Jerusalém.
Aleluia!”


Salmo 117

Este salmo convoca os povos gentios a louvarem a Deus, por ser muito grande a Sua misericórdia tanto quanto para judeus quanto para os gentios, e porque a Sua fidelidade subsiste para sempre.
Nele se declara, mesmo no período da Antiga Aliança com Israel, que o Senhor não é somente Deus dos judeus, mas de todas as nações.

Louvai ao SENHOR, vós todos os gentios, louvai-o, todos os povos.
Porque mui grande é a sua misericórdia para conosco, e a fidelidade do SENHOR subsiste para sempre.
Aleluia!


Salmo 118

Como no Salmo 115, neste, a casa de Arão é também citada particularmente a louvar ao Senhor juntamente com o povo de Israel, porque cabia aos sacerdotes, que eram daquela casa, a direção do culto do santuário do Senhor, ou seja, do templo e das sinagogas.
São destacadas de modo especial a bondade e a misericórdia de Deus, como objeto da proclamação deles e da sua rendição de graças ao Senhor.
A grande lição que permeia quase todos os salmos e que bem faríamos em aprender não é somente a do dever constante do louvor e gratidão a Deus, como também o ato de invocá-lO no meio de nossas tribulações, porque o testemunho afirmado nos Salmos é o de que Ele sempre nos ouve e nos dá livramento.
A ponto de se perder o medo do que nos possa fazer o homem, porque temos a segurança de que o Senhor está conosco.
Há um grande princípio espiritual declarado neste salmo, que bem faríamos em observar, que o salmista expressa nas seguintes palavras:
“Melhor é buscar refúgio no SENHOR do que confiar no homem.  Melhor é buscar refúgio no SENHOR do que confiar em príncipes.”.
A citação de nações que cercaram o salmista, mas que foram destruídas por ele em nome do Senhor, pode indicar uma possível autoria de Davi deste salmo, porque ele nunca perdeu qualquer batalha durante o seu reinado, porque o Senhor sempre foi com ele, por causa da sua piedade e fé nEle, desde a sua juventude, quando matou um leão, um urso, e Golias, o gigante.
Ele diz que o haviam empurrado violentamente para fazê-lo cair, mas o Senhor lhe havia amparado, porque era a sua força e o seu cântico, que o salvou.
Por isso se ouve nas moradas dos justos a voz de júbilo e de salvação, porque a mão direita do Senhor faz proezas.
De modo que os que confiam nEle podem dizer com ousadia que não morrerão antes do tempo determinado pelo Senhor, para que possam dar testemunho das Suas grandes obras.
Ele pode castigar severamente os seus filhos, mas não os entregará à morte, como faz com os ímpios, porque preciosa é a vida de Seus filhos a Seus olhos, porque os ama e são as Suas testemunhas na terra.
Isto é concedido àqueles que têm entrado pela porta estreita da justiça de Deus, tal como o salmista entrara por ela, e desejava continuar entrando continuamente.
Porque esta é a porta do Senhor.
Ele mesmo é a porta do redil das Suas ovelhas.
E por ela podem entrar somente os justos (os que foram justificados pela fé nEle).
Este salmo foi proferido dentro do contexto do evangelho porque há citações abundantes nele que se referem à obra de Cristo e ao nosso relacionamento com Ele, como o que já comentamos anteriormente, e o que o salmista dirá adiante, quanto a render graças ao Senhor porque lhe acudiu e foi a sua salvação.
Ele foi e é, a pedra fundamental de esquina que os construtores da religião de Israel rejeitaram.
Jesus foi eleito pelo Pai para ser tal rocha de esquina, de maneira que não há outra que tenha sido dada aos homens, sobre a qual possam ser edificados espiritualmente.
Deus fez este dia de salvação, de graça, por meio de nos ter dado tal Rocha firme, que é Cristo.
Este é o dia aceitável do Senhor, que na verdade é composto de muitos dias correspondentes à dispensação da graça, e por este motivo, tal como o salmista devemos regozijarmo-nos nele, ou seja todos os dias de nossas vidas, enquanto durar tal dispensação, na qual Deus tem feito uma aliança com os pecadores através do sangue de Jesus.
Esta salvação do Senhor é para ser pedida com a boca, porque é somente pela fé nEle que somos salvos.
Devemos pedir que o Senhor nos faça prosperar neste caminho da salvação através da santificação de nossas vidas, de modo que  faça prosperar todos os Seus desígnios relativos à igreja
Por isso é bendito o que vem em nome do Senhor, a saber, o Messias, o Redentor, o Salvador, nosso Senhor Jesus Cristo, porque vem para nos salvar dos nossos pecados e nos tornar filhos de Deus.
Então estes que fazem parte da Casa do Senhor são abençoados, porque Deus é a luz deles, e é digno de que seja adorado com ações de graças.




“Rendei graças ao SENHOR, porque ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre. Diga, pois, Israel: Sim, a sua misericórdia dura para sempre. Diga, pois, a casa de Arão: Sim, a sua misericórdia dura para sempre. Digam, pois, os que temem ao SENHOR: Sim, a sua misericórdia dura para sempre. Em meio à tribulação, invoquei o SENHOR, e o SENHOR me ouviu e me deu folga. O SENHOR está comigo; não temerei. Que me poderá fazer o homem? O SENHOR está comigo entre os que me ajudam; por isso, verei cumprido o meu desejo nos que me odeiam. Melhor é buscar refúgio no SENHOR do que confiar no homem.  Melhor é buscar refúgio no SENHOR do que confiar em príncipes. Todas as nações me cercaram, mas em nome do SENHOR as destruí.  Cercaram-me, cercaram-me de todos os lados; mas em nome do SENHOR as destruí.  Como abelhas me cercaram, porém como fogo em espinhos foram queimadas; em nome do SENHOR as destruí. Empurraram-me violentamente para me fazer cair, porém o SENHOR me amparou. O SENHOR é a minha força e o meu cântico, porque ele me salvou.  Nas tendas dos justos há voz de júbilo e de salvação; a destra do SENHOR faz proezas. A destra do SENHOR se eleva, a destra do SENHOR faz proezas. Não morrerei; antes, viverei e contarei as obras do SENHOR. O SENHOR me castigou severamente, mas não me entregou à morte. Abri-me as portas da justiça; entrarei por elas e renderei graças ao SENHOR. Esta é a porta do SENHOR; por ela entrarão os justos. Render-te-ei graças porque me acudiste e foste a minha salvação. A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular;  isto procede do SENHOR e é maravilhoso aos nossos olhos.  Este é o dia que o SENHOR fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele. Oh! Salva-nos, SENHOR, nós te pedimos; oh! SENHOR, concede-nos prosperidade!  Bendito o que vem em nome do SENHOR. A vós outros da Casa do SENHOR, nós vos abençoamos. O SENHOR é Deus, ele é a nossa luz; adornai a festa com ramos até às pontas do altar. Tu és o meu Deus, render-te-ei graças; tu és o meu Deus, quero exaltar-te.  Rendei graças ao SENHOR, porque ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre.”


Salmo 119

Estamos apresentando este Salmo com a numeração dos seus versículos, porque cada oito versículos foram iniciados, respectivamente, com uma das letras do alfabeto hebraico. Por exemplo, as primeiras palavras dos versos 1 a 8 são iniciados com alef (a), que é a primeira consoante das 22 do alfabeto hebraico; e dos versos 9 a 16, cada versículo é iniciado com bet, que é a segunda consoante, e assim sucessivamente. Daí este salmo conter 176 versículos (22 x 8= 176), assim distribuídos:
1 a 8 – alef  a
9 a 16 – bet ou vêt   b
17 a 24 – gimel   g
25 a 32 – dalet   d
33 a 40 – he   h
41 a 48 – vav  w
49 a 56 – zain  z                      
57 a 64 – hêt   x
65 a 72 – têt    j        
73 a 80 – yod   y
81 a 88 – káf  k
89 a 96 – lâmed   l      
97 a 104 – mem m
105 a 112 – num   n
113 a 120 – samech   s
121 a 128 – ain   [      129 a 136 – pê ou fê   p
137 a 144 – tzade   c
145 a 152 – kof  q
153 a 160 – resh  r
161 a 168 – shin  v
169 a 176 – tav  t

Tendo em vista a grande extensão deste salmo, estaremos comentando o mesmo, por versículo ou grupos de versículos:

“1 Bem-aventurados os irrepreensíveis no seu caminho, que andam na lei do SENHOR.
2 Bem-aventurados os que guardam as suas prescrições e o buscam de todo o coração;
3 não praticam iniquidade e andam nos seus caminhos.”
As pessoas que se encaixam nas bem-aventuranças citadas por Jesus no início do Sermão do Monte, no quinto capítulo de Mateus, são aquelas que são irrepreensíveis no seu caminho, porque este consiste na lei do Senhor. Elas andam por ele guardando as prescrições do Senhor e Lhe buscando de todo o coração, e parte disto consiste em não praticar a iniquidade.

“4 Tu ordenaste os teus mandamentos, para que os cumpramos à risca.
5 Tomara sejam firmes os meus passos, para que eu observe os teus preceitos.
6 Então, não terei de que me envergonhar, quando considerar em todos os teus mandamentos.”
Os mandamentos do Senhor não são para serem meramente elogiados ou apreciados, mas cumpridos de fato. Eles devem receber da nossa parte a devida seriedade como as ordens expedidas por um Grande Rei, que prestará contas conosco quanto à nossa obediência às Suas ordenanças. Não se pode guardar tais mandamentos sem que se ande de maneira ordenada e firme na presença do Senhor, e somente assim fazendo não teremos do que nos envergonhar diante dEle.

“7 Render-te-ei graças com integridade de coração, quando tiver aprendido os teus retos juízos.
8 Cumprirei os teus decretos; não me desampares jamais.”
Não é possível render graças ao Senhor com integridade coração, caso não se conheça os seus retos juízos e mandamentos para que sejam cumpridos. Nisto consiste um viver que não desaponta a Deus e que lhe é inteiramente agradável. Não basta termos sido justificados pela graça, mediante a fé para tal viver vitorioso. É necessário buscar continuamente a santificação pelo cumprimento dos mandamentos de Deus, no poder do Espírito, porque é a Sua Palavra aplicada em nossas vidas, pelo Espírito Santo, o que nos santifica.  A palavra “juízos” do verso 7, vem do hebraico “mishpat” e significa sentença, julgamento, justiça, juízo. Nós encontramos esta mesma palavra neste salmo, também nos versos 23, 20, 30, 39, 43, 52, 62, 75, 84, 91, 102, 106, 108, 120, 121, 132, 137, 149, 156, 160, 164, 175.

“9 De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho? Observando-o segundo a tua palavra.”
Não há outro modo de alguém guardar o seu caminho em pureza, mesmo no caso de jovens, a não ser por se cumprir a Palavra de Deus. É por ela que podemos distinguir os que é e o que não é a verdade, e também as virtudes espirituais.

“10 De todo o coração te busquei; não me deixes fugir aos teus mandamentos.”
Os mandamentos de Deus só podem ser cumpridos quando nós O buscamos de todo o nosso coração.

“11 Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti.”
O modo de se manter o coração purificado do pecado, é por tê-lo cheio da Palavra de Deus.

“12 Bendito és tu, SENHOR; ensina-me os teus preceitos.”
É necessário ter a iluminação do Espírito Santo para que possamos aprender de fato os mandamentos de Deus.

“13 Com os lábios tenho narrado todos os juízos da tua boca.”
Não somente devemos temer e nos sujeitar aos juízos do Senhor, como também proclamá-los a outros, para que também eles temam a Deus.

“14 Mais me regozijo com o caminho dos teus testemunhos do que com todas as riquezas.
15 Meditarei nos teus preceitos e às tuas veredas terei respeito.
16 Terei prazer nos teus decretos; não me esquecerei da tua palavra.”
Quando se tem a riqueza do testemunho do Senhor habitando em nós, as riquezas deste mundo se nos tornam desprezíveis em face da riqueza da Sua graça. De modo que meditar na Palavra do Senhor e na Sua vontade passa ser todo o nosso prazer.

“17 Sê generoso para com o teu servo, para que eu viva e observe a tua palavra.”
O desejo do salmista era o de viver para cumprir a Palavra de Deus. E este é o mesmo desejo de todos os que amam verdadeiramente ao Senhor.

“18 Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei.”
O salmista sabia que não é possível ter prazer na lei do Senhor, e conhecer quão maravilhosa ela é, sem que os nossos olhos espirituais sejam abertos pelo Espírito Santo. Só podemos conhecer o valor da nossa redenção, quando estivermos redimidos.

“19 Sou peregrino na terra; não escondas de mim os teus mandamentos.”
O salmista sabia que estamos apenas em peregrinação neste mundo como forasteiros, de modo que o que há de melhor e mais importante para se fazer aqui é aprender de Deus os Seus mandamentos e vontade.

“20 Consumida está a minha alma por desejar, incessantemente, os teus juízos.”
Todo aquele que desejar incessantemente conhecer e se submeter aos juízos de Deus, para que possa andar no caminho bom e direito, consumirá toda a sua alma nisto, porque se esforçará para ser achado sempre no caminho estreito da salvação.

“21 Increpaste os soberbos, os malditos, que se desviam dos teus mandamentos.”
Os que se desviam de cumprir os mandamentos do Senhor, por se manterem numa atitude de rebeldia contra Ele, são tidos por soberbos e malditos, porque permanecem debaixo da maldição da lei, e isto faz com que permaneçam debaixo da repreensão do Senhor, sem poderem contar com o Seu favor e os benefícios da salvação que há em Cristo Jesus, que são para aqueles que têm fé NEle.

“22 Tira de sobre mim o opróbrio e o desprezo, pois tenho guardado os teus testemunhos.”
Somente podem contar em serem ouvidos em seu clamor a Deus para tirar de sobre si o opróbrio e o desprezo, aqueles que têm se esforçado com sinceridade para guardarem os Seus testemunhos. Enfim, Deus não livrará a ninguém que não esteja de fato se voltando para Ele.

“23 Assentaram-se príncipes e falaram contra mim, mas o teu servo considerou nos teus decretos.”
Aqueles que têm guardado os mandamentos do Senhor, não precisam temer as perseguições injustas dos grandes da terra, porque o Senhor será a fortaleza deles.

“24 Com efeito, os teus testemunhos são o meu prazer, são os meus conselheiros.”
O homem sábio se aconselha com a Palavra de Deus e é por ela que dirige os seus passos, de maneira que ela é todo o seu prazer.

“25 A minha alma está apegada ao pó; vivifica-me segundo a tua palavra.”
Somente Deus pode nos vivificar segundo os critérios da Sua Palavra, quando nossa alma se encontra abatida.

“26 Eu te expus os meus caminhos, e tu me valeste; ensina-me os teus decretos.”
Aquele que andar em sinceridade diante de Deus, não lhe escondendo os seus caminhos, achará graça da parte do Senhor, que lhe fará conhecer a Sua vontade.

“27 Faze-me atinar com o caminho dos teus preceitos, e meditarei nas tuas maravilhas.”
Somente o Senhor pode conduzir o nosso coração a ter prazer nas coisas espirituais, celestiais e divinas, porque a nossa natureza carnal se opõe e resiste à Sua vontade.

“28 A minha alma, de tristeza, verte lágrimas; fortalece-me segundo a tua palavra.
29 Afasta de mim o caminho da falsidade e favorece-me com a tua lei.”
A alma consumida pela tristeza só pode achar verdadeira fortaleza permanecendo na verdade e na fé, e sendo fortalecida pela Palavra do Senhor.

“30 Escolhi o caminho da fidelidade e decidi-me pelos teus juízos.”
É necessário tomar posição, tal como o salmista, para uma vida consagrada e santificada. E isto consiste em escolher o caminho da fidelidade e dos juízos de Deus.

“31 Aos teus testemunhos me apego; não permitas, SENHOR, seja eu envergonhado.”
Aquele que se apegar a uma vida de verdadeiro testemunho segundo a Palavra e a vontade de Deus, jamais será envergonhado, porque terá a aprovação do Senhor.

“32 Percorrerei o caminho dos teus mandamentos, quando me alegrares o coração.”
Enquanto o coração não é fortalecido com a  graça, ele não tem o poder necessário para dar testemunho da Palavra de Deus, que é fogo e poder.

“33 Ensina-me, SENHOR, o caminho dos teus decretos, e os seguirei até ao fim.
34 Dá-me entendimento, e guardarei a tua lei; de todo o coração a cumprirei.”
É necessário perseverança e diligência para cumprir os mandamentos de Deus, mas isto demanda que se tenha um verdadeiro entendimento da Sua vontade, e isto somente o próprio Senhor pode nos conceder por iluminação do Espírito Santo.

“35 Guia-me pela vereda dos teus mandamentos, pois nela me comprazo.
36 Inclina-me o coração aos teus testemunhos e não à cobiça.”
O salmista tinha experiência de que não se pode viver a vida que é do céu com os recursos da terra. É necessário que o próprio Deus nos guie pela vereda da justiça. Como Paulo temos prazer com a mente na lei de Deus. Mas a lei do pecado que opera nos nossos membros resiste a tal vontade, e por isso é necessário a mortificação contínua do pecado, para que se possa viver e andar no Espírito. Porque é Ele quem inclina o nosso coração aos testemunhos de Deus, e que nos livra da cobiça, que é a mãe de todos os pecados, ao lado da incredulidade.  

“37 Desvia os meus olhos, para que não vejam a vaidade, e vivifica-me no teu caminho.”
É o poder de Deus que guarda o nosso coração puro e que nos impede de cair em tentações. Somente o Seu poder pode nos livrar do poder do mal que há no pecado, no mundo e em Satanás. Por isso se nos ensina na oração do Pai nosso que devemos pedir-Lhe para que não nos deixe cair em tentação e que nos livre do mal, porque é dEle o poder para tal, e não propriamente nosso.

“38 Confirma ao teu servo a tua promessa feita aos que te temem.”
Somente os que temem ao Senhor podem reivindicar perante Ele o cumprimento de Suas promessas.

“39 Afasta de mim o opróbrio, que temo, porque os teus juízos são bons.”
O salmista considera que os juízos do Senhor são bons e justos, mas Lhe pede que afaste dele o opróbrio que temia, baseando-se na Sua misericórdia. Não podemos achar misericórdia da parte do Senhor considerando que os Seus juízos que visam à nossa correção e arrependimento, não sejam justos e perfeitos.

“40 Eis que tenho suspirado pelos teus preceitos; vivifica-me por tua justiça.
41 Venham também sobre mim as tuas misericórdias, SENHOR, e a tua salvação, segundo a tua promessa.”
Como o salmista amava os preceitos do Senhor e se empenhava sinceramente em guardá-los, ele Lhe pede então, com confiança, que o vivificasse não segundo a sua justiça humana falha, mas segundo a justiça divina que é perfeita. De maneira que desfrutasse das misericórdias e da salvação do Senhor, segundo a promessa que tem feito a todos os que O buscarem com um coração sincero.

“42 E saberei responder aos que me insultam, pois confio na tua palavra.”
Sendo objeto da misericórdia e da salvação do Senhor, porque confiava na Sua Palavra, o salmista teria sabedoria para responder aos que lhe injuriavam.

“43 Não tires jamais de minha boca a palavra da verdade, pois tenho esperado nos teus juízos.
44 Assim, observarei de contínuo a tua lei, para todo o sempre.”
O salmista orava para que o Senhor nunca tirasse da sua boca a palavra da verdade, porque esperava nos Seus juízos, e sabia que somente assim poderia continuar observando para sempre a lei do Senhor. Muitos se desviam dos caminhos de Deus porque não têm o mesmo posicionamento do salmista quanto a nada acrescentar ou retirar da Palavra de Deus, e por não se estribar no próprio entendimento e capacidade para permanecer na verdade. Deus mesmo preserva o Seu testemunho fiel em nós.

“45 E andarei com largueza, pois me empenho pelos teus preceitos.
46 Também falarei dos teus testemunhos na presença dos reis e não me envergonharei.
47 Terei prazer nos teus mandamentos, os quais eu amo.
48 Para os teus mandamentos, que amo, levantarei as mãos e meditarei nos teus decretos.”
O salmista não se envergonhava de dar testemunho do Senhor e da Sua palavra, mesmo na presença de reis, porque sabia quão excelentes são os mandamentos de Deus, e devem ser proclamados a todos, não por timidez ou vergonha, mas com determinação e grande honra.

“49 Lembra-te da promessa que fizeste ao teu servo, na qual me tens feito esperar.”
Deus não se esquece de nenhuma de Suas promessas, mas é nosso dever lembrarmos delas e pedir ao Senhor pelo Seu cumprimento enquanto nos esforçamos com diligência para permanecermos fiéis, e firmes na fé em tudo quanto tenha nos prometido.

“50 O que me consola na minha angústia é isto: que a tua palavra me vivifica.”
Esta é a experiência de todo cristão fiel que sofre. Quando tem um espinho na carne. Quando se encontra angustiado em sua alma. Não perde a fé e não se desespera, porque sabe que será vivificado pela Palavra do Senhor, mediante o Seu poder operante em nós, porque não se esquece de consolar a nenhum de Seus filhos, que buscam fazer a Sua vontade.

“51 Os soberbos zombam continuamente de mim; todavia, não me afasto da tua lei.”
Somente os justos podem exultar no sofrimento das perseguições e das injúrias que sofrem da parte dos ímpios, e dos ataques que sofrem diretamente dos principados e potestades das trevas, e não permitem que sejam afastados da lei do Senhor por causa destas tribulações. Ao contrário a fé deles é aumentada e aprendem paciência, experiência e esperança cada vez maiores no Deus em que têm colocado toda a sua confiança.

“52 Lembro-me dos teus juízos de outrora e me conforto, ó SENHOR.”
Devemos trazer à recordação os grandes juízos do passado realizados pelo Senhor, como por exemplo como agiu contra a impiedade dos homens nos dias de Noé, em Sodoma e Gomorra, no Egito nos dias de Moisés, e contra o Seu próprio povo quando andou contrariamente à Sua vontade no deserto. Isto nos ajuda a achar conforto para nossas almas atribuladas, porque sabemos que sofremos não por sermos malfeitores, mas exatamente por causa do nosso amor ao Senhor e ao Seu evangelho.

“53 De mim se apoderou a indignação, por causa dos pecadores que abandonaram a tua lei.”
Aqueles que amam a Deus odeiam o pecado tanto em si mesmos, quanto nos outros. Jamais justificarão os que andam no pecado, ainda que sejam eles próprios.

“54 Os teus decretos são motivo dos meus cânticos, na casa da minha peregrinação.”
A casa da nossa peregrinação é este mundo de trevas, mas por causa da Palavra do Senhor podemos achar motivo de cânticos de alegria num mundo corrompido como o nosso, por causa do pecado. Cantamos porque sabemos que estamos em viagem para a nossa verdadeira pátria celestial, e que não somos do mundo, apesar de estarmos nele.

“55 Lembro-me, SENHOR, do teu nome, durante a noite, e observo a tua lei.
56 Tem-se dado assim comigo, porque guardo os teus preceitos.”
Aquele que guardar sinceramente os preceitos de Deus, nunca se esquecerá do Senhor, e terá o seu pensamento e coração continuamente voltados para Ele, mesmo durante a noite.

“57 O SENHOR é a minha porção; eu disse que guardaria as tuas palavras.”
Quando nos posicionamos para guardar a Palavra do Senhor, Ele passa a ser a nossa porção, ou seja, a nossa única herança e riqueza, tanto nesta vida, quanto na do por vir.

“58 Imploro de todo o coração a tua graça; compadece-te de mim, segundo a tua palavra.”
O salmista sempre recorreu à misericórdia do Senhor em clamores e orações, porque Ele sempre lhe respondeu e o livrou de todos os seus temores e tribulações, porque não confiava em si mesmo, na sua própria justiça, senão somente na graça e na Palavra do Senhor.

“59 Considero os meus caminhos e volto os meus passos para os teus testemunhos.
60 Apresso-me, não me detenho em guardar os teus mandamentos.”
O salmista sempre pedia ao Senhor que sondasse o seu coração. Ele se examinava continuamente segundo os testemunhos do Senhor, para andar consoante a Sua vontade. E não era lento em fazer isto. Ele se apressava e nada podia detê-lo, porque estava determinado a guardar os mandamentos do Senhor.

“61 Laços de perversos me enleiam; contudo, não me esqueço da tua lei.”
O salmista não negociava com os ímpios quanto estes o enredavam. Ele não lutava com as mesmas armas deles. Ele sempre agia em conformidade com a Lei do Senhor e esperava somente nEle para que fosse liberto dos laços com os quais o prendiam. Davi nunca pôde ser prendido definitivamente por nenhum destes laços porque o Senhor os desatou totalmente para ele, de maneira que o vemos morrendo em ditosa velhice, e não nas mãos de quaisquer dos seus muitos inimigos.

“62 Levanto-me à meia-noite para te dar graças, por causa dos teus retos juízos.”
O salmista começava a louvar e a dar graças ao Senhor por causa da retidão dos Seus juízos, no primeiro minuto do iniciar de cada dia. Era com o Senhor que ele desejava passar os primeiros momentos do dia.

“63 Companheiro sou de todos os que te temem e dos que guardam os teus preceitos.”
Há uma comunhão santa entre aqueles que amam o Senhor e a Sua Palavra. Este é o laço misterioso do Espírito Santo que une num só coração todos os que creem em Cristo. Não são uma confraria de amigos. Não são um clube fechado, mas uma porta que está sempre aberta para dar a destra de companhia a todo e qualquer que se converta, porque esta é a sua vocação comum, a de se amarem uns aos outros assim como Cristo os ama, porque isto é promovido, como já dissemos, pelo Espírito Santo que neles habita.

  “64 A terra, SENHOR, está cheia da tua bondade; ensina-me os teus decretos.”
Os céus e a terra manifestam a glória e a bondade de Deus, mas o salmista desejava aprender os Seus decretos diretamente dEle, por uma revelação espiritual, a qual não se pode aprender do testemunho da bondade de Deus que há nas obras da criação.

“65 Tens feito bem ao teu servo, SENHOR, segundo a tua palavra.
66 Ensina-me bom juízo e conhecimento, pois creio nos teus mandamentos.”
O salmista vinha desfrutando da bondade de Deus em sua vida, conforme a Sua Palavra, ou seja tanto pelas promessas que ela contém, quanto por ser praticada. Todavia, ele buscava crescimento espiritual pelo aprendizado do bom juízo e conhecimento. O mesmo se espera dos cristãos em Cristo, porque devem crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor.

“67 Antes de ser afligido, andava errado, mas agora guardo a tua palavra.”
Este versículo comprova que as provações visam ao crescimento espiritual do cristão. Deus nos corrige por meio das aflições, para que guardemos a Sua Palavra e sejamos participantes da Sua santidade.

“68 Tu és bom e fazes o bem; ensina-me os teus decretos.”
Um Deus que é bom e que só faz o bem, espera que aprendamos a ser tal como Ele, por aprender a Sua vontade. Afinal, não podemos amar aquilo que não conhecemos, daí a necessidade de se crescer no conhecimento de Deus e da Sua vontade, para que possamos ser transformados de glória e glória, à Sua própria semelhança.

“69 Os soberbos têm forjado mentiras contra mim; não obstante, eu guardo de todo o coração os teus preceitos.
70 Tornou-se-lhes o coração insensível, como se fosse de sebo; mas eu me comprazo na tua lei.”
A gordura não tem terminações nervosas, e por isso é insensível. Um coração espiritual só de gordura é aquele que é insensível para a vontade de Deus. E deste modo se entregará à mentira, e a perseguir os justos. Todavia, estes, quando perseguidos, devem continuar guardando de todo o coração os preceitos de Deus, tal como o salmista costumava fazer. Não devem permitir ser vencidos pelo mal, mas devem vencer o mal com o bem. Não devem se tornar insensíveis tal qual os seus perseguidores, mas devem amar até mesmo os seus inimigos.

“71 Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos.”
Este versículo é semelhante ao 67 e comprova que as aflições visam ao crescimento espiritual do cristão. Deus nos corrige por meio das aflições, para que guardemos a Sua Palavra e sejamos participantes da Sua santidade, aprendendo a ser pacientes, longânimos, perdoadores e amorosos, tal como Ele.

“72 Para mim vale mais a lei que procede de tua boca do que milhares de ouro ou de prata.”
As riquezas terrenas que passam e que se gastam pelo uso, não podem ser comparadas com as riquezas celestiais, que nos são concedidas como bênçãos espirituais. Nada trouxemos conosco para este mundo, e nada poderemos levar quando sairmos dele pela morte, no que se refere a bens materiais. Então não é sábio ajuntar tesouros na terra. Não se pode portanto comparar o valor da Palavra de Deus, que permanece para sempre, com o das coisas terrenas que perecem, e cuja glória é passageira como a fumaça.

“73 As tuas mãos me fizeram e me afeiçoaram; ensina-me para que aprenda os teus mandamentos.”
Se Deus não tivesse criado o homem, ninguém teria no que se gloriar, nem mesmo na própria existência. Então não é em nada deste mundo ou em nós mesmos que devemos nos gloriar senão somente no Senhor. Fomos criados para o propósito de aprender os caminhos de Deus, e a crescer nEle até a estatura de homem perfeito, conforme foi projetado por Ele desde antes da fundação do mundo. Enquanto peregrinamos aqui embaixo estamos em processo de transformação progressiva, que deve aumentar em graus, até o dia em que seremos tanto perfeitos no corpo, quanto no espírito, quando da volta de nosso Senhor para arrebatar a Sua igreja.

“74 Alegraram-se os que te temem quando me viram, porque na tua palavra tenho esperado.”
Há alegria na comunhão dos santos. Um santo se alegra à vista de outro santo. A base desta alegria e santidade é a guarda e confiança na Palavra de Deus, e o mover do Espírito Santo, que neles habita, que é unidade de fé, de amor e de espírito.

“75 Bem sei, ó SENHOR, que os teus juízos são justos e que com fidelidade me afligiste.”
Mais uma vez o salmista declara que a aflição com a qual estava sendo atingido pela potente mão do Senhor era justa, e era o resultado da fidelidade de Deus à Sua promessa de corrigir a todos os Seus filhos, porque os ama.

“76 Venha, pois, a tua bondade consolar-me, segundo a palavra que deste ao teu servo.
77 Baixem sobre mim as tuas misericórdias, para que eu viva; pois na tua lei está o meu prazer.”
Como o salmista vivia buscando guardar sinceramente a lei de Deus, então sentia-se encorajado pelo Espírito a orar pela manifestação da Sua bondade consoladora, segundo as Suas boas promessas, e misericórdia, porque sem isto é impossível ter a vida plena do Espírito, pela qual temos prazer na lei de Deus. É a nova natureza obtida no novo nascimento do Espírito, que tem prazer na lei de Deus, porque a antiga natureza (terrena) não tem não somente nenhum prazer na lei de Deus, como também se opõe a ela.

“78 Envergonhados sejam os soberbos por me haverem oprimido injustamente; eu, porém, meditarei nos teus preceitos.
79 Voltem-se para mim os que te temem e os que conhecem os teus testemunhos.”
O salmista entregava-se ao Senhor, para que julgasse a sua causa contra aqueles que lhe oprimiam injustamente. Ele dava lugar à ira de Deus, ou seja ao Seu atributo de juízo que opera segundo a Sua justiça, que dá o pago a todos aqueles que agem impiamente. O salmista sabia que o caso dos seus inimigos era um assunto para Deus e não para ele próprio se ocupar dele. Ele buscaria a comunhão dos que temiam ao Senhor e conheciam os Seus testemunhos. Esta era a sua oração: que Deus movesse os tais a estarem em sua companhia.

“80 Seja o meu coração irrepreensível nos teus decretos, para que eu não seja envergonhado.”
O desejo de Deus para todos os Seus filhos é que tenham uma vida irrepreensível, ou seja, que nada se ache no comportamento deles que seja digno de reprimenda. É somente quando se é diligente na busca deste alvo da santificação, que Deus o concretiza paulatinamente em nossas vidas, de modo que não sejamos motivo de vergonha ou escândalo, por vivermos de modo diferente daquele que é esperado, segundo a nossa vocação no Senhor, a saber, a de sermos filhos da luz, para andarmos na luz.

“81 Desfalece-me a alma, aguardando a tua salvação; porém espero na tua palavra.
82 Esmorecem os meus olhos de tanto esperar por tua promessa, enquanto digo: quando me haverás de consolar?”
Grande era a angústia do salmista, a ponto de sentir a alma desfalecida. Todavia, ele não se afastava da esperança da Palavra, que nos assegura a vitória pela permanência na fé no Senhor, e por continuarmos na prática da justiça, independentemente das circunstâncias em que estivermos vivendo, e que estejam causando este grande abatimento espiritual. O salmista estava esperando há muito tempo pelo livramento do Senhor, mas não desistia de esperar somente nEle, aguardando e clamando pelo dia em que finalmente seria consolado. Ele não estava em estado de passividade, esperando que o livramento viesse por acaso. Não. Ele estava bem instruído pelo Senhor que devemos clamar na hora da angústia, para que Ele possa nos livrar, de modo que venhamos a glorificar o Seu santo nome.

“83 Já me assemelho a um odre na fumaça; contudo, não me esqueço dos teus decretos.
84 Quantos vêm a ser os dias do teu servo? Quando me farás justiça contra os que me perseguem?”
O salmista estava velho e enfraquecido, e ainda havia muitos inimigos que o perseguiam. Ele se sentia como um odre que fora deixado na fumaça, e que se enchera de fuligem e ressecara. Isto pode ser uma referência ao estado de sua pele enrugada e ressecada pelos anos. Todavia ele declara que jamais se esqueceria da Palavra de Deus, e não deixaria também de aguardar somente nEle que fizesse justiça contra os seus perseguidores, ainda que fossem poucos os seus dias de vida neste mundo. Ele desejava manter um testemunho fiel até ao fim, para a exclusiva glória do Senhor.

“85 Para mim abriram covas os soberbos, que não andam consoante a tua lei.”
Quando os soberbos, ou seja, aqueles que andam segundo o seu próprio conceito e entendimento, e que não têm o temor do Senhor, percebem que os servos fiéis do Senhor estão enfraquecidos, eles lhes amaldiçoam para que morram de vez.

“86 São verdadeiros todos os teus mandamentos; eles me perseguem injustamente; ajuda-me.”
Quando se ama a verdade da Palavra, a consequência imediata disto é que seremos perseguidos injustamente. Contudo, não devemos recuar no nosso bom testemunho, e pedir a Deus que nos ajude e nos guarde do mal com o qual procuram nos atingir os nossos perseguidores.

“87 Quase deram cabo de mim, na terra; mas eu não deixo os teus preceitos.”
Mesmo em face de perigos de morte os cristãos não devem abandonar a sua fidelidade em viverem em conformidade com a Palavra de Deus.

“88 Vivifica-me, segundo a tua misericórdia, e guardarei os testemunhos oriundos de tua boca.”
É pela graça e misericórdia do Senhor que somos vivificados espiritualmente para sustentar os Seus testemunhos, no poder do Espírito.

“89 Para sempre, ó SENHOR, está firmada a tua palavra no céu.
90 A tua fidelidade estende-se de geração em geração; fundaste a terra, e ela permanece.
91 Conforme os teus juízos, assim tudo se mantém até hoje; porque ao teu dispor estão todas as coisas.”
A Palavra de Deus não é deste mundo, ela nos foi revelada desde o céu, e ela permanece inalterável, imutável, tal como o próprio Deus. Se a vida continua na terra é porque isto é da vontade do Senhor que tudo sustenta pelo poder da Sua Palavra. Mas chegará o dia em que Ele abalará os fundamentos da terra e os elementos se desfarão pelo fogo do Seu juízo. De maneira que devemos andar em santo trato e piedade em nossa peregrinação terrena, por sabermos que tudo é sustentado exclusivamente pela vontade do Senhor. Então é nosso dever conhecer e viver de acordo com tal vontade divina.

“92 Não fosse a tua lei ter sido o meu prazer, há muito já teria eu perecido na minha angústia.”
Quem mantém o espírito fortalecido na angústia é o nosso prazer na Palavra do Senhor, que é prazer nEle mesmo.

“93 Nunca me esquecerei dos teus preceitos, visto que por eles me tens dado vida.”
Deixar de lado os preceitos de Deus significa o mesmo que buscar a morte espiritual, porque o pendor da carne dá para a morte, e somente o pendor do Espírito dá para a vida e paz (Rom 8.6).

“94 Sou teu; salva-me, pois eu busco os teus preceitos.”
A convicção de que pertencemos ao Senhor e de que temos buscado guardar os Seus preceitos, é o que nos encoraja a confiar que seremos libertados de nossas tribulações quando clamamos por livramento ao Senhor.

“95 Os ímpios me espreitam para perder-me; mas eu atento para os teus testemunhos.”
Vivemos num mundo onde há também lobos vorazes, tal como nosso Senhor nos ordenou que nos acautelássemos deles com prudência, e eles nos espreitam para nos devorar, mas nada poderão contra nós enquanto nos mantivermos ligados à Palavra de Deus. Provamos que amamos a Jesus por guardarmos os Seus mandamentos, tal como Ele próprio afirmou.

“96 Tenho visto que toda perfeição tem seu limite; mas o teu mandamento é ilimitado.”
Todo conhecimento que temos neste mundo é limitado, é parciale. Toda perfeição terrena é também limitada, e nisto se inclui o próprio homem. Somente na Palavra de Deus e no próprio Deus há plenitude de perfeição.

“97 Quanto amo a tua lei! É a minha meditação, todo o dia!”
Os que buscam sinceramente ao Senhor não somente se esforçam para guardar os Seus mandamentos, como são inspirados por Ele a amá-los, de modo que será neles que estará o nosso coração todos os dias de nossas vidas.

“98 Os teus mandamentos me fazem mais sábio que os meus inimigos; porque, aqueles, eu os tenho sempre comigo.
99 Compreendo mais do que todos os meus mestres, porque medito nos teus testemunhos.
100  Sou mais prudente que os idosos, porque guardo os teus preceitos.”
A verdadeira e permanente sabedoria não é encontrada em nenhuma ciência deste mundo, porque tudo que há nele passará. Todavia a sabedoria que é segundo a Palavra de Deus é infinita e eterna. Aqueles que crescem no conhecimento e na prática da Palavra de Deus são tornados sábios. Não sábios segundo o mundo, mas sábios segundo Deus, transformados em suas próprias naturezas, deixando de ser carnais, para serem espirituais. Esta sabedoria ultrapassa e é superior à dos mestres e dos idosos deste mundo. E por ela, se chega a conhecer a verdadeira prudência. Quando Deus fundar os novos céus e nova terra, usando novos princípios físico-químicos-mecânicos, e até mesmo podendo modificar toda a estrutura da matéria na qual a encontramos presentemente, para onde irá todo o conhecimento adquirido pelos sábios das coisas deste mundo? Qual será a sua utilidade? Em que então se gloriarão? Deus tem dito que envergonhará os sábios deste mundo que se gloriam no seu conhecimento, e certamente o fará, porque se recusaram a dar glórias somente a Ele.

“101 De todo mau caminho desvio os pés, para observar a tua palavra.”
Não é possível guardar a Palavra do Senhor enquanto não se mortifica a carne, enquanto não se mortifica o pecado, enquanto não desviamos nossos pés dos caminhos que não são os caminhos do Senhor.

“102 Não me aparto dos teus juízos, pois tu me ensinas.”
Se estivermos aprendendo de fato os juízos de Deus, por sermos ensinados pelo Espírito Santo, jamais nos desviaremos deles.

“103 Quão doces são as tuas palavras ao meu paladar! Mais que o mel à minha boca.
104 Por meio dos teus preceitos, consigo entendimento; por isso, detesto todo caminho de falsidade.”
A verdade da Palavra aplicada ao coração pelo Espírito, em crescimento em santificação, traz um sentido de doçura à vida que é desconhecido por aquele que não se aplica de tal forma. Aquele que estiver se santificando odiará cada vez mais a falsidade, e não se achará a mentira e o engano em sua boca.

“105 Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e, luz para os meus caminhos.”
A lâmpada que contem a luz que nos faz enxergar o caminho da verdadeira espiritualidade é a Palavra de Deus. Ela ilumina tanto os nossos pés quanto o próprio caminho no qual devemos andar. É o sol que brilha e nos permite caminhar neste mundo de trevas espirituais sem tropeçar.

“106 Jurei e confirmei o juramento de guardar os teus retos juízos.”
O salmista não somente jurara, como vinha confirmando em sua vida o juramento que fizera de guardar os retos juízos do Senhor. Ele havia tomado uma decisão, uma posição, que mais cedo ou mais tarde todo verdadeiro cristão deve tomar, a saber, de viver somente para honrar o Senhor guardando a Sua Palavra.

“107 Estou aflitíssimo; vivifica-me, SENHOR, segundo a tua palavra.”
Mais uma vez o salmista se voltou para o Senhor na sua grande aflição para que fosse vivificado por Ele, em seu ânimo e espírito.

“108 Aceita, SENHOR, a espontânea oferenda dos meus lábios e ensina-me os teus juízos.”
O salmista sabia que o amor verdadeiro é voluntário. Por isso o louvor dos seus lábios era espontâneo, conforme inspirado pelo Espírito, por isso tinha a convicção de que o Senhor atenderia a sua oração pedindo-Lhe que aceitasse o seu louvor e que lhe ensinasse os Seus juízos.

“109 Estou de contínuo em perigo de vida; todavia, não me esqueço da tua lei.
110 Armam ciladas contra mim os ímpios; contudo, não me desvio dos teus preceitos.”
Como já comentamos anteriormente, não são perigos de vida ou qualquer outra forma de tribulação que devem desviar o cristão de guardar os mandamentos de Deus. Ao contrário são oportunidades para crescimento espiritual e fortalecimento da fé, que não devem ser desprezados, quando permitido por Deus que nos sobrevenham.

“111 Os teus testemunhos, recebi-os por legado perpétuo, porque me constituem o prazer do coração.
112 Induzo o coração a guardar os teus decretos, para sempre, até ao fim.”
O salmista havia se determinado a guardar os mandamentos do Senhor por todos os dias da sua vida, sem dar qualquer dia de folga para a prática da iniquidade. Este mesmo posicionamento convém a todo cristão que desejar se consagrar ao Senhor e santificar a sua vida.

“113 Aborreço a duplicidade, porém amo a tua lei.”
Todo servo do Senhor deveria agir como o salmista, ou seja, aborrecendo a duplicidade à qual o apóstolo Tiago se referiu em sua epístola, que nos torna incompatibilizados a agradarmos a Deus: “5 Ora, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não censura, e ser-lhe-á dada. 6 Peça-a, porém, com fé, não duvidando; pois aquele que duvida é semelhante à onda do mar, que é sublevada e agitada pelo vento. 7 Não pense tal homem que receberá do Senhor alguma coisa, 8 homem vacilante que é, e inconstante em todos os seus caminhos.” (Tg 1.5-8)

“114 Tu és o meu refúgio e o meu escudo; na tua palavra, eu espero.”
Não há fortaleza que possa nos abrigar no dia da calamidade senão somente o Senhor. Ele é um refúgio seguro para todos os Seus filhos. Para todos os que esperam nEle e na Sua Palavra.

“115 Apartai-vos de mim, malfeitores; quero guardar os mandamentos do meu Deus.”
Não se pode guardar os mandamentos do Senhor enquanto se anda na companhia daqueles que praticam males, praticando as mesmas obras que eles praticam.

“116 Ampara-me, segundo a tua promessa, para que eu viva; não permitas que a minha esperança me envergonhe.
117 Sustenta-me, e serei salvo e sempre atentarei para os teus decretos.”
A esperança do cristão jamais será frustrada porque está ancorada no céu, no Santo dos Santos celestial, no qual Jesus entrou como nosso precursor. A garantia da nossa salvação está nos ombros do Senhor e por isso jamais seremos confundidos ou envergonhados por termos colocado nEle a esperança de que seremos salvos da condenação eterna. É pela força do Seu próprio poder, e mediante o Espírito Santo, que faz com que perseveremos na verdade, de maneira que evidenciemos durante toda a nossa vida que somos de fato filhos de Deus.

“118 Desprezas os que se desviam dos teus decretos, porque falsidade é a astúcia deles.
119 Rejeitas, como escória, todos os ímpios da terra; por isso, amo os teus testemunhos.
120 Arrepia-se-me a carne com temor de ti, e temo os teus juízos.”


Deus honra somente àqueles que O honram. Ele somente concede graça a quem se humilha diante dEle e se reconhece pecador destituído de qualquer justiça e que depende portanto, inteiramente da justiça de Jesus para que possa ser reconciliado com Deus. Então os que não têm o temor do Senhor, que se desviam da Sua presença, fugindo sempre da Sua luz, que recusam a Sua salvação, e que vivem na falsidade e na astúcia, serão por fim rejeitados totalmente por Deus e entregues a uma condenação eterna.

“121 Tenho praticado juízo e justiça; não me entregues aos meus opressores.
122 Sê fiador do teu servo para o bem; não permitas que os soberbos me oprimam.”
O salmista vinha procedendo em justiça e juízo, mas debaixo da opressão não se confiou apenas nisto, mas clamou ao Senhor para que fosse livrado dos seus opressores, e lhe pediu também que fosse o Seu fiador para o bem, ou seja, quando lhe faltassem as forças para continuar na prática do bem, que o Senhor garantisse Ele mesmo, pelo Seu próprio poder, que ele continuasse em tal prática, de modo que não permitisse que os soberbos prevalecessem na opressão que lhe estavam fazendo.

“123 Desfalecem-me os olhos à espera da tua salvação e da promessa da tua justiça.”
O salmista esta desfalecido pela longa espera do livramento do Senhor e de fazer justiça à sua causa, todavia, continuava esperando, ou seja, na expectativa em fé de que  o Senhor o livraria.

“124 Trata o teu servo segundo a tua misericórdia e ensina-me os teus decretos.
125  Sou teu servo; dá-me entendimento, para que eu conheça os teus testemunhos.”
O salmista era pobre de espírito, ou seja reconhecia que era dependente de Deus para tudo, especialmente para conhecer os Seus mandamentos e testemunhos. De modo que Lhe orava suplicando que o tratasse segundo a Sua misericórdia, porque de si mesmo, não tinha como agradar ao Senhor e corresponder à Sua expectativa de perfeição em relação a ele. Então orava também para que recebesse de Deus entendimento quanto ao ensino que Lhe desse dos Seus decretos eternos. Se não chegamos a conhecer o que está determinado por tais decretos, jamais teremos uma fé que descanse completamente na soberana vontade de Deus, por não reconhecermos que tudo está debaixo do Seu controle.

“126 Já é tempo, SENHOR, para intervires, pois a tua lei está sendo violada.”
A tal ponto chegou a iniquidade nos dias do salmista, que ele orou por um avivamento, para que a lei do Senhor não continuasse sendo tão grandemente violada.

“127 Amo os teus mandamentos mais do que o ouro, mais do que o ouro refinado.”
“128 Por isso, tenho por, em tudo, retos os teus preceitos todos e aborreço todo caminho de falsidade.”
Estes versos são semelhantes ao verso 72, e o comentário deste se aplica também aos versos em apreço.

“129 Admiráveis são os teus testemunhos; por isso, a minha alma os observa.”
A alma santificada e instruída nos caminhos de Deus ama os testemunhos do Senhor, não por mero dever ou obrigação, mas por amá-los, porque são admiráveis e maravilhosos, e encantam a alma santificada. Para o cristão consagrado a obra de Deus e o Seu culto não são um peso, mas um prazer.

“130 A revelação das tuas palavras esclarece e dá entendimento aos simples.”
É justamente aos pequeninos que Deus revela a Sua grandeza, porque estes têm um coração contrito e humilde que faz com que se aproximem do Senhor. Os sábios segundo o mundo, e grandes a seus próprios olhos não se permitem tal coisa, porque se  julgam muito elevados para necessitarem de Deus. Então a revelação do Senhor é para os simples, para aqueles que confiam inteiramente nEle, como uma criança confia nos seu pais.

“131 Abro a boca e aspiro, porque anelo os teus mandamentos.”
O salmista tinha grande ousadia no falar porque o poder do Espírito estava sobre ele, porque amava os mandamentos de Deus, e cumpri-los era todo o seu desejo.

“132 Volta-te para mim e tem piedade de mim, segundo costumas fazer aos que amam o teu nome.”
Por experiência própria, e pelo testemunho do que via o Senhor fazer em relação aos demais que O amavam, o salmista clamava para que o Senhor estivesse em comunhão com ele e tivesse misericórdia dele, porque sabia que era o que Ele costumava fazer com todos os que O amam.

“133 Firma os meus passos na tua palavra, e não me domine iniquidade alguma.”
A santidade consiste basicamente em duas coisas: rejeitar o mal e praticar o bem. Praticar a palavra de Deus e não se deixar dominar por qualquer tipo de iniquidade. Então era por isso que o salmista orava a Deus para que lhe fosse dado por Ele.

“134 Livra-me da opressão do homem, e guardarei os teus preceitos.”
O salmista não guardaria os preceitos de Deus caso somente Ele o livrasse da opressão dos homens. Ele então Lhe pediu neste verso para que o livrasse da opressão dos homens porque guardava os Seus preceitos.

“135 Faze resplandecer o rosto sobre o teu servo e ensina-me os teus decretos.”
É a presença do Senhor que nos santifica. É diante da Sua glória que somos transformados. Por isso o salmista Lhe pedia que fizesse resplandecer o Seu rosto sobre Ele, porque é assim que se aprende como convém os decretos de Deus, a saber, em íntima experiência pessoal com Ele.

“136 Torrentes de água nascem dos meus olhos, porque os homens não guardam a tua lei.”
Entristecia o salmista o pecado que via nos homens que não guardavam a lei de Deus. Todo cristão que estiver santificado terá o mesmo sentimento, por ver o nome do Senhor sendo desonrado na terra.

“137 Justo és, SENHOR, e retos, os teus juízos.
138 Os teus testemunhos, tu os impuseste com retidão e com suma fidelidade.”
Os testemunhos e juízos do Senhor são retos, porque o próprio Deus é perfeitamente justo. A Sua lei não é portanto uma imposição mas uma consequência daquilo que Ele próprio é. De modo que não imporá a Sua retidão por obrigação involuntária, porque é amor em Sua própria essência, e o amor demanda relacionamento e obediência voluntários.

“139 O meu zelo me consome, porque os meus adversários se esquecem da tua palavra.”
Quando a Palavra de Deus é esquecida por aqueles que se nos opõem, o Espírito Santo faz com que o nosso zelo aumente muito, para que defendamos a Palavra diante da negação deles. Isto faz com que fiquemos ainda mais apegados à verdade, e que o testemunho seja dado com o espírito de ousadia, amor e moderação com o qual convém ser dado.

“140 Puríssima é a tua palavra; por isso, o teu servo a estima.”
Não há erro na Palavra de Deus. Sua verdade é absoluta. Por isso é digna de inteira aceitação.

“141 Pequeno sou e desprezado; contudo, não me esqueço dos teus preceitos.”
O homem nada é diante do Senhor. Todavia lhe está imposto o dever de buscar a semelhança de Deus, e isto é feito por meio da prática da Palavra. Daí o nosso dever de nunca esquecê-la. Porque é a Palavra que dá testemunho de Deus, e por meio de quem nos vem a fé.

“142 A tua justiça é justiça eterna, e a tua lei é a própria verdade.”
A justiça com a qual somos justificados é a de Cristo, que sendo eterna, jamais poderá nos ser tirada. A própria justiça de Adão foi perdida por ele quando pecou no Éden. Mas a justiça de Cristo com a qual estamos vestidos não será maior ou melhor do que a que temos agora, porque é perfeita e eterna, conforme a Palavra de Deus testifica dela, sendo a Palavra, a verdade.

“143 Sobre mim vieram tribulação e angústia; todavia, os teus mandamentos são o meu prazer.
144 Eterna é a justiça dos teus testemunhos; dá-me a inteligência deles, e viverei.”
O salmista tinha tão elevado apreço pela Palavra de Deus, que ela continuava sendo o seu prazer mesmo quando lhe sobrevinha a tribulação e a angústia. Ele vivia pela justiça dos testemunhos de Deus, e por isso Lhe pedia que lhe desse um conhecimento cada vez maior deles, para que tivesse uma vida espiritual cada vez mais plena, cheia da Sua presença.

“145 De todo o coração eu te invoco; ouve-me, SENHOR; observo os teus decretos.
146 Clamo a ti; salva-me, e guardarei os teus testemunhos.”
É o mesmo ensino que se repete em todo o livro dos Salmos: os salmistas invocavam o Senhor com plena inteireza de fé e de coração, na certeza de serem ouvidos, porque guardavam com sinceridade os decretos de Deus. Não se tratava de uma simples observância externa dos mandamentos de Deus, conforme costumavam fazer os escribas e fariseus, mas obediência voluntária de coração.

“147 Antecipo-me ao alvorecer do dia e clamo; na tua palavra, espero confiante.
148 Os meus olhos antecipam-se às vigílias noturnas, para que eu medite nas tuas palavras.”
Antes que o dia raiasse, o salmista se levantava e clamava segundo a Palavra de Deus, e ficava em espera confiante, sabendo que a esperança dos santos não será frustrada jamais. E antes de dormir ele sempre meditava na Palavra do Senhor. É este apego à Palavra que mantém o coração puro. Não a simples leitura, mas a meditação e prática, conforme iluminação recebida do Espírito Santo, em nossa comunhão com Ele.

“149 Ouve, SENHOR, a minha voz, segundo a tua bondade; vivifica-me, segundo os teus juízos.”
O salmista sabia que era ouvido e vivificado pelo Espírito de Deus, não por causa da sua própria justiça, mas por causa da Sua bondade e misericórdia divina. No entanto, também sabia que sem um viver reto perante Ele, não se pode ter a certeza de ser ouvido.

“150 Aproximam-se de mim os que andam após a maldade; eles se afastam da tua lei.
151 Tu estás perto, SENHOR, e todos os teus mandamentos são verdade.”
Há muitos teólogos liberais no mundo que afirmam pregar e ensinar a Palavra de Deus, mas negam a Sua verdade. Estes são os que praticam a iniquidade, e aos quais Jesus se referirá que nunca os conheceu, porque não andam de fato segundo a Palavra. O fruto deles não é bom. Todavia, o Senhor está perto, em comunhão com todos aqueles que andam segundo a verdade dos Seus mandamentos.

“152 Quanto às tuas prescrições, há muito sei que as estabeleceste para sempre.”
A Palavra de Deus é eterna, e durará para sempre. Tudo passará, mas não a Sua Palavra. Então não é para ser guardada por um tempo, mas por toda a vida e por toda a eternidade.

“153 Atenta para a minha aflição e livra-me, pois não me esqueço da tua lei.
154 Defende a minha causa e liberta-me; vivifica-me, segundo a tua promessa.”
Cabe aqui o mesmo comentário relativo ao verso 149. Conforme se afirma constantemente nos Salmos, é pela graça e misericórdia de Deus que somos libertados, mas há uma condicional “se” que deve ser atendida para que a graça seja eficaz. A saber, que guardemos os mandamentos do Senhor. Jesus mesmo ensinou isto claramente, quando dizia que “se” guardássemos a Sua Palavra, se cumpríssemos os Seus mandamentos, então pediríamos a petição que quiséssemos (ou seja, independente do grau de impossibilidade) e que seríamos atendidos pelo Pai.

“155 A salvação está longe dos ímpios, pois não procuram os teus decretos.”
A afirmação deste verso confirma o que foi dito antes. Os ímpios não podem contar com a fidelidade dos livramentos de Deus justamente por não se submeterem à Sua vontade.  Isto é fundamental (se submeter a Deus) se desejamos ser ouvidos por Ele, porque somente honra quem Lhe honra.  E tem dito que se alguém não honra a Jesus Cristo, Seu Filho unigênito, consequentemente também não poderá honrá-lO. Honra-se portanto a Deus Pai, honrando-se a Deus Filho.

“156 Muitas, SENHOR, são as tuas misericórdias; vivifica-me, segundo os teus juízos.”
O salmista sempre buscava ser vivificado em espírito baseado nas misericórdias de Deus, e segundo os critérios estabelecidos por Ele, e não segundo os seus méritos, justiça própria ou por quaisquer outras convicções. Este é de fato o único caminho para sermos vivificados pelo Senhor, porque sempre o fará pelos méritos de Cristo, e consoante a Sua misericórdia, porque jamais o fará por causa das nossas boas obras. Elas são necessárias como condição para que a graça seja eficaz, conforme já temos comentado, mas isoladamente, nada poderão fazer por nós diante de Deus, que exige uma justiça perfeita para nos abençoar, e somente em Cristo podemos achar tal justiça.

“157 São muitos os meus perseguidores e os meus adversários; não me desvio, porém, dos teus testemunhos.”
Cabe aqui o mesmo comentário relativo aos versos 69 e 70.

“158 Vi os infiéis e senti desgosto, porque não guardam a tua palavra.”
Cabe aqui o mesmo comentário relativo ao verso 136.

“159 Considera em como amo os teus preceitos; vivifica-me, ó SENHOR, segundo a tua bondade.”
Cabe aqui o mesmo comentário relativo aos versos 153, 154 e 156, dentre outros deste mesmo salmo.

“160 As tuas palavras são em tudo verdade desde o princípio, e cada um dos teus justos juízos dura para sempre.”
Cabe aqui o mesmo comentário relativo aos versos 89 a 91, 142 e 152.

“161 Príncipes me perseguem sem causa, porém o que o meu coração teme é a tua palavra.”
Quem tem o temor do Senhor e da Sua Palavra não temerá a perseguição injusta dos poderosos da terra, porque terão ao Senhor por Seu refúgio e proteção.

“162 Alegro-me nas tuas promessas, como quem acha grandes despojos.”
Há riquezas escondidas nas promessas da Palavra que são cavadas e achadas pela fé e pela prática desta mesma Palavra. E o ser alvo do cumprimento destas promessas traz grande alegria tal como quem acha grandes riquezas escondidas.

“163 Abomino e detesto a mentira; porém amo a tua lei.”
Quem ama verdadeiramente a Palavra de Deus, detesta e abomina toda forma de mentira. Tal pessoa sabe que Satanás é o pai da mentira e que tudo que passa do sim, sim, não, não, procede do diabo, e não de Deus. Por isso se afirma que os mentirosos não herdarão o reino do céu.

“164 Sete vezes no dia, eu te louvo pela justiça dos teus juízos.”
O salmista separava sete momentos específicos durante cada dia, para louvar a Deus pela justiça dos Seus juízos. Era uma forma de agradecimento constante por todos os livramentos que recebia de Deus. Daí haver fortes evidências de que este Salmo seja de autoria de Davi, porque não se conhece nenhum salmista que tenha sido tão afligido e perseguido, quanto ele.

“165 Grande paz têm os que amam a tua lei; para eles não há tropeço.”
O efeito da prática da justiça é a paz. É nos que têm sobre si o jugo da obediência de Jesus, que se cumpre a Sua promessa de acharem paz e descanso para suas almas. Estes não tropeçarão andando em dúvidas e em mau procedimento porque terão a instrução e o poder do Espírito Santo, para andarem somente nas veredas aplanadas. O caminho que conduz ao céu é estreito mas é perfeitamente aplanado, de forma que aqueles que andam por ele, não tropeçarão em alguma pedra.

“166 Espero, SENHOR, na tua salvação e cumpro os teus mandamentos.”
Como já comentado fartamente o salmista sempre esperava no livramento do Senhor, guardando os Seus mandamentos. Ele não permitia que o abatimento de sua alma, por causa das aflições, o afastasse do caminho da verdade.

“167 A minha alma tem observado os teus testemunhos; eu os amo ardentemente.
168 Tenho observado os teus preceitos e os teus testemunhos, pois na tua presença estão todos os meus caminhos.”
O salmista chama ao próprio Senhor como testemunha de que andava na Sua presença e nos Seus caminhos, porque tinha a testificação do próprio Espírito, em aprovação em paz e alegria em sua consciência e coração, de que tudo ia bem com a sua alma, porque guardava de fato a vontade e os mandamentos de Deus, o que se comprovava também no seu grande amor por eles. Quando a alma não é santificada, as ordenanças da Palavra, especialmente aquelas que consistem em verdadeira crucificação do nosso ego e vontade, são um fardo, um peso, mas os mandamentos não são nada penosos para aqueles que andam no Espírito.

“169 Chegue a ti, SENHOR, a minha súplica; dá-me entendimento, segundo a tua palavra.
170 Chegue a minha petição à tua presença; livra-me segundo a tua palavra.”
A base de livramento que o salmista usava era a própria Palavra, os critérios de Deus estabelecidos nela, e não seus sentimentos, méritos, emoções, obras, etc. Era por isso que tinha firme convicção de que suas súplicas seriam ouvidas pelo Senhor, porque agia em conformidade com a Palavra, e por isso também orava pedindo-Lhe um entendimento  cada vez maior desta Palavra, uma vez que era por ela que era abençoado.

“171 Profiram louvor os meus lábios, pois me ensinas os teus decretos.”
O salmista louvava ao Senhor quando era ensinado por Ele quanto aos Seus decretos. De fato é coisa maravilhosa ter revelações da parte de Deus quanto à Sua vontade, especialmente no caso de Davi, a quem Deus revelou coisas futuras, especialmente as que se cumpririam no ministério do Messias. O grande General do céu, confiou os Seus segredos ao seu general na terra. Quão grande honra havia nisto, e por isto Davi não somente se alegrava, como também louvava a Deus por tais revelações.

“172 A minha língua celebre a tua lei, pois todos os teus mandamentos são justiça.”
Não há nenhuma lei na terra, produzida pelos homens, que seja tão sucinta e ao mesmo tempo tão perfeita como a Lei do Senhor. Caso a humanidade se aplicasse de fato a amar e a cumprir a Lei de Deus, teríamos um paraíso na terra, caso os praticantes dos Seus mandamentos se sujeitassem ao principal deles de crerem em Cristo e mortificarem a natureza terrena pelo Espírito.

“173 Venha a tua mão socorrer-me, pois escolhi os teus preceitos.
174 Suspiro, SENHOR, por tua salvação; a tua lei é todo o meu prazer.”
A escolha que o cristão, e qualquer pessoa deve fazer é a de guardar a Palavra do Senhor, cumprir os Seus mandamentos, fazer a Sua vontade, e não propriamente buscar a Deus para somente resolver seus problemas. Com isto se inverte a ordem das coisas, porque Deus tem determinado que busquemos antes o Seu reino e a Sua justiça, e tudo mais que nos for necessário será acrescentado por Ele. Devemos lembrar que antes de tudo, quem deve ser buscado é o próprio Rei deste reino celestial e divino, a saber, nosso Senhor Jesus Cristo.  Quando o Senhor e a Sua Palavra forem todo o nosso prazer, até mesmo deixaremos de buscar aquelas coisas que antes ocupavam tanto a nossa mente e coração, porque veremos o quão insignificantes são quando Jesus estabelece o Seu domínio completo sobre o nosso coração e vontade.

“175 Viva a minha alma para louvar-te; ajudem-me os teus juízos.
176 Ando errante como ovelha desgarrada; procura o teu servo, pois não me esqueço dos teus mandamentos.”


Este extenso salmo termina com uma grande nota de humildade. O salmista reconhece que todos somos como ovelhas desgarradas que necessitam continuamente estarem sendo procuradas pelo Senhor, porque, de outro modo, em razão da natureza terrena, fugiremos da Sua santa presença. É por esta procura contínua do Espírito Santo, que não desiste e não abre mão da nossa presença por um só dia, que perseveramos e podemos fazer a vontade de Deus. Se não fosse isto, não poderíamos permanecer firmes diante dEle, vivendo de modo digno na Sua presença. Fomos criados para o louvor da glória da graça de Deus, que nos foi concedida abundantemente em Cristo. Isto é um dever que deve ser realizado voluntariamente e por amor. Para tanto, necessitamos ser ajudados pelo próprio Senhor, o qual tem prometido, para tal propósito, estar conosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Se não nos esquecermos da Palavra do Senhor, Ele sempre nos encontrará, e não andaremos errantes. Por isso nunca devemos deixar de meditar na Palavra e de nos esforçarmos em plena diligência, para cumprirmos os Seus mandamentos, porque ainda que fracos, o Senhor nos fortalecerá, porque a Palavra tem este poder de vivificar os nossos corações. Mas se deixarmos o remédio de lado, o qual é a Palavra, não podemos contar com a cura. É precisamente isto que o salmista quis deixar registrado ao fechar este precioso salmo.      


Salmo 120

Este salmo é o primeiro dos quinze, contados a partir dele, até o Salmo 134, sob o título Cântico dos Degraus, ou Cântico de Romagem.
Há várias conjecturas para o significado deste título.
Alguns afirmam que sendo salmos muito curtos, foram compostos para serem cantados quando se subia para as festas em Jerusalém; outros afirmam que para serem cantados quando se subia os quinze degraus que conduziam ao interior do templo.
A nota dominante dos salmos se repete neste Salmo 120, em que o salmista declara que na sua angústia clamava ao Senhor na certeza de ser ouvido por Ele.
Sua petição em oração era a de que Deus o livrasse dos lábios mentirosos e da língua enganadora.
Como ele carregava o testemunho de Deus, era injuriado e atacado com calúnias, injúrias e difamações por parte dos habitantes ímpios das regiões em que se encontrava peregrinando e habitando por força das circunstâncias, que ele nomeia neste salmo como sendo Meseque e Quedar.
Os habitantes destas terras odiavam a paz e somente pensavam na guerra.
É possível que este salmo tenha sido escrito por Davi quando fugia de Saul.
Ele encontrava-se aflito pelos muitos falsos testemunhos, que estavam sendo levantados contra a sua vida, mas sabia que no final Deus destruiria tais línguas infamadoras com o fogo do Seu juízo.      


“Na minha angústia, clamo ao SENHOR, e ele me ouve. SENHOR, livra-me dos lábios mentirosos, da língua enganadora.
Que te será dado ou que te será acrescentado, ó língua enganadora?
Setas agudas do valente e brasas vivas de zimbro.
Ai de mim, que peregrino em Meseque e habito nas tendas de Quedar.
Já há tempo demais que habito com os que odeiam a paz.


Sou pela paz; quando, porém, eu falo, eles teimam pela guerra.”


Salmo 121

Este salmo afirma a perfeita proteção de Deus para aqueles que buscam socorro nEle.
O salmista, quando necessitado de auxílio costumava elevar sua visão para o cume dos montes, especialmente para o monte Moriá onde se encontrava a arca do Senhor, o tabernáculo e depois de Davi, o templo.
Isto lhe ajudava a lembrar que todo socorro eficaz não nos vem dos recursos da terra, mas do alto, de Deus desde a Sua habitação nas alturas dos céus.
E a vigilância do Senhor é perfeita, porque Ele nunca dorme e vigia permanentemente os Seus servos, para guardá-los de todo o mal.  


“Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro?
O meu socorro vem do SENHOR, que fez o céu e a terra.
Ele não permitirá que os teus pés vacilem; não dormitará aquele que te guarda.
É certo que não dormita, nem dorme o guarda de Israel.
O SENHOR é quem te guarda; o SENHOR é a tua sombra à tua direita.
De dia não te molestará o sol, nem de noite, a lua.
O SENHOR te guardará de todo mal; guardará a tua alma.


O SENHOR guardará a tua saída e a tua entrada, desde agora e para sempre.”


Salmo 122

Salmo de Davi

Quando este salmo foi escrito por Davi a arca já se encontrava em Jerusalém, e o culto ao Senhor havia sido restaurado no tabernáculo que ele mandara construir para abrigar a arca, e para que oficiassem nele os sacerdotes e levitas.
Nas datas das festas fixas o povo de todas as demais tribos de Israel vinham a Jerusalém, para adorar ao Senhor.
Davi se alegrava como rei em ver o povo do Senhor Lhe rendendo culto de adoração.
Por isso ele conclamava o povo a orar pela paz de Jerusalém, para que se desse continuidade ao culto de adoração que era devido a Deus, e conforme previsto na Lei de Moisés.

“Alegrei-me quando me disseram: Vamos à Casa do SENHOR.
Pararam os nossos pés junto às tuas portas, ó Jerusalém! Jerusalém, que estás construída como cidade compacta, para onde sobem as tribos, as tribos do SENHOR, como convém a Israel, para renderem graças ao nome do SENHOR.
Lá estão os tronos de justiça, os tronos da casa de Davi.
Orai pela paz de Jerusalém! Sejam prósperos os que te amam.
Reine paz dentro de teus muros e prosperidade nos teus palácios.
Por amor dos meus irmãos e amigos, eu peço: haja paz em ti!
Por amor da Casa do SENHOR, nosso Deus, buscarei o teu bem.”


Salmo 123

Quando este salmo foi escrito Israel estava debaixo de grande aflição sob a ameaça de povos inimigos que escarneciam deles e do Seu Deus.
Então elevavam os seu olhos espirituais para os céus, para clamarem pela misericórdia do Senhor, para que lhes desse livramento.

“A ti, que habitas nos céus, elevo os olhos!
Como os olhos dos servos estão fitos nas mãos dos seus senhores, e os olhos da serva, na mão de sua senhora, assim os nossos olhos estão fitos no SENHOR, nosso Deus, até que se compadeça de nós.
Tem misericórdia de nós, SENHOR, tem misericórdia; pois estamos sobremodo fartos de desprezo.
A nossa alma está farta da zombaria dos arrogantes e do desprezo dos soberbos.”


Salmo 124

Salmo de Davi

Neste salmo Davi exalta o nome do Senhor por ter estado ao lado de Israel para salvá-lo de um grande perigo de destruição, por parte de uma nação inimiga, cujo nome não é citado no salmo.
Assim, como sempre, ele afirma que o socorro de Israel está em o nome do Senhor, a quem eles clamavam na angústia e na aflição.


“Não fosse o SENHOR, que esteve ao nosso lado, Israel que o diga;  não fosse o SENHOR, que esteve ao nosso lado, quando os homens se levantaram contra nós, e nos teriam engolido vivos, quando a sua ira se acendeu contra nós;  as águas nos teriam submergido, e sobre a nossa alma teria passado a torrente;  águas impetuosas teriam passado sobre a nossa alma.
Bendito o SENHOR, que não nos deu por presa aos dentes deles.
Salvou-se a nossa alma, como um pássaro do laço dos passarinheiros; quebrou-se o laço, e nós nos vimos livres.
O nosso socorro está em o nome do SENHOR, criador do céu e da terra.”


Salmo 125

Este salmo proclama a firmeza em que se encontram na graça do Senhor, todos os que verdadeiramente nEle confiam, porque são tornados inabaláveis tal como o monte de Sião, que era um monte continuamente guardado pelo Senhor.
Jerusalém era guardada pela cordilheira de montes de Sião, e tal como estes montes é o Senhor em relação aos Seu povo, para sempre.
Os justos não estarão para sempre debaixo do governo dos ímpios, porque não podem participar da mesma iniquidade deles, de modo que o Senhor fará o bem aos retos de coração, e quanto aos que se desviam para caminhos tortuosos, o Senhor lhes dará o mesmo fim que está reservado para todos os malfeitores.
O salmista impetra paz sobre Israel no final deste salmo, porque a vocação de Deus para Israel é paz eterna e não tormentos eternos.


“Os que confiam no SENHOR são como o monte Sião, que não se abala, firme para sempre.
Como em redor de Jerusalém estão os montes, assim o SENHOR, em derredor do seu povo, desde agora e para sempre.
O cetro dos ímpios não permanecerá sobre a sorte dos justos, para que o justo não estenda a mão à iniquidade.
Faze o bem, SENHOR, aos bons e aos retos de coração.
Quanto aos que se desviam para sendas tortuosas, leva-los-á o SENHOR juntamente com os malfeitores.
Paz sobre Israel!”


Salmo 126

É provável que este salmo tenha sido escrito quando o Senhor trouxe os judeus de volta de Babilônia para a própria terra deles sob Zorobabel.
Israel havia semeado ventos e portanto, colhido tempestades, por causa da idolatria de seus antepassados, mas esta nova geração que veio de Babilônia ora para ser plenamente restaurada, porque semeariam a paz e a verdade, com as lágrimas do arrependimento, e o resultado disto seria uma colheita de bons frutos com alegria, e não de ruínas como consequência de uma semeadura de más obras, tal como haviam feito os seus pais.

“Quando o SENHOR restaurou a sorte de Sião, ficamos como quem sonha.
Então, a nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua, de júbilo; então, entre as nações se dizia: Grandes coisas o SENHOR tem feito por eles.
Com efeito, grandes coisas fez o SENHOR por nós; por isso, estamos alegres.
Restaura, SENHOR, a nossa sorte, como as torrentes no Neguebe.
Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão.
Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes.”


Salmo 127

Salmo de Salomão

Os membros de um lar devem trabalhar em prol da sua edificação, mas se não estiverem debaixo da graça e do temor do Senhor, todo o esforço deles terá sido em vão, porque quem edifica o lar é o próprio Deus, pela restauração de tudo que foi perdido por Adão, por meio da operação de nosso Senhor Jesus Cristo.
De igual modo, se Deus entregar alguma cidade ao poder de um povo inimigo de nada adiantará ter sentinelas para alertar sobre a aproximação do exército inimigo.
Em tudo o mais na vida é necessário contar com a providência, o cuidado, instrução e proteção de Deus para que não nos empenhemos inutilmente.
O homem que é abençoado por Deus, recebe dEle o favor de ver seus negócios prosperarem pela intervenção da Sua graça, até mesmo enquanto está dormindo, como o agricultor no campo que não precisa se preocupar com o crescimento de seus animais e plantações, enquanto dorme.
É necessário reconhecer a boa mão do Senhor em todas as coisas, porque é de fato isto o que sucede.
Sabendo que tudo está debaixo do Seu domínio e que tudo Lhe pertence, até mesmo nossos próprios filhos, serão vistos como herança não propriamente nossa, mas dEle, e que os tem colocado debaixo do nosso cuidado para que façamos deles homens e mulheres de Deus, para estarem com Ele por toda a eternidade, e não propriamente conosco.
Todavia, estes mesmos filhos podem ser feitos bênçãos para os pais, pela providência do Senhor, convertendo-lhe os corações mutuamente, de modo que serão um amparo para os pais, especialmente na velhice deles.    


“Se o SENHOR não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o SENHOR não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela.
Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão que penosamente granjeastes; aos seus amados ele o dá enquanto dormem.
Herança do SENHOR são os filhos; o fruto do ventre, seu galardão.
Como flechas na mão do guerreiro, assim os filhos da mocidade.
Feliz o homem que enche deles a sua aljava; não será envergonhado, quando pleitear com os inimigos à porta.


Salmo 128

Como o salmo anterior, este é também dedicado à prosperidade de nossas famílias, e nos ensina que tal prosperidade depende da benção do Senhor.

“Bem-aventurado aquele que teme ao SENHOR e anda nos seus caminhos!
Do trabalho de tuas mãos comerás, feliz serás, e tudo te irá bem.
Tua esposa, no interior de tua casa, será como a videira frutífera; teus filhos, como rebentos da oliveira, à roda da tua mesa.
Eis como será abençoado o homem que teme ao SENHOR!
O SENHOR te abençoe desde Sião, para que vejas a prosperidade de Jerusalém durante os dias de tua vida,  vejas os filhos de teus filhos. Paz sobre Israel!”


Salmo 129

Este salmo foi escrito por uma pessoa pública, provavelmente Davi, porque afirma ter sido angustiado muitas vezes desde a sua mocidade, e que isto era do conhecimento da nação de Israel.
E que tais angústias consistiram principalmente na ação de perseguidores que intentaram tirar-lhe a vida, e que no entanto, não puderam prevalecer contra ele porque Deus havia cortado as cordas destes ímpios que tentaram destruí-lo.
A causa do salmista era a própria causa de Sião, sob a perspectiva da vontade de Deus para ela, e não segundo os interesses egoístas dos homens poderosos.
Ele orou para que os tais fossem envergonhados e que não viessem sequer a florescer, por não contarem com a bênção do Senhor.


“Muitas vezes me angustiaram desde a minha mocidade, Israel que o diga;  desde a minha mocidade, me angustiaram, todavia, não prevaleceram contra mim.
Sobre o meu dorso lavraram os aradores; nele abriram longos sulcos.
Mas o SENHOR é justo; cortou as cordas dos ímpios. Sejam envergonhados e repelidos todos os que aborrecem a Sião!
Sejam como a erva dos telhados, que seca antes de florescer, com a qual não enche a mão o ceifeiro, nem os braços, o que ata os feixes!
E também os que passam não dizem: A bênção do SENHOR seja convosco!


Nós vos abençoamos em nome do SENHOR!”


Salmo 130

Mesmo uma alma piedosa, depois de muita comunhão com Deus, pode, por causa do pecado, ser trazida a um estado de perplexidade como a que o salmista expressa no início deste salmo.
Mesmo na aliança da graça não há uma provisão de permanente consolação para qualquer pessoa debaixo da culpa de grandes pecados, nos quais elas caíram.
Assim, pelo que significam,  tais pecados vêm terrificar a consciência, quebrar os ossos da alma, e colocá-la em trevas, e lançá-la em profundezas insondáveis, apesar do alívio que é provido pelo perdão do sangue de Cristo.
Mas a força de todo e qualquer pecado pode ser debilitada pela graça, contudo a raiz de nenhum pecado será completamente arrancada nesta vida.
Assim, não será algo estranho que em algumas vezes o próprio cristão fiel se encontre nestas profundezas de alma a que se refere o salmista.
A alma regenerada pelo Espírito possui um princípio de graça que opera e trabalha continuamente para preservá-la do pecado.
Então o próprio Espírito Santo que habita no cristão há de incitá-lo a buscar socorro na graça de Cristo, para ser arrancada deste abatimento de espírito.
Quando a presença de Cristo é perdida, pelos sinais visíveis de falta de paz no espírito, devemos nos esforçar com todo empenho para encontrá-lo, porque é nisto que está a cura da nossa angústia.
É preciso crer na sua bondade, graça e misericórdia, e manter o coração firme na fé, ainda que debaixo da fraqueza produzida pelo pecado, porque disto depende a nossa cura.
Este esforço para curar as feridas da alma deve ser empreendido, senão elas se ampliarão até a morte espiritual.
Os ferimentos do pecado devem ser tratados pelo Médico divino, mas Ele não operará se não for procurado.
E esta procura é espiritual em oração e entrega do espírito ao Senhor.
Davi conhecia bem este segredo, e nunca se permitiu ficar nas profundezas por motivo de indolência ou acomodação às enfermidades produzidas pelo pecado.
Ele partia em busca de alívio e de cura nAquele que é o único competente para tratar com os males da alma.
Uma recuperação das profundezas é como uma nova conversão. O Espírito Santo dá às almas um senso renovado para que se apliquem no propósito de buscar a Deus. O trabalho inteiro é dele., mas é nosso dever orar e crer.
 Por isso é necessário ter um senso sincero do pecado. E nesta sinceridade devemos reconhecer a nossa culpa no que fazemos, deixamos de fazer ou pensamos, e sem este auto exame e julgamento em razão do pecado não podemos contar com uma confissão sincera que nos habilite ao perdão de Deus.
A condição para o nosso perdão é a confissão. Sem confissão não pode haver perdão. Sem a confissão ficaríamos insensíveis e faríamos pouco caso do pecado. Mas ao termos que declarar as nossas faltas e culpa reconhecemos que Deus é santo e  exige santidade de nós. E tratamos o pecado com a devida seriedade com que deve ser tratado.
Devemos nos sujeitar debaixo da potente mão do Senhor, e receber de bom grado os juízos corretivos, por mais que estes nos doam, porque é assim que se acha graça em ocasião oportuna.
Quanto mais tentarmos justificar a nós próprios, maiores abismos se abrirão e engolirão ainda mais o nosso espírito em suas profundezas.
A mão poderosa do Senhor tem o controle de tudo e todos. Ele pode fazer a alma esperar pelo Seu perdão em profundezas pelo tempo que bem Lhe aprouver, de modo que se cumpra todo o Seu propósito.
A misericórdia e o perdão não vêm adiante de Deus como a luz do sol e as ondas do mar, que seguem um curso fixo e pré-determinado.
Isto é mais um fator para reforçar a necessidade do nosso temor e reverência diante dEle.
A andarmos humildemente na Sua presença enquanto aguardamos pelo Seu favor.
É por isso que o seu nome é Senhor.
Ele tem o governo de nossas vidas, e cabe a Ele e não a nós conduzir o nosso caminhar.
Todos os frutos da bondade e graça de Deus são mantidos exclusivamente pela sua própria vontade soberana.
Esta é a Sua grande glória.
Por isso Ele afirmou o que disse em Êx 33.19, quando Moisés lhe pediu que lhe mostrasse a Sua glória (Êx 33.18).
A glória do Senhor está em manifestar a Sua graça e bondade.
Não é de maneira indiscriminada que Ele concede o Seu perdão. Com isto dá grande valor à Sua graça. Ela não é barata porque é graça. Ela não é comum. E faríamos bem em atribuir a ela o mesmo valor que o Senhor lhe dá.
Ela é preciosa para nós, já que Deus tem misericórdia de quem quer ter misericórdia.
Quão grande e permanente gratidão devem demonstrar os cristãos por terem sido alvo de tão precioso favor. Glórias são dadas a Deus no céu e na terra quando Ele manifesta a Sua bondade e misericórdia ao pecador.
Por isso devemos ter paciência e fé, enquanto aguardamos pelo livramento do Senhor, em nos retirar das profundezas em que nos encontramos.
É no próprio Cristo, na comunhão com Ele, que seremos livrados.
 Assim, o que o salmista busca é o próprio Deus, é o próprio Jeová que sua alma espera. Não é apenas a graça, a misericórdia ou o alívio considerados de modo absoluto, mas o Deus de toda a graça que devemos esperar com grande expectativa.
O salmista esperava em Deus, e esperava na Sua Palavra, especialmente nas promessas da Palavra e nas suas demonstrações da bondade, misericórdia, graça, generosidade e amor de Deus.
Quando as dificuldades surgem, e em nossos dilemas, tentações e desertos, devemos nos entreter com tais pensamentos sobre o caráter de Deus.
Isto removerá de a impaciência e a ansiedade.

“1 Das profundezas clamo a ti, ó Senhor.
2 Senhor, escuta a minha voz; estejam os teus ouvidos atentos à voz das minhas súplicas.
3 Se tu, Senhor, observares as iniquidades, Senhor, quem subsistirá?
4 Mas contigo está o perdão, para que sejas temido.
5 Aguardo ao Senhor; a minha alma o aguarda, e espero na sua palavra.
6 A minha alma anseia pelo Senhor, mais do que os guardas pelo romper da manhã, sim, mais do que os guardas pela manhã.
7 Espera, ó Israel, no Senhor! pois com o Senhor há benignidade, e com ele há copiosa redenção;
8 e ele remirá a Israel de todas as suas iniquidades.”


Salmo 131

Salmo de Davi

Este lindo salmo de Davi expressa quão profunda era a Sua humildade perante o Senhor, e quão despojado era das coisas deste mundo, apesar de ser rei em Israel.
Ele havia crucificado o seu ego (alma) de maneira que não se deixava impelir por seus pensamentos, vontade, sentimentos e emoções, mas pelo espírito, debaixo do governo do Senhor, tal como uma criança de colo depende inteiramente dos cuidados de seus pais.
Ele destaca o seu exemplo de espera no Senhor como algo a ser seguido por todo Israel, porque de fato, sua vida, como a de Samuel e tantos outros, havia sido dada por Deus para eles, e para a Igreja de Cristo, como um modelo para ser imitado quanto ao modo de servi-lO e viver em santidade neste mundo.


“SENHOR, não é soberbo o meu coração, nem altivo o meu olhar; não ando à procura de grandes coisas, nem de coisas maravilhosas demais para mim.
Pelo contrário, fiz calar e sossegar a minha alma; como a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe, como essa criança é a minha alma para comigo.
Espera, ó Israel, no SENHOR, desde agora e para sempre.”


Salmo 132

Este salmo pode ter sido escrito provavelmente por Salomão para a dedicação do templo, que havia construído ao Senhor, como complemento da oração que ele havia feito, e que se encontra registrada em I Reis.
Ele recorda em memória de seu pai, que havia sido Davi quem intentara construir um templo para o Senhor.
E que havia sido a ele, Davi, que Deus fizera as boas promessas para a sua casa, e de dar à sua descendência o reino de Israel.
Então Salomão ora para que o Senhor entrasse e habitasse na casa que havia feito para Ele, de modo que os Seus sacerdotes pudessem ser vestidos com a Sua justiça e que exultassem de alegria os Seus fiéis.
E que fizesse isto por amor de Davi, não desprezando o seu filho, que havia sido ungido como seu sucessor no trono, conforme a promessa e vontade do próprio Deus.


“Lembra-te, SENHOR, a favor de Davi, de todas as suas provações;  de como jurou ao SENHOR e fez votos ao Poderoso de Jacó:
Não entrarei na tenda em que moro, nem subirei ao leito em que repouso, não darei sono aos meus olhos, nem repouso às minhas pálpebras,  até que eu encontre lugar para o SENHOR, morada para o Poderoso de Jacó.
Ouvimos dizer que a arca se achava em Efrata e a encontramos no campo de Jaar.
Entremos na sua morada, adoremos ante o estrado de seus pés.  Levanta-te, SENHOR, entra no lugar do teu repouso, tu e a arca de tua fortaleza.
Vistam-se de justiça os teus sacerdotes, e exultem os teus fiéis.
Por amor de Davi, teu servo, não desprezes o rosto do teu ungido.
O SENHOR jurou a Davi com firme juramento e dele não se apartará: Um rebento da tua carne farei subir para o teu trono.
Se os teus filhos guardarem a minha aliança e o testemunho que eu lhes ensinar, também os seus filhos se assentarão para sempre no teu trono.
Pois o SENHOR escolheu a Sião, preferiu-a por sua morada:  Este é para sempre o lugar do meu repouso; aqui habitarei, pois o preferi.
Abençoarei com abundância o seu mantimento e de pão fartarei os seus pobres.
Vestirei de salvação os seus sacerdotes, e de júbilo exultarão os seus fiéis.
Ali, farei brotar a força de Davi; preparei uma lâmpada para o meu ungido.


Cobrirei de vexame os seus inimigos; mas sobre ele florescerá a sua coroa.”


Salmo 133

Salmo de Davi

Davi escreveu este salmo sob plena inspiração do Espírito Santo, apontando especialmente para a comunhão e unidade que seria realizada pela unção do próprio Espírito na Igreja de Cristo, levando os cristãos ao cumprimento do propósito de Deus para eles de viverem como um corpo harmônico sob a liderança espiritual da cabeça deles, que é Cristo.
Esta união espiritual é preciosa para Deus como a própria unção do Espírito que a promove.
Unção esta que havia sido figurada na Lei pelo óleo que consagrou o sumo sacerdote Arão para o exercício do seu ofício.
Os cristãos são sacerdotes de Deus e não podem realizar a sua função sem tal unção que os conduzirá a viverem como um corpo unido, para poderem interceder com eficácia em favor do bem de toda a humanidade.
Quando esta unção desce sobre a igreja, vinda do alto, do céu, ela promove uma atmosfera espiritual como o refrigério do orvalho que descia do monte Hermom sobre os demais montes de Sião.
Isto gera alegria nos corações dos cristãos.
Eles percebem um jardim espiritual de belos frutos ao redor deles, que lhes é trazido por Deus, como uma bênção que é uma forma de recompensa para a união e obediência deles.
E esta bênção produz em seus corações a manifestação daquela vida que é para sempre, a saber, a manifestação da vida de nosso Senhor Jesus Cristo, que não somente orou por tal unidade dos cristãos, como morreu na cruz para que ela pudesse ser promovida, com o derramar do Espírito Santo desde o dia de Pentecostes.  

“Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos!
É como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce para a barba, a barba de Arão, e desce para a gola de suas vestes.
É como o orvalho do Hermom, que desce sobre os montes de Sião.
Ali, ordena o SENHOR a sua bênção e a vida para sempre.”


Salmo 134

Este é o último dos quinze salmos intitulados Cânticos de Romagem ou Cânticos de Degraus.
Talvez isto explique a sua brevidade, por ter tal caráter conclusivo.
Ele convoca os fiéis a bendizerem ao Senhor, a saber todos aqueles que são servos e que frequentam o Seu templo.
Que estes se lembrassem de erguer durante a noite as suas mãos na direção do santuário para bendizerem o Senhor, de maneira que este trouxesse a Sua benção desde o local da Sua habitação em Sião, apesar de ser o criador do céu e da terra.

“Bendizei ao SENHOR, vós todos, servos do SENHOR, que assistis na Casa do SENHOR, nas horas da noite;  erguei as mãos para o santuário e bendizei ao SENHOR.
De Sião te abençoe o SENHOR, criador do céu e da terra!”


Salmo 135

Este salmo exalta o Senhor como o único Deus e Criador, sendo portanto o único digno de adoração e de ser louvado.
O texto do salmo relativo aos adoradores de ídolos é semelhante ao do Salmo 115.
O Senhor deve ser temido especialmente por causa dos Seus juízos, que havia demonstrado abundantemente no passado, quer na destruição das nações pagãs de Canaã, quer nos juízos que trouxe sobre os egípcios nos dias de Moisés.
Ele também julgava a Seu próprio povo Israel, no entanto se compadece daqueles que são Seus servos.


“Aleluia!
Louvai o nome do SENHOR; louvai-o, servos do SENHOR,  vós que assistis na Casa do SENHOR, nos átrios da casa do nosso Deus.
Louvai ao SENHOR, porque o SENHOR é bom; cantai louvores ao seu nome, porque é agradável.
Pois o SENHOR escolheu para si a Jacó e a Israel, para sua possessão.
Com efeito, eu sei que o SENHOR é grande e que o nosso Deus está acima de todos os deuses.
Tudo quanto aprouve ao SENHOR, ele o fez, nos céus e na terra, no mar e em todos os abismos.  Faz subir as nuvens dos confins da terra, faz os relâmpagos para a chuva, faz sair o vento dos seus reservatórios.
Foi ele quem feriu os primogênitos no Egito, tanto dos homens como das alimárias;  quem, no meio de ti, ó Egito, operou sinais e prodígios contra Faraó e todos os seus servos; quem feriu muitas nações e tirou a vida a poderosos reis:  a Seom, rei dos amorreus, e a Ogue, rei de Basã, e a todos os reinos de Canaã;  cujas terras deu em herança, em herança a Israel, seu povo.
O teu nome, SENHOR, subsiste para sempre; a tua memória, SENHOR, passará de geração em geração. Pois o SENHOR julga ao seu povo e se compadece dos seus servos.
Os ídolos das nações são prata e ouro, obra das mãos dos homens.
Têm boca e não falam; têm olhos e não veem; têm ouvidos e não ouvem; pois não há alento de vida em sua boca.
Como eles se tornam os que os fazem, e todos os que neles confiam.
Casa de Israel, bendizei ao SENHOR; casa de Arão, bendizei ao SENHOR;  casa de Levi, bendizei ao SENHOR; vós que temeis ao SENHOR, bendizei ao SENHOR.
Desde Sião bendito seja o SENHOR, que habita em Jerusalém! Aleluia!”


Salmo 136

Este salmo é praticamente o mesmo salmo precedente, sendo que é incluída no final de cada verso, a repetição da frase: “porque a sua misericórdia dura para sempre”.



“Rendei graças ao SENHOR, porque ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre.  Rendei graças ao Deus dos deuses, porque a sua misericórdia dura para sempre.  Rendei graças ao Senhor dos senhores, porque a sua misericórdia dura para sempre;  ao único que opera grandes maravilhas, porque a sua misericórdia dura para sempre;  àquele que com entendimento fez os céus, porque a sua misericórdia dura para sempre;  àquele que estendeu a terra sobre as águas, porque a sua misericórdia dura para sempre;  àquele que fez os grandes luminares, porque a sua misericórdia dura para sempre;  o sol para presidir o dia, porque a sua misericórdia dura para sempre;  a lua e as estrelas para presidirem a noite, porque a sua misericórdia dura para sempre;  àquele que feriu o Egito nos seus primogênitos, porque a sua misericórdia dura para sempre;  e tirou a Israel do meio deles, porque a sua misericórdia dura para sempre;  com mão poderosa e braço estendido, porque a sua misericórdia dura para sempre;  àquele que separou em duas partes o mar Vermelho, porque a sua misericórdia dura para sempre;  e por entre elas fez passar a Israel, porque a sua misericórdia dura para sempre;  mas precipitou no mar Vermelho a Faraó e ao seu exército, porque a sua misericórdia dura para sempre;  àquele que conduziu o seu povo pelo deserto, porque a sua misericórdia dura para sempre;  àquele que feriu grandes reis, porque a sua misericórdia dura para sempre;  e tirou a vida a famosos reis, porque a sua misericórdia dura para sempre;  a Seom, rei dos amorreus, porque a sua misericórdia dura para sempre;  e a Ogue, rei de Basã, porque a sua misericórdia dura para sempre;  cujas terras deu em herança, porque a sua misericórdia dura para sempre;  em herança a Israel, seu servo, porque a sua misericórdia dura para sempre;  a quem se lembrou de nós em nosso abatimento, porque a sua misericórdia dura para sempre;  e nos libertou dos nossos adversários, porque a sua misericórdia dura para sempre;  e dá alimento a toda carne, porque a sua misericórdia dura para sempre.  Oh! Tributai louvores ao Deus dos céus, porque a sua misericórdia dura para sempre.”


Salmo 137

Este salmo foi escrito por alguém que fez parte da geração que estivera no cativeiro em Babilônia, e que lamenta por se encontrar distante de Jerusalém, e não poder mais entoar os cânticos de louvor de alegria ao Senhor que eram lá entoados, antes de terem sido levados para o cativeiro.
O salmista clama pela vingança de Deus contra aqueles que haviam oprimido Israel, especialmente Edom, que havia se coligado a Babilônia com grande fúria visando à destruição dos judeus.

“Às margens dos rios da Babilônia, nós nos assentávamos e chorávamos, lembrando-nos de Sião.
Nos salgueiros que lá havia, pendurávamos as nossas harpas,  pois aqueles que nos levaram cativos nos pediam canções, e os nossos opressores, que fôssemos alegres, dizendo: Entoai-nos algum dos cânticos de Sião.
Como, porém, haveríamos de entoar o canto do SENHOR em terra estranha?
Se eu de ti me esquecer, ó Jerusalém, que se resseque a minha mão direita.
Apegue-se-me a língua ao paladar, se me não lembrar de ti, se não preferir eu Jerusalém à minha maior alegria.
Contra os filhos de Edom, lembra-te, SENHOR, do dia de Jerusalém, pois diziam: Arrasai, arrasai-a, até aos fundamentos.
Filha da Babilônia, que hás de ser destruída, feliz aquele que te der o pago do mal que nos fizeste.
Feliz aquele que pegar teus filhos e esmagá-los contra a pedra.”


Salmo 138

Salmo de Davi

Davi rende graças ao Senhor de todo o seu coração por causa dos grandes livramentos que lhe havia dado diante de nações poderosas, que haviam se levantado contra ele, e que foram derrotadas pelo auxílio do Senhor, de modo que ele continuaria louvando ao Senhor na presença dos poderosos que Ele havia subjugado.
Ele se humilharia se prostrando diante de Deus no Seu santuário para louvar a Sua misericórdia e verdade, porque estava cumprindo fielmente cada uma das promessas que Lhe havia feito segundo a Sua palavra.
Sempre que Davi clamava ao Senhor Ele lhe acudia e alentava a força da sua alma atribulada pelas muitas adversidades que teve que enfrentar.
Davi ficava extasiado com a sublimidade de Deus, que apesar de ser excelso, glorioso, atentava para os humildes, e resistia aos soberbos.
Por isso se humilhava perante Ele, porque sabia que enquanto o fizesse Ele levaria a bom termo tudo o que concernisse a ele, especialmente refazendo a sua vida em meio às suas tribulações, porque estenderia a Sua mão poderosa contra a ira dos seus inimigos, e o livraria deles.
Deus faria isto para com ele porque a Sua misericórdia dura para sempre e não desampararia as obras que estavam sendo feitas pelas Suas próprias mãos através da instrumentalidade de Davi.


“Render-te-ei graças, SENHOR, de todo o meu coração; na presença dos poderosos te cantarei louvores.
Prostrar-me-ei para o teu santo templo e louvarei o teu nome, por causa da tua misericórdia e da tua verdade, pois magnificaste acima de tudo o teu nome e a tua palavra.
No dia em que eu clamei, tu me acudiste e alentaste a força de minha alma.
Render-te-ão graças, ó SENHOR, todos os reis da terra, quando ouvirem as palavras da tua boca, e cantarão os caminhos do SENHOR, pois grande é a glória do SENHOR.
O SENHOR é excelso, contudo, atenta para os humildes; os soberbos, ele os conhece de longe. Se ando em meio à tribulação, tu me refazes a vida; estendes a mão contra a ira dos meus inimigos; a tua destra me salva.

O que a mim me concerne o SENHOR levará a bom termo; a tua misericórdia, ó SENHOR, dura para sempre; não desampares as obras das tuas mãos.”


Salmo 139

Salmo de Davi

Para muitos, este é o mais belo e profundo salmo de Davi, no qual ele exalta a onisciência, onipresença e onipotência de Deus.
Então ele ora para que o Senhor continuasse lhe sondando, como era próprio da Sua divindade.
Davi tinha consciência que toda a sua vida estava aberta ao conhecimento profundo de Deus, a ponto de saber até mesmo as palavras que ele proferiria, antes mesmo de tê-las pronunciado.
Não havia como fugir da presença do Senhor, e nem era este o seu desejo.
Sabia que o Senhor o cercava por todos os lados e colocava sobre ele a Sua mão.
Este total conhecimento que há em Deus era maravilhoso demais para ele, de tal modo elevado que ele não podia atingi-lo.
Afinal, quem pode conhecer perfeitamente a tudo e a todos, como somente o Senhor conhece?
Como Davi poderia fugir do alcance do poder do Espírito Santo?
Como poderia escapar do controle de Deus, cuja face estava voltada continuamente para a sua vida.
E não há nenhum lugar neste mundo ou fora dele no qual possamos nos esconder da vigilância de Deus.
Do Deus que sonda o nosso coração e pensamentos e tudo julga.
Para Deus não há distâncias, de maneira que, onde quer que Ele nos colocar, ali Ele nos susterá.
Homens podem se ocultar de outros homens nas trevas, mas ninguém pode se esconder de igual maneira de Deus, porque até mesmo pode ver o que há nos órgãos interiores de tudo o que criou, até mesmo quando forma o homem no ventre de sua mãe.
Davi dava graças a Deus pelo modo assombrosamente maravilhoso pelo qual foi formado de maneira invisível ao olho humano no ventre materno; e mesmo quando ainda era uma substância informe os olhos do Senhor não somente o viam, como também já havia registrado todos os dias em que ele viveria neste mundo, antes mesmo de tê-lo trazido à existência.
Um Deus tão profundo e excelente, de pensamentos preciosos incontáveis nada pode ter a ver com os que são perversos e sanguinários.
O Deus que formou a vida de forma tão maravilhosa não teria por alvo extingui-la.
Então estes que se ocupam de destruir as obras de Deus e particularmente a vida que Ele criou, poderiam ter como certa a própria destruição deles pelo Senhor.
De modo que todos os que se levantam contra a vontade de Deus, e que falam maliciosamente contra Ele, como seus inimigos, não poderão prevalecer diante do Senhor, ainda que Ele os suporte por longo tempo por causa da Sua longanimidade.
Todavia, tal como Davi, os que amam o Senhor, aborrecem àqueles que O aborrecem, ou seja, não os têm na conta de amigos íntimos.
Por isso Davi orava para que não fosse achado em nenhum dos caminhos destes que se opõem a Deus, pedindo-Lhe que fosse sondado por Ele, de maneira que provasse o seu coração e pensamentos, para lhe revelar se havia nele algum caminho mau, para que pudesse abandoná-lo, e permitir que fosse guiado por Ele pelo caminho eterno, que é o caminho da justiça, da bondade, da verdade e da santidade.
     

“SENHOR, tu me sondas e me conheces.
Sabes quando me assento e quando me levanto; de longe penetras os meus pensamentos.
Esquadrinhas o meu andar e o meu deitar e conheces todos os meus caminhos.
Ainda a palavra me não chegou à língua, e tu, SENHOR, já a conheces toda.
Tu me cercas por trás e por diante e sobre mim pões a mão.
Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim: é sobremodo elevado, não o posso atingir.
Para onde me ausentarei do teu Espírito?
Para onde fugirei da tua face?
 Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também;  se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares,  ainda lá me haverá de guiar a tua mão, e a tua destra me susterá.
Se eu digo: as trevas, com efeito, me encobrirão, e a luz ao redor de mim se fará noite,  até as próprias trevas não te serão escuras: as trevas e a luz são a mesma coisa.
Pois tu formaste o meu interior tu me teceste no seio de minha mãe.
Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem;  os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra.
Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda.
Que preciosos para mim, ó Deus, são os teus pensamentos! E como é grande a soma deles!
Se os contasse, excedem os grãos de areia; contaria, contaria, sem jamais chegar ao fim.
Tomara, ó Deus, desses cabo do perverso; apartai-vos, pois, de mim, homens de sangue.
Eles se rebelam insidiosamente contra ti e como teus inimigos falam malícia.
Não aborreço eu, SENHOR, os que te aborrecem?
E não abomino os que contra ti se levantam?
Aborreço-os com ódio consumado; para mim são inimigos de fato.


Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos;  vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno.”


Salmo 140

Salmo de Davi

Davi ora por livramento dos homens perversos e violentos cujos corações sempre maquinam iniquidades à busca de contendas.
Estes não usavam somente a força física para fazer violência mas especialmente a língua para forjarem falsidades, injúrias, calúnias e insídias.
Suas línguas carregavam o poder do veneno mortal das cobras peçonhentas.
Davi pede então ao Senhor que o livrasse das armadilhas e ciladas que tais homens lhe preparavam às ocultas, ou seja, sorrateiramente.
Davi sabia que Deus jamais defenderia a causa dos opressores, senão a dos oprimidos por eles.
Então se entregou inteiramente ao cuidado de Deus, porque sabia que o direito do necessitado seria garantido por Deus, e que os justos herdariam a terra, e não os violentos, e que estes justos renderiam graças ao nome do Senhor, porque habitarão para sempre na Sua presença.
 



“Livra-me, SENHOR, do homem perverso, guarda-me do homem violento,  cujo coração maquina iniquidades e vive forjando contendas.  Aguçam a língua como a serpente; sob os lábios têm veneno de áspide. Guarda-me, SENHOR, da mão dos ímpios, preserva-me do homem violento, os quais se empenham por me desviar os passos. Os soberbos ocultaram armadilhas e cordas contra mim, estenderam-me uma rede à beira do caminho, armaram ciladas contra mim. Digo ao SENHOR: tu és o meu Deus; acode, SENHOR, à voz das minhas súplicas. Ó SENHOR, força da minha salvação, tu me protegeste a cabeça no dia da batalha.  Não concedas, SENHOR, ao ímpio os seus desejos; não permitas que vingue o seu mau propósito. Se exaltam a cabeça os que me cercam, cubra-os a maldade dos seus lábios.  Caiam sobre eles brasas vivas, sejam atirados ao fogo, lançados em abismos para que não mais se levantem. O caluniador não se estabelecerá na terra; ao homem violento, o mal o perseguirá com golpe sobre golpe. Sei que o SENHOR manterá a causa do oprimido e o direito do necessitado. Assim, os justos renderão graças ao teu nome; os retos habitarão na tua presença.”


Salmo 141

Salmo de Davi

Os salmos escritos por Davi comprovam que ele foi de fato um homem de dores e de muitas aflições, porque nós o vemos clamando continuamente ao Senhor para ser livrado dos seus muitos inimigos.
Todavia, mais do que temer a morte nas mãos dos ímpios, ele tinha o temor de pecar contra o Senhor.
Não desejava desapontá-lO ou desonrá-lO em nada.
Por isso também orava para que Ele colocasse um guarda à porta da sua boca e que não permitisse que o seu coração se inclinasse para o mal, para a prática da perversidade na companhia dos malfeitores, nem mesmo comendo das suas iguarias.
Para alcançar o seu propósito de se santificar mais e mais, Davi preferia ser ferido e repreendido pelo justo caso andasse errado, porque isto seria para ele como uma misericórdia, e como óleo de unção derramado sobre a sua cabeça, o qual ele não rejeitaria jamais.
Ele também continuaria perseverando na oração constante enquanto os perversos praticassem a maldade.
Os juízes ímpios que sustentassem a causa destes perversos seriam precipitados no abismo, mas antes, ouviriam as palavras agradáveis de Davi, segundo a Palavra do Senhor, mesmo depois que os seus ossos estivessem na sepultura, e isto tem se cumprido de fato, através de séculos, por tudo que podemos ler do que ele escreveu e que se encontra registrado na Bíblia, que é o livro mais lido do mundo, especialmente o livro de Salmos, cuja maioria é de autoria de Davi.
Ele tinha tal confiança porque os seus olhos espirituais estavam sempre fixados no Senhor, e a Sua fé nEle era inabalável.
Por isso podia se entregar totalmente ao cuidado do Senhor para que fosse livrado dos seus muitos inimigos, que eram também inimigos de Deus.      


“SENHOR, a ti clamo, dá-te pressa em me acudir; inclina os ouvidos à minha voz, quando te invoco.
Suba à tua presença a minha oração, como incenso, e seja o erguer de minhas mãos como oferenda vespertina.
Põe guarda, SENHOR, à minha boca; vigia a porta dos meus lábios.
Não permitas que meu coração se incline para o mal, para a prática da perversidade na companhia de homens que são malfeitores; e não coma eu das suas iguarias.
Fira-me o justo, será isso mercê; repreenda-me, será como óleo sobre a minha cabeça, a qual não há de rejeitá-lo.
Continuarei a orar enquanto os perversos praticam maldade.
Os seus juízes serão precipitados penha abaixo, mas ouvirão as minhas palavras, que são agradáveis, ainda que sejam espalhados os meus ossos à boca da sepultura, quando se lavra e sulca a terra.
Pois em ti, SENHOR Deus, estão fitos os meus olhos: em ti confio; não desampares a minha alma.
Guarda-me dos laços que me armaram e das armadilhas dos que praticam iniquidade.


Caiam os ímpios nas suas próprias redes, enquanto eu, nesse meio tempo, me salvo incólume.”


Salmo 142

Salmo de Davi

Quando este salmo foi escrito Davi ainda não reinava, e estava sendo perseguido por Saul, e encontrava-se escondido dele numa caverna.
Ele se encontrava completamente desamparado e não havia nenhum lugar de refúgio que fosse seguro, nem mesmo a caverna em que encontrava, tal o grande número de espiões que estavam a serviço de Saul.
No entanto, ele sabia que o seu clamor seria atendido porque fizera do Senhor o Seu refúgio, e não pusera a sua confiança para ser livrado, na força do homem, senão no poder de Deus.
Podemos cometer dois grandes erros na aflição. O primeiro está na acomodação ao mal.
Na nossa descrença pensando que Deus não está interessado em fortalecer o nosso coração e alegrar a nossa alma.
Com isto, não clamamos por socorro como fez Davi. Não oramos. Não confiamos. Não cremos.
O segundo grande erro é o de subestimar a dor.
E tocarmos a vida com o coração atribulado julgando que somos mais fortes do que qualquer problema.
Davi não tinha vergonha de assumir e reconhecer que há situações que o nosso inimigo, seja ele qual for, e venha na forma que for, é mais forte do que nós.
E não temos outra alternativa senão a de recorrer ao auxílio do Altíssimo, do Todo Poderoso.
Há um mistério nisto, que Paulo bem conheceu: quando somos fracos então somos fortes.
A graça do Senhor se revela poderosa na nossa fraqueza.
O ato de prosseguir tentando parecer ser mais fortes do que as forças que nos oprimem e deprimem, pode fazer com que nós, nesta nossa auto-confiança venhamos a ficar amargurados, endurecidos, obstinados e frios.
O poder não é nosso e nem das forças que nos assolam, mas é exclusivo de Jesus Cristo.
Todo o poder Lhe foi dado nos céus e na terra, Ele tem autoridade sobre tudo e todos. É seu prazer ajudar-nos quando clamamos por socorro.
Assim nossa primeira ocupação é a de recorrer a Deus. Façamos conhecidas de Deus nossas dúvidas e temores.
Quando estamos na caverna da aflição não são palavras religiosas que irão nos ajudar. Não são meras palavras que temos que falar, mas colocar toda nossa angústia diante de Deus. Tal como uma criança devemos dizer ao Senhor todas as nossas angústias, nossas queixas, nossas misérias, temores. Se lhe confessarmos tudo, Ele dará ao nosso espírito um grande alívio, pois tem prometido libertar do cativeiro a alma que lhe clama por socorro na angústia (Sl 50.15).
Vão é o socorro humano quando estamos na caverna. Deus pode levantar homens para virem em nosso auxílio, mas devemos reconhecer que eles não viriam e não agiriam bem em nosso favor se o Senhor não os dirigisse em tal sentido.
 É importante destacar que quando Davi fez esta oração ele se encontrava num grande refúgio que era a  caverna de Adulão, e estava em companhia de seus familiares e de quatrocentos homens que haviam feito dele o seu chefe, mas Davi sabia que não há segurança confiável em nada neste mundo. E dispôs-se a buscar o único e verdadeiro e seguro refúgio, o Senhor nosso Deus.
 É preciso reconhecer como Davi que somente no Senhor há esperança e interesse em socorrer a nossa alma. Por isso ele orou assim nos versos 4 e 5:
4. Olha à minha direita e vê, pois não há quem me reconheça, nenhum lugar de refúgio, ninguém que por mim se interesse.
5. A ti clamo, Senhor; e digo: Tu és o meu refúgio, o meu quinhão na terra dos viventes.
 As tribulações aprisionam a nossa alma, colocam-na no cárcere. Ali perdemos a alegria da salvação, porque a alma é como um pássaro que só canta em liberdade. Os grilhões da maldade, da perseguição do inimigo que busca aprisionar a nossa alma, não podem resistir ao poder de Jesus que quebra todas as cadeias que nos prendem, e nos dá perfeita liberdade. Podemos caminhar livremente em Jesus. E por isso Davi orou:
6. Atendes ao meu clamor, pois me vejo muito fraco. Livra-me dos meus perseguidores, porque são mais fortes  do que eu.
7. Tira a minha alma do cárcere, para que eu te dê graças ao teu nome: os justos me rodearão, quando me fizeres esse bem.
Quando os homens são livrados da prisão, eles agradecem e louvam à pessoa que os libertou. Muito mais nós devemos adorar e louvar a Jesus pela liberdade que Ele nos dá. Devemos glorificar o seu santo nome porque somente ele é digno de adoração.
Há uma coisa para ser conhecida em relação às tribulações que sofremos:
Quando Deus quer fazer grande a uma pessoa, ele primeiro a quebra em pedaços.
Agora Davi seria rei sobre todo Israel. Por onde passava o caminho para o trono de Davi? Pela caverna de Adulão. Deveria ir para lá, perseguido por Saul, como um pária, um proscrito, porque esse era o caminho que o levaria a ser o rei que era segundo o coração de Deus.
Vocês não têm reparado em suas próprias vidas, que cada vez que Deus vai dar-lhes um crescimento, para lhes levar a uma esfera maior de serviço, ou nível mais elevado na vida espiritual, que primeiro vocês são derrubados? Por isso a Palavra diz que devemos ter por motivo de toda a alegria o passar por várias provações. Porque esta é a maneira de Deus trabalhar conosco. Faz com que tenhamos fome antes de dar-nos de comer.  Desnuda-nos antes de vestir-nos. Faz de nós nada, antes de fazer algo de nós.
Na aflição da caverna aprendemos a chorar com os que choram. Aprendemos a valorizar o sofrimento dos nossos irmãos e compartilhamos com eles as suas lutas, intercedendo por eles e socorrendo-os em suas tribulações.
 Sem a caverna não aprenderíamos nenhuma destas coisas, e por isso somos exortados a sermos gratos a Deus por tudo, e a entender que todas as coisas cooperam juntamente para o bem dos que amam a Deus.
Lembremos que quando Deus nos retirar da caverna, uma vez cessado o perigo, ou por termos recebido forças para enfrentá-lo, devemos vigiar para não sairmos nos lamentando da experiência que passamos, ao contrário o Senhor quer que o louvemos pelo Seu poderoso livramento, porque os que cantam são os que seguem adiante. Fora com todo o pessimismo e nuvens de tristeza que venham sobre nós, depois que temos sido libertados por Deus. Que se encontrem somente palavras de louvor e gratidão em nossos lábios, e outros se juntarão a nós, para receberem da mesma alegria e unção. Davi agia assim e devemos agir do mesmo modo, orando juntamente com ele:
7. Tira a minha alma do cárcere, para que eu te dê graças ao teu nome: os justos me rodearão, quando me fizeres esse bem.


“Ao SENHOR ergo a minha voz e clamo, com a minha voz suplico ao SENHOR.
Derramo perante ele a minha queixa, à sua presença exponho a minha tribulação.
Quando dentro de mim me esmorece o espírito, conheces a minha vereda.
No caminho em que ando, me ocultam armadilha.  Olha à minha direita e vê, pois não há quem me reconheça, nenhum lugar de refúgio, ninguém que por mim se interesse.
A ti clamo, SENHOR, e digo: tu és o meu refúgio, o meu quinhão na terra dos viventes.
Atende o meu clamor, pois me vejo muito fraco. Livra-me dos meus perseguidores, porque são mais fortes do que eu.
Tira a minha alma do cárcere, para que eu dê graças ao teu nome; os justos me rodearão, quando me fizeres esse bem.”




Salmo 143

Salmo de Davi

Quando lemos o livro de Salmos, e nos deparamos especialmente com os salmos em que Davi rasga o seu coração e alma atribulados diante de Deus, em busca de refrigério, socorro e livramento, como este, por exemplo, ficamos a pensar até que ponto temos transformado o próprio culto de adoração ao Senhor, em muitas de nossas igrejas, numa espécie de bezerro de ouro sagrado, que usamos na adoração, em vez de adorarmos em espírito e em verdade, que é a única forma de adoração aceitável por Deus.
Esta verdade não é apenas a verdade da própria Palavra mas também a verdade relativa às nossas reais condições, especialmente de corpo, alma e espírito.
Como lidar com um Deus verdadeiro, sem que seja nesta base de verdade, tal como encontramos em todos os personagens da Bíblia que lograram agradar a Deus?
Se  o nosso alvo em nossos cultos é o de agradá-lO e não propriamente a nós mesmos, estamos obrigados a seguir o mesmo critério de verdade que eles seguiram, não ocultando de Deus a sua real condição, e não impondo-Lhe algo formal que não viesse da própria experiência pessoal deles e do profundo dos seus corações.
Por isso os salmos não são meras produções poéticas, compostas com a finalidade de atender a um determinado propósito religioso, senão a expressão da própria vida do salmista, e do mover do Espírito Santo sobre ela, nas experiências reais que eles viveram.
Este é o motivo porque falam tão profundamente a nós.
Lembremos que Deus nos ordena a pregação da Palavra mas não necessariamente na forma de sermões.
Por este motivo, devemos ter muito cuidado para não construirmos bezerros de ouro em nossos cultos, fazendo por exemplo do momento de louvor um ídolo, do sermão outro ídolo, e assim sucessivamente, quanto a tudo o que for apresentado no culto, porque estaremos adorando não ao Senhor, mas ao momento de louvor e ao sermão propriamente ditos.
E quão perigoso é isto para uma verdadeira adoração.
Substituirmos o grande objetivo dela que é o próprio Deus, pelos meios que usamos para adorá-lo.
Quantos estariam dispostos a fazerem uma oração como a que Davi fez neste salmo, em pleno culto público?
Veja que ele pede a Deus que atendesse às suas súplicas, não confiado na sua própria justiça, mas na fidelidade e na justiça do próprio Senhor.
Ele pede humildemente para que o Senhor não entrasse em juízo com ele com base na sua perfeição na justiça, porque sabia que à vista do Senhor nenhum homem é perfeitamente justo.
E ele declara que o diabo estava se aproveitando disto, perseguindo a sua alma e assolando a sua vida, fazendo-lhe sentir-se como aqueles que haviam morrido há muito tempo.
Ele confessa que o seu espírito está abatido, e que o seu coração estava turbado.
Todavia, ele trazia à memória o que podia lhe dar esperança, lembrando dos dias passados em que Deus havia manifestado o Seu grande poder, realizando grandes obras.
Então se esforçava levantando as suas mãos para o Senhor, para que Ele o segurasse e apoiasse, e passava a sentir sede em sua alma pela presença de Deus, tal como uma terra seca que aguarda ansiosamente pelas chuvas.
Ele pede que o Senhor não demorasse em responder-lhe porque o seu espírito estava a ponto de desfalecer, e que não sucedesse de o Senhor lhe ocultar a Sua face, porque então ele se sentiria como aqueles que já morreram.
Ele clama então para que o Senhor lhe manifestasse a Sua graça, porque apesar do seu abatimento não deixou de confiar nEle um só momento, e que Lhe mostrasse o caminho pelo qual deveria andar, porque havia elevado a sua alma até a Sua presença.
Ele pediu que Deus o livrasse dos seus inimigos, porque fizera dEle o seu único refúgio.
E que lhe continuasse ensinando a fazer a Sua vontade, porque somente Ele era o Seu Deus, de maneira que sabia que o Espírito Santo haveria de guiá-lo por um terreno plano, sem pedras, nas quais pudesse tropeçar.
Finalmente, ele pede a Deus que o vivificasse não por causa dele, Davi, mas por causa do amor do Seu nome, por amor à Sua justiça, tirando a sua alma da tribulação.
E que por misericórdia desse cabo de todos os seus inimigos, de todos os que lhe atribulavam a alma, porque afinal era servo do Senhor, e tinha dEle a promessa de ser livrado da angústia por Ele, sempre que Lhe clamasse por socorro.
Este é o efeito da ligação da alma com Deus, quando é libertada dos seus opressores, ela não somente é livrada, como os seus opressores, ou seja, todos os agentes do inferno que a oprimiam, são subjugados por Deus.


“Atende, SENHOR, a minha oração, dá ouvidos às minhas súplicas. Responde-me, segundo a tua fidelidade, segundo a tua justiça. Não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não há justo nenhum vivente. Pois o inimigo me tem perseguido a alma; tem arrojado por terra a minha vida; tem-me feito habitar na escuridão, como aqueles que morreram há muito.  Por isso, dentro de mim esmorece o meu espírito, e o coração se vê turbado. Lembro-me dos dias de outrora, penso em todos os teus feitos e considero nas obras das tuas mãos.  A ti levanto as mãos; a minha alma anseia por ti, como terra sedenta.  Dá-te pressa, SENHOR, em responder-me; o espírito me desfalece; não me escondas a tua face, para que eu não me torne como os que baixam à cova.  Faze-me ouvir, pela manhã, da tua graça, pois em ti confio; mostra-me o caminho por onde devo andar, porque a ti elevo a minha alma. Livra-me, SENHOR, dos meus inimigos; pois em ti é que me refugio.  Ensina-me a fazer a tua vontade, pois tu és o meu Deus; guie-me o teu bom Espírito por terreno plano.  Vivifica-me, SENHOR, por amor do teu nome; por amor da tua justiça, tira da tribulação a minha alma. E, por tua misericórdia, dá cabo dos meus inimigos e destrói todos os que me atribulam a alma, pois eu sou teu servo.”


Salmo 144

Salmo de Davi

Este salmo foi escrito por Davi quando já se encontrava reinando. Nos salmos comentados anteriormente ele ainda não havia assumido o trono de Israel.
Todavia nós o vemos continuando a recorrer ao socorro de Deus para livrá-lo dos seus inimigos.
O Senhor lhe havia adestrado para a guerra, porque foi seu escolhido para livrar Israel das opressões que vinha sofrendo dos povos inimigos, tais como os filisteus, moabitas, amonitas, edomitas, jebuseus e sírios.
Saul havia falhado nesta missão e então o Senhor levantou Davi para executá-la, e isto explica em boa parte a razão de ter sofrido tantas tribulações.
Ele foi bem sucedido porque fizera do Senhor a sua rocha, fortaleza, refúgio, libertador e escudo.
Vinha também do Senhor a obediência que o povo de Israel tinha a Davi.
Ele era rei, mas reconhecia que o homem nada é à vista de Deus.
Que sua vida é como um sopro.
Além disso o homem está corrompido pelo pecado e somente o Senhor pode resgatá-lo de tal condição de miséria.
De modo, que aqueles que não se submeterem a tal restauração, serão destruídos.
Davi então se disporia sempre a louvar ao Senhor, inclusive com o uso de instrumentos de cordas.
Ele continuaria clamando por livramento e para que o Senhor desse plena provisão ao reino de Israel, não somente em seus dias, mas em todas as gerações, porque Israel era o povo do Senhor.
Deus tinha demonstrado toda a Sua bondade para com Israel, especialmente nos dias de Davi, então ele declara que bem-aventurado era o povo a quem sucede tal cuidado e provisão do Senhor, a saber Israel, cujo Deus era o Senhor.




“Bendito seja o SENHOR, rocha minha, que me adestra as mãos para a batalha e os dedos, para a guerra;  minha misericórdia e fortaleza minha, meu alto refúgio e meu libertador, meu escudo, aquele em quem confio e quem me submete o meu povo. SENHOR, que é o homem para que dele tomes conhecimento? E o filho do homem, para que o estimes? O homem é como um sopro; os seus dias, como a sombra que passa. Abaixa, SENHOR, os teus céus e desce; toca os montes, e fumegarão.  Despede relâmpagos e dispersa os meus inimigos; arremessa as tuas flechas e desbarata-os.  Estende a mão lá do alto; livra-me e arrebata-me das muitas águas e do poder de estranhos,  cuja boca profere mentiras, e cuja direita é direita de falsidade. A ti, ó Deus, entoarei novo cântico; no saltério de dez cordas, te cantarei louvores. É ele quem dá aos reis a vitória; quem livra da espada maligna a Davi, seu servo. Livra-me e salva-me do poder de estranhos, cuja boca profere mentiras, e cuja direita é direita de falsidade. Que nossos filhos sejam, na sua mocidade, como plantas viçosas, e nossas filhas, como pedras angulares, lavradas como colunas de palácio; que transbordem os nossos celeiros, atulhados de toda sorte de provisões; que os nossos rebanhos produzam a milhares e a dezenas de milhares, em nossos campos;  que as nossas vacas andem pejadas, não lhes haja rotura, nem mau sucesso. Não haja gritos de lamento em nossas praças. Bem-aventurado o povo a quem assim sucede! Sim, bem-aventurado é o povo cujo Deus é o SENHOR!”


Salmo 145

Davi exalta e bendiz a Deus neste salmo, a quem ele chama de seu Rei.
Ele sabia que a presidência de Israel não era propriamente dele, mas do Senhor, até mesmo porque ele morreria e outros passariam a reinar em seu lugar, e assim sucessivamente, mas o Senhor permaneceria sendo o grande Rei de Israel para sempre.
Então ele havia se determinado a louvar e a bendizer o Senhor por todos os dias da sua vida, porque o Senhor era digno de ser louvado de tal maneira, por causa da Sua grandeza insondável.
Davi afirma que o Senhor seria louvado por todas as gerações pela grandeza dos seus feitos tremendos, e por causa da Sua muita bondade e justiça.
Afirma também ao lado da benignidade e misericórdia do Senhor, a Sua longanimidade (tardio em se irar) e perdão.
Davi havia aprendido que Deus é bom para todos os homens, e que as suas obras em relação a eles são permeadas pelas suas ternas misericórdias.
Por isso lhe renderiam graças por Suas obras, e todos os Seus santos Lhe bendiriam.
Ele profetizou especialmente sobre o que tem sucedido no período da Igreja de Cristo, no qual a glória e o reino de Deus têm sido proclamados, e pelo qual muitos têm confessado o poder do Senhor, para testemunho para todos os homens.
Afinal o que se proclama não é um reino e um Rei passageiros, mas eternos.
E isto sucederá sem falta porque o Senhor é fiel em todas as suas palavras e todas as suas obras são de santidade, ou seja, não podem ser desfeitas, porque tudo o que é santo tem o caráter da eternidade e deve permanecer para sempre.
Os que se acham prostrados e que vacilam seriam sustentados pelo poder do próprio Deus.
E a todos que esperarem na provisão do Senhor, Ele os sustentará.
Os caminhos do Senhor são justos, de maneira que os ímpios que praticam a iniquidade não andarão por eles, nem sequer os conhecerão.
Por isso o Senhor somente está perto daqueles que O invocam em verdade, não propriamente na verdade deles, mas consoante a verdade revelada por Ele na Sua Palavra, quanto ao modo como devem se aproximar dEle.
Então acudirá aqueles que O temem atendendo-lhes o clamor por livramento.
Ele guarda a esses que O amam por guardarem os Seus mandamentos. Mas os ímpios serão exterminados no dia do juízo.            



“Exaltar-te-ei, ó Deus meu e Rei; bendirei o teu nome para todo o sempre.  Todos os dias te bendirei e louvarei o teu nome para todo o sempre.  Grande é o SENHOR e mui digno de ser louvado; a sua grandeza é insondável.  Uma geração louvará a outra geração as tuas obras e anunciará os teus poderosos feitos.  Meditarei no glorioso esplendor da tua majestade e nas tuas maravilhas.  Falar-se-á do poder dos teus feitos tremendos, e contarei a tua grandeza.  Divulgarão a memória de tua muita bondade e com júbilo celebrarão a tua justiça.  Benigno e misericordioso é o SENHOR, tardio em irar-se e de grande clemência.  O SENHOR é bom para todos, e as suas ternas misericórdias permeiam todas as suas obras.  Todas as tuas obras te renderão graças, SENHOR; e os teus santos te bendirão.  Falarão da glória do teu reino e confessarão o teu poder,  para que aos filhos dos homens se façam notórios os teus poderosos feitos e a glória da majestade do teu reino.  O teu reino é o de todos os séculos, e o teu domínio subsiste por todas as gerações. O SENHOR é fiel em todas as suas palavras e santo em todas as suas obras.  O SENHOR sustém os que vacilam e apruma todos os prostrados.  Em ti esperam os olhos de todos, e tu, a seu tempo, lhes dás o alimento.  Abres a mão e satisfazes de benevolência a todo vivente.  Justo é o SENHOR em todos os seus caminhos, benigno em todas as suas obras.  Perto está o SENHOR de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade.  Ele acode à vontade dos que o temem; atende-lhes o clamor e os salva.  O SENHOR guarda a todos os que o amam; porém os ímpios serão exterminados.  Profira a minha boca louvores ao SENHOR, e toda carne louve o seu santo nome, para todo o sempre.”


Salmo 146

Os fiéis são chamados a louvarem ao Senhor com suas almas e durante toda a vida. São alertados para não colocarem a sua confiança em príncipes,ou em quaisquer homens, para que sejam livrados, especialmente porque a vida do homem é breve, e na sua morte, se vão com eles todos os seus desígnios.
Então bem-aventurados são os que têm no Deus de Israel o seu auxílio e esperança, porque além de ser o Criador de tudo, mantém para sempre a Sua fidelidade, porque é eterno.
É Ele que faz justiça aos oprimidos e sustenta os que têm fome.
É dEle o poder de libertar os encarcerados pelos poderes das trevas.
Ele restaura a vista aos cegos e levanta os abatidos, porque ama os justos.
Ele protege os peregrinos e ampara os órfãos e as viúvas do Seu povo, porém transtorna o caminho dos ímpios.


”Aleluia! Louva, ó minha alma, ao SENHOR.  Louvarei ao SENHOR durante a minha vida; cantarei louvores ao meu Deus, enquanto eu viver.  Não confieis em príncipes, nem nos filhos dos homens, em quem não há salvação.  Sai-lhes o espírito, e eles tornam ao pó; nesse mesmo dia, perecem todos os seus desígnios.  Bem-aventurado aquele que tem o Deus de Jacó por seu auxílio, cuja esperança está no SENHOR, seu Deus,  que fez os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e mantém para sempre a sua fidelidade.  Que faz justiça aos oprimidos e dá pão aos que têm fome. O SENHOR liberta os encarcerados.  O SENHOR abre os olhos aos cegos, o SENHOR levanta os abatidos, o SENHOR ama os justos.  O SENHOR guarda o peregrino, ampara o órfão e a viúva, porém transtorna o caminho dos ímpios.  O SENHOR reina para sempre; o teu Deus, ó Sião, reina de geração em geração. Aleluia!”


Salmo 147

Como os salmos anteriores, este é mais um salmo que exalta o cuidado providencial de Deus para com o Seu povo, especialmente para com os humildes, com os que O temem, confiam nEle, e esperam na Sua misericórdia, motivo pelo qual Israel é convocado a louvá-lO.
Deus preside sobre todas as obras da criação, mas somente a Israel revelou a Sua Palavra e preceitos, coisa que não havia feito a nenhuma outra nação da terra, motivo pelo qual Israel deveria louvá-lO para sempre, por ter tido tão grande honra de ser a nação eleita de Deus, para fazer conhecida a Sua vontade até que viesse o Messias, quando a partir de então, também se voltaria para os gentios.



“Louvai ao SENHOR, porque é bom e amável cantar louvores ao nosso Deus; fica-lhe bem o cântico de louvor. O SENHOR edifica Jerusalém e congrega os dispersos de Israel;  sara os de coração quebrantado e lhes pensa as feridas.  Conta o número das estrelas, chamando-as todas pelo seu nome. Grande é o Senhor nosso e mui poderoso; o seu entendimento não se pode medir. O SENHOR ampara os humildes e dá com os ímpios em terra.  Cantai ao SENHOR com ações de graças; entoai louvores, ao som da harpa, ao nosso Deus,  que cobre de nuvens os céus, prepara a chuva para a terra, faz brotar nos montes a erva  e dá o alimento aos animais e aos filhos dos corvos, quando clamam.  Não faz caso da força do cavalo, nem se compraz nos músculos do guerreiro.  Agrada-se o SENHOR dos que o temem e dos que esperam na sua misericórdia. Louva, Jerusalém, ao SENHOR; louva, Sião, ao teu Deus. Pois ele reforçou as trancas das tuas portas e abençoou os teus filhos, dentro de ti;  estabeleceu a paz nas tuas fronteiras e te farta com o melhor do trigo. Ele envia as suas ordens à terra, e sua palavra corre velozmente;  dá a neve como lã e espalha a geada como cinza. Ele arroja o seu gelo em migalhas; quem resiste ao seu frio? Manda a sua palavra e o derrete; faz soprar o vento, e as águas correm.  Mostra a sua palavra a Jacó, as suas leis e os seus preceitos, a Israel.  Não fez assim a nenhuma outra nação; todas ignoram os seus preceitos. Aleluia!”


Salmo 148

Neste salmo todas as criaturas de Deus, quer nos céus, quer na terra, são chamadas a louvá-lO.



“Aleluia! Louvai ao SENHOR do alto dos céus, louvai-o nas alturas.  Louvai-o, todos os seus anjos; louvai-o, todas as suas legiões celestes.  Louvai-o, sol e lua; louvai-o, todas as estrelas luzentes. Louvai-o, céus dos céus e as águas que estão acima do firmamento. Louvem o nome do SENHOR, pois mandou ele, e foram criados.  E os estabeleceu para todo o sempre; fixou-lhes uma ordem que não passará.  Louvai ao SENHOR da terra, monstros marinhos e abismos todos;  fogo e saraiva, neve e vapor e ventos procelosos que lhe executam a palavra; montes e todos os outeiros, árvores frutíferas e todos os cedros;  feras e gados, répteis e voláteis;  reis da terra e todos os povos, príncipes e todos os juízes da terra; rapazes e donzelas, velhos e crianças.  Louvem o nome do SENHOR, porque só o seu nome é excelso; a sua majestade é acima da terra e do céu.  Ele exalta o poder do seu povo, o louvor de todos os seus santos, dos filhos de Israel, povo que lhe é chegado. Aleluia!”


Salmo 149

Se o salmo anterior é um hino de louvor ao Criador, este é um hino de louvor ao Redentor. É um salmo de triunfo do Deus de Israel sobre os inimigos do Seu povo.


Aleluia! Cantai ao SENHOR um novo cântico e o seu louvor, na assembléia dos santos.  Regozije-se Israel no seu Criador, exultem no seu Rei os filhos de Sião.  Louvem-lhe o nome com flauta; cantem-lhe salmos com adufe e harpa. Porque o SENHOR se agrada do seu povo e de salvação adorna os humildes.  Exultem de glória os santos, no seu leito cantem de júbilo. Nos seus lábios estejam os altos louvores de Deus, nas suas mãos, espada de dois gumes,  para exercer vingança entre as nações e castigo sobre os povos;  para meter os seus reis em cadeias e os seus nobres, em grilhões de ferro; para executar contra eles a sentença escrita, o que será honra para todos os seus santos. Aleluia!


Salmo 150

Aleluia! Louvai a Deus no seu santuário; louvai-o no firmamento, obra do seu poder.  Louvai-o pelos seus poderosos feitos; louvai-o consoante a sua muita grandeza.  Louvai-o ao som da trombeta; louvai-o com saltério e com harpa.  Louvai-o com adufes e danças; louvai-o com instrumentos de cordas e com flautas.  Louvai-o com címbalos sonoros; louvai-o com címbalos retumbantes. Todo ser que respira louve ao SENHOR. Aleluia!

Comentário:

Este último salmo tanto quanto o primeiro, possuem o mesmo número de versículos (6 versos). O primeiro salmo começa com ordenações quanto ao modo de se caminhar neste mundo na presença de Deus e dos homens. E este último encerra o livro com uma convocação a se louvar ao Senhor de todas as formas possíveis. Uma vez aprendido o dever de como se deve andar na presença do Senhor é também agora não somente um dever, mas uma conseqüência deste aprendizado, que louvaremos ao Senhor de todo o nosso coração e com todas as nossas forças, não somente com os lábios, mas com instrumentos e com danças.




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