sábado, 17 de outubro de 2015

II Coríntios 1 a 13

II Coríntios 1

Consolados Para Consolar – 2 Coríntios 1

Quando Paulo escreveu a Segunda Epístola aos Coríntios, ele se encontrava na Macedônia (numa das três cidades daquela região em que havia fundado igrejas, a saber, Filipos, Tessalônica ou Bereia).
Ele havia evangelizado Corinto durante sua segunda viagem missionária juntamente com Silas e Timóteo, estivera em Éfeso durante sua terceira viagem e não havia ainda ido a Corinto, e já lhes havia escrito a sua primeira epístola quando se encontrava em Éfeso, e cerca de um ano após lhes escreveu esta segunda carta quando se encontrava na Macedônia, um pouco antes de ir ter pessoalmente com eles em Corinto.
A importância de saber estas informações está ligada ao fato de melhor compreendermos  os motivos da escrita desta segunda epístola, em face das repreensões e instruções que Paulo havia dado àquela Igreja em I aos Coríntios.
Pelo que se infere do conteúdo desta segunda epístola, houve uma resistência às exortações e repreensões que haviam sido dadas anteriormente pelo apóstolo, para que repreendessem e excluíssem da comunhão dos santos alguém que havia feito um grande agravo público, provavelmente o incestuoso citado no quinto capítulo da primeira epístola, que agora havia demonstrado sincero arrependimento, e por isso Paulo lhes pediu que lhe perdoassem em face do arrependimento que havia demonstrado, para que não fosse consumido por amargurada tristeza.
Este era o apóstolo cujo exemplo devemos seguir na obra do evangelho, porque tudo fazia não pelo que era afetado em si mesmo, mas por zelo da causa de Cristo, de modo que dilatou seu coração para aquele que lhe fizera a ofensa, de forma que fosse restaurado à comunhão dos santos.
Esta epístola foi destinada não somente à igreja de Corinto, mas também a todos os santos da Acaia, que era o nome antigo da Grécia, região onde se localizava a cidade de Corinto.
Como era comum em todas as suas epístolas, o apóstolo lhes recomendou à graça e à paz de Deus Pai  e de Jesus Cristo, porque são as grandes marcas do Senhor na Sua Igreja, sendo que a paz é filha da graça, uma vez que não pode existir verdadeira paz onde a graça não estiver reinando nos corações.  
Paulo bendisse o nome de Deus Pai porque é o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação; que demonstra o Seu grande amor para conosco nas tribulações e aflições que sofremos, porque por elas somos também aperfeiçoados no mesmo amor do Senhor, para que possamos nos tornar sensíveis, atenciosos, afetuosos e consoladores para com aqueles que estiverem passando por alguma tribulação, por termos aprendido por experiência  própria, que podemos contar com o amor, a misericórdia, e a consolação do Senhor em nossas tribulações, lhes encorajando portanto a também esperarem em Deus, de quem vem o nosso socorro e auxílio na tribulação (v. 3).
Aqueles que tiverem sido provados em muitas aflições por causa do seu amor a Cristo, também terão muitas consolações por meio do próprio Cristo (v. 4), de forma que sejam habilitados a serem seus instrumentos na consolação dos que estão atribulados; de modo que não somos atribulados e consolados somente por nossa própria causa e interesse, mas por causa e para o interesse de muitos, para que também sejam consolados e salvos através da nossa instrumentalidade nas mãos do Senhor.
De sorte que é necessário suportar com paciência as aflições para que a consolação seja eficaz; porque é certo que Deus não consolará murmuradores que se queixam dEle.
A principal razão de Paulo ter iniciado o seu discurso com estas palavras, possivelmente se deveu ao fato de terem os coríntios sido consolados por Deus depois da muita tristeza que tiveram que suportar por causa das repreensões que receberam tanto da parte de Deus quanto do apóstolo, em face do seu arrependimento.
A tristeza que haviam experimentado havia afinal sido transformada em óleo de alegria, porque foi uma tristeza segundo Deus, pelo constrangimento do Seu Espírito, para que deixassem o modo errado pelo qual vinham caminhando até então.
Eles estavam sofrendo agora e teriam ainda muito que sofrer por causa do evangelho, e por isso Paulo lhes encorajou com o seu próprio exemplo de paciência nas aflições por amor de Cristo e da obra do evangelho, citando a tribulação que havia experimentado na Ásia, tanto na região da Galácia, quanto em Éfeso, a ponto de ter sido afligido além da sua própria capacidade de suportar, tendo chegado mesmo a perder a esperança de continuar vivo (v. 8).
Mas como tinha aprendido a não estar apegado à sua própria vida, senão ao Senhor, pela total confiança nEle, sabendo que ainda que viesse a morrer seria ressuscitado, foi livrado pela graça de Deus de tão grande morte, como ainda vinha sendo livrado dela em muitas ocasiões, sabendo portanto que continuaria sendo livrado até que completasse o ministério que lhe fora dado para ser cumprido (v. 9, 10).  
Nestes livramentos, estava plenamente convicto de que haviam contribuído as orações das Igrejas em seu favor, para que pela misericórdia que lhe fora feita pelas intercessões de muitas pessoas, também fossem dadas graças a Deus por ele, por muitos, e não somente por ele próprio (v. 11).
Esta era portanto a sua glória, saber que contava com a estima de muitos por causa da boa consciência que possuía, e da simplicidade e sinceridade com que vivia, e que provinham de Deus, e não com sabedoria carnal, mas vivendo na graça de Deus neste mundo, particularmente para com as Igrejas (v. 12).
De forma que o próprio Paulo era motivo de glória para eles, isto é, em quem poderiam se gloriar em razão do modo despojado como viveu entre eles, e em grande sinceridade e simplicidade para lhes pregar o evangelho; assim como seriam a glória de Paulo no dia da volta do Senhor, por causa da recompensa que receberia por tê-los ganho para Ele (v. 13, 14).
Ele estava lhes escrevendo da Macedônia, informando-lhes que em breve iria ter com eles, e de novo retornaria à Macedônia, e mais uma vez voltaria a visitá-los, quando então pretendia seguir em viagem para Jerusalém (v. 15, 16).
Alguns estavam colocando em dúvida a sua palavra de que lhes visitaria para colocar em ordem as coisas na Igreja de Corinto no seu devido lugar, porque diziam que ele não ousaria enfrentá-los face a face depois de tudo o que havia ocorrido naquela Igreja, mas o apóstolo lhes lembrou que ele nunca usou de leviandade para com eles, e que a sua palavra sempre foi sim, sim, e não, não.
Paulo seguiu a fidelidade de Deus de modo que nunca usou de duas palavras com os coríntios acerca de um mesmo assunto. Se era sim Paulo nunca disse não.
Tanto ele, quanto Silas e Timóteo, quando fundaram aquela igreja e estiveram lhes pregando o evangelho, nunca usaram de duplicidade no falar, antes lhes pregaram a Jesus Cristo, no qual sempre houve sim; porque todas as promessas que há para os cristãos em Deus, têm em Cristo a confirmação de um sim, porque todas serão cumpridas fielmente por Deus através da nossa união com Seu Filho.  
E para a glória de Deus, Paulo e seus cooperadores tiverem o privilégio de ver cumpridas em Corinto tais promessas que têm o Amém por meio de Cristo.
De modo que Paulo foi ungido por Deus para lhes pregar o evangelho com a confirmação de Cristo do seu apostolado, fazendo com que os coríntios recebessem o penhor do Espírito Santo em seus corações, através da sua pregação.
Então não era por covardia, ou por duplicidade que ele não havia ainda retornado a Corinto, mas por falta de possibilidade e não de oportunidade porque fora movido pelo Espírito, quando deixou Éfeso, a retornar à Macedônia, para confirmar a fé das Igrejas daquela região.
No entanto, isto era providencial, porque não era de fato seu propósito ir ainda a Corinto, porque queria poupar-lhes da vara da disciplina, porque estava esperando e contando com o seu arrependimento.
Ainda que não tivesse domínio sobre a fé deles, mas era o cooperador da sua alegria, uma vez que estavam de pé por causa da genuinidade da fé que lhes havia salvado.



“1 Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus, e o irmão Timóteo, à igreja de Deus, que está em Corinto, com todos os santos que estão em toda a Acaia.
2 Graça a vós e paz da parte de Deus nosso Pai, e da do Senhor Jesus Cristo.
3 Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação;
4 Que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus.
5 Porque, como as aflições de Cristo são abundantes em nós, assim também é abundante a nossa consolação por meio de Cristo.
6 Mas, se somos atribulados, é para vossa consolação e salvação; ou, se somos consolados, para vossa consolação e salvação é, a qual se opera suportando com paciência as mesmas aflições que nós também padecemos;
7 E a nossa esperança acerca de vós é firme, sabendo que, como sois participantes das aflições, assim o sereis também da consolação.
8 Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia, pois que fomos sobremaneira agravados mais do que podíamos suportar, de modo tal que até da vida desesperamos.
9 Mas já em nós mesmos tínhamos a sentença de morte, para que não confiássemos em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos;
10 O qual nos livrou de tão grande morte, e livra; em quem esperamos que também nos livrará ainda,
11 Ajudando-nos também vós com orações por nós, para que pela mercê, que por muitas pessoas nos foi feita, por muitas também sejam dadas graças a nosso respeito.
12 Porque a nossa glória é esta: o testemunho da nossa consciência, de que com simplicidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria carnal, mas na graça de Deus, temos vivido no mundo, e de modo particular convosco.
13 Porque nenhumas outras coisas vos escrevemos, senão as que já sabeis ou também reconheceis; e espero que também até ao fim as reconhecereis.
14 Como também já em parte reconhecestes em nós, que somos a vossa glória, como também vós sereis a nossa no dia do Senhor Jesus.
15 E com esta confiança quis primeiro ir ter convosco, para que tivésseis uma segunda graça;
16 E por vós passar à Macedônia, e da Macedônia ir outra vez ter convosco, e ser guiado por vós à Judeia.
17 E, deliberando isto, usei porventura de leviandade? Ou o que delibero, o delibero segundo a carne, para que haja em mim sim, sim, e não, não?
18 Antes, como Deus é fiel, a nossa palavra para convosco não foi sim e não.
19 Porque o Filho de Deus, Jesus Cristo, que entre vós foi pregado por nós, isto é, por mim, Silvano e Timóteo, não foi sim e não; mas nele houve sim.
20 Porque todas quantas promessas há de Deus, são nele sim, e por ele o Amém, para glória de Deus por nós.
21 Mas o que nos confirma convosco em Cristo, e o que nos ungiu, é Deus,
22 O qual também nos selou e deu o penhor do Espírito em nossos corações.
23 Invoco, porém, a Deus por testemunha sobre a minha alma, que para vos poupar não tenho até agora ido a Corinto;
24 Não que tenhamos domínio sobre a vossa fé, mas porque somos cooperadores da vossa alegria; porque pela fé estais em pé.”. (I Coríntios 1)




II Coríntios 2

A Carta Triste Perdida – 2 Coríntios 2

Paulo começou o segundo capítulo de 2 Coríntios, que estaremos comentando, com as seguintes palavras:
“Mas deliberei isto comigo mesmo: não ir mais ter convosco em tristeza.” (v. 1).
É bem provável que estivera com os coríntios quando se encontrava em Éfeso durante sua terceira viagem missionária, fazendo-lhes uma breve visita que não é citada no relato do livro de Atos.
Em face da falta de arrependimento deles, provavelmente lhes escreveu uma carta, não a Primeira aos Coríntios, mas uma carta que se perdeu, chamada de “a carta triste”, onde reprovou severamente o comportamento deles e em especial da pessoa que agora lhes pediu nesta segunda epístola para que fosse perdoada por eles.
Estas cogitações, são feitas pelo fato do que Paulo afirma no início do 13o capítulo desta epístola, dizendo que seria  pela terceira vez que iria ter com eles (13.1), e que aqueles que ainda permaneciam no pecado depois da sua segunda visita, e caso não se arrependessem por ocasião do seu retorno para estar com eles, não lhes perdoaria desta vez, de forma que seriam provavelmente excluídos da comunhão da Igreja.
Então era por este motivo que não havia ainda ido a Corinto, para lhes dar tempo para o arrependimento, porque não pretendia entristecer-lhes e nem ser também entristecido por eles, por causa dos seus pecados.
Nenhum verdadeiro pastor tem prazer em viver em conflitos com o rebanho que dirige, senão alegrar-se com eles através da comunhão com o Senhor, mas isto não é possível quando a congregação não anda nos caminhos de Deus.
Se os irmãos são a razão da nossa alegria, como podemos estar alegres se nós os entristecermos?
É preciso pois se esforçar por manter a comunhão do Espírito em amor, no vínculo da paz, mesmo quando temos que exortar e disciplinar a Igreja, para viver em santidade, segundo a justiça e a verdade, porque sem isto é impossível viver o amor de Deus, que procede de uma boa consciência, de um coração puro e de uma fé genuína.
Portanto, foi com muita tribulação e angústia de coração que Paulo lhes escreveu acerca do seu mau procedimento, para que se arrependessem, e fizera isto com muitas lágrimas, não pelo temor de entristecê-los, mas por causa do seu grande amor por eles.
Assim, aquele ou aqueles que lhe haviam entristecido, por causa dos seus pecados, não lhe haviam entristecido totalmente a ponto de não mais se importar por eles, porque afinal o amor é paciente, tudo sofre, suporta e é longânimo, como lhes escrevera antes em I Coríntios 13.
Eles deveriam então ter discernimento e não julgarem que suas repreensões se aplicavam por extensão a todos eles, por tomarem as dores dos que vinham andando de modo errado, e quanto aos que haviam errado bastaria portanto que fossem repreendidos por muitos, de modo que pudessem ser perdoados e consolados pela Igreja, em face do arrependimento demonstrado.
O propósito da aplicação da disciplina na Igreja por exortações, admoestações, repreensões e extremamente, por exclusões, não tem o propósito de humilhar os faltosos para destruição ou para que sejam consumidos por demasiada  tristeza, mas para que cheguem ao arrependimento.
Quando há arrependimento, o amor deve ser novamente confirmado para com os que foram restaurados à fé, assim como nos foi ordenado por nosso Senhor, ainda que seja por setenta vezes sete.
Além de tudo isso, ao exercitarmos disciplina na Igreja devemos lembrar que Satanás tem um olho atento em tudo o que fizermos, de forma a encontrar oportunidade para insuflar suas mentiras nas mentes das pessoas, para que fiquem atemorizadas de participar da comunhão dos santos, pelo rigor sem medida das coisas que possam vir a sofrer por parte de seus irmãos, e especialmente da liderança.  
Então este assunto da disciplina, quanto a exortar, repreender e excluir, é muito delicado, e não foi sem razão que Cristo nos advertiu a tudo fazer com grande temor de não virmos a ser causa de escândalo para ninguém, e que ao exercer a disciplina, ajamos de tal forma a preservar a todo custo a reputação das pessoas que estamos disciplinando; e que antes que nos disponhamos a retirar o cisco do olho de algum irmão, que retiremos primeiro a trave que há no nosso próprio olho, de modo que o façamos com discernimento, imparcialidade, entendimento e com boa visão da vontade de Deus em relação ao problema que estiver sendo tratado.
Cabe portanto a todo cristão, especialmente quando exerce disciplina, ter sempre um coração perdoador e disposto a perdoar, para que o Inimigo não tome vantagem tanto contra ele, como contra toda a Igreja, trazendo dores e perturbações à vida de paz e harmonia espiritual que deve existir no rebanho, conforme é da vontade do Senhor, que orou pela unidade em amor e santidade, de todos os Seus filhos.
Paulo lhes disse que quando partiu de Éfeso para a Macedônia, aportou em Trôade, que é o porto que faz ligação entre a Ásia e a Macedônia, e que nesta segunda ocasião que ali estivera, viu que uma grande porta para a pregação do evangelho lhe havia sido aberta pelo Senhor, mas ele não teve descanso no seu espírito, porque Tito não se achava ali, motivo pelo qual partiu para a Macedônia.
Certamente ele deve ter desejado que Tito se encarregasse do trabalho ali, mas como devia partir para a Macedônia, seu coração ficou grandemente constrangido pelo fato de não poder permanecer ministrando em Trôade, porque importava partir para a Macedônia.
Então os coríntios jamais deveriam duvidar da sua completa dedicação à obra do evangelho e da sua obediência a Cristo, porque por meio dEle, Deus lhe fazia triunfar em todas as circunstâncias, manifestando por toda parte  o aroma do Seu conhecimento, porque no cristão consagrado há este bom perfume de Cristo, tanto nos que se salvam, quanto nos que se perdem, sendo para os primeiros aroma de vida para a vida, e para o segundo grupo cheiro de morte para a morte.
Mas quem era idôneo para isto, senão aqueles que andavam na verdade, pelo poder do Espírito, porque o perfume não provém propriamente de nós, mas de Cristo, em nossa comunhão com Ele, pelo morrer do nosso velho homem, para que a vida de Cristo se manifeste no nosso viver, pela nossa identificação com a Sua morte.
Os coríntios eram portanto testemunhas de que Paulo não era meramente um pregador da verdade, mas alguém que vivia a verdade que pregava, o que era muito diferente dos muitos falsificadores da palavra de Deus, que não podiam viver portanto com a mesma sinceridade com que Paulo vivia na presença de Deus e de todos.



“1 Mas deliberei isto comigo mesmo: não ir mais ter convosco em tristeza.
2 Porque, se eu vos entristeço, quem é que me alegrará, senão aquele que por mim foi contristado?
3 E escrevi-vos isto mesmo, para que, quando lá for, não tenha tristeza da parte dos que deveriam alegrar-me; confiando em vós todos, que a minha alegria é a de todos vós.
4 Porque em muita tribulação e angústia do coração vos escrevi, com muitas lágrimas, não para que vos entristecêsseis, mas para que conhecêsseis o amor que abundantemente vos tenho.
5 Porque, se alguém me contristou, não me contristou a mim senão em parte, para vos não sobrecarregar a vós todos.
6 Basta-lhe ao tal esta repreensão feita por muitos.
7 De maneira que pelo contrário deveis antes perdoar-lhe e consolá-lo, para que o tal não seja de modo algum devorado de demasiada tristeza.
8 Por isso vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor.
9 E para isso vos escrevi também, para por esta prova saber se sois obedientes em tudo.
10 E a quem perdoardes alguma coisa, também eu; porque, o que eu também perdoei, se é que tenho perdoado, por amor de vós o fiz na presença de Cristo; para que não sejamos vencidos por Satanás;
11 Porque não ignoramos os seus ardis.
12 Ora, quando cheguei a Trôade para pregar o evangelho de Cristo, e abrindo-se-me uma porta no Senhor,
13 Não tive descanso no meu espírito, porque não achei ali meu irmão Tito; mas, despedindo-me deles, parti para a Macedônia.
14 E graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo, e por meio de nós manifesta em todo o lugar a fragrância do seu conhecimento.
15 Porque para Deus somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem.
16 Para estes certamente cheiro de morte para morte; mas para aqueles cheiro de vida para vida. E para estas coisas quem é idôneo?


17 Porque nós não somos, como muitos, falsificadores da palavra de Deus, antes falamos de Cristo com sinceridade, como de Deus na presença de Deus.”. (2 Coríntios 2)





II Coríntios 3

Palavras que São Espírito e Vida – 2 Coríntios 3

Somente pelas palavras de Paulo no 3º capítulo de 2 Coríntios, pode-se dizer em sua defesa que não havia nenhum tipo de amargura em seu coração contra os coríntios, até mesmo porque o coração do apóstolo não era dominado por esta fraqueza pecaminosa, senão pelo amor de Cristo.
Ele possuía de fato um coração perdoador e pronto a sofrer todas as coisas por amor a Cristo.
Pelas suas muitas aflições e tribulações, o Espírito havia forjado nele as virtudes da longanimidade, da misericórdia, da paciência e sobretudo do amor.
 Não se pode portanto fazer um juízo apressado sobre o caráter do apóstolo, baseado nesta ou naquela citação que fizera em suas epístolas, porque ele estava inteiramente tomado do zelo e amor pela causa do evangelho, que é sobretudo boas novas de salvação para os que creem.
Uma Nova Aliança através da qual Deus não está levando em conta as transgressões passadas, de modo a poder perdoar totalmente e reconciliar consigo mesmo, todos os que se arrependem de seus pecados e que creem no Seu Filho amado.
Tal era a humildade do apóstolo perante o Seu Senhor,  sabendo que tudo o que era, tinha e fazia, provinha dEle, que era grande o seu constrangimento quando se sentia impelido a ter que dizer algo em sua própria defesa.
Ao lhes dizer que ele era o bom perfume de Cristo e sobre a sua sinceridade no ministério, no final do capítulo anterior, não tinha portanto o propósito de se auto elogiar, mas lhes deixar bem claro que as marcas do seu apostolado eram o seu trabalho, dedicação, empenho na obra de Cristo, que resultavam em conversões verdadeiras, tal como se dera entre eles, os coríntios, e assim não precisava de títulos, ou cartas de recomendação como alguns costumam fazer para afirmarem a autoridade que têm recebido dos homens para terem a comissão de pregar o evangelho.
A carta de recomendação de Paulo eram os próprios coríntios que haviam se convertido, e cujos nomes estavam escritos no seu coração, porque afinal fora ele que os alcançou para Cristo, e cujo testemunho de vidas transformadas podia ser observado por todos os homens.
O Espírito de Deus havia escrito as suas leis nos seus corações através do ministério de Paulo, de forma que podia ser lido por todos que pertenciam de fato a Cristo.
Paulo, portanto afirmou que era por causa de Cristo e por meio dEle, que tinha tal confiança em Deus (v. 4). E detalhou e reforçou esta afirmação ao dizer que não era capaz, por si mesmo, de pensar coisa alguma que fosse proveitosa para a Igreja, como se isto partisse dele próprio, uma vez que toda a capacidade de qualquer cristão vem da parte de Deus (v.5).
Porque é Ele quem habilita seus ministros a serem capazes para a obra do ministério do Novo Testamento, que não é uma mera exposição da letra das Escrituras, ou mera transmissão de palavras, mas a ministração do Espírito aos espíritos, porque somente a letra mata, porque não pode gerar a vida de Cristo nos corações, senão apenas o espírito, porque quando o espírito do ministro é liberado juntamente com a unção do Espírito Santo, é isto que gera vida espiritual nos corações.    
Os sacerdotes do Antigo Testamento não foram capacitados e chamados a cumprir um tal ministério em todas as nações, mas é exatamente este o ministério desde que Cristo inaugurou um Novo Testamento (aliança), no Seu sangue.
Não foi Paulo que inventou a doutrina de que é o espírito que vivifica, mas isto foi uma revelação de nosso Senhor Jesus Cristo em seu ministério terreno:
“O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.” (Jo 6.63)
Quando Jesus disse que as palavras que ele havia dito eram espírito e vida, isto significa que Suas palavras foram proferidas pelo Seu espírito.
Daí ter dito antes que é o espírito o que vivifica e que a carne para nada aproveita.
É fácil observarmos isto quando lemos os discursos que Ele proferiu e que foram registrados nos evangelhos. Nós logo vemos que há espírito e vida, por exemplo, nas palavras do Sermão do Monte, nos discursos do evangelho de João e em tudo mais que o Senhor fez e ensinou, não somente porque se trata da verdade, mas também porque foram proferidas pelo espírito e não pela carne.
Esta é a razão de muitos lerem a Bíblia no culto público, ou pregarem a verdade, e não transmitirem vida aos seus ouvintes, porque o fazem na carne, e não no espírito.
O que podemos entender então é que sempre que as palavras que são proferidas forem procedentes de um espírito liberado em comunhão com o Espírito Santo, o resultado será que a palavra transmitirá vida espiritual àqueles que as lerem ou ouvirem.
Por exemplo, os sermões de Spurgeon ainda falam com vida porque Ele andava no Espírito e pregava no Espírito, e ainda hoje nós podemos sentir o espírito e a vida que há nos seus sermões, porque foram pregados com palavras ensinadas pelo Espírito e com a unção do Espírito. Nós podemos sentir que são palavras que procederam de um espírito que estava liberado dos grilhões do velho homem, ou homem exterior, que ele havia mortificado.
O mesmo pode ser dito dos escritos da quase totalidade dos puritanos, especialmente de John Owen, Richard Sibbes, Richard Baxter, Thomas Manton, Thomas Watson, dentre outros.
Não há nada de influência ressecante nestes escritos, ao contrário, eles transmitem vida espiritual  porque foram produzidos em espírito, pela inspiração do Espírito Santo, em pessoas cujos espíritos estavam santificados e liberados para transmitirem vida a outros.
Então é um excelente critério para nortearmos a seleção dos louvores e dos sermões que ouvimos, dos livros e das mensagens que lemos, procurar identificar se é a carne ou o espírito que os produziram. Se foi a carne, gerará o que é carnal, natural, desta criação, porque o que é nascido da carne é carne. Mas se foi o espírito, gerará vida espiritual.      
Por isso se diz que o ministério da Igreja é o ministério do espírito (veja que é usado espírito com inicial minúscula no texto de II Cor 3.6,8):
 “o qual também nos capacitou para sermos ministros dum novo pacto, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica.” (II Cor 3.6).
“como não será de maior glória o ministério do espírito?” (II Cor 3.8).
Então a glória da Nova Aliança excede a glória que havia no Velho Testamento, o qual foi inaugurado pela mediação de Moisés, e que por não possuir este caráter vivificador da Nova Aliança, fora substituído pela excelente glória do evangelho, por causa do caráter permanente deste, pelo qual muitos têm sido transformados e reconciliados com Deus para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo.
A dispensação do Espírito é a melhor dispensação e o período mais luminoso da história do mundo.
Devemos ter o cuidado de não cometer o mesmo pecado dos escribas e fariseus que não reconheceram o ministério do Messias e O rejeitaram, porque é possível estar totalmente alheio ao fato de que há um ministério do Espírito Santo acontecendo desde o Pentecostes ocorrido em Jerusalém, neste período que chamamos de dispensação da graça, que podemos também chamar de dispensação do Espírito Santo.
É de suma importância portanto que nos inteiremos de tudo o que se refira à Pessoa e obra do Espírito, tanto na história da Igreja como também e principalmente em nossos próprios dias, de modo a que nos empenhemos e sejamos achados como Seus cooperadores no trabalho que Ele está realizando no mundo.
Se é por meio do Espírito que tem sido derramado em todas as nações da terra, desde a morte e ressurreição de Jesus, que é produzida a vida de Deus nos corações, pela justificação que há em Cristo, e pelo novo nascimento do Espírito, então este ministério do Espírito não pode ser chamado de ministério de morte e de condenação, tal como a Antiga Aliança, porque não é este o seu propósito primordial, senão o de salvar, de dar vida, de reconciliar o pecador com Deus, de livrá-lo da morte espiritual e eterna, para que possa ter a vida abundante e eterna que há em Cristo.
Este é o ministério do qual estão incumbidos os ministros do evangelho. Não de ministrarem a morte e a condenação, mas a vida espiritual e a justiça que há em Cristo, e que estão sendo proclamadas e operadas pelo Espírito Santo através da sua ministração nesta Nova Aliança, que transforma pecadores em santos, pela sua santificação em graus cada vez maiores da manifestação da glória de Deus em suas vidas, para que sejam transformados cada vez mais à imagem e semelhança do próprio Cristo.
Havia e ainda há um véu no Antigo Testamento, que impedia que se visse claramente o significado das realidades espirituais relativas ao evangelho de Cristo, que está revelado no Velho Testamento em sombra, mas claramente revelado no Novo Testamento.
É somente quando o Espírito Santo remove este véu que podemos entender o mistério de Deus para o homem, que é Cristo, pela conversão de suas almas a Ele.
Paulo não estava falando da liberdade que os cristãos têm no Espírito (v. 17), por motivo de lhes ensinar esta verdade espiritual, mas também para refutar o falso ensino dos judaizantes que haviam se infiltrado também na Igreja de Corinto, como podemos ver no contexto desta epístola, e especialmente no seu décimo primeiro capitulo.
Ele já havia feito anteriormente  uma defesa desta liberdade no Espírito na epístola que havia escrito aos Gálatas, conforme podemos ver a seguir:
   “1 Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão.
2 Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará.
3 E de novo protesto a todo o homem, que se deixa circuncidar, que está obrigado a guardar toda a lei.” (Gál 5. 1-3).
O argumento aqui é da mesma essência do terceiro capítulo de II Coríntios, porque não é pela Lei que somos justificados e salvos, mas pela graça de Cristo, mediante o poder do Espírito.
E em Cristo a Antiga Aliança que vigorava no Velho Testamento foi revogada, de forma que os cristãos foram libertados do jugo civil e cerimonial da Lei de Moisés.
Em Cristo o cristão é livre até mesmo da escravidão do seu próprio ego, da sua própria vontade, porque é livre para poder escolher e viver segundo a vontade de Deus pelo poder do Espírito.
É portanto, somente pelo trabalho de libertação do Espírito Santo quanto à mortificação do velho homem, que podemos viver não mais escravizados à energia da carne, mas ao poder de Deus.



“1 Porventura começamos outra vez a louvar-nos a nós mesmos? Ou necessitamos, como alguns, de cartas de recomendação para vós, ou de recomendação de vós?
2 Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos os homens.
3 Porque já é manifesto que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração.
4 E é por Cristo que temos tal confiança em Deus;
5 Não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus,
6 O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica.
7 E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, veio em glória, de maneira que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos na face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, a qual era transitória,
8 Como não será de maior glória o ministério do Espírito?
9 Porque, se o ministério da condenação foi glorioso, muito mais excederá em glória o ministério da justiça.
10 Porque também o que foi glorificado nesta parte não foi glorificado, por causa desta excelente glória.
11 Porque, se o que era transitório foi para glória, muito mais é em glória o que permanece.
12 Tendo, pois, tal esperança, usamos de muita ousadia no falar.
13 E não somos como Moisés, que punha um véu sobre a sua face, para que os filhos de Israel não olhassem firmemente para o fim daquilo que era transitório.
14 Mas os seus sentidos foram endurecidos; porque até hoje o mesmo véu está por levantar na lição do velho testamento, o qual foi por Cristo abolido;
15 E até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o seu coração.
16 Mas, quando se converterem ao Senhor, então o véu se tirará.
17 Ora, o Senhor é Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.
18 Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor.”. (2 Coríntios 3)





II Coríntios 4

O Que É o Trazer o Morrer de Jesus – 2 Coríntios 4

Paulo poderia ter começado o 4º capítulo de 2 Coríntios com as palavras do verso 5:
“Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus.”.
Porque para não pregarmos a nós mesmos, mas a Cristo é preciso trazer o morrer de Jesus em nosso corpo, em nosso ego, e em tudo que se refira à nossa própria vontade e desejos, que devem ser levados à morte na cruz, para que a vida de Jesus possa se manifestar através de nós (v. 10).
Esta mortificação progressiva de todas as áreas de nossas vidas há de ocorrer se tivermos uma chamada para o ministério, tal como Paulo a tivera, porque o ministério consiste em manifestar não a nós mesmos, mas o que é relativo à vida de Cristo.
E para isto o velho homem tem que ser despojado, para que a nova criatura se manifeste em poder nestes vasos de barro que são os nossos corpos mortais.
São vasos de barro porque têm a ver com o que herdamos da natureza terrena de Adão, que foi criada a partir do barro, dos elementos naturais deste mundo, que passa.
Todavia, a nova vida em Cristo é do céu, e o seu poder excelente pode se manifestar somente se a casca do velho homem com suas vontades e desejos for completamente quebrada através das tribulações, perplexidades, perseguições, e abatimentos, ao mesmo tempo que somos consolados e amparados pelo Senhor pela manifestação do Seu poder e amor, para que não sejamos angustiados, desanimados, desamparados e destruídos (v. 8, 9).
Esta será a experiência de todos aqueles que consagrarem efetivamente suas vidas ao serviço do Senhor.
Tal como Paulo, saberão, por experiência, o que significa trazer diariamente no corpo o morrer de Jesus para que a Sua vida possa se manifestar em nós.
Eles saberão por experiência que toda a mortificação que é operada neles, sobretudo no seu ego, tem o propósito de gerar a vida de Cristo nos seus ouvintes (v. 12).
Eles saberão que todo o seu dever é anunciar a fé em Cristo, e a Sua morte e ressurreição, para a nossa própria ressurreição, de modo que ministrando por amor aos homens, possam todos abundar em ações de graças, para a glória de Deus, por causa da multiplicação da graça em muitos corações (v. 13 a 15).
Eles saberão que um cristão em seu posto de trabalho, operando fielmente no Espírito, não desfalece e suportará e sofrerá tudo por amor a Cristo, ainda que o homem exterior se corrompa, isto é, que enfraqueça, enferme, envelheça, porque o homem interior, a saber, o Espírito é renovado gradual e diariamente por Deus, segundo o Seu próprio poder e glória (v. 16).
Assim saberá também que toda tribulação traz em si mesma um propósito de nos tornar mais íntimos e participantes da glória de Deus, e que se tornam leves e momentâneas comparadas ao peso das consolações e operações poderosas do Senhor no nosso corpo, alma e espírito.
Um cristão experimentado, como Paulo, saberá discernir a vida espiritual que não se experimenta por vista, mas por fé, que se firma não nas coisas visíveis que são temporais, mas nas invisíveis que são eternas.
 Assim, à luz de todas estas afirmações que o apóstolo faz nos últimos versos deste 4º capítulo, nós podemos entender melhor o que ele pretendia dizer nos seus quatro primeiros versículos.
Os que são de Cristo podem entender as palavras de Paulo, a saber, o evangelho da cruz de Cristo, mas não os incrédulos, porque seus entendimentos foram cegados pelo Inimigo, de modo que não podem enxergar a glória que há no evangelho, que produz a sua vida ressurrecta à medida que nosso velho homem vai sendo despojado, progressivamente, pela mortificação operada pela cruz.
Para o mundo isto não é glória, quando muito, masoquismo, porque não pode experimentar o poder da vida do Espírito que se manifesta naqueles que permitem a mortificação dos feitos do corpo pelo poder de Deus.  
Eles não podem entender que a cruz não é carregada para nos aniquilar, mas para gerar a vida eterna de Cristo, porque Ele veio a este mundo não para nos matar, mas para que tivéssemos vida, e vida em abundância.
Mas esta vida não pode ser experimentada, a não ser na nova criatura, gerada em nós pelo Espírito, e isto demanda a morte e despojamento progressivo dos atos pecaminosos do velho homem, trabalho este que é feito pela cruz que carregamos diariamente, para que o Espírito não somente mortifique o nosso pecado, como também manifeste a vida poderosa de Cristo em nós.



“1 Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;
2 Antes, rejeitamos as coisas que por vergonhosas se ocultam, não andando com astúcia nem falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade.
3 Mas, se ainda o nosso evangelho está encoberto, para os que se perdem está encoberto.
4 Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.
5 Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus.
6 Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo.
7 Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós.
8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.
9 Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;
10 Trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também nos nossos corpos;
11 E assim nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na nossa carne mortal.
12 De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida.
13 E temos, portanto, o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também, por isso também falamos.
14 Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará também por Jesus, e nos apresentará convosco.
15 Porque tudo isto é por amor de vós, para que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de Deus.
16 Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia.
17 Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente;
18 Não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas.”. (2 Coríntios 4)






II Coríntios 5

Conhecemos a Cristo em Espírito – 2 Coríntios 5

Tal como no capítulo anterior, Paulo poderia ter iniciado o 5º capítulo de 2 Coríntios com as palavras do verso 16, de modo que se torna bem claro para todos nós o significado de tudo o que ele afirma no citado capítulo.
“Assim que daqui por diante a ninguém conhecemos segundo a carne, e, ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo.”  (v. 16).
O que ele quer dizer com isto é que o nosso conhecimento de Cristo não é por vista, porque amamos Alguém invisível, mas Ele é muito real para o cristão que partilha da Sua intimidade, porque se dá a conhecer em espírito, e assim, todo verdadeiro conhecimento não somente relativo a Cristo, mas às pessoas com as quais temos comunhão, é pelo espírito, não pelo que vemos ou ouvimos.
O apóstolo tinha falado antes da sublimidade de se morrer para se estar para sempre com o Senhor, e não mais estarmos ausentes dEle, pelas limitações que ainda nos são impostas pela vida que temos no corpo.
Todavia, para não se fazer mal entendido com estas palavras, para alguém em sua compreensão carnal, que pense que só se pode conhecer a Cristo depois que se deixa este mundo pela morte, Paulo afirmou que não se conhece a Cristo segundo a carne, senão pelo espírito.
Deste modo, o Cristo que servimos é onisciente, onipotente, onipresente. Ele tudo sabe, vê e governa. É inútil tentar viver aparte da consideração de que se deve viver de tal modo, que em tudo Lhe sejamos agradáveis, quer estando neste mundo, em que não O vemos, quer no vindouro, quando o veremos face a face.
Este empenho em se viver de modo agradável ao Senhor deve levar em conta, principalmente, o temor que Lhe é devido, porque teremos que comparecer ante o Seu Tribunal, no qual prestaremos contas e receberemos o louvor ou o dano de tudo o que tivermos feito por meio do corpo neste mundo, seja o bem segundo a Sua vontade para recompensa, seja o mal, para dano ou perda de galardão.
Então pregar o evangelho com fidelidade não é uma opção para os que são chamados, mas uma honra, e uma grande responsabilidade e dever, porque este nos foi encarregado da parte de Deus, para sermos seus embaixadores, na convocação de todos os homens a se reconciliarem com Ele, porque Cristo “morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.”
Paulo conhecia este temor que era devido ao Senhor, e pregava unicamente por amor, porque o amor de Cristo o constrangia a isto.
Assim ele podia se recomendar às consciências de seus ouvintes quando os persuadia à fé, porque podiam se gloriar no testemunho da sua sinceridade, e no fato de se gloriar nas coisas operadas por Deus em seu coração, e não na aparência, conforme muitos faziam em Corinto.
Em Cristo está sendo formada uma nova criação espiritual, e todo verdadeiro cristão faz parte da mesma, então não devem se fixar nas coisas do velho homem que são passadas à vista do Senhor, mas na nova vida que receberam do céu.
Deus mesmo proveu todas estas coisas relativas à reconciliação dos pecadores com Ele, não lhes imputando mais a condenação dos seus pecados por causa de Cristo.
O trabalho do apóstolo e de qualquer ministro de Cristo é portanto o de rogar aos homens que se reconciliem com Deus, porque Cristo, que não tinha pecado, morreu no nosso lugar, fazendo-se réu do pecado por nós, para que nEle fôssemos feitos justiça de Deus, isto é, alvo de Sua justiça, para que pudéssemos ser justificados do pecado.
À vista destas realidades, o objetivo maior e principal de um cristão não deve estar nas coisas deste mundo, mas no céu, porque foi de lá que recebemos a nova vida que há de permanecer por toda a eternidade.
E ainda que venhamos a morrer, temos um outro corpo celestial e glorificado aguardando por nós no céu, e deveríamos aspirar por deixar um dia este corpo terreno para que possamos receber este novo corpo celestial.
No entanto não se pode ter tal aspiração quando não se está vestido com a justiça de Cristo, pela fé no evangelho (v. 3).
Assim o que é mortal dará lugar ao que vive eternamente (v. 4); conforme o que foi planejado por Deus desde o princípio, e para comprovar esta verdade deu o Espírito Santo para habitar nos cristãos, para que seja o penhor do cumprimento cabal de tudo o que lhes tem prometido quanto à sua vida futura e celestial (v. 5).
Esta esperança de vida eterna deve ser motivo para que os cristãos tenham sempre bom ânimo, em todas as aflições que sofrem ainda no corpo neste mundo, uma vez que todas elas cessarão somente quando estivermos para sempre na presença do Senhor, depois de termos sido chamados por Deus a deixar o nosso corpo mortal, para que possamos viver na esfera das coisas que são somente espirituais, celestiais e divinas.



“1 Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus.
2 E por isso também gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do céu;
3 Se, todavia, estando vestidos, não formos achados nus.
4 Porque também nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos carregados; não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida.
5 Ora, quem para isto mesmo nos preparou foi Deus, o qual nos deu também o penhor do Espírito.
6 Por isso estamos sempre de bom ânimo, sabendo que, enquanto estamos no corpo, vivemos ausentes do Senhor
7 (Porque andamos por fé, e não por vista).
8 Mas temos confiança e desejamos antes deixar este corpo, para habitar com o Senhor.
9 Pois que muito desejamos também ser-lhe agradáveis, quer presentes, quer ausentes.
10 Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal.
11 Assim que, sabendo o temor que se deve ao Senhor, persuadimos os homens à fé, mas somos manifestos a Deus; e espero que nas vossas consciências sejamos também manifestos.
12 Porque não nos recomendamos outra vez a vós; mas damo-vos ocasião de vos gloriardes de nós, para que tenhais que responder aos que se gloriam na aparência e não no coração.
13 Porque, se enlouquecemos, é para Deus; e, se conservamos o juízo, é para vós.
14 Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram.
15 E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.
16 Assim que daqui por diante a ninguém conhecemos segundo a carne, e, ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo.
17 Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.
18 E tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação;
19 Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação.
20 De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamo-vos, pois, da parte de Cristo, que vos reconcilieis com Deus.


21 Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus.” (2 Coríntios 5)






II Coríntios 6

Imitadores do Apóstolo Paulo – 2 Coríntios 6

Tudo o que Paulo vinha dizendo aos coríntios tinha em vista, principalmente, convencê-los de que deveriam viver em santidade para o Senhor, uma vez que não devemos esquecer dos muitos problemas que estavam ocorrendo naquela Igreja e que foram exaustivamente comentados por Paulo na sua primeira epístola dirigida a eles, notadamente quanto ao que se referia a comer coisas sacrificadas a ídolos nos templos pagãos.
O testemunho da vida santificada do apóstolo é o que deveria ser seguido por eles, e não os argumentos carnais dos seus opositores, que seguiam a inclinação da carne e não do Espírito.
Como poderiam se sustentar de pé tais argumentos carnais em face da exposição do evangelho que Paulo não somente pregava, como também vivia, e que agora estava recordando aos coríntios por carta?
Assim, ele conclui o 6º capitulo com admoestações, para que os coríntios não se prendessem em jugo desigual com os incrédulos, e que não se associassem a eles em suas obras dedicadas a ídolos e demônios, e que saíssem portanto, do meio deles, porque eram templo do Deus vivo, e não deveriam deste modo, tocar em nada imundo para serem agradáveis a Deus.
Veja que ele está concluindo com base no modo de vida carnal com concessões à idolatria que muitos deles estavam fazendo ou aprovando.
Assim tudo o que o apóstolo havia dito antes, inclusive na parte inicial deste capítulo, tinha o propósito de chamar os coríntios a imitarem o seu modo de vida cristã, que era segundo a verdade, e não segundo os seus próprios pensamentos e vontade.
Eles deveriam fazer um uso adequado da graça que lhes estava sendo disponibilizada pelo Espírito, de forma que não a tornassem vã, em seus efeitos, por apagarem o Espírito com os seus pecados.
A chamada à santificação não era uma invenção de Paulo, mas uma chamada do próprio Deus, e todos os ministros do evangelho são apenas cooperadores do testemunho da chamada à reconciliação que o próprio Deus faz através do Seu Espírito.
Por isso se requer santidade de vida dos que pregam o evangelho, para que o ministério não seja censurado ou que venha a ser motivo de escândalo.
Antes, assim como Paulo todo ministro fiel deve ser recomendável em tudo, seja na muita paciência, nas aflições, nas necessidades, nas angústias, nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns, na pureza, no conhecimento, na longanimidade, na benignidade, no Espírito Santo, no amor não fingido, na palavra da verdade, no poder de Deus, pelas armas da justiça, à direita e à esquerda, por honra e por desonra, por infâmia e por boa fama; como enganadores, e sendo verdadeiros; como desconhecidos, mas sendo bem conhecidos; como morrendo, mas vivendo; como castigados, e não mortos; como contristados, mas sempre alegres; como pobres, mas enriquecendo a muitos; como nada tendo, e possuindo tudo.
Todas estas coisas estavam em Paulo e devem ser achadas nos demais ministros de Deus, se forem chamados a participarem delas, especialmente daquelas coisas que são comuns a todos eles, porque ainda que alguns não venham a sofrer prisões e açoites como o apóstolo, é certo que serão aperfeiçoados para o ministério, e mantidos humildes, pelas aflições que sofrerão.
Então estas são as marcas de um ministério verdadeiro, as quais são tidas em alta conta e estima somente pelo espírito. A carne e o mundo não podem apreciar tais coisas.
O espírito as aprecia porque é por elas que ele é liberado das amarras do homem exterior, para que possa servir a Deus em liberdade e no poder do Espírito Santo.
É por estas coisas, sofridas com paciência e vividas por amor ao Senhor, conforme a capacitação da Sua graça, que se pode ter o coração dilatado para suportar ofensas, ingratidões, e as fraquezas daqueles que servimos, porque já não mais nós vivemos, senão Cristo vive em nós, e é pelo Seu amor que podemos todas estas coisas.
Mas quando não se tem um coração dilatado, por se estar estreitado em seus próprios afetos, tal como os coríntios, isto é, por se viver pela energia da alma com suas emoções, vontades, sentimentos e tudo o mais que não pertence ao espírito, não se pode viver do modo como vivia o apóstolo, mas importa que se coopere com o trabalho do Espírito em dilatar o nosso coração, para que possamos amar assim como Cristo nos ama.    



“1 E nós, cooperando também com ele, vos exortamos a que não recebais a graça de Deus em vão
2 (Porque diz: Ouvi-te em tempo aceitável E socorri-te no dia da salvação; Eis aqui agora o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da salvação).
3 Não dando nós escândalo em coisa alguma, para que o nosso ministério não seja censurado;
4 Antes, como ministros de Deus, tornando-nos recomendáveis em tudo; na muita paciência, nas aflições, nas necessidades, nas angústias,
5 Nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns,
6 Na pureza, na ciência, na longanimidade, na benignidade, no Espírito Santo, no amor não fingido,
7 Na palavra da verdade, no poder de Deus, pelas armas da justiça, à direita e à esquerda,
8 Por honra e por desonra, por infâmia e por boa fama; como enganadores, e sendo verdadeiros;
9 Como desconhecidos, mas sendo bem conhecidos; como morrendo, e eis que vivemos; como castigados, e não mortos;
10 Como contristados, mas sempre alegres; como pobres, mas enriquecendo a muitos; como nada tendo, e possuindo tudo.
11 Ó coríntios, a nossa boca está aberta para vós, o nosso coração está dilatado.
12 Não estais estreitados em nós; mas estais estreitados nos vossos próprios afetos.
13 Ora, em recompensa disto, (falo como a filhos) dilatai-vos também vós.
14 Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas?
15 E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel?
16 E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo.
17 Por isso saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; E não toqueis nada imundo, E eu vos receberei;
18 E eu serei para vós Pai, E vós sereis para mim filhos e filhas, Diz o Senhor Todo-Poderoso.” (2 Coríntios 6)






II Coríntios 7

O Arrependimento que É Para Vida – 2 Coríntios 7

Paulo começa o 7º capítulo de 2 Coríntios recorrendo ao que havia falado anteriormente, especialmente na parte final do sexto capítulo em que havia citado a promessa de Deus de receber como filhos e filhas a todos que se apartassem dos ídolos e não tocassem em nada imundo, porque habitaria neles para que fossem o seu povo e Ele o Seu Deus.
À luz desta promessa todo cristão deve portanto estar muito empenhado em tudo o que se refira à sua santificação:
       “Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus.”  (2 Cor 7.1).
Afinal é este o objetivo da chamada da eleição para a salvação, a saber, para a santificação pelo Espírito Santo (I Pe 1.2), por causa da remissão que há no sangue de Jesus.
Então se alguém se diz cristão, e não tem em si este impulsionar da graça que opera pelo Espírito, conduzindo-lhe a se empenhar na sua santificação, deve refletir que está ocorrendo pelo menos uma entre duas coisas: ou deixou que o Espírito se apagasse por uma negligência ou prática deliberada do pecado, ou então por não ter sido realmente regenerado pelo Espírito.
 Então todo cristão autêntico que viva de modo digno da sua vocação por Deus, há de se empenhar para se purificar de toda a imundícia da carne e do espírito, no temor de Deus, progressivamente, com vistas ao aperfeiçoamento da sua santificação, isto é, até que atinja a maturidade espiritual que deve alcançar em Cristo, ainda aqui neste mundo, à qual é chamada na Bíblia de perfeição evangélica, porque sempre haverá alguma escória misturada ao nosso ouro; mas teremos aprendido em Deus, pela capacitação do Espírito, a nos livrar dela, para o inteiro agrado do Senhor, e a estarmos no lugar em que devemos estar permanentemente, a saber, em santificação na Sua presença.
Paulo lhes apelou então no Senhor, que assim como o seu coração estava dilatado para amá-los, sem desconfiança, rancor ou qualquer outro sentimento oposto ao amor, que de igual modo eles também dilatassem seus corações para amá-lo, porque não havia afinal nenhuma razão real para que não o fizessem, porque nunca havia tratado a nenhum deles injustamente, a ninguém havia corrompido com falsidades, a ninguém havia explorado para obter vantagem pessoal dolosamente (v. 2).
Se lhes dizia isso não era para que se sentissem acusados ou condenados, porque bem sabiam da unidade espiritual que havia entre eles, e da qual ele lhes já havia falado antes, que estavam em seu coração para morrer e viver juntamente, de modo que a vida deles era a sua vida, e a morte deles, era a sua morte, porque afinal se sentia um no Senhor  com todos eles (v. 3).
Ele não estava de nenhum modo ressentido com eles, e até mesmo a chamada carta triste foi escrita com muitas dores em seu coração, porque não tinha outra alternativa senão a de amar acima de tudo ao Senhor e ser obediente ao Seu mandamento de que os líderes devem disciplinar a Sua igreja.
Deste modo, a par da grande franqueza do modo pelo qual lhes havia falado, e do ato de se gloriar a respeito deles, ele estava cheio de consolação e transbordando de alegria, em meio a todas as suas tribulações (v. 4).
Porque quando chegou à Macedônia, havia sido muito atribulado, e seu corpo havia ficado extenuado, sem ter oportunidade de repousar, e grande era a luta que experimentara com lutas exteriores e temores internos, de forma que se achou muito abatido; mas como sempre costuma fazer, Deus lhe enviou consolo fazendo com que Tito fosse ter com ele, trazendo-lhe boas notícias a respeito do arrependimento da Igreja de Corinto, e da obediência que haviam demonstrado quanto a tudo que lhes havia admoestado através da carta que lhes endereçara; ao mesmo tempo que renovaram os protestos da saudade, do zelo por ele, e também da tristeza que sentiam por causa da sua ausência.
Isto era um sinal evidente que o amor de Cristo havia sido renovado em seus corações, em face do arrependimento deles, a ponto de terem consolado o próprio Tito, que foi ter com eles com a missão de colocar as coisas em ordem na igreja.
Portanto, não havia motivo para que Paulo ficasse contristado pela carta que lhes escrevera, apesar de ter-se arrependido por algum tempo, por temer que ela pudesse fazer um efeito contrário ao que era esperado por ele e por Deus, de modo que se endurecessem em suas posições, não reconhecendo que aquela tristeza procedia da parte do próprio Senhor, para produzir o arrependimento que dá vida e salvação, e não para que fossem ofendidos ou envergonhados.  
Não foi movido pelo espírito do mundo que Paulo lhes escreveu, mas pelo Espírito de Deus, de modo que a tristeza que foi  produzida em seus corações não era para a morte, senão para a vida.
Quando se afirma zelo por Deus, e se diz estar exercendo disciplina em Seu nome, mas fazendo-o por motivos pessoais, de vingança, rancor ou qualquer outro sentimento oposto ao amor, não se pode esperar que haja um bom resultado tal como o que houvera entre os coríntios, porque o Senhor há de honrar toda disciplina que for feita no Espírito, não somente por zelo, mas também por amor, mas não agirá nas coisas operadas meramente pelo coração do homem.
De modo que se for Deus quem operou a tristeza pela nossa instrumentalidade, então Ele próprio honrará a disciplina que o Espírito realizou por nosso intermédio, mas se formos nós, impelidos pelo espírito do mundo, o resultado não poderá ser vida e salvação, senão morte espiritual, de quem já estava a ponto de morrer, por causa do endurecimento no pecado.
Todas estas coisas devem ser refletidas e pesadas pelos ministros do evangelho, que têm o encargo da parte de Deus para exercerem disciplina na Igreja. Eles não serão justificados se agirem por motivos carnais, por maiores que sejam os pecados existentes na Igreja que têm que disciplinar.
É com a mesma direção do Espírito, e amor pelo rebanho que devem cumprir a exortação do Senhor, como a que vemos por exemplo em Apo 3.2:
“Sê vigilante, e confirma o restante, que estava para morrer; porque não tenho achado as tuas obras perfeitas diante do meu Deus.”  (Apo 3.2).
Paulo se alegrou portanto não somente com a alegria de Tito, pelo tratamento que recebeu dos coríntios, mas por saber que haviam sido consolados pelo Espírito, que era o sinal evidente de que haviam se arrependido sinceramente, em demonstração de obediência à vontade e Palavra de Deus.
É muito difícil, ou até mesmo impossível entender estes sentimentos e verdades espirituais, quando se vive segundo a carne, em busca de consolação carnal, baseada em princípios aplicados da filosofia ou da psicologia, mesmo quando usamos a própria Palavra de Deus para as nossas exortações e aconselhamento.
Nada disto funcionará, porque o Senhor honrará somente o que for produzido de fato pelo Espírito e que seja segundo a verdade relativa à santificação, que é segundo Deus, e não segundo aquilo que o homem pensa ou julga.
Os coríntios haviam sido provados em sua obediência ao Senhor e foram aprovados, porque Paulo não lhes escreveu por motivo de quem fizera a ofensa e nem de quem a sofrera, mas para ter oportunidade de colocar a obediência deles ao Senhor e à justiça e à verdade evangélica, à prova, de forma que pudessem manifestar o grande cuidado deles pela causa do evangelho, que era o zelo e cuidado que Paulo esperava que tivessem por ele; isto é, não propriamente demonstrações de zelo carnal, mas espiritual e segundo a verdade que está em Cristo Jesus.      
  Tito não fora ter com eles com subterfúgios, ou então sendo usado por Paulo com astúcias carnais, mas foi inteirado dos fatos tal como eram em verdade, e com o mesmo espírito de zelo e amor que havia no apóstolo, de forma que o assunto não fora tratado como motivo de escândalo ou de vergonha, tanto que a sua estada entre eles produziu os efeitos esperados por Deus, porque tudo fora feito com zelo espiritual e não carnal. Segundo o Senhor e não segundo o homem.  
Como tudo coopera juntamente para o bem dos que amam a Deus, toda aquela situação contribuiu para que o amor de Tito pelos coríntios aumentasse ainda mais, por causa da obediência deles e da forma como havia sido recebido pela igreja com temor e tremor, prova patente que eram de fato parte integrante do rebanho do Senhor, e portanto amados de Deus e daqueles que são encarregados por Ele para apascentá-los.
Andar na verdade e no Espírito faz com que os laços da confiança que nos unem uns aos outros e ao Senhor fiquem cada vez mais fortes. Esta confiança é a base de todo relacionamento verdadeiro, e deve ser bem cuidada por um andar na verdade e humildade; de modo que haja a mesma sinceridade em nossos corações, quer nas coisas que geram alegria, quer nas que produzem tristezas, e que demandam um sincero arrependimento, para que vivamos do modo que é aprovado por Deus e agradável a Ele.


“1 Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus.
2 Recebei-nos em vossos corações; a ninguém tratamos com injustiça, a ninguém corrompemos, a ninguém exploramos.
3 Não digo isto para vossa condenação; pois já antes tinha dito que estais em nossos corações para juntamente morrer e viver.
4 Grande é a ousadia da minha fala para convosco, e grande a minha jactância a respeito de vós; estou cheio de consolação; transbordo de alegria em todas as nossas tribulações.
5 Porque, mesmo quando chegamos à Macedônia, a nossa carne não teve repouso algum; antes em tudo fomos atribulados: por fora combates, temores por dentro.
6 Mas Deus, que consola os abatidos, nos consolou com a vinda de Tito.
7 E não somente com a sua vinda, mas também pela consolação com que foi consolado por vós, contando-nos as vossas saudades, o vosso choro, o vosso zelo por mim, de modo que muito me regozijei.
8 Porquanto, ainda que vos contristei com a minha carta, não me arrependo, embora já me tivesse arrependido por ver que aquela carta vos contristou, ainda que por pouco tempo.
9 Agora folgo, não porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para arrependimento; pois fostes contristados segundo Deus; de forma que por nós não padecestes dano em coisa alguma.
10 Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte.
11 Porque, quanto cuidado não produziu isto mesmo em vós que, segundo Deus, fostes contristados! que apologia, que indignação, que temor, que saudades, que zelo, que vingança! Em tudo mostrastes estar puros neste negócio.
12 Portanto, ainda que vos escrevi, não foi por causa do que fez o agravo, nem por causa do que sofreu o agravo, mas para que o vosso grande cuidado por nós fosse manifesto diante de Deus.
13 Por isso fomos consolados pela vossa consolação, e muito mais nos alegramos pela alegria de Tito, porque o seu espírito foi recreado por vós todos.
14 Porque, se nalguma coisa me gloriei de vós para com ele, não fiquei envergonhado; mas, como vos dissemos tudo com verdade, também a nossa glória para com Tito se achou verdadeira.
15 E o seu entranhável afeto para convosco é mais abundante, lembrando-se da obediência de vós todos, e de como o recebestes com temor e tremor.
16 Regozijo-me de em tudo poder confiar em vós.”. (2 Coríntios 7)







II Coríntios 8

Ofertas para Necessidades Reais – 2 Coríntios 8

Todos os que pregam arrogantemente sobre o dever da Igreja de atender aos seus apelos para que ofertem, ainda que seja de fato para a obra do Senhor, deveriam ler muitas vezes o capítulo oitavo de 2 Coríntios, para aprenderem do exemplo de Paulo e do Espírito de Cristo, como este assunto deve ser devidamente tratado na Igreja.
Ele está tratando neste capítulo da grande coleta que foi feita por todo um ano a cada domingo, nas igrejas da Galácia, da Macedônia e da Grécia, a favor dos cristãos pobres de Jerusalém.
O apóstolo fala do grande privilégio, da honra, da graça de poderem participar de um tal serviço prático em favor dos necessitados, como demonstração do amor tanto a Deus quanto ao próximo.
Então fez o pedido não como uma ordem ou por meio de constrangimentos, mas nos termos que podemos ver por exemplo no verso 8:
 “Não digo isto como quem manda, mas para provar, pela diligência dos outros, a sinceridade de vosso amor.”.
Ele havia destacado o exemplo e prontidão de ânimo voluntário das igrejas da Macedônia para participarem daquela oferta, tendo chegado mesmo a insistirem com o apóstolo a que aceitasse as suas ofertas em favor dos seus irmãos em Cristo de Jerusalém.
Então, ao citar este bom exemplo deles aos coríntios Paulo disse que não pretendia constrangê-los, ou lhes dar indiretamente uma ordem para a continuação do que já vinham fazendo, e que havia sido confirmado por Tito que continuassem a fazer quando foi ter com eles, de modo que dessem provas da sinceridade do seu amor por Cristo, atendendo àqueles que poderiam ser ajudados por eles com os seus bens.
Era o caso de se destacar para eles a graça que havia operado nas igrejas da Macedônia, porque se dispuseram a ofertar estando eles próprios sendo provados em grande tribulação, e havendo entre eles  uma pobreza profunda, mas isto não foi motivo para justificarem a sua compreensível falta de participação naquela graça de ajudarem seus irmãos na fé que eram judeus, mas ao contrário, houve grande alegria e riqueza de generosidade operadas neles pelo Espírito Santo, em face da prontidão de espírito que demonstraram de darem uma prova prática do amor cristão naquela oportunidade que lhes estava sendo oferecida pelas circunstâncias, fazendo com que contribuíssem voluntariamente até mesmo acima das suas possibilidades   (v. 2, 3).
Então os coríntios não deveriam apenas dar provas da fé abundante que neles havia, quer seja em palavra, em conhecimento em diligência e amor para com o apóstolo, como também participando de modo prático naquela oferta que estava sendo levantada em favor dos cristãos pobres da Judeia (v. 7).
Jesus mesmo, sendo rico, se despojou completamente de tudo o que possuía no céu, para poder nos enriquecer com a Sua graça.
Nós que éramos miseráveis pecadores, sem qualquer esperança neste mundo, pudemos alcançar a bênção de sermos feitos filhos e herdeiros de Deus, porque Jesus se despojou de toda a glória e riqueza que tinha no céu, para poder nos assistir e nos resgatar da terrível condição em que nos encontrávamos (v. 9).
Cabe portanto, seguirmos o exemplo que Ele nos deixou, para assistirmos por amor, a todos aqueles aos quais Ele nos enviar, para que possamos socorrê-los em suas necessidades.    
O alvo do socorro não é que sejamos oprimidos para que outros sejam aliviados, mas para que haja igualdade, de forma que os que nada têm possam ser supridos por aqueles que têm em abundância, de modo que nenhum membro do corpo de Cristo seja carente enquanto outros têm além de suas reais necessidades.
Isto não significa aplicação de doutrina comunista que tem por pressuposto que todos sejam iguais em suas posses, o que é uma mentira impraticável, mas a doutrina da misericórdia que leva os que têm alcançado muito da parte do Senhor, a socorrer àqueles aos quais Ele tem mantido em circunstâncias de pobreza extrema e carência.
Por isso ninguém é convocado a dar aquilo que não tem, mas segundo o que possui, e não somente por prontidão de vontade, mas por cumprimento real (v. 11, 12).
O apóstolo havia enviado irmãos de boa reputação e louvor reconhecido pelas igrejas, dentre os quais nomeou Tito, para que orientassem os coríntios quanto ao preparo final da coleta que vinham fazendo já há quase um ano, conforme veremos no capitulo seguinte.
Paulo chamou estes seus cooperadores como irmãos e embaixadores das igrejas às quais serviam, para a glória de Cristo.
O apóstolo exortou os coríntios a receberem portanto a tais homens com a prova do amor deles, passando às suas mãos aquilo que haviam coletado durante meses, para que pudessem atestar de modo prático que Paulo tinha realmente motivo de se gloriar neles.



“1 Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus dada às igrejas da Macedônia;
2 Como em muita prova de tribulação houve abundância da sua alegria, e como a sua profunda pobreza abundou em riquezas da sua generosidade.
3 Porque, segundo o seu poder (o que eu mesmo testifico) e ainda acima do seu poder, deram voluntariamente.
4 Pedindo-nos com muitos rogos que aceitássemos a graça e a comunicação deste serviço, que se fazia para com os santos.
5 E não somente fizeram como nós esperávamos, mas a si mesmos se deram primeiramente ao Senhor, e depois a nós, pela vontade de Deus.
6 De maneira que exortamos a Tito que, assim como antes tinha começado, assim também acabasse esta graça entre vós.
7 Portanto, assim como em tudo abundais em fé, e em palavra, e em ciência, e em toda a diligência, e em vosso amor para conosco, assim também abundeis nesta graça.
8 Não digo isto como quem manda, mas para provar, pela diligência dos outros, a sinceridade de vosso amor.
9 Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis.
10 E nisto dou o meu parecer; pois isto convém a vós que, desde o ano passado, começastes; e não foi só praticar, mas também querer.
11 Agora, porém, completai também o já começado, para que, assim como houve a prontidão de vontade, haja também o cumprimento, segundo o que tendes.
12 Porque, se há prontidão de vontade, será aceita segundo o que qualquer tem, e não segundo o que não tem.
13 Mas, não digo isto para que os outros tenham alívio, e vós opressão,
14 Mas para igualdade; neste tempo presente, a vossa abundância supra a falta dos outros, para que também a sua abundância supra a vossa falta, e haja igualdade;
15 Como está escrito: O que muito colheu não teve de mais; e o que pouco, não teve de menos.
16 Mas, graças a Deus, que pôs a mesma solicitude por vós no coração de Tito;
17 Pois aceitou a exortação, e muito diligente partiu voluntariamente para vós.
18 E com ele enviamos aquele irmão cujo louvor no evangelho está espalhado em todas as igrejas.
19 E não só isto, mas foi também escolhido pelas igrejas para companheiro da nossa viagem, nesta graça que por nós é ministrada para glória do mesmo Senhor, e prontidão do vosso ânimo;
20 Evitando isto, que alguém nos vitupere por esta abundância, que por nós é ministrada;
21 Pois zelamos do que é honesto, não só diante do Senhor, mas também diante dos homens.
22 Com eles enviamos também outro nosso irmão, o qual muitas vezes, e em muitas coisas, já experimentamos ser diligente, e agora muito mais diligente ainda pela muita confiança que em vós tem.
23 Quanto a Tito, é meu companheiro, e cooperador para convosco; quanto a nossos irmãos, são embaixadores das igrejas e glória de Cristo.
24 Portanto, mostrai para com eles, e perante a face das igrejas, a prova do vosso amor, e da nossa glória acerca de vós.”. (2 Coríntios 8)






II Coríntios 9

Dai e Ser-vos-á Dado – 2 Coríntios 9

Os irmãos que são citados por Paulo no nono capítulo de 2 Corintios, cujo louvor era conhecido em todas as igrejas são citados por ele em Atos 20.4, pois eram os que lhe estavam acompanhando desde a Macedônia; como cooperadores e representantes das Igrejas da Galácia (Ásia), e da Macedônia, para serem tesoureiros e testemunhas em Jerusalém de que o valor coletado junto às Igrejas gentílicas era o que estava sendo fielmente entregue a eles, não que o apóstolo não fosse digno da inteira confiança deles, mas ele o fazia por prudência, para não dar ocasião ao Inimigo de levantar suspeitas, tal como Esdras havia feito em seus dias em relação aos bens que estava levando de Babilônia para Jerusalém.
Assim, Paulo se fazia acompanhar naquela ocasião de Sópater, Aristarco, Segundo, Gaio, Timóteo, Tíquico e Trófimo (At 20.4), tendo Lucas se reunido posteriormente ao grupo que se dirigia com ele para Jerusalém.
Tito não é citado porque já se encontrava em Corinto, conforme vimos no capítulo anterior.
Era a Sopáter, de Bereia, e Aristarco e Segundo, de Tessalônica a quem Paulo se referiu como os irmãos da Macedônia que iriam descer com ele a Corinto (At 20.4).
Estes já haviam trazido ao apóstolo as ofertas levantadas pelos macedônios, de modo que Paulo alertou os coríntios neste nono capitulo da epístola, para que não fossem achados desapercebidos, isto é, despreparados, quando os da Macedônia fossem juntamente com ele a Corinto para juntarem às suas ofertas, às que haviam sido coletadas pelos coríntios.
Paulo era de fato um campeão da psicologia bíblica, e sabia lidar como ninguém com a estrutura da personalidade humana, sem fazer adulações baratas, ou estratégias enganosas para conduzir a outros, mas usando da verdade, usava de toda a sabedoria que havia recebido do Espírito, para falar com rogos e súplicas  palavras que eram em sua própria essência palavras de ordem e chamadas de responsabilidade à consciência de outrem.
Nós o vemos usando da mesma psicologia quando escreveu a Filemom pedindo que usasse de misericórdia e favor para com o seu escravo fujão, chamado Onésimo.
Seria muito vantajoso para o progresso do evangelho que os ministros de Cristo usassem da mesma sabedoria que havia em Paulo, no trato com as respectivas ovelhas.
O apóstolo sabia usar os argumentos precisos para persuadir a consciência dos homens, sem ofendê-los ou agredi-los.
Ele sabia como extrair mel da rocha, pela instrução do Espírito em seu coração, que era inteiramente dedicado a Deus, e no qual havia também um genuíno amor pelos homens, porque onde existir de fato um verdadeiro amor a Deus, haverá também um genuíno amor pelos homens, e os trataremos tendo boas expectativas em relação a eles, pela confiança que temos do poder que há em Deus para trabalhar em seus espíritos.
Assim, ele elogiou a prontidão de ânimo dos coríntios quanto à coleta que estavam fazendo, e que o zelo deles estava estimulando a muitos, e que sequer tinha portanto,  necessidade de lhes escrever acerca do que deveria ser feito por eles (v. 1, 2).
O envio dos irmãos, e entre eles Tito, como vimos no capítulo anterior, não tinha o propósito de constrangê-los, mas para que lhes ajudassem nas coisas necessárias, de forma que não viesse a ser frustrada, de alguma forma, a esperança que depositava na fidelidade deles (v. 3).
O envio dos irmãos tinha também por propósito reafirmar as coisas que ele já lhes havia falado e que agora estava reforçando com a escrita desta epístola, que a oferta deveria ser preparada como bênção, e não como avareza; porque há uma lei espiritual determinada por Deus de que é dando que se recebe; e assim, portanto, o que os coríntios estavam fazendo era uma semeadura, e não um desperdício de bens, porque quando algo é ofertado para cumprir a vontade de Deus, nós estamos semeando bênçãos futuras que receberemos da Sua parte; tal como o agricultor que não poupa as sementes que enterra no chão, para que possa ter uma abundante colheita, de modo que quanto maior for a semeadura, maior será a colheita (v. 6).
Esta verdade deveria servir portanto de estímulo para toda a prova da generosidade deles.
Desta  forma, nenhuma oferta deve ser feita com tristeza no coração, ou por sentimento de obrigação, porque a oferta que é aceita e agradável a Deus é aquela que é feita com alegria, porque será aos tais que Ele demonstrará o Seu amor.
No entanto é o próprio Deus quem nos dispõe a tal generosidade. Não habita na nossa natureza terrena decaída no pecado nenhum verdadeiro altruísmo, uma vez que aquele que se vê no mundo, não é desinteressado, mas por motivo de orgulho, ainda quando se pretexta humildade, o motivo que os move é o orgulho de se sentirem humildes e generosos, mas não o amor que procede de Deus aos nossos corações e que nos leva primeiro a nos doarmos a Ele, e depois ao atendimento das necessidades do próximo.
Então é o próprio Senhor que nos faz ter abundância em toda a graça, de modo que sempre tendo tudo e toda suficiência pela sua graça, possamos também ser abundantes em toda a boa obra, que demandará de nós o uso em favor de outrem dos recursos que Deus nos esteja concedendo para tal propósito.
Ninguém é enriquecido para entesourar para si mesmo, senão para manifestar a glória do amor de Deus contribuindo desinteressadamente com aqueles  que ele mantém em algum tipo de necessidade, exatamente para que haja esta demonstração prática do amor de uns para com os outros.
E aquele que é despojado, liberal no dar, e que dá com alegria aos pobres, tem, conforme a promessa de Deus, um reconhecimento eterno deste ato de justiça, para a justa recompensa que Ele lhes dará no porvir, e mais do que isto, pelo reconhecimento eterno dEle pela bondade e amor que demonstraram para com seus irmãos necessitados; porque é próprio da natureza do amor cristão, que permanece e é eterno, esta atitude de se doar em favor dos outros.
Assim é o Senhor mesmo que nos dá a semente que semeamos, e também nos dá o pão que nos sustenta, e que multiplica a nossa sementeira, de forma que possam ser aumentados os frutos da nossa prática da justiça (v. 10); de modo que em vez de sermos empobrecidos pelo gesto de dar a outros, nós somos enriquecidos pelo Senhor, exatamente para que usemos de toda a beneficência, para que por meio dela sejam dadas graças a Deus tanto por aqueles que são alvo dela, quanto pelos que doam pelo privilégio e honra de fazê-lo, que lhes é concedido pelo Senhor (v. 11, 12).
Os que recebem glorificam a Deus pelo testemunho da submissão real à Sua vontade, por parte dos que dão, porque é uma forma de confissão prática e real quanto à obediência e participação do evangelho de Cristo (v. 13).
É pelo dom de Deus, do amor, que são possíveis todas estas graças, de forma que aqueles que recebem intercedem pelos que dão, tanto por gratidão, quanto para que Deus continue abençoando as suas vidas.
E isto aproxima os corações, quando se vê a excelência da graça de Deus operando nos Seus filhos.
Portanto é a Ele que se deve dar graças por tudo, porque tudo provém dEle, e sem o Seu amor impulsionando os nossos corações, e suprindo as necessidades tanto dos que dão, quanto dos que recebem, nada disto seria possível.
Assim, quão distante está o modo de Deus daquilo que o mundo chama de assistência social, porque ali está identificado o miserável e o rico, mas na Igreja, todos são carentes do favor de Deus e supridos por Ele, tanto os que dão, quanto os que recebem, de modo que somente Ele é digno de receber toda honra, glória e louvor; porque é por meio dEle que todos são beneficiados, quer com bens materiais, quer com intercessões e operações espirituais.
Lembramos de Elias que foi enviado à casa da viúva para ser assistido por ela, e no final das contas quem abençoou quem? Ambos foram abençoados pelo Senhor e se abençoaram mutuamente, por terem aberto seus corações para cumprirem a Sua vontade.                



“1 Quanto à administração que se faz a favor dos santos, não necessito escrever-vos;
2 Porque bem sei a prontidão do vosso ânimo, da qual me glorio de vós para com os macedônios; que a Acaia está pronta desde o ano passado; e o vosso zelo tem estimulado muitos.
3 Mas enviei estes irmãos, para que a nossa glória, acerca de vós, não seja vã nesta parte; para que (como já disse) possais estar prontos,
4 A fim de, se acaso os macedônios vierem comigo, e vos acharem desapercebidos, não nos envergonharmos nós (para não dizermos vós) deste firme fundamento de glória.
5 Portanto, tive por coisa necessária exortar estes irmãos, para que primeiro fossem ter convosco, e preparassem de antemão a vossa bênção, já antes anunciada, para que esteja pronta como bênção, e não como avareza.
6 E digo isto: Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância ceifará.
7 Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria.
8 E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra;
9 Conforme está escrito: Espalhou, deu aos pobres; A sua justiça permanece para sempre.
10 Ora, aquele que dá a semente ao que semeia, também vos dê pão para comer, e multiplique a vossa sementeira, e aumente os frutos da vossa justiça;
11 Para que em tudo enriqueçais para toda a beneficência, a qual faz que por nós se deem graças a Deus.
12 Porque a administração deste serviço, não só supre as necessidades dos santos, mas também é abundante em muitas graças, que se dão a Deus.
13 Visto como, na prova desta administração, glorificam a Deus pela submissão, que confessais quanto ao evangelho de Cristo, e pela liberalidade de vossos dons para com eles, e para com todos;
14 E pela sua oração por vós, tendo de vós saudades, por causa da excelente graça de Deus que em vós há.
15 Graças a Deus, pois, pelo seu dom inefável.”.





II Coríntios 10

Julgando pela Aparência – 2 Coríntios 10

Tendo dado demonstrações do seu afeto sincero pelos coríntios, nos capítulos anteriores, o apóstolo trataria deste 10º capítulo em diante, das questões ainda pendentes na Igreja por causa de uns poucos rebeldes que insistiam em permanecerem na desobediência, resistindo ao ensino de Paulo, principalmente por darem ouvidos aos judaizantes aferrados à circuncisão, e que estavam pervertendo a fé de alguns, tentando lhes convencer que Paulo não era obediente à Lei de Moisés, e que se alguém desejasse ser salvo de fato deveria cumprir todos os mandamentos da Lei, inclusive os civis e cerimoniais, de forma que vivesse não como viviam os gentios, mas com os mesmos costumes e tradições dos judeus.
Além destes, deveria haver ainda alguns que insistiam em seu raciocínio e conhecimento carnal que não havia nenhum mal em participar dos banquetes que eram oferecidos nos templos pagãos a outros deuses, porque, afinal, segundo o modo de pensar deles, como o ídolo não é um deus verdadeiro, então seria inócua a participação deles juntamente com os ímpios naqueles banquetes que ofereciam aos seus deuses.
Então não era de se admirar que Paulo tivesse muitos opositores em Corinto, porque eles influenciavam a muitos na Igreja a não se submeterem ao ensino do apóstolo, senão ao ensino pervertido deles, que deturpava o verdadeiro significado da graça do evangelho.
Paulo lhes havia falado com benignidade, e sempre se mostrou  humilde entre eles, então a sua exortação não era motivada por qualquer tipo de amargura pessoal, senão por puro zelo e amor por eles, para que retornassem do erro para a verdade, assim como ela se encontra no Senhor.    
Ele não usaria da sua autoridade apostólica para lhes ordenar com arrogância o que era  o seu dever, mas o faria com a mansidão e benignidade de Cristo, rogando em vez de ordenar (v. 1).
Entretanto, quando estivesse presente entre eles, desejava não se ver obrigado a usar com confiança da ousadia que talvez seria necessária ser usada com alguns que estavam abusando da sua paciência e longanimidade, julgando que ele andasse segundo a carne, isto é, vendo-o como mero homem, e assim sendo incapazes de ver que estava revestido do poder e autoridade de Deus para cumprir o seu apostolado.
Apesar de estar no corpo, Paulo não lutava segundo a carne, mas com as armas poderosas de Deus, que não são carnais, mas espirituais, para destruir os principados e potestades das trevas (v. 3,4).
É com este poder que procede de Deus e que se manifesta no corpo mortal dos Seus ministros, que são destruídos os conselhos e toda a forma de altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, de modo que é levado cativo todo entendimento à obediência de Cristo (v. 5).
Paulo estava portanto pronto a exercer a disciplina determinada por Cristo para punir toda a desobediência deliberada que porventura permanecesse em alguns na Igreja, mesmo em face da obediência da maioria dos cristãos de Corinto (v. 6).
Estes poucos desobedientes estavam se gloriando no fato de pertencerem a Cristo, e assim não deveriam dar contas a ninguém de seus maus atos, senão somente a Ele.
Tais pessoas ignoravam que o próprio Cristo deu autoridade aos Seus ministros para exercerem a devida disciplina na Igreja, punindo, e até mesmo excluindo da comunhão, aqueles que pretendessem permanecer na prática deliberada do pecado (v. 7).
É certo que todo cristão foi constituído como sacerdote para Deus neste mundo, mas dentre estes sacerdotes, o próprio Deus levantou líderes aos quais devem se submeter. Desobedecê-los, portanto, nas coisas referentes ao Senhor, significa desobedecer ao próprio Deus.      
No entanto o exercício deste poder recebido de Deus pelos Seus ministros visa não à destruição, mas à edificação do corpo de Cristo. O fim da disciplina visa ao amor e não à aniquilação do que é disciplinado.
Vê-se aqui o mesmo princípio que há na disciplina de um filho rebelde por um pai amoroso; que tem sempre em vista a recuperação do filho e não a sua destruição.
Nenhum cristão rebelde de Corinto deveria continuar se referindo a Paulo dizendo que ele tinha o propósito de lhes intimidar com suas cartas, e afirmarem que apesar das cartas serem graves e fortes, a presença do corpo dele entre eles era fraca, e a sua palavra desprezível.
Se diziam isto, era prova de que eram carnais, e julgavam Paulo segundo a carne, e não segundo o Espírito.
Eles queriam talvez oradores eloquentes, líderes de porte forte e esbelto, e não alguém como Paulo que era rodeado de fraquezas por todos os lados, para que o poder de Deus se manifestasse pela sua graça nesta fraqueza humana que tanto desprezavam, e que na verdade apreciariam caso se arrependessem e andassem no Espírito, porque o que Deus fizera com Paulo, quanto ao quebrantamento do seu homem exterior é o mesmo que Ele pretende fazer com todos os seus filhos, de modo que fixou no apóstolo um exemplo para todos eles, quanto ao modo pelo qual convém caminharem diante dEle e dos homens, neste mundo.
Paulo lhes advertiu portanto a refletirem que seria para com eles, quando estivesse em sua presença, o mesmo que julgavam ser em suas cartas, isto é, forte, inspirado pelo Espírito, sendo em ações, aquilo que certamente a carne deles não gostaria de enfrentar (v 11).
Paulo nunca se comparou com ninguém, e nem sequer se considerava alguma coisa a seu próprios olhos, porque sabia que toda a sua suficiência vinha da graça do Senhor.
Então quem não age tal como ele é porque está sem entendimento quanto aos caminhos do Senhor.
Aqueles falsos mestres nos quais estes coríntios rebeldes estavam se gloriando, estavam trabalhando em campo alheio, porque não haviam sido eles que levaram os coríntios ao conhecimento de Cristo Jesus, senão o apóstolo, inclusive estes que estavam agora se rebelando contra ele, e na verdade não apenas contra ele, mas contra a graça de Deus que fora concedida ao apóstolo e que operava eficazmente através dele, não como faziam os seus opositores, em campos alheios, mas fundando igrejas, onde o evangelho nunca antes havia sido pregado.
Então esta glória não poderia jamais ser furtada do apostolo, por meio de argumentos, porque ele tinha a seu favor a realidade  e o testemunho de Deus quanto ao trabalho que estava realizando.
A propósito foi o próprio Deus quem lhe havia conduzido até eles, e que lhe havia ordenado que permanecesse em Corinto porque tinha muito povo naquela cidade.
Como poderiam então, estarem estes coríntios se gloriando em outros que estavam procurando lhes afastar daquele que lhes havia conduzido ao conhecimento de Cristo?
Eles não deveriam portanto se gloriar em homem algum, senão somente no Senhor (v. 17); de forma que não é aprovado quem a si mesmo se louva, senão somente aquele a quem o Senhor louva, por ser obediente à Sua vontade, tal como lhe era o apóstolo Paulo, a quem estavam desprezando, em favor de louvarem pessoas reprovadas aos olhos de Deus e que não haviam sido enviadas por Ele a eles.                



“1 Além disto, eu, Paulo, vos rogo, pela mansidão e benignidade de Cristo, eu que, na verdade, quando presente entre vós, sou humilde, mas ausente, ousado para convosco;
2 Rogo-vos, pois, que, quando estiver presente, não me veja obrigado a usar com confiança da ousadia que espero ter com alguns, que nos julgam, como se andássemos segundo a carne.
3 Porque, andando na carne, não militamos segundo a carne.
4 Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas;
5 Destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo;
6 E estando prontos para punir toda a desobediência, quando for cumprida a vossa obediência.
7 Olhais para as coisas segundo a aparência? Se alguém confia de si mesmo que é de Cristo, pense outra vez isto consigo, que, assim como ele é de Cristo, também nós de Cristo somos.
8 Porque, ainda que eu me glorie mais alguma coisa do nosso poder, o qual o Senhor nos deu para edificação, e não para vossa destruição, não me envergonharei.
9 Para que não pareça como se quisera intimidar-vos por cartas.
10 Porque as suas cartas, dizem, são graves e fortes, mas a presença do corpo é fraca, e a palavra desprezível.
11 Pense o tal isto, que, quais somos na palavra por cartas, estando ausentes, tais seremos também por obra, estando presentes.
12 Porque não ousamos classificar-nos, ou comparar-nos com alguns, que se louvam a si mesmos; mas estes que se medem a si mesmos, e se comparam consigo mesmos, estão sem entendimento.
13 Porém, não nos gloriaremos fora da medida, mas conforme a reta medida que Deus nos deu, para chegarmos até vós;
14 Porque não nos estendemos além do que convém, como se não houvéssemos de chegar até vós, pois já chegamos também até vós no evangelho de Cristo,
15 Não nos gloriando fora da medida nos trabalhos alheios; antes tendo esperança de que, crescendo a vossa fé, seremos abundantemente engrandecidos entre vós, conforme a nossa regra,
16 Para anunciar o evangelho nos lugares que estão além de vós e não em campo de outrem, para não nos gloriarmos no que estava já preparado.
17 Aquele, porém, que se gloria, glorie-se no Senhor.
18 Porque não é aprovado quem a si mesmo se louva, mas, sim, aquele a quem o Senhor louva.”. (2 Coríntios 10)





II Coríntios 11

Escapando do Engano da Serpente – 2 Coríntios 11

Nós vemos no 11º capítulo de 2 Coríntios que Paulo temia pelo fato de muitos coríntios se entregarem a especulações espiritualistas, teosóficas, filosóficas, e a todo tipo de ensino de origem satânica e dos muitos espíritos demoníacos que operam no mundo tentando insuflar nas mentes das pessoas ensinos enganadores a respeito da criação, da pessoa de Cristo, da natureza dos homens e dos anjos e de muitas outras coisas que se baseiam no que chamam de conhecimento profundo das coisas ocultas.
A base destas doutrinas demoníacas é a mesma que foi utilizada pela Serpente para enganar Eva no Éden.
Ela reside no apelo ao avanço em conhecimento, para que possamos nos inteirar melhor da vontade de Deus e da compreensão dos poderes que operam no mundo e na nossa própria natureza, dependendo de nós mesmos e não nos submetendo ao Senhor.
Mas este é o grande engano ao qual o diabo conduz os homens, porque lhes faz pensar que estão avançando em conhecimento por si mesmos nestas coisas ocultas, quando na verdade, estas coisas consistem em ensinos e manifestações de demônios.
É este desejo de se inteirar das coisas que são ensinadas por Satanás, através de seus instrumentos, sob a forma de engano, que é repreendido tanto por Jesus quanto por Paulo, porque nos separa da simplicidade de mente que convém ao evangelho, e que em vez de nos tornar cheios da Palavra de Deus, e submissos a Cristo, contamina o nosso entendimento com as coisas pertencentes ao reino de Satanás de tal forma, que nos tornamos incapazes de nos concentrar nas coisas relativas à verdade que está em Cristo Jesus.
Deus nos criou para nos submetermos inteiramente à Sua soberania, e para viver do modo designado por Ele na Sua Palavra, e quando nos entregamos a este espírito especulativo de tudo pretender sondar em relação às doutrinas de demônios que circulam no mundo, ainda que com a sinceridade de apenas pretendermos alcançar conhecimento das mentiras que Satanás tem implantado por séculos no mundo, nós corremos o grande risco de ficarmos emaranhados nestas doutrinas e perdermos a comunhão com o Senhor e a verdade do evangelho.
Por isso o Senhor proibiu o Seu povo, desde os dias de Moisés, de sequer nomear os falsos deuses que as nações pagãs cultuavam, exatamente para evitar este envolvimento da nossa mente com as coisas pertencentes ao reino das trevas.
Não é por nos inteirarmos de tudo o que eles ensinam e operam no mundo espiritual da maldade, que nos preveniremos dos Seus ataques, mas com oração, com fé, com apego à Palavra da verdade.
O próprio Espírito Santo e a Palavra de Deus nos dão o discernimento necessário para vencer tais potestades malignas.
Quando se tenta vencer Satanás examinando cuidadosamente cada uma das armas que ele tem utilizado no mundo, nós podemos ser enganados por ele a ponto de tentarmos combatê-lo com as suas próprias armas, e não com a verdade do evangelho.
Se o zelo de Paulo pela simplicidade do evangelho da cruz, e o seu modo de vida despojado e sofrido, por causa da cruz, parecia a alguns coríntios uma loucura, era melhor suportar tal loucura do que se entregar às chamadas coisas profundas do conhecimento, que na verdade têm sua origem no reino de Satanás (v. 1).
Sem a simplicidade devida a Cristo, conforme está revelada somente no evangelho, é impossível manter um coração puro, segundo a vontade de Deus (v. 2).
É portanto de fundamental importância saber que o diabo pode com sua astúcia, corromper a mente do cristão, apartando-a da simplicidade e da pureza que há em Cristo (v. 3).
A importância de não se afastar da simplicidade e da pureza que estão em Cristo, não apenas preserva a nossa comunhão com Ele, como nos resguarda de abraçar outro espírito ou outro evangelho diferente daquele que nos foi ensinado Pelo Senhor e pelos apóstolos, que sendo abraçados, ainda que involuntariamente, certamente trarão grandes danos à nossa fé (v. 4).
Para os que andam no Espírito e no temor do Senhor, pelo conhecimento verdadeiro da Sua Palavra, sempre se sentirá uma forma de repulsa em seus espíritos, quando outro evangelho ou falsa doutrina estão sendo pregados ou ensinados, porque a unção do Espírito e o dom de discernimento de espíritos é o melhor antídoto para nos manter afastados das coisas pertencentes a Satanás que são mentira e engano, por maior que possa ser a sua aparência de luz e de verdade.
Não podemos esquecer que Satanás se transfigura em anjo de luz e seus agentes em ministros de justiça (v. 14, 15).  
Quando estes falsos ministros, usados pelo diabo são admitidos pela Igreja, e os cristãos se submetem ao ensino deles, o Espírito Santo se entristece, e apagando-se a Sua atuação nos corações daqueles que apostatam da fé, torna-se muito difícil ver a vida de Cristo sendo manifestada no meio do Seu povo, porque é impossível viver na verdade, quando se é vencido pelo engano.
Paulo já havia se referido anteriormente, nesta mesma epístola, qual é o modo de se vencer o engano, pelo seu próprio exemplo de vida:
“6 na pureza, na ciência, na longanimidade, na bondade, no Espírito Santo, no amor não fingido,
7 na palavra da verdade, no poder de Deus, pelas armas da justiça à direita e à esquerda,” (II Cor 6.6,7).
Veja que o Pai da mentira é vencido com pureza, com conhecimento de Deus, com longanimidade, no Espírito Santo, e com amor não fingido, e com a Palavra da verdade, no poder de Deus, com armas da justiça em todos os lados. É pois principalmente com a verdade e com as armas da justiça do evangelho, no poder do Espírito, que se vence o Inimigo, e não com as suas próprias armas mentirosas.
Cristãos que procuram se aprofundar no conhecimento das profundezas de Satanás (ainda que pensem, em seu engano que estão se aprofundando em coisas que os levarão a ter um maior conhecimento de si mesmos e de Deus) acabam por considerar a palavra do evangelho como algo rude e grosseiro, como alguns coríntios que se  julgavam refinados em seu conhecimento, estavam considerando o apóstolo Paulo (v. 6).
O apóstolo disse que temia que a Serpente corrompesse com sua astúcia o entendimento dos coríntios, mas na verdade o diabo já havia enganado e corrompido a muitos deles, pelo que podemos inferir do muito trabalho que eles estavam dando a Paulo para tentar reconduzi-los à verdade e ao espírito correto pelo qual importa servirmos ao Senhor; que é o da simplicidade e pureza que se pode ver numa criança.
O evangelho deve ser recebido portanto com este espírito de caráter pueril, sem o qual sempre haverá a luta do conhecimento carnal que se levanta contra o conhecimento que procede de Cristo.
A mente humana que não se deixa persuadir pelo Espírito Santo, acabará se tornando aberta às imaginações vãs e carnais e ao ensino de demônios, ainda que afirme ter por propósito alcançar um melhor e maior conhecimento de Deus.
O evangelho de Paulo; e a pessoa do apóstolo não eram inferiores aos demais apóstolos de Cristo, que ele, em sua humildade, chama de mais excelentes do que ele (v. 5).
Se a mensagem era a mesma, se o espírito era o mesmo, então porque os coríntios estavam se predispondo a se abrirem para um outro evangelho, quando na verdade há somente um único e verdadeiro evangelho?
A vida de Paulo era uma carta aberta perante todos eles, e muito diferentemente dos falsos mestres que lhes influenciavam por interesse egoísta e para propósitos enganosos, ele nunca lhes havia pedido qualquer coisa em troca do serviço que lhes prestara, ao contrário, teve que despojar outras igrejas para poder servi-los, recebendo delas salário, de modo que lhes anunciasse inteiramente de graça o evangelho de Deus (v. 7,8).
Especialmente as igrejas da Macedônia haviam suprido as suas necessidades para poder pregar o evangelho aos coríntios.
Certamente ele havia seguido a direção do Espírito para agir de tal forma em relação aos coríntios, para que não desse oportunidade a Satanás para infamá-lo e tentar desqualificar a mensagem que pregava, por afirmar que Paulo afinal de contas era igual aos demais falsos mestres, que ensinavam a religião por interesse.
Paulo não era insensato, mas se alguém quisesse tê-lo em tal conta, que o tivesse, porque em vez de se ofender, se gloriaria nisto, uma vez que ninguém deve gloriar em si mesmo, senão unicamente no Senhor, no entanto teria que se expor à insensatez de ter que se comparar com os falsos obreiros a bem dos coríntios, para que retornassem eles próprios à sensatez, de forma que pudessem entender o quão errados estavam em seus julgamentos, e o quanto haviam se deixado enganar pela velha Serpente, Satanás, o diabo.
Gloriar-se fora de Cristo é gloriar-se na carne, e Paulo teria que fazê-lo naquela ocasião, porque se os coríntios se julgavam sensatos porque estavam tolerando de boa mente os insensatos? Porque toleravam pessoas cujos ensinos estavam lhes escravizando?
Os coríntios admiravam a ousadia com que os falsos mestres faziam as suas asseverações, com grande eloquência e protestando alto conhecimento de coisas ocultas à mente comum.
No entanto, não havia nos apóstolos de Cristo a verdadeira ousadia, que é a do Espírito Santo, mas com amor e moderação?
E quanto às qualificações que estes falsos apóstolos pretextavam ter, por afirmarem simplesmente que eram israelitas, o povo que Deus havia escolhido desde a antiguidade, para se revelar ao mundo, Paulo não era também israelita tal como eles?
Eles se diziam ministros de Cristo? Mas onde estavam as marcas do ministério deles, produzida pela cruz?
Paulo expôs então os trabalhos, açoites, prisões (sem contar os mais de seis anos de prisão que ainda sofreria em Jerusalém, Cesareia e Roma), perigos de morte que suportara por amor ao evangelho, e que comprovavam que de fato estava sofrendo as perseguições que são sofridas por aqueles que pregam verdadeiramente o escândalo e a loucura da cruz.
Ele se referiu às 195 chibatadas que havia recebido dos próprios judeus, por perseguirem-no por causa do evangelho; às três vezes que havia sido açoitado com varas; à vez que havia sido apedrejado e dado como morto em Listra (At 14.19); aos três naufrágios que havia sofrido (sem contar o que ainda viria a sofrer em sua viagem para Roma); uma noite e um dia passado na voragem do mar; em muitas viagens, em perigos de rios, de salteadores, dos judeus, dos gentios, na cidade, no deserto, no mar, e entre falsos irmãos; em trabalho e fadiga, em muitas vigílias, com fome e sede, e vários jejuns, frio e nudez, suportados com amor por causa de Cristo e do evangelho.
Que outras evidências os coríntios ainda precisavam ter das marcas do seu apostolado verdadeiro? Que outras evidências do seu amor por Cristo e pelo evangelho?
Além de todos estes sofrimentos produzidos pelas circunstâncias exteriores, Paulo sofria também em seu interior em razão do cuidado por todas as igrejas.
Ele compartilhava as necessidades e sofrimentos dos santos. Ele ficava abatido com os abatidos. Enchia-se de zelo por causa dos que eram escandalizados (v. 30).
Ele queria que os coríntios percebessem que não estava se gloriando na carne em grandes feitos, conhecimentos, capacidades, senão nas coisas que estava sofrendo por amor ao evangelho.
Era uma glória relativa à sua fraqueza, e não ao seu próprio poder. Desta forma, tudo o que Ele fizera e estava fazendo era pela pura graça e poder de Jesus Cristo, por meio do Espírito Santo.
O Deus que vinha lhe livrando de todos os perigos e lhe consolando em todos os seus sofrimentos e humilhações, era o mesmo que lhe havia libertado de ser morto em Damasco, quando teve que fugir da cidade sendo descido num cesto por uma janela da muralha da cidade.              



“1 Quisera eu me suportásseis um pouco na minha loucura! Suportai-me, porém, ainda.
2 Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo.
3 Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também seja de alguma sorte corrompida a vossa mente, e se apartem da simplicidade e da pureza que há em Cristo.
4 Porque, se alguém for pregar-vos outro Jesus que nós não temos pregado, ou se recebeis outro espírito que não recebestes, ou outro evangelho que não abraçastes, com razão o sofrereis.
5 Porque penso que em nada fui inferior aos mais excelentes apóstolos.
6 E, se sou rude na palavra, não o sou contudo no conhecimento; mas já em todas as coisas nos temos feito conhecer totalmente entre vós.
7 Pequei, porventura, humilhando-me a mim mesmo, para que vós fôsseis exaltados, porque de graça vos anunciei o evangelho de Deus?
8 Outras igrejas despojei eu para vos servir, recebendo delas salário; e quando estava presente convosco, e tinha necessidade, a ninguém fui pesado.
9 Porque os irmãos que vieram da Macedônia supriram a minha necessidade; e em tudo me guardei de vos ser pesado, e ainda me guardarei.
10 Como a verdade de Cristo está em mim, esta glória não me será impedida nas regiões da Acaia.
11 Por quê? Porque não vos amo? Deus o sabe.
12 Mas o que eu faço o farei, para cortar ocasião aos que buscam ocasião, a fim de que, naquilo em que se gloriam, sejam achados assim como nós.
13 Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo.
14 E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz.
15 Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras.
16 Outra vez digo: Ninguém me julgue insensato, ou então recebei-me como insensato, para que também me glorie um pouco.
17 O que digo, não o digo segundo o Senhor, mas como por loucura, nesta confiança de gloriar-me.
18 Pois que muitos se gloriam segundo a carne, eu também me gloriarei.
19 Porque, sendo vós sensatos, de boa mente tolerais os insensatos.
20 Tolerais quem vos escravize, quem vos devore, quem vos detenha, quem se exalte, quem vos fere no rosto.
21 Envergonhado o digo, como se nós fôssemos fracos, mas no que qualquer tem ousadia (com insensatez falo) também eu tenho ousadia.
22 São hebreus? também eu. São israelitas? também eu. São descendência de Abraão? também eu.
23 São ministros de Cristo? (falo como fora de mim) eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; em açoites, mais do que eles; em prisões, muito mais; em perigo de morte, muitas vezes.
24 Recebi dos judeus cinco quarentenas de açoites menos um.
25 Três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes sofri naufrágio, uma noite e um dia passei na voragem do mar;
26 Em viagens muitas vezes, em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos dos da minha nação, em perigos dos gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre os falsos irmãos;
27 Em trabalhos e fadiga, em vigílias muitas vezes, em fome e sede, em jejum muitas vezes, em frio e nudez.
28 Além das coisas exteriores, me oprime cada dia o cuidado de todas as igrejas.
29 Quem enfraquece, que eu também não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu me não abrase?
30 Se convém gloriar-me, gloriar-me-ei no que diz respeito à minha fraqueza.
31 O Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que é eternamente bendito, sabe que não minto.
32 Em Damasco, o que governava sob o rei Aretas pôs guardas às portas da cidade dos damascenos, para me prenderem.
33 E fui descido num cesto por uma janela da muralha; e assim escapei das suas mãos.”. (2 Coríntios 11)






II Coríntios 12

O Espinho na Carne – 2 Coríntios 12

Paulo era um homem que havia aprendido a se submeter inteiramente ao Senhor e a viver em verdadeira humildade.
Ele julgou uma insensatez ter que se gloriar, ainda que em suas fraquezas, como havia feito no capítulo anterior, e neste 12º capítulo de 2 Coríntios, mas disse que o fizera porque os coríntios lhe haviam constrangido a isto, uma vez que estavam tentando desqualificar o seu apostolado, em favor dos falsos apóstolos transfigurados em ministros de justiça por Satanás (v. 11).
A prova desta humildade de Paulo pode ser deduzida do fato de que por catorze anos havia guardado em seu coração e não havia explanado em nenhuma de suas epístolas anteriores à escrita de 2 Coríntios, a experiência que tivera de ter sido arrebatado ao terceiro céu, à presença do Senhor, vendo as maravilhas da glória celestial, das quais não havia palavras que pudessem expressá-las.
De uma tal experiência, qualquer verdadeiro ministro de Cristo poderia se gloriar.
Certamente, ainda que não tenha feito uma referência direta aos falsos apóstolos, ele pretendia que os coríntios entendessem isto: qual deles poderia ter uma experiência como aquela, se sequer pertenciam a Cristo?  Como poderia ter sido arrebatado à presença de Deus alguém que não andasse na verdade?
No entanto, mesmo ao se referir a uma tal experiência grandiosa, Paulo fez questão de mencionar que Deus providenciou o meio necessário para que permanecesse humilde, uma vez que para que não ficasse exaltado pela excelência das revelações, foi-lhe enviado um mensageiro de Satanás para esbofeteá-lo, de modo que lembrasse que trabalhava pela graça, e não por qualquer mérito que houvesse nele próprio.
Tal era a grandeza das aflições quando retornou do terceiro céu, ao qual chama de paraíso (v. 4) que orou por três vezes ao Senhor para que o livrasse das mesmas (v. 8), mas o Senhor lhe respondeu que o propósito daquela experiência era a de mantê-lo consciente da sua própria fraqueza, de forma que o poder da Sua graça pudesse se manifestar na sua vida.
Em outras palavras, o homem exterior de Paulo estava sendo quebrado para que o poder de Cristo fosse aperfeiçoado na fraqueza.
Então havia aprendido a se gloriar, e de boa vontade, nas suas fraquezas, isto é, nos seus quebrantamentos, para que pudesse ter a permanente habitação do poder de Cristo se manifestando em sua vida (v. 9).
A ponto de sentir prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo, e o motivo não era o de ser masoquista, mas porque tinha força espiritual justamente quando estava fraco em si mesmo (v. 10).
Aqueles que suportam com paciência o sofrimento por amor a Cristo são os que se tornam também participantes da Sua intimidade.
Não foi portanto gloriando-se que Paulo disse todas estas coisas aos coríntios, mas com grande constrangimento, porque foi obrigado a fazê-lo por amor e zelo deles próprios, para que retornassem à sensatez, e vissem que em vez de tentarem desqualificar o seu apostolado, deveriam dar graças a Deus pelo seu ministério; ainda que, como fazia questão de afirmar, que ele, Paulo nada era em si mesmo (v. 11).
O seu apostolado foi manifestado entre os coríntios com grande paciência, com sinais, prodígios e maravilhas. Nada diferente do que ocorrera com todas as demais igrejas, exceto que não exigiu deles nenhum sustento para lhes ministrar a graça do evangelho (v. 12,13).  
 Paulo não buscava nada para si dos coríntios, senão servi-los e amá-los, deixando como herança um tesouro espiritual para eles, tal como os pais procuram deixar herança para seus filhos.
Ainda que não o amassem o tanto quanto os amava, jamais deixaria de amá-los e se gastar em prol do bem das suas almas (v. 14,15).
Quem poderia dentre os coríntios acusá-lo de ter-lhes servido por interesse, com vistas a obter ganho pessoal?
Até mesmo Tito e um outro irmão que tinha sido enviado por Paulo aos coríntios não foram ter com eles com o mesmo espírito do apóstolo? Porventura haviam explorado algum deles?
Tudo isto era prova mais do que suficiente de que eram eles e não Paulo que deveriam retornar à sensatez.
O apóstolo não lhes estava apresentando justificativas ou desculpas pelo seu comportamento entre eles ao lhes falar todas estas coisas, mas o fizera para a própria edificação espiritual deles.
No entanto, como sabia que os homens não se emendarão com meras palavras, mas por se submeterem ao poder do Espírito e à Palavra de Deus, receava que quando fosse ter com eles não os achasse do modo em que deveriam ser achados, isto é, que ainda existisse entre eles contendas, invejas, iras, porfias, detrações, mexericos, orgulhos e tumultos.
Não é nestas coisas que um cristão deve ser achado porque lhe torna repreensível à vista de Deus e dos homens.
O cristão deve estar no lugar em que deve estar e que foi designado para ele pelo Senhor, a saber, no crescimento em santificação.
Quem deveria chorar e se humilhar eram os próprios coríntios que estivessem vivendo de modo desordenado, mas Paulo diz que esperava que ele próprio fosse humilhado por Deus e chorasse por aqueles que haviam pecado e que não haviam se arrependido da imundícia, da prostituição e da desonestidade que haviam cometido (v. 21).
É de fato muito triste e lamentável para um ministro ver que dentre aqueles que alcançou para Cristo há alguns que vivem na prática deliberada do pecado sem arrependimento, e como eles próprios não choram pelos seus pecados, os ministros sofrem e choram por eles.              



“1 Em verdade que não convém gloriar-me; mas passarei às visões e revelações do Senhor.
2 Conheço um homem em Cristo que há catorze anos (se no corpo, não sei, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao terceiro céu.
3 E sei que o tal homem (se no corpo, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe)
4 Foi arrebatado ao paraíso; e ouviu palavras inefáveis, que ao homem não é lícito falar.
5 De alguém assim me gloriarei eu, mas de mim mesmo não me gloriarei, senão nas minhas fraquezas.
6 Porque, se quiser gloriar-me, não serei néscio, porque direi a verdade; mas me abstenho, para que ninguém cuide de mim mais do que em mim vê ou de mim ouve.
7 E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar.
8 Acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim.
9 E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo.
10 Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte.
11 Fui néscio em gloriar-me; vós me constrangestes. Eu devia ter sido louvado por vós, visto que em nada fui inferior aos mais excelentes apóstolos, ainda que nada sou.
12 Os sinais do meu apostolado foram manifestados entre vós com toda a paciência, por sinais, prodígios e maravilhas.
13 Pois, em que tendes vós sido inferiores às outras igrejas, a não ser que eu mesmo vos não fui pesado? Perdoai-me este agravo.
14 Eis aqui estou pronto para pela terceira vez ir ter convosco, e não vos serei pesado, pois que não busco o que é vosso, mas sim a vós: porque não devem os filhos entesourar para os pais, mas os pais para os filhos.
15 Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado.
16 Mas seja assim; eu não vos fui pesado mas, sendo astuto, vos tomei com dolo.
17 Porventura aproveitei-me de vós por algum daqueles que vos enviei?
18 Roguei a Tito, e enviei com ele um irmão. Porventura Tito se aproveitou de vós? Não andamos porventura no mesmo espírito, sobre as mesmas pisadas?
19 Cuidais que ainda nos desculpamos convosco? Falamos em Cristo perante Deus, e tudo isto, ó amados, para vossa edificação.
20 Porque receio que, quando chegar, não vos ache como eu quereria, e eu seja achado de vós como não quereríeis; que de alguma maneira haja contendas, invejas, iras, porfias, detrações, mexericos, orgulhos, tumultos;
21 Que, quando for outra vez, o meu Deus me humilhe para convosco, e chore por muitos daqueles que dantes pecaram, e não se arrependeram da imundícia, e prostituição, e desonestidade que cometeram.”. (2 Coríntios 12)






II Coríntios 13

Aprovados em Santificação – 2 Coríntios 13

Era de tal ordem a resistência de alguns cristãos coríntios que Paulo disse, no 13º capítulo  da 2ª epístola que lhes escreveu, que se valeria do testemunho de duas ou três pessoas, conforme a norma da disciplina evangélica, que confirmariam o modo desordenado de vida dos que deveriam ser confrontados quando ele fosse ter com eles, e que desta vez, não lhes perdoaria, e seriam submetidos à disciplina da aliança que tinham com o Senhor.
Eles estavam lhe tentando a demonstrar que Cristo falava realmente por seu intermédio, apesar de terem visto a forma poderosa como Ele havia operado entre eles através do seu ministério.
O próprio Cristo foi crucificado por meio de sofrimentos suportados pacientemente em fraqueza, no entanto vive agora pelo poder de Deus.
De igual modo os seus ministros, ainda que fracos, vivem manifestando por toda parte o poder de Deus, o qual opera nos seus ouvintes.
Todo cristão deve portanto fazer um auto exame diário, e colocarem à prova não os outros, mas a si mesmos, para verem se têm permanecido na fé.
Os que são de Cristo têm a habitação de Cristo. Caso contrário, é porque já estão condenados.
No entanto, os cristãos verdadeiros não são reprovados para condenação eterna (v. 6).
Mas nenhum cristão deve se gloriar simplesmente nesta verdade, mas fazer valer e manter a vocação para a qual foi chamado por Deus de praticar o bem segundo Cristo, e não viver mais na prática do mal.
Porque se existe uma aprovação por Deus que é incondicional, por pura graça, relativa à nossa filiação e aceitação, no entanto, há uma outra aprovação quanto ao nosso modo de viver, que deve ser segundo a verdade e a justiça.
Viver portanto no pecado é viver de modo reprovado quanto à santificação, ainda que não sejamos reprovados quanto à nossa justificação, porque esta não foi dependente de nossas boas obras, senão dos méritos exclusivos de Cristo, da fé e da pura graça, sem o concurso das nossas obras (v. 7).
Então nenhum cristão terá o seu comportamento aprovado por Deus caso não esteja andando na verdade, porque não se pode ir contra a verdade quando se é de Cristo, senão viver pela verdade.
Paulo não se importava portanto com o que dizia respeito à sua fraqueza humana, ao contrário, se regozijava nisto, porque era por meio dela que se manifestava a graça e o poder do Senhor, que fortalecia os cristãos coríntios, e que lhes aperfeiçoava.
O intuito de tantas admoestações, exortações e repreensões tinham em vista conduzir os coríntios ao retorno à santificação de suas vidas, de modo que o apóstolo não necessitasse usar de rigor quando estivesse com eles, porque afinal, o poder que os ministros receberam de Cristo visa à edificação e não à destruição do Seu rebanho.
Deste modo, Paulo se despediu dos coríntios com palavras de incentivo, de consolação, de votos que vivessem na alegria do Senhor, aperfeiçoando-se nEle, e sendo de um mesmo parecer, também vivessem em paz; porque fazendo assim o Deus de amor e de paz seria com eles.
E finalmente, enviou-lhes saudações de todos os santos, e que se saudassem mutuamente com ósculo santo.
Ele encerra a epístola com a conhecida bênção apostólica, que comumente é impetrada pela maioria dos ministros das igrejas evangélicas, ao final dos cultos de adoração: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com todos vós. Amém.” (v. 14).


“1 É esta a terceira vez que vou ter convosco. Por boca de duas ou três testemunhas será confirmada toda a palavra.
2 Já anteriormente o disse, e segunda vez o digo como quando estava presente; mas agora, estando ausente, o escrevo aos que antes pecaram e a todos os mais, que, se outra vez for, não lhes perdoarei;
3 Visto que buscais uma prova de Cristo que fala em mim, o qual não é fraco para convosco, antes é poderoso entre vós.
4 Porque, ainda que foi crucificado por fraqueza, vive, contudo, pelo poder de Deus. Porque nós também somos fracos nele, mas viveremos com ele pelo poder de Deus em vós.
5 Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados.
6 Mas espero que entendereis que nós não somos reprovados.
7 Ora, eu rogo a Deus que não façais mal algum, não para que sejamos achados aprovados, mas para que vós façais o bem, embora nós sejamos como reprovados.
8 Porque nada podemos contra a verdade, senão pela verdade.
9 Porque nos regozijamos de estar fracos, quando vós estais fortes; e o que desejamos é a vossa perfeição.
10 Portanto, escrevo estas coisas estando ausente, para que, estando presente, não use de rigor, segundo o poder que o Senhor me deu para edificação, e não para destruição.
11 Quanto ao mais, irmãos, regozijai-vos, sede perfeitos, sede consolados, sede de um mesmo parecer, vivei em paz; e o Deus de amor e de paz será convosco.
12 Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo.
13 Todos os santos vos saúdam.
14 A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com todos vós. Amém.”. (2 Coríntios 13)





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