sábado, 17 de outubro de 2015

II João 1

O autor da epístola se intitula o presbítero, palavra grega que significa ancião. Não padece dúvida pela semelhança de conteúdo e estilo que se trata do mesmo autor de I João.
Quando João escreveu esta epístola já se encontrava em idade muito avançada, e todos os demais apóstolos já haviam morrido.
Jesus o manteve em vida até além dos noventa anos de idade para dar cumprimento à palavra que havia proferido acerca dele de que deveria permanecer até que voltasse (João 21.22).
Jesus disse estas palavras em relação a João porque Pedro lhe havia perguntado o que ocorreria com ele, já que a Pedro revelou que a sua morte seria em martírio.
Estas palavras de Jesus indicam que João não seria martirizado como a maioria dos apóstolos, mas que o manteria em vida por um tempo prolongado, porque quando a Igreja estava debaixo de forte perseguição, e quase todos os apóstolos haviam sido martirizados, o Senhor consolou o Seu povo através dos escritos de João, especialmente do livro de Apocalipse, que foram todos produzidos por João, por direção divina, quando a Igreja precisava ser fortalecida por alguém que tinha sido testemunha ocular do ministério de Jesus e da Sua ressurreição.
O velho e honorável apostolo estava agora grandemente experimentado no serviço santo, e tinha visto e provado mais do céu, do que quando creu no princípio.
Por decênios ele havia sustentado o testemunho fiel da verdade, em pleno conhecimento da vontade de Deus conforme lhe fora revelado pessoalmente pelo Senhor, e depois pelo Espírito, conforme promessa que Jesus havia feito aos apóstolos de que seriam instruídos em toda a verdade, pelo Espírito Santo.
Então ele sustentou e manteve a mesma doutrina (ensino do evangelho) conforme havia transmitido durante toda a sua vida, e manifesta esta verdade nas poucas, mas significativas palavras que escreveu nesta epístola.
Nesta sua segunda epístola, ele saudou a senhora eleita e os seus filhos. Uma provável forma em código de se referir a uma determinada igreja local.
Ele protesta o seu amor baseado na verdade revelada pelos crentes desta igreja que ele chama de senhora eleita, porque a Igreja é composta pelos eleitos de Deus (v. 1).
E diz que não somente ele os amava, como também todos os que conhecem a verdade, por causa da verdade que permanece nos crentes e que para sempre estará com eles (v. 1,2).
A verdade à qual João se refere é o próprio  Cristo, que havia se definido aos apóstolos em Seu ministério terreno como sendo Ele próprio, o caminho, e a verdade e a vida.
O mesmo Cristo havia proferido a eles que todo o que viesse a Ele de maneira nenhuma seria lançado fora, e é por isso que João afirma que a verdade permanecerá para sempre naqueles que a têm conhecido por uma experiência pessoal com ela.
O Espírito Santo habita nos crentes como um selo, um penhor, uma garantia da salvação deles; de que nada mais os separará do amor de Deus que está em Cristo Jesus.
Então João disse que a graça, a misericórdia e a paz da parte de Deus Pai e da parte de Jesus Cristo, serão com os crentes em verdade e amor (v. 3). Isto é, estes dons permanecerão continuamente com os crentes que permanecerem na verdade e no amor, porque Jesus havia dito que aquele que permanece nEle, permanece no Seu amor, e aquele que guarda os Seus mandamentos é aquele que o ama.
João não está falando portanto que os crentes podem experimentar o amor de Deus e andarem na verdade, ainda que eles vivam contrariamente aos mandamentos de Cristo. Ele está dizendo que aquilo que Deus tem dado aos crentes Ele não retirará, mas o modo de se desfrutar estas graças divinas é pela perseverança no amor e na verdade, isto é, na obediência aos mandamentos de Cristo.
Por isso ele disse que muito se alegrou no fato de ter achado alguns dos filhos da senhora eleita andando na verdade, segundo o mandamento que recebemos de Deus Pai (v. 4). Na verdade sempre haverá em cada Igreja não somente joio que não poderá andar na verdade, porque não são salvos, como também crentes desobedientes à verdade, e por isso João diz que o motivo da Sua alegria era por aqueles que estavam vivendo de modo obediente à vontade de Deus, porque não há como se alegrar de fato com aqueles que andam contrariamente aos mandamentos de Deus e que por conseguinte entristecem o Espírito Santo, e assim não entristecem apenas ao Espírito, mas todos aqueles que têm andado no Espírito.
Assim, para o propósito de reafirmar a doutrina de Cristo àquela Igreja, ele lhes rogou que permanecessem no mandamento que haviam recebido desde o princípio do Senhor, de que se amassem uns aos outros assim como Cristo lhes havia amado, isto é, com o amor divino, e disse-lhes que eles sabiam que não estava lhes pedindo para cumprir um novo mandamento, senão o que havia sido ordenado por Cristo desde o Seu ministério terreno (v. 5).
João sabia por experiência própria, que não foi sem razão que Jesus deixou um novo mandamento para ser cumprido pela Igreja além dos mandamentos morais da Lei de Moisés.
Amar com o próprio amor de Deus demanda que se tenha comunhão íntima com Deus porque Ele é a fonte do amor.
É principalmente por este amor que o coração de pedra é quebrado, e que se recebe em seu lugar um coração de carne, porque é impossível amar com o amor de Cristo, com um coração de pedra.
É possível cumprir muitos mandamentos com um coração de pedra, mas é absolutamente impossível amar com um tal coração.
Então o crente que for cumprir este mandamento terá primeiro que permitir a Deus que seja quebrado por Ele, de maneira que terá que se autonegar para poder amar com um amor que não se encontra nele próprio e que lhe virá do alto, segundo o poder operante do Espírito Santo.
O amor de Deus é derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo (Rom 5.5).
Então ao falar no mandamento do amor, tanto Jesus quanto João estavam incluindo o cumprimento de muitos mandamentos, de maneira que Paulo diz que aquele que ama tem cumprido a Lei.
E Jesus havia afirmado que o amor ao próximo é o cumprimento de toda a Lei e os Profetas.
Então João confirma tudo isto no verso 6 dizendo que o amor é que andemos segundo os mandamentos de Cristo, e que este mandamento foi dado à Igreja desde o princípio para que ande nele.
Está muito claro para nós agora porque Paulo diz em I Cor 13 que se não tivesse amor nada seria e teria, ainda que fizesse muitas boas obras, e tivesse muitos dons espirituais, porque é pelo amor a Deus e ao próximo que se comprova o quanto temos realmente tido comunhão com Deus e uns com os outros.  
Como é muito comum, transferir o grande objetivo da religião para muitos alvos, o velho e experimentado apóstolo apontou novamente para o Norte do evangelho, indicando qual o caminho a ser seguido.
Assim ele alertou a Igreja quando aos muitos enganadores que haviam saído pelo mundo afora, não confessando que Jesus veio em carne, isto é, que Ele não havia de fato encarnado num corpo como o nosso, porque era puro espírito.
Este era o ensino dos gnósticos nos dias de João e que permaneceu atacando a Igreja nos primeiros séculos.
João os chamou de enganadores e anticristos.
Eles estavam a serviço de Satanás procurando demolir a sã doutrina, e assim afastarem as pessoas da possibilidade de serem salvas por Cristo, e também para enfraquecerem a fé dos crentes, quanto ao fato de que não tinham em Cristo um substituto que se ofereceu no lugar deles na cruz para livrá-los dos seus pecados e da condenação eterna (v. 7).  
Então o apóstolo advertiu os crentes para que olhassem por si mesmos, isto é, que vigiassem contra estes enganadores, e permanecessem na sã doutrina, conforme haviam sido instruídos pelos apóstolos, porque poderiam perder o fruto do trabalho que os apóstolos haviam feito com eles, de maneira que perderiam galardões caso permitissem serem desviados da verdade apostólica (v. 8).
Em Apo 3.11 Jesus fez a mesma advertência que o apóstolo João fizera no verso 8:
“Venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa.”  (Apo 3.11).
O que temos alcançado com esforço em nossa obediência ao evangelho é muito precioso e deve ser guardado com  toda vigilância e cuidado através de uma vida piedosa de oração e obediência à verdade, num viver perseverante e diligente.
Tal é o cuidado que se deve ter com a doutrina de Cristo, que aquele que não permanece nela não tem a Deus, porque é somente permanecendo nos mandamentos de Cristo, no Seu ensino, que temos tanto ao Pai quanto ao Filho. Esta é a única maneira de permanecermos nEle e Ele em nós, a saber, sendo obedientes à Sua Palavra (v. 9).
Esta é também a única maneira de sabermos que somos verdadeiramente salvos, porque os que foram salvos perseverarão na fé e na obediência à Palavra de Deus.
Aquele que tem se desviado da Palavra tem portanto se desviado do próprio Cristo. Por isso Ele nos advertiu seriamente quanto a isto em Seu ministério terreno.
É tão importante e vital para nossa vida espiritual e vitória neste viver cristão, quanto ao zelo necessário para que vivamos na doutrina de Cristo, que João disse que se alguém vem ter conosco, isto é, para um relacionamento de comunhão, e não traz esta doutrina verdadeira, não devemos receber tal pessoa em nossa casa, nem sequer saudá-la com a graça e paz do Senhor, conforme era o costume dos cristãos antigos. Isto quer dizer que não podemos ter como amigos do peito quem não é amigo do peito dos mandamentos de Jesus. Não podemos compartilhar num mesmo espírito com aqueles que não andam na verdade do Senhor (v. 10).
João diz que aquele que simplesmente saúda uma tal pessoa, participa de suas más obras, porque está no mesmo espírito de quem está no erro e não na verdade (v. 11).
Quem anda no amor de Deus detestará o mal, o pecado, e jamais será cúmplice daqueles que andam nas obras infrutíferas das trevas.
Isto mostra de modo muito claro que o amor a que João se refere como o cumprimento do novo mandamento do Senhor é o amor ágape que demanda pureza de coração e unidade de espírito em obediência ao Senhor.
Finalmente o apóstolo se despede daquela Igreja dizendo que tinha ainda muitas coisas para escrever, mas esperava visitá-los e instruí-los face a face, para que a alegria deles, e a sua própria, fossem completas. Certamente esta alegria é o fruto do Espírito que é decorrente de um andar na verdade. Por isso João pretendia ir ter com eles, de maneira que na comunhão no mesmo Espírito, por estarem em obediência à vontade do Senhor, ele sela esta comunhão dos crentes e o Seu agrado nela, gerando grande alegria espiritual em seus corações (v. 12).   Ele fala na saudação final da epístola, que uma outra igreja, à qual ele chama de “tua irmã, a eleita” estava saudando a senhora eleita, à qual havia destinado esta sua epístola. Certamente se tratava da igreja onde João se encontrava quando escreveu esta epístola.


“1 O ancião à senhora eleita, e a seus filhos, aos quais eu amo em verdade, e não somente eu, mas também todos os que conhecem a verdade,
2 por causa da verdade que permanece em nós, e para sempre estará conosco:
3 A graça, a misericórdia, e a paz, da parte de Deus Pai e da parte de Jesus Cristo, o Filho do Pai, serão conosco em verdade e amor.
4 Muito me alegro por ter achado dentre teus filhos aqueles que andam na verdade, assim como recebemos mandamento do Pai.
5 E agora, senhora, rogo-te, não como te escrevendo um novo mandamento, mas aquele mesmo que desde o princípio tivemos: que nos amemos uns aos outros.
6 E o amor é este: que andemos segundo os seus mandamentos. Este é o mandamento, como já desde o princípio ouvistes, para que nele andeis.
7 Porque já muitos enganadores saíram pelo mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Tal é o enganador e o anticristo.
8 Olhai por vós mesmos, para que não percais o fruto do nosso trabalho, mas para receberdes pleno galardão.
9 Todo aquele que vai além da doutrina de Cristo e não permanece nela, não tem a Deus; quem permanece neste ensino, esse tem tanto ao Pai como ao Filho.
10 Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis.
11 Porque quem o saúda participa de suas más obras.
12 Embora tenha eu muitas coisas para vos escrever, não o quis fazer com papel e tinta; mas espero visitar-vos e falar face a face, para que a nossa alegria seja completa.
13 Saúdam-te os filhos de tua irmã, a eleita.”

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