sábado, 17 de outubro de 2015

Mateus 8 a 28

Mateus 8

A Cura de um Leproso – Mateus 8.1-4

“1 Quando Jesus desceu do monte, grandes multidões o seguiam.
2 E eis que veio um leproso e o adorava, dizendo: Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo.
3 Jesus, pois, estendendo a mão, tocou-o, dizendo: Quero; sê limpo. No mesmo instante ficou purificado da sua lepra.
4 Disse-lhe então Jesus: Olha, não contes isto a ninguém; mas vai, mostra-te ao sacerdote, e apresenta a oferta que Moisés determinou, para lhes servir de testemunho.” (Mateus 8.1-4)

O primeiro versículo recorre ao fim do Sermão do Monte, porque as pessoas que o ouviram estavam maravilhadas da doutrina do Senhor, e o efeito foi, que quando Ele desceu do monte, grandes multidões o seguiram.
Nestes versos, temos o relato da cura de um leproso por Cristo.
Sabemos, pelo evangelho de João, que o primeiro milagre que Jesus fez foi a transformação de água em vinho nas bodas de Caná, e temos o registro em Mateus, antes de Jesus ter proferido o Sermão do Monte, que Ele havia curado a muitos, como se vê no final do quarto capítulo.
Temos então, aqui, o registro do primeiro milagre de cura que o Senhor fez depois de ter pregado o Sermão do Monte.
Nos dias de Jesus a lepra era uma doença incurável. Portanto, através desta cura Ele mostrou que era o único que poderia também curar a enfermidade incurável do pecado, a qual continua, até os dias de hoje, e para sempre, sendo uma doença incurável.
Os leprosos eram considerados imundos pela Lei, e deviam viver fora das cidades de Israel.
De igual modo o pecado torna o homem imundo para viver no céu, e caso não seja purificado não poderá jamais entrar no reino de Deus.
Com a cura do leproso Jesus demonstrou que somente Ele é competente para salvar os que se encontram banidos da presença de Deus, por causa da enfermidade do pecado.
O leproso foi sábio em reconhecer que Jesus tem todo o poder para curar qualquer enfermidade incurável, mas isto está na esfera e dependência da Sua vontade, e por isso lhe disse: “Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo.”
Ele se aproximou do Senhor e o adorou, mas reconheceu que não poderia exigir nada de Jesus, caso não fosse da Sua soberana vontade.
O Senhor não somente teve misericórdia do leproso, como tem de todos os que sofrem, como também, no seu caso, disse que era da Sua vontade purificá-lo, e o curou.
Pelos mais variados motivos, como por exemplo o de provar a nossa paciência e fidelidade na tribulação, Deus poderá não nos curar de nossas enfermidades, mas nos assistirá com a Sua graça, tal como fizera com o apóstolo Paulo quanto ao seu espinho na carne.
É muito importante o fato de Jesus ter tocado o leproso para curá-lo, porque isto demonstra que Ele não tem nenhum receio relativo a qualquer contágio do pecado, quando também nos toca para nos salvar, fazendo habitar em nós o Espírito Santo.
Segundo a lei, se alguém tocasse num leproso seria considerado imundo cerimonialmente, e impedido de participar do serviço de adoração no templo, até que fossem cumpridos o tempo e as exigências previstas na lei para a sua purificação.
Ao tocar no leproso, curando-o, Jesus demonstrou que não está sujeito, tal como nós, a ser contaminado pelas impurezas de outros.
Motivo porque não podia ser considerado que havia violado a lei de Moisés, porque tal prescrição da Lei tinha em vista ensinar sobre a contaminação do pecado, que deveria ser evitada, sob pena de ser castigada, em caso de descumprimento da norma legal.
Quando um leproso era curado de sua lepra, deveria se apresentar ao sacerdote com as ofertas exigidas pela lei, para testemunho da sua purificação.
Como a lepra era incurável, então toda cura que havia no passado, era o resultado de um milagre operado por Deus.
Jesus, comprovou então a Sua divindade, ao curar o leproso quando o tocou.
E para que se cumprisse a lei, lhe ordenou que se apresentasse ao sacerdote, mas que não contasse o modo pelo qual foi curado, porque não era ainda chegada a hora do Senhor ser conduzido à morte pelos líderes religiosos de Israel, portanto, a razão de seu pedido ao leproso, para manter a origem do milagre em segredo, tinha em vista não precipitar uma perseguição antes da hora.


A Cura do Servo de um Centurião - Mateus 8.5-13

“5 Tendo Jesus entrado em Cafarnaum, chegou-se a ele um centurião que lhe rogava, dizendo:
6 Senhor, o meu criado jaz em casa paralítico, e horrivelmente atormentado.
7 Respondeu-lhe Jesus: Eu irei, e o curarei.
8 O centurião, porém, replicou-lhe: Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu telhado; mas somente dize uma palavra, e o meu criado há de sarar.
9 Pois também eu sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados às minhas ordens; e digo a este: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu servo: Faze isto, e ele o faz.
10 Jesus, ouvindo isso, admirou-se, e disse aos que o seguiam: Em verdade vos digo que a ninguém encontrei em Israel com tamanha fé.
11 Também vos digo que muitos virão do oriente e do ocidente, e reclinar-se-ão à mesa de Abraão, Isaque e Jacó, no reino dos céus;
12 mas os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.
13 Então disse Jesus ao centurião: Vai-te, e te seja feito assim como creste. E naquela mesma hora o seu criado sarou.” (Mateus 8.5-13)

Nós temos aqui o relato de Jesus curando o servo de um centurião romano que sofria de paralisia e que se encontrava atormentado.
Isto se deu em Cafarnaum, onde Cristo estava habitando na ocasião (Mt 4.13).
O centurião era um oficial do exército romano, e provavelmente o principal comandante na área de Cafarnaum, que mantinha uma guarnição na referida localidade.
Ao ter atendido ao rogo do centurião e curado o seu servo, nosso Senhor estava dando cumprimento à profecia relativa a Ele de que seria uma luz para iluminar os gentios, tanto quanto estava destinado para ser a glória do seu povo de Israel.
Ao curar o servo do centurião à distância, sem necessitar tocar nele, Jesus mostrou que tem poder para curar de todas as formas, quer seja de perto, quer seja de longe, quer a quem visse ou a quem não visse, com os olhos de carne.
O centurião procurou Jesus demonstrando grande fé e humildade, quando Lhe disse que reconhecia a Sua autoridade para dar ordens para serem cumpridas, e que também reconhecia a Sua excelência a ponto de não ser digno de recebê-lo em sua casa.            
Todos que se aproximam do Senhor à busca de uma bênção deveriam se espelhar no exemplo que nos foi deixado pelo centurião.
Aquele oficial romano demonstrou uma piedade e cuidado pelo bem-estar do seu próximo, a ponto de estar disposto a se humilhar por amor de um servo. Não foi por si mesmo ou por um filho que recorreu a Cristo, mas por um criado de sua casa.
Quão grande valor o Senhor dá à intercessão que é feita em favor de outras pessoas, porque isto dá mostras de não sermos governados pelo egoísmo, mas pelo amor ao próximo que é ordenado por Deus a todos os homens.
O centurião não demitiu o criado enfermo apesar de ter-se tornado um peso para ele, e sem utilidade para desempenhar suas funções, e além disso é dito que estava horrivelmente atormentado.
Este amor e cuidado do centurião por aqueles que se encontravam debaixo das suas ordens, explica em parte o fato deles serem muito obedientes a ele, porque onde houver verdadeiro interesse e cuidado pelos que estão debaixo do nosso cuidado, isto lhes inspirará a serem gratos, respondendo com o desejo de servir com atenção e diligência, como forma de retribuição.
Não foi confiado em sua própria bondade que o centurião se aproximou de Jesus.
Ele reconheceu a sua indignidade diante da majestade e santidade do Senhor.
Este reconhecimento cabe a todos os homens, porque todos somos pecadores.
Ele honrou tanto a Cristo com a sua grande fé, que afirmou que confiava que o Senhor poderia curar o seu servo à distância.
Ele deu mostras com isso de reconhecimento do grande poder de Jesus.
E tal confiança é muito apreciada por Deus, porque sem fé é impossível agradá-lO.
O Senhor se agradou muito da confissão de fé do centurião, porque nela havia a marca do significado da verdadeira obediência que Deus espera de nós. Não pelo constrangimento da Sua presença divina, mas pelo crédito e honra a tudo que nos tem ordenado na Sua Palavra.
Uma obediência que tem o caráter daquilo que se diz em Ef. 6.6:
“não servindo somente à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus,”
 A fé do centurião na Pessoa de Cristo deu ocasião para que o Senhor profetizasse que aquilo era apenas um sinal, uma pequena mostra da grande conversão a Ele que ocorreria em todas as partes do mundo, inclusive no Ocidente, o que tem de fato ocorrido nestes cerca de dois mil anos de Cristianismo.
Não foi no panteão de deuses romanos que o centurião romano depositou a sua confiança, mas em Cristo, e assim tem sido com muitos em todas as nações pagãs.
Os próprios judeus que eram tidos na conta de filhos do reino de Deus, porque eram eles que estavam naturalmente destinados a recepcionarem a Jesus como Salvador e Senhor deles, vieram por fim a se endurecer em sua grande maioria, rejeitando-O, dando com isso cumprimento às profecias relativas a eles, especialmente as que encontramos no livro do profeta Isaías, no qual se revela claramente que a mensagem do evangelho seria rejeitada pelos judeus mas seria obedecida pelos gentios.
A consequência disto e o que Jesus afirma nos versos 11 e 12:
“11 Também vos digo que muitos virão do oriente e do ocidente, e reclinar-se-ão à mesa de Abraão, Isaque e Jacó, no reino dos céus;
12 mas os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.”
A citação “filhos do reino” é uma referência aos israelitas, porque eram o povo de Deus na antiga aliança, e era a eles que o reino estava destinado, mas eles o rejeitaram, ao terem rejeitado a Jesus.
Assim, os gentios (os não israelitas) que se convertem a Cristo estarão no reino dos céus, e os israelitas que rejeitaram a Cristo, no inferno, que consiste nas trevas exteriores, longe das luzes do reino dos céus, onde há choro e ranger de dentes.


A Cura da Sogra de Pedro – Mateus 8.14,15

“14 Ora, tendo Jesus entrado na casa de Pedro, viu a sogra deste de cama; e com febre.
15 E tocou-lhe a mão, e a febre a deixou; então ela se levantou, e o servia.” (Mateus 8.14,15)

Nós temos aqui o relato da cura da sogra de Pedro.
Ela estava com febre, e geralmente febres são apenas sintomas de algum mal que esteja acometendo o nosso organismo, geralmente infecções.
Então, ao fazer cessar a febre, Jesus curou a enfermidade que estava dando causa à mesma.
A sogra de Pedro encontrava-se acamada na casa do apóstolo, e tão logo foi curada por Jesus, levantou-se e O servia.
A saúde que o Senhor nos concede é para servi-lO.
Por isso não deveríamos nos entristecer somente pela enfermidade propriamente dita, mas pelo fato de nos impossibilitar de nos dar continuidade ao nosso serviço para Cristo.
Um simples toque de Jesus na mão da sogra de Pedro a curou.
O poder de cura atravessou todo o seu corpo e atingiu a parte que estava abrigando a doença, porque não é de se supor que fosse qualquer problema em sua mão que estivesse dando ocasião à febre.
Disto aprendemos, que não há necessidade, como muitos imaginam, que toquemos na parte do corpo em que esteja supostamente localizada a enfermidade, para que uma pessoa seja curada, quando oramos por ela.



Muitas Curas Operadas por Jesus – Mateus 8.16,17

“16 Caída a tarde, trouxeram-lhe muitos endemoninhados; e ele com a sua palavra expulsou os espíritos, e curou todos os enfermos;
17 para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías: Ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e levou as nossas doenças.” (Mateus 8.16,17)

Nesta passagem nós temos o relato do método que o Senhor empregava usualmente para curar e expulsar espíritos malignos: simplesmente pela Sua palavra de ordem.
Nosso Senhor revelou o Seu completo poder sobre as obras de Satanás, para destruí-las.
Se o pecado não tivesse entrado no mundo não haveria doenças e nem possessões malignas, então, ao curar os enfermos e endemoninhados, Jesus demonstrou o Seu poder para também remover a causa de tais males, que é o pecado, conforme foi profetizado acerca dEle nas Escrituras:
“Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e carregou com as nossas dores; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido.” (Is 53.4)
“levando ele mesmo os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro, para que mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados.” (I Pe 2.24)
Jesus pode curar enfermidades e expulsar demônios porque carregou sobre Si mesmo todos os nossos males na cruz.
Ele teve que pagar este altíssimo e doloroso preço para que pudéssemos ser curados e libertados.
É portanto, grande demonstração de gratidão para com o Senhor, e de tributação de louvor e honra ao Seu grande nome, depositar total confiança nEle para que sejamos curados, e principalmente salvos do poder de destruição do pecado.
Não é dito na passagem que Ele tivesse recusado a qualquer tivesse vindo a Ele. Ele não o fez e jamais o fará.
O Senhor entrará na casa do coração de qualquer que lhe der acolhida, e lhes abençoará com a Sua presença.



Jesus Põe à Prova os que Queriam Segui-lo - Mateus 8.18-22

“18 Vendo Jesus uma multidão ao redor de si, deu ordem de partir para o outro lado do mar.
19 E, aproximando-se um escriba, disse-lhe: Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores.
20 Respondeu-lhe Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.
21 E outro de seus discípulos lhe disse: Senhor, permite-me ir primeiro sepultar meu pai.
22 Jesus, porém, respondeu-lhe: Segue-me, e deixa os mortos sepultar os seus próprios mortos.” (Mateus 8.18-22)

Jesus não poderia se fixar numa determinada localidade de Israel, porque seu ministério deveria atingir todas as partes daquela nação, conforme estava determinado pelo desígnio eterno do Pai.
Ele foi dado como o Grande Profeta para todos os israelitas. E portanto, deveria percorrer todos as cidades e lugarejos da nação.
Por isso, nós o vemos aqui nesta passagem se deslocando de Cafarnaum para o outro lado do Mar de Tiberíades, também conhecido como Mar da Galileia, junto ao qual ficava a citada cidade.
“Respondeu-lhes Jesus: Vamos a outras partes, às povoações vizinhas, para que eu pregue ali também; pois para isso é que vim.” (Mc 1.38)
Em Seu ministério terreno, nosso Senhor deveria se limitar aos termos de Israel, porque, a ministração junto aos gentios deveria ser feita pela Igreja, somente depois que o Espírito Santo fosse derramado depois da Sua morte e ressurreição, o que ocorreu a partir do dia de Pentecostes.
Por isso se afirma nas Escrituras que Jesus foi ministro da circuncisão, a saber, junto aos judeus, porque foi a eles que foram feitas as promessas e as alianças:
“Digo pois que Cristo foi feito ministro da circuncisão, por causa da verdade de Deus, para confirmar as promessas feitas aos pais;” (Rom 15.8)
 Por isso foi necessário que, mesmo pela Igreja,  primeiro se pregasse o evangelho aos judeus, e importava que eles o rejeitassem, para que fosse estendido aos gentios.
 A pregação do evangelho é um alto privilégio que está reservado para aqueles que são chamados e enviados por Deus para fazê-lo, como vemos em Rom 10.15.
Jesus foi eleito e chamado pelo Pai para pregar o evangelho, e o Senhor chamou os apóstolos e discípulos para fazê-lo.
Agora, nós temos o relato de um escriba se apresentando a nosso Senhor, dizendo-lhe que o seguiria aonde quer que Ele fosse.
O escriba fizera isto por sua própria iniciativa, sem ter recebido qualquer chamado do Senhor para fazê-lo.
Daí ter recebido a resposta dissuasiva que Jesus lhe dera:
“As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.”
O Senhor lhe apontou o custo que é cobrado àqueles que Lhe seguem.
E não temos o registro de qualquer tréplica que tivesse sido apresentada pelo escriba, depois de ter ouvido tal afirmação do Senhor.
É bem provável que tenha percebido em si não a falta de desejo para seguir a Cristo, porque é possível que fosse sincero tal desejo, mas faltava-lhe a autoridade necessária para fazê-lo, autoridade esta que é concedida pela graça do Senhor somente para aqueles que são por Ele chamados, tal como foi, por exemplo o caso dos apóstolos, e de todos aqueles que Ele continua chamando ao longo da história da Igreja, para pregarem o evangelho.
No verso 21 nós temos o registro do motivo alegado por um dos discípulos do Senhor para retardar o atendimento à Sua chamada para segui-lO.
Ele pediu que esperasse primeiro que chegasse o dia da morte do seu pai, para que somente, depois de então, pudesse segui-lO para pregar o evangelho.
A resposta do Senhor para ele está registrada no verso 22:
“Segue-me, e deixa os mortos sepultar os seus próprios mortos.”
O Senhor não consentiu com o pedido daquele discípulo, porque o dever de todo discípulo do Senhor é segui-lO.
É dever de todo cristão estar onde estiver o seu Senhor. Então Jesus lhe ordenou: “Segue-me”.
E logo em seguida apresentou-lhe um argumento consistente para fazê-lo: os que receberam vida devem anunciar a vida aos que estão mortos espiritualmente para que também vivam.


Jesus Acalma uma Tempestade – Mateus 8.23-27

“23 E, entrando ele no barco, seus discípulos o seguiram.
24 E eis que se levantou no mar tão grande tempestade que o barco era coberto pelas ondas; ele, porém, estava dormindo.
25 Os discípulos, pois, aproximando-se, o despertaram, dizendo: Salva-nos, Senhor, que estamos perecendo.
26 Ele lhes respondeu: Por que temeis, homens de pouca fé? Então, levantando-se repreendeu os ventos e o mar, e seguiu-se grande bonança.
27 E aqueles homens se maravilharam, dizendo: Que homem é este, que até os ventos e o mar lhe obedecem?” (Mateus 8.23-27)

Nós vimos no verso 18 que Jesus havia ordenado aos seus discípulos que atravessassem para o outro lado do Mar de Tiberíades, e eles estavam navegando para a região de Gadara, situada na tribo de Gade, no lado oriental do Jordão.
Na passagem anterior nosso Senhor havia deixado de modo bastante claro que renúncias e dificuldades são impostas a todos aqueles que O seguirem.
E aqui, esta verdade está ilustrada de maneira prática, porque tendo decidido atravessar para o outro lado do Jordão através do mar, quando poderia fazê-lo por terra, percorrendo quase que a mesma distância, Jesus deu aos discípulos uma oportunidade de terem a fé deles provada, porque lhes sobreveio grande tempestade quando se encontravam em seu pequeno barco no mar.
Tranquilo e seguro quanto à providência divina para garantir o cumprimento da Sua missão, o Senhor dormia no barco em meio à furiosa tempestade.
Alarmados e em grande desespero, os discípulos acordaram o Senhor rogando-Lhe que lhes acudisse.
Devia ser de tal ordem o grande temor deles que foram repreendidos em vez de confortados.
 O Senhor lhes disse que não deveriam temer, uma vez que se encontravam debaixo do Seu cuidado e companhia, e lhes revelou que a causa de tão grande temor era a pequena fé deles na Sua pessoa divina.
Sabendo que necessitavam ter a fé aumentada, e que isto não sucederia em tão pouco tempo, por causa da fraqueza da fé dos discípulos, nosso Senhor não permitiu que a prova se prolongasse, aumentando ainda mais a tormenta deles, e por isso se levantou repreendendo os ventos e o mar, de maneira que se seguiu grande bonança.
O modo de os discípulos se manifestarem diante do milagre realizado, revela que apesar de Jesus ter realizado muitos outros milagres anteriormente diante deles, ainda não conheciam a Sua natureza divina e o Seu pleno poder sobre todas as coisas, de maneira que o viam até então, como um homem dotado de poderes extraordinários, mas seus olhos espirituais não tinham ainda sido abertos para poderem ver que nosso Senhor é o Deus que pode todas as coisas.  
Há um grande ensino para a Igreja nesta passagem, porque ela se encontra neste mundo, como os discípulos se encontravam naquele pequeno barco, sendo batido pela fúria das tempestades que tentam impedir que o barco chegue a seu destino.
Se tivermos uma fé grande não será necessário que o Senhor repreenda a fúria das tribulações e perseguições que nos acompanham tão de perto em nossa jornada neste mundo, porque perseverando em nossa confiança no Senhor, somos mais do que vencedores e nenhuma porta do inferno poderá prevalecer contra a Sua Igreja.
Devemos então descansar nossos corações em todas as circunstâncias difíceis da vida, sabendo que Jesus não somente tem poder para curar enfermidades, mas até mesmo para fazer cessar a fúria dos mares, o vendaval e as tempestades, porque tudo tem que obedecer a Sua palavra de ordem, pela qual criou todas as coisas, quer visíveis, quer invisíveis.

Mateus 8.1 Quando Jesus desceu do monte, grandes multidões o seguiam.
Mateus 8.2 E eis que veio um leproso e o adorava, dizendo: Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo.
Mateus 8.3 Jesus, pois, estendendo a mão, tocou-o, dizendo: Quero; sê limpo. No mesmo instante ficou purificado da sua lepra.
Mateus 8.4 Disse-lhe então Jesus: Olha, não contes isto a ninguém; mas vai, mostra-te ao sacerdote, e apresenta a oferta que Moisés determinou, para lhes servir de testemunho.
Mateus 8.5 Tendo Jesus entrado em Cafarnaum, chegou-se a ele um centurião que lhe rogava, dizendo:
Mateus 8.6 Senhor, o meu criado jaz em casa paralítico, e horrivelmente atormentado.
Mateus 8.7 Respondeu-lhe Jesus: Eu irei, e o curarei.
Mateus 8.8 O centurião, porém, replicou-lhe: Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu telhado; mas somente dize uma palavra, e o meu criado há de sarar.
Mateus 8.9 Pois também eu sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados às minhas ordens; e digo a este: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu servo: Faze isto, e ele o faz.
Mateus 8.10 Jesus, ouvindo isso, admirou-se, e disse aos que o seguiam: Em verdade vos digo que a ninguém encontrei em Israel com tamanha fé.
Mateus 8.11 Também vos digo que muitos virão do oriente e do ocidente, e reclinar-se-ão à mesa de Abraão, Isaque e Jacó, no reino dos céus;
Mateus 8.12 mas os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.
Mateus 8.13 Então disse Jesus ao centurião: Vai-te, e te seja feito assim como creste. E naquela mesma hora o seu criado sarou.
Mateus 8.14 Ora, tendo Jesus entrado na casa de Pedro, viu a sogra deste de cama; e com febre.
Mateus 8.15 E tocou-lhe a mão, e a febre a deixou; então ela se levantou, e o servia.
Mateus 8.16 Caída a tarde, trouxeram-lhe muitos endemoninhados; e ele com a sua palavra expulsou os espíritos, e curou todos os enfermos;
Mateus 8.17 para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías: Ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e levou as nossas doenças.
Mateus 8.18 Vendo Jesus uma multidão ao redor de si, deu ordem de partir para o outro lado do mar.
Mateus 8.19 E, aproximando-se um escriba, disse-lhe: Mestre, seguir-te- ei para onde quer que fores.
Mateus 8.20 Respondeu-lhe Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.
Mateus 8.21 E outro de seus discípulos lhe disse: Senhor, permite-me ir primeiro sepultar meu pai.
Mateus 8.22 Jesus, porém, respondeu-lhe: Segue-me, e deixa os mortos sepultar os seus próprios mortos.
Mateus 8.23 E, entrando ele no barco, seus discípulos o seguiram.
Mateus 8.24 E eis que se levantou no mar tão grande tempestade que o barco era coberto pelas ondas; ele, porém, estava dormindo.
Mateus 8.25 Os discípulos, pois, aproximando-se, o despertaram, dizendo: Salva-nos, Senhor, que estamos perecendo.
Mateus 8.26 Ele lhes respondeu: Por que temeis, homens de pouca fé? Então, levantando-se repreendeu os ventos e o mar, e seguiu-se grande bonança.
Mateus 8.27 E aqueles homens se maravilharam, dizendo: Que homem é este, que até os ventos e o mar lhe obedecem?
Mateus 8.28 Tendo ele chegado ao outro lado, à terra dos gadarenos, saíram-lhe ao encontro dois endemoninhados, vindos dos sepulcros; tão ferozes eram que ninguém podia passar por aquele caminho.
Mateus 8.29 E eis que gritaram, dizendo: Que temos nós contigo, Filho de Deus? Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?
Mateus 8.30 Ora, a alguma distância deles, andava pastando uma grande manada de porcos.
Mateus 8.31 E os demônios rogavam-lhe, dizendo: Se nos expulsas, manda- nos entrar naquela manada de porcos.
Mateus 8.32 Disse-lhes Jesus: Ide. Então saíram, e entraram nos porcos; e eis que toda a manada se precipitou pelo despenhadeiro no mar, perecendo nas águas.
Mateus 8.33 Os pastores fugiram e, chegando à cidade, divulgaram todas estas coisas, e o que acontecera aos endemoninhados.
Mateus 8.34 E eis que toda a cidade saiu ao encontro de Jesus; e vendo- o, rogaram-lhe que se retirasse dos seus termos.





Mateus 9

A Cura de um Paralítico em Cafarnaum - Mateus 9.1-8

“1 E entrando Jesus num barco, passou para o outro lado, e chegou à sua própria cidade.
2 E eis que lhe trouxeram um paralítico deitado num leito. Jesus, pois, vendo-lhes a fé, disse ao paralítico: Tem ânimo, filho; perdoados são os teus pecados.
3 E alguns dos escribas disseram consigo: Este homem blasfema.
4 Mas Jesus, conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Por que pensais o mal em vossos corações?
5 Pois qual é mais fácil? dizer: Perdoados são os teus pecados, ou dizer: Levanta-te e anda?
6 Ora, para que saibais que o Filho do homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados (disse então ao paralítico): Levanta-te, toma o teu leito, e vai para tua casa.
7 E este, levantando-se, foi para sua casa.
8 E as multidões, vendo isso, temeram, e glorificaram a Deus, que dera tal autoridade aos homens.” (Mateus 9.1-8)

Jesus retornou de Gadara, que ficava no lado oriental do Jordão, e retornou para a cidade onde fora residir depois de ter sido batizado por João, a saber, em Cafarnaum, onde Pedro também residia.
As passagens paralelas a esta narrativa se encontram em Marcos 2.1-12, e em Lucas  5.17-26. Nestes textos paralelos é informado que o paralítico foi introduzido através do telhado, na casa em que Jesus se encontrava, provavelmente a casa de Pedro, porque o Senhor dissera que não tinha sequer onde reclinar a cabeça, isto é, uma residência própria e fixa.
Todos os eventos narrados neste capítulo aconteceram em Cafarnaum. E a primeira ocorrência naquela cidade foi a salvação e a cura de um paralítico.
Era de tal ordem a paralisia deste homem que teve que ser carregado em sua cama por alguns amigos até a presença de Jesus. E nosso Senhor viu não somente a fé do paralítico como também daqueles que lho haviam trazido até Ele, pois é dito no verso 2: “Jesus, pois, vendo-lhes a fé...”
Deus opera de muitos modos para atrair as pessoas a Cristo, para que sejam salvas.
A uns pela busca de cura do corpo, a outros pela busca de cura da alma, e pelos mais variados motivos – tudo usa, todas as circunstâncias, conforme o conhecimento perfeito que possui do interior de cada pessoa, para conduzi-las à salvação.
Até mesmo aqueles que não podem tomar qualquer iniciativa para virem a Cristo, como foi por exemplo o caso dos dois endemoninhados gadarenos, livrará dos laços do diabo, pelo Seu próprio poder, àqueles que tem determinado manifestar a Sua misericórdia, para que sejam salvos.
Não importa se podemos caminhar por nossos próprios meios ou se outros têm que nos conduzir ao Senhor, uma coisa é certa, Ele não perderá a nenhum daqueles que Lhe foram dados pelo Pai.
 Como aquela paralisia, naquele caso, foi o meio usado para que houvesse a busca de nosso Senhor pelo paralítico, Ele não concentrou Sua atenção na enfermidade, mas na transformação do paralítico em filho de Deus, perdoando-lhe todos os seus pecados (v. 2).
Ele poderia até mesmo permanecer com a paralisia, como tantos outros em toda a história da humanidade, porque aquilo que é realmente de importância, a única coisa que nos é necessária, já havia sido feita em relação ao destino eterno do seu espírito.
O que deu ocasião à cura da paralisia foi a murmuração de alguns escribas, que disseram consigo mesmos que Jesus estava blasfemando ao dizer que os pecados do paralítico haviam sido perdoados.
Ninguém ao redor ouviu o que eles diziam em seus corações, com exceção do Senhor, que tem o poder de conhecer os nossos pensamentos, e por isso lhes disse: “Por que pensais o mal em vossos corações?”.
Ele não precisaria fazer nenhuma outra coisa para provar-lhes a Sua divindade, quando lhes demonstrou a Sua onisciência, e capacidade de ler pensamentos.
Todavia, Deus não tem o dever de provar coisa nenhuma a qualquer pessoa, e por isso nosso Senhor curaria o paralítico, não por ter sido provocado por aqueles escribas, mas para manifestar a Sua misericórdia, que é a causa de sermos perdoados por Ele, e não por qualquer bondade própria ou mérito que haja em nós.
Quem pode mais pode menos.
É mais fácil curar um enfermidade física do que justificar um pecador, perdoando todos os seus pecados.
O trabalho de salvação de uma alma é muito maior e  de duração eterna, do que  a cura do corpo.
No entanto, para a percepção humana, limitada e falha, incapaz de perceber os poderes que operam salvando o espírito, justificando e dando um novo nascimento espiritual ao salvo, e que considera portanto, ser uma evidência de poder muito maior ver uma cura física sendo efetuada, Jesus disse o que lemos no verso 5:
“Pois qual é mais fácil? dizer: Perdoados são os teus pecados, ou dizer: Levanta-te e anda?”
Realmente, é mais fácil dizer perdoados são os teus pecados, do que levanta-te e anda, segundo a avaliação humana, à qual nos referimos anteriormente.
Por isso nosso Senhor disse que levantaria o paralítico, para que os circunstantes soubessem que Ele tem autoridade sobre a terra para perdoar pecados (v. 6).
O efeito da cura foi que as multidões temeram e glorificaram a Deus.
Quão cega é a natureza humana!
Tão incapaz de ver o mundo espiritual, e necessitada de ver sinais para poder crer no poder de Cristo, dando a devida honra à Sua divindade.
Convém que seja diferente disso, ao menos quanto aos que foram libertados da escravidão ao pecado. Convém crescer na fé, e ter os olhos espirituais cada vez mais abertos, para discernir o mundo espiritual, dando honra e glória ao Senhor, em espírito, sem que haja necessidade de qualquer manifestação visível da Sua glória e poder, porque somos chamados a caminhar por fé e não por vista.


A Chamada de Mateus – Mateus 9.9-13

“9 Partindo Jesus dali, viu sentado na coletoria um homem chamado Mateus, e disse-lhe: Segue-me. E ele, levantando-se, o seguiu.
10 Ora, estando ele à mesa em casa, eis que chegaram muitos publicanos e pecadores, e se reclinaram à mesa juntamente com Jesus e seus discípulos.
11 E os fariseus, vendo isso, perguntavam aos discípulos: Por que come o vosso Mestre com publicanos e pecadores?
12 Jesus, porém, ouvindo isso, respondeu: Não necessitam de médico os sãos, mas sim os enfermos.
13 Ide, pois, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifícios. Porque eu não vim chamar justos, mas pecadores.” (Mateus 9.9-13)

O evangelista Mateus registrou aqui como foi o modo da sua própria chamada por Cristo para o apostolado.
Ele era até então um publicano, ou seja, um coletor de impostos para Roma, sendo um judeu.
As passagens paralelas de Marcos 2.15 e Lc 5.29, registram que a casa em que Jesus se encontrava, conforme relatado nesta passagem era a casa do próprio Mateus, a quem Marcos e Lucas chamam de Levi, nos seus respectivos evangelhos.
Lucas afirma que Mateus ofereceu um grande banquete em sua casa, e que numerosos publicanos e outros estavam com eles à mesa.
Pode-se inferir portanto, que depois de ter sido chamado por Jesus, Mateus pensou em dar este grande banquete em honra ao Senhor.
É certo que muitos daqueles publicanos e demais pecadores que se encontravam à mesa com Jesus, não eram pessoas honestas e de boa reputação, porque, de outra sorte os fariseus não teriam protestado perguntando aos discípulos do Senhor, por que o Mestre deles comia em companhia de publicanos e pecadores, diferentemente deles, fariseus, que privavam apenas da companhia de pessoas religiosas.
Como o Senhor ouviu o que tinham falado, respondeu com as seguintes palavras: “Não necessitam de médico os sãos, mas sim os enfermos. Ide, pois, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifícios. Porque eu não vim chamar justos, mas pecadores.”
O espírito de julgamento, hipercrítico, que o Senhor havia condenado no Sermão do Monte, aparece de maneira muito clara na pessoa dos fariseus, nesta passagem, e em muitas outras, dos evangelhos.
O orgulho religioso e a justiça própria foram manifestados na pergunta que os fariseus fizeram aos discípulos de Jesus.
Corremos sempre o mesmo risco que eles, se somos fermentados pela hipocrisia, que nos cega, e não permite que enxerguemos, que aos olhos de Deus não há um só justo, que possa se apresentar diante dele sem pecado, pela sua justiça própria.
Todos os homens justos terão sido obrigatoriamente justificados pela graça de Jesus.
Deste modo, neste mundo, nosso Senhor será sempre achado trabalhando para chamar pecadores à salvação, até mesmo entre os piores deles, porque, conforme a Bíblia afirma, não há um justo sequer aos olhos de Deus, que não necessite ser perdoado e lavado de seus pecados.
É importante portanto, observar, que o que há de mais condenável é a falta deste reconhecimento da nossa condição pecaminosa diante de Deus, como existia nos fariseus, do que a condição reconhecida de pecadores, como estava em Mateus e certamente, num bom número daqueles publicanos e demais pecadores, que estavam à mesa do banquete juntamente com Jesus.
Devemos vigiar, e tomar cuidado para não sermos tomados por este espírito de falta de misericórdia, e que condena até mesmo o próprio Cristo por se mostrar favorável aos pecadores.
Jesus é o único e grande médico do espírito. Nenhum outro pode curar a enfermidade do pecado, e livrar da morte espiritual e eterna que é ocasionada pelo pecado.
Ele tem prazer em exercer o Seu ofício, e criticá-lo nesta Sua função, significa atribuir grande desonra ao Seu santo nome, Jesus, que significa o Salvador.
Ele veio para nos salvar de nossos pecados, e será portanto, honrado somente por aqueles que se submetem ao remédio da graça que Ele veio nos administrar para sermos curados.  
Os fariseus argumentavam que somente aqueles que conhecessem as Escrituras, tal como eles, poderiam estar reunidos em nome de Deus, então Jesus citou o texto das Escrituras no qual o Senhor falou através do profeta Oseias: “Pois misericórdia quero, e não sacrifícios; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos.” (Os 6.6).
Esta citação feita por Jesus mostra em que consiste a verdadeira religião: não em observâncias externas; não no cumprimento dos ritos e cerimônias externas do Antigo Testamento para a oferta de sacrifícios no templo; não em disputas e debates teológicos, mas em fazer o bem aos corpos, almas e espíritos de outros, em justiça e paz, levando-lhes a mensagem da salvação, em demonstração de misericórdia.


Do Jejum – Mateus 9.14-17

“14 Então vieram ter com ele os discípulos de João, perguntando: Por que é que nós e os fariseus jejuamos, mas os teus discípulos não jejuam?
15 Respondeu-lhes Jesus: Podem porventura ficar tristes os convidados às núpcias, enquanto o noivo está com eles? Dias virão, porém, em que lhes será tirado o noivo, e então hão de jejuar.
16 Ninguém põe remendo de pano novo em vestido velho; porque semelhante remendo tira parte do vestido, e faz-se maior a rotura.
17 Nem se deita vinho novo em odres velhos; do contrário se rebentam, derrama-se o vinho, e os odres se perdem; mas deita-se vinho novo em odres novos, e assim ambos se conservam.” (Mateus 9.14-17)

Nós lemos no texto paralelo desta passagem, em Mc 2.18, o seguinte:
“Ora, os discípulos de João e os fariseus estavam jejuando; e foram perguntar-lhe: Por que jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, mas os teus discípulos não jejuam?”
Este texto paralelo registra que os discípulos de João e os fariseus estavam em acordo prático, quanto à questão do jejum.
Nós já comentamos na parte relativa ao jejum, no Sermão do Monte, que os fariseus haviam acrescentado à prática religiosa, um jejum obrigatório não previsto na Lei de Moisés.
É bem provável que João e seus discípulos tenham sido influenciados por tal prática e se submeteram à mesma, uma vez que era generalizada em Israel.
Poderia, portanto, parecer aos discípulos de João que era uma violação da lei, ou então algo pecaminoso em si mesmo, não observar aquele jejum prescrito pelos fariseus, para determinados dias da semana.
Nós vemos que não foi sem razão que Jesus advertiu os Seus discípulos quanto ao cuidado que deveriam ter para não se contaminarem com o fermento dos fariseus.
É muito comum que pessoas piedosas se deixem levar por práticas religiosas que lhes sejam impostas como obrigatórias, sem que haja qualquer base ou ordenação bíblica para as mesmas.
E quão difícil é dissuadir aqueles que adotam tais práticas quanto ao fato de não serem exigidas por Deus, porque admiti-lo, geralmente ofende suas consciências fracas e sensíveis.
Tanto que Jesus não condenou a prática dos fariseus e dos discípulos de João, mas, como jejuavam desfigurando o rosto, e como motivo de tristeza, deu-lhes a resposta de que não havia motivo para que os Seus discípulos fizessem um jejum de tal tipo, enquanto tinham a Sua companhia com eles, sendo a sua permanente alegria.
Quando Ele lhes fosse tirado temporariamente, em Sua morte na cruz, então teriam motivo de tristeza, e poderiam jejuar tal como faziam os discípulos de João.
No entanto, Cristo veio inaugurar uma Nova Aliança, diferente em muitos aspectos da Antiga, que regia os discípulos de João, que se encontravam debaixo das disposições do Antigo Testamento.
Nosso Senhor não veio colocar um remendo de pano novo no vestido da Antiga Aliança, que vigorava no Velho Testamento, mas trazer a veste nova da Sua justiça.
Muitos pensam que ao ter dito as palavras do verso 16, que nosso Senhor veio colocar remendo novo em vestido novo.
Todavia, não é o caso, porque este vestido novo não necessita de remendo, porque a justiça com a qual fomos justificados é perfeita e eterna.
Usando uma outra metáfora, nosso Senhor disse que o vinho novo da Nova Aliança não é colocado em odres velhos, mas em recipientes novos, para que sejam conservados tanto o odre quanto o vinho.
O cristão é uma nova criatura. Ninguém pode fazer parte desta Nova Aliança se não for justificado e se não nascer de novo do Espírito.
A obra de salvação não é uma obra de remendo do pecador, mas a formação de uma nova criação. Deus destrói o velho para erigir o novo. Tudo o que herdamos de Adão será removido pela mortificação do pecado, para que permaneça somente aquilo que temos herdado em Cristo e por Cristo.


A Ressurreição da Filha de Jairo e a Cura Uma Mulher Enferma – Mateus 9.18-26

“18 Enquanto ainda lhes dizia essas coisas, eis que chegou um chefe da sinagoga e o adorou, dizendo: Minha filha acaba de falecer; mas vem, impõe-lhe a tua mão, e ela viverá.
19 Levantou-se, pois, Jesus, e o foi seguindo, ele e os seus discípulos.
20 E eis que certa mulher, que havia doze anos padecia de uma hemorragia, chegou por detrás dele e tocou-lhe a orla do manto;
21 porque dizia consigo: Se eu tão-somente tocar-lhe o manto, ficarei sã.
22 Mas Jesus, voltando-se e vendo-a, disse: Tem ânimo, filha, a tua fé te salvou. E desde aquela hora a mulher ficou sã.
23 Quando Jesus chegou à casa daquele chefe, e viu os tocadores de flauta e a multidão em alvoroço,
24 disse; retirai-vos; porque a menina não está morta, mas dorme. E riam-se dele.
25 Tendo-se feito sair o povo, entrou Jesus, tomou a menina pela mão, e ela se levantou.
26 E espalhou-se a notícia disso por toda aquela terra.” (Mateus 9.18-26)

Nos textos paralelos de Marcos e Lucas (Mc 5.21-26; Lc 8.40-52) nos é informado que o nome deste chefe da sinagoga era Jairo. A história da ressurreição da sua filha está entrelaçada com a da cura da mulher que sofria de hemorragia, porque esta cura foi efetuada pelo Senhor quando se encontrava a caminho da casa de Jairo.
É interessante observar que o evangelho de Marcos registra que a menina que foi ressuscitada tinha doze anos de idade, e a mulher que foi curada tinha hemorragia há doze anos.
Jesus estava diante de dois casos impossíveis de serem resolvidos pelos homens, o primeiro (cura da hemorragia) do qual os médicos da época não estavam conseguindo curar há doze anos; e o segundo, que será impossível aos médicos de qualquer época, a saber: ressuscitar alguém que tenha morrido.
Seria de se esperar que a mulher tivesse confiança para tocar em Jesus para ser curada, porque até então, ele havia realizado inumeráveis milagres de cura; mas como não havia ainda ressuscitado nenhum morto, foi grande a fé que o chefe da sinagoga, Jairo, teve nEle para que ressuscitasse sua filha dentre os mortos.
A cura da hemorragia daquela mulher ajudaria a fortalecer a fé de Jairo, porque de tudo o que podemos ver nos relatos paralelos de Marcos e Lucas, tão logo Jesus terminou de encorajar a mulher que fora curada, dizendo-lhe que a sua fé nEle lhe havia salvado, chegaram pessoas da casa de Jairo dizendo-lhe que não incomodasse mais ao Senhor, porque a sua filha tinha realmente morrido.
Percebendo que estas palavras haviam produzido um golpe em Jairo, nosso Senhor lhe encorajou dizendo que não temesse e continuasse crendo.
Assim se dá conosco, sempre que recorremos a Jesus em busca de auxílio, porque se Satanás e os demônios não se anteciparem tentando nos dissuadir de importunar o Senhor, fazendo-o com sugestões dirigidas diretamente às nossas mentes, para que duvidemos e enfraqueçamos na fé, eles o farão através da agência de pessoas, ainda que sejam as da nossa própria casa.
Quão importante é pois, ficar firme na nossa fé no Senhor, e não dar ouvido a qualquer ação contrária à fé que nos venha com o intuito de colocá-la à prova.
Sabendo que a provação da fé de Jairo ainda prosseguiria em sua casa, o Senhor não permitiu que entrassem no quarto onde a menina se encontrava, senão somente seus pais, e Pedro, Tiago e João.
Os escarnecedores e incrédulos que haviam rido, quando Jesus disse que a menina não estava morta, mas apenas dormia, tiveram que ficar do lado de fora, porque não lhes seria dada a honra de verem a menina sendo ressuscitada e levantada pelo poder de Deus.
Foi apenas com a palavra de ordem que Jesus pronunciou em aramaico “Talita cumi”, que significa ”menina levanta-te” que Ele a ressuscitou, enquanto a firmava pela mão.
Aqueles que estavam alvoroçados e os tocadores de flauta, que entoavam cânticos de lamento, porque não tinham nenhuma esperança e em ninguém em quem confiar na hora da morte, tiveram que silenciar diante do milagre que o Senhor realizou.
Sosseguemos portanto, os nossos corações, mesmo na hora da morte daqueles que conhecem ao Senhor, daqueles que têm fé no Seu nome, porque têm dEle a promessa da ressurreição futura, conforme o poder que demonstrou em Seu ministério terreno, ressuscitando não somente esta menina, como também a outros, para que saibamos que Ele mesmo é a ressurreição e a vida.
Por isso, vê a morte diferentemente de nós, como um sono profundo e longo, porque somente Ele tem a autoridade para nos despertar deste tipo de sono.
Os incrédulos que estavam na casa de Jairo não puderam ver como a menina foi ressuscitada, mas tiveram que se calar diante da evidência de que havia sido trazida de novo à vida, e assim, esta notícia foi espalhada por toda aquela terra, dando ocasião para que muitos viessem a crer futuramente no Senhor.


A Cura de Dois Cegos e de Um Mudo – Mateus 9.27-34

“27 Partindo Jesus dali, seguiram-no dois cegos, que clamavam, dizendo: Tem compaixão de nós, Filho de Davi.
28 E, tendo ele entrado em casa, os cegos se aproximaram dele; e Jesus perguntou-lhes: Credes que eu posso fazer isto? Responderam-lhe eles: Sim, Senhor.
29 Então lhes tocou os olhos, dizendo: Seja-vos feito segundo a vossa fé.
30 E os olhos se lhes abriram. Jesus ordenou-lhes terminantemente, dizendo: Vede que ninguém o saiba.
31 Eles, porém, saíram, e divulgaram a sua fama por toda aquela terra.
32 Enquanto esses se retiravam, eis que lhe trouxeram um homem mudo e endemoninhado.
33 E, expulso o demônio, falou o mudo e as multidões se admiraram, dizendo: Nunca tal se viu em Israel.
34 Os fariseus, porém, diziam: É pelo príncipe dos demônios que ele expulsa os demônios.” (Mateus 9.27-34)

Importava que Jesus operasse todos estes grandes milagres em Seu ministério terreno, especialmente para que fosse confirmado para todas as gerações depois dEle, que somente Ele é o Messias prometido nas Escrituras, em tudo aquilo que foi registrado quanto ao que faria, quando fosse manifestado na plenitude do tempo.
Estes dois milagres aqui narrados estavam previstos nos desígnios eternos de Deus para o ministério do Messias, como se vê na seguinte profecia:
“5 Então os olhos dos cegos serão abertos, e os ouvidos dos surdos se desimpedirão.
6 Então o coxo saltará como o cervo, e a língua do mudo cantará de alegria; porque águas arrebentarão no deserto e ribeiros no ermo.” (Is 35.5,6)
Muitas outras coisas foram profetizadas para confirmar que Jesus é o Messias, como vemos nas seguintes passagens entre outras:
“6 Eu o Senhor te chamei em justiça; tomei-te pela mão, e te guardei; e te dei por pacto ao povo, e para luz das nações;
7 para abrir os olhos dos cegos, para tirar da prisão os presos, e do cárcere os que jazem em trevas.” (Is 42.6,7)
“4 Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e carregou com as nossas dores; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido.
5 Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.
6 Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós.” (Is 53.4-6)
“1 O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos;
2 a apregoar o ano aceitável do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os tristes;
3 a ordenar acerca dos que choram em Sião que se lhes dê uma grinalda em vez de cinzas, óleo de gozo em vez de pranto, vestidos de louvor em vez de espírito angustiado; a fim de que se chamem árvores de justiça, plantação do Senhor, para que ele seja glorificado.” (Is 61.1-3)
Jesus estava voltando da casa de Jairo, para a sua residência, provavelmente a casa de Pedro em Cafarnaum, quando dois cegos lhe seguiam pelo caminho clamando: “Tem compaixão de nós, Filho de Davi.”
Estes dois homens conheciam a promessa relativa à casa de Davi, e que seria levantado dela Alguém que tornaria a levantar a referida casa (tabernáculo), para restaurar-lhe a antiga glória, com uma glória ainda muito maior e eterna.
Eles puderam reconhecer pelo Espírito que Jesus era o descendente de Davi, no qual se cumpririam todas as boas promessas que Deus havia feito no passado através dos profetas de Israel.
Isto não poderia ter sido entendido por eles, senão somente por meio da fé. E esta fé que é dom de Deus, lhes havia sido dada não apenas para que fossem curados da cegueira física, mas para que alcançassem a salvação de suas almas, pelo conhecimento de Cristo, na condição de Filho do Deus vivo (Jo 17.3).
Por isso Jesus lhes disse que fossem curados então segundo esta fé que haviam demonstrado ter nEle. Não estava portanto dizendo que deveriam se esforçar para terem fé para serem curados, mas que pela fé que lhes foi concedida por Deus para que cressem, é que seriam curados.
Esta fé havia sido confirmada antes de serem curados, quando nosso Senhor lhes perguntou se eles criam que Ele poderia curá-los. Eles responderam afirmativamente. O Senhor não lhes fez tal pergunta para saber se tinham fé, mas para que fizessem a confissão, por meio da qual somos salvos. Porque não basta crer no coração, é necessário confessar com a boca que Jesus é o Senhor, para que Ele seja glorificado.
Como nós veremos adiante, havia muita dureza e incredulidade nos habitantes de Cafarnaum, motivo porque nosso Senhor repreendeu tal cidade, assim como as de  Corazin e Betsaida,  e possivelmente foi este um dos motivos de Jesus não ter curado os cegos na rua, mas no interior da casa, ao mesmo tempo que lhes ordenou que a ninguém contassem o que lhes havia feito.
Contudo, não se contendo em si de alegria, desobedeceram à ordem do Senhor, não por rebeldia, mas por imprudência, vindo a espalhar por toda aquela região o que Ele havia feito.
Quando os que haviam sido cegos se retiravam da casa onde Jesus estava, trouxeram-lhe um homem mudo e endemoninhado.
Naquele caso, o que estava produzindo a mudez era o próprio demônio, que tendo sido expulso por Jesus, o que era mudo passou a falar. Isto também chegou ao conhecimento das multidões, apesar deste milagre ter sido feito também no interior da casa.
E as pessoas se admiraram dizendo que nunca tal se viu em Israel. No entanto, não creram em Cristo entregando-Lhe seus corações e se arrependendo de seus pecados, apesar dos sinais que fizera no meio deles.
“Ai de ti, Corazin! ai de ti, Betsaida! porque, se em Tiro e em Sidom, se tivessem operado os milagres que em vós se operaram, há muito elas se teriam arrependido em cilício e em cinza.” (Mt 11.21)
“E tu, Cafarnaum, porventura serás elevada até o céu? até o inferno descerás; porque, se em Sodoma se tivessem operado os milagres que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje.” (Mt 11.23)
Os fariseus foram ainda mais além do que estas pessoas que ficaram maravilhadas e não se converteram, porque disseram que era pelo príncipe dos demônios que Jesus expulsava os demônios.


Jesus Pregando ao Longo do País – Mateus 9.35-38

“35 E percorria Jesus todas as cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino, e curando toda sorte de doenças e enfermidades.
36 Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque andavam desgarradas e errantes, como ovelhas que não têm pastor.
37 Então disse a seus discípulos: Na verdade, a seara é grande, mas os trabalhadores são poucos.
38 Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara.” (Mt 9.35-38)

Depois da cura dos dois cegos e do mundo endemoninhado, em Cafarnaum, Jesus saiu por todas as cidades e aldeias de Israel, tanto ensinando nas sinagogas, quanto pregando o evangelho e curando todo tipo de doenças e enfermidades, e se compadecia das multidões, vendo-as como ovelhas desgarradas e errantes, por serem ovelhas que não tinham pastor que as apascentassem.
Os líderes religiosos de Israel sempre haviam explorado o rebanho do Senhor, em vez de apascentá-lo com a verdade.  Nunca tiveram um sincero cuidado com as ovelhas, antes as deixaram desgarradas, longe do redil.
Então, veio nosso Senhor, o bom Pastor, em busca destas ovelhas desgarradas, que não se encontram somente em Israel, mas em todas as partes do mundo, estas últimas, Ele disse que as reuniria depois, no mesmo rebanho, pelo ministério do Espírito Santo, depois que Ele morresse, ressuscitasse, e subisse aos céus em glória.
O rebanho do Senhor não é massa de manobra nas mãos dos lideres religiosos, para usarem as ovelhas para atenderem aos seus próprios interesses e projetos, que apesar de chamarem de religiosos, na verdade não passam de projetos políticos que visam à própria glória pessoal, ainda que seja dita em nome de Cristo, porque isto é muito sutil, e permanece imperceptível aos olhos espirituais daquele que não anda em sincera humildade e piedade com nosso Senhor.
Os escribas, os fariseus, os sacerdotes de Israel, não tinham qualquer cuidado ou interesse, segundo Deus, pelas ovelhas do Seu pasto.
Então, Jesus não confiaria a nenhum deles, na condição em que se encontravam, o cuidado de apascentarem o Seu rebanho, senão àqueles que estavam sendo chamados pelo Pai, para tal propósito.
Todavia, o Senhor revelou que esta chamada de líderes autênticos é realizada por Deus, atendendo ao clamor da Igreja, para que levante tais obreiros aprovados para a Sua seara, porque por maior que seja a quantidade de tais obreiros, sempre será pequena em relação às necessidades da grande seara que é o mundo.
Não é fácil o trabalho de cuidar e encaminhar na verdade os que vão se convertendo ao Senhor. Além de ser um trabalho difícil, em sua própria natureza, tem também esta dificuldade da necessidade de se atender não a poucos, mas a muitos, porque são muitos os eleitos do Senhor em toda a terra.      
Por isso Jesus comparou este trabalho ao que é realizado na colheita num campo, porque é sempre muito maior a quantidade daquilo que se colhe, do que a dos colhedores.

Mateus 9.1 E entrando Jesus num barco, passou para o outro lado, e chegou à sua própria cidade.
Mateus 9.2 E eis que lhe trouxeram um paralítico deitado num leito. Jesus, pois, vendo-lhes a fé, disse ao paralítico: Tem ânimo, filho; perdoados são os teus pecados.
Mateus 9.3 E alguns dos escribas disseram consigo: Este homem blasfema.
Mateus 9.4 Mas Jesus, conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Por que pensais o mal em vossos corações?
Mateus 9.5 Pois qual é mais fácil? dizer: Perdoados são os teus pecados, ou dizer: Levanta-te e anda?
Mateus 9.6 Ora, para que saibais que o Filho do homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados (disse então ao paralítico): Levanta- te, toma o teu leito, e vai para tua casa.
Mateus 9.7 E este, levantando-se, foi para sua casa.
Mateus 9.8 E as multidões, vendo isso, temeram, e glorificaram a Deus, que dera tal autoridade aos homens.
Mateus 9.9 Partindo Jesus dali, viu sentado na coletoria um homem chamado Mateus, e disse-lhe: Segue-me. E ele, levantando-se, o seguiu.
Mateus 9.10 Ora, estando ele à mesa em casa, eis que chegaram muitos publicanos e pecadores, e se reclinaram à mesa juntamente com Jesus e seus discípulos.
Mateus 9.11 E os fariseus, vendo isso, perguntavam aos discípulos: Por que come o vosso Mestre com publicanos e pecadores?
Mateus 9.12 Jesus, porém, ouvindo isso, respondeu: Não necessitam de médico os sãos, mas sim os enfermos.
Mateus 9.13 Ide, pois, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifícios. Porque eu não vim chamar justos, mas pecadores.
Mateus 9.14 Então vieram ter com ele os discípulos de João, perguntando: Por que é que nós e os fariseus jejuamos, mas os teus discípulos não jejuam?
Mateus 9.15 Respondeu-lhes Jesus: Podem porventura ficar tristes os convidados às núpcias, enquanto o noivo está com eles? Dias virão, porém, em que lhes será tirado o noivo, e então hão de jejuar.
Mateus 9.16 Ninguém põe remendo de pano novo em vestido velho; porque semelhante remendo tira parte do vestido, e faz-se maior a rotura.
Mateus 9.17 Nem se deita vinho novo em odres velhos; do contrário se rebentam, derrama-se o vinho, e os odres se perdem; mas deita-se vinho novo em odres novos, e assim ambos se conservam.
Mateus 9.18 Enquanto ainda lhes dizia essas coisas, eis que chegou um chefe da sinagoga e o adorou, dizendo: Minha filha acaba de falecer; mas vem, impõe-lhe a tua mão, e ela viverá.
Mateus 9.19 Levantou-se, pois, Jesus, e o foi seguindo, ele e os seus discípulos.
Mateus 9.20 E eis que certa mulher, que havia doze anos padecia de uma hemorragia, chegou por detrás dele e tocou-lhe a orla do manto;
Mateus 9.21 porque dizia consigo: Se eu tão-somente tocar-lhe o manto, ficarei sã.
Mateus 9.22 Mas Jesus, voltando-se e vendo-a, disse: Tem ânimo, filha, a tua fé te salvou. E desde aquela hora a mulher ficou sã.
Mateus 9.23 Quando Jesus chegou à casa daquele chefe, e viu os tocadores de flauta e a multidão em alvoroço,
Mateus 9.24 disse; Retirai-vos; porque a menina não está morta, mas dorme. E riam-se dele.
Mateus 9.25 Tendo-se feito sair o povo, entrou Jesus, tomou a menina pela mão, e ela se levantou.
Mateus 9.26 E espalhou-se a notícia disso por toda aquela terra.
Mateus 9.27 Partindo Jesus dali, seguiram-no dois cegos, que clamavam, dizendo: Tem compaixão de nós, Filho de Davi.
Mateus 9.28 E, tendo ele entrado em casa, os cegos se aproximaram dele; e Jesus perguntou-lhes: Credes que eu posso fazer isto? Responderam- lhe eles: Sim, Senhor.
Mateus 9.29 Então lhes tocou os olhos, dizendo: Seja-vos feito segundo a vossa fé.
Mateus 9.30 E os olhos se lhes abriram. Jesus ordenou-lhes terminantemente, dizendo: Vede que ninguém o saiba.
Mateus 9.31 Eles, porém, saíram, e divulgaram a sua fama por toda aquela terra.
Mateus 9.32 Enquanto esses se retiravam, eis que lhe trouxeram um homem mudo e endemoninhado.
Mateus 9.33 E, expulso o demônio, falou o mudo e as multidões se admiraram, dizendo: Nunca tal se viu em Israel.
Mateus 9.34 Os fariseus, porém, diziam: É pelo príncipe dos demônios que ele expulsa os demônios.
Mateus 9.35 E percorria Jesus todas as cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino, e curando toda sorte de doenças e enfermidades.
Mateus 9.36 Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque andavam desgarradas e errantes, como ovelhas que não têm pastor.
Mateus 9.37 Então disse a seus discípulos: Na verdade, a seara é grande, mas os trabalhadores são poucos.
Mateus 9.38 Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara.








Mateus 10

O Envio dos Apóstolos – Mateus 10.1-4

“1 E, chamando a si os seus doze discípulos, deu-lhes autoridade sobre os espíritos imundos, para expulsarem, e para curarem toda sorte de doenças e enfermidades.
2 Ora, os nomes dos doze apóstolos são estes: primeiro, Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão;
3 Felipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu;
4 Simão Cananeu, e Judas Iscariotes, aquele que o traiu.” (Mateus 10.1-4)

Até este ponto, nós vimos apenas Jesus pregando, ensinando, curando, ressuscitando, expulsando demônios, fazendo cessar a fúria das tempestades, e o seus discípulos se limitando a acompanhá-lo.
Todavia, aumentando as frentes de trabalho e as necessidades a serem atendidas, nós vimos no capítulo anterior o Senhor dizendo aos discípulos para orarem para que Deus enviasse outros trabalhadores para a Sua seara.
Nós vemos no relato paralelo de Marcos e Lucas, que Jesus havia passado toda uma noite em oração, e que ao descer do monte pela manhã, designou doze dentre os seus discípulos, aos quais chamou de apóstolos, e temos aqui o registro dos seus nomes, bem, como, no restante deste capítulo, quais foram as instruções específicas que o Senhor lhes dera naquela ocasião.
O Senhor lhes deu, especialmente: “autoridade sobre os espíritos imundos, para expulsarem, e para curarem toda sorte de doenças e enfermidades.”
Isto não significa que teriam autoridade por si mesmos, independentemente do Senhor, mas que Deus operaria com o Seu poder através deles.
É importante frisar esta verdade, num tempo em que grassa a triste heresia que muitos estão ensinando e praticando, dizendo que Jesus já nos deu a autoridade necessária, e que tudo agora está por nossa conta, sem que haja necessidade de incomodá-Lo com nossas orações, pedindo-Lhe o que podemos fazer pelo nosso próprio poder, conforme a autoridade que Ele já nos deu.
Isto não confere de modo algum, com o próprio testemunho dos apóstolos, como por exemplo o de Pedro, diante dos israelitas, quando o Senhor curou o coxo que estava no templo, pela instrumentalidade de Pedro e João:
“Pedro, vendo isto, disse ao povo: Varões israelitas, por que vos admirais deste homem? Ou, por que fitais os olhos em nós, como se por nosso próprio poder ou piedade o tivéssemos feito andar?” (Atos 3.12)
E depois de lhes ter falado sobre Jesus, Pedro lhes disse o seguinte:
“E pela fé em seu nome fez o seu nome fortalecer a este homem que vedes e conheceis; sim, a fé, que vem por ele, deu a este, na presença de todos vós, esta perfeita saúde.” (Atos 3.16)
 Os apóstolos tiveram que primeiro aprender de Cristo antes de poderem ser enviados por Ele às cidades, mas continuariam em total dependência dEle para poderem realizar o seu ministério, e nós tanto quanto eles, continuamos na mesma dependência tanto de aprendizado prévio, quanto do poder da Sua graça, para a obra que nos tiver designado.
 Tal como fizera em relação aos primeiros discípulos, o Senhor primeiro nos chama à conversão e a segui-lO para aprender dEle, e depois, nos chamará para a realização da Sua obra, e a alguns chamará de modo especial, tal como havia feito com os apóstolos, para o exercício do ministério pastoral.
E estes que são assim chamados de um modo distintivo, serão conhecidos pela evidência de terem recebido da parte do Senhor, “autoridade sobre os espíritos imundos, para expulsarem, e para curarem toda sorte de doenças e enfermidades”, sendo que na autoridade sobre os espíritos imundos está incluída também a capacitação sobrenatural recebida para discernir o ensino de demônios e espíritos enganadores, para a manutenção da verdade da Palavra entre os cristãos.
Mateus nomeou os apóstolos em duplas, provavelmente, conforme os pares que o Senhor designou naquela ocasião, quando foram enviados por Ele. Então temos: 1) Pedro e André; 2) Tiago e João; 3) Felipe e Bartolomeu; 4) Tomé e Mateus; 5) Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; 6) Simão Cananeu e Judas Iscariotes.
Lucas registra que Tadeu tinha também o nome de Simão, que era chamado de Zelote; e que Simão Cananeu era também chamado por Judas, filho de Tiago. E tal como Mateus, Lucas também apresenta os nomes dos apóstolos aos pares.


Instruções para os Apóstolos – Mateus 10.5-15

“5 A estes doze enviou Jesus, e ordenou-lhes, dizendo: Não ireis aos gentios, nem entrareis em cidade de samaritanos;
6 mas ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel;
7 e indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus.
8 Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai.
9 Não vos provereis de ouro, nem de prata, nem de cobre, em vossos cintos;
10 nem de alforje para o caminho, nem de duas túnicas, nem de alparcas, nem de bordão; porque digno é o trabalhador do seu alimento.
11 Em qualquer cidade ou aldeia em que entrardes, procurai saber quem nela é digno, e hospedai-vos aí até que vos retireis.
12 E, ao entrardes na casa, saudai-a;
13 se a casa for digna, desça sobre ela a vossa paz; mas, se não for digna, torne para vós a vossa paz.
14 E, se ninguém vos receber, nem ouvir as vossas palavras, saindo daquela casa ou daquela cidade, sacudi o pó dos vossos pés.
15 Em verdade vos digo que, no dia do juízo, haverá menos rigor para a terra de Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade.” (Mateus 10.5-15)

É preciso entender que enquanto nosso Senhor esteve neste mundo, cumprindo Seu ministério junto à circuncisão (judeus), o ministério de Seus discípulos, especialmente dos apóstolos, deveria ser uma extensão exata do próprio ministério do Senhor, e daí a ordem para que não fossem aos gentios, mas que pregassem e ministrassem exclusivamente aos judeus.
Somente depois que o Senhor fosse glorificado, depois de Sua morte e ressurreição, e que o Espírito Santo fosse derramado, que eles poderiam ministrar aos gentios, mas ainda assim, teriam que pregar primeiro o evangelho aos judeus.
Isto nos ajuda a entender a grande quantidade de  curas de enfermos, ressurreição de mortos, purificação de leprosos e expulsão de demônios, que realizaram, conforme nosso Senhor lhes havia ordenado.
Importava que se visse que os seguidores de Cristo não somente estavam debaixo de Suas ordens, como também estavam capacitados por Ele, e somente eles, a realizarem as mesmas obras que Ele realizava.
Tudo isto se vê claramente nestas instruções que nosso Senhor lhes deu, e que foram registradas nesta passagem por Mateus.
Muito aprendemos desta limitação inicial imposta pelo Senhor aos apóstolos, para que não caiamos na tentação de realizar um ministério mais extenso do que aquele que o Senhor tiver designado para nós, ou então fora do momento apropriado.
Tudo deve seguir as Suas ordens nos trabalhos realizados pela Sua Igreja, e quando digo Igreja, não me refiro exclusivamente à Igreja local, mas a todos os recursos humanos e meios que Deus, em Sua providência, usa, para a Sua exclusiva glória.
O alvo do ministério dos apóstolos, ao serem enviados no início pelo Senhor, era apenas as ovelhas perdidas da casa de Israel. Então temos aqui uma limitação dentro da limitação, porque não somente deveriam se limitar aos termos de Israel, mas concentrar seus objetivos nos eleitos daquela nação.
Paulo dizia que tudo fazia por amor aos eleitos.
Nosso Senhor afirmou que não rogava pelo mundo, mas por aqueles que lhes foram dados pelo Pai (Jo 17.9).
Evidentemente, isto não exclui o dever de amar a todas as pessoas, sem fazer qualquer tipo de acepção, mas devemos estar conscientes que os benefícios permanentes do evangelho serão eficazes somente naqueles que amarão a Cristo, e que atendem à Sua chamada ao arrependimento e à conversão.
Por isso deveriam pregar que “É chegado o reino dos céus.”
Este reino está destinado àqueles que são descritos nas bem-aventuranças, a saber: pobres de espírito; contritos de coração que choram por causa do pecado; mansos; famintos e sedentos de justiça; misericordiosos; limpos de coração; pacificadores e perseguidos por causa da justiça.
Tal como os apóstolos haviam sido salvos pela graça, de igual modo deveriam tudo fazer de graça e pela graça.
Eles deveriam vencer a tentação de fazerem um comércio com as coisas relativas à graça do Senhor, e  para que soubessem que a mesma graça que lhes havia salvado, continuaria provendo todas as necessidades deles, para que não estivessem ansiosos quanto ao que comer, beber e vestir, desviando-se assim da missão que deveriam cumprir, para se dedicarem exclusivamente a atividades seculares, com vistas à sua subsistência.
Por isso nosso Senhor lhes ordenou o seguinte:
“Não vos provereis de ouro, nem de prata, nem de cobre, em vossos cintos; nem de alforje para o caminho, nem de duas túnicas, nem de alparcas, nem de bordão; porque digno é o trabalhador do seu alimento.”
Eles estavam a serviço exclusivo do evangelho e deveriam portanto ser supridos somente pelo próprio evangelho, isto é, viveriam do fruto do trabalho do seu ministério.
Pessoas gratas a Deus seriam levantadas por Ele para suprirem as necessidades dos apóstolos, mas eles nada deveriam cobrar pela cura de enfermos, expulsões de demônios, pela salvação de almas, ou por qualquer outro benefício decorrente do trabalho deles.
Por isso Jesus ordenou aos apóstolos que não fizessem qualquer provisão prévia para poderem sair para pregar o evangelho (v. 9,10).
Eles sairiam no cumprimento de uma missão curta e logo retornariam a estar sob os cuidados diretos do Senhor, em pessoa. A graça de Deus lhes proveria todo o necessário através de pessoas dignas, de maneira que nosso Senhor lhes ordenou o seguinte:
“11 Em qualquer cidade ou aldeia em que entrardes, procurai saber quem nela é digno, e hospedai-vos aí até que vos retireis.
12 E, ao entrardes na casa, saudai-a;
13 se a casa for digna, desça sobre ela a vossa paz; mas, se não for digna, torne para vós a vossa paz.
14 E, se ninguém vos receber, nem ouvir as vossas palavras, saindo daquela casa ou daquela cidade, sacudi o pó dos vossos pés.
15 Em verdade vos digo que, no dia do juízo, haverá menos rigor para a terra de Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade.”
Os apóstolos deveriam se informar quanto a quem era digno nas cidades e aldeias que visitassem. Deus moveria os corações destas pessoas dignas, para que hospedassem os apóstolos e provessem suas necessidades até que se retirassem do meio deles.
Caso eles errassem quanto à dignidade da casa em que se hospedassem, poderiam reconhecer tal erro porque perceberiam a falta de paz na casa, apesar de terem saudado seus habitantes com a paz do Senhor.
Evidentemente, deveriam se retirar e procurar outra hospedagem, e caso esta fosse negada por alguma pessoa, ou até mesmo por toda a cidade, não deveriam ficar intimidados com isto e nem paralisarem a sua missão, porque neste caso deveriam sair da cidade sacudindo até o pó dos seus pés, em testemunho contra a rejeição não propriamente deles, mas do Senhor, porque quem rejeita aos que são enviados por Cristo, rejeitam ao próprio Cristo. Tal como uma coisa vil como o pó, também eles seriam espalhados como o vento, no dia do Grande Juízo de Deus.
E, como juiz de vivos e mortos, o Senhor julgará os tais com maior rigor, do que aquele que haverá para os habitantes de Sodoma e Gomorra, no dia do Juízo, porque a estes não foi enviado por Deus, nenhum mensageiro da parte de Cristo, com as boas novas de salvação, a saber, o evangelho.
Então, quando rejeitados, devemos deixar a questão do juízo nas mãos do Senhor, e continuar fazendo o nosso trabalho onde ele seja bem recebido.



Instruções para os Discípulos – Mateus 10.16-42

“16 Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas.
17 Acautelai-vos dos homens; porque eles vos entregarão aos sinédrios, e vos açoitarão nas suas sinagogas;
18 e por minha causa sereis levados à presença dos governadores e dos reis, para lhes servir de testemunho, a eles e aos gentios.
19 Mas, quando vos entregarem, não cuideis de como, ou o que haveis de falar; porque naquela hora vos será dado o que haveis de dizer.
20 Porque não sois vós que falais, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós.
21 Um irmão entregará à morte a seu irmão, e um pai a seu filho; e filhos se levantarão contra os pais e os matarão.
22 E sereis odiados de todos por causa do meu nome, mas aquele que perseverar até o fim, esse será salvo.
23 Quando, porém, vos perseguirem numa cidade, fugi para outra; porque em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel antes que venha o Filho do homem.
24 Não é o discípulo mais do que o seu mestre, nem o servo mais do que o seu senhor.
25 Basta ao discípulo ser como seu mestre, e ao servo como seu senhor. Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus domésticos?
26 Portanto, não os temais; porque nada há encoberto que não haja de ser descoberto, nem oculto que não haja de ser conhecido.
27 O que vos digo às escuras, dizei-o às claras; e o que escutais ao ouvido, dos eirados pregai-o.
28 E não temais os que matam o corpo, e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo.
29 Não se vendem dois passarinhos por um asse? e nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai.
30 E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados.
31 Não temais, pois; mais valeis vós do que muitos passarinhos.
32 Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus.
33 Mas qualquer que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus.
34 Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada.
35 Porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra;
36 e assim os inimigos do homem serão os da sua própria casa.
37 Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim.
38 E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim.
39 Quem achar a sua vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim acha-la-á.
40 Quem vos recebe, a mim me recebe; e quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou.
41 Quem recebe um profeta na qualidade de profeta, receberá a recompensa de profeta; e quem recebe um justo na qualidade de justo, receberá a recompensa de justo.
42 E aquele que der até mesmo um copo de água fresca a um destes pequeninos, na qualidade de discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá a sua recompensa.” (Mateus 10.16-42)

Depois das instruções para a missão temporária que havia dado aos doze quando lhes enviou a pregar somente em Israel, durante Seu ministério terreno, nosso Senhor passou a relacionar os sofrimentos dos Seus ministros na realização do trabalho deles, em todos os períodos da história da Igreja, a começar pelas perseguições que sofreriam da parte dos próprios judeus, logo após o derramar do Espírito no dia de Pentecostes, e que culminariam com as grandes aflições que os ministros de Cristo terão que suportar próximo da Sua segunda vinda.
Para suportarem tais perseguições e aflições, os discípulos de Cristo devem aprender a renunciarem às suas próprias vidas, amando-O acima de tudo e de todos, sabedores que até mesmo no meio de seus familiares segundo a carne sofrerão resistências por causa do amor deles a Cristo e à justiça do evangelho, conforme nosso Senhor nos advertiu nesta passagem.
 Isto é necessário para que se possa perseverar na fé e na doutrina de Cristo.
Há grande recompensa para todos os que forem fiéis a Deus e contribuírem para o avanço do reino de Cristo na terra, de modo que até mesmo um copo de água fresca dado a alguém empenhado na obra do Senhor, terá a sua recompensa.
 Está determinado por Deus que a obra do evangelho avance em meio a perseguições e tribulações. E por serem semelhantes ao Seu Senhor, os cristãos serão odiados pelos não cristãos, e estão encarregados de pregar o evangelho como ovelhas no meio de lobos, motivo porque não devem ser ingênuos, mas prudentes, enquanto mantêm a simplicidade que é devida a Cristo. A prudência da serpente foi recomendada porque quando diante de um agressor em potencial, ela não passa a atacá-lo, mas se retira prudentemente. De igual modo os cristãos devem evitar confrontos desnecessários com os que se opõem à pregação do evangelho.
A vontade do Senhor é a de que os Seus servos não devem se expor desnecessariamente a dificuldades que sofrem normalmente neste mundo, e por isso lhes recomendou a prudência das serpentes e a inofensividade das pombas com vistas à preservação deles.
A inofensividade das pombas é recomendada ao lado da prudência das serpentes, porque quando estas últimas são atacadas, também revidam ao ataque, mas os cristãos, tal como as pombas não devem revidar os ataques que lhes são desferidos.
Estevão, o primeiro mártir do Cristianismo foi conduzido ao sinédrio para ser julgado e condenado à morte por apedrejamento, pelos seus próprios compatriotas, de maneira que com isto, começou a se dar cumprimento à profecia do Senhor do verso 17, de que os discípulos seriam conduzidos aos sinédrios, que era a corte judaica para o julgamento de questões religiosas relativas aos judeus.
De igual modo, a profecia de que seriam açoitados nas sinagogas, foi experimentada não apenas por Paulo, como também por outros, conforme testemunho que encontramos na Bíblia e na história da Igreja.
Paulo se refere em II Cor 11.24, quanto a ter recebido o total de 195 chibatadas dos judeus, provavelmente em suas sinagogas, em cinco ocasiões diferentes, por causa do evangelho.
O próprio chefe da sinagoga de Corinto, chamado Sóstenes foi açoitado pelos judeus por ter-se convertido a Cristo (At 18.17).
Paulo foi perseguido intensamente pelos judeus, aos quais pregou em suas sinagogas espalhadas pelo mundo antigo, e foi conduzido à presença de governadores e de reis, pelo desígnio prévio do Senhor para lhes servir de testemunho, tanto a eles quanto aos gentios (v. 18).
Todavia, em meio a todas as perseguições que sofreram, e que ainda têm sofrido, os ministros e demais servos do Senhor têm sido capacitados pelo Espírito Santo, não necessariamente para livrá-los, mas para darem um testemunho corajoso relativo a Cristo, tal como havia feito Estevão no passado.
Para muitos, a chamada para dar testemunho do evangelho significará colocar em risco até mesmo a segurança relativa à própria vida. Todavia, o Senhor nos ordena que não temamos aqueles que podem somente tirar a vida do corpo, e que nada mais podem fazer além disso. Somente Deus deve ser temido quanto ao nosso destino eterno porque é Ele que tem o poder de lançar não somente o corpo como também o espírito, no inferno.
O cristão está a serviço de Deus e Ele o manterá em vida neste mundo até que cumpra o ministério que lhe tem designado para ser cumprido.
Se até de pássaros que são seres dos quais Deus cuida apenas providencialmente, não como Pai, de quanto mais não cuidará dos cristãos que são Seus filhos (v. 29).
Nenhum pássaro morrerá se tal não for permitido por Deus. Muitos mais nenhum de seus filhos será morto pelos seus perseguidores se não houver uma permissão e um propósito específico de Deus nisto.
De modo que nosso Senhor expressou o cuidado de Deus em relação a Seus filhos com as seguintes palavras:
“30 E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados.
31 Não temais, pois; mais valeis vós do que muitos passarinhos.”
Diante de tal cuidado, a missão de todo cristão é confessar Cristo diante dos homens. Devem ser conhecidos na condição de Seus servos e proclamarem o evangelho às claras, de cima dos eirados.
São estes que confessam Cristo como Senhor e Salvador deles, que são os que Ele também confessa como sendo Seus diante do Pai, nos céus.
Por conseguinte, todos os que não conhecem ao Senhor, e que não O confessam diante dos homens, não podem contar com tal confissão de Cristo em relação a eles, na presença do Pai.
  Tal confissão de Cristo não se trata simplesmente de abrir a boca e pregar o evangelho a outros, mas antes, e sobretudo ter o testemunho de uma vida transformada e que seja obediente à Sua vontade, conforme se infere das Suas seguintes palavras:
“38 E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim.
39 Quem achar a sua vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim acha-la-á.”
Quanto não se pode dizer acerca do significado de se tomar a cruz, negar-se a si mesmo e seguir o Senhor.

Mateus 10.1 E, chamando a si os seus doze discípulos, deu-lhes autoridade sobre os espíritos imundos, para expulsarem, e para curarem toda sorte de doenças e enfermidades.
Mateus 10.2 Ora, os nomes dos doze apóstolos são estes: primeiro, Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão;
Mateus 10.3 Felipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu;
Mateus 10.4 Simão Cananeu, e Judas Iscariotes, aquele que o traiu.
Mateus 10.5 A estes doze enviou Jesus, e ordenou-lhes, dizendo: Não ireis aos gentios, nem entrareis em cidade de samaritanos;
Mateus 10.6 mas ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel;
Mateus 10.7 e indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus.
Mateus 10.8 Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai.
Mateus 10.9 Não vos provereis de ouro, nem de prata, nem de cobre, em vossos cintos;
Mateus 10.10 nem de alforje para o caminho, nem de duas túnicas, nem de alparcas, nem de bordão; porque digno é o trabalhador do seu alimento.
Mateus 10.11 Em qualquer cidade ou aldeia em que entrardes, procurai saber quem nela é digno, e hospedai-vos aí até que vos retireis.
Mateus 10.12 E, ao entrardes na casa, saudai-a;
Mateus 10.13 se a casa for digna, desça sobre ela a vossa paz; mas, se não for digna, torne para vós a vossa paz.
Mateus 10.14 E, se ninguém vos receber, nem ouvir as vossas palavras, saindo daquela casa ou daquela cidade, sacudi o pó dos vossos pés.
Mateus 10.15 Em verdade vos digo que, no dia do juízo, haverá menos rigor para a terra de Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade.
Mateus 10.16 Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas.
Mateus 10.17 Acautelai-vos dos homens; porque eles vos entregarão aos sinédrios, e vos açoitarão nas suas sinagogas;
Mateus 10.18 e por minha causa sereis levados à presença dos governadores e dos reis, para lhes servir de testemunho, a eles e aos gentios.
Mateus 10.19 Mas, quando vos entregarem, não cuideis de como, ou o que haveis de falar; porque naquela hora vos será dado o que haveis de dizer.
Mateus 10.20 Porque não sois vós que falais, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós.
Mateus 10.21 Um irmão entregará à morte a seu irmão, e um pai a seu filho; e filhos se levantarão contra os pais e os matarão.
Mateus 10.22 E sereis odiados de todos por causa do meu nome, mas aquele que perseverar até o fim, esse será salvo.
Mateus 10.23 Quando, porém, vos perseguirem numa cidade, fugi para outra; porque em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel antes que venha o Filho do homem.
Mateus 10.24 Não é o discípulo mais do que o seu mestre, nem o servo mais do que o seu senhor.
Mateus 10.25 Basta ao discípulo ser como seu mestre, e ao servo como seu senhor. Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus domésticos?
Mateus 10.26 Portanto, não os temais; porque nada há encoberto que não haja de ser descoberto, nem oculto que não haja de ser conhecido.
Mateus 10.27 O que vos digo às escuras, dizei-o às claras; e o que escutais ao ouvido, dos eirados pregai-o.
Mateus 10.28 E não temais os que matam o corpo, e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo.
Mateus 10.29 Não se vendem dois passarinhos por um asse? e nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai.
Mateus 10.30 E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados.
Mateus 10.31 Não temais, pois; mais valeis vós do que muitos passarinhos.
Mateus 10.32 Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus.
Mateus 10.33 Mas qualquer que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus.
Mateus 10.34 Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada.
Mateus 10.35 Porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra;
Mateus 10.36 e assim os inimigos do homem serão os da sua própria casa.
Mateus 10.37 Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim.
Mateus 10.38 E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim.
Mateus 10.39 Quem achar a sua vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim achá-la-á.
Mateus 10.40 Quem vos recebe, a mim me recebe; e quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou.
Mateus 10.41 Quem recebe um profeta na qualidade de profeta, receberá a recompensa de profeta; e quem recebe um justo na qualidade de justo, receberá a recompensa de justo.

Mateus 10.42 E aquele que der até mesmo um copo de água fresca a um destes pequeninos, na qualidade de discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá a sua recompensa.





Mateus 11

João Envia Mensageiros a Jesus e o Senhor Dá Testemunho de João – Mateus 11.1-15

“1 Tendo acabado Jesus de dar instruções aos seus doze discípulos, partiu dali a ensinar e a pregar nas cidades da região.
2 Ora, quando João no cárcere ouviu falar das obras de Cristo, mandou pelos seus discípulos perguntar-lhe:
3 És tu aquele que havia de vir, ou havemos de esperar outro?
4 Respondeu-lhes Jesus: Ide contar a João as coisas que ouvis e vedes:
5 os cegos veem, e os coxos andam; os leprosos são purificados, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho.
6 E bem-aventurado é aquele que não se escandalizar de mim.
7 Ao partirem eles, começou Jesus a dizer às multidões a respeito de João: que saístes a ver no deserto? um caniço agitado pelo vento?
8 Mas que saístes a ver? um homem trajado de vestes luxuosas? Eis que aqueles que trajam vestes luxuosas estão nas casas dos reis.
9 Mas por que saístes? para ver um profeta? Sim, vos digo, e muito mais do que profeta.
10 Este é aquele de quem está escrito: Eis aí envio eu ante a tua face o meu mensageiro, que há de preparar adiante de ti o teu caminho.
11 Em verdade vos digo que, entre os nascidos de mulher, não surgiu outro maior do que João, o Batista; mas aquele que é o menor no reino dos céus é maior do que ele.
12 E desde os dias de João, o Batista, até agora, o reino dos céus é tomado a força, e os violentos o tomam de assalto.
13 Pois todos os profetas e a lei profetizaram até João.
14 E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir.
15 Quem tem ouvidos, ouça.” (Mateus 1.1-15)

Nós vemos no texto paralelo a este, do evangelho de Lucas, que foram dois mensageiros, dentre os seus discípulos, que João enviou a Jesus, e que para que tivessem a certeza de que era Ele mesmo o Messias, de quem se dizia que operava muitos sinais e maravilhas, Lucas registra que naquela mesma hora, na presença dos mensageiros que João lhe enviara, nosso Senhor ”curou a muitos de doenças, de moléstias e de espíritos malignos, e deu vista a muitos cegos” (Lc 7.21) comprovando-lhes que era o Messias do qual deram testemunho os profetas do Antigo Testamento, que Ele faria tais coisas quando se manifestasse a Israel.
Quando foi batizado por João nas águas, Deus Pai e o Espírito Santo deram uma evidência a João de que Jesus era o Messias, porque não somente ouviu a voz do Pai que dizia “este é meu Filho amado em quem me comprazo”, como também viu o Espírito Santo vindo sobre Ele na forma de uma pomba.
Agora, João estava na solidão do cárcere, aguardando pela sua execução, e não desejava deixar este mundo sem receber uma evidência da parte do próprio Cristo, de que Ele era o Messias, e como não podia fazê-lo pessoalmente, por se encontrar encarcerado, enviou-Lhe dois de seus discípulos para perguntarem a nosso Senhor se Ele era o Messias, ou se deveriam continuar aguardando ainda pela sua manifestação na pessoa de um outro.
O Senhor não recebeu a pergunta de João como uma prova de incredulidade, mas como manifestação de um desejo em sua fraqueza humana, para saber se havia de fato cumprido a sua missão de anunciar o Messias, conforme estava profetizado acerca dele nas Escrituras, uma vez que estava prestes a deixar este mundo, e queria ter a plena consciência do dever cumprido.
Como dissemos antes, o Senhor fez na presença dos mensageiros de João, aquilo que estava profetizado acerca do que o Messias faria, dando-lhe assim, Ele próprio uma firme evidência de ser o Cristo, sem, no entanto, de deixar de fazer a advertência de que era bem-aventurado todo aquele que não encontrasse nEle motivo de escândalo.
Não era por causa da rejeição que estava sofrendo da parte de muitos judeus, que se comprova que não era o Messias. Possivelmente, este deve ter sido um dos motivos de João ter balançado temporariamente em sua convicção acerca dEle, porque afinal, o Messias fora prometido a todo Israel.
Todavia, a resposta que Jesus deu a João, e a advertência que Lhe fez, serviria para lembrar-lhe, que ele, o próprio João, mesmo na condição de Seu precursor, também estava sofrendo rejeições, a ponto de se encontrar num cárcere aguardando o martírio.
Tribulações e perseguições não testemunham contra o fato de sermos cidadãos do reino dos céus, ao contrário, antes, o confirmam.
 O Senhor não apenas foi paciente com a indagação vacilante de João, como deu um passo além dando um firme testemunho dele, como sendo o maior homem nascido de mulher do Velho Testamento porque foi a Ele que Deus deu a honra de não apenas falar acerca do Messias como os demais profetas, mas a de dar testemunho dEle em pessoa, dizendo que era o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, e pregando muitas outras coisas relativas a Jesus.
João era um homem resoluto e não um caniço agitado pelo vento. Para dissuadir alguém que tentasse alimentar tal pensamento acerca de João, de que era inconstante, Jesus se apressou em fazer a defesa do seu caráter, dizendo que ele não era assim.
João não oscilava em seus princípios e convicções acerca da vontade de Deus, especialmente a relativa à sua chamada, ao contrário, era firme e consistente a ponto de protestar contra o pecado do próprio rei Herodes, que dera causa à sua prisão e morte.
Ele era forte em espírito, tal como Elias, apesar de homens fortes como eles, estarem sujeitos a momentos de depressão como quaisquer outros, quando a graça de Deus lhes deixa entregues a si mesmos, para poderem perceber quão fraca é a natureza terrena, e que por isso, necessita ser mortificada.
Todavia, João estava morto para este mundo, e o mundo para ele, tal como estivera para o apóstolo Paulo, porque não foi achado em castelos e em glórias e honras mundanas, mas modestamente trajado em peles de camelo, pregando no deserto e se alimentando de mel e gafanhotos.
Ele não era um asceta, mas alguém que viveu como nazireu, inteiramente consagrado a Deus, cheio do Espírito, desde o ventre de sua mãe, para que pudesse ter a honra de ser o precursor do Messias, honra na qual, deve-se dizer, estava embutida a de ser mártir, ainda jovem, porque, no desígnio de Deus, encontrava-se determinado a respeito dele, o modo pelo qual sairia deste mundo, sendo decapitado, quando contava apenas cerca 30 anos de idade.
Esta tem sido a parte e a honra de muitos servos de Deus que têm sido também chamados por Ele para serem grandemente honrados.
Veja o caso de Estevão, de Tiago, de Paulo, Pedro, e de tantos outros que deixaram este mundo pelo martírio.
Foram grandemente honrados, mas estava designado para eles também uma honra que poucos estão dispostos a desejar, que é a de serem mártires de nosso Senhor Jesus Cristo, por amor a Ele e ao evangelho.
João era grande aos olhos de Deus apesar das condições de extrema humildade em que viveu neste mundo, conforme o desígnio divino para ele, tal como havia sido antes para o profeta Elias.
Para Deus João não era apenas um profeta, era mais do que um profeta, porque não falaria como os demais do Cristo que ainda viria, mas teria a honra de falar dEle estando com Ele em pessoa, e também Lhe prepararia o caminho, conduzindo muitos ao arrependimento (v. 10).
João era grande, mas viriam muitos após ele, na nova aliança, de uma nova dispensação, que Jesus inauguraria em Seu sangue, que seriam ainda maiores do que João, até mesmo o menor deles, porque João anunciou um reino que viria, e estes estariam participando do reino que João pregou.
Lembremos que João não realizou qualquer milagre, porque isto não lhe fora concedido por Deus, como tem concedido a muitos na Igreja.
O reino do Messias se manifestaria na Igreja, pelo derramar do Espírito Santo, e os cristãos receberiam dons e uma glória ainda maiores do que a que fora concedida a João, em seu ministério neste mundo.
João era portanto o marco divisório entre duas alianças e dispensações. Uma antiga e uma nova. O período do Antigo Testamento estava sendo fechado com ele, porque desde então Deus não levantaria nenhum outro profeta na Antiga Aliança.
A morte de João representava portanto o fim do Velho Testamento, e por isso Jesus disse acerca dele que: “todos os profetas e a lei profetizaram até João.”
Ele era aquele que viria no espírito de Elias, conforme havia sido profetizado por Malaquias, antes que o Messias viesse.
Deus Pai vinculou o ministério de João ao de Seu Filho unigênito, para sobretudo, marcar esta transição do Velho para o Novo Testamento.
Então são os que se esforçam pela verdade, na defesa da justiça evangélica, estando arrependidos, tal como João havia ensinado, e que seguem o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, que se apoderam do reino dos céus.
Era a isto que nosso Senhor se referiu quando disse as seguintes palavras:
“E desde os dias de João, o Batista, até agora, o reino dos céus é tomado a força, e os violentos o tomam de assalto.”
Não são apenas os que desejam entrar no reino dos céus que entram efetivamente, mas o que se esforçam e lutam para isto, principalmente contra as cobiças da carne e contra as forças espirituais da maldade.
“23 E alguém lhe perguntou: Senhor, são poucos os que se salvam? Ao que ele lhes respondeu:
24 Porfiai por entrar pela porta estreita; porque eu vos digo que muitos procurarão entrar, e não poderão.” (Lc 13.23,24)


Jesus Repreende os Judeus Incrédulos – Mateus 11.16-24

“16 Mas, a quem compararei esta geração? É semelhante aos meninos que, sentados nas praças, clamam aos seus companheiros:
17 Tocamo-vos flauta, e não dançastes; cantamos lamentações, e não pranteastes.
18 Porquanto veio João, não comendo nem bebendo, e dizem: Tem demônio.
19 Veio o Filho do homem, comendo e bebendo, e dizem: Eis aí um comilão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores. Entretanto a sabedoria é justificada pelos seus filhos.
20 Então começou ele a lançar em rosto às cidades onde se operara a maior parte dos seus milagres, o não se haverem arrependido, dizendo:
21 Ai de ti, Corazin! ai de ti, Betsaida! porque, se em Tiro e em Sidom, se tivessem operado os milagres que em vós se operaram, há muito elas se teriam arrependido em cilício e em cinza.
22 Contudo, eu vos digo que para Tiro e Sidom haverá menos rigor, no dia do juízo, do que para vós.
23 E tu, Cafarnaum, porventura serás elevada até o céu? até o inferno descerás; porque, se em Sodoma se tivessem operado os milagres que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje.
24 Contudo, eu vos digo que no dia do juízo haverá menos rigor para a terra de Sodoma do que para ti.” (Mateus 11.16-24)

Jesus não repreendeu João por qualquer incredulidade, mas declarou o que era a verdadeira incredulidade, a saber: deixar de dar crédito à pregação de João, quanto à necessidade do arrependimento, bem como deixar de aceitar as boas novas que Ele, Jesus estava pregando, que além do arrependimento pregado por João, oferecia a graça de um viver na alegria do Espírito Santo.
Então eram estes que não choravam por seus pecados, e que não se alegravam no Espírito, que eram os verdadeiros incrédulos.
João não comia certos alimentos, especialmente não se alimentava de qualquer produto da videira, porque isto era vedado pela lei aos nazireus, e João foi nazireu por toda a sua vida, tal como Sansão.
  Acerca de João é dado o seguinte testemunho no evangelho de Lucas:
“porque ele será grande diante do Senhor; não beberá vinho, nem bebida forte; e será cheio do Espírito Santo já desde o ventre de sua mãe;” (Lc 1.5)
Todavia Jesus não era nazireu, porque veio purificar tudo o que a Lei considerava impuro, inclusive a própria união de judeus e gentios (At 10.9-15).
Mas aquela geração rejeitou ambos os modos que Deus usou para trazê-los das trevas para a luz.
Embora os meio da graça sejam desprezados e abusados por muitos, contudo há um remanescente fiel que será melhorado pela graça de Deus, que está sendo oferecida a eles, para o bem de suas próprias almas.
Mas a “sabedoria” será justificada pelos seus filhos.
A sabedoria deste mundo que impede que se veja a verdadeira Sabedoria: Cristo (I Cor 1.30), que é possuída somente pelos que são filhos de Deus.
A simples sabedoria religiosa que os judeus possuíam não pôde lhes livrar da ignorância espiritual, porque a visão que tinham de santidade era algo externo, e por isso rejeitaram a Cristo, porque consideravam que não fosse verdadeiramente santo, porque andava na companhia de publicanos e pecadores e comia com eles.
Eles tropeçaram, portanto, na sabedoria religiosa que tinham, e que não lhes permitia enxergarem os verdadeiros desígnios de Deus, especialmente aqueles que foram revelados e manifestados em Cristo.
Eles também rejeitaram a João, não porque não fosse santo, segundo o padrão de julgamento externo deles, mas porque Ele se rebaixava e pregava a Cristo.
Pregava a necessidade de arrependimento e o batismo do Espírito Santo.
E isto eles não queriam.
Eles queriam apenas uma religiosidade externa, mas nada que lhes exigisse uma religião do coração, que se baseasse na transformação total e radical de sua natureza terrena.
Deus deveria ser  um anexo em suas vidas, mas não a própria vida e razão de viver deles, tal como pregavam João e nosso Senhor.
Então aquela sabedoria religiosa os justificava para si mesmos em suas consciências, mas não diante de Deus, porque a verdadeira sabedoria exige uma justiça que não é própria, mas que é atribuída e implantada pela graça de Cristo, e que excede em muito a dos escribas e fariseus, que consistia nesta religiosidade externa, baseada em cumprimento de ritos e cerimoniais.
Quantos, que sendo seguidores daqueles antigos judeus, deixam de ter um encontro pessoal com Cristo, ou então de progredirem num verdadeiro conhecimento dEle, exatamente por causa da barreira que é imposta pela sabedoria religiosa que eles julgam possuir, e confundem a vontade e revelação da pessoa de Deus com a mesma, por não terem coragem de renunciar às suas convicções religiosas, para abraçarem e viverem a verdade conforme ela se encontra revelada de fato nas Escrituras.
Esta sabedoria religiosa falsa e que cria orgulho espiritual não será apenas repreendida por Cristo, mas trará sérios julgamentos sobre aqueles que não abrem mão dela para uma verdadeira conversão e viver cristão.
Isto se vê claramente nas palavras de juízo que nosso Senhor começou a lançar sobre as cidades de Corazin, Betsaida e Cafarnaum, onde havia operado a maior parte dos Seus milagres, e que no entanto não haviam se arrependido.
Estas cidades eram de Israel, e no entanto o Senhor declarou que no dia do juízo haveria menor rigor para as cidades dos gentios de Tiro e de Sidom, do que para os habitantes incrédulos destas cidades de Israel.
O fato de serem descendentes de Abraão segundo a carne, de nada lhes serviria, quanto a ser atenuado o rigor do juízo que sobreviria sobre eles.
Aquela vaidade religiosa de serem considerados aceitos e aprovados por Deus, pelo simples fato de fazerem parte do povo que foi formado a partir dos patriarcas, estava sendo uma grande barreira para eles, e lhes traria grande prejuízo, em vez das bênçãos e benefícios que julgavam que Deus estava na obrigação de lhes conceder, por causa de fazerem parte da nação escolhida por Ele para revelar o Messias ao mundo.
Os judeus não se converteram diante dos milagres operados por nosso Senhor, e que evidenciavam ser Ele o Messias. No entanto, muitos gentios viriam a se converter diante destes milagres quando fossem operados por Ele através da Igreja.
E este seria o caso das próprias cidades de Tiro e Sidom, da Fenícia, que Ele havia citado.
Cafarnaum, sendo não somente uma cidade israelita, mas o local escolhido pelo Senhor para residir, não teria nenhum privilégio no dia do juízo, em razão disso, ao contrário, isto serviria de agravante, porque disse que até mesmo se em Sodoma e Gomorra, Ele tivesse operado os milagres que havia feito em Cafarnaum, aquelas cidades não teriam sido destruídas pelo fogo, porque não sofreria tão grande rejeição da parte deles, como a que havia sofrido.



O Convite de Cristo às Almas Cansadas – Mateus 11.25-30

“25 Naquele tempo falou Jesus, dizendo: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos.
26 Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado.
27 Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece plenamente o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece plenamente o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar.
28 Vinde a mim, todos os que estai cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.
29 Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas.
30 Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo e leve.” (Mateus 11.25-30)

Nosso Senhor havia dito anteriormente no verso 15, que somente aqueles que tinham ouvidos espirituais poderiam entender as realidades celestiais e divinas sobre as quais Ele estava discorrendo.
E aqui Ele revela quem eram estes que poderiam entender tais coisas espirituais, a saber, os pequeninos, e não propriamente os sábios e entendidos segundo o mundo.
É somente os que são pequenos a seus próprios olhos, sendo pobres de espírito, reconhecendo a sua completa dependência de Deus, para serem salvos e enriquecidos com a Sua graça, que podem conhecer o Pai, pela revelação que lhes é feita através do Filho, porque aprouve ao Pai honrar, somente àqueles que honrarem o Seu Filho Unigênito, Jesus Cristo.
Enquanto isto, os que se julgam sábios e entendidos, sem esta revelação do Senhor, ficam sem a referida revelação, porque o próprio Deus ocultará as riquezas espirituais da Sua graça, aos tais.
E nosso Senhor deu graças ao Pai por isto, porque por tal critério o Pai lança fora do Seu reino todos aqueles que se conduzem pela soberba, pelo orgulho, pela arrogância, pela vaidade, e por tudo o mais que impede uma verdadeira unidade espiritual em amor, a qual somente pode ser promovida por espíritos mansos, submissos, humildes e que se honram mutuamente, e que reconhecem a soberania de Deus sobre tudo e todos, consagrando-se a Ele num viver obediente à Sua vontade.
Por isso o convite da graça que é feito por Jesus se dirige somente aos que se sentem cansados e oprimidos, e que estão dispostos a se submeterem ao Seu jugo, e a serem verdadeiramente discípulos que querem aprender dEle e nEle, a serem mansos e humildes de coração, tal como é o Seu Mestre. E assim fazendo serão aliviados pelo Senhor e acharão descanso para as suas almas, porque é o próprio Jesus o descanso espiritual deles.
Este jugo e fardo da obediência em amor que Jesus impõe aos Seus discípulos são respectivamente, suave e leve, porque os Seus mandamentos não são penosos, uma vez que somos assistidos pela Sua graça e pelo poder do Seu Espírito a cumprir tudo quanto nos tem ordenado; de modo que fazer e experimentar a Sua vontade não é um fardo, mas um deleite e prazer.
Mas além deste caráter geral para a conversão, este convite gracioso de nosso Senhor se aplica a todas as situações da nossa vida neste mundo, especialmente em todas as nossas tribulações e aflições, porque é somente indo a Ele em espírito que podemos achar descanso e paz para as nossas almas atribuladas.
A mansidão e humildade de Seu coração divino jamais rechaçará a qualquer que se dirigir a Ele em busca de consolo com um coração contrito.

Mateus 11.1 Tendo acabado Jesus de dar instruções aos seus doze discípulos, partiu dali a ensinar e a pregar nas cidades da região.
Mateus 11.2 Ora, quando João no cárcere ouviu falar das obras do Cristo, mandou pelos seus discípulos perguntar-lhe:
Mateus 11.3 És tu aquele que havia de vir, ou havemos de esperar outro?
Mateus 11.4 Respondeu-lhes Jesus: Ide contar a João as coisas que ouvis e vedes:
Mateus 11.5 os cegos veem, e os coxos andam; os leprosos são purificados, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho.
Mateus 11.6 E bem-aventurado é aquele que não se escandalizar de mim.
Mateus 11.7 Ao partirem eles, começou Jesus a dizer às multidões a respeito de João: que saístes a ver no deserto? um caniço agitado pelo vento?
Mateus 11.8 Mas que saístes a ver? um homem trajado de vestes luxuosas? Eis que aqueles que trajam vestes luxuosas estão nas casas dos reis.
Mateus 11.9 Mas por que saístes? para ver um profeta? Sim, vos digo, e muito mais do que profeta.
Mateus 11.10 Este é aquele de quem está escrito: Eis aí envio eu ante a tua face o meu mensageiro, que há de preparar adiante de ti o teu caminho.
Mateus 11.11 Em verdade vos digo que, entre os nascidos de mulher, não surgiu outro maior do que João, o Batista; mas aquele que é o menor no reino dos céus é maior do que ele.
Mateus 11.12 E desde os dias de João, o Batista, até agora, o reino dos céus é tomado a força, e os violentos o tomam de assalto.
Mateus 11.13 Pois todos os profetas e a lei profetizaram até João.
Mateus 11.14 E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir.
Mateus 11.15 Quem tem ouvidos, ouça.
Mateus 11.16 Mas, a quem compararei esta geração? É semelhante aos meninos que, sentados nas praças, clamam aos seus companheiros:
Mateus 11.17 Tocamo-vos flauta, e não dançastes; cantamos lamentações, e não pranteastes.
Mateus 11.18 Porquanto veio João, não comendo nem bebendo, e dizem: Tem demônio.
Mateus 11.19 Veio o Filho do homem, comendo e bebendo, e dizem: Eis aí um comilão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores. Entretanto a sabedoria é justificada pelas suas obras.
Mateus 11.20 Então começou ele a lançar em rosto às cidades onde se operara a maior parte dos seus milagres, o não se haverem arrependido, dizendo:
Mateus 11.21 Ai de ti, Corazin! ai de ti, Betsaida! porque, se em Tiro e em Sidom, se tivessem operado os milagres que em vós se operaram, há muito elas se teriam arrependido em cilício e em cinza.
Mateus 11.22 Contudo, eu vos digo que para Tiro e Sidom haverá menos rigor, no dia do juízo, do que para vós.
Mateus 11.23 E tu, Cafarnaum, porventura serás elevada até o céu? até o hades descerás; porque, se em Sodoma se tivessem operado os milagres que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje.
Mateus 11.24 Contudo, eu vos digo que no dia do juízo haverá menos rigor para a terra de Sodoma do que para ti.
Mateus 11.25 Naquele tempo falou Jesus, dizendo: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos.
Mateus 11.26 Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado.
Mateus 11.27 Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece plenamente o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece plenamente o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar.
Mateus 11.28 Vinde a mim, todos os que estai cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.
Mateus 11.29 Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas.

Mateus 11.30 Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo e leve.





Mateus 12

Jesus Defende os Seus Discípulos – Mateus 12.1-13

“1 Naquele tempo passou Jesus pelas searas num dia de sábado; e os seus discípulos, sentindo fome, começaram a colher espigas, e a comer.
2 Os fariseus, vendo isso, disseram-lhe: Eis que os teus discípulos estão fazendo o que não é lícito fazer no sábado.
3 Ele, porém, lhes disse: Acaso não lestes o que fez Davi, quando teve fome, ele e seus companheiros?
4 Como entrou na casa de Deus, e como eles comeram os pães da proposição, que não lhe era lícito comer, nem a seus companheiros, mas somente aos sacerdotes?
5 Ou não lestes na lei que, aos sábados, os sacerdotes no templo violam o sábado, e ficam sem culpa?
6 Digo-vos, porém, que aqui está o que é maior do que o templo.
7 Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifícios, não condenaríeis os inocentes.
8 Porque o Filho do homem até do sábado é o Senhor.
9 Partindo dali, entrou Jesus na sinagoga deles.
10 E eis que estava ali um homem que tinha uma das mãos atrofiadas; e eles, para poderem acusar a Jesus, o interrogaram, dizendo: É lícito curar nos sábados?
11 E ele lhes disse: Qual dentre vós será o homem que, tendo uma só ovelha, se num sábado ela cair numa cova, não há de lançar mão dela, e tirá-la?
12 Ora, quanto mais vale um homem do que uma ovelha! Portanto, é lícito fazer bem nos sábados.
13 Então disse àquele homem: estende a tua mão. E ele a estendeu, e lhe foi restituída sã como a outra.” (Mateus 12.1-13)

Uma leitura apressada desta passagem pode conduzir à interpretação errônea de que nosso Senhor descumpria o sábado sagrado da Lei de Moisés, ou então que estava ensinando a transgredir o mandamento relativo ao descanso do sétimo dia da semana.
Todavia, como poderia o próprio autor deste mandamento ordenar o seu descumprimento ou desonrá-lo?
Como lemos no Sermão do Monte, nosso Senhor afirmou que não veio revogar a Lei de Moisés, mas cumpri-la.
Nós vimos no comentário relativo ao Sermão do Monte, o quanto os escribas e fariseus haviam adulterado a Lei de Moisés, distorcendo os mandamentos da Lei, lhes acrescentando preceitos de homens, que desfiguravam os preceitos divinos relativos a estes mandamentos.
E não havia mandamento que eles mais tivessem desfigurado do que o relativo ao dia de descanso, ou sábado, conforme prescrito na Lei de Moisés, para vigorar no período do Velho Testamento.
Eles levaram a ordenança de os judeus não se ocuparem com os seus negócios e interesses comuns diários, neste dia de descanso, separado especialmente  para se cultuar a Deus como Criador, a extremos que fugiam completamente do espírito da Lei, que era a de se cultuar a Deus, e não propriamente a cessação de qualquer tipo de atividade considerada não religiosa no referido dia, uma vez que é possível fazer-se isto e no entanto, não se tributar qualquer culto ou honra ao Senhor.
Os judeus haviam feito do sábado um fim em si mesmo em sua devoção religiosa.
Eles olhavam para o sábado e não para Deus.
Cultuavam o sábado e não o Senhor.
Com isso, estabeleceram proibições que nunca passaram pela mente de Deus, por exemplo, até mesmo proibindo coisas mínimas num dia de sábado, como o simples ato de dar um nó, porque segundo eles isto implicava em ação, e ação significa trabalho, e portanto, fazê-lo no dia de sábado configuraria uma violação da Lei.
Foi este espírito errado que Jesus combateu, na expectativa de que o mandamento relativo ao sábado fosse interpretado da maneira correta.
Não havia portanto, qualquer pecado em se colher espigas para se matar a fome, no dia de descanso.
Davi e seus homens, quando fugiam de Saul, e estando exauridos de fome, não tiveram nenhum outro tipo de alimento para mantê-los em vida senão os pães do tabernáculo, que eram trocados no dia de sábado, e dos quais não poderiam comer segundo a Lei, porque isto era reservado somente aos sacerdotes.
No entanto, ficaram sem culpa diante de Deus, porque não o fizeram por motivo de sacrilégio, mas pelo consentimento do próprio Deus, que abriu uma exceção naquela situação para que continuassem vivos.
Os próprios sacerdotes tinham que realizar muitas atividades no tabernáculo, e depois no templo, especialmente quanto à oferta dos dois cordeiros, que deveriam ser oferecidos à manhã e à tarde deste dia, e no entanto, apesar de ser aquele o trabalho deles, não poderiam cessá-lo porque afinal era o trabalho do próprio Deus, na antiga dispensação, e assim, ficavam sem culpa perante Ele.
Então, a questão de não trabalhar em dia de sábado não era para ser tomada literal e legalmente, para impedir toda e qualquer forma de atividade e trabalho, mas impedir que se deixasse de celebrar ao Senhor como Criador neste dia, e também para garantir a manutenção do culto que Lhe era devido por Israel, de maneira que não caísse no esquecimento a obrigação que tinham para com Ele.
Todavia, em vez de garantirem o objetivo de Deus com a lei do sábado, os escribas e fariseus levaram o povo a cultuar o próprio sábado, e não ao Senhor.
Jesus, no entanto, não era apenas maior do que o dia de descanso, mas do que o próprio templo, onde eram realizados os serviços religiosos previstos para o sábado.
A pretexto de guardarem o sábado, os líderes religiosos de Israel, para manterem os ritos e cerimonial que eles próprios haviam criado, acabavam condenando pessoas inocentes, que não tinham descumprido o mandamento relativo a tal dia, mas que eram condenáveis segundo o parecer deles, baseado na interpretação incorreta que haviam feito da lei, e principalmente por causa da sua falta de misericórdia para com o próximo, porque preferiam ver alguém morrer de fome do que dar-lhe comida em dia de sábado.
Eles comprovaram esta falta de misericórdia quando condenaram os discípulos de Jesus por estarem colhendo espigas por estarem muito famintos.
Jesus como Senhor de tudo e de todos, é também o Senhor do sábado, e como dissemos antes, foi Ele, que juntamente com o Pai e o Espírito Santo, deram a Lei do sábado a Israel, através de Moisés.
Portanto, se houvesse violação da Lei por parte dos discípulos por colherem espigas e comê-las, Ele seria o primeiro a proibi-los de fazê-lo.
Como os escribas e fariseus pretendiam pegar Jesus em alguma falta para terem motivo de acusá-lo e condená-lo à morte, passaram a tentar enquadrá-lo como culpado por transgredir o sábado, porque perceberam que não teriam muita dificuldade para fazê-lo uma vez que, como dissemos antes, haviam adulterado esta lei a tal ponto, que seria impossível que não achassem oportunidade em algum momento para acusar Jesus de estar violando o mandamento relativo ao dia do descanso.
E realmente, como vemos no evangelho de João, o que precipitou a grande perseguição que culminaria com a morte de Jesus na cruz, foi o fato de ter curado um enfermo junto ao tanque de Betesda, que significa no hebraico, casa da misericórdia.
Nesta passagem dos versos 9 a 13 do evangelho de Mateus nós vemos esta intenção maligna dos judeus em apanharem Jesus com a falsa acusação de estar violando o sábado, quando curou na sinagoga deles um homem que tinha uma das mãos atrofiadas.
Segundo eles, fazer isto seria uma violação da lei, e tentaram ao Senhor perguntando-Lhe se era lícito curar nos sábados.
Eles não estavam esperando uma resposta esclarecedora, mas levarem Jesus a afirmar que era lícito, e assim terem motivo de acusá-lo, porque segundo eles não era lícito curar alguém em dia de sábado.
Nosso Senhor lhes mostrou o quanto eram cegos e hipócritas, porque lhes mostrou que caso tivessem uma só ovelha, e se ela caísse numa cova em dia de sábado, eles logo se apressariam em tirá-la do buraco.
Eles teriam misericórdia de si mesmos, para não terem prejuízo com a perda da ovelha, e não propriamente com a ovelha, mas nosso Senhor considerou o caso como sendo, em todo o caso uma ação movida por misericórdia, em relação a um animal, e por que então não se deveria demonstrar misericórdia para com um homem, que vale muito mais do que uma ovelha? A conclusão lógica então é a de que não havia nenhuma violação da lei em curar um homem no dia de sábado.


A Malícia dos Fariseus – Mateus 12.14-21

“14 Os fariseus, porém, saindo dali, tomaram conselho contra ele, para o matarem.
15 Jesus, percebendo isso, retirou-se dali. Acompanharam-no muitos; e ele curou a todos,
16 e advertiu-lhes que não o dessem a conhecer;
17 para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías:
18 Eis aqui o meu servo que escolhi, o meu amado em quem a minha alma se compraz; porei sobre ele o meu espírito, e ele anunciará aos gentios o juízo.
19 Não contenderá, nem clamará, nem se ouvirá pelas ruas a sua voz.
20 Não esmagará a cana quebrada, e não apagará o pavio que fumega, até que faça triunfar o juízo;
21 e no seu nome os gentios esperarão.” (Mateus 12.14-21)

A prova de que Jesus não estava respondendo aos fariseus na expectativa de que chegassem ao conhecimento da verdade, mas simplesmente afirmando a verdade para a defesa dos inocentes que eles estavam atacando, encontra-se logo no início desta passagem, nos versos 14 e 15, em que se afirma que os fariseus logo depois de terem ouvido o que o Senhor lhes dissera e fizera, curando o homem da mão atrofiada, tomaram conselho entre si contra Jesus, com o intuito de matá-lo.
É dito também que nosso Senhor percebeu isso, e que por este motivo se retirou daquela localidade, sendo acompanhado por muitos enfermos, e Ele curou a todos eles, demonstrando que não estava em nada intimidado pelas ameaças dos fariseus.
Todavia, como não era chegada ainda a sua hora de se entregar voluntariamente para morrer na cruz, para não precipitar maiores perseguições desnecessárias, advertiu aos que haviam sido curados que não espalhassem a notícia do que lhes havia feito.
Com isto, deu-se cumprimento ao que fora profetizado acerca dEle pelo profeta Isaías:
“1 Eis aqui o meu servo que escolhi, o meu amado em quem a minha alma se compraz; porei sobre ele o meu espírito, e ele anunciará aos gentios o juízo.
2 Não contenderá, nem clamará, nem se ouvirá pelas ruas a sua voz.
3 Não esmagará a cana quebrada, e não apagará o pavio que fumega, até que faça triunfar o juízo;
4 e no seu nome os gentios esperarão.” (Is 42.1-4)
A fama de Cristo se espalharia não somente por Israel, mas por todas as nações da terra, e por todas as gerações, mas isto ocorreria sem que Ele fizesse uma propaganda extensiva da sua própria pessoa e atos.
Ele não faria exibições públicas com o fim de ser visto e aplaudido pelos homens.
Ao contrário, mesmo muitos daqueles que fossem beneficiados por Ele, sendo curados de enfermidades físicas, não se arrependeriam de seus pecados e também não Lhe dariam a devida honra e louvor, antes o odiariam por lhes dizer a verdade, de modo que é dito que:
“... como raiz que sai duma terra seca; não tinha formosura nem beleza; e quando olhávamos para ele, nenhuma beleza víamos, para que o desejássemos.” (Is 53.2)
Este foi o modo como foi visto em seu ministério terreno, porque sempre denunciou o pecado, e não omitiu a verdade.
No entanto, é dito acerca dEle nas Escrituras:
“Naquele dia o Senhor dos exércitos será por coroa de glória e diadema de formosura para o restante de seu povo;” (Is 28.5)
“Os teus olhos verão o rei na sua formosura, e verão a terra que se estende em amplidão.” (Is 33.17)
Ninguém pode ser comparado ao Senhor quanto à Sua formosura. Especialmente a formosura do Seu espírito e caráter não pode ser medida.
Ele não quer aplauso sem conversão.
Ele não busca o reconhecimento dos homens sem que reconheçam a verdade.
Por isso o Pai o elegeu para ser o capitão da nossa salvação, por se comprazer nEle por toda a sua perfeição; e assim O ungiria com o Espírito Santo quando se esvaziasse de Sua divindade, para assumir a forma de servo e ser achado na forma de homem, para anunciar aos gentios o juízo de Deus.
Os gentios que andavam sem a revelação de Deus neste mundo, teriam nEle a esperança de serem alcançados e reunidos à família de Deus, por meio dEle (v. 21).
Isto seria feito a partir da Sua manifestação a Israel, de forma quase velada, anunciando a verdade e curando toda sorte de enfermidades entre o povo, mas sem fazer alarido chamando a atenção para a Sua própria pessoa.
Seu alvo não era agradar o mundo, conquistar o mundo, mas alcançar as ovelhas perdidas.
Por isso não esmagaria a cana quebrada e nem apagaria o pavio fumegante, ou seja os pobres e miseráveis pecadores, destituídos de toda e qualquer justiça diante de Deus, antes faria nestes que são pobres de espírito, e que reconhecem a sua real condição diante de Deus, o trabalho de restauração de suas vidas, levantando os quebrantados de coração, e acendendo a chama divina, nos corações desprovidos do fogo e da luz do Espírito Santo.
E isto será feito enquanto durar todo o período da dispensação da graça, até que venha para julgar os vivos e mortos.
Nesta nova dispensação da graça, Deus não está estabelecendo um juízo final sobre os pecadores, mas dando-lhes a oportunidade de serem salvos por Seu Filho unigênito.


O Pecado contra o Espírito Santo – Mateus 12.22-32

“22 Trouxeram-lhe então um endemoninhado cego e mudo; e ele o curou, de modo que o mudo falava e via.
23 E toda a multidão, maravilhada, dizia: É este, porventura, o Filho de Davi?
24 Mas os fariseus, ouvindo isto, disseram: Este não expulsa os demônios senão por Belzebu, príncipe dos demônios.
25 Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse-lhes: Todo reino dividido contra si mesmo é devastado; e toda cidade, ou casa, dividida contra si mesma não subsistirá.
26 Ora, se Satanás expulsa a Satanás, está dividido contra si mesmo; como subsistirá, pois, o seus reino?
27 E, se eu expulso os demônios por Belzebu, por quem os expulsam os vossos filhos? Por isso, eles mesmos serão os vossos juízes.
28 Mas, se é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demônios, logo é chegado a vós o reino de Deus.
29 Ou, como pode alguém entrar na casa do valente, e roubar-lhe os bens, se primeiro não amarrar o valente? e então lhe saquear a casa.
30 Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha.
31 Portanto vos digo: Todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada.
32 Se alguém disser alguma palavra contra o Filho do homem, isso lhe será perdoado; mas se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste mundo, nem no vindouro.” (Mateus 12.22-32)

Nós vimos anteriormente, nos versos 32 a 34 do nono capitulo, que Jesus havia curado um homem mudo endemoninhado, em Cafarnaum, que Lhe foi trazido, depois de ter curado dois cegos na casa em que Ele se encontrava.
Nesta mesma passagem do nono capítulo também é dito que as multidões se admiraram dizendo que nunca tal se viu em Israel, e que também os fariseus diziam que era pelo príncipe dos demônios que Jesus expulsava os espíritos malignos.
Pode parecer que esta passagem deste décimo segundo capítulo seja apenas uma explicação e extensão da narrativa do nono capitulo.
Todavia, aqui não é dito que as multidões se admiraram dizendo que nunca tal se viu em Israel, mas que indagaram aos fariseus se Jesus não era o Filho de Davi, a saber, o renovo que sairia do tronco de Jessé, pai de Davi, conforme profetizado nas Escrituras, e também por muitas outras profecias que associam o Messias à casa de Davi, porque viria, da sua descendência, segundo a carne.
E também é dito que os fariseus disseram que era pelo príncipe dos demônios que Jesus os expulsava, sendo que aqui ele é nomeado como sendo Belzebu.
Todavia, não importa se foi um novo caso de cura, ou se uma extensão e explicação da narrativa do nono capitulo, porque o propósito do evangelista foi o  de ensinar sobre o pecado contra o Espírito Santo, e que Jesus nada tem a ver com o reino do diabo, ao contrário, está em total oposição a tal reino, e se manifestou para destruí-lo.
Satanás conquistou ainda que em grande parte, valendo-se de enganos, os corações de muitos.
Não importa, o fato é que ele é o regente do mundo de trevas.
Ele é o príncipe do mundo caído no pecado, e governa os seus súditos para que façam o que é da sua vontade.
O reino dele é de ruína e de morte.
Ele traz até mesmo os eleitos, por algum tempo, debaixo do seu domínio e poder, até que sejam resgatados por Cristo, para serem transportados para o reino da Sua luz (Atos 26.15-18).
Este reino de Satanás está sendo subjugado pelo Senhor através da Igreja, e virá o dia em que Ele lançará pessoalmente este reino de morte no lago de fogo e enxofre, numa condenação por toda a eternidade.
Foi também para este propósito que Jesus se manifestou.
Ele não é somente o Salvador, mas também o Juiz de vivos e de mortos.
Ele tem toda a autoridade tanto nos céus quanto na terra.
Todavia, esta função de Juiz está velada e aguarda pelo tempo da Sua manifestação, depois que for encerrada a dispensação da graça, pela Sua segunda vinda.
Portanto, ainda hoje, como nos dias do Seu ministério terreno, muitos estão sujeitos a caírem na tentação e no erro dos fariseus, cometendo o pecado imperdoável de blasfemarem contra o Espírito Santo, atribuindo as operações poderosas de Cristo contra o reino das trevas, como sendo oriundas dos principados e potestades demoníacos.
Muitos resistem à graça de Cristo nos cristãos, pelo simples fato de serem cristãos, e os desprezam, e falam mal deles e os perseguem, e chamam de trevas o que veem neles que é luz.
Fazem-no por motivo de inveja, ou para se justificarem na prática de suas más obras, condenando as obras que sabem que são de Deus, nas vidas de Seus filhos.
Ora, estes são sérios candidatos a cometerem o pecado imperdoável da blasfêmia contra o Espírito, ficando alijados da possibilidade de terem seus pecados perdoados, quer nesta ou na outra vida.
De Deus não se zomba, e tudo o que o homem semear, será o que ele colherá.
O Senhor não terá por inocente, e não terá misericórdia de todo aquele que resistir aberta e definitivamente à Sua vontade, uma vez tendo reconhecido a  operação da Sua graça, quer em sua própria vida, quer na de outros, operando contra os poderes das trevas.
Satanás era pouco incomodado antes que Cristo se manifestasse em Seu ministério, porque até então não havia e não haveria tantas expulsões de demônios, e tanta atividade contra as mentiras e enganos do diabo, pela afirmação da verdade divina. Jesus era o descendente prometido a Adão e a Eva, que esmagaria a cabeça da Serpente.
A expulsão de demônios seria portanto um dos sinais da manifestação do reino de Deus, do seu advento, na Pessoa de Cristo.
Então, não seria de supor que o diabo assistisse a tal ataque violento contra o seu reino, de braços cruzados.
Ele resiste e reage, e o fizera nos dias do ministério terreno de Jesus, especialmente através dos escribas, fariseus e sacerdotes.
Justamente pelos homens religiosos de Israel, que tinham a seu cargo guardarem a Lei.
Satanás continua usando a mesma estratégia para tentar paralisar o avanço da Igreja verdadeira.
Ele usa o joio que ele mesmo planta na Igreja, com o fim de obstruir a obra do evangelho e atacar aqueles que estão agindo contra o seu reino infernal.
Ele os classificará de fanáticos dados a práticas de excessos, os chamará de radicais e cismáticos que agem contra a unidade da Igreja.
Dirá, através de seus instrumentos, dentro da própria Igreja, que estes que seguem verdadeiramente a Cristo e que pisam na sua cabeça maligna, são inchados em orgulho espiritual considerando-se mais santos do que os demais, e assim por diante, tudo fazendo para desacreditá-los, tal como os fariseus haviam feito no passado em relação a Cristo e aos Seus discípulos.
Os fariseus pensavam que estavam do lado de Deus e contra o diabo, e no entanto, estavam na verdade, lutando contra Deus e fazendo a vontade do diabo.
Quão fácil é se equivocar quanto a isto, por motivos religiosos.
É bem possível estar do lado errado, pensando estar do lado certo.
Mas, se o coração não está correto não é possível estar do lado certo, ainda que o desejemos.
Como Jesus não se juntou ao partido dos fariseus para estar debaixo da autoridade deles, então eles o consideravam como inimigo da religião de Israel, da Lei de Moisés e do próprio Deus.
Não há segmentos da cristandade que agem da mesma forma?
Pensam que aqueles que não pertencem ao seu partido, estão irremediavelmente perdidos, e entregues a Satanás, quando eles mesmos andam desviados da verdade.
Por qual critério devem ser identificados os verdadeiros filhos de Deus? A Igreja verdadeira? Pelo que afirmam os homens segundo a sua própria imaginação, ou pelos critérios que Cristo fixou em Sua Palavra?
A verdade deve ser avaliada com a verdade, e não meramente com aquilo que afirmam ser a verdade, as pessoas que se encontram em posição de autoridade religiosa neste mundo.
Por isso, em Sua misericórdia, Deus nos deu as Escrituras, para que tivéssemos um testemunho permanente da verdade, para que não nos desviemos dela.

Mateus 12.1 Naquele tempo passou Jesus pelas searas num dia de sábado; e os seus discípulos, sentindo fome, começaram a colher espigas, e a comer.
Mateus 12.2 Os fariseus, vendo isso, disseram-lhe: Eis que os teus discípulos estão fazendo o que não é lícito fazer no sábado.
Mateus 12.3 Ele, porém, lhes disse: Acaso não lestes o que fez Davi, quando teve fome, ele e seus companheiros?
Mateus 12.4 Como entrou na casa de Deus, e como eles comeram os pães da proposição, que não lhe era lícito comer, nem a seus companheiros, mas somente aos sacerdotes?
Mateus 12.5 Ou não lestes na lei que, aos sábados, os sacerdotes no templo violam o sábado, e ficam sem culpa?
Mateus 12.6 Digo-vos, porém, que aqui está o que é maior do que o templo.
Mateus 12.7 Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifícios, não condenaríeis os inocentes.
Mateus 12.8 Porque o Filho do homem até do sábado é o Senhor.
Mateus 12.9 Partindo dali, entrou Jesus na sinagoga deles.
Mateus 12.10 E eis que estava ali um homem que tinha uma das mãos atrofiadas; e eles, para poderem acusar a Jesus, o interrogaram, dizendo: É lícito curar nos sábados?
Mateus 12.11 E ele lhes disse: Qual dentre vós será o homem que, tendo uma só ovelha, se num sábado ela cair numa cova, não há de lançar mão dela, e tirá-la?
Mateus 12.12 Ora, quanto mais vale um homem do que uma ovelha! Portanto, é lícito fazer bem nos sábados.
Mateus 12.13 Então disse àquele homem: estende a tua mão. E ele a estendeu, e lhe foi restituída sã como a outra.
Mateus 12.14 Os fariseus, porém, saindo dali, tomaram conselho contra ele, para o matarem.
Mateus 12.15 Jesus, percebendo isso, retirou-se dali. Acompanharam-no muitos; e ele curou a todos,
Mateus 12.16 e advertiu-lhes que não o dessem a conhecer;
Mateus 12.17 para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías:
Mateus 12.18 Eis aqui o meu servo que escolhi, o meu amado em quem a minha alma se compraz; porei sobre ele o meu espírito, e ele anunciará aos gentios o juízo.
Mateus 12.19 Não contenderá, nem clamará, nem se ouvirá pelas ruas a sua voz.
Mateus 12.20 Não esmagará a cana quebrada, e não apagará o morrão que fumega, até que faça triunfar o juízo;
Mateus 12.21 e no seu nome os gentios esperarão.
Mateus 12.22 Trouxeram-lhe então um endemoninhado cego e mudo; e ele o curou, de modo que o mudo falava e via.
Mateus 12.23 E toda a multidão, maravilhada, dizia: É este, porventura, o Filho de Davi?
Mateus 12.24 Mas os fariseus, ouvindo isto, disseram: Este não expulsa os demônios senão por Belzebu, príncipe dos demônios.
Mateus 12.25 Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse-lhes: Todo reino dividido contra si mesmo é devastado; e toda cidade, ou casa, dividida contra si mesma não subsistirá.
Mateus 12.26 Ora, se Satanás expulsa a Satanás, está dividido contra si mesmo; como subsistirá, pois, o seus reino?
Mateus 12.27 E, se eu expulso os demônios por Belzebu, por quem os expulsam os vossos filhos? Por isso, eles mesmos serão os vossos juízes.
Mateus 12.28 Mas, se é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demônios, logo é chegado a vós o reino de Deus.
Mateus 12.29 Ou, como pode alguém entrar na casa do valente, e roubar-lhe os bens, se primeiro não amarrar o valente? e então lhe saquear a casa.
Mateus 12.30 Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha.
Mateus 12.31 Portanto vos digo: Todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada.
Mateus 12.32 Se alguém disser alguma palavra contra o Filho do homem, isso lhe será perdoado; mas se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste mundo, nem no vindouro.
Mateus 12.33 Ou fazei a árvore boa, e o seu fruto bom; ou fazei a árvore má, e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore.
Mateus 12.34 Raça de víboras! como podeis vós falar coisas boas, sendo maus? pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca.
Mateus 12.35 O homem bom, do seu bom tesouro tira coisas boas, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más.
Mateus 12.36 Digo-vos, pois, que de toda palavra fútil que os homens disserem, hão de dar conta no dia do juízo.
Mateus 12.37 Porque pelas tuas palavras serás justificado, e pelas tuas palavras serás condenado.
Mateus 12.38 Então alguns dos escribas e dos fariseus, tomando a palavra, disseram: Mestre, queremos ver da tua parte algum sinal.
Mateus 12.39 Mas ele lhes respondeu: Uma geração má e adúltera pede um sinal; e nenhum sinal se lhe dará, senão o do profeta Jonas;
Mateus 12.40 pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no seio da terra.
Mateus 12.41 Os ninivitas se levantarão no juízo com esta geração, e a condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis aqui quem é maior do que Jonas.
Mateus 12.42 A rainha do sul se levantará no juízo com esta geração, e a condenará; porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis aqui quem é maior do que Salomão.
Mateus 12.43 Ora, havendo o espírito imundo saido do homem, anda por lugares áridos, buscando repouso, e não o encontra.
Mateus 12.44 Então diz: Voltarei para minha casa, donde saí. E, chegando, acha-a desocupada, varrida e adornada.
Mateus 12.45 Então vai e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele e, entretanto, habitam ali; e o último estado desse homem vem a ser pior do que o primeiro. Assim há de acontecer também a esta geração perversa.
Mateus 12.46 Enquanto ele ainda falava às multidões, estavam do lado de fora sua mãe e seus irmãos, procurando falar-lhe.
Mateus 12.47 Disse-lhe alguém: Eis que estão ali fora tua mãe e teus irmãos, e procuram falar contigo.
Mateus 12.48 Ele, porém, respondeu ao que lhe falava: Quem é minha mãe? e quem são meus irmãos?
Mateus 12.49 E, estendendo a mão para os seus discípulos disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos.
Mateus 12.50 Pois qualquer que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, irmã e mãe.







Mateus 13

A Parábola do Semeador – Mateus 13.1-23

“1 No mesmo dia, tendo Jesus saído de casa, sentou-se à beira do mar;
2 e reuniram-se a ele grandes multidões, de modo que entrou num barco, e se sentou; e todo o povo estava em pé na praia.
3 E falou-lhes muitas coisas por parábolas, dizendo: Eis que o semeador saiu a semear.
4 e quando semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho, e vieram as aves e comeram.
5 E outra parte caiu em lugares pedregosos, onde não havia muita terra: e logo nasceu, porque não tinha terra profunda;
6 mas, saindo o sol, queimou-se e, por não ter raiz, secou-se.
7 E outra caiu entre espinhos; e os espinhos cresceram e a sufocaram.
8 Mas outra caiu em boa terra, e dava fruto, um a cem, outro a sessenta e outro a trinta por um.
9 Quem tem ouvidos, ouça.
10 E chegando-se a ele os discípulos, perguntaram-lhe: Por que lhes falas por parábolas?
11 Respondeu-lhes Jesus: Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado;
12 pois ao que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado.
13 Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não veem; e ouvindo, não ouvem nem entendem.
14 E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, e de maneira alguma entendereis; e, vendo, vereis, e de maneira alguma percebereis.
15 Porque o coração deste povo se endureceu, e com os ouvidos ouviram tardamente, e fecharam os olhos, para que não vejam com os olhos, nem ouçam com os ouvidos, nem entendam com o coração, nem se convertam, e eu os cure.
16 Mas bem-aventurados os vossos olhos, porque veem, e os vossos ouvidos, porque ouvem.
17 Pois, em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não o viram; e ouvir o que ouvis, e não o ouviram.
18 Ouvi, pois, vós a parábola do semeador.
19 A todo o que ouve a palavra do reino e não a entende, vem o Maligno e arrebata o que lhe foi semeado no coração; este é o que foi semeado à beira do caminho.
20 E o que foi semeado nos lugares pedregosos, este é o que ouve a palavra, e logo a recebe com alegria;
21 mas não tem raiz em si mesmo, antes é de pouca duração; e sobrevindo a angústia e a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza.
22 E o que foi semeado entre os espinhos, este é o que ouve a palavra; mas os cuidados deste mundo e a sedução das riquezas sufocam a palavra, e ela fica infrutífera.
23 Mas o que foi semeado em boa terra, este é o que ouve a palavra, e a entende; e dá fruto, e um produz cem, outro sessenta, e outro trinta.” (Mateus 13.1-23)

É muito comum se ouvir da parte de muitos, que nem mesmo Jesus conseguiu unanimidade quando esteve ministrando em carne, na terra.
Falam isto não por julgarem segundo a reta justiça, mas como que atribuindo insucesso a nosso Senhor no cumprimento da Sua missão, ou como para justificar o livre arbítrio humano, como que o homem tivesse o direito de  traçar o seu próprio caminho sem se sujeitar a Deus.
Todavia, esta resistência permanente e declarada a Jesus da parte de muitos; e a aparente recepção de nosso Senhor e de Sua mensagem por parte de outros - dizemos aparente porque parecem terem se convertido, mas passado algum tempo, voltam a seu antigo modo de vida - e finalmente a perseverança daqueles que permanecem no Senhor e na Sua doutrina, já estava previsto nos conselhos de Deus, desde a eternidade.
Isto foi revelado pelo Senhor na Parábola do Semeador.
Então, não é pelo fato de serem menos os que se convertem em comparação com os que se perdem, que se comprova que Jesus não é bem sucedido em Sua função de Salvador do mundo.
Ao contrário, Ele é mais do que suficiente e competente capitão da nossa salvação, porque não perde a nenhum daqueles que Lhe foram dados pelo Pai.
Deus conhece os que são Seus, e estes não deixarão de ser alcançados pela Sua graça e poder, para que sejam salvos, e ainda que nem todos frutifiquem no mesmo grau, porque uns frutificam mais do que outros, entretanto, todos fazem parte da família de Deus e não serão portanto, de nenhum modo, rejeitados por Ele.
Esta verdade já havia sido profetizada cerca de 700 anos antes de nosso Senhor ter-se manifestado a este mundo, na plenitude do tempo, encarnando num corpo como o nosso.
Isto foi feito especialmente através do profeta Isaías, cujo ministério foi, principalmente, o de preanunciar o evangelho e a obra de salvação que nosso Senhor faria.
Todavia, Deus deixou claro, por meio do profeta, que Israel não entenderia o evangelho apesar de ouvi-lo.
Não entenderiam o significado dos milagres realizados pelo Messias e pela Igreja, apesar de testemunharem tais milagres com a vista de seus olhos.
Isto, por causa do endurecimento deles no pecado, especialmente pelo engessamento nas falsas convicções religiosas em que viveriam por influência dos escribas, fariseus e todos os demais líderes religiosos de Israel.
O Senhor falou ao profeta Isaías, quando lhe enviou depois de ter sido tocado pela brasa do altar:
“9 Disse, pois, ele: Vai, e dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis.
10 Torna insensível o coração deste povo, e endurece-lhe os ouvidos, e fecha-lhe os olhos; para que ele não veja com os olhos, e ouça com os ouvidos, e entenda com o coração, e se converta, e seja sarado.” (Is 6.9,10)
Isaías é conhecido como o profeta evangélico, porque profetizaria mais do que qualquer outro sobre a pessoa de Cristo e o período da Igreja cristã, do milênio e da glória futura dos santos.
Ele viu o Senhor Jesus na Sua glória em sua chamada, porque Sua grande missão seria a de falar do ministério e glória do Messias, e que somente nEle havia esperança, não somente para Israel, como para todas as nações.
Então não é para se estranhar que não tenha sido chamado para convocar os israelitas de seus dias ao arrependimento, durante o tempo do seu longo ministério, mas ao contrário, lhes revelar que permaneceriam endurecidos à recepção do Messias e do evangelho por um longo período.
Eles ouviriam o evangelho, mas não entenderiam.
Veriam os sinais realizados por Cristo e pela Igreja mas não perceberiam a mão de Deus agindo, porque o seu coração se tornaria insensível, e seus ouvidos ficariam endurecidos à voz do Espírito, e seus olhos fechados para verem a verdade da Palavra do evangelho (Is 6.9, 10).
Isaías falaria portanto, de coisas relativas ao evangelho, mas eles não se converteriam a Deus, por ouvirem as coisas que seriam reveladas ao profeta.
Ao contrário, a mensagem profética de Isaías lhes endureceria o coração, fecharia os seus olhos e ouvidos, para que não vissem com os olhos e ouvissem com os ouvidos a mensagem da verdade, e assim, não podendo entender com o coração, não se converteriam e não seriam sarados por Deus.
Isaías perguntou ao Senhor até quando duraria tal endurecimento de Israel ao evangelho, e a resposta divina foi a seguinte: “Até que sejam assoladas as cidades, e fiquem sem habitantes, e as casas sem moradores, e a terra seja de todo assolada, e o Senhor tenha removido para longe dela os homens, e sejam muitos os lugares abandonados no meio da terra.”.
A remoção do endurecimento de Israel ocorreria, conforme do conhecimento do Senhor em Sua onisciência, e como revelou a Isaías, somente depois que a terra de Israel fosse assolada, e as suas cidades e casas ficassem sem habitantes e moradores e a sua terra totalmente assolada.
Isto ocorreria no cativeiro babilônico, e na diáspora causada pelos romanos em 70 d. C., mas o grande cumprimento da  profecia aponta para o tempo das assolações que serão realizadas pelo Anticristo.
Apenas um remanescente seria objeto da remoção do endurecimento e se converteria ao Senhor, mas é identificado como sendo menos da décima parte da população que seria poupada.
E este remanescente foi chamado de santa semente, e comparado ao renovo do toco de um carvalho que é deixado na terra, depois que este é derrubado (Is 6.13).
Deus manteria apenas um remanescente, uma pequena sobra de eleitos em Israel, de maneira que somente a estes seria dado conhecerem os mistérios do reino dos céus, enquanto os demais permaneceriam endurecidos, conforme conhecido pelo Senhor em Sua presciência divina.
Por isso, a verdade do reino dos céus soaria em Israel, especialmente por meio de parábolas.
O conjunto de parábolas citadas neste capítulo foram pronunciadas por Jesus à beira mar, provavelmente no mar da Galileia, que era conhecido também por mar de Tiberíades (Jo 6.1), estando nosso Senhor num barco junto à praia, em razão da grande multidão que havia se reunido para ouvi-lo.
Veja que nosso Senhor nunca se deixou impressionar pelo imenso número de pretensos admiradores que O procuravam.
Ele bem sabia o que é a natureza terrena, e assim, nunca se deixou enganar por ela, e sempre pregou e ensinou a verdade sem desejar ser visto pelos homens, ou para agradá-los com o intuito de obter o seu aplauso.
Ele jamais negociaria a pérola da verdade e da justiça por qualquer outra coisa que lhe fosse oferecida.
Nossos corações têm desejos não lícitos e impuros, mas isto era algo desconhecido ao coração puramente santo de Cristo.
Ele não poderia ser tentado por suas próprias cobiças, porque não tinha cobiças pecaminosas tal como nós estamos sujeitos a tê-las.
Logo, tudo faria e tudo fez para a exclusiva glória do Pai, e em perfeita santidade e justiça.
O fato de ter falado muitas vezes por parábolas comprova que nosso Senhor não buscava realmente agradar a  homens, porque em sua grande maioria ficavam sem entender o que lhe foi ensinado e pregado, inclusive os próprios apóstolos, necessitavam ser ensinados à parte, quanto ao significado das parábolas, coisa que Jesus nunca se negou a fazer particularmente em relação a eles, porque eram cidadãos do reino dos céus, e até com o menor membro de Seu corpo, a Igreja, Jesus será paciente em ensinar os mistérios do Seu reino, tal como fizera com os todos os Seus discípulos no passado.
É interessante observar as seguintes verdades na explicação que nosso Senhor deu aos discípulos quanto ao significado da Parábola do Semeador:
1 - A semente  é a palavra do reino, a saber, a mensagem do evangelho.
2 - Os vários tipos de solos representam os vários tipos de corações:
a ) Beira do caminho, ou seja, fora do canteiro, representa os corações desatentos que não dão qualquer consideração à palavra pregada ou ensinada. Satanás remove inteiramente o que foi aplicado a tais corações. Assim, estes sequer chegam a entender a palavra do reino que ouviram.
  b) Lugares pedregosos representam os corações endurecidos, que podem até mesmo recepcionar a mensagem do evangelho com uma alegria inicial, mas que não pode resistir à angústia e à perseguição por causa do evangelho.
São como plantas que brotam mas não chegam a criar raízes, e que portanto, não podem resistir às intempéries produzidas por se ter abraçado o evangelho.
c) Lugares com espinhos, representam os corações volúveis e cobiçosos, que não conseguem resistir aos cuidados e à sedução das riquezas mundanas.
Estes são como plantas que podem até mesmo criar umas poucas raízes e atingirem um certo crescimento, mas por fim morrem espiritualmente, porque não permitirão que seus egos cobiçosos sejam vencidos pela graça, produzindo uma verdadeira conversão de seus corações.
d) Finalmente, o único tipo de solo que pode produzir o fruto de conversão esperado por Deus são aqueles que possuem corações que são solos férteis, que permitiram serem limpos das pedras e dos espinhos que poderiam atrapalhar o seu crescimento espiritual.
Estes não somente entendem a palavra do reino, como produzem frutos para Deus, ainda que uns mais do que outros, em função da fertilidade do solo de seus corações, na diligência na busca da santificação, porque esta não é absoluta e instantânea como a justificação e a regeneração. Ela depende também do empenho de cada cristão.
Daí haver cristãos mais santificados do que outros, porque a santificação depende do grau da consagração de cada um deles a Deus.


Parábolas do Joio, do Grão de Mostarda, e do Fermento – Mateus 13.24-43

Parábola do Joio

 “24 Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O reino dos céus é semelhante ao homem que semeou boa semente no seu campo;
25 mas, enquanto os homens dormiam, veio o inimigo dele, semeou joio no meio do trigo, e retirou-se.
26 Quando, porém, a erva cresceu e começou a espigar, então apareceu também o joio.
27 Chegaram, pois, os servos do proprietário, e disseram-lhe: Senhor, não semeaste no teu campo boa semente? Donde, pois, vem o joio?
28 Respondeu-lhes: Algum inimigo é quem fez isso. E os servos lhe disseram: Queres, pois, que vamos arrancá-lo?
29 Ele, porém, disse: Não; para que, ao colher o joio, não arranqueis com ele também o trigo.
30 Deixai crescer ambos juntos até a ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: Ajuntai primeiro o joio, e atai-o em molhos para o queimar; o trigo, porém, recolhei-o no meu celeiro. (Mateus 13.24-30)

Parábola do Grão de Mostarda

31 Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou, e semeou no seu campo;
32 o qual é realmente a menor de todas as sementes; mas, depois de ter crescido, é a maior das hortaliças, e faz-se árvore, de sorte que vêm as aves do céu, e se aninham nos seus ramos. (Mateus 13.31,32)

Parábola do Fermento

33 Outra parábola lhes disse: O reino dos céus é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e misturou com três medidas de farinha, até ficar tudo levedado.
34 Todas estas coisas falou Jesus às multidões por parábolas, e sem parábolas nada lhes falava;
35 para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta: Abrirei em parábolas a minha boca; publicarei coisas ocultas desde a fundação do mundo. (Mateus 13.33-35)

Explicação da Parábola do Joio

36 Então Jesus, deixando as multidões, entrou em casa. E chegaram-se a ele os seus discípulos, dizendo: Explica-nos a parábola do joio do campo.
37 E ele, respondendo, disse: O que semeia a boa semente é o Filho do homem;
38 o campo é o mundo; a boa semente são os filhos do reino; o joio são os filhos do maligno;
39 o inimigo que o semeou é o Diabo; a ceifa é o fim do mundo, e os celeiros são os anjos.
40 Pois assim como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será no fim do mundo.
41 Mandará o Filho do homem os seus anjos, e eles ajuntarão do seu reino todos os que servem de tropeço, e os que praticam a iniquidade,
42 e lança-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá choro e ranger de dentes.
43 Então os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça.” (Mateus 13.36-43)

Depois que nosso Senhor concluiu a sua pregação por parábolas, quando se encontrava num barco à beira mar, Mateus registrou mais um motivo pelo qual Ele falava por parábolas: estava profetizado no Salmo 78.2 que Ele faria isto quando se manifestasse ao mundo:
“34 Todas estas coisas falou Jesus às multidões por parábolas, e sem parábolas nada lhes falava;
35 para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta: Abrirei em parábolas a minha boca; publicarei coisas ocultas desde a fundação do mundo.”
Quando o evangelista afirma que “sem parábolas nada lhes falava” isto não significa que Jesus somente disse parábolas, mas que estas sempre fizeram parte do Seu ensino e pregação, porque isto estava profetizado acerca dEle.
Um falso messias poderia criar parábolas para tentar confirmar as Escrituras, mas certamente, não poderia falar dos mistérios eternos do reino dos céus através de suas parábolas, porque somente o Filho de Deus, que lá estivera, e que tudo criara, poderia falar acerca das coisas relativas ao reino dos céus.
Nós comentaremos as três parábolas (do joio, do grão de mostarda, e do fermento) desta passagem, em conjunto, dado haver pontos de similaridade entre as mesmas.
Na Parábola do Joio, a boa semente não representa a palavra do reino, como na Parábola do Semeador, mas os próprios cristãos (v. 38).
 As parábolas do Grão de Mostarda, e do Fermento, representam o crescimento, a expansão do evangelho. O crescimento e a multiplicação da palavra do reino em todo o mundo, a partir de um pequeno começo.
“E a palavra de Deus crescia e se multiplicava.”  (At 12.24). Este texto de Atos não significa que outras verdades eram acrescentadas progressivamente à mensagem que fora pregada e ensinada inicialmente por Jesus, mas que a palavra do evangelho estava se espalhando por várias partes do mundo.
Quanto à Parábola do Joio, muitos se enganam ao dizerem que a Igreja verdadeira é composta tanto por trigo quanto por joio, porque Jesus disse que o reino dos céus é composto por ambos.
Todavia,  não é este o ensino de nosso Senhor, porque deixa muito claro que o joio é um elemento estranho ao reino dos céus, à verdadeira Igreja, que foi semeado não por Deus, mas pelo diabo, e está portanto, destinado a ser arrancado, porque o Senhor arrancará de Sua lavoura, no tempo próprio toda planta que não foi plantada por Ele (Mt 15.13).
Além disso, nosso Senhor disse que o joio representa os filhos do maligno, e que a boa semente são os filhos do reino. Assim, somente os filhos do reino haverão de herdar a salvação.
Recomenda-se portanto, que a Igreja não exclua o joio, uma vez plantado, pela simples iniciativa de seus líderes, porque esta operação de exclusão da membresia será usada pelo diabo para abalar a muitos que sejam verdadeiramente trigo no meio do povo de Deus, por tomarem partido daqueles que foram excluídos, ou então, por este joio excluído agir contra o corpo de fiéis, causando danos a muitos.  Do mesmo modo quando se tenta arrancar da lavoura uma planta má, que tenha crescido ao lado de uma boa, cujas raízes tenham se entrelaçado à mesma. Ambas serão arrancadas ao se tentar tirar uma delas. Ainda que o cristão verdadeiro, que se escandalize com a retirada de um joio, não sofra qualquer prejuízo quanto à sua condição de ser cidadão do reino dos céus, no entanto, sofrerá algum tipo de dano na sua comunhão com a igreja na qual congregue.
Então devemos deixar Àquele que é o ceifeiro, o trabalho de fazer a separação do joio do trigo, quer neste mundo, quer quando por ocasião da Sua segunda vinda, quando dará ordens a Seus anjos para que façam tal separação definitivamente.


Parábolas Curtas – Mateus 13.44-52

A Parábola do Tesouro Escondido num Campo

“44 O reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido no campo, que um homem, ao descobri-lo, esconde; então, movido de alegria, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo.” (Mateus 13.44)

A Parábola da Pérola de Grande Valor

“45 Outrossim, o reino dos céus é semelhante a um negociante que buscava boas pérolas;
46 e encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha, e a comprou.” (Mateus 13.45,46)

A Parábola da Rede e dos Peixes

“47 Igualmente, o reino dos céus é semelhante a uma rede lançada ao mar, e que apanhou toda espécie de peixes.
48 E, quando cheia, puxaram-na para a praia; e, sentando-se, puseram os bons em cestos; os ruins, porém, lançaram fora.
49 Assim será no fim do mundo: sairão os anjos, e separarão os maus dentre os justos,
50 e lança-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá choro e ranger de dentes.
51 Entendestes todas estas coisas? Disseram-lhe eles: Entendemos.
52 E disse-lhes: Por isso, todo escriba que se fez discípulo do reino dos céus é semelhante a um homem, proprietário, que tira do seu tesouro coisas novas e velhas.” (Mateus 13.47-52)

Nós temos nestes versos, quatro parábolas curtas.

I – A do Tesouro Escondido num Campo

Até esta altura nosso Senhor tinha comparado o reino dos céus a coisas pequenas que cresceriam, e para que ninguém pensasse erroneamente que isto significava algum tipo de desvalor em si mesmo, Ele passou então a falar de coisas valiosas para se referir ao reino dos céus.
Tal é a grandeza e a importância vital do reino dos céus, que deveríamos nos despojar de tudo o que possuímos para que possamos adquirir este tesouro espiritual e de valor eterno, oculto aos olhos da carne.
Quando alguém descobre a riqueza que há em Cristo, deve se apressar em adquiri-lO, comprando a salvação sem dinheiro e sem preço (Is 55.1), porque este tesouro é adquirido inteiramente pela graça, pelo alto preço que o próprio Jesus pagou por nós em Sua morte na cruz.
É importante observar que a parábola destaca que o tesouro está escondido num campo.
E aquele que o descobre deve mantê-lo escondido em seu coração.
Isto não significa que não deverá compartilhá-lo com outros, mas que não deve fazê-lo até que o tenha adquirido de fato.
O campo é o evangelho.
Cristo está oculto na mensagem do evangelho.
Não podemos ter o tesouro que é Cristo, sem abraçar, adquirir o evangelho. Porque a fé vem pelo ouvir a pregação desta palavra que nos foi revelada desde os céus.
O ato de comprar o campo, ou seja, o evangelho, exigirá que renunciemos a tudo quanto temos e somos, para podermos ter verdadeiramente a Cristo.
As coisas do mundo terão que ser deixadas, porque de outro modo, não poderemos adquirir este tesouro de imenso e eterno valor.
Isto não significa que devemos sair do mundo, ou não usar nada que seja do mundo, mas que nada desta vida poderá estar em competição com Cristo, porque onde Ele impor alguma renúncia para que possamos ter mais dEle mesmo, será necessário fazê-lo, para que o nosso coração esteja somente neste tesouro do céu que nos foi dado gratuitamente, e não nos tesouros que são da terra.

II – A da Pérola de Grande Valor

Aqui o tesouro é comparado a uma pérola de imenso valor, que demandará, para ser adquirida, tudo o que possuímos, para que possa ser comprada.
O próprio Cristo é a Pérola de grande valor.
Não  podemos comprá-lo e nem mesmo a salvação que nEle está, com dinheiro ou com preço, mas não podemos adquiri-lO sem pagar o preço da consagração, da conversão, do arrependimento, da renúncia ao ego e ao mundo.
Estas coisas constituem o preço que devemos pagar, não a Cristo, nem a Deus, porque a salvação é de fato inteiramente pela graça. Não se trata de uma transação comercial, de um negócio. Mas de algo que se assemelha a um preço que devemos pagar. É a parte que se exige de nós, se desejarmos realmente a salvação que está em Cristo Jesus.
A salvação é pela graça, mas nosso Senhor nos mostra que devemos calcular o custo, ou seja, o que se exige de nós para alcançá-la.

III – A da Rede e dos Peixes

Aqui o mundo é comparado ao mar.
A humanidade em sua totalidade é representada na parábola como os peixes que vivem neste mar.
Há peixes que são bons para a alimentação e outros que são imprestáveis para tal fim.
Nosso Senhor mostra claramente que Deus rejeitará no dia do Juízo a todo peixe ruim, e recolherá em seu cesto da salvação, somente os peixes bons.
Estes, e somente estes serão livrados do mundo, não pertencerão mais ao mundo, mas, os ruins serão lançados de volta ao mundo de onde haviam sido retirados juntamente com os peixes bons. Eles serão entregues ao seu próprio meio, a saber, ao mundo de trevas.
A rede representa a mensagem do evangelho que é lançada ao mundo. E nesta rede vêm tanto os que se convertem a Cristo, quanto aqueles que permanecem sem a salvação, apesar de terem se permitido capturar pela mensagem do evangelho.
Todavia, Deus sabe quais são verdadeiramente os peixes bons, e rejeitará por fim estes que vieram na rede da pregação e ensino do evangelho, e que não se converteram de fato a Cristo.
Para arrematar seu ensino relativo ao reino dos céus, por meio de parábolas, nosso Senhor fez ainda uma comparação final do reino, àqueles que podem compreender estas coisas, tal como os discípulos as haviam compreendido (v. 51), e que portanto todos aqueles que examinassem as Escrituras, como os escribas faziam, mas que tivessem se convertido de fato, sendo verdadeiros discípulos de Cristo, seriam como um dono de um tesouro que pode tirar do mesmo tanto coisas novas quanto velhas (v. 52).
O sentido destas últimas palavras é que o entendimento de um antigo sermão ou ensino nos ajudará a entender  um novo, e isto é como um tesouro inextinguível, porque as Escrituras são infinitas e eternas.
As verdades e realidades relativas ao reino de Deus são reveladas aos cristãos fiéis, e estes podem entender por causa da graça de Cristo, estas coisas que lhes são reveladas.
Estes que podem aprender a palavra de Deus poderão ser como escribas que ensinarão a palavra a outros, porque este era o ofício de um verdadeiro escriba, tal como Esdras fora no passado.
Aqueles que instruirão a outros necessitam portanto serem instruídos eles próprios.
Os discípulos de nosso Senhor estavam buscando nEle tal instrução, e portanto, estariam sendo capacitados por Ele a instruírem a outros.


O Desprezo de Cristo por Seus Compatriotas – Mateus 13.53-58

“53 E Jesus, tendo concluído estas parábolas, se retirou dali.
54 E, chegando à sua terra, ensinava o povo na sinagoga, de modo que este se maravilhava e dizia: Donde lhe vem esta sabedoria, e estes poderes milagrosos?
55 Não é este o filho do carpinteiro? e não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão, e Judas?
56 E não estão entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe vem, pois, tudo isto?
57 E escandalizavam-se dele. Jesus, porém, lhes disse: Um profeta não fica sem honra senão na sua terra e na sua própria casa.
58 E não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles.” (Mateus 13.53-58)

Para comprovar o comportamento profetizado por Isaías em relação aos judeus sob a ministração do evangelho, que viam os milagres de Jesus e não entendiam; que ouviam o Seu ensino acerca do reino dos céus e não entendiam, Mateus registrou nesta passagem que os judeus da sinagoga da localidade em que Jesus residia, se maravilhavam com as coisas que ele ensinava e os milagres que realizava (v. 54), porém, como sabiam que era de origem humilde, sendo José, seu pai, um carpinteiro, e seus irmãos, filhos de Maria, chamados Tiago, José, Simão e Judas, também homens simples, bem como as irmãs de nosso Senhor que não são nomeadas por Mateus, escandalizavam-se nEle, ou seja, não Lhe deram a honra devida, crendo nEle como sendo o Messias.
Eles não O reconheceram como o Grande Profeta prometido desde Moisés, e não Lhe deram portanto, a honra de um profeta, e por este motivo não fez ali muitos milagres, em razão desta incredulidade.  
Lucas acrescenta outros detalhes em seu evangelho, relativos a esta ocasião, e nos informa que tal ocorreu quando Jesus leu na sinagoga de Nazaré, num sábado, as profecias a seu respeito no capítulo 61 de Isaías:
“16 Chegando a Nazaré, onde fora criado; entrou na sinagoga no dia de sábado, segundo o seu costume, e levantou-se para ler.
17 Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías; e abrindo-o, achou o lugar em que estava escrito:
18 O Espírito do Senhor está sobre mim, porquanto me ungiu para anunciar boas novas aos pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos, e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos,
19 e para proclamar o ano aceitável do Senhor.
20 E fechando o livro, devolveu-o ao assistente e sentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele.
21 Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta escritura aos vossos ouvidos.
22 E todos lhe davam testemunho, e se admiravam das palavras de graça que saíam da sua boca; e diziam: Este não é filho de José?
23 Disse-lhes Jesus: Sem dúvida me direis este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo; Tudo o que ouvimos teres feito em Cafarnaum, faze-o também aqui na tua terra.
24 E prosseguiu: Em verdade vos digo que nenhum profeta é aceito na sua terra.
25 Em verdade vos digo que muitas viúvas havia em Israel nos dias de Elias, quando céu se fechou por três anos e seis meses, de sorte que houve grande fome por toda a terra;
26 e a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a uma viúva em Serepta de Sidom.
27 Também muitos leprosos havia em Israel no tempo do profeta Elizeu, mas nenhum deles foi purificado senão Naamã, o sírio.
28 Todos os que estavam na sinagoga, ao ouvirem estas coisas, ficaram cheios de ira.
29 e, levantando-se, expulsaram-no da cidade e o levaram até o despenhadeiro do monte em que a sua cidade estava edificada, para dali o precipitarem.
30 Ele, porém, passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho.” (Lc 4.16-30).
Cristo continua sendo rejeitado ainda hoje por muitos em sua própria casa, que é a Igreja, porque tem falado também pela boca de pessoas iletradas, e operado milagres através de gente simples, sem formação acadêmica, tanto quanto Ele e seus primeiros discípulos.
Assim ficam escandalizados com o alimento espiritual com o qual deveriam ser nutridos.
E nosso Senhor é rejeitado e desprezado por eles, tanto quanto haviam feito os judeus da sinagoga de Nazaré.
O resultado é que isto entristece o Espírito Santo, e Ele se retira do meio de um tal povo, e passa a operar onde seja reconhecido e bem recebido.
Os fariseus e escribas andavam em finas vestes, eram finamente educados, e o povo de Israel se deixava impressionar pela aparência deles sem levar em conta se eram verdadeiramente pessoas piedosas, cheias do Espírito e da graça do Senhor.
Rejeitaram a Jesus porque fora criado por um carpinteiro. Todavia, que mal há nisto?
Mas os que buscam a glória deste mundo são facilmente enganados por suas mentes carnais e por Satanás, e rejeitarão a glória que procede de Deus, em vasos humildes de barro.
Muitos se enganam pensando que serão aprovados por Deus pelo simples fato de se colocarem debaixo da liderança de pessoas letradas e cultas.
Este foi o grande erro dos judeus em relação aos escribas e fariseus, que eram os religiosos notáveis da época, e este continua sendo o grande erro de muitos na Igreja de Cristo, que não fazem progresso espiritual, porque se colocam debaixo da autoridade de lobos em peles de ovelha, mas não uma pele comum, mas que reluz a glória das coisas deste mundo.
 Que mal há em ser culto segundo o mundo? Nenhum.
O problema está em colocar o coração simplesmente nisto, e confundi-lo como sendo a vontade expressa mesma de Deus para aqueles que se consideram Seus filhos, a saber, que eles estejam inchados de sabedoria secular e mundana.
Todavia, sua vontade não está concentrada nisto quanto à salvação, porque tudo que se refere a ela está baseado em realidades espirituais invisíveis, que não são deste mundo, mas que nos são reveladas dos céus.




Mateus 14

A Morte João Batista – Mateus 14.1-12

“1 Naquele tempo Herodes, o tetrarca, ouviu a fama de Jesus,
2 e disse aos seus cortesãos: Este é João, o Batista; ele ressuscitou dentre os mortos, e por isso estes poderes milagrosos operam nele.
3 Pois Herodes havia prendido a João, e, maniatando-o, o guardara no cárcere, por causa de Herodias, mulher de seu irmão Felipe;
4 porque João lhe dizia: Não te é lícito possuí-la.
5 E queria matá-lo, mas temia o povo; porque o tinham como profeta.
6 Festejando-se, porém, o dia natalício de Herodes, a filha de Herodias dançou no meio dos convivas, e agradou a Herodes,
7 pelo que este prometeu com juramento dar-lhe tudo o que pedisse.
8 E instigada por sua mãe, disse ela: Dá-me aqui num prato a cabeça de João, o Batista.
9 Entristeceu-se, então, o rei; mas, por causa do juramento, e dos que estavam à mesa com ele, ordenou que se lhe desse,
10 e mandou degolar a João no cárcere;
11 e a cabeça foi trazida num prato, e dada à jovem, e ela a levou para a sua mãe.
12 Então vieram os seus discípulos, levaram o corpo e o sepultaram; e foram anunciá-lo a Jesus.” (Mateus 14.1-12)

Quando Mateus escreveu esta narrativa, João, o  Batista, já havia sido morto por Herodes, e foi por isso que afirmou que Herodes teria dito, quando soube da fama de Jesus, que Ele seria João que havia ressuscitado dentre os mortos, tendo agora o poder de também operar milagres.
Apesar de errado em sua teologia, aquele rei tinha reconhecido que João era alguém que ministrava em verdade da parte de Deus, sendo um profeta, e ainda assim, pelo seu endurecimento no pecado, consentiu com que fosse decapitado a pedido da filha da mulher de seu irmão, com a qual vivia em adultério, a qual lhe fizera tal pedido por sugestão da sua mãe, que odiava a João por ter protestado contra o pecado de adultério dela e de Herodes.
Nós vemos no relato paralelo do evangelho de Marcos qual era a atitude que Herodes tinha para com João:
“porque Herodes temia a João, sabendo que era varão justo e santo, e o guardava em segurança; e, ao ouvi-lo, ficava muito perplexo, contudo de boa mente o escutava.” (Marcos 6.20)
Ele temia a João, e estava com medo que tivesse ressuscitado dos mortos para atormentar ainda mais a sua alma cheia de pecados não perdoados.
Tal como o rei Acabe que se deixava conduzir por Jezabel, Herodes também era fraco de caráter e se deixava conduzir por Herodias.
Não por consentimento de Deus, mas por Sua permissão divina, deixou que João fosse martirizado de tal modo, porque importava que ele saísse de cena, para que somente Jesus fosse seguido.
O próprio João havia reconhecido que, em Seu ministério, convinha que ele desaparecesse para que somente a fama de Jesus crescesse, não no sentido da glória deste mundo, mas da honra que deveria ser dada exclusivamente ao Seu nome, porque com isto Deus estava dando uma mensagem a todos os homens que não é João que deve ser seguido, mas o Seu Filho unigênito.


Cinco Mil Alimentados – Mateus 14.13-21

“13 Jesus, ouvindo isto, retirou-se dali num barco, para um, lugar deserto, à parte; e quando as multidões o souberam, seguiram-no a pé desde as cidades.
14 E ele, ao desembarcar, viu uma grande multidão; e, compadecendo-se dela, curou os seus enfermos.
15 Chegada a tarde, aproximaram-se dele os discípulos, dizendo: O lugar é deserto, e a hora é já passada; despede as multidões, para que vão às aldeias, e comprem o que comer.
16 Jesus, porém, lhes disse: Não precisam ir embora; dai-lhes vós de comer.
17 Então eles lhe disseram: Não temos aqui senão cinco pães e dois peixes.
18 E ele disse: trazei-mos aqui.
19 Tendo mandado às multidões que se reclinassem sobre a relva, tomou os cinco pães e os dois peixes e, erguendo os olhos ao céu, os abençoou; e partindo os pães, deu-os aos discípulos, e os discípulos às multidões.
20 Todos comeram e se fartaram; e dos pedaços que sobejaram levantaram doze cestos cheios.
21 Ora, os que comeram foram cerca de cinco mil homens, além de mulheres e crianças.” (Mateus 14.13-21)

Quando chegou ao conhecimento de nosso Senhor, que João havia morrido, Ele se retirou da localidade sob a jurisdição de Herodes, na Galileia, onde Ele se encontrava, para o deserto, porque possivelmente Herodes tentaria matá-lo porque pensava que era João que havia ressuscitado para se vingar dele.
 Devemos aprender do exemplo de nosso Senhor, que caso não sejamos chamados para nos expor a perigos, pela vontade de Deus, devemos fugir para a nossa própria segurança.
Ao atravessar por mar, para o lado oriental do Jordão, foi seguido por uma numerosa multidão, que vinha ter com ele, de todas as partes, da qual Ele curou os seus enfermos.
Quando Cristo, que é a nossa arca da aliança, se mover, é nosso dever nos movermos juntamente com Ele.
O Senhor não somente se compadecerá daqueles que O seguirem, como agirá para prover as necessidades prementes deles, enquanto Lhe estiverem seguindo, e caso não lhes seja possível obterem os recursos necessários, senão da Sua mão milagrosa.
Foi exatamente isto o que ocorreu com esta multidão que Lhe seguiu.
Tal como os discípulos daqueles dias, é comum ocorrer com os de todas as épocas, especialmente com os  Seus ministros, a mesma atitude que se manifestou nos discípulos do passado, quando viram a grande necessidade que estava diante deles, ou seja, que toda aquela multidão necessitava se alimentada.
Eles pensaram em despedi-los para resolverem aquele problema, e é geralmente o que somos tentados a fazer, mas a misericórdia e a graça do Senhor, podem nos dissuadir de nossas intenções e nos levar a agir em favor dos que se encontram em necessidades, que não podemos solucionar com o nosso próprio poder e capacidade.
Foi esta lição que o Senhor deu aos Seus discípulos quando lhes disse que não necessitavam despedir a multidão, mas que eles próprios deveriam dar-lhes de comer.
Realmente não foram eles que multiplicaram os cinco pães e dois peixes para alimentar aqueles cerca de cinco mil homens, além de mulheres e crianças, mas nosso Senhor, todavia, foram eles que tiveram que agir como garçons para distribuir os pães e peixes, à medida que se multiplicavam nos cestos.
Todos comeram e se fartaram, e do que sobrou foram ainda enchidos doze cestos.
É importante comentar que aquelas pessoas não teriam onde se alimentar, porque a tarde havia caído, e se encontravam no deserto.
Além disso, não teriam como prover a necessidade delas de alimento.
Então, excepcionalmente, nosso Senhor realizou este milagre da multiplicação dos pães e peixes, porque se estivessem em condições de proverem para si, o próprio alimento deles, Ele não teria feito tal milagre.
Deus nunca nos incentivará a qualquer tipo de ócio.
Ele sempre abençoará o trabalho com o suor do rosto para se obter o pão, porque foi o modo determinado por Ele para a nossa subsistência.
 Tanto isto é verdadeiro, que nós vemos que nosso Senhor viria a repreender as pessoas desta multidão que lhe haviam seguido, porque queriam fazê-lo rei, provavelmente com o propósito em vista de não necessitarem mais trabalhar para se alimentarem, porque pensavam que Jesus sempre agiria como o médico não remunerado deles, bem como o provedor das suas necessidades de alimentação, sem que necessitassem trabalhar (vide João 6).


Jesus Anda Sobre o Mar – Mateus 14.22-33

“22 Logo em seguida obrigou os seus discípulos a entrar no barco, e passar adiante dele para o outro lado, enquanto ele despedia as multidões.
23 Tendo-as despedido, subiu ao monte para orar à parte. Ao anoitecer, estava ali sozinho.
24 Entrementes, o barco já estava a muitos estádios da terra, açoitado pelas ondas; porque o vento era contrário.
25 À quarta vigília da noite, foi Jesus ter com eles, andando sobre o mar.
26 Os discípulos, porém, ao vê-lo andando sobre o mar, assustaram-se e disseram: É um fantasma. E gritaram de medo.
27 Jesus, porém, imediatamente lhes falou, dizendo: Tende ânimo; sou eu; não temais.
28 Respondeu-lhe Pedro: Senhor! se és tu, manda-me ir ter contigo sobre as águas.
29 Disse-lhe ele: Vem. Pedro, descendo do barco, e andando sobre as águas, foi ao encontro de Jesus.
30 Mas, sentindo o vento, teve medo; e, começando a submergir, clamou: Senhor, salva-me.
31 Imediatamente estendeu Jesus a mão, segurou-o, e disse-lhe: Homem de pouca fé, por que duvidaste?
32 E logo que subiram para o barco, o vento cessou.
33 Então os que estavam no barco adoraram-no, dizendo: Verdadeiramente tu és Filho de Deus.” (Mateus 14.22-33)

Nosso Senhor não ensinou Seus discípulos somente com palavras.
Ele lhes ensinou sobretudo a aumentarem a Sua fé nEle, através das tribulações, que permitiu que tivessem, como esta que lemos nesta narrativa, da tempestade que lhes sobreveio no mar, quando atendendo à ordem do Senhor, estavam atravessando para o outro lado do mar da Galileia, na direção da cidade de Genesaré.
As ondas batiam fortemente contra o pequeno barco dos discípulos, e o vento lhes era contrário, ou seja, soprava na direção contrária à que eles pretendiam seguir.
John Knox, o reformador suíço, quando quis se referir às perseguições que a Igreja estava sofrendo em seus dias, utilizou-se desta ilustração das tempestades espirituais que atingem o pequeno barco da Igreja, enquanto esta atua no mar da humanidade para cumprir a missão que lhe fora dada por Cristo.
São suas palavras:
“A tribulação geralmente segue aquela igreja onde Cristo Jesus verdadeiramente é pregado.
A palavra que nós professamos, clama diariamente em nossos ouvidos: que nosso reino, nossa alegria, nosso descanso e alegria nunca estiveram, estão, nem estarão na terra (Jo 18.36), nem em qualquer coisa transitória daqui, mas no céu, no qual nós temos que entrar por muitas tribulações (Atos 14.22).
No evangelho de Mt 8.23-27 é relatada uma grande tormenta, que se lançou contra o barco em que os discípulos de Cristo se encontravam lutando contra a tempestade: mas isso foi à luz do dia, e então, tinham Cristo com eles no barco a quem pediram ajuda (porque  naquele momento ele dormia no barco), e assim, foram livrados rapidamente do seu temor súbito. Mas agora estavam no meio do mar furioso, e era noite, e Cristo o seu Consolador, estava ausente, e não lhes veio, nem na primeira, segunda, nem terceira hora. Que medo, você imagina que estavam então sentindo? E que pensamentos surgiram dos seus corações tão preocupados durante aquela tempestade? Como este dia em que grande perigo entrou no reino da Inglaterra, fazendo uma tão grande tempestade, que minha caneta possa expressar. Mas de uma coisa eu estou bem seguro, que a presença de Cristo se fará presente nesta grande perplexidade, como foi confortável aos apóstolos, e sendo ainda maior do que fora dantes.
Considere, amado no Senhor, que do que lemos dos discípulos de Cristo e do pobre barco deles, e você perceberá que a mesma coisa se aplica à verdadeira igreja e congregação de Cristo (que nada mais é nesta vida miserável do que um barco pobre), viajando nos mares deste mundo instável e problemático, para o porto divino, o porto da felicidade eterna, que Cristo preparou para os Seus eleitos.
O mesmo ocorre agora, querido amado, com a Igreja aflita de Deus no reino da Inglaterra. A toda a hora a verdadeira Palavra de Deus sofre contradição e repugnância. E assim o vento tem soprado contra nós, até mesmo desde o princípio do recente espalhar do evangelho na Inglaterra. Mas a nossa viagem não pôde ser parada, apesar de ultimamente, ventos furiosos estarem soprando nos mares instáveis, nos quais nos encontramos nesta hora em meio à escuridão.
Devo escrever claramente a vocês, irmãos amados, que este vento que sempre soprou contra a Igreja de Deus, é a malícia e ódio do diabo, que justamente, neste caso, é comparado ao vento.
Porque como o vento é invisível, e ainda os discípulos pobres sentem que aborrece e bate contra o barco deles; assim é a pestilenta inveja do diabo, enquanto sempre trabalhando nos corações dos ímpios, tão sutil e astuciosamente, que não pode ser visto pelos eleitos de Deus, mas eles sentem as primeiras explosões do vento que sopra sobre o seu barco, empurrando-o para trás.
Inglaterra, você tem experiência manifesta disso; porque, no tempo do Rei Henrique VIII, pelo vento veemente de seis artigos sangrentos (inventados pelo diabo), pretendia subverter o barco pobre e os discípulos de Cristo. Entretanto nós tivemos Jesus Cristo conosco dormindo no barco e Ele não menosprezou o clamor fiel dos que estavam  então em dificuldade; mas pelo Seu poder poderoso, bondade, graça, e força invencível da Sua santa Palavra, Ele compeliu esses ventos maus a cessarem, e a fúria desses mares a ser acalmada.
A terceira hora ainda não terminou; lembre que Cristo veio aos discípulos à quarta hora, e eles não se achavam em nenhum menor perigo do que aquele em que você se encontra agora; porque a fé deles desfaleceu, e os seus corpos estavam correndo perigo de vida. Mas Jesus veio quando não O  esperavam; e assim Ele fará com você caso permaneça na profissão de fé que você fez. Isto eu ouso ser corajoso em prometer, no nome dEle, de quem você ouviu e recebeu a verdade eterna e o evangelho glorioso; que põe também em meu coração uma sede sincera (Deus sabe que eu não minto) da sua salvação, e um pouco de cuidado também pela saúde e integridade dos seus corpos.
Há muitos exemplos na Bíblia que mostram de modo muito evidente, que quanto mais a salvação e libertação se aproximam, mais veemente é a tentação e a dificuldade.
Isto que eu escrevo para lhes prevenir, que embora vocês vejam a  tribulação abundar ainda mais, e que nada aparecerá senão miséria extrema, sem qualquer esperança de conforto; contudo você não deve apostatar de Deus. E que embora às vezes você seja movido a odiar os mensageiros de vida, e que por isso você julgará que Deus nunca mostrará misericórdia depois, queridos irmãos, como ele ajudou outros antes de você, assim ele fará o mesmo por você.
Deus fará a tribulação e a dor abundarem, que nenhum tipo de conforto será visto no homem, porque a intenção do Senhor é que quando o livramento vier, a glória possa ser somente dEle, porque é o único que pode pacificar as tempestades mais veementes.
 Ergam seus ouvidos, queridos irmãos, e deixem seus corações entenderem, que como nosso Deus é imutável, assim a mão graciosa dEle não está encurtada neste dia. Nosso medo e dificuldade são grandes; a tempestade que sopra contra nós é dolorosa e veemente; e  parecemos estar submergidos no fundo. Mas se nós conhecermos o perigo, pediremos libertação, porque a mão do Senhor está mais próxima que a espada de nossos inimigos.
Embora Pedro desfalecesse na fé, e então fosse nitidamente merecedor de ser reprovado, contudo Cristo não deixou que ele afundasse no mar, nem permitiu que a tempestade continuasse. Mas primeiro, ambos entraram no barco, e depois disso, o vento cessou, e o barco chegou sem maior demora ao seu lugar de destino.
Ó abençoados e felizes são aqueles que aguardam pacientemente este livramento do Senhor. O mar furioso não os devorará. Embora eles desfaleçam, contudo Cristo não lhes deixará para trás no mar tempestuoso, mas repentinamente estirará o Seu braço poderoso, e colocará seu discípulo no barco entre os irmãos dele; isto é, Ele administrará o número dos eleitos e Sua igreja aflita, com quem ele continuará até ao fim do mundo (Mt 28.20).
A majestade da Sua presença silenciará este vento tumultuoso, a malícia e a  inveja do diabo, que chega até os corações de príncipes, prelados, reis, e de tiranos terrestres que se levantam contra Deus e o Seu Ungido, Jesus Cristo (Sl 2), mas Ele conduzirá o Seu rebanho extremamente atacado, à vida e ao descanso pelos quais eles trabalham.
Embora, às vezes eles desfaleçam na sua viagem, embora aquela fraqueza de fé lhes permite afundarem, contudo não poderão ser tirados da mão de Cristo, e Ele não os deixará se afogarem. Mas para a glória do Seu próprio nome, Ele tem que livrá-los, porque foram entregues pelo Pai ao Seu cuidado e proteção (Jo 10); e então Ele os manterá e defenderá do pecado, da morte, do diabo e do inferno.
Deus tem mil meios pelos quais Ele livrará, apoiará e confortará a Sua Igreja aflita.
Então, querido amado em Jesus Cristo, considerando que nós entramos nesta viagem por ordem de Cristo, considerando que nós sentimos que o mar será contrário a nós (como antes foi profetizado a nós), e que veremos a mesma ira de tempestade contra nós, e também sentindo que estamos prontos a desfalecer, e ser oprimidos por estes mares tempestuosos; prostremo-nos diante do trono da graça, na presença de nosso Pai divino, e na tristeza de nossos corações, confessemos nossas ofensas; e por causa de Jesus, deixe-nos buscar depois a libertação e misericórdia, enquanto dizemos, com soluços e gemidos de nossos corações preocupados:
“Ó Senhor!  Tua sabes que nós somos de carne, e que não temos nenhum poder de nós mesmos para resistir à tirania deles; e então, Ó Pai, abra os olhos da Tua misericórdia sobre nós, e confirma o Teu trabalho em nós, que a Tua própria misericórdia começou. Nós reconhecemos e confessamos, Ó Deus, que somos castigados justamente, porque  consideramos o tempo de nossa visitação misericordiosa muito superficialmente. Teu bendito evangelho estava em nossos ouvidos como a canção de um amante, enquanto nos agradando durante um tempo; mas ai! Nossas vidas não fizeram nada de acordo com os teus estatutos e mandamentos santos. E assim, reconhecemos que nossas iniquidades compeliram a Tua justiça para levar a luz da Tua Palavra a todo o reino da Inglaterra. Mas Tu estás atento, Ó Deus, que é verdade que os teus inimigos blasfemam o teu santo nome, e nossa profissão, sem nenhuma causa. Teu evangelho santo é chamado de heresia, e nós somos acusados como traidores por professá-lo. Então, seja misericordioso Ó Deus! E seja a nossa salvação neste tempo da nossa angústia (Is 33). Embora nossos pecados nos acusem e nos condenem, contudo faça de acordo com o Teu próprio nome. Nossos pecados e transgressões são sem número; e ainda Tu estás no meio de nós. Ó Deus! Embora os tiranos sujeitem nossos corpos com regras, contudo nossas almas têm sede do conforto da Tua Palavra (Jer 4).        
Assim queridos amados, vigiem, orem, resistam ao diabo, remem contra esta tempestade violenta, e brevemente o Senhor trará conforto aos seus corações que agora estão oprimidos com angústia e cuidado. E com alegria vocês dirão: Vejam, este é nosso Deus, nós esperamos nEle, e Ele nos salvou. Este é nosso Deus; nós tivemos muito tempo sede pela vinda dEle, e agora devemos nos alegrar na sua salvação (Is 26). Assim seja. O grande Bispo de nossas almas, Jesus nosso Senhor, assim fortalece e ajuda seus corações preocupados com o conforto poderoso do Espírito Santo, que nenhum tirano terreno, nem tormentos mundanos têm poder para exterminar a esperança daquele reino que está preparado para os eleitos desde a fundação do mundo por nosso Pai divino, a quem seja todo o louvor e honra, agora e para sempre. Amém.
Lembrem-se de mim, queridos irmãos, em suas orações diárias. A graça de nosso Senhor Jesus seja com todos vocês. Amém.”
Não conheço palavras melhores do que estas de John Knox para comentar esta passagem, as quais traduzimos, reduzimos e adaptamos de um longo texto que foi escrito pelo reformador suíço.


Jesus em Genesaré – Mateus 14.34-36

“34 Ora, terminada a travessia, chegaram à terra em Genesaré.
35 Quando os homens daquele lugar o reconheceram, mandaram avisar toda aquela circunvizinhança, e trouxeram-lhe todos os enfermos;
36 e rogaram-lhe que apenas os deixasse tocar a orla do seu manto; e todos os que a tocaram ficaram curados.” (Mateus 14.34-36)

Depois de ter vindo andando sobre o mar na direção do barco em que se encontravam os discípulos, e de ter feito cessar o vento que lhes era contrário, nosso Senhor chegou com eles ao ponto de destino: a terra de Genesaré.
Os habitantes daquela região o reconheceram e logo se apressaram em avisar a toda a circunvizinhança, para que Lhe trouxessem todos os enfermos, e Lhe rogaram que lhes deixasse tocar a orla do seu manto, e tendo nosso Senhor consentido com o pedido deles, todos os que a tocaram ficaram curados.
Não sabemos quantos destes que tiveram fé para serem curados em seus corpos, tiveram a fé que salva, porque é importante afirmar que depois dos três anos do Seu ministério terreno, apenas cerca de 120 discípulos haviam perseverado em seguir ao Senhor, conforme registro que lemos no livro de Atos.
Nós vemos que muitos podem ser beneficiados pelo evangelho, pela ação dos ministros do Senhor, e no entanto não alcançarem a salvação de suas almas.
Por isso, importa que não busquemos apenas ao Senhor para a solução de nossas necessidades naturais, materiais, seculares, mas sobretudo para a salvação de nossas almas.
É uma lástima procurar Aquele que pode nos curar se apenas tocarmos na orla da Sua veste e não o tocarmos com o arrependimento e a fé de obediência à Sua vontade para que sejamos salvos, porque tudo Lhe é possível, e não se negará a salvar a qualquer que se arrependa de seus pecados, e creia nEle como Salvador e Senhor de sua vida.





Mateus 15

O Que Contamina é o que Sai do Coração – Mateus 15.1-20

“1 Então chegaram a Jesus uns fariseus e escribas vindos de Jerusalém, e lhe perguntaram:
2 Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? pois não lavam as mãos, quando comem.
3 Ele, porém, respondendo, disse-lhes: E vós, por que transgredis o mandamento de Deus por causa da vossa tradição?
4 Pois Deus ordenou: Honra a teu pai e a tua mãe; e, Quem maldisser a seu pai ou a sua mãe, certamente morrerá.
5 Mas vós dizeis: Qualquer que disser a seu pai ou a sua mãe: O que poderias aproveitar de mim é oferta ao Senhor; esse de modo algum terá de honrar a seu pai.
6 E assim por causa da vossa tradição invalidastes a palavra de Deus.
7 Hipócritas! bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo:
8 Este povo honra-me com os lábios; o seu coração, porém, está longe de mim.
9 Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homem.
10 E, clamando a si a multidão, disse-lhes: Ouvi, e entendei:
11 Não é o que entra pela boca que contamina o homem; mas o que sai da boca, isso é o que o contamina.
12 Então os discípulos, aproximando-se dele, perguntaram-lhe: Sabes que os fariseus, ouvindo essas palavras, se escandalizaram?
13 Respondeu-lhes ele: Toda planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada.
14 Deixai-os; são guias cegos; ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão no barranco.
15 E Pedro, tomando a palavra, disse-lhe: Explica-nos essa parábola.
16 Respondeu Jesus: Estai vós também ainda sem entender?
17 Não compreendeis que tudo o que entra pela boca desce pelo ventre, e é lançado fora?
18 Mas o que sai da boca procede do coração; e é isso o que contamina o homem.
19 Porque do coração procedem os maus pensamentos, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.
20 São estas as coisas que contaminam o homem; mas o comer sem lavar as mãos, isso não o contamina.” (Mateus 15.1-20)

Nós temos aqui o registro do confronto havido entre Jesus e os escribas e fariseus que vieram de Jerusalém ter com Ele, quando ainda se encontrava na Galileia.
Esperava-se que estes de Jerusalém, onde se situava o templo e a grande concentração de sacerdotes, escribas, fariseus e saduceus, fossem mais esclarecidos quanto à lei, do que  os poucos religiosos da região da Galileia, mas eles se revelaram ainda mais cegos do que estes.
Quem se permitiria ser guiado por um cego? Não seriam somente aqueles que são também cegos e que não sabem que o que lhes dirige é tão cego quanto eles?
Este era o caso do povo judeu sendo conduzido pelos sacerdotes, escribas e fariseus dos dias de Jesus.
E quando há este consentimento e desejo de permanecer na cegueira; em justificar a cegueira, e este ajuste mútuo entre os que guiam e os que são guiados, qual é posição de nosso Senhor em relação a isto?
Eles devem ser deixados seguindo o seu caminho até que venham a cair no abismo espiritual eterno que os aguarda, conforme nosso Senhor disse aos Seus discípulos no verso 14.
Quando se fecha os olhos para a verdade, e nos conduzimos pelas tradições de homens, e defendemos estas tradições, contra a verdade revelada de Deus e a Sua vontade, como estão exatamente registradas na Bíblia, ficamos expostos a este perigo de sermos cegos que estão a caminho da condenação, seja como guias, seja como aqueles que são guiados.
Os escribas e fariseus não somente invalidavam a Palavra de Deus com a tradição deles, como também descumpriam os Seus mandamentos, como o citado por Jesus de se honrar os pais, a pretexto de serem cumpridas as tradições que eles acrescentaram à Lei.
Não importava se determinados mandamentos da Lei fossem descumpridos, desde que a tradição deles fosse observada.
Por isso justificavam as pessoas que não cuidavam de seus pais, desde que os recursos que deveriam ser usados para a provisão deles fosse consagrado como oferta no templo; uma vez que os líderes religiosos viviam de tais ofertas.
Eles estavam tão somente preocupados com o cumprimento dos ritos e cerimônias que haviam acrescentado à Lei, como este mandamento religioso criado por eles de se lavar as mãos toda vez que se fosse comer alguma coisa, para que não fossem contaminados religiosamente por alguma impureza que houvesse nas mãos.
Não faziam isto por motivos sanitários, mas religiosos, e por isso foram repreendidos por nosso Senhor.
Então Ele se apressou em aplicar o ensino de que nada do que comemos pode nos contaminar diante de Deus, e muito menos pelo fato de termos lavado ou não nossas mãos, porque não há nenhum pecado nisto; mas sim com as coisas invisíveis que saem de nós e que são manifestações do pecado, como os exemplos que nosso Senhor citou: “maus pensamentos, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.”
Tudo isto procede do coração, do interior, mas os escribas e fariseus não podiam enxergar isto porque se preocupavam somente com o que era exterior; uma vez que caso dessem ênfase ao estado interior do coração, a condição pecaminosa deles seria revelada, e isto não era obviamente, do interesse deles, porque tinham fama junto ao povo, de serem homens santos, que conheciam a Lei, e nem sequer isto eles conheciam de fato, como convinha, e também enganavam o povo quanto a este falso conhecimento que eles possuíam da Lei.
Por isso seriam arrancados por Deus, porque eram plantas que não haviam sido plantadas por Ele.
Não somente as opiniões corrompidas e práticas supersticiosas dos fariseus, mas a própria seita deles, estavam destinadas a desaparecer, segundo esta palavra proferida por nosso Senhor, e desde há muitos séculos tal palavra  teve cumprimento.
A lavoura de Deus neste mundo é constituída somente por aqueles que se encontram na Igreja de Cristo. Todas as demais plantas serão cortadas e queimadas no dia do Juízo.



A mulher Cananéia (Paralelo: Mc 7.24-30)

“21 Ora, partindo Jesus dali, retirou-se para as regiões de Tiro e Sidom.
22 E eis que uma mulher cananéia, provinda daquelas cercania, clamava, dizendo: Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de mim, que minha filha está horrivelmente endemoninhada.
23 Contudo ele não lhe respondeu palavra. Chegando-se, pois, a ele os seus discípulos, rogavam-lhe, dizendo: Despede-a, porque vem clamando atrás de nós.
24 Respondeu-lhes ele: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel.
25 Então veio ela e, adorando-o, disse: Senhor, socorre-me.
26 Ele, porém, respondeu: Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos.
27 Ao que ela disse: Sim, Senhor, mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos.
28 Então respondeu Jesus, e disse-lhe: ó mulher, grande é a tua fé! seja-te feito como queres. E desde aquela hora sua filha ficou sã.”

Nós comentaremos esta passagem com a transcrição a seguir de um sermão de Spurgeon (adaptado):

“A história desta mulher cananita é plena de significado e há muitas preciosas lições que podem ser aprendidas através dela. Mas pretendemos enfocá-la com um único objetivo, a saber, o de encorajar aqueles que têm fé suficiente para buscar a Jesus, mas não têm contudo o bastante, para a sua alegria e paz, para encontrá-lO.
 Esta mulher disse uma palavra que nos deixa admirados, pois quando Cristo a comparou a um cachorro, ela consentiu nisto, e disse: “Sim, Senhor, porém os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos.”. E diante destas palavras Jesus curou a sua filha e lhe disse as palavras do nosso texto. É o modo do Senhor, às vezes, nos fazer esperar até que estejamos completamente exaustos, e não podemos fazer nada mais; então ele entra com a plenitude do seu poder divino, e nos dá o que nós temos importunamente buscado em Suas mãos. Nossa necessidade extrema é a Sua oportunidade.
 I. Consideremos primeiro que SOMENTE A FÉ PODE GUARDAR A ALMA QUE BUSCA A CRISTO SOB O DESÂNIMO. Outras causas podem nos enviar a uma certa distância ao longo da estrada, mas somente a fé poderá nos levar ao alvo desejado do descanso seguro.
 O que esta mulher fez foi buscar o Salvador, em primeiro lugar, em razão do amor maternal. Ela amava a Sua filha. Ela desejava que a casta de demônios fosse expulsa dela. Foi o amor natural que a conduziu a buscar a bênção; mas ela teria parado com a falta do benefício que ela desejava, pela reação inicial de Jesus, se ela tivesse confiado somente no amor natural.
 Ela vinha clamando a Jesus: “Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de mim! minha filha está horrivelmente endemoninhada.”. Mas Jesus não lhe respondeu palavra, e os seus discípulos rogavam a ele que a despedisse, porque vinha clamando atrás deles. Se eles ficaram incomodados é porque a voz dela devia ser forte, estridente e comovente. Ela não podia suportar o fato de ser recusada. A oração dela saltou, incandescente, da sua alma: "tem misericórdia de mim, Senhor, Filho de Davi.”. Mas a sinceridade dela somente não a teria apoiado sob a provação que ela foi chamada a passar. Ela teria contribuído para que ela tivesse a convicção em crer que  Cristo poderia curar a sua filha, e que ele o faria.
A humildade dela também a ajudou grandemente. Se ela fosse uma mulher orgulhosa, ela teria se levantado na indignação quando foi chamada de cachorro; mas a humildade veio em sua ajuda, e ela não se ressentiu com a palavra severa que o Senhor usou. Agora, o amor maternal, a sinceridade e a humildade são coisas boas, mas elas não são o bastante para permitir que uma alma se agarre a Cristo, e não o deixe ir. Algo  mais é preciso.
 Esta mulher cananita era uma mulher muito sensata, sábia e prudente. Ela soube reverter as duras palavras de Cristo em argumentos em seu próprio favor. Ela não bateria em retirada. Se ele não lhe tivesse respondido, ela teria suplicado novamente a ele. Quando ele lhe respondeu, e disse que não era bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos, ela achou até mesmo naquele osso seco alguma pequena medula com a qual alimentar o seu coração. Mas sendo prudente como era, ela não teria obtido a bênção que ela desejou para a sua filha, se não tivesse sido pela sua fé. Quando Jesus lhe dirigiu a palavra pela primeira vez, antes de comparar a sua gente a cachorros, ele lhe disse: “Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel.”. E o que foi que ela fez? Ela se aproximou e o adorou, dizendo: “Senhor, socorre-me!”.
Certamente a sua adoração de Jesus fortaleceu a sua fé nEle. E nós podemos estar bastante seguros de uma coisa especialmente notável no caso desta mulher, é a fé dela, primeiro, porque nós temos a palavra de Cristo para isto. Ele disse a ela: “Ó mulher, grande é a tua fé!”. Ele não disse, grande é o teu amor pela sua filha; grande é a tua sinceridade, nem mesmo grande é a tua importunidade. E não somente neste caso Jesus destacou a fé como a causa da bênção. Em quase todos os exemplos onde um suplicante obteve o Seu favor, ele destacou a fé como o meio que alcançou a misericórdia. A fé é mais poderosa do que todas as outras forças disponíveis.
Certamente Jesus colocou a fé daquela mulher à prova para que isto ficasse registrado na Bíblia para todas as gerações como o exemplo de uma grande fé. É pela fé que somos justificados. O justo viverá pela fé. É principalmente por isto que Jesus deu grande honra à fé. Ele chegou até mesmo a destacar o valor da fé para salvar e para curar, entre aqueles que não eram de Israel, como foi o caso do centurião romano, por cuja fé seu servo foi curado (Mt 8.5-13). E buscou até exemplos de fé fora da comunidade de Israel no passado, quando Deus abençoou a viúva de Sarepta de Sidom, e o general siro Naamã (Lc 4.26,27). A forma como atendeu portanto a mulher cananita nada tinha a ver com racismo, como alguém poderia indevidamente entender.  Pois o amor de Deus revelado em Cristo ultrapassa todas as barreiras que separam os homens, sejam elas de qual natureza for, porque Ele veio para os pecadores de todas as condições, para comprá-los para Deus e que procedem de toda tribo, língua, povo e nação.
Os homens em todas as partes do mundo jazem no maligno, e somente podem ser resgatados para a vida e a luz de Deus por meio do sangue de Cristo. Ninguém se iluda pensando que há nações justas diante de Deus. Que há reinos, soberanias, governos neste mundo que possam ser considerados como o reino de Deus estabelecido na terra, porque o reino de Jesus não é deste mundo. O mundo será desfeito e as obras que nele existem em razão do pecado que nele está, e da maldição de Deus sobre a terra desde que o pecado entrou no mundo. Somente em Cristo o pecador pode ser livrado da maldição e ser designado para reinar juntamente com Cristo em Seu reino que há de se levantar no futuro. Assim, a mensagem do evangelho é para todos os homens de qualquer condição, para que se arrependam e creiam no Filho de Deus, para que possam ser resgatados deste mundo tenebroso.  
A narrativa entre Cristo e a mulher cananita não pode ser portanto considerada como uma questão entre judeus e gentios, porque em Cristo se rompeu a barreira que havia entre ambos. O que está em foco, é portanto, uma lição de fé para as pessoas que são aproximadas do Senhor através dos problemas reais que têm em suas vidas.
Nós sabemos que a fé apóia as outras graças. Se outras graças puderem ajudar uma alma a suplicar a Cristo, todas elas devem o seu poder à fé. Se isto não tivesse sido pela  fé que ela teve para apoiá-la, o amor maternal não teria ajudado muito esta mulher. Se não tivesse sido pela fé, ela não teria sido sincera e importuna. A fé se agarra a Cristo na escuridão, segura a um Cristo silencioso, segura a um Cristo recusador, segura a um Cristo reprovador, e não o deixará ir. A fé é a grande garra que engancha uma alma no Salvador.
A fé é assim poderosa por causa de seus efeitos. A fé ilumina, estimula e fortalece. Isto está escrito sobre alguns do antigos, que “eles olharam para ele, e foram iluminados.”. A fé derramou luz sobre muitas coisas, e nos deixa ver até mesmo que se  Cristo tiver uma carranca na Sua face, ele tem amor no Seu coração. O olhar correto da fé no coração de Cristo, nos ajuda a perceber que ele não pode querer dizer qualquer outra  coisa mas misericórdia, a uma alma que o busca. A fé também estimula, e quando o coração começar a desfalecer, a fé traz a sua ação curativa que nos reaviva. Davi disse: "eu teria desfalecido, se eu não tivesse crido.". Crer é a cura para o desfalecimento, e você tem que fazer uma de duas coisas, ou crer, ou desfalecer. A fé é assim uma grande ajuda para quem  está buscando a Cristo, porque ilumina e estimula a alma. A fé também fortalece.
Além disso, a fé se sujeita a Cristo. É como o discípulo dedicado que se agarra ao seu mestre e que se aplica para aprender tudo quanto deve com ele.
 Mais adiante, eu diria que a fé faz o seu melhor sem ajuda. Com que freqüência nós tentamos ajudar a fé! Nós procuramos conseguir a  fé fazendo algumas obras, algumas orações, ou alguma outra coisa de nossa própria ajuda. É como se alguém  tentasse me ajudar a caminhar me dando uma grande cadeira para carregar. Eu não poderia caminhar tão bem com o fardo, quanto poderia sem ele. Você alguma vez ouviu esta parábola relativa à fé? Ela tinha que cruzar um rio, e a correnteza era forte, e veio uma pessoa a ela e disse, " fé, eu te ajudarei! Venha comigo procurar um ponto acima do rio onde você possa passar a pé.”. A fé disse: "não é preciso; eu atravessarei o rio aqui mesmo.". Assim veio outro, e disse: "eu construirei uma ponte para você, para que possa cruzar o rio com facilidade.”. Ainda outro disse: "eu procurarei um barco." Mas não havia nenhum barco próximo; então eles pediram para a fé esperar até que eles construíssem um barco para ela. O que  ela fez? Ela mergulhou na água. "Obrigado Deus", disse ela, "eu posso nadar"; e assim ela nadou e alcançou o outro lado sem barco, sem ponte, e sem vau. Isso é o que eu deveria gostar de ver todo pecador aqui fazer - comece a nadar. Não espere por ajuda. Lance-se na correnteza do amor eterno. Creia em Jesus Cristo, e não tenha mais nenhuma confiança na carne, com suas pontes e barcos. Mergulhe na correnteza da graça eterna e nade. A fé pode lhe permitir fazer isto. Nada mais pode.
A única coisa que o ajudará a seguir na busca de Cristo até que você o ache, é a fé. Todos os seus gemidos não o ajudarão. Todo o seu estremecimento não será de qualquer proveito; seu sentimento de que você é muito vil para ser salvo, não o ajudará. Mas creia que Cristo o salva, e confie no Seu poder e amor, e ele o salvará. Venha a ele como a mulher de Canaã veio, com o grito importuno dela: "Tem misericórdia de mim, Senhor, Filho de Davi", e ele terá misericórdia de você como ele teve dela. Creia, creia, creia!
 II. Em segundo lugar,  A FÉ É SUMAMENTE ENCANTADORA A CRISTO. O que ele disse a esta mulher começou com uma exclamação, como se ele fosse atingido por  algo nela que o agradou muitíssimo. Ele disse: “Ó mulher, grande é a tua fé!”. Note que ele falou da fé dela, e somente dela. É para isso que meu Senhor está olhando agora. Ele vem em volta e olha para você, para ver se você tem fé nele. Há vários pensamentos sugeridos nisto, que deveria encorajar os que estão buscando a Cristo.
 Ele pode espiar os começos da fé. "Se a tua fé for como um grão de mostarda” ele verá isto, e aceitará isto. Se tens começado a crer somente agora que Jesus é o Cristo, e entretanto a confiança nele é verdadeira, a tua fé é fraca como um bebê que nada pode fazer a não ser alimentar-se no peito de sua mãe, mas Jesus vai contemplar este começo. Ele é o "Autor" como também "o Consumador” de nossa fé.
Mas Ele fica muito contente quando ele vê uma grande fé. Quando um grande pecador diz: "eu creio que ele é um Salvador grande o bastante para me salvar", isto traz alegria ao coração de Cristo. Cristo ama uma grande fé. Ele merece grande fé.
 Por que Cristo estima tanto a fé?
 Uma razão é, porque a fé o glorifica. Ele estima muito a fé, porque estima muito a ele. A fé lhe dá crédito, a fé atesta a Sua fidelidade e confiabilidade. A fé vive nEle. Logo, ele ama a fé porque é o modo designado por Deus pelo qual nós podemos receber a bênção. Deus poderia ter designado ordenações como o veículo da graça; mas, ao invés disso, ele fez a fé para ser o meio da salvação. A fé exclui o orgulho e o mérito pessoal. Este é um dos motivos declarados na Bíblia, porque é a fé e não as nossas obras, o canal da bênção. Outra razão por que ele a estima tanto, é porque a fé é o trilho que permite que o trem da misericórdia venha a nós. Sempre que a incredulidade sustentar os seus braços, o trem da graça toda-poderosa fica imóvel.
O evangelho diz que Jesus não fez muitos milagres em determinado lugar por causa da incredulidade deles. A dúvida deles bloqueou a estrada. Mas quando a fé abaixa o sinal, o grande Maquinista do trem expresso do céu diz: "Aquela estrada está limpa", e ele se encanta em ver isto, e conduz o trem adiante. Jesus se alegra em vir onde ele possa trazer uma bênção, e ele se alegra quando a fé revela que uma estrada está limpa e desobstruída.
 A fé também tem os braços abertos para abraçar a Cristo. Quando ele vem à nossa porta, e a acha fechada, ele fica de pé do lado de fora. Mas quando ele vem e a porta está aberta, o pecador fica impressionado com a Sua beleza e nunca pensa em deixá-lo do lado de fora. E quando Cristo acha a porta aberta, ele entra, e mora lá; e faz aquele coração e aquela casa feliz com a Sua presença divina. Cristo ama a fé porque ela lhe dá um acolhimento amável; a fé o recebe; a fé o abraça.
 A fé faz tudo sozinha no que tange a nos ligar a Cristo. Isto não pode ser feito mesmo pela multidão de nossos trabalhos. Esta foi a boa parte que Maria, irmã de Lázaro, havia achado, estando unida pela fé a Cristo. Nada Lhe dá mais alegria do que ter um santo que descansa completamente nele sem dúvida ou medo!
III. O terceiro ponto é que A FÉ VAI, EM BREVE, OBTER UM TIPO DE RESPOSTA DO SENHOR JESUS. Esta mulher não havia no princípio, recebido qualquer resposta à sua petição. E quando Cristo falou com ela, ele lhe deu o que parecia ser uma resposta áspera. Mas, depois de um tempo, estas notas de música divina soaram no seu ouvido:  “Ó mulher, grande é a tua fé!”.
Agora, alguém aqui provavelmente dirá: "eu tenho orado por muito tempo, e eu não recebi qualquer resposta consoladora.". Bem, se tu creste em Jesus, tu terás uma resposta. Mas continua crendo que ele pode e dará a ti o que tu necessitas, e tu não serás desapontado.
Lembre-se que Cristo demora para aumentar sua fé. Sua fé crescerá através de exercício: então ele a testa para que você possa usá-la, e assim ela pode ficar mais forte.
 Cristo demora para aumentar a própria bênção. Enquanto nós esperarmos, a bênção fica maior, e nossas mãos ficam mais fortes para segurá-la quando ela vier. Você já notou, que quando os irmãos de José desceram ao Egito, que ele se fez estranho a eles, e falou asperamente com eles, e os pôs em prisão? Mas apesar disso, havia uma coisa que ele fez: quando eles voltaram para Jacó, ele encheu os sacos deles de provisões. E afinal, é dito que José não pôde se conter, e ele se fez conhecido aos seus irmãos. Revelando o seu amor por eles. Cristo lidará de certa forma do mesmo modo com você; enquanto você estiver esperando, ele não o deixará morrer de fome.
 Considere bem que está ao contrário da natureza do Senhor recusar abençoar. Ele é cheio de amor; e se ele recusar um pecador durante algum tempo, é somente porque está certo e sábio em agir assim. Mas o coração dele anseia por todo pecador que o busca. Ele o quer mais do que você o quer. Ele deseja muito além de você. Ele deseja abençoá-lo. Ele tem que fazer assim; é a natureza dele fazer assim.
 Ele tem que lhe dar uma resposta confortável brevemente, novamente, porque é contrário à Sua glória recusar. Se ele permitisse que um pecador que o busca morresse, que grande dificuldade isso seria para Ele. Ele não disse que aquele que viesse a Ele não seria lançado fora por Ele, e que de nenhum modo o perderia? E se pudesse ser  provado que Cristo já expulsou uma única alma que veio a ele ? Isto não mancharia a Sua honra e glória. Nós não poderíamos continuar crendo nEle. Pereça o pensamento de uma tal coisa!
Se Cristo não lhe desse descanso quando viesse a Ele, de que valeria a promessa que Ele fez? Deus manterá a Sua palavra. Ele vela sobre ela para cumpri-la. Eu conheço isto; e eu quero que os pecadores conheçam isto também. Ele não pode voltar atrás em Suas promessas. A palavra dele é o Seu laço, ao qual Ele está amarrado.
Por muitos anos temos sido testemunhas que é costume de Deus ouvir  nossas orações, e de acordo com nossa fé.
IV. Finalmente, nós vemos no texto que A FÉ SE APROPRIA DA PALAVRA DE CRISTO E FAZ TODAS AS COISAS. Ouça o texto novamente: “Então lhe disse Jesus: Ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se contigo como queres. E desde aquele momento sua filha ficou sã.”.
A palavra de Cristo era uma palavra confortante. Como o olhar na face desta mulher deve ter sido mudado quando  Cristo falou com ela assim! Quando ele não lhe respondeu uma única palavra, ela deve ter ficado indubitavelmente entristecida, e provavelmente as lágrimas estavam nos seus olhos; mas quando ele começou a falar em outro tom, como ela se sentiu feliz! A mulher já não estava mais triste. Uma palavra de Cristo pode confortá-lo. Ainda que Ele lhe mande continuar esperando a bênção ficando firme na fé, no amor e na esperança. Uma palavra de meu Mestre será o bálsamo de Gileade para  as suas feridas. Ele amarrará seu coração quebrado. Ele o confortará e falará de paz com você, como ele fez com ela. Foi uma palavra confortante.
 Também era uma palavra de reconhecimento. Ela nunca tinha sido elogiada dantes daquela maneira. Além disso foi uma palavra criativa. Porque, foi a mesma palavra que o próprio Deus usou quando ele fez a luz! Ele disse, "Haja luz". A palavra é uma ordem. Que o Senhor envie uma ordem neste momento para algum coração cansado! Haja luz; haja alegria; haja paz. Ele pode criar tudo o que você necessita.
Mais adiante, era uma palavra concordante. Cristo concordou com o desejo que estava no coração da mulher. Ele concordou com ela naquilo que buscava para sua filha. “Faça-se contigo como queres.”. Esta é uma palavra concordante, mas também denota que Cristo capitula diante de uma fé conquistadora.  Nada o conquista, senão a fé. O amor de Cristo é mais forte do que a morte. A morte não pôde conquistar Cristo, nem todos os poderes do inferno o puderam. Mas aqui Ele se rende à fé desta mulher. “Faça-se contigo como queres.”. Você quer mais alegria? Você quer plena salvação? Você quer um descanso perfeito? Veja, como Ele se rende á fé que prevalece.
“Faça-se contigo como queres. E desde aquele momento sua filha ficou sã.”. Cristo terminou aquele trabalho rapidamente. Não leva tempo para salvar uma alma tanto quanto um flash de luz para ficar visível. Você passa da morte para a vida num momento. Quando perdido, arruinado, condenado, o homem se lança aos pés de Cristo, imediatamente ele é salvo. Não é o trabalho de horas ou semanas, ou anos, quando você confia no trabalho acabado de Cristo. Tudo o que  requer tempo, Cristo já realizou. Tudo o que tem que ser feito agora, pode ser feito num momento. Quando um homem está sedento, não leva muito tempo bebendo água. O mesmo se dá com a sede da água da vida que Cristo pode nos dar.



A Segunda Multiplicação dos Pães – Mateus 15.29-39

“29 Partindo Jesus dali, chegou ao pé do mar da Galileia; e, subindo ao monte, sentou-se ali.
30 E vieram a ele grandes multidões, trazendo consigo coxos, aleijados, cegos, mudos, e outros muitos, e lhos puseram aos pés; e ele os curou;
31 de modo que a multidão se admirou, vendo mudos a falar, aleijados a ficar sãos, coxos a andar, cegos a ver; e glorificaram ao Deus de Israel.
32 Jesus chamou os seus discípulos, e disse: Tenho compaixão da multidão, porque já faz três dias que eles estão comigo, e não têm o que comer; e não quero despedi-los em jejum, para que não desfaleçam no caminho.
33 Disseram-lhe os discípulos: Donde nos viriam num deserto tantos pães, para fartar tamanha multidão?
34 Perguntou-lhes Jesus: Quantos pães tendes? E responderam: Sete, e alguns peixinhos.
35 E tendo ele ordenado ao povo que se sentasse no chão,
36 tomou os sete pães e os peixes, e havendo dado graças, partiu-os, e os entregava aos discípulos, e os discípulos à multidão.
37 Assim todos comeram, e se fartaram; e do que sobejou dos pedaços levantaram sete alcofas cheias.
38 Ora, os que tinham comido eram quatro mil homens além de mulheres e crianças.
39 E havendo Jesus despedido a multidão, entrou no barco, e foi para os confins de Magadã.” (Mateus 15.29-39)

Ao retornar dos termos de Tiro e Sidom, nosso Senhor chegou ao pé do Mar da Galileia e subiu o monte.
“E vieram a ele grandes multidões, trazendo consigo coxos, aleijados, cegos, mudos, e outros muitos, e lhos puseram aos pés; e ele os curou.”
Isto durou por espaço de três dias, e tendo compaixão deles, nosso Senhor não quis despedi-los em jejum, para que não desfalecessem pelo caminho, ao retornarem às suas casas.
Os discípulos, que já tinham testemunhado anteriormente, o milagre da multiplicação de 5 pães e 2 peixes, com os quais foram alimentados cerca de cinco mil homens, além de mulheres e crianças, não tiveram fé suficiente para crer na repetição do mesmo milagre, e mais uma vez questionaram a Jesus quanto à improcedência, segundo eles, do desejo manifestado por Ele, dizendo:
“Donde nos viriam num deserto tantos pães, para fartar tamanha multidão?”
Todavia, nosso Senhor não se ocupou em lhes dar qualquer tipo de esclarecimento ou repreensão e foi direto ao lhes perguntar quantos pães eles tinham. Responderam que apenas sete, e alguns peixinhos.
Muitas vezes, a providência divina entrará na vida dos cristãos sem lhes pedir licença, ou consultá-los se acham conveniente ou não o que necessita ser feito, e Deus lhes abençoará, apesar do endurecimento deles para poderem compreender a Sua mente divina.
Graças a Deus, que Ele opera de tal modo, senão estaríamos perdidos em nossas necessidades, dificuldades e problemas, que Ele resolve pela Sua livre iniciativa e misericórdia, muitas vezes multiplicando os poucos recursos que possuímos, tal como fizera com aqueles sete pães e alguns peixinhos, para alimentar com eles cerca de quatro mil homens, além de mulheres e crianças.
Depois de ter dado das migalhas que caíam da Sua mesa à mulher cananeia, nosso Senhor deu um grande banquete aos filhos de Israel, porque o Seu ministério terreno, deveria ser realizado junto aos judeus, pelas razões que já comentamos anteriormente, em outras passagens.
Desta vez, foram recolhidos sete cestos de sobras, depois que todos se fartaram.


O Senhor proveu todas as necessidades daquela multidão e partiu através do mar da Galileia para outra região, a de Magadã.






Mateus 16

Os Fariseus e Saduceus Pedem um Sinal – Mateus 16.1-4

“1 Então chegaram a ele os fariseus e os saduceus e, para o experimentarem, pediram-lhe que lhes mostrasse algum sinal do céu.
2 Mas ele respondeu, e disse-lhes: Ao cair da tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está rubro.
3 E pela manhã: Hoje haverá tempestade, porque o céu está de um vermelho sombrio. Ora, sabeis discernir o aspecto do céu, e não podeis discernir os sinais dos tempos?
4 Uma geração má e adúltera pede um sinal, e nenhum sinal lhe será dado, senão o de Jonas. E, deixando-os, retirou-se.” (Mateus 16.1-4)

Mateus registra um novo pedido de sinal a Jesus, agora tanto da parte dos fariseus, quanto dos saduceus, os dois maiores partidos religiosos que existiam em Israel nos dias do Senhor.
Eles pediram um sinal do céu, ou seja, algo parecido com o que Deus havia feito nos dias de Moisés, diante de toda a nação israelita, reunida ao pé do Monte Sinai, quando eles não somente viram as densas nuvens, o fogo e os relâmpagos que envolviam o monte, como também ouviram trovões, e a voz do próprio Deus pronunciando os dez mandamentos.
Então eles queriam que Jesus comprovasse que havia sido enviado a Israel, tanto como Moisés no passado, através de algum sinal desta magnitude.
Já comentamos anteriormente, que a quase totalidade daquela geração dos dias de Moisés, era formada por pessoas incrédulas que haviam tombado no deserto, e nenhuma das maravilhas que Deus havia feito nos dias deles, desde os grandes juízos que havia manifestado sobre o Egito na forma de pragas, e todo o cuidado providencial que havia demonstrado para com eles, como por exemplo o maná que eles colheram por cerca de 40 anos, que lhes vinha diretamente do céu, em nada contribuíram para a conversão deles.
Continuaram no endurecimento do pecado e não dispuseram seus corações para guardarem os mandamentos que Deus lhes havia dado através de Moisés.
A geração dos dias do ministério de nosso Senhor não era melhor do que a que foi contemporânea de Moisés. Então, nenhuma maravilha extraordinária seria feita diante dos olhos de toda a nação, quando o evangelho começasse a ser pregado a eles.
Na verdade, isto não seria feito para nenhuma nação do mundo, porque o modo de aplicação do evangelho às vidas é pelo trabalho silencioso do Espírito Santo nos corações, pela fé que é despertada pela pregação do evangelho.
Os homens devem aprender a discernir os sinais do tempo, pelo cumprimento de todas as coisas que haviam sido prometidas por Deus, desde os dias mais remotos, especialmente os juízos que trouxe sobre o mundo, e particularmente sobre Israel, por meio do ministério dos profetas.
A expulsão deles da própria terra, nos cativeiros assírio e babilônico, e a sua restauração, prometidas, na própria Lei de Moisés, era uma evidência mais do que suficiente de que havia chegado o tempo da sua visitação pelo Messias prometido.
Os judeus sabiam discernir os sinais do tempo natural, mas não se aplicavam em discernir os sinais do tempo espiritual e sobrenatural. Como poderiam fazê-lo, se o coração deles estava somente nas coisas terrenas, e não nas celestiais?
Além disso, eles estavam desprezando todos os milagres e maravilhas que Jesus estava realizando, bem como não abriram seus corações para entenderem que ninguém, senão, um ser divino, poderia falar as coisas que Ele estava pregando.
Então, nenhum outro sinal especial lhes seria dado, além daqueles que Deus havia previsto em Sua soberania, e que culminariam com a ressurreição de Cristo, depois de passados três dias a contar da Sua morte.



O Fermento dos Fariseus e Saduceus – Mateus 16.5-12

“5 Quando os discípulos passaram para o outro lado, esqueceram-se de levar pão.
6 E Jesus lhes disse: Olhai, e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus.
7 Pelo que eles arrazoavam entre si, dizendo: É porque não trouxemos pão.
8 E Jesus, percebendo isso, disse: Por que arrazoais entre vós por não terdes pão, homens de pouca fé?
9 Não compreendeis ainda, nem vos lembrais dos cinco pães para os cinco mil, e de quantos cestos levantastes?
10 Nem dos sete pães para os quatro mil, e de quantas alcofas levantastes?
11 Como não compreendeis que não nos falei a respeito de pães? Mas guardai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus.
12 Então entenderam que não dissera que se guardassem, do fermento dos pães, mas da doutrina dos fariseus e dos saduceus.” (Mateus 16.5-12)

No texto paralelo do evangelho de Marcos, nós vemos que logo depois de Jesus ter repreendido os fariseus e saduceus, ele retornou através do mar da Galileia, para a cidade de Betsaida, que ficava do outro lado do referido mar.
Foi neste trajeto, quando se encontrava no barco com Seus discípulos, que lhes disse para se acautelarem do fermento dos fariseus e dos saduceus.
O espírito de nosso Senhor ainda estava ponderando a causa da incredulidade dos fariseus e dos saduceus, e sabendo que a doutrina e a hipocrisia deles poderia causar o mesmo endurecimento de coração em Seus discípulos, fez-lhes tal advertência.
Ninguém está livre de perder o que tem alcançado em Cristo, com esforço.
Lembramos das palavras de Lutero, em seu comentário da Epístola aos Gálatas, quanto a isto, quando permitimos que falsas doutrinas penetrem o seio da Igreja.
São palavras do reformador:
“Paulo expressa no verso 6 de Gálatas: “Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho;”. O seu lamento é pelo fato de quão difícil é para a mente reter uma fé sã e firme.
Um homem trabalha durante uma década, antes dele ter sucesso treinando a sua pequena igreja para que ela possa estar em ordem, e então algum potro ignorante e viciado age para subverter num só minuto todo o trabalho paciente de anos.
Pela graça de Deus nós efetuamos aqui em Wittenberg a forma de uma igreja cristã. A Palavra de Deus é ensinada como deveria ser, os sacramentos são administrados, e tudo prospera.
Esta condição feliz, alcançada em muitos anos de trabalhos árduos, qualquer lunático poderia deteriorar num só momento. Isto aconteceu nas igrejas da Galácia, que Paulo tinha trazido em vida em trabalho espiritual. Porém, logo em seguida à partida dele, estas igrejas da Galácia foram lançadas em confusão pelos falsos apóstolos.
A igreja é uma planta tenra que deve ser cuidada.
Pessoas ouvem um par de sermões, esquadrinham algumas páginas da Santa Escritura, e pensam que eles sabem tudo.
Eles são corajosos porque eles nunca passaram por qualquer tentação da fé. Sem o Espírito Santo, eles ensinam o que lhes agrada contanto que soe bem às pessoas comuns que sempre estão prontas para se unir a algo novo.
Nós temos que vigiar em todo o tempo porque o diabo semeia o joio entre o trigo enquanto nós dormimos.
É interessante observar que o apóstolo não diz que estava maravilhado com o quanto os gálatas eram instáveis e infiéis, mas que tivessem se afastado tão rapidamente.
Ele não se dirigiu a eles como malfeitores, mas como pessoas que haviam sofrido uma grande perda.
Ele não os condenou mas aqueles que os haviam afastado do evangelho.
Mas Paulo foi claro e honesto em dizer-lhes que caso tivessem se firmado melhor na Palavra eles não poderiam ter sido afastados tão facilmente.”
Era este tipo de cuidado a que se refere Lutero, que nosso Senhor queria inculcar nos discípulos, não apenas em relação à apostasia pessoal deles, mas sobretudo em relação aos prejuízos que seriam trazidos à Igreja que teriam o encargo de supervisionar, depois da Sua partida para a glória celestial.
Jesus havia acabado de repreender os fariseus e os saduceus por não saberem discernir os sinais relativos às dispensações do tempo espiritual, e agora, Ele é surpreendido com a mesma falta de discernimento que ainda havia nos discípulos, porque aos lhes falar de fermento dos fariseus e saduceus, pensaram que estava se referindo a pão natural.
Ele lhes repreendeu quanto a estarem endurecidos, porque haviam visto em duas ocasiões distintas, o modo sobrenatural como havia alimentado milhares de pessoas, com apenas poucos pães e peixes, que Ele havia multiplicado miraculosamente, e como poderia estar preocupado com a falta de pão na viagem que estavam fazendo para o outro lado do mar da Galileia?
Muitas vezes ficamos tão envolvidos com aquilo que é material, que nos tornamos cegos quanto ao grande poder do Senhor para prover todas as coisas, ainda que tenhamos tido o privilégio de testemunhar os Seus feitos poderosos recentemente.
A fé demanda vigilância espiritual.
Se descuidamos na vigilância, a fé nos faltará e não poderemos discernir as coisas espirituais de modo conveniente.
Devemos sempre trazer em memória as muitas misericórdias do Senhor das quais fomos alvo, para que no dia da provação, não nos esqueçamos de que Ele permanece o mesmo, não muda, e que por fim tornará a nos fazer o bem, como sempre fizera antes.



A Confissão de Pedro – Mateus 16.13-20)

“13 Tendo Jesus chegado às regiões de Cesareia de Felipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do homem?
14 Responderam eles: Uns dizem que é João, o Batista; outros, Elias; outros, Jeremias, ou algum dos profetas.
15 Mas vós, perguntou-lhes Jesus, quem dizeis que eu sou?
16 Respondeu-lhe Simão Pedro: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.
17 Disse-lhe Jesus: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelou, mas meu Pai, que está nos céus.
18 Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela;
19 dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares, pois, na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus.
20 Então ordenou aos discípulos que a ninguém dissessem que ele era o Cristo.” (Mateus 16.13-20)

Os discípulos tinham dificuldades no início para discernirem que nosso Senhor era mais do que um simples homem, porque para conhecer a Sua divindade, é necessário ter uma revelação especial do Espírito Santo para tal propósito.
E é isto o que vemos nesta passagem.
Ele comprovaria para os discípulos como todos erravam quanto ao discernimento da Sua procedência divina, aos lhes perguntar o que diziam os homens ser o Filho do homem?
Ele não perguntou o que diziam ser o Filho de Deus, mas o Filho do homem, para não lhes induzir a uma resposta segundo a carne, e não segundo o espírito.
Nosso Senhor usou o mesmo chamativo que fora feito por Deus a alguns profetas, especialmente Ezequiel, que era chamado constantemente de filho do homem.
Eles responderam que diziam que Ele era João, o Batista, ou Elias, Jeremias, ou algum dos profetas.
Isto era o dizer comum do povo em relação a Ele.
Então fez a pergunta diretamente aos próprios discípulos para que lhe respondessem quem achavam que Ele era.
Pedro se adiantou e respondeu por eles, dizendo: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.”
Ele não poderia ter dito isto por si mesmo. Somente pela revelação direta dos céus, da parte de Deus Pai, poderia Pedro ter dado tal resposta.
Por isso o Senhor disse que ele, Pedro, era bem-aventurado, porque não dera tal resposta pelo que ouviu dos homens, mas pela revelação que lhe fora feita a partir dos céus.
É muito comum que se exija dos cristãos comportamentos e respostas que não se encontram na própria capacidade deles para serem dados.
Se o Senhor não for com eles, se não forem capacitados e assistidos pela graça sobrenatural dos céus, nada poderão fazer, senão agir segundo o homem.
Paulo havia aprendido que coisas espirituais se discernem espiritualmente.
Então em vez de ficarmos na expectativa de que algum cristão que não esteja acertando o alvo, o faça por si mesmo, ou então que lhe exortemos a fazer o que é necessário com seus próprios recursos, deveríamos antes, orar por ele, para que Deus lhe conceda graça e revelação, para que possa agir em conformidade com a Sua vontade.
Pedro não errou na afirmação que fizera, porque foi assistido pela graça que lhe revelou que nosso Senhor era o Messias, o Cristo, o Ungido, prometido pelos profetas. Que era o Filho unigênito do Deus vivo, sendo também divino como o Seu Pai.
Isto lhe veio por revelação do Espírito ao seu espírito. De outro modo, pouco lhe adiantaria examinar as Escrituras, como faziam os escribas e fariseus para saberem quem seria o Messias, porque erraria o alvo tanto como eles, porque não tinham nenhuma revelação da parte de Deus aos seus espíritos.
Pessoas que podem discernir as coisas espirituais, celestiais e divinas, são as únicas às quais nosso Senhor pode encarregar dos assuntos da Sua Igreja, porque ela é uma agência divina na terra, ligando ou desligando aqui, tudo o que tiver sido ligado ou desligado nos céus.
Este é o único modo das portas do inferno não prevalecerem contra a Igreja, a saber, tendo à Sua frente líderes que saibam discernir as coisas espirituais, especialmente a Pessoa do próprio Cristo.
Quando nosso Senhor disse “tu és Pedro” a palavra empregada no original grego é “Petros”, para Pedro, que significa pedrinha. E quando disse “sobre esta pedra edificarei a minha igreja”, usou a palavra grega “petra” para “pedra”, cujo significado é rocha. Então a pedra ou rocha sobre a qual a Igreja é edificada é o próprio Cristo, e não Pedro.
Como este conhecimento de ser nosso Senhor, o Cristo, palavra grega para Ungido, equivalente à palavra hebraica Messias, é pessoal e íntimo, por revelação do Espírito, tal como ocorrera com Pedro, recomendou a Seus discípulos que a ninguém dissessem ser Ele o Cristo, porque, primeiro, não dariam crédito ao testemunho deles, porque como afirmamos antes, tal conhecimento é por revelação espiritual, e não por mera informação intelectual, e além disso isto só serviria para precipitar uma perseguição ainda maior contra Ele, do que a que já vinha sofrendo, especialmente por parte dos escribas e fariseus, que certamente afirmariam que estava blasfemando.
Com a declaração que fizera, nosso Senhor estava dizendo que arrancaria as chaves do reino dos céus que se encontravam nas mãos dos sacerdotes e demais líderes religiosos de Israel, que haviam falhado na missão deles em servirem a Deus, e daria estas chaves para a Sua Igreja, representada na ocasião na pessoa de Pedro, que Lhe dera a resposta que lhe veio dos céus.



Pedro é Repreendido – Mateus 16.21-23

“21 Desde então começou Jesus Cristo a mostrar aos seus discípulos que era necessário que ele fosse a Jerusalém, que padecesse muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes, e dos escribas, que fosse morto, e que ao terceiro dia ressuscitasse.
22 E Pedro, tomando-o à parte, começou a repreendê-lo, dizendo: Tenha Deus compaixão de ti, Senhor; isso de modo nenhum te acontecerá.
23 Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não estás pensando nas coisas que são de Deus, mas sim nas que são dos homens.” (Mateus 16.21-23)

O mesmo Pedro que havia recebido a revelação dos céus sobre a Pessoa de Cristo, mostrou nesta passagem, que continuamos sujeitos à consideração dos propósitos e realidades divinos, segundo o modo de ver do homem natural, que não pode discernir as coisas do Espírito.
Se antes, ele foi alvo do elogio do Senhor, por ter afirmado ser Ele o Cristo, o Filho do Deus vivo, agora ele é repreendido por estar pensando não segundo Deus quanto às coisas espirituais, mas segundo os homens naturais, que não podem discernir senão as coisas da terra, e não as dos céus.
Não foi nenhum outro discípulo que não tivera a revelação sobre a Pessoa divina de Cristo que tentou dissuadi-lo de sofrer nas mãos dos anciãos de Israel, dos principais sacerdotes e escribas, e que fosse morto para ressuscitar ao terceiro dia, mas o próprio Pedro que tivera tal revelação.
Desta vez, Pedro não foi assistido por nenhuma revelação especial para poder entender que o Messias deveria sofrer, morrer e ressuscitar.
Pedro, usou o seu modo de entendimento meramente carnal quanto à pessoa do Messias, querendo talvez, lembrar ao Senhor, que o Messias não poderia morrer, e muito menos numa cruz, como maldito de Deus.
O Senhor aproveitaria a ocasião para lhes ensinar que a Sua morte era a morte do próprio Pedro e de todos os que nEle crêem, e assim, Pedro também teria uma cruz para carregar, para que nela fosse crucificado o seu velho homem.
Todavia, Pedro, viria a ter tal iluminação e capacitação do Espírito, posteriormente, especialmente no dia de Pentecostes, quando o vemos fazendo um discurso ousado e claro quanto aos motivos da morte e da ressurreição de nosso Senhor.
Se antes, a revelação que Pedro havia recebido lhe veio da parte do Espírito Santo, agora, ao que tudo indica, pelas palavras de repreensão dirigidas por nosso Senhor a ele, falara por inspiração do próprio Satanás. Assim, não foi Pedro que foi chamado de Satanás, mas o próprio diabo, que lhe estava inspirando a dizer tais palavras a nosso Senhor.    
Pedro ainda não conhecia o mistério da cruz, e por isso o diabo o usou.
Aquela cruz onde Jesus morreu é a cruz onde todos os cristãos foram crucificados, juntamente com Ele, aos olhos de Deus, porque aquela morte foi considerada, para nossa justificação, como sendo a nossa própria morte.
Sofrimentos e tribulações também estão determinados por Deus para todos aqueles que estão identificados com o Seu Filho, porque não compartilham apenas da Sua glória, mas também dos Seus sofrimentos.
Daí ser importante prosseguirmos no crescimento da graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo, para que o diabo não leve vantagem sobre nós, causando-nos dores e prejuízos decorrentes da nossa ignorância.
Por isso, para esclarecer esta verdade de que sofrimentos não devem ser considerados como coisa estranha para aqueles que são cidadãos do reino dos céus, nosso Senhor passou a esclarecer em detalhes esta verdade, tão logo depois de ter repreendido o diabo, por ter usado Pedro, nos versos seguintes ao desta passagem, como veremos adiante.
Pedro havia aprendido bem esta lição, e podemos vê-lo afirmando em sua primeira epístola o seguinte:
“12 Amados, não estranheis a ardente provação que vem sobre vós para vos experimentar, como se coisa estranha vos acontecesse;
13 mas regozijai-vos por serdes participantes das aflições de Cristo; para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e exulteis.
14 Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória, o Espírito de Deus.” (I Pe 4.12-14)


A Parábola das Bodas – Mt 22.1-14

“1 Então Jesus tornou a falar-lhes por parábolas, dizendo:
2 O reino dos céus é semelhante a um rei que celebrou as bodas de seu filho.
3 Enviou os seus servos a chamar os convidados para as bodas, e estes não quiseram vir.
4 Depois enviou outros servos, ordenando: Dizei aos convidados: Eis que tenho o meu jantar preparado; os meus bois e cevados já estão mortos, e tudo está pronto; vinde às bodas.
5 Eles, porém, não fazendo caso, foram, um para o seu campo, outro para o seu negócio;
6 e os outros, apoderando-se dos servos, os ultrajaram e mataram.
7 Mas o rei encolerizou-se; e enviando os seus exércitos, destruiu aqueles homicidas, e incendiou a sua cidade.
8 Então disse aos seus servos: As bodas, na verdade, estão preparadas, mas os convidados não eram dignos.
9 Ide, pois, pelas encruzilhadas dos caminhos, e a quantos encontrardes, convidai-os para as bodas.
10 E saíram aqueles servos pelos caminhos, e ajuntaram todos quantos encontraram, tanto maus como bons; e encheu-se de convivas a sala nupcial.
11 Mas, quando o rei entrou para ver os convivas, viu ali um homem que não trajava veste nupcial;
12 e perguntou-lhe: Amigo, como entraste aqui, sem teres veste nupcial? Ele, porém, emudeceu.
13 Ordenou então o rei aos servos: Amarrai-o de pés e mãos, e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.
14 Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos.”

Nesta parábola nosso Senhor mostrou aos sacerdotes, escribas e fariseus, e ao povo de Israel em geral, um resumo da história deles de incredulidade e de rejeição da vontade de Deus.
Ele mostrou nesta parábola que o reino de Deus é comparado à participação de um banquete real de casamento que é promovido pelo próprio Deus, para celebrar as bodas de seu Filho.
Não há dúvidas que as bodas são as do próprio Cristo que se consumará por ocasião da Sua segunda vinda. Por ora, a Sua noiva, que é a Igreja, está sendo preparada (santificada) para ser-Lhe apresentada sem qualquer mancha ou ruga.
Os israelitas foram os primeiros convidados para estas bodas, pela fé deles em Deus. Todavia, ao longo da sua história, somente um remanescente era fiel a Deus, porque a nação como um todo, vivia de modo contrário à sua vocação.
Então Deus lhes enviou os Seus servos, os profetas, mas não atenderam o convite para participarem das bodas, pela sua conversão ao Senhor.
E como chegaram a matar alguns profetas que lhes foram enviados depois dos primeiros, Deus permitiu que a cidade deles de Jerusalém fosse queimada pelo babilônios, e muitos deles mortos, e conduzidos em cativeiro.
Todavia, Deus não os rejeitou de todo, e lhes enviou restauradores, principalmente nas pessoas de Zorobabel, Esdras, Neemias, Ageu, Zacarias e Malaquias, mas eles deram naquela geração má e incrédula dos dias de Jesus, de maneira que eram indignos de participarem das Suas bodas.
Motivo por que o Rei (Deus Pai) ordenou que se buscassem convidados entre aqueles que se encontravam pelas encruzilhadas dos caminhos e a todos quantos fossem encontrados. Isto é sobretudo uma referência aos gentios.  
Este convite fora feito inteiramente pela graça, mas todo aquele que fosse digno de ser achado no banquete nupcial deveria estar vestido com a veste de justiça de Cristo, que também é concedida pela mesma graça, tanto quanto o convite à salvação.
De modo, que se fosse possível a alguém entrar na festa das bodas sem tal veste de justiça, o mesmo seria amarrado e lançado nas trevas exteriores onde há choro e ranger de dentes.
Por esta parábola nosso Senhor ensinou que apesar de muitos serem chamados à salvação, pelo convite do evangelho, somente os que receberem a cobertura da Sua veste de justiça, serão dignos de serem achados no banquete das bodas que eles próprios terão com Jesus Cristo.



O Discípulo de Cristo Deve Carregar a sua Cruz – Mateus 16.24-28

“24 Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me;
25 pois, quem quiser salvar a sua vida por amor de mim perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á.
26 Pois que aproveita ao homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida? ou que dará o homem em troca da sua vida?
27 Porque o Filho do homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então retribuirá a cada um segundo as suas obras.
28 Em verdade vos digo, alguns dos que aqui estão de modo nenhum provarão a morte até que vejam vir o Filho do homem no seu reino.”

     É a cruz que trata com o ego do cristão, é ela que mortifica a carne liberando a vida do espírito, a saber, do nosso  homem interior.
O trabalho da cruz crucifica nossas paixões e cobiças, para que possamos não somente viver, mas também andar no Espírito Santo, conforme se vê em Gálatas 5.24,25.
     Nós lemos em Gênesis 6.3 o seguinte:
   “Então disse o Senhor: O meu Espírito não permanecerá para sempre no homem, porquanto ele é carnal, mas os seus dias serão cento e vinte anos.”
      O que podemos deduzir desta passagem das Escrituras senão que Deus não havia criado o homem para que ele vivesse pelo governo da sua alma?
O mundo antigo foi destruído pelas águas do dilúvio porque o homem havia se tornado carnal.
Mas o propósito de Deus na criação do homem é que este fosse espiritual e não carnal.
E quando Deus diz que o homem se tornou carnal por causa do pecado é a isto que Ele quer principalmente  se  referir,  porque não é governado pelo reino espiritual divino, mas pelo reino natural segundo a carne.
Desde a Queda no Éden a alma humana deixou de estar  em sujeição ao espírito e passou a assumir o governo do ser humano, tornando-se assim uma barreira para o conhecimento experimental da vida de Deus, que é espírito.
Se a vida eterna, a vida que Deus planejou desde antes da fundação do mundo, para o homem, depende da habitação do Espírito Santo no homem, e da plena comunicação do homem com o Espírito de Deus, então, a  conclusão lógica é que não haverá nenhuma vida onde Cristo não estiver habitando pelo Espírito.
Daí se  dizer que o espírito do homem, sem Cristo, está morto.
Se Cristo não estabelecer o Seu governo no nosso coração, o que haverá será o  governo usurpador da alma contra a vontade de Deus.
E este governo da alma é designado na Bíblia como um viver segundo a carne. Segundo o homem natural e não segundo o homem espiritual.
Vale lembrar que a palavra constante de I Cor 2.14 para “natural”, quando Paulo diz que o homem natural não aceita as coisas do Espírito, tal palavra é no original grego psiquikós, que significa  aquilo que é relativo à alma.
Quando o homem é governado pelas faculdades da alma, e não pelas faculdades do espírito, ele agirá segundo a natureza terrena, porque a vida sobrenatural de Deus só pode ser vivida quando se é governado pelo espírito, e não pela alma.
Daí se afirmar que o homem natural, ou seja, aquele que é governado por um viver segundo a alma, e não segundo o espírito, não pode entender as coisas do Espírito Santo de Deus.
Os cristãos carnais a que Paulo se  refere  em  I Cor 3.1 em contraposição aos espirituais, são designados no original grego pela palavra sarkikós, para carnais, e os espirituais, pela palavra pneumatikós, que se refere ao espírito.
Em resumo, o trabalho da alma no cristão carnal é fazê-lo viver pela sua própria vida natural e trabalhar e servir a Deus pela  sua própria habilidade natural; e buscar conhecer o Senhor e sentir a presença  de Deus  através dos seus sentimentos; e usar somente a habilidade da sua mente para entender  a Palavra de Deus.
Em Mt 10:38 e 39 o Senhor Jesus disse: "38 E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim. 39 Quem achar a sua vida  perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim acha-la-á.".
Neste texto,  a  palavra para vida no original grego é psiquê, que significa alma.
Não se trata  propriamente de se matar a alma, mas o modo de viver pela alma, para que se possa viver pelo espírito. É isto que Jesus quis dizer com suas palavras.
Este modo de viver pela alma somente pode ser morto pela  cruz. É por isso que em outras passagens do Evangelho, como  em  Lc  14.26,27  por exemplo, Jesus associou a perda da vida da alma ao ato voluntário de se carregar a cruz e de se auto negar, para poder segui-lO.
Assim, sem cruz, não há a verdadeira vida abundante que Jesus veio nos dar.
Jesus disse que veio para dar vida e vida abundante. Esta vida é espiritual e eterna.
Deste modo, teremos mais desta vida, quanto mais mortificarmos o nosso velho homem.
Muito mais a vida da nova criatura em Cristo Jesus florescerá, no terreno em que a vida do velho homem for mais mortificada.
E é nesta condição de ter a alma e espírito separados pela  Palavra de Deus, que o espírito é livrado dos embaraços  e  pesos  da alma que assediam juntamente com o pecado tão de perto a vida dos cristãos.
É somente o cristão espiritual que pode ser livrado  dos pesos deste mundo que tentam impedir  a sua  corrida espiritual porque os atrativos do mundo já não exercem fascínio sobre a  sua alma santificada, porque o seu espírito tem achado deleite na Palavra de Deus, na Sua obra e vontade.


E então a alma é  levada  a compartilhar deste deleite, em vez de se sentir facilmente tentada e atraída pelos prazeres que são oferecidos pelo mundo.





Mateus 17

A Transfiguração de Cristo – Mateus 17.1-13

“1 Seis dias depois, tomou Jesus consigo a Pedro, a Tiago e a João, irmão deste, e os conduziu à parte a um alto monte;
2 e foi transfigurado diante deles; o seu rosto resplandeceu como o sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz.
3 E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele.
4 Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, farei aqui três cabanas, uma para ti, outra para Moisés, e outra para Elias.
5 Estando ele ainda a falar, eis que uma nuvem luminosa os cobriu; e dela saiu uma voz que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a ele ouvi.
6 Os discípulos, ouvindo isso, caíram com o rosto em terra, e ficaram grandemente atemorizados.
7 Chegou-se, pois, Jesus e, tocando-os, disse: Levantai-vos e não temais.
8 E, erguendo eles os olhos, não viram a ninguém senão a Jesus somente.
9 Enquanto desciam do monte, Jesus lhes ordenou: A ninguém conteis a visão, até que o Filho do homem seja levantado dentre os mortos.
10 Perguntaram-lhe os discípulos: Por que dizem então os escribas que é necessário que Elias venha primeiro?
11 Respondeu ele: Na verdade Elias havia de vir e restaurar todas as coisas;
12 digo-vos, porém, que Elias já veio, e não o reconheceram; mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim também o Filho do homem há de padecer às mãos deles.
13 Então entenderam os discípulos que lhes falava a respeito de João, o Batista.”

Estava se aproximando o momento de nosso Senhor deixar este mundo, passando antes por Seus sofrimentos que acompanharam a Sua morte na cruz.
Então a providência divina começou a agir no sentido de fortalecer a fé dos discípulos, para que pudessem resistir a tudo o que teriam que experimentar dali por diante, com a intensificação das perseguições ao Senhor deles, e para que tivessem algumas evidências que lhes fossem dadas desde os céus, para que ficassem firmes, até serem revestidos com o poder do Espírito Santo, no dia de Pentecostes.
Este foi um dos principais propósitos de tudo o que viram e ouviram no monte da Transfiguração, ainda que não todos eles, mas Pedro, Tiago e João, que poderiam dar tal testemunho aos demais e firmar a fé deles, na hora da provação que teriam que suportar.
Ainda assim, nós vemos o que sucedeu a Pedro com a sua negação de conhecer ao Senhor.
Todavia, todas estas experiências lhe ajudariam a se reerguer, de maneira que se tornasse um instrumento apropriado para fortalecer a fé dos seus irmãos no Senhor.
Pedro, mesmo quando estava próximo o seu martírio, muitos anos depois, ainda tinha uma lembrança vívida desta experiência que tivera no monte, e fora de tal modo marcado por ela, que a destacou como uma das evidências de que o Cristo ao qual servia, era alguém que não era deste mundo, mas do céu:
“14 sabendo que brevemente hei de deixar este meu tabernáculo, assim como nosso Senhor Jesus Cristo já mo revelou.
15 Mas procurarei diligentemente que também em toda ocasião depois da minha morte tenhais lembrança destas coisas.
16 Porque não seguimos fábulas engenhosas quando vos fizemos conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, pois nós fôramos testemunhas oculares da sua majestade.
17 Porquanto ele recebeu de Deus Pai honra e glória, quando pela Glória Magnífica lhe foi dirigida a seguinte voz: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo;
18 e essa voz, dirigida do céu, ouvimo-la nós mesmos, estando com ele no monte santo.” (II Pedro 1.14-18)
  A glória da divindade de Cristo é percebida pela fé em nossos corações.
Todavia, como os discípulos se mostravam ainda endurecidos para compreenderem que não havia glória maior do que a do Senhor, apesar de estar entre eles no corpo de sua humilhação, e num estado de aflições, então veriam com os olhos da carne, não toda a glória do Senhor em Seu esplendor, mas parte dela, porque não poderiam suportá-la em toda a sua plenitude, e viram o Seu rosto brilhando como o sol, e suas vestes emitiam uma forte luz, de maneira que se tornaram brancas aos seus olhos.
Lucas registra em seu evangelho que esta experiência da transfiguração ocorreu cerca de oito dias após Jesus ter proferido as palavras que comentamos no final do décimo sexto capítulo do evangelho de Mateus.
Lucas registra também que nosso Senhor havia subido o monte com o propósito de orar juntamente com Pedro, Tiago e João.  E ainda, que quando Moisés e Elias apareceram falando com o Senhor, o assunto era referente à Sua partida para glória celestial, que estava para se cumprir em Jerusalém.
A Moisés e Elias foi concedido e ordenado por Deus que viessem ter com Jesus naquele monte. Elias em seu corpo glorificado espiritual, porque fora arrebatado no passado e não havia experimentado a morte, e Moisés, em espírito somente, porque havia passado pela morte, conforme afirmam as Escrituras.
Os dois grandes profetas de Israel estavam diante da glória do Grande Profeta e Salvador e Senhor deles, tanto quanto nosso. Eles eram profetas, mas Jesus é o Profeta. O Profeta prometido a Moisés que deveria ser ouvido pelos filhos de Israel a bem de suas vidas, porque todo aquele que não lhe desse ouvido, Deus entraria com ele em juízo.
Por isso, quando a nuvem luminosa os cobriu a todos, inclusive a Pedro, Tiago e João, foi ouvida a voz de Deus Pai dando este testemunho acerca de ser o Seu Filho amado o Profeta que deveria ser ouvido, conforme prometido desde os dias de Moisés (Dt 18.15-19).
“Estando ele ainda a falar, eis que uma nuvem luminosa os cobriu; e dela saiu uma voz que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a ele ouvi.” (v. 5)
Estando como fora de si, sem saber o que dizia, Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: “Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, farei aqui três cabanas, uma para ti, outra para Moisés, e outra para Elias.”
A transfiguração, naquele momento, não foi suficiente por si só, para instruir o espírito de Pedro, e transportá-lo da visão das coisas terrenas para as celestiais, porque afirmou que era bom estar aqui, ou seja, onde se encontravam, no monte, e pensou em fixar residência naquele local para Cristo, para Moisés e Elias.
Melhor instruído em seu espírito, aspiraria pela mesma glória que viu. Compreenderia quão pequena é a glória deste mundo comparada com a glória por vir a ainda a se revelar em nós.
Teria visto toda a miséria da natureza terrena, à face da glória e vida plenas que viu em Moisés e Elias, no estado glorificado deles.
Como aspirar a permanecer na terra, quando temos visto parte da glória do céu. Esta passará a ser a nossa inspiração e aspiração, como passou de fato a ser para Pedro, posteriormente, quando teve um entendimento espiritual de tudo o que lhe havia sido revelado no monte.  
Em vez de exultarem no espírito por terem visto toda aquela glória e a voz de Deus Pai que falava com eles da nuvem luminosa, os discípulos caíram com o rosto em terra e ficaram grandemente atemorizados.
Aquela voz não veio com trovões e relâmpagos, fogo e grande fumarada, como havia ocorrido no monte Sinai, quando Deus se manifestou a Israel nos dias de Moisés, mas se manifestou em familiar comunhão entre os santos do céu com os santos da terra.
Todavia, os apóstolos não estavam ainda preparados para entenderem aquela experiência, e por isso o Senhor lhes tocou, dizendo que se levantassem e que não temessem, porque o propósito da revelação não era o de atemorizá-los.
Ao erguerem os olhos não viram mais a Moisés e a Elias.
Eles tinham visto que a glória de Jesus era maior do que a de Moisés e a de Elias, e que ambos se apresentaram a Ele no monte na condição de servos.
Por isso perguntaram por que os escribas diziam que era necessário que Elias viesse primeiro.
Eles afirmavam isto com base em Malaquias 4.5: “Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor;”.
 Eles tinham visto Elias no monte, e ficaram confusos, porque pensavam que o dia do Senhor seria manifestado logo.
No entanto, Jesus lhes explicou que Elias já havia vindo dantes, e que não fora reconhecido pelos judeus, e que lhe fizeram tudo o que quiseram, referindo-se à sua decapitação. E tal como Elias, Ele também padeceria nas mãos deles. Aos lhes dizer isto, compreenderam que o Elias da profecia de Malaquias é uma referência à pessoa de João, o Batista.


A Cura de um Jovem Possesso – Mateus 17.14-21

“14 Quando chegaram à multidão, aproximou-se de Jesus um homem que, ajoelhando-se diante dele, disse:
15 Senhor, tem compaixão de meu filho, porque é epiléptico e sofre muito; pois muitas vezes cai no fogo, e muitas vezes na água.
16 Eu o trouxe aos teus discípulos, e não o puderam curar.
17 E Jesus, respondendo, disse: ó geração incrédula e perversa! até quando estarei convosco? até quando vos sofrerei? Trazei-mo aqui.
18 Então Jesus repreendeu ao demônio, o qual saiu de menino, que desde aquela hora ficou curado.
19 Depois os discípulos, aproximando-se de Jesus em particular, perguntaram-lhe: Por que não pudemos nós expulsá-lo?
20 Disse-lhes ele: Por causa da vossa pouca fé; pois em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele há de passar; e nada vos será impossível.
21 [mas esta casta de demônios não se expulsa senão à força de oração e de jejum.]” (Mateus 17.14-21)

Nós comentaremos esta passagem com a apresentação de um sermão de Spurgeon relativo ao assunto, o qual transcrevemos a seguir, em forma adaptada:

Quando Jesus desceu do monte da transfiguração, os seus discípulos estavam envolvidos numa discussão com os escribas diante de uma numerosa multidão, e quando Jesus interpelou os escribas sobre o motivo da discussão; uma pessoa saiu da multidão e respondeu que havia trazido seu filho que estava possuído de um espírito mudo, aos seus discípulos e estes não puderam expeli-lo. Jesus exclamou: “Ó geração incrédula! Até quando estarei convosco? até quando vos sofrerei?”, e pediu que lhe trouxessem o menino. E ao perguntar ao seu pai desde quando aquilo lhe sucedia, ele lhe respondeu que desde a sua infância, e acrescentou: “mas se tu podes alguma coisa, tem compaixão de nós, e ajuda-nos.”. E a isto Jesus respondeu: “Se podes! Tudo é possível ao que crê.”. E foi em face desta afirmação que o pai do menino proferiu as palavras do nosso texto.
“Senhor, eu creio”, disse o pai aflito. Quando nosso Senhor lhe disse que, se ele pudesse crer, todas as coisas lhe são possíveis, ele não demorou e não fez qualquer pausa, não desejou ouvir mais nenhuma evidência, mas clamou imediatamente: “Senhor, eu creio”.
Agora, observe que nós chamamos esta fé de fé verdadeira, e nós provaremos que tem sido assim. Primeiro, era fé na pessoa de Cristo. É um grande engano imaginar que endossar a sã doutrina é a mesma coisa que possuir a fé que salva, porque enquanto a fé que salva aceitar a verdade de Deus, isto se refere  principalmente à pessoa e à obra do Senhor Jesus Cristo, e isto repousa em sua essência sobre o próprio Jesus. Eu não sou salvo porque eu creio na Bíblia, ou porque eu creio nas doutrinas da graça, mas eu sou salvo se eu crer em Cristo; em outras palavras, por confiar nele. Jesus é meu credo. Ele é a verdade. No senso mais alto o Senhor Jesus é a Palavra de Deus. Conhecê-lo é a vida eterna. Pelo seu conhecimento ele justifica a muitos (Is 53.11).
Eu não sei se o pai na narrativa diante de nós tinha ouvido muitos sermões. Eu não estou seguro que ele tivesse noções muito claras sobre tudo o que pertence ao  reino do Salvador: isto não era essencial para que ele obtivesse a cura para o seu filho. Seria uma coisa muito desejável que ele fosse um discípulo instruído, mas na emergência diante de nós a coisa principal seria que ele deveria crer que Cristo estava disposto a expulsar o espírito imundo que dominava o seu filho.
Até aquele ponto ele creu; e, entretanto a sua fé pode ter sido deficiente em sua profundidade, contudo lhe permitiu  perceber que o Messias que estava diante dele era o Senhor, e isto o levou a colocar toda a sua confiança nele.
Ele não creu nos discípulos; ele tinha confiado neles uma vez e eles falharam. Ele não creu em si mesmo; ele conhecia a sua própria impotência para expulsar o mau espírito do seu filho. Ele não creu nos remédios dos homens, mas ele creu no homem de semblante resplandecente que havia descido da montanha há pouco.
Quando ele o ouviu dizer: "Se tu podes crer, todas as coisas são possíveis ao que crê", ele disse imediatamente, "Senhor, eu creio.". Eu espero, amados, que vocês coloquem sua confiança da mesma maneira em Jesus, enquanto creem que Ele está disposto a socorrê-los. Esta é a fé que vai efetivamente salvar-te, curar-te, repreender a ação dos demônios sobre tua vida e tudo mais que se refira às tuas necessidades.
A fé daquele homem era fé verdadeira porque era fé pessoal sobre o assunto em questão, fé sobre o caso que ele estava apresentando.
Crer para outros é uma questão fácil, mas quando isto se refere ao seu próprio caso, crer que o seu pecado pode ser destruído, que você, que tem agido tão mal como o filho pródigo, pode ser recebido por seu Pai e que suas doenças espirituais podem ser curadas, e que o diabo pode ser expulsado de você - aqui está o trabalho, aqui está a dificuldade. Mas, amados, nós devemos crer nisto ou então nós não temos fé  que salva. Eu crerei que o meu Salvador pode resolver qualquer problema das pessoas, e menos os meus?
A fé daquele homem era uma fé verdadeira porque ela triunfou sobre as dificuldades. O seu filho estava atormentado pelo espírito maligno há muito tempo, desde a sua infância. E agia de modo terrível procurando tirar-lhe a vida.
Os anos se passavam e o menino piorava. Isso enfraquece a esperança de qualquer um. Mas aquele pai intercedeu com fé pelo seu filho, ainda que abatido pelas lutas de anos a fio. Este homem pode ter considerado por muito tempo que o caso do seu filho não tinha mais esperança. O caso lhe parecia impossível. Por isso Jesus diz para fortalecer a sua fé: “tudo é possível ao que crê”. Eu espero assim, caso haja alguém em nosso meio que tenha perdido a esperança ou que não creia que haja cura para o seu caso que lhe parece impossível, que não há impossibilidade para aquele que crê no Senhor.
Tenha a fé de Abraão que creu contra a esperança.
Na presença de Cristo a confiança do homem voltou a ele. De repente, esta é a sua principal necessidade. Você precisa entrar na presença do Senhor pela oração e obediência à Sua vontade, e ali, você verificará que a sua fé é fortalecida por Ele e você pode ver que tudo é possível ao que crê.
Venha aos pés de Jesus e creia nele. Qualquer razão pode vir sobre sua alma, levando-o ao desânimo, em razão de derrotas passadas, mas creia firmemente que o poder dEle ainda é invencível; o braço do Senhor não está encurtado de modo que ele não possa salvar, o seu ouvido não está fechado de maneira que Ele não possa ouvir.
O espírito maligno agitou o menino quando Jesus se aproximou dele, porque sabia que o seu tempo era curto. Quando o Salvador lhe ordenou que saísse do menino, o espírito imundo clamou e agitou muito o menino antes de sair, deixando-o como se estivesse morto. E muitos pensaram que ele tinha morrido. Mas Jesus o tomou pela mão e o ergueu, e ele se levantou. É possível que muitos já tenham sido abençoados pelo Senhor mas ainda estejam deitados como mortos em seu desânimo pelos ataques que sofreram do Inimigo.
É preciso permitir serem erguidos agora pelas mãos do próprio Jesus, de maneira que sejam levantados na liberdade dos filhos de Deus para prosseguirem na jornada da vida.
A dúvida pode entretanto assaltar a fé na hora em que se trava o combate. E quando dizemos como o pai do menino: “eu creio, ajuda-me na minha incredulidade”, estamos na verdade dizendo que reconhecemos que a dúvida invadiu o nosso coração, apesar de continuarmos crendo no Senhor e no seu poder para nos ajudar. Ainda que lhe digamos”se tu podes fazer alguma coisa por nós, tem compaixão de nós, e ajuda-nos” assim como fizera o pai do menino, indicando não a nossa falta de fé no Seu poder para realizar o que quer que seja, mas quanto ao Seu interesse efetivo na nossa necessidade específica, nós podemos confiar na Sua bênção e socorro porque sabemos que tudo está sob o domínio da Sua soberana vontade, e não poderemos saber se Ele nos atenderá ou não caso não nos revele isto pelo Seu Espírito. Por isso faremos bem em pedir que nos ajude na nossa falta de fé, quando se mostra favorável à resolução do nosso problema e nos indica que devemos crer que Ele está interessado em nos atender. Foi isso o que o pai do menino fez quando percebeu que o Senhor Onipotente atuaria em seu favor. Ele sabia que Ele podia todas as coisas, mas precisava confiar também que Ele queria resolver o seu problema. Por isso pediu que fosse ajudado a crer nisto.
A batalha estava se desenvolvendo naqueles poucos minutos. A fé que o levou a recorrer a Cristo, estava sendo provada em sua perseverança. Ele deveria manter a fé. Deveria continuar confiando. Os discípulos afinal, estavam a serviço de Jesus e não puderam expulsar o espírito maligno. É provável que tenha chegado ao conhecimento do pai que aqueles mesmos discípulos haviam expulsado antes muitos demônios. E por que não puderam fazê-lo agora ? Seria o problema do seu filho um problema tão grande que estivesse fora da esfera de poder ser resolvido por Cristo e seus discípulos? A fé daquele homem estava sendo provada. Este é o ponto. É no contexto da situação real que devemos avaliar as suas palavras e as do Senhor no texto bíblico. É nesta condição que ele pede que seja ajudado pelo Senhor na sua falta de fé, na dimensão que ele sabia que ela podia se firmar no Senhor: até o ponto de não ter qualquer sombra de dúvida, ou temor, receio, inquietação no coração.
Faríamos bem em ter a sinceridade daquele pai, dizendo a verdade ao Senhor: “ajuda-me na minha incredulidade” porque não cremos como o Senhor é digno de ser crido. Pecadores e fracos que somos, vacilamos muitas vezes, mas é preciso progredir e buscar nEle e por Ele que a nossa fé seja mais e mais fortalecida.    
A fé pode ser pequena ou fraca, mas se for verdadeira ela salvará a nossa alma e nos trará as bênçãos de Deus.
 É observado que aquele pai não disse: "Senhor, eu creio, mas tenho algumas dúvidas", e menciona isto como se fosse uma mera questão de inteligência comum. Oh, não; ele disse isto com lágrimas; ele fez uma confissão triste disto. Não era a mera declaração de um fato, mas era o reconhecimento de uma falta. Com lágrimas ele disse: "Senhor, eu creio", e então reconheceu a sua incredulidade. Aprenda então, no seu exemplo, sempre olhe para a incredulidade em Cristo na luz de uma falta. Nunca diga: "Esta é a minha fraqueza", mas diga: "Este é o meu pecado.". Por que eu deveria descrer do meu Senhor? Como ouso duvidar de quem não pode mentir? Repreendam a si mesmos, por suas dúvidas. As dúvidas estão entre os piores inimigos de suas almas. Não as entretenha. Não as trate como se elas fossem viajantes errantes. Lute contra elas, mate-as, e peça a Deus para ajudar-lhe a matá-las, e as enterre.
A dúvida e a incredulidade deve ser detestada, e ser confessada com lágrimas como pecado diante de Deus. Assim como fizera o pai daquele menino. Nós precisamos de perdão por duvidar.
É notável o fato que o pai do menino que estava possesso, não disse: "Senhor, eu creio; ajude meu filho." Nem disse: "Senhor, eu creio; agora expulse o diabo do meu menino.". Não; ele percebe que a sua própria incredulidade era mais dura do que superar o diabo. Este é o ponto para se chegar, sentir que não há nenhuma deficiência no mérito de Cristo; nenhuma falta de poder no seu sangue precioso; nenhuma repugnância no coração de Cristo para me salvar; mas todo o obstáculo reside na minha incredulidade. Nenhum médico pode curar incredulidade mas somente Cristo.”
A estas palavras de Spurgeon devemos acrescentar o comentário relativo à parte final desta passagem de Mateus, na qual os discípulos perguntaram a nosso Senhor qual foi a causa de não terem podido eles expulsar o demônio?
Ele lhes respondeu que a causa foi a pouca fé deles, menor ainda do que um grão de mostarda, porque uma fé tão pequena como esta pode ser suficiente para realizar proezas, até mesmo deslocar um monte de seu lugar, se esta fosse a vontade de Deus.
Com esta afirmação nosso Senhor quis nos ensinar que não há impossíveis para a fé, por menor que ela seja.
Todavia, a fé é muito preciosa e não pode ser obtida senão da nossa comunhão real com Deus, e esta decorre de uma vida de oração e jejum. Portanto, não se deve jejuar para expulsar demônios, mas ter uma vida de comunhão tal com Deus, que para orarmos, abriremos até mesmo mão, de nossos momentos regulares de refeição.
Esta vida de intimidade espiritual com o Senhor é obtida pelo hábito da oração constante e perseverante, não como um hábito mecânico religioso, mas como um canal de efetiva comunhão com Ele, de modo, que assim sendo, nos tornamos hábeis para sermos Seus instrumentos, para a realização da Sua obra, inclusive para expulsar demônios, porque não somos propriamente nós que o fazemos, mas o Seu poder operante em nossas vidas.      


Os Sofrimentos de Cristo Preditos por Ele – Mateus 17.22,23

“22 Ora, achando-se eles na Galileia, disse-lhes Jesus: O Filho do homem está para ser entregue nas mãos dos homens;
23 e mata-lo-ão, e ao terceiro dia ressurgirá. E eles se entristeceram grandemente.”

Nosso Senhor, com o fito de preparar seus discípulos para a hora difícil que Lhe aguardava, que seria também um momento difícil para eles, mais uma vez lhes falou dos sofrimentos que Lhe aguardavam e que culminariam com a Sua morte nas mãos dos homens.
Todavia, não lhes falou somente dos sofrimentos e da morte, mas também da Sua ressurreição.
Mas mesmo assim, eles se entristeceram porque não compreendiam ainda, de modo adequado, tudo o que sucederia a nosso Senhor, de forma que nós os vemos vacilantes e duvidosos depois que Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago, lhes relataram a Sua ressurreição (Lc 24.10,11).


Jesus Paga o Imposto – Mateus 17.24-27

“24 Tendo eles chegado a Cafarnaum, aproximaram-se de Pedro os que cobravam as didracmas, e lhe perguntaram: O vosso mestre não paga as didracmas?
25 Disse ele: Sim. Ao entrar Pedro em casa, Jesus se lhe antecipou, perguntando: Que te parece, Simão? De quem cobram os reis da terra imposto ou tributo? dos seus filhos, ou dos alheios?
26 Quando ele respondeu: Dos alheios, disse-lhe Jesus: Logo, são isentos os filhos.
27 Mas, para que não os escandalizemos, vai ao mar, lança o anzol, tira o primeiro peixe que subir e, abrindo-lhe a boca, encontrarás um estáter; toma-o, e dá-lho por mim e por ti.”

Nós vemos nesta e em outras passagens dos evangelhos que nosso Senhor nos deixou o exemplo para ser seguido quanto a sermos bons cidadãos, estando sujeitos às autoridades constituídas.
Não podemos esquecer que Ele havia se esvaziado em Seu ministério terreno, em tudo se identificando conosco, com exceção do pecado, para que pudesse pagar o preço exigido para a nossa redenção.
Ele esteve como homem debaixo da Lei, e tudo cumpriu perfeitamente, para que, em Sua perfeição de obediência em tudo o que padeceu e sofreu, pudesse se tornar o autor e consumador da nossa eterna salvação.
Aqui nós o vemos pagando o imposto que era cobrado de todo cidadão judeu.
Ele, sendo o Filho do Deus vivo, sendo Deus com o Pai e o Espírito Santo, estava isento de pagar tributos, senão, tem o privilégio de receber tributos, de honra e louvor, de tudo que criou, quer na terra, quer nos céus.
Todavia, em razão do estado da Sua humilhação, enquanto esteve na terra, em carne, para a nossa justificação, viveu como um cidadão como qualquer outro, e se sujeitou às autoridades, no que deviam ser obedecidas, sem trazer qualquer transtorno à ordem civil.
No modo como Ele proveu o dinheiro necessário para pagar o tributo, deve ser destacada não apenas o milagre que foi realizado demonstrando o Seu poder até mesmo sobre as criaturas do mar, porque foi ordenado a um peixe que apanhasse uma moeda que se achava perdida no fundo do mar e que viesse na direção de Pedro, para ser apanhado por ele, como também, podemos inferir, que nosso Senhor vivia de modo completamente despojado, sem dispor de qualquer reserva de dinheiro, porque deu a Seus discípulos o testemunho prático de uma vida inteiramente dependente da providência de Deus.
Nisto, o objetivo de seu ensino pessoal, não era o de que devemos aprender a viver sem recursos, e sermos completamente pobres, mas aprendermos que Deus é de fato provedor de todas as necessidades de Seus filhos.  






Mateus 18

A Importância da Humildade – Mateus 18.1-5

“1 Naquela hora chegaram-se a Jesus os discípulos e perguntaram: Quem é o maior no reino dos céus?
2 Jesus, chamando uma criança, colocou-a no meio deles,
3 e disse: Em verdade vos digo que se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus.
4 Portanto, quem se tornar humilde como esta criança, esse é o maior no reino dos céus.
5 E qualquer que receber em meu nome uma criança tal como esta, a mim me recebe.”

O ensino básico desta passagem é que a medida de grandeza do reino dos céus é proporcional ao tamanho da humildade, ou seja, quanto maior for a humildade da pessoa, maior será a sua grandeza no reino.
E esta humildade é a de espírito, a pobreza de espírito citada por nosso Senhor nas bem-aventuranças, que conduz a todas as demais virtudes essenciais daqueles que pertencem ao reino, a saber: mansidão ou submissão; contrição; pacificação; fome e sede de justiça; misericórdia; pureza de coração; ser perseguido por amor à justiça. Portanto, em quem estas características forem achadas em grande grau, tanto maior será a sua grandeza no reino dos céus.
Por isso nosso Senhor se valeu da ilustração de uma criança para nos ajudar a entender esta verdade, porque estas características, especialmente a da humildade, se encontram num maior grau em crianças do que em adultos.
  Então a humildade aqui referida nada tem a ver em não se adquirir conhecimento ou bens, mas com o modo como usamos todas estas coisas, especialmente as relativas ao reino espiritual, quanto a não nos deixarmos dominar por nada que não seja celestial, espiritual e divino, e que não tenhamos em relação a todas as coisas, quer terrenas ou celestiais, sentimentos de orgulho, cobiça egoísta, arrogância, ou qualquer outro que nos incompatibilize a viver no amor devido a Deus e ao próximo.
Logo, a aspiração de ser grande no reino dos céus é legítima, todavia, deve ser movida pelos motivos corretos.
Deste modo, nosso Senhor vislumbrou nos Seus discípulos um sentimento de busca de grandeza pela superação de uns aos outros, e pôs a verdade relativa à grandeza do reino, quando apontou para a necessidade de conversão, antes de tudo, para que se pudesse ter a aspiração de ser grande no reino, porque é necessário que primeiro se nasça de novo do Espírito, e uma vez transformado, esta transformação deve prosseguir em graus, pelo processo da santificação, que em sendo real e efetivo em nossas vidas convertidas, há de nos tornar cada vez mais humildes, conforme é do propósito de Deus.
Agora, aplicando este ensino do Senhor, de modo prático, na vida da Igreja, podemos observar que aqueles que são menos notáveis nos trabalhos de culto da mesma, são exatamente as crianças.
Isto não significa que não sejam alvo dos nossos cuidados, mas é notório que as expectativas quanto ao que deve acontecer no culto, não é colocada geralmente, nelas.
Todavia, nosso Senhor está dizendo que Ele as repara, e que o que elas são é muito importante para Ele.
Não somente isto, indica-nos que devemos nos esforçar para sermos como elas. Desprovidos de aspirações de grandezas terrenas, baseadas no culto da auto-glorificação, e por nos sentirmos superiores aos demais.
Estar quieto e sossegado diante do Senhor, dependente da Sua palavra de ordem, sem questionar o Seu mover e as Suas ordens, e prontos a obedecer-Lhe, confiando inteiramente nEle, é algo precioso e que indica de certo modo a medida da nossa grandeza no reino.
Não é o que é elevado para os homens que é necessariamente elevado e digno diante de Deus, porque tem escolhido as coisas desprezíveis e as que não são.
“26 Porque, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados.
27 Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes;
28 E Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são;
29 Para que nenhuma carne se glorie perante ele.
30 Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção;
31 Para que, como está escrito: Aquele que se gloria glorie-se no Senhor.” (I Cor 1.26-31)



Precauções contra os Escândalos – Mateus 18.6-9

“6 Mas qualquer que fizer tropeçar um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho, e se submergisse na profundeza do mar.
7 Ai do mundo, por causa dos tropeços! pois é inevitável que venham; mas ai do homem por quem o tropeço vier!
8 Se, pois, a tua mão ou o teu pé te fizer tropeçar, corta-o, lança-o de ti; melhor te é entrar na vida aleijado, ou coxo, do que, tendo duas mãos ou dois pés, ser lançado no fogo eterno.
9 E, se teu olho te fizer tropeçar, arranca-o, e lança-o de ti; melhor te é entrar na vida com um só olho, do que tendo dois olhos, ser lançado no inferno de fogo.”

Nosso Senhor torna a repetir nesta passagem o seu ensino constante do Sermão do Monte, ao qual já nos referimos no comentário do quinto capítulo deste evangelho de Mateus.
Aqui, ele associa aquele ensino ao fato de nos esforçarmos para não cometermos o pecado do escândalo, ou seja, sermos pedra de tropeço na vida de outros, especialmente pecarmos contra aqueles que são os menores no corpo de Cristo, ou então aqueles que estão prontos a se converter, e que não se convertem por causa do nosso mau testemunho.
O Senhor dá grande valor à menor das Suas ovelhas. À que tiver menos importância no Seu corpo, Ele dará um maior cuidado. Deveríamos ter isto em lembrança para não desprezarmos com nossos sentimentos de vanglória a qualquer que julguemos não ter grande importância no reino de Deus.
Nosso Senhor diz que seria melhor arrancar um dos membros de nosso corpo do que cometer este pecado de servir de motivo para que outros venham a se   escandalizar, e a recuarem na fé, por nossa causa.
Nós vimos em nosso comentário alusivo à passagem de Mateus 5.27-30 que nosso Senhor quis ensinar ao mesmo tempo a natureza verdadeira e horrível do pecado, o perigo terrível que o pecado significa para nós, e a importância de fazer frente ao mesmo e de repudiá-lo.
Por isso Ele o expressou deliberadamente desta maneira.
Fala de membros valiosíssimos, o olho e a mão, e especifica o olho direito e a mão direita. Por que? Nós cremos que o olho e a mão, e especialmente o olho direito e a mão direitos são mais importantes que os esquerdos.
Nosso Senhor quis dizer portanto que se aquilo mais precioso que temos, for a causa de pecarmos, devemos nos livrar disso. Porque é grande o poder do pecado para nos privar da verdadeira vida, que Jesus expressou este poder de tal maneira.
A coisa que devemos ter em conta é a importância da alma e o seu destino eterno. “Melhor é que se perca um dos teus membros do que todo o teu corpo ser lançado no inferno”. Adverte-nos nosso Senhor, e o repete duas vezes para colocá-lo em relevo. A alma é tão importante que se o olho direito é causa de queda no pecado, é melhor arrancá-lo, livrar-se dele, não num sentido físico.
Há muitas coisas na vida e no mundo que, em si mesmas, são muito boas e proveitosas. Porém nosso Senhor nos diz aqui que se inclusive estas coisas nos fazem tropeçar devemos repudiá-las, ainda que sejam tão importantes como um dos membros valiosos do nosso próprio corpo.
Se minhas faculdades, tendências, sentimentos, emoções, habilidades, me conduzem ao pecado, então devo repudiá-las. Devo levar estas coisas à morte da cruz, inclusive o afeto natural pelos meus familiares (Lc 14.26), caso eles venham a se tornar causa de tropeço para a minha santificação.
Tal é a importância do destino eterno da alma que tudo o mais deve lhe estar subordinado. Tudo o mais é secundário quando ela está em jogo.
Não devemos permitir que nada se interponha entre nós e o destino eterno da nossa alma.
Temos que nos dar conta de que tudo o que temos de fazer neste mundo é nos preparar para a eternidade.
Todo tipo de imagem virtual ou real que sejam sugestivas para o pecado devem ser repudiadas.
Tudo o que se ler, tudo que se ouvir, tudo o que se ver. Devemos evitar a todo custo. Ainda que isto nos traga o sentimento de estar cortando algum órgão nobre do nosso corpo.
A carne gosta destas coisas, portanto tenhamos cuidado e privemo-nos delas, contrariando a nossa vontade.
Estas coisas são fontes de tentação, e quando lhes dedicamos o nosso tempo nós estamos fazendo provisão para os desejos da carne. Nós estamos colocando combustível na chama do pecado que opera no nosso corpo.
Mas argumentam conosco que muitas destas coisas são de autores brilhantes, que elas são educativas, que elas servem para nos manter atualizados com o mundo; mas nosso Senhor diz que devemos arrancar o olho e a mão. Ainda que me tenham na conta de ignorante por evitar estas coisas é melhor ser ignorante para o bem da minha alma, do que prejudicá-la por manter contato com estas coisas.
Isto também significa evitar as conversações néscias e as estórias que são insinuantes e sujas.  Digamos que não queremos ouvi-lo, que não nos interessa.
Se não formos cuidadosos com a nossa santificação é quase certo que de um modo ou de outro escandalizaremos não somente os pequeninos na Igreja do Senhor, mas a muitos, pelo nosso comportamento carnal.
Devemos ter cuidado com quem nos reunimos. Em outras palavras, devemos ter cuidado de evitar tudo aquilo que tende a manchar ou impedir a nossa santificação. Devemos também nos abster de toda aparência de mal, isto é, de qualquer forma de pecado. Não importa que forma assuma. Tudo o que sei que me prejudica, e tudo o que me perturba, transtorna e excita, seja o que for, devo evitá-lo. Devo colocar como o apóstolo, o meu corpo em servidão ao Espírito de Deus. Devo fazer morrer a natureza terrena.
Alguém poderá dizer que isto é um escrúpulo mórbido que me deixará atormentado e triste. Bem, há pessoas que se tornam mórbidas. Mas se há morbidez é porque a pessoa está relacionando a santidade consigo mesma, porque os escrúpulos mórbidos se concentram nas pessoas. Mas a verdadeira santidade se preocupa sempre em agradar a Deus. Em glorificá-lo e honrá-lo. Se isto estiver presente nunca há o risco de se tornar mórbido, e a santificação traz o fruto da paz e da alegria do Espírito Santo, que é contrário a toda forma de morbidez.
Devemos por fim vigiar e orar para fazer frente a todas as insinuações do mal.
Para o verdadeiro cristão não há maior estímulo e incentivo na luta para fazer morrer as obras da carne do que isto. O objetivo de nosso Senhor ao vir a este mundo e suportar toda sorte de sofrimentos até a morte na cruz foi para livrar-nos do presente século mau, para redimir-nos de toda iniquidade, e para escolher um povo exclusivo Seu, zeloso de boas obras. O propósito de tudo é que fôssemos santos e sem mancha diante dEle. Se seu amor e sofrimentos significam algo para nós, nos conduziriam inevitavelmente a estar de acordo com esse amor que exige em troca toda minha vida, toda minha alma, tudo o que tenho.
Se nos falta uma melhor apreciação dos Seus sofrimentos que culminaram com a Sua morte na cruz, façamos então uma pausa na nossa leitura desta parte e leiamos os comentários relativos aos últimos capítulos deste evangelho, que tratam dos Seus sofrimentos,  e somente então, voltemos a ler do ponto em que paramos, para que possamos ter uma justa apreciação e avaliação destas verdades a que estamos nos referindo.
Finalmente, estas reflexões devem nos conduzir a ver a necessidade absoluta que temos do Espírito Santo. Vocês e eu temos que fazer estas coisas. Porém, necessitamos de poder e da ajuda que somente o Espírito Santo pode nos dar. É pelo Espírito que fazemos morrer as obras da carne. Se nos entregarmos a este trabalho de mortificação do pecado, o Espírito nos dará do Seu poder.
Portanto não devemos fazer o que sabemos que é mau. Vivamos no poder do Espírito.
Desenvolvamos nossa salvação com temor e tremor.
Conhecendo a natureza terrível do pecado nós não tentaremos mortificá-los com nossas próprias forças mas com o poder do Espírito, sabendo que é Deus quem realiza em nós o querer e o efetuar.
Nota: usamos neste comentário uma adaptação de um texto de autoria de Martyn Lloyd Jones



A Parábola da Ovelha Perdida – Mateus 18.10-14

“10 Vede, não desprezeis a nenhum destes pequeninos; pois eu vos digo que os seus anjos nos céus sempre vêm a face de meu Pai, que está nos céus.
11 [Porque o Filho do homem veio salvar o que se havia perdido.]
12 Que vos parece? Se alguém tiver cem ovelhas, e uma delas se extraviar, não deixará as noventa e nove nos montes para ir buscar a que se extraviou?
13 E, se acontecer achá-la, em verdade vos digo que maior prazer tem por esta do que pelas noventa e nove que não se extraviaram.
14 Assim também não é da vontade de vosso Pai que está nos céus, que venha a perecer um só destes pequeninos.”

Nosso Senhor, para ilustrar o cuidado que devemos ter com os pequeninos, contou uma parábola, a da ovelha perdida, que encontramos nesta passagem.
Para comentar esta passagem, nos valeremos de um sermão adaptado de Lutero, baseado no texto paralelo de Lc 15.1-7.
“Ora, chegavam-se a ele todos os publicanos e pecadores para o ouvir. E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: Este recebe pecadores, e come com eles. Então ele lhes propôs esta parábola:  Qual de vós é o homem que, possuindo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto, e não vai após a perdida até que a encontre? E achando-a, põe-na sobre os ombros, cheio de júbilo;  e chegando a casa, reúne os amigos e próximos e lhes diz: Alegrai-vos comigo, porque achei a minha ovelha que se havia perdido. Digo-vos que assim haverá maior alegria no céu por um pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento.”.

Nas tábuas da lei, os quatro primeiros mandamentos descrevem o dever do cristão para com Deus e os seis últimos o seu dever para com o seu próximo. O que isto quer indicar é que os dois grandes mandamentos são em resumo o amor a Deus e ao próximo! Amar a Deus é amar o próximo, e amar o próximo é amar a Deus. Ambos estão de tal forma relacionados que não podem ser separados.
E este amor ao próximo, num mundo sujeito ao pecado será um amor de busca de perdidos, aonde quer que eles se encontrem, e depois de achar para Deus aqueles que estavam mortos em seus pecados, carregá-los em nossos próprios ombros, assim como demonstra Jesus na parábola da ovelha perdida, de modo a conduzi-los em segurança para o aprisco de Deus.
É por isso que não devemos permitir que a nossa justa indignação pelo pecado que há no mundo, nunca venha a nos tornar inúteis para Deus e para o próximo, em razão de sermos achados cheios daquele mesmo zelo hipócrita que tornou os fariseus dos dias de Jesus inúteis para Deus.
Devemos ter muito cuidado enquanto condenamos o pecado, em não nos tornarmos pessoas amargas e distanciadas dos pecadores, porque a missão da igreja é a mesma missão de Jesus, e na verdade é Ele quem faz a Sua obra através da igreja. E devemos lembrar sempre que na presente dispensação da graça Deus tem sido longânimo para com todos os pecadores que se encontram perdidos, na expectativa de que se arrependam de seus pecados e assim sejam livrados da condenação à morte eterna, para a vida eterna que está em Jesus Cristo.
Por isso Jesus disse em Jo 12.47 que não veio, nesta dispensação da graça (enquanto ela durar), julgar o mundo como Juiz, mas salvar como Salvador. E aqui tem definido não somente a Sua missão como também a da Sua igreja. Ele virá em Sua segunda vinda como Juiz para julgar tanto vivos quanto mortos, e até lá devemos anunciar a todos o evangelho, que é boa nova de grande alegria, porque oferece salvação e não condenação a todas as pessoas. A condenação é consequência  da rejeição voluntária desta grande salvação que está sendo oferecida de modo tão gracioso por Deus para todos aqueles que venham a se arrepender de seus pecados e a confiar inteiramente em Cristo como o Seu único e suficiente Salvador.
1. As palavras do Evangelho são vivas e operantes, somente se nós as compreendemos corretamente. E, para que nós possamos aprender e entender melhor este Evangelho, nós colocaremos agora diante de nós duas classes de homens, isto é, os pecadores de todo o povo e os fariseus, e façamos com que Cristo seja o juiz deles. Você tem ouvido frequentemente que é nosso dever, por  causa do amor, servir o nosso  próximo em todas as coisas. Se ele for pobre, nós devemos servi-lo com nossos bens; se ele estiver em desgraça, nós devemos cobri-lo com o manto de nossa honra; se ele for um pecador, nós devemos  adorná-lo com a nossa retidão e devoção. Isso é o que Cristo fez por nós, que sendo rico, se esvaziou para que fôssemos enriquecidos pela Sua graça. Ele foi feito pecado em nosso lugar para que nós pudéssemos ser feitos justiça de Deus nele.
2. E de fato, um dos maiores trabalhos do amor é aquele que faz com que eu coloque a minha própria retidão a serviço do tratamento do pecado do meu próximo. Porque o amar exteriormente fazendo serviços e ajudando por meio de bens as pessoas é o amor somente em seu aspecto externo; mas ajudar e corrigir por meio da nossa retidão é algo grande e pertence ao homem interior. Isto significa que eu tenho que amar o pecador e devo desejar o seu bem, especialmente o que se refere à sua salvação eterna. Ainda que eu deva ser hostil aos seus vícios e ter que reprová-los com seriedade, contudo eu tenho que amá-lo com todo o meu coração, para cobrir os seus pecados com a minha retidão.
3. Em resumo, eu devo amar tão afetuosamente o meu próximo que eu correrei para achá-lo no deserto em que ele se encontra perdido, assim como o pastor da parábola saiu à procura da ovelha perdida no deserto. E isto é feito por uma pessoa  piedosa que esta investindo toda a sua honra no pecador.
4. Agora, um trabalho assim nunca poderá ser feito por pessoas que pensam somente na própria honra e que são impelidas somente pela razão, que estão prontas a provar a sua devoção olhando de cima  para baixo aqueles que são pecadores, tal como faziam os fariseus nos dias de Jesus, e como fazem aqueles que seguem os seus passos nos nossos próprios dias.
5. Os que desprezam os pecadores em vez de amá-los não podem ser misericordiosos para com eles. Eles se tornam muito orgulhosos e severos e não podem manifestar nenhum amor ou compaixão. Às vezes Deus permite que tais pessoas caiam em pecados grosseiros de modo a perceberem que todos somos farinha do mesmo saco. Mas nem assim são ajudados, pois tal como o fariseus, não conseguem enxergar os seus pecados e a sua condição de pecadores diante de Deus, e que igualmente às demais pessoas necessitam da Sua graça e misericórdia.
6. Na parábola da ovelha perdida Jesus está falando que os fariseus, em vez de julgarem os pecadores e publicanos, já que se consideravam homens santos a serviço de Deus, deveriam se inclinar, pegar tais pecadores e publicanos e carregá-los em seus ombros para que se convertessem de seus pecados. Mas como fariam isso já que os consideravam indignos de se aproximarem deles?
7. Um trabalho verdadeiramente Cristão é exatamente isto: nós devemos descer e nos levantarmos tão misturados ao lodo do pecador, tão profundamente quanto ele mergulhou lá, enquanto tomamos o pecado dele como se fosse o nosso próprio pecado, para interceder poderosamente em seu favor diante de Deus. Nós devemos reprová-lo e lidar com ele seriamente, ainda que não devemos de modo nenhum menosprezá-lo, antes devemos amá-lo sinceramente. Nós deveríamos entrar em nosso quarto e dizer em oração: “Oh Deus, em peço em favor de fulano de tal, que está caído em seus pecados. Oh Deus ajude-o a se levantar novamente.”.
8. Moisés agiu assim quando os Israelitas adoraram o bezerro de ouro. Ele intercedeu insistentemente em favor deles, confessando os pecados deles como fossem os seus próprios pecados.
9. Paulo também agiu assim. Ele desejava ser anátema por amor aos seus irmãos judeus.
  10. Quando os israelitas desprezaram o profeta Samuel pedindo um rei, ele continuou orando em favor deles. (I Sm 8.20; 12.19-24).
11. Nos é ordenado que habite em nós o mesmo sentimento que havia em Cristo. (Fp 2.4-9).
12. Cristo estava cheio com toda a retidão, e poderia nos ter condenado a todos justamente, por sermos pecadores. Mas ele não fez assim. O que Ele fez então? Ele se deu para ser nosso Servo. A retidão dele serviu para os nossos pecados, o poder dele para a nossa fraqueza, a vida dele para a nossa morte. Ele foi conhecido como amigo dos pecadores.
13. Cristo é o bom pastor;  porque ele anda no deserto, quer dizer, no mundo. Ele busca a ovelha perdida, quando ele vem com a Sua Palavra e a proclama a nós, primeiro referindo-se aos nossos pecados, e então mostrando depois  a Sua graça e misericórdia para conosco.
14. Aprenda disto, então, que nosso próximo será buscado como uma ovelha perdida e que a vergonha dele será coberta com a nossa honra; que a nossa devoção deve ser uma cobertura para os pecados dele. Mas hoje em dia, é comum ver as pessoas se caluniando mutuamente, como se com isso desejassem demonstrar o quão são zelosas contra o pecado. Quando achamos uma pessoa ferida mortalmente pelos seus pecados é nosso dever ajudá-la a curar as suas feridas e não abri-las ainda mais com as nossa acusações. Não imitemos o exemplo dos amigos de Jó que conseguiram condená-lo de pecados que sequer havia cometido.
Se você se encontrar com uma pessoa ferida à qual foi enviado pelo Espírito de Deus, você deve lançar o seu manto sobre a sua vergonha e feridas, e deve fechar a porta da casa para não expô-la ao juízo e condenação de outros.
15. Cristo também age assim. Ele se mantém silencioso e cobre nossos pecados. Realmente, ele poderia nos expor e envergonhar, e nos colocar debaixo dos Seus pés, mas Ele não faz assim. Tudo será trazido à luz no juízo final. Então tudo que foi escondido será revelado. Então nós acharemos misericórdia para nós pela medida de misericórdia que tivemos por outros. Pois não há maior pecado diante de Deus do que homens e mulheres piedosos menosprezarem aqueles que estão mortos em seus pecados, porque receberam graça da parte do Senhor para reparti-la com outros que dela necessitam, e não para menosprezá-los.
16. Deste modo o evangelho nos ordena que devemos cobrir os pecados de outros com o nosso amor, porque o amor cobre multidão de pecados. Ainda que isso não signifique concordância ou cumplicidade com o pecado deles. E além disso, é o próprio Cristo que faz isto por meio de nós, porque nenhum homem cumpre a lei de Deus tão perfeitamente quanto Ele. Nós somos apenas uma faísca entre o fogo divino e a luz. Ele é o fogo do qual o céu e terra estão cheios.
17. Mas este Evangelho é inútil aos Fariseus, porque eles não reconhecem os seus pecados. Mas o evangelho deve ser levado àqueles que reconhecem os seus pecados, e que estão a ponto de desesperar.
18. E nesta parábola da ovelha perdida o Senhor diz que haverá maior alegria no céu por um pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento.  E isto deve encorajar você a vir e se deixar levar nos ombros de Cristo.
19. É assim que você vem a Deus. Você já é uma  ovelha colocada nos ombros dEle. Você encontrou o Pastor.. E é por sua causa que se diz que há muita alegria no céu na presença de todos os anjos.”


A Remoção das Ofensas – Mateus 18.15-20

“15 Ora, se teu irmão pecar, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, terás ganho teu irmão;
16 mas se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda palavra seja confirmada.
17 Se recusar ouvi-los, dize-o à igreja; e, se também recusar ouvir a igreja, considera-o como gentio e publicano.
18 Em verdade vos digo: Tudo quanto ligardes na terra será ligado no céu; e tudo quanto desligardes na terra será desligado no céu.
19 Ainda vos digo mais: Se dois de vós na terra concordarem acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus.
20 Pois onde se acham dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.”

Para que não fosse mal compreendido em Seu ensino sobre o cuidado com os pequeninos, e que isto não implicava de modo algum, ser tolerante com a prática do mal, nosso Senhor apresentou nesta passagem as regras gerais para o exercício da disciplina na Igreja.
No comentário desta passagem nos valeremos de uma adaptação de um estudo de John Macarthur relativo ao assunto, que traduzimos do original em inglês, em domínio público.
“Uma das mais difíceis responsabilidades para os pais é a educação de seus filhos através do exercício da disciplina. Muitos pais evitam confrontar seus filhos e preferem deixar as coisas no estado em que se encontram. Contudo, é necessário agir com amor, mas com firme e consistente disciplina.
Este mesmo princípio é verdadeiro na família de Deus, pois o Senhor tem dado instruções para disciplinar aqueles membros da família que se recusam a se submeter aos padrões de vida santa que Ele tem estabelecido em Sua Palavra. Os que são responsáveis pela liderança da Igreja devem cedo ou tarde captar a sua responsabilidade em exercer a disciplina da família de Deus.
Quando o assunto da disciplina da igreja é mencionado, muitas perguntas vêm imediatamente à mente. O que Deus fala sobre disciplina? A disciplina está destinada a ser aplicada nos dias de hoje? Quais princípios devem estar envolvidos no processo da disciplina? Como começar a aplicar a disciplina quando esta tem sido negligenciada há muito tempo? Quais tipos de repercussões podem ser esperadas se o processo de disciplina é iniciado?
A disciplina nunca é fácil. Ela é difícil tanto para os que são submetidos a ela, quanto para aqueles que administram o processo. Contudo, na família de Deus, seus filhos são chamados a fazer o que é correto mesmo que isto possa ser difícil. Como lemos em Heb 12.11: “Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza: ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça.”.  Este fruto é o alvo em toda disciplina – o caráter justo de Cristo produzido na vida do cristão.
A disciplina na igreja é uma evidência do amor cristão.
O livro de Provérbios fala repetidamente da disciplina no contexto familiar. Ao pai é dada a responsabilidade de disciplinar seus filhos. Prov 13.24 diz. “O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo, o disciplina.”. Se os pais falharem na disciplina de seus filhos, isto é uma evidência de que eles realmente não os amam. Algumas pessoas dizem que elas amam muito seus filhos e que por isso não os disciplinam. Não, a Bíblia diz que não disciplinar significa não amar. É por isso que os filhos de Deus são disciplinados por Ele. Ele os ama. Deixá-los sem disciplina acarretará problemas para eles próprios e para outros.
Quando a disciplina envolve a família de Deus, o princípio é ainda o mesmo. A disciplina é necessária. E é sempre uma manifestação de amor se for aplicada apropriadamente. É fácil verificar os abusos de disciplina, de pais que punem seus filhos de maneira abusiva. Obviamente, não é isto o que a Bíblia incentiva. Casos de disciplina em igrejas que foram administradas de forma não bíblica, também logo vêm à nossa mente.
A disciplina envolve a igreja local. A igreja universal é composta por muitas pessoas que têm compreendido e crido que Jesus Cristo morreu pelos seus pecados.
Uma analogia que é usada frequentemente no Novo Testamento é que a igreja é um corpo, o Corpo de Cristo. I Cor 12 usa esta analogia para mostrar como os cristãos têm sido colocados pelo Espírito de Deus no Corpo de Cristo.
A igreja local é simplesmente o local da representação e da manifestação do corpo universal de Jesus Cristo no qual os cristãos se encontram para adorá-lo e servi-lo.
Quanto à estrutura do Corpo de Cristo, a Bíblia diz que é importante manter a pureza do corpo e manifestar acurada e corretamente o caráter de Cristo. Desde que os cristãos são o Seu Corpo, eles devem manifestar o Seu caráter, santidade e pureza. Para manter a pureza e a santidade, a disciplina é necessária.
Paulo disse aos coríntios para tratarem de remover o pecado do meio da igreja porque “um pouco de fermento leveda a massa toda” (I Cor 5.6). Em Gál 5.9 ele diz a mesma coisa: “um pouco de fermento leveda toda a massa”, e por isso o pecado deve ser tratado porque ele invade o Corpo e afetará aos demais. Assim, se o pecado não é disciplinado, ele se alastrará. E quando se alastra, ele compromete o testemunho que os cristãos dão do caráter e pureza de Cristo. Sua santidade não será manifestada no Seu Corpo.
E a disciplina deve ser aplicada porque os cristãos são companheiros. A grande marca do cristão é o amor porque todos são filhos de Deus. O amor sempre reclama a disciplina. Se o genuíno amor for manifestado na igreja local, a disciplina bíblica será praticada. Guarde em sua mente, dois princípios da disciplina da igreja. O primeiro diz respeito aos cristãos que fazem parte da família da igreja local. A disciplina da igreja diz respeito somente àqueles que são integrantes da família de Deus. Assim, cada igreja local é responsável por seus próprios membros. Os pais não punem os filhos dos vizinhos, e ocorre o mesmo com a disciplina bíblica. Segundo, a disciplina deve ter sempre o objetivo de corrigir o problema. A disciplina é aplicada a cristãos que estão vivendo no pecado para ajudá-los a deixar tal prática.
Em Mateus 18, Jesus apresenta claramente o padrão para a disciplina na igreja. Este padrão é visto nas epístolas do Novo Testamento. Há seis degraus na disciplina bíblica. Quatro deles estão em Mt 18, e os dois restantes em outras porções do Novo Testamento.

Confrontação Pessoal

O primeiro passo é a confrontação pessoal. “Se o teu irmão pecar contra ti, vai argui-lo entre ti e ele só.” (Mt 18.15). Um irmão é um membro do Corpo como nós, e que faz parte da família de Deus, um que tem crido em Cristo e que agora faz parte do Seu Corpo. “Irmão” é a palavra usada no texto. Se uma irmã peca, o princípio é o mesmo. A situação descrita é aplicável a qualquer cristão que peque. Basicamente, qualquer área da vida cristã que está abertamente em rebelião com a Palavra de Deus está em vista aqui.
Se um Cristão está em pecado e isto se torna do conhecimento de algum outro cristão, este deve confrontá-lo. Se Deus tem feito o pecado conhecido, Ele está indicando que Ele deseja que o pecado seja confrontado. Ele não permite que um pecado de um cristão se torne conhecido de outro, que não seja capaz de fazer a confrontação. O cristão que foi conscientizado do pecado do outro, é quem deve fazer a confrontação. Deus colocou isto fortemente em Sua Palavra, “vai argui-lo” (Mt 18.15). Uma correção deve ser feita. Assim o cristão se aproximaria apropriadamente do cristão pecador, em amor. Uma igreja carnal não pode praticar isto. É necessário que cristãos amadurecidos no amor existam na igreja, para que possam exercer a sua disciplina. Como Paulo diz em Rom 15.14: “E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros.”. A demonstração deste zelo em manter a pureza do Corpo, por parte dos próprios membros, é uma manifestação prática e visível do amor dos cristãos por Cristo. É uma grande prova do Seu amor por Ele e por sua igreja. E como Ele se agrada disto! Ele derrama bênçãos sobre a igreja que se conduz de tal modo, como confirmação do Seu agrado.
Por isso também lemos em Heb 10.24:
“Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes façamos admoestação, e tanto mais quanto vedes que o dia se aproxima.”.
Desta passagem tem-se enfatizado muito apenas a obrigação de os cristãos se congregarem, mas podemos observar que o grande foco da passagem é a confrontação pessoal entre os cristãos para viverem no amor praticando boas obras e se exortando mutuamente, para que sejam irrepreensíveis na vinda de Cristo, quando cada um prestará contas de tudo que tiver feito em sua vida a Deus, ainda que não para condenação eterna.  
A confrontação deve ser feita privadamente (Mt 18.15).
Não deve ser feita na presença de outras pessoas. Fale ao irmão faltoso sobre o pecado que tem sido revelado. Isto é duro de ser feito, mas é a manifestação do verdadeiro amor do cristão. Confie em Deus para fazer tal confrontação em amor. Não há como prever a reação, mas a confiança em Deus deve operar na vida de seus filhos.
Mt 18.15 ainda diz: “Se ele te ouvir, ganhastes a teu irmão.”. Se há arrependimento, isto é o fim do assunto. Acabou! Não diga nada a ninguém mais sobre a situação, porque seria pecado. Não faça fofoca ou espalhe rumores. Lembre que Deus ordena que a situação seja tratada em privado. Regozije-se e louve a Deus por Sua graça e Seu trabalho. Isto é para ser tratado estritamente entre você, a pessoa e o Senhor.
Lc 17.3 diz, “Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe.”. Em Gál 6.1 lemos: “Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós que sois espirituais, corrigi-o com o espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado.”. Aqui, o verbo “corrigir” é usado, indicando o objetivo da confrontação. Não se aproxime com espírito de superioridade, mas com espírito de gentileza e humildade, pois cada um deve olhar por si mesmo para que não seja também tentado. Não vá com atitude arrogante, mas com sincero desejo de ajudar. Tenha cuidado para não cair no pecado.

Confrontação com Testemunhas

Se o irmão responder negativamente à confrontação, sua responsabilidade ainda não terminou. É hora do segundo passo. Se não há resposta à confrontação pessoal, o segundo passo é confrontá-lo com testemunhas. “Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça.” (Mt 18.16). Está claro que o amor cristão exige trabalho. É duro exercitar a disciplina bíblica, mas o amor busca o que é melhor para todos, independente do custo pessoal. Se não há arrependimento após  a confrontação pessoal, traga um ou dois cristãos maduros para que juntamente com você possam testemunhar o confronto contra o  pecado do irmão que recusou se arrepender.
As testemunhas são para os seguintes propósitos: Primeiro, para que eles também testifiquem contra o pecado. O segundo, para que no caso de não aceitação da admoestação, eles possam dar seu testemunho na continuação do processo. Mas, caso haja arrependimento, o caso está terminado, e deve-se proceder em relação ao resguardo do caso, da mesma maneira como no primeiro passo da confrontação pessoal.
Mas se a confrontação com testemunhas não der resultado positivo, a responsabilidade ainda não terminou, e deve ser dado um terceiro passo, a saber:

Confrontação com a Igreja

O terceiro passo está em Mt 18.17: “E, se ele não os atender, dize-o à igreja: e, se recuar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano.”. O pecado agora deve ser confrontado pela igreja. Duas tentativas não reconciliaram o cristão – uma privada e outra com um pequeno grupo de testemunhas. A igreja local deve agora tratar com o pecado.

O Conselho de Anciãos.

Isto pode ser feito diretamente ou em duas fases. Há igrejas que usam como primeira fase o Conselho de Anciãos que representam e tratam da disciplina na igreja local. Eles devem avaliar a situação, indicando os passos que ainda deverão ser tomados. Os anciãos contataram com a pessoa envolvida. Eles farão um confronto pessoal para tratar do pecado em questão. Eles encorajarão a pessoa a ver a gravidade da situação e a tratarão com propriedade. Se a pessoa reconhecer a gravidade do pecado e arrepender-se, então, o assunto está encerrado.

Toda a Igreja.

Se não houver uma resposta apropriada, a segunda fase é iniciada. Toda a igreja, como corpo fica ciente da pessoa e seu pecado. A igreja estaria em oração sobre o assunto e pela pessoa por um período de tempo específico, talvez duas ou três semanas, antes do julgamento. Se no tempo aprazado a pessoa reconhecer a gravidade do seu pecado e mostrar-se arrependida, ela deve ser perdoada e o processo está encerrado.

Cortado de Toda Associação

Se a pessoa ainda recusar-se ao arrependimento, o quarto e último passo deve ser dado, como lemos em Mt 18.17: “e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano.”.
Isto significa que a pessoa está cortada de toda associação com a igreja local. Os cristãos estão obrigados a se separarem completamente de se associarem com tal indivíduo. Deve ser um rompimento total.
Repare a seriedade disto em Mt 18.18: “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra, terá sido ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra, terá sido desligado no céu.”.
O mandamento é dado à igreja local, não à hierarquia da igreja.
A disciplina é operada no contexto da igreja local.
Este padrão é visto também em Coríntios, Tessalonicenses e Timóteo. Quando a disciplina é administrada, os cristãos são excluídos, e Deus reconhece esta disciplina. Isto é parte da Sua operação através da igreja local, e o Seu nome é exaltado e glorificado nos cristãos, que revelam amor  e zelo por Sua santidade.

Uma Objeção Comum

Frequentemente, quando o assunto da disciplina da igreja é levantado, João 8.7 é citado: “”Aquele que dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro que lhe atire pedra.”. As pessoas utilizam este versículo como justificativa para não aplicarem a disciplina na igreja, conforme prevista em Mt 18. Contudo, isto é decorrente de um entendimento inadequado da situação nem João 8, porque está em foco uma pessoa que estava presumivelmente se convertendo ao Senhor, que seria ainda incluída no Seu corpo. E a disciplina na igreja trata com aqueles que já fazem parte do Corpo de Cristo. É evidente que o pecado de um descrente arrependido deve ser perdoado por Deus e pela igreja, e tal pessoa deve ser recepcionada como novo membro do Corpo. Mas, quando se torna um cristão está sujeito à disciplina a que todos estão sujeitos na igreja. Mesmo à igreja carnal de Corinto Paulo exigiu que exercessem a disciplina, apesar de serem bebês em Cristo, e de suas imperfeições. O pecado deliberado não deve ser tolerado na igreja. Uma rebelião aberta contra a Palavra de Deus na vida dos cristãos deve ser tratada de acordo com a Escritura.

Entregue a Satanás.

Algumas passagens das epístolas também relatam a exclusão de cristãos que estavam em rebelião contra Deus. Em I Cor 5 é citado um pecado deliberado. Esta passagem apresenta um homem que estava envolvido em imoralidade sexual com sua madrasta. A igreja de Corinto estava ignorando o assunto. Note a ênfase em I Cor 5.4,5. A disciplina deve ser exercida no nome e poder de Jesus. Entregar alguém a Satanás, em outras palavras quer significar o corte da associação com todos os demais cristãos. Lembre que o objetivo final é a restauração dos cristãos, mas o corpo da igreja local deve também ser protegido da corrupção.
  Os coríntios não tinham tomado nenhuma ação contra o homem em seu meio porque eles tinham se equivocado quanto a uma carta anterior de Paulo. O apóstolo havia dito para não se associarem com pessoas imorais. A igreja pensou que ele estava se referindo a não se associarem com o mundo. Isto não é possível. Paulo clareou o assunto em I Cor 5.11.
Um cristão deve ser tratado como um cristão, em razão de sua condição de filho de Deus. Quem professou ser um cristão, deve ser disciplinado como um cristão.
Expulsar o Malfeitor.

A ênfase da severidade prossegue em I Cor 5.13: “Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor.”. Isto é outra maneira de dizer que deve ser entregue a Satanás. Cortar a pessoa da associação com a igreja torna-a sujeita ao reino do Inimigo. Isto é uma coisa terrível. Em I Jo 5.19 nos é dito, “que o mundo inteiro jaz no malígno,”. O que ocorre quando um cristão em pecado é excluído da igreja? Ele é deixado no reino dos malígnos. Isto dá a Satanás certas liberdades físicas em relação ao cristão.  Entregar alguém a Satanás não é para a sua destruição final. Mas tem em vista o que ele pode aprender da disciplina quando é exposto a Satanás. Que a disciplina é muito, muito severa, nós vemos em I Tim 1.20: “E dentre esses se contam Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para serem castigados, a fim de não mais blasfemarem.”.
 Em II Tim 2.16-18 lemos que Himeneu e Fileto estavam usando um ensino que estava contrariando a verdade de Deus, e assim estava gangrenando o corpo de Cristo, e por isso foi necessário submetê-los à disciplina da exclusão, especialmente para preservar a igreja. O único remédio para tratar uma gangrena é cortar a parte afetada do corpo. Os cristãos não manifestam amor a Deus e à igreja quando deixam a gangrena se espalhar pelo corpo.
Em II Tes 3.6 lemos: “Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que ande desordenadamente, e não segundo a tradição que de nós recebestes;”.

Afastar-se.

Há outra passagem para ser considerada no assunto da dissociação. Rom 16.17,18, que pode ser tanto aplicada a cristãos quanto a descrentes. Os cristãos devem evitar os falsos mestres. A Palavra é clara. Isto não se trata de disciplina, mas é uma ordenança para a vida cristã. Em Rom 16.17, 18 lemos: “Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que aprendestes: afastai-vos deles, porque esses tais não servem a Cristo nosso Senhor, e, sim, a seu próprio ventre: e, com suaves palavras e lisonjas enganam os corações incautos.”.
O padrão é claro e inegável. Está descrito em muitas passagens das Escrituras. Um cristão que vive no pecado deve ser cortado da associação com os demais cristãos. Isto é duro de ser feito, mas é o padrão bíblico que deve ser mantido para a pureza da igreja e a manifestação do amor cristão.

Posto em Vergonha.

O problema identificado em II Tes 3.11 era que alguns não estavam trabalhando. “Pois, de fato, estamos informados de que entre vós há pessoas que andam desordenadamente, não trabalhando; antes se intrometem na vida alheia.”. Eles estavam ociosos, vivendo indisciplinadamente e pensando que outros deveriam sustentá-los. II Tes 3.14,15 diz: “Caso alguém não preste obediência à nossa palavra dada por esta epístola, notai-o; nem vos associeis com ele, para que fique envergonhado. Todavia, não o considereis por inimigo, mas adverti-o como irmão.”. O cristão não é um inimigo. Paulo diz que se alguém entre os cristãos tessalonicenses não obedecesse às instruções de sua carta, para não se associarem com ele.

O Alvo é a Restauração.

Frequentemente ocorre que quando a pessoa é cortada de toda associação com os cristãos, que a seriedade do pecado é reconhecida. A pessoa não tem qualquer outra alternativa, senão retornar para Deus. Se ela se arrepende, a igreja deve dar as boas vindas ao cristão imediatamente.
II Cor 2.7 diz que a resposta correta é receber imediatamente o retorno do cristão. Pensamentos de punição e sofrimento não são apropriados. Lembre que o alvo é a restauração, não a punição. Tão logo que o pecado seja deixado para trás, a pessoa deve ser restaurada à comunhão. Este é o caso citado em II Cor 2.7: “De modo que deveis, pelo contrário, perdoar-lhe e confortá-lo, para que não seja o mesmo consumido por excessiva tristeza.”. Esta restauração e acolhimento pela igreja é uma demonstração prática do amor cristão.
Em II Cor 2.10,11 Paulo prossegue: “A quem perdoais alguma cousa, também eu perdôo; porque de fato o que tenho perdoado, se alguma cousa tenho perdoado, por causa de vós o fiz na presença de Cristo; para que Satanás não alcance vantagem sobre nós, pois não lhe ignoramos os desígnios.”.

Tenha cuidado!

Satanás tentará corromper o processo, mesmo por prevenir o exercício da disciplina ou por prolongar a disciplina quando isto não é necessário. Espera-se que depois do quarto passo de ser confrontado e excluído pela igreja, que a gravidade da situação se torne visível, e que a pessoa se arrependa.
 Mas quando os quatro passos não produzem o arrependimento, há mais dois passos, pois Satanás é usado por Deus como instrumento de disciplina.
Caso não haja arrependimento com os quatro passos que são da responsabilidade da igreja, o cristão estará sujeito às seguintes confrontações:

Confrontação pela Fraqueza e pela Doença

Isto é o que ocorrerá com o cristão rebelde depois do quarto passo tomado pela igreja para a sua disciplina. Isto está descrito em I Cor 11. Muitos na igreja estavam incorrendo no pecado enquanto lembravam a morte do Senhor na santa ceia. Eles estavam perpetuando o pecado, em razão do qual Cristo havia sido crucificado.
E Paulo lhes diz em I Cor 11.30: “Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes,”. Estas duas condições são o quinto passo, que está no domínio exclusivo de Deus, quanto à disciplina da igreja.
Fraqueza é uma palavra abrangente que inclui toda sorte de problemas trazidos à vida dos cristãos. Por exemplo, Jó não sofreu somente doenças físicas, mas também perda de possessões, a morte de seus filhos, e ele estava atormentado com muitos problemas, e veja, isto não em razão de pecados praticados, mas porque estava sendo disciplinado por Deus para que pudesse ser melhor conhecido por Jó.
Enquanto em João 9 vemos que nem todos os sofrimentos são resultantes de pecados pessoais, a doença mencionada em Tiago 5 é o resultado do pecado. Se um cristão se rebela contra Deus e continua a viver no pecado, a doença pode ser atribuída à correção que procede da mão de Deus. Se um cristão estiver doente por causa do pecado, ele o saberá. Tenha cuidado. Outros cristãos nem sempre podem reconhecer isto.
Tiago dá esta instrução, “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. Confessai, pois os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados.” (Tg 5.14-16). Se um cristão reconhece que a mão de Deus está sobre sua vida, usando Satanás para que o enferme, e assim traga arrependimento à sua vida, por chamar os presbíteros para orarem por ele, então a disciplina é removida quando o arrependimento ocorre, e ele é também curado de sua enfermidade física que tinha por causa do pecado.

Confrontação pela Morte

O último passo na disciplina da igreja, é dado por Deus, com a morte física do cristão.
Deus frequentemente usa Satanás como instrumento. Em I Jo 5.16 lemos: “Há pecado para morte e por esse não digo que rogue.”. Os presbíteros não podem orar por uma pessoa que está enferma para a morte em razão do pecado. Em I Cor 11.30 Paulo diz que além dos que estavam fracos e enfermos, muitos estavam dormindo, referindo-se com isto, à morte física dos cristãos, como castigo pelo pecado.
Ainda que o custo altíssimo da disciplina não seja percebido nesta vida, certamente isto trará perda de recompensas e bênçãos e será visto na eternidade. Não é uma tragédia um cristão morrer jovem ou velho quando é o tempo de Deus. Mas é uma tragédia quando é disciplinado por Deus com o castigo da morte física.  Pois isto é um indicativo de que ficou endurecido em seu pecado e recusou-se a se arrepender enquanto em vida neste mundo. E isto ficará marcado para sempre, e será revelado especialmente no Tribunal de Cristo, quando sua vida for julgada pelo Senhor, ainda que não para condenação eterna.

A Disciplina é para o Nosso Deus.

“Além disso, tínhamos os nossos pais segundo a carne, que nos corrigiam, e os respeitávamos; não havemos de estar em muito maior submissão ao Pai dos espíritos, e então viveremos? Pois eles nos corrigiam por pouco tempo, segundo melhor lhes parecia; Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade.” (Hb 12.9,10).
A disciplina é para o bem dos cristãos, de modo que possam participar da santidade de Deus.
   Em Hb 12.11 lemos que o alvo da disciplina é produzir o fruto da justiça. Assim, o objetivo em vista é a justiça. A disciplina, quando aplicada não é motivo de alegria, mas de tristeza, mas produz a justiça que é segundo Deus em sua igreja. Esta disciplina é parte do processo de amadurecimento dos cristãos. Por isso a Palavra ordena que os cristãos se disciplinem mutuamente, em amor.
Por isso os cristãos necessitam orar a Deus para que Ele lhes dê sabedoria, coragem e amor para exercerem a disciplina na maneira bíblica, sempre que isso for necessário.
Quando falamos sobre punição divina ou disciplina ou correção divina, no caso de cristãos, não estamos falando sobre uma punição judicial dos pecados para nossa salvação.
Nós estamos falando de punição, correção e disciplina com vistas à nossa santificação.
Deus já puniu em Cristo todos os nossos pecados. Mas, Deus tem nos punido pelos nossos pecados aqui neste mundo para nos conformar mais e mais à santidade e à justiça, que nos trarão maiores bênçãos e utilidade.
Na disciplina, o objetivo é a santidade, para conformar o cristão à pureza.
Na punição do ímpio, a condenação é o alvo, e na disciplina do cristão, a justiça é o alvo.
Agora, devemos distinguir os sofrimentos que nos sobrevêm como cristãos, por conta da perseguição do mundo e do diabo, contra a nossa fidelidade a Cristo, de modo, que em nós se cumpre a Palavra de que todo o que quiser viver piedosamente em Cristo padecerá perseguições, dos sofrimentos que nos sobrevêm por estarmos sendo disciplinados por Deus.
No primeiro caso há honra e glória, e no segundo, há desonra e vergonha, pois neste último, estamos sofrendo por causa dos nossos pecados, e no primeiro, em razão da nossa fidelidade.
Assim, tanto num quanto noutro caso, estamos sujeitos às aflições que temos que sofrer neste mundo, por sermos cristãos. Ou estamos sendo corrigidos por Deus, ou perseguidos por conta de nossa fidelidade a Ele.
Uma vida cristã vitoriosa não pode significar portanto ausência de perseguições, de sofrimentos. Não pode ser traduzida por comodidade e conforto ao longo de toda a nossa jornada. Porque se nos amoldarmos ao mundo, Deus nos corrigirá. E se vivermos fielmente a Deus, seremos perseguidos.”



Perdoar 70 x 7 ? – Mateus 18.21-35

“21 Então Pedro, aproximando-se dele, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu hei de perdoar? Até sete?
22 Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete; mas até setenta vezes sete.
23 Por isso o reino dos céus é comparado a um rei que quis tomar contas a seus servos;
24 e, tendo começado a tomá-las, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos;
25 mas não tendo ele com que pagar, ordenou seu senhor que fossem vendidos, ele, sua mulher, seus filhos, e tudo o que tinha, e que se pagasse a dívida.
26 Então aquele servo, prostrando-se, o reverenciava, dizendo: Senhor, tem paciência comigo, que tudo te pagarei.
27 O senhor daquele servo, pois, movido de compaixão, soltou-o, e perdoou-lhe a dívida.
28 Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos, que lhe devia cem denários; e, segurando-o, o sufocava, dizendo: Paga o que me deves.
29 Então o seu companheiro, caindo-lhe aos pés, rogava-lhe, dizendo: Tem paciência comigo, que te pagarei.
30 Ele, porém, não quis; antes foi encerrá-lo na prisão, até que pagasse a dívida.
31 Vendo, pois, os seus conservos o que acontecera, contristaram-se grandemente, e foram revelar tudo isso ao seu senhor.
32 Então o seu senhor, chamando-o á sua presença, disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste;
33 não devias tu também ter compaixão do teu companheiro, assim como eu tive compaixão de ti?
34 E, indignado, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que pagasse tudo o que lhe devia.
35 Assim vos fará meu Pai celestial, se de coração não perdoardes, cada um a seu irmão.”

Ao ouvir o ensino de nosso Senhor relativo ao exercício da disciplina na Igreja, que comentamos na passagem anterior, Pedro se antecipou aos demais discípulos e perguntou a Jesus quantas vezes estaria obrigado a  perdoar um irmão faltoso, até chegar à conclusão de que deveria considerá-lo um gentio e publicano.
Ele se valeu da tradição dos escribas e fariseus quando perguntou se até sete vezes, porque eles ensinavam que este era o número máximo que uma pessoa poderia ser perdoada por alguém.
Nós podemos perceber que há um encadeamento nestes ensinos, e que uma regra conduz a outra regra, não de modo legalista, mas nos diversos aspectos que estão relacionados neste grande assunto que podemos chamar de vida cristã.
Aqui temos então, a explicação do espírito com o qual a disciplina deve ser aplicada na Igreja, a saber, com “toda a longanimidade e doutrina”, ou seja com paciência para com as faltas de outros, e seguindo o reto ensino de nosso Senhor relativo ao assunto.
Longanimidade é fruto do Espírito Santo e não obra da lei.
 "19 Sabei isto, meus amados irmãos: Todo homem seja pronto para ouvir,  tardio para falar e tardio para se irar.
20 Porque a ira do homem não opera a justiça de Deus.
21 Pelo que, despojando-vos de toda sorte de imundícia e de todo vestígio do mal, recebei com mansidão a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar as vossas almas." (Tiago 1.19-21)
 O Tiago, autor da epístola que leva o seu nome, era também filho de Maria, e irmão de Jesus, e certamente ele viu desde há muito o exemplo de mansidão  e de longanimidade que se encontravam em Jesus, apesar de ter sido dado a  Ele pelo Pai, toda autoridade no céu e na terra para julgar.
Ele é  o  Senhor  da ira contra o pecado, o Cordeiro que manifestará a Sua ira no tempo do  fim, conforme vemos em Apocalipse, mas que ao mesmo tempo é manso  e  humilde de coração; e totalmente longânimo (tardio em se irar).
Não podemos medir a nossa ira pela ira de Deus, porque a  ira  do  Senhor é perfeitamente justa e santa, e é Ele que tem o poder de julgar as  consciências humanas e executar uma sentença de condenação sobre elas.  A  nós,  não foi dada tal autoridade, ao contrário, somos ordenados a não passar este tipo de juízo condenatório definitivo nos outros, para que não sejamos  julgados com a mesma medida que julgamos. E quão difícil e delicado é viver isto.
Por isso devemos examinar este assunto nas Escrituras, para podermos aplicar em nossas vidas a vontade de Deus quanto à diferença que há  entre  uma ira justificada e santa, e uma ira não justificada e não santa.
Lembremos que Moisés não estava em rebelião contra Deus, mas o povo de Israel sim, e murmuraram contra Ele. Mas quando Moisés  descarregou  a  sua ira contra eles em Refidim, quem foi julgado por Deus naquela ocasião foi o próprio Moisés, e não eles. A Moisés, o ter se irado contra eles  e  batido  na rocha, custou ser proibido de entrar em Canaã, ainda que tivesse  insistido com o Senhor para entrar na terra prometida.
Moisés não foi julgado pelo Senhor porque se irou contra o pecado dos israelitas, porque  a  sua  ira  era justificada e santa, mas porque não conteve a sua ira, quando Deus não estava exercendo nenhum juízo sobre eles, e portanto cabia-lhe seguir o  exemplo do Senhor naquela situação.
Se tivesse de passar algum  juízo,  ele  deveria passar o juízo determinado por Deus, e não agir pela própria  conta.
Há  um grande ensino para nós naquele incidente. O que faltou a Moisés foi longanimidade. Veja que problema é isto quando ela falta aos líderes da Igreja  de Cristo.
Se nós formos perder a nossa tranquilidade de mente por causa do pecado de alguns cristãos da nossa igreja ou de outras, nós nunca poderemos ter paz com Deus, porque o diabo sempre usará isto contra nós.  É preciso  pois ser sempre longânimos, porque sempre haverá o joio entre nós.
É preciso pois aprender do mesmo exemplo de longanimidade de  Cristo  e  dos apóstolos, especialmente os líderes do povo de Deus, para que não venhamos a destruir a obra que Ele nos tem designado para dirigir, por causa de um destempero que não nos permita sermos longânimos para com todos, conforme é necessário, para que em meio a todas as dificuldades que venhamos a encontrar no caminho no nosso relacionamento com as pessoas que Deus tem colocado debaixo do nosso cuidado, especialmente para que aquelas dificuldades criadas por Satanás, não venham a pôr a obra do Senhor a perder,  por  falta  da nossa longanimidade.
Por isso se ordena que a exortação pastoral seja feita segundo  a  doutrina, mas também com longanimidade: "prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, admoesta, repreende,  exorta, com toda longanimidade e doutrina." (II Tim 4.2).
Para tanto o apóstolo Paulo destaca o seu próprio exemplo  de  longanimidade para ser seguido pelos líderes:
"Tu, porém, tens observado a minha  doutrina, procedimento,  intenção,  fé, longanimidade, amor, perseverança," (II Tim 3.10).
E não somente aos líderes, como também a todos os cristãos, ele afirma a  necessidade de serem longânimos para com todos:
"com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns  aos outros em amor," (Ef 4.2).
"corroborados com toda a fortaleza, segundo o poder da sua glória, para toda a perseverança e longanimidade com gozo;" (Col 1.11).
A longanimidade é portanto uma atitude pessoal de não se irar com facilidade e rapidamente em relação aos outros.
Portanto, ao tratarmos de assuntos como a ira de Deus, que  é  um  dos Seus atributos, sobre assuntos relativos ao Seu juízo, e ao inferno, não  devemos esquecer que Deus é longânimo, e que por isso, muitas vezes retarda o Seu juízo, dá oportunidades imensas aos Seus inimigos para se arrependerem, suporta com muita longanimidade as iniquidades dos vasos de ira, e não se permite ter qualquer perturbação de mente por causa das transgressões deles.
E é particularmente neste aspecto que Jesus nos chama a imitar o  Seu próprio exemplo de mansidão e humildade, que são a base da sua completa longanimidade.
De outra forma, por exemplo, como o próprio apóstolo Paulo poderia  ter sido salvo, a não ser pela completa longanimidade de Jesus, da qual ele  dá testemunho em I Tim 1.16, porque afinal foi perseguidor da Igreja  antes da sua conversão?
Ele afirma ser o principal dos pecadores por causa desta perseguição da Igreja, ao qual Jesus demonstrou que é de fato totalmente longânimo, porque de outra forma não lhe teria perdoado e teria executado o Seu juízo sobre ele desde há muito.
Mas como é paciente na expectativa de que o pecador se arrependa e se converta, ele pôde ser  salvo,  assim  como  todos aqueles que têm sido alvo da longanimidade de Deus, porque não foi longânimo somente para com ele, Paulo, mas é para com todos os pecadores.
Longanimidade é a capacidade de suportar ofensas e danos  sem  precipitar-se numa ira condenatória sobre quem nos ofendeu ou  prejudicou.
É pois muito mais do que a capacidade de ser paciente em circunstâncias gerais  adversas, pois está implícito o retardamento da ira e do juízo  com  vistas  a não se ressentir contra as faltas sofridas da parte  de  outros, e da  não aplicação de um castigo imediato sobre eles, se isto se encontra  na  esfera do nosso poder e autoridade.
E não há um limite para este espírito de longanimidade, revelando-se no poder prático de se perdoar ofensas de coração, assim como Jesus  ensinou aos seus discípulos, quando à vista destes ensinos Pedro lhe perguntou se  deveria perdoar o irmão que pecasse contra ele apenas até sete vezes, e o Senhor lhe afirmou e ensinou com uma metáfora e uma parábola, que  a  longanimidade em suportar ofensas e a atitude e o ato de perdoá-las deve seguir  o  padrão do próprio Deus, que é completamente longânimo e perdoador, não tendo fixado em seu caráter qualquer limite para ser longânimo  e  perdoador  em  relação àqueles que verdadeiramente se arrependem, pois será longânimo para com eles e os perdoará toda vez que se arrependerem de seus pecados e ofensas.
Com a metáfora Jesus disse que Deus não perdoa até sete vezes, mas  até  setenta vezes sete, e devemos ser imitadores de Deus especialmente em  relação a isto (18.21,22).
E com a chamada parábola do credor incompassivo Jesus ensinou que Ele perdoa dívidas, ainda que sejam de dez mil talentos, e que não  seremos abençoados por Deus, e na verdade seremos sujeitados ao juízo de sermos corrigidos  e disciplinados até que nos disponhamos a ser longânimos e perdoadores,  ainda que a dívida que tenhamos que perdoar de alguém seja pequena como a do homem da parábola, que mandou prender quem lhe devia apenas cem  denários  (18.23-35). Veja que não se fala de perdão barato na Bíblia, apesar de ser  sempre pela graça, porque sempre está implícita a necessidade de arrependimento  do ofensor. Na falta deste arrependimento não há qualquer  sentido no  perdão.
Pode parecer um paradoxo, mas o nome de Deus é glorificado, exaltado e  honrado pela exibição da Sua completa longanimidade e misericórdia a pobres pecadores, num mundo sujeito ao pecado. Lembremos que a dívida que o homem da parábola se recusou a perdoar era de apenas cem denários, quando ele próprio teve uma dívida de sessenta milhões de denários perdoada  por Deus. E este homem que foi perdoado de tal maneira representa todos  aqueles que foram salvos pelo perdão de Jesus, isto é, todos  os  cristãos verdadeiros.
A maior glória do Senhor está exatamente no fato de perdoar  pecados  e  ser longânimo para com os pecadores, porque isto Lhe traz muita  gratidão,  louvor, adoração e amor.
Daí ter dito a Moisés o seguinte quando este lhe pediu que lhe  mostrasse  a Sua glória:
"Tendo o Senhor passado perante Moisés, proclamou: Jeová, Jeová, Deus  misericordioso e compassivo, tardio em irar-se (longânimo em outras versões)  e grande em beneficência e verdade;" (Êx 34.6).
Cremos que do fruto do Espírito que mais necessitaremos nestes últimos  dias é exatamente a longanimidade, porque sem isto não será  possível prosseguir adiante porque o Inimigo nos deterá instilando mágoa, ira e  toda  sorte  de sentimentos rancorosos em face do pecado, que se multiplicará cada vez  mais ao nosso redor, porque Jesus afirmou que neste tempo a iniquidade se  multiplicaria esfriando o amor de muitos.
Finalmente, lembramos que nem mesmo o nosso zelo pela  obra  do  Senhor  pode justificar a falta de longanimidade.
É especialmente aqui que ela  deve  ser manifestada porque senão o nosso zelo será a causa mesma  da  destruição  da obra que Deus determinou fazer por nosso intermédio.
Toda pregação deve ser densa e nunca fazer concessões em favor do  pecado  e contra a verdade. Mas não podemos esquecer que a longanimidade faz parte  da verdade que estamos incumbidos de pregar e viver.
Ser longânimo não significa portanto, ser tolerante com os pecados  de  nossa congregação. Em se fazer vista grossa para o pecado, nem muito menos de justificar o pecador, mas lembrar que não nos é dado fechar a porta da oportunidade para o arrependimento, seja pelo tempo que for necessário, e seja para quem for, enquanto não tivermos recebido da parte do Senhor nenhuma determinação para fechá-la.
Quando Paulo entregou o jovem incestuoso de Corinto nas mãos de Satanás para a destruição da carne, ele tomou tal deliberação congregado em espírito com a Igreja de Corinto e no poder de Jesus Cristo (I Cor 5.3,4) e não simplesmente porque ele havia ficado escandalizado ou então por ter perdido a paciência.
Lembremos que, especialmente muitos jovens na Igreja,  levarão  muito  tempo até que tenham uma experiência real de conversão ao Senhor.
Se  não formos longânimos com eles, nós os privaremos e a nós mesmos de vermos Cristo  formado neles.


Pela Sua longanimidade o Senhor tem dado tempo a eles para que se  convertam e a nós cabe seguir o mesmo exemplo de longanimidade do Senhor deles e nosso, de forma a cooperarmos com o Seu trabalho.





Mateus 19

A Questão do Divórcio – Mateus 19.3-12

“1 Tendo Jesus concluído estas palavras, partiu da Galileia, e foi para os confins da Judeia, além do Jordão;
2 e seguiram-no grandes multidões, e curou-os ali.” (Mateus 19.1,2)

Nosso Senhor, começou a se deslocar da Galileia para a Judeia, porque o seu alvo era chegar a Jerusalém onde estava o templo e a grande concentração de religiosos de Israel.
Antes de chegar ao coração da Judeia, ainda estando nos confins da mesma, certamente ao Norte, próximo da Galileia, grandes multidões O seguiram e Ele curou os seus enfermos.
Estava chegando a hora de serem intensificadas as perseguições que deveria sofrer da parte dos principais sacerdotes e anciãos de Israel que se encontravam em Jerusalém. E aqui, Mateus nos dá conta do momento em que isto começou a acontecer.


A Questão do Divórcio

“3 Aproximaram-se dele alguns fariseus que o experimentavam, dizendo: É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?
4 Respondeu-lhe Jesus: Não tendes lido que o Criador os fez desde o princípio homem e mulher,
5 e que ordenou: Por isso deixará o homem pai e mãe, e unir-se-á a sua mulher; e serão os dois uma só carne?
6 Assim já não são mais dois, mas um só carne. Portanto o que Deus ajuntou, não o separe o homem.
7 Responderam-lhe: Então por que mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio e repudiá-la?
8 Disse-lhes ele: Pela dureza de vossos corações Moisés vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas não foi assim desde o princípio.
9 Eu vos digo porém, que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de infidelidade, e casar com outra, comete adultério; [e o que casar com a repudiada também comete adultério.]
10 Disseram-lhe os discípulos: Se tal é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar.
11 Ele, porém, lhes disse: Nem todos podem aceitar esta palavra, mas somente aqueles a quem é dado.
12 Porque há eunucos que nasceram assim; e há eunucos que pelos homens foram feitos tais; e outros há que a si mesmos se fizeram eunucos por causa do reino dos céus. Quem pode aceitar isso, aceite-o.” (Mateus 19.3-12)

Nós temos aqui a lei de Cristo para o caso de divórcio, oriunda de uma discussão com os fariseus.
Tão pacientemente Ele suportou as contradições dos pecadores, que as transformou  em instruções para os Seus próprios discípulos.
Nós vemos nestes versículos:
O caso proposto pelos fariseus (v.3). Eles lhes perguntaram se era lícito um homem se divorciar da sua mulher, sem que estivessem desejando realmente serem ensinados por Ele.
Algum tempo atrás na Galileia Ele havia também se pronunciado contra o divórcio no Sermão do Monte (Mt 5.31,32).
Eles pensavam que Ele se prenderia aos afetos das pessoas em vez de aos Seus preceitos. Ou pensavam que diria que os divórcios não eram legais, e assim teriam ocasião para dizer que ele estava negando a Lei de Moisés, que os permitia.
Apesar de a Lei de Moisés prever que os divórcios somente poderiam ser admitidos por causas justas, eles estavam tentando ao Senhor com a insinuação de divórcios por quaisquer motivos; e especialmente o desgosto no matrimônio em relação ao cônjuge foi descartado por Jesus, porque o matrimônio é uma instituição universal para cristãos e descrentes, para temperamentos brandos ou fortes, enfim, para quaisquer condições pessoais, então, nada há que justifique a dissolução do laço senão a única razão apresentada por Jesus de fornicação. Evidentemente, não era a ocasião para Ele declarar, como o apóstolo Paulo viria a fazer depois, que há a parte inocente, e livre para contrair novas núpcias, quando a outra parte decide desfazer o laço por qualquer outro motivo.
As Escrituras do Velho Testamento estão repletas de princípios que revelam o quanto Deus detesta o divórcio, o repúdio, o adultério, mas como os fariseus não faziam um uso correto das Escrituras, eles desconsideravam completamente o que nelas estava contido a tal respeito, e seguiam a tradição que eles próprios inventaram para justificarem o divórcio, com base no único preceito de que Deus havia permitido através de Moisés que fosse dada carta de divórcio caso alguém pretendesse desfazer o laço matrimonial. No entanto, eles desconsideravam também o contexto em que tal permissão havia sido concedida, e conforme se encontra registrado no Pentateuco (Dt 24.1).
Citamos apenas a título de exemplo que Deus realmente não aprova o divórcio, a afirmação que consta em Malaquias 2.16: “Porque o Senhor, o Deus de Israel diz que odeia o repúdio...”.
Os fariseus sempre consideravam tudo pelo ângulo simplesmente jurídico-legal, e as Escrituras, e Cristo, o autor delas, sempre enfatizam o ângulo espiritual, e os princípios espirituais que se encontram por detrás do preceito legal. A letra da Lei é apenas um corpo do espírito que há na Lei. Mas os fariseus não conseguiam ver o espírito, senão apenas a letra, e assim erravam duplamente tanto por desconhecerem o poder de Deus quanto o verdadeiro significado das Escrituras.
Então Jesus os levou a considerar o propósito de Deus na criação do homem e da mulher, e quanto à instituição do matrimônio. Ele remontou até ao primeiro casal no Éden, que se encontrava em perfeição antes da queda no pecado, formando uma perfeita unidade diante de Deus e com Ele. Como poderia então Deus aprovar a separação daquilo que Ele havia unido para durar perpetuamente?
Antes da Queda havia perfeita fidelidade, amor, bondade e todas as demais virtudes em Adão e em Eva e no relacionamento deles, e ainda que não perfeição no sentido de plenitude destas virtudes, havia perfeição no de que não havia nenhuma impureza nelas, como passou a existir depois da queda no pecado.
De maneira que agora, tudo o que herdamos de Adão em relação ao pecado é chamado a morrer na cruz, como por exemplo o mau temperamento, a cobiça irregular e pecaminosa, o adultério, e tudo o mais que seja obra da carne, para que Cristo possa ressuscitar tudo o que havia em Adão antes, da Queda, em perfeição, e que morreu por causa do pecado.
Por exemplo, o egoísmo que passou a existir depois da Queda, e que é a maior causa da separação de casais, deve ser crucificado, para que o amor altruísta, que é divino e espiritual possa ser ressuscitado nos nosso corações, promovendo a fidelidade, a harmonia, o bem querer mútuo, e tudo o mais que for necessário à restauração de uma verdadeira unidade no relacionamento do homem com sua esposa,  conforme havia em Adão e Eva antes da Queda, e conforme  planejado e segundo o propósito de Deus, desde o princípio. Por isso nosso Senhor disse que no princípio não era assim, quanto ao modo de se pensar em relação ao casamento, especialmente sobre o divórcio (v. 8).
Não seria por um simples ato legal, isto é, baseado no cumprimento da Lei, sem levar em conta as condições previstas na própria Lei, e ainda que estas fossem consideradas, que aos olhos de Deus seria aprovada qualquer separação baseada em motivos injustificados. Na verdade, aos olhos do Senhor não há nada que justifique a separação, e até mesmo o ato de adultério seria uma concessão para liberar a parte inocente da continuidade do laço, no caso de apesar de perdoar a parte culpada, não se sentisse encorajada a continuar confiando na mesma. Assim, estaria liberada até mesmo para contrair novas núpcias sem achar-se com culpa diante de Deus.
Por isso Jesus citou aos fariseus a lei fundamental do matrimônio conforme consta nas Escrituras:
“Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne. Assim não são mais dois, mas uma só carne.” (v. 5, 6).
E concluiu: “Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.” (v. 6b).
Ele afirmou assim o princípio de que o matrimônio aos olhos de Deus é uma instituição que Ele criou para durar e não para ser considerada pusilanimemente, por quem quer que seja.
O princípio que norteia a união matrimonial não é se me sinto ou não feliz na mesma. Se sou de temperamento compatível ou não com o meu cônjuge, mas que uma vez consumada a conjunção carnal, passo a ser um com aquele com o qual me ajuntei sexualmente.
Por isso Paulo considera um ato de adultério o de quem se relaciona com uma meretriz, porque fazendo-se um só corpo com ela através do ato sexual, peca contra Cristo, com quem está unido pela fé. Fazendo-se uma só carne com a meretriz, ele é visto aos olhos de Deus tão prostituído quanto a prostituída à qual se uniu.
“15 Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei, pois, os membros de Cristo, e fa-los-ei membros de uma meretriz? Não, por certo.
16 Ou não sabeis que o que se ajunta com a meretriz, faz-se um corpo com ela? Porque serão, disse, dois numa só carne.”  (I Cor 6.15,16).
Isto tudo porque a relação matrimonial, para Deus, é mais íntima e próxima do que a existente entre pais e filhos, e se a relação filial não pode ser violada tão facilmente, quanto mais a matrimonial.
Um filho pode abandonar seus pais, ou os pais abandonarem seus filhos senão pelo motivo do casamento destes. Veja então o peso que Deus colocou na instituição do matrimônio que Ele próprio criou. Quantos ignoram isto, e pecam grosseiramente a este respeito? Entretanto, a par da sua ignorância, são achados em culpa perante Deus, porque a própria natureza ensina que a família possui um caráter sagrado para o Criador.
Os filhos trazem a herança genética comum de seus pais, e isto é um grande argumento para que vejam que são realmente marido e esposa, uma só carne diante de Deus. É pela união de ambos que outros seres humanos chegam ao mundo, e não com as características genéticas de outras pessoas, senão somente daqueles que os geraram. Deus poderia gerar as pessoas por outro caminho escolhido por Ele, mas determinou fazê-lo pelo matrimônio para atender a vários propósitos específicos, como o do aprendizado do amor não interesseiro, da submissão, dentre tantos outros revelados na Palavra (vide especialmente Efésios 5.22-33). Então a unidade dos filhos com seus pais, está diretamente dependente da unidade entre os próprios pais. E unidade sobretudo espiritual, em amor, baseada na verdade, conforme Deus havia intentado desde o princípio. Um casamento assim constituído depois que o pecado entrou no mundo, seria portanto o que melhor responderia ao propósito original de Deus.
No entanto, nada justifica a separação, mesmo nos múltiplos casos em que casais têm se unido, onde há por exemplo parte cristão, e parte não cristão, parte santificada (cristão fiel) e não santificada (cristão infiel) etc, porque, pelo poder de Deus, é possível até mesmo que as partes que impedem o cumprimento do Seu propósito original, sejam trazidas à referida condição, pelo arrependimento ou conversão.
Não há impossíveis para o Senhor, e Ele sempre honrará de uma forma ou de outra aqueles que O honram. Caso haja relutância da parte ofensora da Sua vontade em consertar-se, Ele cuidará da parte que se mantiver fiel a Ele. Tudo coopera para o bem dos que amam a Deus. Isto nunca deve ser esquecido, mesmo no caso de uma união conjugal aparentemente desafortunada. Aquele que tem o Senhor por Seu ajudador não tem nada e ninguém a temer neste mundo. E pode aprender, tal como o apóstolo Paulo, a viver contente em toda e qualquer circunstância, inclusive nesta de um jugo desigual imposto por um dos consortes que insista caminhar contrariamente à vontade de Deus. Isto é possível porque o amor de Deus que é derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo, nos leva a suportar todas as coisas mediante o poder do Senhor que nos fortalece nas circunstâncias difíceis. E este amor sobrenatural, conforme definido em I Cor 13, tudo suporta, tudo sofre, tudo espera, porque é paciente, benigno, longânimo e em nada é egoísta. E tudo fará para agradar e honrar a Deus, cumprindo tudo o que Ele nos tem ordenado em Sua Palavra, e dentre estes mandamentos, o de permanecer casado fazendo todas as coisas por amor, não como para homens, mas para Ele mesmo, e pelo desejo de ser-Lhe obediente em tudo.
A edificação de um lar verdadeiro depende mais da operação de Deus do que dos próprios cônjuges, conforme se afirma nas Escrituras (Sl 127.1). Realmente há poderes terríveis que operam contra a unidade do casal, especialmente os espíritos malignos, que somente o poder do Senhor pode repreender. Especialmente casais cristãos ficarão sujeitos a estes ataques em razão do ódio que o diabo tem contra Deus, e tudo fará para tentar frustrar o plano que Ele determinou para o casamento desde antes da fundação do mundo. Se não houver então um caminhar em fidelidade de ambos os cônjuges com Deus, dificilmente haverá uma comunhão plena entre eles, porque sem levar em conta o próprio pecado deles que ainda opera na carne, há estes espíritos que somente podem ser vencidos quando estamos revestidos com toda a armadura de Deus.
Entretanto, para que não houvesse uma desesperança numa das partes que pretenda edificar a sua casa, enquanto a outra permanece infiel à vontade de Deus, Ele estabeleceu o princípio da parte cristão santificar a não cristão (I Cor 7.14), isto é, eles estarão indiretamente debaixo da proteção de Deus prevista para o matrimônio por causa da fidelidade da parte cristão a Ele. Então vale a pena esforçarmo-nos para buscar a face do Senhor e a Sua vontade, para termos paz em casa, pela retribuição da honra que Lhe devotarmos, pela repreensão que Ele fará aos espíritos que se levantam contra nós.
 Esta união matrimonial somente deve ser desfeita pela vontade de Deus, pela morte de um dos cônjuges, mas nunca pela própria vontade do homem, nem mesmo dos magistrados, porque afinal, não foi o homem que planejou a instituição do matrimônio, senão Deus. Por isso Jesus disse que o que Deus ajuntou não o separe o homem.
O profeta Malaquias declarou ao povo de Israel qual havia sido um dos principais motivos de Deus não estar mais se agradando deles, apesar de estarem banhando os seus altares com lágrimas, não porém de arrependimento, mas pela dura condição de vida em que eles se encontravam:
“14 E dizeis: Por quê? Porque o Senhor foi testemunha entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira, e a mulher da tua aliança.
15 E não fez ele somente um, ainda que lhe sobrava o espírito? E por que somente um? Ele buscava uma descendência para Deus. Portanto guardai-vos em vosso espírito, e ninguém seja infiel para com a mulher da sua mocidade.” (Mal 2.14,15).
Os israelitas estavam endurecidos em seus pecados, e esta foi a mesma razão de Jesus ter dito aos fariseus porque Moisés havia permitido que dessem carta de divórcio às suas esposas debaixo do Antigo Pacto.
Como eles não viam o matrimônio como uma instituição divina, e não cumpriam os propósitos fixados por Deus para ela, o Senhor havia permitido o divórcio, mas não consentindo com isto, porque nunca foi da vontade dEle que fosse separado o que Ele uniu.
Então se um homem  trataria severa e duramente a sua esposa, sem qualquer consideração para com ela, ficando muito longe do amor que deveria devotar a ela, como o que Cristo tem pela Igreja, e se na dureza de seu coração, nada melhor poderia ser esperado desta pessoa, seria então conveniente que se separasse, mas não sem deixar de atender às necessidades legais da repudiada, daí a razão da carta oficial de divórcio que deveria ser passada pelas autoridades, para garantir o direito daquela que tivesse sido deixada sem causa pelo seu marido.
Deus não somente vê, mas prevê a dureza dos corações dos homens, e por isso vestiu os mandamentos do Velho Testamento ajustando-os ao caráter das pessoas, que ele sabia previamente,  viveriam entregues à dureza de seus corações, sem arrependimento, por causa do pecado que há no mundo.
Mas um cristão que conhece a vontade de Deus a respeito do matrimônio, não deve seguir esta norma concessiva que Ele havia dado desde Moisés, mas seguir o mandamento de amar a esposa assim como Cristo amou a Igreja, e a esposa amar e respeitar o marido sendo submissa a ele. E mesmo no caso de alguém ser cristão e estando em jugo desigual, há a possibilidade de se contar com o favor e proteção de Deus, conforme comentamos antes, por um viver fiel a Ele.
Se a lei de Moisés considerou a dureza dos corações dos homens, a graça de Cristo no evangelho a cura, e pode transformar corações de pedra em corações de carne.
Se pela lei vem o pleno conhecimento do pecado, pelo evangelho, este é dominado e vencido.
É interessante observar que se por uma lado a Lei procurava mitigar a dureza de coração permitindo o divórcio, por outro lado condenava o crime de adultério com a punição de morte (Dt 22.22). Mas o evangelho de Jesus Cristo mitiga o rigor da pena do adultério, e prescreve o divórcio como uma possível penalidade se a parte ofendida assim o desejar.
É importante também observar que a palavra usada por Jesus em nosso texto, no original grego, não é adultério, mas fornicação (de porneia), designando provavelmente uma impureza cometida antes do matrimônio, e que viesse a ser descoberta posteriormente.
A lei de Cristo tende a restaurar o homem na sua integridade primitiva, tal como estava no Éden, antes da entrada do pecado no mundo. E a lei do amor e perpetuidade conjugal não é nenhum novo mandamento, porque foi instituída por Deus desde o princípio. Então esta lei, conforme reafirmada por Cristo é para o nosso próprio bem e de toda a sociedade, inclusive para o próprio mundo secular, haja vista que na maior parte dos casos não serão apenas os cônjuges as partes afetadas por um divórcio, mas também os filhos oriundos do seu casamento.
Os próprios discípulos de Jesus não haviam entendido ainda o princípio sábio e bom que há na lei do amor e da perpetuidade do matrimônio, e se precipitaram concluindo que se um homem não podia, aos olhos de Deus se separar da sua esposa quando bem lhe agradasse, sabendo eles, que se o fizessem, a consequência seria a de terem que prestar contas com Deus no futuro tribunal de Cristo, então, segundo eles seria melhor não casar nunca e permanecerem solteiros.
Entretanto, desde o princípio, quando nenhum divórcio foi permitido, Deus disse que não é bom que o homem esteja só, e os abençoou, o homem e sua esposa,  em sua união conjugal.
E apesar de o casamento trazer consigo muitas cruzes, não é apenas nele que acharemos cruzes neste mundo, mas em todas as áreas de atividade e de relacionamentos. Estas cruzes, num mundo de pecado, nos ajudarão no nosso aperfeiçoamento em santidade, especialmente, em ensinar-nos a orar a Deus sem cessar e a depender dEle, conforme sempre foi da Sua vontade.  Assim aquilo que parece ser contra nós, é a nosso favor, na modelagem do nosso caráter à semelhança ao de Cristo. E o modo de carregar estas cruzes é com paciência e gratidão a Deus em nossos corações.
É nosso dever carregar nossa cruz depois de termos nos auto negado perante o Senhor. Não importa o que sintamos ou qual seja a nossa vontade, senão a vontade de Deus para nossa vida.
O matrimônio é um laço, um jugo que voluntariamente tomamos, e que segundo a vontade de Deus, devemos continuar carregando com amor, paciência, mansidão e voluntariamente, isto é, de livre e boa vontade.
Entretanto, o Senhor afirmou que há realmente casos em que as pessoas permanecerão solteiras, não pela mera vontade delas, mas por ter sido esta a vocação escolhida por Deus para elas, para atender a propósitos específicos, tal como foi o caso do profeta Jeremias e do apóstolo Paulo.
Nestes casos excepcionais dirigidos pela vontade de Deus é de se supor que é melhor o aumento da graça do que o aumento da família, e o relacionamento com o Pai e seu Filho Jesus Cristo será preferido antes de qualquer outro tipo de companheirismo.
Mas Jesus desaprovou totalmente como sendo danoso, proibir matrimônios, porque nem todos estão vocacionados para permanecerem solteiros, e devem portanto suportar o jugo do estado de casado, sem estar debaixo da tentação de evitar ou fugir do jugo que é imposto pela vocação recebida de Deus neste mundo.
Assim, aqueles que sofreram a calamidade de terem sido feito eunucos pelos homens, ou por um defeito de nascença, sendo impossibilitados fisicamente de contraírem núpcias, não  deveriam de fato se casarem, mas recorrerem à providência de Deus para superarem a condição que lhes foi imposta, independentemente da vontade deles. Apesar desta calamidade, há a oportunidade de servirem melhor e desimpedidamente a Deus no estado de solteiros.
De modo que é uma virtude e graça divinas aqueles que se fizeram eunucos por amor ao reino de Deus, atendendo à vocação recebida do próprio Deus para servi-lo em tal estado de solteiro. Estes que foram capacitados a terem uma indiferença santa a todos os prazeres do estado de casado, serão honrados pelo Senhor no voto de celibato que fizeram, em obediência à vontade de Deus, que correspondeu à própria vontade deles.
Por isso Jesus disse que este estado de solteiro é uma condição que pode ser suportada somente por aqueles a quem é dada tal capacitação pelo próprio Deus.
Finalmente, gostaríamos de registrar um fato real para ilustrar a possibilidade de alguém ser feliz apesar de não ter um casamento nos moldes que Deus planejou para esta instituição desde o princípio. Trata-se de uma esposa que chamaremos de “J” cujo marido chamaremos de “M”.  Eles se encontram casados há mais de trinta e cinco anos, tendo dois filhos com cerca de trinta anos de idade.  “J” se converteu a Jesus depois de alguns anos de casada, tendo seu esposo “M” permanecido incrédulo até o presente. Ele se opôs duramente a ela quanto ao fato de ter que deixá-lo em casa, ainda que uma só vez aos domingos, para ir à igreja. Ela ficou por um bom tempo em oração para que Deus trabalhasse no coração de “M” porque não queria agir de forma insubmissa. Ela tanto orou que ele consentiu que assistisse somente os cultos das noites de domingo. Isto foi uma grande alegria e vitória para ela. Sabemos que continua orando para que ele aceite a sua participação nas demais programações de sua igreja. Mas o que é digno de registro é o fato de que ao exigir que ela permaneça em casa no domingo pela manhã, ele não fica em casa porque sempre se reúne com um grupo de companheiros para ficarem bebendo num bar da esquina onde residem. Você perguntará qual é o perfil de cristão de “J”: uma mulher infeliz? Desgostosa da vida e com o seu Deus? Ao contrário, ela se esforça para ser uma boa esposa, apesar de tudo, conforme ordenado pela Bíblia, e é uma mulher feliz, cheia de fé e a alegria no Senhor Jesus. Ela conta o modo sobrenatural como Deus exerce governo sobre o seu marido, de forma que ele tem sido, apesar de suas fraquezas, cada vez mais atencioso para com ela, e suas idas para o bar estão ficando menos frequentes. Ela sabe que é por amor a ela, que Deus não permite que os espíritos malignos tenham livre acesso ao seu lar, e assim ela sempre tem desfrutado em casa da paz de Jesus em sua vida. Sempre apegada à Palavra de Deus é uma fonte de inspiração e socorro para muitas vidas, sempre compartilhando com seus irmãos em Cristo porções da Palavra de Deus com fé e alegria no Espírito. Estas jóias são exemplos que Deus nos dá para seguirmos e para que nos consolemos nas aflições que teremos que experimentar enquanto neste mundo.  
A vocação natural portanto, da humanidade é a do casamento, mas há situações excepcionais em que muitos são impedidos de se casarem porque são tornados eunucos, quer pela violência dos homens, quer por incapacitações em sua constituição sexual, mas há também aqueles que o são, tal como foi o caso de Jeremias e de Paulo, que foram chamados por Deus para viverem como eunucos por amor ao reino dos céus, e à obra específica que teriam que realizar, em total consagração a Ele, de modo que não poderiam dividir o seu tempo com os cuidados que uma esposa e uma família requerem. O mesmo se aplica ao caso de mulheres que são também chamadas de tal maneira especial por Deus a uma consagração completa a Ele de suas vidas, na qual implique a necessidade de viverem no celibato.



Jesus Abençoa as Crianças – Mateus 19.13-15

“13 Então lhe trouxeram algumas crianças para que lhes impusesse as mãos, e orasse; mas os discípulos os repreenderam.
14 Jesus, porém, disse: Deixai as crianças e não as impeçais de virem a mim, porque de tais é o reino dos céus.
15 E, depois de lhes impor as mãos, partiu dali.”

As boas promessas que Deus fez aos israelitas, eram dirigidas a eles e a seus filhos (At 2.38, 39).
Nesta passagem, nosso Senhor revela que estas boas promessas dirigidas a Israel não estavam vedadas aos menores deles, ou seja, às criancinhas de colo que foram trazidas a Ele para que lhes impusesse as mãos e orasse por elas.
Nos textos paralelos de Marcos e Lucas (Mc 10.13-16; Lc 18.15-17) nós lemos que os discípulos estavam repreendendo aqueles que estavam trazendo as crianças a Jesus, porque pensavam que o pedido deles era uma perda de tempo e incômodo para o Senhor, mas Ele repreendeu os discípulos com a ordem que não mais tentassem impedir que crianças Lhe fossem trazidas para serem abençoadas.
Nosso Senhor fez o bem por toda parte por onde andou (At 10.38), e nunca recusou atender a qualquer um que Lhe procurasse, fosse qual fosse a sua condição.
Se Ele sempre fez o bem e nunca rejeitou a qualquer que O buscasse com sinceridade o mesmo devem fazer os Seus servos.
A Igreja deve aprender do exemplo do Seu mestre, e não negar-se a orar por quem quer que seja, inclusive por aqueles que a maldizem e a perseguem, conforme é ordenado na Palavra.

O Jovem Rico – Mateus 19.16-22

“16 E eis que se aproximou dele um jovem, e lhe disse: Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna?
17 Respondeu-lhe ele: Por que me perguntas sobre o que é bom? Um só é bom; mas se é que queres entrar na vida, guarda os mandamentos.
18 Perguntou-lhe ele: Quais? Respondeu Jesus: Não matarás; não adulterarás; não furtarás; não dirás falso testemunho;
19 honra a teu pai e a tua mãe; e amarás o teu próximo como a ti mesmo.
20 Disse-lhe o jovem: Tudo isso tenho guardado; que me falta ainda?
21 Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, segue-me.
22 Mas o jovem, ouvindo essa palavra, retirou-se triste; porque possuía muitos bens.”

Somente a atitude de seguir o pendor do Espírito Santo nos fará respeitar todos os mandamentos de Deus, apesar de alguns deles serem mais contrários às nossas inclinações naturais, e outros serem contrários aos nossos interesses seculares, e outros que possam até mesmo colocar em risco a nossa própria segurança e conforto, este princípio piedoso em nossos corações nos inclinará igualmente e nos disporá a amar e a cumprir todos estes mandamentos, independentemente do quanto eles possam contrariar aos nossos próprios interesses pessoais.
Jesus provou ao jovem rico que ele não guardava os mandamentos de Deus com este princípio requerido de santidade, quando expôs a falta de disposição dele em contrariar seus interesses egoístas, e isto comprovava que de fato não havia nele uma verdadeira obediência em amor e em disposição voluntária em obediência à Sua vontade, pela falta deste princípio espiritual, que ele certamente teria recebido caso se dispusesse a seguir a Jesus, submetendo-se ao que Ele lhe havia ordenado.
Tudo o que aquele jovem fazia em relação a cumprir a lei de Deus não provinha de um princípio interno de santidade, e assim não havia nele uma verdadeira obediência a Deus, como ele supunha ter. E na verdade não poderia ter espírito de santidade porque este é criado na regeneração, e assim, para aquele jovem guardar os mandamentos de Deus, seria necessário, antes, que ele nascesse de novo do Espírito, porque como temos visto, sem regeneração não pode haver santificação.
Quantos empenhos, esforços e atos do jovem rico no sentido de cumprir os mandamentos da lei de Moisés foram desperdiçados quanto ao fim apropriado deles, porque não foi acompanhado pelo necessário princípio de santidade? E sem regeneração ele não poderia ter este princípio operando nele de modo algum, porque primeiro o Espírito regenera e depois santifica. Quanta justiça própria não deveria estar envolvida na suposta obediência do jovem rico aos mandamentos de Deus, e esta justiça própria é uma afronta à Soberania e à Majestade de Deus, porque por ela se comprova o desejo de se viver independentemente dEle, e de não se estar de fato debaixo do Seu governo e vontade, pelo Espírito.
Os verdadeiros cristãos devem estar bem instruídos e prevenidos contra este grande erro de se estar envolvido com muitos esforços com o fim de agradar a Deus, e que na verdade estejam debaixo da direção da carne e do seu pendor, e não do Espírito Santo.
Os atos produzidos debaixo do Espírito dão para vida e paz (Rom 8.6). Mas os que são produzidos debaixo da carne produzem morte das graças que estão destinadas a viver e a crescer e não a morrer (Rom 8.13b).
Muitas dores são produzidas e não poucos arranhões na comunhão da igreja, quando a maioria dos cristãos se deixam governar por este pendor da carne em muitas realizações que no final servirão apenas para eles se compararem com outros cristãos e se sentirem, ainda que enganosamente, melhores do que eles. A carne quer reconhecimento e louvor, mas o espírito dá glória e graças a Deus por tudo.
E quão fácil é errar continuamente o alvo, porque estamos inclinados naturalmente para a carne e não para o Espírito. A falta de empenho em submissão ao Espírito dá natural e consequentemente o governo à carne. Então a melhor atitude é a de Maria e não a de Marta, a saber, estar antes aos pés de Jesus recebendo dEle graça, instrução e poder, e somente então partir para as ações que devemos empreender, caso estas sejam necessárias.
Então, sem esta vida do Espírito, é impossível confirmar as exigências santas e justas da Lei. E sem a justificação que é obtida somente em Cristo, é também impossível estar morto aos olhos de Deus para a condenação da Lei, que exige a condenação eterna de todo aquele que transgredir a um só dos seus preceitos, de maneira que é pela graça do Senhor que alcançamos a vida eterna, e que somos habilitados a atingir a perfeição em glória que nos está prometida no por vir.
Aqueles que não estão seguindo ao Senhor jamais poderão alcançar a vida eterna por seus próprios esforços, porque o pressuposto para esta vida é que se esteja no caminho da perfeição que é Cristo, e com o qual somos aperfeiçoados, até atingir aquela perfeição que nos está prometida, e pela qual todos os que seguem a Cristo podem ter a certeza de que a alcançarão.
O jovem rico estava equivocado, tanto quanto os escribas e fariseus, que julgavam que o cumprimento da Lei consistia simplesmente em exterioridades e em se cumprir umas poucas coisas. Eles se esqueciam de dar a devida importância ao espírito da Lei, conforme vimos em nosso comentário do Sermão do Monte (Mt 5 a 7). Eles julgavam que o homicídio era apenas o ato consumado de matar alguém, e de igual modo consideravam que o adultério era meramente o ato consumado propriamente dito, e assim, tinham uma noção incorreta do verdadeiro significado e aplicação dos dez mandamentos.      
Somente a justiça de Cristo atribuída e implantada em nós pode nos conduzir a fazer uma apreciação e avaliação corretas dos mandamentos de Deus, coisa que certamente faltava ao jovem rico, porque não possuía tal justiça, que só pode ser recebida pela nossa fé em Cristo e união com Ele.
Assim, nosso Senhor respondeu ao jovem rico, ao nível da limitada compreensão dele da verdade relativa aos mandamentos, e portanto, não concordou que guardasse todos os demais mandamentos, quando lhe convenceu que não cumpria o mandamento relativo à cobiça.
O jovem disse que guardava todos os mandamentos da Lei que Jesus lhe citou, no entanto, nosso Senhor não somente omitiu o mandamento que diz “não cobiçarás”, como também não concordou expressamente com ele, quanto a que guardasse de fato todos os demais mandamentos que Ele havia citado.
Além disso, não lhe apontou diretamente este mandamento para responder ao jovem a pergunta que Lhe fizera quanto ao que ainda lhe faltava, mas lhe deu uma ordem em que seria provado de forma direta quanto ao cumprimento do citado mandamento, e também provou a Sua obediência a Ele, dizendo que deveria segui-lO.
Ele queria a coroa sem a cruz. O céu sem renúncias. Queria a vida eterna sem Cristo, que é esta vida.
Os textos paralelos de Marcos e Lucas, omitem a pergunta que o jovem fez a nosso Senhor quanto ao que lhe faltava. E registram diretamente a resposta que Jesus lhe deu dizendo que lhe faltava ainda uma coisa.
Também deve ser destacado que estes textos paralelos de Marcos e Lucas, registram que no início do diálogo do jovem rico com nosso Senhor, ele o chamou de “Bom Mestre”, motivo pelo qual Jesus lhe deu a resposta em forma de pergunta, porque Lhe chamava de bom, uma vez que bom é um só. Ele disse isto porque o jovem não o viu como Deus, mas como homem, e não há nenhum homem que seja bom, ainda que nosso Senhor o fosse perfeitamente. Ele respondeu ao jovem, desde o começo, que ele fazia uma avaliação incorreta da verdade relativa à condição de todo e qualquer homem, porque somente Deus é perfeitamente bom. Esta avaliação incorreta aplicava-se ao seu próprio caso, porque aquele jovem julgava-se também bom a seus próprios olhos, uma vez que considerava que guardava toda a Lei de Deus, e por conseguinte tinha como líquida e certa a sua entrada na vida eterna. Então na verdade não havia feito uma pergunta a nosso Senhor para obter uma resposta para sua ignorância, mas estava buscando uma confirmação daquilo que julgava já possuir.    


Recompensa dos Seguidores de Cristo – Mateus 19.23-30

“23 Disse então Jesus aos seus discípulos: Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no reino dos céus.
24 E outra vez vos digo que é mais fácil um camelo passar pelo fundo duma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus.
25 Quando os seus discípulos ouviram isso, ficaram grandemente maravilhados, e perguntaram: Quem pode, então, ser salvo?
26 Jesus, fixando neles o olhar, respondeu: Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível.
27 Então Pedro, tomando a palavra, disse-lhe: Eis que nós deixamos tudo, e te seguimos; que recompensa, pois, teremos nós?
28 Ao que lhe disse Jesus: Em verdade vos digo a vós que me seguistes, que na regeneração, quando o Filho do homem se assentar no trono da sua glória, sentar-vos-eis também vós sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel.
29 E todo o que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras, por amor do meu nome, receberá cem vezes tanto, e herdará a vida eterna.
30 Entretanto, muitos que são primeiros serão últimos; e muitos que são últimos serão primeiros.”

No entendimento dos antigos havia a ideia incorreta de que os ricos eram as pessoas agraciadas e amadas por Deus, e os pobres, aqueles que não desfrutavam de tal favor divino.
Isto pode ser visto no modo como os amigos de Jó diagnosticaram o fato dele ter sido empobrecido. Pensavam que era o resultado do desagrado de Deus em relação a Jó.
Por isso os apóstolos ficaram surpreendidos com a declaração que nosso Senhor fez em relação aos ricos dizendo quão difícil é para eles entrarem no reino dos céus.
No modo de pensar dos discípulos, se era difícil para os ricos, o que então se poderia dizer deles que eram pobres? Quem poderia ser salvo?
Jesus mostrou aos discípulos que aqueles que são ricos para Deus são justamente os que se permitem despojar dos bens deste mundo, e de tudo o que possa conquistar a nossa afeição, para vivermos de modo consagrado a Ele.
Ainda que nosso Senhor não requeira da maioria dos Seus servos, o que pediu ao jovem rico que fizesse quanto ao despojamento total dos bens que possuía, no entanto, se requer que haja tal atitude de despojamento em nossos corações, que não devem estar dominados por nenhuma criatura, a não ser somente pelo Senhor.
É a estes que são despojados e que renunciam em seus corações a tudo quanto têm, estando efetivamente dispostos a se desprenderem de bens que possuam, para fazer a vontade do Senhor, na ajuda e no fazer bem ao próximo, quando isto lhes for requerido por Ele, que têm grande recompensa, tanto nesta vida, quanto naquela ainda por vir a ser revelada no futuro.
Estes são os que são enriquecidos com a graça do Senhor e que recebem o Seu favor, independentemente das circunstâncias em que vivam, porque se dispuseram a segui-lO aonde quer que Ele vá.


Estes não somente receberão provisões multiplicadas da parte de Deus neste mundo, como também governarão juntamente com Cristo, quando Ele restaurar todas as coisas, por ocasião da Sua segunda vinda. E o melhor de tudo, viverão eternamente com Deus, recebendo aquilo que o jovem rico queria alcançar pelo caminho impossível da justiça própria, e não pelo da união com Cristo.






Mateus 20

A Parábola dos Trabalhadores na Vinha – Mateus 20.1-16

“1 Porque o reino dos céus é semelhante a um homem, proprietário, que saiu de madrugada a contratar trabalhadores para a sua vinha.
2 Ajustou com os trabalhadores o salário de um denário por dia, e mandou-os para a sua vinha.
3 Cerca da hora terceira saiu, e viu que estavam outros, ociosos, na praça,
4 e disse-lhes: Ide também vós para a vinha, e dar-vos-ei o que for justo. E eles foram.
5 Outra vez saiu, cerca da hora sexta e da nona, e fez o mesmo.
6 Igualmente, cerca da hora undécima, saiu e achou outros que lá estavam, e perguntou-lhes: Por que estais aqui ociosos o dia todo?
7 Responderam-lhe eles: Porque ninguém nos contratou. Disse-lhes ele: Ide também vós para a vinha.
8 Ao anoitecer, disse o senhor da vinha ao seu mordomo: Chama os trabalhadores, e paga-lhes o salário, começando pelos últimos até os primeiros.
9 Chegando, pois, os que tinham ido cerca da hora undécima, receberam um denário cada um.
10 Vindo, então, os primeiros, pensaram que haviam de receber mais; mas do mesmo modo receberam um denário cada um.
11 E ao recebê-lo, murmuravam contra o proprietário, dizendo:
12 Estes últimos trabalharam somente uma hora, e os igualastes a nós, que suportamos a fadiga do dia inteiro e o forte calor.
13 Mas ele, respondendo, disse a um deles: Amigo, não te faço injustiça; não ajustaste comigo um denário?
14 Toma o que é teu, e vai-te; eu quero dar a este último tanto como a ti.
15 Não me é lícito fazer o que quero do que é meu? Ou é mau o teu olho porque eu sou bom?
16 Assim os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos.”

Esta parábola dos trabalhadores da vinha se destina,
I. Para representar para nós o reino dos céus, ou seja, a forma e o método da dispensação evangélica.
II. Em particular, para fazer a conexão do que Jesus tinha dito antes a respeito do reino dos céus, no fim do capítulo anterior (19), que muitos que são primeiros serão últimos, e os últimos, primeiros, que sendo uma aparente contradição, precisava de maiores explicações.
Nada era mais misterioso na dispensação do evangelho do que a rejeição dos judeus e a vocação dos gentios. Assim, o apóstolo fala disso em Efésios 3.3-6, que os gentios são co-herdeiros com os judeus.
Agora, parece ser o principal propósito desta parábola, mostrar que os judeus deveriam ser chamados pela primeira vez para a vinha, e muitos deles deveriam vir atender à chamada; mas, por fim, o evangelho deve ser pregado aos gentios, e eles devem recebê-lo, e serem admitidos aos privilégios e vantagens iguais com os judeus; sendo concidadãos dos santos, com o que os judeus, mesmo aqueles dos que criam, ficariam muito revoltados, mas sem razão.
Mas a parábola pode ser aplicada de forma mais geral, e nos mostra, que Deus não é devedor a nenhum homem; que muitos que começam atrasados, e prometem pouco na religião, às vezes, pela bênção de Deus, chegam a maiores realizações no conhecimento, graça e utilidade, do que outros cuja entrada foi mais cedo, e que prometiam mais.
Assim, muitos que são últimos serão primeiros.
Paulo era como um nascido fora de seu tempo, e ainda assim não ficou atrás do mais poderoso dos apóstolos, e superou aqueles que estavam em Cristo antes dele.
A parábola também visa responder à pergunta de Pedro no capítulo quanto a qual seria a recompensa daqueles que haviam deixado tudo para poder seguir a Jesus.
O Senhor já lhe tinha respondido anteriormente com as seguintes palavras: “E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel. E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou terras, por amor de meu nome, receberá cem vezes tanto, e herdará a vida eterna. Porém, muitos primeiros serão os derradeiros, e muitos derradeiros serão os primeiros.” (Mateus 19.28-30); mas lhes mostra agora que todo o trabalho deles seria na verdade, comparado com a eternidade, como sendo apenas o trabalho de um único dia, conforme citado na parábola. A coroa de justiça seria concedida a todos os que fossem salvos pela graça e chamados a trabalhar na lavoura de Deus, enquanto neste mundo, não importando o quanto trabalharam ou não para o Senhor, e se os primeiros que começaram a trabalhar teriam algum tipo de vantagem sobre os que viessem a trabalhar depois deles.
Muitos se convertem em tenra idade e outros na idade adulta ou na velhice. E a alguns é dado mais tempo para trabalharem para o Senhor do que a outros, mas Deus usará da mesma bondade para com todos eles.
O preço ajustado pelo Senhor da vinha é o da vida eterna para todos aqueles que nela trabalharem, pois esta admissão no trabalho é a evidência de que foram salvos pela graça de Jesus.
Não caberá portanto qualquer reclamação por parte dos que estão sendo assim salvos pela graça e admitidos no trabalho de Deus, por serem chamados a participar da mesma glória celestial com aqueles que trabalharam menos do que eles ou que foram chamados a trabalhar depois deles.

Talvez, nosso Senhor pretendeu também com a parábola advertir a Pedro de que ele não deveria se vangloriar do fato de ter deixado tudo para segui-lo.



Os Sofrimentos de Cristo Preditos – Mateus 20.17-19

“17 Estando Jesus para subir a Jerusalém, chamou à parte os doze e no caminho lhes disse:
18 Eis que subimos a Jerusalém, e o Filho do homem será entregue aos principais sacerdotes e aos escribas, e eles o condenarão à morte,
19 e o entregarão aos gentios para que dele escarneçam, e o açoitem e crucifiquem; e ao terceiro dia ressuscitará.”

Este foi o terceiro e mesmo aviso que nosso Senhor deu aos discípulos quanto aos sofrimentos que Lhe aguardavam, e que já comentamos anteriormente.
Aqui Ele diz explicitamente que os principais sacerdotes e os escribas de Israel Lhe condenariam à morte e o entregariam nas mãos dos gentios (romanos) para que fosse escarnecido, açoitado e crucificado por eles, mas que ao terceiro dia ressuscitaria.
Ele estava se aproximando de Jerusalém para celebrar a festa da Páscoa com eles. A última Páscoa, na qual seria crucificado como o nosso Cordeiro Pascal, para que pelo Seu sangue derramado na cruz, pudéssemos ser libertados da destruição pelo anjo da morte, e sermos libertados da nossa escravidão ao pecado, ao mundo e ao diabo, passando portanto, da morte para a vida.
A palavra páscoa no hebraico significa passagem. Indicando que houve uma passagem do destruidor no Egito, pelas casas marcadas com o sangue do cordeiro, mas o destruidor teve que pular aquelas casas porque estavam com a cobertura do sangue.
E é exatamente pelo mesmo motivo que os cristãos não são destruídos, pois estão sob a cobertura do precioso sangue de Jesus.      
E é importante destacar que o motivo da morte dos primogênitos egípcios seria exatamente a falta de cobertura deste sangue, e da participação da páscoa, isto é, de se alimentarem do cordeiro que foi morto para que os primogênitos israelitas não fossem mortos. Isto é portanto indicativo de que aqueles que não estiverem debaixo da cobertura do sangue de Jesus, perecerão, porque não há outra forma de se escapar da condenação eterna.      
Para marcar que é muito importante para Ele a libertação do seu povo do cativeiro, Deus determinou que o dia da saída do Egito seria o primeiro dia do ano dos hebreus, e aquele mês passaria a ser o primeiro mês deles, que foi chamado de Abibe e corresponde aos nossos meses de março/abril.
Desta forma, seriam celebrados dois eventos a um só tempo, todos os anos, em Israel, o primeiro relativo àquele fato histórico da saída do cativeiro egípcio, e o segundo à libertação do cativeiro do pecado, do qual aquele primeiro era apenas uma figura.
Certamente, os israelitas não tinham o segundo evento em perspectiva, mas sabemos que era principalmente este que estava em perspectiva nos propósitos de Deus, tanto que a morte de Jesus aconteceu exatamente no dia da celebração da páscoa dos judeus.        
 A eficácia da salvação e do livramento da morte está portanto no Cordeiro e no sangue do Cordeiro, e não em qualquer coisa ou obras daqueles que são salvos.
É por isso que a Páscoa deveria ser celebrada em todas as gerações futuras de Israel, e especialmente as crianças deveriam ser ensinadas sobre o significado daquela celebração. Por ela saberiam que o Senhor fez distinção entre o Seu povo e os egípcios, tendo libertado os israelitas da morte, por causa do cordeiro e do seu sangue, quando o destruidor passou à meia-noite no Egito e matou todos os primogênitos deles, quer de homens quer de animais.
E a Páscoa ensinava de modo tão claro e distinto que era uma festa para ser celebrada para os que estão aliançados com Deus, pois o livramento que lhes deu no Egito havia sido por causa desta aliança, que todo estrangeiro que desejasse participar dela teria antes que se naturalizar israelita, submetendo-se à circuncisão.
Do mesmo modo só podem participar da vida do Cordeiro aqueles que estão aliançados com Deus pela fé nEle. E se alguém ainda não está aliançado, terá que se arrepender e crer, de modo que, pela conversão, possa participar efetivamente de Cristo, nosso Cordeiro pascal.
Assim, quando nosso Senhor alertou aos Seus discípulos as coisas que Lhe aguardavam, relativas aos Seus sofrimentos em Jerusalém, estavam em perspectiva todas estas verdades a que nos referimos e muitas outras. Todavia, isto ainda estava oculto ao entendimento dos discípulos. Eles ainda não podiam entender, mas entenderiam depois, conforme nosso Senhor lhes disse em outra parte do evangelho (Jo 12.16; 13.7).  



Ambição Corrigida – Mateus 20.20-28

“20 Aproximou-se dele, então, a mãe dos filhos de Zebedeu, com seus filhos, ajoelhando-se e fazendo-lhe um pedido.
21 Perguntou-lhe Jesus: Que queres? Ela lhe respondeu: Concede que estes meus dois filhos se sentem, um à tua direita e outro à tua esquerda, no teu reino.
22 Jesus, porém, replicou: Não sabeis o que pedis; podeis beber o cálice que eu estou para beber? Responderam-lhe: Podemos.
23 Então lhes disse: O meu cálice certamente haveis de beber; mas o sentar-se à minha direita e à minha esquerda, não me pertence concedê-lo; mas isso é para aqueles para quem está preparado por meu Pai.
24 E ouvindo isso os dez, indignaram-se contra os dois irmãos.
25 Jesus, pois, chamou-os para junto de si e lhes disse: Sabeis que os governadores dos gentios os dominam, e os seus grandes exercem autoridades sobre eles.
26 Não será assim entre vós; antes, qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva;
27 e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, será vosso servo;
28 assim como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos.”

Os filhos de Zebedeu eram Tiago e João, os quais, juntamente com Pedro, sempre são citados em companhia de Jesus, por terem sido os Seus apóstolos da circuncisão mais diligentes.
Certamente, foi em razão disso que a mãe deles se apressou a fazer este pedido precipitado e indevido ao Senhor, para que ambos estivessem em posição de destaque sobre todos na glória, ficando cada um próximo e ao Seu lado, quando estivessem entronizados.
Isto foi feito com o consentimento, e possivelmente a pedido dos próprios Tiago e João, tanto que se ajoelharam juntamente com a mãe deles na presença do Senhor quando o pedido foi dirigido a Ele por ela.
Jesus disse que não sabiam o que estavam pedindo, ou seja, desconheciam as condições para o estabelecimento de honras no reino, e lhes mostrou que isto depende totalmente da exclusiva autoridade e escolha do Pai em Sua soberania, e não do desejo ou esforço dos homens.
Por exemplo, Ele pretendeu por Sua soberania honrar Moisés, Samuel, Elias, e outros, pela chamada que lhes fez, não porque eles estivessem buscando a posição em que foram encontrados, mas por causa do desígnio eterno de Deus para eles.
Também havia decidido honrar, pelo mesmo critério exclusivo do exercício da Sua soberania, a Paulo, Pedro, e aos próprios Tiago e João, que estavam fazendo este pedido indevido – porque não cabe a nenhum cristão dizer para Deus qual é a posição de honra em que pretende estar.
Além disso, tanto é maior a honra quanto maiores são os sofrimentos suportados por amor a Cristo neste mundo.
Por isso Ele perguntou a Tiago e a João se estavam dispostos a beberem do Seu cálice de sofrimento.
Ele sabia que responderiam afirmativamente, mas lhes perguntou para deixar registrado para nós que a medida de honra na glória não é estabelecida segundo o mérito de nossas capacitações intelectuais, dos privilégios que privamos em nossa comunhão com o Senhor, ou sejam eles quais forem, mas pelos sofrimentos que suportamos com paciência por amor a Ele e ao evangelho.
Nossa grandeza no reino não é determinada pelo poder eclesiástico que tenhamos sobre outros, porque este poder sobre outros é o critério de grandeza dos governantes deste mundo.
Na Igreja, se é tanto maior, quanto mais se serve.
O que for colocado por Deus em posição de primazia para liderar a muitos será exatamente aquele que servirá a todos eles.
Ele será achado como servo, tal como foi nosso Senhor neste mundo em relação a Seus discípulos.
E Ele não somente nos serviu como deu a Sua própria vida por nós, para que muitos fossem resgatados da escravidão ao pecado.
Sentimentos de grandeza terrena e carnal somente servem para indignarem a muitos, tal como os demais apóstolos ficaram indignados com o pedido de Tiago e João, para serem colocados em posição de destaque sobre os demais.
Devemos portanto, vigiar nossos corações, não somente para que não peçamos com nossas bocas uma tal coisa ao Senhor, mas sequer que alimentemos tais pensamentos, porque não é lícito fazê-lo em Seu reino, e serve somente para agir contra a unidade em amor que Deus almeja para todos os Seus filhos.
Por maiores e melhores que sejam nossos argumentos, por mais dignos que possam parecer nossos motivos, num tal pedido, como por exemplo, a pretexto de sermos muito diligentes na obra de Deus, e dedicados a Seu serviço, Ele não aprovará um tal desejo e nos repreenderá assim como nosso Senhor fizera com Tiago e João, dizendo que não sabemos o que Lhe estamos pedindo.
Se nosso desejo na Igreja for o de liderar outros, estar em posição de destaque sobre eles, e não o de servi-los em amor, estaremos nos tornando pequenos aos olhos de Deus, e estaremos equivocados quanto ao julgamento de que estamos sendo grandes, pelo simples fato de termos muitas pessoas debaixo da nossa influência e autoridade.



A Cura de Dois Cegos de Jericó – Mateus 20.29-34

“29 Saindo eles de Jericó, seguiu-o uma grande multidão;
30 e eis que dois cegos, sentados junto do caminho, ouvindo que Jesus passava, clamaram, dizendo: Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de nós.
31 E a multidão os repreendeu, para que se calassem; eles, porém, clamaram ainda mais alto, dizendo: Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de nós.
32 E Jesus, parando, chamou-os e perguntou: Que quereis que vos faça?
33 Disseram-lhe eles: Senhor, que se nos abram os olhos.
34 E Jesus, movido de compaixão, tocou-lhes os olhos, e imediatamente recuperaram a vista, e o seguiram.”

É digno de destaque nesta passagem que os cegos curados passaram a seguir a Jesus, indicando que não  foram somente curados como muitos haviam sido curados por Ele de suas enfermidades físicas, mas que também se converteram.
Muitos são curados por Jesus mas não o seguem.
Todavia, destes cegos é dito que seguiram a Jesus.
Marcos e Lucas, destacam no registro paralelo a esta passagem, apenas a cura do cego filho de Timeu, no hebraico Bartimeu. (Mc 10.46-52; Lc 18.35-43)

Lucas registra em seu evangelho que ele não somente passou a seguir a Jesus, como também glorificava a Deus:
“Imediatamente recuperou a vista, e o foi seguindo, glorificando a Deus. E todo o povo, vendo isso, dava louvores a Deus.” (Lc 18.43)  
Tal era o clamor que os dois cegos mendigos (Lc 18.35) faziam, pedindo que Jesus tivesse misericórdia deles, que muitos na multidão os repreendiam ordenando que se calassem.
Todavia, em vez de calarem, clamavam ainda mais alto, e com isto conseguiram o objetivo deles de que nosso Senhor parasse de caminhar para atendê-los.
Devemos seguir o exemplo destes cegos, toda vez que pessoas, as circunstâncias desta vida, ou demônios, nos repreendam ou desencorajem quando clamamos ao Senhor para que nos socorra. Em vez de ficarmos intimidados devemos colocar mais fervor em nossas orações até que consigamos a Sua atenção.
Quando Jesus perguntou aos cegos o que queria que lhes fizesse, não era uma pergunta para uma resposta óbvia que Ele estava fazendo.
Devemos estar conscientes da nossa enfermidade, e desejosos de sermos curados dela, para que possamos ser atendidos pelo Grande Médico Jesus Cristo.
Isto se aplica especialmente à enfermidade do pecado, da qual não poderemos ser curados se não estivermos plenamente convencidos, pelo Espírito Santo, da realidade de que somos pecadores necessitados de cura, e que somente Jesus pode nos curar deste terrível mal, que produz a morte tanto espiritual quanto eterna.
É possível que os cegos não soubessem que seriam também curados da cegueira espiritual quando Jesus lhes tocasse os olhos e lhes restaurasse a visão natural.
Os olhos espirituais de ambos, já estavam sendo abertos quando reconheceram que Jesus é o Filho de Davi, que carregava consigo as promessas relativas à casa de Davi, para restaurá-la e firmá-la para todo o sempre. Eles recorreram com fé a Ele, e deram-Lhe com esta fé, a honra de afirmarem que criam que era poderoso para lhes restaurar a visão.
Quando cremos no Senhor deste mesmo modo, tributando-Lhe pela fé, a honra que é devida ao Seu grande nome e poder, o resultado sempre será este de sermos curados e salvos.






Mateus 21

A Entrada de Jesus em Jerusalém – Mateus 21.1-11
 
“1 Quando se aproximaram de Jerusalém, e chegaram a Betfagé, ao Monte das Oliveiras, enviou Jesus dois discípulos, dizendo-lhes:
2 Ide à aldeia que está defronte de vós, e logo encontrareis uma jumenta presa, e um jumentinho com ela; desprendei-a, e trazei-mos.
3 E, se alguém vos disser alguma coisa, respondei: O Senhor precisa deles; e logo os enviará.
4 Ora, isso aconteceu para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta:
5 Dizei à filha de Sião: Eis que aí te vem o teu Rei, manso e montado em um jumento, em um jumentinho, cria de animal de carga.
6 Indo, pois, os discípulos e fazendo como Jesus lhes ordenara,
7 trouxeram a jumenta e o jumentinho, e sobre eles puseram os seus mantos, e Jesus montou.
8 E a maior parte da multidão estendeu os seus mantos pelo caminho; e outros cortavam ramos de árvores, e os espalhavam pelo caminho.
9 E as multidões, tanto as que o precediam como as que o seguiam, clamavam, dizendo: Hosana ao Filho de Davi! bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas!
10 Ao entrar ele em Jerusalém, agitou-se a cidade toda e perguntava: Quem é este?
11 E as multidões respondiam: Este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galileia.”

Depois de ter curado os dois cegos, nosso Senhor chegou finalmente próximo dos muros de Jerusalém, ao Monte das Oliveiras, de onde enviou dois de Seus discípulos a uma aldeia que estava situada defronte  deles, para pegarem um jumentinho, com o qual entraria triunfalmente em Jerusalém, sendo aclamado pelas multidões.
Estava profetizado que Ele entraria na cidade como  Rei (Zac 9.9):
“Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém; eis que vem a ti o teu rei; ele é justo e traz a salvação; ele é humilde e vem montado sobre um jumento, sobre um jumentinho, filho de jumenta.” (Zac 9.9)
Estava profetizado portanto, que haveria , alegria e exultação por ocasião da entrada de nosso Senhor em Jerusalém, montado em um jumentinho, e isto sucedeu conforme estava previsto na profecia.
Nos relatos paralelos a esta passagem, dos evangelhos de Marcos, Lucas e João, nós vemos que:
Em Lc 19.37-40 está registrado que quando a multidão dos discípulos começou a louvar a Deus em alta voz, regozijando-se, por todos os milagres que tinha visto, dizendo: Bendito o Rei que vem em nome do Senhor; paz no céu, e glória nas alturas”, alguns fariseus dentre a multidão, pediram a Jesus que repreendesse os Seus discípulos, todavia, em vez de atender ao pedido deles, nosso Senhor afirmou o seguinte: “Digo-vos que, se estes se calarem, as pedras clamarão.”. Estava previsto na profecia, como vimos antes, que haveria aquele júbilo, e a profecia não pode falhar. Por isso lhes disse nosso Senhor, que caso fosse possível calar o clamor de exultação dos discípulos, as pedras clamariam dando cumprimento à profecia.
Certamente, quando entrou na cidade de Jerusalém, outros se agregaram ao clamor dos discípulos, conforme está registrado por Mateus em seu evangelho, mas estes, não eram os judeus de Jerusalém que odiavam Jesus e que estavam envenenados pelos sacerdotes e fariseus, que saíram ao Seu encontro com ramos de palmeiras clamando “Hosana! Bendito o Rei de Israel que vem em nome do Senhor (Jo 12.13), quando souberam que Ele estava vindo para a cidade de Jerusalém montado num jumentinho. Eram judeus das áreas rurais e de outras cidades que vinham a Jerusalém anualmente para a festa da Páscoa, e especialmente a multidão que estivera com Jesus na casa de Lázaro e que testificara que Ele realmente lhe havia ressuscitado (Jo 12.17, 18).
Aquela grande manifestação foi a gota d’água que levou os fariseus a se conluiarem para prenderem Jesus.
Muitos pensam que a multidão que bradou “Hosana” é a mesma que gritou “Crucifica-o”. No entanto, os que eram de Jerusalém e que estavam buscando a crucificação de Jesus certamente não se encontravam entre aqueles que disseram “Hosana”.
Ao entrar em Jerusalém, como Rei, montado num jumentinho, nosso Senhor manifestou que o Seu reino é de paz, de amor, de mansidão e de justiça, e que é um reino estabelecido no coração dos Seus súditos, e não um reino que se estabelece pela força das armas, senão teria entrado montado num cavalo e com uma grande espada em Sua mão, pronto para derramar sangue em Jerusalém, sem necessitar do auxílio de qualquer mão humana, caso se valesse do Seu grande poder e autoridade sobre tudo e todos.
Todavia, Ele exerce este domínio em amor e mansidão nos corações que se convertem a Ele, e demonstrou isto, ao entrar com grande humildade na cidade de Jerusalém.


A Profanação do Templo é Castigada – Mt 21.12-17

“12 Então Jesus entrou no templo, expulsou todos os que ali vendiam e compravam, e derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas;
13 e disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; vós, porém, a fazeis covil de salteadores.
14 E chegaram-se a ele no templo cegos e coxos, e ele os curou.
15 Vendo, porém, os principais sacerdotes e os escribas as maravilhas que ele fizera, e os meninos que clamavam no templo: Hosana ao Filho de Davi, indignaram-se,
16 e perguntaram-lhe: Ouves o que estes estão dizendo? Respondeu-lhes Jesus: Sim; nunca lestes: Da boca de pequeninos e de criancinhas de peito tiraste perfeito louvor?
17 E deixando-os, saiu da cidade para Betânia, e ali passou a noite.”

Ao entrar em Jerusalém nosso Senhor não se dirigiu ao palácio real, mas ao templo, que representava o Seu reino espiritual.
E Ele encontrou a Sua casa da Antiga Dispensação, como um mero centro comercial, motivo porque em Seu zelo expulsou de lá todos os cambistas, bem como todos os que vendiam e compravam.
Especialmente as ovelhas e pombas destinados aos sacrifícios a serem oferecidos no templo, segundo a Lei de Moisés, eram vendidos e comprados, num comércio desonesto promovido pelos próprios sacerdotes e escribas do templo, porque na verdade, a maior parte daqueles animais sequer era sacrificada, tornando a ser vendida por aqueles comerciantes, que em sua grande maioria se encontravam a serviço dos próprios sacerdotes e escribas.
Isto explica o modo como o Senhor agiu para demonstrar o zelo de Deus pela Sua casa.
Todos os que fazem da religião um comércio estão debaixo do juízo de Deus, que não os terá por inocentes, e isto se depreende facilmente da atitude de nosso Senhor em relação àqueles que se entregavam em Seus dias, à prática de tal comércio no templo.
Estes comerciantes desonravam a Deus, e resistiam a nosso Senhor juntamente com os líderes religiosos de Israel.
Todavia, cegos e coxos o procuravam para serem curados, e Ele os curou ali mesmo na área do templo.
E não foram estes líderes e os que comerciavam que o louvaram pelas maravilhas que realizava, mas meninos pequeninos que diziam “Hosana ao Filho de Davi”.
Os principais sacerdotes e os escribas não somente não louvaram ao Senhor, como também ficaram indignados com todas estas coisas, e perguntaram-Lhe se estava ouvindo o que as criancinhas diziam, e Ele lhes respondeu com o que estava profetizado nas Escrituras acerca disto, com o registro do Salmo 8.2, porque este seria o efeito do evangelho não somente em Israel, mas em todas as nações, porque até mesmo as criancinhas conheceriam ao Senhor e o louvariam no Espírito.
“Da boca das crianças e dos que mamam tu suscitaste força, por causa dos teus adversários para fazeres calar o inimigo e vingador.” (Sl 8.2)
Depois disto, nosso Senhor se dirigiu para Betânia, certamente para a casa de Lázaro, onde foi buscar conforto para a hora difícil que se aproximava.
Nós lemos no evangelho de João (cap 12) que Jesus achou conforto junto daqueles que O amavam antes de se entregar voluntariamente nas mãos dos seus inimigos, os quais lhe infligiriam terríveis sofrimentos, conforme estava profetizado nas Escrituras.    
Faltavam seis dias para a Páscoa quando Jesus se dirigiu à casa de Lázaro e ali lhe prepararam uma ceia para Ele e seus discípulos; e Lázaro estava à mesa enquanto Marta os servia.



A Figueira Estéril é Amaldiçoada – Mt 21.18-22

“18 Ora, de manhã, ao voltar à cidade, teve fome;
19 e, avistando uma figueira à beira do caminho, dela se aproximou, e não achou nela senão folhas somente; e disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti. E a figueira secou imediatamente.
20 Quando os discípulos viram isso, perguntaram admirados: Como é que imediatamente secou a figueira?
21 Jesus, porém, respondeu-lhes: Em verdade vos digo que, se tiverdes fé e não duvidardes, não só fareis o que foi feito à figueira, mas até, se a este monte disserdes: Ergue-te e lança-te no mar, isso será feito;
22 e tudo o que pedirdes na oração, crendo, recebereis.”

Para ilustrar a verdade de que há uma condenação aguardando por todo aquele que não frutifica para Deus, nosso Senhor amaldiçoou uma figueira por não ter achado fruto na mesma, senão apenas folhas, e fez com que ela secasse, ao lhe dirigir a seguinte palavra de ordem: “Nunca mais nasça fruto de ti”.
No texto paralelo do evangelho de Marcos está registrado que havia somente folhas na figueira porque não era ainda a estação dos figos (Mc 11.13).
Alguém perguntaria porque então Jesus fez com que a figueira secasse, já que não era tempo de figos?
Somos dados a querer entender coisas espirituais com nossa lógica natural.
Se formos por este caminho poderemos até chegar à conclusão indevida de que nosso Senhor agiu de forma insensata.
Todavia, o fato de não ser época de figos, somente serviu para reforçar o ensino que Ele pretendeu nos dar de que não somos figueiras, mas homens, e que no que respeita à humanidade, é dever desta sempre dar os frutos esperados por Deus, a tempo e a fora de tempo, senão estará sujeita a um julgamento.
Nosso Senhor quis figos e não os encontrou. E qual foi o resultado? Nosso Senhor quer achar frutos em nós, e se não os acha, qual será o resultado?
Ele nos mostrou de modo muito veemente o dever que temos para com Deus de estarmos sempre frutificando para Ele, e este fruto é especialmente o fruto do Espírito citado em Gál 5.22,23.
Assim, não foi por nenhum acesso de ira, de indignação, de desprezo pelas árvores, de descontrole emocional, ou por qualquer motivo injustificável que o Senhor o fizera, mas para deixar tal ensinamento para nós, e também o de que tudo é possível ao que crê.
E o modo de frutificar para Deus é possível somente pela fé. Quanto maior a fé, maior a frutificação. Dar o fruto do Espírito Santo é impossível para nós, por nossa própria capacidade, mas não impossível para a fé.
Quando o Senhor nos mover a orar por coisas, aparentemente impossíveis de serem feitas, e incompreensíveis para a nossa razão natural, não devemos nos conduzir pelo que julgamos ser lógico ou possível, mas obedecermos em espírito à ordem que nos for dada. Se formos chamados a orar por algum impossível, especialmente em relação a algum fruto do Espírito Santo, como por exemplo, sermos longânimos, bondosos, misericordiosos, o Senhor é poderoso para torná-lo possível, porque não há impossíveis para a fé que se apóia em Deus.
O pecado da esterilidade espiritual é geralmente o resultado de um outro pecado, a saber, o da incredulidade.
Por isso nosso Senhor associou a fé, ao evento de ter secado a figueira, ensinando aos discípulos que deveriam ter fé para serem santificados, e para operarem sinais e maravilhas, porque dependeriam disto, e muito, para que não fossem achados estéreis em suas vidas espirituais diante de Deus.


A Autoridade de Jesus Sendo Questionada – Mateus 21.23-27

“23 Tendo Jesus entrado no templo, e estando a ensinar, aproximaram-se dele os principais sacerdotes e os anciãos do povo, e perguntaram: Com que autoridade fazes tu estas coisas? e quem te deu tal autoridade?
24 Respondeu-lhes Jesus: Eu também vos perguntarei uma coisa; se ma disserdes, eu de igual modo vos direi com que autoridade faço estas coisas.
25 O batismo de João, donde era? do céu ou dos homens? Ao que eles arrazoavam entre si: Se dissermos: Do céu, ele nos dirá: Então por que não o crestes?
26 Mas, se dissermos: Dos homens, tememos o povo; porque todos consideram João como profeta.
27 Responderam, pois, a Jesus: Não sabemos. Disse-lhe ele: Nem eu vos digo com que autoridade faço estas coisas.”

Foi com ironia que os principais sacerdotes e anciãos de Israel perguntaram a Jesus com que autoridade fazia todas aquelas coisas, especialmente a de ter expulsado os vendilhões do templo.
Perguntaram com ironia porque bem sabiam que Ele não estava comissionado nem pelas autoridades civis romanas, que mantinham a Judeia sob dominação, nem pelas autoridades religiosas de Israel, especialmente os sacerdotes que compunham o Sinédrio, que era a mais alta corte religiosa de Israel para decidir sobre assuntos religiosos, inclusive com poderes para prenderem e condenarem à morte os israelitas, que segundo eles, fossem hereges, quanto a não cumprirem a Lei de Moisés, quando eles próprios eram os principais transgressores da referida lei.
A autoridade que havia comissionado nosso Senhor foi a mesma que havia comissionado a João, o Batista, a saber, Deus, o Pai, e dera testemunho desta comissão nas próprias Escrituras do Velho Testamento, que cabia especialmente aos sacerdotes e escribas defenderem. Então eles teriam que defender o ministério de João, o Batista, e de nosso Senhor, porque não somente era de proveniência divina, como também, estava registrado nas Escrituras.
Por isso, Jesus não falou de onde provinha a Sua própria autoridade a eles, porque se tivessem reconhecido de onde vinha a autoridade com a qual João ministrava,  também teriam reconhecido que a de nosso Senhor era da mesma procedência.
Por causa de inveja, e do endurecimento no pecado do orgulho religioso deles, não poderiam reconhecer nem a João, nem a Jesus, como enviados de Deus para fazerem tudo o que estavam fazendo, e então jamais diriam, conforme Jesus lhes perguntara se reconheciam se a autoridade de João vinha de Deus, e nem mesmo poderiam mentir, dizendo que criam que era de Deus, porque sabiam que Jesus lhes perguntaria em seguida por que então não haviam crido nele.
Tampouco poderiam dizer que o batismo com que João batizava não era em obediência a uma comissão divina, senão dos homens, porque sabiam que todo o povo tinha João na conta de profeta, e não queriam cair no desagrado do povo.
Logo, responderam de forma sagaz, raposas que eram, dizendo simplesmente que não sabiam.
Com isso, responderam exatamente conforme nosso Senhor esperava que respondessem, uma vez que se negando a dizer de onde provinha a autoridade com que João batizava, por não terem reconhecido a mesma, então de nada adiantaria nosso Senhor responder diretamente a eles de onde provinha a Sua própria autoridade, e por conseguinte, negou-se também a responder a pergunta que eles Lhe fizeram.
Ninguém conhecerá a autoridade de Jesus e da Sua doutrina, se não se submeter a ambos, porque é assim que se reconhece que a Sua autoridade é a mesma que está também sobre aqueles que O seguem, e que se submetem ao Seu ensino, e eles reconhecerão que procede efetivamente de Deus, sendo uma doutrina e uma autoridade do céu, e não deste mundo (Jo 7.17).
Consequentemente, todos aqueles que rejeitarem ao Senhor e à Sua doutrina, nunca poderão saber com que autoridade faz todas as coisas, que apesar de as verem, não podem compreendê-las.


A Parábola dos Lavradores Maus – Mateus 21.33-46

“33 Ouvi ainda outra parábola: Havia um homem, proprietário, que plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar, e edificou uma torre; depois arrendou-a a uns lavradores e ausentou-se do país.
34 E quando chegou o tempo dos frutos, enviou os seus servos aos lavradores, para receber os seus frutos.
35 E os lavradores, apoderando-se dos servos, espancaram um, mataram outro, e a outro apedrejaram.
36 Depois enviou ainda outros servos, em maior número do que os primeiros; e fizeram-lhes o mesmo.
37 Por último enviou-lhes seu filho, dizendo: A meu filho terão respeito.
38 Mas os lavradores, vendo o filho, disseram entre si: Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo, e apoderemo-nos da sua herança.
39 E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e o mataram.
40 Quando, pois, vier o senhor da vinha, que fará àqueles lavradores?
41 Responderam-lhe eles: Fará perecer miseravelmente a esses maus, e arrendará a vinha a outros lavradores, que a seu tempo lhe entreguem os frutos.
42 Disse-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra que os edificadores rejeitaram, essa foi posta como pedra angular; pelo Senhor foi feito isso, e é maravilhoso aos nossos olhos?
43 Portanto eu vos digo que vos será tirado o reino de Deus, e será dado a um povo que dê os seus frutos.
44 E quem cair sobre esta pedra será despedaçado; mas aquele sobre quem ela cair será reduzido a pó.
45 Os principais sacerdotes e os fariseus, ouvindo essas parábolas, entenderam que era deles que Jesus falava.
46 E procuravam prendê-lo, mas temeram o povo, porquanto este o tinha por profeta.”

Os principais sacerdotes e anciãos de Israel haviam condenado a si mesmos, quando nosso Senhor fez a aplicação da Parábola a eles, perguntando-lhes o que o proprietário da vinha faria com aqueles maus lavradores que haviam espancado e matado a todos que lhes foram enviados pelo proprietário para receber os frutos devidos da vinha, inclusive ao seu próprio filho.
Eles responderam:
“Fará perecer miseravelmente a esses maus, e arrendará a vinha a outros lavradores, que a seu tempo lhe entreguem os frutos.” (v. 41)
Eles assinaram a própria sentença de condenação deles ao proferirem tais palavras, porque haviam perseguido e matado aos profetas que foram enviados a Israel antes de Jesus, e agora estavam maltratando o próprio Senhor, e tudo fariam para matá-lo, como efetivamente o fizeram.
Eles haviam se apropriado da lavoura de Deus para obterem frutos para si mesmos, e não para Ele.
Ao rejeitarem o Seu enviado, para que pudessem não somente produzir estes frutos, como também consagrá-los verdadeiramente a Deus, eles estavam dando mostras que eram de fato os maus lavradores da parábola que nosso Senhor lhes havia contado.
A atitude deles já se encontrava prevista nas Escrituras, e por isso Jesus lhes citou as palavras do Salmo 118.22,23 para lhes mostrar que Ele mesmo era a pedra angular que os edificadores de Israel rejeitariam.
 “22 A pedra que os edificadores rejeitaram, essa foi posta como pedra angular.
23 Foi o Senhor que fez isto e é maravilhoso aos nossos olhos.” (Sl 118.22,23)
Ora, e o que se faria a tais rejeitadores de Israel, aos quais cabia edificarem a Igreja de Deus?
Eles tiveram o privilégio de receberem o Messias ministrando o evangelho somente a eles, para que fossem os primeiros a espalhar a mensagem do evangelho por todo o mundo. Mas o que fizeram? Não queriam edificar sobre a única pedra angular sobre a qual convém ser edificada a Igreja de Deus, que é Cristo.
Todavia, os planos de Deus não podem ser frustrados, e portanto, eles perderiam a condição de edificadores do reino, que seria tirado deles, para ser dado a um povo que desse a Deus os frutos esperados por Ele.
Este povo seria composto por todos aqueles que não rejeitassem esta pedra angular preciosa que nos foi dada por Deus: Cristo.
Haveria pessoas de Israel que o fariam, como foi o caso dos apóstolos e demais discípulos daquela nação, mas os edificadores seriam achados em maior número entre as nações gentias.
Esta mesma pedra angular, tanto é uma rocha de bênção quanto de ofensa. É preciosa para aqueles que se convertem a Cristo, mas despedaça a todo aquele que O tem rejeitado.
Quando os principais sacerdotes e os fariseus, ouviram essas parábolas, compreenderam que era a eles que nosso Senhor estava se referindo, e por isso tencionaram prendê-lo para matá-lo, mas não fizeram isto abertamente e nem naquele momento, porque assim como não haviam lançado mão de João por temerem a reação do povo, de igual modo também temiam o povo quanto a Jesus, que era tido na conta de profeta.
Eles o fariam, mas de modo ardiloso, procurando ocasião e alguma falta pela qual pudessem acusá-lo diante do povo, como sendo um falso profeta, como blasfemo e descumpridor da lei de Moisés.
Eles se apressariam em fazê-lo, porque importava que nosso Senhor morresse naquela Páscoa, ainda naquela semana.
Esta parábola nos ensina de modo muito claro que a vinha pertence a Deus.
Ele nos arrendou a vinha para trabalharmos nela para Ele.
A Igreja é a lavoura de Deus e somos apenas Seus cooperadores, especialmente os Seus ministros, sobre os quais pesa uma maior responsabilidade quanto ao cuidado com a vinha, para que produza os frutos esperados por Ele.
Se alguém perde isto de vista, logo se coloca na posição anti-bíblica de dominadores do rebanho, procurando fazer dos membros da Igreja de Cristo uma mera massa de manobra para atender ao seu próprio interesse, seguindo no mesmo caminho dos sacerdotes, fariseus e escribas dos dias de Jesus.
Parece-nos que o apóstolo Paulo tinha diante de si este ensino de Jesus quando proferiu as seguintes palavras:
“5 Pois, que é Apolo, e que é Paulo, senão ministros pelos quais crestes, e isso conforme o que o Senhor concedeu a cada um?
6 Eu plantei; Apolo regou; mas Deus deu o crescimento.
7 De modo que, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento.
8 Ora, uma só coisa é o que planta e o que rega; e cada um receberá o seu galardão segundo o seu trabalho.
9 Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus.
10 Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei eu como sábio construtor, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele.
11 Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo.
12 E, se alguém sobre este fundamento levanta um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha,
13 a obra de cada um se manifestará; pois aquele dia a demonstrará, porque será revelada no fogo, e o fogo provará qual seja a obra de cada um.
14 Se permanecer a obra que alguém sobre ele edificou, esse receberá galardão.
15 Se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele prejuízo; mas o tal será salvo todavia como que pelo fogo.” (I Cor 1.5-15)
E de igual modo os ministros são advertidos pelo apóstolo Pedro com as seguintes palavras:
“2 Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, não por força, mas espontaneamente segundo a vontade de Deus; nem por torpe ganância, mas de boa vontade;
3 nem como dominadores sobre os que vos foram confiados, mas servindo de exemplo ao rebanho.” (I Pe 5.2,3)


A Parábola dos Lavradores Maus – Mateus 21.33-46

“33 Ouvi ainda outra parábola: Havia um homem, proprietário, que plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar, e edificou uma torre; depois arrendou-a a uns lavradores e ausentou-se do país.
34 E quando chegou o tempo dos frutos, enviou os seus servos aos lavradores, para receber os seus frutos.
35 E os lavradores, apoderando-se dos servos, espancaram um, mataram outro, e a outro apedrejaram.
36 Depois enviou ainda outros servos, em maior número do que os primeiros; e fizeram-lhes o mesmo.
37 Por último enviou-lhes seu filho, dizendo: A meu filho terão respeito.
38 Mas os lavradores, vendo o filho, disseram entre si: Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo, e apoderemo-nos da sua herança.
39 E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e o mataram.
40 Quando, pois, vier o senhor da vinha, que fará àqueles lavradores?
41 Responderam-lhe eles: Fará perecer miseravelmente a esses maus, e arrendará a vinha a outros lavradores, que a seu tempo lhe entreguem os frutos.
42 Disse-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra que os edificadores rejeitaram, essa foi posta como pedra angular; pelo Senhor foi feito isso, e é maravilhoso aos nossos olhos?
43 Portanto eu vos digo que vos será tirado o reino de Deus, e será dado a um povo que dê os seus frutos.
44 E quem cair sobre esta pedra será despedaçado; mas aquele sobre quem ela cair será reduzido a pó.
45 Os principais sacerdotes e os fariseus, ouvindo essas parábolas, entenderam que era deles que Jesus falava.
46 E procuravam prendê-lo, mas temeram o povo, porquanto este o tinha por profeta.”

Os principais sacerdotes e anciãos de Israel haviam condenado a si mesmos, quando nosso Senhor fez a aplicação da Parábola a eles, perguntando-lhes o que o proprietário da vinha faria com aqueles maus lavradores que haviam espancado e matado a todos que lhes foram enviados pelo proprietário para receber os frutos devidos da vinha, inclusive ao seu próprio filho.
Eles responderam:
“Fará perecer miseravelmente a esses maus, e arrendará a vinha a outros lavradores, que a seu tempo lhe entreguem os frutos.” (v. 41)
Eles assinaram a própria sentença de condenação deles ao proferirem tais palavras, porque haviam perseguido e matado aos profetas que foram enviados a Israel antes de Jesus, e agora estavam maltratando o próprio Senhor, e tudo fariam para matá-lo, como efetivamente o fizeram.
Eles haviam se apropriado da lavoura de Deus para obterem frutos para si mesmos, e não para Ele.
Ao rejeitarem o Seu enviado, para que pudessem não somente produzir estes frutos, como também consagrá-los verdadeiramente a Deus, eles estavam dando mostras que eram de fato os maus lavradores da parábola que nosso Senhor lhes havia contado.
A atitude deles já se encontrava prevista nas Escrituras, e por isso Jesus lhes citou as palavras do Salmo 118.22,23 para lhes mostrar que Ele mesmo era a pedra angular que os edificadores de Israel rejeitariam.
 “22 A pedra que os edificadores rejeitaram, essa foi posta como pedra angular.
23 Foi o Senhor que fez isto e é maravilhoso aos nossos olhos.” (Sl 118.22,23)
Ora, e o que se faria a tais rejeitadores de Israel, aos quais cabia edificarem a Igreja de Deus?
Eles tiveram o privilégio de receberem o Messias ministrando o evangelho somente a eles, para que fossem os primeiros a espalhar a mensagem do evangelho por todo o mundo. Mas o que fizeram? Não queriam edificar sobre a única pedra angular sobre a qual convém ser edificada a Igreja de Deus, que é Cristo.
Todavia, os planos de Deus não podem ser frustrados, e portanto, eles perderiam a condição de edificadores do reino, que seria tirado deles, para ser dado a um povo que desse a Deus os frutos esperados por Ele.
Este povo seria composto por todos aqueles que não rejeitassem esta pedra angular preciosa que nos foi dada por Deus: Cristo.
Haveria pessoas de Israel que o fariam, como foi o caso dos apóstolos e demais discípulos daquela nação, mas os edificadores seriam achados em maior número entre as nações gentias.
Esta mesma pedra angular, tanto é uma rocha de bênção quanto de ofensa. É preciosa para aqueles que se convertem a Cristo, mas despedaça a todo aquele que O tem rejeitado.
Quando os principais sacerdotes e os fariseus, ouviram essas parábolas, compreenderam que era a eles que nosso Senhor estava se referindo, e por isso tencionaram prendê-lo para matá-lo, mas não fizeram isto abertamente e nem naquele momento, porque assim como não haviam lançado mão de João por temerem a reação do povo, de igual modo também temiam o povo quanto a Jesus, que era tido na conta de profeta.
Eles o fariam, mas de modo ardiloso, procurando ocasião e alguma falta pela qual pudessem acusá-lo diante do povo, como sendo um falso profeta, como blasfemo e descumpridor da lei de Moisés.
Eles se apressariam em fazê-lo, porque importava que nosso Senhor morresse naquela Páscoa, ainda naquela semana.
Esta parábola nos ensina de modo muito claro que a vinha pertence a Deus.
Ele nos arrendou a vinha para trabalharmos nela para Ele.
A Igreja é a lavoura de Deus e somos apenas Seus cooperadores, especialmente os Seus ministros, sobre os quais pesa uma maior responsabilidade quanto ao cuidado com a vinha, para que produza os frutos esperados por Ele.
Se alguém perde isto de vista, logo se coloca na posição anti-bíblica de dominadores do rebanho, procurando fazer dos membros da Igreja de Cristo uma mera massa de manobra para atender ao seu próprio interesse, seguindo no mesmo caminho dos sacerdotes, fariseus e escribas dos dias de Jesus.
Parece-nos que o apóstolo Paulo tinha diante de si este ensino de Jesus quando proferiu as seguintes palavras:
“5 Pois, que é Apolo, e que é Paulo, senão ministros pelos quais crestes, e isso conforme o que o Senhor concedeu a cada um?
6 Eu plantei; Apolo regou; mas Deus deu o crescimento.
7 De modo que, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento.
8 Ora, uma só coisa é o que planta e o que rega; e cada um receberá o seu galardão segundo o seu trabalho.
9 Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus.
10 Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei eu como sábio construtor, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele.
11 Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo.
12 E, se alguém sobre este fundamento levanta um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha,
13 a obra de cada um se manifestará; pois aquele dia a demonstrará, porque será revelada no fogo, e o fogo provará qual seja a obra de cada um.
14 Se permanecer a obra que alguém sobre ele edificou, esse receberá galardão.
15 Se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele prejuízo; mas o tal será salvo todavia como que pelo fogo.” (I Cor 1.5-15)
E de igual modo os ministros são advertidos pelo apóstolo Pedro com as seguintes palavras:
“2 Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, não por força, mas espontaneamente segundo a vontade de Deus; nem por torpe ganância, mas de boa vontade;
3 nem como dominadores sobre os que vos foram confiados, mas servindo de exemplo ao rebanho.” (I Pe 5.2,3)





Mateus 22

A Parábola das Bodas

“1 Então Jesus tornou a falar-lhes por parábolas, dizendo:
2 O reino dos céus é semelhante a um rei que celebrou as bodas de seu filho.
3 Enviou os seus servos a chamar os convidados para as bodas, e estes não quiseram vir.
4 Depois enviou outros servos, ordenando: Dizei aos convidados: Eis que tenho o meu jantar preparado; os meus bois e cevados já estão mortos, e tudo está pronto; vinde às bodas.
5 Eles, porém, não fazendo caso, foram, um para o seu campo, outro para o seu negócio;
6 e os outros, apoderando-se dos servos, os ultrajaram e mataram.
7 Mas o rei encolerizou-se; e enviando os seus exércitos, destruiu aqueles homicidas, e incendiou a sua cidade.
8 Então disse aos seus servos: As bodas, na verdade, estão preparadas, mas os convidados não eram dignos.
9 Ide, pois, pelas encruzilhadas dos caminhos, e a quantos encontrardes, convidai-os para as bodas.
10 E saíram aqueles servos pelos caminhos, e ajuntaram todos quantos encontraram, tanto maus como bons; e encheu-se de convivas a sala nupcial.
11 Mas, quando o rei entrou para ver os convivas, viu ali um homem que não trajava veste nupcial;
12 e perguntou-lhe: Amigo, como entraste aqui, sem teres veste nupcial? Ele, porém, emudeceu.
13 Ordenou então o rei aos servos: Amarrai-o de pés e mãos, e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.
14 Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos.”

Nesta parábola nosso Senhor mostrou aos sacerdotes, escribas e fariseus, e ao povo de Israel em geral, um resumo da história deles de incredulidade e de rejeição da vontade de Deus.
Ele mostrou nesta parábola que o reino de Deus é comparado à participação de um banquete real de casamento que é promovido pelo próprio Deus, para celebrar as bodas de seu Filho.
Não há dúvidas que as bodas são as do próprio Cristo que se consumará por ocasião da Sua segunda vinda. Por ora, a Sua noiva, que é a Igreja, está sendo preparada (santificada) para ser-Lhe apresentada sem qualquer mancha ou ruga.
Os israelitas foram os primeiros convidados para estas bodas, pela fé deles em Deus. Todavia, ao longo da sua história, somente um remanescente era fiel a Deus, porque a nação como um todo, vivia de modo contrário à sua vocação.
Então Deus lhes enviou os Seus servos, os profetas, mas não atenderam o convite para participarem das bodas, pela sua conversão ao Senhor.
E como chegaram a matar alguns profetas que lhes foram enviados depois dos primeiros, Deus permitiu que a cidade deles de Jerusalém fosse queimada pelo babilônios, e muitos deles mortos, e conduzidos em cativeiro.
Todavia, Deus não os rejeitou de todo e lhes enviou restauradores, principalmente nas pessoas de Zorobabel, Esdras, Neemias, Ageu, Zacarias e Malaquias, mas eles deram naquela geração má e incrédula dos dias de Jesus, de maneira que eram indignos de participarem das Suas bodas. Motivo por que o Rei (Deus Pai) ordenou que se buscassem convidados entre aqueles que se encontravam pelas encruzilhadas dos caminhos e a todos quantos fossem encontrados. Isto é sobretudo uma referência aos gentios.  
Este convite fora feito inteiramente pela graça, mas todo aquele que fosse digno de ser achado no banquete nupcial deveria estar vestido com a veste de justiça de Cristo, que também é concedida pela mesma graça, tanto quanto o convite à salvação.
De modo, que se fosse possível a alguém entrar na festa das bodas sem tal veste de justiça, o mesmo seria amarrado e lançado nas trevas exteriores onde há choro e ranger de dentes, a saber, no inferno.
Por esta parábola nosso Senhor ensinou que apesar de muitos serem chamados à salvação, pelo convite do evangelho, somente os escolhidos de Deus (eleitos) serão dignos de serem achados no banquete das bodas que eles próprios terão com Jesus Cristo.
Nós estamos apresentando a seguir, um sermão de autoria de J. C. Ryle sobre esta passagem:

“A parábola retratada nestes versículos tem uma significação muito ampla. Primeiramente ela aponta para os judeus, mas ela se estende a todos aqueles para quem o evangelho é pregado, perscrutando corações.
Observemos, em primeiro lugar, que a salvação anunciada no evangelho é comparada a uma festa de casamento. O Senhor Jesus nos fala de "um rei que celebrou as bodas de seu filho".
Existe no evangelho uma farta provisão para todas as necessidades da alma humana. Há um suprimento de tudo quanto se requer para aliviar a fome e sede espiritual. Perdão, paz com Deus, uma viva esperança neste mundo, glória no mundo vindouro, são bênçãos retratadas diante dos nossos olhos em rica abundância. Toda esta provisão é devida ao amor manifestado pelo Filho de Deus, Jesus Cristo, nosso Senhor. Ele deseja nos unir a si mesmo, restaurar-nos à família de Deus como filhos queridos, vestir-nos com a sua própria justiça, dar-nos uma posição em seu reinado e nos apresentar inculpáveis perante o trono de seu Pai, no último dia. O evangelho, em suma, é uma oferta de pão para o faminto, de alegria para o triste, de um lar para o desprezado, de um amigo para o perdido. O evangelho é boas novas. Deus oferece identificar-se com o homem pecador, mediante seu Filho querido. Jamais nos esqueçamos: "Nisto consiste o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou, e enviou o Seu Filho como propiciação pelos nossos pecados"(1 Jo 4:10).
Em segundo lugar, tomemos nota do fato que os convites do evangelho são amplos, plenos, generosos e ilimitados. Nesta parábola, o Senhor Jesus nos conta que os servos disseram aos convidados: "Tudo está pronto; vinde para as bodas". Da parte de Deus não há nada faltando para a salvação da alma dos pecadores. Ninguém jamais poderá dizer, no fim, que foi por culpa de Deus que não se salvou. O Pai está pronto para amar e acolher. O Filho está pronto para perdoar e limpar de toda culpa. A graça está pronta para assisti-lo. A bíblia está pronta para instruí-lo. O céu está pronto para ser o seu lar eterno. Só uma coisa é necessária: que o próprio pecador esteja desejoso de ser salvo. Que não fiquemos debatendo e perdendo-nos em minúcias acerca deste assunto tão simples. Deus sempre será achado inocente do sangue de todas as almas perdidas. O evangelho sempre fala dos pecadores como seres responsáveis e que terão de prestar contas a Deus. O evangelho coloca uma porta aberta diante de toda humanidade. Ninguém está excluído desse convite universal. Embora eficaz somente para os que crêem, ele é suficiente para a humanidade inteira. Embora poucos são os que entram pela porta estreita, todos são igualmente convidados a entrar por ela.
Em terceiro lugar, notemos que a salvação oferecida pelo evangelho é rejeitada por muitos daqueles a quem ela é oferecida. O Senhor Jesus nos conta que os convidados, chamados pelos servos do rei, "não se importaram e se foram".
Há milhares de ouvintes (leitores) do evangelho que em nada se beneficiam dele. Eles ouvem (lêem), ano após ano, mas não crêem para a salvação de sua alma. Eles não sentem qualquer necessidade especial do evangelho. Não vêem qualquer beleza especial nele. Talvez não cheguem a odiar, nem façam oposição ao evangelho. Porém, não o recebem no coração. Há outras coisas de que eles gostam muito mais. Seu dinheiro, suas terras, seus negócios e seus prazeres são todos assuntos muito mais interessantes para ele do que a salvação da alma. Esse é um estado mental deplorável, porém horrivelmente comum. Que nós examinemos o nosso próprio coração, e tomemos o cuidado de que esse não seja também o nosso. O pecado notório pode matar os seus milhares, mas a indiferença e a negligência ao evangelho matam os seus dez milhares. Multidões se verão no inferno, não tanto porque desobedeceram abertamente aos dez mandamentos, mas porque fizeram pouco caso da verdade. Cristo morreu por eles na cruz, mas eles O negligenciaram.
Em último lugar, observemos que todos quantos professaram falsamente a religião cristã serão detectados, desmascarados e condenados eternamente, no último dia. O Senhor Jesus nos conta que, quando finalmente chegaram os convidados para as bodas, o rei entrou para ver os que estavam às mesas, e "notou ali um homem que não trazia veste nupcial". O rei perguntou ao homem como este havia entrado, vestido impropriamente, mas não obteve qualquer resposta. Ordenou então o rei a seus servos: "Amarrai-o de pés e mão, e lançai-o para fora, nas trevas".
Sempre haverá alguns falsos membros na igreja de Cristo, enquanto o mundo existir. Nesta parábola, aquele único expulso representa todos os demais que serão expulsos. É impossível lermos os corações dos homens. Enganadores e hipócritas nunca serão totalmente excluídos do meio de verdadeiros cristãos. Desde que uma pessoa professe obediência ao evangelho e viva uma vida externamente correta, não ousamos afirmar categoricamente que tal pessoa não esteja justificada por Cristo. Entretanto, não haverá qualquer dúvida, no dia do juízo. O olho infalível de Deus irá discernir quem é do seu povo e quem não é. Coisa alguma, senão a fé verdadeira, será capaz de subsistir ao fogo do julgamento. Todo e qualquer cristianismo espúrio será pesado na balança e achado em falta. Ninguém, senão os verdadeiros fiéis, participará da ceia das bodas do Cordeiro. Ao hipócrita de nada valerá ter falado muito sobre religião e ter tido reputação de ser um cristão eminente entre os homens. O seu triunfo não perdurará. Ele será despido de toda a sua plumagem emprestada, e ficará nu e trêmulo perante o tribunal de Deus - mudo, condenado por si mesmo, sem esperança e sem salvação. Ele será lançado nas trevas exteriores, em opróbrio, colhendo assim aquilo que semeou em vida. O Senhor Jesus disse que "ali haverá choro e ranger de dentes".
Que nós aprendamos sabedoria através dos quadros desta parábola, e sejamos diligentes em procurar confirmar a nossa vocação e eleição (1 Pe 1:10). A nós, também, é dito; "Tudo está pronto; vinde para as bodas". Tenhamos cuidado de não recusar ao que fala (Hb 12:25). Não durmamos como os demais; pelo contrário, vigiemos e sejamos sóbrios (1 Ts 5:6). O tempo urge. O Rei em breve entrará para ver os convidados. Já recebemos ou não a veste nupcial? Já nos revestimos de Cristo? Essa é a grande indagação levantada por esta parábola. Que jamais descansemos enquanto não pudermos dar uma resposta satisfatória a essa pergunta. Que estas palavras soem diariamente em nossos ouvidos, e nos sondem o coração: "Muitos são chamados, mas poucos escolhidos".


 Questão do Tributo – Mateus 22.15-22

“15 Então os fariseus se retiraram e consultaram entre si como o apanhariam em alguma palavra;
16 e enviaram-lhe os seus discípulos, juntamente com os herodianos, a dizer; Mestre, sabemos que és verdadeiro, e que ensinas segundo a verdade o caminho de Deus, sem te importares com quem quer que seja, porque não olhas a aparência dos homens.
17 Dize-nos, pois, que te parece? É lícito pagar tributo a César, ou não?
18 Jesus, porém, percebendo a sua malícia, respondeu: Por que me experimentais, hipócritas?
19 Mostrai-me a moeda do tributo. E eles lhe apresentaram um denário.
20 Perguntou-lhes ele: De quem é esta imagem e inscrição?
21 Responderam: De César. Então lhes disse: Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.
22 Ao ouvirem isso, ficaram admirados; e, deixando-o, se retiraram.”

Nosso Senhor havia contado também a Parábola das Bodas aos fariseus, e eles mais se enfureceram contra Ele, porque pela parábola, foi-lhes dito explicitamente que estavam fora do reino de Deus.
E não somente isto, estavam rejeitando e perseguindo aqueles que lhes foram enviados com a mensagem do evangelho.
Não tendo como retrucarem às palavras do Senhor, eles se retiraram e entraram em conselho para ver como pegariam a Jesus em alguma palavra, com o fito de fazerem uma acusação formal contra Ele, que o conduzisse a ser condenado à morte.
Para tal propósito, os fariseus entraram em conluio com os partidários políticos do rei Herodes, e enviaram  dois discípulos para fazerem uma pergunta a Jesus adrede preparada por eles, provavelmente com um fariseu e um herodiano, e na presença de outros destes partidos para que servissem de testemunhas caso lograssem ter bom êxito na cilada que eles haviam preparado.
Deste modo, caso Jesus respondesse que não era lícito pagar tributo a César, poderiam acusá-lo de estar se rebelando contra o poder civil de Roma, e não teriam nenhum trabalho para a sua condenação, porque o objeto da denúncia, não seria de caráter religioso, mas civil, e portanto, apenas do interesse de Roma.
Os herodianos se encarregariam de levar o assunto a Herodes, para que este interagisse junto ao Procônsul romano, com autoridade sobre toda a Judeia, a saber, Pôncio Pilatos.
Já comentamos em outra passagem que nosso Senhor em nada ofendeu à ordem civil, e nos deixou o exemplo de uma perfeita cidadania, sob as autoridades constituídas deste mundo, para ser seguido por nós.
Então, sua resposta, àqueles hipócritas, fingindo-se de Seus admiradores, não seria uma estratégia para escapulir da cilada que Lhe haviam montado, mas uma resposta sincera que expressava os Seus reais sentimentos e pensamentos relativos ao assunto.
Os judeus, em sua grande maioria eram rebeldes ao poder civil romano, que pelo desígnio de Deus havia sujeitado todas as nações do mundo conhecido de então, e os sacerdotes, escribas e fariseus, fingiam submissão a Roma, para não serem prejudicados em seus interesses pessoais, porque, enquanto apoiassem o Império Romano, este não consideraria a religião de Israel contrária aos interesses deles, e não deixariam de tirar vantagens mutuamente.      


Os Saduceus e a Ressurreição – Mateus 22.23-33

“23 No mesmo dia vieram alguns saduceus, que dizem não haver ressurreição, e o interrogaram, dizendo:
24 Mestre, Moisés disse: Se morrer alguém, não tendo filhos, seu irmão casará com a mulher dele, e suscitará descendência a seu irmão.
25 Ora, havia entre nós sete irmãos: o primeiro, tendo casado, morreu: e, não tendo descendência, deixou sua mulher a seu irmão;
26 da mesma sorte também o segundo, o terceiro, até o sétimo.
27 depois de todos, morreu também a mulher.
28 Portanto, na ressurreição, de qual dos sete será ela esposa, pois todos a tiveram?
29 Jesus, porém, lhes respondeu: Errais, não compreendendo as Escrituras nem o poder de Deus;
30 pois na ressurreição nem se casam nem se dão em casamento; mas serão como os anjos no céu.
31 E, quanto à ressurreição dos mortos, não lestes o que foi dito por Deus:
32 Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó? Ora, ele não é Deus de mortos, mas de vivos.
33 E as multidões, ouvindo isso, se maravilhavam da sua doutrina.”

No mesmo dia em que os fariseus e herodianos colocaram nosso Senhor à prova, vieram ter com Ele os saduceus, que era o partido religioso ao qual pertencia a maior parte dos sacerdotes, os quais não criam na ressurreição.
E aqui nós os vemos tentando comprovar a tese deles sobre a impossibilidade de haver ressurreição, com o sofisma sob a forma de pergunta, de como poderia haver ressurreição, uma vez que caso uma mulher, tivesse tido neste mundo sete maridos, casando-se com eles, à medida que cada um fosse morrendo, quem seria o seu marido, caso houvesse ressurreição futura?
Eles erravam, segundo nosso Senhor, em dois aspectos básicos, a saber: desconhecimento das Escrituras e do poder de Deus.
Primeiro, as Escrituras ensinam claramente a ressurreição futura, tanto de justos quanto de injustos, os primeiros para a vida eterna, e os últimos para a vergonha e desprezo eternos (Dn 12.2).
Em segundo lugar, eles desconheciam o poder de Deus para trazer de volta, dentre os mortos, não o espírito, porque este não é aniquilado, mas o corpo de todos aqueles que tiverem morrido.
Os fariseus não somente não criam na ressurreição, como também na existência de anjo e de espírito (At 23.8).  
Como os saduceus não criam em anjos, então seria difícil para eles entenderem que na ressurreição, os santos não poderão se casar e nem continuarão casados, porque serão todos como são os anjos.
A grande prova de uma futura ressurreição é a de que Deus não é Deus de mortos, mas de vivos, porque não rege sobre a morte, senão sobre a vida.
Se Ele criou o homem com um corpo, além da sua alma e espírito, então é de se supor que este corpo deve ser ressuscitado, não mais como corpo natural, porque o que é natural está destinado a desaparecer, porque este nosso corpo, herdado de Adão, foi criado a partir do pó da terra. Todavia, o corpo que há de ser recebido na ressurreição é um corpo sobrenatural que não pode ser aniquilado.
A prova de que Deus não é Deus de mortos, mas de vivos, pode ser achada no simples fato de ter sempre se dirigido aos israelitas como sendo o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, a saber, os patriarcas por meio dos quais formou a nação de Israel.
Eles são citados pelo Senhor nas Escrituras muitos anos depois de terem vivido neste mundo, porque se encontram vivos em Sua presença, para sempre, de outra forma não os citaria, caso tivessem deixado de existir, porque qual seria a vantagem para os israelitas ouvirem que Ele era o Deus de quem não mais existia?
Se o destino deles fosse o de também não existirem mais, qual seria a vantagem que teriam em obedecer-Lhe, em relação àqueles que Lhe são desobedientes?
Os saduceus não criam em ressurreição, porque não criam em vida futura, uma vez que não criam na existência do espírito. Então, para eles a morte física representava o fim de tudo.
Em todo caso, nosso Senhor apenas defendeu a doutrina da ressurreição futura, diante da falsa doutrina dos saduceus, e não lhes disse tais coisas na expectativa de mudar a opinião de todos eles, porque como havia afirmado, eles erravam por rejeitarem a autoridade das Escrituras, bem como o poder de Deus, que não poderia atuar em suas vidas, em face de tal rejeição.


O Grande Mandamento – Mateus 22.34-40

“34 Os fariseus, quando souberam, que ele fizera emudecer os saduceus, reuniram-se todos;
35 e um deles, doutor da lei, para o experimentar, interrogou-o, dizendo:
36 Mestre, qual é o grande mandamento na lei?
37 Respondeu-lhe Jesus: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento.
38 Este é o grande e primeiro mandamento.
39 E o segundo, semelhante a este, é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.
40 Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.”

O texto paralelo de Marcos nos dá mais informações acerca do diálogo que este doutor da lei (escriba) tivera com nosso Senhor, indagando-Lhe para o experimentar, qual era o grande mandamento da Lei.
Este escriba estivera em conselho com os demais fariseus, sendo também um deles, e veio ter com Jesus porque soube que Ele fizera emudecer os saduceus.
De certo modo isto agradou ao partido dos fariseus, porque criam diferentemente dos saduceus, tanto na ressurreição, quanto em anjos e espírito.
Isto não significava que tivessem desistido de perseguir o Senhor para condená-lo à morte, nem que tivessem achado algum ponto que lhes identificasse com Ele, apaziguando-se ambos os lados.
O que eles queriam na verdade, naquela ocasião era mostrar aos saduceus que em vez de serem calados por Jesus como eles haviam sido, eles é que o calariam com a pergunta que lhe fariam acerca do grande mandamento.
O escriba já estava com a resposta preparada, como se pode inferir do que disse ao Senhor depois dEle ter-lhe respondido com as palavras dos versos 37 a 40.
Nós lemos no texto paralelo de Marcos que o escriba ao ouvir tal resposta, confirmou o que o Senhor havia dito, com as seguintes palavras:
  “32 Ao que lhe disse o escriba: Muito bem, Mestre; com verdade disseste que ele é um, e fora dele não há outro;
33 e que amá-lo de todo o coração, de todo o entendimento e de todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, é mais do que todos os holocaustos e sacrifícios.” (Mc 12.32-33).
Ao que nosso Senhor acrescentou:
“E Jesus, vendo que havia respondido sabiamente, disse-lhe: Não estás longe do reino de Deus.” (Mc 12.34)
É bem provável que este escriba tenha sido um daqueles fariseus e escribas que vieram a se converter ao Senhor depois da Sua morte (At 6.7; 15.5)
Este aqui citado nesta passagem veio com um laço de prova, e voltou amarrado pelos laços de amor de Cristo, pronto para uma futura conversão, porque nosso Senhor disse-lhe que não estava longe do reino de Deus, e que havia respondido sabiamente.
Nosso Senhor comprovou que não tinha qualquer preconceito, inclusive contra os Seus mais ferrenhos opositores, e se mostrou receptivo inclusive àqueles que vieram ter com Ele abrigando em princípio, não boas intenções em relação a Ele, mas que se mostraram abertos ao Seu ensino posteriormente, como parece ter sido o caso do escriba desta passagem.
Devemos seguir o Seu exemplo nisto, e nos mostrarmos receptivos aos nossos inimigos e perseguidores à vista de uma mudança sincera de atitude da parte deles, em relação ao nosso testemunho do evangelho.


Jesus Silencia os Fariseus – Mateus 22.41-46

“41 Ora, enquanto os fariseus estavam reunidos, interrogou-os Jesus, dizendo:
42 Que pensais vós do Cristo? De quem é filho? Responderam-lhe: De Davi.
43 Replicou-lhes ele: Como é então que Davi, no Espírito, lhe chama Senhor, dizendo:
44 Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos de baixo dos teus pés?
45 Se Davi, pois, lhe chama Senhor, como é ele seu filho?
46 E ninguém podia responder-lhe palavra; nem desde aquele dia jamais ousou alguém interrogá-lo.”

A resposta que nosso Senhor dera ao escriba, na passagem anterior, fez com que os fariseus não ousassem fazer-Lhe qualquer outra pergunta, porque viram que este não seria um caminho adequado para apanhá-lO em alguma falta, porque em vez de ser prejudicado, mais traziam honra a Jesus na presença dos judeus, porque ensejavam que lhes desse respostas sábias que mais O exaltavam, e que por outro lado rebaixava os fariseus e escribas no conceito que desfrutavam até então junto do povo.
Eles não queriam portanto se expor, então nós vemos agora, não eles, mas nosso Senhor lhes fazendo uma pergunta em relação a quem julgavam ser o Ungido, ou seja, o Cristo (no grego) ou Messias (no hebraico), e também quem eles pensavam ser o Seu pai.
Eles responderam que deveria ser filho de Davi, ou seja, da sua descendência.
 De fato, nosso Senhor, era de tal descendência, segundo a carne, mas não foi nenhum descendente de Davi quem lhe havia gerado, porque na verdade, Ele nunca foi gerado, pois é o sempiterno Deus, juntamente com o Pai e o Espírito Santo.
Ele não era um mero homem. Deus não poderia morrer por nossos pecados, porque não pode morrer. Então se fez homem para que pudesse morrer em nosso lugar. Para isto, teria que encarnar num corpo como o nosso, sendo este corpo gerado no ventre de uma virgem, pelo poder do Espírito Santo.
Todavia, sendo Deus espírito sem início ou fim de existência, tal era também a condição de nosso Senhor desde antes de ter encarnado neste mundo.
Simples homens passam a existir somente depois que são gerados nos ventres de suas mães, mas este, não era o caso de nosso Senhor, que já existia antes de receber um corpo humano no ventre de Maria.
Isto é testemunhado nas Escrituras, mas os fariseus não tinham a iluminação do Espírito para compreendê-lo.
Por isso nosso Senhor se valeu do testemunho das Escrituras, particularmente do Salmo 110.1, no qual é afirmado:
“Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés.” (Sl 110.1).
Este Salmo é de autoria de Davi, e ele está se referindo ao Senhor do seu Senhor, ou seja, Deus Pai. Aquele a quem o Pai diz que se assente em Seu trono em glória e exaltação à Sua direita, até que todos os Seus inimigos sejam sujeitados debaixo dos Seus pés, é Cristo, a quem Davi chama também de Seu Senhor.
Nosso Senhor está exaltado à direita do Pai nos céus, desde a Sua morte e ressurreição, e todos os Seus inimigos estão sendo sujeitados ao Seu domínio, e o último a ser sujeitado é a morte, quando então entregará o reino ao Pai, para que Deus seja tudo em todos.
“De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis.” (At 2.33)
“Se, pois, fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus.” (Col 3.1)
“que está à destra de Deus, tendo subido ao céu; havendo-se-lhe sujeitado os anjos, e as autoridades, e as potestades.” (I Pe 3.22)
“24 Então virá o fim quando ele entregar o reino a Deus o Pai, quando houver destruído todo domínio, e toda autoridade e todo poder.
25 Pois é necessário que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo de seus pés.
26 Ora, o último inimigo a ser destruído é a morte.
27 Pois se lê: Todas as coisas sujeitou debaixo de seus pés. Mas, quando diz: Todas as coisas lhe estão sujeitas, claro está que se excetua aquele que lhe sujeitou todas as coisas.


28 E, quando todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então também o próprio Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos.” (I Cor 15.24-28)






Mateus 23

Ai de Vós Hipócritas! – Mateus 23.1-36

“1 Então falou Jesus às multidões e aos seus discípulos, dizendo:
2 Na cadeira de Moisés se assentam os escribas e fariseus.
3 Portanto, tudo o que vos disserem, isso fazei e observai; mas não façais conforme as suas obras; porque dizem e não praticam.
4 Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; mas eles mesmos nem com o dedo querem movê-los.
5 Todas as suas obras eles fazem a fim de serem vistos pelos homens; pois alargam os seus filactérios, e aumentam as franjas dos seus mantos;
6 gostam do primeiro lugar nos banquetes, das primeiras cadeiras nas sinagogas,
7 das saudações nas praças, e de serem chamados pelos homens: Rabi.
8 Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi; porque um só é o vosso Mestre, e todos vós sois irmãos.
9 E a ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque um só é o vosso Pai, aquele que está nos céus.
10 Nem queirais ser chamados guias; porque um só é o vosso Guia, que é o Cristo.
11 Mas o maior dentre vós há de ser vosso servo.
12 Qualquer, pois, que a si mesmo se exaltar, será humilhado; e qualquer que a si mesmo se humilhar, será exaltado.
13 Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque fechais aos homens o reino dos céus; pois nem vós entrais, nem aos que entrariam permitis entrar.
14 (Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque devorais as casas das viúvas e sob pretexto fazeis longas orações; por isso recebereis maior condenação.)
15 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o tornais duas vezes mais filho do inferno do que vós.
16 Ai de vós, guias cegos! que dizeis: Quem jurar pelo ouro do santuário, esse fica obrigado ao que jurou.
17 Insensatos e cegos! Pois qual é o maior; o ouro, ou o santuário que santifica o ouro?
18 E: Quem jurar pelo altar, isso nada é; mas quem jurar pela oferta que está sobre o altar, esse fica obrigado ao que jurou.
19 Cegos! Pois qual é maior: a oferta, ou o altar que santifica a oferta?
20 Portanto, quem jurar pelo altar jura por ele e por tudo quanto sobre ele está;
21 e quem jurar pelo santuário jura por ele e por aquele que nele habita;
22 e quem jurar pelo céu jura pelo trono de Deus e por aquele que nele está assentado.
23 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes omitido o que há de mais importante na lei, a saber, a justiça, a misericórdia e a fé; estas coisas, porém, devíeis fazer, sem omitir aquelas.
24 Guias cegos! que coais um mosquito, e engulis um camelo.
25 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque limpais o exterior do copo e do prato, mas por dentro estão cheios de rapina e de intemperança.
26 Fariseu cego! limpa primeiro o interior do copo, para que também o exterior se torne limpo.
27 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos e de toda imundícia.
28 Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniquidade.
29 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque edificais os sepulcros dos profetas e adornais os monumentos dos justos,
30 e dizeis: Se tivéssemos vivido nos dias de nossos pais, não teríamos sido cúmplices no derramar o sangue dos profetas.
31 Assim, vós testemunhais contra vós mesmos que sois filhos daqueles que mataram os profetas.
32 Enchei vós, pois, a medida de vossos pais.
33 Serpentes, raça de víboras! como escapareis da condenação do inferno?
34 Portanto, eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas: e a uns deles matareis e crucificareis; e a outros os perseguireis de cidade em cidade;
35 para que sobre vós caia todo o sangue justo, que foi derramado sobre a terra, desde o sangue de Abel, o justo, até o sangue de Zacarias, filho de Baraquias, que mataste entre o santuário e o altar.
36 Em verdade vos digo que todas essas coisas hão de vir sobre esta geração.”

Os fariseus e escribas haviam sido silenciados por nosso Senhor porque não ousavam mais lhe fazer qualquer pergunta, e com isto o ódio deles pelo Senhor só fez aumentar ainda mais.
Eles estavam atacando a Jesus, mas agora, como nós O vimos na passagem anterior, é Ele quem parte para o ataque contra os escribas e fariseus com o intuito de desmascará-los definitivamente, diante dos discípulos e do povo de Israel, quanto à hipocrisia deles, e à sua falsa doutrina, para que se guardassem deles, porque não somente não entravam eles próprios no reino dos céus, como também impediam a qualquer que quisesse entrar, porque tinham a reputação de terem as chaves do reino dos céus, recebida por direito legal da parte de Deus, conforme prescrito na Lei de Moisés.
A Lei constituiu sacerdotes, mas não com este direito vitalício de promoverem a entrada de pessoas no reino dos céus. Este poder nunca lhes foi dado pelas Escrituras, até mesmo porque eram ministros de uma aliança passageira, da qual estava profetizado que deveria ser substituída por uma nova aliança eterna.
Nas Escrituras também está o registro de que haveria mudança de sacerdócio nesta nova aliança, da ordem levítica, para a de Melquisedeque, da qual nosso Senhor é o Sumo Sacerdote.
Ora, então nunca foi do propósito de Deus, colocar nas mãos dos sacerdotes da antiga aliança, que vigorou no período do Velho Testamento, as chaves do reino dos céus.
Desta forma, não se pode afirmar que eles se corromperam na função que lhes havia sido dada, porque nunca tiveram tal função, senão oficiar os serviços no tabernáculo, e depois no templo.
A entrada no céu nunca foi pela observância destes serviços, mas pela graça mediante a fé. O único meio usado por Deus para salvar, tanto no Antigo, quanto no Novo Testamento.
Enoque, Noé, Abraão, Moisés, Raabe, Rute, Josué, Calebe, Davi, e tantos outros no Velho Testamento foram justificados somente por causa da fé, conforme testemunho das Escrituras e especialmente de Hebreus 11.
Os sacerdotes e fariseus haviam se corrompido na função deles de ensinarem a genuína Lei da Palavra de Deus a Israel, e também eram um impedimento à salvação tanto deles quanto dos demais, enquanto mantinham a sua doutrina.
Então nosso Senhor se pôs a derrubar este muro de impedimento, para que tanto eles quanto os demais judeus, bem como os gentios, pudessem ser salvos, por não terem uma ideia errônea quanto à vontade de Deus, pelo ensino destes legalistas hipócritas.
Por exemplo, eles ensinavam que era necessário guardar toda a lei de Moisés, para que alguém pudesse ser salvo, inclusive a lei relativa à circuncisão do prepúcio. Se alguém cresse nisso, jamais poderia ser salvo, porque não somente é impossível guardar toda a Lei perfeitamente, como também muitos gentios não estariam dispostos a se deixarem circuncidar, para que fossem salvos, conforme exigido pelos fariseus (At 15.5).
Os fariseus e escribas erravam portanto, no que é essencial, que é aquilo que é relativo à nossa salvação, mas, como eram eles que eram os intérpretes da Lei de Moisés para o povo de Israel, e aqueles que estavam encarregados do seu ensino, então, nosso Senhor, Justo que é, não atacou aquilo que fosse reto no ensino deles, e que estivesse em plena conformidade com o espírito da Lei, que havia sido dada por Ele, pelo Pai e pelo Espírito a Israel, através da mediação de Moisés.
Por isso disse às multidões e aos Seus discípulos que os escribas e fariseus estavam assentados na cadeira de Moisés, e que portanto, tudo quanto dissessem segundo a Lei de Moisés, eles deveriam observar e cumprir. No entanto, não deveriam seguir o exemplo deles, porque não praticavam o que eles pregavam.        
Sendo legalistas, que não conheciam o espírito da Lei e a graça de Deus, amarravam fardos pesados e difíceis de suportar nos ombros dos seus ouvintes, como por exemplo a obrigação de jejuarem duas vezes por semana, e muitas outras tradições que eles haviam acrescentado à Lei, como a ordenança de se lavar cerimonialmente as mãos antes de qualquer refeição, e no entanto, eles próprios não cumpriam à risca tudo o que ordenavam.
Este é basicamente o espírito do farisaísmo: exigir dos outros aquilo que nós mesmos não fazemos.
Além disso, faz parte do mesmo espírito, a busca de aplauso, de aprovação dos homens. De se fazer a exibição de uma pretensa espiritualidade e santidade, baseada em ações externas para serem vistas pelas pessoas.
Isto pode ser visto na forma distinta de se trajar e de ocupar os lugares de honra nas reuniões públicas, quer civis ou religiosas.
Tudo isto culmina na cobiça de ser reconhecido como mestre e guia de outros, e de se receber tal reconhecimento publicamente para a satisfação do ego inchado de orgulho.
Todavia, diante de Deus todos os verdadeiros cristãos, aqueles que fazem parte do Seu reino, são irmãos, sejam líderes ou não, e ninguém deve ter a presunção na Igreja de ser conhecido como guia (guru) de outras vidas, valendo-se do sofisma de que sejam dependentes deles para poderem fazer a vontade de Deus.
Ninguém deve se colocar em tal posição porque somente Cristo é o Mestre por excelência que pode instruir verdadeiramente os nossos espíritos.
Somente Ele possui mérito e está habilitado a conduzir qualquer alma que seja pelo caminho da salvação, porque ninguém além dEle é o caminho, e a verdade e a vida.
Todos os mestres da Igreja são apenas meros instrumentos em Suas mãos.      
Os fariseus e escribas gostavam de serem reconhecidos como mestres e guias, e também como pais espirituais da nação de Israel, sob o falso argumento de que eram suficientes para garantir a entrada no reino dos céus, a todos que confiassem neles com a honra que é devida a um pai.
Contudo, esta honra é exclusiva de Deus, porque somente Ele é nosso Pai.
E não é um pai terreno como apenas podem ser os homens, mas é um Pai celestial, então somente Ele deve receber a honra devida de Pai eterno, da parte  de todos que habitarão o céu.
A cura do espírito farisaico ao qual todos estamos sujeitos, somente pode ser obtida pela atitude humilde de um servo, que em vez de buscar ser conhecido como grande pela superação e domínio de seus irmãos, busca servi-los a todos, de coração.
De maneira que se cumpre neles a lei do reino de que estes que assim se humilham serão achados em exaltação diante de Deus, porque Ele os exaltará, mas todo aquele que se exaltar a si mesmo, como faziam os escribas e fariseus, seriam humilhados por Deus, tal como estavam sendo aqueles dos dias de Jesus, com estas Suas palavras.
Nosso Senhor condena nesta passagem algumas das práticas pervertidas dos escribas e fariseus, que vimos comentando ao longo de todo o evangelho de Mateus, e Ele deu a sentença terrível contra eles de que não poderiam de modo algum, escapar da condenação no inferno de fogo, caso não se arrependessem daquilo que eram e faziam:
“Serpentes, raça de víboras! como escapareis da condenação do inferno?”
Esta não era uma sentença final pelo simples fato de serem escribas e fariseus, porque, como vimos antes, muitos deles viriam a abraçar a fé em nosso Senhor.
Então era uma sentença definitiva sim, para todos aqueles que dentre eles, não se arrependessem. Estes não poderiam de fato escapar do inferno, o que era algo muito diferente do que todos eles pensavam, a saber, que eram cidadãos do reino dos céus, porque conheciam a Lei, diferentemente do restante do povo de Israel a quem chamavam de plebe maldita que não conhecia a Lei.
Ninguém pode ser salvo da condenação eterna pelo simples conhecimento da Lei, antes pelo conhecimento da Lei, vem o conhecimento do pecado, por cuja causa somos condenados.
“porquanto pelas obras da lei nenhum homem será justificado diante dele; pois o que vem pela lei é o pleno conhecimento do pecado.” (Rom 3.20)
“sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, mas sim, pela fé em Cristo Jesus, temos também crido em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo, e não por obras da lei; pois por obras da lei nenhuma carne será justificada.” (Gál 2.16)
Como os fariseus poderiam topar com a justiça que é pela graça, e não pela Lei, enquanto se gloriassem na falsa santidade deles, baseada em aparência externa, e não em retidão de coração?
Somente em Cristo eles poderiam encontrar esta retidão de coração, que é a substância de uma verdadeira santidade, mas como poderiam ter esta justiça celestial e eterna, resistindo a Ele e ao Seu ensino?
Como poderiam topar com o reino de Deus que é invisível, tal como o próprio Deus, que é espírito, confiando apenas nos preceitos exteriores da Lei, como por exemplo o ato de dizimar, e omitindo no ensino deles e vida, o que há de mais importante na lei, que é a justiça de Deus, a misericórdia e a fé?
Sem fé ninguém pode agradar a Deus. Ninguém pode ser salvo, porque a salvação é somente por fé.
Sem misericórdia não se pode alcançar misericórdia e em consequência o reino dos céus. Porque é pela misericórdia que somos salvos, em razão de sermos pecadores.
E como poderiam os escribas e fariseus serem salvos, enquanto continuassem se achando justos a seus próprios olhos diante de Deus?
Eles pensavam que não necessitavam da misericórdia de Deus.
Eles consideravam que somente eles eram salvos por serem religiosos, e que todos os demais homens estavam perdidos, a menos que se tornassem um deles.
Nosso Senhor, demonstrou quão errados estavam em relação a isto.
Eles deveriam continuar dizimando conforme era determinado pela Lei de Moisés, mas não deveriam confiar que seria por meio disto que viriam a obter a salvação.
Eles estavam portanto engolindo um camelo, enquanto coavam um mosquito.
O que faziam era como coar um mosquito, ao que eles eram dados na prática, para evitar serem contaminados cerimonialmente, quando se embriagavam bebendo vinho, para não correrem o risco de sorverem um mosquito juntamente com a bebida. Contudo, a par da preocupação deles de cumprirem a Lei cerimonial, engoliam camelos nos grosseiros pecados que praticavam, especialmente o de rejeitarem a fé, a justiça e a misericórdia.
Eles eram na verdade como sepulcros: belos por fora mas cheios de podridão por dentro, porque se encontravam mortos em seus pecados, enquanto passavam uma falsa aparência de estarem vivos e limpos para o povo de Israel.
Nosso Senhor expôs abertamente que apesar de parecerem justos exteriormente aos homens, na verdade estavam cheios de hipocrisia e de iniquidade em seus corações (v. 28).
Este era o motivo de rejeitarem os profetas, porque eles protestavam contra o pecado. Eles não queriam que fosse manifestado publicamente aquilo que eles eram realmente. Então sempre procurariam matar aqueles que fossem enviados por nosso Senhor, depois da Sua morte e ressurreição, a pretexto de estarem guardando a Lei e a religião de Israel, a qual eles haviam deturpado grandemente.
O real motivo seria o de expulsarem a luz para longe, para que não fossem reveladas as suas más obras. Por isso os perseguiriam, e a alguns matariam, para com isso apagar a luz divina que revelaria a real condição deles. Nosso Senhor profetizou que tudo isto sucederia àquela geração, e de fato foi o que ocorreu, conforme vemos nas páginas do Novo Testamento, especialmente no livro de Atos, nas perseguições que os judeus, e especialmente os sacerdotes, escribas e fariseus empreenderam contra a Igreja de Cristo.  Esta foi a razão de terem martirizado Estevão logo no início da Igreja.
Cerca de 40 anos depois da morte de nosso Senhor, os judeus seriam expulsos de sua terra pelos romanos, e o templo seria destruído por eles, o que abrandaria em muito as perseguições que eram empreendidas pelos judeus, porque isto foi um duro golpe no orgulho nacional e religioso deles, que lhes viera na forma de um juízo de Deus, por causa da rejeição de Cristo e de todas as perseguições que estavam realizando contra a Sua Igreja.


O Lamento Sobre Jerusalém – Mateus 23.37-39

“37 Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, apedrejas os que a ti são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e não o quiseste!
38 Eis aí abandonada vos é a vossa casa.
39 Pois eu vos declaro que desde agora de modo nenhum me vereis, até que digais: Bendito aquele que vem em nome do Senhor.”

Esta condição do endurecimento de Israel, citada na passagem anterior, especialmente pelos juízos do Senhor contra os escribas e fariseus, não era algo que Lhe dava prazer senão ocasião para lamentar.
Israel se tornara um filho rebelde e degenerado, e esta não é nenhuma condição para que um pai possa se alegrar e exultar.
No texto de Lucas 19.41-44, nos vemos qual foi o  sentimento de nosso Senhor à vista da cidade de Jerusalém, quando se aproximou dela na ocasião que montava um jumentinho.
Ele chorou sobre a cidade, pelas coisas que lhe sucederiam por não terem reconhecido os seus habitantes o tempo da sua visitação.
Ele estaria sendo levantado na cruz dentro de poucos dias, mas não chorou por si mesmo, senão pelos filhos de Israel, pelo endurecimento em que eles se encontravam.
 “41 E quando chegou perto e viu a cidade, chorou sobre ela,
42 dizendo: Ah! se tu conhecesses, ao menos neste dia, o que te poderia trazer a paz! mas agora isso está encoberto aos teus olhos.
43 Porque dias virão sobre ti em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, e te sitiarão, e te apertarão de todos os lados,
44 e te derribarão, a ti e aos teus filhos que dentro de ti estiverem; e não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não conheceste o tempo da tua visitação.” (Lc 19.41-44)
Eles estavam rejeitando a Cristo e a graça do evangelho através da qual achariam um abrigo seguro para a salvação eterna de suas almas.
Jesus veio salvar e não condenar.
Então seria com muito pesar que eles veriam estes que Lhe estavam rejeitando irem ao encontro dos juízos de destruição, que estavam determinados pelo Pai, contra aqueles que não ouvissem o Seu Filho, conforme havia advertido Israel desde os dias de Moisés (Dt 18.15-18).
O amor do Senhor é de proteção, assim como uma galinha protege os seus pintinhos debaixo de suas asas, expondo-se à morte para protegê-los. Mas Israel recusou tal amor, e por conseguinte, tal proteção.
Nosso Senhor não lamenta o fato de ter sido rejeitado pelos judeus, mas as consequências terríveis desta rejeição para eles próprios.
Este sentimento de Cristo não é exclusivo para Israel, mas para todos os que se perdem em todas as partes deste mundo, e em todas as épocas da história da humanidade.
Deus amou de tal maneira o mundo que deu o Seu Filho para morrer por nós na cruz, para que não perecêssemos e não viéssemos a sofrer os juízos que estão determinados pela justiça divina, sobre todos aqueles que não forem justificados dos seus pecados. Justificação esta que pode ser obtida somente pela fé em Cristo, porque nenhum outro carregou sobre Si os nossos pecados, destruindo-os na Sua morte na cruz.





Mateus 24

Sermão Profético de Jesus Sobre o Fim - Mateus 24.1-31

“1 Ora, Jesus, tendo saído do templo, ia-se retirando, quando se aproximaram dele os seus discípulos, para lhe mostrarem os edifícios do templo.
2 Mas ele lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não se deixará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada.
3 E estando ele sentado no Monte das Oliveiras, chegaram-se a ele os seus discípulos em particular, dizendo: Declara-nos quando serão essas coisas, e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo.”
4 Respondeu-lhes Jesus: Acautelai-vos, que ninguém vos engane.
5 Porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; a muitos enganarão.
6 E ouvireis falar de guerras e rumores de guerras; olhai não vos perturbeis; porque forçoso é que assim aconteça; mas ainda não é o fim.
7 Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino; e haverá fomes e terremotos em vários lugares.
8 Mas todas essas coisas são o princípio das dores.
9 Então sereis entregues à tortura, e vos matarão; e sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome.
10 Nesse tempo muitos hão de se escandalizar, e trair-se uns aos outros, e mutuamente se odiarão.
11 Igualmente hão de surgir muitos falsos profetas, e enganarão a muitos;
12 e, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará.
13 Mas quem perseverar até o fim, esse será salvo.
14 E este evangelho do reino será pregado no mundo inteiro, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim.
15 Quando, pois, virdes estar no lugar santo a abominação de desolação, predita pelo profeta Daniel (quem lê, entenda),
16 então os que estiverem na Judeia fujam para os montes;
17 quem estiver no eirado não desça para tirar as coisas de sua casa,
18 e quem estiver no campo não volte atrás para apanhar a sua capa.
19 Mas ai das que estiverem grávidas, e das que amamentarem naqueles dias!
20 Orai para que a vossa fuga não suceda no inverno nem no sábado;
21 porque haverá então uma tribulação tão grande, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem jamais haverá.
22 E se aqueles dias não fossem abreviados, ninguém se salvaria; mas por causa dos escolhidos serão abreviados aqueles dias.
23 Se, pois, alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! ou: Ei-lo aí! não acrediteis;
24 porque hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e prodígios; de modo que, se possível fora, enganariam até os escolhidos.
25 Eis que de antemão vo-lo tenho dito.
26 Portanto, se vos disserem: Eis que ele está no deserto; não saiais; ou: Eis que ele está no interior da casa; não acrediteis.
27 Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até o ocidente, assim será também a vinda do filho do homem.
28 Pois onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão os abutres.
29 Logo depois da tribulação daqueles dias, escurecerá o sol, e a lua não dará a sua luz; as estrelas cairão do céu e os poderes dos céus serão abalados.
30 Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão vir o Filho do homem sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória.
31 E ele enviará os seus anjos com grande clangor de trombeta, os quais lhe ajuntarão os escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus.”

Jesus chamou de princípio das dores ao conjunto de sinais que antecederiam a sua segunda vinda, e que se estenderiam até ao tempo determinado para a consumação do século, que será marcado pela pregação do evangelho em todo o mundo, para testemunho a todas as nações (Mt 24.14), e à manifestação do abominável da desolação do qual falou o profeta Daniel, no lugar santo (Mt 24.15).
Quando os discípulos perguntaram a Jesus quais seriam os sinais da Sua vinda e da consumação do século (Mt 24.2), o Senhor começou a lhes responder a partir do verso 4 de Mt 24.
E introduziu sua explicação com uma palavra de advertência para que eles não permitissem que ninguém lhes enganasse quanto a isto, porque muitos se levantariam com este propósito afirmando serem o Cristo (verso 5) e enganariam a muitos.
E além disto haveria guerras e rumores de guerras, mas nenhuma destas coisas seriam sinais do tempo do fim (Mt 24.6), e nação se levantaria contra nação, reino contra reino, e haveria fomes e terremotos em vários lugares, mas tudo isto seria também o princípio das dores que antecederiam a consumação do século e não sinais que marcariam a proximidade da sua segunda vinda (24.7,8).
E no trabalho da igreja no mundo os cristãos seriam atribulados e mortos. Odiados de todas as nações por causa do nome de Jesus, e muitos se escandalizariam, trairiam e se odiariam uns aos outros, e dentre os próprios cristãos se levantariam muitos falsos profetas que enganariam a muitos.
A iniquidade se multiplicaria e o amor de quase todos se esfriaria.
Mas em meio a tudo isto o evangelho será pregado em todo o mundo, e quando isto acontecer, quando a última nação for evangelizada, será determinado por Deus a marcha de todos os eventos previstos para a consumação do século (Mt 24.9-14).
Todos estes sinais correspondentes ao princípio das dores são comparados por Jesus como as primeiras contrações de um parto. E elas vão se intensificando cada vez mais à medida que se aproxima a hora do nascimento. E tudo isto terá o seu clímax no chamado período da Grande Tribulação, que precipitará todas as ocorrências, que culminarão com o retorno do Senhor (Mt 24.15-31).
É digno de nota que o Senhor nos alertou que sempre haveria falsos cristos e falsos profetas operando no mundo. Isto nos chama a sermos criteriosos e vigilantes, não dando crédito a qualquer um que alegue estar falando a nós da parte de Deus.
Falsos mestres e falsas doutrinas têm sido espalhados pelo mundo, e isto podemos aprender na história da Igreja, inclusive em nossos próprios dias. E assim, o  Senhor nos alerta para que não deixemos ninguém nos desviar da verdade.
À medida que o tempo do fim se aproxima se multiplicarão os falsos cristos e profetas no mundo, semeando mais e mais a mentira e multiplicando com isto a iniquidade.
Note que o Senhor disse que eles farão sinais e maravilhas. Sinais e maravilhas não são portanto um meio seguro para sabermos se alguém está vivendo e pregando a verdade, porque os falsos cristos e profetas os realizarão em abundância.
Mateus 24.6, fala de guerras e rumores de guerras. E que é necessário que isto ocorra, e por isso não devemos ficar alarmados. Mas nada disto é ainda um indicativo seguro do tempo do fim.
No verso 7, Jesus fala de terremotos e fomes em vários lugares. O texto paralelo de Lucas inclui também pestilências.
Isso tudo está em andamento para marcar aquele tempo do fim.
As perseguições e ódio sofridos pelos cristãos durante toda a história da Igreja, se intensificarão próximo e antes do tempo do fim. E isso é mundial e precipitará o que está em Mt 24.10.
A pressão é tão grande da parte do mundo que começa a massacrar os cristãos que algumas pessoas que se identificaram superficialmente com Jesus Cristo, e como a semente ficou sufocada pelos espinhos, quando eles virem o preço a ser pago, eles se escandalizarão e não estarão dispostos a pagar aquele preço.
Assim eles odiarão os verdadeiros cristãos, e os trairão  entregando-os aos seus perseguidores.
Eles os delatarão para serem mortos.
Isto ocorre frequentemente hoje em dia, em países muçulmanos, especialmente nos da chamada janela 10/40, mas se espalhará pelo mundo conforme predito na Palavra.
Mas os verdadeiros cristãos perseverarão até o fim, eles não negarão o seu Senhor, como estes cristãos nominais que trairão a muitos dos cristãos autênticos, especialmente no período da Grande Tribulação (os cristãos que estiverem na terra e que não foram arrebatados antes da Grande Tribulação).
E em Mt 24.11 lemos que muitos falsos profetas surgirão e enganarão a muitos. Não falsos cristos agora, mas falsos mestres. E estes falsos profetas vão ensinar um erro infernal diabólico, satânico.
Agora olhe o verso 12 que diz que por se multiplicar a iniquidade o amor de quase todos esfriará. Alguns fogem porque eles não pagarão o preço exigido pela fidelidade a Cristo. Alguns fogem porque eles são enganadores. E alguns retrocedem porque eles optaram pela iniquidade, que significa que eles violam a lei de Deus. E nós vemos isto começando a se multiplicar em nossos dias.
Em II Timóteo 3, Paulo descreve as características das pessoas dos últimos dias. Mas os cristãos que permanecerem fiéis em meio a tudo isto, ganharão as suas almas pela sua perseverança, como está afirmado em Lc 21.19.
Estes reinarão com Cristo eternamente.
 E a última característica destas dores de parto que indicam o retorno do Senhor, é a pregação do evangelho em todo o mundo em testemunho a todas as nações. Antes que o fim venha, importa que o evangelho seja pregado em todo o mundo, a toda criatura.
Apesar da perseguição, apesar das traições, apesar dos falsos cristos e profetas, apesar do inferno que lança os seus demônios por toda a terra, apesar do esfriamento do amor de muitos, apesar de guerras, fomes, terremotos, pestilências, o evangelho do Reino será pregado em todo o mundo. E então o Reino virá.
O engano citado em Mt 24.4,5, culminará com o maior engano de todos na pessoa do Anticristo que agirá pela eficácia de Satanás, enganando a muitos, que depositarão nele inteira confiança para a resolução dos problemas mundiais.
Ele será o último falso salvador que o mundo verá. O último falso messias. Por isso é chamado de Anticristo, porque é um cristo falso.
O abominável da desolação citado em Mt 24.15 é uma referência à profanação, pelo Anticristo, do templo que ainda será reconstruído em Jerusalém. Esta  é citada em Daniel 9.27.
A exaltação do Anticristo se dará por conta do fato de ter vencido as nações e exercido domínio sobre elas, e de ao subjugar o povo de Israel matando milhares deles, ter se considerado superior ao Deus de Israel, a ponto de se assentar no templo, proferindo palavras contra o Altíssimo.
Em Mt 24.29 o Senhor disse que “logo em seguida à tribulação daqueles dias”, isto é, imediatamente após o período da Grande Tribulação, ocorrerá a sua segunda vinda, e quando isto se der o sol escurecerá e a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento e os poderes do céu serão abalados. Isto indica que eventos cataclísmicos antecederão a Sua manifestação vindo sobre as nuvens do céu com poder e muita glória.” (verso 30).
 Assim, o Senhor virá imediatamente após a Grande Tribulação.
E como mais um sinal da sua vinda, o Senhor disse na parábola da figueira que deveríamos aprender da lição que ela nos dá, porque quando os seus ramos se renovam, e as folhas brotam, é um sinal de que o verão está próximo. E assim a geração que testemunhasse estas coisas não passaria sem que tudo aconteça, pois ao virem todas estas coisas, saberão que Ele está próximo às portas (Mt 24.32-34). A figueira dá frutos no verão, e antes que isto ocorra ela renova a suas folhas. Assim, quando a geração que presenciar a Grande Tribulação referida pelo Senhor, precipitada pela profanação pelo Anticristo, do templo que será reconstruído em Jerusalém, ela pode estar certa de que presenciará a volta do Senhor, assim como sabemos que o verão se aproxima quando a figueira renova os seus ramos e as folhas brotam. Assim os sinais estão  reservados para as pessoas que estiverem vivendo no tempo do fim.
Muitos eventos cataclísmicos já acontecem desde há muito sobre a face da terra, mas em nada poderão ser comparados com as coisas que acontecerão próximo da vinda de Jesus, depois que o Anticristo tiver se manifestado.
Os que creem em Cristo têm sido perseguidos e odiados pelo mundo ao longo da história da igreja. Muitos, em várias épocas e locais específicos foram vítimas de perseguições terríveis. Mas nada se comparará à que será empreendida contra os que confessarem a Cristo no período da Grande Tribulação, depois do arrebatamento da igreja.
Os que se converterem depois do arrebatamento haverão de sofrer as angústias terríveis relatadas em Mt 24.9,10. Isso excederá todas as outras perseguições. O mundo todo odiará por inspiração do Anticristo tanto os judeus quantos os cristãos.
Em Lucas 21 temos o paralelo ao ensino de Mateus 24. E no verso 20 de Lucas, temos o paralelo à abominação desoladora citada em Mateus 24.15. Lucas diz: “Quando, porém, virdes Jerusalém sitiada de exércitos, sabei que está próxima a sua devastação.”. E então complementa com as mesmas instruções que se seguem a Mateus 24.15: “Então os que estiverem na Judeia fujam para os montes...” e assim sucessivamente.
O que significa isto? Em Zacarias 14.1-3 lemos: “Eis que vem o dia do Senhor, em que os teus despojos se repartirão no meio de ti. Porque eu ajuntarei todas as nações para a peleja contra Jerusalém; e a cidade será tomada, e as casas serão saqueadas, e as mulheres forçadas; metade da cidade sairá para o cativeiro, mas o restante do povo não será expulso da cidade. Então sairá o Senhor e pelejará contra essas nações, como pelejou no dia da batalha.”. E isto não é uma referência ao cativeiro babilônico porque já havia acontecido. E nem é uma referência à destruição pelos romanos, porque a profecia diz que as nações seriam juntadas contra Jerusalém.
Isto se dará no tempo do fim como está registrado em Lucas: “quando virdes Jerusalém rodeada de exércitos”.


A Parábola da Figueira e Exortação à Vigilância – Mateus 24.32-51

“32 Aprendei, pois, da figueira a sua parábola: Quando já o seu ramo se torna tenro e brota folhas, sabeis que está próximo o verão.
33 Igualmente, quando virdes todas essas coisas, sabei que ele está próximo, mesmo às portas.
34 Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas essas coisas se cumpram.
35 Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras jamais passarão.
36 Daquele dia e hora, porém, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, senão só o Pai.
37 Pois como foi dito nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem.
38 Porquanto, assim como nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca,
39 e não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos; assim será também a vinda do Filho do homem.
40 Então, estando dois homens no campo, será levado um e deixado outro;
41 estando duas mulheres a trabalhar no moinho, será levada uma e deixada a outra.
42 Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor;
43 sabei, porém, isto: se o dono da casa soubesse a que vigília da noite havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria minar a sua casa.
44 Por isso ficai também vós apercebidos; porque numa hora em que não penseis, virá o Filho do homem.
45 Quem é, pois, o servo fiel e prudente, que o senhor pôs sobre os seus serviçais, para a tempo dar-lhes o sustento?
46 Bem-aventurado aquele servo a quem o seu senhor, quando vier, achar assim fazendo.
47 Em verdade vos digo que o porá sobre todos os seus bens.
48 Mas se aquele outro, o mau servo, disser no seu coração: Meu senhor tarda em vir,
49 e começar a espancar os seus conservos, e a comer e beber com os ébrios,
50 virá o senhor daquele servo, num dia em que não o espera, e numa hora de que não sabe,
51 e corta-lo-á pelo meio, e lhe dará a sua parte com os hipócritas; ali haverá choro e ranger de dentes.”

Nosso Senhor nos advertiu a observar as evidências que ocorrerão na dispensação da graça, pelas ocorrências que sobrevirão ao mundo, para nos alertar da proximidade da Sua segunda vinda, especialmente para arrebatar a Sua Igreja e para posteriormente estabelecer o julgamento sobre todos os homens.
Por isso citou nesta passagem a Parábola da Figueira, porque pelo seu florescimento e frutificação é possível identificar qual é a nova estação do ano que está chegando; e de igual forma, o florescimento e frutificação das condições do mundo, nas coisas por Ele referidas, serão um sinal do começo de uma nova dispensação, pela precipitação da Sua segunda vinda.
Quando Deus destruiu as cidades de Sodoma e Gomorra com fogo e enxofre, do mesmo modo que  trará juízos sobre o mundo quando da segunda vinda de Cristo, Ele livrou antes o justo Ló, fazendo com que ele fosse arrebatado pelas mãos de anjos do meio daqueles ímpios, mesmo diante de certa relutância de Ló, colocando-o fora da cidade ordenando-lhe que fugisse para o monte (Gên 19.15-17). E Pedro, sobre tal livramento da parte de Deus assim se expressa em II Pe 2.9 quanto ao resgate de Ló: “é porque o Senhor sabe livrar da provação os piedosos, e reservar, sob castigo, os injustos para o dia de juízo,”.
E a igreja será arrebatada, não pelas mãos de anjos, mas pela poderosa mão de Deus para o encontro com Jesus nos ares (I Tes 4.16,17).
Paulo diz que isto se dará quando for dada a palavra de ordem do Senhor, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus.
Em I Cor 15.52 Paulo diz que este arrebatamento ocorrerá ao ressoar a última trombeta.
Se há uma última trombeta, é porque houve várias trombetas soadas antes do arrebatamento. O toque de trombeta significa o alerta de Deus contra o pecado, e a chamada dos pecadores ao arrependimento, para que se convertam e vivam (Is 58.1; Jer 6.17; Ez 33.3-11).
A última trombeta está associada ao arrebatamento porque todos os cristãos atenderão a esta convocação e se reunirão ao Senhor.
Há uma chamada de Deus na dispensação da graça para que os homens creiam em Cristo e sejam livrados da ira vindoura.
Todo aquele que atender ao chamado será livrado da grande tribulação que virá sobre a terra, conforme promessa do Senhor em Apo 3.10: “Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra.”.
Observe que o Senhor está falando de uma hora de provação que virá sobre o mundo inteiro para experimentar os habitantes da terra.
É provavelmente uma referência à Grande Tribulação da qual os verdadeiros cristãos serão livrados segundo a sua promessa, por arrebatá-los antes que tais coisas sucedam.
Mas como se diz em Apo 3.10, a provação referida terá o propósito de experimentar os que habitam sobre a terra, isto é, por ela, se conhecerá os que se voltarão para Deus, e os que permanecerão endurecidos pelo pecado, chegando mesmo a blasfemar o nome de Deus, conforme já vimos antes.
Muitos crerão pela dor, pela intensidade das perseguições e juízos do período da Grande Tribulação, mas aqueles que receberam a Cristo voluntariamente em seus corações, tendo crido nEle antes do período da tribulação, terão a distinção e honra de serem arrebatados, para serem livrados das coisas que sucederão ao mundo a partir do momento que a abominação desoladora for colocada no lugar santo.
A igreja estará com o seu Senhor nas Bodas do Cordeiro referida em Apo 19.7-9. E o anjo disse a João que escrevesse que “Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro.”. E cremos que um dos motivos além do principal da comunhão plena e perfeita com Cristo, a citação à bem-aventurança diz respeito ao livramento dos juízos que serão despejados sobre a terra e das perseguições do Anticristo no período da Grande Tribulação.
I Tes 1.10 diz que Jesus nos livra da ira vindoura, e nesta mesma epístola, ele afirma que o dia do Senhor vem como ladrão de noite, mas os cristãos não estão em trevas para que esse dia os apanhe de surpresa, porquanto são filhos do dia, e que Deus não destinou a igreja para a ira, mas para alcançar a salvação mediante Jesus Cristo (I Tes 5.1-11).
Somos livrados não somente da condenação futura do grande juízo de Deus, como também dos juízos que serão manifestados em razão da ira de Deus contra o pecado por ocasião da segunda vinda de Cristo.
Um preço terrível terá que ser pago pela maioria dos que se converterem nos dias do Anticristo, para não negarem a fé, mas o livro de Apocalipse revela que valerá a pena pagar qualquer preço em face do gozo eterno que está prometido ao que vencer e perseverar até o fim, e do livramento dos horrores eternos no lago de fogo e enxofre para aqueles que negarem o nome de Cristo.
Uma das verdades mais amedrontadoras de toda a Bíblia se refere ao evento que é identificado em I Tes 5.2 como o dia do Senhor. Aquele termo é um termo técnico da Bíblia para descrever o dia quando Jesus voltará trazendo a cólera flamejante e a ira de Deus sobre todos os pecadores do mundo. É um dia de devastação. É um dia de destruição.
Em várias outras passagens da Bíblia é usada a expressão o "dia do Senhor" para revelar que é um dia de angústia, de sofrimento, de juízo: Atos 2:20, 2 Tes 2:2;  2 Pe 3:10; Is 2:12, 13:6, 9; Jer 46:10;  Joel 1:15; 2:11, 31; Amós 5:18,:20; Mal 4:5; Sof 1:14, 15.
Toda palavra profética relativa ao dia do Senhor é sobre julgamento, é sobre ira, desolação, vingança e destruição terríveis. É dito que é um tempo de melancolia e escuridão e angústia. Seis vezes é chamado de um dia de destruição. Quatro vezes é chamado de um dia de vingança.
Agora sempre o dia do Senhor se refere ao julgamento final mais cataclísmico de Deus sobre a terra, para visitar o pecado dos homens ímpios.
É a culminação da cólera de Deus numa explosão final que consome o ímpio. Agora é verdade que especialmente no Velho Testamento houve épocas em que Deus manifestou a sua ira sobre os homens, e usou meios providenciais humanos, como uma nação  destruindo outra nação, ou usando fomes, terremotos ou pestes e doenças, como forma de juízo, mas nada disso se compara ao grande e final julgamento que ele despejará sobre a terra sob a forma de situações angustiantes.
O dia do Senhor deve ser visto então exclusivamente como um período de julgamento, julgamento dos ímpios. E assim, todas as manifestações de juízos que encontramos desde Apo 6 até 19 estão associadas ao dia do Senhor, isto é, à segunda vinda de Cristo, que como já vimos, ocorrerá no final do período de três anos e meio da Grande Tribulação.
São várias as passagens das Escrituras que afirmam que o dia do Senhor está próximo: Ez 30.3; Joel 2.1; 3.14; Ob 15; Sof 1.7; Zac 14.1. Sempre houve assim, a ideia de que ele pudesse vir a qualquer momento.
Quanto à porção desta passagem do evangelho de Mateus, que estamos comentando, relativa aos versos 42 a 51, podemos afirmar o seguinte:
A vigilância é um dever imposto a todos os cristãos (v. 43), mas a partir do verso 43 até o 51 a advertência de Cristo é dirigida especialmente aos ministros que são os mordomos ou donos da casa do Senhor, que são colocados sobre os demais cristãos (serviçais).
O mau servo aqui descrito, é o ministro hipócrita, não convertido, que o demonstra pela sua falta de perseverança em vigilância e em piedade, comprovada pelo fato de se embriagar e maltratar os cristãos,  coisas que caracterizam o comportamento daqueles que não conhecem a Cristo.
No texto paralelo de Lucas 12, Pedro perguntou a Jesus se estas palavras se aplicavam a eles apóstolos, a quem estava ministrando, ou a todos, e o Senhor restringiu as  ameaças de Seu discurso aos líderes, a quem designou como aqueles a quem muito havia sido dado, e de quem mais seria requerido.
Se um destino horrendo aguarda por todos aqueles que forem mestres da religião cristã, e que não são de Cristo, de quanta vigilância e cuidado não devem então ter aqueles que são os Seus verdadeiros ministros.
Eles não podem transferir a outros a responsabilidade de mordomos que lhes foi dada por Deus para cuidarem do Seu rebanho.
Cabe a eles administrarem a casa do Senhor repartindo as graças espirituais àqueles que se encontram debaixo do seu cuidado.
Os sacerdotes, fariseus e escribas dos dias de Jesus, que eram considerados como a liderança do povo de Israel se enquadravam perfeitamente no perfil daqueles líderes sobre os quais o Senhor falou aos apóstolos que lhes aguardava um horrível juízo no inferno de fogo.
Então os ministros do Senhor não devem seguir o mesmo exemplo deles, servindo-Lhe por interesse, como dominadores e exploradores do Seu rebanho, porque terão que prestar contas da Sua mordomia, porque são eles os mordomos, os administradores da Sua casa, que é a Igreja.
Por isso Jesus alertou os apóstolos sobre a necessidade de uma permanente vigilância, para o cumprimento fiel dos seus ministérios.
E isto se aplica a todos os Seus pastores, que são encarregados por Ele para cuidarem do Seu rebanho.
Aos pastores fiéis é prometida a bem-aventurança de serem honrados e serem colocados sobre o governo dos bens de Cristo, depois da Sua segunda, porque foram fiéis no Seu dever de vigilância e cuidado do rebanho (v. 45 a 47 – vide Lc 12.42-44, que contém a mesma promessa).
O texto paralelo a Mateus 24.41-51 se encontra em Lucas 12.39-59, que transcrevemos a seguir:

“39 Sabei, porém, isto: se o dono da casa soubesse a que hora havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria minar a sua casa.
40 Estai vós também apercebidos; porque, numa hora em que não penseis, virá o Filho do homem.
41 Então Pedro perguntou: Senhor, dizes essa parábola a nós, ou também a todos?
42 Respondeu o Senhor: Qual é, pois, o mordomo fiel e prudente, que o Senhor porá sobre os seus servos, para lhes dar a tempo a ração?
43 Bem-aventurado aquele servo a quem o seu senhor, quando vier, achar fazendo assim.
44 Em verdade vos digo que o porá sobre todos os seus bens.
45 Mas, se aquele servo disser em teu coração: O meu senhor tarda em vir; e começar a espancar os criados e as criadas, e a comer, a beber e a embriagar-se,
46 virá o senhor desse servo num dia em que não o espera, e numa hora de que não sabe, e corta-lo-á pelo meio, e lhe dará a sua parte com os infiéis.
47 O servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites;
48 mas o que não a soube, e fez coisas que mereciam castigo, com poucos açoites será castigado. Daquele a quem muito é dado, muito se lhe requererá; e a quem muito é confiado, mais ainda se lhe pedirá.”
O texto de Lucas acrescenta ao de Mateus, os graus de castigo que serão impostos aos mordomos infiéis descrentes. Porque é dito que aqueles que agirem mau por ignorância, sofrerão menos açoites, porque não estavam conscientes e informados acerca da vontade do Senhor.


Mas estes falsos ministros que apesar de conhecerem a Palavra revelada, mesmo assim agem com falsidade, sofrerão portanto, um maior castigo.






Mateus 25

A Parábola das Dez Virgens – Mateus 25.1-13

” 1 Então o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do noivo.
2 Cinco delas eram insensatas, e cinco prudentes.
3 Ora, as insensatas, tomando as lâmpadas, não levaram azeite consigo.
4 As prudentes, porém, levaram azeite em suas vasilhas, juntamente com as lâmpadas.
5 E tardando o noivo, cochilaram todas, e dormiram.
6 Mas à meia-noite ouviu-se um grito: Eis o noivo! saí-lhe ao encontro!
7 Então todas aquelas virgens se levantaram, e prepararam as suas lâmpadas.
8 E as insensatas disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas estão se apagando.
9 Mas as prudentes responderam: não; pois de certo não chegaria para nós e para vós; ide antes aos que o vendem, e comprai-o para vós.
10 E, tendo elas ido comprá-lo, chegou o noivo; e as que estavam preparadas entraram com ele para as bodas, e fechou-se a porta.
11 Depois vieram também as outras virgens, e disseram: Senhor, Senhor, abre-nos a porta.
12 Ele, porém, respondeu: Em verdade vos digo, não vos conheço.
13 Vigiai pois, porque não sabeis nem o dia nem a hora.”

O que é ilustrado neste vigésimo quinto capítulo de Mateus é o reino dos céus e o estado das coisas debaixo do evangelho, o  reino externo de Cristo e a sua administração e sucesso.
É particularmente ilustrado o modo como o reino será consumado por ocasião da volta do Senhor Jesus.
E nesta parábola é ilustrada uma solenidade de matrimônio entre os judeus, na qual era costume o noivo ser conduzido pelos seus amigos, tarde da noite, à casa da sua noiva, onde esta o esperava com as suas damas de companhia que tinham por principal função notificar-lhe da aproximação do noivo, o qual elas conduziam pelo interior da casa com suas lâmpadas através da escuridão, até o aposento em que a noiva se encontrava.
O noivo da parábola é nosso Senhor Jesus Cristo, e a noiva, a Igreja, quando esta for entregue a ele, sem mácula, ruga ou qualquer outro defeito.
Estas virgens são especialmente os mestres do evangelho, membros da Igreja, que têm a seu encargo preparar a noiva para apresentá-la a Cristo, tal como as damas de companhia da parábola tinham tal encargo em relação à noiva, nos costumes antigos de Israel.
O dever destas virgens citadas na parábola era o de conhecer o noivo para poderem realizar o dever delas. Elas deveriam esperar o noivo até que Ele aparecesse. E aqui está resumida a natureza do cristianismo, e especialmente o dever dos líderes da Igreja. Como cristãos, somos servos de Cristo e devemos honrá-lo como o Noivo glorioso, especialmente quando Ele vier para ser glorificado nos Seus santos.
É comum se pensar no evangelho como apenas a realização de milagres, curas e expulsões de demônios por Jesus Cristo, mas na verdade, o relato do evangelho se ocupa muito mais em descrever as características essenciais do Reino dos céus e dos seus cidadãos, conforme temos visto ao longo do nosso estudo de Mateus, e daí, a expectativa do Senhor de que se empenhem na sua salvação e santificação, todos os que leem ou ouvem o evangelho.
Assim, como a preocupação principal das virgens deveria ser a de terem lâmpadas acesas em suas mãos para recepcionarem o noivo, para honrá-lo e servi-lo, de igual modo devem os cristãos, que são filhos da luz, terem a luz do evangelho não apenas em si mesmos, mas tê-la brilhando para iluminarem a outros, e é desta forma que eles devem ser achados por ocasião da volta do Senhor.
Quanto ao caráter daquelas virgens se evidencia que cinco eram sábias e cinco eram tolas.
E isto indica que apesar de existirem pessoas da mesma profissão e denominação quanto ao evangelho, entretanto existe uma imensa diferença de caráter à vista de Deus. Cristãos sinceros são as virgens sábias, e os hipócritas, as tolas.
Estas parábolas citadas no vigésimo quinto capítulo de Mateus foram proferidas no contexto de tudo o que se relata nos capítulos 23 e 24. No vigésimo terceiro nós vemos Jesus repreendendo severamente os escribas e os fariseus por causa da hipocrisia deles, e por serem mestres desviados da verdade que não se conduziam segundo a Palavra de Deus, e assim não podiam dar boa direção aos que estavam debaixo da liderança deles.
E estas coisas haviam ocorrido no interior do templo de Jerusalém.
E no momento que Jesus estava saindo do templo (24.1) os discípulos vieram até Ele para lhe mostrar as construções do templo, orgulhosos que deviam estar delas, por serem um símbolo nacional da religiosidade de Israel.
Mas foram surpreendidos com as palavras de Jesus que dele não ficaria pedra sobre pedra (24.2).
E foi quando Ele chegou ao Monte das Oliveiras que os discípulos se sentiram movidos a perguntar-lhe sobre o que havia dito sobre a destruição do templo e quais coisas sucederiam por ocasião da Sua vinda na consumação do século (24.3).
E foi isto que deu ocasião para que Ele abrisse o sermão profético de todo o capítulo vigésimo quarto.
E as duas parábolas deste vigésimo quinto capítulo (das dez virgens e dos talentos) foram proferidas por Jesus então com o propósito de ser ilustrado o que ocorreria com aqueles que professavam conhecer a Deus, por ocasião da inauguração do reino dos céus na Sua vinda, especialmente com aqueles líderes religiosos de Israel, que não se aplicavam de modo devido às exigências e deveres do reino relativos à própria vida, e não somente eles, como todos os líderes que não servem ao Senhor do modo devido, e que estão em trevas eles próprios, e aqueles que eles mantêm debaixo da sua liderança que não é segundo Deus e a Sua Palavra.
Um terrível banimento da presença do Senhor para todo o sempre será o quinhão da desobediência deles à verdade.
O Senhor dirá que não os conhece e que o destino eterno deles e dos seus seguidores são as trevas exteriores, que é o lugar de todos aqueles que viveram nas trevas, e não vieram para a luz para andarem na luz.
Aqueles que são realmente sábios, ou tolos, sempre o serão em relação aos assuntos que dizem respeito à condição das suas almas.
A santificação é verdadeira sabedoria, e o pecado é tolice e loucura, especialmente o pecado da hipocrisia, porque estes são os maiores tolos, porque são sábios aos seus próprios olhos, na própria vaidade deles, e para Deus estes são os piores  pecadores, a saber, aqueles que fingem santidade e justiça diante dos homens e que na verdade não têm luz em si mesmos, e não estão se aplicando efetivamente às coisas relativas ao reino de Deus, conforme reveladas na Palavra, e segundo um viver sob a direção e instrução do Espírito Santo.        
 Os cristãos sábios são aqueles que fazem provisões para sua vida espiritual (azeite, que representa o Espírito Santo) de modo a poderem atender às exigências do reino de Deus, até a volta do Noivo.
Eles estão sempre em condições de atender à Sua recepção, mesmo se estiverem dormindo quando Ele voltar.
O sono aqui referido na parábola não é o espiritual, por uma indolência e falta de diligência quanto à santificação de suas vidas, mas o sono físico.
Estes que estão preparados logo se levantarão ao serem despertados pelo toque da trombeta de Deus para o arrebatamento, e irão ao encontro do Noivo entre nuvens, porque eles têm a provisão necessária em suas vidas santificadas para estarem na presença dAquele cuja vinda eles tanto esperaram e ansiaram por ela, demonstrando-o não pela simples manifestação de um desejo, mas pelo empenho em estrita obediência à Sua vontade.
Quanto aos tolos, aos hipócritas, eles chegam até mesmo a fazer alguma provisão para o reino de Deus, chegando a acender as suas lâmpadas com uma profissão religiosa externa.
Mas isto não afeta o caráter e o coração deles. Eles não estão efetivamente envolvidos com os assuntos do reino de Deus e com os Seus santos interesses.
Eles não são meros cristãos descuidados, mas cristãos nominais que não conhecem efetivamente ao Senhor, e que pouco estão interessados com a Sua volta, o que se comprova pelo fato de não fazerem nenhuma provisão do azeite requerido, que significa a comunhão com Deus mediante a Sua Palavra e Espírito, que são o combustível, que faz queimar a verdadeira santificação, que faz as nossas vidas brilharem com a luz do Evangelho.
 E se a verdade do reino de Deus está de tal forma disposta por Ele subentende-se que aqueles que são verdadeiramente Seus filhos têm o dever de estarem sempre prontos em santificação de suas vidas, porque estas parábolas mostram claramente qual será o final dos hipócritas que se ocuparam com a demonstração de uma santidade superficial, externa, e que não procedia de fato dos seus corações.
O coração é o depósito, o tesouro onde podem ser guardadas as coisas boas do reino, ou as más do pecado. Então é no coração em que se deve fazer provisão da Palavra de Deus e da presença do Espírito Santo, e é do coração que deve proceder toda a nossa santificação.
O coração é o recipiente que deve ser abastecido com o azeite espiritual da Palavra e do Espírito Santo que nos fazem arder em santificação. De modo que os próprios cristãos devem ser estas lâmpadas que iluminam o mundo com a verdade do evangelho.
Assim, as virgens sábias poderiam tirar cousas boas do bom tesouro dos seus corações.
A luz dos cristãos são as boas obras que eles devem fazer diante dos homens, para que o nome de Deus seja glorificado. E sem o azeite espiritual da diligência, da perseverança, da santificação, da oração, da prática da Palavra, da obediência ao Espírito Santo, não é possível manter a chama acesa. Devemos lembrar que o azeite era o combustível do passado, que era usado para queimar como uma lâmpada, e assim emitir luz e calor, e assim o azeite espiritual dos cristãos deve trazer as pessoas das trevas para a luz.
Jesus ensinou claramente o dever de os cristãos perseverarem na verdade até a Sua vinda. Mas esta perseverança que é assim ordenada pelo Senhor não tem o mero propósito de nos deixar preparados para uma possível volta dEle inesperada, porque ela é a condição mesma em que devem viver os verdadeiros filhos de Deus.
Desde a morte e ressurreição de Jesus o Espírito Santo tem sido derramado em todas as nações, e assim, Deus tem disponibilizado a graça da salvação a todo aquele que a desejar e crer na Sua Palavra quanto ao modo de adquiri-la, que é pela graça, mas segundo o arrependimento e fé em Jesus Cristo.
Como podem os homens, em sua tolice, se queixarem então que não havia azeite suficiente e disponível para que eles enchessem as suas lâmpadas, de modo que nunca lhes faltasse a luz da verdade em suas vidas?
E o Noivo tem retardado o mais possível a Sua volta de maneira que muitos possam ter a oportunidade de adquirir o azeite precioso, neste longo tempo que lhes tem sido dado pela Sua completa longanimidade.
E como eles poderão então ser desculpados se forem achados sem o azeite que deveriam adquirir para terem luz em si mesmos, e assim honrá-lo em Sua Majestade Divina?
O fato de que cada um deve ter o seu próprio azeite indica que cada cristão, individualmente, deve ter a sua própria santificação porque ela é indispensável para a sua própria salvação.
Esta santificação não pode ser transferida a outros, como pensavam as virgens tolas ao pedirem às sábias que lhes dessem do seu azeite para poderem acender as suas lâmpadas.
Não podemos transferir nossa santificação a outros de modo a santificá-los, porque este é um trabalho exclusivo e progressivo do Espírito Santo e da Palavra de Deus, em cada cristão, individualmente..
Os que são salvos têm que ter a sua própria graça. Embora nós tenhamos benefício na comunhão dos santos, e a fé a oração de outros podem redundar em bênçãos para nós, contudo é indispensável a nossa própria santificação para a nossa própria salvação. O justo viverá pela fé dele, e não pela de outros (Hc 2.4).
Todos darão contas de si mesmos no juízo, e serão julgados pelas suas próprias obras, e de nenhum modo serão levadas em conta as obras de outros em seu beneficio ou mesmo prejuízo.
E a graça que nós temos é suficiente apenas para nós mesmos quanto ao que é necessário para comparecermos diante de Deus.
O melhor dos cristãos tem necessidade de pedir graça a Cristo, mas não tem nenhuma excedente para poder emprestar e transferir ao seu próximo.
A chegada inesperada do noivo e a pressa com que as cinco virgens tolas saíram para comprar azeite (graça) para suas lâmpadas traz para nós o grande ensino de que adquirir graça é um trabalho que exige tempo, e não pode ser feito às pressas.
O trabalho de santificação é progressivo porque é gradual.
O próprio trabalho de Deus na alma para conduzi-la ao arrependimento que lhe trará a justificação e a regeneração, é no caso de muitas pessoas, uma transação longa de convencimentos contínuos do Espírito Santo quanto ao pecado, à justiça e ao juízo, e estas pessoas são trabalhadas pacientemente por Deus nas circunstâncias reais da vida até atraí-las para a salvação em Cristo Jesus.
E isto permanece debaixo da Soberania de Deus, operando naqueles que hão de alcançar a salvação de suas almas.
Vemos assim que isto não poderá ser feito às pressas, pela própria pessoa, no momento em que ela decidir fazê-lo isoladamente, sem contar com todo este trabalho de Deus ao qual nos referimos.
Se a conversão é instantânea, no entanto o prazer de estar na presença de Deus cresce com o tempo de experiência com Ele.
E é o próprio Espírito que confere isto ao espírito dos santos.
Eles terão maior prazer de estarem na presença do Senhor à medida que o tempo passa.
E o azeite deles não se gasta com o tempo, ao contrário aumenta, porque a graça aumenta naqueles que se aproximam desta forma de Deus.
Quando o salmista diz: “Provai, e vede que o Senhor é bom; bem-aventurado o homem que nele se refugia.” (Sl 34.8), ele não está se referindo a uma experiência fugaz e rápida com Deus, mas este crescer contínuo de se experimentar a bondade de Deus na própria vida com o passar do tempo.
Isto aumenta mais e mais e traz este estado de bem-aventurança de se refugiar continuamente nos braços poderosos do Senhor, não apenas para ser salvo da condenação futura, mas para achar ali descanso e paz contínuos para a alma.
Quão grandioso é isto para ser conhecido pelos que são como as virgens tolas, que não dão o devido valor à graça de Jesus, que é o que possibilita tal aproximação de Deus e gozo contínuo na alma.                .
Por isso estes receberão a declaração dos lábios do Senhor, naquele dia, que Ele não os conhece, e acrescentará a isto o Seu “amém”, como está no original grego, e que traduzimos por “em verdade” (v. 12).
E como Esaú serão rejeitados para sempre porque não amaram a santidade de Deus e não desejam ser santificados por Ele.
Não conheceram o prazer que é servir o Senhor e estar na Sua presença, e efetivamente nunca o desejaram de fato no íntimo de seus corações.
Então a condenação deles será perfeitamente justa, conforme não poderia deixar de ser, porque o nosso Deus é digno de ser honrado e amado.
Se aqueles que desprezam a Deus serão rejeitados de uma forma definitiva como a que é declarada na parábola, de que cuidado não devemos ter então em vigiar em todo o tempo, aperfeiçoando a nossa santificação no temor de Deus?
Porque não sabemos o dia e a hora em que Ele voltará, e devemos ser achados por Ele de modo digno, conforme nos alerta na Sua Palavra.
Assim, diariamente, e em todas as horas de nossas vidas, devemos estar prontos.
Não devemos fixar um tempo para nos devotarmos a Deus, senão devemos Lhe devotar todo o nosso coração durante todos os dias e horas de nossas vidas, e devemos nos esforçar para não permitirmos estarmos fora da Sua presença.
É desse modo que mantemos as nossas lâmpadas continuamente acesas, porque Deus concede graça aos que O servem deste modo.



A Parábola dos Talentos – Mateus 25.14-30

“14 Porque é assim como um homem que, ausentando-se do país, chamou os seus servos e lhes entregou os seus bens:
15 a um deu cinco talentos, a outro dois, e a outro um, a cada um segundo a sua capacidade; e seguiu viagem.
16 O que recebera cinco talentos foi imediatamente negociar com eles, e ganhou outros cinco;
17 da mesma sorte, o que recebera dois ganhou outros dois;
18 mas o que recebera um foi e cavou na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor.
19 Ora, depois de muito tempo veio o senhor daqueles servos, e fez contas com eles.
20 Então chegando o que recebera cinco talentos, apresentou-lhe outros cinco talentos, dizendo: Senhor, entregaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco que ganhei.
21 Disse-lhe o seu senhor: Muito bem, servo bom e fiel; sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.
22 Chegando também o que recebera dois talentos, disse: Senhor, entregaste-me dois talentos; eis aqui outros dois que ganhei.
23 Disse-lhe o seu senhor: Muito bem, servo bom e fiel; sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.
24 Chegando por fim o que recebera um talento, disse: Senhor, eu te conhecia, que és um homem duro, que ceifas onde não semeaste, e recolhes onde não joeiraste;
25 e, atemorizado, fui esconder na terra o teu talento; eis aqui tens o que é teu.
26 Ao que lhe respondeu o seu senhor: Servo mau e preguiçoso, sabias que ceifo onde não semeei, e recolho onde não joeirei?
27 Devias então entregar o meu dinheiro aos banqueiros e, vindo eu, tê-lo-ia recebido com juros.
28 Tirai-lhe, pois, o talento e dai ao que tem os dez talentos.
29 Porque a todo o que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não tem, até aquilo que tem ser-lhe-á tirado.
30 E lançai o servo inútil nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.”

Analisaremos agora a segunda parábola proferida por Jesus aos seus discípulos quanto aos sinais da Sua vinda e da consumação do século.
A primeira (das dez virgens) enfatiza a graça de Deus necessária à salvação e a santificação e perseverança como evidência de se estar na posse desta graça verdadeira que salva, e esta segunda parábola enfatiza a evidência da salvação, pelo serviço que prestamos a Deus pelo uso dos dons que temos recebido dEle.
Se o argumento na primeira tem em vista incitar os perdidos à salvação e exortar os que foram salvos a permanecerem em total vigilância e perseverança quanto à santificação de suas vidas, contínua e diariamente, nesta segunda parábola o argumento gira em torno da necessidade de se demonstrar esta santificação em investimentos no reino de Deus, que produzam os efeitos e frutos por Ele esperados de nós, pelo uso dos dons e graça que Ele nos concedeu para tal propósito.
Se a parábola anterior insinua que nós estamos num estado de expectativa, esta mostra que nós estamos num estado de serviço e trabalho.
A das dez virgens mostra a necessidade de preparação contínua, e a dos talentos a necessidade de diligência no serviço que se deve prestar a Deus e ao próximo.
E o final deste vigésimo quinto capítulo de Mateus mostra a forma como será recompensada esta vigilância, perseverança e diligência, em servir a Deus e ao próximo estando em santificação, e o modo como serão arruinados para sempre aqueles que não vigiaram, não perseveraram e que não foram diligentes, e que não serviram a Deus e ao próximo debaixo do governo, direção e instrução do Espírito Santo.
Na Parábola dos talentos o mestre e senhor é Cristo que é o Senhor absoluto e Proprietário de todas as pessoas e coisas que há no mundo.
Será Ele que reservará a cada um no final dos tempos qual será a sua parte em relação ao que devem herdar, quer seja no céu, quer seja no inferno, porque é o Senhor absoluto que tem recebido do Pai toda autoridade tanto no céu quanto na terra.
E os servos são todos aqueles que se denominam servos de Deus, especialmente cristãos, porque não estão excluídos do domínio da parábola os líderes de Israel e até mesmo todo o povo de Israel, que viveram debaixo do Antigo Pacto, porque quando a parábola foi pronunciada, ainda vigorava a Antiga Aliança e certamente Jesus tinha por alvo também esclarecer os discípulos quanto à real condição dos sacerdotes, dos escribas, dos fariseus, dos saduceus e de todos os religiosos de Israel que julgavam estarem investindo no reino de Deus da maneira devida.
Contudo, o trabalho deles não produziu o fruto esperado pelo Senhor.
De igual modo, os cristãos nominais que estão ligados à igreja de Cristo, e que aumentarão muito em número no tempo do fim, estarão preocupados apenas com os seus próprios interesses e negócios, porque não conhecem de fato e não amam ao Senhor.
Eles não investirão no reino de Deus com os dons de Deus, porque eles desprezam as coisas e assuntos do reino e o interesse deles diz respeito apenas aos seus próprios negócios.
E eles buscam a Deus para ampliarem os seus próprios negócios e serem prósperos segundo o mundo, mas não para serem instrumentos a Seu serviço, para fazerem a Sua exclusiva vontade.
E isto está particularmente ilustrado de modo muito claro na parábola na atitude daquele servo inútil (que não fez nada efetivamente para Deus) e que foi lançado nas trevas exteriores.  
A parábola insinua que Deus nos confia os Seus bens na expectativa de que os utilizemos para a Sua glória fazendo com que estas graças aumentem auferindo lucros para Ele e não propriamente para nós mesmos.
E para tanto, nenhum dos servos de Deus poderá ser inativo, e deverão remir o tempo para não desperdiçar nenhuma oportunidade para fazer com que aumente aquilo que dEle têm recebido por graça.
Na medida em que têm recebido por graça também deverão dar por graça, porque em vez de serem esgotados, estes dons serão aumentados sobrenaturalmente por Deus, porque este é o Seu método, a saber, fazer aumentar aquilo que damos segundo a Sua vontade.
E isto que damos é todo o nosso ser e trabalho para o Seu inteiro dispor.
Sem este desejo sincero e contínuo de permanecermos em extrema diligência em todas as coisas relativas ao reino de Deus, não poderemos fazer com que o nosso trabalho produza os frutos esperados pelo Senhor, porque Ele somente faz a Sua graça se multiplicar onde encontra tal disposição de coração e espírito.
Um coração dividido entre o amor a Deus e ao mundo jamais poderá experimentar estas coisas às quais estamos nos referindo, porque elas só podem ser experimentadas quando se tem um coração inteiramente devotado ao Senhor e ao Seu serviço.
A parábola se aplica, como dissemos antes, especialmente à dispensação da graça, porque é dito que estes talentos foram dados aos servos quando o senhor deles se ausentou do país e seguiu em viagem. Certamente isto é uma referência à ascensão de Jesus ao céu, quando ele distribuiu dons aos homens.
“7 Mas a cada um de nós foi dada a graça conforme a medida do dom de Cristo.
8 Por isso foi dito: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens.” (Ef 4.7,8).
Quando Jesus subiu ao céu Ele providenciou para que a Igreja fosse provida de todas as graças necessárias para a realização do Seu serviço.
Na parábola dos talentos dois dos três servos nela citados foram diligentes e fiéis, porque fizeram um uso adequado do dinheiro recebido conforme o que havia sido planejado pelo senhor deles.
Eles almejaram aumentar a renda do senhor, ainda que não soubessem quando seria que ele voltaria da viagem que havia feito, e que certamente demoraria, porque como diz o apóstolo Paulo o Senhor não virá até que tenha ocorrido a apostasia e a manifestação do Anticristo (II Tes 2.2-4).
O Senhor Jesus escolheu a comercialização financeira para ilustrar o tipo de serviço que deve ser prestado a Ele, porque todos os que estão empenhados em aumentar a sua renda com aplicações financeiras, se empenham inteiramente nisto, e não são poucos os que chegam até mesmo a perder o sono para saberem a melhor maneira de investirem o seu dinheiro.
E é este mesmo tipo de determinação que se encontra aqui, que o Senhor espera daqueles que investem suas vidas e tempo nos negócios relativos ao reino de Deus.
Agentes financeiros jamais tiram férias. Eles nunca se afastam do seu negócio. E é exatamente isto que Deus espera da parte dos Seus servos.
Ele deseja que eles estejam continuamente empenhados nos assuntos e interesses relativos ao Seu reino.
Há muito o que fazer e negociar em relação à conversão e edificação de almas na verdade, e muitos obstáculos e dificuldades a serem vencidos neste trabalho, especialmente nos ataques desferidos pelo Inimigo, pela carne e pelo mundo, contra os quais os que se empenham em servir a Deus, devem estar vigiando continuamente para não serem prejudicados no sucesso dos seus empreendimentos.
Os dons e graças que recebemos do Senhor devem ser aplicados continuamente em santo exercício.
E isto deve ser feito com vistas não a mantê-los no ponto em que o recebemos, tal como fizera o homem que enterrou o talento que recebeu, senão devemos melhorá-los pelo seu aumento progressivo.
É vivendo deste modo que se agrada a Deus.
Cristãos estagnados em seu crescimento espiritual não podem de modo nenhum agradá-lo, quando esta paralisação procede da própria iniciativa deles, e não de Deus, que por vezes nos põe de lado por algum tempo para aprendermos o quanto dependemos dEle, e que de fato procede dEle tudo quanto temos recebido para a realização do Seu serviço.
Os dois servos fiéis da parábola fizeram com que houvesse um aumento de cem por cento dos talentos que haviam recebido, pois o que recebeu cinco talentos ganhou outros cinco com aqueles que havia recebido, e o que recebeu dois ganhou outros dois.
Eles agradaram inteiramente ao Senhor ganhando somente na mesma proporção que haviam recebido, e isto indica que Ele não é um Senhor cruel que exige dos Seus servos mais do que lhes tenha dado.
E também não exige deles mais do que possam efetivamente produzir para Ele.
Note que um recebeu cinco e outro dois talentos. Ele ajusta o trabalho à nossa capacidade. Não exigirá de nós o que não possamos efetivamente produzir.
A parábola mostra que a infidelidade não será achada em razão das grandes responsabilidades que possam ser confiadas a nós pelo Senhor, porque aquele que recebeu um maior peso destas responsabilidades foi inteiramente fiel, a saber, o que havia recebido cinco talentos para investir.
Mas, esta foi achada exatamente no que recebeu menos.
Pessoas que têm recebido menos talentos de Deus para investir são justamente aquelas que devem vigiar mais para permanecerem fiéis, dado a grande tentação a uma indolência total.
Ainda que um eleito salvo não venha jamais a ser lançado no inferno, a parábola ensina de modo muito claro sobre a necessidade de empenho e completa diligência por parte de todos os servos de Deus, inclusive daqueles que não têm sido contemplados por Ele com muitos dons para o exercício dos seus ministérios, em razão da própria capacidade deles.
Deus fez o grande e também o pequeno, mas exige o mesmo tipo de fidelidade de ambos, porque cada um deve servi-lo conforme a medida do dom de Cristo que receberam (Ef 4.7).
E a recompensa final da fidelidade demonstrada será concedida na volta do Senhor, quando não somente elogiará os que foram fiéis como lhes fará entrar no Seu gozo eterno e na posse das muitas coisas que herdaram por conta da fidelidade deles, e isto certamente é uma referência aos galardões que serão distribuídos àqueles que foram fiéis.
Entretanto, a parábola não tem em vista ensinar que todos os que recebem muitos talentos são fiéis, e que os que recebem poucos são infiéis. Ao contrário, como vimos, ela quer enfatizar que a fidelidade não está relacionada à quantidade que se tem recebido, pois é possível que muitos que têm recebido cinco talentos os enterrem a todos eles, não fazendo o uso que foi destinado a eles pelo Senhor.
A parábola ensina também que não é somente o desperdício dos dons que desagrada a Deus, pois o fato de o servo mau ter enterrado o talento para devolvê-lo ao Senhor do modo que o havia recebido, desagradou-Lhe da mesma forma.
Isto insinua que o modo de se agradar a Deus é fazendo com que haja frutos no nosso trabalho.
A inércia espiritual nunca Lhe agradará.
Os cristãos verdadeiros devem aprender deste exemplo porque se diz na parábola que aqueles que irão para o inferno são aqueles que não se ocupam diligentemente com a obra de Deus.
Que são inteiramente indolentes quanto ao que deveriam fazer para Ele.
Que não têm nenhum interesse nos negócios relativos ao reino dos céus.
Então qual deve ser o tipo de diligência que deve ser encontrada permanentemente nos cristãos, não apenas no querer, como também no realizar, naquilo que se refere em trabalharem para Deus?  
É isto que a parábola quer ensinar e de modo nenhum que entremos em cogitações se o servo infiel era um verdadeiro cristão ou não.
Porque certamente não era esta a intenção de Jesus quando proferiu a parábola.
Ele queria destacar qual era a característica daqueles que estão verdadeiramente servindo a Deus. E alertar quanto ao grande desagrado de Deus quanto aos seus servos que são negligentes quanto aos talentos que têm dEle recebido.
Certamente o servo infiel da parábola não era um cristão verdadeiro, porque estes jamais diriam o que aquele homem falou ao Senhor, chamando-o de homem duro e que ceifa onde não semeou, e que recolhe onde não joeirou, e tentou justificar o que fez enterrando o talento dizendo que o fizera porque tinha medo dele.
Ora, estes não são de fato sentimentos de verdadeiros cristãos que conhecem a bondade e amor do Senhor.
Que grande infâmia fez aquele homem da parábola. Quanta desonra ao Seu santo nome!
E a parábola destaca também que todos os cristãos terão que prestar contas da sua mordomia ao Senhor por ocasião do Tribunal de Cristo, que será  levantado por ocasião da Sua volta.
E os mordomos fiéis de Cristo provarão a sua fidelidade a Ele naquele dia pela evidência das suas obras. Dos frutos que produziram para Ele.
Daí a necessidade de diligência, porque sem isto não haverá frutos espirituais sendo produzidos para Deus.
 “Então ouvi uma voz do céu, que dizia: Escreve: Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, pois as suas obras os acompanham.” (Apo 14.13).
 E a fidelidade dos cristãos no pouco lhes promoverá a posições mais elevadas quando o Senhor lhes recompensar no porvir.
E haverá uma grande desproporção entre o trabalho e a recompensa, porque estes cristãos fiéis serão príncipes com tronos e coroas no céu, e haverá muitas coisas em que eles serão glorificados por Deus.
A medida da recompensa será sacudida e recalcada, e não tem sido revelada a medida desta recompensa para que não sejamos fiéis pela mera cobiça do prêmio, senão pelo desejo de servir e amar desinteressadamente ao Senhor.
Serão exatamente aqueles que mais fizeram e mais foram fiéis sem nada esperarem de volta, que mais receberão da Sua parte efetivamente.
Muitos dos que têm cobiçado tão somente o prêmio a ser recebido poderão ficar decepcionados, porque não será pelo critério do interesse próprio que a medida da recompensa será concedida.
Aqueles que temem servir a Deus, pensando que Ele exigirá deles mais do que possam dar, e que pensam da santificação como um fardo árduo para ser carregado, tentarão ainda se desculpar quando o Senhor voltar para entrar em juízos com toda a carne, pensando que poderão ser justificados com o uso dos seus argumentos injustos.
Os ímpios odeiam a santidade de Deus sem conhecê-la.
A própria ideia de verem a simples palavra “santo” aplicada a eles, soa-lhes como uma ofensa.
Mas, ainda que dentre estes se achem os hipócritas bem representados nos dias de Jesus pelos escribas e fariseus, que amavam serem considerados como santos de Deus, o juízo do Senhor sobre eles será de igual modo inapelável, porque nunca foram de fato justificados dos seus pecados, e portanto não foram também regenerados pelo Espírito Santo sendo transformados em novas criaturas, que é o modo de ser tornado verdadeiramente em alguém santo para Deus.
O senhor da parábola, sendo acusado injustamente pelo servo que havia enterrado o talento, não se deixou intimidar pelas falsas desculpas que ele havia apresentado e o chamou de servo mau e preguiçoso (v.26).
A indolência em relação às coisas de Deus é portanto uma das características principais daqueles que serão condenados eternamente.
O servo mau da parábola havia deixado a sua casa ficar vazia e o espírito imundo tomou posse dela.
A indolência é um convite para a ação de demônios sobre as nossas vidas.
E eles nos intimidarão e nos enfraquecerão quanto ao exercício do ministério que devemos realizar para Deus.
A diligência os afastará porque é por meio desta que nos mantemos continuamente ocupados com nossas mentes e espíritos nos assuntos relativos ao reino dos céus.
Há aqui uma séria advertência para os cristãos, quanto à necessidade de manterem suas mentes e espíritos sempre ocupados com a própria pessoa do Senhor Jesus, permanecendo nEle, em espírito, para que Ele possa permanecer neles.
É quando o homem dorme que o diabo semeia o joio no seu campo.
É preciso pois manter uma firme e constante atitude de vigilância e diligência espirituais.
Um cristão nunca deve procurar se poupar quando está empenhado no serviço de Deus.
Jesus ordena que não tentemos poupar a própria vida para não perdê-la. Porque é se gastando para Deus que se acha o verdadeiro sentido e utilidade da vida.
O maior e melhor talento que o Senhor tem dado aos homens, que é o talento da vida, será tirado daqueles que não a investirem no reino, porque eles a perderão numa condenação eterna..
A alma deles ficará perdida para sempre no inferno, privada de qualquer possibilidade de poder se unir a Deus.
Enquanto estão neste mundo eles têm a oportunidade de produzirem frutos dignos de arrependimento para Deus, mas jamais poderão fazê-lo abrigando em seus corações pensamentos tão baixos em relação a Cristo, considerando-O um Senhor duro e um juiz inflexível.
E a graça do Senhor que eles haviam desprezado e rejeitado será concedida em maior medida àqueles que têm sido fiéis em maior proporção a esta graça.
Aqueles que muito têm honrado e usado a graça de Deus receberão ainda mais.
De modo nenhum a graça do Senhor será desperdiçada.
O talento que foi enterrado terá um bom uso pelo Senhor, porque a Sua graça é preciosa e será dada a quem possa apreciar o seu justo valor.
A salvação que os escribas e fariseus haviam rejeitado nos dias de Jesus foi estendida a outros.
E especialmente os gentios se beneficiaram dela.
A graça abundante não ficará sem ser investida e produzir o trabalho para o qual ela foi designada por Deus.
As bênçãos que foram destinadas por Deus a todos os homens serão devidamente dadas a todos aqueles que as apreciarem.
As rejeitadas não serão lançadas fora, mas serão usadas para enriquecerem ainda mais aqueles que têm sido fiéis ao Senhor.


O Grande Julgamento – Mateus 25.31-46

“31 Quando, pois vier o Filho do homem na sua glória, e todos os anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória;
32 e diante dele serão reunidas todas as nações; e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos;
33 e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos à esquerda.
34 Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai. Possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;
35 porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me acolhestes;
36 estava nu, e me vestistes; adoeci, e me visitastes; estava na prisão e fostes ver-me.
37 Então os justos lhe perguntarão: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber?
38 Quando te vimos forasteiro, e te acolhemos? ou nu, e te vestimos?
39 Quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos visitar-te?
40 E responder-lhes-á o Rei: Em verdade vos digo que, sempre que o fizestes a um destes meus irmãos, mesmo dos mais pequeninos, a mim o fizestes.
41 Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos;
42 porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber;
43 era forasteiro, e não me acolhestes; estava nu, e não me vestistes; enfermo, e na prisão, e não me visitastes.
44 Então também estes perguntarão: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou forasteiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos?
45 Ao que lhes responderá: Em verdade vos digo que, sempre que o deixaste de fazer a um destes mais pequeninos, deixastes de o fazer a mim.
46 E irão eles para o castigo eterno, mas os justos para a vida eterna.”

Esta passagem não é alusiva ao Grande Juízo Final do Grande Trono Branco, citado no final do livro de Apocalipse, mas ao que ocorrerá logo depois da segunda vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, aqui na terra.
Os eventos e parábolas narrados por nosso Senhor desde o vigésimo quarto capitulo do evangelho de Mateus têm por grande alvo o que é narrado nesta passagem, a saber: o estabelecimento do Seu reino milenal na terra, que será precedido pelo julgamento prévio que Ele estabelecerá sobre os ímpios que aqui permanecerem, depois da batalha do Armagedom, em Sua segunda vinda, sendo que haverá uma distinção, porque os justos serão colocados à Sua direita para serem preservados da sentença de condenação que Ele dará aos injustos, que estarão à Sua esquerda.
Nosso Senhor se assentará em Seu trono de glória, em Jerusalém, de onde governará todas as nações da terra, e será a partir dele, que realizará tal julgamento.
Como dissemos, não se trata ainda do Grande Juízo final, que é citado no livro de Apocalipse, a partir do trono branco do céu, porque até este momento os ímpios não terão seus corpos ressuscitados, o que ocorrerá somente por ocasião deste grande e último julgamento final, que lhes sentenciará a uma condenação eterna no lago de fogo e enxofre.
Aqui, neste passagem de Mateus, os justos são chamados de benditos de meu Pai. E são convocados a possuir por herança o reino que lhes está preparado desde a fundação do mundo.  
E nosso Senhor passou a descrever os motivos da entrada deles no reino: pelas boas obras que haviam feito a Ele e por amor a Ele, no bem que fizeram a outras pessoas.
Sabemos que somente cristãos autênticos são irmãos de Jesus, porque são estes que são os verdadeiros filhos de Deus, tal como Ele, na condição de irmão primogênito.
Ficam portanto excluídos, pelo menos nesta aplicação que Ele fizera, os cabritos que estarão à sua esquerda, e para os quais Ele dirá as seguintes palavras no juízo:
“Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos;”  (v. 41).
Há nesta passagem do evangelho, uma clara distinção entre as ovelhas e os cabritos.
Por isso o Senhor disse que o bem que fazia jus ao Seu reconhecimento foi aquele que foi destinado às ovelhas e não necessariamente o que foi feito aos cabritos.
Não era Jesus que estava com fome na pessoa de um cabrito rebelde.
Não era Jesus também que estava com sede, nu, enfermo e na prisão na pessoa de cabritos, transgressores voluntários da lei de Deus e dos homens.
Ele estava nesta condição, evidentemente, na pessoa daqueles que foram justificadas de seus pecados, e que foram feitas filhas de Deus, pela fé em Jesus, cristãos autênticos, e que estavam sem morada, com fome, sede, nus, enfermos e presos por causa do amor deles à obra do evangelho, tal como os apóstolos que passaram por grandes privações de toda sorte, e que sofreram prisões, fome, sede e nudez por causa da Palavra que eles pregaram.
A ajuda mútua na obra do evangelho terá este grande reconhecimento do Senhor não apenas no dia do juízo, como também trará grandes bênçãos para aqueles que estiverem empenhados em se auxiliarem mutuamente enquanto fazem a obra de Deus no poder do Espírito, porque estão fazendo isto para o próprio Senhor, de maneira que o Seu reino possa avançar pela cooperação mútua deles com a obra de Deus.              






Mateus 26

O Plano para Tirar a Vida de Jesus – Mateus 26.1-5

“1 E havendo Jesus concluído todas estas palavras, disse aos seus discípulos:
2 Sabeis que daqui a dois dias é a páscoa; e o Filho do homem será entregue para ser crucificado.
3 Então os principais sacerdotes e os anciãos do povo se reuniram no pátio da casa do sumo sacerdote, o qual se chamava Caifás;
4 e deliberaram como prender Jesus a traição, e o matar.
5 Mas diziam: Não durante a festa, para que não haja tumulto entre o povo.”

Nosso Senhor estava apenas a dois dias de ser crucificado, e não havia ainda sido preso pelos principais sacerdotes de Israel.
Ele se entregaria voluntariamente a eles, porque importava segundo o conselho determinado de Deus que fosse crucificado no dia daquela Páscoa, correspondente ao terceiro ano do Seu ministério terreno.
 Enquanto Jesus dizia a Seus discípulos que seria crucificado dentro de dois dias, os principais sacerdotes e anciãos de Israel estavam se reunindo na casa de Caifás, o sumo sacerdote, para deliberarem como prender Jesus à traição para o matarem.
E sem que o soubessem, eles estavam dando cumprimento ao plano de Deus, porque decidiram fazê-lo antes da festa da Páscoa, para que não houvesse tumulto entre o povo.
Veja o caráter destes religiosos que afirmavam estarem somente eles no reino de Deus, e os demais do lado de fora: eles estavam planejando a morte de um Justo, do próprio Filho de Deus, que não tinha qualquer pecado, por motivo de inveja, e por lhes ter dito a verdade para o próprio bem deles, para que pudessem sair das trevas em que se encontravam, e virem para a Sua maravilhosa luz.
No entanto, a malicia deles não lhes permitiria uma tal coisa.


Jesus Ungido em Betânia – Mateus 26.6-13

“6 Estando Jesus em Betânia, em casa de Simão, o leproso,
7 aproximou-se dele uma mulher que trazia um vaso de alabastro cheio de bálsamo precioso, e lho derramou sobre a cabeça, estando ele reclinado à mesa.
8 Quando os discípulos viram isso, indignaram-se, e disseram: Para que este desperdício?
9 Pois este bálsamo podia ser vendido por muito dinheiro, que se daria aos pobres.
10 Jesus, porém, percebendo isso, disse-lhes: Por que molestais esta mulher? pois praticou uma boa ação para comigo.
11 Porquanto os pobres sempre os tendes convosco; a mim, porém, nem sempre me tendes.
12 Ora, derramando ela este bálsamo sobre o meu corpo, fê-lo a fim de preparar-me para a minha sepultura.
13 Em verdade vos digo que onde quer que for pregado em todo o mundo este evangelho, também o que ela fez será contado para memória sua.”

Na passagem paralela a esta no evangelho de João nós vimos que nosso Senhor havia chegado a Betânia, seis dias antes da Páscoa, cidade na qual residia Lázaro, a quem Ele há havia ressuscitado (Jo 12.1).
Nesta mesma passagem paralela é dito que Ele se encontrava agora na casa de Simão, o leproso, na mesma cidade de Betânia, e esta mulher que Lhe derramou o bálsamo precioso sobre a cabeça, é identificada por João, em seu evangelho, como sendo Maria, irmã de Lázaro.
Mateus diz que todos os discípulos ficaram indignados com o que consideraram um desperdício, mas João destaca apenas a falsa indignação de Judas, porque na verdade, queria vender o bálsamo com uma intenção maligna de roubar o dinheiro da venda, motivação esta que não era a mesma de nenhum dos demais apóstolos, motivo porque João registrou apenas a reação de Judas ao gesto de Maria.
Eles não haviam percebido a mão de Deus naquela ação, porque foi uma unção para o sepultamento de Jesus, a qual confirmava profeticamente a Sua morte.
Era um sinal da parte do Pai que lhes estava sendo dado, e eles não perceberam.
Estavam pensando em fazer a vontade de Deus a seu modo.
Queriam fazer beneficência aos pobres com o dinheiro da venda do bálsamo, mas Deus tinha outros planos para o uso daquele bálsamo, e Maria compreendeu perfeitamente esta vontade e a executou.
Quantas vezes erramos na realização dos serviços que julgamos estar fazendo em nome de Deus e para alcançar os perdidos, e especialmente para a Sua Igreja, quando agimos por nossa própria conta e não segundo o mover do Espírito, fazendo aquilo que julgamos ser da vontade de Deus.
  É até possível que estas coisas sejam lícitas e boas em sua própria natureza, como o cuidado dos discípulos pelos pobres, mas aquela não era uma hora para se pensar nos pobres, senão em apoiarem o Senhor com o cuidado deles e oração em Seu favor, em face dos grandes sofrimentos que Lhe aguardavam.
Maria teve tal sensibilidade, enquanto eles ainda estavam endurecidos, e permaneceriam assim até o momento da ceia que o Senhor faria com eles na noite em que foi traído, porque discutiam entre si qual deles seria o maior no reino dos céus.
Estavam preocupados com os seus próprios interesses e não com os do Seu Senhor.    
Devemos vigiar portanto, para não sermos achados, tal como eles, fazendo aquilo que julgamos ser a vontade do Senhor, quando na verdade não passa de realização da nossa própria vontade.
A boa ação de Maria está contida na narrativa do evangelho para honra dela, conforme nosso Senhor havia dito que deveria ser feito, porque há no que ela fez um grande ensinamento quanto ao modo de se proceder em relação ao Senhor e à Sua obra, conforme já temos comentado, ou seja, fazendo tudo por Ele e para Ele, e segundo a instrução e iluminação do Espírito Santo.
Não devemos ser movidos por sentimentalismo,  ou por qualquer outro tipo de motivação, na realização da obra do Senhor, senão fazendo todas as coisas segundo a vontade de Deus e para a Sua exclusiva glória, conforme a visão celestial que nos for dada pelo Espírito, para a execução de tais obras, sejam elas de qual natureza for.


A Traição de Jesus – Mateus 26.14-16

“14 Então um dos doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os principais sacerdotes,
15 e disse: Que me quereis dar, e eu vo-lo entregarei? E eles lhe pesaram trinta moedas de prata.
16 E desde então buscava ele oportunidade para o entregar.”

O propósito para o qual Judas foi chamado por nosso Senhor para fazer parte do grupo dos apóstolos, estava para ser cumprido.
Então ele foi procurar os principais sacerdotes, para trair nosso Senhor, em troca de dinheiro.
Conforme estava profetizado nas Escrituras foi acertado o preço da traição por 30 moedas de prata.
“E eu lhes disse: Se parece bem aos vossos olhos, dai-me o que me é devido; e, se não, deixai-o. Pesaram, pois, por meu salário, trinta moedas de prata.” (Zac 11.12).
Judas lhes conduziria até onde se encontrava nosso Senhor para ser preso por eles.
Foi pelo preço costumado que se pagava para se comprar um escravo comum que Jesus foi avaliado pelos principais sacerdotes, e Judas aceitou em sua cobiça, um tal preço vil.



Os Preparativos da Páscoa – Mateus 26.17-25

“17 Ora, no primeiro dia dos pães ázimos, vieram os discípulos a Jesus, e perguntaram: Onde queres que façamos os preparativos para comeres a páscoa?
18 Respondeu ele: Ide à cidade a um certo homem, e dizei-lhe: O Mestre diz: O meu tempo está próximo; em tua casa celebrarei a páscoa com os meus discípulos.
19 E os discípulos fizeram como Jesus lhes ordenara, e prepararam a páscoa.
20 Ao anoitecer reclinou-se à mesa com os doze discípulos;
21 e, enquanto comiam, disse: Em verdade vos digo que um de vós me trairá.
22 E eles, profundamente contristados, começaram cada um a perguntar-lhe: Porventura sou eu, Senhor?
23 Respondeu ele: O que mete comigo a mão no prato, esse me trairá.
24 Em verdade o Filho do homem vai, conforme está escrito a seu respeito; mas ai daquele por quem o Filho do homem é traído! bom seria para esse homem se não houvera nascido.
25 Também Judas, que o traía, perguntou: Porventura sou eu, Rabí? Respondeu-lhe Jesus: Tu o disseste.”

Aqueles que Satanás planta como joio na Igreja para traírem a causa de Cristo, raramente sabem que estão a serviço do Inimigo, porque ele lhes ilude fazendo pensar que são verdadeiros servos de Cristo.
E isto explica muito sobre o motivo que levou Judas a se suicidar logo depois de ter traído Jesus.
Satanás o abandonou e lhe acusou depois de ter feito o uso que pretendia fazer dele, atacando-lhe duramente a consciência e mostrando-lhe que não passava de uma fraude, e que nunca tinha sido um verdadeiro apóstolo de Jesus.
Enquanto estava acompanhando o grupo de apóstolos é bem possível que ele julgasse a si próprio até mesmo como sendo o melhor deles.
Judas era uma árvore plantada pelo diabo na Igreja. Não era uma árvore que tivesse sido plantada por Deus. Assim, jamais poderia dar bons frutos.
Jesus nunca esperou qualquer bom fruto dele porque sabia a árvore má que ele era.
Não se pode colher figos dos abrolhos. A árvore é conhecida pelo seu fruto, e o de Judas acabou se manifestando completamente no momento da traição de Jesus.
Muitos acompanham a obra de Deus, plantados pelo diabo para o propósito de causar divisões, escândalos, impedir o avanço do reino de Deus, e especialmente para causar dores e feridas nos verdadeiros servos do Senhor.
Eles se transfiguram em verdadeiros santos, mas são lobos em pele de ovelha, prontos para devorar o rebanho nas oportunidades que lhes forem deparadas por Satanás.
Não que eles pretendam fazê-lo conscientemente, porque como dissemos antes, são enganados pelo Inimigo, que os torna muito zelosos até mesmo pelos assuntos relativos à Igreja, mas não aos assuntos que são relativos à verdadeira piedade, à obra do Espírito nos corações, porque eles lutam contra isto.
Jesus sabia que Satanás entraria em Judas e faria por meio dele toda a sua vontade, para que o traísse. Ele viu em Espírito aquilo que os demais apóstolos não puderam perceber.
Judas traiu Jesus com um beijo para dissimular o seu ato de traição.
Os traidores sempre usam esta estratégia de chorar, de beijar, de abraçar aqueles que eles estão traindo e aos quais trairão de forma ainda mais intensa quando Satanás se levantar para usá-los de tal forma.
Os ministros do evangelho devem portanto, se manterem firmes na fé, no amor, na bondade, na paciência e na mansidão, enquanto agem com prudência em relação a estes infelizes instrumentos do diabo que causam dó no nosso coração em relação ao triste estado deles de não poderem chegar ao conhecimento da verdade, porque permanecem endurecidos em suas próprias convicções e não têm um bom coração que sequer admita que devem se sujeitar ao Senhor.
Judas poderia ao menos ter deixado a companhia de Jesus e dos apóstolos sem nada fazer contra eles, e especialmente contra o Senhor.
Afinal ele privava da intimidade deles, e comia à mesma mesa com Jesus.
É digno de destaque que o diabo entrou nele justamente quando Jesus lhe deu o bocado de pão para comer.
O bem que Jesus fez a Judas não lhe tornou melhor, mas pior, e assim ele odiou a quem nunca lhe fez qualquer mal, senão somente o bem.
Entretanto não importa aos verdadeiros discípulos de Jesus que sempre haja tais traidores na igreja, sendo joios plantados por Satanás, porque isto não anula a grande honra que o Senhor dá àqueles que são por Ele enviados com a missão de pregarem o evangelho ao mundo. Aqueles que são enviados por Ele, quando são recebidos pelas pessoas, é como se elas estivessem recebendo ao próprio Cristo, e a Deus Pai que foi quem enviou Seu Filho a este mundo com a missão que seria agora realizada pela Igreja.
Foi justamente quando estava proferindo estas palavras de grande honra para os apóstolos, que Jesus se turbou em espírito, porque aquilo não se aplicava a Judas, que apesar de ter sido escolhido pelo Senhor para estar entre os apóstolos, não seria enviado por Ele como os demais para cumprir a Sua grande comissão de irem por todo o mundo pregando o evangelho a toda criatura.
Judas não somente não seria enviado, como também seria aquele que haveria de traí-lo para que se cumprissem as Escrituras.
Por isso Jesus se turbou em espírito, e nós também quando temos no nosso ministério um Judas plantado ao nosso lado pelo Inimigo.
Eles fazem o nosso espírito suspirar e se entristecer, porque afinal, comem do nosso pão e privam da nossa amizade, e sabemos que estão ali plantados esperando o grande momento de levantarem o calcanhar deles contra nós, tal como Judas havia levantado o seu contra o Senhor.


A Ceia do Senhor – Mateus 26.26-30

“26 Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, abençoando-o, o partiu e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o meu corpo.
27 E tomando um cálice, rendeu graças e deu-lho, dizendo: Bebei dele todos;
28 pois isto é o meu sangue, o sangue da aliança, o qual é derramado por muitos para remissão dos pecados.
29 Mas digo-vos que desde agora não mais beberei deste fruto da videira até aquele dia em que convosco o beba novo, no reino de meu Pai.
30 E tendo cantado um hino, saíram para o Monte das Oliveiras.”

  Nós temos aqui a instituição da ceia do Senhor, a qual estava sendo feita durante a festa judaica da Páscoa, no dia em que se devia comer a carne do cordeiro pascal.
Jesus entregou o Seu corpo em sacrifício para que nos alimentássemos da Sua vida, o que estava figurado na Lei com a ordenança de se comer a carne do cordeiro da Páscoa.
Aquele cordeiro da festa judaica era uma figura do grande Cordeiro, por meio do qual o pecado do mundo é tirado, a saber, nosso Senhor.
Então, Ele se antecipou à Sua morte que ocorreria no dia seguinte, e disse aos discípulos que o pão que estavam comendo, representaria a Sua carne dali por diante, e que deveriam regularmente celebrar aquela ceia em memória da Sua morte, conforme vemos no texto paralelo de I Cor 11.23-26.
Como seria inaugurada uma Nova Aliança com a Sua morte, então se apropriou não somente do sangue que foi passado nas portas das casas dos israelitas, para que fossem livrados da morte, no dia da instituição da Páscoa no Egito, como também do sangue de animais que foram sacrificados para celebrar a Antiga Aliança com Israel através de Moisés, como sendo figuras do Seu próprio sangue que seria derramado na cruz para nos redimir do pecado, e usou o cálice de vinho da Páscoa, como sendo representativo do sangue que Ele derramaria por nós e para inaugurar esta Nova Aliança.
Assim, a Igreja não deve apenas comer do pão, como também beber do vinho, toda vez que se reunir para realizar a ceia do Senhor, como um memorial da Sua morte.
Este é um dos sinais visíveis que nos foi dado da parte de Deus, para identificarmos aqueles que fazem parte do corpo de Cristo, por estarem aliançados com Ele, porque nosso Senhor havia ensinado em Seu ministério terreno que somente têm a vida eterna aqueles que comem da Sua carne e que bebem do Seu sangue, sendo isto uma indicação da nossa união vital com Ele, participando de Sua própria vida,  fato este que está representado na participação da ceia que foi instituída por Ele, na noite em que seria traído e preso.
Assim, apesar de o pão e o vinho da ceia, ainda que não sejam o próprio Cristo em pessoa, pode-se dizer que Cristo está presente, quando a Igreja se reúne para celebrar a ceia de maneira digna e santa, porque não somente é uma ordenança do próprio Cristo, como também Ele afirmou que o pão e o vinho, são respectivamente a Sua carne e o Seu sangue, que foram oferecidos na cruz, para que por meio desta oferta cruenta, tivéssemos vida, a Sua própria vida em nós.
Tal é a importância da ceia para o Senhor que ela não cessará na eternidade, porque a Sua morte sempre será lembrada como o preço da nossa justificação e da nossa união vital com Ele.
 Antes de sair com os discípulos para o monte das Oliveiras, depois de terem cantado um hino, nosso Senhor afirmou que não beberia mais do fruto da vide estando presente em pessoa conosco, até o dia em que o faria no reino de Seu Pai.
Ora, o que isto quer indicar senão que a ceia será realizada na glória, quando toda a Igreja estiver reunida com Ele!

Pedro e o Galo – Mateus 26.31-35

“31 Então Jesus lhes disse: Todos vós esta noite vos escandalizareis de mim; pois está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho se dispersarão.
32 Todavia, depois que eu ressurgir, irei adiante de vós para a Galileia.
33 Mas Pedro, respondendo, disse-lhe: Ainda que todos se escandalizem de ti, eu nunca me escandalizarei.
34 Disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que esta noite, antes que o galo cante três vezes me negarás.
35 Respondeu-lhe Pedro: Ainda que me seja necessário morrer contigo, de modo algum te negarei. E o mesmo disseram todos os discípulos.”

O evangelho de João acrescenta muitas outras informações sobre as coisas que Jesus disse aos Seus discípulos na noite da ceia em que seria preso.
Ele falou sobretudo do amor que os discípulos deveriam ter uns pelos outros. E isto explica em parte a atitude de Pedro, em querer demonstrar que tinha um amor pelo Senhor maior do que todos os demais.
Nosso Senhor lhes havia dado o novo mandamento de se amarem uns aos outros assim como Ele lhes havia amado; isto é, eles deveriam se amar com o mesmo amor de comunhão espiritual que sempre existiu entre Ele e o Pai.
Seria por este amor divino, celestial, que o mundo saberia que eles eram de fato Seus discípulos.
Eles sairiam com uma missão ao mundo. Eles teriam uma mensagem para pregar. Eles receberiam poder do Espírito para testemunhar dEle. Mas caso faltasse este amor entre eles, faltaria tudo o mais, e Ele não seria glorificado.
Deus não pode ser glorificado quando falta a unidade e a comunhão espiritual, no Espírito, que deve estar presente em todas as reuniões da igreja.
Os apóstolos haviam aprendido do Senhor o modo como deveriam viver neste amor, mas deveriam crescer nisto.
Deveriam avançar para o alvo da maturidade em Cristo, que é sobretudo amadurecimento no Seu amor divino.  
Isto não se aprende nos livros, mas na prática da vida.
Na submissão à vontade do Senhor e à Sua Palavra, num espírito quieto e manso que é agradável a Deus.
O brilho da face de Cristo deve ser visto também nos rostos dos cristãos, porque sem isto, não é possível cumprir o novo mandamento que Ele nos deixou.
É importante lembrar que Ele falou deste novo mandamento do amor no contexto das palavras que havia proferido acerca da Sua glorificação nos céus, e no ajuntamento futuro de todos os Seus discípulos no céu para participarem da Sua glória.
Então o mandamento do amor que Ele proferiu nada tem efetivamente a ver com simples afeto natural, que não somente todos os homens possuem, como até mesmo animais irracionais, mas com o amor celestial e divino que é o único que pode trazer glória para o nome do Senhor.
Pedro não entendeu a que tipo de amor Jesus estava se referindo, e tentou demonstrar que o seu amor por Ele era maior do que o de todos os demais discípulos. Já que Jesus havia falado de amor, então Pedro na sua sinceridade quis lhe demonstrar até que ponto ia o seu amor por Ele.
 Ele insistiu em dizer que seguiria Jesus mesmo depois dEle ter-lhe falado que não poderia segui-lO para onde Ele iria naquela ocasião, a saber, para o céu, mas como não disse a Pedro para onde iria, Pedro disse que iria segui-lO até mesmo dando a própria vida por Ele.
Mas Jesus lhe respondeu que o galo não cantaria naquela noite antes que Pedro lhe tivesse negado três vezes.
O amor natural de Pedro não seria suficiente para mantê-lo firme na fé e perseverante em confessar o Senhor mesmo diante do perigo de perder a sua própria vida.
Mas Pedro não havia aprendido esta lição, e teria que passar por ela de uma maneira muito dolorosa, para que jamais confiasse na carne.  
Afetos, sentimentos, emoções, vontade, tudo isto faz parte da alma e não do espírito. Portanto, nada tem a ver com o amor sobrenatural de Deus que é fruto do Espírito e que é gerado no nosso espírito, apesar de poder ser manifestado através da alma.
Pedro deveria aprender a andar no Espírito, e a não confiar na carne, isto é, pelo seu ego (alma).
É somente estando fortalecido no Espírito, pela graça do Senhor que podemos cumprir o novo mandamento que Ele nos deixou.
Por isso quando o Senhor restaurou Pedro depois de tê-lo negado, perguntando-lhe também por três vezes se ele O amava. No grego, ele usou a palavra ágape (amor divino) nas duas primeiras vezes, e como Pedro respondeu com a palavra filéo (amor de amizade natural), Jesus usou esta palavra filéo  na última pergunta que fez e Pedro tornou a responder em sua insegurança também com filéo, porque não estava  certo ainda de possuir o amor divino.
Jesus queria portanto demonstrar a Pedro que importa ser amado com o amor espiritual, celestial e divino, e não meramente com o amor natural, que é resultante de nossos afetos naturais, porque não O conhecemos mais segundo a carne, mas segundo o espírito.
Então o amor ao qual Jesus havia se referido é um amor de comunhão no Espírito Santo, que se manifesta nos cristãos quando eles estão reunidos, estando cheios do Espírito, que é quem promove tal unidade, comunhão e amor entre eles.
 Independentemente disto, por maior que fosse o amor de Pedro e sua disposição de morrer por Cristo, isto não lhe seria concedido por Deus, Ele não receberia autoridade para fazê-lo porque importava que se cumprissem as Escrituras, conforme nosso Senhor lhes havia dito que: “Todos vós esta noite vos escandalizareis de mim; pois está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho se dispersarão.” (v. 31).
Isto está profetizado em Zac 13.7:
“Ó espada, ergue-te contra o meu pastor, e contra o varão que é o meu companheiro, diz o Senhor dos exércitos; fere ao pastor, e espalhar-se-ão as ovelhas; mas volverei a minha mão para os pequenos.”
Portanto, todas as ovelhas de Jesus seriam dispersas na hora que Ele fosse ferido pela espada que seria erguida contra Ele para que fosse executada a justiça de Deus, por morrer no lugar dos pecadores.
Ele seria ferido de morte porque foi feito pecado e maldição por nós.
Então, nem a Pedro, nem a qualquer outro seria dado seguir a Jesus naquela hora da Sua prisão, motivo porque Ele disse tais palavras a Pedro, que já que estava determinado em segui-lO, como de fato fizera, indo após Ele até a casa do sumo sacerdote, depois que fora preso, acabaria lhe traindo por três vezes, negando conhecê-lO, porque aquela hora seria uma hora de solidão absoluta para Ele, e nenhuma de Suas ovelhas poderia confortá-lO, em razão dos juízos que estava levando sobre Si mesmo, por amor de nós.


Jesus no Getsêmani – Mateus 26.36-46

“36 Então foi Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani, e disse aos discípulos: Sentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar.
37 E levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se.
38 Então lhes disse: A minha alma está triste até a morte; ficai aqui e vigiai comigo.
39 E adiantando-se um pouco, prostrou-se com o rosto em terra e orou, dizendo: Meu Pai, se é possível, passa de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres.
40 Voltando para os discípulos, achou-os dormindo; e disse a Pedro: Assim nem uma hora pudestes vigiar comigo?
41 Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.
42 Retirando-se mais uma vez, orou, dizendo: Pai meu, se este cálice não pode passar sem que eu o beba, faça-se a tua vontade.
43 E, voltando outra vez, achou-os dormindo, porque seus olhos estavam carregados.
44 Deixando-os novamente, foi orar terceira vez, repetindo as mesmas palavras.
45 Então voltou para os discípulos e disse-lhes: Dormi agora e descansai. Eis que é chegada a hora, e o Filho do homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores.
46 Levantai-vos, vamo-nos; eis que é chegado aquele que me trai.”

Antes de ser preso, foi concedido a nosso Senhor, ter um último momento de consolação, junto de Seus discípulos, não somente na ceia que fizeram, como também na Sua agonia no jardim do Getsêmani.
Pedro, Tiago e João haviam sido levados com Ele ao monte da Transfiguração, para testemunharem a Sua glória, e agora estavam sendo levados por Ele ao monte das Oliveiras, ao Getsêmani, para compartilharem da Sua agonia.
E lhes pediu que vigiassem juntamente com Ele, porque aquela era uma hora em que estaria exposto, tanto quanto eles, a grandes tentações, porque o diabo não perderia a oportunidade de tentar dissuadi-lo de morrer na cruz, como já havia feito antes usando a boca de Pedro.
Independente de qualquer tentação do diabo, haveria uma tristeza e agonia da carne, que seria em si mesma uma tentação, no sentido de fazê-los recuar, especialmente o Senhor, que carregaria nossos pecados e culpa no madeiro.
Tal foi a angústia de nosso Senhor, que sua alma se entristeceu até a morte. E ele compartilhou isto com os três apóstolos, lhes pedindo que vigiassem com Ele.
Como se adiantou um pouco em relação a eles, para orar ao Pai, os discípulos foram vencidos pelo sono e dormiam.
Enquanto isto, nosso Senhor derramava sua alma em oração pedindo ao Pai, que se possível fora, que passasse dEle aquele cálice amargo que deveria começar a tomar ainda naquela noite, tal era a intensidade do Seu sofrimento, mas Ele se rendeu à vontade do Pai, dizendo-Lhe que não levasse em conta o que estivesse sentindo e sofrendo, porque importava fazer não a Sua, mas a vontade do Pai. A vontade do Pai, seria portanto, também a Sua, naquela circunstância terrível que havia abatido grandemente a Sua alma.  
Quando voltou aos discípulos e os encontrou dormindo, nosso Senhor repreendeu a Pedro por não terem podido sequer por uma só hora ter vigiado juntamente com Ele.
E lhes ordenou que vigiassem e orassem para não entrarem em tentação, uma vez que, como estavam percebendo em si mesmos, apesar de o espírito estar pronto para fazer a vontade de Deus, a carne é fraca, e poderia abafar tal prontidão do espírito, levando-lhes a recuar na fé, pela grande dificuldade daquela hora.
Nosso Senhor finalmente rendeu-se inteiramente à vontade do Pai, dizendo numa segunda oração que se não fosse possível passar o cálice sem que o bebesse, então que se fizesse a Sua vontade.
E mais uma vez, ao voltar aos discípulos, achou-os dormindo, e não vigiando e orando, conforme lhes havia ordenado.
Assim, eles não estavam sendo um apoio e consolação para Ele, senão um peso, motivo porque foi orar ao Pai uma terceira vez, repetindo as mesmas palavras.
As circunstâncias e as dificuldades que deveriam ser enfrentadas ainda seriam as mesmas, mas a graça havia fortalecido finalmente a nosso Senhor e já não havia nEle qualquer angústia em Sua alma, de maneira que se voltou aos discípulos e lhes disse que poderiam continuar dormindo e descansando porque era chegada a hora e estava sendo entregue nas mãos dos pecadores.
E foi com santa ousadia e autoridade que disse aos três apóstolos que se levantassem porque Ele iria na direção daquele que lhe estava traindo, a saber Judas, para que sendo identificado por Ele, como sendo Aquele a quem os sacerdotes procuravam, pudessem prendê-lO.
Do próprio exemplo de nosso Senhor podemos aprender que confortos humanos nos faltarão ou então sempre falharão nas horas de extrema dificuldade, nas quais somente a graça de Deus poderá nos assistir, consolar e fortificar.
Então, tal como Ele fizera, é em Deus que devemos buscar socorro nestas horas difíceis, e fazê-lo até que sintamos que nos tem fortalecido com a Sua graça.
João, que estivera com Jesus no jardim do Getsêmani, testemunhando a Sua agonia, viria ainda a  testemunhar muito tempo depois, em Sua primeira epístola, que o amor sempre vence o medo.
Por fim, o amor do Pai pelo Filho Lhe deu plena confiança, autoridade e consolo em Sua grande angústia.
Assim como Ele, nós também somos alvo do mesmo amor neste mundo, porque por meio da nossa união com Ele, fomos também transformados em filhos de Deus, e já não há mais o que temer, porque o amor divino é invencível e vence o temor da morte, e até mesmo a própria morte.
“14 E nós temos visto, e testificamos que o Pai enviou seu Filho como Salvador do mundo.
15 Qualquer que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele, e ele em Deus.
16 E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor; e quem permanece em amor, permanece em Deus, e Deus nele.
17 Nisto é aperfeiçoado em nós o amor, para que no dia do juízo tenhamos confiança; porque, qual ele é, somos também nós neste mundo.
18 No amor não há medo antes o perfeito amor lança fora o medo; porque o medo envolve castigo; e quem tem medo não está aperfeiçoado no amor.” (I Jo 4.1414-18)


A Prisão de Jesus – Mateus 26.47-56

“47 E estando ele ainda a falar, eis que veio Judas, um dos doze, e com ele grande multidão com espadas e varapaus, vinda da parte dos principais sacerdotes e dos anciãos do povo.
48 Ora, o que o traía lhes havia dado um sinal, dizendo: Aquele que eu beijar, esse é: prendei-o.
49 E logo, aproximando-se de Jesus disse: Salve, Rabi. E o beijou.
50 Jesus, porém, lhe disse: Amigo, a que vieste? Nisto, aproximando-se eles, lançaram mão de Jesus, e o prenderam.
51 E eis que um dos que estavam com Jesus, estendendo a mão, puxou da espada e, ferindo o servo do sumo sacerdote, cortou-lhe uma orelha.
52 Então Jesus lhe disse: Mete a tua espada no seu lugar; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão.
53 Ou pensas tu que eu não poderia rogar a meu Pai, e que ele não me mandaria agora mesmo mais de doze legiões de anjos?
54 Como, pois, se cumpririam as Escrituras, que dizem que assim convém que aconteça?
55 Disse Jesus à multidão naquela hora: Saístes com espadas e varapaus para me prender, como a um salteador? Todos os dias estava eu sentado no templo ensinando, e não me prendestes.
56 Mas tudo isso aconteceu para que se cumprissem as Escrituras dos profetas. Então todos os discípulos, deixando-o fugiram.”

Nesta passagem, são descritas as circunstâncias da prisão de Jesus no jardim do Getsêmani.
Não havia ainda nenhuma acusação formal para que Ele fosse preso, mas Judas, acompanhado de uma grande multidão a serviço dos principais sacerdotes e anciãos de Israel, trouxe-os à noite, até Ele, para que não houvesse qualquer alvoroço por parte do povo.
Podemos dizer então, que aquela foi uma traição calculada e conluiada.
Nós usaremos o texto paralelo do evangelho de João para o nosso comentário desta passagem, porque ele acrescenta outros detalhes sobre a prisão de nosso Senhor, que não se encontram registrados na narrativa de Mateus.
Nos primeiros versos deste 18º capítulo (1 a 12) são descritas as circunstâncias da prisão de Jesus no jardim do Getsêmani.
Jesus havia voltado a Jerusalém na ocasião da Páscoa com o firme propósito de se entregar voluntariamente como oferta de sacrifício cruento pelos nossos pecados, porque Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Ele poderia ter procurado as autoridades de Israel e se entregado a eles, porque, afinal, estavam procurando prendê-lo pela falsa acusação de ter cometido o crime de blasfêmia e quebra da Lei de Moisés, por estar curando em dia de sábado.
No entanto, importava, segundo as Escrituras que lhes fosse entregue por um ato de traição, e que  o prendessem por uma ação insidiosa e injusta, de maneira que ficasse configurada a corrupção deles.
Assim, as chaves do reino dos céus seriam tiradas definitivamente das mãos das autoridades religiosas de Israel, e passadas para aqueles que têm fé em Cristo, e também pela instituição de uma nova aliança, cuja vigência revogaria automaticamente a antiga, sob a qual aqueles líderes corrompidos de Israel regiam.  
O ato de entrega das chaves do reino dos céus por Jesus a Pedro, bem demonstra o que temos afirmado.
Elas haviam sido tiradas das mãos dos sacerdotes, escribas e fariseus, e foram entregues aos apóstolos do Senhor, representados na pessoa de Pedro, naquele gesto de Jesus.
Os principais sacerdotes e fariseus haviam ouvido a seguinte sentença que Jesus havia dado se referindo  a eles na parábola dos lavradores na vinha:
“Portanto eu vos digo que vos será tirado o reino de Deus, e será dado a um povo que dê os seus frutos.” (Mt 21.43).
Eles não deixavam as pessoas entrarem no reino, assim como eles não entravam, com as suas práticas corrompidas e legalistas.
Eles continuariam com suas atividades religiosas, mas a glória de Deus já havia se retirado há muito tempo do culto corrompido que Lhe prestavam.
Para demonstrar que estava realmente se entregando voluntariamente, Jesus fez com que os soldados que vieram prendê-lo recuassem e caíssem por terra, quando se identificou como sendo aquele a quem eles buscavam.
Ninguém poderia tocar-Lhe caso assim o desejasse, mas importava que fosse preso, para que fosse conduzido à morte de cruz.      
Aquela demonstração de poder sobrenatural tinha também por alvo gerar temor nos soldados de maneira que atendessem ao pedido de Jesus que se deixaria prender por eles caso deixassem livres os apóstolos, que se encontravam com Ele.
Até o Seu momento final o Senhor demonstrou o Seu grande cuidado e proteção para com aqueles que o amam.  
Pedro tentou ainda reagir para impedir que Jesus fosse preso tendo arremetido contra o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita.
João não registra o fato, mas sim os evangelhos sinópticos, que Jesus lhe restaurou a orelha que havia sido cortada.
O reino de Deus não deve ser conquistado nem defendido pela espada, e por isso Jesus ordenou que Pedro embainhasse a sua espada.
Nem ele, nem todos os exércitos deste mundo poderiam ter impedido que Ele bebesse o cálice de sofrimentos que deveria sorver completamente para vencer a morte, o pecado e o diabo, quando morresse por nós na cruz.


Jesus Perante o Sinédrio e a Negação de Pedro – Mateus 26.57-75

“57 Aqueles que prenderam a Jesus levaram-no à presença do sumo sacerdote Caifás, onde os escribas e os anciãos estavam reunidos.
58 E Pedro o seguia de longe até o pátio do sumo sacerdote; e entrando, sentou-se entre os guardas, para ver o fim.
59 Ora, os principais sacerdotes e todo o sinédrio buscavam falso testemunho contra Jesus, para poderem entregá-lo à morte;
60 e não achavam, apesar de se apresentarem muitas testemunhas falsas. Mas por fim compareceram duas,
61 e disseram: Este disse: Posso destruir o santuário de Deus, e reedificá-lo em três dias.
62 Levantou-se então o sumo sacerdote e perguntou-lhe: Nada respondes? Que é que estes depõem contra ti?
63 Jesus, porém, guardava silêncio. E o sumo sacerdote disse-lhe: Conjuro-te pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus.
64 Respondeu-lhe Jesus: É como disseste; contudo vos digo que vereis em breve o Filho do homem assentado à direita do Poder, e vindo sobre as nuvens do céu.
65 Então o sumo sacerdote rasgou as suas vestes, dizendo: Blasfemou; para que precisamos ainda de testemunhas? Eis que agora acabais de ouvir a sua blasfêmia.
66 Que vos parece? Responderam eles: É réu de morte.
67 Então uns lhe cuspiram no rosto e lhe deram socos;
68 e outros o esbofetearam, dizendo: Profetiza-nos, ó Cristo, quem foi que te bateu?
69 Ora, Pedro estava sentado fora, no pátio; e aproximou-se dele uma criada, que disse: Tu também estavas com Jesus, o galileu.
70 Mas ele negou diante de todos, dizendo: Não sei o que dizes.
71 E saindo ele para o vestíbulo, outra criada o viu, e disse aos que ali estavam: Este também estava com Jesus, o nazareno.
72 E ele negou outra vez, e com juramento: Não conheço tal homem.
73 E daí a pouco, aproximando-se os que ali estavam, disseram a Pedro: Certamente tu também és um deles pois a tua fala te denuncia.
74 Então começou ele a praguejar e a jurar, dizendo: Não conheço esse homem. E imediatamente o galo cantou.
75 E Pedro lembrou-se do que dissera Jesus: Antes que o galo cante, três vezes me negarás. E, saindo dali, chorou amargamente.”

Jesus foi preso como se fosse um malfeitor porque teve suas mãos amarradas, conforme se afirma no evangelho de João.
Ele que não havia oferecido qualquer resistência ao ser preso, e que não havia feito nenhum mal a qualquer pessoa, e muito menos qualquer ato de violência, estava sofrendo agora violência por parte daqueles que deviam debelar a violência e promover a justiça.
Eles queriam passar uma impressão de uma suposta periculosidade de Jesus ao terem-no tratado daquela maneira, ao mesmo tempo em que procurariam agradar às autoridades que lhes haviam enviado, porque bem conheciam o ódio que elas sentiam por Jesus.
Eles exibiram Jesus como um troféu do triunfo deles levando-o à residência de Anás, porque era sogro de Caifás, que era o sumo sacerdote indicado para aquele ano.
Eles estavam em conselho há muito tempo para verem como prenderiam Jesus e agora estavam se deleitando com o triunfo deles.
No entanto, quando injustiças devem ocorrer, a providência divina se encarregará de conduzir ao poder homens maus como Anás, Caifás e Pilatos, para a própria ruína deles, de maneira que nenhum justo tenha que deliberar contra a justiça.
Importava que Jesus fosse injustiçado, mas Deus providenciou que isto fosse feito pelas mãos de ímpios, previamente preparados para aquela hora.
Então o triunfo daqueles homens foi a pior das ruínas que poderia ocorrer a qualquer mortal, a saber, a de condenarem o próprio Filho de Deus como um malfeitor digno de morte, por motivo de inveja e ódio, e baseando-se em acusações falsas e injustas.
O sumo sacerdote era conhecido por um discípulo de Jesus, do qual João não citou o nome, e nem com isto Ele se desviou da maldade que praticaria contra o Senhor.
Nós vemos nisto que Jesus terá discípulos até mesmo nas casas dos Seus piores inimigos. Ele sempre terá testemunhas em todas as partes para que todos os que Lhe resistem sejam indesculpáveis perante Ele no dia do juízo quanto à incredulidade e maldade deles; assim como dá-lhes também a oportunidade de se arrependerem pelo que virem no bom testemunho dos Seus servos.    
Este discípulo de Jesus que era conhecido do sumo sacerdote acompanhou o Senhor até a sua sala, e sabendo que Pedro estava junto à porta, do lado de fora, levou Pedro para dentro.
Jesus havia dito a Pedro que o galo não cantaria naquela noite até que ele Lhe tivesse negado por três vezes. Pedro estava seguindo o Senhor porque disse que não o abandonaria de maneira nenhuma.
E nós temos nesta passagem a oportunidade de ver que para o serviço de Deus, e para os laços de comunhão eterna que devem existir entre os cristãos, o afeto natural é de pouco ou nenhum proveito porque não persistirá e não resistirá às provas a que for submetido, tal como ocorreu com Pedro, que negou veementemente que conhecia a Jesus quando foi confrontado na casa do sumo sacerdote.
Ele começou negando que conhecia Jesus logo à entrada quando a porteira lhe perguntou se não era um dos discípulos de Jesus (Jo 18.17).
Quando o sumo sacerdote perguntou a Jesus acerca dos seus discípulos e da sua doutrina, Jesus lhe respondeu que aqueles aos quais havia ensinado poderiam responder por Ele. Pedro certamente seria um destes, mas ele estava atemorizado demais para fazê-lo, e preferiu ficar se aquentando juntamente com os servidores que haviam acendido um braseiro, porque fazia muito frio naquela noite.
Jesus foi esbofeteado por um dos servidores por ter respondido ao sumo sacerdote daquela maneira. Mas o Senhor lhe perguntou por que lhe havia esbofeteado uma vez que se tivesse falado mal, o servidor deveria dar testemunho do mal que ele havia falado.
 Na verdade Jesus não estava na obrigação de dar qualquer resposta a Anás, porque ele não era o sumo sacerdote principal naquele ano, mas Caifás seu genro, assim ele estava abusando de sua autoridade ao interrogar Jesus, porque deveria fazê-lo com um tribunal regularmente instituído para tal, e ao ver que não conseguiu obter nenhuma informação privilegiada da parte do Senhor, ele o enviou a Caifás, ainda manietado, para demonstrar que Jesus não havia obtido nenhum ato de misericórdia da sua parte.
Pedro negaria ao Senhor mais uma vez quando aqueles com os quais se aquentava lhe perguntaram se ele não era um dos discípulos de Jesus.
E logo o negaria pela terceira vez quando foi indagado por um dos parentes de Malco, também servo do sumo sacerdote, se não o tinha visto no jardim do Getsêmani juntamente com Jesus.
Assim que Pedro negou o Senhor pela terceira vez o galo cantou.
Mateus coloca a negação de Pedro no final da narrativa desta passagem, mas João registra a negação como tendo ocorrido na casa de Anás, e não no Sinédrio. Portanto, podemos inferir que Mateus destacou a negação de Pedro, sem se importar em colocar a narrativa em ordem cronológica, uma vez que não se ateve ao que havia ocorrido na casa de Anás, no seu evangelho.
Então, é neste ponto que Mateus inicia a Sua narrativa, a saber no Sinédrio, perante o sumo sacerdote Caifás, mas vemos no evangelho de João que nosso Senhor havia sido levado primeiro para a casa de Anás.
Foi no Sinédrio que se apresentaram falsas testemunhas para acusarem a nosso Senhor.
E como não conseguiam achar motivo para acusá-lo, por fim se apresentaram duas testemunhas que disseram ter ouvido o Senhor dizer que derrubaria o templo e que em três dias o reedificaria. Sabemos que Ele disse isto se referindo ao templo do Seu corpo, mas Suas palavras foram tomadas literalmente, e portanto, configurariam um sacrilégio contra a casa de Deus.
Indagado a respeito da acusação pelo sumo sacerdote, nosso Senhor guardou silêncio, porque importava não se defender, uma vez que deveria ser crucificado por um motivo injusto, para que pudesse levar sobre Si os nossos pecados.
Todavia, somente com esta acusação os romanos certamente se negariam a crucificá-lo, porque não se intrometiam nos assuntos religiosos de Israel.
Isto explica em parte o silêncio que Jesus guardou, que precipitou a ira do sumo sacerdote que O conjurou pelo Deus vivo que dissesse abertamente se era o Cristo, o Filho de Deus.
Esta foi a oportunidade para nosso Senhor dar Ele mesmo a eles um motivo para ser acusado, ainda que injustamente, porque o que lhes diria era a pura verdade, de que não somente era o Messias, como também quem eles veriam assentado à direita do Poder, ou seja do próprio Deus, e vindo sobre as nuvens do céu.
Pronto, isto era para eles não somente um pecado de blasfêmia, como uma declaração de alguém que se dizia rei, e um rei poderoso, e usariam este argumento para incitar o Império Romano contra Ele, afirmando por Ele, falsamente, que não reconhecia a autoridade de César.  


Como havia profetizado antes a Seus discípulos, nosso Senhor foi escarnecido pelo Sinédrio, e lhe cuspiram no rosto e lhe deram socos e lhe esbofetearam dizendo com ironia que lhes profetizasse quem lhe havia batido, uma vez que era tido por profeta (v. 67, 68).





Mateus 27

Jesus Perante Pilatos – Mateus 27.1-26

“1 Ora, chegada a manhã, todos os principais sacerdotes e os anciãos do povo entraram em conselho contra Jesus, para o matarem;
2 e, maniatando-o, levaram-no e o entregaram a Pilatos, o governador.
3 Então Judas, aquele que o traíra, vendo que Jesus fora condenado, devolveu, compungido, as trinta moedas de prata aos anciãos, dizendo:
4 Pequei, traindo o sangue inocente. Responderam eles: Que nos importa? Seja isto lá contigo.
5 E tendo ele atirado para dentro do santuário as moedas de prata, retirou-se, e foi enforcar-se.
6 Os principais sacerdotes, pois, tomaram as moedas de prata, e disseram: Não é lícito metê-las no cofre das ofertas, porque é preço de sangue.
7 E, tendo deliberado em conselho, compraram com elas o campo do oleiro, para servir de cemitério para os estrangeiros.
8 Por isso tem sido chamado aquele campo, até o dia de hoje, Campo de Sangue.
9 Cumpriu-se, então, o que foi dito pelo profeta Jeremias: Tomaram as trinta moedas de prata, preço do que foi avaliado, a quem certos filhos de Israel avaliaram,
10 e deram-nas pelo campo do oleiro, assim como me ordenou o Senhor.
11 Jesus, pois, ficou em pé diante do governador; e este lhe perguntou: És tu o rei dos judeus? Respondeu-lhe Jesus: É como dizes.
12 Mas ao ser acusado pelos principais sacerdotes e pelos anciãos, nada respondeu.
13 Perguntou-lhe então Pilatos: Não ouves quantas coisas testificam contra ti?
14 E Jesus não lhe respondeu a uma pergunta sequer; de modo que o governador muito se admirava.
15 Ora, por ocasião da festa costumava o governador soltar um preso, escolhendo o povo aquele que quisesse.
16 Nesse tempo tinham um preso notório, chamado Barrabás.
17 Portanto, estando o povo reunido, perguntou-lhe Pilatos: Qual quereis que vos solte? Barrabás, ou Jesus, chamado o Cristo?
18 Pois sabia que por inveja o haviam entregado.
19 E estando ele assentado no tribunal, sua mulher mandou dizer-lhe: Não te envolvas na questão desse justo, porque muito sofri hoje em sonho por causa dele.
20 Mas os principais sacerdotes e os anciãos persuadiram as multidões a que pedissem Barrabás e fizessem morrer Jesus.
21 O governador, pois, perguntou-lhes: Qual dos dois quereis que eu vos solte? E disseram: Barrabás.
22 Tornou-lhes Pilatos: Que farei então de Jesus, que se chama Cristo? Disseram todos: Seja crucificado.
23 Pilatos, porém, disse: Pois que mal fez ele? Mas eles clamavam ainda mais: Seja crucificado.
24 Ao ver Pilatos que nada conseguia, mas pelo contrário que o tumulto aumentava, mandando trazer água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: Sou inocente do sangue deste homem; seja isso lá convosco.
25 E todo o povo respondeu: O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos.
26 Então lhes soltou Barrabás; mas a Jesus mandou açoitar, e o entregou para ser crucificado.”

Logo o dia começou a raiar naquela sexta-feira, os principais sacerdotes e anciãos, entraram em conselho para conduzirem Jesus a Pilatos para que fosse crucificado.
Então eles o amarraram e o conduziram à presença do Governador romano.
Naquela hora, Judas, o traidor, quando viu que Jesus havia sido condenado pelo Sinédrio à morte, foi deixado entregue a si mesmo e à sua consciência, por Satanás.
E toda a bondade que Jesus lhe fizera, e a que testemunhara fazendo a outros, o atormentaram a tal ponto, que não pôde suportar o peso da sua culpa, e foi procurar os principais sacerdotes e anciãos para lhes devolver as trinta moedas de prata, que haviam sido o preço ajustado para a sua traição. E dizia, procurando achar algum conforto para a sua consciência culpada, que havia pecado traindo sangue inocente.
Aos principais sacerdotes e anciãos pouco importava saber que Jesus era inocente, e que estava sendo traído não somente por Judas, mas por todos os principais líderes da Sua própria nação, porque viera para lhes fazer bem, e eles Lhe estavam pagando com o mal.
Eles estavam conscientes do que estavam fazendo, e em nada se sentiam acusados em suas consciências, porque estavam acostumados a agir daquela forma, para resguardarem os seus próprios interesses, para não perderem o status quo, e especialmente o poder político e religioso que eles possuíam.
Judas não se arrependeu de seus pecados, e foi se enforcar, mas não se pode dizer dele, que tenha sido mais digno por causa disso, do que os principais sacerdotes e anciãos de Israel. Não era na verdade, melhor do que eles, porque eles não haviam privado da intimidade de Cristo, como ele havia desfrutado dela.
Os principais sacerdotes e anciãos, agiram como era de se esperar deles, porque tentariam encobrir a maldade deles aos olhos de Deus, com a hipocrisia e o cinismo de não usarem as trinta moedas da traição, colocando-as no cofre das ofertas, porque segundo o costume deles, não era pecado trair, mas era pecado colocar dinheiro usado em traição no cofre do templo.
Nosso Senhor havia arrancado a máscara destes hipócritas, e ainda há muitos que não conseguem enxergá-los, em suas próprias igrejas, porque são cegos, e se deixam levar apenas pelas práticas religiosas externas deles, e não fazem uma avaliação do fruto de seus corações, como nosso Senhor nos advertiu para fazermos, para que pudéssemos nos acautelar destes falsos profetas, que vivem sutilmente escondidos em peles de ovelhas.
Mas isto não é tudo que se pode dizer deles naquela ocasião, porque não somente pensavam que estavam escusados diante de Deus, por não usarem o dinheiro da traição no templo, como aproveitariam a oportunidade para fazerem um uso em beneficência para o povo, comprando com ele um campo que lhes servisse de cemitério público.
Todavia, não para os israelitas, mas para os forasteiros, porque devem também ter pensado em se purificarem e a terra deles, não sepultando forasteiros juntamente com os naturais de Israel. Nosso Senhor bem falou a respeito deles que eram sepulcros caiados.
É interessante observar que eles fariam um suposto bem ao povo, negociando com a morte, porque tudo no ministério desta gente é morte, porque estão mortos em seus pecados, e não podem se ocupar dos assuntos que dizem respeito à vida, que decorre da prática da justiça e da verdade.    
Com isto se cumpriu o que havia sido profetizado pelo profeta Zacarias:
“12 E eu lhes disse: Se parece bem aos vossos olhos, dai-me o que me é devido; e, se não, deixai-o. Pesaram, pois, por meu salário, trinta moedas de prata.
13 Ora o Senhor disse-me: Arroja isso ao oleiro, esse belo preço em que fui avaliado por eles. E tomei as trinta moedas de prata, e as arrojei ao oleiro na casa do Senhor.” (Zac 11,12,13)
Todavia, a tramóia deles não ficou oculta, porque aquele campo que haviam comprado com o dinheiro da traição ficou sendo conhecido em Israel como Campo de Sangue, do sangue inocente de Cristo que eles haviam traído.
Deus em Sua presciência, conheceu tudo o que eles fariam num futuro distante, mais de quatrocentos anos depois, e antes que tudo acontecesse, registrou pelas palavras do profeta, tudo o que haveria de ser feito a Cristo em Sua morte por um mundo pecador.
O fato de Pilatos ter lavado as mãos diante da multidão, de ter sabido que Jesus foi entregue por inveja dos principais sacerdotes e anciãos de Israel, e que não havia achado nEle nenhuma culpa (Lc 23.4, 14, 22), e de ter sido alertado por sua esposa que não se envolvesse na questão de Jesus, a quem ela chamou de justo, em nada diminuiu a culpa de Pilatos diante de Deus, antes só fez agravá-la, porque ainda assim Ele condenou à morte um inocente.
Cabia-lhe como governador promover a justiça, e não abusar da autoridade de que estava investido. Mas o que se poderia esperar de um Pilatos, cuja fama de crueldade se espalhou por todo o mundo de então?
Às suas transgressões Pilatos ainda acrescentou a de trocar Jesus ardilosamente por um malfeitor.
Ele sabia que a multidão estava influenciada pelos principais sacerdotes e anciãos, contra Jesus, mas tentaria passar a impressão de sua imparcialidade no caso, propondo que a questão fosse decidida pelo costume de se soltar um preso por ocasião da Páscoa, e assim, ele transferiria a culpa da morte de Jesus totalmente à decisão dos judeus, como de fato fizera, no entanto, não aos olhos de Deus, porque a autoridade para decidir sobre a crucificação ou não de Jesus, era da competência dele naquela hora, e não dos judeus.
Ele seria o homem da hora, nos conselhos de Deus, porque um governador justo não teria conduzido Jesus à cruz, e importava que Ele fosse crucificado como justo, porque senão, jamais poderíamos ser redimidos de nossos pecados.
Pilatos agiu por conveniência, porque tremeu diante da confirmação de Jesus de que era de fato Rei.
Ele não temia como se justificar diante de César quanto ao sofisma dos judeus de que Jesus não reconhecia César como Imperador, o que era na verdade, um falso testemunho acerca dEle, porque Ele havia declarado que deveria ser dado a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.
Pilatos sabia disto. Sabia que Jesus se referia a um Reino espiritual, porque o próprio Jesus lhe dissera que o Seu Reino não era deste mundo (Jo 18.36), mas Pilatos não se disporia a correr o risco de perder a sua posição de governador, defendendo-o das falsas acusações dos judeus.
Acrescente-se a tudo isto que nosso Senhor havia reconhecido a autoridade civil do próprio Pilatos sobre Ele, em Seu estado de humilhação neste mundo, porque lhe disse que nenhuma autoridade teria sobre Ele, se esta não tivesse sido dada a ele do alto (Jo 19.11), ou seja, não há autoridade neste mundo que não seja instituída, pela vontade de Deus.
Com isto Jesus lhe mostrou o grande espírito de civilidade, de humildade e de submissão às autoridades constituídas, por amor ao Pai e à Sua vontade. Ele havia se feito homem, e como homem e servo dos homens se submeteu à autoridade de Pilatos, por ser o governador civil da Judeia, naquela ocasião.



Jesus Entregue aos Soldados – Mateus 27.27-31

“27 Nisso os soldados do governador levaram Jesus ao pretório, e reuniram em torno dele toda a corte.
28 E, despindo-o, vestiram-lhe um manto escarlate;
29 e tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça, e na mão direita uma cana, e ajoelhando-se diante dele, o escarneciam, dizendo: Salve, rei dos judeus!
30 E, cuspindo nele, tiraram-lhe a cana, e davam-lhe com ela na cabeça.
31 Depois de o terem escarnecido, despiram-lhe o manto, puseram-lhe as suas vestes, e levaram-no para ser crucificado.”

Nós só podemos entender a agonia de nosso Senhor no Getsêmani, pela expectativa das coisas que viria a sofrer, quando nós lemos nos evangelhos toda a injustiça, violência, escárnio, insídia, traição e toda forma de maldade que teve que suportar dos pecadores, sendo Ele de um coração perfeitamente terno e puro, cheio de amor, bondade e justiça.
Ele seria esmagado pelo juízo do próprio Deus contra o pecado, visitando nEle as nossas iniquidades, para que a Sua justiça divina pudesse ser satisfeita, em relação a nós, de modo que pudéssemos ser justificados pela fé.
Não foram apenas sofrimentos físicos que Ele teve que suportar por amor de nós, míseros pecadores, culpados de tudo o que Ele sofreu, porque foi pelo fato de sermos pecadores que Ele teve que experimentar não apenas terríveis sofrimentos físicos em Seu corpo, mas sobretudo as mais terríveis ofensas morais, emocionais, sentimentais, espirituais, que se possa imaginar.
Não podemos esquecer que Satanás e todos os demônios, que nossos olhos não podem enxergar, mas que nosso Senhor podia ver perfeitamente, estavam também instigando e amplificando toda a maldade dos homens, como também eles próprios, estavam atacando furiosamente nosso Senhor com grande desprezo, por tudo o que havia feito contra o reino do diabo, expulsando demônios das pessoas e curando a muitos de suas enfermidades, e sobretudo salvando-os, livrando-os definitivamente do domínio de Satanás e dos demônios.
Como o próprio Jesus dissera, aquela era a hora das trevas, a saber, o tempo em que seria dado a eles, poderem feri-lo e magoá-lo, e Ele teria que suportar todos estes ataques em silêncio.
Assim, o que está registrado quanto aos sofrimentos do Senhor, relativo ao reino das coisas visíveis, como por exemplo, as coisas que lhes fizeram os soldados romanos, conforme narrativa desta passagem, não pode ser comparado aos ataques que Ele sofreu diretamente da parte do diabo e dos demônios, em grande fúria contra Ele, porque estes sabiam perfeitamente quem Ele era, e o quanto sofreram debaixo do Seu poder, desfazendo as obras malignas deles.
O escárnio dos soldados foi dirigido especialmente contra a autoridade de Jesus, contra o Seu reinado. E não há maior afronta do que aquela que é dirigida ao soberano de uma nação, quanto mais a que é dirigida contra o Senhor do universo.
Não foi somente um escárnio de palavras como também de ações de grande desprezo, porque lhe despiram de suas vestes, e colocaram um manto vermelho, usado geralmente pelos reis, para debocharem dEle.
E por coroa, em vez de uma de ouro cravejada de pedras preciosas, puseram-Lhe uma coroa de espinhos, com a qual feriram a Sua cabeça, e por cetro, deram-Lhe uma cana, e fingindo submissão à Sua autoridade, se ajoelharam diante dEle, dizendo: “Salve, rei dos judeus.”
Quanto a isto, eles terão que repetir este gesto, quando nosso Senhor se manifestar em glória, quando todo joelho terá que se dobrar diante dEle, e confessar que Ele é de fato o Senhor de tudo e de todos.
E ninguém terá autoridade nesta hora, nem mesmo Satanás, para deixar de fazer tal declaração e reconhecimento, porque poderes estarão operando sobre eles, de maneira, que a ninguém será dado resistir ao Senhor da glória, e terão que declarar a Sua soberania, quer justos ou injustos, os primeiros por amor e voluntariamente, e os últimos, porque serão obrigados a isto, porque terão que se submeter ao Seu domínio e majestade, como qualquer cidadão faz neste mundo na presença das autoridades, ainda que lhes sejam contrários, por temor da pena que poderão sofrer caso se recusem a fazê-lo.



A Crucificação de Jesus – Mateus 27.32-56

“32 Ao saírem, encontraram um homem cireneu, chamado Simão, a quem obrigaram a levar a cruz de Jesus.
33 Quando chegaram ao lugar chamado Gólgota, que quer dizer, lugar da Caveira,
34 deram-lhe a beber vinho misturado com fel; mas ele, provando-o, não quis beber.
35 Então, depois de o crucificarem, repartiram as vestes dele, lançando sortes, para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta: Repartiram entre si as minhas vestes, e sobre a minha túnica deitaram sortes.
36 E, sentados, ali o guardavam.
37 Puseram-lhe por cima da cabeça a sua acusação escrita: ESTE É JESUS, O REI DOS JUDEUS.
38 Então foram crucificados com ele dois salteadores, um à direita, e outro à esquerda.
39 E os que iam passando blasfemavam dele, meneando a cabeça
40 e dizendo: Tu, que destróis o santuário e em três dias o reedificas, salva-te a ti mesmo; se és Filho de Deus, desce da cruz.
41 De igual modo também os principais sacerdotes, com os escribas e anciãos, escarnecendo, diziam:
42 A outros salvou; a si mesmo não pode salvar. Rei de Israel é ele; desça agora da cruz, e creremos nele;
43 confiou em Deus, livre-o ele agora, se lhe quer bem; porque disse: Sou Filho de Deus.
44 O mesmo lhe lançaram em rosto também os salteadores que com ele foram crucificados.
45 E, desde a hora sexta, houve trevas sobre toda a terra, até a hora nona.
46 Cerca da hora nona, bradou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactani; isto é, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?
47 Alguns dos que ali estavam, ouvindo isso, diziam: Ele chama por Elias.
48 E logo correu um deles, tomou uma esponja, ensopou-a em vinagre e, pondo-a numa cana, dava-lhe de beber.
49 Os outros, porém, disseram: Deixa, vejamos se Elias vem salvá-lo.
50 De novo bradou Jesus com grande voz, e entregou o espírito.
51 E eis que o véu do santuário se rasgou em dois, de alto a baixo; a terra tremeu, as pedras se fenderam,
52 os sepulcros se abriram, e muitos corpos de santos que tinham dormido foram ressuscitados;
53 e, saindo dos sepulcros, depois da ressurreição dele, entraram na cidade santa, e apareceram a muitos.
54 ora, o centurião e os que com ele guardavam Jesus, vendo o terremoto e as coisas que aconteciam, tiveram grande temor, e disseram: Verdadeiramente este era filho de Deus.
55 Também estavam ali, olhando de longe, muitas mulheres que tinham seguido Jesus desde a Galileia para o ouvir;
56 entre as quais se achavam Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu.”

Para nos ensinar que a cruz deve ser compartilhada pela humanidade, especialmente por aqueles que estão identificados pela fé com nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai, em Sua Providência, fez com que alguém carregasse a cruz de Jesus (um homem chamado Simão), em razão de terem sido exauridas suas forças, por todos os socos, pauladas e açoites, os espinhos que encravaram em sua cabeça, e todas as demais agressões que havia sofrido, e que fizeram com que tivesse perdido muito sangue, de modo que ficou enfraquecido a ponto de não ter forças para carregar a cruz por todo o trajeto, desde o pretório de Pilatos, que fica no interior da cidade de Jerusalém, até o monte Calvário.
É difícil para nossa mente finita e limitada compreender as coisas infinitas relativas à eternidade, como esta de que Deus se fez homem para morrer em nosso lugar.
Isto não pode ser aceito senão por fé. Porque a fé ilumina o entendimento, não para compreender toda a extensão infinita deste ato divino, mas para aceitá-lo como verdadeiro.
Porque é certo que Deus não morre e não pode morrer. Por isso, Jesus teve que se fazer homem, como nós, para que pudesse morrer na cruz.
Ele morreria portanto, como homem, e não como Deus.
“5 Tende em vós aquele sentimento que houve também em Cristo Jesus,
6 o qual, subsistindo em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia aferrar,
7 mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens;
8 e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz.” (Fp 2.5-8)
Nosso Senhor foi levado como um malfeitor para fora das portas de Jerusalém, para ser crucificado como um criminoso qualquer.
Fazia muito frio naquela sexta-feira, a ponto de Pedro ter procurado ficar próximo de uma fogueira para se aquecer, antes de ter negado conhecer o Senhor.
Foi à hora terceira que O crucificaram (Mc 15.25) ou seja, por volta das 09:00 horas da manhã.
Eles tiraram Suas vestes, desnudando-o, expondo-o a uma grande humilhação pública, e prenderam suas mãos e pés com cravos na cruz, porque este era o modo de os romanos crucificarem os criminosos.
Antes de o crucificarem tentaram lhe dar a beber vinho misturado com fel, para que fossem anestesiados os sofrimentos da tortura pela qual passaria na cruz, mas ao prová-lo, não quis beber, porque não abrandaria em nada o cálice de sofrimento que Lhe foi dado pelo Pai para ser bebido. Ele o tomaria até a sua última gota, ainda que Lhe custasse grandes sofrimentos.
Quando se encontrava na cruz Jesus teve que suportar ainda o escárnio e a blasfêmia de muitos que passavam por Ele, meneando a cabeça, como que a dizer: “que fraude que Ele é, que filho de Deus que nada! Se fosse de fato não estaria nas condições em que se encontra!”
Este é o modo do homem carnal julgar os sofrimentos que suportamos por causa do evangelho. Eles consideram o favor de Deus em relação a alguém somente quando tal pessoa é poupada de sofrimentos.
Todavia, não é esta a verdade relativa aos que agradam verdadeiramente a Deus, que são chamados a compartilhar em alguma medida, os mesmos sofrimentos de Cristo.
Para os principais sacerdotes, escribas e anciãos de Israel, se Deus fosse de fato com Jesus Cristo, Ele deveria livrá-lO naquela hora da cruz, tirando-o dela, ou então Ele próprio deveria fazê-lo porque disse que era Rei de Israel e Filho de Deus.
Quão grande era a maldade e o cinismo daqueles homens “religiosos”, porque eles próprios lhe haviam condenado à morte, e agora queriam achar uma justificativa para suas consciências culpadas, dizendo tais coisas.
Aqueles que estavam dizendo tais coisas a Jesus, inclusive um dos dois ladrões que haviam sido crucificados ao seu lado, só fizeram agravar ainda mais a culpa deles diante de Deus.
Deus não provará o amor que tem pelos Seus filhos, livrando-os de sofrimentos, mas julgará a todos aqueles que dão causa a tais sofrimentos.
No período do entardecer em que nosso Senhor permaneceu sofrendo na cruz, e que culminaria com a Sua morte, levando sobre Si os nossos pecados, era uma hora de densas trevas, era o período em que foi permitido às trevas prevalecerem sobre Ele, e por isso o  Pai nos deu um sinal desta verdade, fazendo com que da hora sexta até a nona, ou seja das 12:00 às 15:00 horas, houvesse trevas sobre toda a terra. As trevas cobriram o mundo, porque aquela morte não era apenas por Israel mas por todas as nações da terra.
Justamente no período em que o sol é mais intenso (das 12:00 às 15:00 horas), houve não luz, mas densas trevas.
Foi por volta das 15:00 horas (hora nona) que Jesus bradou dizendo em alta voz: “Eli, Eli, lamá sabactani; isto é, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”.
Estava chegando o momento da Sua morte, e Ele pôde enfim colocar para fora o brado que Ele estava sufocando em seu peito, há muitas horas. Ele ficara por cerca de seis hora na cruz, e em poucos instantes tudo estaria consumado.
Todos os pecados do mundo inteiro, da humanidade de todas as épocas, encontravam-se naquela hora sobre o Seu corpo imaculado no madeiro.
A nossa sujeira e imundícia foi lançada sobre Ele, para ser crucificada juntamente com Ele no madeiro.
Então Ele pôde dar este brado porque se sentiu completamente desamparado pelo Pai, por causa da separação que estava sendo produzida não pelos Seus próprios pecados, mas pelos nossos pecados que estavam sobre Ele.
Dizendo que sentia sede, deram-lhe por bebida, vinagre, e Ele agora o bebeu, porque era um sinal visível de que estava provando a última gota de sofrimento por amor a nós.
E então bradou pela última vez com grande voz, dizendo “Está consumado”, ou seja, está concluída, perfeitamente feita a obra que recebeu do Pai para realizar em favor dos pecadores. E entregou o espírito nas mãos do Pai (Jo 19.30; Lc 23.46).
No momento mesmo em que Jesus morreu, o véu do templo se rasgou em duas partes de alto a baixo, como sinal de que o caminho para a presença de Deus no Santo dos Santos estava aberto, e que a Antiga Aliança estava sendo revogada, para ser iniciada uma Nova Aliança, firmada no sangue precioso que Ele derramou na cruz.
Naquele momento a terra também tremeu, e as rochas se fenderam, e sepulcros se abriam, e muitos corpos de santos que haviam morrido no passado foram ressuscitados, e saindo dos sepulcros entraram na cidade de Jerusalém e apareceram a muitos, como um sinal dado por Deus a nós, de que seria por causa daquela morte de Jesus na cruz, que os santos de todas as épocas serão ressuscitados no grande dia do arrebatamento da Igreja.
O centurião romano e os que estavam guardando com Ele o corpo de Jesus, vendo o terremoto e tudo o que havia acontecido, foram tomados de grande temor e declararam que Jesus era verdadeiramente filho de Deus.


Sepultamento de Jesus – Mateus 27.57-66

“57 Ao cair da tarde, veio um homem rico de Arimateia, chamado José, que também era discípulo de Jesus.
58 Esse foi a Pilatos e pediu o corpo de Jesus. Então Pilatos mandou que lhe fosse entregue.
59 E José, tomando o corpo, envolveu-o num pano limpo, de linho,
60 e depositou-o no seu sepulcro novo, que havia aberto em rocha; e, rodando uma grande pedra para a porta do sepulcro, retirou-se.
61 Mas achavam-se ali Maria Madalena e a outra Maria, sentadas defronte do sepulcro.
62 No dia seguinte, isto é, o dia depois da preparação, reuniram-se os principais sacerdotes e os fariseus perante Pilatos,
63 e disseram: Senhor, lembramo-nos de que aquele embusteiro, quando ainda vivo, afirmou: Depois de três dias ressurgirei.
64 Manda, pois, que o sepulcro seja guardado com segurança até o terceiro dia; para não suceder que, vindo os discípulos, o furtem e digam ao povo: Ressurgiu dos mortos; e assim o último embuste será pior do que o primeiro.
65 Disse-lhes Pilatos: Tendes uma guarda; ide, tornai-o seguro, como entendeis.
66 Foram, pois, e tornaram seguro o sepulcro, selando a pedra, e deixando ali a guarda.”

José de Arimateia era um discípulo de Jesus em segredo, porque temia os judeus, o qual era, segundo o registro em Lc 23.50,51, senador, homem de bem e justo que não tinha consentido no conselho e nos atos das demais autoridades.
Sendo de alta posição na sociedade judaica, pediu pessoalmente a Pilatos que lhe desse autorização para sepultar o corpo de Jesus, o que lhe foi concedido sem resistências.
José de Arimateia foi preparado por Deus para aquele momento, porque apesar de ter crido em Jesus e ter mantido isto em segredo, nós o vemos tomando a atitude corajosa de providenciar o sepultamento do Senhor, e fez isto, conforme registram os evangelho sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas) que ele havia reservado para si mesmo, para o dia da sua morte (Mt 27.60). O texto de Mateus 27.57 cita que José de Arimateia era um homem rico.
Então, se cumpriu com isto a profecia de Isaías 53.9 que diz que ele estaria com os ímpios na sua morte (os dois ladrões na cruz) e com o rico (José de Arimateia).
Assim apesar de ser morto como um malfeitor, Deus prepararia um rico para se encarregar do sepultamento de Jesus.
Tal como José de Arimateia, Nicodemos que também era um amigo secreto de Jesus, teve a coragem de dar um testemunho público do seu amor pelo Senhor, preparando o Seu corpo com mirra e aloés e envolvendo-o em lençóis para o sepultamento.
O sepulcro de José de Arimateia ficava num jardim próximo do lugar onde Jesus foi crucificado. Assim, Ele não foi sepultado na cidade, mas num jardim perto do monte Calvário.
Foi portanto sem pompa ou solenidade que o corpo de Jesus desceu à sepultura fria e silenciosa.
Era um sepulcro novo onde nenhum outro morto havia sido colocado porque Aquele que vive para sempre não teria o seu corpo contado entre os mortos, porque não poderia ser retido pela morte por muito tempo, porque em três dias Ele ressuscitaria.
Os principais sacerdotes, os escribas e fariseus pensaram que com a morte de Jesus estavam livres do risco de perderem o prestígio deles perante o povo de Israel, mas em face de todas as coisas que haviam ocorrido durante a crucificação de nosso Senhor, eles não puderam ficar sossegados mesmo depois da Sua morte, e foram procurar Pilatos, chamando Jesus de embusteiro, e lembrando-lhe que Ele havia dito que ressuscitaria depois de três dias, e para que não ocorresse que os discípulos furtassem o Seu corpo dizendo ao povo que Ele havia ressuscitado, por encontrarem o túmulo vazio, temiam que este embuste seria ainda pior do que o primeiro.
Embusteiros eram eles, e não nosso Senhor e Seus discípulos. Bem disse Jesus acerca deles, que eram uma raça de víboras para a qual estavam destinadas as chamas do inferno.
Então eles não somente puseram, guarda ao sepulcro, como selaram a pedra que o fechava, para que ninguém pudesse abri-lo sem que fosse primeiro removido o selo que Pilatos havia colocado nele.






Mateus 28

A Ressurreição (Paralelos: Mc 16.1-8; Lc 24.1-12; Jo 20.1-10)

“1 No fim do sábado, quando já despontava o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro.
2 E eis que houvera um grande terremoto; pois um anjo do Senhor descera do céu e, chegando-se, removera a pedra e estava sentado sobre ela.
3 o seu aspecto era como um relâmpago, e as suas vestes brancas como a neve.
4 E de medo dele tremeram os guardas, e ficaram como mortos.
5 Mas o anjo disse às mulheres: Não temais vós; pois eu sei que buscais a Jesus, que foi crucificado.
6 Não está aqui, porque ressurgiu, como ele disse. Vinde, vede o lugar onde jazia;
7 e ide depressa, e dizei aos seus discípulos que ressurgiu dos mortos; e eis que vai adiante de vós para a Galiléia; ali o vereis. Eis que vo-lo tenho dito.
8 E, partindo elas pressurosamente do sepulcro, com temor e grande alegria, correram a anunciá-lo aos discípulos.
9 E eis que Jesus lhes veio ao encontro, dizendo: Salve. E elas, aproximando-se, abraçaram-lhe os pés, e o adoraram.
10 Então lhes disse Jesus: Não temais; ide dizer a meus irmãos que vão para a Galiléia; ali me verão.”

O corpo de nosso Senhor ficou na sepultura cerca de 36 a 38 horas, porque foi sepultado na tarde da sexta feira, quando faltava cerca de 6 horas para começar um novo dia, ou seja, a partir das 24:00 horas. Completadas estas 24:00 horas, nós temos as 6 horas restantes do início do terceiro dia, ou seja, correspondentes ao domingo, porque nosso Senhor ressuscitou no alvorecer deste dia. Somando portanto: 6 + 24 + 6 = 36. Temos assim um total de 36 horas.
O seu corpo não havia portanto entrado em decomposição, porque Ele perfeito que era, não poderia sofrer qualquer tipo de corrupção, conforme estava profetizado acerca disto:
“Pois não deixarás a minha alma no Seol, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção.” (Sl 16.10)
O corpo de Jesus não conheceu a corrupção da morte porque segundo as Escrituras não seria deteriorado, não somente porque foi muito pequeno o espaço entre a Sua morte numa noite de sexta-feira, e a ressurreição na madrugada de domingo, quando ainda estava escuro. Independentemente disto, o Pai não permitiria que o corpo do Filho visse corrupção pela ação do Seu poder sobrenatural porque segundo as Escrituras o corpo de Jesus seria mantido intacto durante o sono da morte. Ele não tinha nenhuma corrupção e portanto não experimentaria qualquer corrupção, ainda que fosse no Seu corpo que foi moído na cruz não por causa de algum pecado que Ele tivesse, mas por causa dos nossos próprios pecados.
Por isso a morte de Jesus foi pública para que todos vissem a vergonha e infâmia a que Ele foi exposto por causa de todos os pecadores. Mas a Sua ressurreição foi em privado, sendo testemunhada apenas pelos Seus amigos, porque não fomos nós que demos ocasião àquela ressurreição, porque a morte não poderia jamais deter Aquele que é a fonte e o autor da própria vida.
Ainda hoje o poder maravilhoso da vida ressurrecta de Jesus é manifestado somente àqueles que têm intimidade com Ele. Não é possível participar da plenitude da Sua ressurreição sem que sejamos verdadeiramente Seus amigos, pela consagração de nossas vidas a Ele, em obediência aos Seus mandamentos e vontade.
Foi portanto, pela providência divina, que Maria Madalena e outra Maria, que Marcos identifica como sendo Maria, mãe de Tiago, e que afirma que com estas também se encontrava Salomé (Mc 16.1) se dirigiram ao sepulcro naquela manhã do primeiro dia da semana, a saber, o domingo, para que fossem as primeiras testemunhas da ressurreição do Senhor.
Lucas registra que elas prepararam arômatas para ungirem o corpo de Jesus, mas que não foram ao túmulo no dia de sábado para não quebrarem o dia de descanso (Lc 23.56).
Houve um grande terremoto naquela madrugada de domingo, ao romper da aurora, porque um anjo do Senhor desceu do céu, e removeu da pedra do sepulcro e ficou assentado sobre ela, e o seu aspecto era como um relâmpago, e as suas vestes brancas como a neve (v. 2,3).
Os sentinelas que guardavam o sepulcro tremeram de medo e ficaram como mortos (v. 4).
E o anjo disse às mulheres que Jesus havia ressuscitado e que o fossem proclamar aos Seus discípulos.  
Muitas coisas ocorreram naquele domingo em que Jesus ressuscitou, tanto na terra quanto nos céus.
No relato paralelo do evangelho de João, desta passagem, nós lemos que, avisados que foram pelas mulheres, Pedro e João correram em direção ao sepulcro, sendo que João foi o primeiro a chegar e viu que os lençóis que envolviam o corpo de Jesus estavam no chão, mas não entrou no sepulcro. Pedro que chegou depois dele deparou com a mesma cena, e também que o lenço que estava sobre a cabeça de Jesus não estava junto aos lençóis, mas enrolado num lugar à parte. Depois disto, João entrou no sepulcro e viu e creu naquela hora que Ele havia de fato ressuscitado.
O Senhor havia deixado os lençóis e lenço que estava em Sua cabeça no sepulcro para ser uma evidência aos discípulos de que o seu corpo não havia sido roubado, uma vez que os ladrões certamente não teriam arrancado os lençóis e o turbante, e também não os deixariam no sepulcro, caso o corpo de Jesus tivesse sido roubado.
Jesus havia testificado diante de Simão, o fariseu, que o amor de Maria Madalena por Ele era muito grande, e que por isso os muitos pecados dela eram perdoados. E ela deu provas deste grande amor pelo Seu Senhor estando com Ele na Sua crucificação, como sendo também a primeira que foi visitar o Seu corpo no sepulcro, na madrugada de domingo, quando ainda estava escuro.
Ela foi a primeira a procurar o Senhor e assim ela foi também a primeira pessoa a quem Ele apareceu depois da Sua ressurreição.
Jesus faria uma visita aos seus discípulos na tarde daquele domingo da Sua ressurreição. Esta seria, na verdade, a primeira reunião da Igreja num dia de domingo, que passaria a ser agora o dia da semana do descanso, para a adoração de Deus, porque não seria mais apenas celebrado como criador do mundo, como era no dia de Sábado na Antiga Aliança, mas também como o Redentor, o Salvador do Seu povo, porque Jesus havia ressuscitado num domingo para tornar todos os filhos de Deus também participantes da Sua ressurreição.
Pedro apesar de ter negado ao Senhor por três vezes, há apenas dois dias atrás, foi o primeiro a entrar no sepulcro vazio, apesar de João ter chegado lá na sua frente. João se sentiu encorajado a entrar somente depois que viu Pedro dentro do sepulcro. João não teve a honra de entrar porque não recebeu graça, coragem e ousadia para fazê-lo. Honra que o Senhor concedeu a Pedro, para principalmente começar a restaurá-lo e curá-lo da dor em sua consciência, por tê-lO negado. Pedro começaria a aprender a grande lição que não devemos fazer a obra de Deus na nossa própria força e capacidade, porque sempre O negaremos, mas na força e na graça do Senhor que nos capacita em nossa fraqueza, tal como Pedro fora capacitado para correr ao sepulcro, e também para entrar nele e ser o primeiro a constatar com certeza que o corpo do Senhor não se encontrava de fato no seu interior.
Jesus havia falado várias vezes aos Seus discípulos que Ele ressuscitaria, mas eles não se aplicaram a dispor seus corações a crer nisto, e nem a confirmarem a promessa da Escritura a tal respeito, e por isso tiveram dificuldades, em princípio, para entender que Jesus havia ressuscitado.
De igual maneira, ainda hoje, quando não nos aplicamos a meditar e a crer em nosso coração sobre todas as promessas e verdades que existem na Palavra de Deus, e quando não conferimos em nossos corações as coisas que o Senhor nos tem falado, nós teremos dificuldades em reconhecer a obra que Ele está realizando em nosso meio, porque as coisas que Ele nos prometeu fazer foram às vezes proferidas num passado distante, e não tivemos zelo suficiente para reter Suas promessas em nossas mentes e corações.
Quando Pedro e João foram embora, Maria Madalena ainda permaneceu no jardim onde estava o sepulcro, e chorava desconsoladamente, e inclinando-se para ver o interior do sepulcro viu dois anjos vestidos de branco assentados onde estivera deitado o corpo de Jesus, provavelmente os mesmos anjos que haviam retirado a pedra que fechava o sepulcro, estando um à cabeceira, e outro aos pés, e eles lhes perguntaram porque estava chorando, e ela respondeu porque haviam levado o corpo do Senhor e não sabia onde o haviam colocado.
Mas logo que ela olhou para trás viu alguém, mas não sabia que era Jesus e Ele lhe fez a mesma pergunta que os anjos haviam feito e acrescentou a pergunta sobre quem ela estava buscando. Ela pensou que Jesus fosse o jardineiro e lhe pediu que lhe dissesse onde havia colocado o corpo que ela o levaria consigo.
Então o Senhor se revelou a ela chamando-a pelo seu nome. Ele poderia ter se revelado primeiro a Pedro e a João que eram Seus apóstolos, mas o Senhor não trabalha no Seu reino amarrado a hierarquias. Foi a ela que Jesus disse que estaria subindo naquela hora à presença do Pai e Deus, tanto dEle quanto deles, e que dissesse isto aos demais discípulos.
Tanto os anjos quanto Jesus perguntaram a Maria Madalena por que ela estava chorando. Afinal não havia motivo para ela chorar, mas para se alegrar. Não há mais motivo para qualquer crente chorar sem consolo e esperança, porque Jesus ressuscitou. Se Maria soubesse disto ela não estaria chorando. A realidade não dava realmente motivo para choro mas para alegria. Mas o desconhecimento da realidade fez com que ela estivesse chorando por ter perdido a sua esperança.
Os crentes devem estar bem seguros da vitória do Senhor deles sobre o pecado, a morte e o mundo, para que tenham sempre bom ânimo em suas aflições.  
Mas mesmo quando nossa fé é pequena, quando nos sentimos fracos e desconsolados, tal como Maria, o Senhor nunca rejeitará um coração quebrantado, tal como Jesus demonstrou na maneira como procedeu em relação a ela.
Se o motivo do nosso choro for porque temos buscado a Cristo e não o temos achado, é certo que o acharemos porque Ele se manifestará a nós, tal como fizera com Maria.
 Judeus Subornam os Guardas do Sepulcro – Mateus 28.11-15

“11 Ora, enquanto elas iam, eis que alguns da guarda foram à cidade, e contaram aos principais sacerdotes tudo quanto havia acontecido.
12 E congregados eles com os anciãos e tendo consultado entre si, deram muito dinheiro aos soldados,
13 e ordenaram-lhes que dissessem: Vieram de noite os seus discípulos e, estando nós dormindo, furtaram-no.
14 E, se isto chegar aos ouvidos do governador, nós o persuadiremos, e vos livraremos de cuidado.
15 Então eles, tendo recebido o dinheiro, fizeram como foram instruídos. E essa história tem-se divulgado entre os judeus até o dia de hoje.”

Os judeus têm sido enganados até hoje, não crendo na ressurreição de Jesus, porque têm dado crédito à mentira que foi forjada pelos principais sacerdotes, quando alguns dos guardas do sepulcro lhes disseram o que tinham testemunhado, quanto ao terremoto e o anjo que tinha a aparência do relâmpago tirou a pedra do sepulcro, e o corpo de Jesus havia desaparecido do mesmo.
Temendo que aquela notícia se espalhasse por Israel subornaram os guardas dando-lhes uma grande soma em dinheiro para que contassem a versão forjada por eles para ocultarem a ressurreição de nosso Senhor, pedindo-lhes que dissessem que foram os seus discípulos que haviam furtado o corpo enquanto eles, guardas, estavam dormindo.
E caso Pôncio Pilatos pretendesse agir contra eles, prometeram que intercederiam em favor deles, certamente dizendo a verdade do caso para que o governador a mantivesse também em segredo, para que não houvesse uma possível rebelião na Judeia, em favor de Jesus.
Este foi um dos motivos porque Ele não apareceu depois de Sua ressurreição a todos em Israel, mas o principal deles é que Ele somente se manifesta como ressuscitado dentre os mortos, como o Deus vivo, que já não pode morrer, somente aos que se convertem a Ele, ou seja, aos Seus santos, porque somente eles são tidos por dignos de participarem da Sua vida e ressurreição.
Deus permitiu que o engano fosse forjado, porque isto tem contribuído para o endurecimento dos judeus até os dias de hoje. Endurecimento este que havia sido profetizado, e que será removido somente por ocasião da volta de Jesus ao mundo.



A Grande Comissão – Mateus 28.16-20

“16 Partiram, pois, os onze discípulos para a Galileia, para o monte onde Jesus lhes designara.
17 Quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram.
18 E, aproximando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra.
19 Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
20 ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.”

Os guardas foram silenciados quanto ao testemunho da ressurreição de Jesus, pelos principais sacerdotes de Israel, porque eles não O conheciam e permaneciam presos à corrupção do pecado, mas nós que fomos livrados pelo Senhor da referida corrupção, como poderemos silenciar diante do mundo, não dando testemunho a tempo e a fora de tempo da Sua ressurreição?
Ainda que alguns não deem crédito ao nosso testemunho em forma de ensino e pregação, contudo, outros nos ouvirão e se converterão ao Senhor.
E é por amor destes, e pela vontade do Senhor, de que sejam também alcançados tanto quanto nós, que devemos viver para proclamar esta verdade em  todas as nações, fazendo discípulos, não nossos, mas de Cristo, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; assim como nosso Senhor havia ordenado aos Seus primeiros discípulos.
A ordem de ir por todas as nações anunciando o evangelho não foi dirigida somente a eles, mas a todo aquele que for salvo por nosso Senhor, porque estes não somente foram feitos filhos de Deus pela fé nEle, mas também Suas testemunhas em toda a terra.
Talvez tenha sido por este motivo que Mateus não se ateve como os demais evangelistas a narrar em Seu evangelho, os detalhes de outros aparecimentos de Jesus aos Seus discípulos logo após que ressuscitou dentre os mortos, até ser elevado aos céus, entre nuvens na presença deles.
Ele ficou impressionado e quis destacar que importa fazermos a ressurreição de Cristo conhecida, e torná-lO conhecido em todas as nações, porque Ele ordenou isto à Sua Igreja, para ser feito em todo o grande período da dispensação da graça.
Não que as outras aparições não sejam importantes ou dignas de registro, como as citaram os demais evangelistas, mas porque as aparições e manifestações  de nosso Senhor não se limitariam a partir da Sua ressurreição e exaltação na glória celestial àquelas que foram feitas aos primeiros discípulos até que Ele subisse aos céus.
Ele ainda se manifestaria a muitos, como por exemplo a Paulo, a quem apareceu como a um abortivo, para chamá-lo para o apostolado.
O Cristo que servimos e que ressuscitou vive para sempre, não longe de nós, mas intimamente ligado, de modo vital e espiritual, a todo aquele que Lhe tem dado a devida honra de Grande e Único Salvador e Senhor, não pelo mero louvor do Seu nome, mas  pelo arrependimento de seus pecados, e pela entrega voluntária de seu coração a Ele, para que seja o Rei eterno de sua vida, porque Ele o é de fato e para sempre.
Todavia, não toma esta honra apenas para Si mesmo, e ainda que não divida a Sua glória com nenhum homem, porque todos Lhe são devedores, Ele a divide com o Pai e com o Espírito Santo, porque é juntamente com Eles que tem significado e se completa a Sua obra em nosso favor, e por isso nos ordenou que sejamos batizados não somente em Seu nome, mas também no nome do Pai e do Espírito Santo, dando assim nós o testemunho de que pertencemos tanto ao Pai, quanto ao Filho e ao Espírito Santo, e somos devedores a Eles de uma santa consagração e obediência eternas.
Nosso Senhor tem toda a autoridade tanto no céu quanto na terra para fazer triunfar o trabalho da Sua Igreja.
Esta tem recebido dEle a principal incumbência de ensinar aos Seus discípulos tudo quanto Ele nos tem ordenado, e uma das Suas principais ordenanças é a vida eterna.
A Igreja deve fazer discípulos de Jesus ensinando-lhes sobretudo a fazerem valer o valor da morte do Senhor deles, a saber, ensinando-lhes como viverem a vida plena e vitoriosa que Jesus veio lhes dar, porque Ele morreu para que tivessem vida e a tivessem em abundância.
E o modo de se alcançar a plenitude desta vida eterna que está em Cristo, é principalmente pela mortificação do pecado, porque a causa da morte é o pecado.
Então se destrói a morte e o poder da morte, destruindo-se o pecado, que é a sua causa.
É com vidas santificadas pelo Espírito que se vence o pecado.
É honrando e cumprindo os mandamentos de Cristo que permanecemos nEle e Ele em nós, de modo que podemos participar da plenitude da Sua vida.
Temos recebido dEle a promessa de que estaria conosco todos os dias até a consumação dos séculos.
Deste modo, é injustificável que a Igreja não experimente a plenitude da Sua vida num viver vitorioso, porque temos da Sua parte tal promessa maravilhosa, que sempre se mostra fiel e verdadeira para todos aqueles que ousam consagrarem Suas vidas para fazerem a Sua vontade.  








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